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Núcleo De Estudos Da Zona Oeste

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE –


Lei nº 8.069 de 13/7/1990.
Preparatório de Maricá - RJ

nezonaoeste@gmail.com
www.nezoeducacional.com.br

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Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA

CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA INFÂNCIA NO BRASIL

Vista, na atualidade, como centro das atenções de uma família logo que nasce, a vinda da criança ao
mundo, até a Idade Média, não era tão celebrada e idealizada assim. A visão que se tinha dos pequenos era que
logo cresceriam e estariam entre os adultos. Em torno dos sete anos, a criança já ingressava no mundo destes.
Raramente se via crianças brincando após essa idade. Meninos e meninas aprendiam cedo a ser adultos. Assim
apenas com o desenvolvimento da educação, conforme ARIÈS (1981), através dos moralistas, começou a
desenvolver-se no seio das sociedades medievais a noção de que a visão da criança como miniatura do adulto
devesse mudar. À educação cabia o papel de prepará-las para o mundo adulto, sem, contudo, descaracterizá-las
como crianças. Aos pais, cabia-lhes, então, permitir que aquela criança não virasse, da noite para o dia, um
adulto.

o grande acontecimento foi, portanto o reaparecimento no início dos tempos modernos


da preocupação com a educação. Esse interesse animou um certo número de
eclesiásticos e juristas ainda raros no século XV, mas cada vez mais numerosos e
influentes nos séculos XVI e XVII, quando se confundiram com os partidários da
reforma religiosa. Pois eles eram antes de tudo moralistas, mais do que humanistas.
(ARIÈS, 1981, p. 276).

Ainda na visão do autor, com o desenvolvimento da educação, e devido a outras transformações


ocorridas durante a Idade Média, a infância, finalmente, surge para arrancar a criança do mundo dos adultos. O
sentimento de infância, viabilizado pela educação, tornou-se o meio pelo qual passou a orientar-se o
desenvolvimento da criança desde o seu nascer. O carinho, o amor, o zelo dos pais nutria esse novo sentimento,
ao mesmo tempo em que nutria um sentimento, também novo, de pertencimento, solicitude entre os membros da
família.

a descoberta da infância começou sem dúvida no século XIII, e sua evolução pode ser
acompanhada na história da arte e na iconografia dos séculos XV e XVI. Mas os sinais
de seu desenvolvimento tornaram-se particularmente numerosos e significativos a partir
do fim do século XVI e durante o século XVII. (ARIÈS, 1981, p. 65).

Nessa mesma época, conforme Priore (2006), as incursões marítimas lusas para o Brasil estavam em seu
auge e, devido, entre outras coisas, à falta de mão-de-obra adulta, crianças eram recrutadas entre famílias
portuguesas pobres ou da média nobreza e também de famílias judias (neste caso, arrancadas deste seio familiar
à revelia das mesmas), para servirem às naus na condição de Grumetes ou Pagens. Estes exerciam tarefas mais
fáceis como servir à mesa, arrumar as cabines e camas; mas àqueles era impostotrabalho mais pesado e
perigoso. Ambos, porém, recebiam pouco e eram vistos como animais, cuja força de trabalho deveria ser

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exaurida. Também embarcavam crianças na condição de acompanhantes de seus pais Oficiais para aprenderem
o trabalho; havia os que embarcavam como passageiros; e meninas a partir de 14 anos também embarcavam,
mas na condição de órfãs do Rei – mesmo as que haviam perdido somente o pai também eram recrutadas com o
objetivo de constituírem famílias nas colônias portuguesas. Todos, enfim, sofriam abusos sexuais, fome, sede,
perecendo também por doenças. Assim,

os meninos não eram ainda homens mas eram tratados como se fossem, e ao mesmo
tempo eram considerados como pouco mais que animais cuja mão-de-obra deveria ser
explorada enquanto durasse sua vida útil. As meninas de 12 a 16 anos não eram ainda
mulheres, mas em idade considerada casadoura pela Igreja Católica, eram caçadas e
cobiçadas como se o fosse. Em meio ao mundo adulto, o universo infantil não tinha
espaço: as crianças eram obrigadas a se adaptar ou perecer. (PRIORE, 2006, p. 48).

A autora infere que, com essas incursões, viabilizou-se o desenvolvimento no Brasil, da Companhia de
Jesus que, de caráter missionário, passou também a incorporar para si o caráter docente. O alvo principal nesse
processo de cristianização iniciado no tempo colonial era a criança indígena, pois, para os jesuítas, as mesmas
eram uma espécie de papel em branco onde se podia escrever o que bem se quisesse, uma vez que as mesmas
ainda não tinham introjetados em si os “abomináveis” costumes de seu povo. Ensinava-se a ler, contar, tocar
instrumentos, sendo que o ensino à catequese era feito através de diálogos. Mas como o nomadismo indígena e a
chegada da puberdade das crianças muitas vezes afastavam as mesmas dos ensinamentos religiosos, a conversão
via sujeição e temor também passou a ser utilizada. As crianças mestiças e portuguesas também eram utilizadas
pelos jesuítas como um meio de conversão dos adultos, além de que representavam uma esperança de uma nova
cristandade futura. Portanto,

a segunda metade do século XVI assistiu ao lento, e às vezes problemático,


estabelecimento da Companhia de Jesus no Brasil. Em razão de sua vivência apostólica
e da própria descoberta da infância, os padres entenderam que era sobre as crianças,
essa “cera branda”, que deveriam imprimir-se os caracteres da fé e virtude cristãs
(PRIORE, 2006, p.79).

Mesmo não sendo, talvez, um produto intencional da Igreja Católica, a mentalidade coletiva de que a
infância era um tempo sem personalidade, foi, cada vez mais, ficando no passado, devido também ao crescente
desenvolvimento do sentimento de infância e de família. Assim como a Igreja, a medicina também voltou seus
olhos para a criança, na perspectiva de, com seus manuais, ditar novas formas de cuidado para com as mesmas,
principalmente no que se refere ao asseio e alimentação, conforme aponta Priore (2006), já que quase não havia
diferença entre a alimentação infantil e a adulta. Banhos frescos no rio eram recomendados, visto que os hábitos
portugueses de muita vestimenta e poucos banhos e ar livre causavam mortalidade infantil, contribuindo com o
desenvolvimento de doenças tropicais. Os manuais de medicina do século XVIII apontavam as comidas fortes,
abuso de vestuário, aleitamento com amas de leite, falta de tratamento médico, dentre outras observações, como
causas também da mortalidade infantil.

pouco a pouco, a educação e a medicina vão burilando as crianças do Brasil colonial.


Mais do que lutar pela sua sobrevivência, tarefa que educadores e médicos
compartilhavam com os pais, procurava-se adestrar a criança, preparando-a para

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assumir responsabilidades. Uma certa consciência sobre a importância deste preparo vai
tomando forma, no decorrer do século XVIII, na vida social (PRIORE, 2006, p. 104).

Por sua vez, Costa (1999) aponta que os médicos higienistas, principalmente, dispensaram uma especial
atenção com o cuidado e a educação das crianças – somente às crianças abastadas ressalte-se - desde a era
colonial brasileira, uma vez que o filho, na família colonial, era secundário e um instrumento a serviço do poder
paterno, como eram, aliás todos os membros da família. Realidade que perduraria até o século XIX, conforme o
autor.
Dentro da família colonial, o pai detinha poder, prestígio e honrabilidade tais que não podiam ser
abalados para que a propriedade não ruísse; assim, todos deveriam ser-lhe subservientes, inclusive os filhos.
Estes só detinham este poder quando nascidos primogênitos através do sistema de morgadio 1. A exaltação do
pai, da propriedade e da religião, impediam o culto à infância. “Tratada como um << adulto incompetente >>,
sua existência não possuía, por assim dizer, nenhum conteúdo positivo. Ela era percebida negativamente, por
oposição ao adulto.” (Costa, 1999, p. 162).
Mas, aos poucos, a criança passa a ter função e valor de filho no interior da família, o que fez com que o
hiato entre o mundo dos adultos e o desta diminuísse. Essa mudança deveu-se, dentre outras influências, ao
trabalho realizado pelos higienistas, conforme evidencia o autor supracitado, pois os mesmos condenavam
hábitos alimentares e o vestuário, como acima citados. Com essas críticas, começou um processo de moldagem
das famílias coloniais abastadas no que se refere ao cuidado de uma forma geral com os filhos, com a finalidade
de colocá-los a serviço da nação, numa perspectiva de criar uma nova família.
nesta nova família, a antiga omissão para com a criança daria lugar a uma participação
mais justa e equitativa entre homens e mulheres: << Recebendo do pai a proteção
material e da mãe a iniciação na educação, o infante prepara-se física, intelectual e
moralmente para amar e servir à Humanidade, princípio e fim de suas operações >>.
(FREIRE, 1999, p. 169/170).

A higiene, então, para alcançar esse objetivo, utilizará uma técnica educacional para prevenir e tratar as
ditas más inclinações com inculcação de bons hábitos em detrimento dos castigos corporais, como era aprovado
pela Igreja desde o século XVI, principalmente com o uso da palmatória. As crianças, então, seriam
manipuladas não por esta instituição, ou pela propriedade, tampouco pelas famílias nas quais se inseriam, mas
pelo Estado, através dos higienistas. Nesse processo de educação, a criança seria retirada de sua família, a qual,
segundo os mesmos, não estavam preparadas para o cuidado educacional, e transferidas a internatos, espaços
principais de disciplinamento. Uma vez nestes locais, isoladas de suas famílias, a pedagogia higiênica começaria
a tomar forma.
A intervenção médica nesses internatos ia desde a estrutura arquitetônica à prescrição de cuidados com
o corpo e a mente, além da alimentação e da prática de esportes. “O colégio não devia ser apenas o local de
afastamento da família. Seu interior não podia continuar repetindo os padrões de educação familiar.”(Freire,
1999, p. 181). Todo o trabalho era ditado dentro de um tempo rígido, onde até os momentos de lazer das

1
O morgadio, segundo Freire (1999), era um regime sucessório de bens, existente no período colonial, onde o primogênito
homem, morgado, era o único herdeiro da propriedade, dando às riquezas um caráter indiviso ao mesmo tempo em que esse
direito de herança ao homem favorecia a continuidade do poder paterno.
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crianças eram normatizados através do uso de brincadeiras específicas para o fim de livrar-lhes dos maus
hábitos. Gênero e idade dividiam os exercícios físicos e o controle da sexualidade era especialmente rígido para
que males como a masturbação, por exemplo, fossem evitados e combatidos, assim como outros
comportamentos os quais deveriam ser remodelados.
como o discurso político, o discurso higiênico sobre os colégios fez parte da estratégia
de ataque e transformação da família colonial. No momento em que esta família
começou a dar sinais de adaptação à nova ordem estatal, cessaram as exigências de
segregação da criança e as acusações aos pais. Por volta das duas últimas décadas do
sex. XIX, os médicos pareciam satisfeitos e mais confiantes quanto ao resultado de seu
trabalho. A família já podia assumir a tarefa de cuidar dos filhos. Os internatos
começam então a ser detratados, ao passo que o ambiente familiar recupera suas
virtudes educativas. (FREIRE, 1999, p. 194).

Assim, as crianças passaram a iniciar o processo de aprendizagem em casa com as mães, padres ou
algum mestre-escola, como demonstra Freire (1999). Aprendiam a ler, escrever e contar e depois iam para
algum colégio religioso e daí para universidades europeias. Dessa forma, à semelhança da Igreja Católica que
usava as crianças para educar os pais e trazer-lhes à religião, a educação higiênica apoderou-se também das
mesmas, separou-as de seus pais e devolveu-as quando percebeu que a família já dava conta de educá-las para
uma nova ordem social onde o Estado Nacional fosse o princípio e o fim da conduta de todos.
No que tange às crianças de famílias pobres, a atenção, como demonstra Priore (2006) será outra, pois
apenas com o desenvolvimento da chamada república velha é que o Estado chama para si a responsabilidade de
atender essas famílias e suas crianças a partir de políticas sociais, que como já citado, nasceram apenas nessa
época no Brasil. Com a instituição do Código de Menores, pelo decreto n° 17.343/A, de 12/10/1927, inicia-se
um sistema público de atenção à criança e ao adolescente onde o Estado responsabilizou-se pela situação de
abandono das crianças pobres, porém as via como potencialmente abandonadas e perigosas. Assim, o método de
tratamento nos internatos era educar pelo medo, na medida em que com essa política de internação para crianças
abandonadas e/ou infratoras, o Estado
absolutiza a autoridade de seus funcionários, vigia comportamentos a partir de uma
idealização das atitudes, cria a impessoalidade para a criança e o jovem vestindo-os
uniformemente e estabelece rígidas rotinas de atividades, higiene, alimentação,
vestuário, ofício lazer e repouso. Mas neste elogio à disciplina nada funciona
primorosamente. (PRIORE, 2006, p. 356).

Já em 1942, através do decreto-lei n° 3.799, é criado o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), no Rio
de Janeiro - sendo posteriormente difundido no país -, um órgão do Ministério da Justiça, com a finalidade de
prestar atendimento aos menores desvalidos e delinquentes em internatos de tipo reformatórios ou casas de
correção, com método cuja orientação era correcional-repressiva, ao lado de outros programas que ofereciam
assistência e educação básica casadas com estratégias de trabalho e geração de renda. Mas, no período ditatorial,
o SAM entra processo de decadência e pela lei 4.513/1964 é criada, conforme evidencia Costa e Mendez (1994),
a Política Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM) e com a lei 6.697/1979, um novo Código de Menores, o
qual trata da proteção e vigilância de jovens em situação irregular, como passaram a ser chamados tanto os que
eram pobres quanto os que cometiam atos anti-sociais.

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Com relação a PNBEM, conforme os autores supracitados, esta tinha gestão centralizada e vertical, com
padrões de atenção uniformes. Seu órgão nacional de execução era a Fundação Nacional do Bem-Estar do
Menor (Funabem), ao passo que o órgão executor ao nível estadual era a Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor (Febem). Embora a proposta desta política fosse romper como as práticas correcional-repressivas
anteriores, através de uma visão biopsicossocial das crianças e jovens, não foi exitosa, pois os prédios,
equipamentos, materiais e o pessoal com sua habitual conduta “determinou que, na prática, o modelo
correcional-repressivo de atendimento nunca fosse (...) superado. O modelo assistencialista conviveu (...) com
práticas repressivas herdadas do passado.” (COSTA; MENDEZ, 1994, p. 129).
Na década de 1970, surge um movimento de educação progressista com uma proposta de enxergar a
criança e o jovem como um misto de possibilidades e não de carências, porém esta tentativa, assim como o
PLIMEC2, não foi suficiente para suplantar as práticas correcional-repressivas e assistencialistas da PNBEM.
Mas, no fim dos anos 70, um movimento social misto e organizado, passou a construir uma visão onde a
exclusão de crianças e adolescentes na sociedade era um processo resultante de políticas sociais insatisfatórias
no atendimento das necessidades básicas destes, de suas famílias e comunidades. Este movimento culminou,
anos depois, com a fusão das emendas de iniciativa popular “Criança e Constituinte” e “Criança – Prioridade
Nacional” na constituição de 1988, sendo que dois anos depois foi aprovada a lei 8069/1990, instituindo o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma consequência da mudança operada pelos movimentos sociais
que se forjaram naquele período histórico, pois
num país onde a tradição é que as leis que ampliam os direitos da população
empobrecida não pegam, ou seja, não entram em vigência prática, o Estatuto da Criança
e do Adolescente mostrou-se capaz de vigir mesmo antes da sua aprovação pelo
Congresso e sanção pelo Presidente da República (COSTA; MENDEZ. 1994: 143).

O ECA, como integrante de um novo tempo, imerso numa nova proposta de projeto societário amparado
na democratização dos direitos, representa um dos principais marcos legais de respaldo aos direitos das crianças
e adolescentes, como se verifica a seguir.

MARCOS LEGAIS ATUAIS NA ATENÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE

A constituição de 1988 inaugura, na atualidade, uma nova possibilidade de sociabilidade no Brasil, pois
nenhuma das anteriores foi tão voltada às políticas públicas. Assim, representou o início de mudanças
substanciais no que se refere aos panoramas político-econômico-sociais. Em prol da criança e adolescente, ela
estabelece em seu artigo 227 que

é dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à criança e ao adolescente, com


absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1997, p. 116).

2
Plano de Integração Menor-Comunidade, de acordo com COSTA e MENDES. 1994), este foi um plano implantado
através dos chamados Núcleos Preventivos, atendendo a criança e o adolescente em seu local de origem, porém possuía
uma estrutura padronizada e vertical.
70
Com relação a este artigo, a Constituição ainda estabelece que o Estado deve promover programas de
assistência integral à saúde da criança e do adolescente e criar programas especializados de prevenção e
atendimento para aqueles com necessidades especiais. Coloca, inclusive, que se deve respeitar sua condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento; que programas de prevenção e atendimento à criança e ao adolescente
dependentes de entorpecentes e drogas afins devem ser criados. A Constituição ainda traz em seu artigo 228 que
“São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”.
(BRASIL, 1997, p. 118). E em seu artigo 229, que os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos
menores.
A partir da Constituição outras leis em prol dos direitos da criança e do adolescente foram criadas, mas
a principal delas foi a lei 8069, de 13/07/1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, norma regulamentadora
dos artigos 227 e 228 da CF/1988, e que, conforme o pensamento de Sêda (1993), foi criada para trazer
cidadania a crianças e adolescentes, estabelecendo-lhes direitos e deveres e pressupondo novas regras de
conduta: as de bons hábitos, contidas no livro I, entre os artigos 1° e 85; e as de correção do desvio por eles ou a
eles cometidos, descritas no livro II, entre os artigos 86 a 267.
Sêda (1993) evidencia que a cidadania consiste em vivermos sob normas de convivência
consuetudinárias, porém, com relação à cidadania da criança e do adolescente, verifica-se desvios pelo fato de
atos executados serem contraditórios às normas estabelecidas pelo ECA. Da parte da sociedade, esses desvios
ocorrem quando os indivíduos não agem como cidadãos; da parte do Estado, quando os poderes executivo,
legislativo e judiciário não cumprem com seu papel; da parte da criança e do adolescente, quando cometem atos
anti-sociais ou infracionais, que violem sua cidadania e/ou a alheia; com relação à família, quando os
pais/responsáveis deixam de assistir, criar e educá-los.
Mesmo assim, como demonstra o autor, com esta lei, não há como existirem “meninos de rua” (grifo
meu), pois ante à violação, não-oferta ou oferta irregular de serviços, existem dispositivos que podem ser
utilizados nessas situações. Alguns desses dispositivos são: o direito de petição3, feito pelos cidadãos; os
Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente 4, os quais devem deliberar no sentido de planejar e fiscalizar
a política de atendimento aos direitos infanto-juvenis; o Conselho Tutelar5, por sua vez, deve, em âmbito
microssocial, corrigir efeitos de ação, abuso ou omissão da sociedade, Estado, pais ou responsáveis em relação
aos direitos de crianças e adolescentes; a polícia, como órgão de segurança pública, deve prevenir e coibir,
repreender delitos (Polícia Militar) e reunir elementos para julgamento dos autores de atos infracionais (Polícia
Civil). No entanto, o autor chama atenção para o fato de que crianças que cometem atos anti-sociais devem ser
conduzidas ao Conselho Tutelar para medidas de proteção, mas os adolescentes que violam a cidadania alheia
precisam receber medidas sócio-educativas, observando-se a realização da cidadania. Por todos estes aspectos, o

3
Conforme aponta SÊDA (1993), trata-se de um requerimento dirigido à autoridade responsável, constando no mesmo seis elementos:
descrição da realidade, descrição da norma, descrição do desvio cometido, descrição de como corrigir o desvio, descrição do pedido e,
descrição das sanções.
4
De acordo à SÊDA (1993), é um órgão do Estado que existe para regulamentar a participação da sociedade em âmbito municipal,
estadual e nacional, sendo deliberativo, paritário e controlador das ações em todos os níveis.
5
Órgão permanente e autônomo, constituído por uma equipe de cinco pessoas, escolhida pela comunidade local para mandato de três
anos, permitida uma recondução, cujos membros satisfaçam os requisitos de reconhecida idoneidade moral, idade superior a vinte e um
anos, residente no município. Tem como função zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. (ECA: 2005).
71
autor considera o Estatuto um grande avanço na mudança de hábitos com relação à população infanto-juvenil do
país, pois
dizer que o Estatuto é avançado, não significa que ele não se aplica ao Brasil que é
subdesenvolvido. Não! Significa apenas que ele se utiliza de técnicas eficazes para
garantir, no subdesenvolvimento, o caminhar para fins socialmente desejáveis, como é
próprio de qualquer teleologia (SEDA, 1993, p. 108).

Contudo, Neto (2005) indica que, embora o ECA possa ser considerado um avanço como norma de
promoção e proteção dos Direitos Humanos das crianças e adolescentes, o sistema de garantia de direitos,
estabelecidos entre os artigos 86 e 90, não é claramente discriminado, pois trata-se de uma transposição de
modelos internacionais. Sugere que os programas e projetos em prol do desenvolvimento dos direitos infanto-
juvenis devem considerar sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento como construção de uma
identidade que os coloquem como sujeitos de direitos, já que

a participação proativa de crianças e adolescentes, no mundo familiar, social e político,


passaria a se dar a partir deles próprios, e não como concessão do mundo adulto e como
decorrência de políticas, programas e projetos artificiais que, no mais das vezes,
promovem de fora para dentro esse “protagonismo” e ao mesmo tempo o emolduram e
domesticam. (NETO, 2005, p. 08).

Na mesma linha crítica, Silva (2005) aponta que o ECA promoveu uma reforma no Código de Menores
de 1979, na medida em que não rompeu com o modelo de sociedade presente neste. Com continuidades e
descontinuidades reafirmou o controle do capital sobre a sociedade, pois o antigo Código, por não assegurar
tanto o sistema garantista de direitos e deveres das crianças e adolescentes quanto os interesses do capitalismo
globalizado, teve de ser substituído. Por este motivo, embora o ECA significasse a conquista da cidadania das
crianças e adolescentes brasileiros, essa conquista estava imersa em uma sociedade globalizada que não
ofereceu condições suficientes para que ela fosse efetivada. Assim

é claro que o ECA se diferenciou da lei que o antecedeu, mas não rompeu visceralmente
com os pressupostos do projeto de sociedade consolidado pelos Códigos de Menores
brasileiros (1927 e 1979), que vêm desde o final do século XIX. Nesse sentido,
procuramos desvelar o mito de que o ECA é um projeto revolucionário de sociedade, já
que ele não propôs “rupturas” da sociedade em curso, e sim operou uma reforma que
acompanhou as mudanças sociais (SILVA, 2005, p. 46).

Em outro plano de ideias, Costa (1993) evidencia que o Estatuto inova, na medida em que trouxe uma
mudança de método, onde o paradigma correcional-repressivo e assistencialista foi substituído pelo garantista;
de gestão, no qual houve mudança de efetivação de políticas, as quais antes eram centralizadas e
descontextualizadas, passando a serem efetivadas através da descentralização, considerando-se nesse processo a
municipalização e a participação popular; e de conteúdo, já que a doutrina da situação irregular foi substituída
pela doutrina da proteção integral6. Dessa maneira, o ECA considera as crianças e adolescentes como sujeitos de
direito e prioridade absoluta.

6
De acordo a Costa (1993): defendida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com base na Declaração Universal dos Direitos da
Criança, esta doutrina afirma o valor da criança como ser humano, a necessidade de respeito à sua condição de pessoa em
72
No que concerne à política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, Costa (1993)
esclarece que esta se baseia no princípio da hierarquia e da complementaridade, abrangendo quatro
modalidades: Políticas Sociais Básicas, caracterizadas como aquelas que são direitos de todos e dever do
Estado, com prestação universal; Políticas de Assistência Social, as destinadas a quem delas necessitarem, ou
seja, a pessoas em situação permanente ou transitória de necessidade; de Proteção Especial, são mais específicas
e destinadas a crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e/ou social como abandono, violência
intrafamiliar, drogadição, exploração do trabalho infantil; e, finalmente, as Políticas de Garantias, para assegurar
e manter respeito aos direitos infanto-juvenis, principalmente quando da ocorrência de atos anti-sociais ou
infracionais, casos em que são aplicadas medidas de proteção7 e socioeducativas8, respectivamente.
O autor ainda aponta que, no âmbito municipal, as estratégias de atenção à família, base de todo o
trabalho sugerido pelo ECA, deve englobar promoção, formação, proteção e orientação para a manutenção de
vínculos, afetividade e segurança material para que a Política de Atendimento seja eficaz e eficiente. Assim,
mais do que justapor instâncias e níveis de gestão, a política de atendimento inscrita no
Estatuto busca conferir organicidade ao conjunto de ações, governamentais ou não, em
favor da infância e da juventude através de uma reconfiguração das diversas
modalidades de intervenção presentes na sociedade e, principalmente, no ramo social do
Estado brasileiro. (COSTA, 1993, p. 30).

As modalidades de intervenção do Estado para o desenvolvimento da política de atendimento ancoram-


se na prestação de serviços através das diversas políticas públicas existentes, dentre as quais se destaca a de
assistência social. A esse respeito, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) é um texto legal que reconhece
a criança como sujeito de direito merecedor de proteção integral. Assim, além de definir a assistência social
como direito do cidadão e dever do Estado, estabelece como um dos objetivos da mesma (art. 2º, I) a proteção
aos ciclos geracionais, dentre eles a infância e adolescência. Ao mesmo tempo, prioriza, em seu art. 22 § 2º, a
concessão de benefícios eventuais, em situações de vulnerabilidades temporárias, para a criança em primeiro
lugar. Mais a frente, no art. 23, parágrafo único, institui que na organização dos serviços prioridade será dada à
infância e à adolescência em situação de risco pessoal e social, “objetivando cumprir o disposto no art. 227 da
Constituição Federal e na lei 8069, de 13 de julho de 1990” (LOAS. 2004: 25).
Procurando trazer ainda mais a criança e o adolescente para o campo dos direitos e, ao mesmo tempo
incentivando o trabalho dos profissionais que a efetivam, a Política de Nacional de Assistência Social
(PNAS/2004) estabelece como um dos de seus princípios o respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia,
direito a benefícios e serviços de qualidade, convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer
comprovação vexatória de necessidade; estabelece como diretriz, a centralidade na família para concepção e

desenvolvimento, o valor da infância e da juventude para a continuidade de seu povo, reconhecendo também sua vulnerabilidade, o que
as fazem merecedoras de proteção integral.
7
Conforme o artigo 101 do ECA, alterado pela lei 12.010 de 29/07/2009, são medidas de proteção: encaminhamento aos pais ou
responsáveis, mediante termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários; matrícula e freqüência obrigatória
em estabelecimento de ensino fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao ad olescente;
requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico em regime hospitalar ou ambulatorial; inclusão em programa oficial ou
comunitário de auxílio, orientação e tratamento de alcoólatras e toxicômanos; acolhimento institucional; inclusão em programa de
acolhimento familiar; colocação em família substituta.
8
As medidas sócio-educativas, de acordo ao que estabelece o artigo 112 do ECA são: advertência; obrigação de reparar o dano;
prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; internação em estabelecimento
educacional; qualquer das medidas previstas no artigo 101, I a VI.
73
implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos. Têm como um dos objetivos assegurar que as
ações tenham centralidade na família, garantindo convivência familiar e comunitária. Com relação a essa
centralidade na família, estabelece o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) como um equipamento
da Proteção Social Básica, para atendê-la e a seus indivíduos, inclusive crianças e adolescentes, visando
orientação e convívio sociofamiliar e comunitário, pois
o grupo familiar pode ou não se mostrar capaz de desempenhar suas funções básicas. O
importante é notar que esta capacidade resulta não de uma forma ideal e sim de sua
relação com a sociedade, sua organização interna, seu universo de valores (...). Em
consequência, qualquer forma de atenção e, ou, de intervenção no grupo familiar precisa
levar em conta sua singularidade, sua vulnerabilidade no contexto social, além de seus
recursos simbólicos e afetivos, bem como sua disponibilidade para se transformar e dar
conta de suas atribuições.(PNAS, 2004, p. 35).

Mais especificamente, a Política traz a noção de Proteção Social Especial de Média e Alta
Complexidades, como uma modalidade de atendimento a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal
e/ou social, englobando o atendimento em casos de abandono, maus tratos, abuso sexual, uso de substâncias
psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, exploração de mão-de-obra infantil,
dentre outras. Assim, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), enquanto modelo de gestão das ações
socioassistenciais, traz como um eixo estruturante a matricialidadesociofamiliar, que vai ao encontro da
manutenção de vínculos e da família como espaço de cuidado de seus membros, inclusive crianças e
adolescentes.
No que diz respeito ao cuidado com vínculos familiares, a lei nº 12.010, de 29 de Julho de 2009,
também traz novos aperfeiçoamentos do direito à convivência familiar e comunitária para as crianças e
adolescentes. Altera alguns artigos do ECA, principalmente no que se refere a adoção. Nesse aspecto enfatiza,
no art. 25 a importância da família extensa ou ampliada como meio que deve ser considerado e traz a oitiva da
criança e do adolescente no processo. Diminui para 18 anos a idade para o adotante. Prevê, no art. 50, a criação
e implementação de cadastros estaduais e nacionais de crianças e adolescentes em condições de serem adotados,
bem como dos casais habilitados. Estabelece normas com relação a adoção nacional, mas também detém vários
artigos para normatizar a internacional. Na nova redação do art. 92 também estabelece princípios para as
entidades que desenvolvem programas de acolhimento familiar ou institucional. No art. 100 traz doze princípios
que regem a aplicação das medidas de proteção e no art. 101 traz mais colocações com relação as medidas de
proteção, inclusive prevendo a criação de um plano individual de atendimento para os acolhidos em entidade de
acolhimento institucional ou familiar. Traz, na nova redação do art. 166 observações sobre o poder familiar. Por
fim, substitui a expressão “pátrio poder” por “poder familiar”, existentes em outras leis e no próprio Estatuto.
Essas e outras leis amparam o desenvolvimento da política de atendimento pelas diversas políticas
públicas, além da família e da sociedade. Assim, como sugere Sêda (1993) as normas exógenas precisam
existir, num primeiro plano, para que, através delas, se possa efetivar novas regras de conduta, baseadas na
mudança de hábitos que essas leis sugerem.

