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PROPOSTA DE PACTO PARA CHANCELA DA PAISAGEM

CULTURAL DE MACAÉ NUMA PERSPECTIVA DE


DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Eloisa Carvalho de Araujo1


Samara Guimarães2
Resumo: O presente artigo tem por objetivo reconhecer nas paisagens singulares da cidade
de Macaé patrimônios culturais associados a territórios de produção do petróleo. Para isso
baseamo-nos em aportes teóricos que contribuem para o debate sobre o tema. Propomos
além de uma reflexão crítica acerca das consequências advindas da aplicação dos
instrumentos de proteção da paisagem cultural como diretriz de sustentabilidade, salientar a
importância em adotar uma perspectiva multidimensional, complexa e dinâmica de
abordagem, no contexto do desenvolvimento regional. E nessa perspectiva, cada vez mais a
cidade de Macaé, como cidade do petróleo, prescinde de estratégias e não de modelos para
a realização de intervenções que assegurem a possibilidade de patrimonialização da
paisagem urbana, seja nas diferentes escalas do território, seja, nos modos de intervenção,
com enfoque nos elementos que compõem seu patrimônio industrial, ligado à atividade
petrolífera, e as tensões e conflitos correlacionados. As questões abordadas encontram-se
no cerne do reconhecimento de uma visão que integre as várias frentes disciplinares de
abordagem, que promovam o respeito pela multidimensionalidade e dinamicidade do
patrimônio urbano e da sua imagem.
Palavras-chave: paisagem cultural, imagem urbana, patrimônio, cidade do petróleo,
desenvolvimento regional.

Introdução

A partir do final dos anos 1960, com a descoberta do petróleo na região da Bacia de
Campos, região norte do Estado do Rio de Janeiro, e, a chegada da Petrobrás, na década
de 1970, a cidade de Macaé passou a ser reconhecida como a Cidade do Petróleo. Como

1
Professor Adjunto, Escola de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal Fluminense - UFF.
Doutorado em Urbanismo. Email: eloisa.araujo@gmail.com. Telefone: (021) 99116824
2
Estudante de Arquitetura e Urbanismo.Bolsista de Iniciação Científica – FAPERJ; Escola de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal Fluminense. Email: samaravcg@hotmail.com.
Telefone: (021) 8800-0051

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consequência da instalação da empresa na cidade, demais companhias prestadoras de
serviços, comerciantes ou até mesmo empresários, e um contingente de pessoas oriundas
de diversas porções do território nacional, o progresso vem, deslanchando de forma
dinâmica e fazendo com que Macaé esteja em constante evolução, dentro de um contexto
regional, como integrante de territórios de produção do petróleo. A produção de 80% de todo
o petróleo e gás brasileiros na Bacia de Campos projetou o município definitivamente no
cenário nacional e internacional.
Na época de sua fundação, em 1630, a economia da cidade de Macaé baseava-se
na monocultura do açúcar e depois na do café. Essa realidade foi completamente alterada
com a chegada da Petrobrás, seguida pelas empresas prestadoras de serviços para dar
suporte à prospecção do petróleo.
Esse contexto, de certa forma, acirra o debate e divide opiniões sobre a cidade de
Macaé. Muitos entendem que a empresa petrolífera acabou com a cidade e que a Macaé de
hoje não tem identidade, vive em função da Petrobrás. Outros compartilham da ideia de que
a evolução econômica acabou por dinamizar investimentos socioculturais e assim
caracterizar o local, num contexto regional, potencializando o uso de alguns marcos
consagrados pela população, e reafirmando-os como paisagens singulares. Esses marcos1
podem ser identificados como a Igreja de Sant’Anna, o Forte Marechal Hermes, o Porto de
Imbetiba2, a Praia Campista e o Arquipélago de Santana3, o Solar dos Mellos, que hoje
abriga o Museu da Cidade de Macaé, a Câmara Municipal, e, a Praça Veríssimo de Melo,
constituindo-se como patrimônios culturais da cidade, na medida em que fazem parte do
cotidiano dos cidadãos e estão presentes nas representações sociais.
Ao longo dos anos a cidade que hoje conhecemos, e, consequentemente a
paisagem que a ela pertence, foi sendo modificada pela inserção de novas formas urbanas,
com enfoque nos elementos que compõem o patrimônio industrial contemporâneo4, mais
especificamente, ligados à indústria petrolífera.
O ciclo do petróleo mudou as características da rede urbana regional acentuando
contradições sócio-espaciais e socioambientais. A diversificação econômica e a
sustentabilidade local e regional são encaradas como dilemas postos a serem enfrentados
pelos planejadores. Estratégias mais eficientes para territorializar o atual crescimento
econômico, de maneira sustentada, passam a exigir, pela falta de significação dos espaços,

