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Manual de Eficiência Energética

www.gasnatural.com manual de eficiência energética


manual de eficiência energética

trabalho realizado por:

www.eoi.es

Com a colaboração do Centro de Eficiência Energética de:

www.gasnatural.com
p r ó l o g o

A eficiência energética está no centro dos três principais eixos da política energética mundial:

• A segurança de abastecimento, particularmente em Portugal, que importa cerca de 85% da


sua energia primária.

• A competitividade, tem cada vez mais importância no panorama económico e financeiro


actual.

• A sustentabilidade, com as suas implicações nas alterações climáticas.

Segundo a Agência Internacional de Energia, seguindo actuais tendências, nos próximos 25 anos o
consumo de energia irá subir cerca de 50%, o que provocará um grande aumento das emissões de
gases com efeito de estufa. De acordo com o texto do Painel Intergovernamental para as Altera-
ções Climáticas (IPCC), publicado em finais de 2007, esta tendência provocará um aumento das
temperaturas médias em mais de 6 ºC até ao final do século.

A necessidade de uma alteração na tendência actual passa, sem dúvida, pelo uso responsável e
eficiente da energia, só assim poderemos controlar esta evolução ascendente do consumo.

Por isso, no Grupo Gás Natural cremos que a eficiência energética e o uso racional da energia são
a nossa prioridade em matéria de responsabilidade social. Achamos que esta prática está directa-
mente relacionada com o sector da energia no qual o Grupo Gás Natural desenvolve a sua activi-
dade. Esta ligação proporciona legitimidade social ao exercício empresarial, pois relaciona a contri-
buição do produto para o bem estar e o serviço que prestamos.

O Grupo Gás Natural está comprometido na construção de uma nova cultura no uso da energia por
parte do consumidor. Levar a eficiência energética até aos nossos clientes implica partilhar com
eles a nossa visão, integrar as suas preocupações e necessidades nas soluções oferecidas e,
contribuir colectivamente para o uso racional dos recursos disponíveis.

O cliente actua, numa dupla vertente, como um agente multiplicador dos avanços em matéria de
eficiência energética. Como vector de competitividade e como instrumento de redução das emis-
sões de gases com efeito de estufa.

Desde há seis anos que a eficiência energética é uma bandeira do Grupo Gás Natural, esta é a arma
mais poderosa e imediata no combate e controlo das emissões de CO2. Está ao nosso lado, apenas
temos de a praticar. É a ”pequena ajuda” do Grupo Gás Natural na construção de “um melhor” e
mais responsável mundo.

Centro de Eficiência Energética

Grupo Gás Natural


í n d i c e

01 05
Introdução Eficiência e Poupança Energética no
Sector dos Serviços
pág. 102
pág. 8

02 06
Eficiência e Poupança Energética em Eficiência e Poupança de Energia em
Habitações meios Urbanos e Edificíos

pág. 36 pág. 122

03 07
Eficiência e Poupança Energética na Eficiência e Poupança Energética nos
Indústria I Transportes. Biocombustíveis

pág. 62 pág. 146

04 08
Eficiência e Poupança Energética na Energias Renováveis: Eólica
Indústria II

pág. 170
pág. 84
09 13
Energias Renováveis: Solar Inovação Tecnológica

pág. 190 pág. 292

10
Energias Renováveis: Cogeração,
Biomassa

pág. 218

11
Energias Renováveis: Geotermia e
Mini-Hídricas

pág. 246

12
Produção de Energia Eléctrica

pág. 268
01 Introdução
Na sexta secção, explicaremos o que são as alterações
1. Introdução climáticas, gases com efeito de estufa, camada de ozono e
10
chuvas ácidas.
Quais são as fontes de energia?, onde se encontram?,
quem as controla?, o que são as alterações climáticas?, o Nas seguintes secções falaremos de energias renováveis e
que é o Protocolo de Quioto?, como evitar os cada vez mais de eficiência e poupança energética. A estes assuntos
frequentes desastres naturais?, energias renováveis, dedicaremos os seis seguintes capítulos do Manual.
energia nuclear, hidrogénio, veículos eléctricos…?, e se
não fosse necessário complicar tanto?, e se cada um de Por último, indicaremos, os endereços de Internet para
nós se comprometesse um pouco mais, comprometen- aqueles que queiram aprofundar os seus conhecimentos.
do-nos realmente por um consumo mais responsável e
eficiente?... Estas, junto com muitas outras, são as ques-
tões que se irão abordar neste primeiro capítulo do Manual 1.1. Energia e fontes de energia
de Eficiência Energética.
Antes de aprofundarmos o assunto, é necessário distinguir
Nos últimos tempos a energia converteu-se num assunto entre, energia, fonte de energia e forma de energia.
de interesse nacional, tal como no futebol e na política,
todos nós opinamos. E não é para menos, assuntos como Uma fonte de energia não é mais do que um depósito
o preço do petróleo, as alterações climáticas, a eficiência e desta. Em alguns casos é necessário transformá-la para se
poupança energética, afectam-nos a todos de uma forma poder extrair desta a energia, em outros casos não. Em
muito directa, tanto no campo macroeconómico (factura função da fase de transformação em que as fontes se
energética, balança comercial, competitividade,…) como encontram, estas classificam-se como:
no campo microeconómico (preços dos combustíveis,
factura eléctrica, alterações climáticas...). • Primárias. São aquelas que se encontram directa-
mente na natureza, que não foram submetidas a
Não se passa um dia em que não encontremos notícias nos nenhum processo de transformação. Algumas neces-
meios de comunicação sobre o sector energético (movi- sitam de processos de transformação prévios ao seu
mentos empresariais, o futuro das energias renováveis, consumo (carvão, petróleo, gás natural, urânio),
crises políticas entre países,…). Tal como sucedeu na outras não (sol, vento, água de barragens, madeira).
última década com o sector financeiro, pelo qual tantos de Em função da sua abundância na natureza (esgo-
nós se interessaram (aprendemos sobretudo a tirar o táveis e inesgotáveis) podem ser classificadas de
máximo de rentabilidade dos nossos investimentos), agora não renováveis (petróleo, carvão, gás e urânio) e de
é a vez do sector da energia. Todos deveríamos possuir renováveis (hidroeléctrica, eólica, solar e biomassa),
alguns conhecimentos que nos possibilitassem, pelo respectivamente. As primeiras representam 94% do
menos, compreender as notícias que lemos e ouvimos, e consumo mundial de fontes de energia primária. É
assim entender os efeitos que este assunto tem sobre as importante ressalvar que, excepto no caso do mineral
nossas finanças e, principalmente, sobre as nossas vidas. de urânio, todas têm a mesma origem: o Sol1.

Quanto ao conteúdo deste capítulo, na primeira secção • Secundárias. Denominam-se também de vectores
iremos compreender quais são as principais fontes de energéticos. A sua missão é transportar e/ou arma-
energia, em que regiões do mundo se encontram, que zenar a energia, contudo, não se consomem directa-
países as consomem,… mente. A mais importante é a energia eléctrica, a
qual muitos especialistas (organismos nacionais e
Na quinta secção falaremos do protocolo de Quioto (o que internacionais) também denominam de electricidade
é, que países o rectificaram, qual é a sua utilidade, o seu primária. A partir desta obtêm-se energia mecánica e
futuro…). térmica. Outros dois vectores são o urânio enrique-
cido (matéria prima das centrais nucleares) e os

1 Exceptuando o caso do urânio, a origem do resto das fontes de energia radica no Sol. Se considerarmos que a vida (animal e vegetal) existe sobre a Terra graças
à acção do Sol, temos o carvão, o gás e o petróleo (obtidos por sedimentação durante milhões de anos de restos animais e vegetais) provêm do Sol, algo igual
acontece com a Biomassa (madeira e resíduos vegetais) o biogás (procedente de restos orgânicos de animais). Por outro lado, o vento produz-se como conse-
quência de uma diferença de temperatura entre as distintas capas da atmosfera, a água doce provém da evaporação por efeito do Sol.
Existem outros mecanismos para obter energia além do Sol que actualmente se encontram em fase de investigação e desenvolvimento. São os seguintes: a
acção gravitacional da Lua sobre a Terra dá lugar às marés (o movimento destas massas de água pode ser aproveitado para a produção de energia), o calor exis-
tente nas capas interiores da Terra (essa energia térmica pode ser utilizada directa ou indirectamente para nosso proveito), algumas reacções nucleares exotér-
micas (já se explora comercialmente a fisão dos átomos de urânio e desde alguns anos que se investiga a fusão dos átomos de hidrogénio),…
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

carvões, que após preparação são usados nas


centrais térmicas. 1.2. Contexto energético internacional 11

• Finais. São as que consumimos diariamente nas Analisaremos o contexto energético internacional desde
nossas casas, indústrias e transportes. As principais dois pontos de vista: Procura e Oferta.
são os derivados do petróleo (gasolinas, gasóleos,
keroseno, butano, propano,…), o gás natural e a Pelo lado da oferta o principal factor a analisar é a situação
energia eléctrica. A partir destas extrai-se a energia (reservas) em que se encontram as fontes de energia
nas suas três formas possíveis: Energia luminosa, primária. Tal como a população ou a riqueza, a maior parte
mecânica e térmica. Cada uma destas, individual- das reservas ou fontes de energia, especialmente as mais
mente, é susceptível de se converter em quaisquer procuradas (carvão, gás natural e petróleo), estão geografi-
uma das outras duas2. camente distribuídas por um pequeno conjunto de países.

Esta classificação varia segundo as fontes, recomendamos, Vejamos alguns dados relativos ao petróleo:
que no que resta deste capítulo, deverá ter em atenção
cada uma das imagens correspondentes. • Calcula-se que existam reservas efectivas equiva-
lentes a 1.300 x 103 milhões de barris de petróleo.
Cada uma das fontes de energia tem um teor energético
diferente (energia por unidade de massa). É necessário ter • A produção-procura mundial situa-se ao redor de
em conta outros aspectos (principalmente custos, de loca- 85 milhões de barris/dia.
lização, extracção, transformação,…), em princípio quanto
maior é o teor energético de uma fonte, mais rentável será • O horizonte temporal de reservas comprovadas de
a sua exploração. As fontes com maior conteúdo energé- petróleo é de 41 anos.
tico são as que têm origem fóssil (carvão, petróleo, gás
natural) e o urânio. • A capacidade de refinação (processo pelo qual se
obtém os derivados de petróleo) instalada é de
As fontes de energia primária serão transformadas para 83 milhões de barris/dia, sendo que raramente se
que se possa obter energia final, passam pelas seguintes consegue cobrir a procura.
etapas: prospecção (localização), extracção, transporte até
aos centros de processamento e transformação, transporte • 95% das reservas comprovadas de petróleo
até aos centros de consumo e, finalmente o consumo. (1.224,5 milhares de milhões de barris) localizam-se

Introdução
em apenas 20 países. Os 14 primeiros aparecem
Como sucede noutras ocasiões, não existe a fonte de indicados na tabela 1.
energia perfeita, todas têm as suas vantagens e inconve-
nientes. Assim por exemplo, o petróleo tem um alto teor • O valor total, mundial, de reservas comprovadas é de
energético, mas a sua prospecção e extracção é muito cara, 1.292,6 milhares de milhões de barris de petróleo.
e a combustão dos seus derivados emite elementos capítulo 01
nocivos. Do outro lado encontra-se o vento. Esta fonte de • A maior parte dos países referidos, encontram-se em
energia é renovável, inesgotável e de fácil acesso, mas o regiões de conflito, como o Médio Oriente (que
seu teor/conteúdo energético é muito baixo e impossível dispõe de quase um terço das reservas mundiais),
de armazenar. Rússia e países da antiga URSS e América Latina.

Por último, assinalaremos que a unidade de medida que As principais consequências desta situação são:
habitualmente se utiliza, é a tonelada equivalente de
petróleo, que variará em função do tipo de petróleo consi- • Posições de privilégio, em algumas ocasiões, abuso
derado (tep). O tep usa-se nas comparações e medidas da de poder por parte destes países.
qualidade energética dos diferentes combustíveis.
• Conflitos internacionais.

• Insegurança no abastecimento.

2 “A energia não se cria nem se detroi, apenas se transforma”, frase conhecida por todos e que corresponde à 1ª lei da termodinâmica.
TabEla 1 Figura 1
Localização das reservas comprovadas de petróleo. Distribuição das reservas mundiais de petróleo (2005).
12

País Reservas provadas


(milhares de millões de barris) África 10% Ásia Pacífico 3%

América do Sul &


Arábia Saudita 264,3 (21,6%)
América Central 7%

Canadá 178,8 (14,6%) América do Norte 5%

Irão 132,5 (10,8%)


Europa & Eurásia 12%

Iraque 115,0 (9,4%)


Médio Oriente 61%
Kuwait 101,5 (8,3%)

Fonte: Empresa energética BP.


Emirados Árabes 97,8 (8%)

Relativamente às reservas comprovadas de gás natural,


Venezuela 79,7 (6,5%) deveremos referir que a sua distribuição também ela é
heterogénea, mas menos do que no caso do petróleo. A
Rússia 60,0 (4,9%) principal diferença está nos países do Médio Oriente estes
“apenas” possuem 40% do total de reservas mundiais,
enquanto a Rússia é o segundo pais em reservas e o
Líbia 39,1 (3,2%) primeiro produtor.
Figura 2
Nigéria 35,9 (2,9%) Reservas mundiais de gás em 2005.

Ásia Pacífico 8%
EU 21,4 (1,7%)
África 8% Médio Oriente 40%

América do Sul &


China 18,3 (1,5%) América Central 4%

América do Norte 4%
Qatar 15,2 (1,2%)

México 12,9 (1,1%)


Europa & Eurásia 36%

Argélia 11,4 (0,9%)

Fonte: U.S. Energy Information Administration.


Fonte: BP.

• Instabilidade de preços, com tendência a subir (na


actualidade o preço do barril do crude Brent já ultra-
passou os 80 US$). Pelo lado da procura de energia, um dos factores que mais
influência o panorama energético internacional, especial-
• A produção-procura mundial é de cerca de mente o futuro, é a população. Alguns dos aspectos que a
85 milhões de barris/dia. caracterizam são:

• É de cerca de 6.100 milhões de habitantes.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

TABLA 2
• Distribuição heterogénea. Zonas muito povoadas e Previsões de crescimento da população mundial.
13
outras praticamente desérticas.
Ano População Mundial
• Zonas de elevada concentração. Em cada 100 habi-
tantes, 60 estão no continente asiático. China e Índia 1950 2.535.093
comportam um terço da população mundial.
1955 2.770.753
• Segundo as previsões da União Europeia (UE), nos 1960 3.031.931
próximos 50 anos a população mundial aumentará
50%. 1965 3.342.771
1970 3.698.676
• Espera-se que a população mundial em 2030 seja de
1975 4.076.080
8.100 milhões de habitantes.
1980 4.451.470
Figura 3
1985 4.855.264
Distribuição da população mundial 2003.
1990 5.294.879
1995 5.719.045
2000 6.124.123
Rússia 2%
Oceania 1% 2005 6.514.751
América do Norte 5% Ásia 60% 2010 6.906.558
2015 7.295.135
Europa 9%
2020 7.667.090
América do Sul 9%
2025 8.010.509
2030 8.317.707
África 14% 2035 8.587.050

Introdução
2040 8.823.546
2045 9.025.982
Fonte: International Energy Agency (IEA).
2050 9.191.287

Fonte: EU capítulo 01

Figura 4
Previsões de crescimento da população mundial.

10.000.000

8.000.000

6.000.000

4.000.000

2.000.000

1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

Fonte: European Union (EU).


Figura 5
Previsões de crescimento da população mundial.
14

População (milhões) Produto Interno Bruto (PIB); mil de milhões

Fonte: IEA.

Outro dos factores chave é a riqueza. Tal como a popu- líferas do mundo), e que a China e a Índia já em 2006 se
lação, a sua distribuição é desigual. Na imagem anterior encontravam entre os principais importadores. Espera-se
vê-se a distribuição da população (em tons vermelhos que antes de 2010 se convertam nos maiores do mundo,
escuros vêem-se os países mais populosos) e da riqueza especialmente a China.
[em tons roxos escuros vêem-se os países com maiores
Produto Interno Bruto (PIB); índice do nível de riqueza]. Figura 6
Desta análise podemos extrair muitas conclusões, mas as Importações de energia no mundo em 2006.
que mais sobressaem, ainda que conhecidas por todos,
são a repartição desigual e que existem regiões como
África e Ásia que, sendo das mais populosas, são também
as que possuem menor riqueza.

Quanto maior é o desenvolvimento económico e o nível de


vida alcançado num país, maior é o seu consumo de energia.
Assim, as regiões que mais energia consomem no mundo
são a América do Norte, Europa e Austrália. As últimas duas
não possuem jazidas e encontram-se entre os principais
importadores. Neste sentido, no caso da América do Norte
especialmente os Estados Unidos, é curioso porque, apesar
de possuírem jazidas de fontes de energia primária (carvão,
petróleo e gás natural), preferem manter esses recursos
como reservas e importar grande parte do que neces- Importações Líquidas (milhões de TEP)
sitam.

Na imagem seguinte podem ver-se as diferentes regiões do


mundo, por níveis de importações energéticas. Além do
que foi indicado no anterior parágrafo, observamos que os
países do Médio Oriente estão entre aqueles que menos
energia importam (além de não serem grandes consumi- Fonte: IEA.
dores, são também aqueles que têm maiores jazidas petro-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Apesar de os Estados Unidos, Europa, Austrália, China e É importante assinalar que os Estados Unidos é o maior
Índia se encontrarem entre as regiões com maior consumo emissor de gases com efeito de estufa (GEE) em termos
15
energético do mundo, quando falamos de consumo per absolutos e per capita. Este assunto será tratado em
capita, os Estados Unidos são o número um. Apesar deste detalhe no quinto capítulo.
extremo, na seguinte imagem pode ver-se como o consumo
per capita (medido em tep) da China e da Índia são dos Se analisarmos o consumo desde o prisma das fontes de
mais baixos do mundo. Isto deve-se ao facto de a sua popu- energia primária, poderemos tirar as seguintes
lação ser superior a 2.000 milhões de habitantes. conclusões:

Figura 7 • O consumo de carvão, petróleo e gás natural (as


Energia per capita consumida em tep 2006. fontes em cuja combustão se emite maior nível de
GEE) representam 83% do total de consumo (dados
de 2007) e que o seu peso relativo apenas variou nas
últimas três décadas.

• O mesmo sucede com a madeira e os resíduos


(animais e vegetais), cuja cota não se alterou desde à
mais de 30 anos, situando em 10,5%! Isto deve-se
ao consumo dos países menos desenvolvidos da
Ásia e África que, ao não disporem de recursos
económicos, têm de recorrer às fontes autóctones.

• O peso da energia nuclear é baixo (apenas os países


mais desenvolvidos dispõem de centrais nucleares),
Energia consumida per capita toe/capita - milhões de tep per capita o peso da eólica e do solar insignificante.

• Com objectivo de reduzir a dependência energética


das fontes como o petróleo e o gás natural, em
meados dos anos 70 (crise do petróleo de 1973), os
países mais ricos iniciaram a construção das primeiras
Fonte: IEA. centrais nucleares.

Introdução
• Depois de uma primeira etapa, em que se desenvol-
Figura 8a veram grandes projectos nucleares, desde uns
Consumo mundial de energia primária em 2003 15 anos a esta parte, este tipo de projectos tem dimi-
e evolução da mesma entre 1971-2003. nuído (sendo que alguns países ainda constroem
centrais, contudo estes projectos têm estado capítulo 01
parados, na maioria dos casos por pressão da opinião
Gás natural 20,9%
pública).
Nuclear 6,4%

Hidráulica 2,1% Um aspecto interessante de analisar é o das fontes de


energia primária, cujo nível de consumo depende do seu
Biomasa e resíduos 10,7% nível de riqueza. Assim, os países mais pobres não dispõem
de dinheiro para importar petróleo nem gás natural, e muito
Geotérmica/solar/eólica 0,5% menos para construir centrais nucleares, pelo que recorrem
aos recursos que possuem internamente (geralmente
madeira, resíduos animais e vegetais e, em alguns casos,
Carvão 24,1%
carvão). Na imagem seguinte observa-se como nos países
mais desenvolvidos, o petróleo e o gás natural representam
Petróleo 35,3%
quase dois terços do consumo, o nuclear 6% e a biomassa
3%. Pelo contrário, nos países desenvolvidos o petróleo e
o gás natural representam 30%, o nuclear 1% e a biomassa
Fonte: IEA.
35%. No caso particular da China, entre 80% - 90% da
procura energética é coberta por centrais térmicas a carvão,
.000
apesar dos graves efeitos para o clima.
.000
.000
.000
Gás natural 20,9%
Nuclear 6,4%

Hidráulica 2,1%

Biomasa e resíduos 10,7%

Geotérmica/solar/eólica 0,5%

Carvão 24,1%
Figura 8b
Consumo mundial de energia primaria em 2003 e evolução do mesmo entre 1971-2003.
16
Petróleo 35,3%

12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000

-
1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

Carvão(%) Petróleo (%) Gas natural (%)


Nuclear (%) Hidráulica (%) Biomasa y residuos (%)
Geotérmica/solar/eólica (%)

Fonte: IEA.

Pela importância que tem actualmente no mundo, é inte- Figura 9a


ressante analisar brevemente a situação mundial do Distribução mundial do consumo das distintas fontes
consumo de energia eléctrica. Da imagem seguinte de energia 2004
podemos destacar que:

nuclear 6%
• O carvão (24% do consumo mundial) é a fonte de
energia primária mais utilizada na produção de hidro 6% biomassa 3%
energia eléctrica (representa cerca 40% do total utili- petróleo
zado).
gás natural 24%

• Existe semelhança entre a nuclear e a hídrica. Repre-


sentam ambas 8,5% do consumo total, no entanto o petróleo 37%

seu contributo para a produção de energia eléctrica é hidro 6%

de 35%.
combinado
sólido combin
• Com o petróleo passa-se o contrário: representa 26% sólido
mais de um terço do consumo mundial de fontes de
nuclear 6%
energia primária e no entanto apenas se utiliza um nuclear 1%
terço para ahidro
produção
6% de energia eléctrica. O motivo
biomassa 3%
1.800.000
é porque existem melhores fontes para a produção petróleo 23%
de electricidade, e devido à sua intensidade energé- 1.600.000
gás natural 24% biomassa 35%
tica, o petróleo (seus derivados) utiliza-se prioritaria- 1.400.000
mente na obtenção de energia térmica (aquecimento) 1.200.000
petróleo 37%
e mecânica (transportes).
1.000.000
hidro 6%

• O aumento da utilização de gás natural para produção 800.000


combinado
de energia eléctrica tem sido notório, especialmente
sólido 600.000
combinado gás natural 26%
26% sólido 28%
nos últimos anos (a imagem não o espelha). De entre 400.000
as suas principais vantagens destaca-se o seu baixo
200.000
nível de emissões de gases com efeito de estufa e -
Fonte: ICAI-ITT.
1.800.000 1971 1974 1977 1980 1983 1986 1989
1.600.000
Carvão (%) Petróleo (%)
nuclear 1%
hidro 6% biomassa 3%
petróleo 23%
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA
gás natural 24% biomassa 35%

petróleo 37%
hidro 6%

combinado
sólido combinado gás natural 26%
Figura 9b
26% sólido 28%
Distribuição do consumo de energia primária na China.
17

1.800.000
1.600.000
1.400.000
1.200.000
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
-

1971 1974 1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004

Carvão (%) Petróleo (%) Gás natural (%)


Nuclear (%) Hidráulica (%) Biomassa e resíduos (%)
Geotérmica/solar/eólica (%)

Fonte: IEA.

Figura 10
Evolução da utilização de fontes de energia primária para produção de electricidade 1971-2003.

18.000.000

Introdução
16.000.000
14.000.000
12.000.000
10.000.000
8.000.000 capítulo 01

6.000.000
4.000.000
2.000.000
-

1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003

Carvão (%) Petróleo (%) Gás natural (%)


Nuclear (%) Hidráulica (%) Biomassa e resíduos (%)
Geotérmica/solar/eólica (%)

Fonte: IEA.

nível de reservas existentes. O inconveniente: o Quanto ao futuro, as previsões da Agência Internacional da


preço (indexado ao do petróleo). Energia relativas ao consumo de fontes de energia primária,
para o período de 2000-2030. São as seguintes:
Figura 11
Previsão da evolução do consumo de energia primária 2000-2030, em Mtep.
18

6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
_

Carvão Petróleo Gás natural Electricidade Madeira


primária e resíduos

Fonte: IEA.

• O petróleo continuará a ser a fonte de energia mais 3. Investigação e desenvolvimento (I+D) de novas
consumida, apesar de que o seu peso diminuirá. fontes de energia e de tecnologias de produção
de energia eléctrica menos poluentes e mais
• O carvão e o gás natural serão as fontes com maior baratas.
incremento de consumo (mais 200% em 2030).
• Por parte da procura
• A madeira e os resíduos (vegetais e animais) conti-
nuarão a manter o nível actual. 1. Aumento do consumo de energia como conse-
quência do:
• A população mundial aumentará cerca de 33%; 30%
na Ásia, 80% em África e Médio Oriente e 40% na • Crescimento da população.
América Latina.
• Crescimento da riqueza. Cada vez existirão
• O PIB mundial anual crescerá 150%, 286% na Ásia, mais países no grupo dos países desenvol-
183% na África e Médio Oriente e 155% na América vidos (África) e novos potenciais mundiais
Latina. (Brasil, China e Índia).

• O consumo anual de energia primaria aumentará • Crescimento do sector dos transportes,


70%, passando de 10.000 Mtep a 17.065 Mtep. Por muito necessário para o incremento das
regiões, 146% na Ásia, 109% em África e Médio trocas de mercadorias, consequência da
Oriente e 103% na América Latina. globalização.

• Se não encontrarmos soluções, as emissões anuais • Desenvolvimento do Brasil, China e Índia.


de CO2 aumentarão cerca de 87%, 187% na Ásia,
172% em África e Médio Oriente e 110% na América • Concentração em cidades da população
Latina. mundial.

Para finalizar, apresentamos alguns dos factores que serão 2. Dependência focada em poucas fontes de
cruciais no futuro (alguns já o são hoje): energia primária (carvão, petróleo e gás natural),
escassas (muito concentradas em determinadas
• Pelo lado da oferta regiões, instáveis política e socialmente).

1. As alterações climáticas. 3. Abastecimento de fontes de energia. Segurança,


regularidade e certeza.
2. A exploração massiva das fontes de energia de
origem renovável. 4. Preço das fontes de energia.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Tabela 3
Previsões de população, riqueza, consumo de energia primária e emissões de CO2 por região 2000-2030.
19

População PIB Consumo de energia Emissões de CO2


Região
(milhões) (109 € de 1999) primária (Mtep) (Mt)

2000 2030 2000 2030 2000 2030 2000 2030

Europa Ocidental 456 468 9.225 16.706 1.604 1.936 3.599 4.374

América do Norte 304 365 9.943 18.096 2.532 3.082 6.387 7.955

Japão-Pacífico 158 159 3.699 6.302 635 812 1.406 1.806

Subtotal 918 992 22.867 41.104 4.771 5.830 11.482 14.135

CIS, CEEC 425 422 2.457 6.400 1.173 1.853 2.857 4.476

Asia 3.261 4.278 10.317 39.890 2.581 6.369 6.438 18.512

África-Médio Oriente 984 1.755 2.313 6.553 840 1.762 1.708 4.652

América Latina 514 717 3.455 8.840 614 1.251 1.296 2.722

Subtotal 5.184 7.172 18.542 61.683 5.208 11.235 12.299 30.362

Introdução
Mundo 6.102 8.164 41.409 102.787 9.979 17.065 23.781 44.497

Fonte: IEA. capítulo 01

5. As alterações climáticas e o desenvolvimento susten-


1.3. Contexto energético português
tável.
A partir de um conjunto de imagens, iremos apresentar o
6. Consciencialização mundial (cidadãos, governos, contexto energético português (passado, presente e futuro)
organismos,…) no combate às alterações climá- a partir de um pequeno conjunto de comentários. Assim, na
ticas. continuação podemos ver alguns dos factos e factores que
caracterizam o sector energético em Portugal:
7. Poupança de energia e consumo eficiente.
• Nos últimos 25 anos, o consumo de energia em
8. Eficiência na produção de bens. Ser capazes de Portugal sofreu um aumento espectacular e sem
produzir mais (gerar riqueza) utilizando menos precedentes.
energia, ou seja, reduzir a intensidade energética.
• Relativamente à produção de fontes de energia
primária nas últimas três décadas, podemos assinalar
o seguinte:
Figura 12
Evolução dos consumos de energia primária e final / Evolução do consumo de energia primária por tipo de fonte.
20

150.000
140.000
130.000
120.000
110.000
100.000
90.000
80.000
70.000
60.000
50.000
-

1980 1985 1990 1995 2000 2005

150.000 145.512 60
145.000 52
141.846 50
52 51 51
140.000 136.202 50 49
135.000 132.357
40
130.000 30
124.889 127.734
125.000 20
120.000 17 14 15 17
20
17 15 13 15 16 12 15
115.000 12 13 13 12 12 10
10
_ 5 6 5 7 6 6 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005

Petróleo (%) Renováveis (%) Nuclear (%)


Gás Natural (%) Carvão (%) Consumo Total
de Energia Primária (STEP)

Fonte: Ministério da Indústria, Turismo e Comércio (MITy C) / Instituto para a Diversificação e Poupança de Energia (IDPE).

1. Em Portugal não existe jazidas de petróleo e gás 4. Em Portugal a produção de urânio diminuiu desde
natural em quantidade significativa, por isso a sua 1999 até 2001. Em 2002 já não houve produção.
produção é insignificante. Não possui a tecnologia para o enriquecimento
do urânio e não utiliza-lo como matéria prima em
2. Portugal já não dispõe de zonas mineiras. O centrais nucleares. Apenas um pequeno conjunto
carvão utilizado na produção é importado. de países dispõe desta tecnologia (Estados
Unidos, Rússia, Reino Unido, China, França,…).
3. A produção de energia hídrica apresenta uma Assim cada vez que um país (o último foi o Irão)
pequena variação no aumento da potência insta- anuncia que vai desenvolver esta tecnologia, os
lada (construíram-se poucas centrais hidroeléc- que a possuem, especialmente Estados Unidos,
tricas nos últimos anos).
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 13
Evolução da produção de energia por fontes primárias entre 1971-2004.
21

40
35
30
25
20
15
10
5
-

1971 1974 1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004

Carvão (%) Petróleo (%) Gás natural (%)


Nuclear (%) Hidráulica (%) Biomassa e resíduos (%)
Geotérmica/solar/eólica (%)

Fonte: IEA.

Introdução
capítulo 01

Central Hídrica de Bolarque (Guadalajara).


22

Parque Eólico de Malpica de Bergantiños (Corunha). Fonte: EUFER.

tratam de o impedir pelo perigo de este a utilizar Nos próximos anos existirá uma explosão do uso
para fins militares. destas fontes.
5. Observa-se o aumento da produção de fontes de
origem renovável, especialmente eólica e solar.

Figura 14
Balanço de energia primária consumida em Portugal em 2009 / Evolução anual do consumo.

Fonte: APREN
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

6. É necessário ultrapassar a produção de combustí- 2. O combustível mais utilizado é o carvão, mas


veis renováveis como madeiras e resíduos com tendência em ser substituído pelo gás
23
(animais e vegetais). natural.

• Analizando o balanço de energia primária consumida 3. A produção hídrica subiu pouco nos últimos
em 2006, constatamos o seguinte: anos, deve-se essencialmente à construção de
poucas centrais hidroeléctricas. Em 2009 repre-
1. Cerca de 62% (dados de 2009) das fontes de sentou 55% de todas as renováveis.
energia primária consumidas (petróleo, gás
natural e carvão) são importadas. Isto coloca-nos 4. Em 2009 a eólica representou 40% de todas as
numa posição muito delicada, ainda mais tendo renováveis.
em conta o contínuo crescimento da nossa
intensidade energética. Estes motivos mostram 5. A produção a partir do gás natural (centrais de
a necessidade do desenvolvimento de uma ciclo combinado) e fontes de origem renováveis
indústria de energias renováveis (fontes autóc- aumentou muito nos últimos anos, espera-se
tones, inesgotáveis e gratuitas), que repre- que estas sejam o futuro da produção de
sentam cerca de 33% do total. energia.

2. Como consequência, do ponto anterior, temos a 6. Em 2009 a contribuição de biomassa, resíduos


grande dependência ao exterior em relação a sólidos urbanos, biogás e solar fotovoltaica foi
estas fontes e, como tal, aumento da exposição mínima.
a flutuações de preço de mercado.
De seguida mostram-se uma série de aspectos (custo do
3. Como Portugal não possui jazidas de carvão mas MWh produzido, os gases de Efeito de Estufa (GEE)
o seu consumo é significativo (11%) logo é emitidos por MWh produzido,…) relativo às diferentes
importado. fontes de energia utilizadas para a produção de energia
eléctrica.
4. Portugal não possui centrais nucleares. O
desenvolvimento desta forma de produção de As previsões de consumo para 2011 elaboradas pelo Insti-
energia deu-se nos princípios dos anos 70, coin- tuto para a Diversificação e Poupança de Energia (IDPE)
cidindo com as crises do petróleo. mostram uma diminuição do uso do carvão e do petróleo,

Introdução
em favor do gás natural e das renováveis.
5. No início dos anos 90, inicia-se o consumo de
gás natural, hoje em dia (20%) é a fonte com Por último vamos expor alguns aspectos relevantes do
maior crescimento relativo. O desenvolvimento sector energético português:
de uma série de centrais de ciclo combinado de
produção de electricidade fez com que o • Alta dependência do exterior. Como já se havia capítulo 01
consumo disparasse, convertendo-se na fonte comentado, cerca de 62% das fontes de energia
do futuro, pelo menos em Portugal. primária são importadas (na UE é de apenas 50%).
Isto supõe riscos inflacionistas e desequilíbrios
6. As fontes de origem renovável representam macroeconómicos, em cenários de alta dos preços
33% do consumo. Ainda que hoje em dia a fonte do crude.
mais utilizada seja a energia hídrica, espera-se
um importante aumento da solar e da eólica. • Portugal é uma ilha, em termos energéticos. Não
Estas são as fontes do futuro. dispomos de petróleo nem de gás natural. Encontra-
mo-nos geograficamente no extremo sul da Europa.
Quanto à evolução do consumo de combustíveis para Dispomos de interconexões eléctricas com Espanha
produção de energia eléctrica, podemos assinalar o e de gás natural com Espanha e Argélia.
seguinte:
• Intensidade energética crescente. Desde há uma
1. Tal como a maioria dos países, o petróleo utili- década que a intensidade energética portuguesa
za-se maioritariamente nos transportes e aque- apresenta uma tendência crescente, ao contrário do
cimento, cada vez menos como matéria prima conjunto da UE, onde decresce. Isto deve-se funda-
para a produção de energia eléctrica. mentalmente á baixa eficiência do nosso sector
produtivo (utilizamos mais quantidade de energia • Quanto ao gás natural, apesar de não existirem em
para produzir a mesma unidade de produto). Um dos Portugal jazidas importantes, dado o protagonismo
24
grandes desafios para Portugal é quebrar a relação que este está a adquirir na produção de energia eléc-
directa entre crescimento económico e aumento do trica por ciclos combinados, algumas empresas eléc-
consumo de energia, e como tal, aumento de tricas, desde há algum tempo convertidas em grupos
emissão de GEE. energéticos transversais, assinaram acordos de
fornecimento a longo prazo directamente com os
• Nos últimos anos o aumento inter-anual da procura principais países produtores do Norte de África. O
eléctrica foi superior a 6%, em comparação com a objectivo de tais acordos é múltiplo: assegurar o
média da União Europeia. fornecimento futuro, ser capaz de alimentar as múlti-
plas centrais de ciclo combinado que proliferaram
• Ainda temos que percorrer um longo caminho para pelo país, poder aumentar a oferta dos seus clientes
conseguir cumprir o Protocolo de Quioto. eléctricos tradicionais (fornecer agora também gás a
preços competitivos), obter importantes rendimentos
• Petróleo. Representa cerca de metade das fontes de pela venda de gás a outros operadores (nacionais e
energia primária consumidas. Não temos produção internacionais)…
própria. Grande dependência do exterior.
• Energia nuclear. Mantêm-se o debate na opinião
• Carvão. Continua a ter um peso importante no mix pública. Não deixa ninguém indiferente. Para já não
produção eléctrica, apesar de que na sua combustão existem projectos concretos para a construção de
emite grandes quantidades de GEE. A sua utilização, centrais nucleares.
na produção eléctrica, perdurará por muitos anos, as
“utilities” continuam a investir recursos em I&D com • Fontes de origem renovável. Constituem a aposta de
vista ao desenvolvimento de tecnologias menos futuro. Apesar de existirem estudos que afirmam
contaminantes ou de carvão “limpo”. que Portugal até ao final do século poderá cumprir a

TabEla 4
Fontes de energia utilizados na produção de energia eléctrica na UE.

Gases de efeito Dependência da UE


Duração das
Custo estufa das importações
Tipos de energia Eficiência reservas
(euros/MWh) (kg equivalentes
actuais
de CO2/MWh)
2005 2030

Gás natural 35-70 400-440 57% % 40% - 50% 64 anos

Petróleo 70-80 550 82% 93% 30% 42 anos

Carvão 30-50 750-800 39% 59% 40% - 48% 155 anos

Nuclear 40-45 15 100% 100% 33% 85 anos

Biomasa 25-85 30 0% 0% 30% - 60% Renovável

Em terra 35-175 30 0% 0% 95% - 98% Renovável


Eólica
no mar 50-170 10 0% 0% 95% - 98% Renovável

Mais de 10 MW 25-95 20 0% 0% 95% - 98% Renovável


Hidráulica Menos de
45-90 5 0% 0% 95% - 98% Renovável
10 MW

Solar 140-430 100 0% 0% — Renovável

Fonte: Comissão Europeia


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

totalidade da sua procura de energia a partir de fontes da Terra, acontecimentos como ciclones, furacões, inun-
renováveis, é difícil que estas cheguem a substituir dações, secas… Desde há alguns anos, quase diariamente,
25
totalmente os hidrocarbonetos. Tal como sucedeu chegam-nos notícias de diferentes desastres naturais que
com outras fontes de energia, actualmente as fontes acontecem por todo o planeta. Alguns dados relevantes
renováveis são subsidiadas pelo Governo. Este são:
subsídio é necessário, não tanto para conseguir que • O Inverno de 2006 foi o mais quente no hemisferio
estas substituam as outras fontes consolidadas norte desde 1880.
(retirar cota à produção eléctrica), mas para fomentar
o desenvolvimento de toda uma indústria/sector que • A concentração de CO2 na atmosfera é a mais alta
com o tempo se faça tão competitivo ou mais compe- dos últimos 650.000 anos… e continua a subir.
titivo que os restantes sectores de produção.
• As temperaturas do ártico aumentaram aproximada-
Figura 15 mente 5 °C durante o século XX, ou seja, 10 vezes
Previsões de consumo das distintas fontes de energia. mais que a média da temperatura da superfície
mundial.
100%
90%
• Desde os anos sessenta, a cobertura de neve dimi-
80%
nuiu aproximadamente 10% nas latitudes médias e
70%
60% altas do hemisfério norte.
50% 52,0 50,3
40% 47,6 • O volume total dos glaciares da Suíça diminuiu dois
30% terços.
20% 22,5
17,3
10% 17,3 13,0 15,2 15,8 • Em Julho de 2006 as águas do mar Mediterrâneo em
11,9
8,2 9,7 12,0
_
5,6 6,8 apenas 18 dias aumentaram a sua temperatura 8 ºC,
2000 2003 2011 e passaram de 22 ºC a 30 ºC.

Desde há alguns anos que se adoptou várias medidas,


Carvão Petróleo Gás Natural
numa multitude de âmbitos, para evitar a proliferação das
Nuclear Renováveis
alterações climáticas, a maioria, enfocadas do ponto de
Fonte: IDAE.
vista da oferta (investigação e desenvolvimento de fontes

Introdução
de energia e tecnologias de produção de energia eléctrica
1.4. Alterações Climáticas e Gases com menos contaminantes, utilização de fontes de origem reno-
vável,…). A humilde opinião do autor é que, ainda que todos
Efeito de Estufa
os esforços sejam poucos, a solução para combater as alte-
rações climáticas deverá surgir do lado da procura. As
O termo alterações climáticas utiliza-se vulgarmente de chaves são: capítulo 01
forma incorrecta. Alteração do clima é quaisquer alterações
que se produzam no clima da Terra3 e, portanto, não é algo • Consciencialização mundial (organismos, empresas,
novo, desde há milhões de anos que estas alterações governos, cidadãos) no combate ao problema.
existem. A novidade é que até agora as alterações aconte-
ciam devido a causas naturais, desde há 300 anos tem • Redução do consumo energético.
surgido uma nova causa: a acção do ser humano (cientifica-
mente este tipo de alteração denomina-se de antropogé- • Eficiência no uso das distintas fontes de energia.
nico e, de uma forma mais coloquial, aquecimento global).
• Reciclagem.
Uma das provas de que o homem está a contribuir para as
alterações do clima terrestre, é espelhado na maior • Regulação dos níveis de emissões de GEE nos
frequência e intensidade que acontece em distintas regiões sectores residencial e transportes.

3 Não confundir temperatura atmoférica com clima. O primeiro define-se como sendo o estado da atmosfera (das condições atmosféricas como temperatura,
pressão atmosférica, direcção e força do vento, quantidade de nuvens, humidade,…) registradas num determinado lugar e num determinado período de tempo.
O segundo, no entanto, define-se como o conjunto desses valores (média) recolhidos numa determinada região da Terra durante um período de tempo mais largo
(não inferior a 30 anos). Assim, os climas criam-se a partir do registo diário das condições atmosféricas em diferentes estações meteorológicas e durante muitos
anos. O manual desses dados permite estabelecer as diferentes zonas climáticas do planeta.
De seguida apresentamos alguns conceitos que, tal como Segundo cálculos de especialistas, a temperatura média na
as alterações climáticas, aparecem todos os dias na comu- Terra aumentou 0,6 °C durante o século XX e aumentará
26
nicação e convém ter claros, sobretudo, conhecer as suas entre 1,4 °C e 5,8 °C daqui até ao ano 2100.
diferenças.
Os gases com efeito de estufa (GEE)4 são os seguintes:
Os gases de efeito de estufa (GEE) constituem apenas 1%
de todos os gases que compõem a atmosfera, mas são • Dióxido de carbono (CO2). Representa apenas 0,04%
essenciais para que exista vida sobre a Terra. Estes gases dos gases existentes na atmosfera, mas é o causador
retêm uma parte da energia, que vem do Sol, que é reflec- de 60% do efeito de estufa (este é o motivo pelo qual
tida pela crosta terrestre, aquecendo a atmosfera até quase sempre se fala de GEE, referirmo-nos unica-
alcançar as temperaturas óptimas para a existência de vida mente ao CO2). Emitimo-lo quando respiramos e
(animal e vegetal) sobre a Terra. Se não existissem os GEE, também na combustão de fontes de energia fóssil
a temperatura sobre a crosta terrestre seria de -15 ºC. O (madeira, carvão, gás natural e derivados do petróleo).
problema surge quando a emissão de GEE por parte do ser A combustão da lignite (tipo de carvão com que se
humano causa um aumento excessivo de concentração na gera metade da energia eléctrica consumida no
atmosfera desses gases, evitando que parte da energia mundo) é um dos processos industriais que mais
reflectida viaje para lá da atmosfera, ficando esta retida e CO2 emite. O dióxido de carbono é absorvido pelas
provocando aumento excessivo da temperatura. Este plantas na fotossíntese. Outra das causas do aumento
aumento origina alterações irreparáveis, em muitos, casos é a desflorestação, esta é a maior causa indirecta do
nos ecossistemas e contínuos desastres climáticos. seu aumento na atmosfera.