74
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA

Marco da divisão da relação com o menor

Antes do ECA Depois do ECA

Código de Menores (1979) 1990 Sistema de Proteção Integral


doutrina da situação irregular

Criança - é o indivíduo de 0 à 12 anos incompletos.

Adolescente – é o indivíduo de 12 à 18 anos.

O critério é cronologicamente objetivo (mesmo para o indivíduo emancipado ou o superdotado que exerce
atividades científicas reconhecidamente).

Constituição Federal /88 - O ECA não é a única proteção existente, todos os direitos fundamentais são
inerentes ao sujeito.

Na visão do ECA há três momentos relevantes:

Criança Adolescente Aplicação Extraordinária

0 a 12 12 a 18 18 a 21

75
CONSELHO TUTELAR E AS
MODIFICAÇÕES PROPORCIONADAS PELA LEI n. 12.696/2012.

Luiz Antonio Miguel Ferreira9

Com a vigência da Lei n. 12.696, ocorreram alterações nos artigos 132, 134, 135 e 139 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, provocando substanciosas modificações em relação ao Conselho Tutelar. Tais
alterações trarão reflexos diretos na constituição e desenvolvimento dos trabalhos dos Conselhos Tutelares.
Além do mais, proporcionou questionamentos quanto a transição do sistema atual pelo preconizado pela lei que
requer reflexão e discussão.
Visando contribuir com tal discussão, apresenta-se este trabalho que busca, num primeiro momento,
comparar a legislação original, assim designada, aquela inicialmente contida no Estatuto da Criança e do
Adolescente, com as alterações subsequentes relativas aos artigos alterados pela Lei n. 12.696/12. Com isso,
visualiza-se como ocorreu a evolução legislativa referente ao Conselho Tutelar e vislumbram-se quais os
encaminhamentos que podem ser dados ao tema. Espera-se com este trabalho contribuir para a discussão de
tema extremamente relevante relacionado ao Conselho Tutelar que inúmeros reflexos proporcionam no
cotidiano de crianças e adolescentes.
A – ANÁLISE DO ART. 132 DO ECA:

Art. 132 – Em cada Município haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar composto de cinco membros,
eleitos pelos cidadãos locais para mandato de três anos, permitindo uma reeleição. (redação original)

Art. 132 – Em cada Município haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar composto de cinco membros,
escolhidos pela comunidade local para mandato de três anos, permitida uma recondução. (Redação dada
pela Lei n. 8.242, de 12.10.1991).

Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1
(um) Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local, composto de 5 (cinco)
membros, escolhidos pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma)
recondução, mediante novo processo de escolha. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012).

1. FORMA DE ESCOLHA DO CONSELHEIRO TUTELAR.

a) Redação original do ECA: conselheiro eleito pelos cidadãos locais

b) Redação dada pela lei n. 8.242, de 12.10.1991: conselheiro escolhido pela comunidade local.

c) Redação dada pela Lei n. 12.696/12: conselheiro escolhido pela população.

2. PRAZO DO MANDATO.

a) Redação original do ECA: 03 anos – permitida uma reeleição.


b) Redação dada pela lei n. 8.242, de 12.10.1991: 03 anos – permitida uma recondução.
c) Redação dada pela Lei n. 12.696/12: 04 anos – permitida uma recondução.
3. QUANTIDADE DE CONSELHEIROS.

a) Redação original do ECA: 05 membros.

9
Promotor de Justiça da Infância e da Juventude do Ministério Público do Estado de São Paulo. Mestre em educação.
Membro do Conselho Consultivo da Fundação Abrinq e da Comissão de acessibilidade do Conselho Nacional do Ministério
Público. Agosto\2012. Contato: luiz.ferreira@mp.sp.gov.br
76
b) Redação dada pela lei n. 8.242, de 12.10.1991: 05 membros.
c) Redação dada pela Lei n. 12.696/12: 05 membros.
4. ONDE TEM QUE TER CONSELHO TUTELAR
a) Redação original do ECA: em cada município haverá no mínimo um CT.
b) Redação dada pela lei n. 8.242, de 12.10.1991: em cada município, haverá no mínimo um CT.
c) Redação dada pela Lei n. 12.696/12: em cada município e em cada região administrativa do Distrito Federal,
haverá no mínimo um CT.
5. O CONSELHO TUTELAR E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
a) Redação original do ECA: omisso
b) Redação dada pela lei n. 8.242, de 12.10.1991: omisso
c) Redação dada pela Lei n. 12.696/12: o CT é um órgão integrante da administração pública local.
6. RECONDUÇÃO DO CONSELHEITO TUTELAR.
a) Redação original do ECA: permitida uma recondução.
b) Redação dada pela lei n. 8.242, de 12.10.1991: permitida uma recondução.
c) Redação dada pela Lei n. 12.696/12: permitida uma recondução.
Observações:
● O Conselheiro Tutelar deve ser escolhido pela população, em processo democrático organizado pelo Conselho
de Direitos e sob a fiscalização do Ministério Público. Contudo, não precisa, necessariamente, ser idêntico ao
processo eleitoral de candidatos a cargos eletivos e previstos no Código Eleitoral.
● Conselho Tutelar é órgão integrante da administração pública, o que decorre a necessidade de se observar as
regras administrativa quanto aos deveres do funcionalismo, os princípios da administração pública (moralidade,
legalidade, impessoalidade, publicidade e eficiência – art. 37 da Constituição Federal).

B – ANÁLISE DO ART. 134 DO ECA


Art. 134 – Lei municipal disporá sobre local, dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar,
inclusive quanto a eventual remuneração de seus membros.
Parágrafo único: Constará da lei orçamentária municipal previsão dos recursos necessários ao
funcionamento do Conselho Tutelar. (redação original)

Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, dia e horário de funcionamento do Conselho
Tutelar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos membros, aos quais é assegurado o direito a:
(Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012).

I - cobertura previdenciária; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal;
(Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

III - licença-maternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

IV - licença-paternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

V - gratificação natalina. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)


77
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos
necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação continuada dos
conselheiros tutelares. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)

1. LEI A SER OBSERVADA.

a) Redação original do ECA: lei municipal.

b) Redação dada pela Lei n. 12.696/2012: lei municipal ou distrital

2. REMUNERAÇÃO

a) Redação original do ECA: poderia constar na lei EVENTUAL remuneração dos conselheiros.

b) Redação dada pela Lei n. 12.696/2012: a remuneração passa a ser OBRIGATÓRIA, e deve constar em lei
orçamentária.

3. DIREITOS ASSEGURADOS AOS CONSELHEIROS TUTELARES

a) Redação original do ECA: omissa

b) Redação dada pela Lei n. 12.696/2012: I - cobertura previdenciária; II - gozo de férias anuais remuneradas,
acrescidas de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; III - licença-maternidade; IV - licença-
paternidade; V - gratificação natalina.

4. LEI ORÇAMENTÁRIA

a) Redação original do ECA: Constará na lei orçamentária municipal a previsão dos recursos necessários ao
funcionamento do Conselho Tutelar.

b) Redação dada pela Lei n. 12.696/2012: Constará da lei orçamentária municipal e da do Distrito Federal
previsão dos recursos necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação
continuada dos conselheiros tutelares

5. FORMAÇÃO CONTINUADA

a) Redação original do ECA: omissa

b) Redação dada pela Lei n. 12.696/2012: passa a ser obrigatória e constar em lei orçamentária.

Observações:

● Remuneração passa a ser obrigatória, observando-se o piso municipal, eventual gratificação


universitária, etc.
● Direitos sociais: passam a ser assegurados aos Conselheiros Tutelares, bem como outros direitos
assegurados ao funcionalismo público municipal posto que o conselho integra a administração
pública.
● Formação continuada: deve constar na lei orçamentária valor destinado a formação dos conselheiros.
Assim, a realização de tal formação deve ser do Conselho de Direitos, mas suportada pelo município.
Os Conselhos de Direitos deverão informar como tal capacitação ocorrerá para constar no orçamento
anual.
● Sem previsão orçamentária não vislumbro como garantir a remuneração e a formação do conselheiro
de forma imediata.

78
● Direitos sociais que devem ser garantidos imediatamente: cobertura previdenciária, gozo de férias,
licença maternidade e paternidade e gratificação natalina.

C – ANÁLISE DO ART. 135 DO ECA

Art. 135 – O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço público relevante, estabelecerá
presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial, em caso de crime comum, até julgamento
definitivo. ( Redação original)

Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço público relevante e estabelecerá
presunção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)

1. PRISÃO ESPECIAL.

a) Redação original do ECA: o conselheiro tinha direito a prisão especial.

b) Redação dada pela Lei n. 12.696/2012: não mais existe esta previsão de prisão especial.

D – ANÁLISE DO ART. 139 DO ECA

Art. 139 – O processo eleitoral para a escolha dos membros do Conselho Tutelar será estabelecido em Lei
Municipal e realizado sob a presidência do Juiz Eleitoral e a fiscalização do Ministério Público. ( redação
original).

Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal
e realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a
fiscalização do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)

§ 1o O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo
o território nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente
ao da eleição presidencial. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

§ 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao


processo de escolha. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

§ 3o No processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar, é vedado ao candidato doar,


oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive
brindes de pequeno valor. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)

1. PROCESSO DE ESCOLHA DOS CONSELHEIROS TUTELARES

a) Redação original do ECA: lei municipal. Processo eleitoral sob responsabilidade do Juiz Eleitoral e
fiscalização do Ministério Público

b) Redação dada pela Lei n. 8.242, de 12/10/91: processo de escolha estabelecido por lei municipal, sob
responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e fiscalização do M. Público.

c) Lei n. 12.696/12 – manteve o caput do artigo, nos termos da redação dada pela Lei n. 8.242/91, quanto ao
processo de escolha dos conselheiros tutelares.

2. UNIFICAÇÃO DA DATA DO PROCESSO DE ESCOLHA

a) Redação original do ECA: omissa.

79
b) Redação dada pela Lei n. 12.696/2012: data unificada em todo o território nacional. Processo a ser realizado
no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial. Neste caso, como a lei
tem a vigência imediata, a data do primeiro processo unificado para a escolha dos conselheiros deverá ser 1º
domingo do mês de outubro de 2015.

3. POSSE DOS CONSEHEIROS TUTELARES.

a) Redação original do ECA: omissa

b) Redação dada pela Lei n. 12.696/2012: A posse deve ocorrer no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao
processo de escolha. Assim, a posse deve ser em 10 de janeiro de 2016.

4. PROPAGANDA DE CANDIDATO A CONSELHEIRO TUTELAR.

a) Redação original do ECA: omissa

b) Redação dada pela Lei n. 12.696/2012: No processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar, é vedado
ao candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza,
inclusive brindes de pequeno valor.

Observações:

● Não foi estabelecida uma regra de transição para saber como se dará a eleição dos conselheiros
tutelares, conciliando o prazo do mandato de 4 anos com a data da posse em 10 de janeiro de 2016
e os atuais mandatos de 3 anos e que poderão se findar antes de janeiro de 2016.
● O artigo 2º da Lei n. 12.696/2012 que estabelecia a necessidade da edição destas regras de
transição foi vetado pela Presidenta da República.

● Até que não seja editada regra de transição fica extremamente difícil conciliar o estabelecido na
nova regra legal, com o que vivenciam os conselhos tutelares, principalmente em razão do prazo do
mandato ser de 3 anos.
● Deve-se evitar eventual prorrogação de prazo de mandato de conselheiros, estendendo-os para
compatibilizar eventual eleição com mandado de 4 anos e posse em janeiro de 2016.
● Pode-se pensar em mandato tampão, mas o mesmo acabaria por desrespeitar a legislação atual e a
revogada, pois tal mandado não teria o prazo de 3 ou 4 anos.
● Deve-se prosseguir com os processos de escolha de conselheiros tutelares que estão em andamento,
aguardando a publicação de legislação específica que trate da regra de transição. Neste caso, deve-
se observar o prazo do mandato de 3 anos.
● Em caso de término do mandato de Conselheiro Tutelar ocorrido após a vigência da Lei 12.696/12,
o processo de nova escolha de conselheiros tutelares deve respeitar o prazo do mandato de 04 anos
e a regra de transição a ser publicada.
● Das interpretações apresentadas para esta situação:

Interpretação dada pelo Centro de Apoio da Infância do Paraná

● A lei n. 12.696/12 não se aplica aos CT em exercício de mandato, que foram eleitos segundo as
regras e parâmetros estabelecidos de acordo com a redação original da Lei n. 8.069/90 e pelas
leis municipais que lhe servem de complemento.
● A Lei n. 12.696/12 não prorrogou o mandato dos atuais Conselheiros Tutelares, e nem seria
razoável que o fizesse, considerando que até a provável data da posse dos Conselheiros eleitos nas
eleições unificadas (10/01/2016) ainda faltam mais de 3 anos.
80
● O mandato dos Conselheiros Tutelares em exercício, portanto, permanece tendo a duração de 3
anos, não podendo ser prorrogado por norma de âmbito municipal.
● Tendo em vista que a nova sistemática prevê a realização de eleições para o Conselho Tutelar em
âmbito nacional, deve-se aplicar, por analogia, o disposto no artigo 16 da Constituição Federal,
segundo o qual: “A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência”.
● Assim, sendo, as novas regras para a eleição do Conselho Tutelar, incluindo o prazo de 4 anos
previsto para duração do mandato dos Conselheiros Tutelares, somente começariam a vigorar a
partir de 25/07/2013, um ano após a entrada em vigor da Lei n. 12.696/12, não atingindo, desta
forma, processos de escolha porventura em curso ou que tenham inicio ao longo deste ano.
Interpretação dada pelo Centro de Apoio da Infância de Minas Gerais.

■ Enunciado 1: Nos termos do §1º do art. 5º da Constituição da República, têm aplicação imediata
os direitos e garantias fundamentais elencados no título II, nele estando inclusos os direitos
sociais. Desta maneira, o art. 134 do Estatuto da Criança e do Adolescente, com a nova redação
dada pela Lei n.º 12.696/12, tem eficácia jurídica imediata.
■ Enunciado 2: Os mandatos dos Conselheiros Tutelares em curso atualmente, continuam
permanecendo com o prazo de três anos, nos termos da legislação vigente à época da publicação
do edital.
■ Enunciado 3: O novo prazo de 4 anos para mandato de Conselheiros Tutelares passará a vigorar
apenas a partir do dia 10.01.2016, devendo o edital que deflagrará as eleições do primeiro
domingo de outubro de 2015 já prevê-lo.

■ Enunciado 4: Para que as datas dos mandatos se ajustem à obrigatoriedade legal de no dia
10.01.2016 se iniciar um novo mandato de 4 anos, é possível que exista um período de vacância
entre o término do mandato em curso e a data de 10.01.2012. Para que tal vacância seja suprida,
nova eleição deverá ser realizada pelo Município, sendo o mandato de tal período o necessário
para que o Conselho Tutelar tenha sua formação completa apenas até o dia 10.01.2016.

Verifica-se do exposto que a lei em questão proporcionou mudanças consideráveis em relação ao


Conselho Tutelar, tratando-se de uma evolução no sentido de profissionalizar tal profissional em face das
responsabilidades advindas de suas funções. Agora, ao mesmo tempo em que se celebra a mudança legislativa,
espera-se a edição das regras de transição necessárias para a efetiva aplicação uniforme das mudanças
proporcionadas.

GUARDA, TUTELA E ADOÇÃO

Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá transferência da criança ou adolescente a
terceiros ou a entidades governamentais ou não-governamentais, sem autorização judicial.

As crianças e adolescentes não são meros objetos que podem ficar assim sendo transferidos.

Assim, o instituto da guarda e da tutela são renunciáveis, no entanto, a renúncia deve ocorrer junto à Justiça
da Infância e Juventude.

Por outro lado, a adoção é ato irreversível e irrenunciável., pois concede ao adotado o status de filho. Ainda
que exista exceção, conforme art. 93 do Estatuto. (Esse art. 93 não fala claramente sob reversão da adoção).

Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível
na modalidade de adoção.

Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de bem e fielmente
desempenhar o encargo, mediante termo nos autos.

81
Deveres e obrigações estão também arrolados no Código Civil.

Da Guarda

Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou
adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.

§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou


incidentalmente, nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.

§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e adoção, para atender a
situações peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de
representação para a prática de atos determinados.

§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e


efeitos de direito, inclusive previdenciários.

§ 4o Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária


competente, ou quando a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de
criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o
dever de prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do
Ministério Público.

A guarda pode coexistir com o poder familiar.

Motivos que podem ensejar a concessão da guarda: a separação judicial dos pais confere guarda a um dos
genitores, exceto na modalidade de guarda compartilhada; a necessidade dos pais se ausentarem temporiamente
etc.

A guarda é um instituto temporário, porém, o detentor da guarda pode se opor aos pais.

Importante ressaltar que a guarda não se confunde com a representação legal. O art. 8º do CPC define como
representantes legais da criança e do adolescente seus ou tutores.

Há três modalidades de guarda:

§1º - guarda provisória. Pode ser concedida por medida liminar judicial ou de maneira incidental, nos
procedimentos de tutela e adoção.

§2º - guarda peculiar

Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar.

§ 1o A inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhimento familiar terá preferência


a seu acolhimento institucional, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da
medida, nos termos desta Lei.

§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal cadastrado no programa de acolhimento


familiar poderá receber a criança ou adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts. 28 a 33
desta Lei.

A guarda, temporária e provisória, em programas de acolhimento familiar terá preferência sobre o acolhimento
institucional.

82
Cabe ressaltar que o acolhimento familiar, muito embora mais adequado do que o acolhimento institucional
(a antiga medida de abrigo), é também uma medida excepcional e temporária, porquanto não suprir todos os
direitos inerentes ao convívio familiar.

Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o
Ministério Público.

A guarda visa a promoção dos direitos da criança e do adolescente, se não cumpre semelhante função, deve ser
revogada.

Da Tutela

Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.

Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do


poder familiar e implica necessariamente o dever de guarda.

A tutela tem um raio de abrangência significativamente maior do que o instituto da guarda.

1. o exercício da tutela é incompatível com o poder familiar, ou seja, para a incidência da tutela o poder familiar
deve estar ou suspenso ou extinto;

2. a tutela se assemelha ao poder familiar, contudo, há necessidade de autorização judicial para inúmeros atos.
A tutela destina-se a suprir a incapacidade em virtude da idade do tutelado.

A tutela sob a ótica do código civil visa a suprir a incapacidade civil, já, sob o ponto de vista do Estatuto,
objetiva o direito à convivência familiar por parte do tutelado.

A doutrina estabelece três tipos de tutela: a testamentária, a legítima e a dativa.

A tutela é um múnus público, por isso, como incumbência dada pelo Estado, não pode ser recusada sem
respaldo na legislação civil.

Criticamente, a tutela tem servido mais a proteger o patrimônio de meninos e meninas do que a outro bem
qualquer; mire-se, por exemplo, que raramente é aplicada às pessoas que circulam na linha de pobreza, casos
em que são enviadas às entidades de acolhimento.

Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, conforme previsto no
parágrafo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo
de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao controle judicial do
ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei.

Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29
desta Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar
comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em melhores condições
de assumi-la

Há de se destacar, o juiz deve apurar se o indicado a tutor tem condições de atender não somente o aspecto
financeiro, mas também o aspecto afetivo.

Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24.

Da Adoção

Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta Lei.
83
§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os
recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo
único do art. 25 desta Lei.

§ 2o É vedada a adoção por procuração.

O direito brasileiro sistematizou pela primeira vez a adoção em seu Código Cívil de 1916., o qual apresentava
severas diferenças entre o filho biológico e o chamado “filho de criação”.

Os mesmos direitos e qualificações do adotando em relação ao filho biológico formam positivados na CF/1988.

Nessas mudanças, ressaltada-se a noção de sociedade cidadã, ou seja, aquela que se responsabiliza pelos seus
meninos e meninos.

Depois do trânsito em julgado do processo de adoção, o vínculo não poderá ser dissolvido, ainda que o
adotado e adotante concordem com a destituição,por isso a importância do estágio de convivência.

Não obstante, é certo que, uma vez que os adotantes assumam o poder famliar, estão também sujeitos à
suspensão ou perda do poder familiar.

Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a
guarda ou tutela dos adotantes.

Aqui, em caso de adoção de maior de 18 anos, o processamento se dará perante a Vara da Família e não na
Justiça da Infância e da Juventude, já que se trata da adoção de adultos.

Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive
sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.

§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação


entre o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes.

§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus


ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária.

A adoção é um ato jurídico irrevogável.

O adotado tem os mesmos direitos do filho biológico. Rompe-se o vínculo com os pais e parentes
consanguíneos. Cancela-se a certidão de nascimento, lavra-se nova, com os dados do adotante, permitido, em
alguns casos, a modificação do prenome do adotado.

No entanto, não ocorre rompimento para efeito de matrimônio e seus impedimentos (art. 1.521 CC)

O termo utilizado pelo CC de 2002 é companheiro, em substituição ao cuncubino, para aqueles que vivem na
situação de união estável. E cuncubinato para as relações não-eventuais entre homem e a mulher impedidos
de casar (art. 1.727 do CC).

Adoção unilateral - Cõnjuge ou companheiro adota o filho do outro.

Quanto à sucessão, não é possível o adotado suceder os bens deixados pelos pais biológicos.

Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil.

§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.

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§ 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou
mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família.

§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.

§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente,


contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha
sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de
afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da
concessão.

§ 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando, será
assegurada a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de
2002 - Código Civil.

§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade,
vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.

A chamada adoção póstuma.

Jurisprudência:

- Tios podem adotar. Ausência de vedação.


(TJ-SC, 18.01.2001).

- Adoção por casal formado por pessoas do mesmo sexo. Possibilidade.


(TJ-RS, 05.04.2006).

Diz o julgado: “é hora de abandonar preconceitos hipócritas sem bases científicas”.

Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se
em motivos legítimos.

Estágio de convivência é importante para verificar se haverá mesmo vantagens afetivas para os adotados.

A adoção não pode ser vista como apenas um ato assistêncial, nem como forma de resolver problemas de casais
em conflito. (Beltrame, 2004).
Jurisprudência

- idade avançada não é óbice para indeferir pedido de inscrição no cadastro de adotantes.
TJ - SP, 05.10.1995).

Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou
o curador adotar o pupilo ou o curatelado.

Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.

§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam
desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar.

§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também necessário o seu
consentimento.

Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo
prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso.

85
§ 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda
legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição
do vínculo.

§ 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa da realização do estágio de
convivência.

§ 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País, o estágio de
convivência, cumprido no território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta) dias.

§ 4o O estágio de convivência será acompanhado pela equipe interprofissional a serviço da


Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução
da política de garantia do direito à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso acerca da
conveniência do deferimento da medida.

Tutela e Curatela

O que é tutela?

É o encargo atribuído pela Justiça a um adulto capaz, para que proteja, zele, guarde, oriente, responsabilize-se e
administre os bens de crianças e adolescentes cujos pais são falecidos ou estejam ausentes até que completem 18
anos de idade.

O que é curatela?

É o encargo atribuído pelo Juiz a um adulto capaz, para que proteja, zele, guarde, oriente, responsabilize-se e
administre os bens de pessoas judicialmente declaradas incapazes, que em virtude de má formação congênita,
transtornos mentais, dependência química ou doenças neurológicas estejam incapacitadas para reger os atos da
vida civil, ou seja, compreender a amplitude e as consequências de suas ações e decisões (impossibilitadas de
assinar contratos, casar, vender e comprar, movimentar conta bancária, etc).

Quem é o tutor e o que dele se espera?

O tutor é um cuidador. Os cuidadores podem ser primários ou secundários. Os cuidadores primários são o pai e
a mãe. Os tutores são cuidadores secundários, ante a impossibilidade dos pais, seja em função de óbito (morte),
ausência ou destituição do poder familiar, de fazê-lo. São eles designados pelo Juiz, assumindo o compromisso
legal de zelar pelos direitos e garantias do menor tutelado, promovendo-lhe a educação, saúde, moradia, lazer,
convívio familiar, etc.

O tutor é o representante legal da criança ou adolescente tutelado. É o tutor que administra o patrimônio
(pensão, aluguéis, contratos...) do tutelado, suas despesas e dívidas e o representa nos atos da vida civil, tais
como: matricula na escola ou cursos, autoriza viagens, autoriza internamentos hospitalares e cirurgias, etc;
responsável também pela função afetiva, anteriormente desempenhada pelos pais

Quem é o curador e o que dele se espera?

O curador também é um cuidador secundário. É o adulto capaz que se responsabiliza perante o Juiz pela pessoa
do interditado, o representando e zelando por seus direitos e garantias fundamentais. Assim como o tutor, é ele
quem administra os bens, pensão ou aposentadoria (caso o interditado possua), protege e vela pelo bem-estar
físico, psíquico, social e emocional do interditado.

Quem pode ser tutor?

86
Pode assumir a Tutela qualquer parente da criança ou adolescente. Em caso de não haver parentes ou destes
serem desconhecidos, poderá ser tutor uma pessoa próxima, desde que seja idônea, não tenha causas que
venham contra os interesses do tutelado, e que esteja disposta a zelar pelo mesmo.

Se o tutelado possuir bens imóveis, o tutor, antes de assumir a Tutela, deve comprovar que também possui renda
ou bens compatíveis com o patrimônio que irá administrar pelo tutelado; procedimento denominado de
especialização da hipoteca legal.

Quem pode ser curador?

Seus pais; o cônjuge ou algum parente próximo, ou ainda, na ausência destes, o Ministério Público podem pedir
a Curatela de um adulto com mais de 18 anos de idade considerado juridicamente incapaz.

Quem pode ser tutelado?

Crianças e adolescentes com menos de 18 anos de idade, cujos pais faleceram, sejam desconhecidos ou que
tenham perdido legalmente o poder parental de seus filhos; em função de maus tratos, negligência ou falta de
condições para prover o sustento destes, ou por algum motivo estejam ausentes.

Quem pode ser curatelado?

Pessoa maior de 18 anos de idade que devido a alguma enfermidade, doença mental ou dependência química a
impeça temporária ou permanentemente de reger e discernir os atos da vida civil, bem como exprimir sua
vontade, ou ainda, os pródigos (pessoas esbanjadoras ou compulsivas que colacam em risco seus bens e/ou
patrimônio, bem como a sobrevivência de seus dependentes e da família).

Quais os deveres do tutor?

Cabe ao tutor reger a vida da criança ou adolescente, protegê-lo quando necessário, velar por ele e administrar-
lhe os bens. Deve defendê-lo, prover alimentação, saúde e educação de acordo com seus recursos e condições.

Quais os deveres do curador?

Cabe ao curador reger a pessoa do interditado, protegê-lo, velar por ele e administrar-lhe os bens.

Deve defendê-lo, prover alimentação, saúde e educação de acordo com suas condições.

E se o tutor e/ou curador falecer?

Em caso de falecimento do tutor e/ou curador, o fato deve ser informado imediatamente e solicitada a
substituição do falecido por outra pessoa, junto ao Juiz onde foi feito o processo.

Tal comunicação e substituição é necessária para dar continuidade a administração dos bens, recebimento de
pensão ou rendas, etc. A demora na substituição poderá causar prejuízos materiais ao tutelado e interditado.

O tutor e/ou curador pode ser substituído?

Sim, o tutor e/ou curador pode ser substituído se não cumprir com as atribuições legais e judicialmente
determinadas decorrentes do compromisso assumido na Justiça para com o tutelado e/ou curatelado, seja por
incapacidade, ineficiência ou por negligência.

Além disso, pode-se e deve-se pedir a substituição do tutor e/ou curador se, porventura, este tenha que se
ausentar, faleça, seja acometido por doença ou sofra acidente que o impossibilite de exercer suas funções.

O que é pecúlio previdenciário e por que o tutelado ou o curatelado o recebe?


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O pecúlio previdenciário é um direito, estabelecido pela lei sob a forma de pensão, aposentadoria ou benefício,
visando suprir materialmente as despesas do beneficiário, contribuindo para sua manutenção. Se o tutelado ou
curatelado a ele tiver direito, cumpre ao tutor ou curador pleiteá-lo ou requerer junto ao órgão previdenciário.

Este pagamento se encerra quando o tutelado atinge a maioridade civil (completar 18 anos), ou for emancipado,
ou se estiver cursando o ensino superior até 24 anos de idade. No caso do curatelado, o benefício previdenciário
é encerrado quando este falece.

O que são e para que servem as sindicâncias?

Sindicâncias são atividades de natureza psicossocial realizadas periodicamente pela Equipe Técnica do
Ministério Público mediante autorização do Promotor de Justiça.

Psicólogos e/ou Assistentes Sociais realizam visitas domiciliares e institucionais, além de entrevistas com as
pessoas envolvidas e familiares com a finalidade de realizar o estudo psicossocial do caso, mediante emissão de
relatórios.

Neste estudo é abordado o cotidiano dos tutelados e curatelados, bem como a qualidade de vida e seu convívio
com a nova realidade familiar e a comunidade. São abordados temas como: composição da estrutura e renda
familiar, saúde, educação, etc.

Os relatórios emitidos subsidiam as decisões dos Promotores de Justiça, pois retratam com imparcialidade a
situação em que se encontra o tutelado/curatelado e sua realidade familiar.

