www.eoi.es
www.gasnatural.com
p r ó l o g o
A eficiência energética está no centro dos três principais eixos da política energética mundial:
Segundo a Agência Internacional de Energia, seguindo actuais tendências, nos próximos 25 anos o
consumo de energia irá subir cerca de 50%, o que provocará um grande aumento das emissões de
gases com efeito de estufa. De acordo com o texto do Painel Intergovernamental para as Altera-
ções Climáticas (IPCC), publicado em finais de 2007, esta tendência provocará um aumento das
temperaturas médias em mais de 6 ºC até ao final do século.
A necessidade de uma alteração na tendência actual passa, sem dúvida, pelo uso responsável e
eficiente da energia, só assim poderemos controlar esta evolução ascendente do consumo.
Por isso, no Grupo Gás Natural cremos que a eficiência energética e o uso racional da energia são
a nossa prioridade em matéria de responsabilidade social. Achamos que esta prática está directa-
mente relacionada com o sector da energia no qual o Grupo Gás Natural desenvolve a sua activi-
dade. Esta ligação proporciona legitimidade social ao exercício empresarial, pois relaciona a contri-
buição do produto para o bem estar e o serviço que prestamos.
O Grupo Gás Natural está comprometido na construção de uma nova cultura no uso da energia por
parte do consumidor. Levar a eficiência energética até aos nossos clientes implica partilhar com
eles a nossa visão, integrar as suas preocupações e necessidades nas soluções oferecidas e,
contribuir colectivamente para o uso racional dos recursos disponíveis.
O cliente actua, numa dupla vertente, como um agente multiplicador dos avanços em matéria de
eficiência energética. Como vector de competitividade e como instrumento de redução das emis-
sões de gases com efeito de estufa.
Desde há seis anos que a eficiência energética é uma bandeira do Grupo Gás Natural, esta é a arma
mais poderosa e imediata no combate e controlo das emissões de CO2. Está ao nosso lado, apenas
temos de a praticar. É a ”pequena ajuda” do Grupo Gás Natural na construção de “um melhor” e
mais responsável mundo.
01 05
Introdução Eficiência e Poupança Energética no
Sector dos Serviços
pág. 102
pág. 8
02 06
Eficiência e Poupança Energética em Eficiência e Poupança de Energia em
Habitações meios Urbanos e Edificíos
03 07
Eficiência e Poupança Energética na Eficiência e Poupança Energética nos
Indústria I Transportes. Biocombustíveis
04 08
Eficiência e Poupança Energética na Energias Renováveis: Eólica
Indústria II
pág. 170
pág. 84
09 13
Energias Renováveis: Solar Inovação Tecnológica
10
Energias Renováveis: Cogeração,
Biomassa
pág. 218
11
Energias Renováveis: Geotermia e
Mini-Hídricas
pág. 246
12
Produção de Energia Eléctrica
pág. 268
01 Introdução
Na sexta secção, explicaremos o que são as alterações
1. Introdução climáticas, gases com efeito de estufa, camada de ozono e
10
chuvas ácidas.
Quais são as fontes de energia?, onde se encontram?,
quem as controla?, o que são as alterações climáticas?, o Nas seguintes secções falaremos de energias renováveis e
que é o Protocolo de Quioto?, como evitar os cada vez mais de eficiência e poupança energética. A estes assuntos
frequentes desastres naturais?, energias renováveis, dedicaremos os seis seguintes capítulos do Manual.
energia nuclear, hidrogénio, veículos eléctricos…?, e se
não fosse necessário complicar tanto?, e se cada um de Por último, indicaremos, os endereços de Internet para
nós se comprometesse um pouco mais, comprometen- aqueles que queiram aprofundar os seus conhecimentos.
do-nos realmente por um consumo mais responsável e
eficiente?... Estas, junto com muitas outras, são as ques-
tões que se irão abordar neste primeiro capítulo do Manual 1.1. Energia e fontes de energia
de Eficiência Energética.
Antes de aprofundarmos o assunto, é necessário distinguir
Nos últimos tempos a energia converteu-se num assunto entre, energia, fonte de energia e forma de energia.
de interesse nacional, tal como no futebol e na política,
todos nós opinamos. E não é para menos, assuntos como Uma fonte de energia não é mais do que um depósito
o preço do petróleo, as alterações climáticas, a eficiência e desta. Em alguns casos é necessário transformá-la para se
poupança energética, afectam-nos a todos de uma forma poder extrair desta a energia, em outros casos não. Em
muito directa, tanto no campo macroeconómico (factura função da fase de transformação em que as fontes se
energética, balança comercial, competitividade,…) como encontram, estas classificam-se como:
no campo microeconómico (preços dos combustíveis,
factura eléctrica, alterações climáticas...). • Primárias. São aquelas que se encontram directa-
mente na natureza, que não foram submetidas a
Não se passa um dia em que não encontremos notícias nos nenhum processo de transformação. Algumas neces-
meios de comunicação sobre o sector energético (movi- sitam de processos de transformação prévios ao seu
mentos empresariais, o futuro das energias renováveis, consumo (carvão, petróleo, gás natural, urânio),
crises políticas entre países,…). Tal como sucedeu na outras não (sol, vento, água de barragens, madeira).
última década com o sector financeiro, pelo qual tantos de Em função da sua abundância na natureza (esgo-
nós se interessaram (aprendemos sobretudo a tirar o táveis e inesgotáveis) podem ser classificadas de
máximo de rentabilidade dos nossos investimentos), agora não renováveis (petróleo, carvão, gás e urânio) e de
é a vez do sector da energia. Todos deveríamos possuir renováveis (hidroeléctrica, eólica, solar e biomassa),
alguns conhecimentos que nos possibilitassem, pelo respectivamente. As primeiras representam 94% do
menos, compreender as notícias que lemos e ouvimos, e consumo mundial de fontes de energia primária. É
assim entender os efeitos que este assunto tem sobre as importante ressalvar que, excepto no caso do mineral
nossas finanças e, principalmente, sobre as nossas vidas. de urânio, todas têm a mesma origem: o Sol1.
Quanto ao conteúdo deste capítulo, na primeira secção • Secundárias. Denominam-se também de vectores
iremos compreender quais são as principais fontes de energéticos. A sua missão é transportar e/ou arma-
energia, em que regiões do mundo se encontram, que zenar a energia, contudo, não se consomem directa-
países as consomem,… mente. A mais importante é a energia eléctrica, a
qual muitos especialistas (organismos nacionais e
Na quinta secção falaremos do protocolo de Quioto (o que internacionais) também denominam de electricidade
é, que países o rectificaram, qual é a sua utilidade, o seu primária. A partir desta obtêm-se energia mecánica e
futuro…). térmica. Outros dois vectores são o urânio enrique-
cido (matéria prima das centrais nucleares) e os
1 Exceptuando o caso do urânio, a origem do resto das fontes de energia radica no Sol. Se considerarmos que a vida (animal e vegetal) existe sobre a Terra graças
à acção do Sol, temos o carvão, o gás e o petróleo (obtidos por sedimentação durante milhões de anos de restos animais e vegetais) provêm do Sol, algo igual
acontece com a Biomassa (madeira e resíduos vegetais) o biogás (procedente de restos orgânicos de animais). Por outro lado, o vento produz-se como conse-
quência de uma diferença de temperatura entre as distintas capas da atmosfera, a água doce provém da evaporação por efeito do Sol.
Existem outros mecanismos para obter energia além do Sol que actualmente se encontram em fase de investigação e desenvolvimento. São os seguintes: a
acção gravitacional da Lua sobre a Terra dá lugar às marés (o movimento destas massas de água pode ser aproveitado para a produção de energia), o calor exis-
tente nas capas interiores da Terra (essa energia térmica pode ser utilizada directa ou indirectamente para nosso proveito), algumas reacções nucleares exotér-
micas (já se explora comercialmente a fisão dos átomos de urânio e desde alguns anos que se investiga a fusão dos átomos de hidrogénio),…
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• Finais. São as que consumimos diariamente nas Analisaremos o contexto energético internacional desde
nossas casas, indústrias e transportes. As principais dois pontos de vista: Procura e Oferta.
são os derivados do petróleo (gasolinas, gasóleos,
keroseno, butano, propano,…), o gás natural e a Pelo lado da oferta o principal factor a analisar é a situação
energia eléctrica. A partir destas extrai-se a energia (reservas) em que se encontram as fontes de energia
nas suas três formas possíveis: Energia luminosa, primária. Tal como a população ou a riqueza, a maior parte
mecânica e térmica. Cada uma destas, individual- das reservas ou fontes de energia, especialmente as mais
mente, é susceptível de se converter em quaisquer procuradas (carvão, gás natural e petróleo), estão geografi-
uma das outras duas2. camente distribuídas por um pequeno conjunto de países.
Esta classificação varia segundo as fontes, recomendamos, Vejamos alguns dados relativos ao petróleo:
que no que resta deste capítulo, deverá ter em atenção
cada uma das imagens correspondentes. • Calcula-se que existam reservas efectivas equiva-
lentes a 1.300 x 103 milhões de barris de petróleo.
Cada uma das fontes de energia tem um teor energético
diferente (energia por unidade de massa). É necessário ter • A produção-procura mundial situa-se ao redor de
em conta outros aspectos (principalmente custos, de loca- 85 milhões de barris/dia.
lização, extracção, transformação,…), em princípio quanto
maior é o teor energético de uma fonte, mais rentável será • O horizonte temporal de reservas comprovadas de
a sua exploração. As fontes com maior conteúdo energé- petróleo é de 41 anos.
tico são as que têm origem fóssil (carvão, petróleo, gás
natural) e o urânio. • A capacidade de refinação (processo pelo qual se
obtém os derivados de petróleo) instalada é de
As fontes de energia primária serão transformadas para 83 milhões de barris/dia, sendo que raramente se
que se possa obter energia final, passam pelas seguintes consegue cobrir a procura.
etapas: prospecção (localização), extracção, transporte até
aos centros de processamento e transformação, transporte • 95% das reservas comprovadas de petróleo
até aos centros de consumo e, finalmente o consumo. (1.224,5 milhares de milhões de barris) localizam-se
Introdução
em apenas 20 países. Os 14 primeiros aparecem
Como sucede noutras ocasiões, não existe a fonte de indicados na tabela 1.
energia perfeita, todas têm as suas vantagens e inconve-
nientes. Assim por exemplo, o petróleo tem um alto teor • O valor total, mundial, de reservas comprovadas é de
energético, mas a sua prospecção e extracção é muito cara, 1.292,6 milhares de milhões de barris de petróleo.
e a combustão dos seus derivados emite elementos capítulo 01
nocivos. Do outro lado encontra-se o vento. Esta fonte de • A maior parte dos países referidos, encontram-se em
energia é renovável, inesgotável e de fácil acesso, mas o regiões de conflito, como o Médio Oriente (que
seu teor/conteúdo energético é muito baixo e impossível dispõe de quase um terço das reservas mundiais),
de armazenar. Rússia e países da antiga URSS e América Latina.
Por último, assinalaremos que a unidade de medida que As principais consequências desta situação são:
habitualmente se utiliza, é a tonelada equivalente de
petróleo, que variará em função do tipo de petróleo consi- • Posições de privilégio, em algumas ocasiões, abuso
derado (tep). O tep usa-se nas comparações e medidas da de poder por parte destes países.
qualidade energética dos diferentes combustíveis.
• Conflitos internacionais.
• Insegurança no abastecimento.
2 “A energia não se cria nem se detroi, apenas se transforma”, frase conhecida por todos e que corresponde à 1ª lei da termodinâmica.
TabEla 1 Figura 1
Localização das reservas comprovadas de petróleo. Distribuição das reservas mundiais de petróleo (2005).
12
Ásia Pacífico 8%
EU 21,4 (1,7%)
África 8% Médio Oriente 40%
América do Norte 4%
Qatar 15,2 (1,2%)
TABLA 2
• Distribuição heterogénea. Zonas muito povoadas e Previsões de crescimento da população mundial.
13
outras praticamente desérticas.
Ano População Mundial
• Zonas de elevada concentração. Em cada 100 habi-
tantes, 60 estão no continente asiático. China e Índia 1950 2.535.093
comportam um terço da população mundial.
1955 2.770.753
• Segundo as previsões da União Europeia (UE), nos 1960 3.031.931
próximos 50 anos a população mundial aumentará
50%. 1965 3.342.771
1970 3.698.676
• Espera-se que a população mundial em 2030 seja de
1975 4.076.080
8.100 milhões de habitantes.
1980 4.451.470
Figura 3
1985 4.855.264
Distribuição da população mundial 2003.
1990 5.294.879
1995 5.719.045
2000 6.124.123
Rússia 2%
Oceania 1% 2005 6.514.751
América do Norte 5% Ásia 60% 2010 6.906.558
2015 7.295.135
Europa 9%
2020 7.667.090
América do Sul 9%
2025 8.010.509
2030 8.317.707
África 14% 2035 8.587.050
Introdução
2040 8.823.546
2045 9.025.982
Fonte: International Energy Agency (IEA).
2050 9.191.287
Fonte: EU capítulo 01
Figura 4
Previsões de crescimento da população mundial.
10.000.000
8.000.000
6.000.000
4.000.000
2.000.000
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050
Fonte: IEA.
Outro dos factores chave é a riqueza. Tal como a popu- líferas do mundo), e que a China e a Índia já em 2006 se
lação, a sua distribuição é desigual. Na imagem anterior encontravam entre os principais importadores. Espera-se
vê-se a distribuição da população (em tons vermelhos que antes de 2010 se convertam nos maiores do mundo,
escuros vêem-se os países mais populosos) e da riqueza especialmente a China.
[em tons roxos escuros vêem-se os países com maiores
Produto Interno Bruto (PIB); índice do nível de riqueza]. Figura 6
Desta análise podemos extrair muitas conclusões, mas as Importações de energia no mundo em 2006.
que mais sobressaem, ainda que conhecidas por todos,
são a repartição desigual e que existem regiões como
África e Ásia que, sendo das mais populosas, são também
as que possuem menor riqueza.
Apesar de os Estados Unidos, Europa, Austrália, China e É importante assinalar que os Estados Unidos é o maior
Índia se encontrarem entre as regiões com maior consumo emissor de gases com efeito de estufa (GEE) em termos
15
energético do mundo, quando falamos de consumo per absolutos e per capita. Este assunto será tratado em
capita, os Estados Unidos são o número um. Apesar deste detalhe no quinto capítulo.
extremo, na seguinte imagem pode ver-se como o consumo
per capita (medido em tep) da China e da Índia são dos Se analisarmos o consumo desde o prisma das fontes de
mais baixos do mundo. Isto deve-se ao facto de a sua popu- energia primária, poderemos tirar as seguintes
lação ser superior a 2.000 milhões de habitantes. conclusões:
Introdução
• Depois de uma primeira etapa, em que se desenvol-
Figura 8a veram grandes projectos nucleares, desde uns
Consumo mundial de energia primária em 2003 15 anos a esta parte, este tipo de projectos tem dimi-
e evolução da mesma entre 1971-2003. nuído (sendo que alguns países ainda constroem
centrais, contudo estes projectos têm estado capítulo 01
parados, na maioria dos casos por pressão da opinião
Gás natural 20,9%
pública).
Nuclear 6,4%
Hidráulica 2,1%
Geotérmica/solar/eólica 0,5%
Carvão 24,1%
Figura 8b
Consumo mundial de energia primaria em 2003 e evolução do mesmo entre 1971-2003.
16
Petróleo 35,3%
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
-
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050
Fonte: IEA.
nuclear 6%
• O carvão (24% do consumo mundial) é a fonte de
energia primária mais utilizada na produção de hidro 6% biomassa 3%
energia eléctrica (representa cerca 40% do total utili- petróleo
zado).
gás natural 24%
de 35%.
combinado
sólido combin
• Com o petróleo passa-se o contrário: representa 26% sólido
mais de um terço do consumo mundial de fontes de
nuclear 6%
energia primária e no entanto apenas se utiliza um nuclear 1%
terço para ahidro
produção
6% de energia eléctrica. O motivo
biomassa 3%
1.800.000
é porque existem melhores fontes para a produção petróleo 23%
de electricidade, e devido à sua intensidade energé- 1.600.000
gás natural 24% biomassa 35%
tica, o petróleo (seus derivados) utiliza-se prioritaria- 1.400.000
mente na obtenção de energia térmica (aquecimento) 1.200.000
petróleo 37%
e mecânica (transportes).
1.000.000
hidro 6%
petróleo 37%
hidro 6%
combinado
sólido combinado gás natural 26%
Figura 9b
26% sólido 28%
Distribuição do consumo de energia primária na China.
17
1.800.000
1.600.000
1.400.000
1.200.000
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
-
1971 1974 1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004
Fonte: IEA.
Figura 10
Evolução da utilização de fontes de energia primária para produção de electricidade 1971-2003.
18.000.000
Introdução
16.000.000
14.000.000
12.000.000
10.000.000
8.000.000 capítulo 01
6.000.000
4.000.000
2.000.000
-
1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003
Fonte: IEA.
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
_
Fonte: IEA.
• O petróleo continuará a ser a fonte de energia mais 3. Investigação e desenvolvimento (I+D) de novas
consumida, apesar de que o seu peso diminuirá. fontes de energia e de tecnologias de produção
de energia eléctrica menos poluentes e mais
• O carvão e o gás natural serão as fontes com maior baratas.
incremento de consumo (mais 200% em 2030).
• Por parte da procura
• A madeira e os resíduos (vegetais e animais) conti-
nuarão a manter o nível actual. 1. Aumento do consumo de energia como conse-
quência do:
• A população mundial aumentará cerca de 33%; 30%
na Ásia, 80% em África e Médio Oriente e 40% na • Crescimento da população.
América Latina.
• Crescimento da riqueza. Cada vez existirão
• O PIB mundial anual crescerá 150%, 286% na Ásia, mais países no grupo dos países desenvol-
183% na África e Médio Oriente e 155% na América vidos (África) e novos potenciais mundiais
Latina. (Brasil, China e Índia).
Para finalizar, apresentamos alguns dos factores que serão 2. Dependência focada em poucas fontes de
cruciais no futuro (alguns já o são hoje): energia primária (carvão, petróleo e gás natural),
escassas (muito concentradas em determinadas
• Pelo lado da oferta regiões, instáveis política e socialmente).
Tabela 3
Previsões de população, riqueza, consumo de energia primária e emissões de CO2 por região 2000-2030.
19
Europa Ocidental 456 468 9.225 16.706 1.604 1.936 3.599 4.374
América do Norte 304 365 9.943 18.096 2.532 3.082 6.387 7.955
CIS, CEEC 425 422 2.457 6.400 1.173 1.853 2.857 4.476
África-Médio Oriente 984 1.755 2.313 6.553 840 1.762 1.708 4.652
América Latina 514 717 3.455 8.840 614 1.251 1.296 2.722
Introdução
Mundo 6.102 8.164 41.409 102.787 9.979 17.065 23.781 44.497
150.000
140.000
130.000
120.000
110.000
100.000
90.000
80.000
70.000
60.000
50.000
-
150.000 145.512 60
145.000 52
141.846 50
52 51 51
140.000 136.202 50 49
135.000 132.357
40
130.000 30
124.889 127.734
125.000 20
120.000 17 14 15 17
20
17 15 13 15 16 12 15
115.000 12 13 13 12 12 10
10
_ 5 6 5 7 6 6 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005
Fonte: Ministério da Indústria, Turismo e Comércio (MITy C) / Instituto para a Diversificação e Poupança de Energia (IDPE).
1. Em Portugal não existe jazidas de petróleo e gás 4. Em Portugal a produção de urânio diminuiu desde
natural em quantidade significativa, por isso a sua 1999 até 2001. Em 2002 já não houve produção.
produção é insignificante. Não possui a tecnologia para o enriquecimento
do urânio e não utiliza-lo como matéria prima em
2. Portugal já não dispõe de zonas mineiras. O centrais nucleares. Apenas um pequeno conjunto
carvão utilizado na produção é importado. de países dispõe desta tecnologia (Estados
Unidos, Rússia, Reino Unido, China, França,…).
3. A produção de energia hídrica apresenta uma Assim cada vez que um país (o último foi o Irão)
pequena variação no aumento da potência insta- anuncia que vai desenvolver esta tecnologia, os
lada (construíram-se poucas centrais hidroeléc- que a possuem, especialmente Estados Unidos,
tricas nos últimos anos).
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 13
Evolução da produção de energia por fontes primárias entre 1971-2004.
21
40
35
30
25
20
15
10
5
-
1971 1974 1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004
Fonte: IEA.
Introdução
capítulo 01
tratam de o impedir pelo perigo de este a utilizar Nos próximos anos existirá uma explosão do uso
para fins militares. destas fontes.
5. Observa-se o aumento da produção de fontes de
origem renovável, especialmente eólica e solar.
Figura 14
Balanço de energia primária consumida em Portugal em 2009 / Evolução anual do consumo.
Fonte: APREN
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• Analizando o balanço de energia primária consumida 3. A produção hídrica subiu pouco nos últimos
em 2006, constatamos o seguinte: anos, deve-se essencialmente à construção de
poucas centrais hidroeléctricas. Em 2009 repre-
1. Cerca de 62% (dados de 2009) das fontes de sentou 55% de todas as renováveis.
energia primária consumidas (petróleo, gás
natural e carvão) são importadas. Isto coloca-nos 4. Em 2009 a eólica representou 40% de todas as
numa posição muito delicada, ainda mais tendo renováveis.
em conta o contínuo crescimento da nossa
intensidade energética. Estes motivos mostram 5. A produção a partir do gás natural (centrais de
a necessidade do desenvolvimento de uma ciclo combinado) e fontes de origem renováveis
indústria de energias renováveis (fontes autóc- aumentou muito nos últimos anos, espera-se
tones, inesgotáveis e gratuitas), que repre- que estas sejam o futuro da produção de
sentam cerca de 33% do total. energia.
Introdução
em favor do gás natural e das renováveis.
5. No início dos anos 90, inicia-se o consumo de
gás natural, hoje em dia (20%) é a fonte com Por último vamos expor alguns aspectos relevantes do
maior crescimento relativo. O desenvolvimento sector energético português:
de uma série de centrais de ciclo combinado de
produção de electricidade fez com que o • Alta dependência do exterior. Como já se havia capítulo 01
consumo disparasse, convertendo-se na fonte comentado, cerca de 62% das fontes de energia
do futuro, pelo menos em Portugal. primária são importadas (na UE é de apenas 50%).
Isto supõe riscos inflacionistas e desequilíbrios
6. As fontes de origem renovável representam macroeconómicos, em cenários de alta dos preços
33% do consumo. Ainda que hoje em dia a fonte do crude.
mais utilizada seja a energia hídrica, espera-se
um importante aumento da solar e da eólica. • Portugal é uma ilha, em termos energéticos. Não
Estas são as fontes do futuro. dispomos de petróleo nem de gás natural. Encontra-
mo-nos geograficamente no extremo sul da Europa.
Quanto à evolução do consumo de combustíveis para Dispomos de interconexões eléctricas com Espanha
produção de energia eléctrica, podemos assinalar o e de gás natural com Espanha e Argélia.
seguinte:
• Intensidade energética crescente. Desde há uma
1. Tal como a maioria dos países, o petróleo utili- década que a intensidade energética portuguesa
za-se maioritariamente nos transportes e aque- apresenta uma tendência crescente, ao contrário do
cimento, cada vez menos como matéria prima conjunto da UE, onde decresce. Isto deve-se funda-
para a produção de energia eléctrica. mentalmente á baixa eficiência do nosso sector
produtivo (utilizamos mais quantidade de energia • Quanto ao gás natural, apesar de não existirem em
para produzir a mesma unidade de produto). Um dos Portugal jazidas importantes, dado o protagonismo
24
grandes desafios para Portugal é quebrar a relação que este está a adquirir na produção de energia eléc-
directa entre crescimento económico e aumento do trica por ciclos combinados, algumas empresas eléc-
consumo de energia, e como tal, aumento de tricas, desde há algum tempo convertidas em grupos
emissão de GEE. energéticos transversais, assinaram acordos de
fornecimento a longo prazo directamente com os
• Nos últimos anos o aumento inter-anual da procura principais países produtores do Norte de África. O
eléctrica foi superior a 6%, em comparação com a objectivo de tais acordos é múltiplo: assegurar o
média da União Europeia. fornecimento futuro, ser capaz de alimentar as múlti-
plas centrais de ciclo combinado que proliferaram
• Ainda temos que percorrer um longo caminho para pelo país, poder aumentar a oferta dos seus clientes
conseguir cumprir o Protocolo de Quioto. eléctricos tradicionais (fornecer agora também gás a
preços competitivos), obter importantes rendimentos
• Petróleo. Representa cerca de metade das fontes de pela venda de gás a outros operadores (nacionais e
energia primária consumidas. Não temos produção internacionais)…
própria. Grande dependência do exterior.
• Energia nuclear. Mantêm-se o debate na opinião
• Carvão. Continua a ter um peso importante no mix pública. Não deixa ninguém indiferente. Para já não
produção eléctrica, apesar de que na sua combustão existem projectos concretos para a construção de
emite grandes quantidades de GEE. A sua utilização, centrais nucleares.
na produção eléctrica, perdurará por muitos anos, as
“utilities” continuam a investir recursos em I&D com • Fontes de origem renovável. Constituem a aposta de
vista ao desenvolvimento de tecnologias menos futuro. Apesar de existirem estudos que afirmam
contaminantes ou de carvão “limpo”. que Portugal até ao final do século poderá cumprir a
TabEla 4
Fontes de energia utilizados na produção de energia eléctrica na UE.
totalidade da sua procura de energia a partir de fontes da Terra, acontecimentos como ciclones, furacões, inun-
renováveis, é difícil que estas cheguem a substituir dações, secas… Desde há alguns anos, quase diariamente,
25
totalmente os hidrocarbonetos. Tal como sucedeu chegam-nos notícias de diferentes desastres naturais que
com outras fontes de energia, actualmente as fontes acontecem por todo o planeta. Alguns dados relevantes
renováveis são subsidiadas pelo Governo. Este são:
subsídio é necessário, não tanto para conseguir que • O Inverno de 2006 foi o mais quente no hemisferio
estas substituam as outras fontes consolidadas norte desde 1880.
(retirar cota à produção eléctrica), mas para fomentar
o desenvolvimento de toda uma indústria/sector que • A concentração de CO2 na atmosfera é a mais alta
com o tempo se faça tão competitivo ou mais compe- dos últimos 650.000 anos… e continua a subir.
titivo que os restantes sectores de produção.
• As temperaturas do ártico aumentaram aproximada-
Figura 15 mente 5 °C durante o século XX, ou seja, 10 vezes
Previsões de consumo das distintas fontes de energia. mais que a média da temperatura da superfície
mundial.
100%
90%
• Desde os anos sessenta, a cobertura de neve dimi-
80%
nuiu aproximadamente 10% nas latitudes médias e
70%
60% altas do hemisfério norte.
50% 52,0 50,3
40% 47,6 • O volume total dos glaciares da Suíça diminuiu dois
30% terços.
20% 22,5
17,3
10% 17,3 13,0 15,2 15,8 • Em Julho de 2006 as águas do mar Mediterrâneo em
11,9
8,2 9,7 12,0
_
5,6 6,8 apenas 18 dias aumentaram a sua temperatura 8 ºC,
2000 2003 2011 e passaram de 22 ºC a 30 ºC.
Introdução
de energia e tecnologias de produção de energia eléctrica
1.4. Alterações Climáticas e Gases com menos contaminantes, utilização de fontes de origem reno-
vável,…). A humilde opinião do autor é que, ainda que todos
Efeito de Estufa
os esforços sejam poucos, a solução para combater as alte-
rações climáticas deverá surgir do lado da procura. As
O termo alterações climáticas utiliza-se vulgarmente de chaves são: capítulo 01
forma incorrecta. Alteração do clima é quaisquer alterações
que se produzam no clima da Terra3 e, portanto, não é algo • Consciencialização mundial (organismos, empresas,
novo, desde há milhões de anos que estas alterações governos, cidadãos) no combate ao problema.
existem. A novidade é que até agora as alterações aconte-
ciam devido a causas naturais, desde há 300 anos tem • Redução do consumo energético.
surgido uma nova causa: a acção do ser humano (cientifica-
mente este tipo de alteração denomina-se de antropogé- • Eficiência no uso das distintas fontes de energia.
nico e, de uma forma mais coloquial, aquecimento global).
• Reciclagem.
Uma das provas de que o homem está a contribuir para as
alterações do clima terrestre, é espelhado na maior • Regulação dos níveis de emissões de GEE nos
frequência e intensidade que acontece em distintas regiões sectores residencial e transportes.
3 Não confundir temperatura atmoférica com clima. O primeiro define-se como sendo o estado da atmosfera (das condições atmosféricas como temperatura,
pressão atmosférica, direcção e força do vento, quantidade de nuvens, humidade,…) registradas num determinado lugar e num determinado período de tempo.
O segundo, no entanto, define-se como o conjunto desses valores (média) recolhidos numa determinada região da Terra durante um período de tempo mais largo
(não inferior a 30 anos). Assim, os climas criam-se a partir do registo diário das condições atmosféricas em diferentes estações meteorológicas e durante muitos
anos. O manual desses dados permite estabelecer as diferentes zonas climáticas do planeta.
De seguida apresentamos alguns conceitos que, tal como Segundo cálculos de especialistas, a temperatura média na
as alterações climáticas, aparecem todos os dias na comu- Terra aumentou 0,6 °C durante o século XX e aumentará
26
nicação e convém ter claros, sobretudo, conhecer as suas entre 1,4 °C e 5,8 °C daqui até ao ano 2100.
diferenças.
Os gases com efeito de estufa (GEE)4 são os seguintes:
Os gases de efeito de estufa (GEE) constituem apenas 1%
de todos os gases que compõem a atmosfera, mas são • Dióxido de carbono (CO2). Representa apenas 0,04%
essenciais para que exista vida sobre a Terra. Estes gases dos gases existentes na atmosfera, mas é o causador
retêm uma parte da energia, que vem do Sol, que é reflec- de 60% do efeito de estufa (este é o motivo pelo qual
tida pela crosta terrestre, aquecendo a atmosfera até quase sempre se fala de GEE, referirmo-nos unica-
alcançar as temperaturas óptimas para a existência de vida mente ao CO2). Emitimo-lo quando respiramos e
(animal e vegetal) sobre a Terra. Se não existissem os GEE, também na combustão de fontes de energia fóssil
a temperatura sobre a crosta terrestre seria de -15 ºC. O (madeira, carvão, gás natural e derivados do petróleo).
problema surge quando a emissão de GEE por parte do ser A combustão da lignite (tipo de carvão com que se
humano causa um aumento excessivo de concentração na gera metade da energia eléctrica consumida no
atmosfera desses gases, evitando que parte da energia mundo) é um dos processos industriais que mais
reflectida viaje para lá da atmosfera, ficando esta retida e CO2 emite. O dióxido de carbono é absorvido pelas
provocando aumento excessivo da temperatura. Este plantas na fotossíntese. Outra das causas do aumento
aumento origina alterações irreparáveis, em muitos, casos é a desflorestação, esta é a maior causa indirecta do
nos ecossistemas e contínuos desastres climáticos. seu aumento na atmosfera.
e destruída constantemente, mas mantendo-se o seu equi- O Protocolo de Quioto é um instrumento legal que estabe-
líbrio. lece, pela primeira vez, um compromisso vinculativo e
27
específico de limitação de emissões líquidas de GEE para
O problema produz-se quando emitimos demasiados CFC e os países desenvolvidos, incluindo nestes os países que
NOx. Então chegam à Terra mais radiações solares, do que estão na passagem para economias de mercado. Foi assi-
as desejáveis, causando problemas graves a todos os seres nado por todos os países que participaram na Conferência
vivos. Quando se fala de “buraco” da camada de ozono, das Partes (conferência organizada pela ONU para as alte-
não se faz referência a um verdadeiro “furo”, mas sim a uma rações climáticas; COP) celebrada na cidade japonesa de
dissimulação na concentração deste gás. Todos os anos Quioto em 1997. Nesse momento, todos eles (incluindo os
abre-se um “furo” tão extenso como os Estados Unidos e Estados Unidos, China, e Índia,…) acordaram que o Proto-
tão profundo como o Monte Everest. colo entraria em vigor 90 dias depois da Rússia o rectificar.
Chama-se chuva ácida as precipitações de água que contêm O objectivo principal do Protocolo é: “Estabilizar as concen-
partículas de ácidos sulfurosos e nitrogenados em disso- trações de GEE na atmosfera a um nível que impeça as
lução, e que produzem sob a forma de neblina, chuva ou interferências antropogénicas (as causadas pelo homem)
neve, sobre a superfície terrestre. Esses ácidos formam-se perigosas ao sistema climático. Esse nível deveria ser
pelo contacto do hidrogénio da água (H2O) com as molé- conseguido num prazo que permitisse aos ecossistemas
culas de óxidos de enxofre (SOx) e nitrogénio (NOx), emitidas adaptarem-se naturalmente às alterações climáticas, asse-
para a atmosfera pelo homem. As actividades que as molé- gurando que a produção de alimentos não se visse
culas emitem são as seguintes: ameaçada e permitisse o desenvolvimento económico
sustentável”.
Tabela 5
Emissões de SOx e NOx por actividade. Actualmente 141 países ratificaram o Protocolo, respon-
sáveis por 61,5% da emissão total de GEE. Não se inscre-
NOx (%) SOx (%) veram Estados Unidos, emissor de 25% do total dos GEE,
Australia, Brasil, China e a India (estes dois últimos, embora
em 2000 tivessem emitido 12% e 5% das emissões totais
Transporte 40 2 respectivamente, por serem considerados em vias de
desenvolvimento não têm restrições).
Combustão 49 74
O compromisso assumido pelos países que ratificaram o
Introdução
Processos Industriais 1 22 Protocolo foi o de reduzir a emissão de GEE (principalmente
CO2) para a atmosfera em 5,2% entre 2008 e 2012. A forma
de articular este acordo foi a seguinte: cada país compro-
Eliminação de lixos sólidos 3 1 metia-se a alcançar uma emissão de GEE máxima (diferente
para cada um deles) durante esse período equivalente a
capítulo 01
Incêndios florestais, queima agrícola, … 7 1 uma percentagem dos GEE que emitiam em 1990.
• Estabelece que o Governo de cada país da UE deve O objectivo destes mecanismos é duplo: por um lado, faci-
elaborar um Inventário Nacional (IN) de emissões em litar aos países do Anexo I o cumprimento dos seus compro-
que detalhe as quantidades máximas que pode emitir missos de redução de emissões e, por outro lado, apoiar o
cada sector industrial, empresa e unidade produtiva, crescimento sustentável dos países em vias de desenvolvi-
decretando sanções para os que não as cumpram, mento (Anexo II) através da transferência de tecnologias
bem como mecanismos de compensação para os limpas.
casos contrários.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Os principais defeitos do Protocolo são: • Portugal emitiu, em 2008, mais cinco por cento de
gases com efeito de estufa (GEE) do que o limite
29
• Não tem em conta os sectores que mais emitem imposto pelo Protocolo de Quioto, que abrange o
GEE (denominados de difusos): Os transportes e o período 2008-2012.
sector residencial.
• As previsões mais optimistas apontam que provavel-
• Não foi ratificado pelos Estados Unidos ( país respon- mente, no fim do período de Quioto poderá rondar os
sável por 25% das emissões de CO2), Brasil, China e 3 a 3,5 por cento.
a Índia (estes dois últimos são também grandes
emissores de CO2 e, dado o seu desenvolvimento • No futuro, as políticas energéticas deverão fomentar
económico esperado e a sua dependência das fontes o paralelismo entre crescimento da actividade econó-
de origem fóssil). O Governo Chinês e Indiano decla- mica e o consumo de energia, evitando, descidas
raram que a sua adesão ao Protocolo de Quioto atra- dos níveis de riqueza (PIB) e emprego.
saria o seu desenvolvimento económico.
• O não cumprimento do valor definido no protocolo,
A situação de Portugal no que concerne ao Protocolo de pode ser conseguido pelas seguintes vias:
Quioto é a seguinte:
1. Reflorestação de bosques; absorvedores de
• O nosso compromisso é emitir entre 2008-2012 cerca (CO2).
de 27% mais de CO2 que o que se emitiu em 1990.
2. Através de Créditos de Carbono ou Redução
• Em 2004 emitimos 41% mais do que emitimos em Certificada de Emissões.
1990. Somos o país da UE que mais se afasta dos
seus compromissos dentro do Protocolo de Quioto.
Figura 17
Cenários da penetração das EERR a nível mundial.
1.600
1.400
Introdução
1.200
1.000
800
600 capítulo 01
400
200
_
Fonte: PV NET.
Os instrumentos actualmente em vigor para combater as • 20% do consumo energético seja através de fontes
alterações são o Programa Nacional de Alterações Climá- renováveis.
30
ticas (PNAC), o Plano Nacional de Acção para a Eficiência
Energética (PNAEE), Plano Nacional de Acção para as Ener- • 10% dos combustíveis utilizados em transportes,
gias Renováveis (PNAER) e a Estratégia de Eficiência e sejam biocombustiveis. O estabelecimento deste
Poupança Energética. (Programa E4). objectivo específico para os biocarburantes deve-se
ao facto de o sector dos transporte utilizar no seu
mix energético, 98% de derivados de petróleo, sendo
1.6. Energias renováveis responsável pela emissão de um terço do total de
CO2 mundial. Esperando-se que este sector seja o
Uma das acções mais eficazes que do ponto de vista da que mais fará crescer as emissões até 2020.
oferta se podem levar a cabo para evitar o aumento das
alterações climáticas é a utilização de fontes de energia de • Reduzir as emissões de CO2 em, pelo menos, 20%.
origem renovável, na produção de energia eléctrica e
térmica ou calorífica. • Melhorar a intensidade energética (consumo de
energia / PIB) em 20%.
As principais fontes de energia de origem renovável são o
Sol (energia solar térmica, fotovoltaica e termoeléctrica), o Para 2010 mantêm-se os objectivos acordados:
vento (eólica terrestre e marítima), a água doce utilizada em
barragens, água salgada do mar, a biomassa (madeira e • 12% do consumo energético será coberto por fontes
resíduos vegetais e animais), o biogás, os biocarburantes renováveis.
(bioetanol e biodisel), o calor do interior da crosta
terrestre… • 5,75% dos combustíveis utilizados nos transportes
As principais vantagens destas fontes são: sejam provenientes de biocarburantes.
• Na sua combustão não emitem GEE. A sua explo- Relativamente a Portugal, apenas três comentários (neste
ração respeita o meio ambiente. Manual irão dedicar-se quatro capítulos):
• São inesgotáveis e autóctones. O seu uso diminui o • É imprescindivel, tal como ocorreu noutros sistemas
grau de dependência ao exterior e aumenta a segu- de produção de energia, que os projectos em ener-
rança do abastecimento. gias renováveis sejam subsidiados, pelo menos
durante os primeiros anos. O objectivo não é apenas
• A maior parte delas (sol, vento, água doce e do o de criar peso no mix de produção energética, coisa
mar,…) são gratuitas, sendo que o seu uso reduz a que levará décadas, mas sim a criação de uma indus-
factura energética do país. Outra coisa é o custo da tria sólida nestas áreas, permitindo estar na linha da
sua instalação, transporte e exploração. frente destas tecnologias. Isto possibilitará o desen-
volvimento necessário para se conseguir a dimi-
• Ao estar maioritariamente localizadas em ambiente nuição dos custos da tecnologia, e por sua vez,
rural, o seu uso fomenta o desenvolvimento econó- aumentar a independência económica deste tipo de
mico e social. Os projectos de exploração destas projectos, e que estes sejam rentáveis por si só.
fontes constitui uma nova e complementar, fonte de
ingressos para os proprietários dos terrenos. • As fontes de energia de origem renovável represen-
taram 13% do total de energia primária consumida. A
• Pelo factor novidade, dinamismo e inovação tecnoló- energia eólica e hídrica são as principais responsáveis
gica, o sector das energias renováveis constitui uma por essa percentagem. O resto das energias reno-
importante fonte de criação de emprego e de investi- váveis (solar fotovoltaica, solar térmica e geotérmica)
mento em Investigação, Desenvolvimento e Inovação foram apenas consumidas como energia primária.
(I+D+i) para o país.
• As energias renováveis representam 25-35% do total
Em seguida mostramos o grau de penetração, previsto, das de energia primária utilizada para produzir electrici-
Energias Renováveis para 2100. dade. A hídrica representa 45% do total, a eólica
38%, biomassa e biogás 3,2% e os resíduos sólidos
No que diz respeito à UE-27, no passado mês de Março de urbanos 0,2%. A solar fotovoltaica apenas contribuiu
2007, os seus membros comprometeram-se a alcançar até para a produção nacional de energia eléctrica.
2020 os seguintes objectivos:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Em seguida podemos ver a situação actual das energias poupança de energia (consumo responsável) e o uso
renováveis em Portugal e o seu grau de cumprimento em eficiente das fontes de energia, são essenciais ao futuro de
31
relação aos objectivos do Plano Nacional de Acção para as todos os que habitam o planeta.
Energias Renováveis (PNAER).
TABeLA 7
Principais dados das EERR em 2006.
Solar térmica
Introdução
134.663 m2 930.000 m2 4.901.000 m2 18,9%
capítulo 01
Fonte: IDAE.
TABeLA 8
Resumo das medidas sectoriais.
32
Sector
Sector Medida
Medida
Campanhas de comunicação.
Alterações nos sistemas de rega.
Poupança e eficiência energética no sector das pescas.
Agricultura
Melhoramentos energéticos em comunidades de regadio.
Modernização da frota de tractores agrículas.
Aumento da eficiência energética dos tractores em uso mediante o ITV.
Acordos voluntários.
Indústria Auditorias energéticas.
Programa de ajudas públicas.
Em edifícios existentes:
- Reabilitação da envolvente.
- Melhora da eficiência energética das instalações térmicas.
Edifícios - Melhora da eficiência energética das instalações de iluminação.
Em edifícios novos:
- Promoção da construção de edifícios energeticamente eficientes.
Para Portugal em particular, é essencial que se realizem energia), focalizando-se nos denominados difusos
todos os esforços possíveis (governo, empresas, organi- (transporte e residencial).
33
zações, cidadãos,…) em termos de poupança e eficiência
energética, pelos motivos que passamos a referir: • Programa Nacional de Alterações Climáticas (PNAC)
• Reduzir a factura energética. Cerca de 80% da • Eficiência Energética e Energias Endógenas (E4),
energia primária que consumimos é importada. Estabelece o potencial da poupança, bem como as
medidas que se devem levar a cabo com o objectivo
• Reduzir a dependência energética em relação aos de melhorar a intensidade energética da economia e
combustíveis fósseis (caros, fornecimento incerto). induzir uma mudança de convergência face aos
compromissos internacionais em matéria do meio
• Reduzir a emissão de GEE. A maior parte das fontes ambiente.
de energia utilizadas são de origem fóssil (carvão,
petróleo e gás natural) que são as que mais emitem
GEE na sua combustão. 1.8. Endereços de interesse
• Poupança na compra de direitos de emissão e no Em seguida mostramos alguns endereços de Internet, que
pagamento das sanções de incumprimento das poderão ser úteis no aprofundamento deste capítulo.
metas impostas pela ratificação do Protocolo de
Quioto. Rede Eléctrica de Portugal
www.ren.pt
• Reduzir o nível da intensidade energética, fazen-
do-nos mais eficientes e assim os nossos produtos Portal das Energias Renováveis
seriam mais competitivos em relação ao exterior. www.energiasrenovaveis.com
A legislação, planos e estratégias de desenvolvimento rele- Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
vantes em energias renováveis, poupança e eficiência ener- www.ERSE.pt
gética são os seguintes:
Associação das Energias Renováveis
• O Decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril aprova o www.APREN.pt
Sistema Nacional de Certificação Energética e da
Introdução
Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE). Constitui Direcção Geral de Geologia e Energia
a primeira norma europeia que obriga a incorporar as www.DGGE.pt
tecnologias solares (térmica) nos imóveis.
Agência internacional de Energia
• DL 33-A/2005 fixa os factores de cálculo para valor da http://aie.ineti.pt
remuneração pelo fornecimento da energia produzida capítulo 01
em centrais renováveis entregue à rede do Sistema Union Fenosa
Eléctrico Português (SEP), definindo procedimentos www.unionfenosa.com.pt
para atribuição de potência disponível na mesma
rede e prazos para obtenção da licença de estabele- O Protocolo de Quioto
cimento para centrais renováveis www.icex.es/Protocolokioto/default.htm
35
Introdução
capítulo 01
02 Eficiência Energética no Sector Doméstico
O normal e justificável em primeira estância seria poupar
1. Generalidades nos elementos e instalações que têm consumos maiores.
38
No entanto, ainda que existam sectores que apresentam
Portugal é um dos países europeus que menos energia consumos menores (como, por exemplo a iluminação), sem
consome no sector residencial, devido às características de fazermos referência a valores absolutos, mesmo assim
clima que o país possuí. Contudo, este sector representa ainda existe um interessante potencial de poupança ener-
16,8% do consumo total de energia consumida em Portugal gética.
no ano 2008, apenas ficou atrás do sector dos transportes,
que representa 36,3% do consumo total de energia e da De seguida, estes sectores serão tratados de forma inde-
indústria transformadora (28,6%). Para além de estar em pendente.
terceiro lugar na lista, o consumo doméstico de energia
tem-se mantido constante ao longo dos últimos anos.
2.1. Sistemas de aquecimento doméstico
Perante tal situação, o objectivo será aumentar a eficiência
energética. A eficiência energética poderá ser resumida Denomina-se como aquecimento, os sistemas térmicos
como, a redução do consumo de energia mantendo os destinados a manter a temperatura ambiente de um deter-
mesmos serviços energéticos, sem diminuir o conforto e a minado recinto a um nível superior ao da temperatura a que
qualidade de vida, protegendo o meio ambiente, assegu- se encontra o meio exterior.
rando o abastecimento de energia primária e a promoção
de um comportamento sustentado no seu uso. Ao revés, sistemas de refrigeração são aqueles cujo objec-
tivo fundamental é manter um recinto a uma temperatura
Em relação ao cumprimento do referido objectivo, o Plano inferior à do exterior. Se para além do controlo de tempera-
Nacional de Acção para a Eficiência Energética 2008-2015 tura, se faz um controlo da humidade de recinto, os sistemas
pretende que os novos edifícios cumpram critérios de denominam-se de sistemas de climatização.
eficiência energética mais exigentes durante a fase de
projecto, e que serão aplicados através da Certificação De uma forma geral, a energia necessária para o acondicio-
Energética dos novos edifícios a edificar, através do DL namento térmico de um edifício e das suas dependências,
78/2006. Desta forma, aquando da escolha de uma habi- seja aquecimento ou refrigeração, oscila entre 40% e 70%,
tação, deverão ser considerados aspectos ligados à sua como tal trata-se de um consumo muito importante de
eficiência, mediante esta certificação. energia. É particularmente necessário prestar especial
atenção à instalação do sistema de climatização, devido a
No caso dos edifícios existentes, o objectivo do Plano este o consumo energético pode chegar a representar 50%
Nacional de Acção para a Eficiência Energética 2008-2015 do total de consumo total do edifício.
baseia-se no financiamento e apoio a obras de reforma e
melhoria da envolvente do edifício, a renovação dos meios É necessário ter em conta que ainda que o projecto do
de aquecimento e iluminação interior. edifício possua características construtivas adaptadas às
condições ambientais exteriores e interiores, será sempre
necessário a instalação de sistemas de climatização para
2. Principais consumidores de energia que se chegue a um nível óptimo de conforto térmico,
entendendo-se este como a sensação agradável e equili-
brada entre, humidade relativa, temperatura e qualidade do
O consumo energético que se verifica no interior de uma ar.
habitação/casa tem a sua origem em diferentes equipa-
mentos e instalações: procura energética para aqueci- Por outro lado, é imprescindível tomar as medidas necessá-
mento, refrigeração, produção de água quente sanitária, rias para reduzir as perdas de calor no Inverno ou os ganhos
electrodomésticos e iluminação. Portanto, a partir destas de Verão. Deste modo, a procura de energia necessária
formas de consumo cobrem-se todas as necessidades para o acondicionamento térmico do edifício diminui e,
energéticas do sector residencial. consequentemente, também diminui o consumo energé-
tico.