Figura 16 • Metano (CH4). Representa 0,0002% dos gases exis-


Aquecimento da superfície terrestre
Caminho percorrido pela radiação solar ao entrar na 6.0 tentes na atmosfera, contudo é responsável por 20%
atmosfera / Estimativas de evolução da temperatura da do efeito de estufa. É emitido durante a fermentação
Terra. 5.0 dos alimentos no aparelho digestivo, na combustão
4.0 da biomassa, aterros sanitários de resíduos
Radiação Solar Radiação Terrestre
recebida (340 W/m2) emitida (240 W/m2) tóxicos,...
3.0
2.0 • Óxido nitroso (NOx). É emitido durante a combustão
1.0 de alguns carburantes e fertilizantes químicos
A Terra (adubos nitrogenados). É causador da destruição da
0.0 17
camada de ozono. 21
21
-1.0 16
Radiação Solar
reflectida(100 W/m2) • Clorofluorcarbonetos (CFC). São o hidrofluorcarbo-
neto, 1900
o perfluorocarboneto
2000e o hexafluorocarboneto
2100
Aquecimento da superfície terrestre de enxofre. Totalmente artificiais (produzido pelo ser
6.0
humano para uso como líquidos refrigerantes,
5.0 agentes extintores e preparados A1B para aerossóis).B1
A2
4.0 Mais do que o NO2, estes são os causadores da
adiação Terrestre Compromisso de composição Século XX
adistruição da camada de ozono (uma molécula de
mitida (240 W/m2)
3.0 manter
2.0 cloro pode destruir até 100.000 de ozono). Uma
1.0
grama reproduz 15.000 vezes o efeito de uma grama
de CO2, felizmente a sua concentração na atmosfera
0.0 17
21
21 é muito baixa.
-1.0 16

Denomina-se camada de ozono (O3) à zona da estratosfera


1900 2000 2100
terrestre situada entre 30 km e 40 km da crosta terrestre e
que contém uma concentração relativamente alta deste
A2 A1B B1 gás. A sua principal missão é proteger a vida na Terra, da
Compromisso de composição Século XX radiação ultravioleta que nos chega do Sol. A camada de
a manter ozono é criada nas zonas equatoriais, sendo que por acção
Fonte: Instituto Católico de Arte e Indústria( ICAI) / Grupo Intergovernamental
dos ventos na estratosfera, é deslocado até aos pólos, onde
de Especialistas sobre Alterações Climáticas da ONU IPCC 2001. se concentra. Em condições normais, esta camada é criada

4 Classificação establecida pelo Protocolo de Quioto.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

e destruída constantemente, mas mantendo-se o seu equi- O Protocolo de Quioto é um instrumento legal que estabe-
líbrio. lece, pela primeira vez, um compromisso vinculativo e
27
específico de limitação de emissões líquidas de GEE para
O problema produz-se quando emitimos demasiados CFC e os países desenvolvidos, incluindo nestes os países que
NOx. Então chegam à Terra mais radiações solares, do que estão na passagem para economias de mercado. Foi assi-
as desejáveis, causando problemas graves a todos os seres nado por todos os países que participaram na Conferência
vivos. Quando se fala de “buraco” da camada de ozono, das Partes (conferência organizada pela ONU para as alte-
não se faz referência a um verdadeiro “furo”, mas sim a uma rações climáticas; COP) celebrada na cidade japonesa de
dissimulação na concentração deste gás. Todos os anos Quioto em 1997. Nesse momento, todos eles (incluindo os
abre-se um “furo” tão extenso como os Estados Unidos e Estados Unidos, China, e Índia,…) acordaram que o Proto-
tão profundo como o Monte Everest. colo entraria em vigor 90 dias depois da Rússia o rectificar.

Chama-se chuva ácida as precipitações de água que contêm O objectivo principal do Protocolo é: “Estabilizar as concen-
partículas de ácidos sulfurosos e nitrogenados em disso- trações de GEE na atmosfera a um nível que impeça as
lução, e que produzem sob a forma de neblina, chuva ou interferências antropogénicas (as causadas pelo homem)
neve, sobre a superfície terrestre. Esses ácidos formam-se perigosas ao sistema climático. Esse nível deveria ser
pelo contacto do hidrogénio da água (H2O) com as molé- conseguido num prazo que permitisse aos ecossistemas
culas de óxidos de enxofre (SOx) e nitrogénio (NOx), emitidas adaptarem-se naturalmente às alterações climáticas, asse-
para a atmosfera pelo homem. As actividades que as molé- gurando que a produção de alimentos não se visse
culas emitem são as seguintes: ameaçada e permitisse o desenvolvimento económico
sustentável”.
Tabela 5
Emissões de SOx e NOx por actividade. Actualmente 141 países ratificaram o Protocolo, respon-
sáveis por 61,5% da emissão total de GEE. Não se inscre-
NOx (%) SOx (%) veram Estados Unidos, emissor de 25% do total dos GEE,
Australia, Brasil, China e a India (estes dois últimos, embora
em 2000 tivessem emitido 12% e 5% das emissões totais
Transporte 40 2 respectivamente, por serem considerados em vias de
desenvolvimento não têm restrições).
Combustão 49 74
O compromisso assumido pelos países que ratificaram o

Introdução
Processos Industriais 1 22 Protocolo foi o de reduzir a emissão de GEE (principalmente
CO2) para a atmosfera em 5,2% entre 2008 e 2012. A forma
de articular este acordo foi a seguinte: cada país compro-
Eliminação de lixos sólidos 3 1 metia-se a alcançar uma emissão de GEE máxima (diferente
para cada um deles) durante esse período equivalente a
capítulo 01
Incêndios florestais, queima agrícola, … 7 1 uma percentagem dos GEE que emitiam em 1990.

Fonte: Execução própria. A COP é o órgão supremo da Convenção das Nações


Unidas para as questões das alterações climáticas. A
primeira reunião teve lugar em Berlim em 1995, e as
seguintes estão expressas na tabela 6:
1.5. Protocolo de Quioto
Em baixo temos expressos alguns detalhes do Protocolo:
A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera
durante as décadas de 1960 e 1970, fez com que os meteo- • Estabelece como GEE os seis assinalados no ponto
rologistas e outros especialistas em clima dessem o alarme anterior.
à comunidade internacional. Após muita insistência, em
1988 a Organização Meteorológica Mundial e o Programa • Estabelece os países incluídos no Anexo I (desenvol-
das Nações Unidas para o Meio Ambiente criou o Painel vidos e com economias em transição para economias
Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC). de mercado) e não incluídos (em vias de desenvolvi-
Em 1991 este grupo emitiu um primeiro comunicado que mento).
expressava a opinião de 400 cientistas, em que estes afir-
mavam que o aquecimento atmosférico era real, e onde
pediam à comunidade internacional que fizesse algo para o
evitar.
Tabela 6 • Estabelece três mecanismos (denominados de flexi-
Principais dados das EERR em 2006. bilidade) mediante os quais, os países do Anexo I que
28
não alcancem os seus limites em termos de emis-
COP Ano Sede sões, podem evitar as sanções. São os seguintes
mecanismos:

COP1 1995 Berlim


1. Aplicação Conjunta (AC). Este mecanismo
consiste na realização de projectos do Anexo I
COP2 1996 Genebra que permitem uma poupança adicional de emis-
sões à que se teria se tivéssemos utilizado
tecnologia convencional ou caso não se tivesse
COP3 1997 Quioto incentivado a capacidade de retenção das
massas florestais. Na prática, os potenciais
países receptores serão fundamentalmente os
COP4 1998 Buenos Aires da Europa Central e de Leste. A poupança de
emissões deverá ser certificada por uma Enti-
dade Operarional Designada (EOD). As Reduções
COP5 1999 Bonn
Certificadas de Emissões (RCE) assim obtidas
podem ser comercializadas e adquiridas pelas
COP6 2000 Haia entidades públicas ou privadas dos países
desenvolvidos ou de economias de transição,
que as necessitem para o comprimento das
COP6bis 2001 Bonn suas metas de redução.

2. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).


COP7 2001 Morrocos Este mecanismo é idêntico ao da AC, com uma
diferença, os projectos deverão ser realizados
em países não incluídos no Anexo I (em desen-
COP8 2002 Nova Dili
volvimento).

COP9 2003 Milão


3. Comércio de Emissões (CE). Se uma empresa
de um país incluído no Anexo I conseguiu reduzir
os seus níveis de emissões abaixo das metas às
COP10 2004 Buenos Aires quais se tinha comprometido, poderá vender o
resto (é uma venda virtual já que não se vende
nenhum bem tangível, só se vendem direitos
COP11 2005 Montreal que sobraram) a outras empresas (do seu
próprio país o estrangeiras) que não o conse-
guiram. No caso contrário, os países que não
COP12 2006 Nairobi
alcançaram os seus compromissos de redução,
poderão evitar sanções comprando direitos de
COP13 2007 Nova York emissão. Este sistema é o que se denomina de
Mercado de Direitos de Emissão, no qual a
tonelada de CO2 ronda os 10 dólares e flutua
Fonte: IDAE. segundo a oferta e a procura.

• Estabelece que o Governo de cada país da UE deve O objectivo destes mecanismos é duplo: por um lado, faci-
elaborar um Inventário Nacional (IN) de emissões em litar aos países do Anexo I o cumprimento dos seus compro-
que detalhe as quantidades máximas que pode emitir missos de redução de emissões e, por outro lado, apoiar o
cada sector industrial, empresa e unidade produtiva, crescimento sustentável dos países em vias de desenvolvi-
decretando sanções para os que não as cumpram, mento (Anexo II) através da transferência de tecnologias
bem como mecanismos de compensação para os limpas.
casos contrários.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Os principais defeitos do Protocolo são: • Portugal emitiu, em 2008, mais cinco por cento de
gases com efeito de estufa (GEE) do que o limite
29
• Não tem em conta os sectores que mais emitem imposto pelo Protocolo de Quioto, que abrange o
GEE (denominados de difusos): Os transportes e o período 2008-2012.
sector residencial.
• As previsões mais optimistas apontam que provavel-
• Não foi ratificado pelos Estados Unidos ( país respon- mente, no fim do período de Quioto poderá rondar os
sável por 25% das emissões de CO2), Brasil, China e 3 a 3,5 por cento.
a Índia (estes dois últimos são também grandes
emissores de CO2 e, dado o seu desenvolvimento • No futuro, as políticas energéticas deverão fomentar
económico esperado e a sua dependência das fontes o paralelismo entre crescimento da actividade econó-
de origem fóssil). O Governo Chinês e Indiano decla- mica e o consumo de energia, evitando, descidas
raram que a sua adesão ao Protocolo de Quioto atra- dos níveis de riqueza (PIB) e emprego.
saria o seu desenvolvimento económico.
• O não cumprimento do valor definido no protocolo,
A situação de Portugal no que concerne ao Protocolo de pode ser conseguido pelas seguintes vias:
Quioto é a seguinte:
1. Reflorestação de bosques; absorvedores de
• O nosso compromisso é emitir entre 2008-2012 cerca (CO2).
de 27% mais de CO2 que o que se emitiu em 1990.
2. Através de Créditos de Carbono ou Redução
• Em 2004 emitimos 41% mais do que emitimos em Certificada de Emissões.
1990. Somos o país da UE que mais se afasta dos
seus compromissos dentro do Protocolo de Quioto.

Figura 17
Cenários da penetração das EERR a nível mundial.

1.600

1.400

Introdução
1.200

1.000
800

600 capítulo 01

400

200
_

2000 2010 2020 2030 2040 2050 2100

Carvão Petróleo Gás natural


Nuclear Hidraúlica Tecnologias de tratamento
de biomassa tradicionai
Novas tecnologias de tratamento de biomassa Eólica
Solar fotovoltaica e termoeléctrica
Solar térmica Outras energias renováveis
Geotérmica

Fonte: PV NET.
Os instrumentos actualmente em vigor para combater as • 20% do consumo energético seja através de fontes
alterações são o Programa Nacional de Alterações Climá- renováveis.
30
ticas (PNAC), o Plano Nacional de Acção para a Eficiência
Energética (PNAEE), Plano Nacional de Acção para as Ener- • 10% dos combustíveis utilizados em transportes,
gias Renováveis (PNAER) e a Estratégia de Eficiência e sejam biocombustiveis. O estabelecimento deste
Poupança Energética. (Programa E4). objectivo específico para os biocarburantes deve-se
ao facto de o sector dos transporte utilizar no seu
mix energético, 98% de derivados de petróleo, sendo
1.6. Energias renováveis responsável pela emissão de um terço do total de
CO2 mundial. Esperando-se que este sector seja o
Uma das acções mais eficazes que do ponto de vista da que mais fará crescer as emissões até 2020.
oferta se podem levar a cabo para evitar o aumento das
alterações climáticas é a utilização de fontes de energia de • Reduzir as emissões de CO2 em, pelo menos, 20%.
origem renovável, na produção de energia eléctrica e
térmica ou calorífica. • Melhorar a intensidade energética (consumo de
energia / PIB) em 20%.
As principais fontes de energia de origem renovável são o
Sol (energia solar térmica, fotovoltaica e termoeléctrica), o Para 2010 mantêm-se os objectivos acordados:
vento (eólica terrestre e marítima), a água doce utilizada em
barragens, água salgada do mar, a biomassa (madeira e • 12% do consumo energético será coberto por fontes
resíduos vegetais e animais), o biogás, os biocarburantes renováveis.
(bioetanol e biodisel), o calor do interior da crosta
terrestre… • 5,75% dos combustíveis utilizados nos transportes
As principais vantagens destas fontes são: sejam provenientes de biocarburantes.

• Na sua combustão não emitem GEE. A sua explo- Relativamente a Portugal, apenas três comentários (neste
ração respeita o meio ambiente. Manual irão dedicar-se quatro capítulos):

• São inesgotáveis e autóctones. O seu uso diminui o • É imprescindivel, tal como ocorreu noutros sistemas
grau de dependência ao exterior e aumenta a segu- de produção de energia, que os projectos em ener-
rança do abastecimento. gias renováveis sejam subsidiados, pelo menos
durante os primeiros anos. O objectivo não é apenas
• A maior parte delas (sol, vento, água doce e do o de criar peso no mix de produção energética, coisa
mar,…) são gratuitas, sendo que o seu uso reduz a que levará décadas, mas sim a criação de uma indus-
factura energética do país. Outra coisa é o custo da tria sólida nestas áreas, permitindo estar na linha da
sua instalação, transporte e exploração. frente destas tecnologias. Isto possibilitará o desen-
volvimento necessário para se conseguir a dimi-
• Ao estar maioritariamente localizadas em ambiente nuição dos custos da tecnologia, e por sua vez,
rural, o seu uso fomenta o desenvolvimento econó- aumentar a independência económica deste tipo de
mico e social. Os projectos de exploração destas projectos, e que estes sejam rentáveis por si só.
fontes constitui uma nova e complementar, fonte de
ingressos para os proprietários dos terrenos. • As fontes de energia de origem renovável represen-
taram 13% do total de energia primária consumida. A
• Pelo factor novidade, dinamismo e inovação tecnoló- energia eólica e hídrica são as principais responsáveis
gica, o sector das energias renováveis constitui uma por essa percentagem. O resto das energias reno-
importante fonte de criação de emprego e de investi- váveis (solar fotovoltaica, solar térmica e geotérmica)
mento em Investigação, Desenvolvimento e Inovação foram apenas consumidas como energia primária.
(I+D+i) para o país.
• As energias renováveis representam 25-35% do total
Em seguida mostramos o grau de penetração, previsto, das de energia primária utilizada para produzir electrici-
Energias Renováveis para 2100. dade. A hídrica representa 45% do total, a eólica
38%, biomassa e biogás 3,2% e os resíduos sólidos
No que diz respeito à UE-27, no passado mês de Março de urbanos 0,2%. A solar fotovoltaica apenas contribuiu
2007, os seus membros comprometeram-se a alcançar até para a produção nacional de energia eléctrica.
2020 os seguintes objectivos:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Em seguida podemos ver a situação actual das energias poupança de energia (consumo responsável) e o uso
renováveis em Portugal e o seu grau de cumprimento em eficiente das fontes de energia, são essenciais ao futuro de
31
relação aos objectivos do Plano Nacional de Acção para as todos os que habitam o planeta.
Energias Renováveis (PNAER).

A poupança e o uso eficiente da energia (a chamada


1.7. Poupança energética e uso eficiente da
eficiência energética) é o principal objectivo deste Manual energia (eficiência energética)
(irão ser dedicados 6 capítulos, cada um focado num sector
de actividade distinto). Por isso neste capítulo apenas se irá A poupança e a eficiência energética são medidas que
fazer uma introdução ao assunto. provêm do lado da procura (tal como se comentou anterior-
mente, os procedimentos mais efectivos para combater as
No decorrer da anterior análise do contexto energético alterações climáticas, terão de partir do lado da procura,
nacional e internacional, não existem dúvidas de que a mais do que do lado da oferta).

TABeLA 7
Principais dados das EERR em 2006.

Fonte de Energia Balanço Objectivo PER Cumprimento


Acumulado até 2006
Renovável em 2006 em 2010 do Objectivo

Hidríca até 10 MW 31 MW 1.819 MW 2.199 MW 82,7%

Hidríca entre 80 e 50 MW 28 MW 2.938 MW 3.257 MW 90,2%

Eólica 1.696 MW 11.606 MW 20.155 MW 57,5%

Solar térmica

Introdução
134.663 m2 930.000 m2 4.901.000 m2 18,9%

Solar fotovoltaica 60,5 MWp 118 MWp 400 MWp 29,5%

capítulo 01

Solar termoeléctrica — — 500 MW 0%

Biomassa eléctrica 55 MW 409 MW 2.039 MW 20%

Biomassa térmica 13 ktep 3.457 ktep 4.070 ktep 84,9%

Biogás 8 MW 160 MW 235 MW 68%

Biocombustíveis 284 ktep 549 ktep 2.200 ktep 24,9%

Fonte: IDAE.
TABeLA 8
Resumo das medidas sectoriais.
32

Sector
Sector Medida
Medida

Campanhas de comunicação.
Alterações nos sistemas de rega.
Poupança e eficiência energética no sector das pescas.
Agricultura
Melhoramentos energéticos em comunidades de regadio.
Modernização da frota de tractores agrículas.
Aumento da eficiência energética dos tractores em uso mediante o ITV.

Acordos voluntários.
Indústria Auditorias energéticas.
Programa de ajudas públicas.

Instalações de iluminação pública.


Estudos e auditorias energéticas.
Serviços Públicos
Formação a técnicos municipais.
Melhoria da eficiência energética nas infraestruturas de água.

Equipamento Plano “Renovação” de electrodomésticos.


e informática Plano de equipamento e uso eficiente na Administração Pública.

Em edifícios existentes:
- Reabilitação da envolvente.
- Melhora da eficiência energética das instalações térmicas.
Edifícios - Melhora da eficiência energética das instalações de iluminação.
Em edifícios novos:
- Promoção da construção de edifícios energeticamente eficientes.

Comissões mistas na refinação de petróleo.


Comissões mistas em produção eléctrica.
Desenvolvimento potencial da cogeração:
- Estudos de viabilidade.
Transformação
- Novas instalações em actividades não industriais.
de energia - Promoção de fábricas com cogeração de pequena potência.
Melhoria da eficiência energética na cogeração:
- Auditorias energéticas.
- Plano “Renovação” de instalações existentes.

Planos de mobilidade urbana.


Planos de transporte para empresas.
Maior utilização de transportes colectivos, por estrada, caminho de ferro e marítimo.
Gestão de Infraestruturas de transporte:
- Frotas de transporte por estrada.
- Frotas de aeronaves.
Transporte
Condução eficiente de:
- Veículos privados.
- Camiões e autocarros.
- Aeronaves.
Renovação de frotas de transportes por estrada e das frotas aéreas e marítimas, assim
como o parque automóvel.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Para Portugal em particular, é essencial que se realizem energia), focalizando-se nos denominados difusos
todos os esforços possíveis (governo, empresas, organi- (transporte e residencial).
33
zações, cidadãos,…) em termos de poupança e eficiência
energética, pelos motivos que passamos a referir: • Programa Nacional de Alterações Climáticas (PNAC)

• Reduzir a factura energética. Cerca de 80% da • Eficiência Energética e Energias Endógenas (E4),
energia primária que consumimos é importada. Estabelece o potencial da poupança, bem como as
medidas que se devem levar a cabo com o objectivo
• Reduzir a dependência energética em relação aos de melhorar a intensidade energética da economia e
combustíveis fósseis (caros, fornecimento incerto). induzir uma mudança de convergência face aos
compromissos internacionais em matéria do meio
• Reduzir a emissão de GEE. A maior parte das fontes ambiente.
de energia utilizadas são de origem fóssil (carvão,
petróleo e gás natural) que são as que mais emitem
GEE na sua combustão. 1.8. Endereços de interesse

• Poupança na compra de direitos de emissão e no Em seguida mostramos alguns endereços de Internet, que
pagamento das sanções de incumprimento das poderão ser úteis no aprofundamento deste capítulo.
metas impostas pela ratificação do Protocolo de
Quioto. Rede Eléctrica de Portugal
www.ren.pt
• Reduzir o nível da intensidade energética, fazen-
do-nos mais eficientes e assim os nossos produtos Portal das Energias Renováveis
seriam mais competitivos em relação ao exterior. www.energiasrenovaveis.com

A legislação, planos e estratégias de desenvolvimento rele- Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
vantes em energias renováveis, poupança e eficiência ener- www.ERSE.pt
gética são os seguintes:
Associação das Energias Renováveis
• O Decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril aprova o www.APREN.pt
Sistema Nacional de Certificação Energética e da

Introdução
Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE). Constitui Direcção Geral de Geologia e Energia
a primeira norma europeia que obriga a incorporar as www.DGGE.pt
tecnologias solares (térmica) nos imóveis.
Agência internacional de Energia
• DL 33-A/2005 fixa os factores de cálculo para valor da http://aie.ineti.pt
remuneração pelo fornecimento da energia produzida capítulo 01
em centrais renováveis entregue à rede do Sistema Union Fenosa
Eléctrico Português (SEP), definindo procedimentos www.unionfenosa.com.pt
para atribuição de potência disponível na mesma
rede e prazos para obtenção da licença de estabele- O Protocolo de Quioto
cimento para centrais renováveis www.icex.es/Protocolokioto/default.htm

• Plano Nacional de Acção das Energias Renováveis Portal Energia


• Plano de Acção (PAE4) 2005-2007. Conjunto de www.portal-energia.com
medidas e instrumentos que se deverão activar,
financiamento e os objectivos energéticos e ambien- WikiEnergia
tais que se terão de alcançar. www.wikienergia.pt

• Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética TV Energia


(PNAEE) 2008-2015. Compila a experiência dos três www.tvenergia.tv
anos de gestão do anterior Plano e estabelece
medidas concretas para os sete sectores desagre- Energia na UE
gados (indústria, transportes, edifícios, serviços http://europa.eu/legislation_summaries/index_pt.htm
públicos, residencial, agricultura e produção de
Agencia Internacional de Energia
34
www.iea.org

Conselho Mundial da Energia


www.worldenergy.org/wec-geis

Organização dos Países Exportadores de Petróleo


www.opep.org
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

35

Introdução
capítulo 01
02 Eficiência Energética no Sector Doméstico
O normal e justificável em primeira estância seria poupar
1. Generalidades nos elementos e instalações que têm consumos maiores.
38
No entanto, ainda que existam sectores que apresentam
Portugal é um dos países europeus que menos energia consumos menores (como, por exemplo a iluminação), sem
consome no sector residencial, devido às características de fazermos referência a valores absolutos, mesmo assim
clima que o país possuí. Contudo, este sector representa ainda existe um interessante potencial de poupança ener-
16,8% do consumo total de energia consumida em Portugal gética.
no ano 2008, apenas ficou atrás do sector dos transportes,
que representa 36,3% do consumo total de energia e da De seguida, estes sectores serão tratados de forma inde-
indústria transformadora (28,6%). Para além de estar em pendente.
terceiro lugar na lista, o consumo doméstico de energia
tem-se mantido constante ao longo dos últimos anos.
2.1. Sistemas de aquecimento doméstico
Perante tal situação, o objectivo será aumentar a eficiência
energética. A eficiência energética poderá ser resumida Denomina-se como aquecimento, os sistemas térmicos
como, a redução do consumo de energia mantendo os destinados a manter a temperatura ambiente de um deter-
mesmos serviços energéticos, sem diminuir o conforto e a minado recinto a um nível superior ao da temperatura a que
qualidade de vida, protegendo o meio ambiente, assegu- se encontra o meio exterior.
rando o abastecimento de energia primária e a promoção
de um comportamento sustentado no seu uso. Ao revés, sistemas de refrigeração são aqueles cujo objec-
tivo fundamental é manter um recinto a uma temperatura
Em relação ao cumprimento do referido objectivo, o Plano inferior à do exterior. Se para além do controlo de tempera-
Nacional de Acção para a Eficiência Energética 2008-2015 tura, se faz um controlo da humidade de recinto, os sistemas
pretende que os novos edifícios cumpram critérios de denominam-se de sistemas de climatização.
eficiência energética mais exigentes durante a fase de
projecto, e que serão aplicados através da Certificação De uma forma geral, a energia necessária para o acondicio-
Energética dos novos edifícios a edificar, através do DL namento térmico de um edifício e das suas dependências,
78/2006. Desta forma, aquando da escolha de uma habi- seja aquecimento ou refrigeração, oscila entre 40% e 70%,
tação, deverão ser considerados aspectos ligados à sua como tal trata-se de um consumo muito importante de
eficiência, mediante esta certificação. energia. É particularmente necessário prestar especial
atenção à instalação do sistema de climatização, devido a
No caso dos edifícios existentes, o objectivo do Plano este o consumo energético pode chegar a representar 50%
Nacional de Acção para a Eficiência Energética 2008-2015 do total de consumo total do edifício.
baseia-se no financiamento e apoio a obras de reforma e
melhoria da envolvente do edifício, a renovação dos meios É necessário ter em conta que ainda que o projecto do
de aquecimento e iluminação interior. edifício possua características construtivas adaptadas às
condições ambientais exteriores e interiores, será sempre
necessário a instalação de sistemas de climatização para
2. Principais consumidores de energia que se chegue a um nível óptimo de conforto térmico,
entendendo-se este como a sensação agradável e equili-
brada entre, humidade relativa, temperatura e qualidade do
O consumo energético que se verifica no interior de uma ar.
habitação/casa tem a sua origem em diferentes equipa-
mentos e instalações: procura energética para aqueci- Por outro lado, é imprescindível tomar as medidas necessá-
mento, refrigeração, produção de água quente sanitária, rias para reduzir as perdas de calor no Inverno ou os ganhos
electrodomésticos e iluminação. Portanto, a partir destas de Verão. Deste modo, a procura de energia necessária
formas de consumo cobrem-se todas as necessidades para o acondicionamento térmico do edifício diminui e,
energéticas do sector residencial. consequentemente, também diminui o consumo energé-
tico.
Na análise individual de cada uma delas, comprova-se que
a climatização, que abarca o aquecimento, o arrefecimento, Na actualidade todos os sistemas de aquecimento se
bem como o controlo da humidade, é o sistema que mais dividem em: gerador de calor, combustível, distribuidor de
energia consome. Em segundo lugar situa-se a produção calor e unidades terminais. A produção compreende as
de água quente sanitária seguindo-se os equipamentos e a caldeiras, estufas e todo o sistema que mediante algum
iluminação. elemento transforma o combustível que está em presença
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

do ar, em calor útil, como consequência de um processo de de vistas da utilização da radiação para aquecimento, já que
combustão. Ao existir combustão, aparece a necessidade oferecem uma maior possibilidade de controlo individual
39
de se instalar uma chaminé que evacue os gases gerados unida a uma menor inércia térmica, o que evita o consumo
durante este processo. Portanto, uma chaminé é, ao fim ao desnecessário, ao não aquecer as estruturas do edifício,
cabo, uma conduta pelo qual se transfere calor, e nela como é o caso do piso radiante. Cada radiador deve ter uma
podem-se tomar medidas de poupança energética, aumen- válvula termostática individual que permita o controlo da
tando assim a eficiência energética destes sistemas de temperatura individual de cada um dos radiadores, aumen-
combustão. tando a eficiência com menos consumo.

Num sistema de aquecimento mal projectado e no qual não Dependendo do tamanho das instalações, o principal factor
se realizem operações de manutenção, as perdas de calor a ter em conta são as perdas de calor que deve de cobrir.
podem ser de 30% a 40%. Isto significa que estamos a Quanto maiores forem as perdas, maior deverá ser a
aquecer o ar exterior em vez do ambiente interno. caldeira ou estufa que se vai utilizar.

Por outro lado, actualmente existem sistemas de aqueci- Um sistema de aquecimento central, em média é 15%
mento modernos como é o caso do piso radiante, que mais eficiente que um conjunto de aquecedores individuais
consiste num conjunto de serpentinas, geralmente em por quarto. Neste caso, sempre que seja possível, convém
plástico, que se encontram no chão, debaixo dos pavi- dividir o sistema de aquecimento em unidades de menor
mentos ou soalhos. Pelo interior destes tubos circula água capacidade individual, de tal forma que a soma delas seja a
quente a baixa temperatura (40 ºC - 50 ºC). Este sistema carga pretendida.
transmite o calor desde os tubos até ao piso da habitação,
sendo este recomendado do ponto de vista fisiológico. O Em geral, os sistemas centrais de aquecimento incluem

Eficiência Energética no Sector Doméstico


principal inconveniente é que ao ter uma grande inércia uma caldeira de produção de água quente, sendo que o
térmica, consome maior quantidade de combustível, a isto serviço de água quente está incluído dentro da capacidade
deveremos acrescentar o custo mais elevado e a necessi- da caldeira de aquecimento. É recomendável separar os
dade de planificação que um sistemas destes acarreta, serviços de água quente do aquecimento, pois durante um
durante a fase de construção da habitação. ano, apenas são necessários cerca de 100 dias de aqueci-
mento. O resto do ano os serviços estão sobrepostos. A
utilização de uma caldeira para ambos, obriga a acender
queimadores sobredimensionados e a aquecer enormes
massas. É melhor usar duas caldeiras, uma para cada apli-
cação.

Desde há alguns anos que existe a possibilidade de adquirir


equipamentos altamente eficientes de aquecimento,
chamados de bomba de calor, que também servem para
refrigeração. O funcionamento destes equipamentos capítulo 02
baseia-se em impulsionar calor desde o exterior até ao inte-
rior utilizando os fenómenos de evaporação e de conden-
sação de gases num circuito de compressão frigorífica.
Este processo origina o transporte de calor desde o exterior
até ao interior, com uma altíssima eficiência: por cada kW
gasto com a máquina esta devolve 2,5 kW. Por uma unidade
de energia gasta obteve-se duas vezes e meia mais energia.
O funcionamento no caso da refrigeração é o contrário, o
que se pretende é obter o calor do interior do sistema. O
principal inconveniente deste sistema é o uso de electrici-
dade para aquecimento, que por si só é intrinsecamente
custoso.

Piso radiante.

Outro sistema comumente aplicado são os radiadores


convencionais. Estes elementos são excelentes do ponto
2.1.1. Boas práticas em sistemas de • É necessário manter limpas as superfícies dos radia-
aquecimento dores. Não se devem cubrir nunca, nem situar móveis
40
ou obstáculos que dificultem a transmissão de calor.
• Uma casa bem isolada reduz os custos de aqueci-
mento entre 20% e 40% e diminui a necessidade de • É recomendável utilizar termóstatos e relógios
arrefecimento no Verão. programáveis para regular a temperatura de aqueci-
mento. No Inverno o ideal é manter a temperatura
• É recomendável abrir as persianas e as portadas entre 19 ºC e 20 ºC durante o dia, sempre que a casa
durante as horas de sol para aproveitar o calor do Sol. esteja ocupada. Durante a noite ou com a habitação
Durante a noite, porém, é melhor fechá-las para que desocupada, o aquecimento deve-se manter à volta
não se perca o calor interior. dos 16 ºC ou 17 ºC. A redução da temperatura num
grau implica uma poupança de energia de 8%.
• As cortinas em janelas e varandas evitam as perdas
de calor, embora estas não devam revestir nem cobrir • Manter desligados os radiadores dos quartos e salas
os radiadores de aquecimento. desocupados.

• A instalação de calafetagens adesivas em portas e • Por outro lado, no Verão, a temperatura óptima é de
janelas melhora o isolamento, reduzindo entre 5% e 25 ºC. Por cada grau abaixo deste valor o consumo
10% a energia consumida. As janelas de vidros aumenta entre 6% e 8%.
duplos permitem poupar até 20% de energia em
climatização. • É aconselhável reduzir o nível de aquecimento nas
zonas que não necessitem de um nível de aqueci-
mento elevado.

VIDROS

CAIXA DE AR

Secção de uma janela com vidro duplo.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

41

No Verão, a temperatura óptima é 25 ºC.

• Através da instalação de bombas de calor conse- ou, inclusivamente, a substituição da própria caldeira,
guem-se poupanças três vezes maiores de energia por uma mais eficiente, energeticamente falando.
do que com um radiador eléctrico e para além disso • É possível a adaptação das caldeiras para que

Eficiência Energética no Sector Doméstico


podem ser utilizadas também como sistema de refri- consumam gás natural. O gás natural apresenta um
geração. menor custo do que o gasóleo, para além do rendi-
mento energético das caldeiras de gás ser superior
• O radiador eléctrico é o sistema menos eficiente de às de gasóleo.
aquecimento. Hoje em dia, existem radiadores deno-
minados emissores termoeléctricos, que emitem • No âmbito ambiental, o gás natural é um combustível
calor através de um fluido térmico que optimiza a mais limpo e que respeita mais o meio ambiente. A
difusão e melhora o rendimento do equipamento. sua utilização reduz as emissões de CO2 e, ao não
Isto, unido à utilização de programadores, ajuda a possuir enxofre na sua composição, eliminam-se as
reduzir o consumo energético desta tecnologia emissões de SO2.
quando não seja possível empregar outra alternativa
mais eficiente. • É conveniente a instalação de caldeiras de conden-
sação ou de baixa temperatura, já que as convencio-
• Em superfícies grandes, é necessário ajustar os nais trabalham com temperaturas de água quente
termóstatos e controlo dos radiadores para obter a entre 70 ºC e 90 ºC e com temperaturas de retorno capítulo 02
temperatura desejada e selá-los com tampas anti- da água superiores a 55 ºC. Pelo contrário, uma
manipulação. caldeira de baixa temperatura está desenhada para
aceitar uma entrada de água a temperaturas infe-
• Devem ajustar-se periodicamente os termóstatos. riores aos 40 ºC. Por isso, os sistemas de aqueci-
mento a baixa temperatura têm menos perdas de
No entanto, as poupanças acontecem não apenas com a calor nas tubagens de distribuição do que as caldeiras
implemantação das recomendações anteriores, sendo que convencionais.
por vezes é necessário realizar modificações relativamente
importante nas instalações já existentes e, consequente- • Para além disso, as caldeiras de condensação estão
mente, estas implicam maiores custos. Entre as possíveis projectadas para recuperar mais calor do combustível
modificações das instalações mais rentáveis encontram-se queimado do que uma caldeira convencional e, em
as seguintes: particular, recupera o calor do vapor de água que se
produz durante a combustão dos combustíveis
• Substituição de equipamentos que não permitam fósseis, pelo que se conseguem rendimentos ener-
obter um rendimento correcto da instalação. Entre géticos mais elevados, em alguns casos superiores a
estas modificações pode-se falar da substituição de 100%, relativamente ao poder calorífico do combus-
elementos defeituosos, como sejam queimadores tível.
2.1.2. Manutenção dos sistemas de aquecimento 2.2. Instalações de produção de água
42 quente sanitária
É necessário realizar uma manutenção preventiva dos
elementos que compõem a instalação para que esta 2.2.1. Generalidades e tipos de sistemas
funcione adequadamente e com o menor consumo de
energia possível. Expõem-se de seguida algumas das Do total de dinheiro gasto numa casa em gás ou noutro
acções que se devem efectuar nos equipamentos. combustível, o aquecimento de água representa 70% fora da
temporada invernal. A elevação do nível de vida fez com que
• Caldeira. A finalidade de uma caldeira é aquecer a a produção de Água Quente Sanitária (AQS) seja uma das
água que circulará pelos elementos emissores, radia- instalações vitais na edificação, pelo que não se concebe
dores ou piso radiante. Dado que se trata de um actualmente um edifício nem uma habitação que não
elemento principal do sistema há que encontrar-se possuam este serviço dentro do seu equipamento mínimo.
num estado perfeito. Para isso, é recomendável Estes sistemas de produção devem adaptar-se às necessi-
contratar um serviço periódico de manutenção. dades de conforto e higiene exigidos pelos utilizadores.

De igual modo, é conveniente realizar uma revisão Dentro dos diferentes tipos de instalações que se podem
das juntas das portas, registos e caixas de fumos encontrar para a produção de AQS, existem alguns critérios
para assegurar a estanqueidade e evitar a entrada de que possibilitam a sua classificação.
ar indesejado. Estas entradas de ar incontroladas
diminuem o rendimento da combustão, com o corres- • Segundo o número de unidades de consumo que
pondente incremento do consumo de energia. serve, podem-se classificar como instalações indivi-
duais (se servem um único utilizador, por exemplo,
Quando se realiza um revisão periódica das caldeiras, uma habitação apenas), ou como instalações centrali-
é também recomendável levar a cabo uma análise da zadas (se servem a procura originada por vários utiliza-
combustão, para ver se a caldeira ou caldeiras estão dores distintos, por exemplo, um edifício com vários
a funcionar em condições óptimas de rendimento. fogos). Estas últimas oferecem a vantagem de serem
susceptíveis de automatização e, portanto, de optimi-
• Radiadores. De igual modo que nas caldeiras e zação do funcionamento, o que se traduz numa
demais elementos que fazem parte da combustão, poupança de energia e de custos de manutenção.
nos radiadores também se devem realizar operações
de manutenção. • S
 egundo a sua função, podem-se encontrar insta-
lações exclusivas (nas quais a caldeira ou gerador de
Por exemplo, é necessário purgar os radiadores antes calor serve apenas para a produção de AQS), ou mistas
de acender o aquecimento, já que estes se podem (quando a caldeira ou gerador serve tanto a instalação
ter enchido de ar durante o período no qual não de AQS como a de aquecimento).
tenham sido utilizados. A presença de ar diminui o
coeficiente de transformação de calor e pode inte- • Segundo o sistema empregue para a preparação de
rromper a circulação da água com a aparição de AQS, encontramos sistemas instantâneos (onde se
ruídos nos radiadores. produz exclusivamente o caudal exigido em cada
instante, por exemplo, um pequeno aquecedor de
Também se deve verificar se as válvulas dos radia- gás) ou sistemas com acumulação (em que se prepara
dores funcionam bem e se as válvulas motorizadas previamente o consumo de uma determinada quanti-
funcionam correctamente, já que se as válvulas não dade de AQS, que é acumulada num depósito e poste-
fecham de forma adequada a funcionalidade das riormente distribuída de acordo com a procura, por
mesmas perde-se. exemplo um cilindro eléctrico).

Para além disso, deve-se realizar uma limpeza das Segundo o tipo de instalação de que se disponha, podem-se
superfícies de aquecimento, já que a sujidade acumu- obter uma série de vantagens que afectam o consumo, o
lada aumenta o ciclo de pré-aquecimento. investimento inicial, os custos de manutenção ou o rendi-
mento, entre outros factores.
Por último, os radiadores devem ser implantados
adequadamente, para assim se aproveitarem as Por exemplo, nos sistemas de produção instantânea, a
correntes e se gerar uma melhor distribuição de calor potência térmica da instalação determina-se tendo em conta
nas instalações. o caudal máximo procurado. Nos sistemas com acumulação,
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

este consumo de ponta atinge-se com a reserva acumulada caldeira não se aqueça a água a níveis que exijam a mistura,
antecipadamente e a potência térmica necessária diminui ao pois esta não apenas desperdiça energia térmica da caldeira
43
aumentar o tempo de preparação. Para além disso, nestes como eléctrica das bombas de água.
sistemas com acumulação, o custo do depósito acumulador
pode ser compensado pela diminuição do tamanho reque-
2.2.2. Boas
 práticas na produção de água quente
rido para o gerador de calor e pelo melhor rendimento que
determina o funcionamento mais contínuo deste.
O consumo energético para a produção de AQS depende
Outra vantagem que oferecem os sistemas de acumulação em grande medida das dimensões dos edifícios ou habi-
face aos sistemas instantâneos é que nestes últimos tações. Independentemente da percentagem que a
sistemas a água alcança a temperatura desejada no ponto produção de água represente para o consumo energético
de destino, sendo desperdiçada uma quantidade conside- do edifício ou casa, é necessário ter em conta uma série de
rável de água e energia, tanto mais quanto mais distante se medidas de poupança e boas práticas nestas instalações
encontre o gerador dos pontos de consumo. De igual forma, de geração.
os sistemas instantâneos obrigam à entrada em funciona-
mento da caldeira de cada vez que se procura água, sendo A primeira medida de poupança energética numa instalação
que estes contínuos processos de ligar e desligar aumentam de produção e distribuição de água quente sanitária consiste
o consumo, assim como deterioram os equipamentos. em limitar as temperaturas máximas de armazenamento e
distribuição para reduzir as perdas térmicas do conjunto da
instalação.

A temperatura máxima de acumulação da água quente

Eficiência Energética no Sector Doméstico


Acumulador sanitária deveria ser de 58 ºC e deveria distribuir-se a uma
Aquecimento temperatura máxima de 50 ºC, medida à saída dos depó-
sitos acumuladores; esta última medida realiza-se para
diminuir as perdas de calor nas tubagens de distribuição.

Nos depósitos de acumulação, a temperatura limita-se a 58


ºC já que, para temperaturas superiores, o tratamento
galvanizado do depósito e tubagens ficaria afectado, para
além de favorecer a formação de cal. Por outro lado, a
Consumo de temperaturas inferiores aos 58 ºC facilita-se o crescimento
A.Q.S da legionela.
Válvula
Também em relação à distribuição de água quente, há que
Retorno do
aquecimento ter em conta o percurso que deve realizar a água desde o
ponto de geração até ao ponto de consumo, já que as tuba- capítulo 02
gens por onde passa devem estar perfeitamente isoladas
(assim como os depósitos de armazenamento) para que se
perca a menor quantidade de calor possível, mas embora a
Sistema por acumulação. qualidade do isolamento seja elevada, no final produzem-se
perdas e quanto mais comprido seja o percurso, mais
perdas haverá, pelo que o mais adequado é que a dita
A utilização de sistemas de produção instantânea nos distância seja a mais curta possível. Como acção economi-
sistemas centralizados de produção de AQS deverá ser zadora, pode individualizar-se a produção e distribuição de
justificada em função do perfil da procura, da adequada água quente dos locais que se encontrem distantes da
atenção ao serviço e à utilização racional da energia. central térmica.

Por outro lado, na produção de AQS não é necessário Para além destas medidas, devem assinalar-se diferentes
aquecer a água a temperaturas superiores a 60 ºC. Existe o acções economizadoras sobre a instalação de água quente
hábito muito difundido de aquecer a água em caldeiras sanitária:
muito acima da temperatura de utilização e logo misturá-la
com água fria à saída da torneira. Isto é totalmente desne- • É importante assinalar que um duche gasta entre 30
cessário, uma vez que torna necessário cobrir as perdas de a 40 litros de água, enquanto um banho necessita
calor no interior dos tubos. É altamente desejável que na
entre 120 e 160 litros, com o respectivo gasto • É conveniente substituir as partes obsoletas da insta-
adicional de combustível. lação (caldeiras, queimadores, permutadores).
44

• Uma torneira aberta a correr água quente sem • Limpar as superfícies de permutação e evitar a
nenhum objectivo mais do que a relativa comodidade obstrução dos permutadores.
de não a fechar, é uma das melhores formas de
desperdiçar o nosso dinheiro. • Utilizar técnicas de recuperação do calor da água
uma vez utilizada (recuperadores de placas, de tubos,
• As perdas térmicas horárias globais do conjunto das etc.) e considerar a aplicação de técnicas energéticas
condutas que percorrem locais não acondicionados avançadas como a bomba de calor (da qual se faz um
termicamente não devem superar os 5% da potência estudo detalhado na secção de aquecimento),
útil instalada. energia solar, etc.

• Há que estabelecer correctamente as dimensões do • Reduzir as perdas do permutador, do depósito de


depósito de armazenamento, já que a capacidade de armazenagem e das tubagens de distribuição, isolan-
acumulação se deve calibrar de forma a que o aque- do-as adequadamente, com o que se reduz entre
cimento de todo o volume se produza, no mínimo, 10% - 30% o consumo de energia para água quente
em três horas; assim sendo, o gerador de calor sanitária.
trabalha à máxima potência durante um período de
tempo maior, reduzindo-se assim o número de para- • Recomenda-se a instalação de bombas de retorno
gens e arranques. quando a potência de bombagem for superior a 5
kW. Estas bombas montam-se em paralelo e uma
delas permanece de reserva.