O que é a perícia?

Nos casos de interdição, antes de se pronunciar sobre a curatela, o juiz encaminha o curatelando para ser
examinado por um médico especialista de sua confiança, nomeando-o como perito.

Este médico, além de avaliar clinicamente o curatelando, responderá aos quesitos formulados pelo Juiz, pelo
Promotor de Justiça e pelo Advogado ou Defensor Público que o representa no processo, sobre a gravidade da
doença e se ela afeta a capacidade do curatelando de se determinar na vida e reger os atos da vida civil.

O laudo emitido pelo médico será encaminhado para o Juiz que o anexará no processo.

O que é prestação de contas? (tutela)

A prestação de contas é um relatório apresentado na forma contábil e encaminhado para o juízo periodicamente
pelo advogado ou defensor público que representa o tutor e o tutelado, contendo a descrição dos ganhos
financeiros e despesas administradas pelo tutor em prol do tutelado.

Na sentença de nomeação do tutor também está indicada a periodicidade de apresentação deste procedimento,
que via de regra é anual, porém pode ser semestral, trimestral, etc, conforme a necessidade e a critério do juízo.

A prestação de contas também é obrigatória quando houver a substituição do tutor ou quando o tutelado
completar a maioridade civil, ocasião em que a tutela será extinta.

O que é prestação de contas (curatela) ?

A prestação de contas é um relatório apresentado na forma contábil e encaminhado para o juízo periodicamente
pelo advogado ou defensor público que representa o curador e o curatelado, contendo a descrição dos ganhos
financeiros e despesas administradas pelo curador em prol do curatelado.

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Na sentença de nomeação do curador também está indicada a periodicidade de apresentação deste relatório, que
via de regra é anual, porém pode ser semestral, trimestral, etc, conforme a necessidade e a critério do juízo.

A prestação de contas também é obrigatória quando houver a substituição do curador, levantamento da


interdição ou quando o curatelado falecer, ocasião em que a curatela será extinta.

Como fazer prestação de contas?

No relatório de prestação de contas devem ser anexados os respectivos comprovantes de pagamento das
despesas citadas, notas fiscais ou recibos.

As despesas geralmente incluem os gastos realizados com alimentação, material escolar, roupas, lazer, cursos,
remédios, dentista, médico, psicólogo, despesas com água, energia elétrica e/ou outros.

Todos os gastos devem ser comprovados mediante a apresentação dos recibos e notas fiscais, os quais podem
estar separados mês a mês (janeiro, fevereiro, março...).

E se o tutor ou curador não administrar corretamente os bens ou o pecúlio previdenciário do tutelado ou


interditado?

Caso haja irregularidades na prestação de contas ou suspeita de que o dinheiro ou recursos esteja sendo usado
para outros fins que não o bem estar e os cuidados com o tutelado ou curatelado, o tutor ou curador poderá
responder a processo judicial nas Varas Cíveis ou, em caso de negligência e/ou maus tratos, responder a
processo criminal.

Qualquer pessoa pode realizar uma denúncia ao Ministério Público em caso de suspeita de irregularidades.

Qual é a responsabilidade do Tutor/Curador em relação aos atos praticados pelo tutelado/curatelado?

Caso o tutelado ou curatelado cometa algum ato que cause dano a terceiro o tutor ou o curador será
responsabilizado financeiramente pelo prejuízo.

Porém, se o tutor ou o curador não tiver patrimônio algum, poderá ser responsabilizado o patrimônio do tutelado
ou curatelado, desde que existente.

Destaca-se a possibilidade do tutor ou curador reaver do tutelado ou curatelado, juridicamente, o valor pago em
indenização perante terceiro.

A imputação de eventuais indenizações poderá ser mitigada ou até mesmo excluída se elas vierem a privar o
tutelado ou curatelado e os que dele dependerem, dos meios necessários à sua subsistência.

Em caso do cometimento de ato infracional pelo tutelado ou de crime pelo curatelado, apenas estes responderão
perante a Justiça; cabendo ao tutor ou ao curador providenciar advogado ou defensor público.

Atualização: Damtom G P Silva ( dansilva@mp.pr.gov.br )


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Últimas alterações do ECA

O legislador editou a lei 12.962/14 incluindo e alterando alguns de seus dispositivos.

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ATENÇÃO
Em um primeiro momento, inseriu no Capítulo “Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária”, o
parágrafo 4º no artigo 19 do ECA, a garantia de convivência de crianças e adolescentes com seus genitores (pai
e mãe) privados de liberdade, permitindo-lhes visitas periódicas promovidas pelo seu responsável, ou em caso
de acolhimento institucional, pela entidade responsável.
Importante salientar que tal garantia se dará independentemente de autorização judicial.

Outro artigo Alterado

Não menos importante, foram as inserções dos parágrafos 1º e 2º, ao artigo 23 do ECA, ainda no
referido capítulo, em substituição ao seu parágrafo único, prevendo que caso não haja outro motivo (leia-se a
falta ou a carência de recurso material) ocasionando a perda ou a suspensão do poder familiar, a criança ou
adolescente será mantido em sua família de origem, devendo ser obrigatoriamente incluído em programas
oficiais de auxílio.
Quis o legislador no parágrafo 2º do citado artigo, reforçar ainda mais o laço familiar entre pais e filhos,
prevendo como possibilidade de destituição do poder familiar, tão somente a hipótese de condenação por crime
doloso, sujeito à pena de reclusão, contra o próprio filho ou filha.

Outro artigo alterado

Já no capítulo “Dos procedimentos, Seção II – Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar”, em seu artigo 158,
a regra é a citação pessoal do requerido, salvo se esgotado todos os meios para sua realização. Em seu texto
original, o ECA previa no seu parágrafo único, que deveriam ser esgotados todos os meios para a citação
pessoal, ou seja, não admitia outra forma de citação.
Para a citação do requerido privado de sua liberdade, reza o parágrafo 2º, que esta deverá ser
pessoalmente.

Outro artigo alterado

Outra alteração significativa, também no capítulo “Dos procedimentos – Seção II”, foi a nova redação do
artigo 159, parágrafo único, obrigando ao oficial de justiça no momento da citação do requerido privado de
liberdade, indagá-lo sobre o desejo de lhe ser nomeado um defensor.
Tal modificação nos remete aos direitos e garantias individuais, que prevê a assistência de um defensor
(público ou privado) para o requerido, garantindo assim, o contraditório e a ampla defesa.

90
Outro artigo alterado

E por último, o parágrafo 5º do artigo 161 do ECA, impõe à Autoridade Judicial requisitar ao
responsável pelo lugar onde o requerido privado de liberdade estiver recolhido (Autoridade Policial, Diretor de
Presídio etc), para que o apresente para sua oitiva.
Leia mais: http://jus.com.br/artigos/27654/breve-comentario-as-alteracoes-do-estatuto-da-crianca-e-adolescente-
eca-de-acordo-com-a-nova-lei-no-12-962-2014#ixzz3WXLeMQvf

Lei da Palmada

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 13.010, DE 26 DE JUNHO DE 2014.

Altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990


(Estatuto da Criança e do Adolescente), para
estabelecer o direito da criança e do adolescente
Mensagem de veto de serem educados e cuidados sem o uso de
castigos físicos ou de tratamento cruel ou
degradante, e altera a Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Art. 1o A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), passa a vigorar
acrescida dos seguintes arts. 18-A, 18-B e 70-A:

“Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto,
pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.

Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:

I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o
adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
b) lesão;

91
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao
adolescente que:
a) humilhe; ou
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.”
“Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos executores de
medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los,
educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como formas de
correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções
cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:

I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;

II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;

V - advertência.

Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de
outras providências legais.”

“Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão atuar de forma articulada na
elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo físico ou de
tratamento cruel ou degradante e difundir formas não violentas de educação de crianças e de adolescentes, tendo
como principais ações:

I - a promoção de campanhas educativas permanentes para a divulgação do direito da criança e do adolescente


de serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e dos
instrumentos de proteção aos direitos humanos;

II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, com o
Conselho Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e com as entidades não
governamentais que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente;

III - a formação continuada e a capacitação dos profissionais de saúde, educação e assistência social e dos
demais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente para o
desenvolvimento das competências necessárias à prevenção, à identificação de evidências, ao diagnóstico e ao
enfrentamento de todas as formas de violência contra a criança e o adolescente;

IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica de conflitos que envolvam violência contra a criança
e o adolescente;

V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a garantir os direitos da criança e do adolescente,
desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e responsáveis com o objetivo de promover a
informação, a reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de castigo físico ou de tratamento cruel
ou degradante no processo educativo;

92
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a articulação de ações e a elaboração de planos de atuação
conjunta focados nas famílias em situação de violência, com participação de profissionais de saúde, de
assistência social e de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
adolescente.

Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes com deficiência terão prioridade de atendimento nas
ações e políticas públicas de prevenção e proteção.”

Art. 2o Os arts. 13 e 245 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passam a vigorar com as seguintes
alterações:

“Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-
tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
localidade, sem prejuízo de outras providências legais.

...................................................................................” (NR)

“Art. 245. (VETADO)”.

Art. 3o O art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional), passa a vigorar acrescido do seguinte § 9o:

“Art. 26. .....................................................................................................................................................................

§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção de todas as formas de violência contra a criança e o
adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos currículos escolares de que trata o caput deste artigo,
tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), observada a
produção e distribuição de material didático adequado.” (NR)

Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 26 de junho de 2014; 193o da Independência e 126o da República.

DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo
Ideli Salvatti
Luís Inácio Lucena Adams

Lei 12.010/1999

Breves considerações sobre a nova "Lei Nacional de Adoção"


Murillo José Digiácomo
Promotor de Justiça no Estado do Paraná

Após 19 anos, o Estatuto da Criança e do Adolescente sofreu a sua primeira grande reforma, por
intermédio da Lei nº 12.010, de 03 de agosto de 2009, a chamada "Lei Nacional de Adoção", que promoveu
alterações em nada menos que 54 (cinquenta e quatro) artigos da Lei nº 8.069/90 e estabeleceu inúmeras outras
inovações legislativas [nota 1], inclusive em outros Diplomas Legais [nota 2], algumas de cunho meramente
terminológico, outras muito mais profundas e significativas.
Em que pese sua denominação, a nova lei dispõe não apenas sobre a adoção, mas sim, como evidenciado
já em seu art. 1º, procura aperfeiçoar a sistemática prevista na Lei nº 8.069/90 para garantia do direito à

93
convivência familiar, em suas mais variadas formas, a todas as crianças e adolescentes, sem perder de vista as
normas e princípios por esta consagrados.
Com efeito, a opção do legislador não foi revogar ou substituir as disposições da Lei nº 8.069/90 [nota 3],
mas sim a elas incorporar mecanismos capazes de assegurar sua efetiva implementação, estabelecendo regras
destinadas, antes e acima de tudo, a fortalecer e preservar a integridade da família de origem, além de evitar ou
abreviar ao máximo o abrigamento (que passa a chamar de acolhimento institucional [nota 4]) de crianças e
adolescentes.
As novas regras foram naturalmente incorporadas ao texto da Lei nº 8.069/90 sem alterar sua essência,
realçando e deixando mais claros, acima de tudo, os princípios que norteiam a matéria (que são melhor
explicitados no parágrafo único incorporado ao art. 100 estatutário) e os deveres dos órgãos e autoridades
públicas encarregadas de assegurar o efetivo exercício do direito à convivência familiar para todas as crianças e
adolescentes, inclusive no âmbito do Poder Judiciário, que, dentre outros, passa a ter a obrigação manter
um rigoroso controle sobre o acolhimento institucional de crianças e adolescentes[nota 5] e de reavaliar
periodicamente (no máximo, a cada seis meses [nota 6]) a situação de cada criança ou adolescente que se
encontre afastado do convívio familiar, na perspectiva de promover sua reintegração à família de origem ou,
caso tal solução se mostre comprovadamente impossível [nota 7], sua colocação em família substituta, em
qualquer de suas modalidades (guarda, tutela ou adoção [nota 8]) ou seu encaminhamento a programas de
acolhimento familiar [nota 9], noprazo máximo de 02 (dois) anos [nota 10].
Também se impõe ao Poder Judiciário a obrigação da criação e manutenção de cadastros estaduais e
nacional de adoção[nota 11], além daqueles existentes em cada comarca [nota 12], bem como de desenvolver,
em conjunto com outros órgãos, cursos ou programas de orientação (que a lei chama de preparação
psicossocial) para pessoas ou casais interessados em adotar, de modo a estimular a adoção de crianças maiores
de três anos e adolescentes, grupos de irmãos ou pessoas com deficiência [nota 13], que representam, hoje, o
maior contingente de abrigados em todo o Brasil, além de evitar a ocorrência, não rara, infelizmente, de
violação de direitos e abandono de crianças e adolescentes por seus pais adotivos [nota 14].
As novas regras relativas à adoção, na verdade, surgem num contexto mais amplo, que procura enfatizar
a excepcionalidadeda medida em detrimento da permanência da criança ou adolescente em sua família de
origem ou de outras formas de acolhimento familiar que não importem no rompimento dos vínculos com sua
família natural [nota 15].
Dentre as inovações, encontra-se a previsão da tomada de cautelas adicionais e da necessidade da
intervenção de antropólogos e representantes da FUNAI, em se tratando de colocação familiar de crianças e
adolescentes indígenas [nota 16], a criação de um procedimento específico para habilitação à adoção [nota 17] e
a adequada regulamentação da adoção internacional, nos moldes do previsto pela "Convenção de Haia", norma
internacional que dispõe sobre a matéria [nota 18].
A lei também procura acabar com práticas arbitrárias ainda hoje verificadas, como o afastamento da
criança ou adolescente de sua família de origem por simples decisão (administrativa) do Conselho Tutelar ou
em sede de procedimento judicial inominado, instaurado nos moldes do art. 153, da Lei nº 8.069/90 [nota 19],

94
passando a exigir a deflagração, em tais casos, de processo judicial contencioso, no qual seja assegurado aos
pais ou responsável o indispensável exercício do contraditório e da ampla defesa [nota 20].
Houve também preocupação em coibir a "intermediação" de adoções irregulares por profissionais de
saúde, que passam a ter a obrigação de efetuar a comunicação à autoridade judiciária de casos de que tenham
conhecimento relativos a mães ou gestantes interessadas em entregar seus filhos para adoção, sob pena da
prática de infração administrativa [nota 21].
Estabeleceu a obrigatoriedade, enfim, da definição de políticas públicas intersetoriais [nota 22], capazes
de prevenir ouabreviar ao máximo o acolhimento institucional de crianças e adolescentes [nota 23] e promover
o exercício da paternidade/maternidade responsáveis, de modo que a família (seja natural, extensa [nota 24] ou
substituta) possa, com o apoio do Poder Público, exercer seu papel - verdadeiramente insubstituível - na plena
efetivação dos direitos infanto-juvenis[nota 25].
A implementação de tais políticas, notadamente em nível municipal e estadual (inclusive no que diz
respeito à atuação do Poder Judiciário [nota 26]) [nota 27], tem por objetivo, de um lado, evitar abrigamentos
injustificados (e injustificáveis, como são os casos daqueles efetuados pelas próprias famílias e/ou motivados
pela falta de condições materiais [nota 28]) e, de outro, assegurar que as crianças e adolescentes que se
encontrem em regime de acolhimento institucional tenham sua situaçãopermanentemente monitorada pela
autoridade judiciária e pelos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à
convivência familiar, na perspectiva de promover, da forma mais célere possível, a reintegração
familiar (medidapreferencial, que deve ser precedida e/ou acompanhada do encaminhamento de toda a família
aos referidos programas e serviços de orientação/apoio/promoção social [nota 29]) ou, quando isto não for
possível, por qualquer razão plenamente justificada, sua colocação em família substituta, nas diversas
modalidades previstas (dentre as quais se incluem os programas de acolhimento familiar, também referidos pela
nova lei). Visa também evitar que as entidades que executam programas de acolhimento institucional, assim
como as crianças e adolescentes que lá se encontrem (e mesmo o Poder Judiciário), fiquem "isolados" e/ou
deixem de se integrar à política de atendimento definida pelos Conselhos de Direitos da Criança e do
Adolescente [nota 30], assim como a outros programas e serviços (públicos, fundamentalmente) destinados a
garantir o efetivo exercício do direito a convivência familiar por todas as crianças e adolescentes inseridas no
programa respectivo.
A referida política, a ser financiada com recursos provenientes fundamentalmente do orçamento dos mais
diversos órgãos públicos [nota 31], deve ser composta, antes de mais nada, de programas e serviços de
orientação, apoio e promoção social das famílias (estrutura de atendimento que a imensa maioria dos
municípios, de forma absolutamente inescusável, ainda não dispõe e que de modo algum pode deixar de ser
criada), inclusive como forma de dar efetivo cumprimento ao disposto nos arts. 226 e 227, da Constituição
Federal, seja no que diz respeito à necessidade de proporcionar a prometida "proteção à família", seja para fazer
com que esta assuma suas responsabilidades [nota 32] e não as "delegue" pura e simplesmente ao Estado (lato
sensu - o que inclui as entidades privadas que exercem atividades própria do Estado - como é o caso das
entidades que executam programas de acolhimento institucional) ou a terceiros [nota 33].

95
Neste contexto, a título de exemplo, o encaminhamento de crianças e adolescentes a programas de
acolhimento institucional "a pedido" da família e/ou em razão da falta de condições materiais não mais devem
ocorrer ou ser "tolerados" pelas autoridades competentes, tendo o art. 93, par. único, primeira parte, da Lei nº
8.069/90, sido instituído justamente para assegurar que, em tais casos, sejam tomadas providências destinadas a
promover a imediata reintegração familiar e a inserção da família em programas e serviços de apoio e promoção
social (conforme há tanto já previa o art. 23, par. único, da Lei nº 8.069/90).
Outras situações corriqueiras, que acabam levando ao afastamento de crianças e adolescentes de suas
famílias de origem, devem ser previstas e devidamente contempladas pela política de atendimento que o Poder
Público, por intermédio dos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente [nota 34], tem o dever de
elaborar e implementar, com a mais absoluta prioridade, inclusive sob pena de responsabilidade (cf. art.
4º, caput e par. único, alíneas "b", "c" e "d" c/c arts. 87, inciso VI e 208, inciso IX, todos da Lei nº 8.069/90).
Na verdade, quis o legislador, que sempre que surgir uma determinada demanda para
abrigamento/acolhimento institucional, já exista uma "estratégia oficial" definida [nota 35] para o enfrentamento
(e solução) do problema, "estratégia" esta que deve se traduzir em um "protocolo" de atendimento
interprofissional [nota 36], bem como em programas, serviços e ações intersetoriais[nota 37], que serão
definidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente [nota 38] e executadas por diversos órgãos
públicos e entidades particulares (cf. art. 86, da Lei nº 8.069/90), integrantes da "rede de proteção" à criança e
ao adolescente que todos os municípios devem instituir e manter.
Assim sendo, independentemente da existência ou não de "programas" oficiais de acolhimento
institucional, é fundamental que cada município [nota 39] elabore e implemente uma política pública
especificamente destinada ao atendimento de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar, que deve
ser composta de programas de acolhimento familiar, incluir o estímulo ao acolhimento sob forma de
guarda [nota 40] e toda uma gama de programas e serviços destinados à orientação, apoio e promoção social de
pais e responsáveis por crianças e adolescentes, a serem utilizados tanto para evitar o afastamento de crianças e
adolescentes de sua família de origem (numa perspectiva eminentemente preventiva, como é da essência da Lei
nº 8.069/90 [nota 41]), quanto para permitir a reintegração familiar [nota 42] da forma mais rápida possível, tal
qual previsto nos art. 19, §3º e 100, par. único, incisos IX e X, da Lei nº 8.069/90, procurando assim criar
alternativas viáveis ao encaminhamento a programas de acolhimento institucional.
Mais do que uma "Lei Nacional de Adoção", portanto, a Lei nº 12.010/2009, se constitui NUMA
verdadeira "Lei da Convivência Familiar", que traz novo alento à sistemática instituída pela Lei nº 8.069/90
para garantia do efetivo exercício deste direito fundamental por todas as crianças e adolescentes brasileiros.
É bem verdade que, apesar de todas suas inovações e avanços, a simples promulgação da Lei nº
12.010/2009, por si, nada muda, mas ela sem dúvida se constitui num poderoso instrumento que pode ser
utilizado para mudança de concepção e também de prática por parte das entidades de acolhimento institucional e
órgãos públicos responsáveis pela defesa dos direitos infanto-juvenis, promovendo assim a transformação - para
melhor - da vida e do destino de tantas crianças e adolescentes que hoje se encontram privados do direito à
convivência familiar em todo o Brasil.

96
A adequada implementação das disposições da Lei nº 12.010/2009 sem dúvida se constitui num grande
desafio, que incumbe a todos nós enfrentar.
(Texto revisado pelo próprio autor em 27/08/2009)
Notas do texto:
1 Somente na Lei nº 8.069/90, foram ao todo quase 250 reformulações e acréscimos de artigos, parágrafos
e incisos, em diversos de seus Capítulos.
2 Notadamente no Código Civil, tendo sido revogadas praticamente todas as disposições relativas à
adoção nele contidas, ale de reformuladas as remanescentes (cf. arts. 4º e 8º, da Lei nº 12.010/2009), e na Lei nº
8.560/92, que dispõe sobre a averiguação oficiosa de paternidade (cf. art. 5º, da Lei nº 12.010/2009).
3 Tanto que as novas disposições foram propositalmente incorporadas ao texto da Lei nº 8.069/90, na
perspectiva de integrar o "Sistema Legal" por este Diploma consagrado.
4 Cf. art. 90, inciso IV, da Lei nº 8.069/90.
5 Todo acolhimento institucional deve ser comunicado à autoridade judiciária no prazo máximo de 24
(vinte e quatro) horas, não apenas na perspectiva da aferição da adequação da medida, mas também como forma
de obrigar, caso necessário formalizar o afastamento da criança ou adolescente de sua família, a deflagração de
procedimento contencioso (cf. arts. 93,caput e par. único c/c 101, §2º, da Lei nº 8.069/90), sendo
também obrigatória a criação de um cadastro de crianças e adolescentes em regime de acolhimento
institucional (cf. art. 101, § 11, da Lei nº 8.069/90), inclusive sob pena da prática dainfração
administrativa prevista no art. 258-A do mesmo Diploma Legal.
6 Cf. art. 19, §1º, da Lei nº 8.069/90. Sendo certo que, neste período, será obrigatória a inserção da
família em programas de orientação, apoio e promoção social, nos moldes do previsto nos arts. 19, §2º, 23, par.
único e 100, par. único, incisos IX e X, da Lei nº 8.069/90.
7 A nova lei procura enfatizar a preferência na manutenção ou reintegração da criança ou adolescente em
sua família de origem (ou extensa) - cf. arts. 19, caput e §3º e 100, caput e par. único, inciso X, do ECA.
8 Cf. art. 28, da Lei nº 8.069/90.
9 Cf. art. 34, §§1º e 2º e 101, inciso VIII, da Lei nº 8.069/90.
10 Cf. art. 19, §2º, da Lei nº 8.069/90.
11 Diga-se: cadastros de pessoas interessadas em adotar (com um cadastro específico para estrangeiros) e
de crianças e adolescentes em condições de serem adotados (cf. art. 50, §§5º e 6º, da Lei nº 8.069/90).
12 Acabando assim de uma vez por todas com a polêmica criada quando da implementação do Cadastro
Nacional de Adoção pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ, que levou alguns a supor (de forma
absolutamente equivocada - até porque uma simples resolução do CNJ jamais poderia revogar disposição
expressa de lei), que a criação do CNA tornaria "dispensável" a manutenção de cadastros nas comarcas, tal qual
previsto pelo art. 50, caput, da Lei nº 8.069/90, que neste aspecto foi mantido pela Lei nº 12.010/2009.
13 Cf. arts. 50, §§3º e 4º, 87, inciso VII e 197-C, §§ 1º e 2º, da Lei nº 8.069/90.
14 Razão pela qual o art. 28, §5º, da Lei nº 8.069/90 passa a prever também a obrigatoriedade
do acompanhamento posteriorda colocação familiar.

97
15 Valendo mencionar a previsão, contida no art. 33, §4º, da Lei nº 8.069/90, de que salvo expressa e
fundamentada determinação em contrário da autoridade judiciária, mesmo quando da colocação de crianças e
adolescentes sob guarda(inclusive quando em regime de acolhimento familiar), deverá ser assegurado (e
estimulado) o direito de visitas aos pais (restando também expresso, em contrapartida, o dever destes prestar
alimentos àqueles).
16 Art. 28, §6º, da Lei nº 8.069/90. Cautelas similares devem sem adotadas em se tratando de crianças e
adolescentes oriundas de comunidades remanescentes de quilombos.
17 Cf. arts. 197-A a 197-E, do ECA.
18 Arts. 50, §10 e 51 a 52-D, da Lei nº 8.069/90.
19 Os famigerados "procedimentos de verificação de situação de risco", "pedidos de providência" ou
similares, que não mais podem ser utilizados quando em jogo se encontram direitos indisponíveis e/ou quando,
ainda que por presunção, há conflito de interesses. O afastamento da criança ou do adolescente de sua família é
medida extrema e excepcional, que somente terá lugar quando plenamente justificada pelas circunstâncias,
sendo obrigatória a indicação, na ação judicial a ser proposta (e na decisão que a determina) dos fundamentos
jurídicos respectivos, dando aos pais ou responsável condições para o exercício do contraditório e da ampla
defesa.
20 Arts. 101, §2º, 136, inciso XI e par. único e 153, par. único, da Lei nº 8.069/90.
21 Arts. 13, par. único e 258-B, da Lei nº 8.069/90. Sem prejuízo, logicamente, da prática de crimes,
como o previsto no art. 238, da Lei nº 8.069/90.
22 Arts. 86, 87, incisos VI e VII e 88, inciso VI, da Lei nº 8.069/90.
23 Cf. art. 19, §§2º e 3º, da Lei nº 8.069/90, chegando a estabelecer um "limite máximo" para duração do
acolhimento institucional, que não pode exceder aos 02 (dois) anos, ressalvadas situações excepcionalíssimas.
24 A qual o art. 25, par. único, da Lei nº 8.069/90 faz expressa referência.
25 Cf. arts. 8º, §§4º e 5º, 19, caput e §3º, 87, inciso VI, 88, inciso VI e 100, incisos III, IX e X, da Lei nº
8.069/90, a começar pela previsão da obrigatoriedade da OFERTA de assistência psicológica e a gestantes e
mães, inclusive aquelas que manifestam interesse em entregar seus filhos para adoção.
26 Seja no que diz respeito à contratação de equipes interprofissionais (que já era prevista pelos arts. 150
e 151, da Lei nº 8.069/90), cuja intervenção é expressamente prevista em nada menos que 24 (vinte e quatro)
dispositivos da nova lei (sem mencionar as referências indiretas), por ser verdadeiramente imprescindível à
tomada de decisões corretas e responsáveispelo Poder Judiciário, seja no sentido da qualificação profissional de
tais servidores e também de Juízes, para o atendimento de tais demandas (cf. art. 92, §3º, da Lei nº 8.069/90).
27 Que deve ocorrer no período da vacatio legis, de 90 (noventa) dias - cf. art. 7º, da Lei nº 12.010/2009.
28 Cf. art. 23, caput e par. único, da Lei nº 8.069/90.
29 Cf. arts. 23 e par. único c/c 101, caput, inciso IV e 129, incisos I a IV, da Lei nº 8.069/90.
30 Inclusive sob pena de descredenciamento, ex vi do disposto nos arts. 90, §3º e 91, §1º, alínea "e" e 2º,
da Lei nº 8.069/90.
31 E não apenas com recursos provenientes dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente, como
os arts. 90, §2º, 100, inciso III e 260, §1º-A, da Lei nº 8.069/90 (aos quais se somam o disposto no art.
98
4º, caput e par. único, alíneas "c" e "d", do mesmo Diploma Legal e art. 227, caput, da Constituição Federal)
mais do que evidenciam.
32 Afinal, o art. 4º, caput, da Lei nº 8.069/90 e o art. 227, caput, da Constituição Federal dispõem de
maneira expressa que é DEVER, antes de mais nada, da família, proporcionar a plena efetivação dos direitos
infanto-juvenis, cabendo ao Poder Público fornecer àquela os meios necessários ao exercício de
suas responsabilidades e obrigações.
33 Especialmente quando isto ocorre de maneira informal, ao arrepio do conhecimento e da intervenção
das autoridades competentes, com enorme potencial de danos, em especial a médio e longo prazos, aos
interesses infanto-juvenis que, em nestas e em outras situações, devem prevalecer em relação aos interesses dos
adultos (cf. art. 100, par. único, incisos II e IV, da Lei nº 8.069/90.
34 Cf. arts. 87, inciso VI, 88, incisos II, III e VI, 92, §2º e 100, par. único, inciso III, da Lei nº 8.069/90.
35 Ainda que em linhas gerais, pois cada caso, logicamente, deverá ter suas peculiaridades consideradas e
respeitadas (cf. art. 100, caput e par. único, da Lei nº 8.069/90).
36 Com a prévia indicação de quais órgãos (e/ou dos responsáveis dentro de cada órgão) e profissionais
que serão acionados para cada caso que surgir (sem prejuízo do preparo e da qualificação de cada um).
37 Que se constituem, em última análise, na "materialização" da referida política, nos moldes do previsto
nos arts. 86, 87, 88 e 90, da Lei nº 8.069/90.
38 Cujo poder deliberativo já previsto pelo art. 88, inciso II, da Lei nº 8.069/90 (com respaldo nos arts.
227, §7º c/c 204, da Constituição Federal) foi realçado pelo reconhecimento expresso do caráter vinculante de
suas resoluções, ex vi do disposto nos arts. 90, §3º, inciso I e 91, §1º, do mesmo Diploma Legal.
39 Em função do disposto nos arts. 88, inciso I e 100, par. único, inciso III, da Lei nº 8.069/90.
40 Cf. arts. 34 e 260, §2º, da Lei nº 8.069/90 e art. 227, §3º, inciso VI, da Constituição Federal.
41 Conforme previsto no art. 70, da Lei nº 8.069/90 e em todos os demais dispositivos estatutários
relativos à política de atendimento.
42 Ou o encaminhamento a família substituta, quando não for possível tal solução.

