DO S PRIMEIROS SÁBA DO S
BRAGA
Mensegeiro do Coroção de Jesus
largo dos Teresinhas, 5
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IM P R IM I P O T E S T .
Olysipone, dic a j Dcccmbria 195a.
Jiilius Marinho, S. J.
Pracp. ProT. I.usit.
IM P R IM A T U R .
Hracarac, 13 Fcbniarii 1953.
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AO IM A C U L A D O CORAÇÃO
DE M A R IA
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A quem ler
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As meditações da primeira série são as da
primeira edição. Re fundiu-se a da Anunciação;
alteraram-sc um pouco as quatro seguintes; e actua-
lizou-se a do Assunção.
Tanto estas como todas as da segunda série,
menos a última, foram primeiro publicadas no
extinto «Mensageiro de .Maria».
N." Senhora abençoe esta edição como abençoou
a primeira, c faça, pela bondade do seu Coração
de Mãe, que o livrinho .seja útil para as almas
c para propagar a dcs’oção dos Primeiros Cinco
Sábados.
Antônio Fazenda, S. J.
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A Promessa do Coração de Maria
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X__________ A FKDMESSA IK) COKAÇÃO l)E MARIA____________
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____________A PROMKSSA 1)0 CORAÇÃO l)E MARIA__________^
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XII_________ A PROMESSA I»() CORAÇÃO IIE MARIA____________
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Acfo de desagravo
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Corredentora do géncro humano, Mãe e media
neira da divina graça, agradeço-Vos profundamente
reconhecido a heróica generosidade com que para
nos salvar aceitastcs ser Mãe de Jesus Crucificado,
as dores que por nós sofrestes desde a profecia dc
Simeão ao Calvário c as inumeráveis graças que vos
devemos, que são todas as que Deus nos faz, porque
foi vontade dele não no-las dar senão por Vós.
Por aqueles que Vo-las não agradecem, pelos que
recusam os vossos favores c talvez os põem a riso,
eu Vos agradeço. Senhora, os tesoiros de caridade
dc vosso Coração magoado e aflito.
Como não hei-de confiar cm Vós nem invocar-
-Vos, se Vós, — ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre
Virgem Maria — , sois vida, doçura, e esperança
nossa. Mãe da graça e da misericórdia. Mãe de Deus
c minha Mãe, poderosa para me valer e bondosa
para o querer? Por aqueles que desconhecem a vossa
materna bondade, por aqueles que não se lançam nos
braços da vossa misericórdia, por aqueles que não
Vos amam, eu Vos amo, ó Virgem Mãe de Deus
e minha Mãe.
Para desagravo do vosso Puríssimo Coração
quero aceitar resignada e jubilosamente os trabalhos
e sofrimentos que N. Senhor me der c implorar-Vos
a conversão dos infelizes pecadores, que não sabem o
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que são as ternuras e carinhos do vosso piedosissimo
Coração de Mãe.
Dignai-Vos convertê-los, Mãe de bondade e de
misericórdia, abrandando-lhes seus corações com a
suavidade, o encanto e a doçura do vosso; e fazei
que eles recorram e se acolham a Vós, Vos invoquem,
bendigam, sirvam e amem.
Obtende-nos a graça de nunca mais ofendermos
a N. Senhor, que já está tão ofendido, e para isso
fazei que imitemos a pureza do vosso Coração Ima
culado, a sua humildade e obediência e a sua imensa
caridade para com Deus e para com o próximo.
Imaculado Coração de Maria, eu Vos louvo.
Vos bendigo e Vos amo e para que o possa fazer
para sempre imploro ardentemente o poder da vossa
intercessão: — Rogai por nós, pecadores, agora e na
hora da nossa morte. Amen.
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Acto de Consagração
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O ração preparafória
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exemplos, para nunca mais o ofender e para cada
vez mais e melhor O amar e servir.
Fazei-me atento à sua voz, dócil e fiel às suas
inspirações, fervoroso e constante em lhe cumprir
a sua vontade e .sempre dedicado a glorificá-lo.
Pelos merecimentos infinitos do Seu Coração,
alcançai-nos dele o perdão dos nossos pecados, a
conversão dos pobres pecadores e a salvação de
todas as almas, especialmente das mais precisadas.
Doce Coração de Maria, aceitai-me este acto
dc desagravo, fazei que Vos ame cada vez mais,
livrai-me do fogo do inferno e sede a minha salvação.
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M EDIT AÇÕES
DOS P R IM E IR O S SÁ BA D O S
P R IM E IR A S É R IE
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Primeiro Misfériç Gozoso
A Anunciação
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E por isso mesmo
o Santo que há-de
nascer de ti, será
chamado I'ilho de
Deus. E eis que
Isabel, tua parcnta,
concebeu um filho
na sua velhice, e
cstc é o sexto mês
daquela que se diz
estéril, porque a
• Deus nada é impos
sível.
Então disse Ma
ria : — Eis aqui a
escrava do Senhor,
faça-sc em mim
segundo a tua pa
lavra. E o anjo
afastou-se d e la » .
(S. Luc. I, 26-38).
2. — Dc joelhos, num recanto da sua peque
nina e humilde casa dc Nazaré, a Virgem Maria,
recolhida e concentrada em intima oração, está
abismada e absorta na profundeza dos mistérios
de Deus, suplicando ao Senhor que mande
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à terra o Justo, o Desejado eFsperança das
nações.
líntra S. Gabriel naquela pobre morada, apro-
xima-se da Virgem Maria, curva-se reverente c
prostra-se talvez diante dela, abre os seus lábios
e .saúda-a em nome de Deus: — «Deus te salve,
ó cheia dc graça! O Senhor écontigo!Bendita
és tu entre as mulheres!»
3. — Virgem .Santís.sima! Unido ao anjò de
Deus, eu Vos saúdo também: — «Deus te salve,
cheia de graça! O Senhor é contigo! Bendita és
tu entre as mulheres!»
Creio e proclamo que entre todas as filhas de
líva. Vós sois a mais querida e amada de Deus.
F.m Vós é que Ele e.stá singularmente presente,
■porque em Vós é que líle derramou a maior pie:
nitiide de graça, de que uma simples criatura é
capaz.
Cheia de graça, sois o arroubo dos olhos divinos,
sois o encanto c êxtase do céu. Intercedei por mim.
Senhora, para que eu entenda o mistério dos abati
mentos de Deus, e para que à luz dos vossos exem
plos e à da exinanição do Verbo Incarnado, com
preenda que o fundamento das virtudes e da .salvação
é a humildade, e que, portanto, a devo amar e
praticar.
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4. — A humildade, ou antes, a humilhação, c o
que caracteriza o primeiro mistério do Rosário.
Humilha-se o anjo, humilha-se a Virgem, humilha-se
o Verbo
Humilha-sc o anjo acatando a superioridade
alheia, ou 4e jurisdição ou só de dignidade; humi-
Iha-se a Virgem submetendo o entendimento à fc,
a vontade à obediência c os sentidos à virtude;
humilha-sc o Verbo tomando uma natureza de escravo
(formam servi aceipiens — Philip. n ,7 ) a fazendo-se
carne (Jo. i, 14).
5. — S. Gabriel desce do céu, apresenta-se sen
sivelmente à Virgem Santissima no tempo deter
minado pela divina Providência, e cumpre cxacta
e pontualmente as ordens dc Deus, quanto à subs
tância, iiuanto ao modo c quanto às circunstâncias
da embaixada de que foi incumbido.
A sua missão é altamente honrosa. Enviado
imediaUmcnte ix4o Senhor, vem junto da eheia de
graça pedir-lhe o seu consentimento para a incar
nação do Verbo Divino. Mas sobre a importância
do encargo, sobre o directo da comunicação do
mandado, sobre a grandeza da pessoa a quem vem,
aquilo cm que sente maior honra c cm sujeitar-se,
em humilhar-se e em dar cumprimento à vontade
dc Deus. Ego... asio ante Deum (S. Lue. /, 19):
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SOU dos anjos que estão diante dc Deus, prontos ao
menor aceno do seu beneplácito.
Os anjos, diz S. Paulo (Hebr. /, 14) são envia
dos cm serviço por causa dos que hão-de alcançar
a herança da salvação. Em legações como a da
Anunciação, ou em incumbências como a de acom
panhar a viagem de Tobias ou de guardar na pere
grinação desta vida talvez algum precito, acham-se
igualmente honrados. Servos dc Deus, fazem a
vontade dc Dcus. É essa toda a sua glória.
6. — A minha qual c? (•. servir? É cumprir a
vontade de Deus? Sem dúvida o seria, se recebesse
imediatamente dele as suas ordens. E porque é que
o não será, recebendo-as mediante os legitimos
Superiores? E tão pouca a minha fé que não
saiba que os preceitos dos Superiores procedem da
autoridade divina? «Não há autoridade que não
venha dc Deus; as autoridades que existem são
ordenadas por Ele. Portanto, quem resiste à auto
ridade resiste à ordenação de Deus» (Rom. xiii, 1-2).
7. — Oh quantas vezes eu tenho resistido, S enhor!
Murmuro, critico, interpreto, torço, desvirtuo, c cm
vez dc sujeitar a minha vontade à dos vossos
representantes e vossa, (picro subordinar a vossa
e a deles à minha! Sc até nos acontecimentos inde
pendentes da acção dos homens eu me indigno c me
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revolto! Oh que falta (le conhecimento dos vossos
direitos e dos meus deveres! Que falta (le humildade!
Que fé a minha tão m orta!
8. — Senhor, aumentai a minha fé! Por inter
cessão dos santos Anjos, e principalmente do Anjo
da Anunciação, fazei-me a graça de ver nos pre
ceitos da autoridade pátria, da autoridade religiosa
e da autoridade civil, di.sposições e ordens da vossa
santissima vontade, para os cumprir como se directa-
mente de V()s emanassem; por(|ue eu quero desde
agora emendar-me das desobediências pas.sadas e
honrar o vos.so poder acatando-o respeitosa e submis
samente nos mais pequeninos dos vossos represen
tantes. Quero submeter-me e humilhar-me à vossa
divina autoridade, onde quer que ela resida. Que
glória Vos daria e que mérito teria eu, se só Vos
obedecesse quando directamente me mandásseis?
9. — O Arcanjo da Anunciação ensina-me ainda
outra forma de humildade: — a de reconhecer nos
outros os seus merecimentos.
Entra visivelmente no pequenino tugúrio de
N." Senhora e saúda-a. Não .se menciona no lívan-
gelho nenhum sinal exterior de acatamento que ele
tenha feito; mas registam-se as palavras que ele
disse. Oh como exalam respeito, admiração, amor
e verdadeira devoção a N.“ Senhora!
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S. Gabriel é um arcanjo; é o guerreiro, o herói
que traz no nome a força de Deus; é um dos sete
espiritos que estão de pé diante do trono divino
(S. Luc. I, 19 — Tob. X II, 15) prontos ao mínimo
sinal da vontade do Senhor; é um espírito sem
mistura de matéria.
A Virgem de Nazaré é uma humilde donzela
duma desprezível e de facto desprezada aldeia
(Jo. I, 46); é a esposada dum pobre carpinteiro;
é uma filha de Eva, feita de alma e de corpo.
O anjo, por natureza imen.samente superior a
Ela, nunca se prostrou senão diante do trono do
Altíssimo. Contudo reverenceia-a, saiida-a, louva-a
e bendi-la. Inclinado c prostrado ante aquela ines
perada grandeza, confessa e exalta a superioridade
dela na ordem da graça.
10. — R uma lição para mim, que sou talvez
pronto em desfazer nos outros e difícil em reconhecer
as qualidades deles, sobretudo se ocupam lugares
proeminentes ou nalguma coisa me fazem sombra.
Pouca humildade, muita soberba e ihvcja, eis a
explicação mais verdadeira das depreciações que
faço.
11. — S. Gabriel, Anjo da Anunciação, intercedei
por mim à Virgem Santíssima, para que Ela me
obtenha a graça de triunfar destes defeitos e de
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reconhecer e confessar que as outras pessoas podem
ser, e na verdade tantas vezes me são superiores.
12. — Depois dos exemplos do anjo, os da Virgem
N.“ Senhora: humilde na sua pureza, humilde na
sua submissão, humilde na sua fé.
Humilde na sua pureza. — S. Gabriel anuncia-lhe
que há-de ser mãe e celebra-lhe as glórias do filho.
— «Conceberás c darás à luz um filho a quem porás
o nome de Jesus. Este será grande e chamar-se-á
o Filho do Altissimo, e entregar-lhe-á o Senhor
Deus o trono de seu pai Davide, e reinará para
sempre na casa de Jacó e o seu reino não terá fim
(S. Luc. I, 31-3).
Que esplendor! Maria porém não se deslumbra.
Tronos, reinos sem fim, um filho que é o Filho de
Deus, uma inaudita e incrivel maternidade — nada
lhe faz impressão. O que a preocupa é muito
diverso.
— «Como é que isto há-de ser ? — pergunta
l'.la , porque eu não conheço varão». Sc o que
dizes é vontade de Deus, como é que hei-dc salvar
o meu voto? Porque estou resolvida a não conhecer
nenhum homem. O voto dc virgindade que fiz,
sei que Deus se agradou dele e mo aceitou. Portanto,
antes de todas essas honras, a minha pureza e a
minha fidelidade ao Senhor.
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Oh que humildade tão profunda! A submissão
dos sentidos k razão e à virtude é qualificada de
humildade pela Igreja. «Carnis lerat supcrbiam
potus cibique parcitas» (Hino de Prima).
Mas a pureza que é submissão e fidelidade à
vontade de Deus, a pureza que é desprendimento
de grandezas, de honras e de glórias, é, com certeza,
verdadeira humildade.
13. — Oh que ensinamentos para os dias de h o je!
Tantos e tantas que por falta de humildade e de
submissão à lei divina desdenham a pureza e a
trocam por uma fortuna, por uma vaidade, por uma
o.stentação, por um amparo da vida, por uma fal.sa
amizade, por uma diversão, uma leitura, um espectá
culo, um pensamento, uma sombra, um nada!
14. — Eu que tenho feito? Estimo e guardo
zelosamente a santa pureza! Quais são os sacrifícios
que faço por ela? Meto-me em perigos? Soii luz
ou lama?
15. — Virgem Imaculada, fazei-me a graça dc
imitar a vossa intemerata virgindade, o vosso des
prendimento, a vossa fidelidade.
16. — Humilde na sua submissão. — O Mensa
geiro de Deus saudando a Virgem de Nazdré «cheia
de graça, repleta de Deus e bendita entre as
mulheres» dirige-lhe palavras nunca ouvidas com
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que Ela se sente perturbada. Elogios tão grandes
e tão insólitos, a quem até da simples aparição dum
anjo se tem por indigna, que é que quereriam dizer r
O anjo tranquiliza-a. Ela, na verdade, encontrou
graça junto de Deus. Será mãe; mas do Eilho do
Altissimo, e portanto sem detrimento da sua vir
gindade. Intervirá com o seu poder o Espirito
Santo, a quem é tão fácil juntar nela a maternidade
à virgindade como levantar a Santa Isabel o opróbrio
da esterilidade (Luc. i, 28-37).
Sossegada, Maria dá o assentimento que o anjo
lhe solicita: «Cumpra-se em mim a tua palavra»
(Luc. /, 38). Mas na própria ocasião cm que é
levantada à glória de Mãe de Deus, protesta que
mesmo assim não passa de escrava dele: — «Eis
aqui a escrava do Senhor».
Entre os maiores louvores é profundamente
humilde: — «Avè, cheia de graça! — Eis a escrava
do Senhor». — «O Senhor é contigo; achaste graça
diante dele. — Eis a escrava do Senhor». — «Bendita
és tu entre as mulheres! — lus a escrava do Senhor».
— «O teu filho há-de receber a herança dos patriarcas
e o trono dos .seus maiores; é o Eilho de Deus;
tu és a Mãe de Deus.— Eis a escrava do Senhor».
Eis a escrava do Senhor!... Ser escravos do
Senhor, dispostos sempre a cumprir i vontadi- san-
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ANUNCIAÇÃO.— HUMILDADE NA KÉ IJ
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«Feliz de ti, exclamará Santa Isabel, que acreditaste
na realização do que o Senhor te disse» (Luc. i, 45).
Creu Nossa Senhora sem relutância nem hesitação,
que seria mãe sem deixar de ser virgem, que seu
filho seria Deus, que o Verbo divino se faria
homem.
20. — Porque é que terá acreditado tão facil
mente coisas tão inauditas? Pela graça dc Deus,
certamente; mas também pela disposição das suas
virtudes, da sua humildade c da sua pureza.
Se Maria fosse menos humilde não seria tão
pura, porque não mereceria tanta ordem no seu ser
nem tanta sujeição da sensibilidade à disposição
e vontade do Senhor. Sc fosse menos pura não
seria tão humilde, porque seria menos dócil aos
convites do céu. Com efeito, a pureza supõe a
submissão da inteligência à luz do alto, o rendimento
da vontade à moção divina, c a subjugação dos
sentidos pela graça recebida no entendimento c na
vontade. Menos favorecida na fé, a Virgem não
teria sido nem tão humilde nem tão pura, porque
não teria compreendido o valor da humildade nem
o da pureza. Finalmente, .se não fosse tão humilde
c tão pura, não creria tão fàcilmentc nem teria tanta
fé, porque as dificuldades da fé nascem em geral
da soberba e da impureza. Os limpos dc coração
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vêem a Deus (Mat. v, 8 ); aos humildes c que Deus
se comunica (Prov. iii, 32), a eles é que dá a sua
graça (Jac. iv, 6. — 1 Petr. v, 5).
21. — Quantas vezes é tíbia a minha fc por ser
pouca a minha humildade e imperfeita a minha
pureza! Cegam a alma os fumos do orgulho e os
vapores da sensualidade! Quantas vezes a soberba
do espirito é castigada com a soberba dos sentidos,
as revoltas da vontade com as da carne!
22. — Imaculada Virgem Mãe de Deus e minha
Mãe, para eu gozar a felicidade de crer, obtende-mc
a graça de praticar; para conceber a Deus em meu
coração nesta vida pela fé, na outra pela vista,
fazei-mc a graça de ser humilde e puro, dai-me o
amor das humilhações e a vontade de me guardar
dos perigos.
23. — Pela obediência com que sujcitastcs o
VOS.SO entendimento às verdades divinas, por aquela
com que vos ofereccstes a toda a vontade de Deus
declarando-vos sua escrava, ouvi-me.
24. — Humilhação do Verbo. — Quando a Virgem
Santissima, acedendo à proposta de Deus, respondeu
a S. Gabriel: «Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se
em mim segundo a tua palavra», nesse instante o
Verbo divino humanou-se, incarnou, fez-se homem
ou como diz S. João (Jo. i, 14) para melhor expri-
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16 AXU.NXIAÇÃO. — OBEDIÊNCIA 1)0 VERIII)___________
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por causa dc nós, homens, c por causa da nossa
salvação, diz o Credo, c que o l'ilho dc Deus desceu
dos céus e se fez homem.
Incarnou o Verbo divino aniquilando-se e obe
decendo por amor de mim! Duas humilhações:
— a do abatimento, fazcndo-.sc homem «Verbuin caro
factum esl»; — a da obediência, cumprindo como
servo a vontade dc Deus «huiniliavit scinetipsum
factus obedietis» (Filip. //, 8).
Oh que admirável dignação da piedade divina!
Oh que inefável amor dc caridade!
26. — Verbo eterno de Deus, Deus verdadeiro
dc Deus verdadeiro, eu Vos adoro feito homem por
amor dos homens e por amor de mim. Creio na vossa
divindade c na vossa humanidade. Amo-Vos, Senhor,
crendo e bendizendo com toda a gratidão a vossa
infinita caridade para comigo. Por esta me.sma Vos
rogo c suplico que rendais todos os homens ao vosso
amor, que a todos deis a graça dc imitarem o vos.so
abatimento c a vos.sa obediência, c dc cumprirem
como servos a vontade do Senhor, c como filhos
a do Pai ([uc está nos céus.
Virgem Mãe dc Deus, rogai por nós.
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Segundo Misfério Gozoso
A Visitação
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Zacarias, c — en
carando coin Santa
Isabel — levanta a
voz e os braços,
cheia de alvoroço e
entusiasmo, e saúda
sua prima dando-
-Ihe num enterne
cido abraço os mais
afectuosos para
béns pela mira
culosa graça rece
bida. do céu.
3. — Mãe do
meu Senhor, pela
caridade (|ue Vos
move na \ossa via
gem, tazei-me a
graça de seguir os
vossos |)assos na
fidelidade às inspiraçfx-s divinas, no exercicio da
caridade, no zelo do apqstolado e na gratidão aos
dons de Deus.
4. — A casa de Zacarias não é certo onde fosse:
talvez na cidade .sacerdotal de H ebron; talvez na
antiga Cãrem, hoje .Aín-Cârim, umas duas léguas de
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Jerusalém; e mais provàvelmente em lutá, nas cer
canias de Hebron.
De Nazaré a Iut<á são trinta léguas, ou cento
e cincoenta quilômetros, de terras montanhosas.
Na ocasião da Páscoa encaminham-.se a Jeru
salém, para as festas, numerosas caravanas. Com
um grupo de peregrinos Maria atravessa os montes
de lUraim, pára talvez na cidade .santa, e metendo-se
pelas gargantas daquelas serras, coutinua o caminho
para lutá.
.5. — N." Senhora vai apressada, mas composta,
modesta e recolhida, profundamente agradecida a
Deus pelo recente favor da Incarnação do Verbo.
O caminho é árduo e fatigoso, porcpie é longo
(quatro ou cinco dias, pelo menos) e muito aciden
tado : não ob.stante, Maria vai depressa.
6. — Não vai enfadada do retiro e recolhimento,
aborrecida da estrciteza ou enfastiada da monotonia
de sua casa; não vai por curiosidade de certificar-se
da graça recebida por .Santa Isabel (não duvidava
da palavra do anjo) ; não vai para espairecer nem
divertir-se numa viagem 4c recreio ou de desporto;
não vai por nenhum respeito meramente humano.
A razão por que vai, e por cjue \ai a toda a pressa
através daqueles montes, é a in.spiração de Deus
e o ardor da caridade.
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7. — Nas palavras de S. Gabriel: «Sabe que Isabel,
tua parente, não obstante a sua velhice e esterilidade,
há já .seis me.ses que concebeu um filho» — perce
beu um indício da vontade divina, que a convidava
a ir dar àquela privilcgiadr. do Senhor os parabéns
e oferecer-lhe os seus serviços.
K ei-la que parte. Foi visitada e saudada com
toda a veneração por um dos maiores príncipes da
Côrte do C éu; é a cheia de graça; tem o Senhor
consigo; é a bendita entre as mulheres; é a Mãe
de Deus. Mas is.so que lhe importa? Que lhe
importa a sua delicadeza, a aspereza e longura
do caminho, a ausência de sua casa? Deus indicou
o seu beneplácito; isso basta. Irá.
8. — F irá com toda a pressa. Sabe que sua
prima recebeu uma grande graça e foi livre do seu
opróbrio; sabe que naquela idade e naquelas circuns
tâncias precisa, com certeza, que a auxiliem. Portanto
não sofre demoras. Sente-se ansiosa por desafogar
a alegria de seu coração, congratulando-se com Santa
Isabel pelo dom de Deus; sente necessidade de
expandir as chamas da sua caridade, juntando ao
carinho das palavras a dedicação das obras. Por isso
não só irá com toda a pressa, não só se antecipará
a saudar sua prima, mas ficará com ela cerca de
três meses para a servir.
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9. — Virgem Santíssima, Mãe de Deus e minha
M ãe! Pela vossa bondade e misericórdia, dignai-vos
fazer-me a graça de imitar os exemplos que me dais
neste mistério. Peço-Vos que me façais atento c
dócil às inspirações do céu, sincera e profundamente
humilde ante Deus e os homens, ardente na caridade
para me alegrar com os que se alegram e chorar
com os que choram e para servir generosamente
a quem pudor e precisar do meu auxilio.
10. — Conhecedora ou não dos desígnios da Pro
vidência na inspiração de.sta visita, a Virgem Maria
cumpriu-os levando a casa dc Santa Isabel uma
torrente de maravilhas celestes. Foi lá, como há-de
ser em toda a parte e em todo o sempre, medianeira
e distribuidora da graça divina.
11. — .À voz da sua saudação S. João exulta de
alegria no seio materno; conhece c adora o Salvador
ali presente; recebe, conforme a promessa do anjo a
Zacarias, o F.spírito Santo, .sendo purificado do
pecado original c ornado de graça; finalmente inicia
o exercicio da sua missão de Precursor, porque no
dizer de Santo Ambrósio e S. Beda ( ') «estando
cheio do Espírito Santo, encheu dele sua mãe».
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12. — Ilustrada, pois, pelo Espirito Santo rompeu
.Santa Isabel num grande grito, exclamando: «Bendita
és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu
ventre. 1'- donde mereci eu a graça dc ser visitada
pela mãe do meu Senhor? Porque mal ouvi a tua
.saudação, exultou de alegria o menino no meu seio.
M bem-aventurada quem acreditou que há-de ter
perfeita realização o que lhe foi dito da parte do
Senhor».
Quer dizer: com a luz divina que então recebeu,
conheceu Santa Isabel a grandeza e dignidade de
Maria, conheceu que líla era Mãe de Deus, conheceu
o mistério da incarnação do Verbo, conheceu a
felicidade de crer na palavra divina, conheceu e
apreciou a inestimável honra daquela visita, conheceu
a obrigação e os frutos da estima, louvor e devoção
a N." Senhora, e tudo isto conheceu no misterioso
júbilo, causado pela saudação da Mãe de Deus no
pequenino S. João Baptista.
13. — Portentosos efeitos duma única .saudação
de Maria! Virgem Santissima, Rainha e Mãe de
misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, volvci-
-nos esses vossos olhos tão misericordiosos; dizei
a nossos corações uma palavra e receberemos a luz
do Ivspirito Santo e seremos .santificados, e penetra
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remos os mistérios divinos e bendiremos o vosso
nome e amar-Vos-emos para sempre.
14. — Sc pergunto porque é que a vossa saudação
produziu tão ricos frutos, vejo que estáveis com
Jesus (tinhei-lo no vosso seio e mais ainda na vossa
mente e no vosso coração), vejo que estáveis obede
cendo à inspiração dc Deus, vejo que estáveis pra
ticando a caridade à ciusta da vossa humilhação
e sacri ficio.
15. — Nos cjue me ouvem, conver.sam e tratam
não consigo efeitos nem de longe parecidos aos da
vossa visita. Que pouco lhes mostro a luz e os mis
térios dc Deus, que pouco lhes faço sentir a felici
dade de crer e a de Vos servir e am ar! Que pouco
ou mesmo nada! Se eu andasse mais com Jesus,
.se o tivesse mais no meu coração c nas minhas obras,
se fosse mais obediente aos convites da graça, mais
caridoso, mais humilde, mais morti ficado, de certo
faria muito mais.
16. — Mãe de Deus e minha Mãe, quero corri-
gir-me destes defeitos. Desagradam-Vos e impedem
o bem das almas. Diante de Vós faço o propósito
de cmendar-me, confiado no vosso amparo e auxilio.
17. — A Virgem Santíssima ao ouvir os louvores
que lhe dava Santa Lsabel e ao ver as graças de
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26 VISITAÇÃO.— ORATIDÃO UE MARIA
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Portanto, unido a Vós, quero cantar-lhe com
as vossas palavras o meu hino de justo louvor e
reconhecimento:
«Minha alma glorifica o Senhor e o meu espirito
exulta em Deus meu Salvador. Porque lançou os
olhos para a baixeza da sua escrava: eis que de hoje
em diante todas as gerações me hão-de chamar
bem-aventurada. Porque fez em mim coisas grandes
aquele que é poderoso e cujo nome é santo, e cuja
misericórdia se estende de geração cm geração sobre
os que o temem. Manifestou o poder do seu braço:
dissipou os que se orgulhavam nos pensamentos do
seu coração. Depôs os poderosos do trono c elevou
os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu
os ricos sem nada. Tomou cuidado dc Israel seu
servo, lembrado da sua misericórdia. Conforme
tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua
liostcridadc para sempre».
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Terceiro Misfério Gozoso
o Nascimento
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a Virgem-Mãc, do
outro S. José, am
bos cm adoração,
cm prece, cm êx
tase ante o Sal
vador, que hoje
nasceu para nós.
3 .— S. José,
Virgem Imacula
da, nesta noite de
júbilo e de luz, cm
que os céus escor
rem mel e a terra
se en f lora de espe
rança, de ventura
e de felicidade,
sede meus inter-
cessores e media
neiros. Ensinai-me a contemplar o Salvador, a com
preender a infinita beleza e bondade de .seus dons,
e a querer os meios de salvação que Ele — Verbo
humanado — com sua beiiignidade e humildade me
ensina, para que, desprezando as impiedades c con
cupiscências do século, eu saiba viver com mode
ração, temperança, justiça e piedade, dc modo que
possa aguardar transfigurado de esperança aquele
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grande dia da vinda e gloriosa manifestação do
Senhor (Tit. ii, 11-13).
4. — A notícia do edito chegou a Nazaré. César
Augusto, imperador romano, queria saber quantos
eram os seus súbditos e quanto possuíam para lhes
impor o respectivo tributo. Por isso o recensea-
mento foi pelo comum do povo mal recebido.
5 — S. José e N." Senhora, olhos em Deus, fazem
os preparativos da viagem e partem. A Virgem Maria
vai provavelmente montada numa jumenta. S. José
caminha, ao lado, a pé. São quatro ou cinco dias
de jornada através da planicie dc lísdrclon, Jezrael,
montes da Samaria, Siquém, colinas da Judeia, Betei
e Jeru.salém ou talvez ao longo do Jordão. P Dezem
bro, tempo de inverno: frio, vento, chuva, por vezes
neve. De dia pode fazer calor; mas as noites são
geladas.
6. — .'\o lado de Maria c de José pas.sam dc
ciuando em (|uando grupos ruidosos. Seguem o
mesmo caminho. Falam do recenseamento, das opres
sões do estrangeiro, dos incômodos da viagem, das
suas preocupações mundanas. Dos dois humildes
viajantes não fazem ca.so. Não .sabem (luem são;
não sabem que um deles é a verdadeira Arca da
Aliança, onde habita o Verbo de Dcus. — P o mundo,
ignorante dos mistérios divinos.