Na análise individual de cada uma delas, comprova-se que
a climatização, que abarca o aquecimento, o arrefecimento, Na actualidade todos os sistemas de aquecimento se
bem como o controlo da humidade, é o sistema que mais dividem em: gerador de calor, combustível, distribuidor de
energia consome. Em segundo lugar situa-se a produção calor e unidades terminais. A produção compreende as
de água quente sanitária seguindo-se os equipamentos e a caldeiras, estufas e todo o sistema que mediante algum
iluminação. elemento transforma o combustível que está em presença
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
do ar, em calor útil, como consequência de um processo de de vistas da utilização da radiação para aquecimento, já que
combustão. Ao existir combustão, aparece a necessidade oferecem uma maior possibilidade de controlo individual
39
de se instalar uma chaminé que evacue os gases gerados unida a uma menor inércia térmica, o que evita o consumo
durante este processo. Portanto, uma chaminé é, ao fim ao desnecessário, ao não aquecer as estruturas do edifício,
cabo, uma conduta pelo qual se transfere calor, e nela como é o caso do piso radiante. Cada radiador deve ter uma
podem-se tomar medidas de poupança energética, aumen- válvula termostática individual que permita o controlo da
tando assim a eficiência energética destes sistemas de temperatura individual de cada um dos radiadores, aumen-
combustão. tando a eficiência com menos consumo.
Num sistema de aquecimento mal projectado e no qual não Dependendo do tamanho das instalações, o principal factor
se realizem operações de manutenção, as perdas de calor a ter em conta são as perdas de calor que deve de cobrir.
podem ser de 30% a 40%. Isto significa que estamos a Quanto maiores forem as perdas, maior deverá ser a
aquecer o ar exterior em vez do ambiente interno. caldeira ou estufa que se vai utilizar.
Por outro lado, actualmente existem sistemas de aqueci- Um sistema de aquecimento central, em média é 15%
mento modernos como é o caso do piso radiante, que mais eficiente que um conjunto de aquecedores individuais
consiste num conjunto de serpentinas, geralmente em por quarto. Neste caso, sempre que seja possível, convém
plástico, que se encontram no chão, debaixo dos pavi- dividir o sistema de aquecimento em unidades de menor
mentos ou soalhos. Pelo interior destes tubos circula água capacidade individual, de tal forma que a soma delas seja a
quente a baixa temperatura (40 ºC - 50 ºC). Este sistema carga pretendida.
transmite o calor desde os tubos até ao piso da habitação,
sendo este recomendado do ponto de vista fisiológico. O Em geral, os sistemas centrais de aquecimento incluem
Piso radiante.
• A instalação de calafetagens adesivas em portas e • Por outro lado, no Verão, a temperatura óptima é de
janelas melhora o isolamento, reduzindo entre 5% e 25 ºC. Por cada grau abaixo deste valor o consumo
10% a energia consumida. As janelas de vidros aumenta entre 6% e 8%.
duplos permitem poupar até 20% de energia em
climatização. • É aconselhável reduzir o nível de aquecimento nas
zonas que não necessitem de um nível de aqueci-
mento elevado.
VIDROS
CAIXA DE AR
41
• Através da instalação de bombas de calor conse- ou, inclusivamente, a substituição da própria caldeira,
guem-se poupanças três vezes maiores de energia por uma mais eficiente, energeticamente falando.
do que com um radiador eléctrico e para além disso • É possível a adaptação das caldeiras para que
De igual modo, é conveniente realizar uma revisão Dentro dos diferentes tipos de instalações que se podem
das juntas das portas, registos e caixas de fumos encontrar para a produção de AQS, existem alguns critérios
para assegurar a estanqueidade e evitar a entrada de que possibilitam a sua classificação.
ar indesejado. Estas entradas de ar incontroladas
diminuem o rendimento da combustão, com o corres- • Segundo o número de unidades de consumo que
pondente incremento do consumo de energia. serve, podem-se classificar como instalações indivi-
duais (se servem um único utilizador, por exemplo,
Quando se realiza um revisão periódica das caldeiras, uma habitação apenas), ou como instalações centrali-
é também recomendável levar a cabo uma análise da zadas (se servem a procura originada por vários utiliza-
combustão, para ver se a caldeira ou caldeiras estão dores distintos, por exemplo, um edifício com vários
a funcionar em condições óptimas de rendimento. fogos). Estas últimas oferecem a vantagem de serem
susceptíveis de automatização e, portanto, de optimi-
• Radiadores. De igual modo que nas caldeiras e zação do funcionamento, o que se traduz numa
demais elementos que fazem parte da combustão, poupança de energia e de custos de manutenção.
nos radiadores também se devem realizar operações
de manutenção. • S
egundo a sua função, podem-se encontrar insta-
lações exclusivas (nas quais a caldeira ou gerador de
Por exemplo, é necessário purgar os radiadores antes calor serve apenas para a produção de AQS), ou mistas
de acender o aquecimento, já que estes se podem (quando a caldeira ou gerador serve tanto a instalação
ter enchido de ar durante o período no qual não de AQS como a de aquecimento).
tenham sido utilizados. A presença de ar diminui o
coeficiente de transformação de calor e pode inte- • Segundo o sistema empregue para a preparação de
rromper a circulação da água com a aparição de AQS, encontramos sistemas instantâneos (onde se
ruídos nos radiadores. produz exclusivamente o caudal exigido em cada
instante, por exemplo, um pequeno aquecedor de
Também se deve verificar se as válvulas dos radia- gás) ou sistemas com acumulação (em que se prepara
dores funcionam bem e se as válvulas motorizadas previamente o consumo de uma determinada quanti-
funcionam correctamente, já que se as válvulas não dade de AQS, que é acumulada num depósito e poste-
fecham de forma adequada a funcionalidade das riormente distribuída de acordo com a procura, por
mesmas perde-se. exemplo um cilindro eléctrico).
Para além disso, deve-se realizar uma limpeza das Segundo o tipo de instalação de que se disponha, podem-se
superfícies de aquecimento, já que a sujidade acumu- obter uma série de vantagens que afectam o consumo, o
lada aumenta o ciclo de pré-aquecimento. investimento inicial, os custos de manutenção ou o rendi-
mento, entre outros factores.
Por último, os radiadores devem ser implantados
adequadamente, para assim se aproveitarem as Por exemplo, nos sistemas de produção instantânea, a
correntes e se gerar uma melhor distribuição de calor potência térmica da instalação determina-se tendo em conta
nas instalações. o caudal máximo procurado. Nos sistemas com acumulação,
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
este consumo de ponta atinge-se com a reserva acumulada caldeira não se aqueça a água a níveis que exijam a mistura,
antecipadamente e a potência térmica necessária diminui ao pois esta não apenas desperdiça energia térmica da caldeira
43
aumentar o tempo de preparação. Para além disso, nestes como eléctrica das bombas de água.
sistemas com acumulação, o custo do depósito acumulador
pode ser compensado pela diminuição do tamanho reque-
2.2.2. Boas
práticas na produção de água quente
rido para o gerador de calor e pelo melhor rendimento que
determina o funcionamento mais contínuo deste.
O consumo energético para a produção de AQS depende
Outra vantagem que oferecem os sistemas de acumulação em grande medida das dimensões dos edifícios ou habi-
face aos sistemas instantâneos é que nestes últimos tações. Independentemente da percentagem que a
sistemas a água alcança a temperatura desejada no ponto produção de água represente para o consumo energético
de destino, sendo desperdiçada uma quantidade conside- do edifício ou casa, é necessário ter em conta uma série de
rável de água e energia, tanto mais quanto mais distante se medidas de poupança e boas práticas nestas instalações
encontre o gerador dos pontos de consumo. De igual forma, de geração.
os sistemas instantâneos obrigam à entrada em funciona-
mento da caldeira de cada vez que se procura água, sendo A primeira medida de poupança energética numa instalação
que estes contínuos processos de ligar e desligar aumentam de produção e distribuição de água quente sanitária consiste
o consumo, assim como deterioram os equipamentos. em limitar as temperaturas máximas de armazenamento e
distribuição para reduzir as perdas térmicas do conjunto da
instalação.
Por outro lado, na produção de AQS não é necessário Para além destas medidas, devem assinalar-se diferentes
aquecer a água a temperaturas superiores a 60 ºC. Existe o acções economizadoras sobre a instalação de água quente
hábito muito difundido de aquecer a água em caldeiras sanitária:
muito acima da temperatura de utilização e logo misturá-la
com água fria à saída da torneira. Isto é totalmente desne- • É importante assinalar que um duche gasta entre 30
cessário, uma vez que torna necessário cobrir as perdas de a 40 litros de água, enquanto um banho necessita
calor no interior dos tubos. É altamente desejável que na
entre 120 e 160 litros, com o respectivo gasto • É conveniente substituir as partes obsoletas da insta-
adicional de combustível. lação (caldeiras, queimadores, permutadores).
44
• Uma torneira aberta a correr água quente sem • Limpar as superfícies de permutação e evitar a
nenhum objectivo mais do que a relativa comodidade obstrução dos permutadores.
de não a fechar, é uma das melhores formas de
desperdiçar o nosso dinheiro. • Utilizar técnicas de recuperação do calor da água
uma vez utilizada (recuperadores de placas, de tubos,
• As perdas térmicas horárias globais do conjunto das etc.) e considerar a aplicação de técnicas energéticas
condutas que percorrem locais não acondicionados avançadas como a bomba de calor (da qual se faz um
termicamente não devem superar os 5% da potência estudo detalhado na secção de aquecimento),
útil instalada. energia solar, etc.
• S
e a orientação é Sul as mais adequadas são as • Parcialização da produção de frio para que a produção
protecções solares fixas ou semi-fixas, enquanto deste se adapte ao perfil da procura.
para Oeste ou Nordeste recomenda-se a utilização
de protecções solares chapas horizontais ou verticais • A zonificação é um requisito indispensável, já que se
móveis. Para a orientação Este ou Oeste recomen- deve arrefecer apenas os locais e zonas que estejam
dam-se protecções móveis. a ser ocupadas.
• Nos edifícios e locais com fachadas de vidro venti- • É importante manter a todo o momento as condições
ladas ou que apresentem muitas zonas envidraçadas, ambientais de cada zona nos valores de conforto.
podem-se utilizar vidros polarizados ou colocar pelí-
culas reflectoras que reduzam a transmissão de calor • Devem escolher-se os equipamentos de ar condicio-
e deixem passar a luz necessária, proporcionando nado de alta eficiênica energética, isto é, aqueles
poupanças de 20% no gasto com o ar condicionado. equipamentos que, com o mesmo nível de pres-
CALOR
FRIO
GÁS AR FRESCO
PÓ AR QUENTE
FUMO AR LIMPO
MAUS ODORES
INSECTOS
Cortinas de ar.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
ventilação natural é conseguida deixando aberturas no local • É recomendável realizar o controlo do ar de venti-
(portas, janelas, clarabóias, etc.) que comunicam com o lação segundo o grau de ocupação: a maioria dos
49
ambiente exterior. Pelo contrário, a ventilação forçada utiliza sistemas de ventilação são projectados para asse-
ventiladores para conseguir a renovação. gurar a ventilação na máxima ocupação, adicional-
mente, na secção dos equipamentos utilizam-se
Para além disso, os sistemas de ventilação influenciam as factores de segurança que aumentam o caudal de
instalações de aquecimento e arrefecimento. renovação de CO2.
Por exemplo, as lâmpadas de filamento ou incandescentes 2.5.1. Boas prácticas no uso das lâmpadas
têm a mais baixa das eficiências (por volta dos 3%) e com
lâmpadas de grande potência a eficiência aumenta pouco. • Nos locais onde a iluminação esteja baseada em
Isto significa que apenas três partes de cem são conver- lâmpadas fluorescentes de 38 mm, recomenda-se a
tidas em luz útil. O resto perde-se sobre a forma de calor. substituição por lâmpadas de 26 mm ou 16 mm, já
Por outro lado, os tubos fluorescentes têm uma eficiência que estas são mais eficientes. Os tubos fluores-
maior (por volta dos 9%), que em termos de iluminação centes de 26 mm produzem a mesma luminosidade
significa que com igual gasto se obtém um nível de ilumi- que os de 38 mm, mas consomem aproximadamente
nação três vezes superior ao que se consegue por meio de 8% menos, enquanto que os tubos de 16 mm são
lâmpadas incandescentes. aproximadamente 7% mais eficazes que os de 26
mm.
As lâmpadas de descarga, do tipo mercúrio ou sódio são
igualmente mais eficientes, já que alcançam valores de até • É necessário verificar se os projectores das lâmpadas
11%. No entanto, o problema destas lâmpadas é a colo- de hologénio estão acesas durante longos períodos
ração da sua luz, tão distante da luz solar que as torna de tempo, já que estes são apropriados para utili-
inúteis no interior das habitações, pelo que a sua utilização zação em iluminações intermitentes.
está associada à iluminação de exteriores, devido também
ao seu alto poder de iluminação, menor consumo e maior • É recomendável a substituição de lâmpadas de halo-
vida útil. génio convencionais (50 W) e seus transformadores
electromagnéticos (10 W) por outras de alta eficiência
Portanto, a planificação dos sistemas de iluminação é (35 W) e transformadores electrónicos (0 W).
importante no momento de alcançar poupanças de energia.
A melhor projeção destes sistemas é aquele que escolhe • Nas zonas onde seja necessário um maior nível de
os equipamentos que forneçam a máxima iluminação iluminação, ou onde os períodos em que a necessi-
necessária para a actividade a que se destina cada insta- dade de ter luz acesa sejam longos, o mais conve-
lação. niente é substituir as lâmpadas incandescentes por
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Tabela 1
Características das lâmpadas mais utilizadas nas habitações.
51
Índice de
Tipo reprodução Vida útil Eficácia Equipa-
Imagem (horas) luminosa mento Observações Custo
de lâmpada cromática
(lm/W) auxiliar
(0-100)
Arrancador,
O balastro electrónico reduz o
Fluorescente 60-95 8.000-12.000 65-100 balastro e
consumo em 25%
Reduzido
condensador
Atraso a acender.
Equipamento
Fluorescente 85 8.000-12.000 45-70 electrónico
As integradas substituem
Médio
compacta incorporado
directamente as
incandescentes
Arranque instantâneo.
Elevada intensidade luminosa.
Halogéneo >90 2.000 15-27 – Médio
Poupança de 30% em
Halogénieo Transforma- consumo energético.
de baixo >90 2.000-3.000 18-25
dor Maior vida da luminária e menor
Médio
consumo aquecimento do ambiente.
lâmpadas fluorescentes compactas com equipa- até 12 vezes mais e reduzem os custos de manu-
mento incorporado. tenção, já que necessitam de ser mudadas com
menor frequêcia.
• Estas lâmpadas consomem por volta de 80% menos
de electricidade do que as incandescentes, duram Para além disso, podem substituir directamente as
lâmpadas incandescentes tradicionais ao estarem equi-
padas com balastro e rosca tipo Edison. Se o balastro é capítulo 02
electrónico, as lâmpadas apresentam uma maior eficiência,
um menor peso e um melhor factor de potência.
Exitem lâmpadas, como por exemplo as do tipo descarga • O equipamento eléctrico continua protegido contra
ou indução, que para o seu funcionamento requerem a picos de tensão.
presença de equipamentos externos que adequem os parâ-
metros da corrente eléctrica para produzir emissão de luz. • Oferecem uma maior segurança contra incêndios, ao
Estes equipamentos externos, como é lógico, aumentam o reduzir-se a temperatura de funcionamento do equi-
consumo energético da lâmpada, porque têm um consumo pamento e da iluminação.
próprio.
• Permite a conexão à corrente contínua para ilumi-
É possível reduzir o consumo energético das lâmpadas nação de emergência.
actuando nos equipamentos auxiliares, especialmente no
caso das lâmpadas fluorescentes. Geralmente, este tipo de
2.5.4. Boas
prácticas no uso dos sistemas de
lâmpadas, que em habitações são geralmente utilizadas
regulação e controlo
para a iluminação de cozinhas e garagens (no caso de casas
individuais), estão equipadas com balastros electromagné- De igual modo ao resto dos elementos que formam uma
ticos, que são pouco eficientes. instalação de iluminação, com a realização de boas práticas
na utilização dos sistemas de regulação e controlo podem-se
É possível substituir este tipo de balastros por outros mais reduzir os consumos energéticos de forma considerável.
eficientes, denominados balastros electrónicos, que
oferecem as seguintes vantagens respectivamente aos Por exemplo, entre as medidas que se podem levar a cabo
equipamentos anteriormente citados: encontram-se as seguintes:
• Redução de 25% da energia consumida pela • É recomendável utilizar sistemas que regulem a
lâmpada. iluminação artificial em função dos níveis de ilumi-
nação natural existentes no interior das salas das
• Aumento da vida média das lâmpadas até 50%, vivendas, de forma a aproveitar o maior número de
reduzindo assim os custo de manutenção. horas de luz solar.
• Não é necessário substituir o arrancador de cada vez • Os pontos de luz dos sistemas de iluminação devem
que se muda a lâmpada. ser suficientes para permitir o acender e apagar inde-
pendente das diferentes salas. Inclusivamente, é
• Redução da carga térmica emitida pela lâmpada conveniente que, em salas de grande tamanho,
devido à menor geração de calor. exista a possibilidade de dividir o sistema por zonas,
de forma que o acender da sala dependa da ocupação
• Redução da temperatura de funcionamento da ilumi- e da sua utilização a cada momento.
nação, o que facilita que as lâmpadas não superem a
sua temperatura óptima de trabalho.
2.6. Eficiência energética no uso de veículos
• O factor de potência é corrigido para 1, o qual se
repercute de forma benéfica na hora da facturação da Desde há vários anos, países como a Alemanha, Holanda,
electricidade (em tarifas de BTE ou superiores). Suíça e Finlândia vêm desenvolvendo um programa de
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 1
Consumo comparado de uma habitação com um carro (em função dos km/ano percorridos).
53
1,8
Consumos considerados
1,6
- Consumo anual vivenda tipo: 1,1 ktep
1,4 - Consumo carro: 6,04 litros gasóleo/100 km
Consumo em ktep
1,2
0,8
0,6
0,4
0,2
_
5.000 km/ano 10.000 km/ano 15.000 km/ano 20.000 km/ano 25.000 km/ano 30.000 km/ano
km/ano percorridos
condução económica, denominado Eco Driving. A partir da • Em trajectos curtos, é possível ir a pé ou de bicicleta.
União Europeia, pretende-se implementar este plano em Na cidade, 50 % das viagens de carro são para perco-
todos os países membros, com o objectivo de que o rrer menos de 3 km, com a agravante de que um
condutor poupe combustível ao mesmo tempo que se motor frio pode chegar a utilizar mais 40% de energia
observa uma atitude respeituosa com o meio ambiente. do que o usual.
Calcula-se que com esta medida, e mantendo os níveis de • Em outros casos, e sobretudo na cidade, a melhor
condução actuais, se alcançará uma poupança de 1.850 alternativa ao carro é o transporte público. Entre as
milhões de euros, equivalentes a uns 700 milhões de litros numerosas vantagens da sua utilização, em lugar do
de gasóleo e 1.650 milhões de litros de gasolina. Para o privado, está o seu menor custo, menor consumo de
utilizador traduz-se numa poupança actual de 160 euros por energia, menos emissões de gases contaminantes,
ano. menos ruído gerado e menor congestionamento do capítulo 02
tráfego.
Embora a importância da condução eficiente ser tratada
com maior detalhe no capítulo 7, “Eficiência e poupança Se a utilização do transporte público não é viável, existem
energética no transporte. Biocombustíveis”, vão ser dadas também outras possibilidade para reduzir o nosso consumo
no presente capítulo uma série de medidas e recomen- energético ao utilizar o carro. Uma delas passa por partilhar
dações básicas de como poupar energia no transporte. o carro.
Dentro das acções que podemos levar a cabo desde as Embora a ideia de partilhar o carro surgir como algo natural,
nossas casas para reduzir o consumo energético, tem ela pode ser organizada de forma simples quando os horá-
grande importância a utilização racional e energeticamente rios são semelhantes e os pontos de saída e destino
eficiente do veículo doméstico, já que aproximadamente estejam próximos, como no caso de viagens de trabalho ou
metade da energia que consomem as famílias portuguesas estudo. Partilhar o carro permite-nos reduzir os gastos por
se destina ao carro privado. pessoa associados ao veículo e ao estacionamento até
75%, dado que estes gastos são repartidos. Para além
A medida mais eficaz para reduzir o consumo de energia é disso é outra forma de reduzir as emissões para o
utilizar meios de transporte alternativos ao carro. ambiente.
Na hora de utilizar o nosso carro, é importante ter em conta
vários aspectos que nos permitirão poupar combustível e a. Entre 1.500 - 2.000 rotações por minuto em
54
reduzir as emissões. motores diesel.
• Em primeiro lugar há que fazer uma escolha adequada b. Entre 2.000 - 2.500 rotações por minuto em
na compra do carro, de forma a que este se adapte motores de gasolina.
às nossas necessidades. Um veículo novo consome
aproximadamente 25% menos do que um com 20 4. Circular em mudanças altas e a baixas rotações o
anos, mas essas vantagens perdem-se ao comprar maior tempo possível.
carros de grande potência e cilindrada, com um
consumo significativamente superior aos demais. 5. Evitar travagens, acelarações e mudanças de veloci-
dade desnecessárias.
• Durante a vida do veículo deve-se realizar uma boa
manutenção deste, que inclua o diagnóstico do motor 6. Travar de forma suave, com a mudança engatada e
em oficinas especializadas com regularidade, o reduzindo esta o mais tarde possível.
controlo dos níveis, filtros e peças de reposição, bem
como o controlo da pressão dos pneus, o que para 7. Parar o carro sem reduzir previamente de mudança
além de reduzir o consumo de energia nos trará quando a velocidade e o espaço o permitam.
poupanças económicas e aumentará a segurança
nas nossas viagens. 8. Desligar o motor em paragens de mais de
60 segundos.
• Para além de ser muito importante realizar uma
condução eficiente, com a qual se possam alcançar 9. Conduzir com antecipação e previsão. Manter a
poupanças de combustível de 10% a 15% apenas distância de segurança.
seguindo regras simples, como: planificar a rota; não
deixar o carro aquecer em posição parada; desligar o 10. Perante ocasiões de emergência, devem-se realizar
motor se está parado mais do que 60 segundos; acções específicas distintas para que a segurança
utilizar a primeira mudança apenas para realizar o não seja afectada.
início da marcha; conduzir de forma suave, anteci-
pando situações imprevista do tráfego e sem trava- Em resumo, é possível poupar uma grande quantidade de
gens e acelarações desnecessárias; circular o maior energia apenas mudando os nossos hábitos de utilização
tempo possível em mudanças elevadas e a baixas do carro, com o respectivo benefício económico, ambiental
rotações; e não circular a velocidade altas, nas quais e social associado. É interessante, portanto, ter em mente
o consumo dispara. o seguinte esquema sempre que vamos realizar uma deslo-
cação, de modo a escolher a opção mais eficiente.
Há também que ter em conta aspectos que penalizam o
consumo, como a colocação de porta-bagagens ou outros Sempre que seja possível devemos seguir a opção marcada
acessórios exteriores, a utilização abusiva de ar condicio- pelas setas verdes, o que nos permitirá alcançar a posição
nado, circular com as janelas abertas ou o transporte de mais alta no diagrama, correspondente à maior poupança
cargas desnecessárias. energética. (Ver figura 2).
1. Pôr o motor em marcha sem pisar o acelerador. 2.7.1. Equipamentos de linha branca
Aquecer o motor circulando suavemente.
Nas casas portuguesas funcionam mais de 14 milhões de
2. Utilizar a primeira velocidade apenas para o início da electrodomésticos, aqueles pequenos aparelhos que
marcha. Mudar para a 2ª aos dois segundos ou seis funcionam com energia eléctrica que tornam a vida mais
metros aproximadamente. fácil, cujo consumo representa, segundo o Instituto para a
Diversificação e Poupança da Energia (IDAE), 16% do
3. Realizar as mudanças de velocidade a baixas consumo eléctrico que se produz nas habitações. Principal-
rotações e acelerar com suavidade depois da mente, este consumo deve-se aos equipamentos denomi-
mudança:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 2
Árvore de decisão para a poupança nas deslocações.
55
A pé ou de bicicleta
Não utilizo o carro
Transporte público
As minhas deslocações
Condução eficiente
Partilho o carro
Condução não eficiente
Utilizo o carro
nados de linha branca e os electrodomésticos e aparelhos permitia-se a consideração da poupança energética como
de gás situados na cozinha. uma variável mais para a escolha de um equipamento ou
outro.
Electrodomésticos e etiquetagem energética
Apesar da regulamentação sobre etiquetagem energética
Devido à importância destes equipamentos, pelo seu de electrodomésticos datar do ano de 1989, em Portugal
O propósito desta medida era de informar os clientes do Em resumo, este sistema de etiquetagem contempla as
consumo de energia dos electrodomésticos no momento seguintes valorações:
da sua utilização, geralmente sobre a forma da utilização da
energia, eficiência e/ou custos da energia. Desta forma,
capítulo 02
Vista interior de uma cozinha com os seus equipamentos eléctricos. Casa eficiente do Grupo Gas Natural.
• É obrigatório para electrodomésticos como frigorí- • As etiquetas apenas são comparáveis dentro de um
ficos, congeladores, máquinas de lavar, de secar, mesmo grupo de electrodomésticos.
56
lava-louças (bem como para lâmpadas de uso domés-
tico). • Na hora de atribuir as diferentes etiquetas energé-
ticas, mede-se o consumo anual de cada tipo de
• Um electrodoméstico é eficiente se oferece as electrodoméstico e ao consumo médio atribui-se o
mesmas prestações que outros do mesmo tipo, ponto intermédio das letras D e E.
consumindo para isso menos energia.
• A diferença de preço entre um aparelho da classe A
• Existem sete classes de etiquetas energéticas que e outro da classe C amortiza-se em cinco anos,
se tipificam, em função dos consumos eléctricos, graças ao seu menor consumo.
em diferentes cores e com letras do abecedário de A
(que corresponde à classe mais eficiente) até G A atribuição destas etiquetas aos electrodomésticos é reali-
(associada à menos eficiente). zada pelos próprios fabricantes, que depois de contratar os
serviços dos laboratórios homolegados, atribuem as
Mais eficiente
A
B B
C
D
E
F
G
Menos eficiente
Consumo de energia. kWh/ciclo
(Com a base no resultado obtido num ciclo de lavagem normalizada de algodón a 60 ºC)
O consumo real depende das condições de utilização da máquina X YZa
Eficácia na lavagem
A: mais alto G: mais baixo
ABCDEFG
Eficácia na cetrifugação
A: mais alto G: mais baixo
ABCDEFG
Velocidad de centrifugação (rpm) 1100
Capacidad em kg de roupa yz
Consumo de água em L yx
Ruído Lavagem xy
xyz
dB(A) re 1 pW Centrifugação
Figura 3
Intrepretação das etiquetas energéticas.
57
OS QUE APRESENTAM
D Entre 90% e 100% da média
UM CONSUMO MÉDIO
E Entre 100% e 110% da média
etiquetas aos seus produtos. Para além disso, é também do cilindro ou da caldeira de gás da vivenda. Ao não
da responsabilidade dos fabricantes o fornecimento de ter que aquecer a água, este tipo de máquinas de
Boas práticas
Devido à diversidade de equipamentos eléctricos e suas • Há que recordar que os modos de funcionamento
59
características, as recomendações na hora da aquisição Sleep, Stand by ou poupança de energia permitem
destes equipamentos podem ser diferentes: diminuir o consumo respectivamente aos modos
normais de funcionamento, mas não implicam um
Computadores consumo zero. De facto, estes modos de funciona-
Devido ao grande número destes equipamentos nas casas, mento têm um consumo eléctrico associado que há
edifícios administrativos, indústrias, colégios, etc., em que ter em conta, já que pode ser considerável devido
proporção com o resto de equipamentos de escritório, as ao número importante de horas que habitualmente
emissões provenientes do seu consumo eléctrico repre- permanece o aparelho neste modo de funciona-
sentam mais de metade das emissões indirectas por mento. Por este motivo, quando os equipamentos
consumo de electricidade. não vão ser utilizados em períodos longos de tempo,
é recomendável a desconexão total.
Para além disso, é muito comum que estes equipamentos
permaneçam ligados durante muitas horas por dia, apesar • É aconselhável colocar etiquetas nos equipamentos
do tempo de utilização ser claramente inferior. Por este que sejam desconectados totalmente após a sua
motivo é recomendável utilizar o sistema inactivo ou modo utilização. Como trabalho de consciencialização, pode
bookmark, no qual na reiniciação, o computador volta ao incluir-se nestas etiquetas o consumo e adicionar as
ponto exacto onde se encontrava anteriormente. emissões equivalentes de CO2, no seu modo de
funcionamento normal e em modo Stand by, que
Um computador autenticado com a etiqueta Energy Star é deveriam estar incluídas nas especificações técnicas
responsável por menos 70% de emissões de CO2, prove- do equipamento.
Monitores
Os monitores são um dos equipamentos de escritório que Uma das campanhas mais inovadoras no aspecto da
mais exigências apresentam para obter a etiqueta Energy eficiência energética é a promovida pela empresa eléctrica
Star. Este tipo de monitores, em modo Sleep consomem do Grupo Gas Natural, através da sua página Web www.
menos de 4 W. unionfenosa.es. Esta página oferece a possibilidade aos
utilizadores de analisar a eficiência das suas habitações e
Por outro lado, existe software que permite poupar energia empresas do ponto de vista energético através de um
através da desconexão dos monitores. Mas deve-se completo questionário no qual se analisam tanto os hábitos
recordar que os ambientes de trabalho com fundo negro de utilização como os elementos instalados. Uma vez reali-
são os únicos que, para além de evitar a deterioração do zado o questionário, o utilizador receberá uma série de
ecrã, permitem poupar energia. recomendações e orientações que deve seguir para conse- capítulo 02
guir reduzir o consumo energético e, portanto, diminuir o
Impressoras e fotocopiadoras seu custo energético.
Este equipamento está ligado uma grande quantidade de
horas à rede eléctrica, no entanto o seu tempo de funciona- • O utilizador conhece qual o grau de eficiência ener-
mento real é geralmente muito pequeno, pelo que grande gética da sua casa ou organização.
parte da energia consumida na sua vida útil é desperdiçada.
Convém desligar completamente se não se vai utilizar. • Permite-lhe seguir a sua evolução em sucessivas
edições do Índice de Eficiência Energética.
Fax
Hoje em dia podem-se encontrar equipamentos que inte- • Obtém um relatório específico, personalizado e confi-
gram as funções de fax, impressora e scanner. Desta forma, dencial sobre o nível de eficiência energética da sua
para além de espaço, a poupança no consumo energético empresa ou habitação.
também é importante. Quanto à utilização deste equipa-
mento, se não é necessário, não se deve utilizar capa nos • O relatório enviado valoriza a situação actual respec-
faxes enviados, já que, para além de energia, poupa-se tivamente a quatro áreas:
papel e tempo de transmissão.
1. Cultura energética: é o nível de informação mentos utilizados, com o objectivo de alcançar o
existente, a formação e a política no âmbito da óptimo rendimento do ponto de vista da
60
eficiência energética. eficiência energética.
Figura 4
Potencial de poupança nas habitações espanholas. Índice de eficiência energética do Grupo Gas Natural.
30%
25%
20%
18,3%
15%
10%
5%
_
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Figura 5
Resultados do estudo por áreas de análise.
10
9
8
7
6
5
4,7
4 4,5
3 3,5
3,2 3
2,9 2,8
2 2,3
2,8
1 2,2
_
métodos de medição e a sucessiva implemen- De um modo geral, as empresas que efectuam a análise de
tação dos processos administrativos eficiência energética melhoram o seu índice entre 3% e
61
adequados. 4%, o que representa uma diminuição potencial do consumo
energético entre 0,6% e 0,8%. No caso de todas as PMEs
4. Inovação tecnológica: é o grau de actualização nacionais participarem neste estudo, a poupança energé-
da organização no que se refere ao meios tica seria superior a 614 GW/h, evitando a emissão de mais
técnicos aplicados nas instalações. de 313.270 t de CO2, ou o equivalente à quantidade de CO2
que 3 milhões de árvores são capazes de absorver.
• O utilizador dispõe do perfil de eficiência energética
da sua empresa ou habitação, em valores absolutos Dentro dos aspectos que se valoram durante o estudo, a
e, no caso das empresas, comparativamente ao seu área que apresenta o maior conhecimento em temas de
sector. eficiência energética é o da manutenção. Pelo contrário,
continua a haver um défice na cultura energética do país, o
O objectivo do Índice de Eficiência Energética é o de favo- que se repercute em grande medida na eficiência das
recer a poupança e a eficiência energética nas casas e nas empresas e habitações. No aspecto da inovação, a utili-
empresas, contribuindo desta forma para o desenvolvi- zação de sistemas de regulação (especialmente na ilumi-
mento sustentável da sociedade. nação) é baixa, ao passo que a utilização de energias reno-
váveis nas PMEs não se difundiu ainda, embora nas
Segundo os resultados do último estudo do Índice de empresas onde se utilizam forneceram 45% do total de
Eficiência Energética 2007, realizado nas PME’s, as energia consumida.
empresas espanholas melhoraram 3% relativamente ao
ano anterior, com um potencial de poupança de energia de A aplicação de ferramentas energéticas como esta permite
capítulo 02
03 Eficiência e Poupança Energética
na Indústria (I)
Apesar desta subida do consumo energético sectorial face
1. Introdução ao consumo total, houve uma redução da intensidade ener-
64
gética (consumo de energia por unidade económica de
O custo da energia constitui um dos factores de maior peso produção) que desceu de 5.508 ktep para 3.304 ktep de
nos custos totais dos processos produtivos. Um consumo 2004 para 2008, o que se traduz numa taxa anual de
energético contido permite às industria alcançar uma maior -0,7%.
produtividade e qualidade na sua produção.
Para alcançar os objectivos de redução do consumo e de
Por outro lado, com a entrada em vigor da revisão do Plano emissões presentes na estratégia Eficiência Energética e
Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão de CO2 Energias Endógenas (E4) foram previstas uma série de
(PNALE), as empresas envolvidas ver-se-ão obrigadas a medidas institucionais, das quais são exemplo acordos com
reduzir as suas emissões e/ou a comprar no mercado de empresas, ajudas para a realização de auditorias ener-
emissões, com o consequente custo económico que essa géticas e ajudas para acções de melhoria da eficiência.
compra implica.
TABELA 1
Evolução do consumo de energia final por actividade.
Fonte: DGEG
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 1
Evolução da intensidade energética (tep/tm de aço) do sector.
0,290
0,280
0,270
0,260
0,250
0,240
0,230
0,220
0,210
0,200
1984 1986 1988 1990 1992 1944 1996 1998 2000 2002
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• Couro e calçado: a fabricação de peles é uma activi- Outra razão é a pouca informação que têm os engenheiros
3. Tecnologias eléctricas
Nesta secção são avaliadas as tecnologias e componentes Motor de alto rendimento SIEMENS.
que verificam um uso intensivo de energia eléctrica dentro
das práticas habituais na indústria, como motores, bombas
e ventiladores, sistemas de iluminação e equipamento de
3.1.1. Princípio de funcionamento
refrigeração industrial. Em cada uma das subsecções é
descrita de uma forma geral o seu funcionamento e os A missão fundamental de um motor eléctrico é a de trans-
aspectos chave que permitem optimizar a eficiência ener- formar a energia eléctrica em energia mecânica que permita
gética das instalações. pôr em movimento o mecanismo do equipamento no qual
seja instalado. O funcionamento de um motor baseia-se
nas propriedades electromagnéticas da corrente eléctrica e
na possibilidade de criar a partir delas determinadas forças operacional total, logo, ao seleccionar motores eléctricos
de atracção e repulsão encarregues de actuar sobre um há que considerar fundamentalmente a sua eficiencia.
68
eixo e gerar um movimento de rotação. Independente-
mente da tecnologia que utiliza, a eficiência energética de Existem três tipos de classes de motores de alta eficiencia:
um motor é caracterizada por uma série de perdas eléc- EFF1, EFF2 ou EFF3, em função das características da apli-
tricas e mecânicas nas suas componentes que podem ser cação à qual estão destinados. A seguir são apresentadas
agrupadas em três classes: as vantagens e limitações que têm este tipo de motores.
• Perdas por efeito Joule: são consequência da resis- Vantagens dos motores de alta eficiência:
tência exercida pelos rolamentos do motor (rotor e
estator) à passagem da corrente eléctrica. • São mais robustos do que os motores standard, o
que se traduz em menores gastos de manutenção e
• Perdas magnéticas: perdas associadas aos campos em maior tempo de vida.
magnéticos presentes no interior da máquina.
• Uma maior eficência pressupõem um menor custo
• Perdas mecânicas: são devidas à fricção que operacional .
exercem o ar e os elementos fixos sobre as partes
móveis do motor. Limitações dos motores de alta eficiência:
A maior ou menor eficência energética de um motor eléc- • Operam a uma velocidade maior do que os motores
trico depende da magnitude dos diferentes tipos de perdas. standard. Isto pode significar um incremento na
Assim sendo, os motores com um desenho apropriado dos potência. Esta possibilidade deve ser valorada em
seus rolamentos e partes móveis e com materiais cada caso.
adequados permitem, para uma potência no eixo similar,
um menor consumo respectivamente a um motor mais • O par de arranque pode ser menor do que aquele de
económico no qual estes aspectos não tenham sido levados um motor standard, pelo que há que analisar cuida-
em conta de uma forma exaustiva. Mas há outros factores dosamente cada caso. A corrente de arranque é
que se referem ao regime e ao modo de funcionamento do geralmente maior, o que pode provocar que se ultra-
motor, como por exemplo: passe o limite de queda de tensão na rede no
momento de arranque.
• O dimensionamento adequado do motor para a apli-
cação a que se destina. Recomendações para a aplicação de motores de alta
eficiência.
• Regime de carga: carga parcial ou nominal, carga
variável ou estacionária, sobrecargas, etc. Recomenda-se a compra de motores de alta eficiência nos
seguintes casos:
• Alimentação do motor: características e qualidade da
corrente eléctrica de entrada no motor. • Nos motores entre 10 CV e 75 CV quando operam
2.500 horas por ano ou mais.
• Manutenção realizada.
• Em motores de menos de 10 CV ou superior a 75 CV
quando superam as 4.500 horas.
3.1.2. Propostas para melhorar a eficência energética
em motores eléctricos • Quando se utilizam para substituir motores sobredi-
mensionados.
1. Utilização de motores de alta eficiência
• Quando se aplicam conjuntamente com variadores
Este tipo de motores conta com um desenho e construção electrónicos de frequência.
especiais que diminuem as perdas face aos motores stan-
dard. Dos custos totais de operação de um motor durante 2. Substituição em lugar da reparação de um motor
a sua vida útil, o custo de compra corresponde a 1%, a usado
energia a 95%, a manutenção a 3% e os custos de engen-
haria e logística a 1%. Assim sendo, o custo de compra do Quando um motor falha apresentam-se duas alternativas:
motor é pouco significativo respectivamente ao custo reparar o motor avariado ou comprar um novo motor. A
alternativa da reparação parece ser, à primeira vista, a mais
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
indicada quando o seu custo é inferior ao da compra de • Diminuir a distorção harmónica da rede
uma nova máquina. No entanto, na maioria das ocasiões, a
69
recalibração de um motor conduz a uma perda de rendi- 5. Optimização da transmissão
mento e a uma menor fiabilidade de funcionamento.
Segundo estudos da General Electric, a eficiência piora Os sistemas de transmissão permitem transmitir a força
entre 1,5% e 2,5% após a reparação. A decisão de substi- motriz às cargas ou equipamentos (bombas, compressores,
tuir o motor avariado por um motor de alta eficiência etc.) seja ou não combinado com a velocidade de entrega
depende essencialmente de factores, como o custo de do motor, o que se consegue mediante ligações ao eixo de
reparação, a variação do rendimento, o preço do novo engrenagens, polias. É importante na selecção do sistema
motor, a eficiência original do motor instalado, o factor de de transmissão conhecer as características de cada sistema
potência, as horas de operação anuais, o preço da energia para realizar uma adequada selecção. É recomendado
e o critério de amortização. Não obstante, é recomendável seguir as seguintes recomendações em função do tipo de
atentar aos seguintes critérios de decisão: ligações:
• Consultar oficinas de reparação fiáveis para a • Ligação directa: assegurar uma correcta ligação
obtenção de informação fiável. entre o motor e a carga.
• Os motores com potência inferior a 40 CV e com • Correias: usar bandas em V e preferencialmente
mais de 15 anos de utilização e os motores com dentadas.
potência inferior a 15 CV são candidatos a ser substi-
Figura 3
Esquema de uma instalação de ar comprimido
capítulo 03
ATMOSFERA
ELIMINAÇÃO
DE IMPUREZAS
AR LIMPO
SECADOR
AR LIMPO
SECO 20 ºC
ATMOSFERA
EQUIPAMENTO DE REDE DE
UTILIZAÇÃO ACOMETIDA
MANUTENÇÃO DISTRIBUIÇÃO
ao deslocamento de um pistão ou de um motor pneumá- prejuízo da segurança e do rendimento do pessoal e dos
tico, Em outras ocasiões, emprega-se para pulverizar ou equipamentos.
72
aplicar sprays de vernizes ou pinturas.
Figura 4
Fraccionamento da potência dos compressores.
VSD
Compressor
de velocidade
fixa
#2
VSD
Procura
VSD
Tempo
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
cação mais favoráveis dos variadores de velocidade tância nas indústrias e na maioria dos sectores. Apesar do
(ou VSD, “Variable Speed Drive”), devido a que a consumo energético imputável à iluminação no sector
73
procura de ar comprimido numa instalação é frequen- industrial não ter grande importância comparativamente a
temente muito variável, pelo que o compressor (ou outros consumos, está plenamente justificada a adopção
compressores) operam com carga parcial durante de medidas de melhoria energética no consumo da ilumi-
uma grande parte da sua vida útil. Como se comentou nação, com a consequente redução dos custos de explo-
na secção correspondente (“Utilização de controlo ração.
electrónico de velocidade”), este tipo de unidades
permite ajustar a potência desenvolvida pelo motor O objectivo fundamental do sistema de iluminação é propor-
em carga instantânea, melhorando assim de forma cionar uma iluminação energeticamente eficiente com
notável a eficiência energética do conjunto. qualidade suficiente para que a visibilidade seja, em todo o
momento, a adequada para garantir a manutenção da
• Fraccionamento de potência dos compressores: É produtividade e a segurança dos ocupantes.
outra opção em indústrias de grande consumo de ar
comprimido. Consiste em dispor de uma central de Do ponto de vista energético, os elementos fundamentais
produção de ar com vários compressores de potência de um sistema de iluminação são a lâmpada, o equipa-
similar, de forma a que um deles seja de velocidade mento auxiliar e os sistemas de regulação. Nas secções
variável. Este último estaria em funcionamento seguintes são descritos os distintos componentes das
permanente para ajustar o consumo eléctrico à instalações industriais de iluminação, onde se presta espe-
procura instantânea de ar do sistema. O resto dos cial atenção aos equipamentos que permitem uma maior
TABELA 2
Características das lâmpadas mais utilizadas na indústria
capítulo 03
Índice de Eficácia
Tipo reprodução Vida útil Equipamento
Imagem luminosa Observações Custo
de lâmpada cromática (horas) auxiliar
(0-100) (lm/W)
Arrancador,
O balastro electrónico reduz o
Fluorescente 60-95 8.000-12.000 65-100 balastro e Reduzido
consumo em 25%
condensador
Atraso na ignição.
Vapor Balastro e
50-60 12.000-16.000 30-60 Aplicação em naves de grande Médio
de mercúrio condensador
altura
Atraso na ignição.
Vapor de Arrancador,
Aplicação em naves de grande
sódio alta 20-80 10.000-25.000 50-150 balastro e Alto
altura com pouca exigência
pressão condensador
visual e exteriores.
Atraso na ignição.
Arrancador,
Halogéneos Aplicação em naves com
60-85 6.000-15.000 75-95 balastro e Alto
metálicos condensador
exigências visuais moderadas
ou altas.
Balastro electrónico. muito adequados em indústrias com horários de
trabalho fixos.
74
Certas indústrias necessitam de frio para manter os produtos O isolamento é o factor mais importante no consumo de
ou como parte dos seus processos produtivos (indústria uma instalação de conservação por frio, tanto pela propo-
alimentar e de bebidas, farmacêutica, química, etc). rção em que influem nos aumentos de calor, como pela
dificuldade da sua modificação uma vez construído ou colo-
Figura 6 cado. Os aumentos de calor através do isolamento
Esquema de compressão mecânica do vapor. dependem em grande medida da geometria e disposição
dos blocos de câmaras, que determinam a superfície exte-
rior por metro cúbico interior.
Condensador
Evaporador
Uma vez estabelecida a superficie a isolar, as entradas de
calor dependem da natureza e espessura do isolante.
Permutador
4. Autogeração
Água
Quente
Figura 8
Esquema de compressão mecânica de vapor.
34 Electricidade
Instalação de
condensação
100 ηel=36%
Diesel ou
Gás natural
159
50 Instalação de Calor
recuperação 53 utilizável
ηth=90%
6 64 2
Perdas
64
Instalação de 34 Electricidade
Diesel ou Cogeração
Gás natural 53 Calor
100 ηel=35% utilizável
ηth=55%
10 3
34/(34+53)=39% Perdas
53/(34+53)=61% 13
electricidade ou energia mecânica e energia térmica útil para tada para satisfazer as necessidades térmicas do proceso. Os
aproveitamento em processos. Obtém-se uma poupança de gases de escape podem ser utilizados directamente ou em
77
energia primária pelo aproveitamento simultâneo do calor e caldeiras de recuperação para a geração do vapor requerido
há lugar a uma melhoria do rendimento da instalação perante nos processos. Em ambos os casos existe a possibilidade de
uma geração convencional. No âmbito industrial oferece incrementar o conteúdo energético dos gases mediante quei-
numerosas vantagens: madores de pós-combustão.
• A geração realiza-se no próprio lugar do consumo e Cogeração com turbina de vapor. Nesta turbina, a
evitam-se perdas de transformação e transporte. conversão em energia mecânica produz-se pela expansão
do vapor a alta pressão procedente de uma caldeira. O
• O rendimento do processo alcança os 90% contra os sistema gera menos energia eléctrica (mecânica) por
65% de um sistema convencional. unidade de combustível do que a sua equivalente com
turbina de gás; no entanto, o rendimento global da insta-
• Potencia a segurança do abastecimento energético do lação é superior. Para a geração de vapor pode-se utilizar
usuário. à partida qualquer combustível, e inclusivé correntes
energéticas residuais dos procesos produtivos.