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contornos de uma dimensão do discurso cultural nas práticas de gestão. Isto é, o espaço
atual carece de iniciativas que preservem os valores locais e que considere territórios de
produção na escala regional.
Nesse artigo, reconhecemos a cidade de Macaé como um “Eldorado” por ser
considerada uma terra rica de oportunidades, sejam elas de investimentos, empregos ou
inúmeras possibilidades de desenvolvimento. O que vai de encontro ao discurso da
Prefeitura de Macaé quando diz que o repasse das compensações financeiras por conta da
exploração do petróleo, os royalties, possibilitam a implantação de políticas e projetos
destinados a acompanhar o grande crescimento oportunizado pela empresa Petrobrás,
principalmente obras de infraestrutura, como a recomposição de rodovias que foram
danificadas pelo transporte pesado decorrente da exploração do petróleo e concessão de
infraestrutura e saneamento para os novos bairros que surgem na cidade.
A preocupação com a finalização das reservas petrolíferas, e a “obsolescência
prevista das edificações e demais estruturas que caracterizam a sua exploração, é tema de
preocupação recorrente das cidades e governos cuja pujança financeira tem relação direta
com a exploração deste recurso” (CARVALHO SANTOS, T., 2010, p.236)

Figura 01: Mapa com a delimitação do Município de Macaé. Localização da centralidade de


interesse
Fonte: Autoria própria com base em imagens do Google

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A abordagem aqui apresentada tem o intuito de situar as paisagens singulares da
cidade, fruto da chegada do petróleo, como patrimônios culturais5 da cidade e da região, não
só por fazerem parte do cotidiano dos que ali habitam e que por assim ser estão presentes
nas representações sociais, mas também por relacionar-se à cultura do petróleo. Paisagens
associadas à políticas públicas aplicadas pelas diversas esferas (federal, estadual e
municipal), que sugerem que as soluções propostas para os impactos ambientais causados
pelos empreendimentos e ações decorrentes deverão ser completas e suficientes, na
perspectiva de objetivar a melhoria das condições ambientais originais (ARAUJO,
E.C.2008).
Tal abordagem, ao adotar a concepção da paisagem do petróleo na cidade de
Macaé como patrimônio cultural da cidade e da região, assume caráter propositivo na
perspectiva de possibilitar atores sociais a serem chamados para participarem desse
processo, enquanto pacto para a chancela da paisagem cultural.
Nesse sentido, pretende-se aqui qualificar como paisagem cultural da cidade de
Macaé e sua repercussão no espaço regional, não só o que veio a partir da instalação da
empresa e que pode ser considerado como um legado para a cidade e para a região, como
as novas formas urbanas concebidas para dar suporte à atividade petrolífera, à escoação da
produção, mas também os marcos consagrados anteriormente à entrada da empresa na
cidade, apropriados nas relações da sociedade com o espaço e o meio ambiente.
A portaria 127/2009 define que a Paisagem Cultural Brasileira é uma porção peculiar
do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio
natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas e atribuíram valores e que sua
chancela considera o caráter dinâmico da cultura e da ação humana sobre as porções do
território a que se aplica, buscando a convivência com as transformações inerentes ao
desenvolvimento econômico e social de forma sustentável, valorizando assim a motivação
responsável pela preservação do patrimônio.
Entendemos que a iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -
IPHAN considera a chancela da paisagem cultural como uma espécie de “selo de qualidade”
que legitima o valor de patrimônio nacional. Isto é, um instrumento de reconhecimento do
valor cultural de uma porção definida do território nacional, que possui características
especiais na interação entre o homem e o meio ambiente. No campo da preservação