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7. — Belém é um enxame clc forasteiros (|uc con
correm ao recenseamento. S. José e Nossa .Senhora,
precisados de retiro e isolamento, não correm — como
vulgarmente se crê — dc porta cm porta, porciuc nas
casas dos parentes e amigos, que seriam com certeza
pobres, não podiam esperar o alojamento retirado
que as circunstâncias exigiam; dirigem-se directa
mente à estalagem. Estava cheia. O oiro às vezes
faz portentos: arranja lugar onde o não há. José
e Maria são pobres, não têm dinheiro. Portanto,
para eles não há lugar. (Luc. //, 7).
8. — Buscam pois uma gruta. A cidade está
assentada no alto de duas colinas, à altitude dc 777
metros. No lado nascente da colina ocidental existe
uma lapa de uns 12 metros de comprimento, 4 dc
largura e 3 dc altura, a qual era provàvelmente uma
dependência do albergue e .se destinava aos animais.
Eá chegam ao anoitecer, lá entram e lá se aposen
tam a Virgem Maria e S. Jo.sé. Ali é que vai nascer
o Eilho de Deus.
9. — No retiro daciuela lôbrega caverna, no fundo
silêncio daquela noite dc frio Dezembro, põe-se
N." Senhora em oração, penetrando de anelos e
súplicas o Céu, inflamada nas chamas da mais viva
caridade, e Cjuando o êxtase do seu amor é mais
alto, dá ao mundo, sem dor nem detrimento da sua
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integridade, o seu unigénito filho, Jesus. Ouve-lhe
os vagidos, vê-o no chão estendendo-lhe os bracinhos,
adora-o, aperta-o ao coração, c, entre penalizada de
tanta penúria e gozosa de infinita felicidade, envolve-o
em mantilhas e coloca-o na manjedoura .sobre a
palha.
10. — Meu Jesus, com a Virgem Imaculada Vossa
Mãe e com seu castíssimo espo.so S. José, eu Vos
adoro. Vos amo e Vos bendigo. Adoro-Vos, verda
deiro Deus, feito por mim verdadeiro homem; amo-
-Vos, bondade e caridade infinita, porque sendo
tão grande e poderoso Vos fazeis tão pequenino
e fraco, para eu não me amedrontar com a vossa
justiça e para confiar na vossa misericórdia. Como
não hei-de confiar em Vós e amar-Vos, se tendo-
-Vos ofendido mc viestes oferecer o perdão c sendo
infelizmente Vosso inimigo me viestes oferecer a
reconciliação? Oh coração verdadeiramente generoso
e divino, oh bondade verdadeiramente infinita, eu
Vos louvo e bendigo!
Imaculada Virgem, Mãe do meu Deus, dignai-
-Vos fazer-mc entender este mistério dc amor, esta
admirável dignação da divina piedade; dignai-Vos
obter-mc a graça de lhe corresponder com todo o
fervor seguindo os exemplos do Verbo humanado,
exemplos admiráveis de obediência, de desprendi-
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inciito, cic niorlificação c dc humildade, exemplos
que, seguidos, serão a minha salvação.
11. — Obediência dc Jesus. — N. Senhor nasce
no tempo (üan. /.v, 24) c no lugar (M idi. v, 2)
predito pelos profetas cumprindo os decretos da
divina Providência, a qual, para realizar os seus
desígnios de amor e salvação, se serviu duma ordem
do poder civil, deitada por muitos à conta de soberba
e de cobiça do imperador.
12. — Para ([iie é que eu interpreto mal as ordens
da autoridade? Para que c que me impaciento
e talvez revolto com os sucessos da vida? Não me
ensina a razão e a fc que eles são disposições da
providência dc Deus? Não obstante a obediência
lhe impor sacrifícios, Jesus obedecia de bom coração,
com todo o coração e com toda a alma. li o mesmo
faziam Nossa Senhora e S. José.
13. — Seu desprendiinenlo. — .Sendo rico, diz
S. Paulo (2 Cor. vni, 9), fez-se i)or nós indigente,
lira o Senhor Universal do mundo e de suas gran
dezas. Desprezou-as. Não se contentou com a
pobreza de seus pais nem com a das faixas que lhe
prepararam; quis uma gruta de.sprovida de tudo, e,
para repoisar, uma vil manjedoura.
14. — Serei cristão, eu com o coração tão ape
gado aos bens terrenos, com tantos desejos de possuir
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c de enriquecer, com tantos luxos de habitação, de
aposento, de vestido, ou, se sou pobre, com tanta
pena e tantas queixas da minha pobreza?
15. — Sua humildade. — Humildade ensina-a
Jesus na condição dos pais que escolheu — eram
ob.scuros e S. José oper.ário; nas repulsas que sofreu
com eles, pois que não achou hospedagem no alber
gue, e apre.seiitando-se aos seus, os .seus não o
receberam (Jo. i, 11); na lapa, que era um abrigo
de anim ais; na obscuridade do seu nascimento,
— o céu deu-o a conhecer, mas na terra, de (|ue era
Senhor, ninguém o sabia; na fraqueza e indigência
de menino com que nasceu; enfim na obediência
c no desprendimento que praticou.
16. — Jesus manso e humilde de coração, cusla-me
aqui olhar para o meu tão soberbo, tão, altivo, tão
vaidoso, tão indócil, tão incapaz de. suportar uma
afronta, uma injustiça, uma simples desatenção.
Pela intercessão de Vossa Mãe Santíssima e de
S. José, compadecei-Vos de mim e fazei o meii
coração semelhante ao Vosso.
17. — Sua mortificação — ü tempo é agreste,
a gruta incômoda, a palha dura e Nossa Senhora
com toda a sua ternura e carinho de mãe não pode
aliviar aquele sofrimento.
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18. — Quis isto Je.sus Menino para ine ensinar
a inortificar-me, porque sem mortificação o meu
corpo torna-se insofriclo e rebelde, a minha vontade
fraca, c eu incapaz de resi.stir ao pecado e de .ser
útil às almas.
19. — Reconheço, Jesus, diante do Vosso pre
sépio, que a minha vida anda longe dos Vossos
exemplos. Tenho medo do .sofrimento e fujo dele.
ICm tudo procuro comodidades, conforto c prazer,
descontentando-Vos e pondo-me cm risco de Vos
ofender.
Hei-de continuar assim? Os meios de salvação
(pie me ensinais são humildade, obediência, des-
I)rendimento e mortificação. Se não os tomo nem
pratico, como hei-de salvar-me?... R compreensível
.ser cristão sem imitar a Cri.sto...?
20.— Meu Jesus, com o vosso infinito poder
ajudai-me. Virgem Santíssima intercedei por mim.
Vosso divino I'ilho na.sceu em tanta pobreza, desam
paro e sofrimento, não acaso, mas por vontade e
escolha própria. Queria que eu .soubesse que .sem
penitência e satisfação dos pecados não posso sal-
var-me, e que sem desprendimento dos bens da
terra c sem mortificação dos sentidos e do orgulho,
é impossível guardar-me de pecar. .Alcançai-me
a graça de fazer o que l'.le me veio ensinar.
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Quarfo Misfério Gozoso
Purificação e Apresentação
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dc Jesus, para eu
ver, entender e
imitar os senti
mentos de humil
dade, de submis
são, de obediência,
e de verdadeira
e sincera devoção,
dedicação e en
trega, com (|ue
Jesus, se oferece
a seu Eterno Pai
para lhe reconhe
cer o seu supremo
dominio de Cria
dor e Senhor, e lhe fazer n mais perfeita e absoluta
doação de toda a sTja vontade e de toda a sua vida.
Vós, c|ue certamente Vos ofereceis a Deus com
Jesus, permiti que não obstante a minha indigni
dade, eu junte ao dele e ao vosso o meu ofereci
mento.
4. — Com umas duas horas de caminho a Sagrada
l'amilia põe-se de Belém em Jerusalém.' Antes do
.sacrifício da manhã dirige-se para o templo, atni-
vessa o átrio dos gentios entiuadrado de altos pórticos
ou colunatas, entra no das mulheres, sobe os (|uinze
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degraus de acesso à porta de Nicanor, a qual abre
para o átrio dos homens, c pára diante dela.
5. — Ali, provàvelmente, é que estava Simeão,
esperando que o Espírito Santo cumprisse a pro
messa de lhe mostrar, antes da morte, o Ungido do
.Senhor; ali é que recebendo Je.sus nos braços, deu
testemunho dele. Aquele menino era o Salvador
Prometido, a luz dos gentios e do mundo, a glória
do seu povo, ocasião da ruina e cau.sa da .salvação
de muitos: porque nem todos o haviam de seguir,
antes muitos o haviam de contradizer.
6. — Ali também é que terá vindo a profetisa
Ana começando logo a louvar a Deus e a falar dc
Jesus a todos os que esperavam a consolação de
Israel.
7. — Era preceito da lei (pte, dando à luz filho
varão, as mães comparecessem no templo, quarenta
dias depois do parto, para se purificarem pelo ofe
recimento de um sacrifício. Até então estavam proi
bidas de entrar no lugar santo. O sacrifício era
para as ricas um cordeiro dc um ano, cm holocausto,
e uma rola ou pomba cm expiação dos pecados; para
as pobres era ou duas rolas ou duas pombas — uma
em holocau-sto, outra pelos pecados (Lev. xii, 1).
Apresentavam-se as mulheres à porta de Nicanor
diante dum sacerdote que recebendo os animais do
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40 PURIFICAÇÃO l>K MARIA
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__________________PURIFICAÇÃO nii MARIA _______________ 4 \_
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a Deus para não perder a opinião e a amizade do
mundo!
13. — Virgem purissima, diante de Vós reconheço
o meu erro. Quero de hoje em diante obedecer a
toda a lei de Deus, a todos os meus deveres, àquele
que tanto desprezo... Dai-me, Senhora, a liberdade
de coração para me desprender das cadeias do
mundo. Virgem fiel e poderosa, obtende-mc força
para ser fiel.
14. — cerimônia da purificação dc N." Senhora
seguc-sc a da apresentação de Jesus. O sacerdote
toma-o das mãos de S. José c, recebidos os cinco
ciclos do resgate (cada ciclo tinha 142 decigramas
de prata), entrega o Menino a seus pais c pronuncia
.sobre Ele as fórmulas da bênção ritual.
Com as mãos levantadas ao céu: «Sejam estes
ciclos 0 resgate do primogênito substituindo-o diante
do Senhor. Goze vida este menino para cumprir
a lei e merecer a vida eterna. Faça o Senhor que
assim como lha conserva mediante cstc resgate, lha
guarde também para a lei, para propagar a sua
linhagem e praticar boas obras». Pondo as mãos
sobre o menino: «O Senhor te faça como Efraím
c Manassés, te abençoe e te multiplique, te encha
dc bens da terra e te dc toda a prosperidade».
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15.— Pensemos no sentido desta cerimonia.
Je.sus não estava obrigado à lei da apresentação.
E>a o Filho de Deus. Pela união da sua humanidade
à sua pessoa divina, estava, em quanto homem, con
sagrado a seu Pai da maneira mais soberana. Nem
propriamente seria resgatado.
Sempre dedicado .to serviço divino, viria final
mente a sofrer a morte. Mas tinha razões poderosas
para se sujeitar ao uso comum.
16. — Estava escrito em Malaquias ( iti, 1): «Virá
imediatamente ao seu templo o Senhor (|ue Vós
buscais e o anjo da aliança que Vós (|uereis. E em
Ageu (ii, 8-10): «Virá o Desejado de todas as nações
c encherei de glória c.sta casa... e será maior a glória
desta última casa que a da antiga».
17. — Jesus, indo ao seu templo, além dc realizar
as profecias, acreditava-se também como homem,
como recém-na.scido e como primogênito; evitava
o escândalo dos judeus, que não sabiam do mistério
da incarnação; dava uma aprovação à lei e à san
tidade legal e uma honra e.splêndida àquele lugar;
anunciava com o seu resgate por cinco ciclos o nosso
pelas suas cinco chagas; e principalmente glori ficava
seu Pai e ensinava-nos a nós.
18.— Deus mandara (jue os primogênitos do
.seu povo lhe fossem oferecidos e consagrados em
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reconhecimento do seu supremo domínio sobre tod<is
as coisas e para memória de os ter poupado quando
feriu de morte os do Egipto.
Nosso Senhor Jesus Cristo oferece-se para o
mesmo fim: para reconhecer que Deus é Senhor
de tudo e para salvar com seu sangue os que pelo
pecado mereceram a morte. Oferece-se como pri
mogênito de muitos irmãos e de toda a criatura
(Rom. vm , 29; Col. i, 15) e como cabeça do gênero
humano. Consigo oferece-nos todos e oferece todo
o mundo. Feliz de quem se conforma com este ofe
recimento, tributo universal de submissão c de
obediência à vontade de Deus! Desgraçado de quem
o desdiz!
19. — A oblação de Nosso Senhor não é feita
agora pela primeira vez. Agora é feita no momento
solene da apresentação, mas antes fora feita no
primeiro instante da incarnação. «Ao entrar no
mundo disse: As vítimas, os sacrifícios e os holo-
caustos não Vos agradaram; por isso eis-me aqui,
Senhor, neste corpo humano, pronto para fazer a
vossa vontade» (Hebr. x, 5-9). Oh com que íntima
humildade e acatamento adora Jesus em quanto
homem a Majestade Divina! Com ([ue ardor ama
a infinita Bondade! Com que ânsia deseja reparar
as ofen.sas de Deus!
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20.— Eu, como é que reconheço que Deus é
meu Senhor? Obedeço-Lhe aos seus mandamentos
e preceitos? Cumpro as minhas obrigações de reli
gião, de piedade, de justiça, de caridade, os meus
deveres de estado? Aceito os contratempos e as
advcrsidades? Sou fiel às inspirações da graça?
Meto-me em ocasiões e perigos? Que oblações, que
.sacrifícios ofereço a Deus?
O meu procedimento é conforme à ordem dos
<lireitos divinos, à da razão, à da gratidão, à da
generosidade, à dos meus interesses sobrenaturais?
21. — Meu Jesus, na vossa oblação não estais s ó ;
estais acompanhado de vossa Mãe. Também Ela
Vos oferece e se oferece convosco a vosso eterno Pai,
c com quanto sacrifício! Oferece-Vos para uma
vida de dores, para a cruz, para a morte.
Pelos seus horríveis sofrimentos nesta perspectiva
do Calvário, dignai-Vos conceder-me a graça de me
unir a Vós e a Ela e de querer, sem temor das
dificuldades, cumprir sempre e em tudo com toda a
devoção a vossa santíssima vontade; porque na obe
diência e fidelidade à lei e à vontade divina é que
reconhecerei o domínio de Deus e confessarei pràti-
camente que Ele é o meu Criador e Senhor.
Mãe de Deus e minha Mãe, rogai por mim.
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Quinto Misfério Gozoso
Perda de Jesus
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a Jerusalém em busca dele. E aconteceu que três
dias depois foram dar com Ele no templo, sentado
no meio dos doutores, ouvindo-os c interrogando-os.
E todos os que o ouviam, estavam maravilhados da
sua sabedoria e das suas respostas.
E quando o viram ficaram admirados. E dissc-
-Ihe sua Mãe: — Filho, porque é que procedeste
assim connosco? Com que aflição e angústia teu
pai e eu te andávamos buscando!
E Ele respondeu-lhes; — Para que é que andáveis
à minha procura? Não sabícis que devo ocupar-me
nas coisas de meu Pai? (S. Luc. //, 41-9).
2. — Sentado num degrau de pedra junto duma
casa, um mendigo com a perna esquerda em chaga
desde o joelho ao pé, está encostado a um canto da
parede com o cotovelo direito apoiado a um ressai-
mento do edificio; e, segurando na mão direita uma
muleta que rasteja com a ponta pelo chão, volta a
cabeça para trás, porque alguém lhe pôs a mão num
ombro e lhe está falando.
R S. José que passando, dc bordão na mão direita,
.se inclina para ele e lhe pergunta se terá vi.sto por
ali Jesus.
N.“ Senhora, de túnica branca e manto de cor,
caminha aflita no meio do largo lagedo daquela
rua estreita, mãos enclavinhadas quase debaixo do
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queixo, cabeça levemente erguida, olhos de ansiada
angústia varando o céu. Busca a Jesus.
3. — Mãe aflita, pela dor inconsolável que sofreis
na perda dc Jesus, obtende-me a graça — que com
todo o ardor do meu coração vos suplico — de nunca
por minha culpa perder Jesus; de o buscar em dor
e lágrimas, se algum mau dia tiver culpàvelmente a
tristíssima infelicidade de o perder; de o encontrar
e de o guardar comigo, antepondo a todos os meus
interesses e a todos os meus afectos, ainda os mais
legítimos e santos, o único interesse e o único
afecto .sobre todos legítimo e santo de cumprir-
-Ihe exactamente a sua lei e de fazer-lhe sempre
e em tudo com toda a perfeição a sua santíssima
vontade.
4. — Desde os doze ou, pelo menos, desde os
treze anos todos os homens do povo de Deus tinham
obrigação de ir à festa da Páscoa a Jerusalém; as
mulheres não. Mas Nossa Senhora costumava acom
panhar S. José. Na idade de doze anos o Menino
Jesus, tenha ou não tenha sido esta a primeira vez,
foi com seus pais.
5. — A Sagrada Família, após uma viagem de
pouco mais ou menos quatro dias, entrou na cidade,
a qual durante as solenidades pascais era de um
movimento espantoso, pela enorme afluência de
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peregrinoS; Calcula Flávio Josefo que a população
de Jerusalém era nestas ocasiões de 2.700.000
almas.
6. — Durante as festas tudo bem. No dia 14
do mês de Nisan a Sagrada Família comeu o cor
deiro pascal, no dia 15 celebrou a solenidade da
Páscoa e no dia 16 a oferta das primícias. Muitos
peregrinos partiam no dia 17; mas a maneira de
falar de S. Lucas autoriza-nos a crer que S. José
com Nossa Senhora só abalaram depois dos sete dias
que duravam as solenidades.
7. — Dizemos S. José com Nossa Senhora, por
que Jesus, sem lhes dar aviso, se deixou ficar em
Jerusalém, e eles só o acharam dc menos ao fim
da primeira jornada (') .
Foi uma perda inculpável, uma busca dolorosíi
e um encontro feliz.
8. — Nas ocasiões solenes de peregrinação jor-
nadeavam juntas em longas caravanas as famílias
ou os moradores do mesmo lugar. A partida dum
grupo numeroso com a azáfama, o rebuliço e a
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confusão que a acompanhavam, era fácil ocasião de
perder-se de quem a levasse uma criança.
Não era proibido pelos usos que um menino de
doze anos fosse livremente na companhia dos seus
iguais ou na dos parentes e pessoas conhecidas.
Mesmo que não fosse quem era, Jesus já tinha
idade e desenvolvimento .suficiente para se guardar
dum extravio. Sobretudo tinha dócil c exacta obe
diência, que Nossa Senhora e S. José bem conhe
ciam, e da qual supunham, com razão, que o Menino
iria na comitiva. Não era, pois, coisa estranha
ou anormal que Ele não fosse ao lado de .seus
pais.
Portanto a Virgem Imaculada e seu castissimo
esposo, ao qual o Evangelho chama justo, não tiveram
culpa na perda do Menino.
9. — Mesmo assim, quem poderá calcular a pena
que sentiram, quando, ao acampar, se viram sem Ele?
Que sobressalto, que dor, que angústia a do Ima
culado Coração de Maria neste aflitivo lance! Que
terá acontecido? Onde é que estará? Porque é
que desapareceu? Que é que eu terei feito?...
10. — Logo com S. José, correndo de grupo em
grupo, se põe a procurar seu divino Eilho entre os
parentes e conhecidos, até noite dentro. Mas Jesus
não aparece.
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Que noite aquela! Como era penetrante a espada
da profecia de Simeão!
Mal clareia o dia, abalam os dois, aflitos, para
Jerusalém. A estrada é um interminável formigueiro
de gente a pé e a cavalo. Nossa Senhora e S. José
olham, observam, examinam, vão dum lado a outro
às veredas por onde se afastam os caminhantes,
perguntam, dão sinais. Não vêem Jesus nem nin
guém sabe dele.
Chegam à cidade e cai a noite, noite ansiosa
como a passada..
Na madrugada seguinte dirigem-se ao templo.
Correm os pórticos, os átrios, as dependências onde
podem entrar, e finalmente encontram-no sentado
entre os doutores.
11. — Façamos reflexão sobre nós mesmos.
N.“ Senhora perdeu Jesus sem culpa. Eu perco-o,
ou posso perdê-lo, culpàvelmente.
De muitas maneiras posso perder a Jesus. Posso
perdê-lo totalmente pelo pecado mortal, posso perdê-lo
rcpelindo-o com a tibieza, posso perdê-lo com o
pecado venial ou desgostando-o com infidelidades
c indelicadezas.
12. — Qual é neste momento o estado ou a dis
posição da minha alma? Í-. de pecado, dc tibieza.
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(le facilidade em culpas veniais, de simpatia com
infidelidades conscientes?
13. — Quais são as coisas por que perco Jesus?
São bens terrenos, amizades, entretenimentos, diver
sões, comodidades, satisfações, sensualidades, sober
bas, faltas de caridade, vinganças? Alguma destas
coisas vale mais que Jesus?
14. — Como sou insensato e vão se desejo alguma
coi.sa fora de Jesus! Não é isto maior dano que se
perdesse todo o mundo? Que é ([ue o mundo me
pode dar, .sem Jesus? Estar sem Jesus é duro
inferno... Perder Jesus é perder .sem conta, e perder
mais que o mundo inteiro. Muito, muito pobre sou
.se vivo sem Jesus.
Grande arte é saber andar na companhia de
Jesus e grande prudência saber segurar e reter a
Je.sus!
Como quero ter Jesus comigo se não sou humilde
e manso, devoto e recolhido? Depressa afastarei
Jesus e perderei a sua graça, .se quiser derramar-me
nas coisas exteriores. E se o afastar e perder, a
quem hei-de ir e quem hei-de buscar para amigo?
Antes todo o mundo por contrário que desgostar
a Jesus (Imit. l. 2, c. 8).
1.5. — Senhor, com a vossa graça, c.sta c desde
agora a minha vontade. Reconheço que Vos tenho
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ofendido e desprezado, que Vos perdi muitas vezes.
Vos voltei as costas. Vos tive em menos que os meus
caprichos e vaidades e que as minhas mais vis
satisfações. Com imensa dor de minha alma o
confesso e Vos peço humildemente perdão.
16. — Mas assim como a dor dc Vossa Mãe
Purissima foi operosa e a moveu a buscar-Vos até
Vos encontrar, assim, com a vossa graça, eu quero
que seja a minha. Que me importa lamentar-me de
maus hábitos ou lamuriar-me da minha tibieza e das
minhas imperfeições, se não faço nada para me
emendar?! Pela vossa infinita misericórdia e pela
intercessão dc vossa Mãe aflita, dignai-Vos socor-
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Não são estas
palavras uma re
preensão. N.“ Se
nhora sabia muito
bem que seu Filho
era irrepreensivel e
que não fazia nada
sem uma razão su
perior inspirada por
Deus e pelo Espí
rito Santo; mas re
cordava no conten
tamento presente
a dor passada e
desejava saber a
causa desta acção
extraordinária do
Menino Jesus.
19. — E soube-a efectivamente. «Porque é que
me andáveis buscando? Não sabíeis que eu devia
estar na casa de meu Pai, ocupado nas coisas dc
seu serviço?»
Tampouco repreende Je.sus sua Mãe c S. Jo.sc;
lembra-lhes que não se guiando Elc senão pelo
beneplácito divino, deviam logo pensar que, .se tinha
desaparecido, fora por vontade dc seu Pai. Portanto
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porque haviam de afligir-se? Não tinham razão
para isso.
Admiravam-se de que não os tivesse avisado?
Mas, .se essa era, por insondáveis e justíssimos juízos,
a vontade do Pai, Jesus não podia deixar de cum
pri-la. Maria era digníssima do amor de seu Filho.
Porém, infinitamente acima dela estava o amor do
Pai. Este é o amor que com toda a razão e justiça,
absorve o amor do Santíssimo Coração de Jesus.
Ao seu amor do Pai cede necessariamente, por muito
santo que seja, qualquer outro amor.
20. — Eu como é que imito o Sagrado Coração
de Jesus? Reconheço que Deus tem sobre mim e
sobre tudo o que é meu direitos infinitos? Nos meus
pensamentos c afectos, nas minhas palavras e obras
dou sempre o primeiro lugar aos desejos de Deus?
Por causa do amor a pessoas e coisas não tenho
fechado os ouvidos à voz divina, não a tenho for
malmente desprezado? Se sou pai ou mãe de família
não saberei que os filhos são mais de Deus do que
meus? Filho de familia ignoro porventura que
sendo filho de meus pais da terra, o sou muito mais
de meu pai do céu? Religioso, sacerdote, simples
fiel porque é que não acabo de compreender que não
posso j)or interesses terrenos e por caprichos do
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amor próprio desdenhar ou ter ein menos os direitos,
os conselhos e o beneplácito de Deus?
21. — N.“ Senhora não compreendeu logo todo
o alcance da resposta de Jesus, (e etcs não enten
deram 0 que lhes disse. — Luc. ii, 50) mas guardou-a
cm seu coração para a meditar e compreender depois.
22. — Virgem Santíssima, dignai-Vos pela vossa
bondade interceder por mim. Alcançai-me a graça
de compreender o exemplo de vosso divino Filho
e dc o imitar. Quero acima de tudo cumprir a von
tade de Deus, quero cumpri-la principalmente naquele
ponto... em que tanto a tenho desatendido... Com
o vosso auxílio determino vencer-me naquela ocasião
em que tanto fraqueio..., esforçar-me por domar
aquela paixão que tanto me subjuga e arrasta...,
praticar aquela virtude que tanto me falta...
23. — A Vós recorro ainda para saber conservar
cm meu coração as palavras de Jesus, para as pene
trar com a meditação, para as amar, para as fazer
norma da minha vida c caminho dc santidade c
salvação.
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Primeiro Misfério Doloroso
O ração no Horto
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^tentação. O espirito na verdade está pronto, mas a
carne é fraca.
E retirando-se segunda vez, orou dizendo: — Meu
Pai, se não pode passar éste cális sem que eu o beba,
faça-se a tua von
tade. E indo outra
vez, encontrou-os
dormindo, porque
os olhos deles es-
tavam pesados; e
não sabiam que
responder-lhe.
E deixando-os
retirou-se de novo,
e orou terceira
vez, repetindo as
mesmas palavras.
Mostrou - se - lhe
então à vista um
Anjo a confortá-lo. E posto cm agonia, orava com
mais instância. E sobreveio-lhe um suor de gotas de
.sangue que corriam até à terra.
Depois, levantando-se da oração vai ter com os
discipulos e diz-lhes: — Dormi agora e descansai.
Basta, f: chegada a hora dc o Filho do homem ser
entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos,
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espinho, o lancinante desamparo do Gólgota, o fel
da injustiça, o absíntio dos iiltrajcs. L o pavor do
inevitável, sabido e não sabido: — sabido porque já
conhecido, não sabido porque não experimentado.
8. — Diz o .salmista: «Cercou-me uma manada
(le novilhos, investiram-me enormes toiros de Balan,
abrindo contra mim suas bocas com rugidos dc leão
faminto; rodearam-me matilhas dc cães, envolveu-me
uma turba de malvados» (Ps. xxi, 13-14 e 17).
Assim está Jesus no horto. Vê .antros donde saltam
feras, vê os corações dos homens donde os pecados
o investem, e apavora-se ante estas alimárias que
hão-de rasgá-lo cm suas garras e triturá-lo cm seus
dentes, porque há-de sofrer a ferocidade dos mons
tros c|uc se aninham no coração do homem:
— maus pensamentos, impurezas, furtos, falsos tes
temunhos, bUasfêmias Y-S". Mt. xv, 19).
9. — Levanta os olhos ao céu e treme, porque vê
armados contra si os terrores do Senhor (Job. vi, 4).
A justiça divina andou desde o principio buscando
um homem, no qual, para poupar a terra, descarre
gasse os golpes da sua ira (Es. xxii, 30). Hoje
finalmente encontrou-o e nele derrama todo o cális
do seu furor c nele põe todo o peso da imensa mole
dos nos.sos crimes. Perante c.stes rigoyes da justiça
dc Deus é c(ue Jesus treme de pavor. «Entrou em
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mim o pavor c bateram de terror todos os meus
o-ssos» (Job. IV, 14).
10. — Começou a sentir tédio. O tédio não é o
simples enfado e aborrecimento;*ã inquietação ou
desassossego, o desprazer e desgosto; é a falta de
vigor e de ânimo, o peso, o desalento, o entorpe
cimento quase ab.soluto; é sobretudo o nojo repulsivo,
a repugnância agoniada, a profunda e evi.scerante
náusea.
11. — Nosso Senhor tem diante de .si o número
sem conta dos nos.sos pecados, a malicia deles, a
sua repugnante hediondez e a sua horrenda podridão.
12. — Olha para os homens. Uns ingratos!
Pagãos, herejes, ci.smáticos, fiéis, os mesmos seus
l)redilectos como é (|ue lhe pagam a sua generosidade ?
E por tanta baixeza de crimes e por tanta ingratidão
de homens há-de sofrer e morrer! Quac utilitas in
sanguinc mco! (Ps. .y.y/.y, 10). Que pouca vai ser
nos homens a utilidade do meu sangue! Sinto-me
.sem vigor e sem frescura, prostrado, desfalecido,
oprimido, aniquilado, — água que se derrama e .some,
ossos espalhados, coração derretido como cera, forças
mirradas como telha em forno (Ps. .y.y/, 13-6).
13. — Contemplemos Jesus na sua angústia.
Aparta-se custosamente dos di.scipulos, põe-se em
oração, vai ter com eles, volta a orar, de novo os
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procura e torna à oração. Ele tão calado c sofrido
desabafa, queixa-se e pede conforto. Ele tão desejoso
de sofrer, treme, horroriza-se, suplica a .seu Pai
ansiosa e repetidamente que o livre daquele cális.