Sobre o autor:
Murillo José Digiácomo é Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná, integrante do Centro de Apoio
Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente (CAOPCA/MPPR).

Alteração da Lei 12.010/2009

Lei Nova - 12.955: prioridade na adoção de criança/adolescente com deficiência

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI Nº 12.955, DE 5 FEVEREIRO DE 2014.

99
Acrescenta § 9o ao art. 47 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para
estabelecer prioridade de tramitação aos processos de adoção em que o adotando for criança ou adolescente com
deficiência ou com doença crônica.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Esta Lei confere prioridade para os processos de adoção quando o adotando for criança ou adolescente com
deficiência ou com doença crônica.

Art. 2o O art. 47 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), passa a vigorar
acrescido do seguinte § 9o:

“Art.
47.……………………………………………………………………………………………………………………
……………………………

§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de adoção em que o adotando for criança ou adolescente com
deficiência ou com doença crônica.” (NR)

Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 5 de fevereiro de 2014; 193o da Independência e 126o da República.

DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo
Patrícia Barcelos
Fonte: Planalto, 06 de fev. de 2014

LEI Nº 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016.

Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira


o
infância e altera a Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), o Decreto-Lei
no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo
Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de
1943, a Lei no11.770, de 9 de setembro de 2008, e a
Lei no 12.662, de 5 de junho de 2012.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Esta Lei estabelece princípios e diretrizes para a formulação e a implementação de políticas
públicas para a primeira infância em atenção à especificidade e à relevância dos primeiros anos de vida no
desenvolvimento infantil e no desenvolvimento do ser humano, em consonância com os princípios e diretrizes
o o
da Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); altera a Lei n 8.069, de 13 de
o
julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); altera os arts. 6 , 185, 304 e 318 do Decreto-Lei
no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal); acrescenta incisos ao art. 473 da Consolidação
o o o o
das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei n 5.452, de 1 de maio de 1943; altera os arts. 1 , 3 ,
o o o o o
4 e 5 da Lei n 11.770, de 9 de setembro de 2008; e acrescenta parágrafos ao art. 5 da Lei n 12.662, de 5
de junho de 2012.
Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se primeira infância o período que abrange os primeiros 6
(seis) anos completos ou 72 (setenta e dois) meses de vida da criança.
o
Art. 3 A prioridade absoluta em assegurar os direitos da criança, do adolescente e do jovem, nos
o o
termos do art. 227 da Constituição Federal e do art. 4 da Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990, implica o dever

100
do Estado de estabelecer políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância que atendam às
especificidades dessa faixa etária, visando a garantir seu desenvolvimento integral.
Art. 4o As políticas públicas voltadas ao atendimento dos direitos da criança na primeira infância serão
elaboradas e executadas de forma a:
I - atender ao interesse superior da criança e à sua condição de sujeito de direitos e de cidadã;
II - incluir a participação da criança na definição das ações que lhe digam respeito, em conformidade
com suas características etárias e de desenvolvimento;
III - respeitar a individualidade e os ritmos de desenvolvimento das crianças e valorizar a diversidade da
infância brasileira, assim como as diferenças entre as crianças em seus contextos sociais e culturais;
IV - reduzir as desigualdades no acesso aos bens e serviços que atendam aos direitos da criança na
primeira infância, priorizando o investimento público na promoção da justiça social, da equidade e da inclusão
sem discriminação da criança;
V - articular as dimensões ética, humanista e política da criança cidadã com as evidências científicas e a
prática profissional no atendimento da primeira infância;
VI - adotar abordagem participativa, envolvendo a sociedade, por meio de suas organizações
representativas, os profissionais, os pais e as crianças, no aprimoramento da qualidade das ações e na
garantia da oferta dos serviços;
VII - articular as ações setoriais com vistas ao atendimento integral e integrado;
VIII - descentralizar as ações entre os entes da Federação;
IX - promover a formação da cultura de proteção e promoção da criança, com apoio dos meios de
comunicação social.
Parágrafo único. A participação da criança na formulação das políticas e das ações que lhe dizem
respeito tem o objetivo de promover sua inclusão social como cidadã e dar-se-á de acordo com a
especificidade de sua idade, devendo ser realizada por profissionais qualificados em processos de escuta
adequados às diferentes formas de expressão infantil.
Art. 5o Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas para a primeira infância a saúde, a
alimentação e a nutrição, a educação infantil, a convivência familiar e comunitária, a assistência social à família
da criança, a cultura, o brincar e o lazer, o espaço e o meio ambiente, bem como a proteção contra toda forma
de violência e de pressão consumista, a prevenção de acidentes e a adoção de medidas que evitem a
exposição precoce à comunicação mercadológica.
Art. 6o A Política Nacional Integrada para a primeira infância será formulada e implementada mediante
abordagem e coordenação intersetorial que articule as diversas políticas setoriais a partir de uma visão
abrangente de todos os direitos da criança na primeira infância.
Art. 7o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir, nos respectivos âmbitos,
comitê intersetorial de políticas públicas para a primeira infância com a finalidade de assegurar a articulação
das ações voltadas à proteção e à promoção dos direitos da criança, garantida a participação social por meio
dos conselhos de direitos.
§ 1o Caberá ao Poder Executivo no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
indicar o órgão responsável pela coordenação do comitê intersetorial previsto no caput deste artigo.
o o
§ 2 O órgão indicado pela União nos termos do § 1 deste artigo manterá permanente articulação com
as instâncias de coordenação das ações estaduais, distrital e municipais de atenção à criança na primeira
infância, visando à complementaridade das ações e ao cumprimento do dever do Estado na garantia dos
direitos da criança.
Art. 8o O pleno atendimento dos direitos da criança na primeira infância constitui objetivo comum de
todos os entes da Federação, segundo as respectivas competências constitucionais e legais, a ser alcançado
em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Parágrafo único. A União buscará a adesão dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios à
abordagem multi e intersetorial no atendimento dos direitos da criança na primeira infância e oferecerá
assistência técnica na elaboração de planos estaduais, distrital e municipais para a primeira infância que
articulem os diferentes setores.
o
Art. 9 As políticas para a primeira infância serão articuladas com as instituições de formação
profissional, visando à adequação dos cursos às características e necessidades das crianças e à formação de
profissionais qualificados, para possibilitar a expansão com qualidade dos diversos serviços.
Art. 10. Os profissionais que atuam nos diferentes ambientes de execução das políticas e programas
destinados à criança na primeira infância terão acesso garantido e prioritário à qualificação, sob a forma de
especialização e atualização, em programas que contemplem, entre outros temas, a especificidade da primeira
infância, a estratégia da intersetorialidade na promoção do desenvolvimento integral e a prevenção e a
proteção contra toda forma de violência contra a criança.
Art. 11. As políticas públicas terão, necessariamente, componentes de monitoramento e coleta
sistemática de dados, avaliação periódica dos elementos que constituem a oferta dos serviços à criança e
divulgação dos seus resultados.

101
o
§ 1 A União manterá instrumento individual de registro unificado de dados do crescimento e
desenvolvimento da criança, assim como sistema informatizado, que inclua as redes pública e privada de
saúde, para atendimento ao disposto neste artigo.
§ 2o A União informará à sociedade a soma dos recursos aplicados anualmente no conjunto dos
programas e serviços para a primeira infância e o percentual que os valores representam em relação ao
respectivo orçamento realizado, bem como colherá informações sobre os valores aplicados pelos demais entes
da Federação.
Art. 12. A sociedade participa solidariamente com a família e o Estado da proteção e da promoção da
criança na primeira infância, nos termos do caput e do § 7º do art. 227, combinado com o inciso II do art. 204
da Constituição Federal, entre outras formas:
I - formulando políticas e controlando ações, por meio de organizações representativas;
II - integrando conselhos, de forma paritária com representantes governamentais, com funções de
planejamento, acompanhamento, controle social e avaliação;
III - executando ações diretamente ou em parceria com o poder público;
IV - desenvolvendo programas, projetos e ações compreendidos no conceito de responsabilidade social
e de investimento social privado;
V - criando, apoiando e participando de redes de proteção e cuidado à criança nas comunidades;
VI - promovendo ou participando de campanhas e ações que visem a aprofundar a consciência social
sobre o significado da primeira infância no desenvolvimento do ser humano.
Art. 13. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios apoiarão a participação das famílias em
redes de proteção e cuidado da criança em seus contextos sociofamiliar e comunitário visando, entre outros
objetivos, à formação e ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, com prioridade aos contextos
que apresentem riscos ao desenvolvimento da criança.
Art. 14. As políticas e programas governamentais de apoio às famílias, incluindo as visitas domiciliares e
os programas de promoção da paternidade e maternidade responsáveis, buscarão a articulação das áreas de
saúde, nutrição, educação, assistência social, cultura, trabalho, habitação, meio ambiente e direitos humanos,
entre outras, com vistas ao desenvolvimento integral da criança.
§ 1o Os programas que se destinam ao fortalecimento da família no exercício de sua função de cuidado
e educação de seus filhos na primeira infância promoverão atividades centradas na criança, focadas na família
e baseadas na comunidade.
§ 2o As famílias identificadas nas redes de saúde, educação e assistência social e nos órgãos do
Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente que se encontrem em situação de
vulnerabilidade e de risco ou com direitos violados para exercer seu papel protetivo de cuidado e educação da
criança na primeira infância, bem como as que têm crianças com indicadores de risco ou deficiência, terão
prioridade nas políticas sociais públicas.
§ 3o As gestantes e as famílias com crianças na primeira infância deverão receber orientação e
formação sobre maternidade e paternidade responsáveis, aleitamento materno, alimentação complementar
saudável, crescimento e desenvolvimento infantil integral, prevenção de acidentes e educação sem uso de
castigos físicos, nos termos da Lei no 13.010, de 26 de junho de 2014, com o intuito de favorecer a formação e
a consolidação de vínculos afetivos e estimular o desenvolvimento integral na primeira infância.
§ 4o A oferta de programas e de ações de visita domiciliar e de outras modalidades que estimulem o
desenvolvimento integral na primeira infância será considerada estratégia de atuação sempre que respaldada
pelas políticas públicas sociais e avaliada pela equipe profissional responsável.
§ 5o Os programas de visita domiciliar voltados ao cuidado e educação na primeira infância deverão
contar com profissionais qualificados, apoiados por medidas que assegurem sua permanência e formação
continuada.
Art. 15. As políticas públicas criarão condições e meios para que, desde a primeira infância, a criança
tenha acesso à produção cultural e seja reconhecida como produtora de cultura.
Art. 16. A expansão da educação infantil deverá ser feita de maneira a assegurar a qualidade da oferta,
com instalações e equipamentos que obedeçam a padrões de infraestrutura estabelecidos pelo Ministério da
o
Educação, com profissionais qualificados conforme dispõe a Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional), e com currículo e materiais pedagógicos adequados à proposta
pedagógica.
Parágrafo único. A expansão da educação infantil das crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos de idade, no
cumprimento da meta do Plano Nacional de Educação, atenderá aos critérios definidos no território nacional
pelo competente sistema de ensino, em articulação com as demais políticas sociais.
Art. 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão organizar e estimular a criação
de espaços lúdicos que propiciem o bem-estar, o brincar e o exercício da criatividade em locais públicos e
privados onde haja circulação de crianças, bem como a fruição de ambientes livres e seguros em suas
comunidades.
Art. 18. O art. 3o da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), passa
a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:
102
o
“Art. 3 ..........................................................................
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem
discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência,
condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de
moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.” (NR)
Art. 19. O art. 8o da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e
de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e
ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde.
§ 1o O atendimento pré-natal será realizado por profissionais da atenção primária.
o
§ 2 Os profissionais de saúde de referência da gestante garantirão sua vinculação, no último trimestre
da gestação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de opção da mulher.
o
§ 3 Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-
nascidos alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção primária, bem como o acesso a outros
serviços e a grupos de apoio à amamentação.
.............................................................................................
§ 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser prestada também a gestantes e mães que
manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que se encontrem
em situação de privação de liberdade.
o
§ 6 A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de sua preferência durante o período
do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato.
§ 7o A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento materno, alimentação complementar
saudável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a criação de vínculos
afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da criança.
§ 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável durante toda a gestação e a parto natural
cuidadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos.
§ 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante que não iniciar ou que abandonar as
consultas de pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto.
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se
encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e
assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino
competente, visando ao desenvolvimento integral da criança.” (NR)
Art. 20. O art. 9o da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescido dos seguintes §§
o o
1 e2:
“Art. 9o ........................................................................
§ 1o Os profissionais das unidades primárias de saúde desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou
coletivas, visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de ações de promoção, proteção e apoio
ao aleitamento materno e à alimentação complementar saudável, de forma contínua.
§ 2o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal deverão dispor de banco de leite humano ou
unidade de coleta de leite humano.” (NR)
Art. 21. O art. 11 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do
adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a ações
e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.
§ 1o A criança e o adolescente com deficiência serão atendidos, sem discriminação ou segregação, em
suas necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação.
o
§ 2 Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àqueles que necessitarem, medicamentos,
órteses, próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou reabilitação para
crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades específicas.
§ 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequente de crianças na primeira infância
receberão formação específica e permanente para a detecção de sinais de risco para o desenvolvimento
psíquico, bem como para o acompanhamento que se fizer necessário.” (NR)
Art. 22. O art. 12 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive as unidades neonatais, de terapia
intensiva e de cuidados intermediários, deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral
de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente.” (NR)
o
Art. 23. O art. 13 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescido do seguinte § 2 ,
o
numerando-se o atual parágrafo único como § 1 :
“Art. 13. .......................................................................
§ 1o As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão
obrigatoriamente encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude.

103
o
§ 2 Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada, os serviços de assistência social em
seu componente especializado, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e os
demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão conferir máxima
prioridade ao atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação de
violência de qualquer natureza, formulando projeto terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se
necessário, acompanhamento domiciliar.” (NR)
Art. 24. O art. 14 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 2o,
3 e 4 , numerando-se o atual parágrafo único como § 1o:
o o

“Art. 14. .......................................................................


§ 1o .............................................................................
o
§ 2 O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de
forma transversal, integral e intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à mulher e à criança.
o
§ 3 A atenção odontológica à criança terá função educativa protetiva e será prestada, inicialmente,
antes de o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no sexto e no décimo
segundo anos de vida, com orientações sobre saúde bucal.
o
§ 4 A criança com necessidade de cuidados odontológicos especiais será atendida pelo Sistema Único
de Saúde.” (NR)
Art. 25. O art. 19 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que
garanta seu desenvolvimento integral.
.............................................................................................
§ 3o A manutenção ou a reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em
relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em serviços e programas de proteção,
apoio e promoção, nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV docaput do art. 101 e dos incisos I a IV
do caput do art. 129 desta Lei.
....................................................................................” (NR)
Art. 26. O art. 22 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescido do seguinte
parágrafo único:
“Art. 22. .......................................................................
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades
compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão
familiar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei.” (NR)
Art. 27. O § 1o do art. 23 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 23. ......................................................................
§ 1o Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o
adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e
programas oficiais de proteção, apoio e promoção.
...................................................................................” (NR)
Art. 28. O art. 34 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescido dos seguintes §§
3o e 4o:
“Art. 34. ......................................................................
............................................................................................
§ 3o A União apoiará a implementação de serviços de acolhimento em família acolhedora como política
pública, os quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento temporário de crianças e de
adolescentes em residências de famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que não estejam no
cadastro de adoção.
o
§ 4 Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais e municipais para a manutenção dos
serviços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a própria família
acolhedora.” (NR)
Art. 29. O inciso II do art. 87 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 87. .......................................................................
.............................................................................................
II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social de garantia de proteção social e de
prevenção e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências;
...................................................................................” (NR)
Art. 30. O art. 88 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescido dos seguintes
incisos VIII, IX e X:
“Art. 88. ......................................................................
............................................................................................
104
VIII - especialização e formação continuada dos profissionais que trabalham nas diferentes áreas da
atenção à primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos da criança e sobre desenvolvimento
infantil;
IX - formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e do adolescente que
favoreça a intersetorialidade no atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvimento integral;
X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e sobre prevenção da violência.”
(NR)
Art. 31. O art. 92 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescido do seguinte § 7o:
“Art. 92. .....................................................................
.............................................................................................
o
§ 7 Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos em acolhimento institucional, dar-se-á
especial atenção à atuação de educadores de referência estáveis e qualitativamente significativos, às rotinas
específicas e ao atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como prioritárias.” (NR)
Art. 32. O inciso IV do caput do art. 101 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a
seguinte redação:
“Art. 101. ....................................................................
............................................................................................
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família,
da criança e do adolescente;
...................................................................................” (NR)
Art. 33. O art. 102 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescido dos seguintes §§
5o e 6o:
“Art. 102. ....................................................................
...........................................................................................
§ 5o Os registros e certidões necessários à inclusão, a qualquer tempo, do nome do pai no assento de
nascimento são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
§ 6o São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida do reconhecimento de paternidade no
assento de nascimento e a certidão correspondente.” (NR)
Art. 34. O inciso I do art. 129 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 129. ....................................................................
I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da
família;
..................................................................................” (NR)
Art. 35. Os §§ 1o-A e 2o do art. 260 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, passam a vigorar com a
seguinte redação:
“Art. 260. ....................................................................
............................................................................................
§ 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas com os recursos captados pelos fundos
nacional, estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão consideradas as disposições
do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência
Familiar e Comunitária e as do Plano Nacional pela Primeira Infância.
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente fixarão
critérios de utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações subsidiadas e demais receitas, aplicando
necessariamente percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de guarda, de crianças e adolescentes
e para programas de atenção integral à primeira infância em áreas de maior carência socioeconômica e em
situações de calamidade.
.................................................................................” (NR)
o
Art. 36. A Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 265-A:
“Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla divulgação dos direitos da criança e do
adolescente nos meios de comunicação social.
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será veiculada em linguagem clara,
compreensível e adequada a crianças e adolescentes, especialmente às crianças com idade inferior a 6 (seis)
anos.”
Art. 37. O art. 473 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de
o
1 de maio de 1943, passa a vigorar acrescido dos seguintes incisos X e XI:
“Art. 473. ....................................................................
.............................................................................................
X - até 2 (dois) dias para acompanhar consultas médicas e exames complementares durante o período
de gravidez de sua esposa ou companheira;
XI - por 1 (um) dia por ano para acompanhar filho de até 6 (seis) anos em consulta médica.” (NR)

105
o o o o o
Art. 38. Os arts. 1 , 3 , 4 e 5 da Lei n 11.770, de 9 de setembro de 2008, passam a vigorar com as
seguintes alterações: (Produção de efeito)
“Art. 1o É instituído o Programa Empresa Cidadã, destinado a prorrogar:
I - por 60 (sessenta) dias a duração da licença-maternidade prevista no inciso XVIII do caput do art. 7º da
Constituição Federal;
II - por 15 (quinze) dias a duração da licença-paternidade, nos termos desta Lei, além dos 5 (cinco) dias
estabelecidos no § 1o do art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
§ 1o A prorrogação de que trata este artigo:
I - será garantida à empregada da pessoa jurídica que aderir ao Programa, desde que a empregada a
requeira até o final do primeiro mês após o parto, e será concedida imediatamente após a fruição da licença-
maternidade de que trata o inciso XVIII do caput do art. 7º da Constituição Federal;
II - será garantida ao empregado da pessoa jurídica que aderir ao Programa, desde que o empregado a
requeira no prazo de 2 (dois) dias úteis após o parto e comprove participação em programa ou atividade de
orientação sobre paternidade responsável.
o
§ 2 A prorrogação será garantida, na mesma proporção, à empregada e ao empregado que adotar ou
obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança.” (NR)
“Art. 3o Durante o período de prorrogação da licença-maternidade e da licença-paternidade:
I - a empregada terá direito à remuneração integral, nos mesmos moldes devidos no período de
percepção do salário-maternidade pago pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS);
II - o empregado terá direito à remuneração integral.” (NR)
o
“Art. 4 No período de prorrogação da licença-maternidade e da licença-paternidade de que trata esta
Lei, a empregada e o empregado não poderão exercer nenhuma atividade remunerada, e a criança deverá ser
mantida sob seus cuidados.
Parágrafo único. Em caso de descumprimento do disposto no caput deste artigo, a empregada e o
empregado perderão o direito à prorrogação.” (NR)
“Art. 5o A pessoa jurídica tributada com base no lucro real poderá deduzir do imposto devido, em cada
período de apuração, o total da remuneração integral da empregada e do empregado pago nos dias de
prorrogação de sua licença-maternidade e de sua licença-paternidade, vedada a dedução como despesa
operacional.
..................................................................................” (NR)
Art. 39. O Poder Executivo, com vistas ao cumprimento do disposto no inciso II do caput do art. 5º e
nos arts. 12 e 14 da Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, estimará o montante da renúncia fiscal
decorrente do disposto no art. 38 desta Lei e o incluirá no demonstrativo a que se refere o § 6º do art. 165 da
Constituição Federal, que acompanhará o projeto de lei orçamentária cuja apresentação se der após
decorridos 60 (sessenta) dias da publicação desta Lei. (Produção de efeito)
Art. 40. Os arts. 38 e 39 desta Lei produzem efeitos a partir do primeiro dia do exercício subsequente
àquele em que for implementado o disposto no art. 39.
Art. 41. Os arts. 6o, 185, 304 e 318 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de
Processo Penal), passam a vigorar com as seguintes alterações:
o
“Art. 6 .........................................................................
.............................................................................................
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência
e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.” (NR)
“Art. 185. ....................................................................
............................................................................................
§ 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e se
possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado
pela pessoa presa.” (NR)
“Art. 304. ....................................................................
............................................................................................
o
§ 4 Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de
filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável
pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.” (NR)
“Art. 318. .....................................................................
.............................................................................................
IV - gestante;
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos.
...................................................................................” (NR)
Art. 42. O art. 5o da Lei no 12.662, de 5 de junho de 2012, passa a vigorar acrescido dos seguintes §§
o o
3 e4:
106
o
“Art. 5 .........................................................................
.............................................................................................
o
§ 3 O sistema previsto no caput deverá assegurar a interoperabilidade com o Sistema Nacional de
Informações de Registro Civil (Sirc).
o
§ 4 Os estabelecimentos de saúde públicos e privados que realizam partos terão prazo de 1 (um) ano
para se interligarem, mediante sistema informatizado, às serventias de registro civil existentes nas unidades
federativas que aderirem ao sistema interligado previsto em regramento do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ).” (NR)
Art. 43. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
o o
Brasília, 8 de março de 2016; 195 da Independência e 128 da República.
DILMA ROUSSEFF

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES LEI DA 1ª INFÂNCIA

INSTITUÍDO O MARCO REGULATÓRIO DA “PRIMEIRA INFÂNCIA” – ALTERAÇÕES NA CLT E PRORROGAÇÃO


DA LICENÇA PATERNIDADE

Lei nº 13.257, de 08.03.2016 – DOU de 09.03.2016 Através da Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016,
publicada no DOU de 9 de março de 2016, foi regulamentado o Estatuto da Primeira Infância ou Marco
Regulatório da Primeira Infância.

O texto visa implementar políticas públicas para a primeira infância (que compreende o período que
abrange os primeiros 6 anos completos ou 72 meses de vida da criança), em atenção à especificidade e à
relevância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil e do ser humano. Oriunda do Projeto de Lei
da Câmara 14/2015, a Lei 13.257 altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), o Código de
Processo Penal (Decreto-lei 3.689/41) e a Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-lei 5.452/43), além da
Lei 11.770/2008 (que cria o Programa Empresa Cidadã) e a Lei 12.662/2012 (que altera a lei de registros
públicos, assegurando validade nacional à Declaração de Nascido Vivo).

Dentre as inovações da mencionada Lei, destacamos:

CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO (CLT) Com relação às hipóteses nas quais o empregado poderá
deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário, a Lei 13.257/2016 trouxe para a Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT) os incisos X e XI ao artigo 473, que passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 473 - O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

I - até 2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento do cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou
pessoa que, declarada em sua carteira de trabalho e previdência social, viva sob sua dependência econômica;

II - até 3 (três) dias consecutivos, em virtude de casamento;

III - por um dia, em caso de nascimento de filho no decorrer da primeira semana;

IV - por um dia, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de doação voluntária de sangue
devidamente comprovada;

V - até 2 (dois) dias consecutivos ou não, para o fim de se alistar eleitor, nos têrmos da lei respectiva.

VI - no período de tempo em que tiver de cumprir as exigências do Serviço Militar referidas na letra "c" do
art. 65 da Lei nº 4.375, de 17 de agosto de 1964 (Lei do Serviço Militar).

107
VII - nos dias em que estiver comprovadamente realizando provas de exame vestibular para ingresso em
estabelecimento de ensino superior.

VIII - pelo tempo que se fizer necessário, quando tiver que comparecer a juízo. Data do boletim
informativo Volume 1, Edição 1 Di

IX - pelo tempo que se fizer necessário, quando, na qualidade de representante de entidade sindical,
estiver participando de reunião oficial de organismo internacional do qual o Brasil seja membro.

X - até 2 (dois) dias para acompanhar consultas médicas e exames complementares durante o período de
gravidez de sua esposa ou companheira; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) XI - por 1 (um) dia por ano para
acompanhar filho de até 6 (seis) anos em consulta médica. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

PRORROGAÇÃO DO TEMPO DE LICENÇA-PATERNIDADE

 A Lei 13.257 alterou os artigos 1º, 3º, 4º e 5º da Lei 11.770/08 que instituiu o Programa Empresa Cidadã,
o qual se destina à prorrogação da licença-maternidade, e agora paternidade, mediante concessão de
incentivo fiscal. Referida norma prorroga por 15 dias a duração da licença-paternidade concedida pelas
empresas participantes do Programa Empresa Cidadã.

A regra geral de 5 dias de licença estabelecida na Constituição Federal (art. 10 § 1º do ADCT) se mantém.
Todavia, os empregados dessas empresas terão 20 dias no total. Tal prorrogação será garantida em igual
proporção ao empregado que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção de criança. Para ter acesso
ao benefício, é necessário que o empregado o solicite no prazo de 2 dias úteis após o parto e, ainda, comprove
sua participação em programa ou atividade de orientação sobre paternidade responsável, programa este
também estabelecido nesta Lei.

Durante a prorrogação, haverá o direito à remuneração integral ao empregado. Entretanto, neste período,
o empregado não poderá exercer nenhuma atividade remunerada, e a criança deverá ser mantida sob os
cuidados dos pais. Em caso de descumprimento, será perdido o direito à prorrogação.

Importante lembrar que somente pode aderir ao programa Empresa Cidadã, a pessoa jurídica tributada
com base no lucro real que poderá deduzir do imposto devido, em cada período de apuração, o total da
remuneração integral da empregada e do empregado pago nos dias de prorrogação de sua licença-
maternidade e de sua licença-paternidade, vedada a dedução como despesa operacional. A empresa tributada
de outra forma (ex.: lucro presumido; simples) não poderá ser beneficiada do incentivo fiscal.

QUESTÕES DE CONCURSO

(Questões de 01 até 15 – DEGASE/2007)

01. Maria de Fátima Firmo destaca que a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a
consequente revogação do Código de Menores, vigente desde 1979, representou o ponto de partida para uma
profunda modificação no campo das políticas públicas para a infância e a juventude. Um aspecto que ilustra
corretamente as diferenças entre o ECA e o Código de Menores é:
A) O ECA estabelece que a máquina estatal deve atuar também antes que crianças e adolescentes estejam em
situação irregular, e não apenas quando a irregularidade se configure.

108
B) O antigo Código de Menores defendia a proteção integral da criança e do adolescente, não concentrando suas
ações apenas no atendimento aos casos de irregularidades.
C) O ECA concentra sua atenção no papel do Estado em relação a crianças e adolescentes em situação irregular,
priorizando a normatização das medidas aplicadas pelo Poder Judiciário.
D) O antigo Código de Menores reconhecia a criança e o adolescente como sujeitos de todos os direitos
fundamentais da pessoa humana, que deveriam ser preservados nos âmbitos estatal, familiar e social.
E) O ECA propõe uma maior racionalização de investimentos, determinando que o Estado deve concentrar suas
ações no atendimento e na proteção de crianças e adolescentes entre sete e dezoito anos.