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patrimonial as paisagens dotadas de valores culturais e naturais devem assim, ser
merecedoras do reconhecimento e proteção nas políticas públicas. A chancela apregoada
pela Portaria 127/2009 é, portanto, regida por um pacto que envolve o poder público, a
sociedade civil e a iniciativa privada, resultando em uma gestão compartilhada.
No entanto, segundo Vasconcelos (2012) a chancela da paisagem cultural brasileira,
por ser um instrumento recente, ainda é cercado de dúvidas e fragilidades no que tange à
sua factibilidade. Mas ao legitimar e reconhecer valor patrimonial a uma determinada
paisagem cultural pode-se proporcionar com este gesto, estímulo ao turismo e, sobretudo, a
necessidade de ações e iniciativas administrativas e institucionais de preservação de
contextos culturais complexos.
E é pela aproximação desse entendimento que, no presente artigo, propomos uma
reflexão crítica acerca das consequências advindas da aplicação dos instrumentos de
proteção da paisagem cultural como diretriz de sustentabilidade, contemplando a paisagem
do petróleo, da cidade de Macaé, como uma paisagem passível de ser patrimonializada,
segundo princípios da Portaria 127/2009, com repercussões na região de consolidação do
espaço do petróleo, como paisagem cultural brasileira.

Influências e Reflexões Teóricas Consideradas

A temática relacionada às construções sociais ligadas à patrimonialização da


paisagem urbana, com enfoque na valorização de elementos que compõem o patrimônio
industrial contemporâneo, mais especificamente da indústria petrolífera, nos parece, na
perspectiva de promoção de diálogo entre campos disciplinares distintos, estar associado a
alguns aportes teóricos que mesclem categorias como imagem urbana, patrimônio,
paisagem urbana, legislação urbanística, utopia, infraestrutura e desenvolvimento regional.
Para o estudo da paisagem do petróleo como patrimônio da cidade de Macaé com
repercussões no espaço regional, o poder da utopia do “Eldorado Fluminense” é alimentado
pelas imagens existentes, que não mais se tornarão visíveis ao ritmo das acelerações
técnicas.

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A abordagem aqui apresentada valoriza na definição de paisagem aquela que é
impregnada de formas do passado, que se revelam de múltiplas maneiras (MARTINELLI, M;
PEDROTTI,F.,2001)
Lynch (1981) ao se referir a uma utopia de local ressalta que à gestão do espaço
também deve ser atribuída uma visão regional, resultante da inter-relação entre atores
variados relacionados ao setor imobiliário, às administrações regionais e à população. Para
o autor, cada um desses atores têm suas práticas e estratégias. Mas são, sobretudo, os
grupos locais que através da utilização e da construção determinam a forma e a qualidade
reais do ambiente.
Segundo o autor, uma utopia de local é possível de ser verificada a partir dos
vestígios históricos que são preservados e modificados à medida que os conceitos do
passado são revistos. No cenário em mudança, o autor ressalta o papel da história que
passa a ser identificada nas tendências presentes e possibilidades futuras que são
apresentadas. Assim como, confere a diversidade histórica e cultural da paisagem o poder
que ela passa a ter de atratividade para os jovens como importante fator para o seu
desenvolvimento.
Embora, sob o ponto de vista do recorte histórico - a cidade de Macaé da atualidade
- a análise da paisagem possa gerar pontos de vista diferentes e, por vezes, antagônicos,
nossa contribuição no presente artigo é apresentada diante de uma perspectiva de
despertar o interesse em preservar na paisagem o seu caráter singular. Salientamos assim,
não só a necessidade de reconhecimento das marcas do tempo e da história como um
produto das relações entre espaço, sociedade e natureza, impressos na paisagem, como
também a motivação de reconhecer nesta mesma paisagem territórios de produção na
escala regional.
A paisagem cultural a ser patrimonializada, é representada na fração territorial que
contribui como representativa da paisagem do petróleo na cidade de Macaé, com
repercussões na escala regional. Trata-se de uma paisagem composta por formas urbanas
e naturais, que se constituem num conjunto heterogêneo, mas que se fazem presentes nas
representações sociais, enquanto formação de sítios que se urbanizaram e se
transformaram rapidamente.