• Existem instalações adequadas para qualquer tipo de
potências tanto eléctricas como térmicas. Cogeração em ciclo combinado. Aplicação conjunta de
uma turbina de gás e uma de vapor, com todas as suas
• Favorece a descentralização energética. possíveis combinações no que se refere a tipos de
Figura 9
Esquema de um sistema de trigeração.
Máquina de
refrigeração
por absorção
Recipiente
Água Ar
de armazenagem Aquecimento
quente condicionado
Motor
Caldeira
a
G gás
Gerador
Frio de processo
e de ar
Dissipador condicionado
de
emergência
Figura 10
Turbina de gás de ciclo simples. 5. Boas práticas na transformação e uso da
78
electricidade
- Carga constante.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 12
Ciclo combinado.
79
capítulo 03
- Motores de eficiência standard velhos ou rebo- Mudança de conexão em motores trifásicos de mais de
binados. 5 kW
Estude a possibilidade de reconectar os rolamentos dos
80
Arranque de motores motores a conexões em estrela. Se um motor funciona
Comprove que o arranque dos motores se faz de forma continuamente a menos de 60% da sua carga total a conexão
sequencial e planificada. Evite o arranque e operação simul- em estrela resulta mais económica.
tânea de motores, sobretudo os de média ou grande capaci-
dade, porque aumenta o consumo de energia devido à
sobrecarga que se produz. 5.3. Transformadores
- Bombas de arrefecimento de água. É muito comum que as zonas não críticas, como corredores,
escadas, etc., estejam iluminadas excessivamente. Também
- Bombas de vácuo. as zonas mais exigentes e, portanto, mais intensivamente
iluminadas (laboratórios de precisão e desenho) perma-
- Bombas de água de lavagem. necem geralmente com todas as luzes acesas durante as
horas de limpeza e vigilância. Quando o projecto da ilumi-
- Sistemas de cintas transportadoras. nação implica um nível excessivo em muitas zonas, deve
reduzir-se o nível geral e reforçar somente as zonas que real-
Carga de baterias de equipamentos portáteis mente o requeiram.
Comprove se tem contratado algum tipo de discriminação
horária que bonifique o consumo a estas horas. Realize as Aproveitamento da luz natural
operações de carga das baterias no período onde a tarifa seja A luz natural é geralmente preferida pela maioria do pessoal,
mais barata. Avalie a rentabilidade de instalar um tempori- pelo que a limpeza das janelas não deve controlar-se unica-
zador para realizar a operação de carga automaticamente mente por motivos de imagem e eficiência energética.
quando começar o período de tarifa baixa. Devem ser eliminados os obstáculos que impeçam a entrada
da luz ou que projectem sombras para o interior do local.
Instalação de controladores automáticos Quando a luz natural disponível é adequada pode-se diminuir
Programas periódicos de testes e reparação de fugas - Testar os fechos dos frigoríficos e congeladores.
As fugas são responsáveis pela maior parte das perdas de Mude as juntas dos fechos se estas mostrarem sinais
eficiência energética nestes sistemas (geralmente representam de desgaste ou ruptura.
40% de todas as perdas). Estabeleça um programa trimestral
de reparações. Os testes periódicos regulamentares aos reci- - Instalar fechos de mola nas portas das arcas congela-
pientes de pressão são um seguro anti-fugas. doras, de modo que estas não sejam deixadas
abertas.
1.1. Vapor
Os principais elementos de um sistema de geração e distri- Do ponto de vista energético, os aspectos que têm uma
buição de vapor são a caldeira, a rede de distribuição aos maior influência no rendimento de uma instalação são o
pontos de consumo e o sistema de recolha do vapor. Nas projecto e o dimensionamento do circuito, o isolamento da
seguintes subsecções são analisadas as características rede e a recuperação de vapor.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
TABELA 1
Tipos de isolamento e características.
87
300 35 0,048
Revestimento de lã mineral 100
400 35 0,056
100 25 0,050
200 25 0,050
50 180 30 0,045
70 220 30 0,049
Manta de fibra mineral
100 300 35 0,051
125 400 35 0,063
500 40 0,059
600 40 0,066
300 35 0,048
Espuma de poliuretano
expandido – – 38 0,036
Projecto e dimensionamento de circuitos tura. Ao fazer isto, uma parte do vapor condensa, transfor-
O principal parâmetro do projecto da rede é o diâmetro das mando-se em água à mesma temperatura. A presença de
tubagens, já que a temperatura e pressão de trabalho estão líquido no interior dos tubos e restantes elementos de
determinadas pelos processos consumidores e, portanto, distribuição de vapor é muito prejudicial para o seu funcio-
são fixas. Quanto maior o diâmetro das tubagens, menor namento já que produz um maior desgaste e vibrações nos
será a perda de carga que há que vencer mas o investi- elementos, pelo que se torna necessário separar e recolher
mento dispara, pelo que há que chegar a um compromisso a condensação mediante uma série de secções ou purga-
entre o diâmetro das tubagens e o custo da instalação. Se dores nos lugares apropriados para que retornem de novo
o diâmetro eleito é demasiado reduzido, a velocidade resul- ao gerador. Com isso pretende-se recuperar não só a massa
tante do vapor será excessiva e originará uma elevada perda de água tratada, como também a energia térmica contida
de carga, um alto nível de ruído e problemas de ajuste nos nela. capítulo 04
elementos de conexão.
Existem diferentes tipos de purgadores de vapor em função
Isolamento da origem da condensação (rede de transporte ou equipa-
O isolamento das tubagens, equipamentos e acessórios do mento de intercâmbio). É preferível que sejam equipa-
sistema de distribuição de vapor e retorno da condensação,
evitará perdas de calor para o ambiente. É muito importante
instalar, em cada secção de tubo, o tipo e espessura óptima
de isolamento (ver tabela 1).
• Diminui-se o consumo de água tratada e seu custo, • O custo das tubagens e acessórios também resulta
já que o tratamento é dispendioso. mais económico pela redução do diâmetro da rede.
• O custo de produção do vapor reduz-se. • Não existem condensações, pelo que a rede se
simplifica ao não serem necessários purgadores nem
redes de retorno da condensação. O nível de segu-
1.2. Água quente
rança é menos exigente do que no caso do vapor.
A água quente não é utilizada tão frequentemente nos
processos industriais como fluido térmico, e o seu uso Os óleos térmicos devem ter uma série de características
restringe-se a processos de aquecimento que requerem que os tornam adequados para a sua aplicação como fluidos
potências reduzidas ou aplicações de aquecimento espe- térmicos, tais como:
ciais.
• Alto calor específico.
As vantagens que oferece a utilização de água quente como
fluido térmico são as seguintes: • Baixo custo.
noutros processos de aquecimento a uma temperatura pré-aquecimento de 250ºC, que pode representar
inferior. O caso mais comum é o da combustão em caldeiras uma poupança de combustível de 12% para um
89
ou motores: os gases de escape são expulsos do interior regime nominal de carga. Este tipo de queimadores
para o exterior através de uma chaminé a grande tempera- são de uso habitual em fornos da indústria cerâmica
tura, variável em função do tipo de caldeira e aplicação. Ao e metalúrgica.
ser elevada a temperatura de saída dos gases, estes contêm
grande quantidade de energia térmica que é possível apro- • Queimadores regenerativos: neste caso utilizam-se
veitar em processos de aquecimento auxiliares. vários pares de queimadores situados em lados
opostos da câmara de combustão. Funcionam alter-
De seguida são referidas as diferentes possibilidades de nadamente por ciclos de vários minutos, de forma a
recuperação de energia em distintos fluxos de gases de que num ciclo, um deles actua como queimador e o
uso comum na indústria. outro como via de escape dos gases de combustão.
Desta forma, este último aquece e ao fim de um
1.4.1. Recuperação de calor dos gases de combustão período de tempo regulável (minutos) alterna-se o
seu funcionamento. O ar de entrada é então desviado
Existe na indústria uma grande quantidade de processos de rumo ao queimador previamente aquecido, pelo que
combustão para inúmeras aplicações. Na maioria dos casos se consegue desta forma um pré-aquecimento do ar
a energia contida nos gases de escape pode ser aprovei- de combustão. A poupança de energia pode ser
tada devido a que a temperatura e o fluxo de gases são significativa (até 50% segundo o Documento de
suficientemente elevados para que a recuperação de calor referência de melhores técnicas disponível na indús-
• Q
ueimadores de auto-recuperação: este sistema
consiste num queimador no qual se dá a circulação
dos fluidos de gases por duas condutas concêntricas.
Por uma delas circulam os gases de combustão
precedentes da câmara de combustão e cedem parte
da sua energia ao ar de entrada que circula pela
conduta exterior. Desta forma, o ar de entrada é pré-
aquecido e assim se consegue um aumento da
combustão. A poupança energética que se pode 1.4.3. Recuperação de calor em sistemas de
conseguir depende da temperatura a que se pré- climatização
aqueça o ar primário da combustão. Para uma tempe- Por vezes o ar interior das naves industriais necessita de
ratura na ordem dos 650ºC pode-se conseguir um ser aquecido no período de Inverno para manter um conforto
adequado nas mesmas. Como também é necessário Figura 4
manter uma quantidade mínima de ar de renovação exte- Esquema de recuperador entálpico.
90
rior, é possível pré-aquecê-lo aproveitando o ar quente que
se evacua da nave, reduzindo desta forma o gasto energé-
tico em aquecimento. Este sistema é económico unica-
mente em sistemas de climatização de naves de grande
dimensão
Figura 3
Esquema de recuperador de calor num equipamento
de climatização.
• Geradores de água quente: na maioria das indús- Caldeira aquatubular: A sua característica principal
trias existe algum processo que requer aquecimento é que a chama dos queimadores se forma dentro de
auxiliar de reduzida ou moderada potência. Nestes um recinto formado por paredes tubulares em todo o
casos não é interessante a instalação de complexos seu conjunto, que configuram a chamada câmara de
combustão. Os fumos gerados passam pelo interior A primeira distinção que se pode realizar é em função do
dos passos seguintes, cujos sucessivos recintos sistema de aquecimento do forno. Pode-se distinguir entre
92
estão também formados por paredes tubulares na fornos de combustão e fornos eléctricos:
sua maioria. A qualidade que diferencia estas
caldeiras é que todos os tubos que integram o seu
2.2.1. Fornos de combustão
corpo estão cheios de água ou, pelo menos, cheios
de uma mistura de água e vapor nos tubos da chaleira, Nestes, a geração de calor produz-se mediante combustão,
nos quais se transforma parte da água em vapor ou principalmente de gás ou de outros hidrocarburantes. A
água sobreaquecida. Quando se destinam à geração principal característica operacional de um forno de combus-
de vapor dispõem de uma pequena caldeira superior tível é a temperatura interior máxima que pode alcançar,
e, normalmente, de outra inferior. A caldeira superior que está limitada pela sua temperatura de chama. Os
trabalha como separador do vapor gerado e a inferior factores que influenciam esta temperatura são os
como distribuidora da água através dos tubos da seguintes:
chaleira. Também dispõe de um pacote tubular de
pré-aquecimento da água de alimentação, chamado • Poder calorífico efectivo do combustível: depende da
economizador, que se pode instalar em caldeiras de temperatura real de operação.
média potência fora do corpo da caldeira, ou dentro
deste em caldeiras de grande potência. Nestas • Excesso de ar: Uma quantidade de ar carburante
caldeiras o fluxo pelos tubos da chaleira realiza-se superior à estequiométrica (a teoricamente neces-
mediante circulação natural. Nas de média potência é sária para assegurar a combustão completa), produz
opcional a previsão de um sobreaquecedor do vapor maior quantidade de gases de combustão e portanto
gerado; nas caldeiras de grande potência, é sempre o calor absorvido pelos ditos gases é maior, pelo que
previsto este sobreaquecedor, já que supõe um diminui a eficiência do forno.
ligeiro aumento do rendimento do equipamento.
Quando as caldeiras se destinam à geração de água • Temperatura de entrada do combustível e combu-
sobreaquecida não dispõem de caldeiras de pequena rente: quanto mais elevada for a temperatura, menor
dimensão e a distribuição de água para os tubos das é a necessidade de combustível para dispor da
paredes realiza-se por meio de colectores. mesma quantidade de energia. Por isso é muito reco-
mendável a utilização do pré-aquecimento do ar
Nas caldeiras aquatubulares a circulação da água pelo seu comburente.
interior é forçada por meio das bombas de circulação. Nas
caldeiras de geração de vapor regula-se o nível médio de • Velocidade de combustão: se a combustão é instan-
água na caldeira de pequena dimensão superior, de forma tânea, toda a energia libertada converte-se em calor.
que varie dentro de um intervalo previsto. A câmara supe- Quanto maior é a velocidade, as perdas de calor por
rior serve de separador do vapor gerado, de onde vai para a radiação serão menores ao ser este absorvido rapida-
conduta de consumo pela tubagem de saída. mente pelos produtos.
Denominam-se por fornos industriais os equipamentos ou A utilização da electricidade como fonte de calor constitui
dispositivos utilizados na indústria nos quais se aquecem uma prática ineficiente para o processo intrínseco de trans-
as peças, elementos, ou materiais colocados no seu inte- formação, já que procede na sua maior parte da combustão
rior acima da temperatura ambiente. O aquecimento pode de hidrocarburantes (o rendimento máximo de geração
servir para diferentes aplicações, como: eléctrica numa central térmica não supera os 33%). No
entanto, em muitos processos a sua substituição por fornos
• Fundir. de combustão obrigaria a um consumo equivalente muito
maior. Este resultado explica-se ao ter em conta os rendi-
• Preparar para uma operação de formatação poste- mentos reais de todos os consumos da cadeia energética
rior. numa fábrica. A electricidade não necessita de um fluido
portador de calor, já que pode ser transformada em calor no
• Tratar termicamente para extrair determinadas próprio ponto de consumo mediante diversos processos
propriedades. como:
cção relativa à recuperação de calor nos gases de • Processos de secagem física: a secagem realiza-se
combustão, inclusivamente dotando-os de queima- por procedimentos físicos ou mecânicos: escorri-
95
dores especiais que permitam integrar esta recupe- mento, filtração, pressão, centrifugação, etc.
ração de calor. Quanto aos fornos eléctricos, pode-se
recuperar, por exemplo, a energia da água de arrefe- Pode-se considerar que 11% do consumo energético indus-
cimento de fornos por indução. Mediante um sistema trial é devido aos processos de secagem. A incidência deste
de permutadores de calor e ajustando a temperatura consumo varia sensivelmente de um sector industrial para
de saída da água, pode-se conseguir uma recupe- outro, e são as indústrias siderúrgica e química as que
ração de energia até os 12% da energia dissipada. registam maiores necessidades energéticas no processo
de secagem.
• M
ovimento da carga: fixo, por gravidade, grelha
móvel, etc.
Secador de tambor
Consistem num rolo oco de superfície perfeitamente lisa,
pelo interior do qual circula vapor que actua como fluido de
aquecimento. O cilindro gira de modo a que a sua super-
fície exterior esteja em contacto permanente com o mate-
rial que se vai secar. A secagem produz-se através do calor
transferido através da superfície quente do tambor e
depende do tempo de contacto entre o sólido e o cilindro.
O tambor arrasta uma pequena capa de um resíduo sólido
seco, que é recolhido em algum ponto da rotação do
tambor. A crosta formada ao final do processo é eliminada
por meio de uma lâmina.
3.1. Caldeiras
Conexão à caldeira
É recomendável conectar as caldeiras lentamente, e nunca Caldeira com isolamento deteriorado.
injectar água fria a um sistema quente já que as mudanças
bruscas de temperatura podem danificar a caldeira.
3.2. Fornos
Sistema de combustível
Assegura que o sistema de combustível funciona correcta- Características
mente e sem fugas. Purgar as caldeiras antes de acender o O pessoal encarregue dos fornos deverá conhecer o seu
Regulação de queimadores
Programe uma manutenção e regulação periódica dos quei-
madores, assim como o controle de diversos parâmetros
como concentração de CO, CO2, temperatura de gases e
escape, etc. Tenha em conta que o queimador é um elemen-
to-chave no consumo energético e na segurança do forno.
A sua limpeza e ajustamento correctos garantem um menor
consumo de combustível.
Isolamentos
Verifique a temperatura superficial das paredes do forno e Temperatura de fumos alta
verifique o estado do seu isolamento, já que se a tempera- Pode ser devida a:
tura for superior aos 45 ºC, o forno está mal isolado ou o
seu isolamento está deteriorado. - Excesso de tiragem que diminui o tempo de contacto
dos gases com as superfícies de intercâmbio.
No caso de fornos com grande superfície envidraçada (forno
de pisos) é recomendável que sejam de vidro duplo já que - Sujidade nas superfícies de intercâmbio de calor,
este permite uma importante poupança de energia. que dificultem o dito intercâmbio.
Com a medição dos parâmetros anteriormente mencioados - Mau funcionamento do regulador de tiragem.
podem-se detectar problemas ou ineficiências que dimi-
nuam o rendimento da combustão. Os mais comuns são os - Câmara de combustão defeituosa.
seguintes:
- Chama desajustada.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
- Queimador que actua em períodos de tempo curtos se bem que se podem dar casos de poupança muito supe-
ou mal regulado. riores.
99
Cobrir os depósitos de água, comprovar a sua temperatura - Utilizar um sistema de recirculação em cascata no
e reduzir a temperatura do processo permite diminuir as Inverno para evitar o subarrefecimento.
transferências de calor e as perdas para o ambiente.
- Recircular a água de arrefecimento (ou produtos
Circuito de arrefecimento químicos quentes) no Inverno.
Classificar as águas de arrefecimento de máquinas ou de
outros circuitos de arrefecimento existentes atendendo à Podem-se conseguir poupanças de energia regulando o
sua temperatura e nível de contaminação. funcionamento do sistema de arrefecimento às necessi-
dades existentes e às condições ambientais
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Um isolamento de espessura óptima para diminuir perdas Estudar sistemas para diminuir as perdas de calor por
através das paredes reduz estas a 2% - 3% das que se radiação através de ranhuras e evitar a abertura de portas
produziriam sem isolamento. A instalação de isolamento de de lugares ou zonas quentes, já que se perde calor por
espessura óptima é uma boa prática energética. É, de radiação e por perda de ar quente.
longe, o melhor método de poupança energética, e a amor-
tização realiza-se em prazos muito curtos, da ordem de Comprovar o estado das fechaduras das portas das
semanas. caldeiras, fornos e secadores, assim como:
Quanto maior seja a espessura do isolamento, maior será o - Estado dos isolamentos e do material isolante.
seu custo, mas diminuirá o valor das perdas. Há que
procurar, portanto, aquela espessura que faça mínimo o - Estado das barreiras de vapor.
custo total da instalação, já que um aumento do custo em
- Temperaturas exteriores.
05 Eficiência e Poupança Energética
no Sector dos Serviços
(SCE) aprovado segundo o Decreto-lei nº 78/2006 de
1. Aspectos básicos da climatização no 4 de Abril.
104
sector dos serviços
• Alteração do Regulamento das Características de
O facto de dispormos de energia disponível e abundante Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) apro-
permite-nos aceder a um nível de mobilidade, produtividade vada no Decreto-Lei 80/2006, de 4 de Abril.
e conforto muito elevados. O papel da energia é vital para o
nosso desenvolvimento sustentável, isto é, que a energia • Actualização do Regulamento dos Sistemas Energé-
seja produzida e empregue tendo em conta o desenvolvi- ticos de Climatização em Edifícios (RSECE) aprovada
mento humano nas suas dimensões social, económica e Decreto-lei nº 79/2006.
ambiental. Se assim não for, a deterioração do meio
ambiente vai ser acelerada, incrementando a desigualdade • Certificação Energética de Edifícios (CEE) de novas
e colocando em perigo o crescimento económico mundial. construções (Real Decreto 47/2007, de 19 de
Janeiro).
O sector da habitação e dos serviços, composto na sua
maioria por edifícios, absorve mais de 40% do consumo • Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética
final de energia da Comunidade Europeia e encontra-se em (PNAEE) em Portugal (2008-2015).
forte expansão, tendência que previsivelmente fará
aumentar o consumo de energia e, portanto, também as Quiçá, o mais relevante de todos, pela sua novidade, seja a
emissões de dióxido de carbono (CO2). Certificação Energética de Edifícios. A expressão do
consumo de energia necessária para satisfazer a procura de
Com o intuito de garantir a protecção do meio ambiente, o energia de um edifício em condições normais de funciona-
Decreto -Lei n.º 290/2007 de 17 de Agosto do Regulamento mento e ocupação é o que se denomina classificação ener-
Geral das Edificações Urbanas (RGEU), estabelece como gética.
um dos requisitos básicos da edificação, que os edifícios se
projectem de tal forma que não se deteriore o meio O processo através do qual se verifica a conformidade da
ambiente, assim como o uso de um modo racional da classificação energética obtida pelo projecto e pelo edifício,
energia necessária para o funcionamento normal dos ditos uma vez terminado com a consequente emissão de certifi-
edifícios, mediante a poupança desta e o isolamento cados de eficiência energética em ambos, é o certificado
térmico. energético de um edifício.
Os edifícios têm uma grande incidência no consumo de Este certificado de eficiência servirá para acreditar que no
energia a longo prazo, pelo que todos os edifícios novos seu projecto e construção foram levados em linha de conta
devem cumprir os requisitos mínimos de eficiência energé- critérios orientados para atingir com eles o máximo de
tica adaptados às condições climáticas locais. A este aproveitamento da energia.
respeito, devem-se orientar as boas práticas para um uso
óptimo dos elementos relativos à melhoria da eficiência A certificação valoriza, adicionalmente, a eficiência térmica
energética. dos edifícios em dois aspectos: aquecimento e produção
de água quente. Para isso tem-se em conta, entre outros,
Por outro lado, a mudança legislativa produzida pela apro- aspectos como o grau de isolamento do edifício ou as insta-
vação da Directiva Europeia de Eficiência Energética em lações de produção de energia.
Edifícios, 2002/91/CE e a sua transposição para a legislação
portuguesa, está a fazer aparecer novos requisitos no sector Em resumo, o que permite a certificação energética dos
da edificação nos aspectos relativos ao consumo de energia, edifícios é:
iluminação, isolamento, aquecimento, climatização, águas
quentes sanitárias, certificação energética de edifícios ou • Dar a conhecer ao utlilizador as características ener-
utilização de energia solar. géticas do seu edifício.
Actualmente são vários os documentos legais introduzidos • Facturar todos os gastos de energia derivados das
pela Administração para dar resposta a estes novos requi- diferentes aplicações (aquecimento, climatização e
sitos: AQS) em função do consumo real, para assim poder
distribuir os custos de maneira mais equilibrada e
• Aprovação do novo Sistema Nacional de Certificação individualizada.
Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• A inspecção periódica das caldeiras. As unidades centralizadas são climatizadores que se enca-
rregam de arrefecer ou aquecer, desumidificar ou humidi-
105
• Realizar auditorias energéticas nos edifícios de alto ficar, e limpar o ar. Estas unidades climatizadoras podem
consumo energético. ser do tipo de expansão directa, como parte de uma unidade
autónoma compacta ou dividida, ou um climatizador de
• Controlar o isolamento térmico nos edifícios de nova água (UTA), em cujo o caso precisará de unidade de arrefe-
construção. cimento de água ou caldeiras.
As unidades terminais que utilizam este sistema são
• Melhorar a eficiência energética. unidades de difusão (difusores e redes de todo o tipo), ou
unidades de controle da quantidade de ar que se vai fornecer
• Rentabilizar os custos. a cada local (caixas de comportas ou elementos de similar
função).
• Estudar a viabilidade técnica dos projectos.
• Sistema de água: São sistemas de climatização nos
• Melhorar o meio ambiente. quais a água é o agente que se ocupa de compensar
as cargas térmicas do recinto acondicionado (apesar
de também poderem usar o ar exterior para a reno-
1.1. Climatização no sector dos serviços
Em função do fluido encarregue de compensar a carga Os sistemas multisplits (VRV ou CRV) estão compostos por
térmica no recinto a climatizar podemos diferenciar os uma unidade condensadora que distribui a vários evapora-
seguintes sistemas de climatização que se podem encon- dores (alguns destes podem preparar o ar primário de
trar em instalações terciárias. evaporação).
• Sistemas
de ar: O ar é utilizado para compensar as
1.1.2. Melhoria
e optimização da eficiência energética
cargas térmicas no recinto que se vai climatizar,
dos equipamentos
controlando-se adicionalmente a humidade e a
limpeza do ar (renovações por hora), sem existência A redução do consumo energético de um edifício em
de tratamento posterior. aspectos de climatização pode-se atingir mediante dife-
rentes vias de actuação. As principais vias são as 1.2. Qualidade do ar interior
seguintes:
106
Segundo a Enciclopédia de Saúde e Segurança no Trabalho,
1. Diminuir a procura de energia nos edifícios. a conexão entre o uso de um edifício como lugar de trabalho
ou habitação e o surgimento, em alguns casos, de
2. Substituir as fontes de energia convencional por problemas e sintomas que correspondem à definição de
energias renováveis (solar térmica, solar fotovoltaica, uma enfermidade é um facto que já não pode ser questio-
biomassa ou geotérmica). nado. O principal responsável é a contaminação de diversos
tipos presentes nos edifícios, que geralmente se denomina
3.Utilizar sistemas e equipamentos térmicos mais “má qualidade do ar em interiores”.
eficientes.
Adicionalmente, é um problema que se viu agravado pela
4. A recuperação de energia residual e o arrefecimento construção de edifícios desenhados para serem mais
gratuito (free cooling). herméticos e que reciclam parte do ar com uma proporção
menor de ar fresco procedente do exterior, com a finalidade
Para poupar energia e optimizar o funcionamento das de aumentar a sua rentabilidade energética. É de aceitação
nossas instalações haverá que adequar a produção que geral o facto de que os edifícios que carecem de ventilação
tenhamos à procura (através de uma boa regulação e frac- natural apresentam risco de exposição aos contaminantes.
cionamento da potência), assim como ajustar os tempos de
funcionamento dos nossos sistemas de climatização às Em geral, o termo ar interior aplica-se geralmente a
necessidades reais. ambientes de interior não industriais, como edifícios de
escritórios, edifícios públicos e habitações particulares. As
Por outro lado, a utilização de equipamentos mais eficientes concentrações de contaminantes no ar interior destes edifí-
como queimadores modulantes em caldeiras, bombas de cios são geralmente da mesma magnitude que as encon-
frequência variável ou caldeiras de condensação, contri- tradas habitualmente no ar exterior, e muito menores que
buem em grande medida para o aumento da eficiência da as existentes no meio ambiente industrial, no qual se
nossa instalação, mas são muitas vezes soluções com um aplicam normas relativamente bem conhecidas com o fim
custo económico muito elevado. de avaliar a qualidade do ar.
Adicionalmente, a utilização de sistemas free-cooling em Ainda assim, muitos ocupantes de edifícios queixam-se do
Unidades de Tratamento do Ar (UTAs) permite diminuir o ar que respiram, pelo que é cada vez mais importante levar
tempo de funcionamento dos equipamentos de refrige- a cabo estudos deste tipo com o intuito de dar solução às
ração, com a consequente diminuição do gasto energético. origens desta contaminação do ar. Não obstante, ainda que
As UTAs com sistemas integrados de free-cooling contam esteja clara a importância destes estudos, e a importância
com três portas de ar colocadas de tal forma que quando a do bem-estar e da saúde das pessoas que trabalham ou
temperatura de entalpia do ar exterior (dependendo se o habitam nos edifícios, a qualidade do ar interior começou a
sistema free-cooling é por temperatura ou por entalpia) é ser considerada um problema nos finais dos anos 60, e os
menor que a temperatura ou entalpia do ar interior do local, primeiros estudos foram realizados uns dez anos depois.
toma-se este ar frio exterior para refrigerar directamente o
local. As mudanças no estado da saúde de uma pessoa, devidas
à má qualidade do ar interior, podem manifestar-se através
Outros equipamentos que favorecem a poupança energé- de diversos sintomas agudos e crónicos, assim como na
tica na climatização são os recuperadores de energia. Estes forma de diversas enfermidades específicas. Estes
são dispositivos que permitem reutilizar o calor residual de sintomas e enfermidades são ilustradas na figura 1.
um sistema e o seu objectivo final é alcançar a eficiência
máxima da instalação. Desta forma, recupera-se parte da Ainda que os casos nos quais a má qualidade do ar interior
energia do ar que vamos expulsar para o exterior e a empre- se traduz em doenças sejam poucos, é comum que seja
gamos para o pré-aquecimento do ar exterior que o subs- responsável pelo mal-estar, stress, absentismo laboral e
titui, estaremos a cumprir os ditos objectivos. perda de produtividade.
Importa destacar adicionalmente a actual legislação exis- Outro aspecto, que deve ser considerado como parte da
tente em assuntos de climatização, que obriga à utilização qualidade do ar interior, é o seu odor, já que este é geral-
destes sistemas mais eficentes em instalações que mente o parâmetro de definição. A combinação de um
superem uma potência mínima. certo odor com o leve efeito irritante de um composto no ar
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 1
Sintomas e enfermidades relacionadas com a qualidade do ar interior.
107
SINTOMAS:
de um interior pode conduzir-nos a definir a sua qualidade sistemas que possui), a divisão em compartimentos do
como “fresca” e “limpa” ou como “viciada” e “contami- edifício e as fontes interiores de contaminantes e sua
nada”. magnitude.
Por tudo isto, o odor é muito importante ao definir a quali- De uma maneira geral, pode-se dizer que os problemas
dade do ar interior. Apesar dos odores dependerem objecti- mais frequentes da qualidade do ar interior devem-se a
vamente da presença de compostos em quantidades supe- uma ventilação inadequada, à contaminação gerada no inte-
riores ao limiar olfativo, são frequentemente avaliados rior do próprio edifício e à contaminação proveniente do
desde o ponto de vista estritamente subjectivo. Deve ter-se exterior. Com respeito à primeira destas causas, a venti-
em conta que a percepção de um odor pode dever-se aos lação inadequada deve-se principalmente a uma entrada
numerosos compostos diferentes e ao facto da tempera- insuficiente de ar fresco (seja por um alto nível de recircu-
tura e humidade também poderem modificar as suas carac- lação do ar ou um nível baixo de entrada de ar fresco), a
terísticas. orientação incorrecta do edifício (que não favorece a venti-
lação natural) e a uma distribuição interior deficiente. capítulo 05
Devido à complexidade de medir odores desde o ponto de
vista químico no ar interior, a tendência é eliminar os maus
1.2.2. Origem dos contaminantes
odores e utilizar, no seu lugar, os considerados bons com o
intuito de dar ao ar uma qualidade agradável. Uma prática A contaminação no interior dos edifícios tem diferentes
habitual para alcançar este objectivo é mascarar os maus origens: os próprios ocupantes, os materiais inadequados
odores com outros agradáveis. No entanto, esta prática ou os defeitos técnicos utilizados na construção do edifício;
fracassa na maior parte das vezes, dado que se podem o trabalho realizado no interior; o uso excessivo ou inade-
reconhecer separadamente os odores de qualidades muito quado de produtos normais (pesticidas, desinfectantes,
diferentes, pelo que o resultado é imprevisível. produtos de limpeza e encerados); os gases de combustão
(procedentes do tabaco, das cozinhas, das cafetarias e dos
laboratórios); e a conjunção de contaminantes procedentes
1.2.1. Aspectos do sistema de ventilação
de outras zonas mal ventiladas que se difundem para áreas
relacionados com a qualidade do ar interior
vizinhas, afectando-as.
A qualidade do ar interior num edifício depende de uma
série de variáveis, como a qualidade do ar exterior, o Há que ter em conta que as substâncias emitidas no ar
projecto do sistema de ventilação e ar-condicionado (isto é, interior têm muito menos oportunidades de se diluirem do
o sistema de aquecimento e de refrigeração), as condições que as emitidas no ar exterior devido às diferenças de
nas quais se operam e se mantêm (tanto o edifício como os volume de ar disponível. No que respeita à contaminação
Figura 2
Fontes de contaminação de um edifício.
108
CO = monóxido de carbono; CO2 = dióxido de carbono; HCH0 = óxidos de nitrógeno; Pb = chumbo; MPR = matéria em particulas respirável;
COV = compostos orgânicos voláteis
biológica, a sua origem deve-se fundamentalmente à Tal como diz o Estudo de Difusão sobre Tecnologias de
presença de água estancada, de materiais impregnados Microtrigeração para o Sector Industrial e Terciário (publi-
com água, gases, etc., e a uma manutenção incorrecta dos cado pelos Centros de Difusão Tecnológica AEDIE e La
humidificadores e torres de refrigeração. Viña), o serviço de climatização é um consumidor de energia
de primeira ordem em países de latitudes médias como
Por último, deve considerar-se também a contaminação Espanha e Portugal. Tradicionalmente, a maior parte deste
procedente do exterior. Com respeito à actividade humana, consumo devia-se aos sistemas de aquecimento para a
há três fontes principais: a combustão em fontes estacio- temporada fria, que compreende quatro a seis meses por
nárias (centrais energéticas), a combustão em fontes ano. Esta procura, ao requerer directamente calor, obtém a
móveis (veículos) e os processos indústriais. energia necessária fundamentalmente da combustão de
combustíveis fósseis: carvão, gasóleos e gás natural.
2. Tecnologias eficientes aplicáveis no Não obstante, nas últimas décadas, o crescimento econó-
sector dos serviços: microcogeração e mico e o conseguinte aumento de vida dos consumidores,
microtrigeração criaram um aumento significativo da procura de refrige-
ração (ar-condicionado) na temporada quente (que pode
durar entre três a quatro meses). O ar-condicionado genera-
2.1. Generalidades lizou-se nos grandes edifícios públicos e centros de trabalho
e caminha para se tornar um serviço comum nas casas. A
O uso intensivo da energia em todas as suas forma, e a sua quase totalidade dos sistemas de refrigeração, que se
produção a partir de combustíveis fósseis, estão a originar utilizam tanto em Portugal como na União Europeia (UE),
um aumento substancial nas emissões de contaminantes empregam ciclos de compressão mecânica de vapor
para a atmosfera que derivam em efeitos globais cujas alimentados com motores eléctricos conectados à rede.
consequências estão a começar a afectar o planeta (dimi-
nuição da camada de ozono, aquecimento global, etc.). Adicionalmente, a climatização causa um considerável
impacto ambiental, fundamentalmente associado à emissão
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
de gases de efeito estufa consequência do consumo de locais públicos. Este segmento de mercado vai, sem dúvida,
combustíveis fósseis, mas também relacionado com as tornar-se o mais importante em termos de consumo de
109
substâncias empregues como refrigerantes. A muito curto energia e é nele que os incentivos para romper barreiras
prazo o forte crescimento desta actividade colocará um que impedem o desenvolvimento de soluções mais
importante desafio aos compromissos adquiridos por eficientes são maiores.
muitos países no Protocolo de Quioto.
Por isso, vai-se tratar de forma especial duas das tecnolo-
Outro factor que há que considerar quando se avaliam as gias mais interessantes e eficientes para estes níveis de
consequências da climatização são os efeitos sobre os potência (menos de 1 MW), a microcogeração e a microtri-
sistemas de produção e distribuição de electricidade. geração.
Apesar da alta eficiência dos equipamentos de compressão
mecânica para refrigeração, a potência total requerida e a
2.2. Introdução à microcogeração
sua concentração em certas franjas horárias coloca impor-
e microtrigeração
tantes problemas de capacidade e regulação ao sistema
eléctrico de muitos países. Este repercute-se na estabili- A cogeração define-se como produção simultânea de elec-
dade do fornecimento e cria a necessidade de pesados tricidade e calor útil a partir de um único combustível. Os
investimentos que acabam por afectar o preço da electrici- sistemas de cogeração englobam diversas tecnologias
Neste contexto cabe finalmente destacar que o segmento De igual modo, obtém-se um importante benefício econó-
de mercado onde os avanços são mais lentos é o das mico ao produzir energia mais barata do que aquela que se
pequenas potências; isto é, aquele que cobre a procura de compra e, inclusivamente, ao poder vender excedentes de
habitações, pequenos estabelecimentos comerciais e
electricidade à rede, garante-se o fornecimento energético tável e muito mais racional. E para além disso ajudam ao
em caso de uma avaria. cumprimento dos compromisso adquiridos com a assina-
110
tura do Protocolo de Quioto pelo nosso país.
Portanto, pode-se afirmar que a curto ou médio prazo as
instalações de cogeração e trigeração (ou nas suas variantes Actualmente as instalações de geração combinada de
de baixa potência) são as tecnologias mais adequadas para energia utilizam diversas tecnologias, cada uma com as
converter o actual sistema energético num sistema susten-
Figura 3
Aproveitamento de calor num sistema de microcogeração.
Equipamento Edifício ou
Gás natural 100 de Calor 60
indústria
cogeração
Electricidade 30 Electricidade 30
Rede eléctrica
Figura 4
Funcionamento de um sistema de microtrigeração.
Calor residual
não aproveitável
Água
quente Arrefecedor Refrigeração
de absorção
Edifício ou
Gás Equipamento Calor indústria
natural de recuperado
Água quente para
cogeração aquecimento
Rede eléctrica
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
TabEla 1
Tipos de máquinas térmicas e suas características.
111
Rendimento eléctrico 15% - 35% 10% - 40% 25% - 45% 25% - 50% 35% - 55%
Rendimento térmico 40% - 59% 40% - 60% 40% - 60% 40% - 60% 40% - 60%
Rendimento total 60% - 85% 60% - 85% 70% - 85% 70% - 90% 70% - 90%
Custo de instalação (€/kWe) 600 - 800 700 - 900 700 - 1400 >2000 >2500
Temperatura aproveitável 450 ºC - 800 ºC 100 ºC* 300 ºC - 600 ºC 300 ºC - 600 ºC 250 ºC - 550 ºC
capítulo 05
suas vantagens e inconvenientes. Na tabela 1 observam-se
as diferenças entre as distintas opções.
Máquinas de absorção.
Saída de gases
Gerador Turbina e
Recuperador
Entrada de
Ar
Refrigeração
Electrónica
Um equipamento de absorção é composto por um evapo- volvida e sobretudo menos difundida devido à enorme
rador, um condensador, um absorvedor e um gerador, e são expansão dos equipamentos convencionais. Não obstante,
113
estes dois últimos elementos os que substituem o o novo rótulo energético que fomenta a redução de emis-
compressor. sões e a eficiência tem promovido em distintos sectores
um importante esforço com vista ao desenvolvimento e
Existem muitas variantes e evoluções de máquinas de abso- introdução comercial destes equipamentos, cujo poten-
rção, principalmente quanto ao seu funcionamento, que cial de desenvolvimento em países quentes é enorme.
pode ser de uma etapa ou de simples efeito ou de várias. A
finalidade destas evoluções é a de conseguir uma maior
eficiência para superar o ciclo de simples efeito em alguma 2.4. Climatização por adsorção
característica determinada.
A climatização por adsorção é uma tecnologia que não se
As mais destacadas são os ciclos de múltiplo efeito, nos encontra tão desenvolvida como a de absorção, pelo que a
quais se realizam várias separações de vapor a partir de sua utilização não está muito implantada.
uma introdução inicial de calor externo, de forma que o
Coeficiente de Eficiência Energética (CEE) aumenta subs- A vantagem principal destes sistemas é que requerem uma
tancialmente. Na fotografia anterior apresenta-se uma quantidade muito pequena de trabalho, isto é, de electrici-
Para que um sistema deste tipo possa encaixar numa insta- • Excedentes eléctricas: para instalações de pequena
lação do sector de serviços devem-se cumprir uma série de potência não se coloca a possibilidade de vender os
requisitos mínimos de funcionamento e de procura, que excedentes de energia eléctrica à rede, já que o
garantam a amortização dos equipamentos no menor tempo processo administrativo necessário para registar-se
possível. Estes requisitos dependerão fundamentalmente como fornecedor e o baixo preço obtido pela venda
de três factores: dos excedentes, somado ao custo de adaptação dos
equipamentos requeridos para quantificar o balanço
• Horas de funcionamento: o número de horas de de energia importada e exportada, não torna economi-
funcionamento por ano é um parâmetro chave nos camente rentável esta possibilidade, pelo que resta o
Figura 6
Distribuição das horas de funcionamento de um motor de cogeração nos dias de Inverno.
80,00
70,00
60,00
PROCURA (kW)
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
-
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
HORAS
Figura 7
Distribuição das horas de funcionamento de um motor de cogeração nos dias de Primavera, Outono e Verão.
115
40,00
PROCURA (kW)
30,00
20,00
10,00
-
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
HORAS
Procura eléctrica Potência eléctrica motor
Procura térmica Potência térmica motor
de que conta com um sistema de controlo indepen- 1. Luminárias de anexar, para lâmpadas fluorescentes
dente daquele da iluminação geral da fracção. compactas com reflectores especulares para evitar
encadeamentos (estas lâmpadas devem formar
• Iluminação geral e local: Consiste na combinação de parte da iluminação geral das aulas de informática
iluminação geral e localizada. Neste caso, a iluminação ou de estúdio) ou com reflector difuso (utilizar-
geral é de baixo nível, e obtém-se mediante uma dispo- se-iam para a iluminação geral do centro).
sição regular das lâmpadas.
2. Luminárias de anexar ou suspender com reflec-
Por outro lado, a iluminação local necessária para completar tores especulares (iluminação geral de aulas e
a geral de baixo nível deverá permitir que a tarefa se realize escritórios com uso de telas) ou difusas (ilumi-
confortavelmente para o trabalhador, isto é, evitar o encadea- nação de zonas de uso geral) para lâmpadas fluo-
mento. rescentes lineares.
• Iluminação directa-indirecta: a iluminação directa é 3. Luminárias para embutir com reflector especular
aquela na qual a maior parte do fluxo luminoso se ou difuso para lâmpadas fluorescentes lineares
emite até ao plano de trabalho (geralmente a zona ou compactas, utilizadas de forma similar aos
inferior das fracções). Os modernos sistemas de ilumi- casos anteriores.
nação de oficinas, por exemplo, são geralmente
formados por lâmpadas de montagem embutida ou 4. Downlights de embutir para lâmpadas fluores-
em superfícies com ópticas especulares de alta centes compactas, que se utilizam em áreas de
eficiência, preferivelmente com características de entradas, corredores, etc.
distribuição em feixe.
5. Luminárias estanques para zonas cobertas utili-
Por outro lado, a iluminação indirecta dirige a maior parte da luz zadas, com lâmpadas de descarga do tipo vapor
para o tecto e zonas superiores das fracções, pelo que geral- de mercúrio com halogéneos metálicos ou vapor
mente não se empregam em zonas de trabalho. de sódio de alta pressão.
Portanto, dependendo do uso que se vai dar às diferentes • Em segundo lugar, para centros sanitários, recomen-
fracções de um edificio ou local de serviços, escolher-se-á da-se:
entre um dos sistemas de iluminação anteriores.
1. Luminárias suspensas directa ou indirectamente
com reflectores especulares e lâmpadas fluores-
3.2. Candeeiros recomendados para centes lineares ou compactas, para a iluminação
diferentes actividades geral de salas onde se utilizem telas.
Com referência à hora de instalar um sistema de iluminação 2. Luminárias de embutir com reflectores especu-
num centro pertencente ao sector dos serviços, propõem-se lares para lâmpadas fluorescentes lineares ou
as lâmpadas mais eficientes para três tipos de actividades: compactas, usadas para a iluminação geral.
docente, sanitária e administrativa.
3. Sistemas tubulares com lâmparas fluorescentes
• Em primeiro lugar, para centros destinados à docência, lineares para a iluminação das zonas de entrada.
as lâmpadas mais recomendadas para instalação são:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
4. Luminárias embutidas de parede com lâmpadas • Nas lâmpadas de descarga, incluindo os tubos fluores-
fluorescentes compactas, para a iluminação de centes, não é normal que falhem de forma instantânea,
117
corredores e zonas de perímetro de edifícios. a não ser que a sua falha seja precedida por uma inter-
mitência, acendendo-se e apagando-se repetidamente.
5. Downlights de embutir para lâmpadas fluores- É necessário controlar estas anomalias para proceder à
centes compactas ou de descarga de halogéneo mudança da lâmpada, comprovando previamente que
metálicos, instaladas em zonas de admissão, é esta e não o arrancador que deve ser substituído.
entradas, etc. Num circuito de ignição de uma lâmpada fluorescente
é recomendável testar um arrancador novo antes de se
• Por último, em centros administrativos propõe-se: desprender da lâmpada.
1. Luminárias de anexar com ópticas de alumínio • Ao substituir a lâmpada, a nova deverá ser da
especular ou semi-mate para lâmpadas fluores- mesma potência e classe que a antiga. Uma
centes lineares ou compactas, para a iluminação lâmpada de potência superior pode sobreaquecer o
geral. candeeiro. Nas lâmpadas de descarga a mudança
deve fazer-se de acordo com o equipamanto auxiliar
2. Candeeiros de anexar ou suspensos com óptica de ignição.
A observação de boas práticas energéticas produz o benefício • É conveniente evitar manter acesos os equipamentos
adicional da maior durabilidade, fiabilidade e disponibilidade informáticos durante todo o tempo.
dos equipamentos consumidores de energia.
A utilização das melhores práticas energéticas para • Devem-se apagar os equipamentos sempre que não
promover a eficiência energética tem como fundamento se vão utilizar num período de tempo de meia hora ou
que os organismos concedem mais credibilidade à expe- mais.
riência de uma empresa do que a estudos teóricos compa-
rados. • Em caso de não se utilizar por um período inferior,
deve-se apagar o ecrã, já que esta é a parte do compu-
Por isso, a compilação das melhores práticas energéticas, a tador que consome mais energia.
análise e a apresentação organizada e documentada têm um
maior efeito divulgador. • Deve-se programar o desligar de forma automática do
ecrã quando o tempo de inactividade supera os dez
Por último, cabe destacar que, apesar das actividades das minutos.
empresas incluídas naquilo que se conhece como sector dos
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
TABELA 2
Características das lâmpadas mais utilizadas no sector dos serviços.
119
Índice de
Tipo Eficácia Equipamen-
reprodução Vida útil
Imagem luminosa to Observações Custo
de lâmpada cromática (horas)
(0-100)
(lm/W) auxiliar
Arrancador,
O balastro electrónico reduz
Fluorescente 60-95 8.000-12.000 65-100 balastro e Reduzido
o consumo em 25%
condensador
Acende instantaneamente.
Elevada intensidade luminosa.
Poupança de 30%
Halogéneo
no consumo energético.
de baixo >90 2.000-3.000 18-25 Transformador Médio
Maior tempo de vida e menor
consumo
aquecimento do ambiente.
• Passe as fotocopiadoras a estado Stand-By quando uso eficiente e racional da energia entre o pessoal das
não se usem por períodos longos, já que se reduz empresas. Em termos gerais, calcula-se que é possível
assim a potência utilizada pelo equipamento e, poupar em gastos de iluminação até uns 15% simples-
portanto, o seu consumo, sem apagar a fotocopia- mente com um adequado comportamento do pessoal.
dora.