Instalação solar térmica para abastecimento de água quente de uma casa.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

para que o ventilador se apague ao mesmo tempo que a


2.3. Instalações de arrefecimento unidade de arrefecimento (compressor).
45

Finalmente, o projecto e a contrução do edifício são os prin-


2.3.1. Generalidades cipais responsáveis pelos altos consumos de ar condicio-
nado. Aqueles que recorram à utilização massiva de vidros,
Tradicionalmente, os equipamentos de ar condicionado proíbam ou restrinjam a utilização de isolantes e disponham
utilizavam como fonte de energia a electricidade. Actual- com livre-arbítrio sobre temas referentes à orientação,
mente, existem sistemas de arrefecimento que utilizam aquecimento, etc., estarão a constituir, talvez sem o saber,
uma fonte de calor em vez da electricidade, entre as quais uma hipoteca para toda a vida do edifício.
se contam o vapor e o gás natural, assim como combustí-
veis líquidos e até a possibilidade de usar gases de escape Em fábricas e edifícios em que as cargas térmicas para o
de motores e chaminés. Estes sistemas denominam-se por fornecimento de motores e processos industriais sejam
sistemas de absorção e apresentam uma excelente possi- muito elevadas, o melhor remédio é um bom isolamento do
bilidade para consumir uma menor quantidade de energia elemento, com extracção independente do calor, envian-
do que num sistema eléctrico. Os novos modelos de do-o para o exterior ao invés de aumentar o tamanho dos
máquinas aumentaram a capacidade de produção de frio equipamentos de ar condicionado.
por unidade de energia consumida. Para além disso, é
possível projectar sistemas que trabalhem em cascata,
partindo desde as altas temperaturas e aproveitando os 2.3.2. Boas
 prácticas nos sistemas de refrigeração
escapes das máquinas da etapa superior para recuperar
energia. Com este método, as eficiências podem ser

Eficiência Energética no Sector Doméstico


aumentadas de forma considerável e é possível chegar a • N
 ão ajustar o termóstato a uma temperatura mais
valores até agora desconhecidos. Em geral, os padrões de fria do que o normal quando se acendam os equipa-
poupança em ar condicionado passam por um projecto do mentos de ar condicionado. Isto não fará com que a
sistema que não considere os consumos de pico. casa arrefeça mais rapidamente e poderia causar um
arrefecimento excessivo e, portanto, um gasto
Um dos erros que se comete frequentemente no projecto desnecessário.
destes equipamento é o sobredimensionamento da insta-
lação, isto é, os equipamentos são projectados para cobrir • Não colocar lâmpadas ou televisores próximos do
situações extremas, de forma que se ocorressem situações termóstato do ar condicionado. O termóstato detecta
anómalas o sistema continuaria a funcionar. Este sobredi- o calor destes aparelhos, o que pode fazer com que
mensionamento dá origem a um sistema pouco eficiente o ar condicionado funcione mais tempo do que o
porque as máquinas não trabalham a 100%, apresentando necessário.
um consumo massivo. É melhor operar a plena carga um
equipamento de menor tamanho, projectado, por exemplo, • P
 lantar árvores e arbustos para dar sombra às
para cobrir apenas 5% dos casos de altas temperaturas. unidades de ar condicionado, mas de forma a não capítulo 02
Outro padrão significativo de poupança é a quantidade de ar bloquear o fluxo de ar. Colocar o ar condicionado no
exterior em condições de temperaturas baixas que tornem lado norte da casa. Uma unidade que opera à sombra
possível a injecção de ar sem tratamento. utiliza quase 10% menos de electricidade do que
uma unidade similar.
É conveniente ter em conta que uma unidade de ar condi-
cionado que seja muito grande para o lugar que suposta- • Ajustar o termóstato a uma temperatura alta, mas o
mente deve arrefecer será menos efectiva e funcionará mais cómodo possível, durante o Verão. Quanto
com menor eficiência do que uma unidade que seja mais menor seja a diferença entre a temperatura no
adequada para esse espaço. termóstato e a temperatura exterior, melhor resultará
o rendimento final do sistema. Deve-se ter em conta
O funcionamento por períodos de tempo mais longos que isolar e selar as fugas de ar ajudará a utilizar
permite que os equipamentos de ar condicionado mant- melhor a energia na época de Verão porque mantém
enham uma temperatura ambiente mais constante e o ar frio no interior da casa.
removam o excesso de humidade.
De igual forma ao comentado na secção de aquecimento,
O tamanho também tem igual importância nos sitemas de existem os mesmos factores que influenciam a poupança
ar condicionado centralizado, devendo ser determinado de energia nos equipamentos de ar condicionado, desde o
pelos profissionais do ramo. Há que ajustar os controlos isolamento até à correcta utilização dos equipamentos. De
seguida apresentam-se algumas recomendações para • É interessante aproveitar sistemas de fornecimento
aumentar o rendimento das instalações e conseguir uma de climatização natural: os sistemas de pulverização
46
poupança económica. de água em instalações colocadas no interior do
edifício podem considerar-se como sistema para
Recomendações do ponto de vista da construção produzir frio (melhor ainda se acompanhado de um
sistema de ventilação). As instalações no interior dos
Estas medidas são semelhantes às mencionadas para o edifícios criam microclimas que podem ser adequados
aquecimento, sendo muito importante o isolamento para para o arrefecimento e ventilação do edifício.
reduzir a entrada de ar quente, o que permite poupanças
até 30%. Outras precauções que se podem levar a cabo • As cores claras em tectos e paredes exteriores
com os sistemas de ar condicionado são: reflectem o sol e evitam o aquecimento dos espaços
interiores.
• A utilização de protecções solares como persianas,
toldos ou cortinas, são um bom sistema para reduzir • Isolar adequadamente as condutas.
o ganho solar no Verão. Existem diferentes tipos de
protecções, sendo mais adequado um ou outro tipo Recomendações do ponto de vista da utilização dos
em função da orientação. sistemas

• S
 e a orientação é Sul as mais adequadas são as • Parcialização da produção de frio para que a produção
protecções solares fixas ou semi-fixas, enquanto deste se adapte ao perfil da procura.
para Oeste ou Nordeste recomenda-se a utilização
de protecções solares chapas horizontais ou verticais • A zonificação é um requisito indispensável, já que se
móveis. Para a orientação Este ou Oeste recomen- deve arrefecer apenas os locais e zonas que estejam
dam-se protecções móveis. a ser ocupadas.

• Nos edifícios e locais com fachadas de vidro venti- • É importante manter a todo o momento as condições
ladas ou que apresentem muitas zonas envidraçadas, ambientais de cada zona nos valores de conforto.
podem-se utilizar vidros polarizados ou colocar pelí-
culas reflectoras que reduzam a transmissão de calor • Devem escolher-se os equipamentos de ar condicio-
e deixem passar a luz necessária, proporcionando nado de alta eficiênica energética, isto é, aqueles
poupanças de 20% no gasto com o ar condicionado. equipamentos que, com o mesmo nível de pres-

CALOR
FRIO
GÁS AR FRESCO
PÓ AR QUENTE
FUMO AR LIMPO
MAUS ODORES
INSECTOS

Cortinas de ar.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• Por outro lado, uma diferença de temperatura relati-


vamente ao exterior de mais de 12 ºC não é
47
saudável.

• Desligar os equipamentos de ar condicionado quando


as unidades estajam vazias.

• É recomendável repartir correctamente o frio,


evitando correntes de ar muito frias e outras dema-
siado quentes.

Recomendações para a escolha de novos sistemas

De seguida vão-se expor várias medidas de novas insta-


lações, para tratar de melhorar as condições de arrefeci-
mento.

• Instalação de acumuladores evaporativos: este tipo


de sistemas melhoram a ventilação e representam
uma alternativa razoável à utilização de ar condicio-
nado. Consistem em painéis que fazem passar o ar
através de uma corrente de água, o que para além de

Eficiência Energética no Sector Doméstico


Termóstato. reduzir a temperatura (pode-se chegar a 7 ºC) também
incrementam o grau de humidade.
tações, cheguem a consumir até 50% menos energia
que outros e segundo as necessidades da zona onde • E
 ste sistema é adequado naqueles locais em que o
se vão instalar. tecto tenha saída directa para o exterior e em climas
quentes e secos, já que o ar exterior será relativa-
• O
 equipamento exterior de ar condicionado deve mente seco.
estar situado numa zona com boa circulação de ar e
protegido dos raios solares. • Instalação de cortinas de ar nas entradas/saídas do
local: tratam-se de elementos que, colocados na
• Regular a temperatura de cada uma das divisões parte superior das portas, projectam uma corrente
através de termóstatos. Deve evitar-se que estes se de ar até abaixo que ocupa toda a abertura, criando
encontrem próximos às fontes de calor. uma barreira de forma a impedir a entrada de ar do
exterior e a saída do ar climatizado.
• Nas salas em que estejam instaladas conjuntamente capítulo 02
unidades de aquecimento e ar condicionado, os seus • Dado que toda a porta que liga uma zona climatizada
ajustamentos devem estar calibrados para evitar que com outra que não esteja favorece a troca de tempe-
funcionem simultaneamente. Devem-se ajustar os ratura entre o exterior e o interior, este tipo de dispo-
termóstatos em 25 ºC ou mais para o arrefecimento sitivos conseguem a redução destas trocas, evitando
e entre 20 ºC e 22 ºC ou menos para o aquecimento. o consumo de energia necessária para compensar as
Para evitar conflitos no funcionamento, as unidades perdas produzidas pela mencionada troca.
na mesma zona têm que ajustar-se ao mesmo modo
de operação (ou aquecimento ou arrefecimento). Tal como acontece com o aquecimento, é necessário
realizar uma manutenção preventiva dos elementos que
• Em relação com o anterior, não é conveniente regular compõem as instalações de ar condicionado para que estas
o termóstato abaixo dos 25 ºC, já que não é confor- funcionem adequadamente e com o menor consumo de
tável e implica um gasto de energia desnecessário, já energia possível.
que por cada grau a menos de temperatura, o
consumo energético aumenta entre 5% e 7%. Pelo De seguida expõe-se uma série de medidas de manu-
que se aconselha a fixar uma temperatura de conforto tenção:
em torno dos 25 ºC segundo o tipo de actividade e
necessidades para o Verão.
• Limpar periodicamente os filtros de ar e substituí-los • Limpar os evaporadores (unidades internas).
quando for necessário, já que os filtros bloqueados
48
reduzem significativamente as prestações destes • Vistoriar as juntas, os instrumentos e outros possí-
equipamentos. Instalar manómetros para detectar o veis lugares de perdas do circuito.
momento em que convém efectuar esta operação.
• É recomendável verificar as pressões do circuito
• Deve verificar-se que o funcionamento das bobinas é
o adequado, assegurando-se que os ventiladores 2.3.3. M
 anutenção dos equipamentos de
funcionam correctamente para cada velocidade e arrefecimento
que a regulação é a correcta.
A ventilação dos locais é muito necessária para manter um
• Verificar as unidades terminais (fan-coils, indutores, ambiente salubre, ou seja, deve repor-se o oxigénio e
difusores, etc.) e comprovar que não existem evacuar a concentração de subprodutos da actividade
objectos que travem a passagem do ar. Comprovar humana, tais como anidrido carbónico, dióxido de carbono
que as válvulas fecham perfeitamente quando o e outros compostos não desejados.
termóstato assim o ordena.
2.4. Instalações de ventilação
• Comprovar o correcto posicionamento e limpeza do
tubo de condensação, já que a sua obstrução diminui A ventilação de um local pode ser natural ou forçada. Enten-
a eficiência. da-se ventilação natural quando não há fornecimento de
energia para conseguir a renovação do ar, normalmente, a

Ventilação forçada numa estação de metro.


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ventilação natural é conseguida deixando aberturas no local • É recomendável realizar o controlo do ar de venti-
(portas, janelas, clarabóias, etc.) que comunicam com o lação segundo o grau de ocupação: a maioria dos
49
ambiente exterior. Pelo contrário, a ventilação forçada utiliza sistemas de ventilação são projectados para asse-
ventiladores para conseguir a renovação. gurar a ventilação na máxima ocupação, adicional-
mente, na secção dos equipamentos utilizam-se
Para além disso, os sistemas de ventilação influenciam as factores de segurança que aumentam o caudal de
instalações de aquecimento e arrefecimento. renovação de CO2.

• É recomendável a instalação de um sistema de • Tratar de regular o ar de ventilação segundo o grau de


bloqueio de ar nos ventiladores, já que o ar frio do ocupação, utilizando para isso sensores indicadores
exterior pode entrar quando os ventiladores não de CO2, cujo sinal controlará a abertura ou encerra-
estejam a funcionar, produzindo assim uma perda de mento das comportas de entrada de ar exterior, com
ar quente. o qual se consegue reduzir a quantidade de ar que
finalmente será tratada pelos equipamentos de
• Devem ter-se sob controlo os extractores em zonas climatização, com o que se reduz o consumo
como quartos de banho e cozinhas (no caso de exis- destes.
tirem), já que o funcionamento dos extractores
quando não há pessoas nesses compartimentos não
é necessário, além de representar um desperdício de 2.5. Instalações de iluminação
dinheiro. Também se deve ter em conta que ao extrair
ar quente do edifício, o sistema de aquecimento tem A iluminação representa um peso muito importante no
que trabalhar mais. consumo energético total das habitações, cerca de 7%,

Eficiência Energética no Sector Doméstico


sendo que os sistemas actualmente instalados oferecem
• E
 m edifícios com espaços de dupla altura, deve veri- uma grande possibilidade de melhoria, dado que podem
ficar-se a diferença entre o nível do solo e o do tecto. atingir poupanças de mais de 40%.
Se a diferença for excessiva (mais de 5 ºC) é reco-
mendável instalar um ventilador de desestratificação Para além do grande potencial de melhoria que oferece a
equipado com um termóstato que envie o ar quente iluminação, o facto de que é comum para todos os utiliza-
para níveis mais baixos, já que este sobe e acumu- dores abre possibilidades muito grandes para levar a cabo
la-se na parte alta. medidas de poupança. Estas medidas podem ser, por
exemplo, a implementação de iluminação de alto rendi-
• A
 s grandes diferenças de temperatura aumentam as mento, que incorporem equipamentos de baixo consumo e
perdas térmicas através do tecto. lâmpadas de elevada relação lúmen/watt, ou a utilização de
sistemas de regulação e controlo adequados às necessi-
• S
 e há máquinas equipadas com extractores, é reco- dades das divisões que se vão iluminar. Através de
mendável colocá-las próximas das paredes externas. actuações deste tipo, conseguem-se manter uns bons
Desta forma facilita-se a instalação da entrada de ar níveis de conforto sem prejudicar a eficiência energética. capítulo 02
fresco próxima do extractor. Estas entradas previnem
as correntes e o desconforto na zona principal e Outro aspecto importante para reduzir o consumo em ilumi-
reduzem as perdas de ar quente. Para além disso, nação é o aproveitamento da luz solar. A iluminação natural
deve considerar-se recuperar o ar quente das deve ser proveniente do sol, ou do céu, que é um elemento
condutas de extracção. natural difusor da luz, sendo que para o seu aproveitamento
adequado é necessário contar com janelas ou aberturas
• Devem realizar-se medições nos fluxos de ventilação suficientes em lugares estratégicos. No entanto, nem
procurando as oportunidades para a sua redução, já sempre se conta com luz natural para ser utilizada, pelo que
que é comum encontrar excessivos níveis de venti- não se podem substituir totalmente os sistemas de ilumi-
lação, o que representa um desperdício de calor e nação artificial das habitações. Para conseguir um sistema
electricidade. realmente eficiente, é necessário encontrar um equilíbrio
entre o aproveitamento da luz natural e a utilização dos
• Sempre que seja possível, é importante modificar o sistemas artificiais, o que se pode conseguir através da
sistema de ventilação geral para incorporar a recircu- utilização de sistemas de gestão e controlo da luz artificial,
lação de ar extraído. Aquecer ar fresco é caro, pelo bem como da sensibilização de todos.
que é conveniente recircular ar introduzido do exte-
rior. A iluminação não tem muita relação com os wats que
consomem as lâmpadas. De um modo geral, não depende
Outro ponto que se de deve ter em conta na iluminação das
habitações é a distribuição dos pontos de luz. A disposição
50
destes pontos deve ser planificada com antecedência, de
forma a facilitar o controlo das luzes por áreas ou salas,
para que se possa apagar total ou parcialmente o sistema
quando não se estejam a utilizar essas zonas.

Finalmente, apesar de poder parecer pouco significativo, é


necessário manter as lâmpadas e candeeiros limpos,
evitando a acumulação de pó e sujidade nas suas superfí-
cies. Desta forma, podem-se alcançar níveis de iluminação
até 25% superiores, o que reduz a necessidade de manter
acesos mais pontos de luz do que os necessários e aumenta
a vida média da lâmpada.

De igual modo sucede com os electrodomésticos, apare-


lhos de gás, sistemas de aquecimento, arrefecimento,
ventilação, etc., é possível reduzir o consumo levando a
cabo pequenas melhorias e recomendações.

Estas melhorias e recomendações podem estar orientadas


Fornecimento de luz natural através de uma clarabóia. para as lâmpadas, candeeiros, equipamentos auxiliares ou
até sistemas de regulação e controlo, sendo que todas
estão orientadas para a utilização eficiente e racional da
da qualidade do elemento e do princípio de funcionamento energia.
das lâmpadas.

Por exemplo, as lâmpadas de filamento ou incandescentes 2.5.1. Boas prácticas no uso das lâmpadas
têm a mais baixa das eficiências (por volta dos 3%) e com
lâmpadas de grande potência a eficiência aumenta pouco. • Nos locais onde a iluminação esteja baseada em
Isto significa que apenas três partes de cem são conver- lâmpadas fluorescentes de 38 mm, recomenda-se a
tidas em luz útil. O resto perde-se sobre a forma de calor. substituição por lâmpadas de 26 mm ou 16 mm, já
Por outro lado, os tubos fluorescentes têm uma eficiência que estas são mais eficientes. Os tubos fluores-
maior (por volta dos 9%), que em termos de iluminação centes de 26 mm produzem a mesma luminosidade
significa que com igual gasto se obtém um nível de ilumi- que os de 38 mm, mas consomem aproximadamente
nação três vezes superior ao que se consegue por meio de 8% menos, enquanto que os tubos de 16 mm são
lâmpadas incandescentes. aproximadamente 7% mais eficazes que os de 26
mm.
As lâmpadas de descarga, do tipo mercúrio ou sódio são
igualmente mais eficientes, já que alcançam valores de até • É necessário verificar se os projectores das lâmpadas
11%. No entanto, o problema destas lâmpadas é a colo- de hologénio estão acesas durante longos períodos
ração da sua luz, tão distante da luz solar que as torna de tempo, já que estes são apropriados para utili-
inúteis no interior das habitações, pelo que a sua utilização zação em iluminações intermitentes.
está associada à iluminação de exteriores, devido também
ao seu alto poder de iluminação, menor consumo e maior • É recomendável a substituição de lâmpadas de halo-
vida útil. génio convencionais (50 W) e seus transformadores
electromagnéticos (10 W) por outras de alta eficiência
Portanto, a planificação dos sistemas de iluminação é (35 W) e transformadores electrónicos (0 W).
importante no momento de alcançar poupanças de energia.
A melhor projeção destes sistemas é aquele que escolhe • Nas zonas onde seja necessário um maior nível de
os equipamentos que forneçam a máxima iluminação iluminação, ou onde os períodos em que a necessi-
necessária para a actividade a que se destina cada insta- dade de ter luz acesa sejam longos, o mais conve-
lação. niente é substituir as lâmpadas incandescentes por
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Tabela 1
Características das lâmpadas mais utilizadas nas habitações.
51

Índice de
Tipo reprodução Vida útil Eficácia Equipa-
Imagem (horas) luminosa mento Observações Custo
de lâmpada cromática
(lm/W) auxiliar
(0-100)

Incandescente 100 1.000 9-17 – Evitar Reduzido

Arrancador,
O balastro electrónico reduz o
Fluorescente 60-95 8.000-12.000 65-100 balastro e
consumo em 25%
Reduzido
condensador

Atraso a acender.
Equipamento
Fluorescente 85 8.000-12.000 45-70 electrónico
As integradas substituem
Médio
compacta incorporado
directamente as
incandescentes

Arranque instantâneo.
Elevada intensidade luminosa.
Halogéneo >90 2.000 15-27 – Médio

Eficiência Energética no Sector Doméstico


Curta duração da lâmpada
e reduzida eficácia luminosa.

Poupança de 30% em
Halogénieo Transforma- consumo energético.
de baixo >90 2.000-3.000 18-25
dor Maior vida da luminária e menor
Médio
consumo aquecimento do ambiente.

lâmpadas fluorescentes compactas com equipa- até 12 vezes mais e reduzem os custos de manu-
mento incorporado. tenção, já que necessitam de ser mudadas com
menor frequêcia.
• Estas lâmpadas consomem por volta de 80% menos
de electricidade do que as incandescentes, duram Para além disso, podem substituir directamente as
lâmpadas incandescentes tradicionais ao estarem equi-
padas com balastro e rosca tipo Edison. Se o balastro é capítulo 02
electrónico, as lâmpadas apresentam uma maior eficiência,
um menor peso e um melhor factor de potência.

• Se o tempo que vão estar apagadas as lâmpadas


fluorescentes compactas é inferior a 20 ou 30
minutos, interessa mantê-las acesas, por ser supe-
rior a poupança que se consegue pela maior duração
das lâmpadas comparativamente ao custo da energia
consumida no dito período.

• Se a iluminação é baseada em lâmpadas de vapor de


mercúrio de alta pressão, recomenda-se a sua subs-
tituição por lâmpadas de vapor de sódio de alta
pressão, já que estas lâmpadas têm uma maior
eficiência luminosa (lúmen/watt).
Lâmpadas fluorescentes compactas integradas.
2.5.2. Boas prácticas no uso das luminárias • O acender da lâmpada é instantâneo e não produz
52
intermitência.
Embora a escolha da iluminação estar condicionada em
primeiro lugar pela lâmpada e pela finalidade da sala que se • Produz-se a desconexão automática das lâmpadas se
quer iluminar, devem ser considerados aspectos tais como estas estiverem defeituosas, impedindo cintilação,
o rendimento da iluminação (a relação entre o fluxo lumi- incómodos e reaquecimentos de outros compo-
noso projectado pela iluminação e o fluxo emitido pela nentes do equipamento eléctrico.
lâmpada ou lâmpadas), a orientação e distribuição do fluxo • A luz é mais agradável, já que não se originam cinti-
luminoso e se o sistema de montagem produz ou não enca- lações nem efeitos estroboscópicos.
deamento.
• Eliminam-se os ruídos causados pelo equipamento
eléctrico, tão incómodos no funcionamento das
2.5.3. Boas prácticas no uso dos sistemas auxiliares
lâmpadas fluorescentes.

Exitem lâmpadas, como por exemplo as do tipo descarga • O equipamento eléctrico continua protegido contra
ou indução, que para o seu funcionamento requerem a picos de tensão.
presença de equipamentos externos que adequem os parâ-
metros da corrente eléctrica para produzir emissão de luz. • Oferecem uma maior segurança contra incêndios, ao
Estes equipamentos externos, como é lógico, aumentam o reduzir-se a temperatura de funcionamento do equi-
consumo energético da lâmpada, porque têm um consumo pamento e da iluminação.
próprio.
• Permite a conexão à corrente contínua para ilumi-
É possível reduzir o consumo energético das lâmpadas nação de emergência.
actuando nos equipamentos auxiliares, especialmente no
caso das lâmpadas fluorescentes. Geralmente, este tipo de
2.5.4. Boas
 prácticas no uso dos sistemas de
lâmpadas, que em habitações são geralmente utilizadas
regulação e controlo
para a iluminação de cozinhas e garagens (no caso de casas
individuais), estão equipadas com balastros electromagné- De igual modo ao resto dos elementos que formam uma
ticos, que são pouco eficientes. instalação de iluminação, com a realização de boas práticas
na utilização dos sistemas de regulação e controlo podem-se
É possível substituir este tipo de balastros por outros mais reduzir os consumos energéticos de forma considerável.
eficientes, denominados balastros electrónicos, que
oferecem as seguintes vantagens respectivamente aos Por exemplo, entre as medidas que se podem levar a cabo
equipamentos anteriormente citados: encontram-se as seguintes:

• Redução de 25% da energia consumida pela •  É recomendável utilizar sistemas que regulem a
lâmpada. iluminação artificial em função dos níveis de ilumi-
nação natural existentes no interior das salas das
• Aumento da vida média das lâmpadas até 50%, vivendas, de forma a aproveitar o maior número de
reduzindo assim os custo de manutenção. horas de luz solar.

• Não é necessário substituir o arrancador de cada vez •  Os pontos de luz dos sistemas de iluminação devem
que se muda a lâmpada. ser suficientes para permitir o acender e apagar inde-
pendente das diferentes salas. Inclusivamente, é
• Redução da carga térmica emitida pela lâmpada conveniente que, em salas de grande tamanho,
devido à menor geração de calor. exista a possibilidade de dividir o sistema por zonas,
de forma que o acender da sala dependa da ocupação
• Redução da temperatura de funcionamento da ilumi- e da sua utilização a cada momento.
nação, o que facilita que as lâmpadas não superem a
sua temperatura óptima de trabalho.
2.6. Eficiência energética no uso de veículos
• O factor de potência é corrigido para 1, o qual se
repercute de forma benéfica na hora da facturação da Desde há vários anos, países como a Alemanha, Holanda,
electricidade (em tarifas de BTE ou superiores). Suíça e Finlândia vêm desenvolvendo um programa de
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 1
Consumo comparado de uma habitação com um carro (em função dos km/ano percorridos).
53

1,8
Consumos considerados
1,6
- Consumo anual vivenda tipo: 1,1 ktep
1,4 - Consumo carro: 6,04 litros gasóleo/100 km
Consumo em ktep

1,2

0,8

0,6

0,4

0,2
_
5.000 km/ano 10.000 km/ano 15.000 km/ano 20.000 km/ano 25.000 km/ano 30.000 km/ano
km/ano percorridos

Consumo anual do carro em função dos km/ano


Consumo energético anual vivenda tipo

Eficiência Energética no Sector Doméstico


Fonte: IDAE

condução económica, denominado Eco Driving. A partir da • Em trajectos curtos, é possível ir a pé ou de bicicleta.
União Europeia, pretende-se implementar este plano em Na cidade, 50 % das viagens de carro são para perco-
todos os países membros, com o objectivo de que o rrer menos de 3 km, com a agravante de que um
condutor poupe combustível ao mesmo tempo que se motor frio pode chegar a utilizar mais 40% de energia
observa uma atitude respeituosa com o meio ambiente. do que o usual.

Calcula-se que com esta medida, e mantendo os níveis de • Em outros casos, e sobretudo na cidade, a melhor
condução actuais, se alcançará uma poupança de 1.850 alternativa ao carro é o transporte público. Entre as
milhões de euros, equivalentes a uns 700 milhões de litros numerosas vantagens da sua utilização, em lugar do
de gasóleo e 1.650 milhões de litros de gasolina. Para o privado, está o seu menor custo, menor consumo de
utilizador traduz-se numa poupança actual de 160 euros por energia, menos emissões de gases contaminantes,
ano. menos ruído gerado e menor congestionamento do capítulo 02
tráfego.
Embora a importância da condução eficiente ser tratada
com maior detalhe no capítulo 7, “Eficiência e poupança Se a utilização do transporte público não é viável, existem
energética no transporte. Biocombustíveis”, vão ser dadas também outras possibilidade para reduzir o nosso consumo
no presente capítulo uma série de medidas e recomen- energético ao utilizar o carro. Uma delas passa por partilhar
dações básicas de como poupar energia no transporte. o carro.

Dentro das acções que podemos levar a cabo desde as Embora a ideia de partilhar o carro surgir como algo natural,
nossas casas para reduzir o consumo energético, tem ela pode ser organizada de forma simples quando os horá-
grande importância a utilização racional e energeticamente rios são semelhantes e os pontos de saída e destino
eficiente do veículo doméstico, já que aproximadamente estejam próximos, como no caso de viagens de trabalho ou
metade da energia que consomem as famílias portuguesas estudo. Partilhar o carro permite-nos reduzir os gastos por
se destina ao carro privado. pessoa associados ao veículo e ao estacionamento até
75%, dado que estes gastos são repartidos. Para além
A medida mais eficaz para reduzir o consumo de energia é disso é outra forma de reduzir as emissões para o
utilizar meios de transporte alternativos ao carro. ambiente.
Na hora de utilizar o nosso carro, é importante ter em conta
vários aspectos que nos permitirão poupar combustível e a. Entre 1.500 - 2.000 rotações por minuto em
54
reduzir as emissões. motores diesel.

• Em primeiro lugar há que fazer uma escolha adequada b. Entre 2.000 - 2.500 rotações por minuto em
na compra do carro, de forma a que este se adapte motores de gasolina.
às nossas necessidades. Um veículo novo consome
aproximadamente 25% menos do que um com 20 4. Circular em mudanças altas e a baixas rotações o
anos, mas essas vantagens perdem-se ao comprar maior tempo possível.
carros de grande potência e cilindrada, com um
consumo significativamente superior aos demais. 5. Evitar travagens, acelarações e mudanças de veloci-
dade desnecessárias.
• Durante a vida do veículo deve-se realizar uma boa
manutenção deste, que inclua o diagnóstico do motor 6. Travar de forma suave, com a mudança engatada e
em oficinas especializadas com regularidade, o reduzindo esta o mais tarde possível.
controlo dos níveis, filtros e peças de reposição, bem
como o controlo da pressão dos pneus, o que para 7. Parar o carro sem reduzir previamente de mudança
além de reduzir o consumo de energia nos trará quando a velocidade e o espaço o permitam.
poupanças económicas e aumentará a segurança
nas nossas viagens. 8. Desligar o motor em paragens de mais de
60 segundos.
• Para além de ser muito importante realizar uma
condução eficiente, com a qual se possam alcançar 9. Conduzir com antecipação e previsão. Manter a
poupanças de combustível de 10% a 15% apenas distância de segurança.
seguindo regras simples, como: planificar a rota; não
deixar o carro aquecer em posição parada; desligar o 10. Perante ocasiões de emergência, devem-se realizar
motor se está parado mais do que 60 segundos; acções específicas distintas para que a segurança
utilizar a primeira mudança apenas para realizar o não seja afectada.
início da marcha; conduzir de forma suave, anteci-
pando situações imprevista do tráfego e sem trava- Em resumo, é possível poupar uma grande quantidade de
gens e acelarações desnecessárias; circular o maior energia apenas mudando os nossos hábitos de utilização
tempo possível em mudanças elevadas e a baixas do carro, com o respectivo benefício económico, ambiental
rotações; e não circular a velocidade altas, nas quais e social associado. É interessante, portanto, ter em mente
o consumo dispara. o seguinte esquema sempre que vamos realizar uma deslo-
cação, de modo a escolher a opção mais eficiente.
Há também que ter em conta aspectos que penalizam o
consumo, como a colocação de porta-bagagens ou outros Sempre que seja possível devemos seguir a opção marcada
acessórios exteriores, a utilização abusiva de ar condicio- pelas setas verdes, o que nos permitirá alcançar a posição
nado, circular com as janelas abertas ou o transporte de mais alta no diagrama, correspondente à maior poupança
cargas desnecessárias. energética. (Ver figura 2).

Ou seja, conduzir de forma eficiente significa:


2.7. Equipamentos eléctricos
• Dez mandamentos de condução eficiente

1. Pôr o motor em marcha sem pisar o acelerador. 2.7.1. Equipamentos de linha branca
Aquecer o motor circulando suavemente.
Nas casas portuguesas funcionam mais de 14 milhões de
2. Utilizar a primeira velocidade apenas para o início da electrodomésticos, aqueles pequenos aparelhos que
marcha. Mudar para a 2ª aos dois segundos ou seis funcionam com energia eléctrica que tornam a vida mais
metros aproximadamente. fácil, cujo consumo representa, segundo o Instituto para a
Diversificação e Poupança da Energia (IDAE), 16% do
3. Realizar as mudanças de velocidade a baixas consumo eléctrico que se produz nas habitações. Principal-
rotações e acelerar com suavidade depois da mente, este consumo deve-se aos equipamentos denomi-
mudança:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 2
Árvore de decisão para a poupança nas deslocações.
55

A pé ou de bicicleta
Não utilizo o carro
Transporte público
As minhas deslocações
Condução eficiente
Partilho o carro
Condução não eficiente
Utilizo o carro

Não partilho o carro Condução eficiente


Condução não eficiente

nados de linha branca e os electrodomésticos e aparelhos permitia-se a consideração da poupança energética como
de gás situados na cozinha. uma variável mais para a escolha de um equipamento ou
outro.
Electrodomésticos e etiquetagem energética
Apesar da regulamentação sobre etiquetagem energética
Devido à importância destes equipamentos, pelo seu de electrodomésticos datar do ano de 1989, em Portugal

Eficiência Energética no Sector Doméstico


consumo, a Comissão Europeia propôs, no ano de 1989, não entrou em vigor até ao ano de 1995. Desde essa data,
uma iniciativa para contribuir para a poupança energética e todos os fabricantes têm de identificar cada electrodomés-
evitar a deterioração do planeta: a etiquetagem energé- tico com um nível de eficiência que se indicará com uma
tica. letra, de A a G.

O propósito desta medida era de informar os clientes do Em resumo, este sistema de etiquetagem contempla as
consumo de energia dos electrodomésticos no momento seguintes valorações:
da sua utilização, geralmente sobre a forma da utilização da
energia, eficiência e/ou custos da energia. Desta forma,

capítulo 02

Vista interior de uma cozinha com os seus equipamentos eléctricos. Casa eficiente do Grupo Gas Natural.
• É obrigatório para electrodomésticos como frigorí- • As etiquetas apenas são comparáveis dentro de um
ficos, congeladores, máquinas de lavar, de secar, mesmo grupo de electrodomésticos.
56
lava-louças (bem como para lâmpadas de uso domés-
tico). • Na hora de atribuir as diferentes etiquetas energé-
ticas, mede-se o consumo anual de cada tipo de
• Um electrodoméstico é eficiente se oferece as electrodoméstico e ao consumo médio atribui-se o
mesmas prestações que outros do mesmo tipo, ponto intermédio das letras D e E.
consumindo para isso menos energia.
• A diferença de preço entre um aparelho da classe A
• Existem sete classes de etiquetas energéticas que e outro da classe C amortiza-se em cinco anos,
se tipificam, em função dos consumos eléctricos, graças ao seu menor consumo.
em diferentes cores e com letras do abecedário de A
(que corresponde à classe mais eficiente) até G A atribuição destas etiquetas aos electrodomésticos é reali-
(associada à menos eficiente). zada pelos próprios fabricantes, que depois de contratar os
serviços dos laboratórios homolegados, atribuem as

Etiqueta energética de uma máquina

ENERGIA Máquina Lavar Roupa


Logo
Fabricante
ABC
Modelo 123

Mais eficiente
A
B B

C
D
E
F
G
Menos eficiente
Consumo de energia. kWh/ciclo
(Com a base no resultado obtido num ciclo de lavagem normalizada de algodón a 60 ºC)
O consumo real depende das condições de utilização da máquina X YZa

Eficácia na lavagem
A: mais alto G: mais baixo
ABCDEFG
Eficácia na cetrifugação
A: mais alto G: mais baixo
ABCDEFG
Velocidad de centrifugação (rpm) 1100
Capacidad em kg de roupa yz
Consumo de água em L yx

Ruído Lavagem xy
xyz
dB(A) re 1 pW Centrifugação

Ficha de informação detalhada nos folhetos do producto.


Norma En 60456
Directiva 95/12/CE sobre etiquetagem de máquinas de lavar roupa
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 3
Intrepretação das etiquetas energéticas.
57

Muito alto nível de eficiência; um consumo de energia


A inferior a 55% da média

OS MAIS EFICIENTES B Entre 55% e 75% da média

C Entre 75% e 90% da média

OS QUE APRESENTAM
D Entre 90% e 100% da média
UM CONSUMO MÉDIO
E Entre 100% e 110% da média

F Entre 110% e 125% da média


ALTO CONSUMO
DE ENERGIA
G Superior a 125% da média

etiquetas aos seus produtos. Para além disso, é também do cilindro ou da caldeira de gás da vivenda. Ao não
da responsabilidade dos fabricantes o fornecimento de ter que aquecer a água, este tipo de máquinas de

Eficiência Energética no Sector Doméstico


fichas com a informação energética do aparelho (valores de lavar reduzem o tempo de lavagem em 25% e são
consumo, capacidade, ruído, etc.). capazes de reduzir o consumo energético em 30%.

Aparelhos de Gás • Máquinas de secar: as prestações destes aparelhos


de gás são similares às dos seus equivalentes eléc-
Os aparelhos de gás são electrodomésticos que utilizam tricos, com a vantagem de que o ciclo de secagem
como fonte de energia o gás natural. Apesar do seu preço destes equipamentos é 60% menor.
ser mais elevado que o dos electrodomésticos convencio- • Máquinas de lavar a louça: de igual modo que as
nais, devido à diferença de preços entre as duas fontes máquinas bitérmicas, utilizam a água pré-aquecida
energéticas, a longo prazo podem tornar-se mais vanta- no cilindro, caldeira ou acumulador de gás natural,
josos. pelo que reduzem o tempo de lavagem e diminuem
em 35% o consumo energético.
Para a instalação destes equipamentos, é necessário fazer
chegar a fonte de gás até às proximidades dos aparelhos de • Vitrocerâmicas: são um dos aparelhos desenvol-
gás, o que requer a realização de pequenas obras que vidos mais recentemente, sendo o seu funciona- capítulo 02
devem ser levadas a cabo por um instalador autorizado. A mento semelhante ao dos seus equivalentes eléc-
entrada do combustível nos equipamentos realiza-se tricos. Como vantagem apresentam a redução do
através de tubos metálicos flexíveis, que são resistentes ao consumo em 50%.
calor, não se deterioram e possuem uma válvula de segu-
rança que fecha a passagem de gás em caso de desco- • Fornos de gás: de igual modo que as vitrocerâmicas,
nexão. estes aparelhos de gás oferecem os mesmos
serviços que os equipamentos eléctricos. Para além
Nos últimos anos, foram muitos os avanços que se levaram disso, ao utilizar o vapor de água da combustão do
a cabo por parte dos fabricantes para desenvolver este tipo gás natural permite que os alimentos não fiquem
de equipamentos. Os principais aparelhos de gás e mais ressequidos.
utilizados na actualidade são os seguintes:
Boas práticas na utilização de electrodomésticos
• Máquinas de lavar bitérmicas: estão equipadas e aparelhos de gás
com duas entradas de água independentes, uma
para a água fria e outra para a água quente. Segundo Dentro das acções que podemos levar a cabo desde as
o programa escolhido e a temperatura de lavagem nossas casas para reduzir o consumo eléctrico, adquire
seleccionada, a máquina de lavar capta a água fria grande importância o uso racional e eficiente dos electrodo-
directamente da rede ou a água quente proveniente mésticos e aparelhos de gás. Estas medidas, sem necessi-
dade de levar a cabo investimentos, oferecem quadros de devem colocar alimentos amontoados e há que tentar
poupança muito importantes. não abrir e fechar a porta do frigorífico constante-
58
mente.
Os comportamentos mais eficazes para reduzir o consumo
de energia são os seguintes: • Desligar a placa eléctrica uns cinco minutos antes de
acabar a confecção. Para além disso, manter limpa a
• Utilizar máquinas de lavar a roupa e a louça de baixo superfície das placas eléctricas e dos queimadores é
consumo de água e energia, não os utilizando total- essencial para um uso eficiente da cozinha.
mente cheios. As novas máquinas regulam o
consumo de água segundo o peso da roupa, incorpo- • Adaptar os recipientes à dimensão dos queimadores
rando sistemas de poupança que permitem reduzir o de gás ou da placa do fogão eléctrico de forma a que
consumo até 35 litros. o recipiente tenha um diâmetro um ou dois cm maior
do que a superfície da chama de gás ou placa, não
• Utilizar as temperaturas mais baixas possíveis para utilizando a placa maior para aquecer o tacho mais
lavar e seleccionar os programas mais adequados. pequeno.
Por exemplo, nas máquinas de secar não é neces-
sário secar ao máximo a roupa que depois se tem • O correcto funcionamento dos aparelhos também
que estender. poupa energia. É conveniente realizar uma manu-
tenção adequada deles, utilizando periodicamente os
• De todos os equipamentos, o frigorífico é um dos serviços de manutenção do fabricante ou instalador.
consumidores principais de energia, já que repre-
senta entre 10% e 15% de toda a energia eléctrica
consumida numa casa. Deve-se escolher a medida 2.7.2. Equipamentos de escritório, audiovisuais e de
do frigorífico, optando pelo mais pequeno possível, lazer
de acordo com as necessidades.
O número de empresas registadas em Portugal continuam
• A formação de gelo no frigorífico de cinco milímetros a aumentar, das quais, cerca de 90% possuem um equipa-
de espessura pode aumentar o consumo energético mento de escritório básico completo. Assim sendo, as
em 30%. Quantas mais vezes se abrir a porta do emissões resultantes do consumo eléctrico do conjunto do
frigorífico, mais gelo se produzirá. equipamento de escritório no sector profissional são signi-
ficativas.
• O frigorífico não se deve situar próximo de uma zona
quente ou de uma zona de calor como o fogão, o Devido à importância que tem o levar a cabo actuações
forno, etc. É conveniente deixar arrefecer os destinadas a melhorar a eficiência deste tipo de equipa-
alimentos antes de os introduzir no frigorífico. Não se mentos, são apresentados por iniciativa do Governo planos
para ajudar à aquisição de equipamentos eficientes, em
substituição de equipamentos pouco eficientes. É aquilo
que se conhece como Plano RENOVE, que tanto êxito teve
em outras ocasiões, como por exemplo, na substituição de
electrodomésticos. O objectivo é a substituição de equipa-
mentos de escritório com baixa etiquetagem energética
por outros com etiquetagem energética classe A ou supe-
rior.

Actualmente, podemos encontrar os logotipos de Etiqueta


Ecológica e Energy Star em muitos produtos, entre eles, os
equipamentos de escritório. O primeiro destes indica que o
produto conta com estandartes em matéria de eficiência e
poupança energética, para além de cumprir com outros de
matéria de ruído, capacidade de recuperação e reciclagem,
vida útil, emissões electromagnéticas. O segungo logótipo
pertence às especificações e Energy Star de eficiência
energética, que dita a Agência Americana de Protecção
Ambiental (EPA), na qual actualmente participa a União
Exemplo de más práticas. Europeia.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Boas práticas
Devido à diversidade de equipamentos eléctricos e suas • Há que recordar que os modos de funcionamento
59
características, as recomendações na hora da aquisição Sleep, Stand by ou poupança de energia permitem
destes equipamentos podem ser diferentes: diminuir o consumo respectivamente aos modos
normais de funcionamento, mas não implicam um
Computadores consumo zero. De facto, estes modos de funciona-
Devido ao grande número destes equipamentos nas casas, mento têm um consumo eléctrico associado que há
edifícios administrativos, indústrias, colégios, etc., em que ter em conta, já que pode ser considerável devido
proporção com o resto de equipamentos de escritório, as ao número importante de horas que habitualmente
emissões provenientes do seu consumo eléctrico repre- permanece o aparelho neste modo de funciona-
sentam mais de metade das emissões indirectas por mento. Por este motivo, quando os equipamentos
consumo de electricidade. não vão ser utilizados em períodos longos de tempo,
é recomendável a desconexão total.
Para além disso, é muito comum que estes equipamentos
permaneçam ligados durante muitas horas por dia, apesar • É aconselhável colocar etiquetas nos equipamentos
do tempo de utilização ser claramente inferior. Por este que sejam desconectados totalmente após a sua
motivo é recomendável utilizar o sistema inactivo ou modo utilização. Como trabalho de consciencialização, pode
bookmark, no qual na reiniciação, o computador volta ao incluir-se nestas etiquetas o consumo e adicionar as
ponto exacto onde se encontrava anteriormente. emissões equivalentes de CO2, no seu modo de
funcionamento normal e em modo Stand by, que
Um computador autenticado com a etiqueta Energy Star é deveriam estar incluídas nas especificações técnicas
responsável por menos 70% de emissões de CO2, prove- do equipamento.