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Por outra abordagem, Lynch (1981) sugere, ao se referir ao “lugar utopia 6” como
sendo o lugar onde os elementos da paisagem conformam feitos memoráveis, repletos de
luz, movimento, sons e cheiros, manipulados para fazer lugares mais engajados e repletos
de sentidos. Para o autor, a paisagem, descrita como tal, será mais transparente, os
processos econômicos serão expostos e a conexão entre produção e consumo será
imediata. A cada nova geração que sucede a anterior o ambiente passa a ser a celebração
do lugar, tempo e processo.
Já para Cosgrove (2000), a interpretação, valorização e significação de paisagens
utópicas, a despeito de essas terem saído ou não do papel ou de terem alcançado um nível
de realização, estão relacionadas à imaginação social, às construções sociais.
A partir da abordagem cultural7, adotada no presente artigo, assim como a paisagem
a imagem urbana é entendida como um bem patrimonial e cultural que conjuga uma
variedade de dimensões8. Definição esta associada a um processo de construção dinâmico
e intimamente relacionado à noção de paisagem cultural, sobretudo, no sentido de
conservar os elementos que definem os espaços da cidade dentro da sua forma urbana e
dos valores espaciais internos, bem como, o de considerar a cidade em termos do seu
conjunto morfológico, funcional e estrutural, sendo parte de um território, do meio ambiente
e da paisagem circundante. Com o sentido de imagem-paisagem9, fundindo o passado e o
presente, o local e regional, o singular e o plural.
A institucionalização da preservação de referências de um povo é, segundo Marinella
Araujo (2002), uma preocupação voltada, sobretudo, para a construção e afirmação de uma
imagem determinada dessa própria sociedade, o que no contexto normativo brasileiro se
afirma na Constituição Federal de 1988, quando esta se refere aos bens portadores de
referência à identidade, entre outros.
Nesse sentido, ao contextualizar diferentes tutelas, como ambiental e urbanística e
também a patrimonial, devemos associar uma recente percepção de que todos os cidadãos
têm direito a uma qualidade de vida e que a esse direito corresponde um dever correlato de
uma ação estatal de proteção e preservação do meio ambiente (ARAUJO, E. C. 2006).

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Desafios e Possibilidades

Segundo a Unesco10 o “patrimônio é o legado que recebemos do passado, vivemos


no presente e transmitimos às futuras gerações”. Assim considerada esta definição no
presente texto, sua principal especificidade reside no contexto singular da cidade de Macaé,
como cidade que integra territórios de produção, na escala regional.
Ao mencionar novamente o texto da Portaria IPHAN 127/2009, que considera que “a
chancela da Paisagem Cultural Brasileira valoriza a relação harmônica com a natureza,
estimulando a dimensão afetiva com o território e tendo como premissa a qualidade de vida
da população”, outras ações complementares assumem caráter de extrema importância, no
contexto da cidade de Macaé, como a valorização do modo de vida local, especialmente se
considerarmos a atração que poderiam exercer sobre sua população a manutenção dos
marcos históricos que foram associados à atividade petrolífera, na escala regional.
Medidas de curto, médio e longo prazo que garantam a permanência desta paisagem
urbana, numa perspectiva de esgotamento das reservas petrolíferas na região e da
consequente atividade econômica, são prioritárias dentre o rol de ações que devem compor
o pacto para chancela da Paisagem Cultural de Macaé, numa perspectiva de
desenvolvimento regional.
A área conceituada como uma fração do território representativo da paisagem do
petróleo engloba os bairros de Imbetiba, Centro, Cajueiros e Praia Campista, bairros em que
se localizam parte do Patrimônio Histórico e Arquitetônico do Município, e também o
arquipélago de Sant’Anna. Reconhecemos nesse artigo essa porção peculiar do território
porque foi principalmente nela que se construíram elementos que compõem o patrimônio
industrial contemporâneo da cidade de Macaé, além de ser um território que emprestou
elementos da cidade, sejam eles considerados patrimônio ou não, para uma área que é
intensamente utilizada pelos serviços relacionados à atividade petrolífera.