Entre as recomendações aplicáveis ao sistema de iluminação
Normalmente tendemos a deixar o computador ligado por destaca-se:
comodidade ou discuido. Se se tiverem em conta estes
conselhos, podemos diminuir o nosso consumo energético • É conveniente examinar os níveis de iluminação em
de forma considerável. todas as zonas de trabalho, implicando o pessoal nesta
tarefa. Em zonas não importantes, como corredores
Estas recomendações são igualmente aplicáveis para o resto ou armazéns ou lugares de pouco trânsito, é conve- capítulo 05
dos equipamentos eléctricos que se podem encontrar nas niente reduzir os níveis de iluminação, mas tendo em
empresas de serviços, como por exemplo, televisores, conta que devem manter-se uns valores mínimos.
vídeos, leitores de DVD, etc. Para isso:
3. O
acabamento das superfícies que formam os
candeeiros.
• É corrente que as zonas não críticas, como os corre- • A redução do nível de iluminação necessário para a
dores, estejam iluminadas excessivamente. Também realização das tarefas em condições de conforto e
nas zonas mais exigentes e, portanto, mais intensa- segurança.
mente iluminadas (onde se realizam actividades de
precisão e de desenho), geralmente permanece toda • Obtêm-se rendimentos mais baixos do que o normal
a iluminação acesa durante as horas de limpeza e vigi- por parte da instalação.
lância, sem que haja necessidade.
• Encontra-se um aspecto descuidado da instalação.
• Quando o projecto da iluminação implica um nível
excessivo em muitas zonas, deve reduzir-se o nível Outro ponto que se deve ter em conta é o fluxo luminoso
geral e reforçar somente as zonas que realmente o das lâmpadas. Este diminui com o tempo, e é muito dife-
requiram. rente de uns tipos de lâmpadas para outras. Existem
lâmpadas que continuam a iluminar por um longo período de
• Deve-se realizar uma limpeza e uma manutenção tempo, mas devemos seguir os conselhos do fabricante e
programada dos sistemas de iluminação, pelo menos mudá-las quando tiver passado o ciclo de vida útil, já que a
uma vez por ano, apesar de que a frequência destes relação entre a sua emissão de luz e o seu consumo não é
trabalhos deveria depender da actividade que se aconselhável.
realiza nestas fracções.
A sujidade em lâmpadas, difusores e candeeiros reduz consi- 4.4. Boas práticas nos sistemas
deravalmente o fluxo de luz emitido, o que se repercute em de climatização
que para alcançar o nível original no posto de trabalho, há
que acender mais pontos de luz e, portanto, consumir mais Os gastos de aquecimento, ventilação e ar-condicionado repre-
energia. sentam uma proporção significativa de custos em energia.
A maior perda de iluminação numa instalação é causada pela O aquecimento pode chegar a representar uma parte muito
sujidade depositada sobre as lâmpadas e candeeiros. A importante da energia consumida, já que, dependendo do tipo
origem desta sujidade nos sistemas de iluminação deve-se de energia utilizada, pode significar mais de 50% dos custos
em grande medida a: energéticos totais.
1. Grau de ventilação, já que uma boa circulação de Não obstante, do mesmo modo que sucede com a ilumi-
ar no interior da sala evita que se deposite o pó nação ou com os equipamentos eléctricos, com uma série
nas superfícies, entre elas lâmpadas e de conselhos pode-se optimizar o funcionamento dos
candeeiros. sistemas, fazendo que sejam mais eficientes e reduzindo,
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
portanto, o consumo e seu custo energético. Estes conse- • As caldeiras devem ligar-se lentamente, e nunca se
lhos são apresentados de seguida: deve injectar água fria a um sistema quente. As
121
mudanças súbitas de temperatura podem torcer ou
• Deve verificar-se que as empresas ou edifícios não se quebrar a caldeira.
aquecem a mais do que 20 ºC:
• Por outro lado, devido a que nas caldeiras se produz
1. Pode-se comprovar por meio de termóstatos. um processo de combustão, é necessário tomar
precauções especiais. Os operadores das mesmas
2. No caso de se superarem os 20 ºC, deve-se devem assegurar que o sistema de combustível,
corrigir a situação. incluindo as válvulas, tubagens e tanques, estão a
funcionar correctamente e sem fugas.
3. Por último, podem-se colocar cartazes indicativos
com mensagens para consciencializar o • De igual modo, é necessário que os operadores
pessoal. purguem a caldeira antes de acender o queimador,
para evitar possíveis explosões. Os trabalhadores
Há que ter em conta que o nível recomendado se situa entre devem ajustar a condição de rodagem e a chama para
os 20 ºC e 22 ºC em função do tipo de actividade que se assegurar que esta não seja demasiado alta nem que
Também se pode considerar reduzir o nível de aquecimento • Adicionalmente, os sistemas de ventilação também
em certas zonas, onde não haja um trânsito contínuo de devem inspeccionar-se e manter-se para assegurar
pessoas ou onde as cargas térmicas transportadas pelo que os gases produto da combustão não se acumulem
próprio pessoal e pelos equipamentos de iluminação sejam na sala de caldeiras.
altas.
• Por último, a área que envolve a caldeira deve
• Deve-se motivar o pessoal a reduzir o aquecimento manter-se livre de pó e desperdícios, e não se devem
quando sinta demasiado calor, em vez de abrir as armazenar materiais de combustão próximo de
janelas. nenhuma caldeira, já que estas têm superfícies
quentes que podem causar a combustão destes
• Deve-se comprovar que os termóstatos estão colo- produtos.
cados em zonas livres longe de janelas, fontes de
calor ou correntes. Para poder levar a cabo estas recomendações de forma
controlada, deve-se:
Se se colocar um termóstato num lugar frio ou com corrente,
o resultado será o sobreaquecimento. Por outro lado, se está • Inspeccionar regularmente a combustão da caldeira.
próxima de uma fonte de calor, o resultado será o baixo
aquecimento. • Manter a caldeira em perfeito estado de limpeza e capítulo 05
inspeccionar a combustão do queimador regular-
• Devem-se programar os temporizadores de aqueci- mente. Mantendo a caldeira limpa, evitamos a suji-
mento/ventilação para os ciclos de ocupação e para as dade nos queimadores e com isso conseguimos um
diferentes condições climáticas. menor consumo de combustível.
Poupa-se dinheiro quando se ajustam os períodos de pré- • Um técnico especializado deve verificar a relação de
aquecimento às condições climáticas. O calor armazenado ar/combustível, de forma a assegurar a manutenção
nos radiadores e no resto do edifício é muitas vezes sufi- dos queimadores bem ajustados e limpos para conse-
ciente para permitir apagar o aquecimento antes de acabar o guir uma combustão eficiente.
horário de ocupação. .
• Com esta medida evitamos um maior consumo de
Devido à importância no consumo energético que no nosso combustível.
país têm os sistemas de aquecimento, deve-se fazer uma
menção especial ao correcto funcionamento dos equipa- • Purgar os radiadores da caldeira, já que o ar contido
mentos geradores de calor, já que com uma boa manutenção nos radiadores dificulta a transmissão de calor.
e um funcionamento eficiente, pode-se reduzir o consumo
energético de um edifício.
06 Eficiência e Poupança Energética
no Urbanismo e Edificação
pondem ao aquecimento) e produzem uns 35% das emis-
1. Introdução sões de gases de efeito estufa. Se a isto juntarmos que nos
124
últimos anos foi detectado um incremento substancial do
No seu Livro Verde, “Para uma estratégia europeia de segu- consumo energético devido à proliferação de sistemas de
rança do aprovisionamento energético”, a Comissão Euro- ar-condicionado, (que se aproxima cada vez mais ao corres-
peia pôs em relevo os seguintes aspectos fundamentais: pondente a aquecimento), podemos entender a grande
preocupação existente entre os Estados-Membros para
• A União Europeia (UE) tornar-se-á cada vez mais reduzir o dito gasto.
dependente de fontes externas de fornecimento; o
alargamento não fará mais do que aumentar esta No caso de Portugal esta percentagem é menor (em torno
tendência. Segundo as previsões actuais, se não dos 29,3 % do consumo de energia final do país em 2007,
forem tomadas medidas, a dependência das impor- mas tende a aumentar de ano para ano.
tações alcançará os 70%, face aos 50% actuais.
Metade dos materiais dos quais são feitos os edifícios e
• A emissão de gases com efeito estufa está a construções procedem da crosta terrestre, e produzem
aumentar, o que contrasta com os esforços reali- anualmente 450 megatoneladas (Mt) de resíduos de cons-
zados no âmbito das mudanças climáticas e compro- trução e demolição (mais de uma quarta parte de todos os
mete ainda mais o cumprimento dos compromissos resíduos gerados).
assumidos no Protocolo de Quioto.
A comunicação da Comissão Europeia “Para uma estratégia
• A influência que a União Europeia pode exercer sobre temática de prevenção e reciclagem de resíduos” assinala
as condições da oferta de energia é escassa. A inter- que o volume de resíduos derivados da construção e demo-
venção da União poderia realizar-se fundamental- lição aumenta constantemente e que a sua natureza é cada
mente do lado da procura, fomentando, primeira- vez mais complexa, à medida que se diversificam os mate-
mente, a poupança energética nos edifícios e no riais utilizados. Este facto limita as possibilidades de reutili-
sector do transporte. zação e reciclagem dos resíduos (que na actualidade é
apenas de uns 28%), o que por seu turno aumenta a neces-
Estas afirmações demonstram o necessário que é econo- sidade de criar aterros e de intensificar a extracção de
mizar energia sempre que tal seja possível. Está compro- minerais.
vado que os sectores da habitação e o terciário abarcam o
maior número de consumidores finais de energia, especial- Sustém o documento que dotar de isolamento os edifícios
mente como resultado do aquecimento, iluminação, apare- antigos significaria reduzir as emissões de CO2 dos edifí-
lhos eléctricos e equipamentos vários. Numerosos estudos, cios, assim como os custos de energia correspondentes,
e também a experiência prática, demonstram que nestes até 42%.
sectores existe um grande potencial de aumento do rendi-
mento energético, maior talvez do que nos demais sectores. Para desenvolver a construção sustentável, a União Euro-
É necessário, no entanto, intensificar os esforços dos Esta- peia propõe diversas medidas aplicáveis:
dos-Membros e da Comunidade nesse sentido.
• C
omo se assinalava na Directiva 2002/91, a Comissão,
com a assistência do comité estabelecido pela
2. Influência da planificação urbana própria directiva, examinará possíveis alternativas de
renovação dos edifícios mais pequenos, assim como
incentivos gerais de eficiência energética.
2.1. Situação de partida no âmbito europeu
• Incentivar-se-ão todos os Estados Membros a desen-
Actualmente a tendência que se segue em toda a cons- volver na prática um programa nacional de construção
trução moderna está dirigida para aplicar os requisitos sustentável e a fixar exigências de eficiência ambien-
necessários para conseguir tanto um desenho como uma tais rigorosas utilizando normas europeias e o euro-
construção sustentável promovendo uma arquitectura de código.
alta qualidade e favorecendo as novas tecnologias de cons-
trução. • Incentivar-se-ão para além disso as autoridades locais
a promover a construção sustentável.
Na actualidade, no âmbito da União Europeia, o aqueci-
mento e a iluminação dos edifícios absorvem a maior parte • Serão incentivados todos os Estados-Membros ,
do consumo de energia (42%, dos quais uns 70% corres- autoridades locais e organismos públicos contra-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• Há que encontrar o equilíbrio entre densidade e 1. Traçado das ruas e captação e controle solar: a
ocupação de espaço livre. orientação a Sul da edificação é a que melhor
comportamento energético consegue no Inverno e
• O planeamento deve ter por objectivo a preferência no Verão dado que a captação da radiação é máxima
pela regeneração urbana ao contrário da extensão no Inverno e mínima no Verão.
territorial da cidade.
2. As superfícies com maior captação solar no Inverno
• Fixar os objectivos de poupança energética à orde- são as fachadas viradas a Sul, com muita diferença
nação: é necessário analisar o conjunto da actuação em relação a outras orientações de fachada.
desde uma perspectiva ambiental e energética e
considerar-se o impacto das principais alternativas. 3. As superfícies com maior captação no Verão são os
Há que estabelecer objectivos ambientais e energé- telhados, seguidos das fachadas Este e Oeste.
ticos mínimos para o conjunto da actuação e justificar
a ordenação desenvolvida com base nesses objec-
tivos.
4. Traçado das ruas e controlo do vento • O planeamento não deverá impor restrições que
impeçam as soluções bioclimáticas ou outras.
127
- Se o traçado das ruas e a posição da edificação
têm em consideração a manutenção dos fluxos • A normativa urbanística deverá incluir vários
naturais de ar e frio, durante o dia e a noite, em conceitos
função da orientação do vale, a situação do
mar, etc., assegurando assim a correcta venti- 1. Orientação.
lação natural no Verão.
2. Diversidade das fachadas em função da orien-
- Evitando alinhar as vias com as direcções tação.
predominantes, rompendo a regularidade dos
alinhamentos, salvando os edifícios particular- 3. Obstrução solar.
mente altos, etc., podem-se controlar regimes
de ventos nocivos. 4. Outros que influenciem o comportamento ener-
gético dos edifícios.
5. Ter em conta as obstruções solares geradas pela
• Configurar os terrenos de modo a que os edifícios • Para verificar o cumprimento da condição de acesso
possam instalar a sua fachada principal com orien- ao sol é recomendável realizar um estudo gráfico de
tação a sul procurando padrões não rectangulares. A sombras em planta. Portanto, pode-se exigir na docu-
orientação a sul é aquela que melhor aproveita os mentação necessária no Plano de Ordenamento
sistemas passivos de climatização. Urbano (POU), o plano de projecção de sombras capítulo 06
permanentes e projectadas na ordenação proposta.
• Desenhar parcelas de terreno que não determinem a
edificação com grande profundidade. A tipologia de • Deve instalar-se o edifício no terreno de modo a
profundidade reduzida é preferível quando comporta maximizar o seu acesso ao sol.
a disposição de habitações com duas fachadas
opostas, pela influência que comporta sobre a venti- • Onde seja necessário controlar o regime de ventos
lação natural cruzada, e garante que qualquer habi- nocivos há que utilizar a topografia e as barreiras
tação tenha sempre uma fachada melhor orientada. vegetais para desviar ou reduzir as correntes de ar
sem diminuir o acesso ao sol. O vento considera-se
nocivo porque no Inverno aumentam significativa-
2.2.5. Posicionamento da edificação mente as perdas que se produzem através das juntas
e separação entre edifícios das aberturas.
Deve-se pensar a posição do edifício tendo em conta o
microclima, a insulação, a contaminação acústica, a venti- • Se a zona urbana vai acolher diferentes usos, estes
lação, e todos aqueles parâmetros cujo controle possa devem instalar-se da forma mais adequada.
incrementar o potencial de poupança energética.
• É necessário que as fachadas principais com orien-
tação de componente +90º a sul contenham arvori-
128
zação de protecção solar.
• Reduzir o efeito ilha de calor nas áreas urbanas 3. Utilização do nível de luz para a hierarquização
densas e com edifícios altos, mantendo os fluxos das vias.
naturais de ar frio ou dotando-as de parques verdes
que incluam elementos de água para contribuir para
a refrigeração por evaporação. 2.3. Factores que influenciam o consumo
de energia dos edifícios
1. Utilizar árvores de folha caduca e coroa larga Os factores que têm maior influência no consumo de
para proteger os pisos inferiores das habitações energia dos edifícios foram agrupados da seguinte forma:
no Verão e permitir o acesso do sol no Inverno.
• Número de edifícios: devido ao aumento no número
2. Utilização de pavimentos absorventes do calor de edifícios de habitação e do sector terciário tem
nos climas quentes ou muito expostos. como consequência um maior consumo de energia.
3. Incorporar sistemas de filtro verde ou porosos No sector doméstico a desaceleração do aumento da popu-
na urbanização, pelas suas condições de abso- lação não se traduziu numa estabilização do consumo de
rção da radiação solar, sua baixa temperatura, energia, já que houve um aumento do número de unidades
sua permeabilidade; em suma, para favorecer o familiares, mas com uma redução no número de pessoas
comportamento térmico do solo. que as compõem. Um maior número de casas traduz-se
num aumento do consumo para aquecimento, dado que
4. Utilizar a água, em forma de fontes ou lençóis este está mais ligado à superfície da habitação, do que ao
de água que facilitem a evaporação e a refrige- número de pessoas que nelas habitam, ao contrário daquilo
ração do ar circulante. que acontece com o consumo de água quente sanitária.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 1
Mapa das Zonas Climáticas de Portugal
capítulo 06
investimento em áreas com uma elevada componente
tecnológica. Paralelamente, a política energética deve arti- 3.2. Legislação energética em edifícios
130
cular-se de modo estreito com a política de ambiente, inte-
grando a estratégia de desenvolvimento sustentável do 3.2.1. Directiva 2006/32/CE
País.
Esta directiva trata da eficiência do uso final da energia e
Uma das medidas que contemplam estes mesmos pressu- dos serviços energéticos e revoga a anterior directiva 93/76/
postos, foi a Resolução do Conselho de Ministros CEE
nº169/2005, de 24 de Outubro, que aprova a Estratégia
Nacional para a Energia, no que respeita à linha de orien- A finalidade da presente directiva é promover a melhor
tação política sobre eficiência energética. remuneração da eficiência no uso final de energia nos Esta-
dos-Membros:
A mudança legislativa produzida pela aprovação da Direc-
tiva Europeia 2002/91/CE sobre eficiência energética na • Fornecendo os objectivos orientados, assim como os
edificação e a sua transposição para a legislação portuguesa mecanismos, os incentivos e as normas gerais insti-
aliada a estas linhas de orientação são uma iniciativa muito tucionais, financeiras e jurídicas necessárias para
relevante no combate às alterações climáticas, contribuindo eliminar os obstáculos existentes no mercado e os
para uma maior racionalização dos consumos energéticos defeitos que impeçam o uso final eficiente da
nos edifícios e para a prossecução de uma das medidas do energia.
Programa Nacional para as Alterações Climáticas, aprovado
pela Resolução do Conselho de Ministros nº 119/2004, de • Criando as condições para o desenvolvimento e o
31 de Julho, eficiência energética nos edifícios, pelo fomento de um mercado de serviços energéticos e
impulso que é dado ao cumprimento dos regulamentos para o fornecimento de outras medidas de melhoria
relativos aos sistemas energéticos e de climatização dos da eficiência energética destinadas aos consumi-
edifícios e às características de comportamento térmico dores finais.
dos edifícios.
Uma maior eficiência do uso final da energia contribuirá
Actualmente são vários os documentos legais postos em também para a diminuição do consumo de energia primária,
marcha para dar resposta a estes novos requisitos aquando ao reduzir as emissões de CO2 e demais gases de efeito
a transposição da Directiva Europeia 2002/91/CE em 2006 estufa e com isso prevenir as mudanças climáticas peri-
para a ordem jurídica nacional: gosas. Estas emissões continuam a aumentar, o que difi-
culta cada vez mais o cumprimento dos compromissos de
Quioto. As actividades humanas relacionadas com o sector
• Decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril, que assegura a da energia são responsáveis até 78% das emissões de
melhoria do desempenho energético e da qualidade gases com efeito estufa da Comunidade.
do ar interior dos edifícios (SCE):
3.2.2. Directiva 2002/91/CE
- Portaria nº 461/2007 de 5 de Junho, que define a
calendarização da aplicação do SCE; A Directiva 2002/91/CE, de 16 de Dezembro de 2002 rela-
tiva à eficiência energética dos edifícios, tem como objec-
- Portaria nº 835/2007 de 7 de Junho, que define o tivo fomentar a eficiência energética na edificação, e tem
valor das taxas de registo das DCR’s e dos CE no em conta as condições climáticas exteriores e as particula-
SCE; ridades locais, assim como os requisitos interiores e a
relação custo-eficácia. A sua transposição faz-se, entre
- Portaria nº10250/2008 de 8 de Abril, define o modelo outros mecanismos, com as exigências do SCE.
do certificado energético;
Antes de continuar definiremos alguns termos que
• Decreto-lei nº 79/2006 de 4 de Abril, regulamento aparecem nesta directiva e que são de grande importância
dos sistemas energéticos de climatização em edifí- no quadro no qual nos encontramos:
cios (RSECE).
• Eficiência energética de um edifício: é a quantidade
• Decreto-lei nº80/2006 de 4 de Abril, regulamento das de energia realmente consumida ou que se calcula
características de comportamento térmico dos edifí- necessária, para satisfazer as distintas necessidades
cios (RCCTE). associadas a um uso standard do edifício, que poderia
incluir, entre outras coisas, o aquecimento, o arrefe-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Fonte: ADENE
• As exigências de conforto térmico, seja ele de aque- presente Regulamento, bem como os limites de
cimento ou de arrefecimento, e de ventilação para potência aplicáveis aos sistemas de climatização a
133
garantia da qualidade do ar no interior dos edifícios, instalar nesses edifícios;
bem como as necessidades de água quente sani-
tária, possam vir a ser satisfeitas sem dispêndio • Os termos de concepção, da instalação e do estabe-
excessivo de energia; lecimento das condições de manutenção a que
devem obedecer os sistemas de climatização, para
• Sejam minimizadas as situações patológicas nos garantia de qualidade e segurança durante o seu
elementos de construção provocadas pela ocorrência funcionamento normal, incluindo os requisitos, em
de condensações superficiais ou internas, com termos de formação profissional, a que devem
potencial impacte negativo na durabilidade dos obedecer os principais intervenientes e a observância
elementos de construção e na qualidade do ar inte- dos princípios da utilização de materiais e tecnolo-
rior. gias adequados em todos os sistemas energéticos
do edifício, na óptica da sustentabilidade ambiental;
3.2.5. RSECE
• As condições de monitorização e de auditoria de
Nos edifícios novos (com pedido de licença de construção potência instalada, é calculada a partir dos valores do
após entrada em vigor do SCE), as classes energéticas IEEnom, IEEref e do valor de um parâmetro S, em que:
variam apenas entre as classes A+ e B-. Os edifícios exis-
tentes podem ter qualquer classe. • IEEnom - Índice de eficiência energética nominal
(valor obtido por simulação dinâmica com base nos
A certificação energética permite, aos utentes, comprovar perfis nominais definidos no RSECE, de acordo com
a correcta aplicação da regulamentação térmica e da quali- a tipologia do edificio);
dade do ar interior em vigor para o edifício e para os seus
sistemas energéticos, bem como obter informação sobre o • IEEref - Índice de eficiência energética de referência
desempenho energético em condições nominais de utili- (valor indicado no anexo XI do RSECE de acordo com
zação, no caso dos novos edifícios ou, no caso de edifícios a tipologia, ou por ponderação de tipologias).
existentes, em condições reais ou aferidos para padrões de
utilização típicos. • S – O valor de S é um valor de referência, correspon-
dente à soma dos consumos específicos para aque-
Desta forma, os consumos energéticos nos edifícios, em cimento, arrefecimento e iluminação, conforme
condições nominais de utilização, são um factor de compa- determinados na simulação dinâmica que deu origem
ração credível aquando da compra ou aluguer de um imóvel, aos valores limites de referência para edifícios novos
permitindo aos potenciais compradores ou arrendadores que constam no regulamento.
aferir a qualidade do imóvel no que respeita ao desem-
penho energético e à qualidade do ar interior. Um Certificado Energético contém diversas informações
tais como, a identificação do imóvel e do Perito Qualificado
As metodologias de cálculo utilizadas na determinação da (PQ), etiqueta de desempenho energético, validade do
classe energética de um edifício dependem da sua tipo- certificado, descrição sucinta do imóvel, descrição das
logia. soluções adoptadas, resumo/síntese das medidas de
A Classificação Energética de edifícios de habitação (com e melhoria, entre outros campos que são específicos do
sem sistemas de climatização) e pequenos edifícios de edifício considerado.
serviços sem sistemas de climatização ou com sistemas
de climatização inferior a 25 kW de potência instalada, é
calculada a partir da expressão R = Ntc/Nt, em que “Ntc” 3.3. Softwares inerentes ao processo
representa as necessidades anuais globais estimadas de certificativo
energia primária para climatização e águas quentes e o
“Nt” o valor limite destas. 3.3.1. Solterm
A análise de desempenho de um sistema solar é feita no Este software permite manter uma base de dados de
SolTerm via simulação energética sob condições quase-es- soluções de construção para utilizar na descrição dos
135
tacionárias: isto é, são simulados os balanços energéticos diversos edifícios sendo possível definir os edifícios a licen-
no sistema em intervalos curtos (10 minutos), durante os ciar utilizando soluções existentes bem como utilizar novas
quais se considera constante o estado do ambiente e o do soluções, efectuando os cálculos necessários das necessi-
sistema. dades do edifício, integrando para isso uma base de dados
de anos climáticos representativos dos 308 concelhos de
O SolTerm constituiu-se como referência para cálculo de Portugal.
incentivos governamentais à energia solar; e actualmente é
o software a ser utilizado na contabilização da contribuição
de sistemas de energias renováveis para o balanço energé-
tico de edifícios, no contexto do Sistema de Certificação de
Edifícios.
capítulo 06
• Obrigatoriedade de recurso a colectores solares para Os edifícios apresentam uma elevada dinâmica de cresci-
produção de AQS; mento, quer em termos de número total de edifícios exis-
tentes, quer em termos de utilização de energia em cada
• Valor mínimo admissível de 0,6 renovações por hora edifício. Se bem que os consumos dedicados ao conforto
de ar novo. não sejam ainda muito significativos em termos de balanço
global, eles têm aumentado muito nos últimos anos, e é de
No âmbito do RSECE os requisitos de verificação regula- esperar que continuem a aumentar pelo facto das exigên-
mentar são aplicáveis, a edifícios novos e existentes a cias de conforto individual e das famílias estarem a genera-
quando da emissão das licenças para construção e utili- lizar-se à medida que o nível de vida em Portugal vai aumen-
zação e emissão de certificados após Auditoria Energética tando.
vertente Energia e QAI e distinguem-se por:
Se não houver, na construção dos edifícios, uma aplicação
• Requisitos energéticos, incluindo a limitação do rigorosa de princípios, regras ou normas que promovam a
consumo nominal específico de energia; utilização racional de energia e a introdução de novas tecno-
logias, esses níveis de conforto térmico tenderão a ser atin-
• Requisitos para concepção de novos sistemas de gidos com maior recurso a sistemas de condicionamento
climatização; de ar interior, o que fará aumentar ainda mais os consumos
globais no sector. Uma das medidas implementadas para
• Requisitos para construção, ensaios e manutenção atingir este objectivo foi a aprovação do já mencionado
das instalações; SCE.
garantia da manutenção de um conjunto de condições quando aquecemos ou arrefecemos um local não estamos
ambientais para o desenvolvimento de um processo ou a controlar necessariamente factores como a humidade,
137
actividade ambiental dentro de um gabinete. mas apenas introduzimos calor ou frio, isto é, estamos a
actuar sobre a temperatura seca, sem ter um controlo real
Figura 3 sobre as variações causadas na humidade do ambiente.
Percentagem de habitações segundo o tipo de
aquecimento. Actualmente há que ter em mente que os três eixos princi-
pais que regem a evolução da climatização são: a qualidade
do ar interior (QAI), o consumo energético e o impacto
9% ambiental.
10%
Em função do fluído encarregue de compensar a carga
térmica do espaço que se vai climatizar podemos distinguir
diferentes sistemas:
Figura 4
Sistema tudo ar.
capítulo 06
Ar para o exterior
Ar de recirculação
Recuperador
de calor
Comporta
de regulação Bateria
Ar do exterior de calor Humidificador
Bateria
de frio Separador de água
Pré-aquecedor Filtro
Ar climatizado
Figura 5
Esquema de uma Unidade de Tratamento de Ar.
139
Ar de Ar de
entrada saída
Zona de distribuição
Recuperador Sistema de
Ventilador Filtro
de calor distribuição
Separador
de água
Comporta de
regulação Ventilador Instalação Humidificador
Bateria
Filtro Pré-aquecedor Ventilador
de frio
Zona de
Zona de entrada climatização
TABELA 1
Caudais de ventilação mínimos.
Fonte: 79/2006
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Os sistemas de climatização que podem resolver de uma grande medida para o aumento da eficiência das insta-
forma mas simples a renovação do ar, a um custo económi- lações, apesar de serem geralmente soluções com um
141
co-técnico mais baixo, são os sistemas tudo ar. Estes custo económico elevado. O RSECE obriga mesmo que as
sistemas normalmente só são instalados em grandes edifí- caldeiras com mais de 1000 kW de potência possuam quei-
cios em que os espaços a climatizar apresentam um volume madores modulantes.
considerável.
Os sistemas free-cooling são dispositivos que são inte-
Para o caso das habitações e pequenos locais são muitas grados dentro das Unidade de Tratamento de Ar (UTAs).
vezes utilizados sistemas tudo água ou de expansão directa. Contam com três dampers colocados de tal forma que,
Estes últimos contam com alguns equipamentos nos quais quando a temperatura ou entalpia exterior (dependendo se
se admite ar do exterior, podem no entanto apresentar são por temperatura ou entálpicos) é menor que a do ar de
alguns problemas relativos a qualidade do ar, do próprio retorno, utiliza o ar frio exterior para arrefecer o espaço,
local que se vai climatizar, uma vez que as suas unidades com a consequente poupança de energia. Nos sistemas
terminais dispõem de um filtro muito sensível e muitas tudo ar, com um caudal de ar de insuflação superior a 10000
vezes insuficiente. m3/h, é obrigatória a instalação de dispositivos que permitam
o arrefecimento gratuito, excepto nos casos em que seja
1. Diminuir o consumo de energia nos edifícios. O estudo de viabilidade económica de sistemas de co-ge-
ração é obrigatória nos seguintes tipos de edifícios com
2. Substituir as fontes de energia convencionais por mais de 10000 m2 de área útil.
energias renováveis (solar térmica, fotovoltaica,
biomassa ou geotérmica). • Estabelecimentos de saúde com internamento;
de arrefecimento. O controlo da iluminação em resposta à desta e a sua capacidade para ser utilizada como meio de
luz natural é frequentemente combinada com o controlo ventilação natural.
térmico. Quando não há ocupantes numa sala, o controlo
térmico reduzirá os ganhos caloríficos no Verão fechando as As janelas orientadas para Sul proporcionam níveis de lumi-
blindagens durante o dia para manter fora o calor e abrindo nosidade elevados e praticamente constantes, grande
as telas ou cortinas durante a noite para arrefecer por ganho de energia no Inverno e média no Verão. Se estão
radiação. Esta actuação pode inverter-se no Inverno. orientadas a Este e a Oeste os níveis de iluminação são
médios e variáveis ao longo do dia, com grande ganho de
O principal elemento para o aproveitamento da luz natural é energia no Verão e baixo no Inverno. A orientação Norte
a janela. Tanto a forma desta, como a sua posição dentro proporciona os níveis de luminosidade mais baixos, apesar
dos espaços que se quer iluminar e a sua orientação e de constantes ao longo do dia, com um escasso ganho de
tamanho influenciam em grande medida a qualidade da luz energia.
que fornecem.
A luz natural que penetra através das janelas pode criar uma
Assim sendo, quanto mais acima esteja situada a janela, variação agradável na iluminação e facilitar uma modelagem
maior penetração terá de luz solar. Se está centrada, a e uma distribuição de candeeiros específica no interior.
distribuição interior da luz será melhor, apesar de causar Tudo isso contribui para um sentimento geral de satisfação
maior encadeamento. A sua forma influenciará em grande visual experimentada pelos utilizadores do edifício, sempre
medida a distribuição da luz dentro do espaço, a qualidade e quando não exista encadeamento por parte do sol. Este
encadeamento pode evitar-se através da instalação de
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
persianas, grades ou telas, elevando o nível de iluminação fachada de vidro, consistem em proporcionar luz do sol,
eléctrica da zona adjacente à luz natural com o objectivo de iluminação diurna, ventilação, visão, isolamento, assim
143
compensar a elevada luminosidade das janelas. como regular o relógio biológico do corpo.
Figura 6
6.2 . Iluminação artificial Etiquetagem energética.
Poupança Poupança
6.3. Optimização da iluminação Bomba
Lâmpada de baixo
consumo que
em kWh em custo de
convencional durante electricidade
natural-artificial a substituir
oferece a mesma
a vida da durante a vida da
intensidade de luz
lâmpada lâmpada (euros)
Em geral, os edifícios utilizam energia de várias formas. Em
habitações, o maior gasto de energia é em iluminação, 40 W 9 W 248 25
aparelhos domésticos e água quente. Em espaços como
oficinas, escolas, bibliotecas, aeroportos e armazéns, os 60 W 11 W 392 39
custos da iluminação artificial constituem cerca de 50% do 75 W 15 W 480 48
uso total de energia e usam-se também computadores,
fotocopiadoras e ar condicionado. O uso da luz do dia 100 W 20 W 640 64
combinado com a iluminação de alto rendimento através de
vidros adequados pode conduzir a 30% - 50% de poupança 150 W 32 W 944 94
e em alguns casos até aos 70%. As funções principais do
Fonte: IDAE.
vidro como elemento de edifício, seja numa janela ou
A tendência actual está encaminhada no sentido de apro- ou translúcidas, clarabóias, cúpulas, tectos translúcidos ou
veitar a luz natural ao máximo. Não apenas tendo em conta envolventes de tipo membrana.
144
factores estéticos ou de poupança de energia, mas também
o aproveitamento do conforto visual que origina quando A luz natural pode trazer incrementos na eficiência energé-
comparada com a luz artificial. Por este motivo, é cada vez tica do sistema de iluminação combinada com sistemas
mais usual o uso de recursos construtivos como galerias, automáticos de regulação da luz artificial. Os sistemas
varandas, átrios, condutas de luz, paredes de cortina solar baseados no controlo da luz natural que penetra num local,
TABELA 3
Características das lâmpadas mais utilizadas em urbanismo e edificação.
Índice de
Tipo Eficácia
Vida útil luminosa Equipamento
reprodução
Imagem Observações Custo
de lâmpada cromática (horas) auxiliar
(0-100)
(lm/W)
Arrancador,
O balastro electrónico reduz
Fluorescente 60-95 8.000-12.000 65-100 balastro e Reduzido
o consumo em 25%
condensador
Correntemente chamadas
Edificação
Ligam instantaneamente.
Elevada intensidade luminosa.
Halogéneo >90 2.000 15-27 – Médio
Curta duração da lâmpada
e reduzida eficácia luminosa.
Halogéneo
Poupança de 30%
de baixo >90 2.000-3.000 18-25 Transformador Médio
no consumo energético
consumo
Demoram a acender.
Vapor de só- Arrancador, Aplicação em iluminação pública pela
Urbanismo
dio de baixa 0 6.000-8.000 160-180 balastro e sua alta eficiência e boa percepção Alto
pressão condensador de contrastes. Reprodução
e rendimento da cor baixa.
capítulo 06
07 Eficiência e Poupança Energética
no Transporte. Biocombustíveis
• A saturação da rede viária existente causa uma
148
1. Vantagens e impacto do transporte redução da velocidade média de circulação, com o
público e privado consequente aumento dos tempos de viagem,
incluindo para os veículos colectivos de passageiros,
o que origina uma pior qualidade de transporte.
1.1. Impacto do transporte
• Um aumento dos índices e dos custos de congestio-
Nos últimos anos o nosso país experimentou um grande namento, especialmente em grandes cidades.
aumento da mobilidade motorizada, sobretudo nas cidades,
que foi absorvido na sua maior parte pelo veículo particular, • Insegurança rodoviária. Um incremento no número
em deterimento de outros meios alternativos de transporte de acidentes de trânsito. O número de mortes por
público, as viagens a pé ou de bicicleta. milhão de passageiros transportados em veículo
privado é muito mais elevado do que em transporte
O transporte, como qualquer outra actividade humana, público.
produz impacto na natureza e na sociedade. Torna-se
portanto obrigatório avaliar este impacto e fazer um uso • Degradação dos centros urbanos, que sofrem uma
responsável e eficaz do transporte. As consequências da pressão por parte do automóvel, facto não pensado
tendência crescente que se verifica no seu uso são as aquando do projecto e construção dos mesmos.
seguintes.
A poupança energética no transporte permite reduzir o
• Um aumento dos combustíveis e, por isso, das emis- impacto ambiental e social do sector, ao mesmo tempo que
sões. Um dos aspectos directamente ligados ao supõe uma poupança económica importante. Uma forma
consumo de combustíveis fósseis é a emissão de eficaz de cumprir estes objectivos é utilizar o transporte
gases de efeito estufa, que contribuem para o aque- público em lugar do privado que, como veremos a seguir,
cimento global. apresenta importantes vantagens económicas, ambientais
e sociais.
• Maior contaminação atmosférica. Os veículos emitem
para o ar diversos contaminantes prejudiciais para a
saúde. As vias de circulação densamente transitadas 1.2. Diferentes meios de transportes
são as mais susceptíveis de sofrer níveis de contami-
nação atmosférica elevados. A baixa eficiência Dentro do sector do transporte, existe um grande desequi-
ambiental automóvel face ao transporte público e, líbrio na participação dos diferentes meios na mobilidade
logicamente, face às viagens de bicicleta ou a pé, faz total e no consumo energético do sector.
com que a contaminação atmosférica urbana seja
uma das consequências mais graves do aumento O consumo energético do sector do transporte aumentou
continuado do uso do automóvel. consideravelmente nas últimas décadas, com uma partici-
pação cada vez maior dos transportes rodoviários, principal-
• Maior contaminação acústica. Outro aspecto da mente do veículo privado.
contaminação de veículos é o ruído por eles gerado,
principalmente nas zonas urbanas, onde o ruído No entanto, apesar de ser o meio de transporte mais utili-
devido ao trânsito corresponde a 80% do ruído zado, o carro é um modo pouco eficaz em termos energé-
ambiental total. ticos, sobretudo em comparação com o autocarro.
• Aumento do volume de descargas líquidas e resíduos Importa destacar as grandes diferenças que existem entre
sólidos gerados durante a vida útil dos veículos e no um meio de transporte e outro em relação ao consumo
final da mesma. É importante fazer uma adequada específico. Em viagens interurbanas, o carro consome, por
gestão dos veículos depois da sua vida útil, deven- passageiro e quilómetro percorrido, quase três vezes mais
do-se separar cada um dos resíduos e reciclar e/ou do que qualquer autocarro. Estas diferenças são maiores
reutilizar aqueles que seja possível em meios urbanos, nos quais o transporte público é ainda
mais eficiente do que o veículo privado.
• Impacto ambiental e paisagístico produzido pelas
novas infra-estruturas utilizadas para o transporte:
redes de estradas, auto-estradas, bombas de gaso-
lina, etc.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 1
Total de Mercadorias Transportadas na UE por modo de transporte, em 2008.
149
Figura 2
Total de Passageiros Transportados na UE por modo de transporte, em 2008.
capítulo 07
Fonte: EUROSTAT.
Figura 3
Consumos energéticos dos diferentes meios de trans- 1.3. O veículo como meio de transporte
150
porte.
Em Portugal, o parque de automóveis por habitante tem
100,0% sofrido um grande aumento nos últimos anos.
80,0% 17,3
17,3
17,3
Este aumento do número de veículos conduz, para além de
60,0% um incremento de todos os impactos comentados anterior-
40,0% mente, a uma maior ocupação do espaço, que tem maior
relevância em cidade, onde a densidade de veículos é muito
20,0%
52,0 12,2 13,0
elevada. A utilização do transporte público permite uma
_ 52,0 12,2 13,0 52,0 12,2 13,0
redução importante do espaço urbano ocupado.
1990 2000 2004
Estrada Caminho-de-ferro Marítimo Aéreo Outro aspecto chave para comparar o transporte público e
o privado são os custos. Para avaliar o custo total anual
Fonte: Ministério da Indústria, Turismo e Comercio (MITe\C) / Instituto para associado à posse de um veículo, há que ter em conta
a Diversificação e Poupança da Energia (IDAE). custos fixos e variáveis:
10
O custo médio de um utilizador é de 0,25 €/km, ao passo
8 que para um automóvel de tamanho médio este custo pode
chegar aos a 0,34 €/km.
6
2.2.2. Condutor
2.2. Elementos sobre os quais incide
a gestão de frotas A formação dos condutores em técnicas de condução
eficientes é um aspecto fundamental para as frotas de
Na busca da melhoria de eficiência energética, a gestão de transporte. Trata-se da aplicação de uma série de simples
frotas apresenta fudamentalmente três focos de actuação: técnicas que supõem uma modificação a certos hábitos
adquiridos pelos condutores, o que não só incrementa a
segurança, para além de permitir atingir importantes
2.2.1. Veículo
poupanças de combustível e emissões para o meio
No momento da aquisição é importante verificar que o ambiente.
veículo se ajusta às necessidade de potência e transmissão
da frota. Adquirir um veículo que habitualmente não se vai A condução eficiente permite:
utilizar empregando toda a sua potência supõem um
aumento desnecessário no consumo de combustível; do - Poupanças de combustível até os 15%.
mesmo modo, um veículo de duplo eixo de tracção pode
consumir até 3 litros mais por cada 100 km respectiva- - Redução das emissões de CO2.
mente a um simples.
- Diminuição da contaminação acústica.
Uma manutenção adequada das frotas é necessária para
assegurar o funcionamento e segurança dos veículos mas, - Aumento do conforto no veículo.
adicionalmente, pode incidir directamente na diminuição do
consumo de combustível. - Poupança nos custos de manutenção
• Existem outros aspectos que o condutor pode prive- Na escolha da rota para um determinado trajecto conside-
ligiar para que não tenha um impacto negativo no ram-se aspectos como o tipo de estrada, a saturação do
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
tráfego previsível e o número de quilómetros que se vão de venda e também disponível na internet (www.
percorrer. Este último aspecto refere-se à escolha do idae.es).
153
veículo mais apropriado, que em princípio será aquele mais
próximo do ponto de recolha; mas no caso de existirem • Também em Espanha existe adicionalmente uma
vários veículos disponíveis, deve considerar-se o consumo etiqueta voluntária, similar à etiqueta de eficiência
médio por quilómetro do veículo e que a capacidade seja a energética dos electrodomésticos. O consumo oficial
mínima necessária para transportar a carga em questão. A de combustível de um carro é comparado com o valor
utilização de sistemas de posicionamento nos veículo faci- médio dos carros postos à venda em Espanha por
lita muito a optimização das rotas. todos os fabricantes com igual tamanho e combus-
tível. A diferença em relação à média, expressa em
Os trajectos sem carga supõem um desperdício de combus- percentagem, é assinalada com uma determinada
tível, pelo que as empresas recorrem cada vez mais a cor e uma letra. Desta forma, os carros que
bolsas de cargas como ferramenta para optimizar a planifi- consomem menos combustível estão classificados
cação das necessidades e evitar viagens sem carga ou como A, B e C (cores verdes); os que mais consomem
cargas não transportadas. Tratam-se de sistemas de infor- pertencem às classes E, F e G (cores vermelhas) e os
Uma utilização responsável e eficaz do nosso veículo passa Também há que considerar no momento da compra a possi-
pela escolha adequada da compra do automóvel, uma boa bilidade de escolher algum tipo de propulsão alternativa
manutenção deste e uma condução eficiente. como os veículos híbridos, que têm um menor consumo e
emissões, veículos eléctricos se se vão utilizar para
percursos curtos, ou veículos que utilizem combustíveis
3.1. A compra do carro
alternativos, como se verá nas secções correspondentes.
No momento da compra do veículo é necessário considerar
vários aspectos. Um dos mais importantes é o seu
consumo. Com a finalidade de conseguir diminuir as emis- 3.2. A manutenção
sões de CO2 e fomentar a poupança de energia, actual- A manutenção do veículo, para além de ser fundamental
mente a legislação obriga à difusão de informação sobre as para a sua segurança, influencia o consumo de carborante
características energéticas dos veículos novos através de e as emissões produzidas. É importante verificar periodica-
alguns meios: mente o estado geral do motor, níveis de líquidos e filtros
e, sobretudo, a pressão dos pneus, controlando que estão
• Uma etiqueta obrigatória que contém os dados dentro do especificado pelo fabricante. Os principais capítulo 07
oficiais de consumo de combustível e emissões de factores que influenciam o consumo e as emissões são:
CO2 , para além de fazer referência ao modelo de
veículo e ao tipo de combustível que utiliza. Deve • Diagnóstico do motor: deve realizar-se periodica-
estar colocada de forma visível, próxima de cada mente uma revisão computorizada do controlo elec-
veículo no ponto de venda. trónico do motor para detectar possíveis avarias
ocultas. Estas revisões devem realizar-se numa
• Em Espanha existe um guia na qual se especifica o oficina especializada, já que a manipulação indevida
consumo de combustível e as emissões de dióxido do sistema de controlo poderia aumentar significati-
de carbono de todos os modelos que se comercia- vamente as emissões contaminantes.
lizam no mercado, para além de oferecer conselhos
para consumir menos, explicar os efeitos dos gases • Controlo dos níveis, filtros e peças de reposição:
emitidos, etc. O conteúdo deste guia foi elaborado Devem-se mudar os filtros, o óleo e as velas de
pelo Instituto para a Diversificação e Poupança da ignição no momento indicado. A escolha incorrecta
Energia (IDAE), empresa pública do Ministério da do tipo de óleo pode aumentar o consumo até 3%,
Indústria, em colaboração com as associações de pelo que é importante seguir as recomendações do
fabricantes e com importadores de carros. Deve fabricante.
estar à disposição dos consumidores em cada ponto
• Controlo da pressão dos pneus: A falta de pressão • Conduzir suavemente, de forma a antecipar situações
nos pneus causa um aumento do consumo de imprevistas do trânsito; se mudarmos de velocidade
154
combustível de aproximadamente 3%, para além de no momento apropriado e sem travagens nem acele-
importantes riscos de acidente. rações evitam-se ruídos desnecessários, gases,
emissões e pode-se ainda poupar até 45% de
combustível para as mesmas distâncias.
3.3. Condução eficiente
Fazendo uma condução eficiente podem-se alcançar • Nos processos de aceleração há que realizar as
poupanças de combustível de 10% a 15%. Adicionalmente, mudanças de velocidade:
através de uma condução eficiente consegue-se melhorar a
segurança e o conforto, reduzem-se as emissões asso- - Entre as 2.000 e 2.500 rotações nos motores
ciadas e diminuem-se os custos de manutenção. de gasolina.
Pode-se conseguir uma utilização mais responsável e - Entre as 1.500 e 2.000 nos motores a diesel.
eficiente do automóvel seguindo algumas regras simples:
• Circular o maior tempo possível com mudanças
• Não utilizar o carro para distâncias curtas: Um motor elevadas e a baixas rotações. Na cidade, sempre que
frio utiliza 40% mais de energia do que o normal. seja possível, deve-se utilizar a 4ª e a 5ª mudança,
Valorizar a opção de ir a pé ou de bicicleta. respeitando sempre os limites de velocidade.
• Planificar a rota e escolher o caminho menos conges- • Não conduzir a velocidades elevadas. Poupa-se
tionado. combustível e evita-se ruído e gases do tubo de
escape; para além de aumentar o nível de segurança
• Não pôr o carro a aquecer em posição parada. Se se e a vida útil do carro.
começa a marcha imediatamente, o motor alcançará
a temperatura adequada mais rapidamente e poupará • Nas desacelerações há que levantar o pé do acele-
combustível e emissões. rador e deixar rodar o veículo com a mudança enga-
tada, travando suavemente e reduzindo de mudança
• Utilizar a primeira mudança só para arrancar o motor. o mais tarde possível.
Figura 7
Consumo a 60 km/h (em l/km) para cilindrada de 2,5 litros.
10
9
consumo a 60 km/h
8,9
8
7,9
7
7,2
6
5
_
3 4 5
mudança
Fonte: IDAE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• Desligar o motor se se está parado há mais do que aumenta aproximadamente 5% por cada 100 kg de
60 segundos aproximadamente. Quando um carro peso adicional.