Ele tão objoctivo e moderado diz que padece torturas
mortais. Não pára nem so.ssega: dos di.scípulos para
o Pai, do Pai para os discípulos, já levantado, já de
joelhos, já por terra, gemendo, clamando e, pela
violência da luta íntima, suando sangue. Está diante
de meus olhos jazendo por terra, estendido e quase
inerte. I'cr mis et non homo (Fs. xxi, 7). E um
verme e não um homem.
14. — Jesus, eu sei que tendes em vos.sas mãos
todos os movimentos da vossa alma e da vossa sen
sibilidade. Não se alteram sem Vós quererdes; se
Vos perturbam, sois Vós (|ue os agitais. Porque é
(|ue tão estranha e tão dolorosamente os comoveis
agora ?
A razão, responde Jesus, é que o Senhor pôs
sobre mim as tuas iniquidades e as de todos vós
(Is. U H , 6). E que aquele que era incapaz de
pecado, por ti e por vós fê-lo pecado (2 Cor. v, 21).
Salvo a culpa que não posso ter, .sou perante Deus
a consubstanciação, a incarnação do pecado. Por isso
sofro e agonizo. Tomei o teu lugar e o de todos
os (|ue pecam; portanto, embora inocente, sou cas
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tigado como se fosse réu de todos os |)ecados, como
se fosse todos os pecadores.
15. — Vê se tenho razão para estar triste, infi
nitamente triste. Sabe que é mau e muito amargo
ter deixado o Senhor teu Deus. Se o conhecesses
como Eu o conheço, se o amasses como Eu o amo,
oh que tristeza não terias de o ter ofendido e de
o terem ultrajado tanto os homens!
16. — Sou a vitima da ira de Deus. Vê como
é horrendo cair nas mãos dele, ser varado pela
indignação das suas .setas e salteado pelos seus
terrores!
17. — Como é que eu, que .sou pureza infinita,
não hei-de ter nojo e náusea, se o pecado me envolve
como um vestido, se me penetra até ao intimo dos
ossos e faz de mim um repelente leproso ?! Sou, por
amor de ti, um verdadeiro maldito.
18. — Compadece-te de mim e não me ofendas
mais, não me renoves com mais pecados esta agonia.
Lembra-te que Deus me quis esmagar e triturar
pelos teus crimes.
Lembra-te que sou o b'ilho de Deus e Dcus
verdadeiro, inocência, pureza, impecabilidade; que
padeço não por culpas minhas, que não posso ter,
mas pelas que tu comctcste. Quando o Filho de
Deus é assim castigado por pecados não seus, que
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Segundo Misfério Doloroso
A Flagelação
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diâmetro — na base — quarenta e cinco. E, dizem,
aquela a que N. Senhor foi atado.
Curvado, pois, sobre ela, recebe Jesus os açoites,
despido, em público, escorrendo sangue.
3.
meu Senhor e meu
Deus, ante o horrível
suplício que sofreis por
mim, peço-Vos, pela
infinita caridade do
vosso Coração aman
tissimo, a graça de
me penetrardes inti
mamente do vosso tor
mento, a de me tres-
passardes com toda a
crueza das vossas do
res, a de me retalhar-
des o coração com a
mágoa de Vos ter ofendido, pois os meus abo-
minandos pecados é que são a causa do \osso
castigo.
4. — O suplício da flagelação era terrível pela
fereza dos instrumentos, pelo rigor dos golpes, pelo
(lesapiedado dos verdugos e pelo que tinha dc humi
lhante.
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Muitas vezes puniam-se os delinqüentes com
varas; mas os intrumentos da flagelação propria
mente dita eram látegos de cordel, açoites de correia,
loros de coiro, azorragues de nervos de boi, fre
quentemente armados de fragmentos de madeira, de
bolas de chumbo, de lascas ou pedaços de ossos, de
pontas, espigões ou ganchos de ferro chamados escor
piões, com que as carnes dos réus se abriam, se
cortavam, se fendiam, se rasgavam e dilaceravam.
ã. — Os golpes não podiam entre os judeus passar
de quarenta (Deut. xxv, 3). Para não exceder este
número, os fariseus, por escrúpulo, reduziram-nos
a trinta e nove; e, quando se davam com flagelos de
três pontas, a treze. S. Paulo diz enumerando os
seus trabalhos: — cinco vezes recebi dos judeus qua
renta golpes menos um. «Quinquies quadragenas,
una minus accepi» (2 Cor. xi, 24).
Fintre os romanos não havia número certo.
6. — Para .se irem revezando, os carrascos eram
quatro, seis ou oito, litores ou soldados, sem coração
nem piedade, e feriam tão rijo que a muitos dos
condenados deixavam sem vida.
Eusébio, historiador eclesiástico, fala ne.stes ter
mos dos mártires de Esm irna: «Espantavam-se todos
os presentes vendo-os abertos a açoites até às veias
e às artérias mais profundas, patentes à vista os
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Órgãos mais recônditos do corpo e as próprias
visceras» (') .
Cicero descreve nas Verrinas o suplício do cava
leiro romano Servilio: «Golpearam-no horrivelmente
com varas seis litores robustissimos e bem exerci
tados neste infame serviço. Depressa o principal
deles, Séxtio, levanta o seu feixe de vergas e o des
carrega com violência horrível .sobre os olhos do
infeliz, o qual, com a boca e os olhos inundados de
sangue, cai aos pés do verdugo que não cessa na
sua fúria de esfarrapar-lhe as costas.
Depois de tão bárbara execução, é retirado exâ-
nime o padecente, e dali a pouco morre» (®).
7. — Que N. .Senhor fosse tratado com excessos
de crueldade, é indubitável. Pilatos deve ter recomen
dado rigor, pois não mandava flagelar N. Senhor
para o crucificar, mas para o livrar dos judeus,
apresentando-lho duramente torturado. Nem precisa
vam de recomendações para ser cruéis, soldados C|ue
espontâneamente coroaram de espinhos e puseram a
ludibrio Jesus. Mas, com elas e com as instigações
(') Cii. |wr Kii.ibciilwucr. Kv. scc. M.nu., |>. 2.", p-Ág. .513.
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dos sacerdotes e dos príncipes do povo, passaram os
limites de toda a ferocidade.
Porém do número de açoites, não ob.stante o
ciue se diz nalgumas revelações, nada é certo.
8. — Está, pois, N. Senhor atado à coluna e
começam a açoitá-lo os e.sbirros. Zunem os golpes
no ar e estalam nas costas dc Jesus, traçando de
vergões aquele corpo inocente que intumece e incha.
Rasga-se a pele, fere-se e chaga-se a carne cavada
de .sulcos até aos ossos. Continuam os golpes.
O sangue (|ue primeiro saltava em gotas, agora
corre em fios e espalha no chão largas manchas
vermelhas.
9 .— Je.sus treme a cada novo açoite; mas .sofre
com paciência divina e com caridade infinita, por
mim e pelos meus pecados, pedindo para mim e para
eles, perdão.
«Como não quiscstes sacrifícios nem oblações,
e por isso me formastes este corpo, eis-me a(|ui.
Senhor, fazendo a vossa vontade» (líchr. .v, 5-7).
— «Os pecadores feriram minhas costas de golpes
.sem conta, abriram-nas de regos com os arados de
suas culpas» (S. cx xvm , 3). — «Meu Pai, perdoai-
-Ihes porque não sabem o que fazem» (Lc. x x m , 34).
Estes são os íntimos .sentimentos do man.síssimo
Coração de Je.sus, o qual os está oferecendo por mim
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a Dcus, cm fervorosa prece que talvez seus lábios
ciciem. Esquecido dc si, não se esquece de mim, dc
.ganhar o mcú arrependimento, a minha emenda, o
meu perdão, a minha salvação.
10. — S. Paulo, embora por justos motivos,
negou-se uma vez aos flagelos opondo os seus direitos
dc cidadão romano (Act. xxii, 25); c outra, depois
de vergastado, exigiu reparação, ponderando a dor,
a injustiça, a desonra, a publicidade da punição
e a sua própria qualidade civil (Acl. xvi, 37-9).
N. Senhor Jesus Cristo, Rei dos reis e Senhor dos
senhores. Rei Universal dos séculos. Filho dc Dcus,
Dcus eterno e Omnipotentc como seu Pai, sofre das
mãos de brutos soldados, em silêncio, nu, publica
mente, amarrado a uma coluna, o castigo da gente
vil, dos escravos, dos celerados, dos facínoras. l'ora
declarado inocente, pelo menos três vezes (Jo. xviif,
38; XIX, 4 e 6), c contudo é flagelado.
11. — Senhor, porque é que sujeitais o vosso
corpo tão sensível, tão inocente, tão puro, tão santo,
a um tormento tão atroz, tão penetrante, tão humi
lhante ?
A flagelação era principalmente uma pena cor
poral, um castigo dos sentidos. Quis N. Senhor
padecê-la em satisfação dos pecados sensuais: tantos.
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tão vergonhosos, tão continuos, tão funestos e hoje
infelizmente tão insolentes e tão públicos.
12. — Sou pecador? Ânimo e confiança porque
onde abundou o delito, superabundou a graça
(Rom. V, 20). A satisfação de Jesus c abundantís
sima e clama a Deus perdão.
Mas arrependimento, emenda e penitência. Deve-
-me pesar da ofensa de Deus, devo nunca mais
cometê-la, devo castigá-la, devo enfrear o impeto do
mal, devo prevenir possíveis e talvez prováveis
(|uedas. N. Senhor, inocente e impecável, castigando
em si os meus pecados, pagando com suas dores os
meus deleites, com sua desnudez as minhas imodéstias,
provocações e modas,— mostra-me e ensina-mc o
(|uc hei-de fazer. Que importa a beleza, a .saúde,
as forças? O que importa é não mais pecar, o que
importa é reparar o pecado.
Que tenho eu feito? Que faço? Que hei-de fazer?
13.— Jesus, ante o vosso suplício, reconheço o
mal que fiz. Dignai-Vos fazer-me a graça dum
sincero e firme arrependimento. Nunca mais ofen-
der-Vos, Senhor; nunca mais. Aqui, diante do vosso
sangue, proponho fugir dos perigos: de companhias,
de olhares, de leituras, de cinemas, de teatros, de
casinos, de praias, de modas, de amizades... Ajudai
a minha fraqueza com a vossa força omnipotcnte.
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14. — Sou inocente? Oh graças infinita.s meu
Jesus! Mas, para me conservar assim, para imitar-
-Vos, para desagravar-Vo.s, quero trazer em meu
corpo os VOS.SOS estigmas, Jesus: (Gal. vi, 17) quero
morti ficar a minha vista, o meu coração, a minha
fantasia, a minha curiosidade, a minha sensibilidade,
as minhas más inclinações.
Quero desta maneira conservar-me longe do
pecado, c|ue tanto Vo.s faz sofrer. Quero aborrecê-lo
e odiá-lo para nunca em minha vida o cometer.
Pelas dores de vossa Mãe .Santissima e pelas
vossas, fazei-me esta graça, Jesus.
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Terceiro Misfério Doloroso
Coroação de Espinhos
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e por quem foram criadas todas as coisas visíveis
e invisivcis c cm quem todas elas subsistem, aquele
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adoro na vossa humilhação e Vos reconheço e pro
clamo meu Deus e meu Senhor e meu Rei.
Rei dos reis e Senhor dos que dominam (Apoc.
XIX, 16), Rei imortal dos séculos ( I Titn. i, 17),
pela paciência e caridade infinita com que sofreis
estas dores tão aflitivas e atrozes e estas afrontas
tão indignas, dignai-Vos despertar em meu coração
os sentimentos que inflamam o vosso, para que eu
sinta intimamente as vossas penas e deseje e queira
os vossos opróbrios.
4. — Os soldados que flagelaram N. Senhor, têm
a lembrança de divertir-se à custa dele. Levam-no,
pois, para dentro do Pretório — a flagelação tinha
sido fora, cm público — e mandam chamar os com
panheiros. Convocaram, diz S. Mateus, toda a
coorte (Mat. xxvii, 27); não que reunissem os qui
nhentos ou seiscentos homens que normalmente a
compunham (nas tropas auxiliares compunham-na
até mil), mas os que estavam naquele tempo sem
serviço, os quais certamente eram muitos (').
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5 .— Juntos, começa aquela soldadesca, grosseira
e desapiedada a distrair-se atormentando e insultando
o Filho de Deus.
Primeiro despem-no. E se, como alguns crêem,
lhe tiram não só o manto mas também a túnica,
segundo já tinham feito para açoitá-lo, é grande o
sofrimento que lhe dão; porque as roupas coladas
às carnes despedaçadas na flagelação, não podem
arrancar-se sem renovar as feridas c agravar as
dores.
6. — Depois coroam-no de espinhos. A matéria
para a coroa tomam-na dc ramos que ali teriam
enfeixados para o lume, cortados de umas árvores
(espécie de açofcifeiras ou jujubeiras), que sobem
de três até seis metros e criam na axila das folhas
dois espinhos de alguns centímetros dc comprimento,
duros e penetrantes, um direito e outro curvo como
um gancho.
Pegam, pois, na atadura dum molho feita de
juncos, arranjam com ela um circulo e atam nele
as varas, lançando-as lado a lado cm toda a volta.
A espécie de mitra ou capacete resultante é que
põem na cabeça dc N. Senhor, calcando-lhe em cima
com a cana. Esta, se porventura era a vulgar, devia
ser grossa e consistente.
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Noutra opinião, a coroa tinha o aspecto duma
barra e foi aplicada à testa e cabeça de Jesus e atada
com cordéis pela nuca.
7. — Que figura lastimosa a de nosso Salvador!
Cabeça inclinada, rosto meio oculto, cabelos dcscom-
postos, os espinhos enterrados até ao crâneo tres
passando a pele em muitas partes, o sangue gote
jando e correndo cm fio pela fronte, pelos olhos,
pelas faces, empastando os cabelos. Que dor a cada
abalo e movimento!
8. — Os soldados não se importam. Riem e gozam
com a tortura dum inocente, que é Filho dc Deus
c Deus verdadeiro. Tomam-lhe da mão a cana,
batem-lhe com ela na cabeça c ferem-no na face
a bofetadas.
9. — Mas, nesta cena, não é isto o mais doloroso.
O mais pungente e amargo de sofrer é a irrisão
e o escárnio à realeza de Cristo. Ouviram aqueles
homens que Ele era rei dos judeus e quiseram pô-lo
n ridículo como tal. Era judeu c dizia-se rei?...
Iam dar-lhe um trono e uma côrte.
Os generais, os reis e os imperadores usavam
como insígnia do seu mando ou soberania a púrpura ?
Dcitam-lhc aos ombros um manto velho e roto, da
mesma cor. Os reis usavam coroas de oiro e pedras
preciosas? Cingem-lhe uma de espinhos. Traziam
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na mão o cetro? Metem-lhe na direita uma cana.
P or trono a base duma coluna caída.
Os reis tinham suas côrtes e recebiam acatamento,
honra e veneração de seus súbditos, os quais se lhes
prostravam diante, lhes beijavam a mão, o cetro
e mesmo o rosto e lhes ofereciam presentes? Tudo
isso dariam também a Jesus. E ei-los que entre
momices e esgares e entre as gargalhadas dos colegas,
avançam para diante dele e com ridícula gravidade
dobram o joelho saudando: — Deus te salve, rei dos
judeus. E em vez de presentes, pancadas e bofetadas;
e por ósculos, salivas. Talvez com encontrões o
deitam ao chão.
10. — Jesus, manso e humilde de coração, não
evita os golpes, não retira o rosto a quem lhe arrepela
as barbas, não volta a cara a quem o insulta e o
cospe (Is. L, 6). Tomam-lhe a cana; larga-a. Tor-
nam-lha a dar; aceita-a e aperta-a carinhosamente
como instrumento de sua dor e ultraje e da minha
salvação.
No horto, antes de dar os pulsos às cordas e
algemas, prostrou por terra seus inimigos com duas
palavras: — Sou eu. Agora cala-se, e, em silêncio
sofre aquele manto, aquela cana, aquele trono, aquela
coroa, aqueles olhares, as pancadas, as punhadas, os
repelões, as bofetadas, as chufas, mofas, zombarias.
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risos, cscámios e sarcasmos. É, na verdade, saturado
de opróbrios... (Thre. ///, 30).
Em seu coração não levanta um assomo de ira,
que seria tão justa. Pelo contrário. O que levanta
é o fervor da mais enternecida oração pelos seus
algozes e por todos os homens para os converter
à penitência e aos caminhos de Deus.
11. — Jesus, porventura estareis esquecido da
dignidade, da grandeza, da soberania e da majestade
de vossa divina pessoa, para sofrerdes de homens
tão vis c miseráveis injustiças tão grandes, suplícios
tão crueis, vilipêndios de tanta afronta c ignomínia?
Jesus não está esquecido. Sabe muito bem
quem é. Sabe que o Pai lhe entregou nas mãos
todo o poder; sabe que vem de Deus e que torna
para Deus (Jo. xin , 3 ); sabe que Ele e o Pai são
uma só coisa (Jo. x, 30). Mas sabendo tudo isto,
sabe também que se encarregou de pagar e satisfazer
pelos meus pecados.
Sou orgulhoso, ambicioso, amigo de louvores e
de honras, a ponto de me vingar da mínima desa
tenção ou palavra com que imagino ser ofendido
ou menos apreciado.
Chego na minha fátua presunção a murmurar
da legítima autoridade pátria, civil e religiosa, a
insurgir-me contra ela c até a injuriá-la.
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Admito voluntariamente em mim um turbilhão,
de pensamentos dc soberba, dc independência, de
insubordinação c revolta, de inju.stiça, dcscaridade,
devaneios perigosos, se não mesmo proibidos.
Não faço caso, ou faço muito pouco, do bom
nome c fama alheia, c não acabo de resolver-me a
aceitar pacientemente as humilhações, as críticas,
as censuras, os desdcns c os desprezos.
Para pagar por estas minhas faltas e pecados
é que N. Senhor quer sofrer a coroação dc espi
nhos e a acerba derisão da sua realeza.
12. — Coração de Jesus, saturado de opróbrios
e esmagado de dor por causa dos meus crimes;
Coração dc Jesus, paciente c dc muita misericórdia,
rico para com todos os que Vos invocam, fazei-me
compreender que pela humildade c sofrimento c
que triunfais do mundo e nos atrais a Vós. Ponde
cm mim os olhos da vossa mansíssima benignidade
e dai-me a estima e o amor das humilhações, do
abatimento, da submissão, da obediência, das heróicas
virtudes que em Vós contemplo.
Sois o meu Rei. Reinai na minha inteligência
pela vossa verdade c doutrina; reinai na minha
vontade pelo cumprimento da vossa santa lei; reinai
no meu coração pelo vosso amor e caridade. Reinai
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em todos os corações, em todas as famílias, em todos
os povos.
Por aqueles que não querem que reineis sobre
eles, quero desagravar-Vos confessando os vossos
direitos e aclamando o vosso reinado.
Debalde fremem as gentes c maquinam revoltas
com seus chefes contra Vós para se livrarem de
Vos servir. O que mora nos céus ri-se deles e a
seu tempo os deitará por terra. Constituiu-Vos
Rei sobre Sião e Vós proclamais o seu decreto:
— O Senhor disse-me: «Tu és meu Filho, eu gerei-te
neste dia. Portanto, todas as nações são tua herança
e teu domínio a terra inteira».
Fazei, Senhor, que todos aceitem o vosso reino,
e recebendo a vossa doutrina. Vos ofereçam respeito
e amor. Quem Vos recusa será castigado e só será
.salvo quem confia em Vós. (Ps. n ).
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Quarto Misfério Doloroso
Levando e Cruz
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povo e (le mulheres, as quais batiam no peito c o
lamentavam. Jesus, voltando-se para elas, disse-lhes:
— Filhas de Jerusalém, não mc choreis a mim;
chorai-vos antes a vós e a vossos filhos, porque não
tardam ai dias em que dirão: — Bem-aventuradas as
estéreis e as entranhas que não geraram e os peitos
que não aleitaram. Então hão-de pôr-se a dizer aos
montes: — Cai sobre nós — e às colinas: — Escon-
dci-nos — porque se no lenho verde fazem isto,
no seco que se fará?
Levavam também dois malfeitores para serem
mortos com Ele. E chegaram a um lugar chamado
Gólgota, o qual nome significa lugar do crâneo
(Mat. XXVII, 26-33; Mc. xv, 15-22; Lc. xxiii, 24-33;
Jo. XIX, 16-7).
2. — Acobardado com as ameaças dos judeus
e receoso de ser acusado ao imperador Tibério,
Pilatos, que nas suas exacções, crueldades e tiranias
tinha motivos para temer uma exoneração, lavou
as mãos e sentenciou: Irás à Cruz.
Sai, pois, Jesus com ela às costas. Adiante o
centurião a cavalo; atrás os condenados, cada um
deles escoltado por quatro soldados e precedido por
um arauto com o letreiro da condenação, letreiro
(|ue às vezes ia pendurado ao pescoço do ré u ; logo
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OS serviçais com os instrumentos necessários; e final
mente a multidão do povo.
Exausto de sofrimento, N. Senhor pára e fala
às mulheres de Jerusalém: — Não choreis por mim,
chorai antes por vós e por vossos filhos...; porque
quando ao lenho verde fazem isto, do seco que é
que será?
3 .— Jesus, pelo vosso generosíssimo Coração
que esquecido dos próprios males se aflige e angustia
com os nossos, dignai-Vos fazer-me a graça de sentir
e chorar as vossas dores. Inflamai o meu coração
no vosso amor, reparti comigo as vossas penas,
imprimi cm mim as vossas chagas e feri-me de
profundo sentimento delas. Pela vossa caridade
infinita c pela intercessão de vossa Mãe Santissima,
ensinai-me a levar convosco a minha cruz, e iJene-
trai-me de ódio e horror ao pecado c do santo temor
da justiça de Deus.
4. — Sob a pressão do povo amotinado pelos
príncipes dos sacerdotes, deu Pilatos contra N. Senhor
uma sentença gravemente injusta.
O procurador romano não teve dificuldade em
ver que os testemunhos levantados a N. Senhor por
seus inimigos, eram falsos. Acusaram-no de blas
femo, e de conspirador que revoltava o povo contra
Roma proibindo pagar-lhe tributos e arrogando-se
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O nome (le rei. Tudo calúnias. Por inveja é que
os príncipes dos sacerdotes tinham entregado Jesus.
Por isso o governador procurou salvá-lo. Três vezes,
falando à turba, o declarou sem culpa (Jo. xviii, 38;
XIX, 4 e 6 ) ; t outra ainda, quando lavou as mãos,
dizendo: — Eu sou inocente do sangue deste justo
(Mat. XXVII, 24).
Não obstante, com medo de ser acusado a Tibério
e de perder o governo que tinha, condenou N. Senhor
a morte afrontosa e cruel, qual era a morte de cruz:
— cruel pelo rigor dos tormentos, afrontosa por se
dar só a escravos e a grandes criminosos.
5. — A maneira como N. Senhor ouviu esta
sentença pode inferir-se do desejo que Ele tinha de
baptizar-se no próprio sangue. «Tenho que ser bapti-
zado num baptismo e que ânsias sinto por ser nier-
gulhado nele» (Lc. xii, 50).
Pesando toda a injustiça da sua condenação, não
se ira, não se impacienta, não protesta, não reclama,
não apela, não se queixa, não solta uma palavra
contra o juiz nem contra seus ministros. Se olha
para a inocência da sua pessoa tem por iníquo o seu
julgamento; mas se repara que está alí em meu lugar,
carregado com os meus pecados e encarregado de
satisfazer por eles, então não o considera iníquo,
senão justíssimo. Por isso não obstante o horror
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natural que lhe mete a morte, estremece também de
contentamento por poder aplacar a justiça divina
e livrar-me da condenação.
6. — Bendito sejais, bondosíssimo Jesus, pela
vossa imensa caridade. Deixais-Vos condenar para
me salvar; aceitais a morte para me dar a vida e me
livrar da desgraça eterna. Como hei-de pagar-Vos
tanto amor? Senhor, na vida e na morte quero ser
vosso; quero cumprir em tudo a vossa lei; quero
receber de vossa mão com perfeita conformidade
os trabalhos, as contradições, as penas, as angústias,
toda a condenação e calúnia. Dai-me a graça de
nunca, por nenhum interesse, cobardia ou medo, me
desviar do meu dever e de não me afastar da vossa
vontade.
7. — Começa a execução da sentença. Os soldados
tiram a N. Senhor a púrpura de escárnio e dão-lhe
os seus vestidos: túnica talar branca e manto escuro,
duma só còr ou listado. O Evangelho não diz se
lhe tiraram também a coroa de espinhos. Conforme
pensam Tertuliano, Orígenes e outros autores antigos,
mais provavelmente lha deixaram ficar, já por cruel
dade, já por mofa da sua realeza, última acusação
que decidiu a sua morte.
8. — Os condenados levavam até ao lugar da
execução a cruz, ou toda ou, como era mais fre-
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quente, só o madeiro horizontal chamado patíbulo.
O Evangelho de S. João, o episódio do Cireneu e a
tradição, provam que N. Senhor levou a sua inteira.
Era uma cruz maior que as ordinárias: primeiro
porque Jesus foi tido na conta de celerado insigne
e as cruzes dos grandes criminosos eram maiores;
em segundo lugar, porque depois de crucificado,
para lhe chegarem à boca uma esponja, foi preciso
servirem-se duma cana.
9. — Conta-se de S.‘®André, que ao ser-lhe apre
sentada a cruz do seu martírio, exclamou: — Salve
cruz preciosa, que há tanto tempo desejo, que tão
ardentemente tenho amado e tão continuamente tenho
buscado, e que finalmente tenho a felicidade de
encontrar para apagar as ânsias de sofrer por Aquele
que em teus braços me remiu!
Oh com quanto maior amor e ternura, com quanto
maior gozo do seu amantissimo coração abraça
N. Senhor e Salvador a sua cruz e a põe a seus
ombros para ir morrer por meu amor e por minha
salvação!
10. — Jesus, bendito sejais pela vossa dignação
e pela vossa inefável caridade. Por ela Vos rogo
e suplico me façais a graça de eu não repelir a cruz,
dc a estimar, dc a amar, de a buscar c de nela me
gloriar e morrer.
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11. — Acompanhado por dois ladrões, para maior
afronta e ignominia, sai N. Senhor Jesus Cristo
carregado com o seu patibulo. Esmagado com o peso
do madeiro, arrasta-se penosamente segurando-o com
uma das mãos e socrgueiido com a outra o vestido.
Curvado, passos incertos c mal seguros, feridas, e
chagas escorrendo sangue, rosto, cabelo e barba feitos
uma pasta, faces inchadas, lábios entreabertos, res
piração ofegante, sede, febre, cansaço extremo...
.A.ssim vai oprimido com os meus pecados o Filho
dc Deus.
12. — A gente apinha-se a ver, varando-o de
olhares curiosos e vozeando observações injuriosas.
Agora é que se ficava sabendo o que eram os mila
gres e os triunfos do grande pr.ofeta. Os pontífices
tinham de.scoberto que tudo era imposturas, e ali
o levavam condenado por malfeitor, rei fingido,
profeta falso e blasfemador. Pobre gente a que dias
antes o tinha aclamado por aquelas ruas chamando-
-Ihe filho de Davide!
13. — N. Senhor, como se nada ouvisse, avança,
tropeçando e caindo. Cai, segundo é tradição, sete
vezes. Como extenuado de sofrimento não pode
levantar-se, investem-no os beleguins e os soldados
com grito.s, pancadas e insultos. Era capaz de erguer
o templo em três dias e deixava-sc miseramente cair.
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E ra filho de Deus c não tinha força para levar
uma cruz. Paravain nisto as suas maravilhas e
prodígios.
14. — Quem é que ali tem compaixão de Jesus?
Simão de Cirene ajuda-o, é certo. Mas como ? Vinha
este homem a entrar na cidade, quando o cortejo
dos condenados saia. Até ao Calvário já não eram
mais de cem metros (') . Como, porém, os soldados
tinham medo que o nosso Salvador, carregado com o
patibulo, lhes ficasse morto no caminho, aliviam-no
do peso da cruz e, prendendo Simão, deitam-lha
às costas a ele e obrigam-no a levá-la atrás do Senhor.
Forçado, pois, e repugnando é que o Cireneu o
socorre, embora depois compadecido se tenha con
formado, mudando a relutância em caridade.
1.5.— Jesus, perdoai-me, porque no trabalho em
que ides, também não Vos tenho ajudado. Tantas
vezes repugno e rejeito a cruz fugindo da mortifi
cação e da penitência, negando-me a combater as
minhas más inclinações, desprezando a guarda dos
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VOSSOS preceitos, impacientando-me e revoltando-me
com as tribulações interiores e exteriores, com as
advcrsidades e calamidades e até com simples con
trariedades. Cego de m im ! .Sei c|iie para ser vosso
discipulo tenho que negar-me a mim mesmo, tomar
a minha cruz cada dia e seguir-Vos, e contudo .só
forçado e violentado a aceito.
Dignai-Vos, Senhor, curar-me da minha cegueira.
Ajudai-me a corrigir-me, dai-me vontade generosa
de acompanhar-Vos, ensinai-me a gloriar-me na cruz
para Vos consolar de quão poucos a queremos e não
Vos deixar sozi
nho com ela.
16. — línlre as
pessoas que nesla
via dolorosa se
compadecem de
Jesus, conserva a
tradição lembran
ça de Santa Verô
nica, a qual sem
temor se chega a
Ele e lhe enxuga
com um sudário o
rosto.
Profundamente
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ansiosa aparece também a Virgem Santíssima a ver
como vai seu divino Filho e quando põe nele os olhos
quem pode compreender a angústia em que Ela fica ?
Mas olha também para o céu, e imitando a caridade
de Deus, o qual, para me poupar a mim, não poupa
o seu Unigénito, também Ela mais uma vez oferece
pelos pecadores, e entre eles por mim, o seu queri-
díssimo Jesus.
17. — Aflita Mãe de Deus, minha Mãe, já que
tanto amais os pecadores, fazei-me sentir a veemência
da vossa dor para chorar convosco e juntar às vossas
as minhas lágrimas. Abri em minha alma as chagas
de vosso Filho, dividi comigo as suas penas e abrasai
o meu coração no seu amor.