Eficiência Energética no Sector Doméstico


nientes do consumo eléctrico, em comparação com um
convencional que não conte com um sistema de poupança
de energia. 3. Índice de eficiência energética

Monitores
Os monitores são um dos equipamentos de escritório que Uma das campanhas mais inovadoras no aspecto da
mais exigências apresentam para obter a etiqueta Energy eficiência energética é a promovida pela empresa eléctrica
Star. Este tipo de monitores, em modo Sleep consomem do Grupo Gas Natural, através da sua página Web www.
menos de 4 W. unionfenosa.es. Esta página oferece a possibilidade aos
utilizadores de analisar a eficiência das suas habitações e
Por outro lado, existe software que permite poupar energia empresas do ponto de vista energético através de um
através da desconexão dos monitores. Mas deve-se completo questionário no qual se analisam tanto os hábitos
recordar que os ambientes de trabalho com fundo negro de utilização como os elementos instalados. Uma vez reali-
são os únicos que, para além de evitar a deterioração do zado o questionário, o utilizador receberá uma série de
ecrã, permitem poupar energia. recomendações e orientações que deve seguir para conse- capítulo 02
guir reduzir o consumo energético e, portanto, diminuir o
Impressoras e fotocopiadoras seu custo energético.
Este equipamento está ligado uma grande quantidade de
horas à rede eléctrica, no entanto o seu tempo de funciona- • O utilizador conhece qual o grau de eficiência ener-
mento real é geralmente muito pequeno, pelo que grande gética da sua casa ou organização.
parte da energia consumida na sua vida útil é desperdiçada.
Convém desligar completamente se não se vai utilizar. • Permite-lhe seguir a sua evolução em sucessivas
edições do Índice de Eficiência Energética.
Fax
Hoje em dia podem-se encontrar equipamentos que inte- • Obtém um relatório específico, personalizado e confi-
gram as funções de fax, impressora e scanner. Desta forma, dencial sobre o nível de eficiência energética da sua
para além de espaço, a poupança no consumo energético empresa ou habitação.
também é importante. Quanto à utilização deste equipa-
mento, se não é necessário, não se deve utilizar capa nos • O relatório enviado valoriza a situação actual respec-
faxes enviados, já que, para além de energia, poupa-se tivamente a quatro áreas:
papel e tempo de transmissão.
1. Cultura energética: é o nível de informação mentos utilizados, com o objectivo de alcançar o
existente, a formação e a política no âmbito da óptimo rendimento do ponto de vista da
60
eficiência energética. eficiência energética.

2. Manutenção: é o nível de sensibilidade exis- 3. Controle energético: é o nível de gestão do


tente na manutenção dos diferentes equipa- gasto energético, através da aplicação de

Figura 4
Potencial de poupança nas habitações espanholas. Índice de eficiência energética do Grupo Gas Natural.

30%

25%

20%
18,3%

15%

10%

5%
_

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Figura 5
Resultados do estudo por áreas de análise.

10
9
8
7
6
5
4,7
4 4,5

3 3,5
3,2 3
2,9 2,8
2 2,3
2,8
1 2,2
_

Índice EE Inovação Controle Manutenção Cultura


Energética
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

métodos de medição e a sucessiva implemen- De um modo geral, as empresas que efectuam a análise de
tação dos processos administrativos eficiência energética melhoram o seu índice entre 3% e
61
adequados. 4%, o que representa uma diminuição potencial do consumo
energético entre 0,6% e 0,8%. No caso de todas as PMEs
4. Inovação tecnológica: é o grau de actualização nacionais participarem neste estudo, a poupança energé-
da organização no que se refere ao meios tica seria superior a 614 GW/h, evitando a emissão de mais
técnicos aplicados nas instalações. de 313.270 t de CO2, ou o equivalente à quantidade de CO2
que 3 milhões de árvores são capazes de absorver.
• O utilizador dispõe do perfil de eficiência energética
da sua empresa ou habitação, em valores absolutos Dentro dos aspectos que se valoram durante o estudo, a
e, no caso das empresas, comparativamente ao seu área que apresenta o maior conhecimento em temas de
sector. eficiência energética é o da manutenção. Pelo contrário,
continua a haver um défice na cultura energética do país, o
O objectivo do Índice de Eficiência Energética é o de favo- que se repercute em grande medida na eficiência das
recer a poupança e a eficiência energética nas casas e nas empresas e habitações. No aspecto da inovação, a utili-
empresas, contribuindo desta forma para o desenvolvi- zação de sistemas de regulação (especialmente na ilumi-
mento sustentável da sociedade. nação) é baixa, ao passo que a utilização de energias reno-
váveis nas PMEs não se difundiu ainda, embora nas
Segundo os resultados do último estudo do Índice de empresas onde se utilizam forneceram 45% do total de
Eficiência Energética 2007, realizado nas PME’s, as energia consumida.
empresas espanholas melhoraram 3% relativamente ao
ano anterior, com um potencial de poupança de energia de A aplicação de ferramentas energéticas como esta permite

Eficiência Energética no Sector Doméstico


18,3% do total consumido, o que equivale a uma poupança aos utilizadores levar a cabo medidas de poupança de
de 1.420 milhões de euros, correspondendo a 18.739 GW/h consumo sem a necessidade de grandes investimentos ou
e 9.55 Mt de CO2. melhorias, o que ajuda o consumo energético nacional e a
dependência energética do nosso país.

capítulo 02
03 Eficiência e Poupança Energética
na Indústria (I)
Apesar desta subida do consumo energético sectorial face
1. Introdução ao consumo total, houve uma redução da intensidade ener-
64
gética (consumo de energia por unidade económica de
O custo da energia constitui um dos factores de maior peso produção) que desceu de 5.508 ktep para 3.304 ktep de
nos custos totais dos processos produtivos. Um consumo 2004 para 2008, o que se traduz numa taxa anual de
energético contido permite às industria alcançar uma maior -0,7%.
produtividade e qualidade na sua produção.
Para alcançar os objectivos de redução do consumo e de
Por outro lado, com a entrada em vigor da revisão do Plano emissões presentes na estratégia Eficiência Energética e
Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão de CO2 Energias Endógenas (E4) foram previstas uma série de
(PNALE), as empresas envolvidas ver-se-ão obrigadas a medidas institucionais, das quais são exemplo acordos com
reduzir as suas emissões e/ou a comprar no mercado de empresas, ajudas para a realização de auditorias ener-
emissões, com o consequente custo económico que essa géticas e ajudas para acções de melhoria da eficiência.
compra implica.

1.1. Evolução do consumo energético no 2. Análise Sectorial


sector industrial
Durante os últimos anos, o sector industrial (indústria trans- O documento de referência para a avaliação da situação
formadora) aumentou percentualmente o seu peso na energética dos diferentes sectores de actividades portu-
repartição do consumo energético global; assim, passou-se guesas e respectivas perspectivas de evolução é a Estra-
de um peso de 28,9% no ano 2004 para 29,4% em 2008, tégia de Eficiência Energética e Energias Endógenas (E4).
verificando-se um crescimento de 0,5%, face à redução de Desse documento foi extraída a informação relativa ao
4,8% do total nacional. A tabela 1 descreve o consumo por sector industrial.
actividade entre 2004 e 2008.

TABELA 1
Evolução do consumo de energia final por actividade.

Consumo de Energia Final Taxa % Crescimento


2004 2005 2006 2007 2008
(ktep) Médio Anual 2004/2008

Agricultura 316,9 305,7 285,6 261,4 374,3 3,6

Pescas 101,6 73,3 81,1 66,5 68,3 -6,5

Industria extractiva 125,8 118,4 105,3 151,9 154,4 4,5

Industria transformadora 550,8 540,5 546,6 529,5 530,8 -0,1

Construção e obras públicas 849,2 918,2 712,9 630,3 637,3 -5,0

Transportes 6.912,0 6.894,3 6.894,3 6.796,3 6.739,3 -0,5

Sector doméstico 3.146,0 3.219,6,0 3.199,1 3.195,7 3.121,3 -0,2

Serviços 2.513,2 2.542,8 2.264,0 2.297,9 2.140,4 -3,0

Fonte: DGEG
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

consumo de energia do sector podem caracterizar-se


2.1. Sector alimentação, bebidas e tabaco mediante quatro produtos de referência: alumínio, cobre,
65
zinco e chumbo. Destes, o alumínio é o produto mais inten-
A sua actividade está fortemente ligada ao comportamento sivo em energia, o que se explica pelo facto de 80% do seu
do consumo privado e da actividade da restauração e hote- valor estar directamente ligado ao custo da energia consu-
laria, ramos estreitamente relacionados com o rendimento mida para a sua produção, principalmente electricidade. O
nacional. Este sector encontra-se em contínua moderni- resto dos produtos são menos intensivos em consumo
zação tecnológica, facilitando desta forma a incorporação energético. O potencial de redução dos consumos especí-
de tecnologias de maior eficiência energética. Conta ainda ficos para a produção de alumínio e do resto dos produtos
com a possibilidade de valorização energética de alguns não é muito elevado, e está ligado fundamentalmente a
dos seus produtos residuais. A tendência para o aumento pequenas mudanças de equipamento e a melhorias no
da procura por produtos mais sofisticados, em especial pré- processo produtivo, apesar de não serem de esperar
cozinhados e congelados, está a originar um aumento das mudanças drásticas nas tecnologias dos equipamentos
necessidades energéticas por unidade de produto. principais.

2.5. Sector minerais não metálicos


2.2. Sector madeira, cortiça e móveis
Este sector é constituiído por uma grande variedade de
Este tipo de indústrias está ligada à actividade de cons- empresas de pequena e média dimensão na sua maioria.
trução, principalmente à construção de habitações, e à Compreende a fabricação de uma ampla gama de produtos:

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (I)


fabricação de aglomerados de madeira e de fibras para a cimento, cal e gesso, vidro, produtos cerâmicos e terracota
fabricação de portas e móveis. O potencial de poupança e os restantes derivados minerais não metálicos. O sector
energética no sector é reduzido principalmente devido ao mantém uma estratégia energética conducente à dimi-
facto das medidas de poupança em tecnologias horizontais nuição do consumo energético, melhorando a eficiência
verificarem já um grau de desenvolvimento e implemen- dos equipamentos de produção e utilizando resíduos e
tação elevados. subprodutos para poupar no consumo de recursos não
renováveis. A valorização energética de resíduos constitui
uma via de melhoria da eficiência energética de grande
2.3. Sector equipamento de transporte
potencial neste sector industrial. De um modo geral, os
processos produtivos básicos deste sector são compostos
É um sector de grande heterogeneidade já que abarca fabri- por reacções químicas altamente intensivas em energia.
cantes de todo o tipo de meios de transporte, automação,
ferroviário, naval e aeroespacial/aeronáutico, assim como
todos os fabricantes de componentes para tais meios de 2.6. Sector pasta, papel e impressão
transporte. As indústrias que o compõem são, de um modo
geral, pouco intensivas em energia, apesar de algumas, Compreende a produção de pasta de papel, papel e cartão,
como a fabricação de veículos automóveis e motores, junta- assim como as indústrias de artes gráficas e edição. Utili- capítulo 03
mente com produtos metálicos, apresentarem consumos zam-se grandes quantidades de vapor para os processos
unitários superiores à média do sector. As possibilidades de térmicos e grandes quantidades de electricidade para os
poupança energética neste sector são reduzidas por dois processos mecânicos, que são necessários para descor-
motivos: o consumo energético representa uma percen- tiçar, serrar e aparar a madeira, branquear a pasta e secá-la,
tagem reduzida na estrutura de custos e a alta competitivi- sendo esta parte do processo produtivo a mais intensiva
dade do sector provoca um processo constante de optimi- em energia. O uso como matéria-prima de papel reciclado
zação dos processos, reduzindo-se desta forma os custos em vez da madeira reduz as necessidades energéticas do
de produção. processo, se bem que ambas as matérias-primas são
complementares e necessárias para a fabricação das
2.4. Sector metalúrgico não férreo distintas qualidades de papel. O subsector realizou esfo-
rços historicamente importantes em matéria de poupança
Este subsector compreende o processamento primário e energética, tanto em termos de melhoria nos rendimentos
secundário, fusão de concentrados minerais e sucatas, do uso da matéria-prima e dos processos, como através da
resíduos e desperdícios, assim como o acabamento de um renovação dos equipamentos. Foram desenvolvidas consi-
grande volume de metais não férreos. A produção e o deravelmente a cogeração e o aproveitamento de combus-
tíveis renováveis, existindo um elevado potencial para os • Farmoquímica: compreende a fabricação de produtos
resíduos de processo. de base, especialidades farmacêuticas e zoossanitá-
66
rios.
As possibilidades de poupança energética dentro do sector
centram-se sobretudo em empresas de tamanho pequeno • Química transformadora: compreende detergentes,
e médio, sendo necessária a realização de esforços econó- perfumaria, pinturas e tintas de impressão, adesivos,
micos elevados para poupanças relativas médias. As possi- colorantes, pigmentos e outros produtos químicos
bilidades em empresas de tamanho grande com eficiências (azeites básicos, explosivos, etc.)
energéticas muito elevadas podem ter impacto ao nível do
conjunto ou sector, sendo no entanto necessárias a reali-
zação de esforços económicos elevados para poupanças 2.8. Sector siderurgia e fundição
relativas baixas para este tipo de empresas.
Neste subsector incluem-se as acticidades da siderurgia
(produção de aços de todo o tipo) e fundição (unicamente
2.7. Sector indústria química fundição férrea), que, por sua vez, se dividem em nume-
rosos ramos de produção. Está imerso num processo de
Existem duas pautas bem diferenciadas: a química base reconversão tecnológica, que implica uma redução impor-
(intensiva em energia) e a química de produtos especiais e tante do consumo energético.
farmacêutios (não intensiva). Este subsector abarca toda
uma panóplia de produtos, alguns dos quais são dos mais O consumo de energia associado ao grande crescimento
intensivos na indústria: produtivo experimentado denota uma melhoria na aplicação
de técnicas de optimização energética. Isto torna-se
• Q
 uímica base: gases industriais, produtos básicos evidente se se observar a evolução da sua intensidade ener-
de química orgânica e inorgânica, matérias-primas gética (ver figura 1). O sector tem aplicado nos últimos anos
plásticas e borracha sintética, fibras químicas, etc. melhorias tecnológicas focadas na redução do consumo
energético. Tendo em conta os grandes investimentos já
• Agroquímica: este grupo compreende a fabricação realizados em termos de melhoria e implementação de
de fertilizantes e fitossanitários. novos processos produtivos, ter-se-á chegado a um grau de
optimização energética tal que as medidas que se possam

Figura 1
Evolução da intensidade energética (tep/tm de aço) do sector.

0,290
0,280
0,270
0,260
0,250
0,240
0,230
0,220
0,210
0,200
1984 1986 1988 1990 1992 1944 1996 1998 2000 2002
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

adoptar dificilmente resultarão em reduções futuras signifi-


cativas. 3.1. Motores eléctricos
67

Aproximadamente 60% da energia eléctrica consumida a


2.9. Sector têxtil, couro e calçado nível mundial é devida ao funcionamento de motores eléc-
tricos, já que movem uma grande quantidade de disposi-
É formado por dois ramos de actividade muito diferentes tivos industriais e domésticos como bombas, compres-
que por sua vez se dividem cada um deles em numerosos sores, ventiladores, maquinaria, veículos, etc.
ramos de produção:
Adicionalmente, o gasto associado a este consumo eléc-
• Têxtil e confecção: actualmente, o ramo industrial trico é da ordem de 60 a 100 vezes superior ao investimento
de produtos acabados é o mais intensivo em energia realizado inicialmente. Apesar disso, o critério de eficiência
e é aqulele que maior gasto energético apresenta, energética quase nunca é tido em conta no momento da
tendo um grau de eficiência energética muito elevado. aquisição de um novo equipamento. Não existe uma
O resto dos ramos industriais do sector têxtil apre- compreensão suficientemente dissiminada de que os
senta pesos relativos para os custos energéticos motores com maior eficiência, apesar de serem mais caros
mais moderados, devido à progressiva automatização inicialmente, compensam a diferença num prazo reduzido
dos processos. devido aos menores custos operacionais.

• Couro e calçado: a fabricação de peles é uma activi- Outra razão é a pouca informação que têm os engenheiros

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (I)


dade industrial moderadamente intensiva em energia; e técnicos sobre a eficiência energética dos motores, parâ-
os custos de produção representam actualmente 5% metro de difícil quantificação e comparação. Este descon-
dos custos de fabricação. Por outro lado, a intensi- hecimento implica insegurança no momento da aplicação e
dade energética dos procesos susceptíveis de uma em alguns casos pode ocasionar inconvenientes na opera-
melhoria de eficiência energética são os do sector cionalização dos motores.
dos produtos acabados.

2.10. Sector derivados metálicos

Conta com duas actividades principais: fabricação de estru-


turas metálicas e caldeiraria. Dentro do sector existe uma
grande heterogeneidade de actividades. Em geral, dentro
do sector de derivados metálicos observa-se que os custos
energéticos pressupõem entre uns 4% - 10% dos gastos
totais de exploração. Adicionalmente, quase metade dos
consumos energéticos são relativos aos serviços auxiliares capítulo 03
das fábricas, ou seja, iluminação, climatização e manu-
tenção. Isto supõe um travão no momento de aplicar melho-
rias para reduzir o consumo energético.

3. Tecnologias eléctricas

Nesta secção são avaliadas as tecnologias e componentes Motor de alto rendimento SIEMENS.
que verificam um uso intensivo de energia eléctrica dentro
das práticas habituais na indústria, como motores, bombas
e ventiladores, sistemas de iluminação e equipamento de
3.1.1. Princípio de funcionamento
refrigeração industrial. Em cada uma das subsecções é
descrita de uma forma geral o seu funcionamento e os A missão fundamental de um motor eléctrico é a de trans-
aspectos chave que permitem optimizar a eficiência ener- formar a energia eléctrica em energia mecânica que permita
gética das instalações. pôr em movimento o mecanismo do equipamento no qual
seja instalado. O funcionamento de um motor baseia-se
nas propriedades electromagnéticas da corrente eléctrica e
na possibilidade de criar a partir delas determinadas forças operacional total, logo, ao seleccionar motores eléctricos
de atracção e repulsão encarregues de actuar sobre um há que considerar fundamentalmente a sua eficiencia.
68
eixo e gerar um movimento de rotação. Independente-
mente da tecnologia que utiliza, a eficiência energética de Existem três tipos de classes de motores de alta eficiencia:
um motor é caracterizada por uma série de perdas eléc- EFF1, EFF2 ou EFF3, em função das características da apli-
tricas e mecânicas nas suas componentes que podem ser cação à qual estão destinados. A seguir são apresentadas
agrupadas em três classes: as vantagens e limitações que têm este tipo de motores.

• Perdas por efeito Joule: são consequência da resis- Vantagens dos motores de alta eficiência:
tência exercida pelos rolamentos do motor (rotor e
estator) à passagem da corrente eléctrica. • São mais robustos do que os motores standard, o
que se traduz em menores gastos de manutenção e
• Perdas magnéticas: perdas associadas aos campos em maior tempo de vida.
magnéticos presentes no interior da máquina.
• Uma maior eficência pressupõem um menor custo
• Perdas mecânicas: são devidas à fricção que operacional .
exercem o ar e os elementos fixos sobre as partes
móveis do motor. Limitações dos motores de alta eficiência:

A maior ou menor eficência energética de um motor eléc- • Operam a uma velocidade maior do que os motores
trico depende da magnitude dos diferentes tipos de perdas. standard. Isto pode significar um incremento na
Assim sendo, os motores com um desenho apropriado dos potência. Esta possibilidade deve ser valorada em
seus rolamentos e partes móveis e com materiais cada caso.
adequados permitem, para uma potência no eixo similar,
um menor consumo respectivamente a um motor mais • O par de arranque pode ser menor do que aquele de
económico no qual estes aspectos não tenham sido levados um motor standard, pelo que há que analisar cuida-
em conta de uma forma exaustiva. Mas há outros factores dosamente cada caso. A corrente de arranque é
que se referem ao regime e ao modo de funcionamento do geralmente maior, o que pode provocar que se ultra-
motor, como por exemplo: passe o limite de queda de tensão na rede no
momento de arranque.
• O dimensionamento adequado do motor para a apli-
cação a que se destina. Recomendações para a aplicação de motores de alta
eficiência.
• Regime de carga: carga parcial ou nominal, carga
variável ou estacionária, sobrecargas, etc. Recomenda-se a compra de motores de alta eficiência nos
seguintes casos:
• Alimentação do motor: características e qualidade da
corrente eléctrica de entrada no motor. • Nos motores entre 10 CV e 75 CV quando operam
2.500 horas por ano ou mais.
• Manutenção realizada.
• Em motores de menos de 10 CV ou superior a 75 CV
quando superam as 4.500 horas.
3.1.2. Propostas para melhorar a eficência energética
em motores eléctricos • Quando se utilizam para substituir motores sobredi-
mensionados.
1. Utilização de motores de alta eficiência
• Quando se aplicam conjuntamente com variadores
Este tipo de motores conta com um desenho e construção electrónicos de frequência.
especiais que diminuem as perdas face aos motores stan-
dard. Dos custos totais de operação de um motor durante 2. Substituição em lugar da reparação de um motor
a sua vida útil, o custo de compra corresponde a 1%, a usado
energia a 95%, a manutenção a 3% e os custos de engen-
haria e logística a 1%. Assim sendo, o custo de compra do Quando um motor falha apresentam-se duas alternativas:
motor é pouco significativo respectivamente ao custo reparar o motor avariado ou comprar um novo motor. A
alternativa da reparação parece ser, à primeira vista, a mais
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

indicada quando o seu custo é inferior ao da compra de • Diminuir a distorção harmónica da rede
uma nova máquina. No entanto, na maioria das ocasiões, a
69
recalibração de um motor conduz a uma perda de rendi- 5. Optimização da transmissão
mento e a uma menor fiabilidade de funcionamento.
Segundo estudos da General Electric, a eficiência piora Os sistemas de transmissão permitem transmitir a força
entre 1,5% e 2,5% após a reparação. A decisão de substi- motriz às cargas ou equipamentos (bombas, compressores,
tuir o motor avariado por um motor de alta eficiência etc.) seja ou não combinado com a velocidade de entrega
depende essencialmente de factores, como o custo de do motor, o que se consegue mediante ligações ao eixo de
reparação, a variação do rendimento, o preço do novo engrenagens, polias. É importante na selecção do sistema
motor, a eficiência original do motor instalado, o factor de de transmissão conhecer as características de cada sistema
potência, as horas de operação anuais, o preço da energia para realizar uma adequada selecção. É recomendado
e o critério de amortização. Não obstante, é recomendável seguir as seguintes recomendações em função do tipo de
atentar aos seguintes critérios de decisão: ligações:

• Consultar oficinas de reparação fiáveis para a • Ligação directa: assegurar uma correcta ligação
obtenção de informação fiável. entre o motor e a carga.

• Os motores com potência inferior a 40 CV e com • Correias: usar bandas em V e preferencialmente
mais de 15  anos de utilização e os motores com dentadas.
potência inferior a 15 CV são candidatos a ser substi-

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (I)


tuidos. • Reductores: seleccionar adequadamente o tipo de
reductor (heliocoidal, cónico, cilíndrico e parafuso
• Se o custo de recalibração supera em 50% o custo sem fim) de acordo com a potência e a relação de
de um motor novo, então deverá ser substituído. velocidades.

3. Dimensionamento adequado • Cadeias: não têm deslizamento e são recomendadas


para transmitir elevadas cargas. A sua eficiência pode
Recomenda-se que a potência nominal esteja sobredimen- alcançar os 98%.
sionada de 5% a 15% respectivamente à potencia neces-
sária para a aplicação, com o objectivo de que o motor 6. Utilização de controlo electrónico de velocidades
opere com maior eficiência e factor de potência (relação
entre o consumo de energia activa e energia reactiva) É importante que o motor e o equipamento operem no seu
adequados. O procedimento para o cálculo da potência ponto óptimo de operação, ou seja, que o motor opere a
adequada depende do regime de carga do motor, já que é
possível subdimensionar em certos casos o motor em
função da quantidade de arranques e paragens aos quais é
submetido. capítulo 03

4. Melhoria da qualidade da energia eléctrica

Os motores eléctricos estão desenhados e fabricados para


operar nas condições especificadas na tabela de caracterís-
ticas, chamadas condições nominais. No entanto, os
sistemas eléctricos industriais não apresentam geralmente
as condições ideais nem em simetria, forma de onda ou
magnitude. Estas variações podem prejudicar o rendimento
e o tempo de vida do motor. A seguir são indicadas as reco-
mendações mais habituais para asegurar uma qualidade
mínima do fornecedor eléctrico:

• Manter os níveis de tensão próximos do valor


nominal.
Variador electrónico de velocidade.
• Minimizar o desequilíbrio de tensões.
carga e à velocidade necessária com um consumo mínimo Um sistema de bombagem é formado por dois compo-
de energia. O equipamento mais utilizado para este fim é o nentes principais:
70
variador electrónico de velocidade ou frequência.
• Circuito hidráulico: pelo qual circula o fluido, carac-
Um variador modifica a frequência de onda da tensão de terizado por longitude, diâmetro e rugosidade do
alimentação do motor, permitindo que o motor trabalhe tecido das tubagens. Este circuito atinge uma deter-
muito próximo do ponto óptimo de operação. Este tipo de minada altura geométrica e, adicionalmente, para um
equipamentos permite regular a força motriz sem necessi- determinado caudal que por ele circula tem asso-
dade de recorrer a outras opções muito menos eficientes, ciada uma determinada perda de carga (resistência à
permitindo uma considerável poupança de energia e outros passagem do fluido pelas paredes da tubagem), o
benefícios adicionais como uma maior vida útil do motor, que permite elaborar uma curva característica (altura-
menor ruído, menor desgaste, melhor controlo e posibili- caudal) do funcionamento do circuito.
dades de regeneração.
• Equipamentos de bombagem: bomba ou grupo de
As cargas que têm um regime variável são as melhores bombas que impulsionam um determinado caudal de
candidatas a serem accionadas mediante um motor com fluido, de modo a conferir a energia necessária para
variador para poupar energia. Um exemplo muito típico são atingir a altura geométrica e a perda de carga deter-
os ventiladores e bombas centrífugas. minada pelo dito caudal no circuito. A bomba consiste
num rotor com pás arrastadas por um motor, normal-
mente eléctrico. Em função do circuito a que está
3.2. Bombas e ventiladores conectada, a bomba é capaz de impulsionar um
determinado caudal até uma determinada altura
(altura geométrica mais altura equivalente por perda
3.2.1. Descrição de um sistema de bombagem de carga). Ele permite traçar uma curva característica
(altura-caudal) da operação da bomba.
A finalidade de uma instalação de bombagem consiste no
transporte de um fluido até ao ponto de consumo, armaze- A combinação de ambas as curvas características permite
namento ou evacuação, ultrapassando uma determinada a determinação do ponto de operação do sistema, que vem
altura geométrica e as perdas por fricção causadas no dado pelo ponto de intersecção de ambas as curvas.
circuito de tubagem (perda de carga).
O consumo de energia da bomba é a soma de três compo-
nentes:

• A energia necessária para a elevação do fluido (altura


Figura 2 geométrica).
Curvas características e ponto de funcionamento.
• Perdas no motor da bomba.

• A energia necessária para ultrapassar as perdas de


Curva característica carga do circuito eléctrico.
da bomba

Curva característica Portanto, o consumo energético da bomba depende do


do circuito motor utilizado, da altura a atingir, do caudal e das perdas
Ponto de de carga do circuito.
funcionamento
Altura
3.2.2. Propostas para melhorar a eficiência
energética em sistemas de bombagem

As causas mais frequentes de um baixo rendimento do


sistema são as seguintes:

Caudal • Motores de ignição de baixo rendimento: As


medidas de melhoria de eficiencia energética neste
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

tipo de equipamentos já foram comentadas na • Arranque/paragem: é uma opção muito prejudicial


secção anterior (motores eléctricos) para a bomba e para o circuito porque se produzem
golpes de aríete (mudanças bruscas na pressão do
71
• Circuito inadequado: projecto defeituoso ou modifi- fluido). Energeticamente é mais eficiente do que a
cações da instalação original. Devido a que a carac- opção anterior.
terística de funcionamento de uma bomba é ser
fortemente não linear, todo o desvio da operação da • By-pass: faz-se recircular uma certa quantidade de
bomba para fora da faixa óptima conduz a um funcio- fluido pela abertura de uma válvula de by-pass. É a
namento ineficiente da mesma. Estes desvios opção menos eficiente.
podem ser fruto de um mau dimensionamento ou de
posteriores modificações ou ampliações do circuito • Controle de velocidade: é o método mais eficiente,
hidráulico. Toda a modificação do circuito deverá já que em todo o momento a bomba opera no seu
acarretar um estudo da modificação do ponto de ponto óptimo de funcionamento.
funcionamento da bomba para determinar a necessi-
dade do ajuste ou substituição do equipamento de
bombagem para assegurar que trabalha em 3.2.3. Sistemas de ventilação e extracção
condições óptimas.
As instalações industriais de ventilação e extracção são
• Regulação inadequada: Às vezes os circuitos de muito parecidas às de bombagem, diferenciando-se nas
bombagem não funcionam com uma carga cons- propriedades do fluido transportado, que neste caso é um
tante, mas o caudal que circula por eles é variável. gás (frequentemente ar). As medidas propostas anterior-

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (I)


Esta circunstância é muito habitual na indústria mente para o caso das instalações de bombagem são apli-
(centrais de frio, condensadores, circulação de cáveis na sua totalidade aos sistemas industriais de venti-
líquidos, etc., nos quais a procura não é constante). lação e extracção.

Para variar o caudal que circula pelo circuito é necessário


modificar as condições operacionais do circuito ou da 3.3. Ar comprimido
bomba. As opções distintas são as seguintes:
3.3.1. Descrição de um sistema de ar comprimido
• Válvulas de regulação: introduz-se uma perda de
carga adicional no circuito, pelo que o caudal diminui.
A potência requerida diminui, mas o rendimento O ar comprimido é um elemento muito habitual em todo o
global da instalação diminui numa medida maior. tipo de instalação industrial. Normalmente é empregue
para obter trabalho mecânico linear e rotativo, associado

Figura 3
Esquema de uma instalação de ar comprimido
capítulo 03
ATMOSFERA

FILTRO CENTRAL COMPRESSORA


AR AR
COMPRIMIDO COM ÁGUA AR HÚMIDO
COMPRESSOR REFRIGERADOR SEPARADOR DEPÓSITO
REGULADOR
130 ºC 30 ºC 30 ºC

ELIMINAÇÃO
DE IMPUREZAS

AR LIMPO

SECADOR

AR LIMPO
SECO 20 ºC
ATMOSFERA
EQUIPAMENTO DE REDE DE
UTILIZAÇÃO ACOMETIDA
MANUTENÇÃO DISTRIBUIÇÃO
ao deslocamento de um pistão ou de um motor pneumá- prejuízo da segurança e do rendimento do pessoal e dos
tico, Em outras ocasiões, emprega-se para pulverizar ou equipamentos.
72
aplicar sprays de vernizes ou pinturas.

3.3.2. Propostas para melhorar a eficiência energética


Uma instalação básica de ar comprimido para uso industrial
em sistemas de ar comprimido
compreende geralmente os seguintes elementos:
compressor, depósito de armazenamento e regulação, refri-
gerador, desumidificador, linhas de distribuição e os pontos • Recuperação do calor: O princípio de funciona-
de consumo com o seu regulador e filtro. O consumo eléc- mento termodinâmico dos compressores é muito
trico do sistema é realizado pelo compressor, mas todos os ineficiente. Aproximadamente 94% da energia
elementos contribuem em menor ou maior medida para o consumida num compressor transforma-se em calor
rendimento energético do sistema. Portanto, este rendi- recuperável e unicamente 6% se transforma em
mento depende de múltiplos factores. energia de pressão. A recuperação do calor dissipado
pode significar uma poupança de energia importante.
O principal é o bom funcionamento dos equipamentos de Com compressores refrigerados por água pode recu-
compressão, seguido pela quantidade de ar perdido por perar-se até 90% da energia de entrada em forma de
fugas, perdas de carga excessivas que afectem a potência água quente à temperatura de 70ºC – 80ºC, que pode
das ferramentas e equipamentos consumidores, sistema ser utilizada em duches, aquecimento, alimentação
de controlo, etc. Na seguinte secção apresentam-se de caldeiras, etc.
algumas actuações que podem ser levadas a cabo para
reduzir o custo resultante do uso dos compressores, sem • Utilização de compressores de velocidade
variável: O ar comprimido é um dos campos de apli-

Figura 4
Fraccionamento da potência dos compressores.

VSD

Compressor
de velocidade
fixa
#2
VSD
Procura
VSD

Compressor Compressor Compressor


de velocidade de velocidade de velocidade
VSD fixa fixa fixa
#1 #1 #1
VSD

Tempo
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

cação mais favoráveis dos variadores de velocidade tância nas indústrias e na maioria dos sectores. Apesar do
(ou VSD, “Variable Speed Drive”), devido a que a consumo energético imputável à iluminação no sector
73
procura de ar comprimido numa instalação é frequen- industrial não ter grande importância comparativamente a
temente muito variável, pelo que o compressor (ou outros consumos, está plenamente justificada a adopção
compressores) operam com carga parcial durante de medidas de melhoria energética no consumo da ilumi-
uma grande parte da sua vida útil. Como se comentou nação, com a consequente redução dos custos de explo-
na secção correspondente (“Utilização de controlo ração.
electrónico de velocidade”), este tipo de unidades
permite ajustar a potência desenvolvida pelo motor O objectivo fundamental do sistema de iluminação é propor-
em carga instantânea, melhorando assim de forma cionar uma iluminação energeticamente eficiente com
notável a eficiência energética do conjunto. qualidade suficiente para que a visibilidade seja, em todo o
momento, a adequada para garantir a manutenção da
• Fraccionamento de potência dos compressores: É produtividade e a segurança dos ocupantes.
outra opção em indústrias de grande consumo de ar
comprimido. Consiste em dispor de uma central de Do ponto de vista energético, os elementos fundamentais
produção de ar com vários compressores de potência de um sistema de iluminação são a lâmpada, o equipa-
similar, de forma a que um deles seja de velocidade mento auxiliar e os sistemas de regulação. Nas secções
variável. Este último estaria em funcionamento seguintes são descritos os distintos componentes das
permanente para ajustar o consumo eléctrico à instalações industriais de iluminação, onde se presta espe-
procura instantânea de ar do sistema. O resto dos cial atenção aos equipamentos que permitem uma maior

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (I)


compressores entraria em funcionamento de forma eficiência energética.
sequencial em função das necesidades (ver figura 4),
de forma a que em todo o momento todos os
3.4.1. Tipos de lâmpadas
compressores operem de forma óptima.

Existe uma grande variedade de tipos de lâmpadas com


3.4. Iluminação características muito variadas em função das caracterís-
ticas requeridas para cada aplicação. Na tabela 2 são detal-
Um nível de iluminação adequado é imprescindível para o hadas as características e o âmbito de aplicação mais
desenvolvimento de qualquer actividade, mas a iluminação adequado para os tipos de lâmpadas de uso mais frequente
é uma das instalações às quais se presta menor impor- na indústria.

TABELA 2
Características das lâmpadas mais utilizadas na indústria

capítulo 03
Índice de Eficácia
Tipo reprodução Vida útil Equipamento
Imagem luminosa Observações Custo
de lâmpada cromática (horas) auxiliar
(0-100) (lm/W)

Arrancador,
O balastro electrónico reduz o
Fluorescente 60-95 8.000-12.000 65-100 balastro e Reduzido
consumo em 25%
condensador

Atraso na ignição.
Vapor Balastro e
50-60 12.000-16.000 30-60 Aplicação em naves de grande Médio
de mercúrio condensador
altura

Atraso na ignição.
Vapor de Arrancador,
Aplicação em naves de grande
sódio alta 20-80 10.000-25.000 50-150 balastro e Alto
altura com pouca exigência
pressão condensador
visual e exteriores.

Atraso na ignição.
Arrancador,
Halogéneos Aplicação em naves com
60-85 6.000-15.000 75-95 balastro e Alto
metálicos condensador
exigências visuais moderadas
ou altas.
Balastro electrónico. muito adequados em indústrias com horários de
trabalho fixos.
74

• Detectores de presença. Este tipo de elementos


caracteriza-se por estar conectado a outros sistemas
com a finalidade de poupança de energia. São acti-
vados por presença e mantêm-se por presença ou
sons. A sua utilização resulta muito conveniente em
lugares de ocupação esporádica ou intermitente,
como armazéns, vestiários, corredores, etc.
3.4.2. Equipamentos auxiliares
Figura 5
Algumas lâmpadas necessitam para o seu funcionamento Arrancadores, Reactâncias electromagnéticas
de uma série de elementos: e Condensadores.

• Reactância ou balastro: necessário em lâmpadas


fluorescentes e de descarga. Existem duas tecnolo-
gias distintas, a electromagnética e a electrónica. A
primeira delas supõe um consumo adicional da
lâmpada de uns 25% da sua potência nominal. Os
balastros electrónicos eliminam este consumo
adicional e adicionam uma série de vantagens, como
a maior duração da lâmpada que evita a intermitência
e que inclui arrancador e condensador integrados de
forma que apenas seja necessária a instalação de um
equipamento. São mais caros que os electromagné-
ticos mas amortizam-se rapidamente devido ao
menor consumo e à maior duração das lâmpadas.
• Arrancador: em algumas lâmpadas é necessário um
elemento que permita elevar a tensão inicial no
momento da ignição acima de um limiar a partir do
qual a lâmpada seja capaz de manter-se em funciona-
mento por si mesma.

• Condensador: para a correcção do factor de potência,


já que este é muito baixo em lâmpadas fluorescentes
e de descarga. • Reguladores de luz. Permitem variar o fluxo luminoso
das fontes de luz numa instalação de iluminação.
Respondem a um sistema de controle que recebe,
3.4.3. Sistemas de controlo e gestão como entrada, a saída dos diferentes dispositivos de
controle. O seu principal objectivo é reduzir o nível de
Permitem uma adequada gestão do modo de funciona- iluminação a determinadas horas e obter uma impor-
mento, nível de iluminação e tempo de ignição das tante poupança energética. A regulação do fluxo lumi-
lâmpadas de um local. A sua adequada utilização pode noso baseia-se na variação da corrente das lâmpadas,
proporcionar uma grande oportunidade de poupança ener- que pode fazer-se de forma contínua ou faseada.
gética que geralmente não é levada em linha de conta no
momento do desenho das instalações industriais. Os A aplicação mais importante deste tipo de elementos é em
sistemas mais utilizados são os seguintes: locais com um certo grau de iluminação natural. Em combi-
nação com sensores da luz natural conseguem manter um
• Programadores horários. São interruptores horários nível de iluminação mediante a regulação da potência das
adaptáveis a caixas de mecanismos ou conectados a lâmpadas. Deste modo aproveita-se de forma óptima a
tomadas. São utilizados para controlar grupos de contribuição de luz natural e obtém-se uma considerável
lâmpadas em locais cuja ocupação siga um padrão poupança de energia.
temporal muito definido (diário, semanal, etc.). São
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

3.4.4. Produção de frio industrial 3.4.5. Isolamento de câmaras frigoríficas


75

Certas indústrias necessitam de frio para manter os produtos O isolamento é o factor mais importante no consumo de
ou como parte dos seus processos produtivos (indústria uma instalação de conservação por frio, tanto pela propo-
alimentar e de bebidas, farmacêutica, química, etc). rção em que influem nos aumentos de calor, como pela
dificuldade da sua modificação uma vez construído ou colo-
Figura 6 cado. Os aumentos de calor através do isolamento
Esquema de compressão mecânica do vapor. dependem em grande medida da geometria e disposição
dos blocos de câmaras, que determinam a superfície exte-
rior por metro cúbico interior.
Condensador

• Quanto maior seja a altura das câmaras, menor será a


Compressor Válvula superfície isolada.

• O tamanho em planta dos blocos de câmaras adja-


centes convém que seja o máximo possível.

Evaporador
Uma vez estabelecida a superficie a isolar, as entradas de
calor dependem da natureza e espessura do isolante.

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (I)


Os sistemas de produção de frio baseiam-se em ciclos
termodinâmicos ou processos físicos, nos quais têm lugar
de modo contínuo o transporte de energia térmica entre 3.4.6. Adequação à procura de frio
um foco a baixa temperatura e um foco a alta temperatura.
Os sistemas mais difundidos na actualidade são os que Em toda a instalação frigorífica existe uma mudança contínua
seguem um ciclo denominado de “compressão mecânica da procura de refrigeração, pelo que a produção frigorífica
de vapor”. Uma instalação deste tipo consta dos seguintes deve ser variável para satisfazer a procura. Para atingir um
elementos principais: bom ajuste entre a geração de frio e as necesidades do
processo existem varias opções:
• Compressor: acoplado a um motor, que pode ser de
diferentes tipos. Realiza a compressão do refrige- • Variador de velocidade no motor eléctrico. Estes
rante. equipamentos reduzem o número de rotações do
compressor e portanto reduzem o volume deslocado
• Condensador: no seu interior produz-se a conden- e a potência frigorífica do compressor e do sistema de
sação do gás refrigerante mediante a dissipação do refrigeração. Neste caso reduz-se o consumo do
calor para o ambiente. motor eléctrico de forma quase linear à redução da
capacidade. As limitações estão no desenho dos capítulo 03
• Evaporador: situado na correspondente câmara frigo- componentes e na gestão da lubrificação e arrefeci-
rífica ou equipamento de refrigeração. No seu interior mento das partes móveis.
o refrigerante absorve o calor do ar e evapora-se.
• Fraccionamento da potência. Devido às condições
• Circuito do refrigerante: O refrigerante segue um dos compressores e às características das instalações,
ciclo fechado por um circuito de tubagens, ao longo do com frequência existem vários compressores numa
qual sofre uma série de transformações físicas. instalação que funcionam de maneira coordenada por
um sistema superior de comando. Quando os
De todos os elementos, o que requer uma quantidade signi- compressores são desta qualidade distinta, a sua
ficativa de energia eléctrica para o seu funcionamento é o combinação permite um melhor ajustamento à procura
compressor. Existem diversos tipos de compressores, sendo da instalação. Por isso, ao contrário da prática habitual,
os mais comuns os de pistão, os centrífugos e os denomi- recomenda-se a utilização de compressores de
nados de parafuso. tamanhos distintos numa mesma instalação. A combi-
nação de compressores de parafuso e compressores
A seguir são descritas com maior detalhe as acções mais de pistões produz rendimentos energéticos muito
frequentes de melhoria a ter em conta para aumentar o altos. Quando um deles é controlado por um variador
rendimento energético da instalação de produção de frio de velocidade o ajustamento é quase perfeito.
industrial.
Figura 7
76 3.4.7. Recuperação de calor Esquema de recuperação mecânica de vapor.

O calor dissipado no condensador pode ser recuperado para


outras aplicações de aquecimento. A forma mais simples é
conduzir a água de condensação através de um permutador
de calor, de modo a que este ceda a sua energia ao fluido a
Torre de
aquecer (pré-aquecimento de água, AQS, etc.). refrigeração

Permutador
4. Autogeração
Água
Quente

4.1. ¿O que é a cogeração?

Consiste num sistema alternativo de geração eléctrica de


alta eficiência energética, que utiliza a produção conjunta de
Condensador

Figura 8
Esquema de compressão mecânica de vapor.

34 Electricidade
Instalação de
condensação
100 ηel=36%

Diesel ou
Gás natural
159

50 Instalação de Calor
recuperação 53 utilizável
ηth=90%
6 64 2

Perdas
64

Esquema de abastecimento energético convencional.

Instalação de 34 Electricidade
Diesel ou Cogeração
Gás natural 53 Calor
100 ηel=35% utilizável
ηth=55%

10 3

34/(34+53)=39% Perdas
53/(34+53)=61% 13

Esquema de abastecimento energético com cogeração.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

electricidade ou energia mecânica e energia térmica útil para tada para satisfazer as necessidades térmicas do proceso. Os
aproveitamento em processos. Obtém-se uma poupança de gases de escape podem ser utilizados directamente ou em
77
energia primária pelo aproveitamento simultâneo do calor e caldeiras de recuperação para a geração do vapor requerido
há lugar a uma melhoria do rendimento da instalação perante nos processos. Em ambos os casos existe a possibilidade de
uma geração convencional. No âmbito industrial oferece incrementar o conteúdo energético dos gases mediante quei-
numerosas vantagens: madores de pós-combustão.