155
está em marcha lenta, consome entre 0,4 l/h e 0,9
l/h. Depois de um minuto em marcha lenta, um carro
3.4. Eficiência energética no uso do veículo
terá expulsado mais gases do seu tubo de escape do
que teria produzido ligando e desligando o motor. Dentro das acções que podemos levar a cabo como cida-
dãos para reduzir o consumo energético, tem grande impor-
Outros factores relacionados com a condução que afectam tância a utilização racional e energeticamente eficiente do
o consumo, para além da manutenção do veículo vista veículo privado, já que aproximadamente metade da energia
anteriormante, são os seguintes: que as famílias portuguesas consomem destina-se ao carro
privado.
• Os acessórios exteriores, como porta-bagagens ou
outros, aumentam a resistência do veículo ao ar e A medida mais efectiva para reduzir o consumo de energia
podem aumentar o consumo até 35%. é utilizar meios de transporte alternativos ao carro.
Figura 8
Consumo a 60 km/h (em l/km) para cilindrada de 1,2 litros.
capítulo 07
cilindrada de 1,2 litros
10
9
consumo a 60 km/h
7
7,1
6 6,3
6
5
_
3 4 5
mudança
Fuente: IDAE.
Figura 9
Decálogo de condução eficiente.
156
1. Pôr o motor a trabalhar sem pisar o acelerador. Aquecer o motor circulando suavemente.
2. Utilizar a primeira velocidade apenas para iniciar a marcha. Mudar para a 2ª aos 2 segundos
ou 6 m aproximadamente.
6. Travar de forma suave, com a mudança engrenada, reduzindo o mais tarde possível.
10. Em ocasiões de emergência, devem-se realizar acções específicas distintas para que a
segurança não seja afectada
Figura 10
Árvore de decisão para a poupança energética nas deslocações.
A pé ou de bicicleta
Não utilizo o carro
Transporte público
As minhas deslocações
Condução eficiente
Partilho o carro
Conduçãono eficiente
Utilizo o carro
consumo energético ao utilizar o carro. Uma delas é a possi- mais alta no diagrama, aquela que corresponde à maior
bilidade de partilhar o carro. A ideia de partilhar o carro poupança energética.
157
surge como algo natural, pode-se organizar de forma
simples quando os horários são similares e os pontos de
partida e chegada próximos, como no caso de viagens de 4. Biocombustíveis
trabalho ou estudos. Partilhar o carro permite-nos reduzir os
gastos da pessoa associada ao veículo e ao estacionamento Os biocombustíveis são os combustíveis produzidos a partir
até 75%, na medida em que são partilhados. Adicional- da biomassa e que são considerados uma energia reno-
mente é outra forma de reduzir as emissões para o vável. Os biocombustíveis podem-se apresentar tanto em
ambiente. forma sólida (resíduos vegetais, fracção biodegradável dos
resíduos urbanos ou industriais) como líquida (bioálcool,
Na hora de utilizar o nosso carro, é importante ter em conta biodiesel) e gasosa (biogás, hidrogénio, gás de síntese).
vários aspectos que nos permitem poupar combustível e
reduzir as emissões. Dentro dos biocombustíveis, os biocarburantes abarcam o
subgrupo caracterizado pela possibilidade de aplicação aos
• Bioetanol
O bioetanol produz-se principalmente através da
fermentação alcoólica de grãos ricos em açúcares ou Sementes oleaginosas
amido; por exemplo, os cereais, beterraba e sorgo. (girassol, colza, soja)
Misturando com a gasolina convencional, normal- prensado
mente como aditivo a 5%, pode utilizar-se nos
motores modernos de explosão que não tenham Óleo de sementes
sofrido nenhuma modificação. Os motores modifi-
extracção química
cados, tais como os utilizados nos chamados veículos
de uso flexível de carburante, podem funcionar com
Óleo BOLO(alimentação
misturas de etanol a 85%, assim como com bioe- puro ou em bruto para gado)
tanol puro e gasolina convencional.
refinado
Em geral, o mais frequente é utilizar o bioetanol absoluto Os biocarburantes obtêm-se, geralmente, do processa-
em misturas com gasolina, em proporções que podem mento de culturas energéticas, excedentes agrícolas,
chegar a 10%, como nos Estado Unidos, ou até 20%, como subprodutos da indústria do açúcar ou de óleos usados,
é o caso do Brasil. Na Europa utiliza-se maioritariamente mas também se podem obter a partir de matéria celulósica.
para a fabricação de ETBE, apesar da tendência ser também As suas matérias-primas são muito diferentes e dependem
a mistura com gasolina. se se procura obter bioálcool ou bio-óleo.
Os bio-óleos e os ésteres derivados deste (genericamente Para a obtenção de bio-óleos as culturas com maior poten-
denominados biodiesel) utilizam-se principalmente em cial são a colza (centro e norte da Europa), o girassol (área
motores de ignição por compressão (Diesel). mediterrânea) e a soja (América do Norte). Também se
podem obter utilizando como matéria-prima óleos usados
Os óleos vegetais são formados por cadeias de ácidos de cozinha, somando-se às vantagens dos biocarburantes a
gordos extraídos de espécies oleaginosas, tais como a eliminação de um resíduo de difícil gestão (sobretudo em
colza, a soja ou o girassol, se bem que se podem utilizar estações de tratamento de águas residuais, se derramados
igualmente os óleos de cozinha usados ou a gordura animal. pelos esgotos). Tecnicamente podem-se produzir bio-óleos
Através da reacção dos óleos vegetais juntamente com um a partir de gorduras animais, apesar dos processos, concre-
álcool (transesterificação) obtém-se o biodiesel. Este é tamente a refinação necessária, serem bastante complexos.
outro grande pilar dos biocarburantes. Utiliza-se em motores Os bio-óleos e o seu derivado principal, o biodiesel (éster
de compressão, normalmente em forma de uma mistura a metílico), apresentam uma volatilidade baixa e uma alta
5% nos carro, até 30% em frotas cativas (como os autoca- temperatura de auto-ignição, o que os torna inviáveis para
rros urbanos) e muitas vezes no estado puro em motores os motores de ignição provocada (Otto). Assim sendo, os
modificados. biocarburantes cuja matéria-prima sejam espécies oleosas
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 12
Processo de produção de bioetanol.
159
hidrólise
destilação desidratação
fermentação
hidrólise
encontram a sua aplicação ideal nos motores de ignição por Como produto obtém-se o éster metílico ou etílico e, como
compressão. subproduto, uma mistura que serve de alimento para o
gado (pelo seu alto conteúdo em proteínas) e glicerina,
4.2.2. Processo de produção de biodiesel matéria-prima para a fabricação de cosméticos, para usos
alimentares (conservantes, edulcorantes, etc.), para papel
No esquema da figura 11 pode-se observar o processo de de impressão, lubrificantes, etc.
obtenção de éster metílico ou etílico (biodiesel). A matéria-
prima são as sementes oleosas de girassol, colza ou soja.
4.2.3. Processo de produção de bioetanol
fermentação de
açúcar / destilação 4.3. Vantagens dos biocarburantes
Do ponto de vista ambiental os biocarburantes estão carre-
Etanol Isobutano gados de vantagens. De todas elas, aquela que mais se
destaca é a importante redução das emissões de gases de
efeito estufa, que se produzem como consequência da
substituição dos derivados do petróleo por estes combustí-
ETIL TERT - BUTIL ÉTER veis. Ainda que os biocarburantes libertem CO2 durante a
sua combustão, este terá sido previamente absorvido pela
matéria vegetal que constitui a sua matéria-prima. Deste
modo, o balanço de emissões é quase neutro, ainda que
Fonte: Elaboração própia.
não chegue a sê-lo totalmente porque se produzem alguns
desvios devidos às emissões produzidas pela maquinaria As Análises ao Ciclo de Vida (ACV) patrocinadas pelo Minis-
agrícola necessária para obter a matéria-prima, o consumo tério do Meio Ambiente e realizadas pelo Centro de Investi-
160
energético das plantas processadas ou o transporte da gações Energéticas Ambientais e Tecnológicas (CIEMAT)
biomassa para os centros de produção e dos biocarburantes em 2005, para as plantas de produção de biocarburantes do
já elaborados aos pontos de distribuição e venda. Em qual- grupo de empresas ABENGOA em Cartagena e na Corunha
quer caso, a redução é muito significativa. assinalam que:
Outra vantagem adicional é que grande parte do biodiesel • A mistura de gasolina e bioetanol (85%) produzida
que se elabora actualmente provém de óleos vegetais nessas plantas evita que se emitam 170 g de CO2
usados, pelo que para além de se obter um combustível de (90%) por cada quilómetro percorrido e permite uma
forma limpa se está a retirar um resíduo capaz de conta- poupança de energia fóssil de 36% respectivamente
minar uma média de 1.000 litros de água por cada litro de à gasolina sem chumbo de 95 octanas.
óleo.
• A mistura de gasolina e bioetanol (5%) produzida
O ponto comum a todos os biocarburantes é a sua menor nessas instalações evita que se emitam 8 g de CO2
perigosidade comparitavamente aos combustíveis fósseis. (4%) por cada quilómetro percorrido e permite uma
Para começar, tratam-se de produtos que têm muito poten- poupança de energia fóssil de 1,12 % respectiva-
cial para serem consumidos próximos dos seus lugares de mente à gasolina sem chumbo de 95 octanas.
origem, evitando grande parte do custo de transporte, e
com isso, o perigo de derrames acidentais. Mas no caso de • Quase qualquer país com suficiente terreno pode
serem produzidos, os biocarburantes têm uma capacidade produzir etanol para seu consumo como combus-
muito maior para dissolver-se na água, pelo que resulta alta- tível, ainda que necessite de muito espaço de cultivo
mente biodegradável. Ao contrário de um derrame de fuel dado o baixo rendimento do combustível. Supondo
que poder levar anos para a sua eliminação total, além de um conteúdo de açucar de 40% extraído do cultivo
exigir grandes investimentos em trabalhos de extracção e de cana original, obtém-se do seu melaço uns 18%
ser altamente perigoso para as pessoas e o ambiente, um de álcool como máximo e finalmente apenas 7% do
derrame de biocarburante elimina-se de forma natural num combustível do total da cultura original.
prazo médio de 21 dias e tanto a sua toxicidade como a sua
perigosidade são muito menores. Também em termos de • Durante a sua combustão produz-se um aumento de
segurança. Importa destacar que o biodiesel é um produto calor de vaporização que gera uma maior potência
menos perigoso que o gasóleo, já que este se inflama a comparativamente à gasolina; isto significa que com
partir de 55 ºC enquanto o biodiesel necessita 170 ºC para motores de pequena cilindrada podem-se conseguir
entrar em combustão. Isto traz segurança durante o trans- rendimentos equivalentes a motores de gasolina de
porte. maior cilindrada. Por esta razão, nas competições de
carros como “As 24 horas de Le Mans” este combus-
No seu relatório Biofuels for Transport, de Abril de 2004, a tível é muito utilizado; a equipa Nasamax foi a primeira
Agência Internacional da Energia, depois de analisar vários escuderia a utilizar, no circuito de Le Mans, um carro
testes e estudos da última década, conclui as seguintes de competiçao movido por um combustível comple-
vantagens ambientais: tamente renovável (bioetanol). Por este facto, a escu-
deria recebeu em 2003 um prémio especial do Auto-
• A adição de biocarburantes aos combustíveis fósseis mobile Club de l’Ouest por ter utilizado o bioetanol
reduz as emissões de CO, de hidrocarbonetos, partí- no lugar de combustível fóssil (dados obtidos de
culas e de SO2 pelo tubo de escape do veículo. Nasamax).
• A emissão dos contaminantes mais tóxicos do ar
(benzeno, butadieno, tolueno) diminui até 30%
quando se adiciona bioetanol à gasolina conven- 4.4. Inconvenientes dos biocarburantes
cional.
Para evitar introduzir as necessária modificações nos
• A Associação de Recursos Renováveis do Canadá motores que são exigidas para permitir a utilização de óleos
assinala que juntar 10% de etanol ao combustível vegetais sem modificar ou melhorar as suas características
reduz até 30% as emissões de monóxido de carbono combustíveis, recorre-se à transformação destes nos seus
(CO) e entre 6% e 10% de dióxido de carbono (CO2); derivados ésteres metílicos ou etílicos. Desta forma conse-
além disso provoca uma redução na formação de gue-se que as largas cadeias ramificadas iniciais, de elevada
ozono. viscosidade e alta proporção de carbono se transformem
em outras de cadeia linear, de menor viscosidade e percen-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
capítulo 07
• Quando se utiliza 100% de biodiesel, o óleo lubrifi-
5.1. Soluções MCI-eléctricas
cante contamina-se, devido à menor viscosidade do São os híbridos que combinam um motor de combustão
éster em comparação com este. interna (MCI) e um motor eléctrico. São os únicos sistemas
híbridos que tiveram um desenvolvimento sério. Existem
• Alguns materiais deterioram-se com o biodiesel: dois tipos básicos: híbridos em série e híbridos em para-
pinturas, plásticos, borrachas, etc. Quando se utiliza lelo.
100% de biodiesel.
5.1.1. Motores em série
• Preços pouco competitivos comparativamente aos
derivados fósseis e o confronto resultante de culturas Utilizam o MCI acoplado a um gerador, o que produz electri-
energéticas, que também são empregues como cidade para o motor eléctrico que acciona a rotação das
culturas alimentares, o que produz uma situação rodas. É chamado híbrido em série pois o fluxo de energia
pouco desejável ao misturar o mercado alimentar move-se em linha recta. Com o MCI desacoplado da
com o dos combustíveis, o que distorce os preços e tracção, é possível que opere a uma velocidade constante
cria um impacto desfavorável no mercado. numa velocidade próxima do seu ponto óptimo de operação
em termos de eficiência e emissões, enquanto carrega a
• Elevado custo de produção. bateria.
ideais de funcionamento e, dadas certas circunstâncias e quase o dobro do rendimento dos veículos convencionais
por determinados lapsos, pode mover independentemente comparados.
o automóvel, o qual então se desloca sem consumir
combustível e reduzindo significativamente o ruído
5.5.7. Porsche Cayenne híbrido
produzido.
Antes de 2010, a Porsche prevê lançar um modelo híbrido
O motor eléctrico alimenta-se de uma série de baterias que do Cayenne. Será formado por um motor de gasolina e um
se recarregam enquanto o automóvel está em movimento eléctrico, que poderão funcionar simultanea ou separada-
(o que se conhece por Hybrid Synergy Drive) e portanto não mente, pelo que contará com duas embraiagens dife-
requer uma força externa, problema de que sofrem os rentes.
veículos eléctricos que têm que ser conectados periodica-
mente para se recarregar. Para modelá-lo, a unidade de gestão electrónica do veículo
controlará a posição do acelerador para optimizar o uso dos
Outra estratégia de poupança de combustível é o motor de dois motores.
gasolina que se desliga nas constantes paragens causadas
pelo trânsito urbano. O motor eléctrico, funcionando sem o de gasolina ao
mesmo tempo, permitirá viajar a uma velocidade de até 30
O Prius supera os problemas de pouca autonomia, longo km/h e adicionalmente recarregar-se a si mesmo utilizando
tempo de carregamento e fracas prestações dos veículos o mecanismo de travagem.
eléctricos e converte-se no automóvel com motor de
combustão interna de mais alto rendimento e mais baixas
emissões disponível na actualidade, de acordo com a regu- 5.6. Sistema híbrido do tipo turbina-eléctrico
lamentação da União Europeia. As suas especificações
assinalam um rendimento de 96 km por unidade de acele- A utilização de uma microturbina no lugar de um MCI no
ração g em ciclo urbano e apesar destes números serem veículo híbrido eléctrico oferece vantagens adicionais à
difíceis de se alcançar no uso real, indicam que o Prius tem configuração híbrida.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 15
Veículo híbrido Toyota Prius.
165
Figura 16
6.4.2. Cofinanciamento DG TREN-CE Primeira cadeira de rodas propulsionada com pilha
Autocarros-projectos CUTE e CITYCELL 167
de combustível tipo PEM.
Ambos os projectos tiveram como objectivo o pôr em
funcionamento autocarros de linha da empresa municipal
de transporte (EMT) que funcionam com pilha de combus-
tível a hidrogénio e foram parcialmente financiados pela
Comissão Europeia. O projecto CUTE pôs em funciona-
mento três autocarros que actualmente prestam serviço
nas ruas de Madrid. O projecto europeu CITYCELL cons-
truiu o primeiro autocarro híbrido que combina baterias
convencionais com uma pilha de combustível. Os autoca-
rros abastecem o hidrogénio diariamente na estação de
serviço anteriormente mencionada.
Figura 17
Logo do projecto Hychain.
Figura 18
Frota de veículos do projecto Hychain.
169
capítulo 07
08 Energias Renováveis: Eólica e Marinha
pontos do Velho Continente: na Holanda os moinho apre-
1. História da energia eólica sentavam quatro pás de lona, em Portugal e nas Baleares
172
seis e na Grécia doze.
O objectivo comum de todas as aplicações de energia
eólica é o aproveitamento da energia que possui o vento, o O moinho de torre desenvolveu-se no século XIV. Este
qual é um recurso energético natural que pode alcançar destacava-se pela sua maior solidez e durabilidade. A parte
níveis de utilização interessantes e que acima de tudo é inferior destas máquinas é uma torre de tijolo ou pedra,
gratuita. Esta energia do vento foi utilizada ao longo da sendo a parte superior a giratória, já que inclui o rotor. A
história para múltiplos usos: agricultura, transporte marí- orientação das pás destes moinhos chegou a realizar-se de
timo e, naturalmente, geração de energia eléctrica. forma automática. A cauda do moinho foi a mais eficaz.
Esta consiste num eixo horizontal com pás de pequeno
As primeiras aplicações da energia do vento foram reali- tamanho, a qual é perpendicular às pás principais. O rotor
zadas pelos persas entre 500-900 antes de Cristo. Estes de direccionamento bloqueava quando recebia vento de
moíam grão e bombeavam água por meio de moinhos de lado. Nesse momento o rotor de potência permanecia na
eixo vertical. As pás destes moinhos moviam-se graças à direcção do vento. Se a direcção do vento mudava, o rotor
força do vento. Por razões de optimização de materiais, de direccionamento girava até que de novo se alcançava o
pelas técnicas de fabrico disponíveis na época ou pela correcto alinhamento do rotor de potência.
maior durabilidade face às condições metereológicas, se se
queria dispor de uma maior potência não se construiam A bombagem de água, a extracção mineral, os trabalhos
moinhos maiores mas antes se aumentava o seu número em ferrarias, o movimento em serralharias… são algumas
com o mesmo tamanho. das aplicações do moinho ocidental. Esta máquina e a
turbina hidráulica lançaram as bases da Revolução Indus-
Usava-se uma tela de alvenaria para reduzir a incidência do trial, em redor das minas e artesãos próximos dos rios, não
vento sobre o moinho. O inconveniente deste projecto é
que apenas se podia aproveitar o vento se este soprava
numa determinada direcção. Não obstante, nas regiões do
império persa onde se utilizaram estes moinhos, isto não
era um problema porque os ventos eram de direcção domi-
nante. A potência controlava-se por meio de contraportas
na parede ou nas próprias velas do moinho.
tendo sido generalizada a utilização da máquina de vapor durante a segunda metade do século XIX, tendo sido fabri-
até ao início da Revolução Industrial, devido à impossibili- cadas mais de seis milhões de unidades, funcionando por
173
dade de transmissão de potência a longa distância. A todo o mundo.
potência máxima destas máquinas estava entre os 7 kW e
os 15 kW. A potência nos moinhos ocidentais era contro- Charles Brush, em 1887, construiu aquela que hoje se crê
lada através do uso de contraportas de madeira nas pás ou ser a primeira turbina eólica de funcionamento automático
pela quantidade de tecido revestido nas mesmas. para geração de electricidade. Com um diâmetro do rotor
de 17 m e 144 pás fabricadas em madeira de cedro, era à
Foi nas zonas medievais cristãs que apareceram os data a maior do mundo. A turbina funcionou durante 20
primeiros vestígios de moinhos de vento na península anos a carregar baterias. Apesar do seu tamanho, o gerador
ibérica. Restam grandes quantidades de vestígios de era de somente 12 kW.
moinhos dos séculos XVI – XIX em Huelva, Cádiz, Carta-
gena, Mallorca, La Mancha, etc. O dinamarquês Paul la Cour provou, anos depois, que as
turbinas eólicas de rotação rápida com poucas pás são mais
Não fosse em 1850, com a descoberta do dínamo, que real- eficientes do que as de rotação lenta para a produção de
mente se começou a desenvolver a transformação de electricidade.
energia eólica em electricidade. Antes deste ano, em 1802,
já se haviam tomado os primeiros passos para a transfor- A aplicação dos conhecimentos de aerodinâmica desenvol-
mação energética, tendo Lord Kelvin feito a ligação de um vidos na aviação trouxe um impulso tecnológico determi-
aerogerador eléctrico a um aeromotor. nante nas primeiras décadas do século XX, ao aumentar de
forma simples o rendimento destas máquinas. Entre as
duas guerras mundiais, realizaram-se projectos de grandes
aerogeradores de duas ou três pás, sobretudo de duas,
A forma do perfil aerodinâmico das pás de uma turbina tem 2.1. Tipos de rotor e seu funcionamento
uma importância chave nos parâmetros de uma turbina, tais
como a potência máxima e as propriedades estruturais. Existem dois tipos de rotor, o de eixo horizontal e o de eixo
vertical. O primeiro consiste numa hélice ou rotor conec-
A simulação numérica do fluxo de fluidos, denominada tado a uma gôndola, onde se localizam o alternador e a
Dinâmica de Fluidos Computacional (CFD), experimentou caixa de engrenagens.
um avanço muito importante nas últimas décadas.
Mostra-se de seguida uma turbina eólica de eixo horizontal,
O cálculo experimental dos coeficientes de arrasto e o qual é sensivelmente paralelo à direcção do vento.
sustentação realiza-se nos chamados túneis de vento.
Geralmente utiliza-se a análise dimensional e de semel- Estes geradores de eixo horizontal (HAWIT) necessitam de
hança física para realizar um ensaio sobre o modelo a escala estar alinhados com a direcção do vento, de forma que o
vento sopre paralelamente ao eixo de rotação.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
175
Uma pala Duas palas Três palas Multi-pala Orientação Orientação Orientação Orientação passiva
passiva a passiva a activa a de cone virado
contravento contravento contravento ao vento
com leme com leque
caudal
significativo. Produz-se uma flutuação na energia produzida relativamente às de duas pás), menor efeito visual e acús-
cada vez que uma pá passa pela esteira da torre, o que tico e apesar do seu maior custo, as turbinas de três pás
provoca uma fadiga superior. Com respeito à flexibilidade são as mais utilizadas na Europa.
das pás deste tipo de rotores, estas podem ser muito mais
flexíveis, levando a uma poupança no peso e a uma redução Considerando tipos similares de pás, os rotores com menor
de cargas na torre. número de pás girarão a maior velocidade, o que se reper-
cutirá numa possível diminuição do rácio do multiplicador
Se o rotor gira de forma passiva muito tempo na mesma de velocidade embora aumente o nível de ruídos e de
direcção, poderia dar-se uma excessiva torção dos cabos do erosão.
gerador. Em turbinas pequenas usam-se anéis colectores,
sendo que nas grandes esta utilização levanta problemas. É importante destacar adicionalmente que as forças num
motor de três pás tendem a estar melhor distribuídas,
O componente mais crítico da turbina são as pás. Este é o sendo a distribuição mais simples.
elemento responsável pelo maior custo da máquina (aproxi-
madamente 30% do investimento total) e o mais problemá-
tico no projecto. O rotor pode possuir uma, duas, três e até 3. Estado da arte
seis pás.
A capacidade instalada a nível mundial atingiu os 159.213
A escolha entre duas e três pás é um compromisso entre MW em 2009, dos quais 38.312 foram adicionados durante
eficiência aerodinâmica, complexidade, custo, ruído e esté- esse mesmo ano. O crescimento da capacidade eólica
tica. instalada cresceu 31,7 %, a taxa mais elevada desde 2001.
No caso de uma pá única existe a necessidade de um O total das turbinas instaladas a nível mundial estão a
contrapeso para equilibrar o rotor. produzir aproximadamente 340 TWh de electricidade por
ano, o que corresponde a 2% do consumo total de electri-
No caso de uma ou duas pás, existe a necessidade de uma cidade no mundo.
maior velocidade de rotação ou um maior comprimento
para conseguir a mesma potência de saída do que numa Em 2009, Portugal tinha uma capacidade instalada de
turbina de três pás, mas podem ter um custo menor, não energia eólica de 3.535 MW, sendo assim o sexto país
obstante o maior impacto visual e acústico. europeu e o nono mundial em termos de capacidade insta-
lada.
Nos parques eólicos as turbinas têm geralmente duas ou
três pás e uma velocidade de ponta da pá entre 50 m/s e 70
m/s. Devido à sua maior eficiência (da ordem dos 2% a 3%
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Vestas 35.000
Enercon 19.000
Gamesa 16.000
GE Energy 15.000
Suzlon 6.000
Nordex 4.500
RE Power 3.000
Goldwind 2.889
120
105
90
4,5
75
(m)
60
1,6 2,0
45 1,3
30 0,3 0,5
15 0,05
1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003
MW
Fonte: Enercon.
A tecnologia disponível para bases navais deriva daquela manutenção dos incentivos e apoios ao desenvolvimento
desenvolvida previamente pelo sector petrolífero para insta- do sector da energia eólica.
179
lação de plataformas de extracção. Existe tanto a tecno-
logia de plataformas cimentadas como flutuantes, mas
5. Participação na geração e contribuição
estas não têm aplicação directa em parques de energia
eólica offshore porque o rácio de custo/benefício é conside-
para a cobertura da procura
ravelmente maior numa plataforma petrolífera do que numa
eólica.
5.1. Energia eólica: terceira tecnologia
do sistema eléctrico
A fundação está condicionada pela batimetria local. Existem
tecnologias para profundidades baixas, médias ou altas. Se considerarmos o total da energia eléctrica gerada em
Portugal no ano de 2008, dos 45.969 GWh produzidos,
Até 30 m de profundidade considera-se baixa profundidade 5.757 GWh couberam ao sector eólico, colocando-o em
e é viável a instalação de monopilhas com a tecnologia terceiro lugar em termos de energia produzida, atrás da
disponível a nível comercial. térmica e da hidráulica.
Entre 30 m e 50 m considera-se profundidade média ou Da energia eléctrica produzida em 2008 (figura 6), a térmica
profundidade de transição e a tecnologia torna-se conside- continua a ser a tecnologia líder com 71,1% do total,
ravelmente mais cara. Normalmente recorre-se a tripés de seguida da hidráulica com 15,87% e da eólica com 12,52%
treliça. do total produzido.
Para batimetrias superiores a 50 m consideram-se águas Se excluirmos do grupo das energias renováveis as insta-
profundas e não se dispõe ainda da tecnologia necessária, lações de produção de electricidade hidráulicas com
Em Portugal a produção de energia eólica é abrangida por Ao analisar os dados da potência eólica instalada durante o
um regime especial (PRE - Produção em Regime Especial). ano de 2009, podemos constatar que foram instalados 673
Em 2009, a PRE representou 28,9% do total de electrici- MW de potência, passando esta última de 2.862 para 3.535
dade consumida, com um volume total entregue à rede de MW de potência instalada.
14.402 GWh.
Em Dezembro de 2009 existiam em Portugal 1941 turbinas
O documento que regula a produção em regime especial eólicas instaladas - mais 141 em construção - distribuídas
em Portugal é o Decreto-Lei nº 225/2007 de 31 de Março. por um total de 250 parques eólicos.
A nível europeu, o compromisso estabelecido de atingir a Quanto à repartição da potência eólica instalada por Distrito,
meta dos 20% de produção de electricidade a partir de Viseu aparece à frente (651,3 MW), seguida de Coimbra
fontes renováveis até ao ano 2010 deverá contribuir para a
(449,8 MW), Castelo Branco (430,5 MW), Viana do Castelo TABELA 2
(326,8 MW) e Lisboa (313,5 MW). Taxa de crescimento da energia eólica produzida.
180
12,5% 15,9%
2007 4.037 38,02
Fonte: DGGE.
71,1%
5.2. Geração
A procura anual de energia eléctrica alcançou durante 2008
os 45.969 GW/h, o que corresponde a uma diminuição de
-2,72% respectivamente ao ano de 2007.
Hidráulica Térmica
Durante 2008, as tecnologias renováveis produziram 15.419
Eólica Geotérmica
GW/h, dos quais 37,34% (5.757 GW/h) corresponderam à
Fotovoltaica eólica, 3,35% (516 GW/h) à mini-hídrica, 13,83%
(2.133GW/h) à biomassa e 0,27% (41 GW/h) à solar fotovol-
Fonte: REE (Rede Eléctrica Espanha) e AEE (Associação Empresarial Eólica).
taica.
Figura 6
Participação de cada fonte para a produção a partir de 6. Impacto ambiental e socioeconómico
fontes renováveis em 2008..
1,2%
0,3%
6.1. Benefícios ambientais
2
Fonte: AIE, 2005.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
600 kW numa localização média, em função do regime de emissões de CO2 em +27% respectivamente às emissões
ventos da zona, evita a emissão de 20.000 t a 36.000 t de de 1990. A energia eólica como fonte de geração eléctrica
181
CO2 durante os seus 20 anos de vida3. de origem renovável é crucial na redução de emissões de
CO2, ao fazer baixar a produção de outras tecnologias conta-
A concentração de CO2 na atmosfera aumentou em 25% minantes como o carvão, o fuel ou o ciclo combinado e
desde o início da industrialização. Estima-se que este valor dessa forma contribuindo para o cumprimento do objectivo
vai duplicar no ano de 2050. O IPCC4 estimou em 1996 que fixado pelo Protocolo de Quioto.
a temperatura média global havia aumentado em 0,3 ºC –
0,6 ºC e prevê um aumento no período compreendido entre
1990 e 2100 de 1,0 ºC – 3,5 ºC. Da mesma forma, para o 6.2. Impacto ambiental
nível médio do mar, espera-se um aumento de 15 cm – 95
cm. A instalação de um parque eólico é precedida por um
Estudo de Impacto Ambiental, estudo que deve ser apro-
A não emissão de contaminantes vê-se favorecida em: vado pelas autoridades da comunidade autónoma corres-
pondente com o objectivo de obrigar os promotores da
• É uma fonte de energia renovável, limpa, inesgotável instalação a adoptar as medidas pertinentes para minorar
e segura. os possíveis impactos negativos que possam produzir-se
sobre o meio ambiente local.
• Não contribui para a chuva ácida, pelo que se reduzem
os efeitos negativos que recaem sobre a saúde A realização de estudos deste tipo justifica-se mais pela
humana, as florestas e culturas, para além de reduzir sensibilidade social nas áreas geográficas onde se instalam
o impacto sobre os ecossistemas. do que pelas características concretas deste tipo de insta-
lações, cujos efeitos ambientais negativos são geralmente
3
Fonte: Universidade de Zaragoza.
4
Fonte: Intergovernmental Panel on Climate Change.
Figura 7
Evolução das emissões de gases de efeito estufa - Emissões de CO2 (kt).
182
Os aspectos mais comuns às instalações eólicas são os A incorporação da oferta energética das fontes renováveis
seguintes: esteve e estará condicionada num mercado livre pela
exigência de uma rentabilidade directa suficientemente alta
A energia eólica diferencia-se de outras fontes no seu para que o investidor altere o seu modelo de abasteci-
impacto ambiental localizado e reversível, cessando uma mento. O investidor não inclui referência alguma aos bene-
vez terminada a actividade se o parque for desmantelado fícios induzidos pelo uso de energias renováveis nem às
cuidadosamente. externalidades que as energias convencionais incorporam.
As chaves do êxito da aceitação de um projecto eólico Apenas em alguns casos, a incorporação das renováveis
baseiam-se na realização de consultas prévias, conheci- pode significar um valor adicional para o investidor, a
mento da tecnologia, negociação com os afectados e infor- melhoria da imagem externa por contribuir para um bom
mação dos benefícios. fim. Apesar disso, o custo dessa melhoria de imagem será
valorizada face a outras opções.
TABELA 3
<<
Tipos de alterações produzidas por qualquer instalação de energias limpas e duradouras, 183
de produção de energia. associado à linha harmoniosa dos
aerogeradores modernos, expoente
Afectam apenas a área ocupada e as da sua adaptação à função de
zonas circundantes. utilidade pública que realiza, para
outros a sua presença na paisagem
Factores de que depende: resulta intolerável.
Sobre o meio
físico • Carácter da acção.
A tolerância à sua presença depende
• Fragilidade ecológica da zona. da beleza natural da paisagem a
perturbar e de outros factores como
• Qualidade ecológica da zona.
o tempo.
capítulo 08
O impacto visual pode estabelecer-
Se a construção se realiza num tempo se a três níveis:
curto, o que é possível em poucos • Carácter da acção.
meses, a fauna tende a voltar a
ocupar a zona sem problemas, salvo • Fragilidade ecológica
em casos especiais que deverão ser da zona.
detectados através de um estudo de • Qualidade ecológica da zona.
Impacto impacto ambiental detalhado.
sobre a fauna
As aves não tendem a colidir com as
pás, salvo em zonas com tráfegos
intensos devido às rotas de migração O nível de ruído emitido pelos
concentrada de aves migrantes aerogeradores é similar ao de
nocturnas, como é o caso do estreito qualquer instalação industrial de
de Gibraltar. similar potência, se bem que conta
Ruído com o inconveniente de estar ao ar
livre, pelo que se não conta com o
É um tema subjectivo. Apesar efeito redutor dos edifícios.
Impacto de para alguns a imagem de um A aplicação de técnicas específicas
visual parque eólico sugerir um sentimento
de redução do ruído atingiram
positivo de progresso rumo ao uso
>> >>
<< TABELA 5
avanços substanciais, sem que se
incremente substancialmente o Divisão dos custos de uma instalação de produção
184
custo da máquina. O aumento da de energia eólica.
qualidade da produção de peças
específicas contribui para a redução
do ruído. 325 a 400 €/m2
de área de rotor (na
O grau de incómodo depende de:
Custo faixa dos 225 KW
• O nível de ruído emitido pelo aerogeradores a 1.800 KW de
potência eléctrica
aerogerador.
nominal)
• A posição com respeito à
turbina.
• A distância ao aerogerador. O
ruído decresce com a distância 25% do custo
Outros custos
por absorção atmosférica e por aerogeradores
repartição da sua energia na
área maior: -6 dB ao duplicar a
distância > 2D. Investimento-
inicial Infraestructura civíl
• A existência de barreiras e eléctrica
acústicas, como montanhas,
vegetação, edifícios, etc.,
apesar de serem pouco
eficazes para frequências Transporte e
Ruído baixas. montagem
(continuacão)
• O ruído de fundo, que disfarça
o emitido pelo aerogerador.
Especialmente notável é o
efeito do vento no local de Gestão e
percepção, que aumenta o administração
ruído de fundo ocultando o 2,5% do
investimento inicial
gerado pela turbina.
O nível de ruído de fundo em zonas
rurais pode ser muito baixo, da
ordem dos 20 dB, equivalente a um
silêncio quase absoluto, pelo que
Custos
o impacto das aeroturbinas pode
operacionais 1%
notar-se bastante nas redondezas. e manutenção
Actualmente está a ser estudada
a criação de regulamentos que
impeçam aumentos superiores a
5 dB pela instalação de um parque
eólico. Muitas das aeroturbinas
modernas passariam por esta
regulamentação, se se realizar uma Custos
Seguros 0,75%
operacionais
instalação projectada com cuidado.
Acondicionamento
0,75%
da infraestructura
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Os custos principais dividem-se segundo aparece reflectido Assim sendo, a produção de electricidade a partir do vento
na tabela 5. está enquadrada pela PRE, beneficiando de incentivos
185
especiais que permitam a alavancagem económica dos
A análise financeira é similar à utilizada para um projecto investimentos a serem realizados pelo sector privado.
normal, tendo em conta que nos projectos de energia eólica
usa-se um período de amortização da ordem dos 10 aos 20 O Decreto-Lei nº 33-A/2005 estabelece o quadro regula-
anos. tório para a remuneração da geração a partir de fontes de
energia renovável. O diploma estabelece novos valores
A situação política em Portugal no âmbito energético expe- para a fórmula de cálculo da retribuição no regime especial,
rimentou mudanças importantes em anos recentes, como bem como um horizonte temporal que permite garantir a
resultado do Protocolo de Quioto e do progresso da política recuperação dos investimentos realizados e a respectiva
europeia no âmbito energético. expectativa do retorno económico dos investidores.
Os preços públicos para a venda de energia eléctrica, se Relativamente à produção de energia eólica, a legislação
bem que permitiram a criação de uma indústria incipiente, referida estabelece, para os parques eólicos que já tenham
não reflectem os custos reais de forma completa, nem a obtido licença de estabelecimento à data da entrada em
estabilidade de futuro adquirida, nem o efeito descentrali- vigor do novo Decreto-Lei ou que venham a obter a licença
zador, etc., e têm de baixar. de estabelecimento num prazo de um ano após a entrada
em vigor do mesmo, a manutenção da tarifa de €88,2/
MWh, evoluindo esta à taxa de inflação, por um prazo de 15
7. A regulamentação do sector eólico em anos a contar da data de entrada em vigor do referido
Portugal diploma. No final desse período, a tarifa irá convergir para o
preço de mercado adicionado de um prémio pela venda de
A energia eólica offshore está em pleno processo de desen- • Recurso eólico. O principal problema que apresenta
volvimento e barreiras tecnológicas que há uns anos limi- a estimação deste recurso é a escassez de fontes de
tavam as zonas adequadas para a exploração de parques informação de qualidade. Para este projecto foram
eólicos marítimos começam a ser superadas, aumentando utilizados dados procedentes do European Wind
com isso a disponibilidade de espaço e melhorando a Atlas, da rede de medição oceanográfica existente
potência unitária dos aerogeradores, concebidos especial- na costa espanhola e do Mapa Eólico Nacional, publi-
mente para uso offshore. Esta capacidade técnica desen- cado em 1994.
volvida colide com o desenvolvimento da energia offshore
em Portugal e provoca a existência de locais com condições TABELA 6
de exploração já aproveitadas no norte da Europa, junta- omparação da Europa com o Resto do Mundo
C
mente com outras, as quais o avanço na investigação vai a nível da potência eólica offshore instalada
tornando viáveis com o passar dos anos e que começam a
aproveitar-se noutros países. 2008 2009
(GW) (GW)
2% 1%
2%
3%
53%
38%
Fonte: EWEA.
Os dados são transmitidos a cada hora vía saté- nental estreita e com encostas íngremes que não
lite. são favoráveis para o desenvolvimento da energia
eólica offshore. A análise das condições batimétricas
Para a estimação eólica descarta-se a utilização de medições deve-se fazer de forma precisa para cada implan-
realizadas a partir de barcos pela inexatidão das mesmas. tação. Neste relatório apenas se apontam aquelas
Das redes incluídas, somente as de águas profundas e a zonas favoráveis para a implantação de aerogera-
REMPOR têm capacidade para registar vento e outros parâ- dores marítimos.
metros meteorológicos. O resto das redes de medição
proporciona informação acerca de correntes e ondas, • Condições geológicas. Em Espanha, os principais
apesar de não resultar útil nesta primeira estimação do recursos de informação geológica na costa espan-
potencial eólico, resultará de grande utilidade em fases hola provém do estudo da plataforma continental
mais avançadas do desenvolvimento de parques eólicos espanhola, elaborado pelo ESPACE, e do desenvolvi-
offshore. mento de um sistema de informação geográfica para
a gestão dos fundos marítimos, elaborado pelo
Para a viabilidade de um parque eólico offshore, a intensi- SIGFOMAR. De igual modo com as condições bati-
dade média do vento deve ser pelo menos 7 m/s à altura do métricas, a análise realizar-se-á por comunidades.
eixo, considerando-se óptimo intensidades de 8 m/s ou
superiores. Diversos estudos fixam em 20% o aumento da • Ao seleccionar locais para aerogeradores, conside-
intensidade do vento no mar respectivamente à costa, a ram-se preferencialmente locais com substrato de
uma distância de 10 km, o que implica que o vento na costa lama e areia em lugar de rochas, embora isto se deva
deve ser 5 m/s no mínimo, estando o valor ideal entre os 6 principalmente a razões de custo e não a problemas
m/s – 7 m/s. O aumento de intensidade, segundo as expe- técnicos.
riências offshore mais recentes, pode ser inclusivamente
superior. • Capacidade técnica. A I&D em energia eólica offs-
hore é intensa e os avanços conseguidos nos últimos
• Batimetria. Portugal possui uma costa com boa bati- anos vêm ampliando as perspectivas de desenvolvi-
mentria. Contudo conta com uma plataforma conti- mento e as fronteiras que se podem alcançar com
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
TABELA 8
Capacidade técnica e perspectivas.
Custo 1.600 €/kW – –
Aerogeradores offshore.
09 Energias Renováveis: Solar
potência (denominadas neste caso centrais eléc-
1. Introdução
tricas termosolares) e, em menor escala, também
192
servem para aplicações de química solar: orientadas
A energia solar foi e continua a ser aproveitada em maior para a conversão da energia radiante em energia
ou menor escala pelo homem e a Terra ao longo da sua química como o reformador solar de gás natural ou a
história, de forma directa através do aquecimento directo, obtenção de hidrogénio solar através de processos
fotossíntese, habitações bioclimáticas e, indirectamente, de electrólise a alta temperatura, dissociação térmica
através de moinhos de vento, combustão de biomassa, de vapor ou outros procedimentos termoquímicos.
etc. Outras aplicações ainda menos desenvolvidas são
as de dessalinização da água, a detoxificação de
Quando se fala de instalações de energia solar há que efluentes industriais e agrícolas, o tratamento ou a
especificar a tecnologia que se utiliza no seu aproveita- síntese de materiais, etc.
mento, já que existem muitas formas de o fazer. As mais
importantes são: • As instalações solares fotovoltaicas, têm como objec-
tivo a produção de electricidade de forma directa, sem
• As instalações de energia solar térmica de baixa necessidade de utilizar nenhum ciclo de potência.
temperatura, cuja aplicação fundamental é a produção Esta electricidade pode-se vender à rede eléctrica ou
de água quente em habitações, processos industriais, consumir directamente em lugares onde não exista
piscinas, etc., e em menor escala a produção de frio rede eléctrica, como habitação no campo, bombagem
para refrigeração e climatização de espaços. de água, sinalização, telecomunicações, etc.
• As centrais de energia solar térmica de média ou alta Nesta classificação não foram incluídas outras formas de
temperatura, os Sistemas Termosolares de Concen- aproveitamento menos difundidas, como por exemplo as
tração, cuja aplicação fundamental é a produção de cozinhas solares, processos de secagem, fotoemissão, etc.
electricidade através da utilização de um ciclo de
TABELA 1.
Tipos de aproveitamento da radiação solar através de instalações projectadas para esse efeito.
Transformação
da radiação solar em Tipo de instalação Equipamento principal Aplicações
A única característica que têm em comum estas instalações é cidos. Neste sentido, são instalações que vão contri-
que todas utilizam o mesmo recurso: a radiação solar. As prin- buir para uma produção energética mais distribuída do
193
cipais vantagens destas instalações são: que na actualidade, com menores perdas energéticas
e menos impactos ambientais.
• É renovável, já que se estima que a idade do Sol seja
5.000 milhões de anos, com perdas de massa de 4,5 • É muito pouco contaminante, já que a contaminação
t/s, pelo que se estima uma duração de pelo menos ambiental se produz na fabricação dos componentes,
6.000 milhões de anos para reduzir a sua massa em não no processo de transformação da radiação solar
10%. em energia final. As características dos seus compo-
nentes fazem com que esta incidência seja muito
• É sustentável, porque é uma fonte de energia que não pequena.
contribui para o aquecimento terrestre ao ser recebida
diariamente e se se aproveitar não contribui para o seu Como desvantagem principal, destaca-se que o recurso não
aquecimento. está presente durante as 24 horas do dia, pelo que devem
ser complementadas com outras fontes de energia
• É abundante, no sentido de que a energia diária inci- (biomassa, eólica, gás, etc.) se se quiser assegurar uma
dente é da ordem de 10.000 vezes o consumo energé- determinada produção, o que nos leva a pensar num futuro
tico da humanidade. imediato no uso de instalações híbridas, solares em combi-
nação com outras fontes energéticas.
• É dispersa, isto é, encontra-se em maior ou menor
quantidade em todos os lugares da Terra, inclusiva-
mente é mais abundante nos lugares mais desfavore-
Figura 1
Mapa de radiação de Portugal e zonas climáticas de Inverno e Verão.
Na figura 1 (página anterior) indica-se a distribuição da Uma instalação térmica tem como objectivo a produção e
radiação solar em Portugal, segundo o RCCTE, classificando armazenamento de água quente a partir da radiação solar.
Portugal em três zonas climáticas, desde as zonas de menor Esta água quente pode ser destinada ao consumo directa-
radiação solar (zona I) até as zonas de maior radiação solar mente no chuveiro, máquina de lavar a roupa, processo
(zona III). industrial, aquecimento de piscinas, aquecimento ambiente,
etc., ou como entrada de uma máquina de absorção para
De um certo ponto de vista, interessa saber que a radiação produzir frio, usada na refrigeração. A utilização para uso em
solar nos chega em duas formas principais: directamente refrigeração é ainda muito limitada, sendo maioritário o
do disco solar, sem modificações na direcção (componente consumo de água quente.
directa), e de todo o céu, como consequência das difusões
que os componentes atmosféricos produzem na radiação Na figura 2 mostra-se um esquema básico de uma instalação
incidente (componente difusa). Como é evidente, a compo- solar para produção de água quente.
nente directa é muito superior em quantidade do que a
difusa, sobretudo em dias claros, chegando a alcançar Podem-se distinguir os seguintes equipamentos:
valores de até 10 kWh/m2 por dia no Verão (quando existem
mais horas de sol), enquanto que a difusa tem valores • Um sistema de captação formado por colectores
normais inferiores a 1 kWh/m2 por dia em dias claros, solares, encarregado de transformar a radiação solar
apesar de em dias nubolosos poder chegar a valores da incidente em energia térmica de forma a aquecer o
ordem dos de 2,5 kWh/m2 por dia. fluido de trabalho que neles circula. O princípio de
funcionamento está baseado no efeito estufa. O equi-
Nos dispositivos de transformação da radiação solar em pamento fundamental da instalação pode ser de dois
energias intermédias (electricidade e calor, principalmente), tipos: captadores solares planos ou tubos de vácuo.
necessita-se de informação da radiação solar na sua compo-
nente directa ou a projecção da total sobre a superfície incli- • Um sistema de permutação de energia que realiza a
nada na qual se encontrem os colectores solares ou módulos transferência de energia térmica captada desde o
fotovoltaicos correspondentes. Nem sempre se dispõe circuito de colectores, ou circuito primário, à água
dessa informação, pelo que é necessário obtê-la a partir de quente que irá ser consumida.
umas medições básicas de estações específicas ou a partir
de imagens de satélite através de processos de cálculo nem • Um sistema de acumulação constituído por um ou
sempre fáceis. vários depósitos que armazenam a água quente até
que esta seja necessária para o consumo.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 2
Esquema de uma instalação solar térmica para produção de água quente.