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Figura 02: Mapa que apresenta elementos/marcos presentes na fração territorial selecionada,
antes da chegada da Petrobrás.
Fonte: Autoria própria a partir de imagens do Google

Essa área contém elementos arquitetônicos que foram antecedentes a instalação da


empresa petrolífera no município, são eles: o Solar dos Mellos, que hoje abriga o Museu da
Cidade de Macaé; a Câmara Municipal; o Forte Marechal Hermes; o Porto e a Praça
Veríssimo de Melo.
Para delimitação desse território foi proposto um cone de visão imaginário que viesse
desde o arquipélago de Sant’Anna e abrangesse toda a área em questão, incluindo a sede
da Petrobrás, Unidade Gestora da bacia de Campos. (Ver figura 03)

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Figura 03: Mapa com delimitação das autoras de área passível como representação da
paisagem do petróleo
Fonte: Autoria própria a partir de imagens do Google

A partir desse entendimento, uma das medidas de gestão mais importantes para a
preservação da paisagem cultural de Macaé, a partir da delimitação sugerida na figura 03,
será a revisão do Plano Diretor Municipal e por sequencia a legislação de uso, ocupação e
parcelamento do solo. De forma que os parâmetros para ocupação deverão respeitar a
concentração de estabelecimentos que conformam o legado de patrimônio industrial
contemporâneo, associado à atividade petrolífera, na referida cidade com repercussões na
região.
Nesse sentido, o capítulo que trata sobre a instrução do processo de chancela, na
Portaria IPHAN 127/2009, em seu artigo 9º diz que: (...) “poderão ser consultados os
diversos setores internos do IPHAN que detenham atribuições na área, as entidades, órgãos
e agentes públicos e privados envolvidos, com vistas à celebração de um pacto de gestão
da Paisagem Cultural Brasileira a ser chancelada.” O que reafirma que sem pacto não
haverá a possibilidade de chancela.
De modo que, um grande desafio para o planejamento urbano-regional será o de
conseguir pensar uma política transversal que consiga realmente responder a uma gestão
territorial abrangente, num contexto regional e local que privilegie as transformações pelas

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quais o sítio passou sem, no entanto, perder as características locais, presentes nas
representações sociais.
O quadro ambiental de Macaé apresenta-se rico em recursos naturais e
paisagísticos. Porém, o crescimento da expansão urbana, demográfica e industrial aumenta
as pressões sobre o meio ambiente e seu equilíbrio, tornando-o instável, frágil e ameaçado.
O que contrasta com o imaginário coletivo das pessoas que buscam em Macaé uma cidade
rica, superior, completa e inviolável, que alimenta a verdadeira utopia, permeada pela ideia
de Eldorado (ARAUJO, E.,2006)
A procura por este Eldorado pode estar embasada em diversas motivações.
Acreditamos que as mesmas estejam relacionadas aos elementos impressos na paisagem
em oposição ao caráter uniformizante das transformações espaciais próprias da sociedade
contemporânea (LUCHIARI, 2001), residindo assim no fato de que estes se constituem no
novo, no diferente.
Para Bachelard (2000), existem duas imaginações, uma que dá vida à causa formal
e outra que dá vida à causa material. Trata-se na realidade de tentativa do autor de
reconhecer a diferença entre imaginação reprodutora e imaginação criadora. No entanto,
afirma o autor que há situações em que as duas forças imaginantes atuam juntas, sendo
impossível separá-las completamente.
O apelo à materialidade, segundo o autor, ajuda a estruturar a imagem, mesclando
imagem plural com imagem singular. Nesse aspecto, o presente artigo, reconhece, a partir
das contribuições da obra de Bachelard (1998,2000), com mais intensidade na poética da
água, o poder da utopia a partir da simbologia do “ouro que vem do mar”, as imagens das
plataformas de petróleo no mar da Bacia de Campos, dos navios petroleiros ancorados no
Porto de Imbetiba. O sentido da água como elemento simbólico, ajuda a entender a
necessidade de agrupar imagens-paisagens que se articulam e reafirmam o poder da
região.
Não obstante, reiteramos que, além das contribuições teóricas acima descritas,
pesquisas11 sobre práticas sociais ligadas à paisagem urbana, com enfoque nas paisagens
associadas ao patrimônio industrial, no contexto da atividade petrolífera e nos instrumentos
de gestão como diretriz de sustentabilidade, foram aqui consideradas como relevantes
contribuições para as reflexões aqui tratadas.