• A geração realiza-se no próprio lugar do consumo e Cogeração com turbina de vapor. Nesta turbina, a
evitam-se perdas de transformação e transporte. conversão em energia mecânica produz-se pela expansão
do vapor a alta pressão procedente de uma caldeira. O
• O rendimento do processo alcança os 90% contra os sistema gera menos energia eléctrica (mecânica) por
65% de um sistema convencional. unidade de combustível do que a sua equivalente com
turbina de gás; no entanto, o rendimento global da insta-
• Potencia a segurança do abastecimento energético do lação é superior. Para a geração de vapor pode-se utilizar
usuário. à partida qualquer combustível, e inclusivé correntes
energéticas residuais dos procesos produtivos.
• Existem instalações adequadas para qualquer tipo de
potências tanto eléctricas como térmicas. Cogeração em ciclo combinado. Aplicação conjunta de
uma turbina de gás e uma de vapor, com todas as suas
• Favorece a descentralização energética. possíveis combinações no que se refere a tipos de

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (I)


combustíveis utilizados, queimadores de pós-combustão,
• Introduz tecnologias mais eficientes e competitivas. saídas de vapor de turbina a contrapressão ou conden-
sação, etc. O rendimento global da produção de energia
• Reduz o impacto no meio ambiente associado às acti- eléctrica é maior do que nas soluções anteriores.
vidades energéticas.
Cogeração com um motor alternativo. Obtêm-se rendi-
• Tem um importante efeito diversificador de investi- mentos eléctricos mais elevados mas com uma maior
mentos para o sector eléctrico. limitação naquilo que se refere ao aproveitamento da
energia térmica, já que possui um nível térmico inferior e
se encontra repartida entre diferentes subsistemas
4.2. Sistemas básicos de geração (gases de escape e circuitos de refrigeração de óleo,
camisas e ar oxidante do motor). Os sistemas com motor
Cogeração com turbina de gás. O esquema geral de funcio- alternativo apresentam uma maior flexibilidade de funcio-
namento consiste na combustão de combustível numa namento, o que permite responder de maneira quase
câmara, introduzindo-se numa turbina os gases resultantes, imediata às variações de potência, sem que isso conduza
donde se extrai o máximo da sua energia, transformando-a em a um grande incremento no consumo específico do
energia mecânica. A energia residual, em forma de um caudal motor. capítulo 03
de gases quentes a elevada temperatura, pode ser aprovei-

Figura 9
Esquema de um sistema de trigeração.

Máquina de
refrigeração
por absorção

Recipiente
Água Ar
de armazenagem Aquecimento
quente condicionado
Motor
Caldeira
a
G gás
Gerador
Frio de processo
e de ar
Dissipador condicionado
de
emergência
Figura 10
Turbina de gás de ciclo simples. 5. Boas práticas na transformação e uso da
78
electricidade

5.1. ¿O que são boas práticas?


Com o objectivo em melhorar a eficiência energética em
qualquer âmbito, o primeiro enfoque deverá ser orientado no
sentido das boas práticas de uso de energia. Consiste em
acções simples que não implicam um grande investimento,
que podem ser realizadas por qualquer pessoa sem necessi-
dade de conhecimentos técnicos específicos e são direccio-
nadas à reorganização do consumo energético com procedi-
mentos rotineiros para melhorar a eficência energética de
Figura 11 qualquer sistema e em particular no âmbito industrial.
Ciclo com turbina de vapor.
De seguida são detalhadas uma série de acções deste tipo
orientadas para assegurar o uso eficiente dos equipamentos
e instalações mais comuns no sector industrial.

5.2. Motores eléctricos


• Aquisição de novos motores. Considere a eficência
energética nos seguintes critérios de avaliação e
selecção de cada motor. Com motores de alta
eficiência consegue-se uma poupança de energia
que compensa o investimento adicional decorrente
da sua compra. A sua rentabilidade está contrastada
nos seguintes casos:

- A partir de 2.000 horas de operação por ano, os


motores EFF1 são sempre mais económicos.

4.3. Trigeração - Para actuações ou tempos de operação curtos,


obtêm-se beneficios adicionais. Frequente-
Em certas indústrias que precisam de sistemas de refri- mente têm uma duração maior do que os
geração para o seu proceso produtivo, a integração da motores standard do mesmo tamanho.
instalação de frio dentro de um sistema de cogeração
permite a utilização de certa parte da energia gerada para • Exames periódicos aos motores. Deve-se realizar
este fim. A produção conjunta de electricidade, calor e um exame periódico aos motores principais de qual-
frio denomina-se então trigeração. quer instalação para identificar os que podem ser
substituídos por outros de maior eficiência energética
O esquema mais habitual deste tipo de sistemas é com um período de retorno do investimento curto.
aquele que se encontra de seguida, no qual o ciclo de Inicialmente deve centrar-se em motores que excedam
refrigeração por compressão de vapor é substituído por um tamanho mínimo e umas horas de operação
um ciclo de absorção que absorve calor para o seu anuais. Um critério típico de selecção seria:
funcionamento, permitindo desta forma utilizar parte do
calor dissipado pelo motor ou turbina para a refrige- - Motores trifásicos com mais de 10 kW.
ração:
- Pelo menos 2.000 horas de operação por ano.

- Carga constante.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 12
Ciclo combinado.
79

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (I)


Figura 13
Ciclo com motor alternativo.

capítulo 03
- Motores de eficiência standard velhos ou rebo- Mudança de conexão em motores trifásicos de mais de
binados. 5 kW
Estude a possibilidade de reconectar os rolamentos dos
80
Arranque de motores motores a conexões em estrela. Se um motor funciona
Comprove que o arranque dos motores se faz de forma continuamente a menos de 60% da sua carga total a conexão
sequencial e planificada. Evite o arranque e operação simul- em estrela resulta mais económica.
tânea de motores, sobretudo os de média ou grande capaci-
dade, porque aumenta o consumo de energia devido à
sobrecarga que se produz. 5.3. Transformadores

Dimensionamento de motores Aquisição de um novo transformador


É importante que os motores operem com um factor de Considere a eficiência energética nos critérios de avaliação e
carga entre os 65% e os 100%. Considere substituir os selecção de cada transformador. Nas ofertas chave-na-mão,
motores que funcionem a menos de 40% de carga por costuma-se comprar todo o equipamento necessário de uma
outros de potência inferior. Nas situações que requeiram instalação a um preço global, sem considerar a eficiência
sobredimensionamento devido a picos de carga, deverão energética dos transformadores. O período de retorno do
considerar-se estratégias alternativas, como um motor sobrecusto de um transformador de alta eficiência é de três
correctamente dimensionado apoiado por um motor de a sete anos.
arranque.
Selecção do transformador
Factor de potência Para baixas cargas de trabalho seleccione transformadores
Mantenha o factor de potência acima dos 0,95. Se é inferior de óleo e para cargas de trabalho altas seleccione transfor-
a este valor convém instalar baterias de condensadores. Um madores secos. Estes últimos têm as seguintes vantagens:
factor de potência baixo reduz a eficiência do sistema eléc- menores perdas face a cargas de trabalho maiores; menor
trico de distribuição. geração de calor e envelhecimento em presença de harmó-
nicos; não necessitam de contentor de óleo; maior resis-
Sistema de distribuição tência em ambientes húmidos; menor manutenção; melhor
Identifique e elimine as perdas no sistema de distribuição e comportamento em caso de incêndio e menores problemas
reavalie periodicamente com o fim de descobrir más ambientais. Mas têm como inconvenientes maiores perdas
conexões, defeituosas ligações de terra, curto-circuitos, etc. em vácuo e um maior custo do que os de óleo.
Estes problemas são fontes comuns de perdas de energia e
reduzem a fiabilidade do sistema. Geração de harmónicos
Analise a viabilidade económica na compra de um transfor-
Calibração do motor mador de alta eficiência energética. Em instalações com
Verifique periodicamente a calibração do motor com carga altos consumos eléctricos geram-se harmónicos que favo-
impulsionada, já que uma calibração defeituosa pode incre- recem maiores perdas nos transformadores.
mentar as perdas por fricção e ocasionar danos maiores no
motor e na carga.
5.4. Equipamentos eléctricos em geral
Lubrificação dos motores
Aplique graxa ou óleo de alta qualidade de acordo com as Desligar os equipamentos
especificações técnicas de fábrica para prevenir contami- Informe o pessoal sobre o custo inerente à manutenção da
nação por sujidade ou por água e instale equipamentos de maquinaria em funcionamento quando não necessário. Esta-
controle da temperatura do óleo de lubrificação. Uma má beleça um procedimento que assegure o desligar das
lubrificação aumenta as perdas por fricção e diminui a máquinas nos períodos nos quais não se trabalhe com elas
eficiência. (refeições, descanços, etc). A maioria dos equipamentos
industriais consomem grandes quantidades de energia
Revisão da inércia das cargas mesmo que trabalhem em vácuo. Sinalize com letreiros em
Cada motor tem especificados valores de inércia normali- lugares estratégicos indicando os equipamentos auxiliares
zados. Consulte as especificações técnicas do fabricante. O que devem ser desligados. Comprove que se desligam os
arranque de cargas com demasiada inércia provoca um aque- equipamentos auxiliares quando os equipamentos a que
cimento excessivo do motor, o que pode afectar a vida do estão associados não estão em uso. Entre os equipamentos
isolamento e portanto a vida do motor. a comprovar estão:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

- Extractores locais de despoeiramento e cabinas de - Para trabalhos específicos é conveniente instalar


pintura. pontos de luz localizados.
81

- Bombas de arrefecimento de água. É muito comum que as zonas não críticas, como corredores,
escadas, etc., estejam iluminadas excessivamente. Também
- Bombas de vácuo. as zonas mais exigentes e, portanto, mais intensivamente
iluminadas (laboratórios de precisão e desenho) perma-
- Bombas de água de lavagem. necem geralmente com todas as luzes acesas durante as
horas de limpeza e vigilância. Quando o projecto da ilumi-
- Sistemas de cintas transportadoras. nação implica um nível excessivo em muitas zonas, deve
reduzir-se o nível geral e reforçar somente as zonas que real-
Carga de baterias de equipamentos portáteis mente o requeiram.
Comprove se tem contratado algum tipo de discriminação
horária que bonifique o consumo a estas horas. Realize as Aproveitamento da luz natural
operações de carga das baterias no período onde a tarifa seja A luz natural é geralmente preferida pela maioria do pessoal,
mais barata. Avalie a rentabilidade de instalar um tempori- pelo que a limpeza das janelas não deve controlar-se unica-
zador para realizar a operação de carga automaticamente mente por motivos de imagem e eficiência energética.
quando começar o período de tarifa baixa. Devem ser eliminados os obstáculos que impeçam a entrada
da luz ou que projectem sombras para o interior do local.
Instalação de controladores automáticos Quando a luz natural disponível é adequada pode-se diminuir

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (I)


Comprove se as máquinas podem ser equipadas com inte- a intensidade da iluminação artificial. A utilização de persianas
rruptores automáticos e instale-os se for possível. Os contro- e cortinas é complementar para evitar a entrada de calor no
ladores automáticos são mais fiáveis do que os manuais e Verão.
podem ser programados para que se apaguem os equipa-
mentos quando estejam em funcionamento em vácuo. Iluminação de locais vazios
Comprove o estado de funcionamento da iluminação fora do
horário de trabalho. Sensibilize o pessoal de limpeza e segu-
5.5. Iluminação
rança para que apague a luz ao terminar as suas respectivas
Os sistemas de iluminação das empresas são normalmente tarefas. A última pessoa que abandona o local deve apagar a
deixados na mão dos instaladores e responsáveis pela manu- luz; na sua falta, deveria existir um sistema automático de
tenção dos sistemas eléctricos da empresa, bons profissio- controlo, já que em caso contrário o custo do consumo eléc-
nais mas alheios à empresa e seus interesses. Com uma trico adicional pode ser significativo.
dedicação própria não excessiva podem detectar-se algumas
melhorias, sem investimento, relacionadas com a gestão da Identificação dos interruptores de luz
iluminação, a planificação e a manutenção. Os interruptores devem dispor de rótulos explicativos que os
identifiquem. Comprove se todo o pessoal conhece o inte-
Neste aspecto há que ressaltar a grande importância que pode rruptor que acende a sua zona de influência. Os quadros de capítulo 03
ter uma campanha de consciencialização, já que se estima que luzes centralizados sem rótulos induzem o pessoal a acender
é possível poupar em gastos de iluminação até 15% simples- todas as luzes ao desconhecer qual é o interruptor corres-
mente com um adequado comportamento do pessoal. pondente.

Consciencialização sobre a poupança de energia


5.5.1. Revisão dos níveis de iluminação
Interessa distribuir em lugares estratégicos da empresa
Examine os níveis de iluminação em todas as zonas de cartazes e folhetos explicativos para fomentar a conscienciali-
trabalho, envolvendo o pessoal nessa tarefa. Em zonas não zação dos empregados. Estas iniciativas trazem geralmente
importantes reduza a iluminação. Para isso: resultados muito positivos, com diminuições do gasto até
15%.
- Suprima os pontos de luz supérfulos.
Iluminação localizada
- Substitua lâmpadas. Em lugares grandes localizar-se-ão convenientemente os
circuitos de iluminação para permitir a ligação independente
- Motive o pessoal para que apague as luzes desneces- de cada grupo de lâmpadas. Isso permite iluminar unica-
sárias fora das horas de trabalho. mente a parte do local que vai ser ocupada e aproveitar a luz
natural nas zonas mais próximas das janelas e clarabóias
Comprovação do estado das placas e difusores de luz melhorias sem investimento, relaccionadas com a gestão de
Os elementos descoloridos devem substituir-se. O custo compressores, planificação e manutenção (resultados
82
aproximado da substituição de um difusor é de 9,5%. Os imediatos.
elementos translúcidos (difusores e placas) reduzem o forne-
cimento de luz. Se estes se degradam baixam o rendimento Custo do ar comprimido
e é necessário acender mais pontos de luz. O ar comprimido é um fluido energético cuja produção é
muito cara. Cada m3/minuto supõe um gasto energético
Fornecimento de luz natural e bancos ou filas de luzes de aproximadamente 1 c€. Incluindo amortizações e
com mais de 10 tubos manutenção, a repartição percentual é a seguinte.
Dever-se-iam instalar fotocélulas para regular automatica-
mente a luz eléctrica em função do fornecimento de luz - Manutenção: 8%.
natural.
- Instalação: 4%.
Zonas de uso pouco frequente
Resulta conveniente a instalação de detectores de presença - Investimento: 13%.
por infravermelhos ou de interruptores temporizados para
controlar automaticamente a iluminação em zonas de uso - Energia: 75%.
esporádico.
É fundamental que o pessoal conheça e se mentalize do
Lâmpadas fluorescentes de 38 mm de diâmetro alto custo inerente à utilização de ar comprimido. A utili-
Substituir as lâmpadas de 38 mm de diâmetro por outras de zação de elementos gráficos como folhetos, cartazes, tríp-
26 mm, mesmo que a substituição programada, em todo ticos e materiais similares podem ser muito efectivos para
caso, seja aquando do esgotamento. A poupança energética reduzir a utilização do ar comprimido para usos inade-
estimada é de 10%. quados, como limpeza ou secagem, e para prestar maior
Lâmpadas incandescentes atenção às perdas por fugas.
Substitua as lâmpadas incandescentes por fluorescentes
compactas de baixo consumo, já que combinando o menor Pressão de geração do ar
consumo da lâmpada compacta (na ordem dos 20 %) com A pressão a que se produz o ar comprimido deverá ser a
a maior duração e os menores custos de manutenção, o mínima necessária para assegurar o bom funcionamento
investimento rentabiliza-se num prazo de tempo dos equipamentos de consumo. Deve-se comprovar a
reduzido. pressão mínima de trabalho dos equipamentos conec-
tados e as perdas de pressão na rede. O consumo de
Balastros electrónicos energia incrementa-se ao aumentar a pressão de saída.
Em novos projectos ou ampliações instale lâmpadas fluores- Por exemplo, se se trabalha a 6 bar em lugar de 7 bar a
centes com balastro electrónico em lugar de balastro elec- poupança energética alcança os 4 %.
tromagnético (oficinas com tectos até 5 m e zonas comuns).
As vantagens são: Utilização de ferramentas pneumáticas
Comprove que todas as ferramentas trabalham à mínima
- Poupança de energia (25%). pressão que assegure uma elevada productividade, já que
quanto maior a pressão, maior é o custo energético. A
- Arranque mais fiável e rápido. pressão das válvulas reguladoras das pistolas deve estar
regulada a um máximo de 2 bar. Comprove frequentemente
- Eliminação do zumbido e cintilação (efeito estrobos- a pressão das pistolas e etiquete-as indicando a pressão
cópico). máxima pretendida. Evite a sua utilização para usos não
adequados como limpeza ou secagem.
- As lâmpadas duram mais tempo.
Existência de tubagens ou ramais não utilizados
Devem localizar-se e identificar-se as tubagens de ar não utili-
5.6. Ar comprimido
zadas na actualidade. Se está seguro de que não se vão
O rendimento de uma instalação de ar comprimido depende utilizar, desmantele os circuitos. Em caso contrário, corte a
de múltiplos factores como o funcionamento do compressor conexão e torne-as estanques. (CAP soldado, flange, etc). As
e suas características, fugas existentes, perdas de carga tubagens e ramais não utilizados e que não estejam isolados
excessiva que afectam a potência das ferramentas e equipa- pressurizam-se e esvaziam-se de cada vez que se pressu-
mentos servidos, sistemas de controlo, etc. Com uma dedi- riza/despressuriza o sistema de ar. Estas tubagens e ramais
cação própria não excessiva, podem detectar-se algumas podem ser uma fonte potencial de fugas.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Funcionamento de compressores em vácuo Pautas de actuação em câmaras frigoríficas


Realizar certas vistorias para evitar o funcionamento em
83
vácuo - Evite a abertura das portas durante muito tempo ao
introduzir e extrair produtos.
- Ajuste correcto dos temporizadores.
- Evite a abertura simultânea de portas opostas para
- Ligar apenas quando há procura. evitar correntes no interior dos espaços que dissipem
o ar frio.
- Paragem dos compressores se não há procura durante
um período prolongado. - Evite introduzir produtos quentes.

Programas periódicos de testes e reparação de fugas - Testar os fechos dos frigoríficos e congeladores.
As fugas são responsáveis pela maior parte das perdas de Mude as juntas dos fechos se estas mostrarem sinais
eficiência energética nestes sistemas (geralmente representam de desgaste ou ruptura.
40% de todas as perdas). Estabeleça um programa trimestral
de reparações. Os testes periódicos regulamentares aos reci- - Instalar fechos de mola nas portas das arcas congela-
pientes de pressão são um seguro anti-fugas. doras, de modo que estas não sejam deixadas
abertas.

5.7. Refrigeração - Instalar uma manta filtrante na entrada de ar exterior

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (I)


de cada uma das salas de motores para evitar a
Realização de revisões e manutenção entrada de sujidade e pó.
Realize uma manutenção preventiva adequada. Os equipa-
mentos funcionarão em óptimas condições, evita avarias, - Limpar a parte traseira dos equipamentos refrigera-
aumenta a sua vida útil e optimiza-se o consumo energético: dores num mínimo de três vezes ao ano.

- Limpeza do evaporador e condensador. - Usar a temperatura máxima possível para conservar


cada produto.
- Comprovar as pressões de trabalho.
- Manter os alimentos cobertos para uma melhor
- Limpeza do interior dos recintos. conservação e uma menor acumulação de humidade
no interior dos aparelhos.
- Fecho hermético de portas e estado da calaftagem.
- Anexar todas as câmaras. Assim se diminui a super-
Túneis de congelação fície de contacto exterior.
Substitua, se for possível, o compressor convencional dos
túneis de congelação por um compressor bi-etápico, já que - Não situar as câmaras perto de fornos ou fontes de capítulo 03
este desenvolve uma potência frigorífica muito superior (uns calor.
50%) a igual potência eléctrica do motor.
- Manter descongelados e limpos os evaporadores,
Localização de evaporadores e condensadores tal como todas as superfícies de transferências. A
Colocar o evaporador nas proximidades da câmara ou túnel espessura do gelo não deve superar muito os 6
de congelação. O condensador deve situar-se à entrada aspi- mm.
rando ar exterior. Desta forma funcionam de forma óptima,
reduz-se o número de descargas necessárias e o consumo - Colocar os equipamentos refrigeradores longe de
de energia. fontes que produzam calor e de janelas por onde
entram raios de sol.
Dimensionamento do túnel de câmara
Se pensa adquirir um novo equipamento frigorífico ou renovar - Quando os produtos armazenados o permitam, a
um velho, seleccione um que se adapte à carga que vai intro- descongelação dos vapores deve fazer-se interrom-
duzir, incrementando-o com uma certa margem de segu- pendo a operação dos compressores.
rança, já que um equipamento sobredimensionado arrefe-
cerá mais ar do que o necessário, com maior consumo - Cabines refrigeradas: instale cintas plásticas ou
energético. persianas nas cabines refrigeradas para reduzir as
perdas de ar frio nas cabines de alimentação.
04 Eficiência e Poupança Energética
na Indústria (II)
Figura 1
1. Tecnologias de geração e utilização de Ciclo ideal de geração e distribuição de vapor.
86 calor

1.1. Vapor

O vapor de água é um fluido muito comum na indústria que


o utiliza para proporcionar energia térmica aos processos
de transformação de materiais. A eficiência do sistema de
geração, a distribuição adequada e o controlo do seu
consumo tendem a ter um grande impacto na eficiência
total de uma instalação. Esta situação reflecte-se nos
custos de produção de vapor e, consequentemente, na
competitividade da empresa.
mais importantes dos dois últimos, e deixa-se a análise da
O vapor de água é o condutor térmico favorito na maioria de caldeira para mais à frente (subsecção 2.1), já que é um
aplicações das instalações energéticas industriais devido elemento comum com outros sistemas de distribuição de
às suas óptimas características para a transferência de calor. Finalmente, na última subsecção são detalhadas
calor: algumas propostas concretas para reduzir o consumo ener-
gético neste tipo de instalações.
• A água é um fluido barato e muito acessível.
1.1.1. Rede de distribuição
• Permite uma ampla faixa de temperaturas de
trabalho. É o conjunto de elementos que une o gerador de vapor e os
equipamentos consumidores, e que fecha finalmente o
• Transporta-se de forma fácil. ciclo de vapor que retorna de novo à caldeira. É composto
por uma série de tubagens e de certos elementos de regu-
• Alto calor específico. lação, controle e segurança, como válvulas redutoras e de
segurança, canos de evacuação da condensação e os
• Alto calor latente. purgadores.

• Não inflamável e não tóxico.

• Pode-se regular a temperatura de condensação de


forma fácil.

A geração de vapor realiza-se em caldeiras mediante a


captação de energia a partir de combustível, e o vapor
gerado transporta-se através de tubagens aos pontos
requeridos. Os processos industriais que utilizam vapor
para criação de calor são, em geral, processos com uma
alta exigência térmica, pelo que a potência deste tipo de
instalações de geração e distribuição de vapor é habitual-
mente de elevada potência (da ordem de MW). Estas
dimensões requerem um elevado investimento inicial e um
projecto cuidadoso que tenha como um dos seus objec-
tivos principais o alcance de um óptimo rendimento ener- Rede de distribuição de vapor.
gético do sistema de modo a evitar perdas e ineficiências.

Os principais elementos de um sistema de geração e distri- Do ponto de vista energético, os aspectos que têm uma
buição de vapor são a caldeira, a rede de distribuição aos maior influência no rendimento de uma instalação são o
pontos de consumo e o sistema de recolha do vapor. Nas projecto e o dimensionamento do circuito, o isolamento da
seguintes subsecções são analisadas as características rede e a recuperação de vapor.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

TABELA 1
Tipos de isolamento e características.
87

Temperatura Temperatura Conductividade


Tipo de material Densidade (kg/m3)
de face quente (ºC) de face fria (ºC) (kcal/m2h ºC)

300 35 0,048
Revestimento de lã mineral 100
400 35 0,056

100 25 0,050
200 25 0,050
50 180 30 0,045
70 220 30 0,049
Manta de fibra mineral
100 300 35 0,051
125 400 35 0,063
500 40 0,059
600 40 0,066

300 35 0,048

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (II)


Manta de fibra de rocha 100
400 35 0,056

Espuma de poliuretano
expandido – – 38 0,036

Projecto e dimensionamento de circuitos tura. Ao fazer isto, uma parte do vapor condensa, transfor-
O principal parâmetro do projecto da rede é o diâmetro das mando-se em água à mesma temperatura. A presença de
tubagens, já que a temperatura e pressão de trabalho estão líquido no interior dos tubos e restantes elementos de
determinadas pelos processos consumidores e, portanto, distribuição de vapor é muito prejudicial para o seu funcio-
são fixas. Quanto maior o diâmetro das tubagens, menor namento já que produz um maior desgaste e vibrações nos
será a perda de carga que há que vencer mas o investi- elementos, pelo que se torna necessário separar e recolher
mento dispara, pelo que há que chegar a um compromisso a condensação mediante uma série de secções ou purga-
entre o diâmetro das tubagens e o custo da instalação. Se dores nos lugares apropriados para que retornem de novo
o diâmetro eleito é demasiado reduzido, a velocidade resul- ao gerador. Com isso pretende-se recuperar não só a massa
tante do vapor será excessiva e originará uma elevada perda de água tratada, como também a energia térmica contida
de carga, um alto nível de ruído e problemas de ajuste nos nela. capítulo 04
elementos de conexão.
Existem diferentes tipos de purgadores de vapor em função
Isolamento da origem da condensação (rede de transporte ou equipa-
O isolamento das tubagens, equipamentos e acessórios do mento de intercâmbio). É preferível que sejam equipa-
sistema de distribuição de vapor e retorno da condensação,
evitará perdas de calor para o ambiente. É muito importante
instalar, em cada secção de tubo, o tipo e espessura óptima
de isolamento (ver tabela 1).

É conveniente verificar periodicamente o estado do isola-


mento das diferentes secções da rede, sobretudo durante
qualquer operação de manutenção ou depois de modifi-
cações na mesma.

1.1.2. Recolha do vapor

Logo que o calor deixa a caldeira, começa a perder parte da


sua entalpia para qualquer superfície com menor tempera- Purgador automático de vapor.
mentos automáticos por razões operacionais e de eficácia grande perigo de sobreaquecimento do produto que se
do sistema. quer aquecer. Utilizando água ou vapor de água saturado
88
como fluido de aquecimento não se tem estes inconve-
O revaporizado forma-se quando a condensação passa para nientes, mas obrigaria a trabalhar-se com altas pressões.
uma pressão inferior (isto é, no ponto de purga). Forma-se Considera-se que o campo de altas temperaturas de aque-
no orifício de descarga do purgador e no espaço posterior, cimento dos processos começa ao ultrapassar-se os 200ºC.
que é onde se produz a descida de pressão. Nesse ponto, O custo dos equipamentos que se vão utilizar, com vapor
o sistema de retorno de condensação deve admitir a de alta pressão, é muito elevado.
condensação e o revaporizado. Para recuperar e aproveitar
o revaporizado há que separá-lo da condensação mediante Para evitar estes inconvenientes recorre-se à utilização de
um tanque de revaporização. óleos térmicos de alto ponto de ebulição, que oferecem as
seguintes vantagens:
As vantagens de recuperar o vapor são as seguintes:
• As superfícies de transferência térmica no interior do
• Recupera-se a energia da condensação. trocador de calor são reduzidas, com ligeiras dife-
renças de temperatura pelo que este equipamento
• Reduzem-se as perdas nas purgas das caldeiras. resulta mais simples e económico.

• Diminui-se o consumo de água tratada e seu custo, • O custo das tubagens e acessórios também resulta
já que o tratamento é dispendioso. mais económico pela redução do diâmetro da rede.

• O custo de produção do vapor reduz-se. • Não existem condensações, pelo que a rede se
simplifica ao não serem necessários purgadores nem
redes de retorno da condensação. O nível de segu-
1.2. Água quente
rança é menos exigente do que no caso do vapor.
A água quente não é utilizada tão frequentemente nos
processos industriais como fluido térmico, e o seu uso Os óleos térmicos devem ter uma série de características
restringe-se a processos de aquecimento que requerem que os tornam adequados para a sua aplicação como fluidos
potências reduzidas ou aplicações de aquecimento espe- térmicos, tais como:
ciais.
• Alto calor específico.
As vantagens que oferece a utilização de água quente como
fluido térmico são as seguintes: • Baixo custo.

• Em algumas canalizações de produtos que devem • Longa duração.


aquecer-se com calor é interessante a utilização de
água quente e não vapor, sobretudo por razões de Um critério essencial para a selecção do fluido térmico é a
segurança. As instalações de água quente podem sua estabilidade térmica, já que por ela se regem, com uma
trabalhar a pressão inferior. temperatura do processo dada, a duração e tamanho dos
geradores de calor e consumidores. Normalmente, os fabri-
• Supõe uma maior simplicidade dos equipamentos. cantes de fluidos térmicos fornecem as “temperaturas de
utilização máximas”, cujos valores dependem tanto das
• Ao trabalhar a uma temperatura inferior produzem-se propriedades químicas e físicas das substâncias, como das
menos perdas por radiações e, portanto, uma maior condições técnicas de utilização e de critérios económicos.
economia em isolamentos. Os fluidos térmicos tendem a oxigenar na entrada em
contacto, a altas temperaturas, com o oxigénio do ar. Reco-
menda-se proteger as instalações com nitrogénio.
1.3. Óleo térmico

Há processos físicos e químicos que necessitam de grandes 1.4. Gases quentes


quantidades de calor a elevadas temperaturas. Se se
empregasse um gás de escape de uma combustão, haveria Os gases quentes são gerados por equipamentos de aque-
que prever grandes superfícies de transferências no permu- cimento como caldeiras e fornos. Um dos resíduos destes
tador de calor ou haveria que trabalhar com diferenças de processos de aquecimento é um tipo de gás cuja tempera-
temperatura muito grandes. Contudo, neste caso existe o tura é suficientemente elevada para poder ser aproveitada
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

noutros processos de aquecimento a uma temperatura pré-aquecimento de 250ºC, que pode representar
inferior. O caso mais comum é o da combustão em caldeiras uma poupança de combustível de 12% para um
89
ou motores: os gases de escape são expulsos do interior regime nominal de carga. Este tipo de queimadores
para o exterior através de uma chaminé a grande tempera- são de uso habitual em fornos da indústria cerâmica
tura, variável em função do tipo de caldeira e aplicação. Ao e metalúrgica.
ser elevada a temperatura de saída dos gases, estes contêm
grande quantidade de energia térmica que é possível apro- • Queimadores regenerativos: neste caso utilizam-se
veitar em processos de aquecimento auxiliares. vários pares de queimadores situados em lados
opostos da câmara de combustão. Funcionam alter-
De seguida são referidas as diferentes possibilidades de nadamente por ciclos de vários minutos, de forma a
recuperação de energia em distintos fluxos de gases de que num ciclo, um deles actua como queimador e o
uso comum na indústria. outro como via de escape dos gases de combustão.
Desta forma, este último aquece e ao fim de um
1.4.1. Recuperação de calor dos gases de combustão período de tempo regulável (minutos) alterna-se o
seu funcionamento. O ar de entrada é então desviado
Existe na indústria uma grande quantidade de processos de rumo ao queimador previamente aquecido, pelo que
combustão para inúmeras aplicações. Na maioria dos casos se consegue desta forma um pré-aquecimento do ar
a energia contida nos gases de escape pode ser aprovei- de combustão. A poupança de energia pode ser
tada devido a que a temperatura e o fluxo de gases são significativa (até 50% segundo o Documento de
suficientemente elevados para que a recuperação de calor referência de melhores técnicas disponível na indús-

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (II)


noutros processos seja economicamente viável. tria de processos de metais férreos, Ministério do
Meio Ambiente).
Existem no mercado vários modelos de recuperação de
calor, apesar da maioria deles estarem geralmente feitos à Figura 2
medida, em função das necessidades próprias de cada Queimadores regenerativos.
processo particular. Consistem num permutador de calor -
ar ou gás - água, dependendo do fluido que circule pelo
circuito secundário (fluido que há que aquecer). Conecta-se
à saída da caldeira ou da câmara de combustão. A energia
recuperada pode chegar aos 20% do consumo de combus-
tível. Geralmente são constituídas por aço cromado, níquel
e molibdênio (Cr-Ni-Mb) para evitar problemas de corrosão
devidos à condensação dos gases de combustão.

1.4.2. Queimadores auto-recuperativos e regenerativos


capítulo 04
Existe uma gama especial de desenvolvimento recente de
queimadores de alta potência que trazem integrados o
sistema de recuperação de calor. São adequados para
potências de aquecimento muito elevadas (a partir de
100kW). Existem duas tecnologias diferentes:

• Q
 ueimadores de auto-recuperação: este sistema
consiste num queimador no qual se dá a circulação
dos fluidos de gases por duas condutas concêntricas.
Por uma delas circulam os gases de combustão
precedentes da câmara de combustão e cedem parte
da sua energia ao ar de entrada que circula pela
conduta exterior. Desta forma, o ar de entrada é pré-
aquecido e assim se consegue um aumento da
combustão. A poupança energética que se pode 1.4.3. Recuperação de calor em sistemas de
conseguir depende da temperatura a que se pré- climatização
aqueça o ar primário da combustão. Para uma tempe- Por vezes o ar interior das naves industriais necessita de
ratura na ordem dos 650ºC pode-se conseguir um ser aquecido no período de Inverno para manter um conforto
adequado nas mesmas. Como também é necessário Figura 4
manter uma quantidade mínima de ar de renovação exte- Esquema de recuperador entálpico.
90
rior, é possível pré-aquecê-lo aproveitando o ar quente que
se evacua da nave, reduzindo desta forma o gasto energé-
tico em aquecimento. Este sistema é económico unica-
mente em sistemas de climatização de naves de grande
dimensão

Figura 3
Esquema de recuperador de calor num equipamento
de climatização.

Em instalações industriais os recuperadores de calor são


fabricados na maioria das ocasiões à medida do processo
do qual se pretende recuperar energia. Também há apli-
cações especiais como recuperação de calor de gases de
combustão, ambientes corrosivos, altas temperaturas,etc.

1.4.4. Recuperador de calor entálpico 2. Tecnologias básicas

Outro tipo de aplicações nas quais é possível a recuperação


de calor são aquelas que requerem grandes volumes de 2.1. Caldeiras
extracção de ar a uma temperatura superior à ambiente,
como por exemplo as cabinas e túneis de pintura na indús- Uma caldeira consiste num permutador de calor no qual a
tria automóvel. Neste tipo de instalações é necessário energia se transporta mediante um processo de combustão,
renovar continuamente o ar interior para eliminar partículas ou também através do calor contido num gás que circula
existentes resultantes da pintura. Como o ar interior tem através dela. Em ambos os casos, o calor transportado
que ser previamente aquecido por requisito do processo, transmite-se para um fluido que é geralmente água ou
pode-se recuperar parte da sua energia para pré-aquecer o vapor.
ar de renovação que se capta do exterior. Apesar do
aumento de temperatura que se consegue ser mínimo (da Dever-se-ia prescindir das caldeiras eléctricas devido à sua
ordem de 1ºC a 5ºC) já que a temperatura do ar não é muito baixa incidência actual em instalações de tipo industrial, já
elevada (de 30ºC a 40ºC), o grande volume de ar necessário que são anti-económicas para aplicações que requerem
supõe que a quantidade de calor recuperada seja significa- uma potência calorífica considerável.
tiva e conduza a uma poupança energética considerável
(até 25% do consumo do processo). Este tipo de recupera- Para facilitar a identificação dos diferentes tipos de caldeiras,
dores chama-se entálpico, já que a configuração mais habi- proceder-se-á à sua classificação pelas suas características
tual é a mostrada na imagem, que consiste numa roda mais peculiares.
metálica giratória conectada aos fluxos de ar, o de extracção
e de renovação. A dita rede actua como acumulador dada a Em função do fluido portador de calor existem vários tipos
sua grande massa térmica, e permite a transferência de de caldeiras:
calor de um fluxo para o outro. A sua eficência é muito
elevada (até 90%). • Geradores de vapor: para aplicações directas em
processos de produção. O vapor a alta pressão é
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

sobreaquecido e utiliza-se primeiramente para sistemas de aquecimento mediante vapor ou água


produzir energia eléctrica própria accionando um sobreaquecida a não ser que exista a possibilidade
91
grupo turboalternador e utilizando o vapor de conden- de aproveitar calores residuais de outros processo. A
sação à sua saída para aplicações directas nos opção mais interessante é o aquecimento através de
processos de produção. geradores de água quente que elevam a temperatura
da água até temperaturas reduzidas, seja através de
combustão ou mediante aquecimento eléctrico em
depósitos de acumulação. Os acumuladores eléc-
tricos têm uma eficência muito reduzida e devem ser
utilizados unicamente em caso de consumos muito
concretos e reduzidos.

Em função do projecto da superfície de intercâmbio existem


dois tipos de caldeiras:

• Caldeira pirotubular: A sua característica principal é


que a chama de combustão se forma dentro de cada
compartimento cilíndrico da caldeira. Os gases de
combustão gerados passam pelo interior de uma
rede com grande quantidade de tubos para que o

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (II)


sistema tenha a maior superfície possível de inter-
câmbio. Esta rede de condutas encontra-se comple-
tamente emersa na água que vai ser aquecida. Para
gerar vapor, regula-se o nível médio da água no seu
interior, de forma que varie dentro de uma banda
prevista, e a sua câmara superior serve de separador
do vapor gerado, desde onde sai para o consumo
pela tubagem de saída. Para gerar água sobreaque-
cida, a caldeira está completamente inundada. As
condutas de entrada e saída de água são iguais. As
Caldeira de óleo. caldeiras para aquecimento do fluido térmico são
similares às de geração de água sobreaquecida,
sendo contudo mais simples na sua construção.
• Geradores de água sobreaquecida: empregue em
aquecimento industrial das próprias naves e para apli- Figura 5
cações directas nos processos produtivos. Esquema de uma caldeira pirotubular.
capítulo 04
• Geradores de óleo térmico: existe uma gama
completa de caldeiras de óleo que permitem apro-
veitar as vantagens já descritas deste fluido. Este
tipo de caldeiras são muito parecidas na sua cons-
trução às caldeiras de vapor mas estão submetidas a
umas exigências menores em termos de segurança
já que trabalham a pressão reduzida porque não se
produz no seu interior nenhuma mudança de fase do
fluido. Têm aliás um rendimento superior às caldeiras
de vapor já que se evita a necessidade de recupe-
ração de condensados, que nem sempre é
completa.

• Geradores de água quente: na maioria das indús- Caldeira aquatubular: A sua característica principal
trias existe algum processo que requer aquecimento é que a chama dos queimadores se forma dentro de
auxiliar de reduzida ou moderada potência. Nestes um recinto formado por paredes tubulares em todo o
casos não é interessante a instalação de complexos seu conjunto, que configuram a chamada câmara de
combustão. Os fumos gerados passam pelo interior A primeira distinção que se pode realizar é em função do
dos passos seguintes, cujos sucessivos recintos sistema de aquecimento do forno. Pode-se distinguir entre
92
estão também formados por paredes tubulares na fornos de combustão e fornos eléctricos:
sua maioria. A qualidade que diferencia estas
caldeiras é que todos os tubos que integram o seu
2.2.1. Fornos de combustão
corpo estão cheios de água ou, pelo menos, cheios
de uma mistura de água e vapor nos tubos da chaleira, Nestes, a geração de calor produz-se mediante combustão,
nos quais se transforma parte da água em vapor ou principalmente de gás ou de outros hidrocarburantes. A
água sobreaquecida. Quando se destinam à geração principal característica operacional de um forno de combus-
de vapor dispõem de uma pequena caldeira superior tível é a temperatura interior máxima que pode alcançar,
e, normalmente, de outra inferior. A caldeira superior que está limitada pela sua temperatura de chama. Os
trabalha como separador do vapor gerado e a inferior factores que influenciam esta temperatura são os
como distribuidora da água através dos tubos da seguintes:
chaleira. Também dispõe de um pacote tubular de
pré-aquecimento da água de alimentação, chamado • Poder calorífico efectivo do combustível: depende da
economizador, que se pode instalar em caldeiras de temperatura real de operação.
média potência fora do corpo da caldeira, ou dentro
deste em caldeiras de grande potência. Nestas • Excesso de ar: Uma quantidade de ar carburante
caldeiras o fluxo pelos tubos da chaleira realiza-se superior à estequiométrica (a teoricamente neces-
mediante circulação natural. Nas de média potência é sária para assegurar a combustão completa), produz
opcional a previsão de um sobreaquecedor do vapor maior quantidade de gases de combustão e portanto
gerado; nas caldeiras de grande potência, é sempre o calor absorvido pelos ditos gases é maior, pelo que
previsto este sobreaquecedor, já que supõe um diminui a eficiência do forno.
ligeiro aumento do rendimento do equipamento.
Quando as caldeiras se destinam à geração de água • Temperatura de entrada do combustível e combu-
sobreaquecida não dispõem de caldeiras de pequena rente: quanto mais elevada for a temperatura, menor
dimensão e a distribuição de água para os tubos das é a necessidade de combustível para dispor da
paredes realiza-se por meio de colectores. mesma quantidade de energia. Por isso é muito reco-
mendável a utilização do pré-aquecimento do ar
Nas caldeiras aquatubulares a circulação da água pelo seu comburente.
interior é forçada por meio das bombas de circulação. Nas
caldeiras de geração de vapor regula-se o nível médio de • Velocidade de combustão: se a combustão é instan-
água na caldeira de pequena dimensão superior, de forma tânea, toda a energia libertada converte-se em calor.
que varie dentro de um intervalo previsto. A câmara supe- Quanto maior é a velocidade, as perdas de calor por
rior serve de separador do vapor gerado, de onde vai para a radiação serão menores ao ser este absorvido rapida-
conduta de consumo pela tubagem de saída. mente pelos produtos.

2.2. Fornos 2.2.2. Fornos eléctricos

Denominam-se por fornos industriais os equipamentos ou A utilização da electricidade como fonte de calor constitui
dispositivos utilizados na indústria nos quais se aquecem uma prática ineficiente para o processo intrínseco de trans-
as peças, elementos, ou materiais colocados no seu inte- formação, já que procede na sua maior parte da combustão
rior acima da temperatura ambiente. O aquecimento pode de hidrocarburantes (o rendimento máximo de geração
servir para diferentes aplicações, como: eléctrica numa central térmica não supera os 33%). No
entanto, em muitos processos a sua substituição por fornos
• Fundir. de combustão obrigaria a um consumo equivalente muito
maior. Este resultado explica-se ao ter em conta os rendi-
• Preparar para uma operação de formatação poste- mentos reais de todos os consumos da cadeia energética
rior. numa fábrica. A electricidade não necessita de um fluido
portador de calor, já que pode ser transformada em calor no
• Tratar termicamente para extrair determinadas próprio ponto de consumo mediante diversos processos
propriedades. como:

• Revestir as peças com outros elementos. • Arco eléctrico.