195
• Um equipamento de energia convencional auxiliar que Para o caso da pequena procura de água quente, como por
se utiliza para complementar, caso seja necessário, a exemplo nas habitações unifamiliares, existem no mercado
contribuição solar fornecendo a energia necessária instalações solares térmicas pré-fabricadas que são formadas
para as necessidades previstas, garantindo a continui- por todos os equipamentos necessários para a instalação,
dade do fornecimento de água quente em casos de conectados entre si e prontos a serem instalados, que se
escassa radiação solar ou necessidades superiores ao comercializam com um só nome comercial.
previsto. Trata-se geralmente de uma caldeira de gás
ou eléctrica. Para o caso de habitações multifamilares, existem diferentes
configurações e possibilidades que em cada caso o projec-
Existem diversas configurações de instalações solares tista deve analisar detalhadamente, porque é fundamental a
térmicas para a produção de água quente. De forma simplifi- selecção da configuração adequada para uma óptima
cada, de acordo com o mecanismo responsável pelo movi- eficência, fiabilidade e durabilidade da instalação. Por
mento do fluido através do circuito primário, distinguem-se exemplo, existe a possibilidade de utilizar uma instalação
completa (colectores, depósitos e caldeira auxiliar) centrali-
zada na cobertura do edifício com um uso partilhado por 3.2. Situação actual
196
todos os focos habitacionais ou, pelo contrário, colectores
comuns para todas as habitações mas cada habitação a Estima-se que aproximadamente 40% dos colectores solares
dispor de um reservatório térmico independente, para além instalados no mundo se encontrem na China. A Europa
de outras possibilidades distintas. representa apenas 9% do mercado mundial de energia solar
térmica, com uma potência instalada de 10.000 MW térmicos
Em Portugal é obrigatório que os edifícios de nova cons- por hora em finais de 2004, o que representa um total de 14
trução, os edifícios reabilitados e as piscinas climatizadas milhões de metros quadrados de colectores solares em
incorporem instalações de energia solar térmica para satis- funcionamento.
fazer uma parte da procura de água quente. Apenas a título
exemplificativo, em Portugal 1 m2 de colector solar aquece, Apesar dos objectivos contemplados pela Comissão Euro-
em média anual, diariamente à volta de 60 litros (no Norte) e peia no seu Livro Branco estarem demasiado distantes, o
80 litros (no Sul). Dito de outra forma, pode-se considerar certo é que os primeiros anos deste novo milénio resul-
0,75 m2 de colector solar por pessoa no Sul e 1 m2 de taram decisivos para o arranque definitivo da tecnologia
colector solar por pessoa no Norte. Os colectores devem ser solar térmica na Europa. O crescimento da superfície insta-
orientados para Sul e é comum incliná-los aproximadamente lada durante 2006 foi de 47%, instalando-se aproximada-
à latitude do local. mente 3 milhões de metros quadrados apenas durante
esse ano. Para 2007 espera-se um crescimento moderado
A outra aplicação é a produção de frio. Na figura 3 indica-se de 17%. Não obstante, será difícil alcançar os objectivos
o esquema de uma instalação solar térmica para produção colocados no Livro Branco, que se estimam em 100 milhões
de frio em refrigeração através de fancoils. Observe-se como de metros quadrados instalados na Europa em 2010.
se inclui um equipamento de absorção que é o que se utiliza
para produzir frio através de uma entrada de calor. Considere Em Portugal em 2006 estavam instalados cerca 180.950 m2
o leitor que se trata do mesmo mecanismo dos frigoríficos segundo o portal das renováveis na hora. Nestes 15 anos
de butano que existem no mercado que produzem frio, mas verificou-se um crescimento global e sustentável de 15%,
neste caso incorporando o calor através da combustão do sem ser obrigatória a instalação.
gás.
Em Portugal, devido à entrada em vigor da obrigatoriedade
Em Portugal existe a obrigatoriedade de instalar este tipo de das instalações solares térmicas em Abril de 2006, o cresci-
instalações e actualmente estas estão a experimentar um mento nos próximos anos vai ser muito superior, sendo tal já
grande desenvolvimento tecnológico. indicado pelos fabricantes e empresas instaladoras.
Figura 3
Esquema simplificado de uma instalação solar térmica para arrefecimento.
Colectores solares
Fan-coils
Caldeira
permutador
de calor das placas
Equipamento
de
absorção
Tanque
de armazenamento
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
No ano de 2008 começaram a habitar-se as habitações que colector solar plano e vem revestida igualmente por uma
foram construídas tendo em conta as exigências do RCCTE, pintura selectiva. Os tubos de vácuo “heat-pipe” utilizam
197
dispondo todas elas de instalações solares térmicas. um fluido diferente no interior dos tubos. A radiação solar
aquece este fluido provocando a sua evaporação e movi-
mento até à parte superior do colector, onde está colocado
3.3. Aspectos tecnológicos um condensador que transmite a energia ao fluido do
circuito primário e volta ao estado líquido descendo nova-
Colectores solares mente pelo tubo.
Como foi indicado, o componente principal é o colector solar.
Este pode ser do tipo plano ou de tubo de vácuo. A principal diferença que apresenta respectivamente aos
colectores solares planos é que se cria o vácuo no interior
Colectores solares planos dos tubos de vidro. O vácuo diminui de forma importante as
São formados por uma grade ou bobine de tubos soldados a perdas térmicas, anulando praticamente as perdas por
uma chapa de absorção. Esta superfície é coberta por uma convecção, permitindo alcançar melhores eficiências neste
pintura negra ou um revestimento selectivo que favorece a tipo de colectores a maiores temperaturas de funciona-
absorção e diminui a emissão de energia para aumentar os mento, apesar de ser mais caro.
ganhos térmicos por parte do fluido. Estes tubos e a chapa
de absorção são geralmente de cobre ou alumínio, existindo Na figura 5 apresentam-se imagens de ambos os tipos de
também colectores de materiais plásticos de menor colectores.
eficiência. Para diminuir as perdas térmicas incorporam um
isolamento térmico na parte posterior e lateral, geralmente Figura 5
lã de rocha. A parte frontal é constituído por vidro solar (com Colector tubo de vácuo (esquerda) e colector solar
baixo conteúdo de óxidos de ferro) que permite a entrada da plano (direita).
radiação ultravioleta e limita a saída da radiação infravermelha
emitida pelo absorvedor, favorecendo assim o efeito de
estufa e aumentando a temperatura no interior do colector. A
Figura 4
Componentes de um colector solar térmico.
capítulo 09
Os tubos de vácuo são mais eficientes que os colectores
planos quando se requer altas temperaturas de água quente
(acima dos 80 ºC - 90 ºC), ou em climas pouco quentes como
o norte da Europa; para além disso têm a vantagem de possi-
bilitar uma melhor integração arquitectónica, ao serem menos
sensíveis à orientação e inclinação da instalação.
tabEla 2
Comparação das condições nominais, especificações técnicas e custo dos equipamentos de absorção de pequena
potência muito úteis para energia solar térmica.
5,6 (água-água)
Potência frigorífica (kW) 15 10 9
4,2 (ar-água)
12/7 (água-água)
Temp. água fria (entrada/saída) 18/15 18/15 -/15
20/18 (ar-água)
29/- (dissipação
Temp. água de refrigeração húmida)
(entrada/saída) ( ºC) 32/36 27/34,7 30/35
38/42 (ambiente)
(dissipação seca)
1.200 (ar-água)
Potência eléctrica (W) – – 170
600 (água-água)
Os utilizadores devem conhecer que têm direito a que nos 60/(15) 1.320 40,0 2.002,0 capítulo 09
novos edifícios que adquiram, uma parte da procura térmica
necessária para aquecer água quente tem que ser fornecida
a partir de uma instalação solar. Adicionalmente, têm a obri- 100/(20) 2.200 66,7 3.336,7
gação de realizar uma manutenção adequada, reflectida num
livro de manutenção do edifício. 150/(37,5) 3.300 100,1 5.005,1
200
à selecção da configuração da instalação solar para que todas 3.6. Legislação
as habitações possam aproveitar a radiação solar de forma
óptima com uma adequada eficiência e custo. Na tabela 5
indica-se a ordem de grandeza do tamanho mínimo do depó- A legislação técnica e administrativa para este tipo de insta-
sito solar e a superfície de colectores mínima requerida numa lações, não incluindo as relativas ao impacto ambiental e/ou
habitação multifamiliar, para uma zona climática IIII com riscos laborais, é a seguinte:
fornecimento de energia auxiliar com gás, em função do
número de pessoas, supondo que o edifício dispõe de habi- • Decreto de Lei 78/2006, de 4 de Abril, no qual se
tações com três quartos. aprova o Sistema de Certificação Energética (SCE).
Para outros usos como restaurantes, fábricas, hospitais, • Decreto de Lei 79/2006, de 4 de Abril, no qual se
hotéis, etc., o regulamento indica que se deve utilizar outros aprova o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de
cálculos presentes no regulamento.. Climatização nos Edifícios (RSECE).
Do ponto de vista empresarial, o mercado está a atravessar Solar Heating and Cooling Programme
um grande crescimento tanto em Portugal como no resto do Agencia Internacional da Energia
mundo, permitindo uma oportunidade de negócio, tanto na Telefone: +1/231/6200634
fabricação e comercialização de componentes como na pmurphy@MorseAssociatesInc.com
instalação dos mesmos. www.iea-shc.org
Do ponto de vista social, estas instalações permitem uma Painel Internacional do Câmbio Climático (IPCC)
grande criação de emprego, que se estima em 16 empregos www.ipcc.ch
criados nesta indústria por cada milhão de euros investidos.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 6
Esquema de uma instalação fotovoltaica para uma habitação isolada.
capítulo 09
Figura 7
Esquema de componentes de uma instalação fotovoltaica de conexão à rede.
202
Quadro eléctrico
(protecções e contadores)
motivo, está proibida a incorporação de baterias, geradores produção eléctrica tende a ser mais distribuída, esta tecnologia
eléctricos, etc., dentro da instalação. vai desempenhar um papel importante.
TABELA 5
Evolução da potência instalada na Europa, em instalações fotovoltaicas ligadas à rede e isoladas.
203
Fonte: EuroObserv’er.
tabELA 6
Fabricantes de células fotovoltaicas em 2005 e 2006. 4.3. Aspectos tecnológicos
204
Fabricante País
Produção Produção Capacidade Célula solar
2005 (MWp) 2006 (MWp) em 2006
A célula solar é o componente fundamental de qualquer
Sharp Japão 427,5 434,7 600,0 instalação fotovoltaica. É um elemento tão fiável que os
fabricantes dão geralmente garantias das suas caracterís-
Q-Cells Alemanha 165,7 253,1 420,0 ticas por prazos superiores a 20 anos. Na actualidade a vida
útil deste dispositivo é superior a 35 anos.
Suntech China 82,0 160,0 330,0
Na tabela 7 estão representadas as características dos prin-
Sanyo Japão 125,0 155,0 165,0 cipais tipos de células solares que existem a nível comer-
cial, observando que uma célula fabricada num laboratório
Kyocera Japão 142,0 180,0 240,0 tem maior eficiência que uma célula fabricada a nível indus-
trial ou que um módulo fotovoltaico, que é uma associação
Bp Solar Reino Unido 85,8 85,6 200,0 de células com perdas associadas.
Motech Taiwan 60,0 102,0 200,0 Do total de módulos fotovoltaicos instalados a nível mundial,
90% - 95% são de células de silício monocristalino e de células
Solarworld Alemanha 37,5 90,0 190,0 de silício policristalino, sendo uma parte muito pequena (<2%)
de células de CdTe e células de CIS e o resto (3% - 7%) são
Mitsubishi Japão 100,0 111,0 135,0 módulos de células de silício amorfo. Entre o silício monocris-
talino e policristalino não existe uma grande diferença: o mono-
Schott Solar Alemanha 92,0 93,0 129,0 cristalino é ligeiramente mais eficiente (ocupa portanto menos
superfície para igual potência) mas é ligeiramente mais caro.
Isofotón Espanha 75,0 61,0 130,0 Para tomar uma decisão entre um dos dois, haverá que
conhecer em cada momento os dados económicos e técnicos
Photowatt França 32,3 35,0 50,0 dos possíveis módulos para uma instalação. Ambos apre-
sentam uma grande durabilidade nas suas prestações eléc-
Fonte: EuroObserv’er.
taBELA 7
Características dos diferentes tipos de módulos fotovoltaicos comerciais.
tricas, os fabricantes fornecem hoje em dia garantias da ordem ordem dos 1,5 €/Wp - 2,5 €/Wp; por outro lado, produzir
dos 20-25 anos para pelo menos 80% da sua prestação. células muito eficientes apesar de apresentarem um maior
205
custo, o que normalmente é compensado devido à utilização
Em geral, o grupo de módulos de película fina (CdTe, CIS e de dispositivos de concentração da radiação solar e/ou
silício amorfo) apresenta a particularidade de que as suas seguidores solares. As eficiências actuais deste grupo
prestações são inferiores, em geral, devido à eficiência, e situam-se à volta dos 14% - 17% e os seus custos na ordem
diminuem mais rapidamente com o tempo, sobretudo dos 3 €/Wp - 7 €/Wp.
durante o primeiro ano, onde podem alcançar uma redução
até 20% devido ao envelhecimento por indução da radiação Nos próximos anos irá-se produzir uma melhoria na relação
(efeito Staebler-Wronski). Para além disso, existe menos energia produzida/custo que vai permitir que esta tecnologia
experiência em processos de fabricação e garantia a muito avance rumo a um uso mais generalizado junto dos cida-
longo prazo. Há que destacar que nos últimos anos se dãos.
avançou muito no solucionar destas desvantagens.
Seguidores solares
Outros tipos de células, que nos últimos anos tendem a Outra alternativa tecnológica é a de fixar os módulos fotovol-
tornar-se comercializáveis, são as células híbridas HHIT (que taicos sobre alguma estrutura de suporte com movimento
já estão a aparecer no mercado), células de corante, células que permita aos módolos fotovoltaicos seguir a posição do
orgânicas ou de polímeros, etc. Sol. Na actualidade existem numerosos fabricantes de segui-
dores tanto de dois como de um eixo.
Em modo de resumo, existem múltiplas linhas de investi-
gação em novas células solares. O objectivo a alcançar a Se se incorpora um sistema de seguimento, o módulo foto-
curto-médio prazo é a redução do custo da energia produzida voltaico recebe mais radiação solar durante o dia e produzirá
através deste tipo de instalações. Para isso está-se a inves- mais energia eléctrica. O aumento da radiação incidente
tigar em múltiplas direcções, sendo que estas se podem num módulo fotovoltaico que está sobre uma estrutura de
agrupar em duas. Por um lado, produzir células mais baratas, seguimento comparativamente ao de posição fixa não é o
apesar da sua eficiência não ser muito elevada (dentro deste mesmo em todo o mundo, pelo que depende da locali-
capítulo 09
Módulos fotovoltaicos comerciais com concentração solar 2X em Sevilla PV. Plataforma Solúcar. Abengoa Solar.
206
Célula solar de arsenieto de gálio, com concentração da radiação 1000X desenvolvida por Isofotón.
menor do que em lugares onde normalmente não existem eficiências superiores às actuais (até 40%), apesar do seu
muitas núvens (por exemplo, Sevilha). custo ser mais elevado.
Pelo contrário, os sistemas de seguimento da posição do Sol Os sistemas de concentração requerem seguidores solares
têm o inconveniente dos custos adicionais de investimento e de dois eixos e de bons dissipadores térmicos para evitar o
manutenção em comparação com os módulos instalados aquecimento excessivo da célula.
numa estrutura fixa, sendo que cada caso particular merece
um estudo detalhado. Nos últimos anos, foram realizadas em Em Espanha, Abengoa Solar dispõe de uma central fotovol-
Portugal instalações com módulos em estrutura fixa, com taica Sevilla PV em Sanlúcar La Mayor (Sevilha) de 1,2 MWp,
estruturas com seguimento num eixo (ganhos de radiação até com células comerciais de silício monocristalino com uma
24% face ao fixo óptimo) e com seguimento em dois eixos concentração da radiação até duas vezes (2X), através de
(ganhos de radiação em torno dos 30% face ao fixo óptimo). espelhos de ambos os lados de cada módulo.
Em cada caso, aconselha-se a analisar bem os ganhos de
radiação e de produção eléctrica em cada lugar face aos custos Portugal possui uma das maiores centrais fotovoltaicas do
do sistema de seguimento face ao fixo. mundo. Localizada em Moura possui 46 MWp.
• Normas particulares das companhias eléctricas. Uma CET é composta por um sistema concentrador, um
sistema receptor e um sistema de conversão de potência,
• Condições impostas pelas entidades públicas afec- podendo adicionalmente incluir um sistema de armazena-
tadas, como municípios, Ministérios do Meio mento térmico e um sistema de energia auxiliar.
Ambiente, Obras Públicas, Indústria, etc., de cada
comunidade. Na maioria das comunidades autó- O sistema concentrador capta e concentra a radiação solar
nomas existe um regulamento técnico e/ou adminis- sobre o receptor, onde se converte em energia térmica,
trativo que complementa a legislação nacional aumentando a temperatura do fluido de trabalho. A energia
geral. converte-se noutra forma de energia apta para sua utilização
(por exemplo, energia eléctrica) no sistema de conversão de
• Normas UNE dos componentes. potência. Os sistemas de armazenamento térmico e de energia
auxiliar permitem operar a CET em períodos de ausência de
radiação solar, facilitando assim a sua gestão.
5. Centrais Eléctricas Termosolares A radiação solar numa CET pode complementar-se com o
fornecimento energético de um combustível fóssil, dando
lugar a centrais conhecidas como híbridas. O grau de hibridi-
5.1. Aspectos básicos
zação pode ser muito variável: desde centrais que recorrem
ao combustível fóssil para eliminar ao mínimo imprescindível
Os Sistemas Termosolares de Concentração (STC) são o armazenamento térmico, e cuja função principal é absorver
sistemas de aproveitamento da energia solar em média e os transientes produzidos por variações mais ou menos
alta temperatura através da concentração da componente bruscas da radiação solar e garantir a produção de acordo
directa da radiação solar. com a estratégia operacional estabelecida, até ciclos combi-
nados convencionais apoiados por energia solar, nos quais o
A aplicação comercial mais comum hoje em dia destes fornecimento desta última fonte energética está entre 10%
sistemas é a geração de electricidade em centrais de e 20% da produção.
pequena a média dimensão (entre 10 kW e 100 MW) a partir
da energia solar, apesar de ser também utilizado em outras Do ponto de vista do sistema concentrador, os STC podem
funções, como a geração de energia térmica para processos classificar-se em dois grandes grupos:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• Sistemas de foco linear: A radiação concentra-se Tecnologia. Nas centrais de concentradores cilindro-parabó-
sobre um tubo que atravessa o foco do concentrador. licos actuais, a radiação solar concentra-se por meio de espe-
209
A este grupo pertencem os sistemas de colectores lhos curvados, de secção parabólica, sobre um tubo, o
cilindro-parabólicos e os concentradores lineares de receptor, situado sobre a linha focal do concentrador. A
Fresnel. radiação solar concentrada converte-se aqui em energia
térmica ao produzir-se o aquecimento do fluido de trabalho
• Sistemas de foco pontual: a radiação solar concen- (um óleo sintético nas centrais actuais) que circula pelo inte-
tra-se sobre uma zona centrada no foco do concen- rior do tubo receptor até temperaturas próximas a 400 ºC.
trador. Estes podem alcançar maiores relações de Finalmente, a energia térmica do fluido de trabalho é utili-
concentração e operar a maior temperatura. Os zada para produzir vapor de água que, finalmente, se utiliza
sistemas de torre ou receptor central e os concentra- para gerar a electricidade numa turbina de vapor similar às
dores ou discos parabólicos pertencem a este grupo. convencionais.
Figura 10
Princípio de funcionamento do concentrador cilindro-parabólico.
capítulo 09
hola Rioglass Solar anunciou a futura abertura de uma dades do Regime Especial propiciaram que quase todas as
linha de produção nas Astúrias. centrais tenham uma potência nominal de 50 MW e incluam
210
um sistema de armazenamento térmico em sais fundidos de
• O tubo absorvedor, composto por um tubo de aço grande capacidade – até oito horas equivalentes à potência
com revestimento selectivo e um tubo de vidro envol- nominal – o que permite a operacionalidade da central
vente, entre os quais é feito o vácuo. Actualmente durante várias horas na ausência do sol.
existe um só fabricante de tubos receptores – Solel -,
mas num futuro próximo a alemã Schott irá pôr em No norte de África, região privilegiada do ponto de vista da
marcha uma central de produção em Aznalcóllar radiação solar disponível, estão a ser desenvolvidos grandes
(Sevilha). projectos – Argélia e Marrocos – de ciclos combinados de
gás natural com fornecimento de energia solar procedente
Fluido de trabalho. Quase todas as instalações em funcio- de duas fábricas de concentradores cilindro-parabólicos,
namento ou em projecto utilizam óleos térmicos sintéticos, configuração favorecida pelo Global Environmental Fund do
com capacidade para operar até 400 ºC, já que para lá desta Banco Mundial, que apoia financeiramente estes projectos.
temperatura o óleo se degrada. Na Plataforma Solar de
Almería (PSA) tem-se vindo a trabalhar durante os últimos Aspectos económicos
anos no desenvolvimento da tecnologia de geração directa A rápida evolução do mercado nos últimos anos torna difícil
de vapor (GDV) nos tubos, o que permitirá operar a maiores uma estimação precisa dos custos actuais das centrais de
temperaturas, para além de reduzir o custo das centrais. concentradores cilindro-parabólicos; avançam-se valores
Existe um projecto para a construção de uma instalação GDV indicativos na ordem dos 3.000 €/kW a 5.000 €/kW de
de 3 MW de potência nominal nas imediações da PSA. potência nominal instalada, dependendo da capacidade do
sistema de armazenamento da central. A título exemplifica-
Sistema de armazenamento. O sistema de armazena- tivo, para uma central de 50 MW com seis horas de arma-
mento térmico permite operar na ausência da luz do sol. A zenamento, o investimento estimado situa-se por volta dos
tecnologia de armazenamento térmico em dois tanques de 200 milhões de euros. Destes, quase 60% correspondem
sais fundidos a diferentes temperaturas – tanque frio e ao campo solar (colectores), seguindo-se o sistema de
quente – é a opção melhor adaptada às centrais de concen- armazenamento térmico e o ciclo de potência – turbina,
tradores cilindro-parabólicos actuais. Utiliza-se uma mistura condensador, etc. – ambos em torno dos 15%.
de nitritos e nitratos de sódio e potássio que no processo
de carregamento se aquecem com a energia que o óleo A forte procura que se está a verificar nos últimos dois ou
térmico procedente do campo lhes cede no permutador de três anos, unida à escassez de fornecedores dos elementos
calor. No processo de descarga são os sais procedentes do principais – espelhos, tubos receptores – pode produzir um
tanque quente que cedem calor ao óleo térmico. aumento dos preços a curto prazo, situação que se espera
que seja corrigida pela entrada em mercado de novos forne-
Com vista às próximas gerações de centrais, está-se a cedores e com o aumento da capacidade de produção.
trabalhar no desenvolvimento de novos sistemas de armaze-
namento térmico, como os baseados em cimento ou em
materiais de mudança de fase, que armazenam a energia em 5.3. Concentradores lineares de Fresnel
forma de calor latente.
Aspectos tecnológicos
Tanto as centrais SEGS como Nevada Solar One carecem de O desenvolvimento desta tecnologia é muito recente e
sistema de armazenamento térmico. Em seu lugar, as apenas existem algumas centrais piloto de demonstração na
centrais SEGS utilizam uma caldeira auxiliar de combustível Europa e Austrália, se bem que recentemente começou a
fóssil que se utiliza nos períodos nebulosos. Nevada Solar operar uma central de 1,2 MW térmicos integrada numa
One é uma instalação puramente solar, que apenas produz central de carvão na Austrália. Também muito recentemente
energia com a presença do sol. foi inaugurada a maior destas centrais piloto na Plataforma
Solar de Almería, promovida pela empresa alemã MAN em
Situação actual colaboração com centros de I&D alemãs.
Para além das mencionadas centrais SEGS e de Nevada
Solar One, ambas nos Estados Unidos, há actualmente na Este tipo de instalações caracteriza-se pelo sistema concen-
Europa três centrais de concentradores cilindro-parabólicos trador que é composto por um conjunto de tiras de espelhos
– dois na província de Granada, Andasol I e II, e uma na ligeiramente curvados que se orientam coordenadamente,
província de Badajoz, Extresol I – e estão em distintas fases de forma a que a radiação solar se concentre sobre um tubo
de desenvolvimento vários outros projectos. As particulari- receptor situado a uma certa altura sobre o conjunto de
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
espelhos. O fluido de trabalho é água que aquece e evapora A figura 11 mostra um esquema de um SRC e ilustra o seu
à passagem pelo tudo receptor, podendo logo utilizar-se para modo de funcionamento.
211
gerar energia eléctrica numa turbina. Constituem uma alter-
nativa de baixo custo à tecnologia de concentradores cilin- A maior parte dos sistemas de receptor central construídos
dro-parabólicos, mas a temperatura máxima operacional e o até agora foram centrais de demonstração entre 500 kW e
rendimento, estão mais limitados. 10 MW de potência nominal, construídos em princípios dos
anos oitenta em vários lugares do mundo. Entre estas há
Actualmente existe um projecto para construir uma central de que mencionar a central Solar One em Barstow (Califórnia), a
6,5 MW eléctricos com esta tecnologia em Tavira (Portugal), maior construída até recentemente (10 MW) e já desmante-
utilizando tecnologia da empresa australiana SHP. O custo lada, bem como as duas existentes na Plataforma Solar de
estimado pelos promotores situa-se em torno dos 3.000 €/ Almería, construídas inicialmente como centrais de teste e
kW instalado. que desde há alguns anos funcionam como centrais de
ensaio, tendo desempenhado um papel fundamental no
5.4. Sistemas de receptor central desenvolvimento da tecnologia.
Aspectos tecnológicos Embora exista uma vasta experiência com este tipo de
Os STCS de receptor central (SRC) caracterizam-se pelo sistemas, o grau de maturidade da tecnologia é ainda inferior
sistema concentrador que é composto por um grupo, mais à dos concentradores cilindro-parabólicos, já que até muito
ou menos numeroso, de concentradores individuais recentemente não existia nenhuma central em funciona-
chamados helióstatos, que dirigem a radiação solar concen- mento em regime comercial. Desde princípios de 2006, está
trada para um receptor central, normalmente situado a uma em funcionamento a central PS10 da Abengoa Solar em
certa altura do solo numa torre. Sanlúcar La Mayor (Sevilha), que é a primeira CET que entrou
em funcionamento no Regime Especial.
São sistemas que podem alcançar um valor elevado da razão
de concentração e, portanto, operar eficientemente até Tecnologia. Os componentes principais de um sistema
elevadas temperaturas (acima dos 1.000 ºC). receptor central são os seguintes:
capítulo 09
• Sistema colector ou campo de helióstatos. O receptor. O receptor de uma CET de receptor central
situa-se geralmente, por questões ópticas, sobre uma torre.
212
• Receptor, situado sobre uma torre. É o dispositivo onde a radiação solar concentrada se trans-
forma em energia térmica, produzindo-se o aquecimento ou
• Sistema de controle. a evaporação do fluido de trabalho. Ao longo da história desta
tecnologia foram propostos e testados um grande número
• Sistema de armazenamento. de receptores de diversas características geométricas e
operacionais com distintos fluidos de trabalho.
Helióstato. O helióstato é, juntamente com o receptor, o
componente mais característico de uma CET de receptor Os estudos e experiências realizados até agora não foram
central. capazes de demonstrar a superioridade de uma tecnologia
sobre as demais, entre outras causas porque a escolha de
Um helióstato é composto basicamente por uma superfície uma ou outra está condicionada não apenas por factores
reflectora, uma estrutura de suporte, mecanismos de movi- técnicos, mas também de política industrial. Assim, enquanto
mento e um sistema de controle. a indústria norte-americana aposta na tecnologia de sais
fundidos, a europeia aparece mais inclinada para os recep-
tores volumétricos de ar, sejam eles atmosféricos ou pressu-
rizados, ou os receptores de vapor de água, como o de
PS10.
Figura 12
Esquema de um sistema de disco parabólico.
213
Outro projecto de CET de receptor central é a instalação bloco com o receptor. A radiação solar concentrada pelo
Sistema Eurodish na Escola Técnica Superior de Engen- A potência destes motores ou turbinas oscila geralmente
haria em Sevilha. entre os 5 kW e os 25 kW, com rendimentos entre os 30%
e os 40%.
Os dois tipos de montagem utilizados são: Na Europa, a empresa alemã SBP desenvolveu e comercia-
liza o sistema Eurodish de 10 kW de potência, com um motor
• Acompanhamento de altitude-azimute, no qual o Stirling fabricado pela também alemã Solo GMBH. Nos
movimento é feito ao longo de dois eixos, vertical e Estados Unidos, a SES assinou um contrato para o forneci-
horizontal. mento de 20.000 unidades dos seus sistemas de 25 kW,
resultando numa potência de 500 MW ampliáveis a
• Acompanhamento polar, no qual o movimento do eixo 850 MW.
é muito lento, pois apenas deve seguir as variações
sazonais do Sol, enquanto o movimento do outro eixo Estes sistemas apresentam um grande potencial de redução
é feito a velocidade constante. de custos dadas as suas características, que permitem a
fabricação em série de todos os seus componentes.
Receptor e sistema de geração. O receptor de um sistema
de discos parabólicos tem duas funções fundamentais: Custos
Os custos dos sistemas de disco parabólico com motor Stir-
• Absorver a radiação solar reflectida pelo concen- ling são ainda muito elevados, estimando-se em torno dos
trador. 5.000 €/kW para produções de 100 a 500 unidades. É de
esperar que estes custos se reduzam significativamente para
• Transferir a energia absorvida ao fluido de trabalho da séries de produção mais elevadas.
máquina térmica associada.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
capítulo 09
216
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
220
1. Conceitos básicos para biocarburantes. O objectivo é conseguir a
máxima quantidade de energia na colheita. Podemos
destacar algumas espécies: o cardo (Cynara cardun-
1.1. O que é a biomassa culus), sorgo (Sorghum bicolor), o álamo, eucalipto,
etc. Dentro das culturas energéticas encontramos
A biomassa é um conjunto heterogéneo de materiais, tanto espécies herbáceas ou espécies lenhosas (árvores).
pela sua origem como pela sua natureza, o que condiciona
a sua utilização. De forma mais ampla, pode-se definir a • Resíduos sólidos urbanos (RSU): dentro deste
biomassa como toda a matéria orgânica de origem vegetal grupo apenas podemos ter em conta os resíduos
ou animal, incluindo também os materiais procedentes da orgânicos, previamente separados numa central de
sua transformação natural ou artificial. Do ponto de vista gestão de resíduos, para evitar assim a inclusão de
energético e de sustentabilidade, a biomassa é uma fonte plásticos, metais, vidro, etc., não aproveitáveis dentro
de energia renovável, que não prejudica o meio ambiente. deste âmbito.
• Culturas energéticas: são aquelas espécies que são De cima para baixo, cultura de cardo e cultura de sorgo.
cultivadas com o único fim de produzir biomassa para Fonte: IDAE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Geralmente, o conteúdo energético da biomassa mede-se Podemos observar na tabela, como é lógico, que quanto
em função do poder calorífico de cada um dos materiais, menor é o conteúdo em humidade maior é o PCI da
221
apesar de em alguns casos, como o da biomassa húmida biomassa.
ou dos biocarburantes, se determinar em função do poder
calorífico do produto energético obtido no seu tratamento. No caso da biomassa residual húmida, como podemos
observar na seguinte tabela, produz biogás e o seu conteúdo
Na seguinte tabela mostra-se o Poder Calorífico Inferior energético é:
(PCI) para distintos conteúdos de humidade da biomassa
residual seca mais utilizados. TabEla 2
PCI e utilização dos distintos tipos de Biomassa.
TabEla 1
PCI e utilização de distintos tipos de Biomassa. Quantidade de Conteúdo
biogás a PCI
Substrato em metano (kcal/m3N
PCI à humidade X (kJ/kg) 30 ºC por l/kg de biogás)
(%)
Produtos de resíduo seco
H (%)* PCI H (%)* PCI H (%)* PCI
Estrume com
286 75 6.100
Lenhas e palha
0 19.353 20 15.006 40 10.659
ramos
Excrementos
237 80 6.500
de palha
Serragem
0 19.069 15 15.842 35 11.537
e aparas Purina
257 81 6.600
de porco
Cortiças
1.3. Tipos de biomassa segundo a sua
composição química
Coníferas 0 19.437 20 15.257 40 11.077
Folhosas 0 18.225 20 14.087 40 9.948 Outra classificação da biomassa pode ser feita em função
da sua composição química; esta é reflectida no gráfico
Poda de seguinte:
árvores de 0 17.890 20 13.836 40 9.781
capítulo 10
fruto Figura 1
Palha de
Classificação da biomassa segundo a sua composição quí-
0 17.138 10 15.173 20 13.209 mica.
cereais
TIPOS DE
BIOMASSA
Videira
Ramos de
0 17.263 25 12.331 50 7.399
uva
Oleaginosas Amiláceas Lignocelulósicas Resíduos Resíduos Resíduos
Animais Industriais Antropogénicos
Bagaço
0 18.894 25 13.543 50 8.193 Girasol Sementes Azeitonas
de uva Sementes de Cynara de cereal Videira Dejectos RSI RSU
Sementes de colza Trigo Frutos líquidos Águas Águas
Bagaço Cebada Tratamentos Resíduos residuais residuais
* H (%) = percentagem de humidade. Orujillo Aveia forestais semilíquidos
Alperujo Centeio Cynara cardunculus
Fonte: circe. Palha
Cascas de frutos
Fonte: AEDIE.
TabEla 4
1.4. A biomassa
Resultados previstos de geração eléctrica.
222
O Plano Nacional de Acção para Eficiência Energética
(PNAEE) 2008-2015, em conjunto com o Plano Nacional de
Total
Acção para as Energias Renováveis (PNAER), apontam 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2004
como objectivo de cobrir com fontes renováveis pelo menos 2009
31% do consumo total de energia em 2020, assim como
incorporar os outros objectivos indicativos.
Produção
biomassa
Durante os últimos anos a biomassa tem verificado em
eléctrica 541 640 643 702 654 849 4.029
Portugal um desenvolvimento significativamente inferior ao anual
previsto, sendo que persistem importantes barreiras às (GWh)
quais o PNAER pretende dar resposta.
Fonte: DGEG
Naquilo que se refere às aplicações eléctricas de biomassa,
o objectivo para 2012 é 225 MW instalados. Em 2009 já foi
atingido cerca de 93% desse objectivo, como está repre-
sentado na tabela 3. 1.5. Principais fontes de biomassa
Portugal, mas há que não deixá-las de parte porque Armazenamento e tratamento secundário da biomassa
poderão vir a tornar-se uma prática mais comum no de origem florestal
223
futuro. Quando se tomam medidas para a instalação de uma
central de biomassa florestal, deve-se ter em conta a loca-
Em Portugal, as espécies mais produtivas dentro lização dos pontos de armazenamento intermédio e final, já
deste âmbito são o álamo, o eucalipto, o carvalho que um parque apenas para o empilhamento seria dema-
(Quercus), etc. Para além disso estão a começar a siado amplo e custoso.
ser realizadas experiências com salgueiros e algumas
espécies exóticas como a paulowniam que dá resul- Uma vez na instalação e antes de alimentar a caldeira com
tados muito prometedores. a biomassa, deve-se fazer um segundo tratamento no qual
se dê a granulometria apropriada à tecnologia a utilizar,
Como se verá mais adiante em detalhe, a biomassa homogeneizando desta forma o combustível.
florestal passa por uma série de etapas antes do seu
aproveitamento final. A biomassa agrícola pode ser proveniente das seguintes
fontes:
1.5.2. Biomassa
agrícola
Por outro lado, este tratamento e acondicionamento existe Estes excrementos podem ser líquidos ou semi-sólidos.
para que a biomassa passe por uma primeira etapa de Tradicionalmente este resíduo tem sido utilizado como
secagem na qual se elimina o excesso de humidade. adubo para o campo, devido à grande quantidade, grau de
diluição em matéria útil e concentração com que se
Transporte produzem estes resíduos nas explorações intensivas, de
Este transporte realiza-se por estrada e não deverá ser modo que o seu transporte não se torna economicamente
superior a 50 km, já que distâncias superiores podem atractivo para longas distâncias. Por conseguinte, apenas
comprometer a viabilidade económica da central de são aplicáveis na medida que são suportáveis pelo solo
biomassa. agrícola circundante à exploração.
Armazenamento e tratamento secundário Por outro lado, a aparição no mercado de adubos sintéticos
Este tipo de biomassa pode estar disponível ao longo de com alta concentração de fertilizantes NPK, fazem com que
todo o ano (quando a instalação de aproveitamento está a prática da adubagem com esterco comece a ser muito
apta para biomassas diferentes, certos frutos ou subpro- reduzida, estando actualmente a cair em desuso.
dutos podem ser armazenados para posterior processa-
mento industrial durante o ano) e a central pode ter um A tendência é para:
abastecimento contínuo, pelo que as dimensões do parque
de armazenamento ou empilhamento não deve apresentar • A redução do seu volume através da secagem forçada
dimensões exageradas. com gás natural, para sua posterior descarga ou
transporte, o que é já mais económico pela dimi-
nuição da massa e volume.
Quanto ao tratamento secundário que se dá a este tipo de
biomassa, é muito parecido ao descrito para a florestal. Já • A digestão anaeróbia, para reduzir a PBO1 (Procura
que se trata de homogeneizar a sua granulometria, de Biológica de Oxigénio e a PQO2 (Procura Química de
forma a permitir a sua introdução na caldeira. Oxigénio), com ou sem utilização energética do
biogás gerado, usando o resíduo como fertilizante
No caso da biomassa agrícola para a produção de biodiesel (após um processo de compostagem) ou derraman-
e bioetanol, este tratamento será específico para este tipo do-o. Como se verá mais à frente, a digestão anaeró-
de centrais. bica é uma tecnologia genérica que deverá ser adap-
tada a cada tipo de resíduo devido à possibilidade de
interferência de organismos vivos muito estritos
1.5.3. Biomassa de origem animal quanto às suas condições de vida, não se podem
generalizar os processos excessivamente. Para além
Nos últimos anos foram desenvolvidos diferentes sistemas disso, os processos são muito sensíveis às mudanças
de aproveitamento energético da biomassa de origem na composição do substracto.
animal, que são destinados, por um lado, para a obtenção
de energia de resíduos e, por outro, minimizar as descargas Resíduos da indústria
destes para o meio ambiente (são muito contaminantes). Neste campo existem principalmente dois focos produ-
tores que são os seguintes:
É cada vez maior a pressão a que estão sujeitos os produ-
tores de resíduos, para que eles mesmos procedam à sua • Matadouros: nos quais se geram resíduos, que são
auto-gestão, evitando a sua descarga, o que cria um impacto as partes não comercializadas do animal (vísceras,
ambiental nefasto nos solos e águas superficiais e subte- etc.). O processo que se deve aplicar a estes resí-
rrâneas. duos é o da digestão anaeróbia.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
1 BO é a quantidade de oxigénio libertado que requerem os microorganismos para a oxidação aeróbia da matéria orgânica biodegradável presente no meio
P
ambiente.
2 PQO é a quantidade de oxigénio necessária para a oxidação da matéria orgânica presente no meio através de compostos químicos.
de Águas Residuais (ETAR) (figura 2), que estão encarre-
gadas de depurar todas as águas residuais de procedência
226
antropogénica. Nestas estações, leva-se a cabo com cada
vez maior frequência uma digestão anaeróbia das lamas
produzidas na fase primária (aeróbia), com a finalidade de
produzir biogás para ser usado como combustível.
Figura 2
Esquema de uma ETAR.
Dentro deste tipo de biomassa proveniente do sector indus- • Águas residuais de processo: são geralmente
trial, podemos distinguir os seguintes produtos: usadas em etapas da lavagem e concentração nos
processos industriais e não podem ser despejadas
Resíduos sólidos nos rios sem um tratamento prévio em Estações
Depuradoras de Águas Industriais (ETAR).
• Provenientes das indústrias de primeira transfor-
mação da madeira, como são os resíduos de • Licor negro: são águas residuais provenientes do
serrações (serrim, aparas, cascas, cortes). processo de elaboração da pasta de papel.
• Extracção: 6,55 €/t.
• Aparo: 13,55 €/t.
• Corte, empilhamento e transporte: 13,20 €/t. Este sistema tem uma boa aplicação para clareiras de pinho
ou eucalipto, em pequenas propriedades de acesso
Não é o sistema mais barato de extracção da biomassa, complexo, sempre e quando o consumidor seja de tamanho
dado a dimensão do material que é necessário manusear. médio ou grande, com um raio de abastecimeno amplo.
Secagem de restos e aparo ou trituração fixa Segundo um estudo feito em 2004, o custo total de todo
Fundamentalmente consiste na separação dos restos este processo seria de 15,6 €/m3, incluindo transporte a 80
durante o aproveitamento do produto, deixando os resíduos km e corte na fábrica. Para uma densidade de 450 kg/m3,
concentrados, estes são acondicionados para pré-secagem representaria um custo total de 34,67 €/t.
e posterior trituração através da trituradora incorporada no
camião.
2.1.2. Agrícola
228
2.2. Pré-tratamento
A utilização energética dos recursos biomássicos tem uma
série de limitações devidas à sua própria natureza e hetero-
geneidade.
• Baixa densidade.
2.2.4. Secagem
As briquetes e os pellets são combustíveis de grande quali- Hoje em dia existe tecnologia mais do que suficiente e
dade; devido a isso têm um maior valor acrescentado e, fiável para conseguir um aproveitamento energético da
apesar do seu elevado custo, a sua produção é rentável. biomassa, entre as quais cabe destacar:
Estes combustíveis são utilizados para aquecimento, ar
condicionado e água quente sanitária em aplicações domés- • Combustão.
ticas.
• Gaseificação.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
231
• Pirólise.
• Digestão anaeróbia.
3.1. Combustão
A combustão define-se como uma reacção química relativa-
mente rápida, na qual se combina o oxigénio do ar (carbu-
rante) com os diferentes elementos oxidáveis que contém
o combustível; no processo origina-se uma libertação de capítulo 10
calor. As reacções típicas de um processo de combustão
completo são detalhadas de seguida:
2C + O2 = 2CO
2CO + O2 = 2CO2
Cn Hm Ox + 2H2 + O2 = 2H2O
S + O2 = SO2
• Queima de sólidos carbonosos: ruptura e vapori- As caldeiras de grade usadas actualmente são:
zação de moléculas grandes a mais pequenas,
oxidação. • Grade fixa com alimentação inferior:
Neste sistema o combustível é carregado na grade
Os equipamentos que se empregam na combustão de através de um parafuso sem-fim desde a zona inte-
biomassa podem-se classificar do seguinte modo: rior. A carga é gerada pela parte frontal ou por qual-
quer dos lados da caldeira.
TabEla 5
Propriedades dos combustíveis biomássicos.
Fonte: Sistemas automáticos de aquecimento com biomassa em edifícios, Guia práctico da Comunidade de Madrid.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Existem dois tipos de sistemas segundo a colocação • Temperatura uniforme (melhor controle, menos escó-
da grade: rias, menos partículas não queimadas).
233
• Diversidade de combustíveis.
• Gaseificação com oxigénio: troca-se o ar por
oxigénio na reacção e produz-se um gás através do
234
conteúdo energético (10 MJ/Nm3 - 20 MJ/Nm3).
• C + H2O = CO + H2 + 130,2 MJ
figura 3
Esquemas de funcionamento de gaseificadores: da esquerda para a direita: gaseificador updraft, gaseificador de leito
fluidizado e gaseificador downdraft.
Gás
SECAGEM produto SECAGEM
PIRÓLISE PIRÓLISE
Produtos
de pirólise
Char Gases Cinzas
Agente
gaseificante OXIDAÇÃO
Agente Gases
gaseificante produto
• 2CO + O2 = 2CO2 – 564 MJ • Pode usar-se o gás em motores, com posterior geração
de energia eléctrica.
235
• CO + H2O = CO2 + H2 – 40,67 MJ
• Pode usar-se para ciclos combinados (maior
• CO + 3H2 = CH4 + H2O – 206,2 MJ eficiência).
• Mais limpa.
3. Formam-se muitos alcatrões. Hoje em dia já existe tecnologia de gaseificação fiável, que
oferece alto rendimento e que não apresenta problemas de
4. Perigo de fusão de cinzas. alcatrões devido à configuração dos reactores e às
condições nas quais se produzem as reacções no seu inte-
5. Tipos: rior.
figura 4
Esquemas de funcionamento de um processo de digestão anaeróbia.
Homogeneização Biogás
Digestão Eliminação
e/ou separação Anaeróbia do H2S
Purinas
Lodos
Aquecimento
Águas
Rega
Fonte: AEDIE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
premissas o bom funcionamento da carga e descarga, a reduzir a efectividade e inclusivamente eliminar certas
transmissão do calor e a agitação. bactérias.
237
As bactérias são muito sensíveis à temperatura. Existem São melhores e mais fiáveis os digestores de aço inoxidável
duas franjas entre 30 ºC - 40 ºC (mesófila) e entre ou de materiais compostos.
50 ºC - 60 ºC (termófila), nas quais a metanização é
melhor. De forma simplificada, as fases que se produzem no
digestor são:
• Faixa mesófila
• Entrada de grandes moléculas orgânicas no
- Processo mais lento. digestor.
- Redução da dependência de energia externa. Um caso concreto, cada vez mais generalizado, são as
caldeiras de pellets. Devido às características do pellet: poder
- Exportação e venda de excedentes eléctricos. calorífico, compactação, etc. As caldeiras projectadas para
este tipo de combustível são muito eficientes e mais
- Redução de emissões contaminantes e de efeito compactas que o resto das caldeiras de biomassa.
estufa.
Para a escolha de uma caldeira deste tipo deve-se ter em
- Redução do consumo de energia no transporte conta uma série de características:
de electricidade e combustíveis.
• Fiabilidade do sistema.
4. Aplicações
• Rendimento da combustão da caldeira. Quanto mais
elevado, o consumo será menor e melhorará a eficiência
do sistema.
4.1. Aquecimento
A biomassa, do mesmo modo que o gás ou o gasóleo, serve • Cumprimento da legislação de emissões de gases e
para alimentar um sistema de climatização (calor e frio). partículas.
Actualmente existem muitos biocombustíveis sólidos que se
utilizam em sistemas de climatização de edifícios, entre os • Sistema de regulação e controle simples para o utili-
quais se destacam pela sua grande qualidade os pellets e as zador.
briquetes. Para além disso, também é usual a utlização de
coroços de azeitona, cascas de frutos secos, etc. • Automatização do sistema de limpeza.
figura 5
Esquema do processo de biodigestão.
Ácidos
Acidogénese CO2 + H2
Moléculas voláteis
Orgânicas Hidrólise
insolúveis Ácido
acético
CH3COO- + H2O
Metanogénese
CH4 + 2H2O CO2 + 4H2 Hidrogenotrófica
Fonte: AEDIE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• Caldeira: câmara de combustão, zona de inter- A utilização do sistema de absorção, como alternativa a
câmbio, cinzeiro, e caixa de fumos. grupos de arrefecimento accionados por electricidade
aumenta o número de horas anuais de utilização da caldeira
• Chaminé: igual a um sistema convencional. de biomassa, melhorando a sua rentabilidade. Por outro
lado, utiliza pellets em épocas de calor, quando estes são
• Sistema de distribuição de calor: igual a um conven- mais baratos por haver menos procura.
cional.