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Considerações Finais

De certa forma, este artigo tenta levantar elementos sobre o tema do patrimônio
industrial relacionado à atividade petrolífera, no âmbito local e suas repercussões na escala
regional, no sentido de que a experiência de Macaé, possa contribuir para a discussão do
valor cultural e afetivo da paisagem e de sua apropriação enquanto patrimônio cultural,
como diretriz para a formulação de política de desenvolvimento regional.
Na perspectiva de situar esta temática como importante meio para justificar a
patrimonialização da paisagem do petróleo na cidade de Macaé, o artigo buscou construir, a
partir da ideia de paisagem cultural, a possibilidade de avançar no estabelecimento de
políticas públicas articuladas entre si.
Como estratégia de atuação para o futuro, e, uma vez estabelecida o recorte
territorial e a definição da abordagem que o particulariza, na sequencia, é preciso ter em
vista qual será a eficácia da chancela aqui atribuída.
Para tanto, apesar de não se constituírem em formas institucionalizadas de
preservação ou gestão – como a paisagem cultural o foi através da Portaria IPHAN
127/2009 – a contribuição de se adotar o conceito de imagem urbana associada à atividade
petrolífera para o estabelecimento de estratégicas e ações de preservação do patrimônio
cultural da cidade de Macaé, num contexto de cidade que integra territórios de produção do
petróleo, na escala regional, deve fazer parte desse processo. A chancela não só abre
novos caminhos e possibilidades para o campo da preservação patrimonial na cidade de
Macaé como realça a força da imagem de um Eldorado que demonstra sua condição de
riqueza e de esperança em um futuro, a partir da imagem que encanta, por ser dinâmica,
atraente, imprevisível, desafiante e poética.
Dentro desse ponto de vista, pretende-se que a reflexão aqui apresentada não seja
interpretada como um simples desabafo ou mesmo exercício filosófico. Baseada em um
caráter realístico e concreto, as proposições de paisagem cultural para a cidade de Macaé e
suas repercussões na escala regional estão alicerçadas nas ideias contidas e pesquisadas
em autores e outros estudos e ações de proteção, os quais também se preocupam com as

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consequentes implicações da chancela, dos parceiros envolvidos e da sua eficácia. Sua
consecução deve basear-se em parceiros e medidas estratégicas para a sua preservação.
E, em face do cenário regional em que se situa o caso Macaé, o que se impõe como
desafio no âmbito do desenvolvimento de planos, programas e projetos para a região em
destaque, pode ser pontuado, no presente artigo, como a necessidade de valorização de
espaços construídos, referências culturais e simbólicas, com consequente associação às
políticas públicas e legitimação pela população, contemplando assim, uma distribuição mais
democrática de recursos, ações coletivas, reorientando soluções sócio-espaciais.
DE certa forma, as questões acima abordadas encontram-se no cerne do
reconhecimento de uma visão de trabalho que integre as várias frentes disciplinares de
abordagem para, objetivamente, se implementar um processo de conservação, manutenção
e reabilitação que promova o respeito pela multidimensionalidade e dinamicidade do
patrimônio urbano e da sua imagem.
Na Macaé atual, enquanto cidade do petróleo verifica-se que o novo manifesta-se,
principalmente, pelas formas novas. Uma vez produzida a forma urbana é consumida. Por
consequência, a proposta de modernizar, associada às práticas de gestão municipal, visa
agregar valor ao plano local (ARAUJO, E.,2006, p.240)
Em resumo, procurou-se, no presente artigo, salientar a importância em adotar uma
visão multidimensional, complexa e dinâmica de abordagem. E nessa perspectiva, cada vez
mais a cidade de Macaé, como cidade que integra territórios de produção, na escala
regional, prescinde de estratégias e não de modelos para a realização de intervenções que
assegurem a possibilidade de patrimonialização da paisagem urbana, seja nas diferentes
escalas do território, seja nos modos de intervenção. Estratégias que compartilhem com
outros campos disciplinares, que atuem e que pensem Macaé, a partir das construções
sociais ligadas ao patrimônio industrial associado à atividade petrolífera, e das tensões e
conflitos correlacionados.