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• Resistências (efeito Joule). uso de atmosferas controladas. Estes equipamentos têm


um crisol ou corpo de placa de aço forrado com refractário
93
• Radiação por infravermelhos, ultravioleta, etc. e a sua abóboda está construída também com refractário
refrigerado com água. Para a carga do forno, os eléctrodos
• Plasma. e a abóboda movem-se e deixam a descoberto o crisol, no
qual se deposita a carga por meio de uma grua móvel.
• Bomba de calor.
Devido à sua capacidade para obter altas temperaturas,
Atendendo ao processo de conversão da energia eléctrica, utilizam-se fundamentalmente em processos de transfor-
os fornos mais habituais são os que se indicam de mação que requerem grande influxo de energia, como a
seguida: indústria química (acetileno, ácido nítrico, etc.), assim como
na indústria de aço. Neste caso a carga do forno deverá ser
Fornos de resistência com chatarra de aço de alta qualidade. São utilizados para a
O calor é produzido pela dissipação da energia de um mate- fusão de aços para ferramentas, de alta qualidade, de resis-
rial condutor ao ser atravessado por uma corrente eléctrica tência à temperatura ou inoxidáveis.
mediante a aplicação de um diferencial de potência nos
seus extremos. O processo é diferente em função do Fornos eléctricos de indução
elemento atravessado pela corrente coincidir ou não com o Neste caso o princípio de funcionamento é a indução de
produto que se vai tratar: corrente eléctrica na carga. Aplica-se uma corrente eléc-
trica alternada de alta frequência a uma bobina que roda a

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (II)


- Aquecimento directo: A corrente atravessa o peça que se vai aquecer. Esta corrente gera por sua vez um
produto, peça ou substância que se vai tratar. É campo magnético que atravessa a peça e gera nela uma
necessário que o material seja condutor da electrici- corrente eléctrica, de modo que esta aquece devido à sua
dade. São de grande aplicação na indústria do vidro resistência.
e na de carbonato de cálcio.
As vantagens do forno eléctrico de indução são as
- Aquecimento indirecto: As resistências são geral- seguintes:
mente fabricadas à base de ligas de níquel-crómio,
ferro-crómio-alumínio, ferro-crómio-alumínio-cobalto - Alta eficiência energética.
(Ni-Cr, Fe-Cr-Al, Fe-Cr-Al-Co), ou de grafite.
- Limpeza: o controlo preciso da temperatura permite
Figura 6 reduzir a formação de resíduos e, portanto,a neces-
Esquema de um forno com eléctrodos. sidade de limpeza do forno.

- Posibilidade de utilizar atmosferas inertes e inclusivé


vácuo.
capítulo 04
- Controlo muito preciso da temperatura: permite um
ajuste muito exacto da temperatura em cada ponto
da massa que se vai aquecer.

A aplicação principal deste tipo de fornos é a indústria side-


rúrgica para a fusão ou purificação de aços especias e ligas,
tratamentos térmicos (em especial endurecimento de
superfícies) e o aquecimento prévio de peças de aço para
submetê-las à formatação por forja ou estampado.

2.2.3. Tipos de fornos


Fornos de arco
O calor é produzido pela ionização de um gás a uma tempe- Existe uma grande variedade de tipos de fornos industriais
ratura muito alta (superior a 5.000ºC) através de eléctrodos, devido à grande especialização deste tipo de equipamentos
de modo que o próprio gás actue como resistência eléc- para produtos específicos. Qualquer critério de classifi-
trica, este é capaz de manter elevadas temperatura e cação tem como resultado um grande número de grupos
permitir transferências de calor muito elevadas. Permitem o pelo que não existe um critério claro que permita classifi-
cá-los de uma forma clara e concisa. De seguida vai ser interior avança por gravidade até ao final do cilindro. Em
feita referência a vários tipos de fornos utilizados frequen- sentido contrário ao movimento da carga introduzem-se os
94
temente na indústria, que pretendem ser uma amostra gases de combustão. Geralmente conta-se com o pré-
representativa da grande variedade existente: aquecimento do ar já que a alimentação dos queimadores
pode ser conduzido pelo canal de saída do produto quente,
Altos fornos absorvendo desta forma parte do calor residual do
São assim denominadas as instalações de obtenção de aço produto.
e fundições. Um alto forno típico é formado por uma cápsula
cilíndrica de aço forrada com material refractário. A parte É um tipo de forno muito versátil e apto para trabalhar com
inferior do forno está dotada de bicos por onde se introduz materiais sólidos, lamacentos e até líquidos.
ar para permitir a combustão do coque. Próximo do fundo
encontra-se um orifício por onde se esvazia o metal fundido
ou aço líquido. Como a combustão da carga produz uma 2.2.4. Propostas
 para a melhoria da eficiência
grande quantidade de escória, também há condutas para a energética em fornos
sua recolha situadas por cima da conduta de esvaziamento.
A parte superior do forno contém respiradores para a saída A eficiência energética de um forno depende fundamental-
dos gases de escape e funis pelos quais se introduz o mente da aplicação a que esteja destinado, já que o mate-
mineral de ferro, o coque e o calcário. rial e as características do produto a tratar determinam por
completo a temperatura, tempo e condições de tratamento
Forno de crisol que se vai efectuar. Por isso cada aplicação está geralmente
Nele a carga é depositada num recipiente ou vasilha, seja associada a um tipo de forno em particular que determina a
metálico ou de material refractário. O aquecimento reali- eficência do processo.
za-se normalmente mediante métodos eléctricos. Habitual-
mente tem pequena capacidade e é geralmente utilizado Contudo, a maioria dos fornos têm certos elementos ou
em fornos de fusão de metais por indução. características comuns que permitem avaliar a eficiência
entre dois fornos do mesmo tipo. As características mais
Forno de revérbero determinantes são:
Neste tipo de fornos o calor obtido mediante combustão é
reflectido numa superfície refractária até ao lugar onde se • Isolamento: a diferença de temperatura entre o inte-
situam as peças ou o material que se vai aquecer. Desta rior do forno e o ambiente determina as perdas de
forma consegue-se uma adequada distribuição da tempera- energia por condução. Portanto a espessura e quali-
tura em toda a superfície de aquecimento e minimiza-se a dade do isolamento deverão ser maiores quanto mais
formação de escória. elevada for a temperatura interior de trabalho do
equipamento. Os defeitos de isolamento supõem
um importante foco de perdas. Convém verificar
periodicamente o estado da superfície de isolamento
e fazer medições da temperatura da superfície das
paredes para assegurar que as perdas por este meio
se mantêm dentro de uma margem aceitável.

• Regime de funcionamento: o modo de carga e


descarga dos fornos, assim como o tempo entre
tratamentos sucessivos influencia as perdas de calor
através das portas e aberturas. Em fornos descontí-
nuos a abertura de portas traz consigo a fuga de uma
certa quantidade de ar quente do seu interior que é
necessário aquecer posteriormente. Nos fornos
contínuos estas perdas são inferiores. Por isso são
mais adequados quando a quantidade de produto
Forno de revérbero. que se vai tratar é elevada.

Forno rotativo • Recuperação de energia: Em fornos de combustão


É constituído por um cilindro metálico de grande longitude, é possível associar um recuperador de calor dos
cujo eixo está inclinado horizontalmente. Ao eixo impri- gases de combustão para pré-aquecer o ar de entrada
me-se um movimento de rotação, de forma que a carga do dos queimadores, tal como se descreve na subse-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

cção relativa à recuperação de calor nos gases de • Processos de secagem física: a secagem realiza-se
combustão, inclusivamente dotando-os de queima- por procedimentos físicos ou mecânicos: escorri-
95
dores especiais que permitam integrar esta recupe- mento, filtração, pressão, centrifugação, etc.
ração de calor. Quanto aos fornos eléctricos, pode-se
recuperar, por exemplo, a energia da água de arrefe- Pode-se considerar que 11% do consumo energético indus-
cimento de fornos por indução. Mediante um sistema trial é devido aos processos de secagem. A incidência deste
de permutadores de calor e ajustando a temperatura consumo varia sensivelmente de um sector industrial para
de saída da água, pode-se conseguir uma recupe- outro, e são as indústrias siderúrgica e química as que
ração de energia até os 12% da energia dissipada. registam maiores necessidades energéticas no processo
de secagem.

2.3.1. Tipos de secadores

Existe uma enorme variedade de secadores, devido à diver-


sidade de produtos que se vão tratar, de fluidos de secagem
e de materiais empregues na sua construção.

As variáveis mais utilizadas para classificar e analisar os


secadores são as seguintes:

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (II)


• Tipo de propagação de calor (convecção, condução,
radiação).

• Pressão utilizada: normal, vácuo, sobrepressão.

• M
 ovimento da carga: fixo, por gravidade, grelha
móvel, etc.

Isolamento num forno. • Sentido da corrente de secagem: contracorrente,


em paralelo, etc.
• Regulação de temperatura: um bom sistema de
regulação da temperatura no interior do forno asse- • Dispositivos especiais: bandejas, cintas, cilindros,
gura um consumo energético ajustado às necessi- tambores, etc.
dades do processo. Neste sentido, produziu-se um
enorme avanço graças ao desenvolvimento das apli- A classificação mais geral que se pode fazer é em função
cações electrónicas de controlo de temperatura. do método de transferência de calor. De acordo com este
critério efectua-se a seguinte classificação: capítulo 04
2.3. Secadores
2.3.1.1. Secadores de aquecimento directo
A secagem consiste na transferência de energia em forma O fluido de secagem (ar, gases de combustão, etc.) é
de calor e massa (normalmente vapor de água), ao ambiente conduzido através do secador, de forma que existe contacto
para reduzir o conteúdo de líquido de um produto. O líquido directo com o material que se deve secar.
extraído é geralmente água, mas também pode ser algum
tipo de dissolvente orgânico ou inorgânico. Constitui uma Secadores de túnel
operação básica na indústria, apesar de nem sempre ser Consiste num túnel fechado através do qual avança o mate-
estudada de forma separada das outras operações com as rial ou peças que se vão secar. O sistema de tracção pode
quais estabelece uma grande relação, como tratamentos ser muito variado: banda de transporte, bandejas, rolo,
térmicos, cozeduras, etc. carrinhos, etc. A velocidade de transporte é variável em
função do tamanho das peças ou do grão de material (no
Inclui dois tipos distintos de processos: caso de granéis). A secagem efectua-se por um fluxo de ar
quente em contracorrente. O funcionamento é contínuo e
• P
 rocessos de secagem térmica: secagem através com aquecimento directo. É utilizado na secagem de
de energia térmica. grandes quantidades de produto, particularmente no caso
de grandes sólidos.
Secadores spray independentemente do meio de aquecimento e a veloci-
A aplicação mais habitual deste tipo de secadores é na dade de secagem depende do contacto que se estabeleça
96
desidratação de soluções. O nome faz referência à pulveri- entre o material molhado e as superfícies quentes.
zação da solução sobre uma corrente de ar. A configuração
típica deste secador consta de uma câmara vertical cilín- Secadores por congelação
drica na qual se introduz pela parte superior a solução ou A congelação por vácuo ou liofilização produz-se em
suspensão que se pretende desidratar. As gotas entram condições de temperatura e pressão muito determinadas,
em contacto com uma corrente de ar quente procedente de forma que a água em estado sólido se converte directa-
de um forno adjunto ao sistema. Ao evaporar-se a fase mente em vapor sem passar pelo estado líquido. A principal
líquida da solução, o produto seco cai no fundo da câmara, vantagem que oferece este sistema de secagem é a possi-
onde foi instalado um sistema de recolha. As partículas bilidade de extrair directamente a água do material que se
mais finas podem ser arrastadas pela corrente de ar, pelo vai secar sem os inconvenientes associados à evaporação,
que geralmente se incorpora um sistema de filtragem ou como podem ser a deformação do produto ou a formação
separação como um ciclone. de crostas superficiais nos produtos com granulados muito
finos.

Uma das aplicações mais usuais da sublimação é a secagem


de papel. Mediante este processo evitam-se os danos
causados pela água em estado líquido, ao evitar os efeitos
da solubilidade, como tintas corridas. A secagem por subli-
mação também previne o encolhimento, apesar de ser
necessário que o processo se realize a baixa pressão para
evitar deformações.

Secador de tambor
Consistem num rolo oco de superfície perfeitamente lisa,
pelo interior do qual circula vapor que actua como fluido de
aquecimento. O cilindro gira de modo a que a sua super-
fície exterior esteja em contacto permanente com o mate-
rial que se vai secar. A secagem produz-se através do calor
transferido através da superfície quente do tambor e
depende do tempo de contacto entre o sólido e o cilindro.
O tambor arrasta uma pequena capa de um resíduo sólido
seco, que é recolhido em algum ponto da rotação do
tambor. A crosta formada ao final do processo é eliminada
por meio de uma lâmina.

A aplicação mais generalizada deste tipo de secadores é a


Secador spray de suspensões e materiais em forma de lâminas (papel,
tecidos, etc.), já que esta configuração favorece uma
Secadores rotativos secagem rápida de produtos de pouca espessura ou com
São secadores contínuos e com uma elevada produção. O granulometria muito fina. O produto que se vai secar dá
princípio de funcionamento é similar ao dos fornos rotativos uma volta completa ao tambor, ao largo do qual é secado
descritos na subsecção que faz referência aos tipos de completamente, pelo que a temperatura de contacto do
fornos. A principal diferença entre ambos é a temperatura tambor deverá ser suficientemente alta para permitir uma
de operação, que nos secadores não supera geralmente os secagem muito rápida.
70 ºC. Têm aquecimento directo e com sistema de agitação
contínua dos sólidos. Emprega-se para a secagem de
2.3.2.Propostas de melhoria de eficiência energética
produtos granulados como sal, açúcar e sais inorgânicos
em secadores
em geral.
As características de funcionamento dos distintos tipos de
2.3.1.2. Secadores de aquecimento indirecto secadores e sua construção são muito similares à dos
fornos. Existe também uma grande variedade de equipa-
O calor de secagem transfere-se ao sólido húmido através mentos com aplicações muito concretas, pelo que a
de uma parede de retenção. O líquido vaporizado separa-se eficiência energética de cada processo depende em grande
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

medida do rendimento do próprio processo. Como medidas


de eficiência energética comuns a todos os tipos de seca-
97
dores pode-se atender às medidas descritas no caso dos
fornos.

3. Boas práticas no uso de combustíveis e


fluidos térmicos

3.1. Caldeiras

Conexão à caldeira
É recomendável conectar as caldeiras lentamente, e nunca Caldeira com isolamento deteriorado.
injectar água fria a um sistema quente já que as mudanças
bruscas de temperatura podem danificar a caldeira.
3.2. Fornos
Sistema de combustível
Assegura que o sistema de combustível funciona correcta- Características
mente e sem fugas. Purgar as caldeiras antes de acender o O pessoal encarregue dos fornos deverá conhecer o seu

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (II)


queimador, para prevenir explosões. funcionamento e características, assim como os tempos
óptimos de aquecimento e cozedura, para evitar que os
Verificação da relação de ar / combustível fornos funcionem durante mais tempo do que o necessário
Verificação por parte de um técnico de manutenção da e em condições não óptimas, e desta maneira consomem
relação ar/combustível, mantendo os queimadores bem menos energia.
ajustados e limpos. Com esta medida consegue-se uma
combustão mais eficiente e um menor consumo de Desligar dos fornos
combustível. Apague o forno se entre duas fornadas consecutivas
decorre mais de meia hora. Se o forno está bem isolado
Operação da caldeira manter-se-á grande parte do calor da última fornada, e
Fazer operar a caldeira em condições normais ou máximas necessitar-se-ão apenas de uns minutos para alcançar a
dada a carga exigida pelo processo. Com esta medida temperatura de cozedura, pelo que se poupará energia.
evitamos que a caldeira opere em excesso e consuma
energia de forma desnecessária. Optimização do uso de fornos
Programe a produção de modo a que os fornos funcionem
Sistema de alimentação de água sempre em plena carga e com tempos mínimos entre
Cuidar extremadamente o sistema de alimentação da fornadas. Não ultrapassar mais de 10% da sua capacidade capítulo 04
caldeira, encarregue de bombear o fluxo no sistema de normal. Tenha em conta que o rendimento energético do
vapor até à caldeira. Se renovarmos o óleo dos elementos forno é máximo quando trabalha à sua capacidade normal.
da bomba de água, manteremos o seu bom funciona-
mento. Revisão e manutenção
Uma manutenção preventiva permite um melhor funciona-
Isolamento mento. As tarefas mais usuais são:
Inspeccionar a temperatura da superficie das paredes da
caldeira e verificar o estado do seu isolamento. Uma tempe- - Limpe periodicamente o interior do forno.
ratura superficial superior a 35 ºC é inadequada por motivos
de segurança (queimaduras) e pelas elevadas perdas ener- - Verifique o funcionamento correcto do controlo de
géticas que acarreta. temperatura.

Controladores de velocidade - Limpe e lubrifique periodicamente as partes móveis.


Utilizar dispositivos controladores de velocidade nos
motores das bombas de água de alimentação. Isto permite - Mantenha limpas as superfícies de intercâmbio de
variar a frequência da alimentação do motor e portanto calor entre os gases de combustão e o ar interior do
modificar a sua velocidade para adaptá-la ao caudal de água forno.
adequado à necessidade do processo que abastece.
- Faça uma revisão ao forno pelo menos uma vez por Figura 7
ano. Esta revisão pode ser efectuada por pessoal Parâmetros óptimos do ar de combustão (Cortesia
98
próprio da empresa, apesar de ser aconselhável que Testo).
seja feito pelo serviço pós-venda da marca.

A revisão, limpeza e lubrificação periódica melhora a trans-


ferência de calor e o rendimento energético do forno, para
além de detectar possíveis anomalias que limitem a vida
útil do aparelho.

Regulação de queimadores
Programe uma manutenção e regulação periódica dos quei-
madores, assim como o controle de diversos parâmetros
como concentração de CO, CO2, temperatura de gases e
escape, etc. Tenha em conta que o queimador é um elemen-
to-chave no consumo energético e na segurança do forno.
A sua limpeza e ajustamento correctos garantem um menor
consumo de combustível.

Isolamentos
Verifique a temperatura superficial das paredes do forno e Temperatura de fumos alta
verifique o estado do seu isolamento, já que se a tempera- Pode ser devida a:
tura for superior aos 45 ºC, o forno está mal isolado ou o
seu isolamento está deteriorado. - Excesso de tiragem que diminui o tempo de contacto
dos gases com as superfícies de intercâmbio.
No caso de fornos com grande superfície envidraçada (forno
de pisos) é recomendável que sejam de vidro duplo já que - Sujidade nas superfícies de intercâmbio de calor,
este permite uma importante poupança de energia. que dificultem o dito intercâmbio.

Recomenda-se a mudança das juntas de estanque dos - Deterioração da câmara de combustão.


fornos a cada cinco anos já que umas boas juntas mini-
mizam as perdas de calor, pelo que deverão manter-se em - Equipamento de combustão desajustado.
bom estado.
- Câmara de combustão mal projectada.

3.3. Combustão - Extracção insuficiente dos fumos.

Segundo as diversas normas legais existentes, é obriga- - Excesso de combustão.


tório realizar análises da combustão nos geradores de calor
(caldeiras, fornos, etc.). Estas análises são fundamentais Baixa proporção de CO2
na hora de conhecer o estado e o funcionamento dos equi- Pode ser devida a:
pamentos com o objectivo de encontrar acções que
permitam optimizar os sistemas de combustão e, portanto, - Excesso de ar.
obter poupanças, tanto energéticas como económicas. As
análises aos gases de combustão permitem calcular o - Falta de ar carregado.
rendimento energético da combustão. Os parâmetros que
se têm em conta são geralmente o excesso de ar (I) e o - Falta de estanquidade na câmara de combustão
conteúdo em certos gases (O2, CO2 e CO). (infiltrações de ar).

Com a medição dos parâmetros anteriormente mencioados - Mau funcionamento do regulador de tiragem.
podem-se detectar problemas ou ineficiências que dimi-
nuam o rendimento da combustão. Os mais comuns são os - Câmara de combustão defeituosa.
seguintes:
- Chama desajustada.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

- Queimador que actua em períodos de tempo curtos se bem que se podem dar casos de poupança muito supe-
ou mal regulado. riores.
99

- Bocal de pulverização deteriorado, sujo, ou incorrec- Análise da qualidade da água


tamente seleccionado. É conveniente realizar o controle de uma série de parâme-
tros que nos indicam a qualidade da água de alimentação
- Defeitos de distribuição do ar (defeitos no ventilador das caldeiras. As análises periódicas da água são funda-
e condutas de ar). mentais para um correcto funcionamento do equipamento:

- Má automatização. - O controle da água bruta realiza-se com o fim de


adequar o processo de tratamento da água às suas
- O queimador não é apropriado para o combustível características. Quanto maior seja a qualidade da
utilizado. água, menores serão os custos de tratamento.

- Pressão do combustível incorrecta. - Se observarmos que os dados obtidos da análise de


água de alimentação não correspondem a valores
Fumos opacos adequados, pode ser que seja necessária a corre-
Podem ser devidos a: cção do tratamento de água com o fim de evitar
incrustações calcárias e purgas excessivas.
- Mau projecto ou ajuste incorrecto da câmara de

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (II)


combustão. - Se os parâmetros medidos da água do interior da
caldeira não são os adequados, torna-se necessário
- Chama que incide em superfícies frias. actuar sobre o tratamento da água ou sobre o
sistema de purgas da caldeira. Devem-se manter as
- Mau funcionamento do queimador. condições de concentração adequadas na caldeira
para evitar problemas de segurança e qualidade do
- Tiragem insuficiente. vapor.

- Mistura não homogénea de combustível e ar. Condensação ácida


É conveniente analisar as corrosões (humidade ácida) nos
- Mau fornecimento de combustível recuperadores. Quando o combustível contém enxofre
(gasóleo, fuelóleo), devem tomar-se precauções para reduzir
- Boquilha defeituosa ou inadequada. a corrosão dos tubos por formação de ácido sulfúrico. Em
geral, o ferro fundido é 20 vezes mais resistente à corrosão
- Filtrações de ar que o aço ao carbono. A temperatura de saída dos gases de
combustão não deverá descer abaixo do ponto de conden-
- Relação ar/combustível inadequada. sação dos gases produzidos. Esta limitação de temperatura capítulo 04
estabelece um limite para a possibilidade de recuperação
- Arranque defeituoso. de calor dos gases de combustão, pelo que é conveniente
reduzir ao máximo a utilização deste tipo de combustíveis
- Regulador de tiragem mal ajustado. que contêm enxofre, em favor do gás natural e dos gases
liquefeitos do petróleo (GLP).
Limpeza periódica das superfícies de intercâmbio e
ajuste do queimador Formação de fuligem nos recuperadores
Com a limpeza evita-se a acumulação de depósitos de Analisar a formação de fuligem nas superfícies de inter-
fuligem nas superfícies de intercâmbio da caldeira, que difi- câmbio e instalar sopradores para sua limpeza em contacto
cultam o intercâmbio calorífico já que actuam como isolante com os gases dos equipamentos de recuperação.
e diminuem a superfície de intercâmbio reduzindo o rendi-
mento energético e propiciando um aumento da tempera- Na combustão de sólidos, líquidos e gases não limpos,
tura dos fumos. produzem-se partículas sólidas não queimadas (fuligens)
que se depositam nas zonas frias, e produzem efeitos
A correcta regulação do queimador e suas limpezas perió- nocivos: Actuam como isolante, reduzindo a eficácia dos
dicas e das superfícies de intercâmbio optimizam os rendi- equipamentos; e formam incrustações na superfície que,
mentos energéticos, o qual pode trazer poupanças de normalmente, se impregnam de ácido sulfúrico (se o
combustível entre 1% e os 4% de média nas instalações,
combustível contém enxofre), pelo que favorecem a
corrosão das superfícies metálicas.
100

Para realizar operações de limpeza (eliminar incrustações


de fuligem e pó) emprega-se a sopragem, que pode reali-
zar-se com vapor ou com ar comprimido, ou mediante
lavagem com água e posterior secagem

3.4. Recuperação de calor da condensação

Em todo o processo térmico no qual se utiliza o vapor como


fluido de aquecimento forma-se condensação. A conden-
sação contém calor sensível que deve aproveitar-se: a sua Isolamento deteriorado.
recuperação provoca uma redução do custo de geração de
vapor. Adicionalmente, a presença de condensação no O conteúdo térmico das águas de arrefecimento, tanto
circuito de vapor pode diminuir o rendimento da instalação, contaminadas como não contaminadas, pode ser aprovei-
e por isso é necessário evacuá-los. A recuperação de tado em bombas de calor ou, indirectamente, através de
condensação pode significar uma poupança de combustível permutadores, em alguns casos, directamente como água
de 1% por cada 5 ºC ou 6 ºC de aquecimento na água de de processo (introduzindo-a em caldeiras) com ou sem
alimentação das caldeiras. De seguida são apresentados sistemas de tratamento de água.
alguns items que procuram ser um guia prático.
Modificações em arrefecimento
Existência de fugas Eliminar o frio de fluidos que vão ser aquecidos e conectar
Eliminar todas as fugas de fluidos térmicos em tubagens, os refrigeradores de água em série nos pontos nos quais a
válvulas e acessórios já que é uma acção imprescindível limitação de temperatura o permita.
para garantir a segurança durante o funcionamento do equi-
pamento, para além de supor igualmente uma poupança Existem alternativas ao processo de arrefecimento insta-
energética. lado que podem resultar em poupanças de energia.

Isolamento das tubagens Sistema de arrefecimento


Aquecer as tubagens de fluidos quentes, já que este proce-
dimento se trata de uma acção imprescindível para garantir - Desligar a água de arrefecimento quando não seja
a segurança no trabalho, e traz igualmente uma poupança necessário.
energética.
- Desligar o sistema de arrefecimento quando entra ar
Perdas de calor exterior.
Cobrir os depósitos de armazenamento de água (de arma-
zenamento de condensados, de alimentação às caldeiras, - Regular para o mínimo possível o caudal de recircu-
de água quente, etc.). lação para arrefecimento de bombas e compres-
sores.
Comprovar a temperatura correcta de manutenção em
depósitos de processo pela noite e fins de semana. Reduzir - Fazer funcionar as torres de arrefecimento a tempe-
a temperatura dos fluidos de processo até ao mínimo ratura de saída constante para evitar o subarrefeci-
possível. mento.

Cobrir os depósitos de água, comprovar a sua temperatura - Utilizar um sistema de recirculação em cascata no
e reduzir a temperatura do processo permite diminuir as Inverno para evitar o subarrefecimento.
transferências de calor e as perdas para o ambiente.
- Recircular a água de arrefecimento (ou produtos
Circuito de arrefecimento químicos quentes) no Inverno.
Classificar as águas de arrefecimento de máquinas ou de
outros circuitos de arrefecimento existentes atendendo à Podem-se conseguir poupanças de energia regulando o
sua temperatura e nível de contaminação. funcionamento do sistema de arrefecimento às necessi-
dades existentes e às condições ambientais
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

isolamento acima do valor óptimo pode não se justificar


3.5. Redes de distribuição pela diminuição das perdas que permite atingir.
101

Tubagens calorífugas Isolamento de redes e equipamentos térmicos


Assegurar que as perdas de calor das tubagens sejam o - Analisar se existem perdas de calor e isolar todos os
mais pequenas possíveis, comprovando que se encontram equipamentos e acessórios (válvulas, flanges,
calorifugadas e que o seu isolamento está em perfeito suportes) que transportem fluidos térmicos a tempe-
estado. raturas inferiores à ambiente, ou mais de 49 ºC, já
que as perdas de calor podem reduzir-se a 2% - 3%
Evitar fugas com o uso de isolamento.
Evitar perdas de energia por fugas de vapor. Todas as fugas
de vapor deverão ser reparadas tão rápido quanto possível - Isolar e tapar depósitos abertos para diminuir as
para não manter uma fuga de vapor até que a instalação perdas de calor através da superfície livre de líquidos
pare. Uma fuga pode supor perdas de calor, pelo que se quentes, cubrindo-as com tampas ou, se tal não for
encarece o custo energético. possível, dispondo bolas flutuantes de polipropileno
(as perdas são reduzidas até 80%).
Inspecção das linhas de vapor
Realizar ao menos uma vez por ano uma inspecção das - Avaliar as perdas nas tubagens de aquecimento por
linhas de vapor, identificando o dano físico, fissuras; bandas vapor de fluidos viscosos ou de alto ponto de conge-
e cintas sujeitas a rasgos; juntas rotas ou danificadas; e/ou lação e estudar a viabilidade da sua substituição por

Eficiência e Poupança Energética na Indústria (II)


coberturas danificadas. Com esta medida é mantido um outros sistemas, já que o aquecimento de tubagens
adequado rendimento da caldeira. por vapor pode ser substituído por aquecimento
eléctrico ou, em alguns casos, pode chegar a ser
desnecessário se se implementar um isolamento
adequado, pelo que se reduzem em qualquer caso
as perdas e os custos.

- Isolar todas as superfícies de intercâmbio de depó-


sitos e caldeiras, sendo também necessário isolar o
fundo e a cobertura dos depósitos e caldeiras.

- Avaliar o isolamento do edifício, já que através da


cobertura, compartimentos e pavimentos de edifí-
cios se produzem intercâmbios de calor que devem
ser compensados pelo sistema de aquecimento e ar
condicionado.
capítulo 04
Falta de manutenção da rede de distribuição. Manutenção adequada
Utilizar sistemas termográficos para detectar fugas de calor
já que constituem uma ferramenta muito eficaz e simples
3.6. Isolamento de redes de distribuição para detectar fugas.

Um isolamento de espessura óptima para diminuir perdas Estudar sistemas para diminuir as perdas de calor por
através das paredes reduz estas a 2% - 3% das que se radiação através de ranhuras e evitar a abertura de portas
produziriam sem isolamento. A instalação de isolamento de de lugares ou zonas quentes, já que se perde calor por
espessura óptima é uma boa prática energética. É, de radiação e por perda de ar quente.
longe, o melhor método de poupança energética, e a amor-
tização realiza-se em prazos muito curtos, da ordem de Comprovar o estado das fechaduras das portas das
semanas. caldeiras, fornos e secadores, assim como:

Quanto maior seja a espessura do isolamento, maior será o - Estado dos isolamentos e do material isolante.
seu custo, mas diminuirá o valor das perdas. Há que
procurar, portanto, aquela espessura que faça mínimo o - Estado das barreiras de vapor.
custo total da instalação, já que um aumento do custo em
- Temperaturas exteriores.
05 Eficiência e Poupança Energética
no Sector dos Serviços
(SCE) aprovado segundo o Decreto-lei nº 78/2006 de
1. Aspectos básicos da climatização no 4 de Abril.
104
sector dos serviços
• Alteração do Regulamento das Características de
O facto de dispormos de energia disponível e abundante Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) apro-
permite-nos aceder a um nível de mobilidade, produtividade vada no Decreto-Lei 80/2006, de 4 de Abril.
e conforto muito elevados. O papel da energia é vital para o
nosso desenvolvimento sustentável, isto é, que a energia • Actualização do Regulamento dos Sistemas Energé-
seja produzida e empregue tendo em conta o desenvolvi- ticos de Climatização em Edifícios (RSECE) aprovada
mento humano nas suas dimensões social, económica e Decreto-lei nº 79/2006.
ambiental. Se assim não for, a deterioração do meio
ambiente vai ser acelerada, incrementando a desigualdade • Certificação Energética de Edifícios (CEE) de novas
e colocando em perigo o crescimento económico mundial. construções (Real Decreto 47/2007, de 19 de
Janeiro).
O sector da habitação e dos serviços, composto na sua
maioria por edifícios, absorve mais de 40% do consumo • Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética
final de energia da Comunidade Europeia e encontra-se em (PNAEE) em Portugal (2008-2015).
forte expansão, tendência que previsivelmente fará
aumentar o consumo de energia e, portanto, também as Quiçá, o mais relevante de todos, pela sua novidade, seja a
emissões de dióxido de carbono (CO2). Certificação Energética de Edifícios. A expressão do
consumo de energia necessária para satisfazer a procura de
Com o intuito de garantir a protecção do meio ambiente, o energia de um edifício em condições normais de funciona-
Decreto -Lei n.º 290/2007 de 17 de Agosto do Regulamento mento e ocupação é o que se denomina classificação ener-
Geral das Edificações Urbanas (RGEU), estabelece como gética.
um dos requisitos básicos da edificação, que os edifícios se
projectem de tal forma que não se deteriore o meio O processo através do qual se verifica a conformidade da
ambiente, assim como o uso de um modo racional da classificação energética obtida pelo projecto e pelo edifício,
energia necessária para o funcionamento normal dos ditos uma vez terminado com a consequente emissão de certifi-
edifícios, mediante a poupança desta e o isolamento cados de eficiência energética em ambos, é o certificado
térmico. energético de um edifício.

Os edifícios têm uma grande incidência no consumo de Este certificado de eficiência servirá para acreditar que no
energia a longo prazo, pelo que todos os edifícios novos seu projecto e construção foram levados em linha de conta
devem cumprir os requisitos mínimos de eficiência energé- critérios orientados para atingir com eles o máximo de
tica adaptados às condições climáticas locais. A este aproveitamento da energia.
respeito, devem-se orientar as boas práticas para um uso
óptimo dos elementos relativos à melhoria da eficiência A certificação valoriza, adicionalmente, a eficiência térmica
energética. dos edifícios em dois aspectos: aquecimento e produção
de água quente. Para isso tem-se em conta, entre outros,
Por outro lado, a mudança legislativa produzida pela apro- aspectos como o grau de isolamento do edifício ou as insta-
vação da Directiva Europeia de Eficiência Energética em lações de produção de energia.
Edifícios, 2002/91/CE e a sua transposição para a legislação
portuguesa, está a fazer aparecer novos requisitos no sector Em resumo, o que permite a certificação energética dos
da edificação nos aspectos relativos ao consumo de energia, edifícios é:
iluminação, isolamento, aquecimento, climatização, águas
quentes sanitárias, certificação energética de edifícios ou • Dar a conhecer ao utlilizador as características ener-
utilização de energia solar. géticas do seu edifício.

Actualmente são vários os documentos legais introduzidos • Facturar todos os gastos de energia derivados das
pela Administração para dar resposta a estes novos requi- diferentes aplicações (aquecimento, climatização e
sitos: AQS) em função do consumo real, para assim poder
distribuir os custos de maneira mais equilibrada e
• Aprovação do novo Sistema Nacional de Certificação individualizada.
Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• A inspecção periódica das caldeiras. As unidades centralizadas são climatizadores que se enca-
rregam de arrefecer ou aquecer, desumidificar ou humidi-
105
• Realizar auditorias energéticas nos edifícios de alto ficar, e limpar o ar. Estas unidades climatizadoras podem
consumo energético. ser do tipo de expansão directa, como parte de uma unidade
autónoma compacta ou dividida, ou um climatizador de
• Controlar o isolamento térmico nos edifícios de nova água (UTA), em cujo o caso precisará de unidade de arrefe-
construção. cimento de água ou caldeiras.
As unidades terminais que utilizam este sistema são
• Melhorar a eficiência energética. unidades de difusão (difusores e redes de todo o tipo), ou
unidades de controle da quantidade de ar que se vai fornecer
• Rentabilizar os custos. a cada local (caixas de comportas ou elementos de similar
função).
• Estudar a viabilidade técnica dos projectos.
• Sistema de água: São sistemas de climatização nos
• Melhorar o meio ambiente. quais a água é o agente que se ocupa de compensar
as cargas térmicas do recinto acondicionado (apesar
de também poderem usar o ar exterior para a reno-
1.1. Climatização no sector dos serviços

Eficiência e Poupança Energética no Sector dos Serviços


vação). Entre este tipo de sistemas encontramos as
instalações de aquecimento com radiadores ou por
O acondicionamento do ar ou climatização tem como solo radiante.
função principal a geração e manutenção de um nível
adequado de conforto para os ocupantes de um ambiente • Sistema ar-água: Tratam-se de sistemas aos quais
fechado, ou a garantia da manutenção de um conjunto de chega tanto água como ar para compensar as cargas
condições ambientais para o desenvolvimento de um do local. Um exemplo deste tipo de instalações são
processo ou actividade ambiental dentro de um recinto. as fan-coils. Nestes equipamentos, o ar (normal-
mente procedente do mesmo compartimento que se
Acondicionar o ar implica controlar uma série de variáveis vai climatizar) faz-se passar através de uma bateria
físicas no interior de um lugar, como a temperatura seca e de frio ou de calor.
a humidade e qualidade do ar, factores básicos no controle
do conforto térmico. Neste sentido é importante destacar • Sistemas de refrigeração ou de expansão directa:
que, quando aquecemos ou refrigeramos um lugar, não Tratam-se de instalações de climatização nas quais o
estamos a controlar necessariamente factores como a fluido que se encarrega de compensar as cargas
humidade, mas apenas a transportar calor ou frio, isto é, térmicas do local é o refrigerante. Dentro destes
estamos a actuar sobre a sua temperatura seca sem ter um sistemas podemos englobar os pequenos equipa-
controle real sobre as variações originadas na humidade do mentos autónomos (split e multisplit). A sua regu-
ambiente. lação pode ser total ou nula, ou através de sistemas
de refrigeração variável mediante inversor. capítulo 05
Hoje em dia há que não esquecer que os três eixos princi-
pais que regem a evolução da climatização são: a qualidade Os sistemas split são muito utilizados no âmbito doméstico
do ar interior (Q.A.I.), o consumo energético e o impacto ou de serviços e têm múltiplas configurações. Constam de
ambiental. uma unidade normalmente exterior na qual se situam o
condensador e o compressor, e outra unidade situada no
1.1.1. Sistemas de climatização aplicáveis interior do local a climatizar (o evaporador).

Em função do fluido encarregue de compensar a carga Os sistemas multisplits (VRV ou CRV) estão compostos por
térmica no recinto a climatizar podemos diferenciar os uma unidade condensadora que distribui a vários evapora-
seguintes sistemas de climatização que se podem encon- dores (alguns destes podem preparar o ar primário de
trar em instalações terciárias. evaporação).

• Sistemas
 de ar: O ar é utilizado para compensar as
1.1.2. Melhoria
 e optimização da eficiência energética
cargas térmicas no recinto que se vai climatizar,
dos equipamentos
controlando-se adicionalmente a humidade e a
limpeza do ar (renovações por hora), sem existência A redução do consumo energético de um edifício em
de tratamento posterior. aspectos de climatização pode-se atingir mediante dife-
rentes vias de actuação. As principais vias são as 1.2. Qualidade do ar interior
seguintes:
106
Segundo a Enciclopédia de Saúde e Segurança no Trabalho,
1. Diminuir a procura de energia nos edifícios. a conexão entre o uso de um edifício como lugar de trabalho
ou habitação e o surgimento, em alguns casos, de
2. Substituir as fontes de energia convencional por problemas e sintomas que correspondem à definição de
energias renováveis (solar térmica, solar fotovoltaica, uma enfermidade é um facto que já não pode ser questio-
biomassa ou geotérmica). nado. O principal responsável é a contaminação de diversos
tipos presentes nos edifícios, que geralmente se denomina
3.Utilizar sistemas e equipamentos térmicos mais “má qualidade do ar em interiores”.
eficientes.
Adicionalmente, é um problema que se viu agravado pela
4. A recuperação de energia residual e o arrefecimento construção de edifícios desenhados para serem mais
gratuito (free cooling). herméticos e que reciclam parte do ar com uma proporção
menor de ar fresco procedente do exterior, com a finalidade
Para poupar energia e optimizar o funcionamento das de aumentar a sua rentabilidade energética. É de aceitação
nossas instalações haverá que adequar a produção que geral o facto de que os edifícios que carecem de ventilação
tenhamos à procura (através de uma boa regulação e frac- natural apresentam risco de exposição aos contaminantes.
cionamento da potência), assim como ajustar os tempos de
funcionamento dos nossos sistemas de climatização às Em geral, o termo ar interior aplica-se geralmente a
necessidades reais. ambientes de interior não industriais, como edifícios de
escritórios, edifícios públicos e habitações particulares. As
Por outro lado, a utilização de equipamentos mais eficientes concentrações de contaminantes no ar interior destes edifí-
como queimadores modulantes em caldeiras, bombas de cios são geralmente da mesma magnitude que as encon-
frequência variável ou caldeiras de condensação, contri- tradas habitualmente no ar exterior, e muito menores que
buem em grande medida para o aumento da eficiência da as existentes no meio ambiente industrial, no qual se
nossa instalação, mas são muitas vezes soluções com um aplicam normas relativamente bem conhecidas com o fim
custo económico muito elevado. de avaliar a qualidade do ar.

Adicionalmente, a utilização de sistemas free-cooling em Ainda assim, muitos ocupantes de edifícios queixam-se do
Unidades de Tratamento do Ar (UTAs) permite diminuir o ar que respiram, pelo que é cada vez mais importante levar
tempo de funcionamento dos equipamentos de refrige- a cabo estudos deste tipo com o intuito de dar solução às
ração, com a consequente diminuição do gasto energético. origens desta contaminação do ar. Não obstante, ainda que
As UTAs com sistemas integrados de free-cooling contam esteja clara a importância destes estudos, e a importância
com três portas de ar colocadas de tal forma que quando a do bem-estar e da saúde das pessoas que trabalham ou
temperatura de entalpia do ar exterior (dependendo se o habitam nos edifícios, a qualidade do ar interior começou a
sistema free-cooling é por temperatura ou por entalpia) é ser considerada um problema nos finais dos anos 60, e os
menor que a temperatura ou entalpia do ar interior do local, primeiros estudos foram realizados uns dez anos depois.
toma-se este ar frio exterior para refrigerar directamente o
local. As mudanças no estado da saúde de uma pessoa, devidas
à má qualidade do ar interior, podem manifestar-se através
Outros equipamentos que favorecem a poupança energé- de diversos sintomas agudos e crónicos, assim como na
tica na climatização são os recuperadores de energia. Estes forma de diversas enfermidades específicas. Estes
são dispositivos que permitem reutilizar o calor residual de sintomas e enfermidades são ilustradas na figura 1.
um sistema e o seu objectivo final é alcançar a eficiência
máxima da instalação. Desta forma, recupera-se parte da Ainda que os casos nos quais a má qualidade do ar interior
energia do ar que vamos expulsar para o exterior e a empre- se traduz em doenças sejam poucos, é comum que seja
gamos para o pré-aquecimento do ar exterior que o subs- responsável pelo mal-estar, stress, absentismo laboral e
titui, estaremos a cumprir os ditos objectivos. perda de produtividade.

Importa destacar adicionalmente a actual legislação exis- Outro aspecto, que deve ser considerado como parte da
tente em assuntos de climatização, que obriga à utilização qualidade do ar interior, é o seu odor, já que este é geral-
destes sistemas mais eficentes em instalações que mente o parâmetro de definição. A combinação de um
superem uma potência mínima. certo odor com o leve efeito irritante de um composto no ar
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 1
Sintomas e enfermidades relacionadas com a qualidade do ar interior.
107
SINTOMAS:

• Olhos: Secura, ardor/prurido, lacrimejar, olhos vermelhos.

• Vias respiratórias altas (nariz e garganta): Secura, ardor/prurido, congestão nasal,


gotas nasais, espirros, epistaxe, dor de garganta.

• Pulmões: Opressão torácica, falta de ar, chiadeira, tosse seca, bronquite.

• Pele: Pele vermelha, secura, ardor generalizado e localizado.

• Geral: Cefaleia, debilidade, sonolência/letargia, dificuldade de concentração,


irritabilidade, ansiedade, náuseas, tonturas.

ENFERMIDADES MAIS FREQUENTES:

• Hipersensibilidades: Pneumonia por hipersensibilidade, febre por humidificadores,


asma, rinite, dermatite.

• Infeccções: Doença do legionário, febre de Pontiac, tuberculose, constipação comum,

Eficiência e Poupança Energética no Sector dos Serviços


gripe. De origem química ou física desconhecida, incluindo cancro.

Fonte: Enciclopédia de Saúde e Segurança no Trabalho.

de um interior pode conduzir-nos a definir a sua qualidade sistemas que possui), a divisão em compartimentos do
como “fresca” e “limpa” ou como “viciada” e “contami- edifício e as fontes interiores de contaminantes e sua
nada”. magnitude.