02. Dentre as diretrizes da política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, listadas no artigo 88
do ECA, estão a criação e manutenção de programas específicos, e a manutenção de fundos municipais,
estaduais e nacional vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente. Essas duas
diretrizes caracterizam, respectivamente, os seguintes princípios defendidos pelo ECA para a política de
atendimento:
A) desconcentração e privatização
B) impugnação e participação
C) focalização e sustentação
D) centralização e mobilização
E) legalidade e punibilidade

03. O ECA estabelece uma clara distinção entre as medidas específicas de proteção e as medidas
socioeducativas, definindo suas características e condições de aplicação. Emrelação às medidas socioeducativas,
pode-se afirmar que:
A) podem ser executadas pelos Conselhos Tutelares, destinadas a crianças e adolescentes cujos direitos forem
ameaçados
B) são da competência exclusiva dos Conselhos de Direitos, podendo ser aplicadas somente em crianças
infratoras
C) são da competência dos Juízes da Infância e da Juventude, destinadas somente a crianças em situação de
risco social
D) podem ser executadas pelo poder público municipal, sendo aplicadas em caso de ato infracional atribuído a
crianças e adolescentes
E) são aplicadas pela Justiça da Infância e da Juventude, destinadas somente a adolescentes que tenham
praticado ato infracional

04. Em seu artigo 28, o ECA dispõe que a colocação em família substituta pode ocorrer mediante guarda, tutela
ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente. Uma determinação do Estatuto
que distingue esses três institutos de colocação em família substituta é:
A) a guarda pode ser revogada, mas a tutela e a adoção são irreversíveis
B) a adoção é irrevogável, podendo ocorrer revogação da guarda e destituição da tutela
C) a guarda não poderá ser revogada, ainda que a adoção e a tutela sejam anuladas
D) apenas a adoção admite revogação, para atender aos interesses da criança ou adolescente
E) apenas a tutela é irreversível, podendo ocorrer a revogação da adoção e da guarda

FGV - CONDER – Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia – Tipo 1 -FGV/2013

5 - O Estatuto da Criança e do Adolescente institui a política de atendimento a esses segmentos sociais por meio
da articulação de ações governamentais e não‐governamentais. As alternativas a seguir apresentam diretrizes
dessa política, à exceção de uma. Assinale‐a.

(A) Primazia da municipalização no atendimento social por meio de programas sociais.

(B) Criação de órgãos deliberativos e controladores das ações do governo e sociedade.

(C) Manutenção de fundos municipais, estaduais e nacionais sob o comando governamental.

(D) Integração dos órgãos do Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria e da Segurança Pública.
109
(E) Criação de programas específicos sob a orientação da descentralização das políticas.

Defensoria Pública do Estado do Mato Grosso/MT – FGV - 2015


6. A preparação psicossocial e jurídica dos postulantes à adoção é uma das novidades produzidas pela nova
legislação de adoção. Esta preparação deve ser orientada por uma equipe técnica da Justiça da Infância e da
Juventude, com o apoio técnico responsável pela execução da política municipal de garantia do direito à
convivência familiar.
Sobre o apoio dos técnicos responsáveis pela política pública de convivência familiar, assinale a afirmativa
CORRETA.
a. Ele é exclusivo e não deve ser articulado com a equipe da Justiça da Infância e Juventude.
b. Ele é preferencial e deve ser articulado com a equipe da Justiça da Infância e Juventude.
c. Ele é exclusivo e deve ser articulado com a equipe da Justiça da Infância e Juventude.
d. Ele é preferencial e não deve ser articulado com a equipe da Justiça da Infância e Juventude.
e. Ele é preferencial e deve ser articulado apenas com a equipe técnica da Justiça da Infância e Juventude.

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro/RJ – FGV - 2014


7. Quem pode adotar, segundo o ECA:
a. Todas as pessoas, desde que sejam casadas ou vivam em união estável
b. Todas as pessoas, desde que tenham mais de 21 anos e menos de 70 anos de idade, com mais de dez anos de
diferença de idade para com o adotado;
c. Somente os que estão inscritos no cadastro de interessados em adotar
d. Aqueles maiores de idade e com pelo menos dezesseis anos de diferença de idade para com o adotado,
independentemente do seu estado civil
e. Somente aqueles que já tenham exercido a guarda legal do adotando, demonstrando, portanto, aptidão para
cuidar da criança ou adolescente

Analista Judiciário/Comissário de Justiça, da Infância, da Juventude e do Idoso – 2014


Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro/RJ – FGV
8.Quanto à adoção, é CORRETO afirmar que:
a. O prenome do adotando não pode ser alterado
b. O registro original do adotado é mantido
c. É lavrado novo registro do adotando, devendo constar, nas suas certidões, para proteção de terceiros, que
houve uma adoção
d. Os patronímicos de seus pais biológicos são mantidos no novo registro
e. É lavrado novo registro, ficando proibida, nas suas certidões, a referência à adoção.

Analista Judiciário/Comissário de Justiça, da Infância, da Juventude e do Idoso – 2014

110
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro/RJ – FGV
9. Joana, de 26 anos de idade, vive em união estável com Eduardo, cinco anos mais velho do que ela, há seis
ano. Depois de vários anos tentando, sem sucesso, engravidar, decide juntamente com seu companheiro adotar.
Durante uma visita a um abrigo de menores, conhece Pedro, criança de 10 (dez) anos de idade. Apaixonados por
Pedro, que demonstra extremo apego ao casal, decidem, então, iniciar o procedimento de adoção. No curso do
processo de adoção, o casal se separa, mas mantém o propósito de prosseguir com a adoção conjunta.
Considerando os dados fornecidos pelo problema e à luz das disposições da Lei nº 8.069/90, é CORRETO
afirmar que:
a. O adotante deve contar com, no mínimo, 30 anos de idade, na data do pedido, devendo haver entre adotante e
adotado no mínimo, dezesseis anos de diferença.
b. Não se exige para adoção conjunta que os adotantes sejam casados civilmente ou que mantenham união
estável, bastando que se comprove ao menos um vínculo de amizade.
c. Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, desde que
obedecidos os requisitos legais
d. Na hipótese descrita acima é indispensável o consentimento do adotando; na forma do art. 45, §2º, da Lei nº
8.069/90
e. Uma vez iniciado o procedimento de adoção conjunta, ainda que o casal jamais tenha convivido com o menor,
a eventual separação, no curso do processo, não impede o acolhimento do pedido, desde que ratificado pelos
requerentes.

Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas/AM – FGV - 2013


10. Acerca das alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente, analise as afirmativas a seguir.
I. A adoção é tratada como medida excepcional à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de
manutenção da criança ou do adolescente na família natural ou extensa.
II. A prática da adoção é elevada ao patamar de política pública.
III. A nova legislação contribui para o aumento da chamada “adoção à brasileira”.
Assinale:
a. se somente a afirmativa I estiver correta.
b. se somente a afirmativa II estiver correta.
c. se somente a afirmativa III estiver correta.
d. se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
e. se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.

Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina/SC – TJSC - 2010


11. Em relação à adoção prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, é INCORRETO afirmar
a. Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões de registro
b. O adotante deve ser pelo menos 16 (dezesseis) anos mais velho do que o adotando
c. A morte do adotante extingue a adoção, restabelecendo o poder familiar dos pais naturais
111
d. Pode ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do
procedimento antes de prolatada a sentença.
e. Em se tratando de adotando maior de 12 (doze) anos de idade é necessário o seu consentimento

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais/MG – FUNDEP - 2010


12. No que concerne à família substituta, considerando os dispositivos na Lei n. 8.069/90, é INCORRETO
afirmar
a. Que os filhos havidos por adoção terão os mesmos direitos e qualificações, sendo vedada qualquer designação
discriminatória.
b. Que a colocação em família substituta residente no Brasil far-se-á mediante adoção, tutela ou guarda
c. Que para colocação em família substituta, é dispensável o consentimento do adolescente
d. Que a colocação em família estrangeira substitua somente será admitida na modalidade de adoção

Tribunal de Justiça de Santa Catarina/SC – TJSC - 2010


13. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, em caso de adoção por casal residente fora do país,
o estágio de convivência a ser cumprido no território nacional deve ser de:
a. No mínimo 45 (quarenta e cinco) dias.
b. No mínimo 60 (sessenta) dias.
c. No máximo 15 (quinze) dias
d. No máximo 20 (vinte) dias
e. No mínimo 30 (trinta) dias.

Ministério Público da União – CESPE - 2010


14. Julgue os itens que se seguem, a respeito das seguintes legislações sociais: Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), Estatuto do Idoso e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
a. A colocação de uma criança ou de um adolescente em família substituta deve ser feita mediante guarda, tutela
ou adoção, independentemente da situação jurídica do menor. Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção,
tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra
situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso,
evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais.

Defensoria Pública do Estado de São Paulo/SP – FCC - 2010


15. A Lei nº 12.010/2009 prevê que somente poderá ser deferida a adoção em favor de candidato domiciliado no
Brasil não cadastrado previamente nos termos da lei quando
I – Se tratar de pedido de adoção unilateral.
II – For formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha
vínculos de afinidade e afetividade.

112
III – Oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de três anos ou adolescente,
desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja
constatada a ocorrência de má-fé.
É CORRETO o que se afirma em
a. I, apenas.
b. I e II, apenas.
c. I e III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II e III.

Tribunal de Justiça de Santa Catarina/ 2015 - FGV

16 - Em um hospital, o Serviço Social é contatado pela equipe de enfermagem, que informa que a mãe de uma
das crianças internadas não comparece com a periodicidade necessária para as visitas, e muito menos
acompanha a criança durante a noite, o que seria seu direito. Uma assistente social então convoca a mãe da
criança para uma entrevista. Durante o atendimento, esta mãe informa que possui outro filho internado em outro
hospital, e que por ter que se dividir entre duas instituições para poder ficar perto dos filhos, acabou perdendo o
emprego. No momento, continua visitando ambas as crianças, mas priorizando o outro, cujo estado de saúde é
mais grave e inspira maiores cuidados, e que nem sempre comparece às visitas por falta de dinheiro para a
passagem. A assistente social então avisa à mãe da criança que fará uma denúncia junto ao Conselho Tutelar por
entender que a criança está sendo negligenciada e é seu dever pedir que ela, após a alta, seja encaminhada a um
abrigo ou a um lar substituto. Nesse caso, o encaminhamento adotado pela assistente social:

(A) representa a solução que a mãe da criança não estava conseguindo tomar, pois estava exausta e não
conseguia saber direito como proceder para atender aos seus dois filhos em uma situação de vulnerabilidade
social e esgotamento físico e emocional;

(B) vai ao encontro das Orientações Técnicas para os Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes e
ECA, cujas diretrizes e princípios, em primeiro lugar, buscam resguardar a integridade física e mental e os
interesses da criança e do adolescente;

(C) concorda com os princípios da legislação brasileira para Criança e Adolescente, pois a falta de recursos
materiais por si só não constitui motivo suficiente para que uma mãe deixe de visitar seu filho, incidindo em
prática de abandono e negligência a incapaz;

(D) corrobora os ditames neoliberais, notadamente aqueles emanados para o Brasil pelo Consenso de
Washington, que preconizam que os indivíduos devem ser responsabilizados por suas próprias escolhas, assim
como a mãe, nesta situação, está fazendo, ao optar por um dos filhos;

(E) vai de encontro ao preconizado no ECA e pelo CONANDA, pois a falta de recursos materiais por si só não
constitui motivo suficiente para afastar a criança ou o adolescente do convívio familiar ou encaminhá-los para
serviços de acolhimento.

17 - Cosme tem 13 anos e está cumprindo pela primeira vez uma medida socioeducativa. O adolescente,
apreendido pelo furto de alimentos em um supermercado, está cumprindo a medida de liberdade assistida. A
princípio, esta ação coaduna-se com a priorização das medidas em meio aberto, em detrimento das medidas
privativas ou restritivas de liberdade. No entanto, segundo a Defensoria Pública, a aplicação de tal medida foi
desproporcional ao ato cometido. Segundo o SINASE, compete ao município a elaboração do Plano Municipal

113
de Atendimento Socioeducativo, em conformidade com o Plano Nacional e o respectivo Plano Estadual. Ainda
segundo o SINASE, o referido Plano deve ser deliberado pelo:

(A) Centro de Referência Especializado de Assistência Social;

(B) Centro de Referência de Assistência Social;

(C) Conselho Tutelar;

(D) Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente;

(E) CONANDA.

18 -No que diz respeito ao afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar, um dos instrumentos
que irá subsidiar a decisão deste afastamento é o Estudo Diagnóstico, que deve, dentre outros, contemplar os
seguintes aspectos:

(A) grau de risco e desproteção ao qual a criança ou adolescente está exposto se não for afastado do ambiente
familiar; e história familiar e se há padrões transgeracionais de relacionamento com violação de direitos;

(B) se o afastamento do adulto envolvido na situação que está provocando a necessidade da retirada da criança
ou adolescente do convívio familiar resolverá a questão; e se esta criança ou adolescente é responsável pelo
cuidado de outro familiar;

(C) recursos financeiros disponíveis na família de origem; e permanência da criança ou do adolescente em local
o mais próximo possível de sua residência, a fim de manter amigos e escola;

(D) mapeamento da rede socioassistencial próxima à residência desta criança ou adolescente; e entrevista com a
direção da escola que esta criança ou adolescente frequentava a fim de saber se não provocou outras situações
difíceis;

(E) se a família depende desta criança ou adolescente para receber algum tipo de benefício socioassistencial; e
escutar os vizinhos sobre a ocorrência de maus tratos ou algum tipo de abuso.

19 De acordo com a Resolução nº 113 do CONANDA, os órgãos públicos e as organizações da sociedade civil
que integram o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente deverão exercer suas funções, em
rede, a partir dos seguintes eixos estratégicos de ação:

(A) implementação e efetivação de legislação específica de direitos humanos;

(B) promoção, distribuição e fiscalização das instituições de direitos humanos;

(C) estudo e diagnóstico de infrações aos direitos humanos básicos de crianças e adolescentes; (D) defesa,
promoção e controle da efetivação dos direitos humanos;

(E) seleção, treinamento e capacitação de pessoal para lidar com situações que envolvam os direitos humanos.

20 Em virtude dos megaeventos realizados no Brasil, como a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de
Futebol, houve, em algumas capitais brasileiras, operações de recolhimento e internação compulsória de pessoas
em situação de rua. Organizações ligadas à defesa dos direitos humanos, como os Centros de Defesa dos
Direitos das Crianças e dos Adolescentes, denunciaram que durante essas operações, adolescentes supostos
usuários de crack eram conduzidos até as delegacias especializadas de atendimento a crianças e adolescentes. Os
adolescentes eram encaminhados para identificação e verificação da existência de mandados de busca e
apreensão por descumprimento de medidas socioeducativas. Caso houvesse algum mandado expedido, o

114
adolescente era diretamente conduzido para o sistema socioeducativo. Essas ações foram apontadas como
higienistas e criminalizadoras da pobreza. A principal fundamentação jurídico-legal que demonstra a violação
de direitos dos adolescentes durante essas ações é:

(A) nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente;

(B) o adolescente civilmente identificado só será submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais,
de proteção e judiciais, com a presença do responsável legal, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida
fundada;

(C) antes da condução do adolescente, a autoridade policial, em virtude da suspeita de cometimento de ato
infracional, deve ter pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio
equivalente;

(D) nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão mediante denúncia fundamentada, ou por ordem da
autoridade judiciária competente;

(E) nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em função de sentença lavrada mediante a presença
do adolescente e de um juiz de direito.

21- O juiz da Vara da Infância e da Juventude sentenciou Fábio, 17 anos, autuado em flagrante de ato
infracional por assalto seguido de morte, a cumprir medida socioeducativa de internação. Depois de cumprir 2
meses da medida aplicada, Fábio fugiu, e só foi apreendido quando faltavam 3 meses para completar 21 anos de
idade. Conforme o que estabelece o ECA, a autoridade competente poderá:

(A) determinar que Fábio reinicie o cumprimento da medida socioeducativa até o prazo máximo de 3 anos;

(B) determinar que Fábio cumpra o restante da pena em instituição penitenciária, já que atingiu a maioridade
penal;

(C) liberar Fábio de cumprir o restante da medida socioeducativa, em razão de ele ter atingido a maioridade
penal;

(D) reavaliar a situação jurídica de Fábio, privando-o de benefícios externos, e liberá-lo tão logo complete 21
anos de idade;

(E) remeter o processo à Vara Criminal para novo julgamento, tendo em vista que Fábio já é maior de idade.

22- O Estatuto da Criança e do Adolescente completou 24 anos e, apesar de incluída entre as mais modernas
legislações do mundo, pouco alterou o quadro de abandono, privação e violência a que milhares de crianças e
adolescentes estão submetidos cotidianamente, como o demonstram os cerca de 40 mil abrigados, os quase 20
mil que cumprem medida socioeducativa de internação, os outros tantos que perambulam pelas ruas furtando ou
se prostituindo, e os muitos que sofrem maus-tratos dentro de suas casas. Na perspectiva da efetivação dos
direitos formalmente estabelecidos no ECA, considere as seguintes assertivas.

I - O ECA precisa ser reformado porque é uma legislação incompatível com o grau de maturidade política da
sociedade brasileira, e uma das mudanças necessárias é a redução da maioridade penal.

II - A falta de recursos orçamentários próprios e as precárias condições de funcionamento dos Conselhos


Tutelares, além do fato de o ECA estar atrelado a um paradigma obsoleto de política social comprometem sua
eficácia em importantes aspectos.

115
III - O excesso de permissividade, que estimula a transgressão juvenil, desmoraliza a Doutrina da Proteção
Integral na percepção da sociedade, fator importante para a perda de legitimidade de qualquer Lei, o que
consequentemente reduz seu potencial de eficácia. Está correto somente o que se afirma em:

(A) II; (B) III; (C) I e III; (D) II e III; (E) I e II.

GABARITO

1- A – 2.C – 3.E – 4.B – 5.E – 6. B – 7.d – 8.E – 9.C – 10.A – 11. C – 12. C – 13. E – 14. CORRETA –
15.E – 16.E – 17.A – 18. D – 19. D – 20.A – 21. D – 22.A

Família: Diversidade e Multiplicidade dos arranjos familiares

(Baseado em Szymanski, Heloisa. Viver em família como experiência de cuidado mútuo. In, Revista
Serviço Social e Sociedade, n.71, 2002).

Para iniciar nossa reflexão relativa à família e suas configurações atuais, tomamos as
palavras de Kaslow (2001:37, apud Szymanski, 2002) quando o autor cita nove tipos de
composição familiar que podem ser consideradas "família":

"1) família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos biológicos;

2) famílias extensas, incluindo três ou quatro gerações;

3) famílias adotivas temporárias (Foster);

4) famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou multiculturais;

5) casais;

6) famílias monoparentais, chefiadas por pai ou mãe;

7) casais homossexuais com ou sem crianças;

8) famílias reconstituídas depois do divórcio;

9) várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo".

Essa diversidade observada obriga a se mudar o foco da estrutura da família nuclear, como modelo
de organização familiar, para a consideração das novas questões referentes à convivência entre as pessoas
na família, sua relação com a comunidade mais próxima e com a sociedade mais ampla.

As mudanças na composição familiar, sua visibilidade e o aceite da sociedade (como, por


exemplo, a legalização da união entre homossexuais) exigem que se leve em conta o reflexo daquelas na
sociedade mais ampla, nas formas de se viver em família e nas relações interpessoais. O mesmo é válido
para as famílias nucleares, que também têm de assimilar o impacto dessas transformações. Para
compreendê-las e desenvolver projetos de atenção à família, o ponto de partida é o olhar para esse
agrupamento humano como um núcleo em torno do qual as pessoas se unem, primordialmente, por razões
afetivas, dentro de um projeto de vida em comum, em que compartilham um quotidiano, e, no decorrer das
trocas intersubjetivas, transmitem tradições, planejam seu futuro, acolhem-se, atendem os idosos, formam
crianças e adolescentes.

116
Famílias - existe um tema mais familiar?

( Baseado em Freitas, Rita de Cássia Santos; Braga, Cenira Duarte; Barras, Nívia Valença,
Famílias e Serviço Social - Algumas Reflexões para o Debate, In, Família e Famílias: Políticas
Sociais e Conversações Contemporâneas, 2010)

Falar sobre famílias - e a ênfase no plural é importante e faz toda a diferença - significa
pensá-las em suas relações tanto com a sociedade mais ampla onde se inserem quanto,
também, nas formas como estas se atualizam na vida diária das pessoas que lhe dão-
concretude. Por outro lado, não podemos esquecer que a família faz parte de nossa vida a
mais privada ("Sentamos juntos todo dia"!). Nós, assistentes sociais, temos nossas famílias (e
modelos) e trabalhamos com elas - em sua diversidade.

Temos clareza que pensar a família na sociedade contemporânea significa ter como
horizonte que vivemos num mundo cada vez mais globalizado, onde a reestruturação do
trabalho e a retração do Estado na área social são realidades com que temos de lidar.

As transformações demográficas constituem-se em outro fator indispensável para se


pensar família hoje. Temos uma família transformada em seus elementos, em suas ocupações,
nas formas de relacionamento que aparecem repetidamente nas análises mais "tradicionais"
como caracterizando a fragmentação, crise, ou até um suposto fim das realidades familiares.
Na verdade, trata-se de famílias no plural, porque encontramos, no dia a dia, uma
multiplicidade de tipos.

O mundo familiar mostra-se, na realidade "vivida", com uma variedade enorme de


formas, de organização, de crenças, valores e práticas.3 E importante lembrar aqui de um
pequeno texto de Maria de Lourdes Manzini-Couvre (1995) em que ela enfatiza que as
pessoas vão, pouco a pouco, "se fazendo". A autora inicia seu artigo citando Guimarães
Rosa; afiliai, é mesmo maravilhoso constatar que as pessoas ainda não foram terminadas,
que ainda estamos nos fazendo ("o mais importante e bonito no mundo é isto: que as pessoas
não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas"). E, utilizando Fernando Pessoa,
continua, afirmando que somos múltiplos, que não temos uma identidade única, definitiva ("ser
um é cadeia"), mas que somos compostos de vários "eus"; nem só o público nem só o
privado; nem apenas o trabalho nem a família. Este é um caminho que gostaríamos de trilhar
nesse nosso "bate-papo".

Assim, é localizando a família na complexidade da sociedade"moderna, tendo por


pressuposto sua pluralidade e a perspectiva de que os sujeitos sociais são sujeitos em
transformação, que iniciamos nosso texto. Nesse sentido, sem. negar a importância do fator
económico, enfatizamos também a dimensão do simbólico e do cultural como dimensões
importantes para discutirmos famílias. Por isso, é fundamental a atenção para a formação
histórica brasileira - a nossa história - para conhecer essa realidade.

Primeiro, é necessário definirmos o que podemos entender por este termo: família. O
que significa? O que a caracteriza? São as relações de parentesco, os laços sanguíneos que
a definem? Ou a proximidade física, a convivência entre as pessoas? A família constitui-se de
pai, mãe e filhos ou congrega avós, tios, padrinhos, primos que moram numa mesma casa?
Uma casa em que só moram mulheres não deve ser entendida como uma família em virtude
da ausência da figura masculina? E nos casos em que o pai mora sozinho com os filhos?

117
Aprendemos'que as relações de parentesco são resultado da combinação de três
relações básicas: a descendência entre pais e filhos; a consanguinidade entre irmãos; e a
afinidade a partir do casamento, sendo a família considerada como o grupo social por meio
do qual se realizam esses vínculos. Contudo, temos convivido com realidades diferenciadas
que conformam a constituição desse fenômeno (família) para além das relações de
parentesco. Pensar família hoje pressupõe seu entendimento enquanto um fenómeno que
abrange as mais diferentes realidades. O indivíduo está constantemente envolvido em redes
de significado (GEERTZ, 1997). A vida social é organizada a partir de modelos, de regras
culturalmente elaboradas; é a partir desses modelos, dessas regras que os indivíduos vivem
sua vida cotidianamente e se relacionam uns com os outros. Mas esses modelos não são
estáticos. Há muito tempo atrás Eunice Durham (1983), ao estudar famílias, já argumentava
que modelos são mutáveis. Por isso mesmo, a existência de inúmeras exce-ções não
significava (como não significa) necessariamente a contestação da regra; representava, isso
sim, sua "aplicação maleável" para permitir a solução dos problemas cotidiaiios.

Esse modelo de família que conhecemos tem uma história recente. Conforme Aries
(1981), no início do século XVIII, com o surgimento da escola, da preocupação com a
privacidade e igualdade entre os filhos, da manutenção das crianças junto aos pais e o
sentimento da família sendo valorizado pelas instituições sociais (como a igreja ou a
medicina), é que começou a se desenhar o perfil de família que hoje conhecemos e aprende-
mos a pensar como universal, sem atentar para a sua construção social. É importante
perceber que a constituição dessa família respondia às necessidades de um dado momento
histórico. A importância dada à criança e a constituição de um novo papel para a mulher,
dancio-lhe um certo poder, são as molas mestras para a construção desses novos sujeitos.

Essa é uma realidade moderna. O surgimento da família moderna é normalmente


associado à separação entre o mundo privado e público, sendo o privado (a intimidade) da
ordem dos sentimentos. Os trabalhos de Gilberto Freyre já retratavam, ao estudar a
sociedade brasileira, a crescente privatização da vida doméstica. Em Sobrados e Mocambos
(FREYRE, 2006), assistimos ao processo de recolhimento da família à casa; a separação
entre o mundo público e privado - a rua e a casa. As mudanças na família eram, então,
vistas como a transformação da família patriarcal extensa - uma família que correspondia ao
tipo de sociedade em que então vivíamos - e da qual teríamos "saudade", demonstrando,
ainda hoje, a força desse símbolo.

Afonso e Filgueiras (1995) já apontavam exatamente a existência de uma diversidade


de arranjos familiares existentes, bem como a centralidade da família na vida das crianças e
dos adolescentes. A partir da constatação dessa diversidade é que podemos escapar aos
perigos de uma naturalização da família, entendendo-a enquanto um "grupo social cujos
movimentos de organização-desorganização-reorganização mantêm estreita relação com o
contexto sócio-cultural" (Op. dl., 06). É importante enfatizar essa diversidade de respostas
possíveis, para podermos escapar a uma leitura dicotomizante e empobrecedora. É
fundamental sair da polaridade família estruturada X família desestruturada.

Definimos família enquanto um processo de articulação de diferentes trajetórias de


vida, onde se entrecruzam as relações de classe, género, etnia e geração. Além do lugar de
reprodução biológica — e também social e afetiva -, é "o lugar onde se entrecruzam as
relações sociais fundadas na diferença dos sexos e nas relações de filiação, de aliança e
coabitação" (LEFAUCHEUR, 1991, p. 479).

118
A diversidade talvez seja uma das principais características humanas, é sempre bom
ressaltar, principalmente para nós que trabalhamos constantemente com esse Outro, sempre
diverso e diferente. É exatamente essa noção do "outro" que constitui a base da vida social.
Esta só é possível se compartilhamos um mínimo de valores comuns. A vida em sociedade
demanda a construção de normas de convivência, de modelos de agir e pensar, de símbolos
onde nos reconheçamos. Mas esses "modelos" de convivência e relacionamento esbarraram
no dia a dia, na realidade concreta onde as pessoas vivem e sentem (e para os quais têm de
encontrar respostas e criar estratégias cotidianamente). Se hoje o modelo hegemónico é a
família nuclear, não podemos negar que o recurso às avós, aos parentes e aos vizinhos
continua sendo prática cotidiana, principalmente em nossas classes populares - fazendo
emergir de novo uma família extensa, ainda que as pessoas não convivam na mesma casa
(SARTI, 2003). E esta é uma realidade não apenas de nossas classes trabalhadoras. Alguns
textos clássicos (como o de Woortmann, 1987, ou o de Sarti, 2003 – recentemente

E interessante, por exemplo, recorrer ao livro de Lins de Barros (1987), que estuda avós de
classe média. Se a família moderna é representada por um núcleo constituído por pais e filhos; o
que esses avós mostram é que essa família está vinculada a um momento histórico preciso onde a
mulher não trabalhava fora ou não o fazia em tempo integral - o recurso às avós para o cuidado com
as crianças mostra a inviabilidade pelo menos total desse modelo, neste momento. Ver, nesse
sentido, também o interessante trabalho, que abrange o universo da classe média, de Tânia Salem
(2007), estudando o tema "casais grávidos". O fato é que a circulação de crianças ocorre em vários
segmentos de classe. Nas camadas médias, a circulação parece se dar mais entre os familiares do
que entre vizinhos, é verdade, mas está igualmente presente. A transferência dos cuidados
maternos para empregadas ou instituições, reeditado) mostram como as famílias pobres se
aglutinam em torno de um eixo moral onde as mulheres ocupam posição central. A família das
mulheres de que nos fala Woortmann - e que pode ser remetida à tradição das famílias de
santos - é uma realidade que nos acompanha e que não pode ser vista como "desviante", mas
sim como a construção possível das relações familiares construídas no cotidiano dessas
pessoas. Dessa forma, é fundamental desnaturalizar essas relações, tentando melhor
conhecer esse fenômeno tão familiar e tão diverso em nosso dia a dia.

A coletivização no cuidado das crianças vem caracterizar o que Cláudia Fonseca


(1990 e 2003) chama de "circulação de crianças" - um conceito que consideramos central
para o estudo das famílias brasileiras. Esse fenômeno pode ser entendido relacionado aos
rearranjos conjugais (com a realização de novas uniões, por exemplo), mas não só a esses.
Frente às grandes dificuldades económicas, a internação dos filhos em escolas particulares ou
a sua circulação entre amigos ou parentes aparece como uma alternativa importante em
vários segmentos de classe.

Segundo Sarti (2003), o cuidar dos filhos dos outros, muitas vezes, seus próprios
netos, faz com que se mantenham "acesos" os vínculos de sangue, junto aos de criação,
acuando ambos na definição dos laços de parentesco, o que vem atualizar um padrão de
incorporação de agregados que lembra aquela mesma família brasileira descrita por Freyre
(2005). Como o aborto moralmente é recusado, uma alternativa para essas mulheres é dar os
filhos para criar, o que rião é necessariamente uma expressão de desafeto. Não temos dúvida
em afirmar qxie o fenómeno da circulação de crianças é central para discutirmos a família
brasileira, pois faz parte de nossa "cultura familiar".