18. — O Evangelho só menciona a compaixão das
mulheres de Jerusalém, as quais foram tão corajosas,
que mostraram publicamente a sua mágoa chorando
por N. Senhor Jesus Cristo no meio dos inimigos
dele.
N. Senhor aceita reconhecido esta comiseração,
más na sua caridade logo a aproveita para nos dar
ensino. — Filhas de Jerusalém, diz, não choreis sobre
mim; chorai antes .sobre vós e sobre os vossos filhos;
porque se isto acontece ao lenho verde, o seco que
.será dele? Como se dissesse: — Se vos parecem
dignos de lágrimas os meus sofrimentos, muitc mais
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as merece a causa deles. O que me faz sofrer é o
pecado. Chorai antes os pecados: chorai os vossos
pecados, os de vossos filhos e os de todos; porque
se em mim, que sou lenho verde, em mim que não
tenho culpa e sou ju.sto e a mesma inocência, eles
acendem este fogo de tormentos, no lenho verde,
— em vós, em vossos filhos, nos pecadores — que
chamas não atearão?
19. — Aqui olhava Jesus para Jeru.salém cercada :
— soldados comendo o coiro dos cintos, do calçado
e dos escudos; famintos ingerindo detritos asque
rosos; mães degolando e devorando seus filhos;
centenas de crucificados à volta dos muros; deses
perados ([ue para abreviar as dores clamavam aos
montes e às colinas que os esmagassem; cativos
e mortos sem conta, a cidade arrasada e em labaredas.
Como eram então mais felizes, ou menos desgraçadas,
as mulheres sem filhos, ponjue não .sofriam as
angústias deles, mas só as suas!
Detrás deste espectáculo via N. Senhor outro
mais horrendo: a ruína das almas no fogo eterno.
Sc o Coração Santíssimo de Jesus se aflige com
os nossos males da vida presente, oh como se angustia
com os que podemos incorrer no futuro! — Chorai,
chorai sobre vós e não sobre mim. Chorai sobre os
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vossos pecados para não serdes infelizes para sempre.
São estas as ânsias do Coração de Je.sus.
20. — Generosíssimo Coração de Jesus, bendito
sejais pela vossa caridade, tão esquecida dos próprios
tormentos e tão solícita do nosso bem.
Quereis que chore sobre mim? Sim, Jesus,
chorarei; mas antes deixai-me chorar sobre Vós.
O culpado do que sofreis, sou eu. Não é justo que
chore o mal que Vos fiz? Merecíeis tal coisa, meu
Senhor e meu Deus, generosidade, amor e bondade
infinita?
Ah Senhor, que pena ter-Vos ofendido! Per
doai-me. Perdoai-me a mim e a todos os que pecam.
Dai-nos a graça de nunca mais pecar.
Sou árvore infrutuosa c seca, em perigo dc ser
deitado ao fogo. Lançai-me um olhar de piedade;
banhai as raízes desta árvore com o sangue c|uc ides
derramando, para que ela reverdeça, se enfolhe,
floreça e frutifique, e a minha alma, vivificada pela
seiva da graça, dê frutos de sincero arrependimento
e de ardente caridade.
E SC algum dia por minhas faltas, esquecido do
amor que Vos devo, me expiíser ao perigo dc ofen-
der-Vos, lembrai-mc da vossa advertência: — Se isto
fazem ao lenho verde, o seco que será dele?
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Quinfo Mistério Doloroso
Na Cruz
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OS cscribas e os Anciãos. Também o insultavam os
soldados. Um dos ladrões blasfemava contra Ele.
Porém o outro repreendia-o: — Nem tu temes a
Deus estando no mesmo suplício? E nós, em ver
dade, sofremo-lo justamente, porque recebemos o
(jue merecem as nossas acções. E.ste porém não fez
mal nenhum. Depois di.sse a Jesus: — Jesus, lem
bra-te de mim quando vieres na majestade do teu
reino. E Jesus respondeu-lhe: — Em verdade te digo
(lue hoje esíar.ás comigo no paraíso.
De.sde o meio dia fizeram-se trevas em toda a
terra até às três horas da tarde. De pé junto da
cruz eslava a Mãe
r ^ r J «Jt-' Ji‘sus. Vendo
Ele, pois, sua Mãe
e de pé ao lado
dela o discípulo que
amava, diz a sua
Mãe: — Senhora,
eis aí o teu filho.
Depois diz ao tlis-
cipulo: — Eis aí
tua Mãe.
Por volta das
três horas Jesus
bradou com grande
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voz: — Eli, Eli! Lammá sabactâni? Quer dizer:
Meu Deus, meu Deus! Porque é que me desampa-
raste? Alguns dos que ali estavam e o ouviram,
disseram : — Chama por Elias, este.
Depois disto, sabendo Jesus que tudo estava con
sumado, para .se cumprir a Escritura, disse: — Tenho
sede. Correu logo um dos soldados a tomar uma
esponja e cmbebendo-a num vaso que ali estava cheio
dc vinagre, prendeu-a à ponta duma cana e levou-lha
<à boca para beber. Acabando de tomar o vinagre.
Jesus disse: — Tudo está consumado. Depois dando
de novo um grande brado, exclamou : — Pai, cm tuas
mãos entrego o meu espírito. E inclinando a cabeça,
expirou. (Mat. xx vn , 33-50; Mc. xv,22r37; Lc. x x m ,
33-46; Jo. xix, 17-30).
2. — O Calvário era um cabeço redondo e calvo,
ao norte dc Jeru.salém para o lado poente. Ficava
na passagem dc duas estradas, di.stante uns cem
metros duma das portas da cidade. De elevação não
tinha dez metros. Era mais alto que a colina oriental
dc Jeru.salém onde estava o templo, e mais baixo
(jue a ocidental onde se erguia o palácio dc Hcrodes.
Neste cabeço é que estão crucificando Jesus,
trespassando-lhe as mãos c os pés com grossos cravos
de ferro.
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3. — Senhor, no patíbulo onde sois cravado
dignai-Vos leinbrar-Vos de mim. Fazei-me a graça
de provar e sentir o vosso desamparo, as vossas
angústias e os vossos tormentos, para através do
que sofreis conhecer o amor que me tendes e Vos
pagar amor com amor cumprindo em tudo a vossa
lei e a vossa santíssima vontade.
4. — A crucifixão fazia-sc ou com a cruz deitada
por terra ou, como era mais freqüente, com ela
erguida e já cravada no chão. Quando ela se arvorava
primeiro, o réu, posto a cavalo num espigão embebido
ao meio do poste, era assim atado e pregado ao
madeiro; outras vezes pregava-se pelas mãos ao
patibulo ou travessa da cruz, e era içado por cordas
ao tope da haste, na qual em seguida lhe prendiam
ou cravavam os pés.
Como não é certo de qual destes modos crucifi
caram o .Senhor, podemos imaginar que foi do
primeiro.
5. — Deviam ser piedosas senhoras de Jerusalém
quem ofereceu a Jesus o vinho misturado com mirra.
Era caridade que elas provavelmente faziam com
todos os condenados para lhes adormecer os sentidos
e atenuar as dores. N. Senhor agradecido levou
aos lábios sedentos a amargosa bebida, mas para
.sofrer sem alívio não a quis tomar. Nem convinha
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à sua dignidade divina permitir em sua humanidade
um estado de meia inconsciência.
6. — Os algozes despem-no e, como a túnica
estava colada às feridas, abrem-nas todas, fazendo-o
uma púrpura de sangue. Cingem-no com um pano,
em atenção ao costume judaico, e deitam-no sobre
a cruz.
7. — N. Senhor estende os braços e os pés.
-Às marteladas varam-lhe com um cravo grande e
grosso uma das mãos. l^a.sga-sc a carne, rebenta o
.sangue, separam-se os ossos, crispam-se os dedos.
Puxado violentamente o outro braço, naturalmente
contraido por efeito das dores, repetem-se as mar
teladas e o tormento. A mesma violência é necessária
para levar ao devido lugar os pés e os pregar cada
um com seu cravo.
Ouve os golpes a Mãe de Jesus e recebe-os em
seu coração.
8. — Rojam pelo chão a cruz, erguem-na a braços,
paus e cordas, e deixam-na cair de pancada na cova
destinada a arvorá-la. Jesus estremece todo com
horríveis dores, alargam-se as chagas das mãos e dos
pés, e como se uma lufada sacudisse, depois de
chover, uma árvore, caem de todo o corpo de Jesus
abundantes gotas de sangue.
9. — Levanta-se a grita do povo e a vozearia
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(los Príncipes dos sacerdotes, dos Escribas e dos
Anciãos, triunfantes àquela vista.
10. — Que espectáculo! Braços distendidos, mãos
e pés cravados e disformes, .sangue correndo, o
corpo contorcido, inchado de feridas, todo uma
chaga, o peito arfando, re.spiração aflita, cabeça
varada de espinhos, olhos velados, faces sumidas,
lábios brancos, boca entreaberta, língua seca, sede
ardente, febre, sufocação, circulação difícil, ossos
desconjuntados, tensão de nervos, uma tortura hor
rorosa a cada movimento e a cada anélito. Mais de
três horas este .suplício!
11.— Jesus, que horrivelmente .sofreis! Estais
ai sem aspecto nem aparência de beleza, .sem encanto
exterior que nos cative, desprezado como o último
dos homens, oprimido de dor e sofrimento, nojento
à vista de tão chagado, feito um maldito (Gal. ni, 13),
um leproso ferido de Deus e humilhado, triturado
pelos nossos crimes e esmagado com o peso de
horrorosos tormentos (Is. u ii, 2 ss.).
12. — Mas sobre as dores físicas, as morais.
Quando mete pena um animal que sofre, o Senhor
não a mete a seus inimigos. Todos o insultam.
Insultam-no os Príncipes dos sacerdotes com os
líscribas e Anciãos, dizendo: — Salvou os outros
e não se pode salvar a si. Salve-se a si se é o Messias
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deito de Deus. í: o Rei de Israel; desça agora da
cruz e acreditaremos nele. Confia em Deus, disse
que é filho de D eus; pois Deus se o ama, que venha
agora livrá-lo.
Motejam-no os que passam, abanando a cabeça
e exclamando: — Olá, tu que destróis o templo de
Deus e em três dias o tornas a erguer, salva-te d ai;
se és o filho de Deus desce da cruz.
Quando Ele filialmente se queixa a seu Pai de
o ter desamparado, mofam-no alguns dos presentes:
— Olha este a chamar por Elias!
Também os soldados o afrontam oferecendo-lhe
o vinagre: — D eixa; a ver .se vem Elias salvá-lo.
— Deixai-me vós, que é para Ele aturar até que che
gue Elias. — Se és o Rei dos judeus, anda, salva-tei
Até um dos ladrões o u ltraja: — Então tu que
és o Messias, não te salvas a ti e a nós ?!
13. — Na verdade, Jesus, tratam-Vos como verme
e não como homem, como opróbrio dos homens
e abjecção da plebe. Todos os que Vos rodeiam.
Vos escarnecem e Vos arremessam insultos meneando
a cabeça (S. xxi, 7-8).
14. — Entretanto Jesus intercede pelos que o
torturam e blasfemam: — «Pai, perdoai-lhes, porque
não sabem o que fazem» e promete o céu ao bom
ladrão: «Hoje estarás comigo no Paraiso».
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15.
dia o sol escurece
e a terra assom
bra-se de medo
nha treva. Calam-
-se as injúrias
e as blasfêmias.
A turba espavo-
rida com o negror
daquela inespe
rada noite, afasta-
-se e dispersa-se.
Aproximam-se da
cruz os poucos
amigos de Jesus.
Ele, vendo sua Mãe e ao lado dela o discipulo
amado, d iz: — «Senhora, eis aí o teu filho» e ao
discipulo: — «Eis ai tua mãe.
16. — Nas trevas, silêncio e pavor... algum
gemido dos ju.stiçados... algum murmúrio dos sol
dados. ..
N. Senhor concentra-se em si. Aquele temeroso
negrume é uma sombra da amargura e da angústia
de sua alma. Prègou e fez o bem... Tantos bene
fícios e milagres...! Lutou pela verdade e pela
justiça, venceu e triunfou sempre.
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Agora, quem o vê zomba dele e chama-lhe ven
cido. Quem há-de acreditar que Ele é o Filho de
Deus? Todas as aparências o condenam de impostor.
Traições, calúnias, desamparos, tormentos e cruel
dades... oh que ondas de tempestade que o submer
gem e lhe alagam a alm a! Só, amaldiçoado, num
patibulo infame entre celerados!
Dos antros do futuro vê-se investido de legiões
de pecados: luxúrias, rapinas, furtos, escândalos,
blasfêmias, vinganças, infidelidades, .soberbas, deso
bediências... todos os mon.stros dc crimes e vicios
que têm covil no coração humano. As almas, as
almas por quem morre, hão-de condenar-sc nume
rosamente... ! No futuro hão-de deixá-lo como agora,
tantas almas...! Será perseguido c amaldiçoado em
si e nos seus, sempre e em toda a jjartc, ou tratado
como indiferente.
17. — Ergue os olhos ao céu numa prece a seu
Eterno Pai. Mas é a hora da justiça. O céu não
.se abre; seu Pai não o atende. Sofrerá até ao fim;
bebcrá o cális até à última gota. Amargurado, triste,
nauseado, apavorado, mais que no horto, dá um
grande brado de angústia: — «Meu Deus, meu Deus,
porque é que me desamparaste ?» Da divindade a
que está hipostàticamente unida, da visão beatífica
ciiie não perde um instante, não desce para a alma
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(le Jesus nenhum alivio: tudo trevas, amargura,
desconsolo. Deus meu. Deus meu, porque é que me
desamparaste ?»
18. — Prosseguindo em silêncio o salmo destas
palavras, N. Senhor apresenta a seu Pai o quebran-
tamento e tortura dos seus membros c as ânsias,
aflições e esmagamento de seu coração, e roga-lhe
que o defenda e livre de seus inimigos (Salmo xxi).
Contudo, quando Israel em suas súplicas era aten
dido, Ele na sua cruz não o ê, porque as vozes d.ts
suas culpas afastam dele o socorro divino. Longe a
salute mea verba delictorum meorum. Í-. inocente
e impecável, mas tem sobre si os meus crimes pelos
(juais se obrigou a pagar. Por isso não é ouvido.
Não é ouvido para eu ser perdoado, é desamparado
para eu ser salvo.
19.— Oh meu Deus, que admirável dignação a
da vossa piedade! Que inefável amor o da vossa
caridade! Para remir o servo entregais o Filho!
A vosso próprio Filho é que não perdoais; entre
gai-lo à cruz por amor de nós (Rom. vm , 32)!
Não lhe perdoais a Ele os meus pecados e per-
doais-mos a m im ! Castigai-los nele com tanto rigor,
para que eu entenda, sim, o que eles são e merecem,
mas sobretudo para que saiba o que Vos devo
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a VÓS c a Ele c pense em pagar esta dívida
imensa.
20.— Que tenho feito? Que faço? Jesus, até
hoje, que fiz eu por Vós? Para o futuro que hei-de
fazer? Venerar em Vós as dores, a»‘afrontas, as
ignomínias, os desamparos, e em mim querer os
prazeres, as delicias, as honras, as consolações?
Está bem o Senhor em cruz e o servo em deleites,
o Senhor em ultrajes e o servo em glória, o Senhor
deixado dos homens e de Deus e o servo obsequiado
por todos, o Senhor crucificado e o servo cm pecado?
21. — Senhor, brevemente exalareis o último
-suspiro. Pela morte que ides sofrer, fazei-me a
graça de morrer ao pecado.
Sois dos pés à cabeça uma dor lancinante e uma
chaga viva; dai-mé a graça da generosidade para
mortificar os meus sentidos e trazer sempre cm meu
corpo a mortificação do vosso.
Pelos ultrajes à vossa honra, ensinai-me a sofrer
as injúrias, os desprezos, as afrontas.
' Pelo vosso desamparo fazei de mim o que qui-
serdes, contanto que não me desampare a vossa
graça nem eu Vos desampare a Vós.
Por essa cruz. Senhor, por esse mistério de
misericórdia e de justiça, dai-me a graça do vosso
santo temor e a graça do vosso amor.
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Pelo VOSSO coração oprimido pelos nossos crimes,
pela vossa Mãe Santíssima, que aflita e amargurada
Vos assiste, fazei-me estas graças. Senhor.
22. — Depois N. Senhor Jesus Cristo, com o
fim de realizar a predição da Escritura, diz que
tem sede, aceita o vinagre, declara que tudo está
cumprido, solta de novo um grande brado; — Pai,
em tuas mãos entrego o meu e.spírito — , inclina a
cabeça e morre.
— Jesus, nós Vos adoramos e Vos .bendizemos
porque pela vossa cruz remistes o mundo.
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Primeiro Misfério Glorioso
A Ressurreição
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Estes, reunindo-se em conselho com os Anciãos,
deram aos soldados uma grande soma de dinheiro,
dizendo-lhes: — Espalhai que os discípulos dele
foram de noite, e enquanto vós dormieis, o rou
baram. E se isto chegar aos ouvidos do governador,
nós lho faremos crer e trataremos da vossa segu
rança (M t. xxviii, 1-14).
2. — Costumavam os judeus abastados fazer os
seus jazigos nalguma propriedade, abrindo-os na
rocha viva em forma de caverna. Constavam estes
sepulcros de um vestibulo de poucos metros e de
uma câmara funerária de cerca de dois metros de
comprido por outros tantos de largo. Comunicavam
ambos os recintos por uma porta pequena e baixa.
Dentro da câmara mortuária, havia encostado à
parede da direita, ou talvez talhado nela, um banco
de pedra, onde se punha o cadáver. A entrada de
tais sepulcros fechava-se com uma espécie de grande
mó, que rolava num sulco aberto na rocha.
Era assim o jazigo onde José de Arimateia
sepultou N. Senhor, a trinta metros, mais ou menos,
do Calvário.
3 .— Julgam muitos que a ressurreição foi uma
hora depois da meia noite, outros — também nume
rosos — (juc foi ao romper da aurora. Não há dúvida
que ela foi cedo, mas o momento não é certo.
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Essencialmente consistiu em a alma de N. Senhor
voltar a unir-se com o seu santíssimo corpo tor-
nando-o à vida.
4. — Estamos diante do sepulcro. A terra trem e;
o anjo roda a pedra, e fulgurante como um relâm
pago c deslum
brante como a
neve, senta-.se em
cima dela; os
guardas tombam
no chão como
mortos.
5 .- J e s u s r,
suscitado, divino
triunfador do pe
cado e da morte,
eu Vos adoro,
alegre e jubiloso
p e l o esplendor
da vossa glória.
Agora não mais
sofrercis. listais para sempre no eterno gozo. Res-
.surgis dos mortos para não mais morrer. Onde é
que está, ó morte, a tua vitória?
Pelos anjos que anunciam a vossa ressurreição,
pelos vos.sos discipulos que ireis reunindo e reani-
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mando, por vossa Mãe Santíssima ([ue ides visitar
e consolar, tende a bondade de me fazer entrar na
vossa alegria para Vos amar e servir com mais
entusiasmo.
O vosso apóstolo (I Thess. iv, 18) escreve que
nos consolemos com este mistério. Dai-me a graça
para assim o fazer. A vossa ressurreição é a minha
esperança. Hei-de ressuscitar como Vós ressuscitastes.
6. — A ressurreição de N. Senhor Jesus Cristo
é a pedra fundamental da nossa santa religião. Por
isso está fora de qualquer dúvida; consta com
plena certeza. Surrcxit Dominus vere (Lc. xxiv, 34).
Na verdade, o Senhor ressuscitou. Testemunham-no
os seus discípulos c até os seus inimigos.
7. — Os Príncipes dos sacerdotes, os Escribas,
os Eariseus c os Anciãos do Povo tiveram a iníqua
satisfação dc matar Jesus, mas não tiveram o prazer
de gozar dela. A maldade é inquieta como as ondas.
Os maus não podem ter paz.
Jesus era o grande profeta e laumaturgo. Acabara
entre prodígios: — o seu poderoso brado, as trevas,
o tremor de terra, o rasgamento do véu do templo.
Predissera que havia de ressuscitar ao terceiro dia.
Tinham-lho eles ouvido, quando pedindo-lhe um
milagre no céu, Ele respondera que lhes daria não
o milagre que exigiam, mas o da sua ressurreição.
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«Assim como Jonas esteve três dias e três noites
no ventre do cetáceo, assim estará o Filho do
homem três dias e três noites no seio da terra»
(Mat. XII, 40). E se agora ressuscitava?!
8 .— Com este espinho na alma vão-se ter com
Pilatos, expõem-lhe os seus receios, alcançam dele
um posto de soldados romanos e levam-nos ao monu
mento. Entram dentro a verificar. O defunto lá
estava envolto na mortalha. Saem, rolam a pedra
para a boca do jazigo, passam-lhe lado a lado uma
corda que prendem na fraga pelas pontas, às quais
aplicam o selo, e deixam os soldados de guarda.
Venham agora os discípulos de Jesus levá-lo do
monumento e dizer que Ele ressuscitou!
Era a má consciência a tranquilizar-se, porque
o que estas precauções significavam era um grande
temor de que Jesus ressuscitasse. Se não temessem,
para que as tomavam?
9. — Mas nem com elas ficaram sossegados.
Bem viam que não eram seguras. Os ulteriorcs
acontecimentos provam que não confiavam muito
nelas. Ouvem os soldados e em vez de os acusarem
de infiéis, convocam o Conselho e o que resolvem
é comprar a peso de oiro, o silêncio e a mentira.
— «Dizei que os discipulos dele foram de noite e,
estando vós a dormir, o roubaram». Não podendo
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negar o milagre que não querem reconhecer, inven
tam o roubo dos discípulos.
— Miserável astúcia!, exclama S.'® Agostinho.
Testemunhas a dormir é que apresentais?! Se os
soldados estavam a dormir como é que sabem que
foi roubado o cadáver? E se estavam acordados
porque é que o deixaram roubar? Quem deveras
estava dormindo era quem fantasiou delírios tão
loucos.
Na verdade, se os di.scípulos romperam os selos
e violaram o sepulcro como é que os deixam prègar
pelas praças e mesmo nos átrios do templo e não
os metem na cadeia? Portanto, os inimigos de
N. Senhor, mesmo contra vontade, dão testemunho
da ressurreição dele.
Admirável providencia a vo.ssa, Jesus, que ate
da obstinada malícia dos vos.sos contrários tira
proveito para a minha f c ! Senhor, nor tanta cari
dade, bendito .sejais!
10. — Os discípulos não foram crédulos. Pelo
contrário. Não acreditaram na Madalena nem nas
outras mulheres, que tacharam dc alucinadas.
.Segundo S. Marcos, não acreditaram mesmo noutros
discípulos. S. Tomé chegou à temeridade inaudita
de querer ver nas mãos do Senhor as aberturas dos
cravos e meter nelas o dedo e à dc querer intro-
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(luzir a mão na ferida do lado. Sem isso não havia
dc crer. N. Senhor reprccndeu-os por tardos c duros
dc coração e incrédulos.
Mas, enfim, as provas foram tantas c tão evi
dentes que se renderam. E aqueles homens timidos
c cobardes (|ue tinham desamparado e renegado seu
Mestre c que se escondiam com medo dos judeus,
pregam com desassombro a ressurreição, protes
tando que não podem deixar dc pregar o que viram.
11. — Viram efectivamente, não sé) o túmulo
vazio, mas o Senhor em pessoa. Viram-no e con
versaram-no e comeram com Ele e tocaram-no c
apalparam-no c meteram o dedo e a mão nas chagas
das mãos dele e do lado, c capacitaram-se que tinham
diante não um fantasma, um espirito, uma pura
visão, mas um corpo de carne c osso.
12. — Não podiam ter dúvidas. Tinham-no visto
nas mais variadas circunstâncias: na cidade e no
campo, em casa e fora dela, à borda do lago e no
cimo do monte, de dia e de noite. Viram-no homens
e mulheres, isolados e em grupos (um destes cra de
mais de 500 pessoas) já reconhecendo-o logo, já
pouco a pouco.
13. — Duraram as aparições dc N. Senhor qua
renta dias. Onze são as registadas na S. E.scritura:
cinco no dia da ressurreição, cm Jerusalém ou arre
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dores, e seis ultcriormente, as mais delas na Galileia.
As primeiras foram: a Maria Madalena, às Santas
Mulheres, aos discipulos de Emaús, a S. Pedro,
aos Apóstolos no Cenáculo na ausência dc S. Tomé.
As restantes: aos Onze no Cenáculo, a sete discí
pulos nas margens do mar dc Tiberíades, aos Após
tolos num monte da Galileia, a mais de 500 discípulos
juntos (é possivcl que esta aparição se identifique
com a precedente), a S. Tiago o Menor, e aos
Apóstolos no dia da Ascensão.
14. — A certeza da ressurreição de N. Senhor
foi tão firme e tão segura que os discipulos arros
taram por Ele privações, perigos, torturas e morte.
E evidente que não arriscariam tudo por uma som
bra, por um cadáver que tivessem roubado, por um
impostor que os tives.se ludibriado.
15. — Graças ao Senhor que tão provado deixou
o maior dòs seus milagres e que tão solidamente
lançou os fundamentos da nossa fé na sua divindade.
16. — Senhor, bendito sejais pela vossa sabedoria,
pela vossa omnipotência e pela vossa bondade!
Creio que sois o Verbo de Deus nascido da Ima
culada Virgem Maria, que padecestcs e morrestes
sob Pôncio Pilatos, que fostes crucificado, morto
e sepultado e que ao terceiro dia ressurgistes dos
mortos.
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É indubitável que rcssurgistes. Ressurgistes de
verdade. Perdoai-me que o repita. É a alegria da
vossa vitória c o júbilo do vosso triunfo. Quero
regozijar-me convosco.
R também a minha esperança. No corpo místico
d<i Igreja Vós sois a cabeça, nós os membros.
A cabeça ressurgiu; logo os membros também res
surgem.
17. — í- o que ensina o .Apóstolo: «Se .se prega
(jue Cristo ressurgiu dos mortos como é que dizem
alguns entre vós que não há ressurreição dos mortos ?
Porque se não há ressurreição dos mortos, também
nem Cristo ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou
é vã a nossa pregação e é vã a vossa fé.
Somos assim testemunhas falsas de Deus, por
que levantamos testemunho contra Ele de c|ue res-
.su.scitou a Cristo, ao qual, se os mortos não ressur
gem, de nenhum modo ressuscitou. Porque se os
mortos não ressuscitam, também Cristo não res
surgiu. E se Cristo não res.surgiu é vã a vossa fc,
porque estais ainda nos vossos pecados.
Donde também se segue que os que adormeceram
cm Cristo, se condenaram.
Sc a nossa esperança em Cristo c só para esta
vida, somos de todos os homens os mais desgraçados.
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18. — Mas a verdade indubitável é que Cristo
ressurgiu dos mortos, como primicias dos que dor
mem; porque assim como por um homem veio a
morte, também vem por um homem a ressurreição;
e assim como em Adão todos morrem, assim em
Cristo todos recobram a vida. Mas cada um na sua
ordem : Cri.sto como primicias; depois os que são
de Cristo, na vinda dele.
Aliás para que é que nós nos haviamos de
arriscar a toda a hora?... Eu ando de contínuo em
perigo de morte, irmãos. Atesto-o pela glória que
tenho de vós em N. Senhor Jesus Cristo. Se mera
mente como homem, .sem ulterior esperança, combati
com as feras em Rfeso, que é que isso me aproveita ?
Se os mortos não ressuscitam, mais vale comer e
beber, porque amanhã havemos dc morrer.
Não vos deixeis enganar. As más conversas
corrompem os bons costumes. Vigiai a sério e não
pequeis...
19. — Mas dirá alguém: Como é que ressuscitam
os mortos e com que corpo virão?
Insensato, o que tu semeias não torna à vida se
não morrer primeiro. E quando semeias, não semeias
o corpo que há-de nascer, mas um simples grão, por
exemplo de trigo ou dc qualquer outra coi.sa. Porém
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Deus dá-lhe um corpo como lhe apraz, c a cada uma
das sementes o corpo que lhe compete.
Nem toda a carne é a mesma carne; mas uma
é a dos homens, outra a dos animais, outra a das
aves e outra a dos peixes. H á também corpos
celestes e corpos terrestçes; mas um é o brilho dos
celestes e outro o dos terrestres. Uma é a claridade
do sol, outra a da lua e outra a das estrelas; porque
as estrelas diferem entre si na claridade.
20. — O mesmo se dá na ressurreição dos mortos.
O corpo semeia-se em corrupção, ressuscita em
incorruptibilidade; semeia-sc em ignominia, ressus
cita em glória; semeia-se cm fraqueza, ressuscita
em robustez; semeia-sc corpo animal, res.suscita
corpo espiritual.
Se há corpo animal, também o há espiritual,
como está escrito: O primeiro homem, Adão, foi
feito alma vivente; o último Adão, espirito vivifi-
cante. Porém não é primeiro o espiritual, mas sim
o animal, e depois o espiritual.
O primeiro homem formado da terra é terreno;
o segundo vindo do céu é celeste. Qual o terreno,
tais também os terrenos; e qual o celeste tais também
os celestes. (I Cor. xv, 12 ss.).
21. — Esta é. Senhor, a vossa palavra. Creio-a,
meu Deus, porque não podeis nem enganar-Vos nem
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cnganar-me. Creio que Vós ressuscitastes; creio
que eu hei-de ressuscitar. Tanto Vos custa ressuscitar
um morto como criar infinitos seres. Quem viver
da vossa vida ressuscitará na vossa glória.
22. — Pela vossa verdade, pelo vosso poder, pela
vossa vida, pela vossa morte c pela vossa ressur
reição, imploro humilde e confiadamente a vossa
misericórdia.
Tenho trazido em mim a imagem do homem
terreno, tenho jazido no sepulcro do pecado, das
paixões, da tibieza e da imperfeição. Quero trazer
daqui por diante a imagem do homem celeste, sair
da tumba do pecado, da indolência e do desleixo,
para uma vida nova: vida de graça, de fervor, de
generosidade, vida de perfeita imitação da vossa
vida. Dignai-Vos dar-me a vossa graça, Jesus, por
que sem ela não posso nada. Pelos anjos que nos
revelaram o vosso triunfo, pelos santos Apóstolos,
por vossa Mãe Santíssima, ouvi-me, Senhor.