• Sistema de regulação e controle: igual a um sistema 4.3. Produção de calor industrial a partir
convencional quanto à interface do utilizador.
de biomassa
Esta geração realiza-se através de caldeiras. As caldeiras de
biomassa têm na actualidade umas prestações superiores
às de carvão, gasóleo ou gás. Estas caldeiras aproveitam o
calor gerado pela combustão da matéria orgânica como
serrim, estilhas, madeira triturada e preparados para a Com potências entre 15 kW e 100 kW, e a possibilidade de
combustão como os pellets, sendo estes transmitidos ao utilizar como combustível madeira, pellet ou material resi-
240
sistema de aquecimento ou produção de calor, que alcança dual triturado, a utilização destas caldeiras é a melhor opção
um rendimento de 96%. Estas caldeiras têm dispositivos em aplicações como serrarias ou secadores de madeira nos
de limpeza automática e tecnologia que regula o seu funcio- quais a procura energética térmica necessária ao processo
namento. de secagem da madeira une a disponibilidade permanente
e combustível de baixo custo, que permite por sua vez a
O esquema geral de uma caldeira consiste em: eliminação de resíduos que de outro modo iriam requerer
um espaço para o seu armazenamento ou tratamento com
• Funil de biomassa. os respectivos custos derivados.
• Parafuso sem-fim que leva a biomassa ao quei- A caldeira representada na figura anterior utiliza-se na
mador. indústria de serração. A sua função é de gerar calor para
secar o serrim, que servirá para a produção dos pellets à
• Queimador. posteriori. Como combustível destas caldeiras utilizam-se
resíduos da própria serração, o que torna ainda mais inte-
• Permutador de calor tubular. ressante a sua utilização.
• Quadro eléctrico que torna a caldeira automática. Quando se pretende uma autonomia superior nos sistemas
de geração de calor biomássicos é necessária a construção
A instalação da biomassa é a mesma que uma de gasóleo. de um silo de armazenamento de biomassa.
Apenas a chaminé deverá ser inoxidável e o tanque de
expansão um pouco maior. Estes silos de armazenamento são compostos por remo-
vedor de pás flexíveis, com motor e reductor que alimenta
As caldeiras de biomassa podem ser domésticas ou indus- um parafuso / tubo sem-fim que por sua vez realiza o forne-
triais. Estas últimas podem alcançar os 1.500 kW e se forem cimento de combustível desde o silo de armazenamento
sistemas de multicombustível os 6.000 kW. até ao interior da caldeira de biomassa.
4.4. Cogeração
A cogeração é o sistema mais eficaz para o aproveitamento (PNAER) e do Programa E4, assim como dos novos objec-
de um combustível, já que geralmente um sistema de tivos que se incluam no PNAER, serão revistas as tarifas,
241
produção eléctrica alcança uma eficiência em torno dos prémios, complementos e limites inferior e superior defi-
30% (ciclos de vapor, turbinas, motores, etc.), deixando nidos agora, atendendo aos custos associados a cada uma
escapar todo o seu calor residual, pelo que com um sistema destas tecnologias, ao grau de participação do regime
de cogeração o rendimento do combustível pode chegar especial na cobertura da procura e à sua incidência na
até uma eficiência de 85%. gestão técnica e económica do sistema, garantindo sempre
umas taxas de rentabilidade razoáveis com referência ao
custo do dinheiro no mercado de capitais. A cada quatro
4.4.1. Enquadramento legal anos, a partir de então, será realizada uma nova revisão na
4.4.1.1. Visão geral qual se manterão os critérios anteriores.
A produção de electricidade a partir de fontes renováveis As revisões às quais se refere esta secção da tarifa regu-
como a biomassa está regulada desde 1999, com a apro- lada e dos limites superior e inferior não afectarão as insta-
vação do Decreto-Lei n.º 168/99 texto que regulava a lações cuja introdução tenha sido outorgada antes de 1 de
produção de energia eléctrica em regime especial. Publi- Janeiro do segundo ano posterior ao ano em que se tenha
cou-se também em Setembro de 2006 o Decreto-Lei nº efectuado a revisão.
178/2006, de fomento à cogeração.
Uma revisão de tarifas tem efeito apenas sobre as centrais
Com a aprovação do novo decreto lei cria-se um cenário que tenham entrado em funcionamento a partir de 1 de
favorável para as cogerações com biomassa, especialmente Janeiro do ano seguinte à sua publicação. O objectivo é dar
rias orgânicas e deve ser assinalado que não estão - Produções sazonais. É necessário armazenar
apenas associadas à biomassa, sendo também a biomassa para garantir o fornecimento
243
produzidas em grandes quantidades na combustão durante o ano ou combinar distintas culturas
incompleta do carvão e dos derivados do petróleo, ou culturas e resíduos.
como a gasolina.
águas termais ou até superior quando há borbulha- Figura 1 Tipos de depósitos segundo a temperatura.
mento de gases.
249
Considera-se energia geotérmica de baixa temperatura Deste modo, e tendo em conta as distintas possibilidades
aquela na qual os fluidos estão a temperaturas inferiores a de reservatórios, classificam-se os sistemas de obtenção
100 ºC. Esta energia utiliza-se para aproveitamento directo de energia geotérmica em três grupos:
como necessidades domésticas, urbanas, agrícolas ou
processos industriais. • Sistemas hidrotérmicos
• Sistemas geopressurizados
motos locais, do ruído sísmico (microterramotos) e
• Sistemas de rocha quente dos materiais quaterbários deformados.
250
• Estudos de teledetecção, fotografia satélite e foto- Após se terem comprovado os recursos geotérmicos e
grafia aérea. Fornecem a situção da zona no quadro conhecido os parâmetros principais através das sondagens
geral da tectónica de placas e facilitam a limitação de reconhecimento (temperatura, pressão, caudal, quali-
das grandes linhas de fractura. dade química, etc.) realiza-se a sondagem de exploração,
através de uma máquina de perfurações. Se é de pouca
• Estudos de sismicidade, ruído sísmico e neo-tectó- profundidade, até uns 200 m – 300 m, utiliza-se uma
nica. Para o reconhecimento e quantificação do movi- máquina de fazer poços de água potável, ao passo que para
mento actual das falhas através do estudo dos terra- perfurações de até 2.000 m se utilizam torres de perfuração
petrolífera.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Há casos em que a qualidade química da água representa importante ebulição do fluido geotérmico e para utilizar o
um perigo para o meio ambiente por causa do excesso de calor contido nos fluidos residuais das centrais de sepa-
251
salinidade, como acontece na bacia de Paris. Sendo assim, ração de vapor.
depois de se extraírem calorias da água, tem que se rein-
jectar esta no subsolo, dentro do mesmo aquífero, para Figura 2
manter a pressão. Isto obriga a fazer dois poços de explo- Diagrama de uma Central de separação de vapor.
ração em vez de um, denominados doublets. Os poços têm
que estar separados na parte inferior para não voltarem a
recolher a água arrefecida que se acaba de injectar. Esta
separação tem que ser de várias centenas de metros e
pode ser feita verticalmente separada a esta distância ou
um ao lado do outro, desviando-os a muita profundidade. A
técnica de desvio de poços resulta da tecnologia petrolí-
fera, podendo chegar a ser feito o ângulo e a situação de
desvio com uma precisão muito elevada.
e promulgadas em 1979 como resposta à primeira crise sanitária (AQS) que variam dependendo da zona climática
petrolífera. Concretamente, a secção energética da nova onde se vai proceder à instalação, entre 30% e 70%.
legislação (CTE-HE) completa e moderniza os métodos e
unidades de cálculo da procura energética dos edifícios, Regulamento das Características de Comportamento
harmonizando-os com os do resto da União Europeia e Térmico dos Edifícios (RCCTE) proíbe o aquecimento de
sublinhando a necessidade de poupança energética através piscinas ao ar livre e em geral todos os espaços abertos
de dois parâmetros: através de fontes de energia convencionais. Se a piscina é
coberta, uma parte das necessidades energética de aqueci-
• Um projecto eficiente dos edifícios, que diminua a mento da água deverão ser cobertas através de fontes de
procura energética. energia renovável, que devem cumprir em todo o caso as
exigências fixadas na contribuição solar mínima de água
• E a utilização de energias renováveis, com a finali- quente sanitária do SCE.
dade de reduzir o uso das energias convencionais.
As exigências solares mínimas nem sempre são fáceis de
Quanto à água quente sanitária, o Sistema de Certificação cumprir, seja por motivos de espaço, de construção ou
Energética (SCE) estabelece a obrigatoriedade de cobrir outros. Neste sentido e ao ser a energia geotérmica uma
uns mínimos da procura energética para a água quente
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
energia renovável, pode ser utilizada como alternativa para Uma bomba de calor geotérmica é um sistema que cede e
cumprir os regulamentos. absorve o calor do terreno através de um conjunto de tuba-
253
gens de polietileno enterradas. É formada por: uma grande
A energia geotérmica pode ser utilizada de forma directa massa térmica (solo) que permite ceder/extrair calor, um
para aquecimento ambiente e para a produção de água conjunto de tubagens enterradas pelas quais circula água/
quente, bem como através de bombas de calor geotér- anticongelante com permutador de calor enterrado e um
micas, que utilizam a energia armazenada no solo para sistema hidráulico do tipo bomba de calor água/água
aquecer e arrefecer edifícios. sistema interior.
Deve destacar-se que a produção de Água Quente Sanitária Se bem que o custo de um sistema deste tipo é elevado, tal
(AQS) através de geotermia/aerotermia apresenta rendi- facto pode ser superado tendo em conta que os custos de
mentos económicos e ambientais muito superiores ao manutenção são menores do que nos sistemas tradicio-
métodos convencionais (caldeira de gasóleo ou de gás, nais, para além de existirem subsídios para a sua insta-
aquecedores instantâneos de gás, aquecedores eléctricos, lação.
etc.).
Pelo contrário, têm uma série de vantagens que podem
Consequências da implementação do SCE tornar atractivas estas instalações, como seja:
• Segundo estudos realizados, a implementação de 1. Poupança energética, ao ter um COP (relação entre
sistemas de Energias Renováveis (ER) e outras a energia que proporciona a máquina e a que forne-
• Segundo os especialistas, o aumento do custo das 2. Isto traz consigo uma poupança económica ao gastar
habitações pela colocação de sistemas de ER será menos energia eléctrica.
de 1% e 3%, o que resulta totalmente razoável. O
custo será logicamente mais importante em habi- 3. Biosegurança. Elimina torres de arrefecimento e,
tações unifamiliares, ao passo que em habitações portanto, riscos de legionelose.
colectivas será mais razoável.
Figura 4
Esquema de uma bomba de calor em aquecimento.
255
1.7.7. Balneários
As principais características positivas do ponto de vista Por seu lado, o amoníaco é irritante e o rádon é cancerígeno
ambiental são: por inalação, mas as emissões são normalmente baixas e
não causam problemas.
• Produzir energia a partir de um recurso renovável e,
portanto, evitar o esgotamento das reservas de As emissões de boro e mercúrio são normalmente muito
combustíveis fósseis; baixas, pelo que não constituem um risco para a saúde. De
igual modo, estes metais podem depositar-se nos solos e
• Não originam ruídos nem fumos, não exigem medidas se forem transportados por escoamento podem contribuir
sofisticadas de segurança e não produzem resíduos para a contaminação das águas subterrâneas e superfi-
difíceis de eliminar. ciais.
Não se geram emissões de dióxido de carbono (CO2), Contaminação dos cursos de água superficiais
dióxido de enxofre (SO2) e dióxido de nitrógeno (NO2) como Os problemas de contaminação podem resultar da depo-
sucede nas centrais de produção de energia convencionais sição na superfície de fluidos geotérmicos, os quais contêm
e, portanto, contribuem para alcançar os objectivos colo- uma grande variedade de iões (sódio, potássio, cálcio, flúor,
cados pelo Protocolo de Quioto sobre a redução de emis- magnésio, iodatos, silicatos, iodatos, antimónio, estrôncio,
sões contaminantes. biocarbonato, etc.). aqueles que causam maior preocu-
pação são os químicos de maior toxicidade como: boro,
• Aproximam-se os centros de produção de energia lítio, arsénico, sulfureto de hidrogénio, mercúrio, rubídio e
dos centros consumidores; portanto elimina-se a amoníaco. A maioria deles diluem-se e permanecem em
necessidade de grandes infraestruturas de transporte solução na água pelo que podem penetrar na vegetação
(como linhas eléctricas, oleodutos, etc.) com os aquática e dali passar para os peixes.
impactos ambientais que estes acarretam.
Contaminação do solo e das águas subterrâneas
No entanto, estas características positivas podem variar A contaminação das primeiras camadas de água subte-
em função da fase em que se encontre o projecto. rrânea podem resultar de:
mento de energia geotérmica que trabalham a altas tempe- profundidade, mas na actualidade é muito estranho
raturas. Estas situações podem ser evitadas controlando e se algum destes eventos ocorrer. A sua frequência
257
mantendo a pressão das reservas de água. pode ser ainda mais minimizada através da utilização
de equipamentos de prevenção de projecções e utili-
Os níveis de água podem diminuir como consequência de zando procedimentos de perfuração correctos.
rupturas nas paredes de poços em desuso; esta situação
pode ser prevenida, monitorizando o estado destes poços • As erupções hidrotermais são raras e ocorrem quando
e reparando-os rapidamente perante qualquer problema. a pressão do vapor nos aquíferos se intensifica e
ejecta até à superfície a terra que os cobre. Manter a
Colapso ou subsidência do terreno pressão nas reservas pode ajudar a reduzir a
Nas localizações geotérmicas, os fluidos geotérmicos são frequência da ocorrência de erupções; também se
retirados dos aquíferos a uma taxa superior à de entrada devem evitar as escavações em terrenos com activi-
natural do líquido nelas. Isto pode compactar as formações dade termal.
rochosas no lugar e chegar à subsidência do terreno. Há
muito pouco a fazer a este respeito, o único que se pode • Muitas das localizações de aproveitamentos de
levar a cabo para evitar estes efeitos é manter a pressão do energia geotérmica encontram-se em terrenos
aquífero. acidentados e é por isso que são mais susceptíveis
do que um terreno plano a deslizamentos do solo.
Uso do solo Isto pode ocasionar graves acidentes se as rochas
As centrais de aproveitamento da energia geotérmica que caem danificam a cabeça dos poços ou tuba-
TabEla 2
Probabilidade e gravidade do impacto sobre o meio ambiente.
Contaminação do ar B M
Contaminação do subsolo B M
Problemas socio-económicos B B
uma central maior tenderá a custar menos por quilowatt do centrais, encontra-se outra categoria: as micro-centrais de
que uma pequena de tipo similar. menos de 100 kW de potência.
259
Esta vantagem a favor da central maior deve-se em parte à As centrais mini-hídricas são um bom negócio, já que
distribuição do sobrecusto administrativo entre um maior durante os 25 anos de vida média que têm, cerca de 20%
número de quilowatts, em parte as outras poupanças gerais dos investimentos previstos para a construção de novas
da manufactura em grande escala e, finalmente, ao feito de centrais mini-hídricas contarão com subsídios e ajudas do
que as centrais maiores podem utilizar pressões e tempera- Governo.
turas mais elevadas, o que resulta numa maior eficiência e
na possibilidade de acomodar um maior número de etapas Numa central pode-se chegar a contratar 19 pessoas aproxi-
numa turbina de um só eixo. madamente durante a etapa de construção. Depois, para a
manutenção da instalação e sua operação, preve-se a contra-
As duas razões fundamentais para estes efeitos de escala tação de 1,4 pessoas/ano.
nas centrais geotérmicas são as seguintes
2.1.1. História Presente
1. Os custos de perfuração são mais ou menos directa-
mente proporcionais à capacidade da central insta- As centrais mini-hídricas tiveram o seu auge no princípio do
lada. século XX, quando se construiram numerosas centrais deste
tipo para poder abastecer aldeias e indústrias isoladas. Nos
2. Os custos dos turbogeradores estão mais ou menos finais do dito século, muitas destas centrais foram substi-
A fonte energética da energia hídrica é, em última instância, Existe um conjunto de situações que dificulta e impede o
a energia solar, já que é esta a que regula o ciclo hidrológico. processo de licenciamento e a sua tramitação em tempo
Apesar da água ser um recurso renovável, devido à sua útil. A partir de 1994, um dos principais constrangimentos
continuidade e ao seu carácter supostamente inesgotável, diz respeito à aplicação do regime jurídico de Reserva Ecoló-
apenas são consideradas como energia renovável as centrais gica Nacional (REN), obrigando o reconhecimento de inte-
hidroeléctricas de menos de 10 MW de potência e que resse público o que exigia, entre outras condições, a atri-
tenham uma barragem (no caso de a terem) de menos de 15 buição pela Assembleia Municipal de uma declaração de
m de altura, devido ao grande impacto ambiental que utilidade pública municipal. A taxa de realização dos
produzem as de maior potência. Pequenos Aproveitamentos Hídricos (P.A.H.) é, actualmente,
muito baixa devido também a outros factores, dos quais se
As centrais hidroeléctricas com uma potência instalada de destacam:
menos de 10 MW são conhecidas como centrais mini-hí-
dricas. Estas centrais são consideradas renováveis devido a • Dificuldade na obtenção de licenciamentos, sujeitos a
que os sistemas de distribuição e gestão são muito dife- um processo extremamente complexo onde intervêm,
rentes dos empregues nas centrais de elevada potência, sem aparente coordenação, diversas instituições e
pelo que se diminui o impacto ambiental. Dentro das mini- ministérios.
• Dificuldade na ligação à rede eléctrica nacional por Entretanto, foram dados alguns passos no sentido de
insuficiência da mesma e, ainda, por outras dificul- eliminar algumas dificuldades do licenciamento, nomeada-
260
dades processuais e operacionais. mente a publicação do Despacho do MAOT n.º 11091/2001,
de 25 de Maio, e a aprovação do designado Programa E4
• Ausência de critérios objectivos na emissão de pare- (Eficiência Energética e Energias Endógenas) e dos
ceres de diversas entidades e na apreciação dos diplomas complementares que se lhe seguirão.
estudos de carácter ambiental.
Para prosseguir o objectivo que o País se propôs, conside-
• Eventual opinião negativa de agentes locais. ra-se fundamental:
• Escassez de meios humanos na Administração para • Uma melhor articulação entre os vários organismos
tratamento dos processos de licenciamento. intervenientes no processo de licenciamento dos
P.A.H. e adequação da legislação ao mesmo apli-
No início de 2001, a situação podia resumir-se ao impasse cável.
quase completo no licenciamento dos P.A.H.. Se a insta-
lação de novas centrais está comprometida, é também de • A eliminação de algumas indefinições relativas a
referir outro problema: a legalização e licenciamento de competências legais na área da gestão do domínio
aproveitamentos existentes titulados por antigas conces- hídrico e a clarificação da intervenção do poder local
sões. nos processos de novos aproveitamentos.
TabEla 3
Barreiras e medidas propostas.
Barreiras Medidas
Incerteza sobre o potencial hidroeléctrico Definição, avaliação e quantificação do potencial hidroeléctrico a des-
por desenvolver. envolver, viabilidade técnica e ambiental.
Fomentação de concursos Aproveitamento hidrológico dos
Existência de infraestruturas públicas sem aprovei-
públicos em infra-estruturas do caudais ecológicos não aproveita-
tamento hidroeléctrico.
Estado. dos.
Regularização de situações no domínio das concessões (expediente de
Centrais hidroeléctricas paradas e abandonadas.
caducidade).
Lentidão no outorga-
Falta visão global entre
mento das autorizações Armonização de procedimentos administrativos nas CCAA.
distintos organismos.
CCAA.
Falta de critérios específicos em medidas de cor- Desenvolvimento da regulamentação técnica de medidas de correcção
recção e aspectos ambientais. de centrais hidroeléctricas.
Importantes demoras na resolução sobre a Decla-
Harmonização de critérios ambientais
ração de impacto ambiental de novos projectos ou
para a execução de projectos.
ampliações.
Legislação de conexão, acesso à rede e condições
Novos Decretos Lei sobre acesso à rede e condições operacionais.
de operação obsoletos.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• Energia barata: os seus custos de exploraçao são Os tipos de centrais mini-hídricas classificam-se com base
baixos e a sua melhoria técnica faz com que se apro- em diferentes critérios, de potência ou de funcionamento.
veitem de maneira mais eficiente os recursos hidráu-
licos Classificação por Potência:
• Opera à temperatura ambiente: não são necessá- O produto do caudal de água pela diferença de altura em
rios sistemas de refrigeração ou caldeiras, que que se armazena a água define a potência de uma insta-
consome energia e, em muitos casos, contaminam. lação. Deste modo, as centrais podem classificar-se em:
• A regulação do caudal controla o risco de inun- • Mini centrais: potências inferiores a 1.000 kW.
dações.
262
• Pequenas centrais: potências inferiores a anterior pode-se observar uma fotografia de uma central
10.000 kW. de fluxo regulado (de base de barragem).
Classificação por tipo de fluxo: Outras não se encontram situadas junto à barragem,
estando situadas a uns metros da barragem e a água é
• Centrais de fluxo regulado dirigida até esta através de um canal. Uma vez lá, a turbina
São aquelas nas quais se pode regular a água através gera a energia que seja necessária.
de um depósito (ou reservatório) capaz de regular o
caudal superior a um dia. Isto é, têm a capacidade de Dentro das centrais de fluxo regulado existe um tipo de
turbinar no momento do dia em que seja mas neces- centrais que se devem assinalar, que são as centrais de
sário ou oportuno sem que existam perdas de água. bombagem ou centrais reversíveis. Estas centrais, para
Esta capacidade é geralmente aproveitada para fornecer além de possuírem uma ou várias turbinas, possuem
energia nos momentos de maior procura energética e também uma ou várias bombas, de tal modo que podem
assim regular dentro do possível o custo da energia. gerar electricidade ou bombear a água a montante da
barragem. Este tipo de centrais caracterizam-se por
Existem várias configurações dentro das centrais de terem dois reservatórios, um de águas a baixo e outro
fluxo regulado. A mais usual é a de base de barragem, acima. Isto permite que quando exista uma grande
na qual a central se encontra, como o próprio nome procura energética funcionem como centrais hidroeléc-
indica, junto do reservatório onde se realiza a produção tricas normais e em períodos de pouco consumo eléc-
de energia. trico bombeiam água para cima de modo a assegurar o
fornecimento eléctrico quando a procura assim o exija.
Em Portugal existem vários exemplos de mini-centrais
com configuração de base de barragem. Na imagem
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Finalmente, podemos indicar a central de La Seo de a água através das pás fixas e directrizes, não se projectem
Urgell em Espanha como um dos exemplos mais caracte- para as pás do rotor de forma frontal, tratando-se antes de
263
rísticos de centrais reversíveis, tendo instalada uma um deslizamento sobre elas, de tal modo que o sentido da
turbina Flyght que é capaz de trabalhar como turbina ou rotação do rotor não coincida com a direcção da entrada e
como bomba. saída da água.
• Centrais de água corrente A água, no seu percurso entre as lâminas do rotor muda de
As centrais de água corrente são muito mais utilizadas direcção, velocidade e pressão. Tudo isso causa uma
nas mini-hídricas já que o impacto ambiental é muito reacção no rotor, o que dá origem à potência produzida na
menor. O problema é que ao terem um depósito de regu- turbina, cujo valor, paradoxalmente se torna função da carga
lação, a sua eficiência vem afectada, já que quando a perdida pelo líquido na sua deslocação. Como exemplo de
central para, toda a água que passa se perde e é energe- turbinas de reacção temos as Francis e as Kaplan.
ticamente ineficiente.
A turbina Francis foi desenvolvida por James B. Francis.
Para melhorar a eficiência destas centrais e para resolver Trata-se de uma turbina de reacção de fluido interno que
a falta de barragens, o que se utiliza geralmente são os combina conceitos tanto de fluido radial como axial.
açudes, pequenas barragens que se utilizam para elevar
o caudal dos rios e assim desviar parte dele. Por seu lado, As turbinas Francis são turbinas hidráulicas que podem ser
as centrais de água corrente podem ser de dois tipos: projectadas para uma ampla variedade de quedas e de
fluxos, sendo capazes de operar com intervalos de desnível
2.2.1. De reacção
Consideram-se turbinas de reacção aquelas nas quais cada Turbinas verticais numa central hidroeléctrica.
uma das lâminas de fluido que se forma, depois de passar Fonte: www.sxc.hu
A vantagem desta máquina consiste no aproveitamento de gralmente ao rotor. A esta classe de turbinas pertencem as
toda a queda disponível, até ao canal de drenagem. A cons- Pelton.
264
trução é complexa e o elevado regime de funcionamento
causa uma maior fricção e, portanto, desgaste da máquina. As turbinas Pelton funcionam de tal modo que o bocal lança
Para além disso sofre alguns problemas de vazamento que o jacto de água contra umas paletes em forma de colher
dificultam a sua utilização em centrais mini-hídricas, dupla, para manter equilibradas as forças na roda, que estão
podendo mesmo ser um factor impeditivo. uniformemente montadas na sua periferia. Cada palete
encarrega-se de captar a energia cinética da água que nela
As turbinas Kaplan são turbinas de água de reacção de fluxo incide e transmite-a para a roda, que faz girar a turbina.
axial, com um rotor que funciona de forma semelhante à
hélice de um barco. Muito parecida às turbinas utilizadas nas centrais maiores,
a turbina Pelton pode ser de eixo vertical ou horizontal e,
As lâminas do rotor nas turbinas Kaplan são sempre regulá- devido ao seu baixo regime de funcionamento, é geral-
veis e têm a forma de uma hélice, ao passo que as lâminas mente utilizada em quedas grandes e de pressões elevadas.
dos distribuidores podem ser fixas ou reguláveis. As turbinas Pelton são de fácil e sólida construção, ocupam
pouco espaço, têm um rendimento bastante elevado, não
Se ambas são reguláveis, diz-se que a turbina é uma turbina geram problemas de vazamento e podem chegar a ter até
Kaplan verdadeira; se apenas são reguláveis as lâminas do seis jactos de água.
rotor, diz-se que a turbina é uma turbina semi-Kaplan. As
turbinas Kaplan são de entrada radial enquanto que as semi-
Kaplan podem ser de entrada radial ou axial. 2.3. Nova regulamentação de retribuição
Para a sua regulação, as lâminas do rotor giram em torno do Em Portugal existe apenas uma forma de vender energia
seu eixo, accionados por alças, que apoiam as bielas articu- eléctrica produzida, que é através de uma tarifa regulada. Já
ladas a uma cruzeta, que se move para cima e para baixo em Espanha além da tarifa regulada é possível ainda parti-
pelo interior de um eixo oco da turbina. Este movimento é cipar no mercado de produção eléctrica.
accionado por um servomotor hidráulico, com a turbina em
movimento. Na tarifa regulada existe discriminação horária, ou seja, a
mini-hídrica pode beneficiar desta forma de pagamento na
Nos casos em que a água apenas circule em direcção axial qual a tarifa regulada é calculada como o produto do tempo
pelos elementos do rotor, teremos turbinas de hélice ou num determinado período e a tarifa correspondente.
Kaplan. As turbinas Kaplan têm lâminas móveis para se
adaptarem ao estado da carga. TabEla 4
Horários de Verão e de Inverno de horas de cheias e vazio
Estas turbinas asseguram um bom rendimento com baixas (Média Tensão - MT).
velocidades de rotação.
Inverno Verão
As turbinas de hélice caracterizam-se pelo facto de tanto as
lâminas do rotor como as do distribuidor serem fixas, pelo Cheias Vazio Ponta Vazio
que apenas se utilizam quando o caudal e a queda forem
praticamente constantes. 22 h - 24 h 23 h - 24 h
8 h - 22 h 9 h - 23 h
e0h-8h e 0 h - 9 h
Fonte: ERSE
2.2.2. Acção
sua potência instalada e a data de entrada em funciona- Outra possível alternativa é a utilização de sistemas híbridos
mento. (sistema de duas ou mais formas de geração energética),
265
No mercado de produção eléctrica, o preço de venda da que asseguram um funcionamento contínuo sempre e
electricidade é o preço resultante no mercado ou o nego- quando tenham o apoio de uma fonte de energia conven-
ciado livremente pelo titular ou representante da instalação, cional. Normalmente são constituídos por uma fonte de
ao qual se acresce o prémio relativo às mini-hídricas. energia convencional e uma alternativa, mas também se
podem utilizar duas fontes alternativas. Estas instalações
são complementadas com baterias de armazenamento e
rectificadores de potência para obter um sinal de maior
2.4. Aplicações qualidade.
As centrais mini-hídricas apenas necessitam de um
consumo energético para satisfazer e um curso de água do
qual obter a energia, que tenha uma queda de uns poucos
metros.
Quando fazem falta alguns quilowatts para alimentar um Estes sistemas complementam os seus benefícios e capítulo 11
frigorífico, um rádio ou a iluminação de um refúgio ou de podem substituir os geradores diesel habitualmente utili-
uma cabana alpina, pode-se inserir directamente no canal zados em áreas isoladas sem pontos de conexão à rede
de um pequeno curso de água uma turbina e um alternador próximos. Deste modo pode-se melhorar a eficiência da
selado, com o cabo da energia eléctrica a chegar directa- geração, já que permite um maior tempo de vida para estas
mente ao refúgio ou cabana. instalações, para além de uma redução considerável dos
custos de manutenção e uma melhor exploração dos
Do ponto de vista económico, a instalação deste tipo de recursos energéticos disponíveis.
centrais é conveniente quando as quedas de água e os
caudais são significativos. Nestas instalações, o fornecimento dos motores diesel é
mais representativa do que o necessário, pois realizam um
Adicionalmente também se utilizam estas instalações de trabalho auxiliar, já que as energias renováveis podem
tal forma que através de uma bomba accionada pelo gerador chegar a fornecer 80% - 90% da energia necessária.
(trabalhando em regime motor) se bombeia a água para
cima quando o preço da electricidade é baixo (noites), para A energia mini-hídrica depende das condições climáticas,
assim garantir um fornecimento mínimo para a seguinte pelo que a sua aplicação pode resultar inviável em determi-
hora de ponto de consumo. nados lugares nos quais os recursos hídricos sejam
escassos ou em períodos de seca.
Apesar das vantagens ambientais claras deste tipo de insta- gicamente, incidindo não apenas na metedologia, como
lações, é necessário que exista uma clara vontade políitica também nos materiais que se vão utilizar e a utilização de
266
para o fomento deste tipo de energia, já que, sobretudo no materiais pré-fabricados.
caso das centrais de menor dimensão, o esforço de inves-
timento não é proporcional à rentabilidade obtida. A inicia-
tiva pública é fundamental nestes casos, pelo que há que
considerar adicionalmente que muitas destas infra-estru-
turas são de propriedade parcial ou total do Estado e a sua
introdução realiza-se através de concessões administrativas
por concurso público.
• Diminuição de caudal.
• Contaminação sonora.
Neste capítulo é apresentada a actividade de produção de Como já se adiantou no primeiro capítulo deste Manual,
energia eléctrica nos diferentes contextos internacional e uma fonte de energia não é mais do que um depósito de
nacional. energia. Em função do seu nível de transformação são clas-
sificadas da segunte maneira:
Alguns especialistas classificam a energia eléctrica como
fonte de energia secundária ou vector energético (sistema • Primárias. São aquelas que se encontram directa-
capaz de armazenar energia e apartir dela obter energia mente na natureza, não tendo sido submetidas a
luminosa, térmica e mecânica), enquanto outros a consi- qualquer processo de transformação. Em função da
deram energia final (aquela que se consome directamente sua disponibilidade na natureza (quantidade limitada
nos sectores residencial, industrial e de transporte). Em ou inesgotável), podem classificar-se como não reno-
qualquer dos casos, do mesmo modo que outras fontes váveis (petróleo, carvão, gás e urânio) e renováveis
finais, esta obtém-se por aplicação de processos mecâ- (hidroeléctrica, eólica, solar e biomassa), respectiva-
nicos, físicos e químicos a partir das fontes de energia mente. As primeiras constituem 94% do consumo
primárias. mundial.
Ao longo deste capítulo serão revistos alguns temas-chave • Secundárias. Denominam-se também por vectores
(presente e futuro) da actividade de produção de energia energéticos. A sua missão é transportar e/ou arma-
eléctrica. Estes são: zenar a energia, mas não se consomem directa-
mente. As mais importantes são o hidrogénio e a
• Matérias-primas. Distribuição das fontes. Segurança energia eléctrica, a qual muitos especialistas (orga-
do abastecimento. Preços. nismos nacionais e internacionais) denominam
também electricidade primária. A partir dela obtém-se
• Emissão de elementos contaminantes durante a energia luminosa, mecânica e térmica.
produção de energia eléctrica.
• Finais. São aquelas que consumimos cada dia em
• Novos sistemas e tecnologias para uma produção habitações, indústrias e transportes. As principais
menos contaminante. são os derivados do petróleo (gasolinas, gasóleos,
querosene, butano, propano, etc.), o gás natural e a
Na segunda secção deste capítulo apresentam-se as princi- energia eléctrica. A partir delas extrai-se a energia
pais fontes de energia, sua classificação e a sua situação nas suas três formas possíveis, energia luminosa,
actual no mundo. mecânica e térmica. Cada uma destas, por sua vez, é
susceptível de converter-se em qualquer uma das
Na terceira secção mostram-se as principais tecnologias outras duas1.
utilizadas para produzir energia eléctrica.
Cada fonte de energia tem um diferente conteúdo energé-
Na quarta secção será feita uma exposição da situação tico (energia por unidade de massa). Pelo que é necessário
mundial das matérias-primas utilizadas na produção de ter em conta outros aspectos (principalmente os relativos a
energia eléctrica. custos, de localização, extracção, transformação, etc.), em
princípio, quanto maior seja o conteúdo energético de uma
Na quinta secção apresenta-se o contexto internacional da fonte, mais rentável será a sua exploração. As fontes com
produção de energia eléctrica (no mundo e na UE). maior conteúdo energético são as de origem fóssil (carvão,
petróleo, gás natural) e o minério de urânio.
Na sexta secção apresenta-se a actividade de produção de
energia eléctrica em Portugal. A unidade de medida de energia utilizada habitualmente é a
Tonelada Equivalente de Petróleo (tep). O seu valor é igual
Na sétima secção analiza-se o futuro da actividade e na ao da energia obtida na combustão de uma tonelada de
última apresenta-se uma relação de contactos de interesse petróleo e, portanto, irá variar em função do tipo de petróleo
para quem pretenda ampliar os conhecimentos.
1
“A energia não se cria nem se destrói, apenas se transforma”, frase conhecida por todos e que corresponde à primeira lei da Termodinâmica.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
considerado. A tep utiliza-se para fazer comparações e • Incineração de resíduos sólidos urbanos (RSU).
medir a qualidade energética dos diferentes combustíveis. Sétima fonte de consumo. Na década de 1990, foram
levados a cabo sistemas de incineração junto às
271
Quanto à situação em 2008 das fontes de energia primária grandes cidades, mas tornam-se sistemas impopu-
em Portugal, pode-se assinalar o seguinte: lares principalmente devido aos odores que emitem.
• Petróleo. Primeira fonte de consumo (42%). A partir • Solar térmica. Captação de energia térmica do Sol
dela, através de um processo denominado por refi- para aquecer a água consumida em processos indus-
nação, obtém-se os seus derivados (gasóleo, gaso- triais e residências. Teve início na década de 1980
lina, fuel, butano, propano, etc.) O seu consumo em com a crise do petróleo, mas encontra-se muito
Portugal em termos absolutos cresce a cada ano pouco desenvolvida. Representa uma percentagem
devido ao impulso adquirido pelo sector de trans- mínima entre as fontes de energia primária.
porte (público e privado).
• Solar fotovoltaica / Solar térmico. Até agora o seu
• Hidroeléctrica. Segunda fonte de consumo (15%). nível de consumo (para produzir energia eléctrica) é
Até 1970 representava uma percentagem mais rele- baixo, mas o seu potencial de crescimento é
vante na produçao de energia eléctrica. Uma vez que enorme.
foi paralizada a construção de barragens, não se
espera um grande desenvolvimento desta energia Quanto à situação das fontes de energia final em Portugal,
nos próximos anos. pode-se destacar o que consta na tabela 1:
• Armazenamento do combustível.
4. Matérias-primas para a produção
• Preparação prévia do combustível. de energia eléctrica
• Armazenamento do combustível preparado.
As centrais nucleares, de cogeração, termosolares e incine-
• Processamento (aplicação da tecnologia) do combus- radoras também funcionam com um ciclo de vapor. A prin-
tível para a obtenção de energia eléctrica. cipal diferença para as térmicas tem a ver com a matéria-
prima utilizada. Concretamente, as centrais de cogeração
• Distribuição da energia eléctrica. dispõem de um ciclo de vapor e outro de gás4.
2
Denomina-se ciclo de vapor porque a turbina funciona com vapor de água.
3
A 1ª Lei da Termodinâmica enuncia que “A energia não se cria nem se destrói, apenas se transforma”.
4
Para além da turbina de vapor, estas centrais dispõem de outra de gás (as pás são movidas pelos gases quentes e a pressão emitida na combustão do gás
natural).
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
8.000
7.000
4.1. Petróleo
6.000
Fonte: B
ritish Petroleum. (BP).
Os crudes de referência5 são os seguintes:
3
crude ligeiro no Extremo Oriente. capítulo 12
5
Em função do lugar de origem e sua gravidade API (Índice do American Petroleum Institute).
6
Um barril de petróleo Brent contém 159 l (1,3878 tep).
TabEla 3
Países que formam a OPEP 2007 • Existe um défice mundial de capacidade de refi-
274
nação7. As refinarias são instalações muito caras e
País Ano de adesão com períodos de retorno longos, pelo que, enquanto
se investigam novas fontes de energia, as compan-
hias petrolíferas estão relutantes em realizar os
Iraque * 1960 investimentos necessários. Excepto nos países da
antiga União Soviética, a capacidade de refinação
Irão * 1960 manteve-se constante durante a última década.
Muitos países não se deparam com problemas para
aceder a todo o petróleo que necessitam, mas antes
Kuwait * 1960
no seu processamento para obterem os seus deri-
vados (que são aqueles que realmente se consomem,
Arabia Saudita * 1960 nas centrais de produção de energia eléctrica, trans-
portes, indústria e residências).
Venezuela * 1960
• Mede-se em barris.
Qatar 1961
* Fundador. Fonte: Elaboração própria. • As reservas provadas são limitadas. Existe gás natural
para 70 anos.
Figura 3
Distribuição das reservas existentes de petróleo em 2006 (109 barris).
275
800 742,7
600
400
200 144,4
117,2
103,5
59,9
40,5
Fuente: B
ritish Petroleum (BP).
França representa 42% e 26% das fontes de energia • É um complemento perfeito para o petróleo e o gás
primária consumidas, respectivamente. natural em momentos de preços altos e/ou problemas
de abastecimento.
4.3. Carvão
4.4. Nuclear
De seguida apresentam-se alguns dos aspectos que
definem a sua situação actual: De seguida apresentam-se alguns dos aspectos que
definem a sua situação actual:
• É a fonte de energia mais utilizada para produzir
energia eléctrica é aquela cuja combustão origina • Actualmente há mais de 400 reactores nucleares em
mais emissões de CO2. Para além disso, do mesmo funcionamento no mundo. capítulo 12
modo que os derivados do petróleo, a sua combustão
emite partículas de enxofre (que causam chuvas • Os maiores produtores de energia nuclear são os
ácidas8). Por estes motivos, investiga-se no sentido Estados Unidos, França e Japão.
de obter os denominados carvões limpos (com
reduzida emissão de partículas prejudiciais). • Nos Estados Unidos 20% da energia eléctrica é
proveniente de centrais nucleares enquanto na
• Existem reservas provadas para 200 anos, muito França este valor atinge os 80%.
acima do petróleo e do gás natural, pelo que no futuro
continuará a ser uma das principais fontes de • Entre as vantagens da energia nuclear destacam-se
energia. as seguintes:
• As ditas reservas encontram-se localizadas em 1. Ao não ter uma origem fóssil (não possui átomos
muitos países (Estados Unidos, antiga União Sovié- de carbono), a sua exploração9 para obter energia
tica, China, Alemanha, etc.) sem conflitos.
8
enomina-se chuva ácida as precipitações de água que, contendo partículas de ácidos sulfurosos e nitrogenados em solução, têm lugar em forma de neblina,
D
chuva ou neve sobre a superfície terrestre. Estes ácidos formam-se pelo contacto do hidrogénio da água (H2O) com as moléculas de óxidos de enxofre (SOx) e
de nitrogénio (NOx) emitidas para a atmosfera pelo ser humano.
9
A energia térmica necessária para converter a água em vapor a alta pressão (ciclo de vapor) não se obtém da combustão de nenhuma matéria senão da fissão
(separação) de átomos de urânio.
eléctrica não emite CO2 nem outras substâncias • É uma tecnologia que complementa muito bem as
prejudiciais. restantes. No caso de ser necessário cobrir um pico
276
de procura de energia eléctrica, basta utilizar a água
2. O mineral de que provém a matéria-prima armazenada sobre as turbinas.
(urânio) é muito abundante em toda a crosta
terrestre e, apesar de apenas alguns países • Para muitos países em vias de desenvolvimento
(Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, China, representa a única alternativa para a produção de
França, etc.) disporem da energia necessária energia eléctrica.
para o enriquecimento, o urânio enriquecido é
barato em comparação com as outras fontes de
energia. 5. Contexto internacional da actividade de
produção de energia eléctrica
• Entre os seus inconvenientes destacam-se os
seguintes: Em primeiro lugar vai-se analisar a evolução da contribuição
de cada fonte de energia para a produção10 de energia eléc-
1. A construção de uma central nuclear requer trica durante o período 1971-2004. As principais conclusões
elevados níveis de investimento. extraídas são as seguintes:
2. Em caso de acidente na central nuclear, as • A fonte mais utilizada em todo o mundo para produzir
consequências podem ser desastrosas, tanto energia eléctrica é o carvão. A sua contribuição rela-
para o meio ambiente como para os seres tiva (percentagem sobre o total) manteve-se cons-
humanos em muitas centenas de quilómetros tante (próxima dos 40%) desde há mais de três
em seu redor. décadas.
3. Os resíduos (cúrio, neptúnio, amerício, etc.) • A contribuição relativa dos derivados do petróleo
mantém níveis de radioactividade prejudiciais desceu sensivelmente a favor do gás natural.
para o ser humano durante centenas ou até
milhares de anos, pelo que o seu armazena- • A contribuição da energia nuclear (construção de
mento e controle representam um dos desafios centrais) iniciou a sua escalada com a crise do
mais importantes para esta indústria petróleo dos anos setenta (desenvolvendo vias alter-
nativas para a obtenção de energia eléctrica).
4. Pelo potencial de destruição que teria a emissão
de partículas radioactivas para a atmosfera, as Desde o princípio dos anos noventa, a contribuição em
centrais nucleares converteram-se em objec- valor absoluto apenas cresceu como consequência da
tivos potenciais para ataques terroristas recusa social originada em todo o mundo.
• Nos últimos anos, devido ao forte aumento do preço • A contribuição até agora das fontes de origem reno-
do barril de crude de petróleo e de gás natural (GN), vável é insignificante.
foi reaberto o debate quanto à necessidade de desen-
volver novas centrais nucleares para reduzir a depen- Dada a importância que actualmente tem a energia eléc-
dência daqueles. trica na nossa sociedade, a análise deste tipo de gráficos
(consumo de energia eléctrica) resulta altamente interes-
sante, não apenas para conhecer a actividade da produção
4.5. Hidroeléctrica (passada, presente e tendências futuras) como também
para adquirir uma perspectiva alargada da situação geral da
De seguida apresentam-se alguns dos aspectos que energia no mundo.
definem a sua situação actual:
De seguida apresenta-se o mesmo gráfico correspondente
• O combustível (água) é gratuito. a alguns países significativos e os comentários que sugere
o seu estudo. O autor recomenda aos leitores interessados
• O nível de produção de energia eléctrica não é cons- a consulta, na página da Agência Internacional de Energia
tante (depende das chuvas). Num ano seco a (www.iea.org/Textbase/stats/index.asp), dos gráficos
produção diminui muito. correspondentes a outros países pelos quais possa ter
10
Dizer produção é praticamente o mesmo que dizer consumo - procura.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
6.000.000
Tanzânia e Etiópia
Dois dos países mais pobres do mundo cobrem a sua
4.000.000
procura interna de energia eléctrica com uma fonte autóc-
2.000.000
tone e gratuita: a água.
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04
Anos
Quanto ao futuro,os especialistas da União Europeia apre-
Carvão Petróleo Gás
sentam, para o período 2000-2030, as seguintes previsões
Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
de contribuição de cada um dos sistemas de produção de
Geotérmica / solar / eólica energia eléctrica:
GWh GWh
4.500.000 300.000
3.000.000
200.000
2.500.000
150.000
2.000.000
1.500.000
100.000
1.000.000
500.000 50.000
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04
Anos Anos
RÚSSIA ÁFRICA
1.000.000 500.000
800.000 400.000
600.000 300.000
400.000 200.000
200.000 100.000
92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04
Anos Anos
• Em geral, a contribuição das fontes renováveis Promovido também pela UE e elaborado por peritos fran-
aumentará significativamente. A eólica e solar vai ceses, belgas e espanhóis, foi elaborado o WETO11 e
crescer 20 vezes em valor absoluto, mas a sua contri- WETO-H2 com as previsões mundiais para o conjunto da
buição continuará a ser mínima. energia para 2030 e 2050, respectivamente. As mais rele-
vantes são estas:
• A cogeração ganhará peso tanto relativo (triplicará)
como absoluto (representará quase 5% do total). • 2030
11
World Energy, Technology and Climate Policy Outlook.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
279
GWh GWh
2.500.000 3.000
CHINA TANZÂNIA
2.500
2.000.000
2.000
1.500.000
1.500
1.000.000
1.000
500.000 500
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04
Anos Anos
Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
GWh GWh
Geotérmica / solar / eólica Geotérmica / solar / eólica
800.000 3.000
ÍNDIA ETIÓPIA
2.000
500.000
400.000
1.500
300.000
1.000
200.000
100.000 500
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 capítulo 12
Anos Anos
Mini-hídrica 148,4 258 • Tímida contribuição, nos últimos anos, das fontes de
origem renovável e biomassa (principalmente resí-
Total 14.866 34.723 duos).
12
Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Irlanda, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal, o Reino Unido, Suécia,
Suiça, Finlândia, República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Suécia
GWh É dos poucos países do mundo que tendo um alto nível de
4.000.000 vida é capaz de cobrir toda a sua procura de energia eléc-
trica com fontes autóctones (biomassa e energia hidroeléc-
3.500.000
trica). Para além disso, é um dos países desenvolvidos com
3.000.000 maior experiência na exploração da biomassa e dos resí-
duos para obter energia eléctrica.