119
Famílias hoje: diversidades e continuidades

( Baseado em Freitas, Rita de Cássia Santos; Braga, Cenira Duarte; Barras, Nívia Valença,
Famílias e Serviço Social - Algumas Reflexões para o Debate, In, Família e Famílias: Políticas
Sociais e Conversações Contemporâneas, 2010)

Este é o estranho mundo novo em que vivemos. Assistimos - e convivemos - a


mudanças nos padrões de relacionamento entre homens e mulheres que rebatem nas
relações familiares. É comum encontrarmos na literatura - e também no senso comum -
referências ao fato de que a posição das mulheres se alterou profundamente, uma vez que
estão cada vez mais ocupando legitimamente os espaços públicos, trabalhando mais e
estudando mais - ainda que isso ainda não tenha trazido transformações mais amplas nas
relações de gênero, não se pode negar que muitas coisas mudaram. Mas é importante
enfatizar que dizer que as mulheres estão mais no mundo público não significa dizer que
algum dia elas tenham estado ausentes. Na verdade, as mulheres - especialmente as
mulheres pobres - sempre trabalharam. A ideia recente do trabalho como emancipação é uma
realidade das camadas médias.

Também a legislação sobre família mudou: o casamento não é mais o único


mecanismo de reconhecimento legal das relações familiares. Nossa Constituição prevê como
famílias a comunidade formada por qualquer um dos cônjuges e seus descendentes (artigo
226). O reconhecimento se dá pela união formada pelo casamento, a união estável entre um
homem e unia mulher, incluindo, ainda, a possibilidade da família monoparental - ainda está
ausente o reconhecimento das relações homoafetivas, mas acreditamos que estamos no
caminho desse reconhecimento. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também
define família como uma comunidade "formada pêlos pais ou qualquer deles e seus
descendentes".

Hoje, temos uma multiplicidade de tipos de organização familiar. O casal sem filhos é
uma delas, mas também as famílias chefiadas por mulheres. Temos famílias cada vez mais
extensas, nas quais irmãos casados dividem a mesma casa. Muitas vezes, dentro da mesma
casa, coabitam dois, três núcleos familiares. E até mesmo casais separados, mas sem
condição de manutenção sozinhos, permanecem debaixo do mesmo teto. Muitas famílias são
formadas a partir de segundas uniões (as chamadas "famílias recombinadas"), fazendo
habitar na mesma casa irmãos de pais diferentes; várias mães, vários pais - que família será
essa com oito pares de avós? O reconhecimento de casais compostos por pessoas do
mesmo sexo traz, igualmente, outro elemento revolucionador na definição das famílias
modernas.

Outra realidade que vem conquistando espaços é o crescimento do número de


famílias (embora ainda seja uma porcentagem bastante pequena) em que os homens se afir-
mam como único chefe, exercendo o que seria o papel materno e paterno. Principalmente entre
os pobres, mas também nas camadas médias, o recurso a avós, tias ou amigos se faz
absolutamente necessário, estabelecendo uma rede de apoio mútuo. O fato é que é impossível
pensar a família brasileira sem atentar para a importância do parentesco e da vizinhança na
vida dessas pessoas - uma realidade, diga-se de passagem, mais próxima das mulheres
(socialmente predispostas a atuar em rede) do que dos homens. No entanto, essas reflexões
vêm passando ao largo de nossa produção. O masculino na saúde, embora ainda de forma
incipiente, já está em discussão faz algum tempo. O masculino na assistência ainda é um
assunto não falado.

120
Trazer essa dimensão da realidade não quer dizer que não enxergamos a extrema
vulnerabilidade das famílias monoparentais femininas expressa na chamada feminização da
pobreza. Mas é importante lembrar que a associação famílias monoparentais femininas e
pobreza, ao invés de enfocar também o fato de que as mulheres estão construindo relações mais
independentes, terminam por reforçar apenas o estigma de que as mulheres são menos
capazes para cuidar de suas famílias e de suas vidas sem a existência de um homem. E como
relembra' Faller Vitale (2002), "enquanto houver a associação maciça entre monoparentalidade e
pobreza (...) acaba por fortalecer-se muito mais a adjetivação dessas famílias como vulneráveis
ou de risco do que como potencialmente autónomas" (Op. cit., p. 51).

É interessante um comentário em relação ao surgimento dos chamados Estados-


providência na Europa. Gisela Bock (1991) aponta como fundamental, na constituição
desses Estados na França, as reivindicações e os movimentos das mulheres. No pós-
guerra, assistimos ao incremento do welfare state e, para Nadine Lefaucheur (1991), este,
ao entrar no lar, empurrou a dona de casa para fora daquele. Isso ocorreu devido ao
processo de coletivização do trabalho de reprodução; exemplos disso seriam as creches
e lar para idosos e doentes, embora, é claro, os avanços e retrocessos das políticas
sociais mereçam um estudo mais aprofundado. Conforme afirma Lefaucheur, os
Estados de Bem-Estar permitiram às mulheres conhecer certa autonomia em relação aos
homens e à instituição conjugal. Esse tipo de Estado ajudou ainda na criação de
numerosos postos de trabalho, públicos ou privados. Onde os Estados-providência foram
mais fortes, foi maior a autonomização das mulheres e menor feminização da pobreza.

No processo de constituição de proteção social no Brasil, a realidade foi diferente.


Góis (s/d), afirma que o fato de que a reprodução dos pobres durante várias décadas da
história brasileira passou ao largo da intervenção estatal, pois sem a atenção dos mecanis-
mos públicos a população engendrava sua sobrevivência "no circuito das solidariedades
sociais comunitárias e familiares". Podemos ver também com o autor que, durante o Estado
Novo - ao se consolidar uma política social mais interventiva -, a família ocupou um papel
de destaque. A importância dessas reflexões é mostrar, de um lado, como ria construção da
proteção social brasileira as solidariedades grupais se tornaram um elemento fundamental
para a sobrevivência das famílias pobres (podemos pensar na circulação de crianças que já
estudamos aqui). De outro lado, temos também o fato de que a família foi e é tomada como
elemento de intervenção para as ações estatais. Se nos anos 30 essa interlocução foi
emblemática, as décadas seguintes não assistiram ao abandono dessas preocupações.
Mas foi recentemente que os programas de renda mínima recolocaram a família no centro
da discussão sobre proteção social. Tais iniciativas tomam a família como alvo prioritário e
como um "parceiro" preferencial para a sua implementação.

Tivemos programas como o Programa Bolsa-Escola e o PETI (Programa de


Erradicação do Trabalho Infantil) que, sendo direcionados para a infância carente, tinham
na família o alvo prioritário de suas investidas. O advento do Programa Bolsa Família (que
aglutinou diversos outros programas sociais) mantém na família seu foco de intervenção. O
Benefício da Prestação Continuada (BPC), que deveria ter o indivíduo (idoso ou portador de
necessidades especiais) coino alvo, termina tendo a família como parâmetro para sua
operacio-nalização, uma vez que o recebimento de tal benefício está condicionado à renda
de toda a família. Na área da saúde é que a família surge, mais que nunca, como elemento
fundante. Temos o PSF (Programa de Saúde da Família) e, em alguns municípios, como
em Niterói, o PMF (Programa Médico de Família). A família aparece, assim, como uma
dimensão fundamental para o estabelecimento e a implementação dessas políticas.
121
Essa assistência, mais próxima e preventiva, pode significar uma efetiva melhora
nas condições de vida da população atendida e tem gerado demandas entre os
profissionais pela humanização no atendimento. Por outro lado, persistem as denúncias
de falta de transparência, da continuidade de práticas clientelistas, de mau atendimento
etc. Na verdade, deve-se ter em mente a dialeticidade da realidade e ver, nesses
processos, formas de continuidade, mas também de rupturas com procedimentos e,
portanto, com a construção de novos protocolos de atendimento.

O que nos parece inquestionável, e a literatura não tem dúvida em afirmar, é a


continuação/consolidação hoje da família como uma instância fundamental na elaboração
das políticas sociais. A questão é quem, na família, arcará com os encargos decorrentes do
cuidar e da provisão e gestão do lar? Se as famílias estão sendo chamadas para uma
"parceria" com o Estado, é importante pensar que uma parceria pressupõe uma relação
de iguais e, nesse sentido, poderíamos nos perguntar: como se dá essa participação da
família, com que graus de autonomia? A centralidade da família trouxe como seu correlato
a centralidade da figura feminina como interlocutora dessas políticas.

A sobrevivência cotidiana das famílias pobres

(Baseado em Brant de Carvalho, Maria do Carmo, A priorização da família na agenda a


política social, In, A família contemporânea em debate, ____, 1995)

A crescente interdependência causada pela globalização da economia e os consequentes ajustes


econômicos ocorridos nos últimos dez anos em nosso país têm colocado a família brasileira em acelerado
processo de empobrecimento, alterando profundamente sua estrutura, seu sistema de relações, papéis e
formas de reprodução social.

Um crescimento baseado no aviltamento salarial, seguido de forte recessão e alto processo


inflacionário, a par da modernização tecnológica na produção, defasou enormemente os ganhos
familiares nas últimas décadas, lançando ainda no subemprego, ou desemprego, grandes contingentes de
chefes de família.

Os efeitos e desdobramentos de tantos e contínuos ajustes financeiros ainda se fazem sentir


enormemente. A população empobrecida não só tem aumentado, como também tem tido seus, ganhos
médios reduzidos.

Os Mapas da Fome e, mais recentemente, os Mapas da Criança, elaborados pelo Ipea em 1993,
registram 32 milhões de pessoas e 9 milhões de famílias com renda mensal que não lhes possibilitam
sequer a satisfação das necessidades básicas.

Sendo ainda uma pobreza desigual, distribuída por regiões ricas e pobres, assume perfis
diversificados, exigindo respostas também diversas. Nas áreas metropolitanas, a pobreza tem
características de apartheid social) Essa população pobre vive confinada em cortiços, favelas ou casas
precárias das periferias, excluída não apenas de bens e serviços, mas também do usufruto da própria
cidade.

Nas regiões mais carentes do país, a pobreza se generaliza, cristalizando uma situação de miséria
absoluta, distante de qualquer centro de recurso, como no Norte ou Nordeste rural.

122
Nesse contexto de pobreza generalizada, vai se gestando uma sociedade de consumo de massa pobre
e desigual, cujo impacto sobre a família e sobre as crianças c jovens ainda não foi avaliado
suficientemente.

A mulher tem tido um significativo papel no mundo do trabalho, e o adolescente ingressa cada vez
mais cedo no mercado, abandonando, preco-cemente, a escola para reforço da renda familiar.

O trabalho para a maioria dessas famílias resulta em ganhos insatisfatórios; é, em geral informal, sem
vínculo empregatício e descontínuo.

Estabelece-se, assim, nova divisão de trabalho, não só entre homens e mulheres, mas entre
adultos e jovens - o que altera as relações de poder intrafamiliares.

O grupo familiar maximiza as chances de garantir a sobrevivência dos membros que têm baixos
rendimentos, mesmo que em conjunto a renda per capita tenha seu valor reduzido.

O papel do chefe da família, função até então quase exclusivamente masculina, passa, em
grandes percentuais, às mulheres (Nordeste, 19,5%; Sudeste, 18,6% - censo de 1991).

Quando não são constituídas por mulheres sós e seus filhos, as famílias são frequentemente formadas
por unidades familiares múltiplas ou ampliadas por agregados. Nessas circunstâncias, o termo família acaba
designando agrupamentos sociais bastante diferentes entre si.

A família nuclear é praticamente subsumida pela família ampla, formada por conterrâneos. Se observamos
um cortiço ou uma favela em São Paulo, vemos que tais famílias se agrupam no espaço onde a rede de
conterrâneos e parentes vivem. A solidariedade conterrânea e parental é a condição primeira também no
meio urbano, na sobrevivência e existência das famílias em situação de pobreza e discriminação.
Podemos falar que vivem em comunidades cuja identidade é marcada pela carência, pela consaguinidade e
pela terra natal.

Esses aglomerados familiares respondem, portanto, a esquemas de mútua dependência dentro do


limite muito estreito da sobrevivência que lhes rege a vida. Há uma troca permanente de serviços, um
apoio de todas as horas e para todos os problemas.

No contexto de apartheid social, já mencionado anteriormente, essas famílias formam pequenas


comunidades que, na verdade, as guetificam, dado o grau de pobreza e exclusão.

A ausência de privacidade, a promiscuidade da co-habitação, são, de alguma forma, compensadas


pela cumplicidade da solidariedade.

No entanto, essa coletivização forçada, somada à fadiga e ao desgaste pelo trabalho, acumula-se
na monotonia do próprio viver, na rotina de um cotidiano sem novidades. Esse modo de viver da família
urbana empobrecida é extremamente estressante.

Não é que lhes faltem o forró, o sábado de festa, a pinga e o dominó. A fadiga e o desgaste se
acumulam na linearidade do próprio viver.

Trabalham em ocupações manuais, rotineiras, porque, em geral, não possuem qualificação


profissional. No lar, as mesmas atividades manuais se repetem (cozinha, limpeza, conserto de maquinados
e equipamentos da casa). Não há, no geral, "férias" ou cortes de cenários na rotina destas famílias.

E claro que, nesse contexto, o trânsito da submissão à rebelião se faça sem mediações: se faça
como explosões que machucam e violentam a si próprios e seus pares numa convivência, familiar e

123
comunitária, estressante. São explosões e revoltas também para fora, dirigidas aos dominantes (os
arrastões do Rio de Janeiro, os quebra-quebras de ônibus...), ou às instituições (as rebeliões nas Febens,
nas casas de detenção, etc.).

As condições do cotidiano, aqui descritas, querem fundamentar um novo olhar sobre os chamados
maus-tratos provocados em suas crianças.

Em geral, enfatizam-se os altos índices de maus-tratos produzidos pela família, culpando-a de tudo e
por tudo. Não se aprofunda sobre essa paisagem de violência e maus-tratos sofridos cotidianamente pela
família: a violência doméstica precisa ser melhor compreendida.

Diante desse quadro de pobreza aqui descrito, não se pode pensar apenas em uma política e um
programa de atenção à família. Tais políticas e programas não terão impacto, se não estiverem calçados
numa política de erradicação da pobreza.

As relações família e Estado

(Baseado em Mioto, Regina Célia Tamaso, Novas Propostas e Velhos Princípios: a assistência às
famílias no contexto de programas de orientação e apoio sociofamiliar, In, Política Social, Família e
Juventude: uma questão de direitos, 2008)

O surgimento do Estado, contemporâneo ao nascimento da família moderna como


espaço privado e lugar dos afetos, não significou apenas uma separação de esferas. Significou
também o estabelecimento de uma relação entre eles, até hoje conflituosa e contraditória.

De acordo com Saraceno (1996), a relação família e Estado é conflituosa desde o princípio,
por estar menos relacionada aos indivíduos e mais à disputa do controle sobre o comportamento
dos indivíduos. Por essa razão, ela tem sido lida de duas formas opostas. Como uma questão de
invasão progressiva e de controle do Estado sobre a vida familiar e individual, que tolhe a
legitimidade e desorganiza os sistemas de valores radicados no interior da família. Ou como uma
questão que tem permitido uma progressiva emancipação dos indivíduos. Pois, à medida que o
Estado intervém enquanto protetor, ele garante os direitos e faz oposição aos outros centros de
poderes tradicionais (familiares, religiosos e comunitários), movidos por hierarquias consolidadas e
uma solidariedade coativa.

A partir de então assistimos, ao longo do tempo, à interferência do Estado nas famílias


através de três grandes linhas. Da legislação através da qual se definem e regulam as relações
familiares, tais como idade mínima do casamento, obrigatoriedade escolar, deveres e
responsabilidades dos pais, rosição e direitos dos cônjuges. Das políticas demográficas, tanto na
forma _ie incentivo à natalidade como na forma de controle de natalidade. Da ,:i fusão de uma
cultura de especialistas nos aparatos policialescos e assis-:enciais do Estado destinados
especialmente às classes populares.

Nessa vertente se destacam os estudos clássicos como A polícia das famílias, de Donzelot
(1986). No Brasil, Ordem médica e norma familiar, de Jurandir Freire da Costa (1979). No campo
do Serviço Social, a discussão desse tema é realizada por Verdes-Leroux (1986) em seu livro
Trabalhador Social:prática, ethos, formas de intervenção, e também por Acosta (1998) e Vasconcelos
(2000), através da associação que estabelecem entre Serviço Social e higienismo.

O caráter paradoxal que marca a inter-relação Estado e família tem ~ amado cada dia
mais a atenção dos interessados na temática da família. Vuitos autores vêm afirmando que,

124
apesar do reconhecimento da centralidade da família no âmbito da vida social, têm existido uma
prática e uma sistemática de tal reconhecimento, havendo mesmo uma penalização da
família por parte daquelas instituições que deveriam promovê-la (Donati,1996; Barros,
1995).

Essa contradição pode ser observada através das legislações de muitos países, inclusive
do Brasil, que tem na sua Constituição a família como base da sociedade e com especial
proteção do Estado. Mas, o que se verifica de fato é uma pauperização e uma queda crescente
da qualidade de vida das famílias brasileiras, constatadas através de diferentes órgãos de
pesquisa.

Esse paradoxo, amplamente discutido hoje, tem sido tomado como estando também na
origem do Estado e da família burguesa. Não resolvido em muitos países, mesmo com a
estruturação do Estado de Bem-Estar Social, dentro do qual foi explicitado o reconhecimento da
responsabilidade coletiva no enfrentamento das “dependêcias” individuais e familiares. Isto é,
ninguém nuncaé totalmente auto-suficiente, e o bem-estar depende tanto de segurança em
relação ao futuro e aos eventos críticos da vida, quanto da possibilidade de contar com uma rede
de sustentação para garantir a reprodução cotidiana, social e biológica (Jelin, 1997).

A contraditória parceria entre Estado e família desenvolveu-se de diferentes formas nas


diferentes nações e, em muitas delas, a família, através da divisão das tarefas e
responsabilidades entre gênero e gerações, constituiu-se num dos grandes pilares do Estado de
Bem-Estar Social. Não por acaso que modelo de solidariedade familiar não é apenas praticado de
fato, mas trata-se de solidaridade obrigada por lei, conforme prevêem as legislações vigentes
sore convivência familiar. Em alguns países, a obrigatoriedade do cuidado se restringe a pais e
filhos e em outros é mais alargada, abrangendo também irmãos e avós que não dispõem de
meios de subsistência autônomos (Saraceno, 1997).

Dessa relação estabelecida, porém pouco tematizada, instaurou-se uma cultura


prevalentemente assistencialista no ambito das políticas e dos serviços destinados a dar
sustentabilidade à família como unidade. De acordo com Sgritta (1995), tais políticas estão
fundadas prioritariamente na premissa de que existem dois canais “naturais” para a satisfação
das necessidades dos cidadãos: o mercado (via trabalho) e a família. Somente quando falham
esses canais é que o Estado intervém, e de forma temporária. Assim, no pensamento do autor,
instauram-se as repúblicas fundadas na família, tendo questões como a maternidade e a infância
privatizadas cada vez mais. Privatizadas no sentido de que problemas dessa natureza perten cem
apenas à esfera do privado.

A persistência do paradoxo enunciado é atribuída à ideologia secular de que a família é


uma sociedade natural e sujeito económico de mercado. A ajuda pública deve acontecer sob
forma de compensação por falimento ou pobreza. Para Donati (1996), dentro de uma política de
bem-estar, essa ideologia pode ser traduzida como a garantia de um mínimo universal pelo
Estado.

Mais recentemente, tal paradoxo se agiganta com a crise do Estado de Bem-Estar, pois, de
um lado, se fala constantemente da família como recurso fundamental para a construção da
sociabilidade e preservação do tecido social. Por outro lado, pede-se à família o exercício de um
papel substitutivo em relação ao sistema de direitos sociais, cuja fruibilidade se torna cada vez
mais incerta (Bianco, 1995).

125
Pereira (1995), ao discutir as respostas políticas relacionadas às questões da família no
campo do bem-estar social no bojo da perspectiva pluralista tão em pauta nos dias atuais, distingue
duas concepções de pluralismo. Uma seria o pluralismo liberal centrado na ideia da transferência
de responsabilidades do Estado para a sociedade civil, através do processo descentralização
calcado na ótica da privatização. Essa concepção redunda em restrição ou destituição dos direitos
sociais conquistados e prevê a aplicação do modelo residual de políticas públicas.

A outra concepção, segundo a autora, seria o pluralismo coletivista. Est e prevê a


participação da sociedade, porém não descarta a presença do Estado na provisão social.
Trabalha com o modelo institucional de políticas públicas, assentado no princípio da
universalidade, e objetiva a manutenção e extensão de direitos. Estes em sintonia com as
demandas e necessidades particulares. Dessa forma, não sobrecarrega a família, já que as
políticas sociais funcionam como suporte para ela.

A família e o idoso

(Baseado em Genofre, Roberto. Família: uma leitura jurídica, In, A família contemporânea em debate, 1995)

Os idosos, dentro do contexto da família, representam uma categoria de pessoas marginalizadas


dentro e fora dela e, por isso, durante muito tempo também o foram nas Constituições brasileiras anteriores
à atual.

A Constituição de 1934 proclamou seu amparo somente à maternidade e à infância,


negligenciando os demais segmentos. A de 1946 acrescentou a proteção à adolescência, lembrando-se
da faixa dos 14 aos 18 anos; e a de 1967 adicionou a estes três o amparo à educação dos excepcionais,
esquecendo-se dos idosos.

Somente com o advento da Carta Maior de 1988, sob pressão dos grupos sociais, é que o tema
foi abordado numa rubrica sob o título "Da família, da criança, do adolescente e do idoso".

O artigo 229 dispõe que "os filhos maiores têm o dever de ajudar a amparar os pais na velhice,
carência e enfermidade", repetindo norma já consagrada nos artigos 396 e seguintes do Código Civil. Em
complementação, o artigo 230 da Constituição Federal determina: "A família, a sociedade e o Estado têm
o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua
dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida". Como se vê do dispositivo constitucional, a
família está em primeiro lugar na obrigação de amparo ao idoso.

No Brasil, infelizmente, a velhice sempre foi muito discriminada. Os idosos, na sua maioria, são
considerados inúteis, não sendo fácil a sua integração nem a participação nas diversas atividades da vida
comunitária; isto, apesar de trazerem consigo uma carga muito grande de experiência de vida,
sensibilidade e vivência social, elementos credenciadores a que se tornassem um pólo agregador e fator
de equilíbrio da família brasileira.

A criança e o adolescente na família

(Baseado em Genofre, Roberto. Família: uma leitura jurídica, In, A família contemporânea em debate, 1995)

126
Na constituição da família, o segmento mais vulnerável é o da criança e do adolescente, pois, é
neste ambiente que eles vivenciam o contato com a vida social. A Constituição Federal, no seu artigo 227,
determina que sejam a eles assegurados os direitos inerentes à cidadania, tais como o direito à vida,
saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade e
convivência familiar e social, em condições de liberdade e dignidade.

A proteção pressupõe um protetor e um protegido, posto que, necessariamente, o primeiro exerce


um poder, uma autoridade, em relação ao protegido, principalmente no que tange às decisões. Por
isso, a condição de liberdade, prevista no Estatuto, é, no dizer de Paolo Vecelone, presidente da
Associação Internacional dos Juizes de Menores,

Nossa consideração da composição familiar, portanto, estará subordinada à questão do modo dos
membros familiares serem uns com os outros em um mundo em transformação. Isto é, da maneira como
cuidam da rela uma liberdade sui generis, pois é muito contraditório dizer que um sujeito é titular do
direito à liberdade, mas não pode exercer este direito, pois se outro sujeito está encarregado de
escolher por ele, aquele sujeito não é livre.

Mas, mesmo assim, foi um grande passo dado. O anterior Código de Menores, bem como a
Política Nacional do Bem Estar do Menor, ambos ultrapassados, só abrangiam os menores em situação
‘irregular’, não normalizando sobre todas as crianças adolescentes, no aspecto de seus direitos e no
exercício de sua cidadania como pessoas em pleno desenvolvimento.

Cabendo à família a responsabilidade pela criação, educação, desenvolvimento e formação da


criança, este núcleo de adultos responsáveis representa a esperança no exercício de ações preventivas
necessárias, e a base do compromisso do país com seu futuro. Pena que as políticas sociais públicas não
estejam implementadas, efetivamente em todas as áreas, para suprir as deficiências da família,
principalmente na área da saúde, alimentação e educação, por motivo de inversão de prioridades ou por
falta de vontade política de nossos governantes, que olvidam a oportuna lembrança de François Remy,
presidente do Comité Francês para a Unicef, “deve-se assegurar às crianças e aos adolescentes não
somente a vida, mas também, a qualidade da vida”.

Esperamos que, no ano Internacional da Família, seja dada a atenção especial ao tema dos
seres em desenvolvimento no seio da família, e que a legislação, tanto a constitucional, como a
infraconstitucional representem um efetivo avanço, inserindo a criança como prioridade absoluta e a sua
proteção como um dever da família, da sociedade e do Estado.

O importante para a sociedade c que todos nós participemos deste processo de construção,
afirmando, com Herbert de Souza, o Betinho:

Enquanto houver uma criança ou adolescente sem as condições mínimas básicas de existência,
não teremos condições de nos encarar uns aos outros com a tranquilidade dos que estão em
paz com sim consciência. Vivemos hoje a situação do escândalo de negar condições de
humanidade àqueles que só podem existir com o nosso amor.

Ao final, não podemos deixar de demonstrar preocupação com a integração, no seio da


família, dos diversos pólos que a compõem: o pai, a mãe, a criança, o jovem, o idoso, etc. As políticas
públicas priorizam, de certa forma, o atendimento setorial aos segmentos minoritários (política de
atendimento à criança, ao idoso, etc.), não dando atenção especial à visão global da necessidade de
unir estes elementos ajuntados no conceito de família, vista como sinónimo de cooperação,
colaboração, aproximação e integração de seus membros. O objetivo maior da sociedade será

127
concretizar, na realidade, a proposta jurídica para a família, encontrada em nossa lei maior, a Consti-
tuição de 1988.

EXERCÍCIOS:

QUSTÃO 01 (Pref. Biguaçu – SC/FEPESE/2010) Conforme o art. 19 do Estatuto do Idoso, os


casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra o idoso serão obrigatoriamente
comunicados pelos pro- fissionais de saúde a quaisquer dos seguintes órgãos:

(A) Autoridade policial, Ministério Público, Conselho Municipal do Idoso, Conselho Estadual do Idoso,
Conselho Nacional do Idoso.

(B) Autoridade policial, Secretaria Estadual da Saúde, Conselho Municipal do Idoso, Conselho
Estadual do Idoso, Conselho Federal do Idoso.

(C) Secretaria Estadual da Saúde, Secretaria Municipal da Saúde, Conselho Municipal do Idoso,
Conselho Estadual do Idoso, Conselho Federal do Idoso.

(D) Secretaria Estadual da Saúde, Secretaria Municipal da Saúde, Conselho Nacional de Saúde,
Conselho Estadual do Idoso, Conselho Municipal do Idoso.

(E) Autoridade policial, Secretaria Estadual da Saúde, Secretaria Municipal da Saúde, Conselho
Estadual da Saúde, Conselho Municipal do Idoso.

QUESTÃO 02 (Pref. Biguaçu – SC/FEPESE/2010) Conforme a Lei 8.069 de 13/07/1990, Estatuto


da Criança e do Adolescente (ECA), entende-se por família natural:

(A) Uma instituição apenas de origem biológica.

(B) Uma verdadeira comunidade de afeto apenas.

(C) A comunidade formada pelos avós, pais ou quaisquer deles.

(D) A comunidade formada pelos avós, tios, pais e seus descendentes.

(E) A comunidade formada pelos pais ou quais- quer deles e seus descendentes.

QUESTÃO 03 (Pref. Biguaçu – SC/FEPESE/2010) Segundo a Lei 8.069, de 13/07 de 1990,


Estatuto da Criança e do Adolescente, sobre o direito à profissionalização e à proteção no
trabalho, é correto afirmar:

(A) É proibido qualquer trabalho a menores de dezoito anos de idade, salvo na condição de aprendiz,
a partir dos dezesseis anos.

(B) É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de
aprendiz, a partir dos quatorze anos.

(C) É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de
aprendiz, a partir dos quinze anos.

(D) É proibido qualquer trabalho a menores de dezessete anos de idade, salvo na condição de
aprendiz, a partir dos dezesseis anos.

(E) É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz, a partir dos treze anos.
128
QUESTÃO 04 (Pref. Biguaçu – SC/FEPESE/2010) O capítulo VI do Estatuto do Idoso dispõe
sobre a profissionalização e o trabalho do idoso. De acordo com o art. 28 do Estatuto do
Idoso, cabe ao Poder Público criar e estimular programas de:

1. Profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para


atividades regulares e remuneradas.

2. Preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por
meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os
direitos sociais e de cidadania.

3. Estímulo aos órgãos públicos para admissão de idosos ao trabalho com horário especial.

4. Estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.

Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.

(A) São corretas apenas as afirmativas 1 e 4.

(B) São corretas apenas as afirmativas 2 e 4.

(C) São corretas apenas as afirmativas 3 e 4.

(D) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3.

(E) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 4.

QUESTÃO 05 (Pref. de Bonito de Santa Fé do Sul – PB/2010) O Estatuto do Idoso (Lei 10.741,
de 01 de outubro de 2003) é considerado um significativo avanço na legislação social
brasileira e uma forma de garantir legalmente os direitos fundamentais da população idosa.

Quando os direitos são violados, podem ser aplicadas medidas específicas de proteção. Em relação
a essas medidas, identifique as afirmativas como verdadeiras (V) ou falsas (F).

( ) Serão aplicadas isoladamente, não podendo ser cumulativas ou substituídas a qualquer tempo.

( ) Pode-se requerer a inclusão do idoso ou da pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação
em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento de dependência química.

( ) A autoridade competente poderá determinar, entre outras medidas, a colocação em abrigos ou


entidades assistenciais.

( ) São aplicáveis, dentre outras razões, por ação ou omissão da sociedade ou do Estado.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA.

(A) F – F – V – F.

(B) F – V– V– F.