23. — Sei que todos ressuscitamos, mas nem todos
gloriosos.
No céu não entra carne e sangue, não entram
os corpos no seu estado actual, porque a corrupção
não pode possuir a incorruptibilidade. Também não
entra na vossa glória quem não seguir os vossos
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passos. Quem quer a vossa felicidade há-de levar
a vossa cruz e abundar em vossas obras.
Eis-me aqui, Senhor, para praticá-las, eis-me
aqui para levar a cruz.
Pobreza, trabalhos, doenças, afrontas, adversi-
dades, combate à soberba, à ira, à sensualidade, que
podem custar, se me levam a Vós c me transformam
à vossa semelhança ?
Quando o meu corpo for impassível, brilhante
como um sol e mais veloz que o pensamento, quando
para ele não houver obstáculos nem distâncias,
quando for minha alma um céu de gozo e bem-
-aventurança, oh que pequeno parecerá todo o esforço
e sofrimento passado!
É bem certo que o trabalho que por Vós fizer,
não é vão.
Concedei-me, pois, a graça de ser abundante nas
vossas obras e firme e constante no fervor para
ressuscitar como Vós ressuscitastes e entretanto
viver na esperança de ser um dia o que Vós já sois.
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Segundo Misfério. Glorioso
A Ascensão
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E como estivessem com os olhos pregados no
céu, quando Ele ia subindo, eis que se apresentaram
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deixou e subiu para o céu, há-de vir assim um dia
como o vistes subir ao céu.
Então eles depois de O adorarem, desceram do
Monte das Oliveiras e voltaram para Jerusalém
com grande júbilo (Act. i, 4-11; Lc. xxiv, 50-2;
Mc. XVI, 19).
2. — No Monte das Oliveiras temos à vista o
maravilhoso quadro. Os discípulos, alheados e fora
de si, faces radiantes, olham para o céu, para Jesus
que vai subindo; e qua.se sem darem pela nuvem
que o encobre, continuam, imóveis e extáticos,
olhando.
3. — Senhor, que tão poderosamente arrebatais
os olhos e os corações dos vossos discípulos, arrebatai
também os nossos, para que eles sempre estejam
fixos onde estão os verdadeiros gozos.
Subis ao céu a scntar-Vos à direita de Vosso Pai.
Parabéns, Senhor, por essa glória, luz sem sombra,
sol sem poente, alegria eterna, tão bem merecida
com tantos trabalhos! Dignai-Vos preparar-nos o
nosso trono junto a Vós, para nos alegrarmos sem
pre convosco como agora nos alegramos da vossa
Ascensão tão admirável.
4. — Aos quarenta dias da sua ressurreição, depois
de ter ultimado a organização da .sua Igreja e a
instrução de .seus di.scípulos, Jesus, à mesa com eles
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no Cenáculo, mancla-lhes que não saiam de Jeru
salém, mas que esperem na cidade a vinda do
Espírito Santo, o qual os há-de revestir da força
necessária para se desempenharem dignamente da
sua missão dc pregadores do Evangelho.
5. — Depois sai com eles (talvez com os cerca
de 120 que estavam no Cenáculo no dia de Pentc-
costes: a Virgem Santissima, os Apóstolos, os dis
cípulos c as santas mulheres) c toma pelo vale de
Josafá.
Há ali íntima alegria, saudade imensa e assomos
de lágrimas nos olhos. Jesus, o grande profeta
poderoso em obras e palavras, o Messias prometido,
o Filho dc Deus, verdadeiro Deus c verdadeiro
homem, Coração tão carinhoso, tão terno, tão gene
roso, tão amigo, vai deixá-los. Neste mundo não o
tornam a ver. Mas a pena desta saudade não punge;
é ungida e penetrada de paz, doçura e gozo.
6. — Jesus passa o Cedron, e deixando à esquerda
o Horto das Oliveiras, onde agonizara e fora preso,
sobe ao monte. Lá do cimo estende a vista a
Jerusalém, ao Calvário, à sua pátria, aos longes do
horizonte onde em breve o seu nome triunfará das
águias do pensamento e das da força, da sabedoria
grega c do poder romano. A Cruz do Calvário será
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hasteada no Capitólio. Os dias da Paixão ? Sombras
que dão luz; dores que dão flores.
7. — O Senhor olha ao perto para o grupo que
0 rodeia. Olha longa e ternamente, banhados de
doçura aqueles olhos cintilantes, que esplendem como
estrelas no rosto radioso. Brancura e luz aquelas
chagas, brancura c luz aquele corpo santissimo ful
gurante como um sol.
8. — Todos sentem chegada a de.spedida e ajoe
lham. Jesus levanta as mãos (tem nelas todo o poder
e todos os bens do céu e da terra), deita sobre os
que amou com todos os excessos do seu amor divino
uma bênção onde vai todo o afccto e toda a amizade
do seu generosissimo Coração, e começa a elevar-se
e a subir.
Que maravilha! Fora visto caminhar sobre as
águas, penetrara no Cenáculo com as portas fecha
das ; agora voa pelos ares penetrando os céus.
Veio do Pai, volta para o Pai; vai .sentar-se à
direita de Deus*; vai preparar-me um lugar na glória.
9. — Oh Jesus, abençoai-me também! Oh Jesus,
levai convosco o meu coração! Oh Jesus, levantai
a minha mente para os desejos das coisas do céu!
10. — O Senhor continua subindo e a luz que
espalha é cada vez mais viva. Sobe, sobe sempre,
até que esplêndida de neve c rosa, uma nuvem vem
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tomá-lo c levá-lo em cima. Já não se vê;mas a
Virgem Santíssima, os Apóstolos, os discípulos, as
santas mulheres, olham ainda sem darem conta que
Ele desapareceu naquele trono de majestade e naquela
glória de luz, sem repararem que a imagem que têm
na retina e projectam nas nuvens é um êxtase de
amor, um desenho saudoso do coração.
11. — Homens de Galileia, dizem-lhes as vozes
proferidas pela brancura dos anjos, para que estais
de olhos no céu? Este Jesus que se ausentou de vós
para o céu, há-de voltar como agora o vistes subir.
Veio para salvar, voltará para julgar.
12. — Por cima da nuvem dc neve c rosa, longe
da vista dos seus, Jesus continua subindo. À volta
dele um frêmito dc inúmeras almas que o acom
panham,— cativos libertos das cadeias do Limbo —
os desterrados do fíden, Adão c Eva, Abel, Abraão,
Isaac, Jacó, os profetas, os reis, todos os santos do
Antigo Testamento, vitoriando unânimes o seu
libertador.
13. — Davide descreve a entrada dc Jesus pelas
portas do céu. Príncipes, anjos, abri as vossas portas.
Abri-vos portas eternas para entrar o Rei da glória.
Quereis saber quem é este Rei da glória } G o Senhor
poderoso e forte, o Senhor poderoso no combate.
O Senhor dos exércitos é que é o Rei da glória.
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E abertas par em par as portas eternas, o Senhor
(Ia glória entra no meio cias adorações e aclamações
dos anjos e dos santos e vai sentar-se no trono que
seu Pai lhe indica: Disse o Senhor ao meu Senhor.
Senta-le à minha direita, porque te gerei antes de
existir a aurora e quero que os teus inimigos sejam
cscabelo de teus pés. De Sião estenderás o teu
império; és sacerdote para sempre c triunfarás do
mundo inteiro.
ü seu reino não terá fim. Reina com seu Pai
e reina com os seus. Pai, aqueles que me destes
quero que onde eu estiver estejam eles comigo.
Oh quantos não estão já nos seus tronos refulgentes,
olhando para a terra e intercedendo por mim para
que eu não falte ao meu, porque tenho lá um trono
à minha espera.
14.— Jesus, meu Salvador, Senhor da glória,
pela vossa graça e misericórdia não hei-de perdê-lo.
Não lenho no mundo morada permanente; o meu
dever é buscar a futura. Sou peregrino sobre a
terra: a minha vida cá é uma viagem. Para que
hei-de deter-me com nadas que passam, com bens
0 prazeres que fogem, com tristes ilusões de felici
dade que amarguram? Senhor, possui totalmente o
meu coração, para que, purificado de todas as culpas.
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elc SC goze do vosso triunfo, e vencedor das sedu
ções mundanas, permaneça em Vós para sempre.
15. — Que c que poderá separar-me do vosso
amor? Riquezas, honras, delicias? O que é tran
sitório faz-se em pó em batendo na pedra do
sepulcro. Do mundo só levarei as minhas obras:
para prêmio se forem boas, para castigo se forem
más. Podem separar-me de Vós a pobrez.a, a doença,
a tribulação, a angú.stia, a fome. a nudez, o perigo,
a perseguição, a espada? Tudo .suportaram c de.s-
prezaram os santos porque tinham em seus corações
o vosso amor, e para o terem, quando não lhes
bastasse a lembrança de vossas dores, era bem
suficiente a vossa promessa de recompensa.
Com que facilidade, no Tabor, e.squeceram os
três apóstolos o mundo! No Olivete os Doze, os
discipulos, todos estavam alheios e insensíveis à
terra, porque Vos contemplavam no céu, c na vossa
suprema glória viam um penhor da sua. Adoraram-
-Vos c voltaram com grande júbilo para a cidade
e já se não fechavam cm casa com medo dos judeus,
mas saíam sem receio para irem ao templo fazer
oração, esperando a força do alto que os havia de
armar para todas as lutas e dores c para triunfarem
convosco.
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16. — .Senhor, a vossa esplendida vitória, o trono
onde reinais para sempre, enchem-me dc intenso
gozo. Graças Vos dou pela vossa eterna glória!
A vossa bondade dilata-mc a alma dc esperança.
Que miserável c a terra quando levanto os olhos ao
céu! Mas temo a minha muita fraqueza. Por isso
Vos rogo pelo sangue que por mim dcrramastcs,
pela saudade em que deixastcs vossa Mãe Santissima,
a Imaculada Virgem Maria, pela caridade com que
fostcs' preparar-me um lugar na bem-aventurança,
que me ampareis c guardeis para que o vá ocupar
um dia para Vos bendizer c amar para sempre.
Virgem Santissima dai-me coragem para des
prezar o mundo, para vencer todos os inimigos da
minha .salvação c pela bondade do vosso Imaculado
Coração, Icvai-me à posse eterna de Deus.
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Terceiro Misiério Glorioso
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E logo que se ouviu a(|uele cstrondc^ acudiu muita
gente, a qual ficou atônita pelos ouvir cada (jual
falar na sua própria lingua. Estavam, pois, cstu-
])cfactos c exclamavam, no seu pasmo: Não são
porventura galileus todos estes que estão falando?
E como é que nós os ouvimos... falar das maravilhas
de Deus, cada um
na própria lingua
da terra em que
nasceu ? IC esta
vam todos fora dc
si e diziam ma
ravilhados : Que
quer isto dizer?
Outros p o r é m
escarnecendo di
ziam : «Cheios do
mosto é que eles
estão».
2.
Pedro, apresen ■
lando-se com os onze, lev a n to ij^ voz c explicou
àquela gente que o que viam a realização da
profecia de Joel, em c|ue Deus prometia aos homens
o seu Espirito; que o Ivspirito Santo tinha sido
enviado por Jesus Cristo, o qual tinha ressuscitado
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c era verdadeiro Messias e verdadeiro Deus; que
se queriam salvar-se haviam de fazer penitência
e receber o baptismo dc Jesus.
3. — Naquele dia juntaram-se aos discipulos
cerca dc 3.000 almas. Os conycrtidos freqüenta
vam o ensino dos apóstolos, a comunhão c as ora
ções, e procuravam viver juntos ;'e os ricos vendiam
os bens que tinham para socorrer os necessitados,
dando a cada um o que precisava. (Ac/. /, 12-4;
II, 1-47).
4. — Entremos no Cenáculo. Os apóstolos e os
discipulos, mãos c olhos levantados ao céu, oram
com todo o ardor do seu afecto, invocando o Espi
rito Santo. No meio deles, acompanhada das piedo
sas senhoras que desde a Galileia serviam o divino
Mestre, está a Virgem Santissima arrebatada em
Deus. Rompe do céu um sopro de tufão c dum
globo como de fogo repartem-se chamas (|ue em
forma de linguas vão poisar uma em cada um dos
presentes.
5. — Vinde, Espírito Criador, entrai nas almas
dos vossos fiéis e enchei da graça do céu os cora
ções que Vós formastes. Vós que sois o Consolador,
o supremo dom do Altíssimo, fonte ardente de cari
dade e de unção e.spiritual; Vós que sois a pro
messa do Pai e liberalidade da sua mão, ensinai-
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-nos a louvá-lo pela comunicação dos vossos dons.
Guiai-nos com a vossa luz, inflamai-nos no vosso
amor, e curai a nossa fraqueza com a força da vossa
graça. Vinde, Espirito Santo; vinde, luz dos cora
ções ; vinde e enchei as nossas almas com o esplen
dor que derramais.
6. — Obedecendo às ordens de N. Senhor, os
discipulos voltam do Olivete a Jerusalém e reco
lhem-se no Cenáculo. Apartados do mundo, entre
gam-se a continua oração e perseveram nela em
união de espirito, como se fossem uma só alma.
De pé, de joelhos, prostrados, orando mental
ou vocalmente, em silêncio ou em voz alta, que fé,
que recolhimento, que compostura, que reverência,
que fervor!
7. — Recordam-se das palavras de Jesus: — Onde
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali
estou eu no meio deles (Mat. xyiii, 20). A assistência
do divino Mestre, da qual não podem duvidar, a fé
na presença de Deus a quem invocam, a vista da
Mãe de Jesus tão absorvida na memória de seu Filho
e enlevada na luz da divindade, concentram-lhes pro
fundamente os espiritos, abrasam-lhes vivamente os
corações e inflamam-lhos em fervorosas súplicas.
Unidos à oração da Virgem Santissima, certos
de que Ela os acompanha c intercede por eles, têm
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plena confiança de ser ouvidos e de alcançar as dis
posições necessárias para receber a Promessa do
Pai, o Paráclito, o outro Consolador que Jesus lhes
envia.
8. — Oh que confiança não deve ser a minha,
.se eu orar como eles oram : com a mesma fé, o mesmo
recolhimento, o mesmo espírito, o mesmo fervor,
a mesma perseverança, a mesma conformidade com
a Igreja, a mesma união com Maria Santíssima,
excelsa Mãe de Deus, minha .Senhora, Advogada
e Mãe!
9. — Virgem Purissima, Virgem clemente e pode-
ro.sa, minha Mãe! Ensinai-me a orar; permiti que
eu una as minhas pobres orações às vossas, tão arden
tes e aceites a Deus; intercedei por mim, para que
eu saiba o que hei-de pedir, c pedindo só o que me
inspirardes, alcance tudo o que desejar. Postes
cheia do Espírito Santo. Pazei que Ele desça sobre
mim e me enriqueça abundantemente de seus dons,
de seus frutos, de sua imensa caridade, para mais
o conhecer e amar e para melhor o servir.
10. — E Vós, Espírito de Bondade e de Amor,
dignai-Vos por intercessão da Mãe de Jesus, vir a
esta alma, purificá-la, santificá-la, habitá-la para sem
pre. Vós que com gemidos inenarráveis nos inspi
rais o que havemos de pedir (Rom. vin, 26), inspirai
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O meu coração e os meus lábios para que estejam
sempre convosco e não venham nunca a desejar
senão a Vós e aquilo que me quereis outorgar.
11. — Os sinais da vinda do Espírito Santo,
— o vento impetuoso e as línguas de fogo — foram
escolhidos providencialmente para vermos neles o
que o Espírito divino produz nas almas.
O vcnlo refresca do abafamento acabrunhador
das calmas, purifiea os ares de miasmas deletérios
e é sobretudo uma grande força: move moinhos,
impele barcos, agita as ondas e quando é violento
não sofre obstáculos — estronca e arranca árvores,
leva telhados, tudo derriba e arrasta consigo.
O Espírito Santo é o refrigério das almas, é no
calor tempérie, é nas manchas purificação. Mitiga
o ardor das paixões e lava as nódoas do pecado.
Quando entra numa alma dissipa as trevas do enten
dimento, quebra as prisões da vontade, repele as
tentações do demônio, destrói as seduções do mundo
e da carne.
12. — O fogo é luz e calor: alumia, aciuece c
abrasa. O Espirito Santo é luz: — luz dos cora
ções, luz de felicidade e verdade, luz que ilumina
os nossos sentidos. Í-. fogo: — fogo vivo, fogo que
aquece o que é frio e que dobra o que é rijo, fogo
que purifica os afectos, fogo que abrasa e destrói
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apegos térrenos, respeitos humanos, amores impuros
ou desordenados, fogo de amor e caridade que acende
e inflama os corações, fogo que sobe e leva para
o alto.
sua luz vê-se o que é Deus e o pecado, o
tempo e a eternidade, o mundo e o céu. Ao seu
calor ama-se o bem e odeia-se o mal, aprecia-se o
permanente e despreza-se o caduco, pisa-se a terra
e sobe-se para Deus.
13. — As línguas de fogo são a pregação ilumi
nada dos apóstolos; luz para as inteligências, cari
dade para os corações. Para ensinar requere-se
saber e amor; saber para instruir, amor para aturar
e perseverar.
Força, luz e amor é o que o Espírito Santo
comunica a todos os que recolhidos e orando o espe
ravam no Cenáculo. Quer que vivam em si e que
levem a outros a vida.
.14. — Fonte de vida e caridade, derramai em
minha alma a unção da vossa graça, firmai com a
vossa virtude a minha fraqueza, iluminai as trevas
da minha cegueira, aquecei a minha tibieza e abra-
sai-me no incêndio da vossa caridade.
15. — Cheios do Espírito Santo começaram os
discípulos (primeiro entre si e depois, saindo fora,
no meio da multidão que se ia ajuntando), a louvar.
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em línguas diferentes da sua, a grandeza dos atri
butos e obras divinas.
S. Pedro, tomando a palavra em nome de todos,
rebate a grosseira calúnia de alguns irreverentes,
alega e interpreta escrituras, prega a ressurreição
e a divindade de N. Senhor Jesus Cristo, declara
a necessidade da penitência e com isto converte
3.000 almas.
Dias depois cura um coxo à porta do templo,
e com nova alocução traz à fé de Cristo 5.000 homens.
Presos, S. Pedro e S. João confessam intrèpi-
damente diante de todo o Sinédrio que N. Senhor
Jesus Cristo ressuscitou e que é o único Salvador;
e cominados a calar, declaram que não podem ocultar
o que viram, porque devem obediência mais a Deus
que aos homens.
Sobrevêm a prisão de todos os apóstolos, a liber
tação deles por um anjo, nova captura e compa-
rência perante o Sinédrio, e nova generosa confissão
de S. Pedro em nome dc todos os seus companheiros:
«Importa mais obedecer a Deus que aos homens.
O Deus. de nossos pais ressuscitou a Jesus que vós
matastes suspendendo-o dum madeiro. Este é que
Deus exaltou como Rei e Salvador para dar a
Israel a penitência e a remissão dos pecados. Destas
coisas somos nós testemunhas, como o Espírito
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Santo, o qual Deus concedeu a todos os que lhe
obedecem».
A raiva dos sinedritas não pôde então, como
desejava, cevar-se no sangue dos Doze. Desaconse
lhada de lhes tirar a vida, sujeitou-os cruelmente ao
suplício da flagelação. Eles, porém, saíram do
tormento cheios de alegria por terem sido julgados
dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus.
E continuaram com o mesmo zeío e coragem no
desempenho da sua missão.
16. — Espalham-se pelo mundo, entre citas, gre
gos e romanos, entre bárbaros e civilizados, e sem
temor de trabalhos e tormentos levam a toda a parte
o Evangelho. Uns degolados, outros crucificados,
outros aspados, outros esfolados, todos dão a vida
por seu Mestre.
17. — Estes homens eram aqueles pescadores
rudes e ignorantes, que ainda no dia da Ascensão
perguntavam pela restauração do reino de Israel,
aqueles cobardes que negavam e desamparavam o
Senhor no momento do perigo. Mas desceu sobre
eles o E.spírito Santo c transformou-os noutros
homens. Por isso são eles agora sal da terra, luz
do mundo, confusão dos tiranos, honra e veneração
dos povos.
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18. — Coisa parecida se dá com os homens que
trazem a Cristo. Todos eles são um só coração e uma
só alma. Firmes na doutrina dos apóstolos e assíduos
ao ensino deles, vivem da oração e do pão eucarístico,
e desprezam os bens terrenos pondo-os em comum
para a sustentação de todos.
19. — Eu também recebi o Espírito Santo. Que
transformação fez Ele em mim, ou antes, deixei-me
ou não transformar por Ele? Tenho imitado os
apóstolos nas suas fraquezas e defeitos. Porque
é que não os imito nos seus esforços e nas suas
virtudes? Tenho-os imitado nas cobardias e nas
fugas. Porque é que não os imito no recolhimento,
na oração, na constância, na alegria de sofrer, e de
abnegar-me por amor de Jesus?
Sei que por maior que imagine o meu coração,
não cabem nele juntos o céu c a terra. Um afecto
exclui o outro. Sc quero o Espírito de Deus, tenho
que rejeitar o espírito do mundo, dcsprcnder-me
das criaturas e de mim mesmo. Esta cooperação é
o que espera dc mim o Espírito Santo para fazer
em mim as suas maravilhas. Porque é que não lha
dou?
20. — Santos Apóstolos, intercedei por mim e
alcançai-me do Amor Incriado que vos transformou,
correspondência igual à que vós Lhe destes.
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21. — Virgem Santissima, se Vós me ajudarcles
com o vosso valimento junto daquele que veio sobre
Vós 110 momento do vosso Fiat, serei com certeza
atendido. Pela vossa bondade ajudai-me.
22. — E Vós, Espirito divino, vinde, iluminai-me,
santificai-me e inflamai-me no vosso amor.
Vinde, líspirito Santo, c mandai do céu o raio
da vossa luz. Vinde, Pai dos pobres; vinde, d.ador
de bens; vinde, luz dos corações. Consolação
suprema, doce hóspede da alma, doce refrigério.
No trabalho descanso, no calor tempérie, nas lágri
mas conforto.
Ó luz felicíssima, enchei desde o íntimo os cora
ções dos vossos fiéis. Sem o vosso poder não há
nada no homem, nada é inocente. Lavai o que está
manchado, regai o que está seco, sarai o que está
ferido. Dobrai o que está rijo, aquecei o que está
frio, regei o extraviado.
Aos que cm vós confiamos dignai-Vos conceder-
-nos os vossos sete dons. Dai-nos o merecimento
da virtude, o prêmio da salvação, a bem-aventurança
eterna. Amen.
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Quarfo Misfério Glorioso
A Assunção
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recentes, o ensino
da Igreja é certo
que a afirma.
A secreta da
missa da Assun
ção usada ate No
vembro de 19.50,
as lições do Brc-
viário na dita
festa, os Sacra-
mentárins ou li
vros litúrgicos de
S. Gregório e do
Papa Gelásio 'tes
temunham que as-
Em muitas par
tes celebravam-sc
antigamente duas
solenidades dis
tintas, uma da Assunção c outra da morte de
N.“ Senhora, dando à segunda os nomes expressivos
dc descanso, repouso, trânsito, deposição e dormição
da Virgem Maria.
4. — Suposta a morte do Salvador, a dc sua
Mãe facilmente se explica. N. Senhor, segundo
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S. Tomás, sofreu e morreu principalmente por três
razões: para satisfazer pelos nossos pecados, para
mostrar-se verdadeiro homem e para nos ensinar
a paciência e a resignação.
Do mesmo modo a Virgem Santíssima. Fíova
Eva indissolüvelmente unida ao novo Adão, corre
dentora do gênero humano, bebeu o cális da dor e da
morte para nos obter o perdão dc Deus com nos
merecer dc côngruo o que Jesus nos mereceu dc
condigno.
Com sua morte provou também que era com
certeza filha de Adão c que N. Senhor era na ver
dade nosso irmão.
Enfim, atenuou com o seu passamento a repugnân
cia que temos de morrer, e ao mesmo tempo que
adquiriu mais uma semelhança com seu Eilho e nos
deu um esplêndido exemplo, ficou de direito Senhora
da Boa Morte, para ser, na última hora, nossa
especial advogada, e nós podermos com maior con
fiança rogar-lhe então a sua assistência.
Maria não contraiu a necessidade dc morrer,
porque era imaculada; mas, intimamente associada
à obra da redenção, convinha-lhe a morte e gosto
samente a aceitou; antes, como diz S. Francisco de
Sales «sempre a desejou, desde que a viu nos braços
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e no próprio coração de seu Filho» (Ocuv., t. ix,
p. 182. Annccy, 1807).
5. — Como é que N.“ Senhora morreu ? Serena
e brandamente como quem adormece no mais doce
e plácido sono.
A Imaculada, a Virgem Mãe de Deus não podia
ter remorsos do passado: não tinha cometido a
minima culpa, era cheia de graça e impecável. Não
podia recear o futuro: sobre uma vida sem sombra
de mancha, o Senhor que a havia de julgar era seu
Filho. Também não podia ter pena do presente:
o seu coração voava muito acima dos apegos da
terra; não tinha outra vontade que a de Deus nem
outro desejo que o de estar com Cristo. Por isso
morre tranqüila na mais serena e imperturbável
calma.
Vê então, porventura, os céus abertos? Viu-os
Santo Estêvão e neles o Filho do Homem, coroado
de glória à direita do Pai. Q que viu um servo
de Deus por que é que o não veria a Mãe de Deus?
Certamente também para Ela se abrem os céus e de
lá, dos esplcndóres eternos, a convida a Santíssima
Trindade e a saúdam os anjos e os .santos, ansiosos
de a terem consigo.
Dores físicas, doenças que são já princípio da
corrupção do sepulcro, não podem admitir-se em
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Maria. A Virgem Imaculada, pensam comummcnte
os teólogos, teve morte sem dor.
6. — O que lhe tirou a vida foi o amor divino.
Ardia Ela num amor de Deus tão grande c num
desejo tão inflamado de estar com Ele, que não
pôde mais e morreu.
L esta a opinião unânime dos teólogos. De
muitos santos contemplativos contam-se fenômenos
produzidos pelo amor divino, capazes dc lhes tirarem
a vida. Efeitos semelhantes causou em Maria o
mesmo amor e deu-lhe a morte.
Ferida no Calvário duma espada de dor,
N." Senhora foi igualmente ferida por um dardo
de amor. «Desde então, diz S. Francisco de Sales,
este amor deu-lhe tantos assaltos, Ela sentiu-lhe
tantos golpes, esta ferida inflamou-se-lhe tanto, que
enfim se lhe tornou impossivel não morrer. Não
fazia senão desfalecer, a sua vida só era delíquios
e arroubos, desfazendo-se Ela cm si mesma com
tantas chamas que a consumiam, dc modo ((uc podia
repetir a cada instante que a fortificassem com
flores e a tonificassem com frutas por estar doente
dc .amor» (Cant. n, 5).
O amor humano causa às vezes definhamentos
mortais. «Mas quanto mais activo e poderoso não
é o amor divino! Quanto mais alto no seu princípio
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e no seu objccto! Por isso não se deve estranhar
que eu diga que N.“ Senhora, dele é que morreu.
Como Ela trazia sempre no coração as chagas dc seu
filho, sofrcu-as algum tempo sem morrer, mas ao
fim morreu delas sem sofrer.
O seu tesoiro, isto é, seu Filho, estava no céu.
Por conseguinte Ela já não tinha dentro dc si o
coração. No céu estava o corpo que Ela amava tanto,
por ser osso dc seu osso c carne de sua carne, e por
isso para lá levantou vôo esta águia santa; Uhicúm-
(jüe fúerit córpus, tllic congregabúntur et áqüilae.
(Onde quer que estiver o corpo, lá se a juntarão as
águias. — 5". Mat. xxiv, 28).
Em suma; o seu coração, a sua alma c a sua
vida estavam no céu; portanto como é que Ela podia
continuar na terra? Assim, depois dc tantos vôos
dc espirito, de tantos arroubamentos e êxtases, este
santo castelo dc virgindade, esta santa fortaleza de
humildade, tendo resistido milagrosamente a mil
c mil assaltos dc amor, foi rendida c tomada num
último assalto geral pelo mesmo amor, o qual levou
esta bela alma prisioneira, deixando no seu corpo
sacrossanto a pálida c fria morte (Ib., t. vii,
p. 449-50).
7. — Oh se eu amasse a N. Senhor com a mesma
intensidade, se os meus desejos fossem estar com
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Ele, se ao menos o amasse e servisse quanto posso,
se tivesse com Ele um só coração e uma só vontade,
eu não temeria a morte, antes a desejaria! O que
faz temível a morte é o amor do que se deixa e o
terror do que se aguarda. Quem vive sem pecado,
quem pode dizer: — Eu vivo, mas a minha vida
não é minha, é de Cristo que vive em mim — quem
se desprendeu do mundo, da vaidade e do amor
próprio, esse não receia a morte. A sua ânsia é
soltar-se da terra e viver com Jesus no céu.
Virgem Santíssima, pela felicidade da vossa
morte, obtende-me a graça de viver tão livre de
culpas, tão afastado dc afcctos terrenos c tão pene
trado de amor divino, que nada me aflija na hora
extrema. Agora que partis deste mundo, dai-me
carinhosa a vossa bênção, c no momento da minha
partida valei-me com a vossa assistência. Agora
e na hora da nossa morte, rogai por nós.
8. — Quanto tempo esteve na sepultura o corpo
de Maria Santíssima não se sabe. Quiçá o mesmo
que o de Nosso Senhor Jesus Cristo. Depois desse
breve espaço a Virgem Imaculada ressurgiu e desde
então reina gloriosa no céu na totalidade do seu s e r:
— alma e corpo.
A assunção de N.* Senhora ao céu em alma
e corpo, é hoje verdade de fé definida. Até há
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pouco cra doutrina de todos os teólogos, era crença
universal dos fiéis, era pensamento dc todas as
liturgias cristãs — as quais na festa do Trânsito,
da Dormição c da Assunção de N.“ Senhora, come
moravam não só a morte dela e a glorificação de
sua alma, mas também a incorrupção e a ressurreição
do seu corpo — era, enfim, ensino da totalidade
moral dos Santos Padres, unânimes desde o século
sexto na aclamação deste mistério. Do 1.® de Novem
bro de 1950 para cá, é dogma que devemos crer.