Por tudo isto, o odor é muito importante ao definir a quali- De uma maneira geral, pode-se dizer que os problemas
dade do ar interior. Apesar dos odores dependerem objecti- mais frequentes da qualidade do ar interior devem-se a
vamente da presença de compostos em quantidades supe- uma ventilação inadequada, à contaminação gerada no inte-
riores ao limiar olfativo, são frequentemente avaliados rior do próprio edifício e à contaminação proveniente do
desde o ponto de vista estritamente subjectivo. Deve ter-se exterior. Com respeito à primeira destas causas, a venti-
em conta que a percepção de um odor pode dever-se aos lação inadequada deve-se principalmente a uma entrada
numerosos compostos diferentes e ao facto da tempera- insuficiente de ar fresco (seja por um alto nível de recircu-
tura e humidade também poderem modificar as suas carac- lação do ar ou um nível baixo de entrada de ar fresco), a
terísticas. orientação incorrecta do edifício (que não favorece a venti-
lação natural) e a uma distribuição interior deficiente. capítulo 05
Devido à complexidade de medir odores desde o ponto de
vista químico no ar interior, a tendência é eliminar os maus
1.2.2. Origem dos contaminantes
odores e utilizar, no seu lugar, os considerados bons com o
intuito de dar ao ar uma qualidade agradável. Uma prática A contaminação no interior dos edifícios tem diferentes
habitual para alcançar este objectivo é mascarar os maus origens: os próprios ocupantes, os materiais inadequados
odores com outros agradáveis. No entanto, esta prática ou os defeitos técnicos utilizados na construção do edifício;
fracassa na maior parte das vezes, dado que se podem o trabalho realizado no interior; o uso excessivo ou inade-
reconhecer separadamente os odores de qualidades muito quado de produtos normais (pesticidas, desinfectantes,
diferentes, pelo que o resultado é imprevisível. produtos de limpeza e encerados); os gases de combustão
(procedentes do tabaco, das cozinhas, das cafetarias e dos
laboratórios); e a conjunção de contaminantes procedentes
1.2.1. Aspectos do sistema de ventilação
de outras zonas mal ventiladas que se difundem para áreas
relacionados com a qualidade do ar interior
vizinhas, afectando-as.
A qualidade do ar interior num edifício depende de uma
série de variáveis, como a qualidade do ar exterior, o Há que ter em conta que as substâncias emitidas no ar
projecto do sistema de ventilação e ar-condicionado (isto é, interior têm muito menos oportunidades de se diluirem do
o sistema de aquecimento e de refrigeração), as condições que as emitidas no ar exterior devido às diferenças de
nas quais se operam e se mantêm (tanto o edifício como os volume de ar disponível. No que respeita à contaminação
Figura 2
Fontes de contaminação de um edifício.
108

CO = monóxido de carbono; CO2 = dióxido de carbono; HCH0 = óxidos de nitrógeno; Pb = chumbo; MPR = matéria em particulas respirável;
COV = compostos orgânicos voláteis

Fonte: Enciclopédia de Saúde e Segurança no Trabalho.

biológica, a sua origem deve-se fundamentalmente à Tal como diz o Estudo de Difusão sobre Tecnologias de
presença de água estancada, de materiais impregnados Microtrigeração para o Sector Industrial e Terciário (publi-
com água, gases, etc., e a uma manutenção incorrecta dos cado pelos Centros de Difusão Tecnológica AEDIE e La
humidificadores e torres de refrigeração. Viña), o serviço de climatização é um consumidor de energia
de primeira ordem em países de latitudes médias como
Por último, deve considerar-se também a contaminação Espanha e Portugal. Tradicionalmente, a maior parte deste
procedente do exterior. Com respeito à actividade humana, consumo devia-se aos sistemas de aquecimento para a
há três fontes principais: a combustão em fontes estacio- temporada fria, que compreende quatro a seis meses por
nárias (centrais energéticas), a combustão em fontes ano. Esta procura, ao requerer directamente calor, obtém a
móveis (veículos) e os processos indústriais. energia necessária fundamentalmente da combustão de
combustíveis fósseis: carvão, gasóleos e gás natural.

2. Tecnologias eficientes aplicáveis no Não obstante, nas últimas décadas, o crescimento econó-
sector dos serviços: microcogeração e mico e o conseguinte aumento de vida dos consumidores,
microtrigeração criaram um aumento significativo da procura de refrige-
ração (ar-condicionado) na temporada quente (que pode
durar entre três a quatro meses). O ar-condicionado genera-
2.1. Generalidades lizou-se nos grandes edifícios públicos e centros de trabalho
e caminha para se tornar um serviço comum nas casas. A
O uso intensivo da energia em todas as suas forma, e a sua quase totalidade dos sistemas de refrigeração, que se
produção a partir de combustíveis fósseis, estão a originar utilizam tanto em Portugal como na União Europeia (UE),
um aumento substancial nas emissões de contaminantes empregam ciclos de compressão mecânica de vapor
para a atmosfera que derivam em efeitos globais cujas alimentados com motores eléctricos conectados à rede.
consequências estão a começar a afectar o planeta (dimi-
nuição da camada de ozono, aquecimento global, etc.). Adicionalmente, a climatização causa um considerável
impacto ambiental, fundamentalmente associado à emissão
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

de gases de efeito estufa consequência do consumo de locais públicos. Este segmento de mercado vai, sem dúvida,
combustíveis fósseis, mas também relacionado com as tornar-se o mais importante em termos de consumo de
109
substâncias empregues como refrigerantes. A muito curto energia e é nele que os incentivos para romper barreiras
prazo o forte crescimento desta actividade colocará um que impedem o desenvolvimento de soluções mais
importante desafio aos compromissos adquiridos por eficientes são maiores.
muitos países no Protocolo de Quioto.
Por isso, vai-se tratar de forma especial duas das tecnolo-
Outro factor que há que considerar quando se avaliam as gias mais interessantes e eficientes para estes níveis de
consequências da climatização são os efeitos sobre os potência (menos de 1 MW), a microcogeração e a microtri-
sistemas de produção e distribuição de electricidade. geração.
Apesar da alta eficiência dos equipamentos de compressão
mecânica para refrigeração, a potência total requerida e a
2.2. Introdução à microcogeração
sua concentração em certas franjas horárias coloca impor-
e microtrigeração
tantes problemas de capacidade e regulação ao sistema
eléctrico de muitos países. Este repercute-se na estabili- A cogeração define-se como produção simultânea de elec-
dade do fornecimento e cria a necessidade de pesados tricidade e calor útil a partir de um único combustível. Os
investimentos que acabam por afectar o preço da electrici- sistemas de cogeração englobam diversas tecnologias

Eficiência e Poupança Energética no Sector dos Serviços


dade, especialmente nas horas de ponta. (motores alternativos de combustão interna, turbinas,
motores de combustão externa, etc.) e distintos combustí-
A conclusão seria que, apesar de se climatizar com recurso veis (gás natural, propano, biomassa, etc.). Segundo a
a soluções tecnicamente muito satisfatórias e mais do que potência dos equipamentos, fala-se de cogeração ou micro-
comprovadas, o momento chegou para ir mais além e dar cogeração (menos de 1 MW); esta última está orientada
novos passos em eficência energética e respeito pelo meio principalmente para hotéis, pousadas, grandes restau-
ambiente, aproveitando as oportunidade que se apre- rantes, hospitais, residências, locais comerciais, edifícios
sentam. Os aliciantes são, de forma muito resumida, os residenciais, etc. (ver figura 3).
seguintes:
A finalidade de uma instalação deste tipo é a de aproveitar
• Poupança económica e melhoria da balança de paga- o calor residual (em torno dos 60% da energia libertada) de
mentos. uma máquina térmica para satisfazer os serviços de Águas
Quentes Sanitárias (AQS) e aquecimento, enquanto se
• Aumento da independência energética / redução da produz energia eléctrica. Se a este sistema se incorporar
dependência. uma máquina de absorção, de forma a aproveitar o mesmo
calor residual para produzir frio, o sistema converte-se
• Cumprimento dos compromissos ambientais já numa instalação de trigeração, ou no seu nível de potência
adquiridos e futuros. mais pequeno, microtrigeração (ver figura 4).

• Racionalização do sistema energético e evolução A microcogeração, e por extensão a microtrigeração, é capítulo 05


rumo a um modelo mais sustentável. portanto uma tecnologia perfeitamente desenvolvida e
difundida para melhorar a eficiência energética e a poupança
Tanto no âmbito mundial, como no europeu e estatal, energética, para além de reduzir as emissões contami-
parece haver um consenso em que os caminhos mais nantes e fomentar a geração distribuída de energia.
claros para atingir estes objectivos passam por uma maior
participação das energias renováveis, tanto para fornecer Se se compara o fornecimento de energia mediante coge-
calor como electricidade, e pela introdução massiva de ração com um fornecimento convencional de energia,
técnicas de refrigeração alimentadas por calor de baixa obtêm-se poupanças de consumo em termos de energia
temperatura (menos de 100 ºC), ou seja, capazes de apro- primária que oscilam entre os 30% e os 40%. Estas
veitar economicamente a energia solar térmica ou calores poupanças de consumo implicam adicionalmente poupanças
residuais recuperados, de origem industrial ou de produção equivalentes em termos de emissões contaminantes (CO,
em instalações de cogeração. CO2, NOx, SOx, partículas, etc.).

Neste contexto cabe finalmente destacar que o segmento De igual modo, obtém-se um importante benefício econó-
de mercado onde os avanços são mais lentos é o das mico ao produzir energia mais barata do que aquela que se
pequenas potências; isto é, aquele que cobre a procura de compra e, inclusivamente, ao poder vender excedentes de
habitações, pequenos estabelecimentos comerciais e
electricidade à rede, garante-se o fornecimento energético tável e muito mais racional. E para além disso ajudam ao
em caso de uma avaria. cumprimento dos compromisso adquiridos com a assina-
110
tura do Protocolo de Quioto pelo nosso país.
Portanto, pode-se afirmar que a curto ou médio prazo as
instalações de cogeração e trigeração (ou nas suas variantes Actualmente as instalações de geração combinada de
de baixa potência) são as tecnologias mais adequadas para energia utilizam diversas tecnologias, cada uma com as
converter o actual sistema energético num sistema susten-

Figura 3
Aproveitamento de calor num sistema de microcogeração.

Fornecimento através de cogeração

Equipamento Edifício ou
Gás natural 100 de Calor 60
indústria
cogeração

Electricidade 30 Electricidade 30

Rede eléctrica

Rendimento global = (60+30) / (100) = 90%

Figura 4
Funcionamento de um sistema de microtrigeração.

Calor residual
não aproveitável

Água
quente Arrefecedor Refrigeração
de absorção
Edifício ou
Gás Equipamento Calor indústria
natural de recuperado
Água quente para
cogeração aquecimento

Electricidade Água quente sanitária Electricidade

Rede eléctrica
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

TabEla 1
Tipos de máquinas térmicas e suas características.
111

Tipo de máquina térmica Motor de com- Pilha de


Turbina de gás Turbina de vapor Motor stirling
bustão interna combustível

Potência (kWe) >20 >20 >1 >1 >1

Rendimento eléctrico 15% - 35% 10% - 40% 25% - 45% 25% - 50% 35% - 55%

Rendimento térmico 40% - 59% 40% - 60% 40% - 60% 40% - 60% 40% - 60%

Rendimento total 60% - 85% 60% - 85% 70% - 85% 70% - 90% 70% - 90%

Eficiência e Poupança Energética no Sector dos Serviços


Carga mínima (%) 75% 20% 50% 50% Sem limite

Disponibilidade 90% - 98% 99% 92% - 97% 92% - 97% >95%

Custo de instalação (€/kWe) 600 - 800 700 - 900 700 - 1400 >2000 >2500

Temperatura aproveitável 450 ºC - 800 ºC 100 ºC* 300 ºC - 600 ºC 300 ºC - 600 ºC 250 ºC - 550 ºC

GN, GLP Gás, diesel,


Combustível Todos Todos H2
(de alta qualidade) biocombustível

Fonte: AEIDE / La Viña.

capítulo 05
suas vantagens e inconvenientes. Na tabela 1 observam-se
as diferenças entre as distintas opções.

A escolha entre uma ou outra tecnologia está condicionada


pelo tipo de procura energética da aplicação. Por exemplo,
se o consumo é principalmente eléctrico, os motores de
combustão interna e Stirling oferecem melhores pres-
tações (rendimento superior), ao passo que as turbinas de
gás apresentam muito boas propriedades quando a prin-
cipal procura é a térmica.

Por último, para além das vantagens já mencionadas, tanto


as instalações de cogeração como as de trigeração, inde-
pendentemente da sua potência, podem ser combinadas Fonte: Senertec.
com sistemas de energia renovável, através da utilização de
biocombustíveis ou mediante a sua combinação com Elementos internos de um equipamento cogerador tipo
energia solar e/ou eólica, o que lhes dá um valor acrescen- motor de combustão interna.
tado muito importante.
2.3. Climatização por absorção
112
O princípio de funcionamento de uma instalação de trige-
ração é semelhante à de uma instalação de cogeração, com
a diferença de que o calor gerado é utilizado para produzir
frio, utilizando para isso uma máquina de absorção. Este frio
emprega-se geralmente para satisfazer a procura de refrige-
ração existente num edifício, local comercial, restaurante,
hotel, habitação, etc.

Tal como num ciclo de compressão eléctrica, a absorção


baseia-se na circulação cíclica de um fluido chamado refrige-
rante em determinadas condições de pressão e tempera-
tura, de forma que se aproveita o calor latente da vaporização
do dito fluido para bombear calor do foco frio (zona que se vai
refrigerar) ao quente (torre de refrigeração) através de um
evaporador e de um condensador. Para que este fenómeno
se produza, em ambos os casos (compressão e absorção)
devemos utilizar uma energia externa para poder variar cicli-
camente as condições do fluido.

Enquanto que no ciclo clássico esta energia externa é de


origem mecânica (electricidade), mediante um compressor,
na absorção a energia que se introduz no sistema é de
Fonte: ClimateWell. origem térmica e geralmente de baixa temperatura.

Máquinas de absorção.

Saída de gases

Gerador Turbina e
Recuperador

Entrada de
Ar

Refrigeração

Electrónica

Fonte: Capstone Turbine Corporation.

Partes de uma microturbina de gás.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Um equipamento de absorção é composto por um evapo- volvida e sobretudo menos difundida devido à enorme
rador, um condensador, um absorvedor e um gerador, e são expansão dos equipamentos convencionais. Não obstante,
113
estes dois últimos elementos os que substituem o o novo rótulo energético que fomenta a redução de emis-
compressor. sões e a eficiência tem promovido em distintos sectores
um importante esforço com vista ao desenvolvimento e
Existem muitas variantes e evoluções de máquinas de abso- introdução comercial destes equipamentos, cujo poten-
rção, principalmente quanto ao seu funcionamento, que cial de desenvolvimento em países quentes é enorme.
pode ser de uma etapa ou de simples efeito ou de várias. A
finalidade destas evoluções é a de conseguir uma maior
eficiência para superar o ciclo de simples efeito em alguma 2.4. Climatização por adsorção
característica determinada.
A climatização por adsorção é uma tecnologia que não se
As mais destacadas são os ciclos de múltiplo efeito, nos encontra tão desenvolvida como a de absorção, pelo que a
quais se realizam várias separações de vapor a partir de sua utilização não está muito implantada.
uma introdução inicial de calor externo, de forma que o
Coeficiente de Eficiência Energética (CEE) aumenta subs- A vantagem principal destes sistemas é que requerem uma
tancialmente. Na fotografia anterior apresenta-se uma quantidade muito pequena de trabalho, isto é, de electrici-

Eficiência e Poupança Energética no Sector dos Serviços


máquina de absorção de duplo efeito com os geradores dade, em relação aos sistemas de refrigeração por
alimentados em paralelo: o vapor de refrigeração separado compressão de vapor. No entanto, requere-se um forneci-
no gerador de alta condensação alimentando o gerador de mento de calor muito maior. Portanto, unicamente naqueles
baixa, separando portanto uma nova quantidade de refrige- casos nos quais o calor é suficientemente barato, os ciclos
rante da solução sem consumo adicional de calor externo. de refrigeração por adsorção são economicamente viáveis.
Nas sucessivas gerações de vapor dos ciclos de múltiplo
efeito separa-se sempre menos vapor do que aquele que O princípio básico da adsorção consiste num fenómeno de
se condensa, pelo que se tem que CEEeDE<2•CEEeSE e aderência superficial entre duas sbstâncias. As moléculas
que cada novo efeito em cascata traz menos eficiência do de uma e outra não chegam a interpenetrar-se, somente se
que o anterior. A relação CEEc+a=CEEe+1 continua válida mantêm relacionadas ao nível das superfícies exteriores.
em ciclos de múltiplo efeito. Pode-se distinguir a adsorção na superfície de um líquido e
na superfície de um sólido (já que somente os líquidos e os
Os equipamentos de absorção funcionam com uma solução sólidos apresentam, em virtude das características dos
composta por dois elementos facilmente separáveis e mistu- seus estados, uma superfície que delimita o seu volume).
ráveis entre eles, de forma que um é o refrigerante e o outro
o absorvedor. Na prática utilizam-se basicamente dois tipos Os ciclos ideais de adsorção podem apresentar-se no
de soluções, a primeira delas preferencialmente em apli- diagrama que se mostra na figura 5. LnP, -1/T
cações de refrigeração e a segunda em climatização e
bombas de calor em geral: Para entender o processo de refrigeração dos sistemas mais
desenvolvidos (os que combinam metanol com o carvão capítulo 05
• NH3-H2O: a água actua como absorvente e o amoníaco activo) é necessário dividir o ciclo em dois semiciclos:
como refrigerante. A refrigeração no absorvedor e no
condensador é geralmente por ar. Estes equipamentos • Semiciclo I: O gerador aquece-se por energia solar
utilizam-se para aplicações de refrigeração, com absorvendo uma certa quantidade de calor. Produz-se
temperaturas até -60 ºC e como equipamentos de a dessorção do metanol ao aquecer-se o carvão activo.
climatização até 20 kW de potência. O vapor produzido na dessorção liquidefica-se no
condensador, cedendo uma quantidade de calor ao
• H2O-BrLi: O brometo de lítio utiliza-se como subs- meio ambiente.
tância absorvente e a água como refrigerante. Os
equipamentos que utilizam esta solução caracteri- • Semiciclo II: O fluido condensado penetra no evapo-
zam-se pelo facto do arrefecimento no absorvedor e rador com o qual se produz a sua evaporação com
no condensador ser feito por água. Podem produzir absorção de uma certa quantidade de calor da câmara
frio até 5 ºC, e utilizam-se principalmente para ar frigorífica. Os vapores produzidos são adsorvidos pelo
condicionado. gerador libertando uma certa quantidade de calor para
o meio ambiente.
Ao contrário do que acontece com a cogeração, as
máquinas de absorção são uma tecnologia menos desen-
Figura 5 sistemas de microcogeração ou de microtrigeração, já
Distribuição das horas de funcionamento de que a alta eficiência destes equipamentos permite
114
um motor de cogeração nos dias de Inverno. produzir a mesma energia a menor custo. Por isso é
muito importante assegurar um elevado número de
horas de trabalho por ano, já que assim se consegue
amortizar os equipamentos num curto espaço de
tempo.

Como se pode observar nos gráficos seguintes, no Inverno,


ao poder usar energia térmica de aquecimento, o número de
horas nas quais se pode utilizar os equipamentos cogera-
dores é maior, sendo que no Verão, ao usar a energia térmica
para produzir AQS, as horas de funcionamento são
menores.

Este princípio corresponde às instalações de cogeração


posto que, em trigeração, ao poder aproveitar a energia
Fonte: Universidade Nacional de Engenharia, Perú. térmica para produzir frio mediante uma máquina de abso-
rção, o perfil de procura dos meses de Verão seria similar aos
de Inverno, aumentando portanto em grande medida as
2.5. Critérios de viabilidade para um sistema horas de funcionamento, e portanto, a rentabilidade da insta-
de microgeração e microtrigeração lação.

Para que um sistema deste tipo possa encaixar numa insta- • Excedentes eléctricas: para instalações de pequena
lação do sector de serviços devem-se cumprir uma série de potência não se coloca a possibilidade de vender os
requisitos mínimos de funcionamento e de procura, que excedentes de energia eléctrica à rede, já que o
garantam a amortização dos equipamentos no menor tempo processo administrativo necessário para registar-se
possível. Estes requisitos dependerão fundamentalmente como fornecedor e o baixo preço obtido pela venda
de três factores: dos excedentes, somado ao custo de adaptação dos
equipamentos requeridos para quantificar o balanço
• Horas de funcionamento: o número de horas de de energia importada e exportada, não torna economi-
funcionamento por ano é um parâmetro chave nos camente rentável esta possibilidade, pelo que resta o

Figura 6
Distribuição das horas de funcionamento de um motor de cogeração nos dias de Inverno.

80,00

70,00

60,00
PROCURA (kW)

50,00

40,00

30,00
20,00

10,00
-
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
HORAS

Procura eléctrica Potência eléctrica motor


Procura térmica Potência térmica motor

Fonte: BESEL, S.A.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 7
Distribuição das horas de funcionamento de um motor de cogeração nos dias de Primavera, Outono e Verão.
115

40,00
PROCURA (kW)

30,00
20,00

10,00
-
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

HORAS
Procura eléctrica Potência eléctrica motor
Procura térmica Potência térmica motor

Fonte: BESEL, S.A.

Eficiência e Poupança Energética no Sector dos Serviços


autoconsumo da energia eléctrica gerada como opção se realiza uma tarefa de precisão ou não, já que estas últimas
mais rentável e desejável para este caso. requerem níveis de iluminação superiores, ou se as zonas
são de passagem ou de permanência de pessoas.
Por isso é necessário que a procura de energia eléctrica das
instalações seja superior à potência do equipamento gerador
a instalar num número de horas suficientes ao ano. O ideal 3.1. Classificação dos sistemas
seria que a procura fosse sempre superior, de forma que o
de iluminação
equipamento funcionasse de forma contínua.
Do mesmo modo que os níveis de iluminação não podem
• Necessidades térmicas: de igual modo como sucede ser os mesmos para todos os edifícios, os sistemas de ilumi-
com a procura de electricidade, é necesário que a nação devem ser também diferentes. Segundo as activi-
instalação exija uma quantidade de energia térmica dades às quais de destinam as fracções que se vão iluminar,
que permita ao sistema estar operativo o maior podem-se encontrar quatro tipos de sistemas de ilumi-
número de horas ao ano. A instalação de uma máquina nação:
de absorção permite dar uma utilidade à energia
térmica produzida nos meses quentes do ano, aumen- • Sistemas de iluminação geral. Esta configuração
tando o número de horas de funcionamento do sistema consiste na utilização de uma iluminação geral directa
de microtrigeração. que proporcione a iluminação horizontal e a uniformi- capítulo 05
dade requeridas. Qualquer ponto de uma fracção com
este sistema pode-se converter num posto de
trabalho.
3. Iluminação no sector dos serviços
A disposição recomendada para este tipo de iluminação é a
Nem todos os edifícios requerem os mesmos níveis de ilumi- de lâmpadas situadas em linhas paralelas ao plano das
nação para a realização das actividade a que estão desti- janelas. Por sua vez, é conveniente, sempre que seja possível,
nados, pelo que os sistemas de iluminação não podem ser que a primeira fila de lâmpadas (a mais próxima da janela),
iguais. Segundo o tipo de fracção ou edifícios que se vão encontre-se com uma separação menor do que 1,5 m
iluminar, e segundo o tipo de actividade que se leve a cabo destas.
neles, deparamo-nos com uma série de requisitos que se
devem cumprir para garantir a realização das actividades com • Iluminação localizada: mediante esta distribuição,
um alto grau de conforto e segurança. Estes requisitos são podem obter-se poupanças energéticas importantes,
os valores ou parâmetros mínimos de iluminação. posto que o que se pretende é iluminar com os valores
adequados unicamente os pontos de trabalho, e
Estes parâmetros de iluminação, que recomendam um nível colocar uns níveis mais baixos no resto dos pontos da
mínimo de iluminação em lux (lx), são muito diferentes entre fracção. Este sistema, que é muitas vezes baseado
si, e dependem, por exemplo, se numa fracção determinada em pontos individuais de luz, tem a vantagem adicional
Candeeiros para anexar Candeeiros de anexação / Downlights de
com reflectores especulares suspensão com refletores embutir para lâmpadas
116 ou difusos para lâmpadas especulares ou difusos fluorescentes
fluorescentes lineares para lâmpadas compactas.
ou compactas. fluorescentes lineares.

Candeeiros estanques para Candeeiros estanques Candeeiro tipo projector de


lâmpadas fluorescentes de interior ou zonas utilização exterior ou interior
lineares. cobertas para lâmpadas para lâmpadas de descarga
de descarga elipsoidal elipsoidal mate e tubular
mate. clara.

Candeeiros recomendados em centros docentes. Fonte: IDAE.

de que conta com um sistema de controlo indepen- 1. Luminárias de anexar, para lâmpadas fluorescentes
dente daquele da iluminação geral da fracção. compactas com reflectores especulares para evitar
encadeamentos (estas lâmpadas devem formar
• Iluminação geral e local: Consiste na combinação de parte da iluminação geral das aulas de informática
iluminação geral e localizada. Neste caso, a iluminação ou de estúdio) ou com reflector difuso (utilizar-
geral é de baixo nível, e obtém-se mediante uma dispo- se-iam para a iluminação geral do centro).
sição regular das lâmpadas.
2. Luminárias de anexar ou suspender com reflec-
Por outro lado, a iluminação local necessária para completar tores especulares (iluminação geral de aulas e
a geral de baixo nível deverá permitir que a tarefa se realize escritórios com uso de telas) ou difusas (ilumi-
confortavelmente para o trabalhador, isto é, evitar o encadea- nação de zonas de uso geral) para lâmpadas fluo-
mento. rescentes lineares.

• Iluminação directa-indirecta: a iluminação directa é 3. Luminárias para embutir com reflector especular
aquela na qual a maior parte do fluxo luminoso se ou difuso para lâmpadas fluorescentes lineares
emite até ao plano de trabalho (geralmente a zona ou compactas, utilizadas de forma similar aos
inferior das fracções). Os modernos sistemas de ilumi- casos anteriores.
nação de oficinas, por exemplo, são geralmente
formados por lâmpadas de montagem embutida ou 4. Downlights de embutir para lâmpadas fluores-
em superfícies com ópticas especulares de alta centes compactas, que se utilizam em áreas de
eficiência, preferivelmente com características de entradas, corredores, etc.
distribuição em feixe.
5. Luminárias estanques para zonas cobertas utili-
Por outro lado, a iluminação indirecta dirige a maior parte da luz zadas, com lâmpadas de descarga do tipo vapor
para o tecto e zonas superiores das fracções, pelo que geral- de mercúrio com halogéneos metálicos ou vapor
mente não se empregam em zonas de trabalho. de sódio de alta pressão.

Portanto, dependendo do uso que se vai dar às diferentes • Em segundo lugar, para centros sanitários, recomen-
fracções de um edificio ou local de serviços, escolher-se-á da-se:
entre um dos sistemas de iluminação anteriores.
1. Luminárias suspensas directa ou indirectamente
com reflectores especulares e lâmpadas fluores-
3.2. Candeeiros recomendados para centes lineares ou compactas, para a iluminação
diferentes actividades geral de salas onde se utilizem telas.

Com referência à hora de instalar um sistema de iluminação 2. Luminárias de embutir com reflectores especu-
num centro pertencente ao sector dos serviços, propõem-se lares para lâmpadas fluorescentes lineares ou
as lâmpadas mais eficientes para três tipos de actividades: compactas, usadas para a iluminação geral.
docente, sanitária e administrativa.
3. Sistemas tubulares com lâmparas fluorescentes
• Em primeiro lugar, para centros destinados à docência, lineares para a iluminação das zonas de entrada.
as lâmpadas mais recomendadas para instalação são:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

4. Luminárias embutidas de parede com lâmpadas • Nas lâmpadas de descarga, incluindo os tubos fluores-
fluorescentes compactas, para a iluminação de centes, não é normal que falhem de forma instantânea,
117
corredores e zonas de perímetro de edifícios. a não ser que a sua falha seja precedida por uma inter-
mitência, acendendo-se e apagando-se repetidamente.
5. Downlights de embutir para lâmpadas fluores- É necessário controlar estas anomalias para proceder à
centes compactas ou de descarga de halogéneo mudança da lâmpada, comprovando previamente que
metálicos, instaladas em zonas de admissão, é esta e não o arrancador que deve ser substituído.
entradas, etc. Num circuito de ignição de uma lâmpada fluorescente
é recomendável testar um arrancador novo antes de se
• Por último, em centros administrativos propõe-se: desprender da lâmpada.

1. Luminárias de anexar com ópticas de alumínio • Ao substituir a lâmpada, a nova deverá ser da
especular ou semi-mate para lâmpadas fluores- mesma potência e classe que a antiga. Uma
centes lineares ou compactas, para a iluminação lâmpada de potência superior pode sobreaquecer o
geral. candeeiro. Nas lâmpadas de descarga a mudança
deve fazer-se de acordo com o equipamanto auxiliar
2. Candeeiros de anexar ou suspensos com óptica de ignição.

Eficiência e Poupança Energética no Sector dos Serviços


especular, mate ou decorativa, para lâmpadas
fluorescentes lineares. • Em instalações de grande tamanho, o mais adequado
é substituir todas as lâmpadas num momento deter-
3. Luminária de anexar no tecto ou à parede com minado, em lugar de sustituí-las à medida que deixam
óptica especular ou difusa para lâmpadas fluores- de funcionar.
centes lineares ou compactas.
• Limpeza precisa de candeeiros, sobretudo das super-
4. Downlights de embutir para candeeiros fluores- fícies reflectoras e difusoras, com a metodologia
centes compactos ou lâmpadas de descarga, prevista, e limpeza da zona iluminada, e deve-se esta-
com ópticas de escurecimento (em zonas com belecer em ambas a periodicidade necessária.
uso de telas) ou decorativas (em zonas de corre-
dores, entradas, etc.). • O simples trabalho de limpeza periódica de candeeiros
traz uma série de vantagens, já que a sua não reali-
zação reduz o fluxo luminoso da lâmpada num valor
3.3. Manutenção das instalações que oscila entre 0,75 e 0,9; isto é, perde-se entre uns
de iluminação 75% a 90% do fluxo luminoso só pelo facto de não
Para o funcionamento correcto das instalações de ilumi- limpar os candeeiros, o reflector ou o fecho.
nação, não só há que ter em conta a instalação de bons
equipamentos (lâmpadas, candeeiros, sistemas de regu- • Se os candeeiros incorporam difusores de plástico,
lação e controle ou equipamentos auxiliares), mas há que lisos ou prismáticos, e estão envelhecidos pelo uso, capítulo 05
ter em conta a progressiva redução do rendimento lumi- devem substituir-se.
noso dos sistemas pela acumulação de pó e sujidade.
• A deposição de pó sobre os candeeiros e lâmpadas é
É importante que a partir das empresas se preveja um afectada pelo grau de ventilação, o ângulo de incli-
programa detalhado de manutenção e limpeza dos sistemas nação, o acabamento das superfícies que formam os
de iluminação, que se devem realizar de forma periódica. candeeiros e o grau de contaminação do ambiente
Como principais acções que se devem levar a cabo no que os rodeia, pelo que haverá que ter em conta
processo de manutenção há que destacar as seguintes: estes factores na hora de estabelecer a assiduidade
com a qual se irão realizar os processos de limpeza.
• Operações de reposição de lâmpadas com a frequência
de substituição. Neste ponto, deve testar-se a ilumi- • Em locais com alto grau de contaminação o conve-
nação oferecida e sua intensidade, já que apesar das niente é a utilização de luminárias estanques.
lâmpadas continuarem a funcionar, o fluxo luminoso
radiado ao final da sua vida útil é de apenas uns 70% • Limpeza periódica dos cristais das janelas das super-
do inicial e o seu consumo é maior, isto é, a partir de fícies que formam os tectos, para manter a trans-
um determinado momento, a emissão luminosa em missão da luz natural e o seu reflexo.
relação com o seu consumo torna aconselhável a sua
substituição.
• É conveniente manter limpos e pintar, ou repintar no serviços serem muito diferentes entre si, ao possuírem
caso que seja necessário, as paredes e tectos das geralmente os mesmos sistemas (iluminação, climatização,
118
instalações com cores claras para incrementar a equipamentos eléctricos, etc.), as boas práticas que se
reflexão da luz e assim poder diminuir a necessidade devem considerar são comuns para todas.
de iluminação do centro.

4.1. Boas prácticas em equipamentos


4. Boas prácticas no uso da energia no eléctricos
sector dos serviços
A facilidade de controlo dos equipamentos eléctricos permite
que com poucas medidas simples se produzam grandes
É sempre interessante para uma empresa reduzir os seus poupanças.
custos. No caso particular dos custos energéticos, este
interesse está muito relacionado com a disponibilidade Em primeiro lugar, há que ter em conta que os parâmetros
dos recursos energéticos convencionais, que são os que principais para avaliar a eficiência energética de um receptor
mais se utilizam na actualidade e, previsivelmente, no ou carga eléctrica são dois:
médio prazo.
• Factor de potência.
Na actualidade, para além dos critérios económicos
evidentes (os custos directos da energia eléctrica e os • Distorsão harmónica.
combustíveis), vão sendo incorporadas avaliações mais
globais (custo-benefício), que incluem aspectos ambien- Os receptores com um baixo factor de potência e uma alta
tais, particularmente os gases com efeito de estufa e os distorsão harmónica originam maiores perdas nas linhas e
cálculos do ciclo de vida dos equipamentos, nos quais a um sobredimensionamento dos sistemas de geração e
eficiência energética é um factor muito relevante na transporte de electricidade
tomada de decisões.

Na hora de melhorar a eficência energética das empresas,


4.2. Boas práticas em equipamentos
o primeiro enfoque deverá ser orientado para as boas
informáticos
práticas de uso da energia, já que não implicam um inves-
timento grande a não ser a organização do consumo ener- Nesta subsecção, devemos ter em conta que em geral,
gético com uns procedimentos rotineiros que contribuem com os equipamentos informáticos não estamos cons-
para a eficiência energética. Isto é, podem-se conseguir ciencializados para o seu consumo real e tendemos a
importantes poupanças energéticas e económicas, com deixá-los acesos a todo o momento: nos descanços a
um investimento nulo ou muito pequeno, já que não meio da manhã, nos descanços da hora de comer, pela
requer um conhecimento profundo das tecnologias ener- tarde, etc.
géticas, e em nada diminui a actividade normal nem os
níveis de conforto dos trabalhadores ou utilizadores das Como pautas de boas práticas nos equipamentos informá-
instalações. ticos encontramos:

A observação de boas práticas energéticas produz o benefício • É conveniente evitar manter acesos os equipamentos
adicional da maior durabilidade, fiabilidade e disponibilidade informáticos durante todo o tempo.
dos equipamentos consumidores de energia.
A utilização das melhores práticas energéticas para • Devem-se apagar os equipamentos sempre que não
promover a eficiência energética tem como fundamento se vão utilizar num período de tempo de meia hora ou
que os organismos concedem mais credibilidade à expe- mais.
riência de uma empresa do que a estudos teóricos compa-
rados. • Em caso de não se utilizar por um período inferior,
deve-se apagar o ecrã, já que esta é a parte do compu-
Por isso, a compilação das melhores práticas energéticas, a tador que consome mais energia.
análise e a apresentação organizada e documentada têm um
maior efeito divulgador. • Deve-se programar o desligar de forma automática do
ecrã quando o tempo de inactividade supera os dez
Por último, cabe destacar que, apesar das actividades das minutos.
empresas incluídas naquilo que se conhece como sector dos
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

TABELA 2
Características das lâmpadas mais utilizadas no sector dos serviços.
119

Índice de
Tipo Eficácia Equipamen-
reprodução Vida útil
Imagem luminosa to Observações Custo
de lâmpada cromática (horas)
(0-100)
(lm/W) auxiliar

Incandescente 100 1.000 9-17 – Evitar Reduzido

Arrancador,
O balastro electrónico reduz
Fluorescente 60-95 8.000-12.000 65-100 balastro e Reduzido
o consumo em 25%
condensador

Equipamento Demora a acender.


Fluorescente
85 8.000-12.000 45-70 electrónico As integradas substituem Médio
compacta
incorporado directamente as incandescentes

Acende instantaneamente.
Elevada intensidade luminosa.

Eficiência e Poupança Energética no Sector dos Serviços


Halogéneo >90 2.000 15-27 – Curta duração da lâmpada e
Médio
reduzida eficácia luminosa.

Poupança de 30%
Halogéneo
no consumo energético.
de baixo >90 2.000-3.000 18-25 Transformador Médio
Maior tempo de vida e menor
consumo
aquecimento do ambiente.

• Passe as fotocopiadoras a estado Stand-By quando uso eficiente e racional da energia entre o pessoal das
não se usem por períodos longos, já que se reduz empresas. Em termos gerais, calcula-se que é possível
assim a potência utilizada pelo equipamento e, poupar em gastos de iluminação até uns 15% simples-
portanto, o seu consumo, sem apagar a fotocopia- mente com um adequado comportamento do pessoal.
dora.
Entre as recomendações aplicáveis ao sistema de iluminação
Normalmente tendemos a deixar o computador ligado por destaca-se:
comodidade ou discuido. Se se tiverem em conta estes
conselhos, podemos diminuir o nosso consumo energético • É conveniente examinar os níveis de iluminação em
de forma considerável. todas as zonas de trabalho, implicando o pessoal nesta
tarefa. Em zonas não importantes, como corredores
Estas recomendações são igualmente aplicáveis para o resto ou armazéns ou lugares de pouco trânsito, é conve- capítulo 05
dos equipamentos eléctricos que se podem encontrar nas niente reduzir os níveis de iluminação, mas tendo em
empresas de serviços, como por exemplo, televisores, conta que devem manter-se uns valores mínimos.
vídeos, leitores de DVD, etc. Para isso:

1. Podem-se suprimir algumas lâmpadas fluores-


4.3. Boas práticas na instalação centes em luminárias multi-tubo.
de iluminação
2. Podem-se suprimir os pontos de luz supérfulos.
A iluminação das empresas é normalmente deixada nas
mãos dos instaladores e/ou pessoal da manutenção dos 3. Podem-se substituir luminárias.
sistemas eléctricos, que são geralmente bons profissio-
nais mas alheios a estas. Com uma dedicação própria não 4. Deve-se motivar o pessoal para que apague as
excessiva podem detectar-se algumas melhorias sem luzes desnecessárias fora das horas de trabalho,
investimento, relacionadas com a gestão da iluminação e ou quando não são necessárias
a manutenção (o que traz resultados imediatos).
• Para trabalhos específicos, deve-se dispor de ilumi-
Neste aspecto há que ressaltar a grande importância que nação localizada, de forma a que não haja necessidade
pode ter uma campanha de consciencialização sobre o de aumentar a iluminação geral.
2. C
 om o ângulo de inclinação, que vem determi-
nado nas caracterísitcas do candeeiro.
120

3. O
 acabamento das superfícies que formam os
candeeiros.

4. O grau de contaminação do ambiente que as


rodeia, como uma sala na qual se tenha fumado
e que esteja cheia de fumo.

• Por último, devemos aproveitar a luz natural, limpando


os vidros das janelas e superfícies que formam as
paredes e tectos para desta forma conseguir que se
reflicta a luz natural. A limpeza e, sobretudo, as cores
claras nas paredes e tectos são importantes para obter
um bom nível de luz.

Não seguir estes procedimentos traduz-se geralmente em


Iluminação natural na sede do Grupo Gas Natural em situações de ineficiência e, portanto, de consumo excessivo
Madrid. de energia, como por exemplo:

• É corrente que as zonas não críticas, como os corre- • A redução do nível de iluminação necessário para a
dores, estejam iluminadas excessivamente. Também realização das tarefas em condições de conforto e
nas zonas mais exigentes e, portanto, mais intensa- segurança.
mente iluminadas (onde se realizam actividades de
precisão e de desenho), geralmente permanece toda • Obtêm-se rendimentos mais baixos do que o normal
a iluminação acesa durante as horas de limpeza e vigi- por parte da instalação.
lância, sem que haja necessidade.
• Encontra-se um aspecto descuidado da instalação.
• Quando o projecto da iluminação implica um nível
excessivo em muitas zonas, deve reduzir-se o nível Outro ponto que se deve ter em conta é o fluxo luminoso
geral e reforçar somente as zonas que realmente o das lâmpadas. Este diminui com o tempo, e é muito dife-
requiram. rente de uns tipos de lâmpadas para outras. Existem
lâmpadas que continuam a iluminar por um longo período de
• Deve-se realizar uma limpeza e uma manutenção tempo, mas devemos seguir os conselhos do fabricante e
programada dos sistemas de iluminação, pelo menos mudá-las quando tiver passado o ciclo de vida útil, já que a
uma vez por ano, apesar de que a frequência destes relação entre a sua emissão de luz e o seu consumo não é
trabalhos deveria depender da actividade que se aconselhável.
realiza nestas fracções.

A sujidade em lâmpadas, difusores e candeeiros reduz consi- 4.4. Boas práticas nos sistemas
deravalmente o fluxo de luz emitido, o que se repercute em de climatização
que para alcançar o nível original no posto de trabalho, há
que acender mais pontos de luz e, portanto, consumir mais Os gastos de aquecimento, ventilação e ar-condicionado repre-
energia. sentam uma proporção significativa de custos em energia.

A maior perda de iluminação numa instalação é causada pela O aquecimento pode chegar a representar uma parte muito
sujidade depositada sobre as lâmpadas e candeeiros. A importante da energia consumida, já que, dependendo do tipo
origem desta sujidade nos sistemas de iluminação deve-se de energia utilizada, pode significar mais de 50% dos custos
em grande medida a: energéticos totais.

1. Grau de ventilação, já que uma boa circulação de Não obstante, do mesmo modo que sucede com a ilumi-
ar no interior da sala evita que se deposite o pó nação ou com os equipamentos eléctricos, com uma série
nas superfícies, entre elas lâmpadas e de conselhos pode-se optimizar o funcionamento dos
candeeiros. sistemas, fazendo que sejam mais eficientes e reduzindo,
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

portanto, o consumo e seu custo energético. Estes conse- • As caldeiras devem ligar-se lentamente, e nunca se
lhos são apresentados de seguida: deve injectar água fria a um sistema quente. As
121
mudanças súbitas de temperatura podem torcer ou
• Deve verificar-se que as empresas ou edifícios não se quebrar a caldeira.
aquecem a mais do que 20 ºC:
• Por outro lado, devido a que nas caldeiras se produz
1. Pode-se comprovar por meio de termóstatos. um processo de combustão, é necessário tomar
precauções especiais. Os operadores das mesmas
2. No caso de se superarem os 20 ºC, deve-se devem assegurar que o sistema de combustível,
corrigir a situação. incluindo as válvulas, tubagens e tanques, estão a
funcionar correctamente e sem fugas.
3. Por último, podem-se colocar cartazes indicativos
com mensagens para consciencializar o • De igual modo, é necessário que os operadores
pessoal. purguem a caldeira antes de acender o queimador,
para evitar possíveis explosões. Os trabalhadores
Há que ter em conta que o nível recomendado se situa entre devem ajustar a condição de rodagem e a chama para
os 20 ºC e 22 ºC em função do tipo de actividade que se assegurar que esta não seja demasiado alta nem que

Eficiência e Poupança Energética no Sector dos Serviços


desempenhe. faça fumo.

Também se pode considerar reduzir o nível de aquecimento • Adicionalmente, os sistemas de ventilação também
em certas zonas, onde não haja um trânsito contínuo de devem inspeccionar-se e manter-se para assegurar
pessoas ou onde as cargas térmicas transportadas pelo que os gases produto da combustão não se acumulem
próprio pessoal e pelos equipamentos de iluminação sejam na sala de caldeiras.
altas.
• Por último, a área que envolve a caldeira deve
• Deve-se motivar o pessoal a reduzir o aquecimento manter-se livre de pó e desperdícios, e não se devem
quando sinta demasiado calor, em vez de abrir as armazenar materiais de combustão próximo de
janelas. nenhuma caldeira, já que estas têm superfícies
quentes que podem causar a combustão destes
• Deve-se comprovar que os termóstatos estão colo- produtos.
cados em zonas livres longe de janelas, fontes de
calor ou correntes. Para poder levar a cabo estas recomendações de forma
controlada, deve-se:
Se se colocar um termóstato num lugar frio ou com corrente,
o resultado será o sobreaquecimento. Por outro lado, se está • Inspeccionar regularmente a combustão da caldeira.
próxima de uma fonte de calor, o resultado será o baixo
aquecimento. • Manter a caldeira em perfeito estado de limpeza e capítulo 05
inspeccionar a combustão do queimador regular-
• Devem-se programar os temporizadores de aqueci- mente. Mantendo a caldeira limpa, evitamos a suji-
mento/ventilação para os ciclos de ocupação e para as dade nos queimadores e com isso conseguimos um
diferentes condições climáticas. menor consumo de combustível.