(C) F – V– V– V.

(D) V– V – V– F.

(E) V– V – V– V.

129
QUESTÃO 06 (Pref. de Bonito de Santa Fé do Sul – PB/EDUCA/2010) Assinale a alternativa
CORRETA.

Os cuidados sociais às famílias e segmentos sociais vulneráveis prevêem propostas e ações em


vários níveis que estejam em contínua comunicação, para que possam ser atendidas as reais
demandas dessa população. Diante disso, pode-se dizer que o trabalho do Assistente Social, nessa
área, integra-se nos seguintes níveis:

(A) Proposição e avaliação dos serviços assistenciais; articulação dos recursos e avaliação das
várias situações.

(B) Proposição; articulação e avaliação de políticas sociais; organização e articulação de serviços e


intervenção em situações familiares.

(C) Investigação; diagnóstico e intervenção nos assuntos pessoais.

(D) Proposição; articulação e intervenção no sistema

(E) Todas são corretas.

QUESTÃO 07 (Pref. Munic.Teresina/PI/COPESE/2010) Conforme estabelecem a Constituição


Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, na área da infância e da
juventude, a responsabilidade para dispor sobre a formulação da política de atendimento ao
adolescente é compartilhada entre sociedade civil e Poder Executivo.

Os órgãos que detêm poder deliberativo sobre tal política são:

(A) Órgãos gestores municipais e Conselhos setoriais de políticas públicas.

(B) Conselho de Assistência Social e o Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente.

(C) Secretarias dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho dos Direitos da Criança e
do Adolescente.

(D) Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente.

(E) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, juntamente com o Fundo para a
Infância e para a Adolescência.

QUESTÃO 08 (Pref. Aracaju/SE/MOVENS/2010) Um assistente social atua em uma área urbana


caracterizada por baixo nível de rendimento socioeconômico de seus moradores. Na
instituição onde trabalha, o profissional é procurado pela mãe de três crianças e um
adolescente, todos em idade escolar. A família está passando por sérias dificuldades
financeiras, devido ao fato de a genitora, única provedora econômica da família, estar
desempregada.

Durante o atendimento, foram solicitadas informações sobre um possível encaminhamento ao


Programa Bolsa Família.

Considerando essa situação hipotética no que se refere aos benefícios do Programa Bolsa
Família, assinale a opção correta.

(A) O benefício geral é destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de relativa
pobreza.

130
(B) O benefício regular, vinculado ao adolescente, é destinado a unidades familiares que se
encontrem em situação de pobreza relativa e que tenham em sua composição adolescentes com
idade entre 14 e 16 anos.

(C) O benefício específico é destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de


pobreza ocasional e que tenham em sua composição crianças entre 0 e 5 anos de idade ou
adolescentes até 13 anos de idade.

(D) O benefício variável é destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de pobreza
e extrema pobreza e que tenham em sua composição gestantes, nutrizes, crianças entre 0 e 12 anos
de idade ou adolescentes até 15 anos de idade.

QUESTÃO 09 (Pref. Aracaju/SE/MOVENS/2010) Em uma instituição voltada para atendimento a


famílias e indivíduos em situação de direitos violados, a implementação de um projeto está
sendo discutida em uma oficina de trabalho, com a participação da equipe multiprofissional
que atuará nesse projeto. Tal equipe será formada por assistentes sociais, pedagogos e
psicólogos, e um dos objetivos da oficina é a discussão dos papéis e atribuições
profissionais que deverão ser desenvolvidos por cada um no referido projeto. Durante a
atividade, um assistente social realizou um esclarecimento sobre as suas atribuições
privativas.

Nessa situação, é correto afirmar que, de acordo com a Lei n.º 8.662/1993, que regulamenta a
profissão de assistente social, uma das atribuições privativas do assistente social é

(A) encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e população.

(B) realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto
a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades.

(C) coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e
projetos na área de Serviço Social.

(D) planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e
para subsidiar ações profissionais.

QUESTÃO 10 (Pref. Aracaju/SE/MOVENS/2010) Quando o assistente social confronta-se com


problemas, certamente perguntará: a quem meus cuidados devem ser dirigidos? À criança
que trabalha ou aos pais exploradores e violentos? Ao marido alcoolista que bate na mulher,
ou à mulher deprimida, ou aos meninos na rua que têm comportamento violento? Ao jovem
autor de atos infracionais ou que tentou suicídio ou a seus pais deprimidos e fracassados?
Enfim, aos processos autodestrutivos (alcoolismo, dependência química, violência e outros)
ou aos processos de exclusão social que envolvem a (des)territorialização e o desemprego?

Tais questões, que fazem parte do cotidiano dos assistentes sociais, evidenciam pontos importantes
para a direção dos cuidados com famílias e populações vulneráveis.

R. C. Mioto. Cuidados sociais dirigidos à família e segmentos vulneráveis. Capacitação em Serviço


Social e Política Social.

In: Programa de Capacitação Continuada para Assistentes Sociais.

Módulo 4. Brasília: CFESS/ABEPSS/CEAD-UnB, 1999 (com adaptações).

131
Acerca dos tópicos abordados no texto acima que se relacionam à intervenção junto à família,
assinale a opção correta.

(A) As ações de cuidado às famílias vulneráveis devem ser necessariamente setorizadas e pontuais.

(B) A noção de cuidados dirigidos às famílias não exclui cuidados dirigidos a seus membros na
condição de indivíduos.

(C) Na família, existem, por exemplo, o desemprego, a doença e o abandonado apenas como
categorias abstratas ou possíveis.

(D) A condição ou situação de vulnerabilidade que ocorre dentro das famílias de forma alguma pode
estar associada a hierarquias culturalmente consolidadas.

QUESTÃO 11 (Pref. Aracaju/SE/MOVENS/2010) Uma senhora de 66 anos de idade, portadora de


deficiência física, procurou o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) para atendimento.
Ela apresentava muitas demandas, entre as quais a solicitação de encaminhamento para o Benefício
de Prestação Continuada (BPC). Alegou que sua vizinha recebe o benefício e que este, no valor de
um salário mínimo, em muito contribuiria para as despesas da casa. Ela tem três filhos, todos
menores de idade, trabalha há dois anos em uma empresa terceirizada que presta serviços de
limpeza e possui carteira assinada. Seu rendimento mensal é de um salário mínimo e meio, sendo
grande parte utilizada para pagamento de aluguel.

Com base na situação apresentada acima no que se refere à conduta adequada do


profissional assistente social, assinale a opção correta.

(A) O profissional não poderá fazer o encaminhamento solicitado pela usuária, pois, para efeito de
concessão do benefício, a pessoa portadora de deficiência é aquela incapacitada para a vida
independente e para o trabalho.

(B) O profissional poderá encaminhar a usuária, já que ela é portadora de deficiência física.

(C) O profissional não poderá fazer o encaminhamento solicitado pela usuária, pois, para efeito de
concessão do benefício, a pessoa portadora de deficiência poderá receber até um salário mínimo
mensal.

(D) O profissional poderá encaminhar a usuária, já que ela preenche todos os requisitos para a
concessão do benefício, é portadora de deficiência física e tem idade acima de 65 anos.

QUESTÃO 12 (Pref. Aracaju/SE/MOVENS/2010) A estruturação de um plano nacional destinado


à promoção, à proteção e à defesa do direito de crianças e adolescentes à convivência
familiar e comunitária reflete a clara decisão do governo federal de dar prioridade a essa
temática, com vistas à formulação e à implementação de políticas públicas que assegurem a
garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, de forma integrada e articulada com os
demais programas de governo.

Considerando essas informações, assinale a opção que apresenta uma das diretrizes do Plano
Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência
Familiar e Comunitária.

(A) Centralidade do indivíduo nas políticas públicas.

132
(B) Tutela da criança, do adolescente e do jovem adulto, diante de sua impossibilidade quanto à
elaboração de seu projeto de vida.

(C) Reconhecimento das competências da família na sua organização interna e na superação de


suas dificuldades.

(D) Relativa responsabilidade do Estado no fomento de políticas integradas de apoio à família.

QUESTÃO 13 (Pref. Aracaju/SE/MOVENS/2010) A família, independentemente dos formatos ou


modelos que assume, é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade,
delimitando, continuamente, os deslocamentos entre o público e o privado, bem como é
geradora de modalidades comunitárias de vida.

É preponderante retomar que as novas feições da família estão intrínseca e dialeticamente


condicionadas às transformações societárias contemporâneas, ou seja, às transformações
econômicas e sociais, de hábitos e costumes e ao avanço da ciência e da tecnologia.

Política Nacional de Assistência Social – PNAS (com adaptações).

Considerando o tema abordado no texto acima, assinale a opção correta no que se refere aos
aspectos associados à intervenção junto à família.

(A) Somente pode-se dizer que estamos diante de uma família quando encontramos um conjunto de
pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos.

(B) As três dimensões clássicas de definição de família (sexualidade, procriação e convivência)


possuem o mesmo grau de imbricamento que se acreditava possuir outrora.

(C) Na sociedade capitalista brasileira, a família não é fundamental no âmbito da proteção social.

(D) Não se pode desconsiderar que a família se caracteriza como um espaço contraditório, cuja
dinâmica cotidiana de convivência é marcada por conflitos e, geralmente, também por
desigualdades.

QUESTÃO 14 (FIDESA/MS/Int. Evandro Vargas/2010) Estudos sobre família brasileira, na


década de 80, revelam mudanças ocorridas na sua configuração. Estas mudanças têm sido
compreendidas como decorrentes de uma multiplicidade de aspectos, dentre os quais se
destacam,

1. a transformação e liberação dos hábitos e dos costumes, especialmente relacionados à


sexualidade e à nova posição da mulher na sociedade.

2. a redução significativa das famílias recompostas e das famílias monoparentais.

3. o desenvolvimento técnico-científico, que proporcionou, entre tantas invenções, os


anticoncepcionais e o avanço dos meios de comunicação de massa.

4. o modelo de desenvolvimento econômico pelo Estado brasileiro, que teve como consequência o
empobrecimento acelerado das famílias na década de 80, a migração exarcebada do campo para a
cidade e um contingente muito grande de mulheres, crianças e adolescentes no mercado de
trabalho.

O correto está em:

133
A) 1, 2 e 3, apenas.

B) 1, 2, 3 e 4.

C) 1, 3 e 4, apenas.

D) 2 e 4, apenas.

QUESTÃO 15 (FIDESA/MS/Int. Evandro Vargas/2010) A família brasileira hoje apresenta


mudanças significativas em todos os segmentos da população, mudanças essas decorrentes
do processo de modernização da sociedade na segunda metade do século XX. Tal processo
gerou um novo padrão demográfico na realidade brasileira. A família dos anos 90 tem uma
configuração marcada pelas seguintes características populacionais.

1. Aumento da concepção em idade precoce. Isto implica o aumento da gravidez entre adolescentes.

2. Aumento das famílias recompostas. Este fato é consequência do aumento de separações e dos
divórcios

nos últimos anos.

3. Aumento acentuado da taxa de fecundidade das mulheres brasileira.

4. Aumento significativo das famílias monoparentais, com predominância das mulheres como chefes
de casa.

O correto está em:

A) 1 e 4, apenas.

B) 2, 3 e 4, apenas.

C) 1, 2, 3 e 4.

D) 1, 2 e 4, apenas.

QUESTÃO 16 (FIDESA/MS/Int. Evandro Vargas/2010) “A idéia de família formal, cujo


comprometimento mútuo decorre do casamento, vem cedendo lugar à certeza de que é o
envolvimento afetivo que garante um espaço de individualidade e assegura uma auréola de
privacidade indispensável ao pleno desenvolvimento do ser humano. Cada vez mais se
reconhece que é no âmbito das relações afetivas que se estrutura a personalidade da pessoa.
É a afetividade, e não a vontade, o elemento constitutivo dos vínculos interpessoais: o afeto
entre as pessoas organiza e orienta o seu desenvolvimento. A busca da felicidade, a
supremacia do amor, a vitória da solidariedade ensejam o reconhecimento do afeto como
único modo eficaz de definição da família e de preservação da vida. Esse, dos novos vértices
sociais, é o mais inovador. Surgiu um novo nome para essa nova tendência de identificar a
família pelo seu envolvimento afetivo: família endomonista, que busca a felicidade individual
vivendo um processo de emancipação de seus membros.”

(DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2007, p.52).

A partir da leitura do texto acima, é correto afirmar que a família endomonista é aquela que

134
1. identifica-se pela comunhão de vida, de amor e de afeto no plano da igualdade, da liberdade, da
solidariedade e da responsabilidade recíproca.

2. resultam da pluralidade das relações parentais, especialmente fomentadas pelo divórcio, pela
separação e pelo re-casamento.

3. as relações são muito mais de igualdade e de respeito mútuo, e o traço fundamental é a lealdade.

4. a especificidade decorre da peculiar organização do núcleo, reconstruído por casais onde um ou


ambos são egressos de casamentos ou uniões anteriores.

O correto está em:

A) 2 e 4, apenas.

B) 1 e 3, apenas.

C) 1, 2 e 3, apenas.

D) 1, 2, 3 e 4.

QUESTÃO 17 (FIDESA/MS/Int. Evandro Vargas/2010) A perspectiva de gênero nas políticas


sociais, para além de definir a mulher como público prioritário, significa considerar com
destaque o (a):

A) distinção entre o âmbito doméstico e o mundo do trabalho onde a mulher está inserida em várias
jornadas.

B) realidade da mulher e a sua condição de desigualdade.

C) valor da cultura feminina como potencializadora de um mundo sem violência e exploração.

D) perspectiva da subjetividade da mulher.

GABARITO COMPLETO

Q 01 - A

Q 02 - E

Q 03 - B

Q 04 - E

Q 05 - C

Q 06 - D

Q 07 - D

Q 08 - D

Q 09 - C

Q 10 - B

Q 11 - A
135
Q 12 - C

Q 13 - D

Q 14 - C

Q 15 - D

Q 16 - D

Q 17 - C

Reestruturação produtiva, processos de trabalho e serviço social.


Metamorfoses e Centralidade do Mundo do Trabalho.
1 - A nova fábrica de consensos. Ensaios sobre a reestruturação empresarial, o trabalho e as demandas
ao serviço social

2.1- Reestruturação do capital, fragmentação do trabalho e Serviço Social

(Ana Elizabete Mota e Angela Santana do Amaral)

A hipótese do texto é de que a atual recomposição do ciclo de reprodução do capital, ao determinar um


conjunto de mudanças na organização da produção material e nas modalidades de gestão e consumo da força de
trabalho, provoca impactos nas práticas sociaisque intervêm no processo de reprodução material e espiritual da
força de trabalho, onde se inclui a experiência profissional dos assistentes sociais.

Os desafios ao Serviço Social são as novas modalidades de produção e reprodução social da força de
trabalho. Estas passam a exigir a refuncionalização de procedimentos operacionais, também determinando um
rearranjo de competências técnicas e políticas que, no contexto da divisão social e técnica do trabalho, assumem
o estatuto de demandas à profissão.

Este processo desenvolve-se em dois planos: um visível e imediato, relacionado às alterações no


mercado de trabalho e nas condições de trabalho do profissional. O outro, mais amplo e complexo, refere-se
tanto ao surgimento de novas problemáticas que podem ser mobilizadoras de competências profissionais
estratégicas, como à elaboração de proposições teóricas, políticas, éticas e técnicas que se apresentem como
respostas qualificadas ao enfrentamento das questões postas.

Assim, a principal tarefa posta ao Serviço Social, na atual conjuntura, é de identificar o conjunto das
necessidades quer do capital, quer do trabalho que estão subjacentes às exigências de sua refuncionalização.

Vale lembrar que, em uma conjuntura de crise, a reestruturação da produção e a reorganização dos
mercados são iniciativas inerentes ao estabelecimento de um novo equilíbrio, que tem como exigência básica a
reorganização do papel das forças produtivas na recomposição do ciclo de reprodução do capital, afetando tanto
a esfera da produção quanto as relações sociais.

Este movimento determina:


136
 A reestruturação dos capitais, com as fusões patrimoniais, a íntima relação entre o capital
industrial e financeiro e as novas composições da força de trabalho internacional;
 A exigência de reordenamento das fases do processo de produção e realização da mais-valia do
trabalhador coletivo;
 Aumento das taxas de lucro via crescimento da produtividade do trabalho, intermediada pelo
uso de novas tecnologias e de novas formas de consumo da força de trabalho;
 Reorganização incidindo em mudanças no mercado consumidor;
 Novas formas de concorrência entre firmas, com base na seletividade dos mercados e no
marketing da qualidade dos produtos;
 Novas modalidades de controle do capital sobre o trabalho;
 Implementação de mecanismos de adesão e consentimento dos trabalhadores às mudanças;
 Reforma intelectual e moral, visando à construção de outra cultura do trabalho e de uma nova
racionalidade política e ética compatível com a sociabilidade requerida pelo atual projeto do
capital.
 Socialização de valores políticos, sociais e éticos e a produção de padrões de comportamento
compatíveis com as necessidades de mudança na esfera da produção e na da reprodução social.
 Produção de consentimento de classe, para empreender mudanças, transformam-se nos novos
baluartes da ação das classes dominantes.
 Para a burguesia, isso se materializa na defesa de um pensamento único, que invoca a
modernidade das mudanças e a irreversibilidade dos processos de ajustes, amparados no
neoliberalismo, no pragmatismo econômico e no progresso técnico como motor da
reestruturação produtiva.
 Para os trabalhadores, além dos impactos objetivos da crise, especialmente em função do
desemprego, da precarização do trabalho, dos salários e dos sistemas de proteção social,
observa-se a construção de outras formas de sociabilidade marcadas por iniciativas pragmáticas
de enfrentamento da crise.
 No âmbito das relações na produção o processo de reestruturação produtivas em curso
materializa-se sob a forma de tecnologias de automação programável, associadas a um
complexo conjunto de inovações organizacionais, envolvendo desde os modelos participativos
de organização do trabalho até os novos métodos de controle do fluxo de informações
produtivas, como o jus-in-time e o princípio da auto-ativação, entre outros.
 A marca da reestruturação produtiva no Brasil é a redução de postos de trabalho, desemprego
dos trabalhadores do núcleo organizado da economia e a sua transformação em trabalhadores
por conta própria, sem carteira assinada, desempregados abertos, ocultos por trabalho precário,
desalento etc.
 No âmbito das políticas de proteção social, postula-se que as organizações particulares, sob o
livre controle dos indivíduos, substituam a ação do Estado; esfera das condições de produção,
que a livre negociação substitua a regulação legal dos contratos de trabalho.

2.2- A “cultura da qualidade nos anos 90: a flexibilização do trabalho na indústria petroquímica da Bahia

(Graça Druck)

Assim como o fordismo o modelo japonês também assume formas nacionais. No Brasil as práticas
japonesas de gestão do trabalho têm, em comum com outros países do mundo a heterogeneidade setorial e
regional, bem como a sua difusão de forma gradual.

137
No caso brasileiro, é possível periodizar a implementação do modelo japonês. A primeira fase ocorre na
passagem dos anos 70 aos 80 e tem, na prática do CCQ (Círculo de Controle de Qualidade), a forma mais
difundida do modelo. Esta prática surge como resposta a uma situação econômica recessiva, principalmente no
início da década de 80, ao mesmo tempo em que é uma estratégia empresarial de resposta à mobilização
operária intra e extrafabril, por maior participação e democracia.

Os CCQ´s não foram adiante pela oposição dos sindicatos, e também pelas resistências no âmbito das
próprias empresas, por parte da alta gerência e dos supervisores, que não conseguiam romper uma cultura de
gestão muito centralizadora e autoritária.

Ainda nos anos 80 começa a doção de novas tecnologias de automação. É a vez do just-in-time, dos
Programas de Qualidade Total e do Controle Estatístico de Processo.

O terceiro e mais recente período de propagação do modelo japonês inicia-se nos anos 90, inaugurando
a década da qualidade. Para todos os setores produtivos de bens e serviços há uma verdadeira campanha para
que as culturas gerenciais sejam substituídas por uma cultura da qualidade.

Dois condicionantes são apontados como determinantes desta nova cultura da qualidade:

1- Abertura da economia, com a redução de alíquotas de importação, quem vem exigindo mudanças
organizacionais para enfrentar a competividade e,
2- A política recessiva colocada em prática pelo governo no início desta década, a fim de combater o
processo crônico de inflação no país.

Problematizando alguns pontos sobre o modelo japonês:

 Constata-se que existe um certo consenso, quando da análise dos principais motivos
impulsionadores das mudanças nos padrões de gestão/organização dos trabalhos nos anos 90
sobre: a) a necessidade de responder às novas bases de competitividade, determinada pelo
reordenamento do mercado internacional, exigência de redução de custos e maior produtividade
e qualidade na produção. B) no plano nacional, o esforço para sobreviver à crise e à situação de
instabilidade econômica, determinadas, essencialmente por um processo inflacionário crônico.
 Implantação do modelo japonês se dá por pressão da concorrência, das novas bases de
competitividade.
 As políticas de gestão baseadas na Qualidade Total e na terceirização procuraram, sem nenhuma
duvida, romper com este quadro, desestruturando os coletivos de trabalho, estimulando a
concorrência entre trabalhadores, ao mesmo tempo que buscaram o envolvimento e a
cooperação dos empregados. Foi um combate contra os sindicatos e a organização nos locais de
trabalho.
 Estrutura verticalizada e rígida da indústria e a existência de uma forte cultura
empresarial/gerencial autoritária.
 Houve convivência do novo paradigma com velhas práticas de gestão no trabalho, constituindo
sistemas mistos até mesmo no interior de uma mesma empresa.
 A busca pela flexibilidade da produção e do trabalho tem levado a um processo crescente de
descentralização das empresas, através da externalização das atividades (contratos de trabalho
domiciliar, empresas fornecedoras de componentes, terceirização, etc.)
 Nos anos 90 os programas de Qualidade Total contam com um processo de desintegração da
força de trabalho, dispersão dos trabalhadores, enfraquecimento das identidades sociais,
precarização do emprego, do trabalho e da vida.

138
 Há tendência dos trabalhadores procurarem mostrar serviço e dedicação para garantir a sua
permanência na empresa – é a cooperação forçada obtida sob a ameaça de serem demitidos ou
terceirizados.
A reestruturação produtiva em curso no mundo e no país, em um contexto de crescente globalização da
economia e da sociedade em geral, ocorre através de um movimento do capital e de escolhas do empresariado
que, para manter a sua reprodução, nas condições históricas atuais, precisa destruir radicalmente a resistência
operária e sindical, através do desmantelamento, da desintegração, da individualização dos coletivos de
trabalhadores, buscando reduzir e limitar, ao mínimo necessário, a socialização do trabalho e a construção de
sujeitos coletivos.

Este processo, por sua vez, tem implicado uma crescente precarização do trabalho, do emprego, das
condições de vida e da saúde dos trabalhadores e suas formas de luta e organização.

A política de gerenciamento da qualidade propõem mudanças de postura de todos os empregados em


todos os escalões. Buscam-se transformações na cultura empresarial e nas culturas do trabalho. E, por isso, é
necessário: assumir um espirito de equipe, considerando a empresa como local de cooperação; constituir
parcerias interfuncionais; estabelecer metas e objetivos, criando um sistema de medição e avaliação;
participação e envolvimento de todos para a busca de soluções; reconhecimento formal através de prêmios e
informal através da valorização/motivação para os que participam apresentando propostas e sugestões para
maior eficiência e excelência.

Uma das principais formas de atuação e pressão dos sindicatos frente à terceirização e à Qualidade Total
tem sido a denúncia sistemática do processo de deteriorização das condições de trabalho, de salário e de vida
dos trabalhadores.

2.3- Velhas moedas com novo valor: remuneração e benefícios na moderna empresa capitalista

(Isabel C Cardoso e Elaine Marlova V Francisco)

O ângulo sobre o qual incidem as nossas analises, dirige o olhar do leitor para as políticas de
gerenciamento da força de trabalho e, de uma forma mais precisa, para o campo dos sistemas de remuneração e
serviços sociais destinados à força de trabalho industrial. O elemento condutor que entrelaça as análises ora
apresentadas é a política de Qualidade Total, suas exigências e estratégias.

O chamado processo de reestruturação produtiva é propulsor de novas e antigas relações e práticas de


trabalho.

A reestruturação produtiva é definida como um processo que articula visceralmente as instâncias e


relações políticas do Estado e da sociedade com o mundo da produção de bens e serviços, e com as práticas
sociais e culturais organizadoras da sociedade e, a partir desta, das ações das classes.

A particularidade da reestruturação produtiva no Brasil está na sua vinculação ao conteúdo conservador


dos processos históricos de modernização do capitalismo no país, vinculação esta que reitera a exclusão social
como uma sequela colateral ao progresso econômico e tecnológico, ao mesmo tempo em que produz novas
formas de exclusão.

O período transcorrido entre 80 e 90 pode ser caracterizado por um progressivo e substancial processo
de desmantelamento das estruturas jurídicas, financeiras e institucionais das políticas sociais públicas no Brasil.
Por outro lado, e paralelamente, ao sucateamento dos serviços e benefícios sociais do Estado nas áreas de saúde,
assistência, etc., vimos a proliferação de iniciativas privadas em todas as áreas sociais.

139
Como expressão deste movimento de privatização das políticas sociais, verifica-se o crescimento dos
incentivos fiscais por parte do Estado às empresas que organizam, sob sua responsabilidade, um sistema de
benefícios e serviços sociais destinados à força de trabalho. Estes dois últimos movimentos materializam a
tendência histórica, no Brasil, de privatização do fundo público.

A concessão de direitos sociais construídas na esfera pública e propiciada pela publicização dos
conflitos e interesses de classe – segue-se a compreensão de que a “seguridade e produtividade do trabalho se
resolvem no espaço da moderna empresa”.

A característica comum entre os benefícios legalmente obrigatórios e aqueles acordados entre sindicatos
e empresa é a extensão do direito de acesso a todos os funcionários. Quanto aos chamados benefícios e serviços
voluntários da empresa identificamos uma mixagem entre a extensão da cobertura e do acesso e a estipulação de
critérios claros de diferenciação. Este benefício não se constitui em uma política social extensiva a todos os
trabalhadores de todas as plantas industriais e sedes administrativas.

As contradições subjacentes aos mecanismos de reprodução social da força de trabalho encerrados à


corporação empresarial revelam-se através de um duplo movimento. A luta cotidiana pelo estabelecimento de
direitos no âmbito fabril, como as políticas sociais negociadas entre trabalhadores e gerentes no dia-a-dia do
trabalho, ou entre sindicatos e empresas, através de negociações coletivas, tem impulsionado historicamente a
democratização das relações de trabalho no Brasil, quando comparadas ao padrão de utilização e exploração da
força de trabalho nos anos 70. Assim, a possibilidade de retração/ampliação da exploração não é prerrogativa de
sujeitos políticos coletivos, como os sindicatos, passando a ser compartilhada pelos próprios trabalhadores em
suas experiências concretas de trabalho.

2.4- Os serviços na contemporaneidade: notas sobre o trabalho nos serviços

(Maria Dalva Horácio da Costa)

Ao longo do século XX, o processo de incorporação das atividades de serviços à forma capitalista de
produção põe em evidência um acelerado processo de expansão e diversificação do setor de serviços. Esta
expansão dos serviços, ao mesmo tempo que imprime novas características ao trabalho, também expressa a
dinâmica da atual recomposição do capital que modifica demarcações tradicionalmente reconhecidas entre os
setores industriais financeiros, comerciais e de serviços.

As atividades de serviços passam a ser, na atualidade, a dinâmica de acumulação, vindo a se configurar


como uma das questões que assume relevância no conjunto das recentes transformações societárias, ai incluídos
o processo de reestruturação produtiva e a globalização da economia.

A esfera dos serviços passa a se constituir em uma fronteira móvel, passível de redefinições em função
das necessidades do processo de acumulação que modificam as relações entre os diversos capitais, entre as
esferas da produção, distribuição e circulação e os requerimentos e mecanismos necessários à reprodução da
força de trabalho.

As atividades de serviço estão estreitamente relacionadas ao efeito útil do trabalho enquanto uma ação
que se desenvolve numa relação direta entre produtor e consumidor. A palavra serviço exprime simplesmente o
valor de uso particular do trabalho útil como atividade e não como objeto.

Em geral, os serviços terminam sendo identificados como serviços de consumo, contrapostos a serviços
de produção e circulação de mercadorias como é o caso do comercio, do transporte, das atividades bancárias e
financeira, etc.

140
Historicamente, os serviços têm transitado do campo do desenvolvimento de “serviços pessoais” para a
estruturação de serviços coletivos enquanto resultantes de necessidades subsidiárias, ligadas à produção para
alcançar expressividade máxima na sociedade contemporânea através da expansão das atividades como as de
saúde, ensino, pesquisa e administração.

A incorporação pelo capital, das necessidades de reprodução da força de trabalho foi quem determinou a
ampliação da oferta mercantil de serviço sociais e que passaram a ser indispensáveis ao processo de reprodução
da força de trabalho e do próprio capital.

A expansão dos serviços deriva da tendência à centralização inerente à produção capitalista de


mercadorias, baseada na crescente socialização e divisão do trabalho; a inclusão de frações de classes, antes
excluídas da produção e consumo de serviços; e expansão dos serviços de controle.

A expansão dos serviços também se deve, em boa parte, ao crescimento da subcontratação e da


consultoria, o que tem permitido que atividades antes internalizadas nas empresas manufatureiras sejam
entregues a empresas separadas.

A expansão dos serviços sociais voltados para o atendimento das necessidades d e reprodução do
trabalhador e da sua família, na atual fase de desenvolvimento do capitalismo, expressa a complexa e
contraditória tensão entre a sua existência como um serviço que tem um valor de uso social e coletivo e a
possibilidade de serem transformados em um serviço cuja utilidade social passa a depender da geração de
lucros, isto é, da sua mercantilização.