Sua Santidade Pio X II, com a sua suprema
autoridade de mestre infalível e doutor da Igreja
Universal assim falou naquele dia memorando a
todo o mundo católico;
«Tendo dirigido a Deus súplices e reiteradas
preces, e invocando a luz do Espírito de Verdade,
— para glória de Deus Omnipotente, que à Virgem
Maria prodigalizou a sua especial benevolência,—
para honra de seu Filho, Pai imortal dos séculos
e vencedor do pecado e da morte, — para aumento
da glória da mesma augusta Mãe e para alegria
e exultação de toda a Igreja, com a autoridade de
N. Senhor Jesus Cristo, dos Bem-aventurados Após
tolos Pedro e Paulo e a nossa, pronunciamos, decla
ramos e definimos que é um dogma divinamente
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revelado — que a Imaculada sempre Virgem Maria
Mãe de Deus, terminado o curso da sua vida terrestre,
foi, em corpo e alma, assunta à glória do céu.»
9. — São muitas as razões teológicas cm que
assenta esta glória da Virgem Imaculada.
a). — Maria é Mãe de Deus. O desejo que
sente qualquer homem de engrandecer sua mãe,
também Jesus o sentiu. Não se compreende, pois,
que podendo levar sua Mãe para o céu em alma
e corpo, o não tivesse feito. Tanto mais que cáro
Christi, cáro Maríae, o corpo de Cristo é de Maria
e o de Maria é de Cristo. Maria antes de ser Mãe
já era um Cristo principiado e depois da Ascensão
era uma relíquia do corpo de Cristo. Sem a assunção
corporal de Maria, tardaria a entrar no céu uma
como parte de Jesus.
b) . — Jesus e Maria são inseparáveis. A um
mistério dele corresponde um mistério de sua Mãe.
Ele e Ela «são como duas vozes ou dois instrumentos
de tom desigual, mas sempre em perfeito acorde
e harmonia». De certo seria estranho encontrá-los
sempre em consonância desde a sua predestinação até
ao Calvário e só depois da morte desacordes e disso
nantes. É impossível tal dissonância. À Ascensão
de N. Senhor em corpo e alma tem de corresponder
a Assunção de N.® Senhora em alma e corpo.
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c). — Diz s . Paulo que quem sofre com Cristo
há-de ser como Ele glorificado (Rom. vui, 17).
Diz ainda que a sua gloriosa ascensão a mereceu
o Senhor especialmente com as humilhações da cruz.
Por ter sofrido é que foi exaltado na glória de
Deus Pai (Philip. //, 9-11). E efcctivamente era
necessário que sofresse para entrar assim na sua
glória (Lc. XXIV, 26).
A Virgem Santíssima padeceu com Cristo, e íini-
camente pelo amor que lhe tinha, imensas dores que
nunca ninguém sofreu. Não terá merecido à gene
rosidade c ao reconhecimento de seu Filho uma
glorificação semelhante à dele? Superior a todos
no amor c na pena não devia ser antecipada no
prêmio e na glória?
d). — Mais. A Mãe de Deus é imaculada.
A Imaculada podia passar pela morte para cumprir
a sua missão de corredentora e para acumular
méritos a méritos, mas não podia desfazer-se no pó,
porque isso seria um como estigma do pecado e uma
profanação do Tabernáculo do Altíssimo, a qual era
impossivel sem de algum modo atingir o corpo de
Cristo.
e). — Esta natural conseqüência da isenção da
culpa original confirma-se com a plenitude de graça
de que Maria foi enriquecida. A Virgem Puríssima
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pela graça que recebeu no primeiro instante da sua
existência e que foi assombrosamente aumentando
por toda a sua vida, foi livre das maldições de Deus
contra o pecado — uma delas é a podridão do
túmulo — e salvas as conveniências da corredcnção,
adquiriu uma como exigência de imediata transfi
guração em glória. Começo de glória é efectiva-
mente a graça. — Quem só respira graça, à glória
pertence e não à terra.
/ ) . — Maria é a Virgem-Mãc. Saber os milagres
com que na sua maternidade divina lhe foi preser
vada a virgindade e pensar no que eles revelam de
respeito e veneração dc Deus àquele corpo de cl.a-
ridade e luz, é ter a certeza que a Virgem não
entrou na dissolução do pó.
«Se quis conservar intemerata sua Mãe na intei
reza da virgindade, não havia de querê-la imune do
fétido corrupto do sepulcro? Quem pretender pene
trar nos sentimentos do Senhor e se quiser fazer
conselheiro dele, diga se não lhe pertencia à sua
benignidade conservar a honra de sua Mãe, quando
veio não para dissolver mas para guardar a lei.
Com efeito a lei assim como manda honrar a
mãe, assim proíbe desonrá-la seja no que for.
Tendo-a Ele honrado em vida mais que a qualquer
criatura com a graça da sua conceição, bem se deve
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piamente crer que a honrou na morte com uma
preservação singular e com um especial privilégio.
E se nascendo dela pôde deixá-la virgem, pôde
também subtrai-la à podridão e aos vermes. A cor
rupção e os vermes são na verdade um opróbrio da
nossa condição. Mas sendo Jesus i.sento dele, segue-se
que também é livre dele o corpo de Maria, da qual
Jesus se dignou tomar a natureza hum ana; porque
a carne de Jesus é carne de Maria» (Scrm. atribuído
a S. Agostinho).
g). — Esta doutrina é implicitamente do Gênesis
(c . III, 15), onde se prediz a mais completa vitória
da mulher e da ,sua descendência sobre a serpente
infernal. Isenta do pecado e da concupiscência,
Maria triunfou também da morte, porque quando
esta ia reduzi-la a cinzas, Ela se ergueu da campa
c subiu ao céu. Nem de outra forma ganharia da
morte completa vitória.
h). — Ganhou-a. E por isso é que não há nada
na terra que indique aos fiéis onde repoisam os
restos mortais da Mãe de Deus. Se Ela não estivesse
no céu em alma e corpo, seria bem de admirar que
não constasse das suas reliquias, quando Deus por
tantos modos dispõe que não falte veneração às de
outros santos.
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10.— União com Jesus na maternidade divina,
na redenção, na dor, na graça, na santidade, na
pureza, eis o grande princípio por que se antecipou
a ressurreição de Maria.
A minha não será antecipada, porque o meu
corpo, afastado da fonte de incorrupção pela sua
concupiscência de pecado, aguardará no pó a con-
.sumação dos séculos; mas será mais bela c radiosa,
se me unir, quanto puder, a N. Senhor pelo cum
primento da sua vontade (a quem lha cumpre cha
mou Ele sua mãe), pela participação dos seus sofri
mentos, pela fidelidade à sua graça, por uma pureza
de anjo e por uma vida de santo.
Virgem Santíssima, comprazendo-me do vosso
privilégio e das graças a que ele é devido, suplico-
-Vos o favor dc imitar-Vos na vossa união com
Jesus, para quando da tumba surgir à vida, ir con
templar no céu a vossa glória.
11. — Unida a alma da Virgem ao seu santíssimo
corpo, feito este imortal e impassível, c transfigurado
dc claridade, dc agilidade e dc subtileza, principia
a cena admirável da assunção.
Com a comitiva interminável dc todos os anjos
c santos, frementes dc júbilo, de hinos c de admi
rações de coros alternados, eis o .Senhor que desce
a receber sua Mãe Santíssima;
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— Surgi, vinde depressa, minha M ãe; não tardeis,
minha pomba c formosura (Cant //, 10).
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e mãe a Mãe de Deus, o encontro de Maria com
seu Filho?
Os anjos maravilham-se e perguntam: Quem
é esta que sobe do deserto, entre nuvens de mirra
e de incenso e entre aromas de essências olorosas?
Não vedes que se eleva como a aurora, serena como
a lua em noite calma e deslumbrante como a luz do
sol? (Cant. n i ,6 ; v i ,9 ) .
N. Senhor aproxima-se dela, abraça-a carinhoso
e saúda-a com filial ternura: — Minha querida Mãe,
que bela sois! Sois toda formosura, minha Mãe!
Sois bela, sois pureza imaculada! (Cant. iv, 7).
E ao lado dela, amparando-a, vai subindo.
Nos coros angélicos há arroubos c êxtases:
— Quem é esta que sobe do deserto, esplêndida de
alvura como a neve, apoiada no braço do Senhor?
(Cant. VIII, 5). Jesus prossegue: — Sois toda for
mosura, minha Mãe: não tem beleza igual Jerusalém.
Quem olha para vós aclama-vos feliz (Cant. vi, 2 e 8).
Espaços fora, Maria brilha cada vez mais de
claridade, resplendor e glória. Vestida de sol, cal
çada de lua, coroada de estrelas (Apoc. xii, 1), é luz
do mundo e luz do céu.
A amplidão estremece de aclamações potentes
como a voz do mar. São os santos que ovacionam
a grande triun fadora : — Vós sois a glória de Jeru
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salém, sois a alegria de Israel, sois a honra da nossa
raça (Judith xv, 10).
Já estão perto da Cidade Santa onde Deus mora,
já se dão ordens de abrir as portas dela: — Príncipes
do Céu, abri as portas (S. xxiii, 7) — já vão entrar
Jesus e sua Mãe. — Entre, diz Ela, cm seu jardim
o meu amado. Ele responde: — Entrai no meu
jardim (Cant. v, 1 ); entrai comigo nas delícias
eternas do Senhor.
12. — Entrai, minha Mãe, entrai na felicidade
sem fim da bem-avcnturança. Recebei a grandeza
e majestade a que tendes direito. Ide ser coroada
(Cant. IV , 8 ) no vosso trono dc Rainha do céu c da
./terra.
Reinai dc lá sobre nós, levantando bem para o
alto os desejos dos nossos corações. Os nossos
corpos tendem para a terra. Da vossa intercessão
esperamos que um dia subam para Deus. Lcvan-
tai-me o coração para o céu. Dai-me força para
combater as tendências que me impedem a ascensão
para a altura. Lançai-me do vosso trono üm olhar
de misericórdia e socorrei-me. l'azci que assim como'
agora me alegro e exulto com o vosso admirável
triunfo, assim também um dia triunfe com ressurrei
ção venturosa para Vos louvar para sempre na glória.
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Quinío Mistério Glorioso
Coroação de Maria
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3. — N.® Senhora é coroada no céu sobre todos
os coros dos anjos c dos santos, quer dizer, é exal
tada e glori ficada acima de todos eles, goza duma
bem-aventurança tão soberana que no paraíso não
há outra igual.
Acima do trono
de Maria só o
trono de Jesus.
Todos os outros,
mesmo os dos an
jos mais sublimes
em dons da natu
reza e da graça,
ficam longe, mui
to longe do dela.
Jesus está sentado
à direita de Deus
Pai, Ela está sen
tada à direita de
Deus Filho.
Os anjos na
sua grandeza e no
esplendor da sua
glória deslumbram e prostram a nossa misera
pequenez. S. João, no Apocalipse, viu um de tanta
majestade que subjugado por ela, caiu de joelhos
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para o adorar. Só se conteve porque ele lho proibiu
(Apoc. XIX, 10). Pois, a glória de Maria é imensa
mente superior à dos anjos. Compará-la com a deles,
é comparar o fulgor do sol com o cintilar das
estrelas ou com o mortiço palpitar de nocturna lam
parina.
4. — Compreende-se que a bem-aventurança da
Virgem Maria seja sem par. A glória proporciona-se
ao mérito da santidade e à graça, e N.“ Senhora em
mérito e graça é sem igual. Ela é a Corredentora
indissolúvelmente unida ao Redentor, é a compa
nheira inseparável das dores de Jesus, é a Imaculada,
a Cheia de Graça, a Mãe de Deus. Todos estes
titulos, assim como a elevam incomensuràvelmente
acima de todos os anjos e santos e a colocam num
lugar à parte na ordem da graça, assirri também a
sublimam no reino do céu a um trono tão alto que
nenhum anjo nem santo o pode atingir.
5. — Maria conhece e ama a Deus imensamente
mais que nenhum bem-aventurado e por isso é
imensamente mais feliz que todos eles.
o). — Os anjos e os santos vêem a Deus, mas
não como nós. Nós vemo-lo em imagens e enigmas,
no espelho, tão pouco terso, das criaturas; eles
vêem-no face a face (I Cor. xiii, 12), mergulham
nele directamente a vista da inteligência e como que
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O penetram c atrav e ssam , com o nó s com a vista
do s o lho s atrav e ssam os lado a lad o um c ristal.
b). — Mas nem todos o vêem por igual. Uns
vêem mais, outros menos. Consoante o poder da
.sua vista, isto é, consoante a capacidade de visão que
receberam do lume da glória, uns (se é lícito dizer
assim) mergulham mais fundo o olhar, outros param
mais à superfície. Todos vêem Deus todo, nenhum
o vê totalmente.
c). — As comparações sempre falham por alguma
parte. Nesta matéria falham por todas. Mas recor
ramos a uma comparação. Levantamos os olhos,
e sobre a linha do horizonte podemos dizer que
vemos de algum modo todo o céu. Outros que
tenham melhor vista descobrirão nesse todo mais
que nós: mais astros, mais estrelas, mais sóis.
E o sábio que se armar do telescópio, conquanto
não chegue nuncá a penetrar todos os mistérios escon
didos nas profundezas do firmamento, verá ainda
muito mais. Quer dizer: embora acima da linha
do horizonte, todos vejam todo o céu, uns vêem mais
que outros, e ninguém, por mais poderosa que tenha
a vista, é capaz de vê-lo totalmente.
d). — Em quanto a comparação pode aplicar-se
àquele céu onde Deus habita, é isto anàlogamente
o que lá sucede. Todos os bem-aventurados vêem
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a Deus todo; mas uns embebem a vista mais dentro
dele, outros menos, e nenhum o vê totalmente. Vê-lo
totalmente seria compreendê-lo, coisa impossível a
entendimentos humanos, mesmo ao de Cristo, porque
.só o infinito compreende o infinito, só o entendi
mento divino compreende a Deus.
c). — O entendimento humano dc N. Senhor
Jesus Cristo é o que mergulha mais fundo os olhos
no interior da divindade. Vem a seguir o de Maria
Santíssima, o qual, sendo embora muito inferior ao
dc Jesus, contudo descobre tão largos horizontes no
.seio divino que não obstante distar infinitamente
de compreendê-lo, ainda assim se pode dizer que
no conhecimento dc Deus quase atinge os limites do
infinito.
/ ) . — Não conhece todas as idéias divinas nem
tudo o que pode ser objecto do poder divino. Mas
conhece a Deus como nunca há-de conhccê-lo
nenhuma simples criatura: conhece extensivamente
quanto é conhecido pela inteligência humana dc seu
divino Filho; conhece como Rainha do Universo
todas as criaturas que vieram ou hão-de vir à luz
da existência; conhece como Mãe dos homens os
mais íntimos segredos dos nossos corações; conhece
como Corredcntora os planos de bondade e mise
ricórdia do Sagrado Coração dc Jesus, porque
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entrando eles na economia da salvação, compete à
glória da Corredentora conhecê-los; e conhece-os
perfeitamente, porque, se não pode compreender
a seu Filho em quanto Deus, pode compreendê-lo
e compreende-o de facto em quanto homem.
g). — Os outros bem-aventurados conhecem muito
menos. Só vêem o que tem relação com as suas
pessoas e nenhum dc certo tem relação com todas as
coisas. Maria, pois, no conhecimento de Deus e das
criaturas está muito, muito acima de qualquer deles.
Foi coroada no céu sobre todos os coros dos anjos
c dos santos.
6. — Ao conhecimento corresponde o amor.
Quanto mais se vê da bondade e da formosura
divina, maior é o enlevo, o encanto, o êxtase do
coração que as contempla. Maria é um sol des
lumbrante. Para o seu entendimento parece que
mal há sombras nas profundezas impenetráveis da
divindade. Portanto no seu Imaculado Coração tudo
é fogo, chama e labareda de vivo incêndio de amor
e caridade. Comparados com o da Virgem os cora
ções dos bem-aventurados, mesmo os dos Inácios,
dos Xavicrcs e dos Paulos, são pequeninas faúlhas
que voam, mal perceptíveis, em torno do Coração
de Deus. O Coração de M aria é vasto incêndio
que sereno e manso parece abrasá-lo.
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7. — À medida do conhecimento e do amor de
Deus cresce nos bem-aventurados o gozo e a felici
dade. O conhecimento dá-lhes a posse do Sumo
Bem e precipita-lhes sobre Ele a vontade, a qual
o abraça com tanto maior ímpeto quanto mais per
feito é o acto de conhecimento e mais intenso o acto
de amor. Tenui nec dimittam. Alcancei-o para nunca
mais o largar. O Sumo Bem conhecido, o Sumo
Bem amado, o Sumo Bem eternamente seguro,
oh que alegria, que íntimo e profundo gozo, que
perene, que inebriante felicidade!
8. — A imortalidade, a impassibilidade, a agili
dade, a subtileza, a luz, o resplendor do corpo
glorioso de Maria, aquela beleza tão rara e tão
estranha, que se o céu não fosse o reino da verdade,
todos haviam de ter ante ela o movimento instintivo
de adoração que S. João esboçou diante do anjo,
tudo isso, sendo tão grande, tão excelente e tão
admirável, c(ue é, comparado com a deliciosa torrente
de felicidade que inunda a alma e o coração da Mãe
de Deus?
9. — Beatam me dicent (Lc. i, 48). Todas as
gerações me hão-de chamar bem-aventurada.
Assim é, minha Mãe querida. Sois bem-aventu
rada e sobre-bem-aventurada. Foste-lo na terra
mesmo sofrendo, porque esperáveis. a bem-aven-
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tiiracla esperança que hoje gozais. E soi-lo hoje e
sê-lo heis para sempre, e mais que nenhum bem-
-aventurado, porque sois a Mãe de Deus, a predes
tinada antes de todas as criaturas, a Sede da
Stibedoria, a Mãe do Amor Formoso, a predilecta
do Altissimo, a única do seu coração, a pura e sem
mancha, a que
^ desde a eternida-
->■ ii, de ocupáveis com
amorosa c pura
delícia o seu terno
e carinhoso pen
samento.
Bendita sejais,
minha Senhora e
minha Mãe, por
essa glória tão
privilegiada. Go-
zai-a para sempre
inebriada do amor
de Deus e obten
de-me a graça de
ir contemplá-la e dcliciar-mc de ver-Vos assim exal
tada sobre todos os anjos e todos os santos.
10. — A Santa Igreja proclama a Virgem San
tíssima Rainba dos anjos, dos patriarcas, dos pro
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fetas, dos apóstolos, dos mártires, dos confessores,
das virgens, de todos os santos, — enfim do Céu
e do mundo ( ') e pura e simplesmente Rainha
(Salve, Rainha).
11. — Maria no céu é coroada sobre todòs os
coros dos anjos e dos santos Rainhae Senho
Universo. Até onde se alargam as fronteiras d o .
Reino de Cristo, até lá se estende o império da
Virgem Soberana. No céu, na terra e no inferno
tudo sente o seu senhorio. É um domínio subordi
nado ao de Jesus, mas nem por isso menos ver
dadeiro.
o). — Maria é Rainha do Céu não só porque
possui em grau eminente o constitutivo da glória
de cada um dos bem-aventurados, mas porque tem
sobre eles verdadeiro poder e mando. No céu todos
SC orgulham de lhe obedecer ao mínimo aceno, todos
SC sentem acidentalmente mais felizes quando num
lance de seus olhos recebem uma ordem ou descobrem
o mistério dc alguma nova revelação.
b). — Pela sua íntima e inseparável união com
seu Filho, Maria também pode dizer: Todo o poder
me foi dado no céu e na terra (M t. xx vn i, 18).
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SÓ em Deus é que não manda. Mas o que não
abrange com o domínio, alcança-o com a prece,
porque Deus na sua bondade ouve como ordens as
súplicas de sua Mãe.
12. — Diz S. Bernardino de Sena que a Virgem
Santissima também exerce o seu dominio no Purga
tório. Efectivamcnte consola, alivia e livra as almas
que satisfazem neste lugar de expiação as penas de
suas culpas. Ou por si ou por intermédio dos anjos
inspira os fiéis a sufragar os defuntos, oferece a
Deus com as suas orações as satisfações dos santos,
as suas e as de seu Filho, manda ao Purgatório pelos
anjos as suas embaixadas de consolação e conforto,
e (quem sabe?) talvez lá desça Ela em pessoa a
distribuir alívios e a quebrar cadeias.
13. — As almas que caem no inferno não podem
sair de lá. Ninguém, nem mesmo a Virgem San
tíssima, que é Omnipotência suplicante, as salva.
O juízo final dc Deus é irrevogável. Não obstante
isto, o poder de Maria sente-se também no inferno.
O inimigo sabe que Ela é a sua grande adversária,
a sempre vencedora, a. que lhe descobre os embustes
e ciladas, a que lhe desvia e repele os assaltos, a que
lhe arranca as almas que a invocam, a que procura
as que fogem à graça e correm aos perigos, a que
com a sua solicita intercessão povoa o céu.
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14. — Finalmente Maria é Nossa Senhora e
R ainha: Rainha de bondade, misericórdia e cle
mência. É nossa M ãe: Mãe piedosa, delicada, terna,
carinhosa, dedicada, desvelada e, quanto pode ima
ginar-se, caridosa. O seu reino sobre nós é. todo
benignidade, mansidão, doçura c suavidade. É o mais
belo e enternecido coração de mãe, empenhando toda
a sua influência dc Mãe de Deus para conquistar
os nossos corações e introduzir neles o amor de
Jesus e a paz imperturbável do céu, ante-gozo da
futura glória.
A nossa excelsa Rainha não usa da soberania
com império e severidade mas com brandura, acon-
■selhando, pedindo, suplicando, instando para que,
atendendo à honra de Deus e à nossa, queiramos
e admitamos o seu dominio.
15. — Soberana Rainha nossa, que em trono de
luz e de estrelas reinais gloriosa ao pé de Jesus,
coroada de sabedoria para conhecer a Deus e os seus
mistérios, coroada de caridade para o amar infini
tamente e coroada de clemência para nos envol-
verdes na sua imensa misericórdia, reinai em nossos
sentimentos, em nossos corações e em nossos sen
tidos. Dominai todo o nosso ser e disponde-nos
para com plena submissão e amor recebermos em
nós o reino de Deus.
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16. — Diante do trono refulgente de Maria, vêm
prostrar-se os anjos e os santos e rentier-lhe preito
e vassalagem. Saúdam-na radiantes de alegria cele
brando os seus louvores.
Adão e Eva adiantam-se prim eiro: — Esta c
aquela que por misericórdia dc Deus foi livre da
nossa culpa, aquela em quem esperámos, a que pela
sua descendência esmagou a cabeça da serpente
(Gen. ///, 15).
Eis aqui, exclama Noé aproximando-se, eis aqui
a verdadeira arca onde foi salvo o gênero humano
(Gen. c. VI e v n ).
Que felicidade a minha, diz Moisés; finalmente
vejo a estrela dc Jacó, a verdadeira libertadora do
povo escolhido! (Num. xxiv, 17).
Esta, repete Isaías, é a Virgem que havia de
conceber e dar à luz um filho (Is. vii, 14).
Esta é, acrescenta Ezequiel, aquela porta fechada
por onde nenhum homem podia entrar nem sair,
porque havia de passar por ela o Senhor Deus de
Israel (Ezech. x u v , 2).
Senhor, canta Davide, sentou-se à tua direita
uma rainha com manto dourado e adornos vários.
Toda a sua glória é interior. Traja galas de várias
cores e franjas de oiro. Depois dela serão apresen
tadas ao Rei outras virgens; as companheiras dela
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serão trazidas à tua presença, serão trazidas ao
templo do Rei (S. x u v , 10-6).
17. — A Bem-aventurada Virgem Mãe de Deus,
vestida de sol, coroada de estrelas, inebriada de gozo,
solta reconhecida, como outrora cm lutá, na região
dos montes, o seu hino de gratidão: — Minha alma
engrandece o Senhor e meu espírito exulta cm Deus,
meu Salvador; porque pôs os olhos na pequenez
da sua escrava, e eis que todas as gerações me
aclamam bem-aventurada (Lc. i, 46-8).
18. — Quando Ela termina, retoma o canto o
coro imenso dos moradores da glória, ou talvez
rompendo num poderoso Te-Deum põe cm vibração
pelas quebradas das colinas eternas todos os ecos
dos confins do Céu.
19. — Minha Mãe bendita, permiti que eu una os
meus sentimentos aos de todos os bem-aventurados
que admiram e exaltam a vossa grandeza.
Com eles me alegro e regozijo do vosso triunfo,
da vossa coroação e da vossa incomparável felicidade.
Gozai-a, minha Senhora e minha Mãe, para sempre.
Dai eternas graças a Deus por ela.
Fazei pela vossa misericordiosa bondade e inter
cessão que eu e todos tenhamos a dita de a con
templar um dia. Socorrei-nos nas lutas da vida
para que pcrsevercmos até ao fim.
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Esforçai-nos com a lembrança do prêmio e com
a esperança da vossa companhia. E entretanto deixai-
-nos agradecer ao Senhor com as vossas palavras
os portentosos benefícios que Vos fez.
«Minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito
exulta em Deus meu Salvador.
Por(|ue lançou os olhos para a pequenez da sua
escrava; eis que de hoje em diante todas as gerações
me hão-de chamar bem-aventurada. Porque fez cm
mim coisas grandes aquele que é poderoso e cujo
nome é santo, e cuja misericórdia se estende de
geração em geração sobre os que o temem.
Manifestou o poder do seu braço: dissipou os
que se orgulhavam nos pensamentos do seu coração.
Depôs os poderosos do trono e elevou os humildes.
Encheu de bens os famintos c despediu os ricos sem
nada.
Tomou cuidado de Israel seu servo, lembrado
da sua misericórdia: conforme tinha prometido a
nossos pais, a Abraão e à sua posteridade para
sempre».
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MEDIT AÇÕES
DOS P R IM E IR O S SÁ BA D O S
SEGUNDA S ÉR IE
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A Anunciação
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180___________ SEGUNDA SÉWIE. — ANUN'CIAÇÃC)______________
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c dilatação daquele reino que sobrevive a todos os
reinos, porque é reino perene e sem fim.
8. — Minha Mãe, eu também exulto convosco
e me sinto feliz com a vossa alegria. Bendita a hora
em que fo.stes cheia de graça, cm que recebe.stes a
anunciação do Anjo, em que o Espirito Santo desceu
sobre Vós e em que começastes a ser Mãe de Deus
e Mãe nos.sa! Bendita essa hora! Bendita sejais
por ela e bendito seja Deus pela sua liberalidade
para convosco!
9. — Mas eu que exulto com o vosso gozo, não
hei-de .ser ingrato a Deus pelos seus favores: os
vossos são princípio dos meus.
.Se 4ne comparo a tanfos homens, não posso ter
dúvida que também sou na verdade um predilecto
do Senhor. Sou baptizado, sou filho da Igreja e
dEle, sou, entre tantos que o desconhecem e ofen
dem, um mimoso do seu Coração.
10. — Tenho a imensa felicidade de crer: creio
cm Deus, na Santíssima Trindade, no Verbo Divino
humanado — Filho de Deus pela natureza divina.
Filho vosso pela natureza humana — minha redenção,
minha vida, minha eterna salvação.— Tenho bem
fundo no coração esta esperança! Quem crê e vive
da fé, será salvo.
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11. — O que preciso para assegurar esta suprema
dita, é imitar a vossa maternidade e a vossa virgin
dade: a vossa virgindade sendo casto, puro, ilibado
e santo; a vossa maternidade concebendo a Jesus em
minha alma pelo exacto cumprimento de sua san
tissima vontade.
Fazei-me esta graça. Mãe Purissima, pela ternura
e pelos gozos de vosso Imaculado Coração.
12. — Fazei-a também a todas as almas, para
que elas se salvem. Inspirai-mc como hei-de ajudar
a salvá-las, suscitai quem as livre do mal e as
encaminhe para o céu, porque também quero ter
convosco a alegria de ver a dilatação do Reino de
Deus e o triunfo dc N. Senhor Jesus Cristo.
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A Visitação
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4. — Porém, o seu maior contentamento é a feli
cidade de levar àquela ca.sa Jesus; é ver que, por
Ele, Santa Isabel é inundada do Espírito Santo,
conhece e crê o mistério da Incarnação do Verbo
e recebe o dom de profecia; é admirar o prazer
com que o pequenino S. João Baptista, ao perceber
a voz daquela nunca esperada visita, exulta no seio
materno, regenerado pela graça santificante antes
de ver a luz do dia.
5. — Coração que tão profundamente se goza
dos favores do Céu às almas como não havia de
jubilar intensamente com os que recebera dele com
profusão inaudita? O Magnificat é o hino em que
o Imaculado Coração de Maria expande a alegria
da sua gratidão. Reconhecendo o seu nada de
humilde escrava do Senhor, a Virgem Santíssima
exalta a magnífica munificência de Deus pela incon
cebível grandeza dos benefícios que Ele lhe deu
e por a ter feito a bendita entre todas as mulheres
e a abençoada de todas as gerações.
6. — A caridade perfeita manifesta-se principal
mente por obras. Por isso N.“ Senhora, à visita,
à saudação e aos prodígios sobrenaturais quis ainda
ajuntar o serviço. Ficou cerca dc três meses com
sua prima prestando-lhe os obséquios que ela então
precisava, e rematou a sua missão de caridade
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unindo-se à alegria de todos no nascimento de
S. João Baptista e no milagre que restituíu a fala
a Zacarias.
7. — Mãe Santissima, sabeis quanto me confun
dem os vossos exemplos. O meu coração parece-se
muito pouco com o vosso. Devo alegrar-me com a
felicidade dos outros, e sinto-me tantas vezes gelado
de indiferença e roído de mesquinha inveja.
Devo levar Jesus a todos nas minhas palavras
e nas minhas acções, e infelizmente levo-lhes os
meus defeitos e faltas, com que em vez de os santi
ficar, os desedifico.
Devo movê-los à gratidão dos favores divinos,
e quando seria digno e justo que eu sempre e em
toda a parte andasse dando graças a Deus, sou tão
miseràvelmente ingrato que mal conheço os seus
benefícios.