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VASCONCELOS, Marcela C.A. As fragilidades e potencialidades da chancela da
paisagem cultural brasileira. In: Revista CPC, São Paulo, no.13, p.51-73,
Nov.2011/abr.2012.
1
De sua arquitetura colonial, Macaé conserva apenas a Igreja de Sant´Anna, reformada e, o Forte
Marechal Hermes, de 1651.
2
Antes Praia de Imbetiba, espaço transformado no Porto. As praias dos bairros Campista e
Cavaleiros acabaram por substituir Imbetiba. Atualmente a base de Imbetiba, é a sede da Unidade
Gestora da Bacia de Campos, leia-se sede da Petrobrás. Localizada na região central próximo ao
antigo porto da cidade e a foz do rio Macaé.
3
O Arquipélago de Sant´Anna é uma área de proteção ambiental formada por três ilhas – Santana, do
Francês e o Ilhote Sul – que servem de abrigo para aves migratórias, além de ter uma rica flora.
Macaé também é sede do Parque Nacional de Jurubatiba, único do país voltado para a preservação
da vegetação de restinga.
4
Segundo debate apresentado no VI Colóquio Latino Americano sobre recuperação e preservação do
patrimônio industrial, ocorrido em julho de 2012, organizado pelo Comitê Brasileiro para a
Preservação do Patrimônio Industrial, - TICCIH Brasil - estudos com essa temática vem alcançando,
no mundo contemporâneo, uma relevância e uma importância histórica e social inquestionável.
5
O conceito de paisagem cultural foi regulamentado pela Portaria IPHAN 127 de 30 de abril de 2009.
Cria-se a partir desse novo instrumento de proteção patrimonial e de gestão do território a “Chancela
da Paisagem Cultural Brasileira”. Já a Constituição Federal de 1988, designa ao termo a definição de
“Patrimônio Cultural é formado por bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou
em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira”.
6
Para o autor, em sua obra Teoria da Boa Forma (1981) “Lugar Utopia” são ideias sobre a relação do
homem com o lugar e só superficialmente do homem com o homem. É um recital de desejos.
7
Influenciada pelas contribuições de COSGROVE (2000, 1994).
8
Em consonância com o que apregoa a Carta de Cracóvia - Princípios para a Conservação e
Restauro do Património Construído, 2000
9
Para Bachelard (1998), as imagens que se formam a partir da reconstrução da cidade, da sua
linguagem, permite a formação de um sem número de imagens. A partir do conceito de imaginação, é
possível entender estas imagens que encantam uma cidade.
10
UNESCO, sigla para Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Atua na
criação de programas para proteção dos patrimônios culturais e naturais.

Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional


Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013
11
Sobretudo da pesquisa originária da contribuição da Tese de Doutorado da autora Eloisa Carvalho de Araujo –
“Paisagem da Utopia: novas formas instituintes no ambiente urbano e tecnológico da Bacia de Campos”.
PROURB/FAU/UFRJ, 2006 e da pesquisa, em curso, coordenada pela mesma autora – “Infraestrutura e
Urbanismo: cenários de recuperação e instrumentos de gestão como diretriz de sustentabilidade” desenvolvida
com apoio da FAPERJ, no âmbito do Departamento de Urbanismo da EAU/UFF. Esta última conta com a
participação da aluna Samara Guimarães como bolsista de iniciação científica.

Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional


Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013

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