2.500.000
GWh GWh
100.000 700.000
70.000 500.000
60.000
400.000
50.000
40.000 300.000
30.000
200.000
20.000
10.000 100.000
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04
Anos Anos
Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
GWh GWh
Geotérmica / solar / eólica Geotérmica / solar / eólica
600.000 10.000
7.000
400.000
6.000
5.000
300.000
4.000
3.000
200.000
2.000
100.000 1.000
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04
Anos Anos
CarvãoNuclear Hidroeléctrica
Petróleo Gás Comb. Nuclear
renew & waste Hidroeléctrica Nuclear
Comb. renew & Hidroeléctrica
waste Comb. renew
Geotérmica & waste
/ solar / eólica
Geotérmica / solar / eólica Geotérmica / solar / eólica
• A passagem para uma economia de hidrogénio Antes de apresentar a actividade de produção de energia
induzirá novas transformações na estrutura da eléctrica em Portugal, expõem-se de seguida algumas
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
283
GWh GWh
60.000 180.000
DINAMARCA SUÉCIA
160.000
50.000
140.000
120.000
40.000
100.000
30.000
80.000
60.000
20.000
40.000
10.000 20.000
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04
Anos Anos
200.000 250.000
200.000
150.000
150.000
100.000
100.000
50.000 50.000
capítulo 12
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04
Anos Anos
Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
características do sector energético no seu conjunto. São • Portugal é uma ilha energética. Não dispõe apenas
estas: de petróleo nem de gás natural. Encontra-se geogra-
ficamente situada no extremo sul da Europa. Dispõe
• Alta dependência face ao exterior. Aproximadamente de interconexões eléctricas a Espanha e de gás
85% das fontes de energia primária são importadas, natural (gasodutos) com Espanha e Argélia.
o que pode causar riscos inflacionistas e desequilí-
brios macroeconómicos em situações de preços do • Intensidade energética13 crescente. Desde há uma
petróleo em alta. década, a intensidade energética apresenta uma
13
Define-se a intensidade energética como o consumo de energia por unidade de PIB.
tendência crescente, ao revés do conjunto da UE, Inverno. Em ambos os casos a rede de transporte
onde decresce. Isto deve-se fundamentalmente a funcionou com total normalidade e não aconte-
284
uma baixa eficiência do sector produtivo português ceram cortes no fornecimento.
(utiliza mais quantidade de energia para produzir a Analiza-se de seguida a situação das principais
mesma unidade de produto). Um dos grandes desa- fontes de energia primária utilizadas para a produção
fios para o futuro imediato é dissociar o crescimento de energia eléctrica.
económico do consumo de energia.
Das figuras 8 e 9 verifica-se a contribuição das
• Quanto às emissões de CO2, Portugal é um dos distintas fontes de energia primária para a produção
países da Europa que mais dificuldade tem tido para de energia eléctrica, daí podem-se extrair as
cumprir os compromissos do Protocolo de Quioto seguintes conclusões:
(no período 2008-2012 deveria emitir uma quanti-
dade máxima de CO2 equivalente a 27% mais do • A produção de energia é maioritariamente prove-
que a emitida em 1990; em 2004 as emissões eram niente de centrais térmicas. Centrais que utilizam
41% superiores). como combustível o carvão e petróleo são cada vez
menos usadas, sendo substituídas pelas centrais
No que se refere ao sector eléctrico, cabe destacar o de ciclo combinado de gás natural.
seguinte:
• A contribuição hidráulica mantém-se constante nos
• O crescimento da economia portuguesa durante a últimos anos porque não foram construídas grandes
última década motivou o maior crescimento do centrais, à excepção do Alqueva (2004).
consumo de energia eléctrica da UE.
• Apesar de em 2009 a contribuição da biomassa,
• A produção de energia eléctrica tem aumentado resíduos sólidos urbanos, biogás e solar fotovol-
146.000 tep/ano desde 1990, aumentou cerca de taico ter sido mínima, esperam-se crescimentos
75% de 1990 a 2004. relevantes para os próximos anos.
• A procura de energia eléctrica aumentou quase 40% • Em 2009, a fonte com maior peso na produção de
desde 1990 a 2008 energia eléctrica foi o gás natural, seguido do carvão
e do petróleo. Os derivados do petróleo, do mesmo
• Em 2007, para uma potência total instalada no final modo que na maioria dos países, quase não se
do ano de 15.300 MW, foram produzidos 43 GWh e utilizam (a sua aplicação maioritária é no transporte
consumiram-se 49 GWh. A diferença deveu-se ao e aquecimento).
saldo negativo de exportações.
• Em 2009, as fontes de origem renovável represen-
• Portugal encontra-se situado numa banda baixa taram quase 35% (delas a eólica e a hidráulica
quanto aos preços da energia eléctrica. representaram cerca de 88%).
• Tempo de interrupção equivalente da potência insta- Comparando estes dados com os médios da UE, temos o
lada - TIEPI14 (índice que mede a continuidade do representado na tabela 5.
fornecimento). Em 2007, o valor do TIEPI variou entre
234,01 minutos na Área de Rede Vale do Tejo e 41,99 De seguida veremos a potência instalada em Portugal de
minutos na Área de Rede Grande Porto, situando-se cada uma das tecnologias de produção de energia eléc-
abaixo da média europeia. trica. Na imagem seguinte mostra-se e compara-se o mix
de produção15 e a cobertura da procura16 em 2007.
• Tradicionalmente, os picos anuais de procura de
energia eléctrica (instantâneos) tinham lugar no Da análise é interessante comentar o seguinte:
Inverno (consumo do aquecimento, menos horas de
luz), mas desde há alguns anos para cá, muito devido • O facto de que 30% da potência total instalada
à utilização de aparelhos de ar condicionado, os corresponde à energia hidráulica não quer dizer que
picos de Verão são praticamente iguais aos do 30% da energia eléctrica gerada provenha dela. No
14
De maneira simplificada, pode-se dizer que o TIEPI reflecte o seguinte quociente “(potência afectada pela interrupção x duração em horas da interrupção) /
potência instalada na zona”. Calcula-se anualmente (horas/anos) e para uma zona geográfica determinada.
15
Quanta potência instalada existe de cada tecnologia de produção (megawatts).
16
Com quanta energia contribuiu cada tecnologia para cobrir a energia eléctrica procurada (megawatts-hora).
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Figura 8
Evolução da contribuição das fontes de energia primária para consumo de energia eléctrica 1999 a 2009.
285
Fonte: APREN.
Figura 9
Balanço das fontes de energia primária utilizadas no consumo de energia eléctrica 2009
Fonte: APREN.
caso de 2007 as centrais hidráulicas funcionaram abaixo (cobertura da procura) pelas centrais de ciclo combi-
dasua capacidade nominal e produziram apenas 22% da nado e, em menor medida, as eólicas. Algumas das
energia total. principais companhias eléctricas deste país assi-
naram acordos de fornecimento a longo prazo com
• Da comparação entre a evolução da potência instalada e os principais países produtores de gás natural do
a cobertura da procura no período 2004-2006, o que mais norte de África.
se destaca é:
• A diferença da energia anual produzida em centrais
• O grande aumento da potência instalada (entrada em hidráulicas, apesar da potência instalada, mantém-se
funcionamento) e, paralelamente, da energia produzida constante. Isto deve-se ao nível de precipitações de
cada ano (2005 foi um ano mais seco que 2004 e • Foi a partir de 2000 , quando começou o maior desen-
2006). volvimento da energia eólica, a tecnologia mais rela-
286
vante era a hidráulica.
TabEla 5
Comparação Portugal-UE da contribuição de diferentes • Também em 2000 verificou-se o maior desenvolvi-
fontes para a produção de energia eléctrica. mento da tecnologia de combustão da biomassa
(madeira e resíduos vegetais). Até ao momento,
2005 Nuclear Renováveis Origem fóssil aumentou mais a produção eléctrica a partir desta
tecnologia do que a potência instalada.
Figura 10
Distribuição da potência instalada e do consumo por tecnologias (2007).
Figura 11
Energia Renovável anual entregue à rede por tecnologia [GWh]
287
chegar. Para 2020, a UE acordou que 20% da energia produção e comercialização de electricidade e a
total consumida deve ter origem nestas fontes. gestão dos mercados de electricidade organizados
Espera-se uma grande explosão para os próximos estão agora inteiramente abertas à concorrência,
anos. sujeitas à obtenção de licenças e aprovações neces-
sárias. Contudo, as componentes de transporte e
Até agora, todas as análises foram feitas do ponto de distribuição na indústria de electricidade continuam a capítulo 12
vista da oferta de energia eléctrica (fontes, potência ser desenvolvidas através de concessões públicas
instalada, cobertura da procura, etc.). Se nos fixarmos atribuídas.
na procura, temos que a repartição entre os sectores
da energia procurada em 2009 foram os seguintes: • De acordo com a Lei Base da Electricidade, o SEN
divide-se em seis grandes áreas: produção, trans-
A legislação nacional seguiu a Directiva de Electricidade e missão, distribuição, comercialização, operação do
definiu o enquadramento legal para sector eléctrico Portu- mercado eléctrico e operações logísticas facilitadoras
guês. O Decreto-lei 172/2006, conforme alterações intro- da transferência entre comercializadores pelos
duzidas, permitiu desenvolver mais o enquadramento legal consumidores. Salvo algumas excepções, cada uma
da actividade, estabelecendo regras para as actividades no destas áreas é operada independentemente, quer do
sector da electricidade. ponto de vista legal, organizacional ou decisório.
• Na sequência da implementação da Lei Base da Elec- • As actividades do sector eléctrico devem ser desen-
tricidade, os sectores vinculados e não vinculados do volvidas de acordo com princípios de racionalidade e
Sistema Eléctrico Nacional (SEN) foram substituídos eficiência na utilização de recursos ao longo de toda
por um sistema de mercado único; as actividades de a cadeia de valor (i.e., desde a produção até ao
consumo final de electricidade) e de acordo com os
princípios de concorrência e sustentabilidade
ambiental, com o objectivo de aumentar a conco- 1. Produzir energia eléctrica nas centrais.
288
rrência e eficiência no SEN, sem prejuízo das obri-
gações de serviço público. 2. Injectar a dita energia nas redes de transporte.
Desde a entrada em vigor da Lei do Sector Eléctrico (LSE), 3. Vender a energia, para o qual dispõem de duas
os principais actores que operam nele e os papéis que vias principais:
desempenham são os seguintes:
- Regime Ordinário: Em 30 de Junho de 2007,
• Produção. A produção de electricidade está sujeita a todos os CAEs contratados com a EDP sob a
licenciamento e é desenvolvida num contexto de Antiga Lei Base da Electricidade foram anteci-
concorrência. A produção de electricidade divide-se padamente extintos, conforme definido pelo
em dois regimes: regime ordinário e regime especial. Decreto-lei 240/2004. Em conformidade, todas
O regime especial corresponde à produção de elec- as centrais antes abrangidas por CAEs
tricidade a partir de fontes endógenas e renováveis passaram a operar segundo as regras de
(excepto grandes centrais hidroeléctricas). A Mercado.
produção em regime especial está sujeita a dife-
rentes requisitos de licenciamento e beneficia de - Regime Especial: A produção em regime espe-
tarifas especiais. O comercializador de último recurso, cial é primeiramente regida pelo Decreto-Lei
actualmente a EDP Serviço Universal, está obrigado 189/88, de 27 de Maio, e por alterações desde
a comprar a energia produzida sob o regime especial então introduzidas (incluindo Decreto-Lei
Português. O regime ordinário abrange todas as 312/2001, de 10 de Dezembro e, no que toca a
outras fontes, incluindo as grandes centrais hidro- tarifas, pelo Decreto-Lei 168/99 de 18 de Maio,
eléctricas. Decreto-Lei 339-C/2001 de 29 de Dezembro,
Decreto-Lei 33A/2005 de 16 de Fevereiro, e o
As principais operações levadas a cabo por estes Decreto-Lei 225/2007 de 31 de Maio) (“Decre-
agentes são: to-Lei 189/88”). Contudo, a produção em
Figura 12
Estrutura do consumo de energia eléctrica em Portugal (2007)
31% Indústria
38%
Transportes
Agricultura
Doméstico
Serviços
28% 1%
2%
regime especial é também afectada pelo tarifas de acesso fixadas pela Entidade Reguladora
289
Decreto-Lei 29/2006 e Decreto-Lei 172/2006, dos Serviços Energéticos (‘‘ERSE’’), uma entidade
relacionados com o SEN. pública independente.
Em condições de Mercado, os consumidores são
o caso particular da produção de energia solar fotovol-
N livres de escolher o seu fornecedor, sem qualquer
taica, ao encontrar-se subsidiada (por lei tem direito a uma encargo adicional com a mudança de comercializador.
retribuição quase seis vezes superior à tarifa), a produção é Uma nova entidade, cuja actividade será regulada
vendida directamente à empresa distribuidora proprietária pela ERSE, deverá ser criada para supervisionar as
da rede à qual se encontra conectada a central. operações logísticas facilitadoras da mudança de
fornecedor por parte dos consumidores.
• Transmissão. A actividade de transmissão de electri-
cidade é desenvolvida através da rede nacional de A Nova Lei Base da Electricidade enumera certas
transmissão, ao abrigo de uma concessão exclusiva obrigações de serviço público para os comercializa-
atribuída pelo Estado Português. Actualmente, a dores, com vista a assegurar a qualidade e continui-
concessão exclusiva da transmissão de electricidade dade do fornecimento, bem como a protecção do
está concedida à REN Rede Eléctrica, de acordo com consumidor no que respeita a preços, tarifas de
o artigo nº69 do Decreto-Lei 29/2006, e no segui- acesso e acesso a informação em termos simples e
mento da atribuição de concessão à REN Rede Eléc- compreensíveis.
trica constante do artigo nº 64 do Decreto-Lei 182/95,
de 27 de Julho. Decorrente das alterações introduzidas pelo Decre-
to-Lei 264/2007 de 24 de Julho, o comercializador de
• Distribuição. A distribuição de electricidade no último recurso é obrigado a comprar energia a prazo,
âmbito da Nova Lei Base da Electricidade tem por nos mercados geridos pelo OMIP e pela Sociedade
base a rede nacional de distribuição, que consiste na de Compensação de Mercados de Energia, S.A.
rede de média e alta tensão, e ainda as redes de (“OMIClear”), em quantidades e nos leilões definidos
Union Fenosa
www.unionfenosa.com.pt
O Protocolo de Quioto
www.icex.es/Protocolokioto/default.htm
Protocolo de Quioto
www.icex.es/protocolokioto/default.htm
Energia na UE
http://europa.eu/scadplus/leg/es/s14000.htm
O encarecimento das fontes tradicionais de energia, bem Também se considera o potencial de outras energias reno-
como as teorias que atribuem o aquecimento global às váveis como a energia solar térmica de concentração, a
emissões humanas de GEF (Global Environment Facility), energia hidroeléctrica, a energia geotérmica e a energia dos
orientam os objectivos dos programas de I&D em energia oceanos. É importante, por outro lado, destacar a impor-
com vista ao desenvolvimento de um sistema energético tância de introduzir e desenvolver os conceitos de eficiência
sustentável e nutrido por recursos autóctones (renováveis) energética, já que resulta como a forma mais barata e signi-
ou amplamente disponíveis no mercado mundial (carvão ou ficativa de reduzir a dependência energética e o gasto dos
nuclear). Sobre estas bases, identificam-se áreas de Estados-membros.
melhoria sobre as quais se deverá articular um desenvolvi-
mento coerente das tecnologias, em função das capaci- O nosso país não é uma excepção dentro da I&D europeia:
dades e necessidades existentes. em alguns campos destaca-se, enquanto noutros está a
fazer um esforço para convergir com o estado da arte a
A UE adverte para a possibilidade de liderar todos os nível europeu; ainda existem campos nos quais a presença
aspectos do desenvolvimento tecnológico em energia e de desenvolvimento espanhol é testemunhal.
recomenda a internacionalização das iniciativas nacionais.
Nos planos europeus identificam-se as seguintes inovações Por tecnologias, a I&D e a inovação energética podem-se
a curto prazo (antes do final de 2010): resumir do seguinte modo:
• Fotovoltaica. Disponibilidade de silício a custos • Energia eólica. Apesar da sua importância a nível
razoavelmente menores e inovação na fabricação. mundial, destaca-se a pouca participação portuguesa
Colectores de concentração. em projectos de I&D de referência a nível europeu,
assim como a estagnação da energia eólica offshore,
• Solar térmica de concentração. Armazenamento se bem que recentemente foi publicada legislação
de longa duração e inovação em sistemas de trans- que cria certas expectativas de negócio a médio
missão de calor. prazo, o qual, sem dúvida, promoverá desenvolvi-
mento tecnológico específico e multidisciplinar.
• Tecnologias limpas de carvão. Gaseificação, poli- Como aspecto positivo destaca-se o projecto CENIT
geração em grandes centrais, sequestro de CO2 por Windlider 2015. As actividades que se consideram
absorção, metanol-etanol-aminas e desenvolvimento mais necessárias a curto prazo são as relativas à
de técnicas de valorização do CO2. previsão eólica, qualidade da energia e eólica offs-
hore.
• Solar térmica de média e baixa temperatura. Frio
solar (absorção e adsorção), desalinização, novos • Energia solar. Há que prestar uma atenção preferen-
desenhos e aplicações industriais da energia solar. cial dado o clima em Portugal. Quanto às aplicações
fotovoltaicas, a investigação orienta-se a médio prazo
• Combustíveis renováveis. Estandardização, bioe- dada a necessidade de proceder a uma redução dos
tanol, biodiesel e combustíveis sintéticos (Fischer- custos, embora estes tenham sofrido uma redução
Tropsch). nos últimos 2 anos. Isto é, as actuações prioritárias
encontram-se nas áreas de solar térmico de concen-
• Redes energéticas inteligentes. Integração a grande tração. Redução de custos do silício/wafers.
escala de energias renováveis.
• Biomassa. Esta é uma das energias renováveis
• Eficiência energética. Aumento da reutilização de menos explorada em Portugal. O problema, mais do
calores residuais, inovação energética em PMEs e que tecnológico, reside na ausência de cadeias de
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• Pilhas de combustível, hidrogénio. Apesar de faltar • Energia nuclear. Uma vez começado o desenvolvi-
um plano nacional de desenvolvimento que vá de mento do ITER na UE (França), a principal interro-
encontro com os objectivos europeus de economia gação é o futuro da energia de fissão, que conta com
do H2, existe uma certa actividade no campo da inte- grandes problemas de aceitação, se bem que o
Glossário de termos
Inovação Tecnológica
6PQ, e 7PQ Quadro.
DG
Direcção Geral de Investigação da UE. PAE4 Plano de Acção da E4 2005-2007.
RESEARCH
E4 Eficiência Energética e Energias Endógenas. PNER Plano Nacional para as Energias Renováveis.
[3] Further task for future European Energy R&D. O 6PM terminou a 31 de Dezembro de 2006, iniciando-se o
Comissão Europeia, 2006, EUR 22395 7PM a 1 de Janeiro de 2007. Isto é, de terminar o prede-
cessor, a UE, juntamente com os Estados-membros, grupos
[4] 6.1 Sustainable energy systems. Work Programme. de especialistas e representantes de sectores industriais,
Comissão Europeia, 2003 desenvolveram os termos gerais do 7PM, como sucessor.
[5] FP7 Cooperation Work Programme:Theme 5 - Energy. Os resultados a curto prazo do 6PM são as tecnologias que
Call Fiche. RTD. Comissão Europeia, 2007 se implementarão de 2007 a 2010, isto é, aquelas a que
damos a denominação de inovadoras à data de publicação
[6] FP7 Cooperation Work Programme:Theme 5 - Energy. deste documento.
Call Fiche. TREN. Comissão Europeia, 2007
A inovação em matéria energética entende-se como a intro- • Linhas de investigação com resultados a curto prazo
dução massiva de novas tecnologias, que tenham demons- (horizonte 2010) (Direcção Geral de Energia e Trans-
trado previamente a sua validade e fiabilidade técnica, porte, DG TREN).
assim como a sua prevalência em termos económicos
respectivamente às suas predecessoras. • Investigação a longo prazo, mais estratégica (Dire-
cção Geral de Investigação, DG RESEARCH).
Isto é, a inovação é possível após a fase de demonstração,
sendo que esta vem precedida de um desenvolvimento A investigação em temas energéticos no 6PM tem sido
técnico. enquadrada dentro da área temática chamada desenvolvi-
mento sustentável, mudança planetária e ecossistemas
Portanto, as tecnologias energéticas mais inovadoras a (Sustainable Development, Global Change and Ecosys-
curto prazo são aquelas que recentemente tenham sido ou tems). As subprioridades da área temática foram:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Pilhas de
Dentro desta área foram financiados 408 projectos ao longo 33 153,92 22,15%
combustível
de todo o programa-quadro, dos quais em 2005 se contabi-
lizavam 201 correspondentes a Sistemas energéticos Captura e
sustentáveis, que se agrupam, por áreas temáticas, na sequestro 18 68,71 9,89%
CO2
Inovação Tecnológica
tabela 1.
Hidrogénio 38 125,69 18,09%
É notório o interesse dos consórcios europeus em desen-
volver o par tecnológico formado pelo hidrogénio e a pilha
de combustível, que capta mais de 40% dos fundos com Integração
15 50,54 7,27%
em rede
apenas 25% dos projectos. Isto é, que têm um volume
unitário maior do que a média.
Socioeconómica 20 23,59 3,39%
Como exemplo de projectos nesta área, especialmente capítulo 13
quanto ao par H2-pilha, pode-se mencionar HYCHAIN1, que
Total 201 694,85 100%
está a arrancar em várias frotas de veículos, accionados
atravás de pilhas de combustível inovadoras, em quatro
regiões de outros tantos países da Europa (França, Espanha, Fonte: Elaboração própria.
Alemanha e Itália) operando com H2 como combustível. Tais
frotas estão baseadas em plataformas de tecnologia
modular, similar para diferentes aplicações, com o objectivo Em I & D relacionada com biomassa e hidrogénio pode-se
principal de atingir um volume suficientemente grande de mencionar CHRISGAS2, liderado pela Suécia, que pretende
veículos (acima dos 150) para obter em termos industriais desenvolver para 2009 um processo de produção de gás de
uma possível redução de custos e superar barreiras secto- síntese rico em H2 a grande escala (18 megawatts) através
riais e regionais. Este projecto está pensado para iniciar da gaseificação húmida de biomassa sólida, seguida de um
uma nova etapa no sector do transporte e, através dele, os upgrading, uma limpeza e uma reforma com vapor.
primeiros casos de desenvolvimento sustentável para H2
baseado em pilhas de combustível na Europa iniciar-se-ão O segundo lugar, em termos de número de projectos e
em lugares onde existam as maiores probabilidades de fundos concedidos, corresponde à bioenergia. Este facto
continuar e crescer mais além do projecto. está em linha com a política europeia para fomentar tanto a
1 http://www.hychain.es/glance/summary.htm
2 http://www.chrisgas.com/
biomassa sólida como os biocarburantes, como alternativa sistema produtivo como do módulo fotovoltaico, com a
parcial aos combustíveis fósseis e como novo negócio para intenção de alcançar 17% de rendimento na conversão da
298
o excedentário sector agrícola da UE. Os avanços mais energia solar incidente.
importantes foram produzidos neste último sector e foram
postos em prática muito rapidamente com a entrada no A energia eólica pode estar representada por UPWIND6 e
mercado da primeira geração de tecnologias de produção DOWNVIND7. UPWIND foca-se no futuro e persegue o
de biocarburantes, iniciando-se o trabalho de desenvolvi- projecto de turbinas entre 8MW – 10MW para utilização em
mento da segunda geração. terra e no mar. Isto implica rever quase todos os conceitos
actualmente em uso na indústria eólica. Até ao momento já
Um exemplo destas linhas de I & D é o projecto RENEW3, foram instaladas turbinas de 5 MW.
liderado pela Volkswagen, que se centra no desenvolvi-
mento da segunda geração de biocombustíveis para
motores modernos de combustão interna, basicamente a
partir da biomassa lignocelulósica, e da produção piloto das
mais prometedoras.
3 http://www.renew-fuel.com/home.php
4 http://www.biomatnet.org/secure/FP6/S1845.htm
5 http://www.sintef.no/content/page13____8812.aspx
6 http://www.upwind.eu/default.aspx
7 http://www.downvind.com/home/index.shtml
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
parte tecnológica está-se a trabalhar no desenho de modifi- Biomassa. Do ponto de vista de disponibilidade de
cações nas turbinas actuais de 5 MW para diminuir o custo combustível primário, esta fonte configura uma substituição
299
do seu transporte e instalação marítima em águas profundas, ampla e constante, apesar de limitada, aos recursos actuais
desenvolvendo novos conceitos de distribuição eléctrica, (na sua maioria fósseis). A biomassa para calor e electrici-
desenvolvendo metodologias para fabricar estes geradores dade também compete potencialmente com a biomassa
em massa e estabelecer parâmetros para a sua conexão às como matéria-prima para biocarburantes (aos quais se
redes eléctricas nacionais. alude mais a baixo). A combustão e gaseificação da
biomassa em ciclos termoeléctricos é uma tecnologia
O resto das áreas não se destacam de forma particular, muito eficiente, particularmente atractiva em zonas de
com a excepção do aparecimento de projectos importantes difícil acesso às redes de distribuição de energia na forma
de energia marinha e captura de CO2, linhas das quais se convencional, e com abundância de biomassa.
esperam resultados a médio e longo prazo.
A I & D neste campo dirige-se para a redução de custos e o
Por exemplo, o projecto CASTOR8, que terminou em 2008, desenvolvimento da gaseificação para combustíveis proble-
pretende desenvolver um novo método de captura em pós- máticos e complexos (co-gaseificação). Apresenta desafios
combustão adaptado às características dos gases de técnicos quanto à corrosão e geração de resíduos de
combustão das centrais térmicas. Está prevista a instalação combustão (alcatrões).
de uma central piloto na Dinamarca com capacidade para
1-2 tn/h. (70% do orçamento). Eólica. A evolução tecnológica da energia eólica promove a
melhoria dos sistemas de provisão, facilitando assim a inte-
Quanto à energia das marés, pode-se mencionar o projecto gração desta fonte a grande escala no mercado energético.
WAVESSG9, cujo principal objectivo é operar um conversor Tecnologicamente, os esforços são orientados para o
de energia das ondas de 150 kW. Para isso vai ser desen- desenvolvimento de geradores de maior potência com
hado, fabricado e instalado o sistema com uma turbina de custo mais eficaz e para a exploração dos recursos
tecnologia MST. A operação será monotorizada, com o marinhos.
objectivo de alcançar uma disponibilidade produtiva de
85%, uma eficiência hidráulica de 39% e eléctrica global de Fotovoltaica. É necessária uma mudança drástica para
25%. propiciar a produção em massa e a baixo custo de sistemas
Inovação Tecnológica
fotovoltaicos. Uma vez superada a integração na envol-
A consequência destas mudanças é a redução considerável vente, os principais desafios de I & D continuam a ser a
do número de projectos, sendo as PMEs tecnológicas e os eficiência e o custo.
grupos de menor tamanho os que têm suportado o peso.
O mesmo aconteceu com a grande indústria, que perdeu Solar térmico de concentração. Esta tecnologia está em
protagonismo em certas áreas em favor dos grupos acadé- pleno desenvolvimento e as suas perspectivas melhoraram
micos. com os últimos avanços. O grau de maturidade ainda é
baixo e necessita de grandes esforços para reduzir os
A redução no número de projectos, a par do aumento do custos de produção e optimizar o seu funcionamento. capítulo 13
financiamente, explica a importância que a Comissão deu Menção especial de I&D merecem os sistemas de acumu-
aos grandes projectos integrados (IP) em deterimento dos lação dinâmica.
denominados STREP (projecto objectivo), respectivamente
ao 5PM. Esta tendência vem-se a produzir desde o 4PM, no Solar de baixa e média temperatura. Amplamente desen-
qual os agora chamados STREP absorviam 90% do finan- volvida e conhecida, a I&D orienta-se para a melhoria dos
ciamento, enquanto que o restante apoio se destinava às sistemas existentes e para a extensão das aplicações à
chamadas acções de acompanhamento. refrigeração e à indústria.
8 http://www.co2castor.com
9 http://cordis.europa.eu/
combustível no transporte em 2030. Não obstante, devem
ser dados passos para desenvolver um fornecimento fiável,
300
com um volume suficiente de recursos biomássicos, pelo
que faz falta I&D para maximizar os rendimentos e mini-
mizar os custos, concentrando-se a actividade no desenvol-
vimento e ampla utilização da segunda geração de biocar-
burantes (incluindo a utilização da biomassa lignocelulósica)
e as denominadas biorefinarias integrais. Deve também ser
apoiada a investigação inicial sobre novos métodos e
conceitos como a genética, produção de hidrogénio via
fotólise, fotofermentação e vias similares.
Combustíveis renováveis. A curto prazo é a melhor alter- Hidrogénio. Tal e qual como sucede com os veículos eléc-
nativa para reduzir substancialmente o consumo e as emis- tricos, a utilização de pilhas de hidrogénio requer infra-es-
sões no sector do transporte. Ainda que haja necessidades truturas de distribuição e abastecimento muito dispen-
de I&D em todos os aspectos das culturas energéticas e diosas. Por esta razão, a introdução no mercado será
sua conversão em combustíveis, as tecnologias de bioe- gradual, começando pelo ambiente urbano. A utilização
tanol e biodiesel já estão a penetrar no mercado, ainda que generalizada destas tecnologias será um longo caminho no
incentivados através da redução de impostos. A visão do qual se terá que adequar a capacidade de produção à
Biofuels Research Advisory Council [2] é a de que os biocar- procura. A I&D em H2 e pilhas deverá vir acompanhada do
burantes contribuirão até 25% das necessidades de
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Tecnologias limpas do carvão. As tecnologias limpas do O 7PM pretende servir como continuação do caminho
carvão, tendo em conta a disponibilidade e abundância empreendido pelo 6PM na construção do Espaço Europeu
deste recurso, constituem uma alternativa ao sistema ener- de Investigação (EEI), criando um mercado interno de
gético actual. O custo de capital das centrais avançadas de ciência e tecnologia, que fomente a qualidade científica, a
carvão é superior às de gás, mas os crescentes preços do competitividade e a inovação.
petróleo e do gás podem tornar mais competitiva a “geração
limpa” com carvão. É necessária uma considerável I&D na
investigação de materiais, integração de técnicas CCS e 2.3.1. Distribuição orçamental do 7PM
investigação para permitir às centrais operar com cargas
cíclicas e não apenas cobrir a carga base. Previsivelmente, a tendência do 6PM será repetida ao longo
do 7PM. A entrada de mais países faz com que os saldos
A utilização ambientalmente equilibrada de combustíveis de retorno dos actuais membros se vejam prejudicados,
fósseis depende da disponibilidade para capturar e arma- deixando Portugal de receber parte dos actuais subsídios,
zenar de forma permanente uma elevada fracção do CO2 em favor de outros países. Este facto levará a que seja o
emitido. É necessária I&D para verificar a viabilidade a longo nosso país a ter que financiar uma parte maior dos projectos
prazo das técnicas de CCS em diferentes situações. Os de I&D com fundos nacionais.
desenvolvimentos mais imediatos seriam a integração da
geração com carvão com as CCS e a maturidade comercial O 7PM conta com um orçamento total para investigação de
destas técnicas. 50.521 M€ (aumentando 246% respectivamente ao 6PM),
que se distribuem em quatro programas específicos:
Socioeconómica. A transição do sistema energético actual Cooperação, Ideias, Pessoas e Capacidades.
para um sustentável acarretará mudanças sociais e econó-
micas cuja magnitude deve ser considerada em sucessivas A prioridade Energia encontra-se incluida no programa de
investigações. Cooperação e a sua dotação económica é de 2.350 M€. Por
outro lado, as prioridades concomitantes Transporte
Inovação Tecnológica
(incluindo aeronáutica) e Meio Ambiente, estão dotadas de
2.2. Programa EURATOM
4.160 M€ e 1.890 M€, respectivamente.
A Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM) O objectivo da prioridade Energia é transformar o actual
adopta um Programa-Quadro independente de actividades sistema energético, baseado nos combustíveis fósseis,
de investigação e formação em matéria nuclear. O período num outro mais sustentável baseado numa ampla gama de
inicial de cinco anos pode ampliar-se para um total de sete fontes e vectores de energia, combinando por sua vez uma
de 2007 a 2013. melhoria da eficiência energética, para fazer frente aos
desafios, cada vez mais prementes, da segurança do abas- capítulo 13
O Programa-Quadro de actividade de investigação e tecimento e das mudanças climáticas. Visa também
formação compreenderá actividades comunitárias de inves- melhorar a competitividade das indústrias energéticas
tigação, desenvolvimento tecnológico, cooperação interna- europeias.
cional, difusão de informação técnica e exploração, assim
como de formação.
2.3.2. A prioridade temática Energia do 7PM
Inovação Tecnológica
As prioridades temáticas dos Programas-Quadro não são Novas fontes de energia, aplicação
Espaço
estanques, estando relacionadas umas com as outras. De de energias renováveis.
seguida indicam-se os vínculos que se podem estabelecer
entre outras áreas do 7PM com a área energética:
Segurança Fiabilidade no fornecimento energético.
capítulo 13
Com um orçamento de 727 M€ até 2013, este programa
centra-se na eliminação das barreiras técnicas, na criação O programa EIE é o mais próximo da inovação em matéria
de oportunidade de mercado e no aumento da sensibili- energética, já que pretende derrubar barreiras não tecnoló-
zação tanto dos particulares como da indústria e empresas. gicas, que se mantêm uma vez que determinada tecnologia
Isto é, abre caminho às tecnologias que estão a ser desen- se tenha revelado técnica e economicamente viável, mas
volvidas. que ainda se não tenha implementado de forma massiva no
mercado.
Em concreto, o programa Energia Inteligente para Europa
focaliza-se em três linhas de acção: 2.5. Plataformas tecnológicas europeias
relaccionadas com a energia
• Eficiência energética e utilização racional da energia
(SAVE). As plataformas tecnológicas são um agrupamento de enti-
dades interessadas num sector concreto (lobby), lideradas
• Fontes de energia novas e renováveis (ALTENER). pela indústria, com o objectivo de definir uma Agenda Estra-
tégica de Investigação sobre temas importantes e com
• Aspectos relativos à energia no âmbito do transporte uma grande relevância social, entre os quais atingir os
(STEER). objectivos europeus de crescimento, competitividade e
304
sustentabilidade, que dependem dos avanças tecnológicos e a utilização de sistemas energéticos e tecnologias
e da investigação a médio e longo prazo. de componentes baseadas em pilhas de hidrogénio
com um custo competitivo, para sua aplicação ao
Todas as plataformas tecnológicas partilham uma série de transporte e à energia estacionária e portátil.
características:
Esta plataforma pretende assegurar a participação equili-
• São lideradas pela indústria e os seus objectivos brada dos principais agentes (indústria, comunidade cientí-
estão relacionados com o crescimento da competiti- fica, autoridades públicas, utilizadores e sociedade civil) e
vidade. ajudar à consciencialização das oportunidade de mercado e
dos cenários energéticos das pilhas de combustível e hidro-
• Ampla implicação de diferentes entidades (indústria, génio.
autoridades públicas, investigadores, sociedade civil,
utilizadores e consumidores, etc.) Implicação das • Plataforma Tecnológica Europeia Fotovoltaica
autoridades nacionais. (http://ec.europa.eu/research/energy/nn/nn_rt/nn_rt_
pv/article_1933_en.htm). O seu objectivo é contribuir
• Enfoque operativo desde as fases iniciais. para um rápido desenvolvimento de uma tecnologia
fotovoltaica europeia competitiva a nível internacional
• Mercado potencial identificado para as tecnologias que contribua para a produção de electricidade
implicadas, cobrindo a cadeia completa, desde a sustentável.
investigação e desenvolvimento tecnológico até à
penetração futura a grande escala no mercado. • SmartGrids-Redes Eléctricas do Futuro
(http://www.smartgrids.eu). O seu objectivo é sugerir
A nível europeu, relacionadas com a energia encontram-se uma visão e estratégia de futuro para as redes de
definidas e operacionais as seguintes plataformas tecnoló- electricidade na Europa, incluindo a melhoria da
gicas: eficiência energética e a produção de energia limpa.
Assim sendo, as SmartGrids perseguem a identifi-
• Plataforma Europeia do Hidrogénio e das Pilhas cação das necessidades para a investigação, assim
de Combustível (www.hfpeurope.org). Os seus como fomentam a investigação pública e privada no
objectivos são facilitar e acelerar o desenvolvimento campo das redes eléctricas.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
• Central Termoeléctrica com Combustíveis Fósseis duzidas no mercado antes dos finais de 2010) são as
“Zero Emissões” (ETP ZEP) seguintes:
305
(http://www.zero-emissionplatform.eu/website/).
Procura a geração de electricidade com emissões • Biomassa: co-combustão, melhoria da eficiência,
“próximas a zero”. A plataforma pretende identificar e redução relativa das emissões de CO2 de origem
eliminar os obstáculos à criação de centrais gera- fóssil por unidade de energia útil produzida.
doras de electricidade eficientes, com emissões
próximas a zero. • Eólica: energia offshore e integração de sistemas na
rede.
• Plataforma Tecnológica de Reactores Arrefecidos
a Gás. O seu objectivo é o desenvolvimento de reac- • Fotovoltaica: disponibilidade de silício a custos
tores nucleares inovadores que satisfaçam tanto as razoavelmente menores e inovação na fabricação.
restrições económicas como as preocupações da
• Solar térmico de concentração: armazenamento de
sociedade (CO2, segurança, quantidade limitada de
longa duração e inovação em sistemas de trans-
resíduos) e por outro lado permitam a produção em
missão de calor.
grande escala de hidrogénio.
• Tecnologias limpas de carvão: gaseificação, polige-
• Plataforma Tecnológica Europeia de Energia
ração em grandes centrais e desenvolvimento de
Eólica (http://www.windplatform.eu/). Procura identi- técnicas de valorização de CO2.
ficar as prioridade de investigação até ao ano 2030 e
dirigir os fundos públicos e privados entre as áreas • Solar térmico de média e baixa temperatura: frio
de investigação chave. solar (absorção e adsorção), dessalinização, novos
desenhos e aplicações industriais.
• Plataforma Tecnológica Europeia de Biocarbu-
rantes (http://www.biofuelstp.eu/). O objectivo prin- • Combustíveis renováveis: estandartização, bioe-
cipal da plataforma do biofuel é a elaboração da visão tanol, biodiesel, combustíveis sintéticos e projectos
estratégica (Agenda Estratégica de Investigação) de demonstração.
com horizonte no ano 2030, assim como a criação de
Inovação Tecnológica
uma indústria europeia competitiva dos biocombustí- • Redes energéticas inteligentes: integração de ener-
veis e o estabelecimento de uma sociedade público- gias renováveis, simulação e validação e cenários de
privada no interesse de todos os interessados. desenvolvimento.
capítulo 13
• Sistemas de conhecimento da energia: redes de
vigilância tecnológica.
• Fissão nuclear: A implantação generalizada dos A energia tem um carácter transversal na busca de compe-
reactores de geração III e a aceleração no desenvol- titividade nos diversos sectores da economia. A relevância
vimento da geração IV, com ciclo fechado de combus- do sector é resultado da necessidade de reduzir a depen-
tível, assim como os sistemas de derrame e gestão dência energética de Portugal nos combustíveis fósseis,
de resíduos. Um debate político aberto também será dada a limitação das reservas mundiais das formas de
necessário dada a preocupação dos cidadãos. energia que deles dependem e o compromisso assumido
internacionalmente para redução global das emissões de
• Fusão nuclear: necessita de um forte esforço e gases com efeito de estufa.
compromisso a nível europeu e internacional.
• Carvão: Dado que a utilização do carvão aumentará 3.1. Política energética portuguesa em I&D
na Europa e a nível mundial, as melhorias na eficiência
da conversão, assim como o desenvolvimento de As fontes renováveis de energia em Portugal são mais do
tecnologias de captura e armazenamento, são de que uma necessidade ambiental, são também estratégias
importância para manter tanto o sistema energético para a segurança do abastecimento e desenvolvimento de
europeu como a competitividade da indústria. indústria, capaz de criar riqueza, particularmente em termos
de novos postos de trabalho. Neste contexto, é necessário
• Redes energéticas: os temas de rede eléctrica e gás encontrar soluções inovadoras que envolvam o fabrico de
continuam a ser de vital importância no desenvolvi- novos equipamentos, especialmente no domínio do Sistema
mento de um sistema integrado europeu. Eléctrico Nacional, que envolve tecnologias novas desde a
produção ao consumo, passando pela gestão integrada de
• Outras renováveis (geotérmica profunda, energia todo o sistema.
dos oceanos): também poderão contribuir no futuro
e necessitam de apoio na investigação para que O potencial de inovação no domínio da energia é significa-
avancem. tivo. Envolve um forte elemento tecnológico associado aos
equipamentos de conversão de energia, incluindo no campo
A eficiência na utilização final continuará a ser perseguida da prestação dos serviços associados, e um componente
pela indústria sem necessidade de apoio. No entanto, para sistémico e conceptual ligado aos equipamentos consumi-
além de uma forte intervenção política para conseguir o dores.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
O desenvolvimento do Plano Tecnológico na área da energia fica, passando pelos serviços de energia de acom-
envolve um conjunto de acções que visam a prossecução panhamento de obras e pela instalação e teste de
307
dos seguintes objectivos estratégicos: equipamentos.
• Reforço da investigação básica em domínios identifi- • Formação de técnicos para instalação e manutenção
cados, envolvendo as universidades e instituições de equipamentos, gestão dos diferentes sistemas de
científicas e tecnológicas. geração e verificação da eficiência energética nos
consumos.
• Promoção da investigação aplicada e de projectos-
piloto, envolvendo meios de simulação computa- • Definição de mecanismos que promovam a partici-
cional e experimental, para o que será necessário pação de pequenas e médias empresas no desenvol-
reforçar as estruturas laboratoriais existentes. vimento de produtos e soluções inovadoras no
domínio dos sistemas de energia.
• Transferência de tecnologias para fabricantes de bens
de equipamento e de software, incluindo a certifi- • A prestação de serviços de fornecimento de calor ou
cação e teste para produção de soluções comer- água quente associados a urbanizações ou edifícios
ciais. de serviços.
Inovação Tecnológica
nibilizados nos fóruns comunitários consagrados a Nanotecnologias 1.300
estas matérias e que ganharam um peso acrescido
com a reorientação estratégica que a União Europeia Aeronáutica e espaço 1.075
assumiu em matéria energética.
Qualidade e segurança
alimentar 685
tecnologia do silício (BITHINK, de módulos bifaciais tativa, mostram-se de seguida os campos nos quais, dentro
de silício, por exemplo). do 6PM, a Universidade gerou interesse.
309
• Biomassa. Tem linhas de I&D em gaseificação para a • Meio ambiente em áreas urbanas (Arquitectura
produção eléctrica e em biocombustíveis (biodiesel, Bioclimática). Universidade de La Coruña, Universi-
etanol) provenientes tanto de culturas energéticas dade Jaume I, Universidade Politécnica de Barcelona
como de resíduos. e Universidade de Jaén.
Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) Outros organismos promotores da Inovação em matéria
É o principal organismo público de investigação. As suas de energia
áreas de interesse são múltiplas e muito variadas. Alguns Para além dos centros de I&D propriamente ditos existem
institutos adscritos ao CSIC têm actividades relacionadas em distintas instituições desde as quais se promove a
com a I&D energética, centrados principalmente na investi- investigação e a transferência tecnológica, mas sem realizar
gação básica. Estes centros são: por si mesmas as actividades de I&D.
• Instituto Nacional do Carvão (INCAR). Conta com • Instituto para a Diversificação e Poupança da
múltiplas linhas de investigação para a redução de Energia (IDAE). Participa na fase final da I&D através
emissões nos processos energéticos (gaseificação, da promoção da primeira implementação comercial
leito fluidizado). Destaca-se dentro das suas activi- das tecnologias que se consideram prontas para
dades o grupo de captura de CO2, com o desenvolvi- comercialização.
Inovação Tecnológica
mento de um técnica específica de carbonatação-
calcinação muito prometedora. • Centro para o Desenvolvimento Tecnológico
Industrial (CDTI). Entidade pública, dependente do
• Instituto de Carboquímica (ICB). Contam com MICYT, que promove a inovação e o desenvolvimento
múltiplos projectos de I&D nacionais. As suas princi- tecnológico das empresas espanholas.
pais linhas de investigação são: desenvolvimento de
catalizadores para a redução de contaminantes, • CENIFER. Navarra realizou um importante esforço
produção de H2 por descarbonização de combustí- em favor do desenvolvimento das energias reno-
veis fósseis e preparação de electrocatalizadores váveis e adquiriu uma liderança num sector em capítulo 13
suportados por carbono com pilhas poliméricas. contínuo crescimento, um mercado com grande
projecção de futuro e com valores acrescentados
• Instituto de Catálise e Petroquímica (ICP). As suas especialmente benéficos para a sociedade.
principais áreas de actividade com a energia são o
desenvolvimento de catalizadores e materiais para • Confederação Espanhola de Organizações Empre-
os processos químicos das pilhas de combustível. sariais (CEOE). Instituição que representa todos os
empresários espanhóis e que tem com finalidade
• Laboratório de Investigação em Tecnologias da primordial defender os seus interesses e contribuir
Combustão (LITEC). Centrado na física de fluidos da para o crescimento económico e bem-estar da socie-
combustão tanto de matéria fóssil como da dade espanhola.
biomassa.
Aparte dos centros de I&D, as universidades desempenham 3.4. Plataformas tecnológicas nacionais
um papel importante como centros de desenvolvimento relaccionadas com a energia
tecnológico e apoio técnico a distintos projectos de I&D
tanto de iniciativa pública como privada. É muito compli- As plataformas tecnológicas nacionais surgiram como apoio
cado registar todas as actividade de investigação das para as plataformas europeias, bem como mecanismos de
universidades espanholas, pelo que, de maneira represen- orientação e estruturação do sector a nível nacional.
As plataformas tecnológicas nacionais pretendem definir
actividades estratégicas de I&D que se ajustem, na medida
310
do possível, ao cenário europeu. Assim sendo, pretendem
criar uma massa crítica na indústria nacional que permita
orientar e optimizar os recursos públicos e privados.
Biomassa
As investigações em I&D com biomassa estão orientadas
em dois sentidos; por um lado, a melhoria da logística de
fornecimento e redução de custos de exploração, recolha,
transporte e tratamento. Por outro lado, para a produção
em utilização de biocombustíveis no transporte e geração
eléctrica.
Energia eólica
A investigação centra-se numa redução da tarifa de
produção , melhorar a capacidade de penetração na rede
eléctrica e, a médio prazo, considerar eólica offshore.
4. Conclusões
Inovação Tecnológica
4.1.1. Com resultados a curto prazo
Quanto a renováveis, para além das inovações previstas Energia solar de baixa temperatura:
nos programas de I&D, há que ter em conta as mencio-
nadas no PNER. • Desenvolvimento de colectores de baixo custo para
aplicações de baixa temperatura.
Energia eólica. Deve-se harmonizar a presença no sector
com uma maior presença internacional. As actuações • Aplicações de refrigeração com energia solar, apli-
necessárias neste campo são: cações industriais e dessalinização.
O Projecto MEDUSA, desenvolvido pelo Grupo Gas Natural no porto de Corunha, tem o objectivo de minimizar as
emissões de pó devidas à descarga de carvão que tem como destino a Central Térmica de Meirama.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
Espécies oleaginosas mais frugais e adaptadas • Células fotovoltaicas bi-faciais e de novos materiais
perfeitamente à agricultura espanhola (biodiesel). fotossensíveis de menor custo.
313
Inovação Tecnológica
europeu os níveis de investigação portugueses. Será vital
não perder a revolução tecnológica inerente ao H2 e seria
recomendável apoiar:
• Projectos de demonstração.