Devo auxiliar e socorrer o próximo, e nem
sabendo que N. Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
toma como feito a si o que fazemos ao menor dos
nossos irmãos, nem com isto acabo de sair do meu
deplorável egoísmo.
8. — Virgem Santíssima, minha boa e caridosa
Mãe, já que me destes a luz dos vossos exemplos,
dignai-Vos dar-me também a força precisa para os
imitar.
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Inflamai o meu coração nas chamas da mais viva
caridade para me alegrar sinceramente do bem do
próximo, quer esse bem seja de natureza, quer de
graça, quer de prosperidade puramente material.
Fazei-me a graça de no meu porte, nas minhas
palavras e nas minhas obras levar Deus a todos,
para levar todos a Deus.
Dai-me um coração reconhecido aos beneficios
divinos, e capacitai-me que a melhor maneira de ser
grato ao Senhor é pagar-lhe os seus dons com o
socorro, o auxílio e a assistência espiritual e material
aos meus próximos, que Ele carinhosamente se digna
chamar seus irmãos.
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o Nascimento
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188___________ SECUNDA SÉRIE. — XA!.CI.MF.NTO______________
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7. — Rainha da Paz, alegrai-Vos! Da região da
cidade de Belém, vêm, guiados por Anjos, humildes
pastores; de longínquas terras do Oriente chegam,
guiados por uma estrela, os Magos. São as pri-
mícias do povo escolhido e dos povos gentios, são
os humildes e os sábios que reconhecem e adoram
a divindade de vosso Filho e lhe entregam, por
espontânea oblação, a sua inteligência, a sua vontade,
o seu coração, os seus bens: — quanto têm e quanto
são. Senhora, alegrai-Vos em vosso Coração! Darão
o sangue e a vida por vosso Filho infinitos homens".
8. — Virão também os sicários de Herodes, virão
turbas de perseguidores; mas a Providência vela
e sabe confundir os tiranos. Eles só têm uma hora;
Deus tem todas as horas.
9. — Mãe de Deus, sois também, e por isso
mesmo, minha M ãe! Que felicidade a m inha! A Mãe
de Deus minha M ãe!
Minha Mãe, de Vós tudo espero! Quereis o
meu bem c podeis junto de Deus alcançar-mo.
10. — Jesus que não se confundiu de me chamar
seu irmão, é que me entregou a Vós. Amou-me
com infinita caridade, amou-me e entregou-se por
mim, amou-me e quis que também eu o estreitasse
ao peito no inefável abraço da comunhão, amou-me
c entregou-me sua Mãe...
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11. — Minha Mãe, fazei que eu Vos ame e que
ame a Jesus. Fazei que todos, pequenos e grandes,
ignorantes e sábios o conheçam, o amem, o sirvam,
o imitem. Fazei que todos os seus inimigos se lhe
rendam e sujeitem com verdadeiro amor. Fazei que
chegue depressa o triunfo de vosso Filho.
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Purijicação e Apresentação
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Filho clc Deus. Sois Mãe puríssima, Mãe castissima.
Mãe intemerata. Mãe imaculada; e por isso a lei
da purificação não vos pertence.
Mas o vosso Coração é generoso; goza-se de ir
além do estrito dever e de dar a Deus mais do que
Ele manda ou pede.
E eis-Vos ai entre as outras mães, confundida
com elas, sofrendo a humilhação de parecer mãe
da mesma forma que elas. É um sacrifício; mas,
por amor de Deus, fazei-lo contente e com imenso
gosto, pois muito bem sabeis que para tão grande
e tão bom Senhor tudo é pouco.
4. — Que louvores Lhe daremos. Mãe Santís
sima, pela generosidade com que Ele paga a vossa
obediência c sacrifício? As outras mães oferecem-
-Ihe puros homens, tão pobres, fracos e miseráveis,
como pecadores que são. Vós tendes o inefável
prazer de Lhe fazer uma oblação perfeita e digna
de seus olhos e dc sua infinita Majestade, apresen-
tando-Lhe o seu próprio Unigénito Filho, também
Unigénito I'ilho vosso, pelo qual, com o qual e no
qual reconheceis c adorais o Supremo domínio do
Senhor sobre Vós, sobre nós e sobre todas as coisas.
5. — Uni-nos, Senhora, a vosso Divino Filho
e a Vós, para que a nossa adoração seja perfeita,
já que tão gostosa e alegremente Vos unis ao sacri
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fício de Jesus para, com a dolorosa angústia de
vosso Coração trespassado, contribuirdes para a
justificação e salvação dos homens.
6. — Não olheis agora para as sombras do futuro
e para a contradição que um dia há-de sofrer o
vosso Filho. Agora ouvi os louvores com que
Simeão o exalta como luz de todas as gentes, glória
de Israel e Salvador do mundo. Senhora, o que
neste momento é saudado como consolação e redenção
de Israel, será de facto, num futuro que não tarda,
a felicidade de tantas almas, que se hão-de ter por
ditosas dc o ter conhecido e de, por amor dele, terem
fechado os olhos às seduções do mundo e imolado
até a vida.
7. — Mãe do meu Deus, minha M ãe!, fazei, pela
vossa misericórdia, que eu seja uma destas almas.
Vós que cntregastcs Jesus ao santo Simeão para
que o abraçasse. Vós que o mostrastes à profetisa
Ana e a quantos tiveram a fortuna de estar ali
presentes, fazei-mc o favor de mo revelar e entregar
também a mim, para que eu reciprocamente me
entregue, como devo, a Ele. Dai-me a alegria de
ver atendida a minha oração.
8. — Dai-mc o ânimo e a coragem que preciso
para sentir o gosto da generosidade com Deus,
fazendo por amor dele não só o que Ele manda.
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mas também tudo o que me aconselha, sugere e
inspira.
9. — Dai-me a consolação de poder, deste modo,
oferecer ao Senhor uma oblação agradável a seus
olhos, digna de Lhe ser apresentada com a que
vosso divino Filho Lhe ofereceu na cruz e lhe
oferece cada dia no altar.
10. — Fazei-me a graça de ser em todas as
minhas acções uma hóstia viva unida ao Santissimo
Coração de Jesus, vivendo sempre com F.lc, nEle
c por Ele.
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Perda de Jesus
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recebê-lo. Alegrou-sc Jacó ao saber que seu filho
José ainda vivia e sacudindo o torpor da sua letargia,
foi ao Egipto a vê-lo e abraçá-lo, desabafando que
para morrer contente, isto lhe bastava.
Mas Vós sois M ãe! O vosso Filho é Jesus!
E Vós sabeis que Jesus, vosso Filho, é o mais belo
dos filhos dos homens, que é na sua geração humana
exclusivamente vosso e que na sua geração divina
é filho natural de Deus, verdadeiro Deus igual a
seu Pai. É vosso Filho e vosso Deus; amai-lo quanto
podeis com amor quase infinito...
4. — Por estradas c caminhos, angustiada e aflita,
procurais há tanto tempo Jesus que tanto amais...
E agora, ei-lo diante de Vós!...
5. — Está entre os doutores da lei — que olham
para Ele maravilhados da profundeza das suas
perguntas c da sabedoria das suas respostas.
6. — O vosso Coração esquece num momento
toda a sua angústia e inebria-se de felicidade. Estais
outra vez com Jesus!
7. — Tendes o gosto de levá-lo convosco para
debaixo do mesmo teto; de contemplá-lo a cada
instante, meditando a sublimidade da sua vida íntima,
os seus exemplos de humildade, de obediência, dc
caridade, de trabalho; dc admirar as manifestações
de sua sabedoria sempre crescentes diante de Deus
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c diante dos homens; finalmente, de poder servi-lo,
de prestar-lhe os vossos carinhos de mãe, de viver
com Ele e para Ele.
8. — Mãe de Deus, minha Mãe, por este vosso
gozo tão santo e profundo, obtende-me a graça de
nunca perder a Jesus; e se alguma vez for tão infeliz,
que tenha a fraqueza de ofendê-lo, dai-me a con
solação de voltar a Ele depressa pelo arrependimento
e pela penitência.
9. — Na aridez da desolação fazei que não tarde
a encontrá-lo e que tenha a ventura de ouvir de sua
boca palavras de ãnimo e de conforto.
10. — Quando o invocar, intercedei por mim para
que Ele tenha a misericórdia de vir ter comigo c de
derramar a sua luz na minha inteligência, a sua
força na minha vontade, o seu amor no meu coração.
11. — Minha Mãe, alcançai-me, pela vossa bon
dade e poderosa intercessão, a graça de andar sem
pre na sua presença, de meditar com profunda
simpatia e amor os exemplos de suas virtudes, de
ajustar as minhas acções pelas suas e de me vestir
e penetrar de seus sentimentos e espírito.
12. — Fazei que tendo a consolação e a alegria
de viver assim com Ele neste mundo, consiga a
suprema felicidade de o encontrar ao sair desta vida
c dc ficar com Ele para sempre.
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O ração no Hoito
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para vos consolar c desagravar e para destruir em
mim e nas almas a triste servidão do pecado.
4. — Que imensa tristeza a vossa quando cuidá-
veis em vosso Coração de Mãe na tristeza de vosso
Filho e na tempestade de dores que se estava armando
sobre Ele! Que terror e que pavor ao imaginardes
os horríveis tormentos que Lhe haviam de dilacerar
o coração e a alma, e rasgar e dcsconjuntar o seu
inocentíssimo corpo! Que repugnância, conside
rando-o feito um leproso, pisado pelos homens como
um verme e deixado de Deus como um maldito!
5 .— Virgem Santissima, o vosso Filho, o vosso
único Filho, inocentíssimo, puríssimo e impecável,
o vosso Filho e vosso Deus, tem sobre os seus
ombros o peso enorme dos pecados de todos ps
homens e está oferecido por eles aos rigores da
divina justiça. É necessário desagravar a honra de
Deus ultrajada. — Sofrei, Senhora, com Ele em holo
causto de reparação.
6. — Agora, agora c que a espada de Simeão
SC crava dilacerante em vossa alma. Vosso Filho
sofre e Vós com Ele; e contudo estas dores tão
atrozes, são inúteis para tantos homens, que, não
obstante elas, querem pecar e condenar-se.
7. — Bem quiséreis Vós que o cális da Paixão
e este, passassem dc vosso Filho e de Vós! Mas
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resignada e calma, acatais a disposição divina e repetis
heroicamente: — «Faça-se a vossa vontade e não a
minha».
8. — Senhora, a vida do homem na terra é um
tecido de provações e de penas. Quando cairem
sobre mim os golpes da dor; quando for contrariado
nos meus gostos, desejos e projectos; quando for
alterado na saúde ou perturbado na paz, lembrai-me
da agonia do Coração de Jesus e do vosso, e ensi
nai-me a aplicar sereno os lábios ao cális que o
Senhor me oferece e a querer, não obstante as
repugnâncias da natureza, antes a vontade dele que
a minha.
9. — Se em castigo dos meus pecados ou pela
maldade dos homens me vir desamparado de parentes
e amigos, mal interpretado, murmurado, desprezado,
caluniado, entregue até a meus inimigos, — minha
Mãe, pela angústia do vosso Coração ante a agonia
do Coração de Jesus, dai-me a graça para dominar
as revoltas do amor próprio, e para sem queixa
e cm silêncio cumprir antes a vontade de Deus do
que seguir os ímpetos da minha.
10. — Perante o mau sucesso dos meus trabalhos
c fadigas e a inutilidade dos meus esforços e suores,
ao ser-me pago com o mal o bem que tiver feito,
e ao receber pelos favores e benefícios ingratidões
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e injúrias, pondc-me diante a agonia do Coração dc
Jesus e a lancinante aflição do vosso, para que eu
sempre c em tudo diga generosamente ao Senhor:
— Faça-se a vossa vontade e não a minha.
Coração de Jesus esmagado por causa dos meus
pecados, tende piedade de nós. Aflito Coração de
Maria, sede a nossa salvação.
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A Flagelação
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Senhor. Avergoam-lhe e estalam-lhe a pele, espre
mem-lhe o sangue, fendem-lhe e rasgam-lhe a carne.
O sangue salta com os açoites e corre em fios para
o chão. Voam no ar . retalhos da carne pura e ima
culada dc Jesus. É a carne da vossa carne c o
sangue do vosso sangue.
4. — Os algozes não se cansam. Dum lado e
doutro, brandem furiosamente os terríveis flagelos,
sem conta nem medida no número de açoites.
Vêem-se já os ossos. As costas de vosso divino
Filho são uma posta de sangue, uma enorme chaga
que alastra e incha mais c mais a cada golpe.
E os verdugos não param. Prolongam indefi
nidamente a horrenda carnificina.
5. — Oh que tristeza e aflição a vossa vendo
assim tratado o vosso Filho! Bem quereríeis livrá-lo
de tão bárbaro suplício, arrancá-lo da coluna e das
mãos dos carrascos, pôr-vos ao menos em lugar dele
para sofrer por Ele o que Ele padece por nós.
6. — Mas é outra a vontade do Céu. É necessário
que a carne inocente, pura, santa e imaculada de vosso
Filho padeça tão cruelmente, para expiar as impure
zas, as imodéstias, as sensualidades e os flagícios
da corrompida raça humana. Por isso. Senhora, não
podeis livrar da flagelação a vosso Filho nem levar
em vez dele tão feroz castigo. Levais outro que vos
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custa mais. É ver Jesus no tormento, vê-lo sujeito
aos açoites e não poder aliviá-lo.
Mãe Santíssima, fica assim maior a reparação
que, para remédio nosso, unis à dele. Isto não vos
tira a pena; mas, como sois nossa Mãe, ajuda-vos
de certo a sofrê-la.
7. — Por ela, minha aflita Mãe, pela angústia
de vosso Coração em tamanha tortura vossa e de
vosso Filho, guardai-nos do pecado que Ele agora,
sobre todos, expia^ dai-nos a graça da pureza;
purificai as nossas almas, os nossos corações, os
nossos corpos; alcançai-nos pensamentos, afectos,
vida de anjos; livrai-nos de toda a culpa e de todo
o crime.
8. — Infundi-nos alento e coragem para mortifi-
carmos os nossos sentidos e o nosso corpo, e para
oferecermos a Deus os sacrifícios de desagravo e
reparação que lhe devemos.
9. — Assisti-nos com o vosso auxílio para rece
bermos conformados as penalidades e provações que
o Senhor nos manda. Somos pecadores: é justo que
levemos e aceitemos o castigo. Não fazemos espon
taneamente penitência: bem é que imposta a quei
ramos.
10. — Por muito que as justiças do Senhor nos
aflijam e durem; por muito que nos firam na saúde.
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nos bens, no nome, nos que amamos; mesmo quando
nos vejamos iqcapazes de nos valermos e destituídos
de toda a esperança de alívio, fazei que não esque
çamos que todo o pai castiga a seus filhos, que Deus
prova os que ama, e que vos consolamos sofrendo
com humildade a paciência, como Vós sofrestes na
flagelação de N. Senhor, nosso Deus e vosso Filho.
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Coroação de Espinhos
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ciá-la, não podeis livrá-la daqueles espinhos que os
bárbaros verdugos afundam nela com escarninhos
golpes de cana.
4. — Tendes ainda nos ouvidos e no coração as
palavras do Anjo: «Darás à luz um filho... que será
grande e será Filho do Altissimo, e receberá de
Deus o trono de Davide, seu pai, e reinará para
sempre na casa de Jacó, e o seu reino não acabará
jamais» (Luc. i, 32-3).
Oh como este reino é agora escarnecido! Um
farrapo, uma cana, espinhos, pancadas, bofetadas,
asquerosos cuspos, motejos, gargalhadas, adorações
insultuo.sas e saudações sarcásticas... Joelho em terra
diante do Senhor, dizem: — Deus te salve, rei dos
judeus (M t. xxvii, 29; Mc. xv, 18; Jo. xix , 3).
Mãe de Jesus, Mãe do Filho de Deus, como é
que o vosso coração resiste, como é que não se parte
e faz em pedaços com tantas afrontas e opróbrios
de vosso Filho?
5. — Quiseram apoderar-se dele para o fazerem
rei (Jo. VI, 15); há dias levaram-no em triunfo, entre
palmas c hosanas, aclamando-o Enviado do Senhor,
Filho de Davide e Rei de Israel (Mt. xxi, 9;
Jo. XII, 14). Agora riem-se da sua realeza os roma
nos e dentro em breve hão-de repudiá-la os judeus:
— Crucifica-o, crucifica-o; não queremos rei senão
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O César! (Jo. xix , 6 e 15). Vosso Filho está só.
Deixaram-no todos, mesmo os discípulos, os amigos
e tantos a quem encheu de favores. Quem não
ludibria a sua realeza, não se importa nem faz caso
dela.
6. — Eu também feri o vosso coração com estes
espinhos, porque tive a triste infelicidade de recusar
muitas vezes o domínio de Cristo Rei e a sujeição
ao seu cetro.
Todas as vezes que preferi a minha vontade à
sua, todas as que antepus as minhas paixões à sua
lei, todas as que segui antes os ditames do mundo
que as máximas do Evangelho, outras tantas clamei
e vociferei que não queria que Jesus reinasse sobre
mim.
Eu é que o coroei de espinhos com a maldade
dos meus pensamentos de vanglória, de malquerença,
de vingança, de ódio, de cobiça e de lascívia. Eu é
que zombei da sua realeza com o meu orgulho e a
minha soberba, com as minhas revoltas contra as dis
posições divinas e contra a obediência, e com amar-me
até ao desprezo de Deus.
7. — Senhora, obtende-me o perdão e a graça de
emendar-me. Quero desagravar o Coração de Jesus
e o vosso. Fazei que comece agora uma vida santa,
imaculada, fervorosa. Dai-me pensamentos de humil-
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(ladc, de pureza, de caridade. Dai-me força para vos
imitar e para aprender do Coração de Jesus como
hei-de desafrontá-lo dos meus pecados c dc todos
os insultos com que é ultrajado.
Quando os espinhos da tribulação me rasgarem o
.seio c me dilacerarem a alm a; quando a humilhação
c o desprezo se abaterem sobre m im ; quando (quem
sabe?) até os meus, até aqueles a quem dediquei
amor, sangue c vida, me forem indiferentes, adversos,
inimigos c perseguidores, ponde ante meus olhos este
quadro de dor e irrisão e lembrai-me que fica mal
debaixo duma cabeça coroada dc espinhos um mem
bro coroado de rosas, e sob um mestre c um rei
saturado dc opróbrios um discípulo c um vassalo
cercado de honras.
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Levando a Cruz
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Meu Senhor e Salvador, eu vos amo tão humi
lhado. Nas manchas que vos cuspiram às faces vejo
purificadas as almas. Pela vossa caridade com elas
e pela vossa bondade comigo, bendito sejais. Senhor!
5. — Virgem Santíssima, sinto o vosso coração
esmagar-se. Jesus pálido e lívido, martelado pela
cruz na coroa de espinhos, mal pode arrastar-se;
treme, vacila, cambaleia e cai. Sob o peso do madeiro
dos meus pecados não pode erguer-se. Gritam-lhe,
batem-lhe, insultam-no, levantam-no.
6 .— As filhas de Jerusalém lamentam-no e cho-
ram-no. Ele volta-se e quer consolá-las. Oh Mãe
de Jesus, nesta hora cruel quem precisa de conforto
sois vós! Vosso Filho tem seus olhos nos vossos
e vós os vossos nos dc vosso Filho. Os vossos têm
lágrimas, os dele sangue. Que profunda c amarga
aflição!
7. — Quem me dera saber consolar-vos! Bem
vejo o vosso coração unido ao de Jesus na mesma
aceitação, no mesmo oferecimento, no mesmo suplício.
Com Ele sofreis para com Ele nos salvardes. É esta
a vontade de Deus. Por isso, não obstante a vossa
angústia, é também a vossa vontade.
8. — Minha Mãe, eu quero imitar-vos. Socor-
rei-me com o vosso auxílio. Se vos consola que eu
sofra por Jesus e por Vós, que eu una o meu
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coração ao dele e ao vosso nas tribulações que a
Providência me der, que por amor dele e de vós
eu me ofereça para a expiação e para a dor, eis-me
aqui nas vossas mãos para tudo.
9. — Mãe do meu Senhor, minha Santíssima e
querida Mãe, alcançai-me a graça que preciso, que
eu para consolar-vos quero sofrer sem queixa as
condenações injustas, mesmo que venham de quem
devia defender-me; para consolar-vos quero receber
em silêncio as salivas dos desprezos e dos escárnios,
ainda que mas lance quem tem obrigação de am ar-me;
para consolar-vos quero aceitar com humildade e
amor toda a cruz que Deus me envie, por pesada
que seja, e toda a que os homens me imponham,
embora seja por desdém, vingança ou ódio.
Sós vos peço que me assistais com o vosso amor
e amparo, que me lanceis um olhar desses vossos
olhos misericordiosos, que façais que Jesus olhe
para mim como olhou para Vós e me encha do seu
amor, da sua força e da sua graça. Assim seja.
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N a Cruz
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juntai a vossa oração à do Coração de Jesus e
implorai o perdão de Deus para mim e para todos
os que, pecando, vos crucificam vosSo Filho; dizei
com ele; — Pai, perdoai-lhes porque não sabem o
que fazem.
4. — Agora arrastam a cruz pelo chão escabroso
do Calvário, Icvantam-na ao alto, seguram-na, e eis
vosso Filho justiçado entre ladrões, como se fosse
um celerado e o pior dos malfeitores. Ai, que
diferente Ele está do que era dantes! Não é o mais
belo dos filhos dos homens; é um verme, por meu
amor feito maldito, uma pasta informe de sangue
que mete ho rro r; é uma dor viva e lancinante, desde
os pés abertos de pregos até à cabeça coroada de
espinhos; é o homem de dores, triturado pelos nossos
crimes.
5. — Imaculíido Coração de Maria, esmagado com
o peso de tão grande tormento, preparai-vos para
maiores amarguras, para novas espadas que já descem
faiscando para vos ferir e trespassar. O vosso Filho
sofre e agoniza, e em torno dele os escribas, os
fariseus, o povo, os que passam, os soldados, os
próprios ladrões crucificados, todos à uma o insultam,
o escarnecem, o maldizem, o blasfemam. Bem ouvis,
— e com que m ágoa! — esses sarcasmos horríveis,
arremessados como setas crvadas ao Coração San
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tíssimo de Jesus, que não podem feri-lo sem varar
o vosso.
6. — Salvo o ladrão arrependido, ninguém defende
o Senhor nem lhe diz uma palavra de conforto.
Conhecidos, amigos, discípulos, parentes, miraculados
por Ele, todos o deixaram. Jesus está só com os seus
tormentos. Esvaído de sangue, ardendo em sede
e em febre, até de seu Eterno Pai é desamparado:
— «Meu Deus, meu Deus porque é que me desam-
paraste ?»
7. — Virgem Santíssima, porque é que não con
solais Vós o vosso Filho?... É porque não podeis?
— Meu Filho, meu Filho!, suspirais, ao vê-lo em
tanta angústia. Ele, porém, responde: — Senhora,
o vosso filho aí o tendes. É João, são todos os
homens; amparai-os, protegei-os, amai-os. Eu, já
não posso mais; tudo está consumado; vou morrer.
Meu Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito.
8 .— Jesus, eu Vos adoro. Vos amo e Vos dou
graças porque à hora da morte me entregais a vossa
Mãe. Sou filho dela e Ela é minha Mãe 1 Bendito
sejais!
Senhora, já que sou filho vosso c gerado em
tantas dores, quero proceder como tal. Quero tratar-
-vos com todo o respeito, veneração, amor e obe
diência ; quero fazer em tudo a vossa vontade;
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quero consolar-vos c desagravar-vos das ofensas que
recebeis directamente em vosso Coração e das que
são dirigidas imediatamente ao Coração de Jesus
e por isso vos são mais sensiveis.
9. — Para isso recorro ao vosso amor de Mãe.
Preciso de desnudar-me das coisas do mundo e dos
afectos terrenos, preciso de pregar-me bem fixo e
seguro ao cumprimento do meu dever, preciso de
perdoar generosamente os agravos que me fazem,
preciso de imitar a N. Senhor no sofrimento dos
desprezos, das injúrias e de todo o desamparo e dor,
preciso de o imitar na morte — morrendo para todo
e qualquer pecado, já que Ele morreu para me livrar
de todo e qualquer pecado. Mãe de Deus, minha
Mãe, rogai por mim.
10. — Fazei que eu imite a morte de Cristo, que
o acompanhe na sua Paixão e que medite nas suas
chagas. Fazei que elas me firam o coração e que eu
me inebrie da cruz e do sangue de vosso Filho.
Para não arder nas chamas eternas, defendei-me
no dia do juízo, ó Virgem Santissima.
Senhor, quando tiver de sair do mundo, levai-me,
por amor de vossa Mãe, à palma da vitória. Quando
o meu corpo morrer, fazei que minha alma receba
a glória do Paraíso. Assim seja.
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A Ressurreição
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primogênito e as primícias dos mortos (Col. i, 18;
1 Cor. xy, 20). Ressuscitou para não tornar a morrer
(Rom. VI, 9). — Rainha do Céu, alegrai-vos, aleluia,
que a morte já não tem poder sobre Ele, aleluia!
(Rom. VI, 9). A sua vida é luz serh noite, glória
sem fim, aleluia.
4. — Esse corpo santíssimo, que por graça do
Espírito Santo concebestes e, com pureza ilibada
destes ao mundo, e agora, extasiada no esplendor da
sua claridade, contemplais com tanto amor e carinho,
já não sofre. Agil como a luz, veloz como o pen
samento, subtil como os espíritos, mais brilhante
que os sóis, vive acima, muito acima das contin
gências do mundo. É um corpo espiritualizado: nem
morte, nem dor, nem peso. Passou a morte e passa
ram as penas. Passaram e já não voltam... Já não
podem voltar... As chagas das mãos, dos pés e do
lado, não doem, não magoam, não são feridas: são
um sinal de identidade, uma força na oração, um
troféu de triunfo, uma delicadeza de amor. Rainha
do Céu, alegrai-vos, aleluia, que vosso Filho já não
pode sofrer, aleluia!
5. — Já não morre nem sofre: justifica e vivifica.
Entregue à morte pelos nossos pecados, ressurge
para nossa justificação (Rom. iv, 25). Com a morte
remiu-nos, com a ressurreição justifica-nos. Com
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a morte preparou-nos o remédio, com a ressurreição
dispõe que nos seja dado e o recebamos.
Poderosíssimo argumento da fé, prova máxima
da divindade de Cristo, a ressurreição é o selo divino
da obra do Senhor e dos meios que Ele nos dá de
.salvação. Antes dela não haveria descida do Espírito
Santo, nem pregação dos Apóstolos, nem comuni
cação geral da redenção. Com ela aviva-se a fé,
preparam-se os corações, difunde-se a graça e
aplica-se às almas.
6. — Vede, Senhora, quantas tão profundamente
enterradas nos covais da culpa, se levantam do pecado
e entram e caminham pela senda da vida nova que
o Senhor na sua ressurreição lhes aponta: — morte
ao passado, desprendimento da terra, desprezo do
mundo, amor de Deus, desejo do céu, imitação da
.sua vida — vida da graça!
Rainha do Céu, alegrai-vos, aleluia; exultai em
vosso Coração, aleluia! É vosso Filho que opera
estes prodígios, é vosso Filho que ressuscita as almas,
é vosso Filho que derrama nelas esta onda de vida.
Não foi inútil o seu sofrimento, não foi inútil o
que Vós sofrestes. Alegrai-vos, Rainha do C éu!
O Reino de Deus principia!
7. — Oh se ele se dilatasse e se estendesse a todos
os homens! Senhora, com a vossa intercessão.
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apressai o momento em que todos o aceitem; e a nós
que já o aceitámos, obtende-nos a graça de o amar
e aperfeiçoar cada vez mais.
8. — Mãe do divino Ressuscitado, aumentai-nos
a fé na sua ressurreição, principio e penhor da no.ssa.
Fazei que vivamos como quem há-de ressuscitar:
que não receemos o trabalho de cumprir a lei de
Deus; que não temamos o sofrimento, a mortifi
cação, a cruz; que não amemos a terra, mas o céu;
que imitemos generosa e perfeitamente a vos.so divino
Filho; e que o sigamos na dor para o acompanhar
mos na glória, na qual, ressuscitados à sua imagem
c semelhança c participando para sempre do vosso
gozo, cantemos eternamente reconhecidos: — Rainha
do Céu, alegrai-vos, aleluia, porque o vosso divino
Filho, aleluia, ressuscitou como disse, aleluia!
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A Ascensão
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Senhor a N. Senhor: — Scnta-te à minha direita,
recebe o meu poder e majestade, e domina nos teus
inimigos, porque o teu trono, ó Deus, é trono
para os séeulos dos séeulos (Ps. c/.v, 1; x u v , 7;
Hebr. i, 8).
5. — Alegrai-vos, Senhora, e regozijai-vos em
vosso Coração! Tudo o que é de Deus é de vosso
Filho. O Eterno Pai tudo lhe entregou; e aquilo
que o Pai lhe entregou, ninguém lho arrebata da
mão. Na terra e no céu, só Ele é Santo, só Ele é
Altissimo, só Ele é Senhor, com o líspírito Santo,
na glória de Deus Pai.
6. — A pregação dos Apóstolos no mundo, a
acção do E.spirito Santo nas almas, a dilatação e a
santidade da Igreja, a coroação dos santos na glória,
tudo parte de Jesus. líle. Primado e Príncipe de
todas as coisas e Soberano Rei dos Séculos, é quem
tudo move com o poder que lhe foi dado no céu
e na terra.
7. — Agora .sobe ao Céu. Assim tornará para
julgar o século. Virá num trono de nuvens e chamará
todos os homens ao seu tribunal, precisamente porque
é o Filho do Homem.
8. — Filho de Deus, pertencia-lhe por natureza
todo este poder, o qual também lhe era devido, em
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quanto homem, pela união substancial da sua huma
nidade à pessoa divina do Verbo. Mas obediente até
«à morte de cruz. Deus exaltou-o sobre todas as coisas
dando-lhe aquele nome que é superior a todo o
nome, para, ao nome de Jesus, todo o joelho se
dobrar em adoração na terra, no céu e no inferno,
e toda a lingua confessar que Jesus Cristo é Senhor,
igual na glória a Deus Pai. Humilhações, tormentos
e morte, são na obra redentora mais um titulo de
suprema exaltação c de senhorio universal.