O que se vem assistindo recentemente é a incorporação crescente da lógica e da racionalidade da


produção capitalista na prestação dos serviços.

Além de uma busca de eficiência e eficácia na prestação dos serviços sociais públicos, o que se constata
é o fato de que o valor de uso social destes serviços, voltados para o atendimento das necessidades de
reprodução da “própria vida”, se realiza de modo a articular e/ou sustentar os interesses das indústrias, dos
proprietários de grandes estabelecimentos como hospitais, creches, etc.

O que está em questão são as novas formas de combinação entre produção e serviços e a migração da
cultura do trabalho industrial para o setor de serviços.

Embora o processo de trabalho nos serviços sociais se materialize como expressão do processo de
trabalho em geral, merece destaque o fato de que nesse tipo de atividade, o trabalhador dos serviços, em função
da relação que estabelece com o usuário, pode imprimir uma direção ao seu trabalho, que requer uma relativa
autonomia.

2.5- Serviço Social e reestruturação industrial: requisições, competências e condições de trabalho


profissional

(Monica de Jesus Cesar)

A flexibilização do processo produtivo imprime novas exigências ao trabalhador, que incidem sobre as
qualificações profissionais, as condições de inserção no mercado de trabalho e os mecanismos de proteção
social. Merece destaque a demanda por trabalhadores qualificados e “passivizados” e a redução de postos para
aqueles sem qualificação, que se transformam em trabalhadores excluídos e desorganizados.

O discurso empresaria enfatiza a qualificação, as múltiplas competências, a adaptabilidade, a


participação e o envolvimento, é também o mesmo que justifica a redução de postos de trabalho, a
empregabilidade e a adoção de padrões rígidos de controle de desempenho do trabalhador.

141
É neste ambiente que as empresas vêm desenvolvendo um conjunto de iniciativas que apontam para
novas modalidades:

 De consumo da força de trabalho - introdução da polivalência e da multifuncionalidade, informatização


no processo de produção;
 De controle da força de trabalho – se inscrevem os incentivos à produtividade, bem como os programas
participativos, que buscam o envolvimento do trabalhador com os objetivos da empresa;
 De reprodução material da força de trabalho – estão inscritas as políticas de benefícios oferecidos pela
empresa ou reguladas pelo Estado, que passam a vincular-se estritamente com a natureza do contrato de
trabalho e com o desempenho dos trabalhadores.
No processo de reestruturação produtiva industrial, identifica-se uma série de modificações nas
estratégias de gestão da força de trabalho que têm, por suposto, a formação de um novo comportamento
produtivo do empregado, dando origem ao que denomino de campo da “negociação cooperativa”. Dentre as
estratégias utilizadas para implementar esta cooperação, destaco os programas participativos dos quais derivam
alguns princípios que passam a reger a filosofia dos recursos humanos das empresas.

As empresas instituem uma série de incentivos materiais e simbólicos que visam integrar os
trabalhadores aos novos requisitos da qualidade e produtividade, também passam a fazer novas exigências ao
profissional do Serviço Social, todas elas articuladas às políticas de recursos humanos.

Tais exigências reeditam demandas históricas ao Serviço Social nas empresas e também determinam
novos conteúdos para a prática e modificam substancialmente as condições de trabalho profissional. O quadro
de precarização do trabalho também atinge o Serviço Social e redefinem algumas práticas dos profissionais.

O conjunto das novas exigências para a prática profissional nas empresas, relaciona-se com as
alterações nas modalidades de consumo da força de trabalho, com as novas estratégias de controle persuasivo e
com as políticas de benefícios e incentivos.

O assistente social é requisitado a atuar no RH para satisfazer “necessidades humanas”, contribuindo


para a formação da sociabilidade do trabalhador.

O Serviço Social é considerado pelas empresas como um instrumento promotor da adesão do


trabalhador às novas necessidades destas.

A função do Serviço Social continua vinculada às relações de trabalho, sendo requisitado para intervir
nos problemas que interferem na produtividade.

O assessoramento às chefias no trato de questões que extrapolam o âmbito fabril. Há uma demanda
explícita para o Serviço Social na empresa dos finais dos anos 90: a vida provada do trabalhador.

O Serviço Social continua sendo definido como intermediador das relações entre chefia e subordinado.
Seu papel é concebido como interlocutor da ação social da empresa ou do discurso gerencial, atenuando fontes
de conflito/tensões e suas atribuições são associadas ao clima organizacional e ao repasse de informações para a
gerência, colocando á disposição informações que respondam aos novos parâmetros de administração, adotados
pela empresa.

É evidente a permanência de uma demanda tradicional, como a concessão de benefícios, o


estabelecimento de critérios de elegibilidade e a triagem socioeconômica.

As empresas continuam a contratar o assistente social para desenvolver um trabalho de cunho


assistencial e educativo junto ao empregado e sua família.

142
No momento atual, marcado pela multifuncionalidade e horizontalização, as atividades do Serviço
Social aproximam-se, cada vez mais, da função gerencial. Por isso, o assistente social vem assumindo a função
de assessoramento de gerentes, para que estes possam melhor administrar pessoas, propiciando confiabilidade,
amizade, aprendizado, crescimento e satisfação de seus colaboradores, que são requisitos da gerência. Passa a
ter como “clientes internos” não só o trabalhador, mas os próprios gerentes.

O conjunto de mudanças que a reestruturação dos processos de trabalho engendra e que inflexionam as
requisições e conteúdo do trabalho do assistente social:

 Redimensionamento do uso da informação – informações passam a ser utilizadas pelas


gerências para definição de itens de controle e verificação no gerenciamento do trabalho,
integrados ao planejamento global da empresa;
 Introdução de outra racionalidade técnica – busca-se eliminar desperdício, inconsistência e
insuficiência.
 Desenvolvimento de programas participativos – incorporação da filosofia da qualidade total.
 Ampliação do sistema de benefícios e incentivos – empresa realinha o sistema de benefícios
revendo a compatibilidade entre desempenho na função e sua remuneração indireta.
 Assessoria às gerencias – requisição por parte das chefias e gerências para intervenção técnica e
gerenciar conflitos.
Podemos resumir o perfil comportamental exigido ao assistente social como:

 Conhecimento – profissional tem que estar apto a responder perguntas, tirar dúvidas e resolver
problemas.
 Competência – deve ter agilidade, organização e exatidão na execução de tarefas.
 Atmosfera positiva – deve manter um ambiente agradável, receptivo, limpo e confortável para
que o cliente se sinta tranquilo e acolhido.
 Cooperação – postura de colaborador exige que o profissional contribua com o êxito de sua
equipe.
 Esforço extra – é preciso sair da rotina e fazer algo mais, colocando a satisfação do cliente
acima de tudo.
No campo das condições de trabalho, podemos identificar um conjunto de questões que evidenciam o
novo paradigma das condições do trabalho profissional:

 Intensificação do trabalho – aumento do número de atendimentos feitos e na amplitude e


variedade das situações para as quais é requisitada a intervenção do assistente social.
 Racionalização do trabalho – priorização das tarefas, mantendo-se as atividades-chave e
eliminando tudo o que não pode ser mensurado ou considerado atividade essencial.
 Redução dos postos de trabalho profissional – demissão sem substituição ou absorção de
tarefas do profissional por elementos polivalentes, quanto na transferência das atividades do
assistente social para terceiros na forma de consultoria.
 Instabilidade e insegurança – geradas pela redução dos postos de trabalho. Geram esquemas de
subcontratação, terceirização ou estabelecimento de vínculos precários.
 Sujeitos à desqualificação – flexibilidade funcional. Pode levar a descaracterização de suas
funções, tarefas e responsabilidades. Crescente polivalência profissional do assistente social em
virtude de exigências de maleabilidade e perfil generalista que produz modificação de cargos e
acumulação de funções.
 Multifuncionalidade – associada ao crescimento da participação do profissional em trabalhos
de equipe, passa a exigir do profissional não apenas um maior domínio e conhecimento das
tarefas dos demais trabalhadores da área e dos gerentes, como permite maior interdependência

143
de responsabilidades e, quando necessário, absorção de novas atividades. O trabalho em grupo
está associado a polivalência.
 Esquemas de controle e aferição da performance individual e/ou grupal – cultura de
modernização, é exigido um comportamento adequando ás metas estabelecidas, implicam uma
maior variabilidade da remuneração. Subjacente ao discurso da eficácia, eficiência e
adaptabilidade o assistente social sofre um controle sobre seu desempenho, através do
cumprimento ou não das metas de seu trabalho.

O Serviço Social mantém-se reconhecido como uma atividade auxiliar e subsidiária no exercício do
controle sobre a força de trabalho, intervindo sobre a vida do trabalhador, através de serviços sociais. Há,
portanto, um predomínio de requisições tradicionais, historicamente determinadas, às quais o profissional deve
responder.

2.6- O serviço Social e a saúde do trabalhador diante da reestruturação produtiva nas empresas

(Lúcia Maria de Barros Freire)

A saúde do trabalhador e o serviço social possuem alguns traços em comum: a amplitude e penetração
em todas as esferas das necessidades humanas; suas políticas e estratégias passam a constituir, cada vez mais,
objetos transdisciplinares.

Eles desenvolvem, ao mesmo tempo, uma notável renovação a partir dos anos 60, consolidada e
indiscutível nos anos 80, na América Latina. Nos anos 90 ambos sofreram no Brasil os impactos negativos do
processo de reestruturação produtiva que trouxe grandes perdas para o trabalhador, atingindo consequentemente
a sua saúde, como também as condições para o exercício profissional.

A saúde dos trabalhadores tem sido um dos principais objetos de demanda ao Serviço Social nas
empresas no Brasil, desde seus primórdios na década de 40 e 50. Isto se dá devido a prioridade da saúde como
necessidade social, que corresponde tanto a demandas empresariais como sindicais e de trabalhadores
singulares, embora sob ângulos diferenciados, relacionados aos interesses divergentes das classes fundamentais.
Para o empresário, a saúde significa a manutenção do potencial produtivo da força de trabalho e para o
trabalhador os seus processos vitais, ao mesmo tempo condições de sua existência como trabalhador, com
direito a manter íntegro o que coloca a serviço da produção: o seu próprio ser total.

Em meio a forças contraditórias do capital em relação ao trabalhador, e em função da amplitude dos


interesses envolvidos, assim como das facilidades proporcionadas pelo Estado, o investimento em espaços e
processos referentes à reprodução material e social da força de trabalho nas empresas, ampliou-se
significativamente repercutindo no mercado de trabalho do Serviço Social, que atingiu sua maior expansão em
1989-90, nas grandes empresas.

Com a reestruturação produtiva, associada à politica neoliberal do Estado, há um retrocesso, com


tendência à desregulamentação dos direitos sociais públicos e universais e sua substituição pelos estabelecidos
nos Contratos Coletivos de Trabalho.

Os programas pesquisados pela autora mostram que o assistente social bem capacitado tem um papel
importante, potencialmente nos anos 70 e 80, em programas de educação, higiene e recuperação do trabalhador,
como também o é atualmente diante da preocupação com as relações e envolvimento participativo do
trabalhador. A pertinência e distinção do assistente social nesses programas corresponde à sua bagagem teórica
e técnico-operacional, focalizando as condições e relações sociais articuladas às situações cotidianas, assim
como na comunicação democrática individual e grupal e em fóruns coletivos.

144
Algumas mudanças positivas advindas da reestruturação: articulação interdisciplinar com os demais
profissionais de saúde, na perspectiva mais coletiva e participativa, que favorece o desenvolvimento da
consciência sobre a relação saúde-doença-trabalho-qualidade de vida-clima organizacional-interações sociais e
consequente desencadeamento de novas posturas.

A autora identifica ameaças e tendências pelo Serviço Social nas empresas por ela pesquisada:

 Desemprego que fragiliza politicamente os profissionais, ameaçando-lhes não somente a


sobrevivência, mas o espaço conquistado pela profissão nas empresas;
 Recrudescimento das estratégias funcionalistas, que abala as ideias dos menos preparados
teórica e politicamente, delineando-se o que denomino o avesso do avesso.
 Avanço da importância dos programas sócio-educativos participativos – tendência
despolitizadora, alienadora e gerencialista.
 Tendência de descarte dos programas assistenciais das empresas – terceirização, com delegação
de sua operacionalização a profissionais em regime temporário e precarizado de trabalho.
 Tendência da transdisciplinaridade associada à polivalência, substituindo os espaços
profissionais, multiprofissionais e interprofissionais, sobretudo quanto aos programas sócio-
educativos. Transdisciplinaridade – diretrizes e estratégias comuns. Inter e multidisciplinaridade
– complementação e interação entre profissionais, porém mantendo a valorização das
respectivas formações básicas.

Na pesquisa é verificado que os assistentes sociais bem capacitados assumem posição de destaque,
como gerentes, assessores, consultores internos e coordenadores de programas estratégicos como o da pesquisa
de Clima Organizacional, nessa condição interdisciplinar.

Diante das mudanças, os profissionais de Serviço Social, neste campo, atualmente se deparam com
grandes desafios, associados à seguinte contradição. De um lado, por ter o micro-social a característica de
permear todos os aspectos da vida humano, no trabalho e fora dele, e por estar inserido nos mecanismos da
pedagogia do trabalho, o assistente social tem condições potenciais de adquirir importância estratégia ampla.

2.7- Na corda bamba do trabalho precarizado: a terceirização e a saúde dos trabalhadores

(Ana Inês S. C de Melo, Glaucia Elaine S de Almeida e Ubirajara Aloizio de O Martins)

É impossível falar em terceirização sem falar em reestruturação produtiva em curso no Brasil, a partir
dos anos 90. Trata-se do enfrentamento dos problemas como a perda da competitividade no mercado interno e
externo, a baixa eficiência e a redução da rentabilidade industrial.

A economia mundial, nessas últimas décadas, está passado por grandes transformações com
repercussões na produção e na prestação de serviços, afetando não só a vida de trabalhadores, mas, também de
consumidores e da população em geral.

Na reestruturação produtiva brasileira, a grande ênfase tem sido dada aos aspectos organizacionais, e
não no investimento em ciência e tecnologia, como supõe o senso comum. Desta maneira, a terceirização tem
sido uma estratégia bastante afinada com o ideário instituído pela reestruturação produtiva, embora seja
historicamente anterior a esta última. A terceirização é remota, de atividades a terceiros. O que há de novo é sua
versão focal, ou focalização das atividades.

Com a focalização, ocorre a análise e a identificação dentro da atividade fim, do que a empresa é capaz
de fazer melhor e com menor custo, e a entrega a terceiras das demais atividades. A terceirização hoje, é um
processo que pode se desenvolver pelo menos de duas maneiras: através da desativação parcial ou total de um
145
setor ou através da alocação de trabalhadores para execução de algum serviço na própria planta da empresa-
mãe.

Entre os objetivos da reestruturação produtiva, assume relevância o da formação de um novo consenso


fabril ou consenso de classes. Esse objetivo é pautado na meta de bloqueio de um dos movimentos
característicos do paradigma anterior, que era a pressão constante por política salarial e direitos que
acrescentavam ônus ao processo produtivo. Essa pressão era exercida sobretudo pelos sujeitos coletivos e, em
especial, pelo movimento sindical, através de greves e outras estratégias , que pressupunham o envolvimento
coletivo dos trabalhadores em pleitos concretizados, muitas vezes em regulamentação. A partir dessa lógica, o
bloqueio do movimento de pressão por conquistas na relação capital-trabalho, deveria ser construído pela via da
destruição/abalo de um de seus pressupostos: o envolvimento coletivo dos trabalhadores.

A década de 80 representou uma vitória dos trabalhadores em termos de uma maior salubridade e
melhoria das condições de trabalho. Isto porque sabemos, que o investimento em inovações tecnológicas no país
é tímido, e que as inovações organizacionais foram as que receberam um incremento crescente por parte do
nosso empresariado.

Assim, quando nos detemos nos impactos das inovações levadas a cabo pela reestruturação das
empresas, em termos de saúde dos trabalhadores, queremos afirmas a convivência do antigo e do novo nas
atuais relações de produção. Em muitos casos, a ausência de inovações tecnológicas com a adoção maciça de
inovações organizacionais ou, até mesmo quando da introdução daquelas, mas combinadas com modos de
gestão inovadores, o que irá se verificar são as repercussões extremamente nocivas para a saúde dos
trabalhadores.

A flexibilidade, aliás, dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos, dos padrões
de consumo, e dos direitos sociais, é a base de todas as transformações ocasionadas pela reestruturação
produtiva, e é aí, que encontramos o principal componente da modernização conservadora.

Os programas de qualidade e produtividade, de acordo com a literatura especializada, se propõem à


adoção de medidas de modernização tecnológica e de valorização da mão-de-obra.

As recomendações propostas na ISO 9000, visam basicamente preservar a qualidade dos produtos e dos
processos, em detrimento da saúde dos trabalhadores. As medidas de segurança constantes nestas normas, têm
como objetivo garantir a qualidade dos produtos, processos e serviços, colocando a segurança do trabalhador
como um meio para se atingir um fim maior que é a produtividade.

O que está na ordem do dia é a conquista de postos de trabalho, ainda que isto represente, o exercício de
qualquer atividade remunerada, mesmo que, sem vínculo empregatícios ou com contratos temporários de
trabalho.

Estas têm sido as opções dos trabalhadores vitimados pelos cortes de pessoal, correlacionados à
subcontratação . o que tem de comum o camelô, o biscateiro e o empregado pela própria família, o trabalhador
sazonal e o desempregado? Além da precariedade das condições de manutenção da própria existência e dos seus
dependentes, a ausência de cobertura por morte, morbidade, invalidez e aposentadoria. Tal quadro legitima a
afirmação de que a terceirização seria um determinante do “caldo” em que estamos mergulhados.

Noutras palavras, observamos hoje, na corda bamba das relações de trabalho precarizadas, a substituição
da antiga e falsa polemica saúde ou salário, por outra, mais radical e perversa, saúde ou emprego.

2.8 Exercícios de fixação

146
1- Uma pesquisa realizada por Freire sobre os impactos da reestruturação econômica e social no campo do
trabalho e da saúde do trabalhador, detectou inflexões nas demandas apresentadas aos assistentes sociais nas
empresas. Dentre elas, a autora destaca o trabalho interdisciplinar nas áreas de saúde, recursos humanos,
comunicação social e planejamento estratégico. Nessas equipes, os assistentes sociais mais qualificados passam
a assumir, segundo a autora, as funções de:

A) gerência e consultoria interna

B) assessoria externa e institucional

C) pesquisa e cadastramento de recursos

D) prestação de benefícios e treinamento

2- Analisando as transformações ocorridas em grandes empresas operantes no Brasil nos últimos anos, uma
analista observou que elas vêm desenvolvendo um “conjunto de iniciativas que apontam para novas
modalidades a) de consumo da força de trabalho [...]; b) de controle da força de trabalho [...]; c) de reprodução
material da força de trabalho” (CESAR, Mônica J. In: MOTA, A. E. (Org.). A nova fábrica de consensos. S.
Paulo: Cortez, 2000, p. 119-120).

É evidente que a intervenção profissional do assistente social empregado em tais empresas tem incidências
sobre todos estes planos e na articulação entre eles. No entanto, é correto afirmar que a intervenção direta do
assistente social é requisitada para se exercer

(A) igualmente sobre os três planos.

(B) sobre os planos b e c.

(C) sobre os planos a e c.

(D) sobre os planos a e b.

(E) apenas sobre o plano a.

3-Procurando compreender as demandas inéditas que as transformações operadas nas empresas põem ao Serviço
Social, formula-se a seguinte hipótese: “o conjunto das novas exigências [postas à prática profissional do
assistente social] nas empresas relaciona-se com as alterações nas modalidades de consumo da força de trabalho,
com as novas estratégias de controle persuasivo e com as políticas de benefícios e incentivos” (CESAR, Mônica
J. In: MOTA,A. E. (Org.). A nova fábrica de consensos. S. Paulo: Cortez, 2000, p. 125).

Estas mudanças impactam na prática do Assistente Social em dois vetores:

(A) uso da teoria social crítica e da psicologia social na prática cotidiana.

(B) entendimento da veracidade da economia política e conhecimento de administração e planejamento.

(C) garantia do direito do trabalho e das condições de trabalho.

(D) métodos em pesquisa social e estatística.

(E) atualização das demandas profissionais e das condições de trabalho.

4-A partir da análise de dados referentes às demandas encaminhadas ao Serviço Social de duas grandes
empresas industriais situadas no Rio de Janeiro que implementaram processos de reestruturação produtiva, uma
pesquisadora constatou que, “embora permaneça havendo uma valorização de soluções para carências materiais
147
e conflitos, estas questões deixam de ser objeto específico da ação dos assistentes sociais nas empresas,
passando a ser competência de todos os profissionais ligados à área de RH da empresa, inclusive os gerentes”
(CESAR, Mônica de J. Serviço Social e reestruturação industrial: requisições, competências e condições de
trabalho profissional. In: MOTA, A. E. (Org.). A nova fábrica de consensos. Ensaios sobre a reestruturação
empresarial, o trabalho e as demandas ao Serviço Social. S. Paulo: Cortez, 2000, p. 139).

Sobre tal base factual assenta também a exigência do trabalho interdisciplinar, uma vez que esta base

(A) corrobora uma divisão sociotécnica do trabalho já estratificada.

(B) consolida atribuições/funções profissionais historicamente postas.

(C) torna tênues as fronteiras socioocupacionais antes estabelecidas.

(D) coloca exigências que dispensam conhecimentos especializados.

(E) determina a generalização das instâncias gerenciais.

5-Estudos sobre a reestruturação produtiva indicam particularidades na realidade brasileira. No início dos anos
1990, as mudanças teriam incidido, fundamentalmente, na dimensão

(A) social.

(B) fiscal.

(C) patrimonial.

(D) organizacional.

(E) territorial.

6-“Os novos padrões de trabalho, pautados na introdução de novas tecnologias, implicam a máxima utilização
da força de trabalho: cada trabalhador torna-se responsável pelo gerenciamento do seu trabalho e também um
elo na integração cada vez maior na relação equipe/sistema. [...] O trabalhador deve ser capaz de analisar, tomar
decisões, controlar situações inesperadas e, ao mesmo tempo, deve ter uma capacidade de comunicação e de
trabalho coletivo, porque a natureza coletiva do trabalho e sua autonomia tornaram-se quase extrínsecos à
organização do trabalho”. CESAR, M. J., in MOTA, A. E., org.: A nova fábrica de consensos. S.Paulo: Cortez,
1998, p. 138.

Tendo o texto como referência, analise as afirmativas a seguir.

I - A organização e o controle do trabalho mencionados no texto são típicas do pós-fordismo.

II - A gestão da força de trabalho, empregada nas condições explicitadas no texto, implica a consideração da
subjetividade do trabalhador.

III - A cultura empresarial adequada a esse modo de gestão da força de trabalho foi antecipada pela
administração taylorista.

Está correto o que se afirma em

(A) I, apenas.

(B) III, apenas.

148
(C) I e II, apenas.

(D) II e III, apenas.

(E) I, II e III.

7-No contexto da reestruturação empresarial, os programas de qualidade de vida encampam ações voltadas à
saúde dos trabalhadores. Numa análise crítica, esses programas representam uma

(A) forma de proporcionar o bem-estar mental dos trabalhadores, com base na precarização das suas condições
de vida e de trabalho.

(B) resposta às consequências negativas das mudanças no processo produtivo, tais como o aumento do desgaste
e da instabilidade no trabalho.

(C) tentativa de conformar um comportamento adequado aos métodos de produção, mediante a redução da
capacidade psicofísica do trabalhador.

(D) modalidade de degradação da força de trabalho, pautada na associação entre antigas doenças profissionais,
novos distúrbios e psicopatologias.

(E) iniciativa de enquadramento de hábitos e cuidados com a saúde dos trabalhadores, por meio da coerção
patente no sistema de punições da empresa.

GABARITO

01 A

02 B

03 E

04 C

05 D

06 C

07 B

LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.

Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8 o do
art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá
outras providências

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I
149
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
o
termos do § 8 do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a
criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência
e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível
educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e
seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Art. 3o Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança,
à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

§ 1o O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito
das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 2o Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias para o efetivo exercício
dos direitos enunciados no caput.

Art. 4o Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as
condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

TÍTULO II

DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral
ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015)

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.

o
Art. 6 A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos
humanos.

150
CAPÍTULO II

DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

CONTRA A MULHER

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da
auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

TÍTULO III

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

CAPÍTULO I

DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO

Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de
um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-
governamentais, tendo por diretrizes:

I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de
segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação;

II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a perspectiva de


gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências e à freqüência da violência doméstica e
familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação
periódica dos resultados das medidas adotadas;

III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma
a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com
o estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;

151
IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de
Atendimento à Mulher;

V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra


a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de
proteção aos direitos humanos das mulheres;

VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria


entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo por objetivo a
implementação de programas de erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher;

VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos
profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de
raça ou etnia;

VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade
da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;

IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos
humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a
mulher.

CAPÍTULO II

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

Art. 9o A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada
e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de
Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e
emergencialmente quando for o caso.

§ 1o O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar no
cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal.

§ 2o O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade
física e psicológica:

I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta;

II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis
meses.

o
§ 3 A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o acesso aos
benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de
emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual.

CAPÍTULO III

DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL

Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade
policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências legais cabíveis.

152
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de medida protetiva de
urgência deferida.

Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá,
entre outras providências:

I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder
Judiciário;

II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;

III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco
de vida;

IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência
ou do domicílio familiar;

V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis.

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência,
deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos
no Código de Processo Penal:

I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada;

II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;

III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida,
para a concessão de medidas protetivas de urgência;

IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais
necessários;

V - ouvir o agressor e as testemunhas;

VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando
a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;

VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.

o
§ 1 O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:

I - qualificação da ofendida e do agressor;

II - nome e idade dos dependentes;

III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.

§ 2o A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de


todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.

§ 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos
de saúde.
153
TÍTULO IV

DOS PROCEDIMENTOS

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais decorrentes da prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e
Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com
o estabelecido nesta Lei.

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com
competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos
Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher.

Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as
normas de organização judiciária.

Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:

I - do seu domicílio ou de sua residência;

II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;

III - do domicílio do agressor.

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade,
antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta
básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado
de multa.

CAPÍTULO II

DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

Seção I

Disposições Gerais

Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito)
horas:

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência;

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso;

III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.

154
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério
Público ou a pedido da ofendida.

o
§ 1 As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência
das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.

§ 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser


substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
forem ameaçados ou violados.

o
§ 3 Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus
familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.

Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor,
decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade
policial.

Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo
para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos
pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor
público.

Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor.

Seção II

Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz
poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de
urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos
da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre
estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento


multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.


155
§ 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor,
sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada
ao Ministério Público.

o
§ 2 Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e
incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão,
corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de
armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob
pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.

o
§ 3 Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer
momento, auxílio da força policial.

§ 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art.
461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

Seção III

Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de


atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento


do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e
alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da
mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em
comum, salvo expressa autorização judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da
prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.

Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste
artigo.

CAPÍTULO III

DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

156
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da
violência doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher, quando necessário:

I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e de segurança,
entre outros;

II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em situação de violência


doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a
quaisquer irregularidades constatadas;

III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

CAPÍTULO IV

DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA

Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação de violência doméstica e
familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei.

Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de
Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante
atendimento específico e humanizado.

TÍTULO V

DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR

Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão
contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais especializados nas
áreas psicossocial, jurídica e de saúde.

Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe forem reservadas
pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública,
mediante laudos ou verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento,
prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às
crianças e aos adolescentes.

Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais aprofundada, o juiz poderá determinar a
manifestação de profissional especializado, mediante a indicação da equipe de atendimento multidisciplinar.

Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, poderá prever recursos para a
criação e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos da Lei de Diretrizes
Orçamentárias.

TÍTULO VI

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática

157
de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada
pela legislação processual pertinente.

Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento
das causas referidas no caput.

TÍTULO VII

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher poderá ser acompanhada
pela implantação das curadorias necessárias e do serviço de assistência judiciária.

Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no limite das
respectivas competências:

I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e respectivos dependentes em situação de


violência doméstica e familiar;

II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situação de violência doméstica e


familiar;

III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e centros de perícia médico-legal
especializados no atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar;

IV - programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e familiar;

V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.

Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de
seus programas às diretrizes e aos princípios desta Lei.

Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais previstos nesta Lei poderá ser exercida,
concorrentemente, pelo Ministério Público e por associação de atuação na área, regularmente constituída há
pelo menos um ano, nos termos da legislação civil.

Parágrafo único. O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando entender que não há
outra entidade com representatividade adequada para o ajuizamento da demanda coletiva.

Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher serão incluídas nas bases de
dados dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim de subsidiar o sistema nacional de dados e
informações relativo às mulheres.

Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas
informações criminais para a base de dados do Ministério da Justiça.

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no limite de suas competências e nos termos
das respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer dotações orçamentárias específicas, em
cada exercício financeiro, para a implementação das medidas estabelecidas nesta Lei.

Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem outras decorrentes dos princípios por ela adotados.

158
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

o
Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei n 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a
vigorar acrescido do seguinte inciso IV:

“Art. 313. .................................................

IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência.” (NR)

Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 61. ..................................................

II - ............................................................

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou


com violência contra a mulher na forma da lei específica;

........................................................ ” (NR)

Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as
seguintes alterações:

“Art. 129. ..................................................

§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou
de hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra
pessoa portadora de deficiência.” (NR)

Art. 45. O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a
seguinte redação:

“Art. 152. ...................................................

Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o
comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação.” (NR)

Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após sua publicação.

o o
Brasília, 7 de agosto de 2006; 185 da Independência e 118 da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Dilma Rousseff

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160

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