9. — Virgem Santissima, bastava .serdes Mãe de
Jesus, para a sua ascensão tão bela, o seu trono
tão excelso e o seu dominio tão soberano, inebriarem
de gozo o vosso Coração. Mas a vossa maternidade
foi livre. Com o fiat, com o sim com que vcstistes
da nossa carne o Verbo de Deus, aceitastes também
uma espada de dores c um cális de humilhações
e de opróbrios, indispensáveis para o esplendor deste
dia. lira necessário que Cristo padeces.se para entrar
na .sua glória.
Assim a vossa cooperação é mais voluntária,
o vosso amor é mais dedicado, a vossa parte na pre
paração desta hora é mais activa, e por isso o júbilo
do vosso Coração é mais intenso, mais intimo e mais
profundo.
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10. — Coração Imaculado dc Maria, exultai c
jubilai. O vosso gozo é a minha alegria, o triunfo
de Jesus a minha glória. Em nome do vosso gozo
e do seu triunfo, alcançai-me a graça de triunfar
com Jesus: primeiro na dor e no opróbrio, depois
na claridade da Pátria.
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Vinda do Espírito Santo
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4. — Num momento os Apóstolos e os Discípulos
são enri(|ueciclos de santidade, de ciência e de for
taleza. Defendem os direitos de Deus e de seus
.servos, citam e interpretam as Escrituras, repreen
dem a iníqua morte de Nos.so Senhor, pregam a
ressurreição e a divindade dele e a necessidade da
penitência, fazem estupendos milagres, e gloriain-se
de sofrer prisões e açoites pelo nome de Jesus.
.s. — As almas arrepcndem-.se publicamente de
seus pecados e convertem-se aos milhares, entre
gam-se as.siduainente à oração, comungam com fre
quência, despojam-se de .seus bens em favor dos
pobres, vivem em perfeita harmonia e caridade,
obedecem docilmente aos Apóstolos, suportam ale
gremente as perseguições e recebem o dom das línguas
e da profecia.
6. — Está-se cumprindo a palavra do Senhor.
Com estes portentosos efeitos de sua graça, o Espírito
Santo condena o mundo do seu pecado de incredu
lidade, revela a inocência e a glória de Jesus, con
funde o demônio e os filhos das trevas, guia os
fiéis para a plenitude da verdade, desvenda-lhes
os segredos do futuro, e finalmente glorifica a
N. Senhor Jesus Cristo dando testemunho da divin
dade dele.
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7 .— Virgem Santissima, que imenso gozo o do
vosso Coração, quando pressentis e presenciais a
glorificação do vosso divino Filho em tantos triunfos
da graça de Deus derramada nas almas pelo Espirito
Santo! Que infindo prazer quando o Espírito Pará-
clito difunde a caridade nos corações e com a suavi
dade da sua unção os move ao louvor, à reverência
e ao serviço do Pai e do Filho e de toda a Santíssima
Trindade! Que júbilo quando as almas, enriquecidas
com o incomparável dom do Altíssimo, não se cansam
de chamar a Deus seu pai e de tributar-lhe amor
e glória!
8. — Mãe Puríssima, Vós experimentastes, como
ninguém, a acção do Espírito Santo; Vós conheceis
as necessidades das almas. O Espirito Santo não
lhes falta; a muitas desceu no baptismo, a muitas
na confirmação; a todas vem nas suas inspirações
de cada dia. Mas elas são livres e podem resistir-lhe.
Alcançai-lhes, Senhora, a graça dc serem fiéis.
Obtende esta graça para todas as almas: para os
cristãos, para os gentios; para os católicos, para
os ci.smáticos, para os herejes; para os religiosos
e para os seculares; para os sacerdotes e para os
leigos; para a Igreja Docente e para a Discente:
para os governantes e para os governados; para
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os grandes e para os humildes, c muito particular
mente para mim.
Mãe de Deus e Mãe dos homens trazei ao mundo,
pela vossa intercessão, um novo dia de Pentecostes,
para que a terra transformada bendiga a Deus em
paz e amor. v
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A Assunção
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4. — O VOSSO corpo sacrossanto não c tocado
pela corrupção, f. mais virgem que a luz; c fúlgido
templo duma alma ilibada; é escrinio de graça, de
santidade e pureza; é a Arca da nova Aliança; é o
tabernáculo do Altissimo, onde Deus incarnou c
viveu.
5. — Vivificado outra vez por vossa ditosa alma,
surge do seu plácido sono mais radioso e esplêndido
que o fulgor dos sóis, mais leve do que a luz e o
pensamento, ágil e subtil como os espíritos, e para
sempre liberto da lei do sofrimento e da morte.
6. — Eis-vos subindo ao céu e transpondo os
espaços. Que admirável cortejo de anjos vos acom
panham, jubilosos de contemplar vosso rosto, todo
.suavidade e doçura, todo encanto e êxtase, todo luz
e pureza!
Rumorejam no ar asas de arminho, vibra o
metal de harpas e citaras, palpitam ardoro.sos cora
ções, reboam aclamações e cantos de entusia.smo,
e abrem-se par em par as portas do céu.
7. — Vêm os patriarcas e os profetas para vos
receberem como aquela que esperaram séculos e
talvez leram nas primeiras páginas dos livros santos;
como a mulher forte que havia de esmagar a cabeça
da serpente; como a estrela de Jacó, a vara de Jessé,
a honra, a glória e a salvação de Israel. Vêm
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S. Joaquim e S. Ana para Vos saudarem como filha,
justamente ufanos por serem escolhidos pelb Céu
para pais da Mãe de Deus. Vem S. José para, como
vosso verdadeiro e purissimo esposo. Vos felicitar
desta inaudita apoteose. Vem Jesus para Vos abraçar
como sua querida e extremosa Mãe. Vem a Santis
sima Trindade para Vos coroar. Vos entronizar e
Vos meter na mão o cetro dc Rainha c Senhora.
8. — Sou vosso filho. Virgem Puríssima. O meu
go.sto e o meu prazer é ver-Vos assim glorificada,
é vcr-Vos senhora do mundo para sempre. Bendita
sejais por esta grandeza e majestade! Bendito o
Senhor (|ue assim Vos fez soberana!
Ç. — No vosso triunfo e na vossa glória leinbrai-
-Vos de nós, degredados filhos de Eva. Na hora da
nossa morte assisti-nos para que também nós sejamos
coroados.
Alcançai-nos a graça duma pureza angélica, duma
vida intemerata e duma consciência ilibada; fazei
que correspondamos plenamente aos convites da
graça e que desprezemos o mundo, e suas máximas,
vaidades e prazeres; obtende-nos uma perfeita união
com N. Senhor e velai sobre nós, como Mãe cari
nhosa. Assim morreremos em paz, ressurgiremos em
glória, e contemplaremos para sempre o imenso gozo
da vossa eterna felicidade.
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Coroação de Maria
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(lo mundo, desconhecida dos grandes da terra e
também dos pequenos, pobre, desprendida de todo
o bem caduco e perecível.
4. — Era, pois, justo que a bondade e miseri
córdia de Deus Vos proclamasse Rainha dos anjos
e dos homens, Soberana do céu e da terra. Senhora
das riquezas divinas. Medianeira Universal e dis
tribuidora de todas as graças.
5. — Escrava do Senhor, cheia de graça, as luzes,
as moções e inspirações do Alto encontraram em
Vós correspondência plena, fidelidade absoluta,
pronta docilidade, perfeita submissão e obediência.
O vosso Fiat foi resoluto, firme, constante, imutável.
Vós não faltastes num só ápice à vontade do
Senhor.
6. — Por isso Ele Vos exalta e Vos investe dum
domínio só inferior ao seu, para que no céu, na terra
e no inferno todo o joelho se dobre ante Vós, e toda
a língua confesse que Vós, pela bondade de Deus,
.sois verdadeira Senhora do Céu, do Purgatório, da
terra, e do Universo. Abaixo de Deus, todos — do
mais humilde ao mais alto — Vos reconhecem supe
rioridade ; todos — do menor ao maior — Vos devem
acatamento e obediência; todos — do menos dotado
ao mais opulento — têm que recorrer à vossa gran
deza e munificiência. — R a vossa coroa de poder.
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7. — O vosso Fiat, generoso e admirável, abriu
a vossos olhos uma senda de dores, cuja perspectiva
sangrenta se fechava no morro do Calvário, onde,
entre horríveis tormentos, pendia numa cruz o novo
Adão, vosso divino Filho.
Estáveis ali Vós, de pé, como nova Eva, para à
palavra omnipotcnte de Jesus — que na pessoa de
João Vos entregava por filhos todos os homens —
serdes a Mãe dos verdadeiros viventes.
8. — Somos vossos filhos. Todos temos que abrir
o nosso coração ao vosso coração de mãe, amar-Vos,
esperar de Vós refúgio, misericórdia, consolação, paz
e salvação.
9. — Escrava do Senhor, o vosso entendimento
abriu-se larga, totalmente à luz do sol divino, às
ilustrações do céu, às verdades da fé, e aderiu à
revelação divina sem dúvidas, sem vacilações nem
hesitações, mesmo nas misteriosas sombras das humi
lhações dc Jesus, mesmo nas densas trevas das suas
tribulações, mesmo na negra e trágica noite da sua
Paixão e da sua morte.
10. — Agora tudo é luz e claridade e visão.
Benditos os vossos olhos que penetram os segredos
e os mistérios de Deus! Benditos os vossos olhos
que mergulham tão profundamente no íntimo da
essência divina! Benditos os vossos olhos que nela
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descobrem, sempre novas e insuspeitadas mara
vilhas.
É a vossa coroa de sabedoria. Ninguém, nenhuma
simples criatura pode abranger e contemplar tão
largos horizontes nesse amplíssimo céu, nessa imen
sidade infinita, nesse pulular de estrelas e de sóis
de tão rara e estranha beleza, de tão admirável e
encantada formosura, de tão meiga, tão inebriante
e esplêndida luz. — Virgem Senhora, reinai; gozai
da vossa coroa de sabedoria!
11. — Escrava do Senhor, o Senhor está con-
vosco! O vosso coração, a vossa vontade é ardor,
é chama, é labareda, é incêndio de caridade divina.
Desde o primeiro instante da vossa imaculada con
ceição até ao último extremo da vossa vida, os vossos
afectos— sem desvio nem diminuição nem afrouxa
mento, antes num crescendo arrebatador que enche
de assombro os anjos — todos se concentram indo-
màvelmente em Deus. D eus! Só D eus! Deus em
tudo! E tudo em Deus! O Amor não era amado.
Agora é amado, é bem amado, é imensamacnte amado.
12. — A nossa alegria e o nosso gozo é que entre
as puras criaturas, ao menos uma o ame assim.
Essa criatura sois Vós! Bendita sejais! Honra,
louvor e glória ao vosso abrasado e ardente e purís
simo Coração!
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É esta a vossa coroa de caridade. Em amor de
Deus ninguém Vos excede nem iguala. Cada anjo
e cada santo do céu é uma fornalha de amor de
Deus. Se todos esses corações se fundissem num
só coração e todas essas fornalhas se unissem numa
só fornalha, essa soma incalculável de amor de Deus
comparada com o que Vós lhe tendes, — apenas,
muito apenas marcaria um grau: seria uma faúlha,
um pó de cinza ante a formidável incandescência
do sol.
13. — O Senhor é convosco! Sois a predilecta
de Deus, a que Ele possuiu desde o principio, o
sonho, c arroubo do seu coração. Amai-lo assim,
porque Ele assim Vos amou. Nesta reciprocidade
de amor está a vossa incomparável, a vossa quase
infinita felicidade.
14. — Oh! Mãe de Deus! Oh! m inha.'M ãe!
gozai-a, gozai-a para sempre nessa irreprimivel tor
rente de inefáveis delicias, gozai-a do alto desse
trono donde dominais o mundo! Gozai-a coroada
para sempre!
15. — Passa-me pela mente como a vossa coroa
de justiça me ensina e estimula a conquistar a minha,
pela imitação da vossa humildade, do vosso despren
dimento, da vossa fidelidade, do vosso sofrimento,
da vossa fé e da vossa caridade.
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16. — Mas neste momento o que mais me cativa
é a magnificência e o esplendor da vossa coroação
e do vosso triunfo. Quero agora seguir o pendor
do meu coração, quero contemplar-Vos c aclamar-
-Vos.
Sois grande, sois bela, sois santa, sois pura e
imaculada, sois cheia de graça, sois a Rainha dos
anjos c dos santos, a Senhora do mundo, a Impe
ratriz do. Céu, a Soberana do Unive*so, o enlevo,
o êxtase, o amor daquele que Vos fez toda graça
e formosura.
Sois a minha Mãe, a minha esperança, e sereis
— segundo confio — a minha salvação.
Dai-me a graça da perseverança, para ter a dita
de ver com meus olhos a vossa glória, de contemplar
com assombro a alteza do vosso trono e de admirar
e bendizer para sempre a riqueza da vossa coroa.
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MEDIT AÇÕES
DOS P R IM E IR O S SÁ BA D O S
T E R C E IR A S É R IE
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1. — A A nunciação. — 1. — O ponto central
deste mistério é a Incarnação do Filho de Deus.
A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade ani
quila-se, diz S. Paulo, tomando uma natureza de
escravo. O Verbo Divino abate-se para me elevar,
humana-se para me divinizar, por amor de mim
faz-se homem para me fazer filho de Deus.
2. — Sendo eu, ou, pelo menos, devendo ser filho
de Deus, tenho que viver vida divina. Este é o
desejo de Deus. É a obrigação que Ele me impõe.
Contudo como é que eu vivo? Vivo como filho de
Deus? Vivo como anjo? Vivo, ao menos, como
homem? Ou vivo como menos que homem?...
3. — Senhor, por intercessão de vossa Mãe,
dai-me a graça de viver da vossa vida.
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de lutá para santificar o seu Precursor purificando-o
do pecado original. É este o fim principal da visita
dc N.“ Senhora a Santa Isabel.
2. — Quando Jesus antes de nascer, vai tirar
do pecado um homem que ainda não era nascido,
qual é o horror que eu tenho ao pecado? Estou
actualmente em pecado? Ando habitualmente em
pecado, sem temor nem pena, antes indiferente e
alegre? Cometo fácil e deliberadamente o pecado
venial ?
3. — Jesus, pelo amor que tendes a vossa Mãe,
a quem preservastes do peCado original, fazei-me
a graça de nunca pecar.
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3. — Jesus, pela incligência dessa gruta e pelo
que nela sofre convosco vossa Mãe, não permitais
que eu me apegue aos bens terrenos.
IV . — A A presentação. — 1. — Apresentando-se
no templo Jesus obedece a uma lei a que não é
obrigado, e quarenta dias depois de nascido con
sagra-se totalmente a Deus por um acto solene.
2. — Também me consagrei solenemente a Deus
no santo baptismo, o qual me foi dado debaixo da
condição de renunciar primeiro a Satanás e a todas
as suas pompas e obras. Mas os anos que levo de
vida, testemunham contra mim que mal tenho feito
outra coisa que seguir o que renunciei.
A lei de Deus, a da Igreja, a da palavra dada,
tantas outras, — a i ! quantas vezes as tenho quebrado!
3 .— Jesus, por vossa Mãe, que neste momento
cumpre a lei da purificação a que não estava sujeita,
dai-me a graça de viver a consagração do meu
baptismo com a plena obediência à vossa vontade.
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2. — Busca a Jesus com dor quem o perdeu sem
culpa. E eu não tenho dor de o ter perdido por
tantas c tão graves e tão repetidas culpas. Perdi-o
e perco-o por muito minha vontade e gosto. Podendo
com tanta facilidade achá-lo, não o busquei nem
busco. Cansa-se Ele em me buscar, e eu fujo e não
me deixo encontrar.
3. — Jesus, pela dor com que vossa Mãe vos
buscou, concedei-me a contrição perfeita e a perse
verança na graça.
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1. — O ração n o H orto. — 1. — Prostrado em
terra, Jesus, triste da ofensa de Deus, apavorado
dos seus castigos, nauseado da vista da culpa, sua
sangue para sujeitar a sua sensibilidade à vontade
do Pai. Três horas repete a mesma oração: — «Pai,
se é possivel, aparte-se de mim este cális; porém,
não se faça a minha vontade, senão a vossa.»
2. — Oh! que pouco me entristeço da ofensa de
Deus, que pouco temo a sua justiça, que pouco me
anojo da hediondez do pecado, se tão facilmente o
cometo! Por qualquer tribulação, dificuldade, ten
tação, e mesmo capricho, tão depressa deixo a von
tade de Deus!
3 .— Jesus, pela vossa agonia, dai-me o aborre
cimento do pecado, e a graça de querer sempre,
não a minha, mas a vossa vontade.
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golpes, sangue escorrendo, carne em retalhos, dor
cruciante.
2. — Compreendo... Lirios no lodo, almas na
lama, tálamos podres, modas imundas, publicações
ascorosas, publicidade impudente, flagícios nojentos.
... Castigais, Senhor, na inocência da vossa carne,
o que abusei dos sentidos.
3.— Meu Deus, aceitai em desagravo este purís
simo sangue. Jesus, por este vosso suplício, dai-me
o horror da impureza. Dai-me a graça de trazer
sempre cm meu corpo a vossa mortificação; a graça
de crucificar a minha carne com os seus vícios e
concupiscências.
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louvores, de dignidades? Que direi das minhas
queixas, ressentimentos, rancores c vinganças?
3. — Jesus, por estas afrontas e ludibrio da vossa
realeza, dai-me a graça da mansidão e da humildade.
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Deus, humilhado e desprezado. Amaldiçoado dos
homens e desamparado do céu. De pé, junto à cruz,
a Mãe de Jesus.
2. — Assim amou Deus o m undo! Para salvar
o escravo, entrega o Filho. — Assim me amou Jesus a
m im ! Para me livrar da morte etema entrega-se
à morte de cruz.
3. — Jesus, eu queria dizer-Vos: «Senhor, Vós
bem sabeis que Vos amo.» Porém... Que é que
eu tenho feito por Vós, se ainda me não crucifiquei
nem morri ao pecado, ao mundo, a mim? Dai-me
a graça de Vos amar com obras e verdade. Dai-me
generosidade no sacrifício. Já que tanto nos amais,
fazei que Vos ame cada vez mais.
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1. — A R essurreição. — 1. — Ao terceiro dia de
sepultura N. Senhor Jesus Cristo, pela reunião da
sua alma ao seu corpo, ressuscita. — Como nuvem
negra, que investida e penetrada do sol poente, se
transforma em luz, em oiro e em chama; assim
aquele corpo, entrado de sua alma, é todo graça,
formosura e glória.
2. — Um corpo que já não morre; um corpo
espiritual. Vida nova: impassibilidade, claridade,
agilidade, subtileza.
3. — Senhor, aumentai-me a fé na vossa ressur
reição. Dai-me a graça de renovar a minha vida:
impassibilidade ao mundo, para não tom ar a morrer
pelo pecado; claridade de boas obras e virtudes;
agilidade e prontidão à vossa divina vontade; subti
leza e espiritualidade para elevar o coração para o
alto e o manter na região dos espíritos.
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deles subindo caminho do céu. Eles contemplam-no
extáticos, até que uma nuvem lho tira dos olhos,
e dois anjos os despertam do êxtase.
2. — Senhor, quem viu ou suspeitou a vossa
glória que é que pode querer deste mundo? Que
desprezível é a terra para quem põe os olhos no C éu!
Lá ides colocar a nossa humilde natureza à direita
do P a i! Lá nos ides preparar um lugar!
3. — Jesus, fazei que eu ponha o coração só onde
estão os verdadeiros gozos. Dai-mc o desprezo do
mundo. Aumentai-me o desejo e a esperança da
glória.
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princípio de toda a vida e o motor de toda a acção
e apostolado da Igreja.
3. — Vinde Espírito Santo, vinde encher o meu
coração c acender nele o fogo do vosso amor.
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Universo. Mãe do Filho de Deus, do Redentor,
do Rei Universal dos Séculos, unida a Jesus do Fiat
ao Calvário, unida lhe está no trono, no cetro, na
coroa. Onde Ele é Rei, Ela é Rainha.
2. — Senhora, nós Vos honramos, nós Vos lou
vamos, nós Vos invocamos. Esta é a vontade daquele
que dispôs que tudo recebamos de vossas mãos. Sois
a Virgehi poderosa: tudo nos podeis conseguir de
Deus.
3. — Poderosa Rainha do Céu, sois minha Mãe.
Em Vós ponho a minha esperança, a Vós recorro,
em Vós confio. Dai-mc a graça de Vos servir
agora como fiel vassalo e de Vos amar como piedoso
filho, para depois Vos bendizer para sempre com
partilhando no céu a vossa glória.
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MI STÉRI OS DO ROSÁRIO
M IS T É R IO S GO ZO SO S
(Segundas c Quintas)
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M IS T É R IO S D O LO RO SO S
(Terças c Sextas)
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M IS T É R IO S G L O R IO S O S
(Quartas, Sibados c Domingos)
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Kyrie, eleison.
Christe, eleison.
Kyrie, eleison.
Christe, audi nos.
Christe, exaudi nos.
Pater de coelis Deus, miserere nobis.
Fili Redemptor mundi. Deus, miserere nobis.
Sancta Maria,
Sancta Dei Genitrix,
Sancta Virgo virginum,
Mater Christi,
Mater divinae gratiae,
Mater purissima,
Mater castissima,
Mater inviolata.
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Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Pai do céu, que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho Redentor do mundo, que sois Deus, tende pie
dade de nós.
Espirito Santo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Santissima Trindade, que sois um só Deus, tende
piedade de nós.
Santa Maria,
Santa Mãe de Deus,
Santa Virgem das virgens.
Mãe de Cristo,
Mãe da divina graça.
Mãe purissima.
Mãe castíssima.
Mãe inviolada.
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Mater intcmcrata,
Mater amabilis,
Mater admirabilis,
Mater boni consilii,
Mater Creatoris,
Mater Salvatoris,
Virgo prudentíssima,
Virgo veneranda,
Virgo praedicanda.
Virgo potens,
Virgo clemens,
Virgo fidelis,
Speculum justitiac,
Sedes sapientiae,
Causa nostrac laetitiae,
Vas spirituale,
Vas honorabilc,
Vas insigne devotionis.
Rosa mystica,
Turris Davidica,
Turris eburnca,
Domus aurea,
Foederis arca,
Janua coeli,
Stella matutina,
Salus infirmoriim.
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Mãe intemerata.
Mãe amável,
Mãe admirável.
Mãe do bom conselho,
Mãe do Criador,
Mãe do Salvador,
Virgem prudentíssima.
Virgem vencranda.
Virgem digna de louvor.
Virgem poderosa.
Virgem clemente.
Virgem fiel,
Espelho de justiça.
Sede da sabedoria.
Causa da nossa alegria.
Vaso espiritual.
Vaso honorífico.
Vaso insigne de devoção.
Rosa mística.
Torre de Davide,
Torre de marfim.
Casa de ouro.
Arca da aliança.
Porta do céu.
Estrela da manhã.
Saúde dos enfermos.
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Rcfugium peccatorum,
Consolatrix afflictorum,
Auxilium christianorum,
Regina Angelorum,
Regina Patriarcharum,
Regina Prophetarum,
Regina Apostolorum,
Regina Martyrum,
Regina Confessorum,
Regina Virginum,
Regina Sanctorum omnium,
Regina sine labe originali concepta,
Regina in coelum assumpta,
Regina Sacratissimi Rosarii,
Regina Pacis.
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Refúgio dos pecadores,
Consoladora dos aflitos,
Auxílio dos cristãos.
Rainha dos Anjos,
Rainha dos Patriarcas,
Rainha dos Profetas,
Rainha dos Apóstolos,
Rainha dos Mártires,
Rainha dos Confessores,
Rainha das Virgens,
Rainha de todos os Santos,
Rainha concebida sem pecado original,
Rainhá levada ao céu em corpo e alma.
Rainha do Sacratíssimo Rosário,
Rainha da Paz.
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neccssitátibus nóstris, sccl a pcrículis cúnctis libera
nos sémper Virgo gloriosa et benedicta.
y . Ora pro nóbis, Sancta Dei Génitrix.
R7. U t digni cfficiámur promissiónibus Christi.
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necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os
perigos, ó Virgem gloriosa e bendita,
y . Rogai por nós. Santa Mãe de Deus.
r^. Para que sejamos dignos das promessas de
Cristo.
OREMOS
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(Do Advento ao Natal)
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(Do Advento ao /fatal)
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(No Umpo Pascal)
J A C U IA T Ó R IA
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(No tempo Pascal)
J A C U L A T Ó R IA
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ORAÇÃO A S. JOSÉ
(Resa-se no fim do lerço durante o mês de Outubro)
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morte, assim agora defendei a Santa Igreja de Deus
das insídias dos seus inimigos e de todas as adver-
sidades.
Concedei-nos a cada um dc nós o vosso perpétuo
patrocinio, para que sustentados com o vosso exem
plo e auxílio, possamos viver santamente, morrer
piamente e obter a eterna bem-aventurança no Céu.
Assim seja.
S a g r a d a F am ília
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IN D U L G Ê N C IA S
CONCEDIDAS A REZA DO TERÇO
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PRINCIPAIS OBRAS CO N SULTADAS
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ÍN D IC E DAS G R A V U R A S
Págs.
— Anunciação. — De Vasques Fern an d es? — Museu
de L a m e g o ......................... 4
2. — Visitação. — De Vasques Fernandes ? — Museu
de L a m e g o .................................................................. 20
3. — Natal. — Do M estre do Retábulo do Paraíso.
— Museu de A rte .A ntiga— Lisboa 30
4. — A P rofecia de Sim eão. — De Jansscns. — Cate
dral de A nvers ......................................... 38
5. — Bitscando Jesus Perdido. — De Janssens. — Cate
dral de .Anvers .............................................. 47
6. — Encontro de Jesits entre os doutores. — De
Estevão G o n ç a lv e s ................................................... 53
7. — Oração no H orto ................................... 60
8. — F tagètação....................................................................... 70
9. — Coroação de £í/>m/ioj — T ic ia n o ......................... 78
\0. — Jesus e a Perónica. — Pin tu ra Portuguesa do
scc. XVI. - Ig re ja de Jesus, S e tú b a l.................... 87
11. — /eíM í e S m M ãe na V ia S a c ra .— Dc Janssens.
— Catedral de A n v e r s .............................................. 95
]2. — Calvário. — De Janssens. — Catedral de A nvers 100
13. — Calvário. — Escola flam enga — Séc. xvi.— Museu
de Arte A ntiga — L is b o a ......................................... 106
14. — Jesus Ressuscitado aparece a S u a M ãe. — Escola
portuguesa — Séc. x v i.— M useu de A rte A ntiga
- L i s b o a ....................................................................... 113
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Págs.
15. — /Ííccw jão — De F r. Carlos do Espinheiro.—
Museu de A rte A ntiga — L i s b o a ......................... 126
16. — P inda do E spirito Santo. — M estre dos painéis
de S. Francisco de Évora. — Escola Portuguesa
Prim eira metade do século xvi. — Museu de A rte
A ntiga — L i s b o a ........................................................ 136
17. — M orte de M aria. — Do Mestre do Retábulo da
Sé de Évora. — Séc. xvi. — Museu de A rte
Antiga — L i s b o a .............................................................. 148
18. - Assunção de M aria. — De F r. Carlos do E spi
nhei t». — Museu de A rte A ntiga — Lisboa . . 160
19. — Coroação de Nossa Senhora. — De Júlio Romano.
— Pinacoteca V a tic a n a .............................................. 164
20.— Coroofõo de N .' Senhora. — De Velas<|uez . . 170
21. — F omj Fi/oe. — M isericórdia do P o rto . . . . 214
22.— A ssunção de M aria. — M onlc Córdova (Santo
T i r s o ) ..................................................................................234
23. — .Sagrada l-aiiiília do Passarinho. — Dc Murillo 272
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í n d i c e
A provações........................................
D e d ic ató ria........................................
A quem l e r ........................................
A Promessa do Coração de Maria .
Acto de d e s a g r a v o .........................
Acto de consagração.........................
Oração preparatória.........................
Acção de graças depois da meditação
PRIMEIRA SÉRIE
M IS T É R IO S GOZO SO S
A nunciação....................................................... 3
Visitação .......................................................... 19
N ascim ento....................................................... 29
Purificação eA p resen taç ão ............................ 37
Perda c encontro ............................................. 47
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PifS.
Oração no H o r to ............................................. 59
Flagelação ........................................ 69
Coroação de E sp in h o s .................... 77
Condenação à morte econdução da cruz . . 87
Crucifixão e m o rte ........................................ 99
M IS T É R IO S G L O R IO S O S
R e s s u rr e iç ã o .................................................. 111
A s c e n s ã o ....................................................... 125
Vinda do Espirito S a n t o ................................ 135
A s s u n ç ã o ....................................................... 147
Coroação de N.“S en h o ra ................................ 163
SEGUNDA SÉRIE
M IS T É R IO S GOZOSOS
Anunciação....................................................... 179
V i s i t a ç ã o ....................................................... 183
Na.scimento....................................................... 187
Purificação eA p re s e n ta ç ã o ........................... 191
Perda e encontro .............................. 195
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Págs.
M IS T É R IO S G L O R IO S O S
R e s s u rr e iç ã o .................................................. 219
Á s c c n s ã o ....................................................... 223
Vinda do Espírito S a n t o ............................. 227
A s s u n ç ã o ....................................................... 231
Coroação de NossaS e n h o ra ........................... 235
TERCEIRA SÉRIE
M IS T É R IO S GO ZO SO S
A nunciação....................................................... 243
V i s i t a ç ã o ....................................................... 243
Nascimento .................................... 244
Purificação cA presentação........................... 245
Perda e Encontro............................................. 245
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PáBS.
Oração no H o r to ............................................. 247
F la g e la ç ã o ....................................................... 247
Coroação de E sp in h o s................................... 248
Condenação c condução da c r u z .................... 249
Crucifixão e m o r te ........................................ 249
M IS T É R IO S G L O R IO S O S
R e s s u rr e iç ã o .................................................. 251
A s c e n s ã o ....................................................... 251
Vinda do Espírito S a n t o .............................. 252
A s s u n ç ã o ....................................................... 253
Coroação de Nossa S en h o ra......................... 253
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