Poupa-se dinheiro quando se ajustam os períodos de pré- • Um técnico especializado deve verificar a relação de
aquecimento às condições climáticas. O calor armazenado ar/combustível, de forma a assegurar a manutenção
nos radiadores e no resto do edifício é muitas vezes sufi- dos queimadores bem ajustados e limpos para conse-
ciente para permitir apagar o aquecimento antes de acabar o guir uma combustão eficiente.
horário de ocupação. .
• Com esta medida evitamos um maior consumo de
Devido à importância no consumo energético que no nosso combustível.
país têm os sistemas de aquecimento, deve-se fazer uma
menção especial ao correcto funcionamento dos equipa- • Purgar os radiadores da caldeira, já que o ar contido
mentos geradores de calor, já que com uma boa manutenção nos radiadores dificulta a transmissão de calor.
e um funcionamento eficiente, pode-se reduzir o consumo
energético de um edifício.
06 Eficiência e Poupança Energética
no Urbanismo e Edificação
pondem ao aquecimento) e produzem uns 35% das emis-
1. Introdução sões de gases de efeito estufa. Se a isto juntarmos que nos
124
últimos anos foi detectado um incremento substancial do
No seu Livro Verde, “Para uma estratégia europeia de segu- consumo energético devido à proliferação de sistemas de
rança do aprovisionamento energético”, a Comissão Euro- ar-condicionado, (que se aproxima cada vez mais ao corres-
peia pôs em relevo os seguintes aspectos fundamentais: pondente a aquecimento), podemos entender a grande
preocupação existente entre os Estados-Membros para
• A União Europeia (UE) tornar-se-á cada vez mais reduzir o dito gasto.
dependente de fontes externas de fornecimento; o
alargamento não fará mais do que aumentar esta No caso de Portugal esta percentagem é menor (em torno
tendência. Segundo as previsões actuais, se não dos 29,3 % do consumo de energia final do país em 2007,
forem tomadas medidas, a dependência das impor- mas tende a aumentar de ano para ano.
tações alcançará os 70%, face aos 50% actuais.
Metade dos materiais dos quais são feitos os edifícios e
• A emissão de gases com efeito estufa está a construções procedem da crosta terrestre, e produzem
aumentar, o que contrasta com os esforços reali- anualmente 450 megatoneladas (Mt) de resíduos de cons-
zados no âmbito das mudanças climáticas e compro- trução e demolição (mais de uma quarta parte de todos os
mete ainda mais o cumprimento dos compromissos resíduos gerados).
assumidos no Protocolo de Quioto.
A comunicação da Comissão Europeia “Para uma estratégia
• A influência que a União Europeia pode exercer sobre temática de prevenção e reciclagem de resíduos” assinala
as condições da oferta de energia é escassa. A inter- que o volume de resíduos derivados da construção e demo-
venção da União poderia realizar-se fundamental- lição aumenta constantemente e que a sua natureza é cada
mente do lado da procura, fomentando, primeira- vez mais complexa, à medida que se diversificam os mate-
mente, a poupança energética nos edifícios e no riais utilizados. Este facto limita as possibilidades de reutili-
sector do transporte. zação e reciclagem dos resíduos (que na actualidade é
apenas de uns 28%), o que por seu turno aumenta a neces-
Estas afirmações demonstram o necessário que é econo- sidade de criar aterros e de intensificar a extracção de
mizar energia sempre que tal seja possível. Está compro- minerais.
vado que os sectores da habitação e o terciário abarcam o
maior número de consumidores finais de energia, especial- Sustém o documento que dotar de isolamento os edifícios
mente como resultado do aquecimento, iluminação, apare- antigos significaria reduzir as emissões de CO2 dos edifí-
lhos eléctricos e equipamentos vários. Numerosos estudos, cios, assim como os custos de energia correspondentes,
e também a experiência prática, demonstram que nestes até 42%.
sectores existe um grande potencial de aumento do rendi-
mento energético, maior talvez do que nos demais sectores. Para desenvolver a construção sustentável, a União Euro-
É necessário, no entanto, intensificar os esforços dos Esta- peia propõe diversas medidas aplicáveis:
dos-Membros e da Comunidade nesse sentido.
• C
 omo se assinalava na Directiva 2002/91, a Comissão,
com a assistência do comité estabelecido pela
2. Influência da planificação urbana própria directiva, examinará possíveis alternativas de
renovação dos edifícios mais pequenos, assim como
incentivos gerais de eficiência energética.
2.1. Situação de partida no âmbito europeu
• Incentivar-se-ão todos os Estados Membros a desen-
Actualmente a tendência que se segue em toda a cons- volver na prática um programa nacional de construção
trução moderna está dirigida para aplicar os requisitos sustentável e a fixar exigências de eficiência ambien-
necessários para conseguir tanto um desenho como uma tais rigorosas utilizando normas europeias e o euro-
construção sustentável promovendo uma arquitectura de código.
alta qualidade e favorecendo as novas tecnologias de cons-
trução. • Incentivar-se-ão para além disso as autoridades locais
a promover a construção sustentável.
Na actualidade, no âmbito da União Europeia, o aqueci-
mento e a iluminação dos edifícios absorvem a maior parte • Serão incentivados todos os Estados-Membros ,
do consumo de energia (42%, dos quais uns 70% corres- autoridades locais e organismos públicos contra-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

tantes a utilizarem os requisitos de sustentabilidade 6. Custo de exploração e níveis de conforto.


nos seus procedimentos de licitação de edifícios e
125
obras de construção, assim como na utilização de Segundo a ordem deste esquema, uma intervenção descui-
fundos públicos para os ditos edifícios ou obras. dada ou negativa num escalão acarreta maiores dificul-
dades, e portanto maiores custos, para conseguir resul-
• Para além disso, ser-lhes-á pedido que criem incen- tados melhorados nos seguintes e assim sucessivamente.
tivos fiscais em prol de edifícios mais sustentáveis. A
Comissão analisará a possibilidade de formação, Uma ordenação urbanística inadequada, conduzirá à
orientação e intercâmbio de experiências, assim redução em grande medida dos resultado possíveis de um
como de investigação, acerca da construção susten- posterior processo de projecto de edifícios e suas insta-
tável. lações. Um edifício mal construído e/ou desenhado, dificul-
tará as condições de uso das suas instalações, reduzirá os
• Por outro lado, e como parte da estratégia temática níveis de conforto e aumentará os custos de exploração ao
para a prevenção e reciclagem de resíduos, estudará consumir mais energia.
medidas para responder ao problema do volume
crescente de resíduos da construção e demolição. Outra conclusão, que deverá ser tida em conta a partir do

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


esquema anterior, é que aquelas soluções que melhor
• A Comissão desenvolverá a rotulagem ambiental dos consigam integrar no resultado final todos os escalões do
materiais de construção (através de declarações processo alcançarão os melhores níveis de conforto e
ambientais ou etiquetas ecológicas da UE) e proporá eficiência possíveis.
uma etiqueta ecológica ou uma declaração ambiental
harmonizada para a construção ou serviços de cons- Além disso, esquecer a influência do isolamento pode não
trução. apenas reduzir as conquistas, mas também cancelar ou
inverter o sinal dos resultados.
Na Carta Leipzig sobre cidades europeias sustentáveis
(aprovada numa reunião informal de ministros sobre o Portanto, as soluções de uso difícil ou complicado para os
desenvolvimento urbano celebrada em Leipzig a 25 de Maio utilizadores, ao não fornecerem um sistema de monitori-
de 2007), e naquilo que se refere à eficiência energética no zação, gestão e manutenção eficaz e confortável durante a
âmbito da edificação difundiu-se a necessidade de melhorar vida do edifício, podem conduzir a experiência a um fracasso
a eficiência energética dos edifícios. Esta diz respeito tanto completo.
aos edifícios existentes como aos de nova construção. A
renovação do parque habitacional pode ter um impacto
2.2. Critérios de eficiência energética
importante na eficiência energética e na melhoria da quali-
no planeamento urbanístico
dade de vida dos residentes. Há que prestar atenção espe-
cial aos edifícios pré-fabricados antigos e de baixa quali-
dade. Redes de infra-estruturas optimizadas e eficientes e 2.2.1. Modelos e usos urbanos
edifícios energeticamente eficientes abaterão os custos capítulo 06
tanto para as empresas como para os residentes. A Uma vez que as características do microclima urbano deter-
eficiência energética dos edifícios deverá ser melhorada. minam as necessidades energéticas dos futuros desenvol-
vimentos urbanos, devem-se ter em conta tais condições
Para esclarecer a gama possível de intervenções e a sua climáticas.
influência no resultado final há que estar consciente da
relação de níveis existentes no processo de edificação: • O planeamento urbano deve visar o aproveitamento
das condições ambientais favoráveis, assim como o
1. Planeamento urbanístico (fase de projecto). controle daquelas que sejam desfavoráveis.

2. Adequação do suporte construído (fase de cons- • Devemos considerar as condições microclimáticas e


trução). energéticas dos locais na classificação do solo e, em
geral, na tomada de decisões.
3. Uso de energias renováveis.
• Atribuição de parâmetros para o sector: os valores de
4. Instalações mais eficientes. construção ou de utilização e a densidade devem ser
alocados de acordo com as características microcli-
5. Condições de uso, manutenção e gestão da insta- máticas dos locais.
lação e do edifício.
• Áreas com declive para o sul permitem maior densi-
2.2.3. Traçado das vias, forma e tamanho do lugar
dade de desenvolvimento urbano que as áreas
126
planas, uma vez que as obstruções entre os edifícios Deve realizar-se em função da topografia ou outras condi-
são menores. cionantes do lugar, mas sempre de forma a não prejudicar
a orientação dos edifícios, com vista a que estes apre-
• Em áreas quentes, com maiores necessidades de sentem as mínimas necessidades energéticas tanto no
refrigeração do que de aquecimento, as encostas Inverno como no Verão.
com orientação para oeste são as menos favoráveis
para a eficiência energética. Pontos que há que ter em conta:

• Há que encontrar o equilíbrio entre densidade e 1. Traçado das ruas e captação e controle solar: a
ocupação de espaço livre. orientação a Sul da edificação é a que melhor
comportamento energético consegue no Inverno e
• O planeamento deve ter por objectivo a preferência no Verão dado que a captação da radiação é máxima
pela regeneração urbana ao contrário da extensão no Inverno e mínima no Verão.
territorial da cidade.
2. As superfícies com maior captação solar no Inverno
• Fixar os objectivos de poupança energética à orde- são as fachadas viradas a Sul, com muita diferença
nação: é necessário analisar o conjunto da actuação em relação a outras orientações de fachada.
desde uma perspectiva ambiental e energética e
considerar-se o impacto das principais alternativas. 3. As superfícies com maior captação no Verão são os
Há que estabelecer objectivos ambientais e energé- telhados, seguidos das fachadas Este e Oeste.
ticos mínimos para o conjunto da actuação e justificar
a ordenação desenvolvida com base nesses objec-
tivos.

• Nos municípios onde o planeamento deva considerar


um regime de ventos característicos, será necessário
fixar como objectivo da ordenação a corrigir ou
controlar o regime de ventos.

2.2.2. Distribuição das zonas edificáveis


e dos espaços livres

Haverá que distribuir a edificação, as zonas verdes e os


edifícios de serviços de forma a permitir o maior e melhor
uso energético de todos eles, em função das tipologias
escolhidas e das condições climáticas da zona.

• Deve-se ter em conta que, as habitações, ruas e


outras zonas de circulação necessitam de sombra no
Verão enquanto que os colectores de água quente
sanitária, assim como as piscinas e os jardins, neces-
sitam de sol. A orientação a sul dos edifícios é a que
proporciona maiores cotas de sombra no Verão. Não
obstante, para garantir a sombra no Verão das zonas
de uso público, o papel da vegetação é muito impor-
tante.

• Existem usos apropriados para as zonas de sombra


no Inverno, como por exemplo, os centros comer-
ciais, que têm uma forte procura energética e não
aproveitam as condições ambientais em caso
algum. Zonas verdes no centro da cidade
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

4. Traçado das ruas e controlo do vento • O planeamento não deverá impor restrições que
impeçam as soluções bioclimáticas ou outras.
127
- Se o traçado das ruas e a posição da edificação
têm em consideração a manutenção dos fluxos • A normativa urbanística deverá incluir vários
naturais de ar e frio, durante o dia e a noite, em conceitos
função da orientação do vale, a situação do
mar, etc., assegurando assim a correcta venti- 1. Orientação.
lação natural no Verão.
2. Diversidade das fachadas em função da orien-
- Evitando alinhar as vias com as direcções tação.
predominantes, rompendo a regularidade dos
alinhamentos, salvando os edifícios particular- 3. Obstrução solar.
mente altos, etc., podem-se controlar regimes
de ventos nocivos. 4. Outros que influenciem o comportamento ener-
gético dos edifícios.
5. Ter em conta as obstruções solares geradas pela

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


edificação ao fixar a largura das ruas e a posição da • Naquelas zonas onde o aquecimento seja a necessi-
dita edificação com respeito ao alinhamento das dade mais importante devem-se distribuir as tipolo-
vias. O plano de sombras é a ferramenta que permite gias de edificação em função dos ganhos solares nos
a verificação desta permissa. meses de mais frio e adicionalmente a sombra não
deve afectar o acesso do sol dos edifícios adja-
6. Dado o clima de Portugal, haverá que considerar centes.
adicionalmente o benefício da sombra no Verão. A
orientação das ruas este-oeste é a que maiores • Há que estudar a relação entre a altura do edifício e a
sombras proporciona no Verão. largura do espaço livre, sejam ruas, espaços verdes
ou públicos em função do gasóleo.
2.2.4. Parcelamento
• Além disso, há que assegurar o acesso ao sol das
A configuração das parcelas, junto com os demais parâme- habitações. A separação entre os limites e a estrada
tros de ordenação da cidade vão condicionar a posição dos não deve prejudicar a insulação dos edifícios adja-
edifícios e, portanto, a sua eficiência energética. centes.

• Configurar os terrenos de modo a que os edifícios • Para verificar o cumprimento da condição de acesso
possam instalar a sua fachada principal com orien- ao sol é recomendável realizar um estudo gráfico de
tação a sul procurando padrões não rectangulares. A sombras em planta. Portanto, pode-se exigir na docu-
orientação a sul é aquela que melhor aproveita os mentação necessária no Plano de Ordenamento
sistemas passivos de climatização. Urbano (POU), o plano de projecção de sombras capítulo 06
permanentes e projectadas na ordenação proposta.
• Desenhar parcelas de terreno que não determinem a
edificação com grande profundidade. A tipologia de • Deve instalar-se o edifício no terreno de modo a
profundidade reduzida é preferível quando comporta maximizar o seu acesso ao sol.
a disposição de habitações com duas fachadas
opostas, pela influência que comporta sobre a venti- • Onde seja necessário controlar o regime de ventos
lação natural cruzada, e garante que qualquer habi- nocivos há que utilizar a topografia e as barreiras
tação tenha sempre uma fachada melhor orientada. vegetais para desviar ou reduzir as correntes de ar
sem diminuir o acesso ao sol. O vento considera-se
nocivo porque no Inverno aumentam significativa-
2.2.5. Posicionamento da edificação mente as perdas que se produzem através das juntas
e separação entre edifícios das aberturas.
Deve-se pensar a posição do edifício tendo em conta o
microclima, a insulação, a contaminação acústica, a venti- • Se a zona urbana vai acolher diferentes usos, estes
lação, e todos aqueles parâmetros cujo controle possa devem instalar-se da forma mais adequada.
incrementar o potencial de poupança energética.
• É necessário que as fachadas principais com orien-
tação de componente +90º a sul contenham arvori-
128
zação de protecção solar.

• Seleccionar as espécies mais apropriadas tendo em


conta a sua altura e maturidade, a forma da sua coroa
e as variações de estação para estação que a sua
folhagem apresenta e a densidade dos ramos, (a
penetração do sol no Inverno pode variar desde os
20% aos 85% entre espécies e com oscilações de
20% dentro da mesma espécie).

• Para instalar árvores e plantas na urbanização, há que


fazer um cálculo prévio das sombras que projectam.

• Controle do vento, favorável ou desfavorável desde a


vegetação. Quando seja necessária a refrigeração há
que utilizar a topografia e a vegetação para canalizar
o vento ao redor do edifício e assegurar assim a
ventilação natural.

• O planeamento deve ter como objectivo a racionali-


zação da gestão da energia consumida na rede de
Habitação sustentável FUJY em Madrid. espaços públicos.
Fonte: FUJY.

1. Incorporação de tecnologias que visem a


poupança energética na iluminação pública.
2.2.6. A urbanização, vegetação urbana
e zonas verdes
2. Utilização de lâmpadas de vapor de sódio a alta
Deve-se utilizar a urbanização e as zonas verdes tanto para pressão na iluminação pública onde seja neces-
a poupança energética como para o controlo climático. sária luz branca.

• Reduzir o efeito ilha de calor nas áreas urbanas 3. Utilização do nível de luz para a hierarquização
densas e com edifícios altos, mantendo os fluxos das vias.
naturais de ar frio ou dotando-as de parques verdes
que incluam elementos de água para contribuir para
a refrigeração por evaporação. 2.3. Factores que influenciam o consumo
de energia dos edifícios
1. Utilizar árvores de folha caduca e coroa larga Os factores que têm maior influência no consumo de
para proteger os pisos inferiores das habitações energia dos edifícios foram agrupados da seguinte forma:
no Verão e permitir o acesso do sol no Inverno.
• Número de edifícios: devido ao aumento no número
2. Utilização de pavimentos absorventes do calor de edifícios de habitação e do sector terciário tem
nos climas quentes ou muito expostos. como consequência um maior consumo de energia.

3. Incorporar sistemas de filtro verde ou porosos No sector doméstico a desaceleração do aumento da popu-
na urbanização, pelas suas condições de abso- lação não se traduziu numa estabilização do consumo de
rção da radiação solar, sua baixa temperatura, energia, já que houve um aumento do número de unidades
sua permeabilidade; em suma, para favorecer o familiares, mas com uma redução no número de pessoas
comportamento térmico do solo. que as compõem. Um maior número de casas traduz-se
num aumento do consumo para aquecimento, dado que
4. Utilizar a água, em forma de fontes ou lençóis este está mais ligado à superfície da habitação, do que ao
de água que facilitem a evaporação e a refrige- número de pessoas que nelas habitam, ao contrário daquilo
ração do ar circulante. que acontece com o consumo de água quente sanitária.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• O clima: a temperatura exterior, a radiação solar, o - As condições de operação e funcionamento do


número de horas de sol, etc. são factores que edifício: refere-se ao horário de funcionamento, ao
129
afectam a procura de energia dos edifícios. número de ocupantes, à variabilidade destes no
tempo, hábitos de higiene, por exemplo, na procura
As características climáticas que se encontram nas distintas de água quente sanitária; as condições de conforto
zonas de Portugal são tão diversas que é obrigatório distin- que há que manter no seu interior, etc.
gui-las. Segundo o Regulamento das Características de
Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE), para a limi- - O rendimento das instalações térmicas e da
tação da procura energética estabelecem-se 6 zonas climá- iluminação: a melhoria do nível de vida no nosso
ticas em função do rigor climático do Inverno (I1,I2,I3) e do país favoreceu a instalação de um maior número de
Verão (V1, V2, V3), tendo por base a variável graus dias de sistemas de aquecimento e ar condicionado, o que
aquecimento. As zonas de Verão estão divididas em região se traduziu também num maior consumo energé-
Norte e Sul sendo que a região sul abrange toda a área a sul tico. O rendimento médio por estação destas insta-
do rio Tejo e ainda os seguintes concelhos dos distritos de lações - que depende dos rendimentos parciais dos
Lisboa e Santarém: Lisboa, Oeiras, Cascais, Amadora, equipamentos e do sistema seleccionado, junta-
Loures, Odivelas, Vila Franca de Xira, Azambuja, Cartaxo, mente com a fonte de energia utilizada - tem

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


Santarém. influência também no consumo de energia.

As zonas climáticas e dados climáticos de referência do


continente, encontram-se tabelados, indicando-se o zona- 3. Eficiência energética na habitação
mento climático discriminado por concelhos.

As zonas climáticas e os dados climáticos de referência 3.1. Eficiência energética e


sofrem alterações, em função da altitude dos locais e a sua sustentabilidade
localização relativamente á faixa litoral. Para as regiões
autónomas da Madeira e dos Açores as zonas climáticas de A política energética, nas suas diversas vertentes, é um
referência são I1 e V1. factor importante do crescimento sustentado da economia
portuguesa e da sua competitividade, pela sua capacidade
- A envolvente do edifício: isto é, as características em criar condições concorrenciais favoráveis ao desenvolvi-
térmicas dos recintos que constituem a camada mento de empresas modernas, eficientes e bem dimensio-
envolvente do edifício, como fachadas, janelas, nadas, pelo seu efeito potencial na redução do preço dos
telhados ou solo. factores e, também, pela sua capacidade em gerar novo

Figura 1
Mapa das Zonas Climáticas de Portugal

capítulo 06
investimento em áreas com uma elevada componente
tecnológica. Paralelamente, a política energética deve arti- 3.2. Legislação energética em edifícios
130
cular-se de modo estreito com a política de ambiente, inte-
grando a estratégia de desenvolvimento sustentável do 3.2.1. Directiva 2006/32/CE
País.
Esta directiva trata da eficiência do uso final da energia e
Uma das medidas que contemplam estes mesmos pressu- dos serviços energéticos e revoga a anterior directiva 93/76/
postos, foi a Resolução do Conselho de Ministros CEE
nº169/2005, de 24 de Outubro, que aprova a Estratégia
Nacional para a Energia, no que respeita à linha de orien- A finalidade da presente directiva é promover a melhor
tação política sobre eficiência energética. remuneração da eficiência no uso final de energia nos Esta-
dos-Membros:
A mudança legislativa produzida pela aprovação da Direc-
tiva Europeia 2002/91/CE sobre eficiência energética na • Fornecendo os objectivos orientados, assim como os
edificação e a sua transposição para a legislação portuguesa mecanismos, os incentivos e as normas gerais insti-
aliada a estas linhas de orientação são uma iniciativa muito tucionais, financeiras e jurídicas necessárias para
relevante no combate às alterações climáticas, contribuindo eliminar os obstáculos existentes no mercado e os
para uma maior racionalização dos consumos energéticos defeitos que impeçam o uso final eficiente da
nos edifícios e para a prossecução de uma das medidas do energia.
Programa Nacional para as Alterações Climáticas, aprovado
pela Resolução do Conselho de Ministros nº 119/2004, de • Criando as condições para o desenvolvimento e o
31 de Julho, eficiência energética nos edifícios, pelo fomento de um mercado de serviços energéticos e
impulso que é dado ao cumprimento dos regulamentos para o fornecimento de outras medidas de melhoria
relativos aos sistemas energéticos e de climatização dos da eficiência energética destinadas aos consumi-
edifícios e às características de comportamento térmico dores finais.
dos edifícios.
Uma maior eficiência do uso final da energia contribuirá
Actualmente são vários os documentos legais postos em também para a diminuição do consumo de energia primária,
marcha para dar resposta a estes novos requisitos aquando ao reduzir as emissões de CO2 e demais gases de efeito
a transposição da Directiva Europeia 2002/91/CE em 2006 estufa e com isso prevenir as mudanças climáticas peri-
para a ordem jurídica nacional: gosas. Estas emissões continuam a aumentar, o que difi-
culta cada vez mais o cumprimento dos compromissos de
Quioto. As actividades humanas relacionadas com o sector
• Decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril, que assegura a da energia são responsáveis até 78% das emissões de
melhoria do desempenho energético e da qualidade gases com efeito estufa da Comunidade.
do ar interior dos edifícios (SCE):
3.2.2. Directiva 2002/91/CE
- Portaria nº 461/2007 de 5 de Junho, que define a
calendarização da aplicação do SCE; A Directiva 2002/91/CE, de 16 de Dezembro de 2002 rela-
tiva à eficiência energética dos edifícios, tem como objec-
- Portaria nº 835/2007 de 7 de Junho, que define o tivo fomentar a eficiência energética na edificação, e tem
valor das taxas de registo das DCR’s e dos CE no em conta as condições climáticas exteriores e as particula-
SCE; ridades locais, assim como os requisitos interiores e a
relação custo-eficácia. A sua transposição faz-se, entre
- Portaria nº10250/2008 de 8 de Abril, define o modelo outros mecanismos, com as exigências do SCE.
do certificado energético;
Antes de continuar definiremos alguns termos que
• Decreto-lei nº 79/2006 de 4 de Abril, regulamento aparecem nesta directiva e que são de grande importância
dos sistemas energéticos de climatização em edifí- no quadro no qual nos encontramos:
cios (RSECE).
• Eficiência energética de um edifício: é a quantidade
• Decreto-lei nº80/2006 de 4 de Abril, regulamento das de energia realmente consumida ou que se calcula
características de comportamento térmico dos edifí- necessária, para satisfazer as distintas necessidades
cios (RCCTE). associadas a um uso standard do edifício, que poderia
incluir, entre outras coisas, o aquecimento, o arrefe-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

cimento da água, a refrigeração, a ventilação e a possam comparar e avaliar a eficiência energética do


iluminação. A dita magnitude, segundo a citada edifício. O certificado deverá vir acompanhado de reco-
131
magnitude, deverá manter-se reflectida em um ou mendações para a melhoria da relação custo-eficácia
mais indicadores quantitativos calculados tendo em da eficiência energética.
conta o isolamento, as características técnicas da
instalação, o projecto, a orientação em relação com D. Inspecções periódicas de caldeiras e sistemas de
os aspectos climáticos, a exposição solar e a ar condicionado com vista à redução do consumo de
influência de construções próximas, a geração de CO2.
energia própria e outros factores, incluindo as
condições ambientais interiores que influenciam a Os Estados-Membros asseguram que, quando os edifícios
procura de energia. sejam construídos, vendidos ou alugados, o proprietário
coloque à disposição do possível comprador ou inquilino,
• Certificado de eficiência energética de um edifício: é conforme o caso, um certificado de eficiência energética. A
um certificado reconhecido pelo Estado-Membro, ou validade do certificado não excederá os dez anos.
por uma pessoa jurídica designada por ele, que inclui
a eficiência energética de um edifício calculada com Para habitações ou locais destinados ao uso independente

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


recurso a uma metodologia determinada. situados num mesmo edifício, a certificação poderá
basear-se numa certificação única de todo o edifício, no
Esta directiva estabelece uma série de requisitos: caso de aquele dispor de um sistema de aquecimento
centralizado, ou na avaliação representativa do mesmo.
A. Adoptar uma metodologia de cálculo da eficiência
energética integrada dos edifícios. O certificado de eficiência energética de um edifício deverá
incluir valores de referência tais como a legislação vigente
Esta metodologia deverá integrar: e valorações comparativas, com a finalidade de que os
consumidores possam comparar e avaliar a sua eficiência
1. Características térmicas do edifício: comparti- energética. O certificado deverá ir acompanhado de reco-
mentos exteriores e interiores. mendações para a melhoria da relação custo-eficácia da
eficiência energética.
2. Instalação de aquecimento e de água quente e
suas características de isolamento. O objectivo dos certificados limitar-se-á ao fornecimento de
informação, e quaisquer efeitos destes em acções judiciais
3. Instalação de ar condicionado. ou de outro tipo serão decididos em conformidade com as
normas nacionais.
4. Ventilação.
3.2.3. SCE
5. Instalação de iluminação artificial.
O Decreto-lei nº 78/2006 de 4 de Abril aprova o Sistema capítulo 06
6. Disposição e orientação dos edifícios, incluindo as Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar
condições climáticas interiores. Interior nos Edifícios (SCE) e transpõe parcialmente para a
ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2002/91/CE, do Parla-
7. Sistemas solares passivos e protecção solar. mento Europeu, de 16 de Dezembro, relativa ao desem-
penho energético dos edifícios. O SCE é um dos três pilares
8. Ventilação natural. sobre os quais assenta a nova legislação. O SCE tem por
objectivos:
9. Condições ambientais interiores.
• Assegurar a aplicação regulamentar, nomeadamente
B. Aplicação de requisitos mínimos de eficiência no que respeita às condições de eficiência energé-
energética aos edifícios novos, enquanto para os edifí- tica, à utilização de sistemas de energias renováveis
cios existentes será aplicada sempre que sejam objecto e, ainda, às condições de garantia do ar interior, de
de modificações importantes. acordo com as exigências e disposições contidas no
RCCTE e no RSECE;
C. Certificação energética dos edifícios. Este certifi-
cado de eficiência energética deverá incluir valores de • Certificar o desempenho energético e a qualidade do
referência tais como a normativa vigente e valorações ar interior nos edifícios;
comparativas, com o fim de que os consumidores
Figura 2
Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior.
132

Fonte: ADENE

• Identificar as medidas correctivas ou de melhoria de mações ou a forças de segurança que se encontrem


desempenho aplicáveis aos edifícios e respectivos sujeitos a regras de controlo e confidencialidade.
sistemas energéticos, nomeadamente caldeiras e
equipamentos de ar condicionado, quer no que
3.2.4. RCCTE

respeita ao desempenho energético, quer no que
respeita à qualidade do ar interior. O Decreto-Lei 80/2006, de 4 de Abril, Regulamento das
Características de Comportamento Térmico dos Edifícios
Estão abrangidos pelo SCE os seguintes edifícios: (RCCTE) estabelece requisitos de qualidade para os novos
edifícios de habitação e de pequenos edifícios de serviços
• Novos edifícios, bem como os existentes sujeitos a sem sistemas de climatização, nomeadamente ao nível das
grandes intervenções de reabilitação (maior que 25% características da envolvente, limitando as perdas térmicas
do custo do edifício sem terreno), nos termos do e controlando os ganhos solares excessivos. Este regula-
RSECE e do RCCTE, independentemente de estarem mento impõe limites aos consumos energéticos para clima-
ou não sujeitos a licenciamento; tização e produção de águas quentes, num claro incentivo à
utilização de sistemas eficientes e de fontes energéticas
• Edifícios de serviços existentes, sujeitos periodica- com menor impacte em termos de energia primária. Esta
mente a auditorias, conforme especificado no RSECE legislação impõe a instalação de painéis solares térmicos e
[área superior a 1000 m2, regularmente em cada 6 valoriza a utilização de outras fontes de energia renovável.
anos (energia) ou 2, 3 ou 6 anos (qualidade do ar)]; A aprovação do actual regulamento RCCTE surgiu, em detri-
mento do Decreto-Lei nº40/90, de 6 de Fevereiro que teve
• Edifícios existentes, para habitação e para serviços, por objectivo principal a melhoria da qualidade térmica da
aquando da celebração de contratos de venda e de envolvente, mediante intervenção na concepção, no
locação, incluindo o arrendamento, casos em que o projecto e construção dos edifícios, constitui um passo
proprietário deve apresentar ao potencial comprador, significativo no sentido das melhorias das condições de
locatário ou arrendatário o certificado emitido no conforto térmico na generalidade dos edifícios.
âmbito do SCE.
O RCCTE, indica as regras a observar no projecto de todos
Excluem-se do âmbito de aplicação do SCE as infra-estru- os edifícios de habitação e dos edifícios de serviços sem
turas militares e os imóveis afectos ao sistema de infor- sistemas de climatização centralizados de modo que:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• As exigências de conforto térmico, seja ele de aque- presente Regulamento, bem como os limites de
cimento ou de arrefecimento, e de ventilação para potência aplicáveis aos sistemas de climatização a
133
garantia da qualidade do ar no interior dos edifícios, instalar nesses edifícios;
bem como as necessidades de água quente sani-
tária, possam vir a ser satisfeitas sem dispêndio • Os termos de concepção, da instalação e do estabe-
excessivo de energia; lecimento das condições de manutenção a que
devem obedecer os sistemas de climatização, para
• Sejam minimizadas as situações patológicas nos garantia de qualidade e segurança durante o seu
elementos de construção provocadas pela ocorrência funcionamento normal, incluindo os requisitos, em
de condensações superficiais ou internas, com termos de formação profissional, a que devem
potencial impacte negativo na durabilidade dos obedecer os principais intervenientes e a observância
elementos de construção e na qualidade do ar inte- dos princípios da utilização de materiais e tecnolo-
rior. gias adequados em todos os sistemas energéticos
do edifício, na óptica da sustentabilidade ambiental;
3.2.5. RSECE
• As condições de monitorização e de auditoria de

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


O Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização funcionamento dos edifícios em termos dos
em Edifícios (RSECE) veio definir um conjunto de requisitos consumos de energia e da qualidade do ar interior.
aplicáveis a edifícios de serviços e de habitação dotados
de sistemas de climatização, os quais, para além dos A entrada em vigor do Sistema de Certificação Energética e
aspectos relacionados com a envolvente e da limitação dos da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE) decorre de
consumos energéticos, abrange também a eficiência e acordo com a calendarização definida na Portaria 461/2007
manutenção dos sistemas de climatização dos edifícios, de 5 de Junho. Esta define que ficam abrangidos pelo
impondo a realização de auditorias energéticas periódicas sistema:
aos edifícios de serviços. Neste regulamento, a qualidade
interior surge também com requisitos relativamente aos • Os novos edifícios destinados à habitação com área
caudais mínimos do ar interior por tipo de actividade e a útil superior a 1000 m² e os edifícios de serviços,
concentrações máximas dos principais poluentes (edifícios novos ou que sejam objecto de grandes obras de
existentes). remodelação, cuja área útil seja superior aos limites
mínimos estabelecidos nos números 1 ou 2 do artigo
A aprovação do actual regulamento RSECE surgiu, em detri- 27º do RSECE, de 1000 m² ou de 500 m², consoante
mento do Decreto-Lei 118/98 de 7 de Maio e teve por objec- a respectiva tipologia, cujos pedidos de licencia-
tivo principal regulamentar as condições em que se definem mento ou autorização de edificação sejam apresen-
as dimensões e se devem processar a instalação e utili- tados à entidade competente a partir de 1 de Julho
zação de equipamentos e sistemas dos edifícios com de 2007;
sistemas energéticos de aquecimento e ou arrefecimento,
de forma a assegurar a qualidade das respectivas pres- • Todos os edifícios novos, independentemente da sua capítulo 06
tações, com respeito pela segurança das instalações. área ou fim, cujos pedidos de licenciamento ou auto-
rização de edificação sejam apresentados à entidade
O novo RSECE, estabelece: competente a partir de 1 de Julho de 2008;

• As condições a observarem no projecto de novos • Todos os edifícios, a partir de 1 de Janeiro de 2009.


sistemas de climatização, nomeadamente os requi-
sitos em termos de conforto térmico, renovação,
3.3. Classificação energética de edifícios
tratamento e qualidade do ar interior, que devem ser
assegurados em condições de eficiência energética
através da selecção adequada de equipamentos e a A classificação do edifício segue uma escala pré-definida
sua organização em sistemas; de 7+2 classes (A+, A, B, B-, C, D, E, F e G), em que a
classe A+ corresponde a um edifício com melhor desem-
• Os limites máximos de consumo de energia nos penho energético, e a classe G corresponde a um edifício
grandes edifícios de serviços existentes e para todo de pior desempenho energético. Embora o número de
o edifício, em particular, para a climatização, previsí- classes na escala seja o mesmo, os edifícios de habitação
veis sob condições nominais de funcionamento para e de serviços têm indicadores e formas de classificação
edifícios novos ou para grandes intervenções de diferentes.
reabilitação de edifícios existentes que venham a ter
novos sistemas de climatização abrangidos pelo
134

Etiqueta de Desempenho Energético.

Nos edifícios novos (com pedido de licença de construção potência instalada, é calculada a partir dos valores do
após entrada em vigor do SCE), as classes energéticas IEEnom, IEEref e do valor de um parâmetro S, em que:
variam apenas entre as classes A+ e B-. Os edifícios exis-
tentes podem ter qualquer classe. • IEEnom - Índice de eficiência energética nominal
(valor obtido por simulação dinâmica com base nos
A certificação energética permite, aos utentes, comprovar perfis nominais definidos no RSECE, de acordo com
a correcta aplicação da regulamentação térmica e da quali- a tipologia do edificio);
dade do ar interior em vigor para o edifício e para os seus
sistemas energéticos, bem como obter informação sobre o • IEEref - Índice de eficiência energética de referência
desempenho energético em condições nominais de utili- (valor indicado no anexo XI do RSECE de acordo com
zação, no caso dos novos edifícios ou, no caso de edifícios a tipologia, ou por ponderação de tipologias).
existentes, em condições reais ou aferidos para padrões de
utilização típicos. • S – O valor de S é um valor de referência, correspon-
dente à soma dos consumos específicos para aque-
Desta forma, os consumos energéticos nos edifícios, em cimento, arrefecimento e iluminação, conforme
condições nominais de utilização, são um factor de compa- determinados na simulação dinâmica que deu origem
ração credível aquando da compra ou aluguer de um imóvel, aos valores limites de referência para edifícios novos
permitindo aos potenciais compradores ou arrendadores que constam no regulamento.
aferir a qualidade do imóvel no que respeita ao desem-
penho energético e à qualidade do ar interior. Um Certificado Energético contém diversas informações
tais como, a identificação do imóvel e do Perito Qualificado
As metodologias de cálculo utilizadas na determinação da (PQ), etiqueta de desempenho energético, validade do
classe energética de um edifício dependem da sua tipo- certificado, descrição sucinta do imóvel, descrição das
logia. soluções adoptadas, resumo/síntese das medidas de
A Classificação Energética de edifícios de habitação (com e melhoria, entre outros campos que são específicos do
sem sistemas de climatização) e pequenos edifícios de edifício considerado.
serviços sem sistemas de climatização ou com sistemas
de climatização inferior a 25 kW de potência instalada, é
calculada a partir da expressão R = Ntc/Nt, em que “Ntc” 3.3. Softwares inerentes ao processo
representa as necessidades anuais globais estimadas de certificativo
energia primária para climatização e águas quentes e o
“Nt” o valor limite destas. 3.3.1. Solterm


A Classificação Energética de edifícios de serviços com O SolTerm é um programa de análise de desempenho de


sistemas de climatização superior ou igual a 25 kW de sistemas solares, especialmente ajustado às condições
climáticas e técnicas de Portugal.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

A análise de desempenho de um sistema solar é feita no Este software permite manter uma base de dados de
SolTerm via simulação energética sob condições quase-es- soluções de construção para utilizar na descrição dos
135
tacionárias: isto é, são simulados os balanços energéticos diversos edifícios sendo possível definir os edifícios a licen-
no sistema em intervalos curtos (10 minutos), durante os ciar utilizando soluções existentes bem como utilizar novas
quais se considera constante o estado do ambiente e o do soluções, efectuando os cálculos necessários das necessi-
sistema. dades do edifício, integrando para isso uma base de dados
de anos climáticos representativos dos 308 concelhos de
O SolTerm constituiu-se como referência para cálculo de Portugal.
incentivos governamentais à energia solar; e actualmente é
o software a ser utilizado na contabilização da contribuição
de sistemas de energias renováveis para o balanço energé-
tico de edifícios, no contexto do Sistema de Certificação de
Edifícios.

3.3.2. STE – Simulação Térmica de Edifícios

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


O STE é um programa que se baseia numa simulação
horária anual de um espaço monozona, para o cálculo das
necessidades de aquecimento e arrefecimento para manter Imagem do Software STE.
o espaço à temperatura interior de referência do RSECE
para as estações de aquecimento e arrefecimento. O soft-
ware efectua o balanço dinâmico do espaço contabilizado,
em cada hora, o balanço entre as perdas e os ganhos
térmicos, pelos vãos envidraçados e pela envolvente opaca,
bem como os ganhos internos. Este método pode também ser considerado como simu-
lação detalhada multizona desde que aplicado isoladamente

capítulo 06

Imagem do Software Solterm.


a cada zona distinta de um edifício e os resultados sejam • Requisitos do SCE, nomeadamente a afixação da
adequadamente adicionados para obter o desempenho cópia do certificado válido em local acessível e bem
136
energético global do edifício desta forma esta aplicação visível junto à entrada.
tem como objectivo principal a emissão das fichas e das
folhas de cálculo do RSECE e RCCTE necessárias ao licen-
ciamento de edifícios. 5. Climatização eficiente

Para a simulação dinâmica detalhada e unicamente para


efeitos do RSECE, este obriga a utilização de um programa
5.1. Situação de partida
acreditado pela norma ASHRAE 140-2004. Em Portugal, o crescimento médio anual dos consumos de
energia nos edifícios de habitação, entre 1990 e 2000, foi
de 3,7% (Fonte: Energia Portugal 2001), correspondendo
4. Requisitos da aplicação das novas
no ano de 2000 a cerca de 2,15Mtep, ou seja, a 13% dos
normativas consumos de energia final em termos nacionais. Uma das
razões deste crescimento foi o processo de introdução de
Os requisitos a verificar no âmbito dos novos regulamentos, equipamentos nas casas portuguesas, principalmente elec-
diferem de acordo com a tipologia do edifício. No âmbito do trodomésticos, pequenos equipamentos de ar condicio-
RCCTE os requisitos de verificação regulamentar são apli- nado e criação de melhores condições para a instalação de
cáveis a edifícios novos aquando da emissão das licenças sistemas de aquecimento e água quente sanitária.
para construção e utilização e distinguem-se por:
Em termos de utilizações finais, os consumos de energia
• Requisitos energéticos, nomeadamente coeficientes nos edifícios residenciais distribuem-se aproximadamente
de transmissão térmica máximos admissíveis em da seguinte forma: cozinhas e águas quentes sanitárias
zona corrente e zona não corrente da envolvente (AQS) 50%, iluminação e equipamentos (electrodomés-
opaca, factor solar máximo admissível dos vãos envi- ticos) 25%, aquecimento e arrefecimento 25%. Estes
draçados e valores limite para as necessidades nomi- valores representam uma ordem de grandeza, porventura
nais de energia útil (aquecimento, arrefecimento, grosseira quando referidos a sectores populacionais ou a
águas quentes sanitárias) e de energia primária; áreas regionais específicas.

• Obrigatoriedade de recurso a colectores solares para Os edifícios apresentam uma elevada dinâmica de cresci-
produção de AQS; mento, quer em termos de número total de edifícios exis-
tentes, quer em termos de utilização de energia em cada
• Valor mínimo admissível de 0,6 renovações por hora edifício. Se bem que os consumos dedicados ao conforto
de ar novo. não sejam ainda muito significativos em termos de balanço
global, eles têm aumentado muito nos últimos anos, e é de
No âmbito do RSECE os requisitos de verificação regula- esperar que continuem a aumentar pelo facto das exigên-
mentar são aplicáveis, a edifícios novos e existentes a cias de conforto individual e das famílias estarem a genera-
quando da emissão das licenças para construção e utili- lizar-se à medida que o nível de vida em Portugal vai aumen-
zação e emissão de certificados após Auditoria Energética tando.
vertente Energia e QAI e distinguem-se por:
Se não houver, na construção dos edifícios, uma aplicação
• Requisitos energéticos, incluindo a limitação do rigorosa de princípios, regras ou normas que promovam a
consumo nominal específico de energia; utilização racional de energia e a introdução de novas tecno-
logias, esses níveis de conforto térmico tenderão a ser atin-
• Requisitos para concepção de novos sistemas de gidos com maior recurso a sistemas de condicionamento
climatização; de ar interior, o que fará aumentar ainda mais os consumos
globais no sector. Uma das medidas implementadas para
• Requisitos para construção, ensaios e manutenção atingir este objectivo foi a aprovação do já mencionado
das instalações; SCE.

• Requisitos para a manutenção da Qualidade do Ar 5.2. Sistema de climatização


Interior;
O ar condicionado ou climatização tem como função prin-
cipal a geração e manutenção de um adequado nível de
conforto para os ocupantes de um ambiente fechado ou a
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

garantia da manutenção de um conjunto de condições quando aquecemos ou arrefecemos um local não estamos
ambientais para o desenvolvimento de um processo ou a controlar necessariamente factores como a humidade,
137
actividade ambiental dentro de um gabinete. mas apenas introduzimos calor ou frio, isto é, estamos a
actuar sobre a temperatura seca, sem ter um controlo real
Figura 3 sobre as variações causadas na humidade do ambiente.
Percentagem de habitações segundo o tipo de
aquecimento. Actualmente há que ter em mente que os três eixos princi-
pais que regem a evolução da climatização são: a qualidade
do ar interior (QAI), o consumo energético e o impacto
9% ambiental.
10%
Em função do fluído encarregue de compensar a carga
térmica do espaço que se vai climatizar podemos distinguir
diferentes sistemas:

• Sistemas tudo ar. O ar é utilizado para compensar as

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


49% cargas térmicas nos espaços que queremos clima-
32%
tizar, controlando adicionalmente a humidade
ambiente e a renovação do ar, sem existir nenhum
tratamento á posteriori.

Estes sistemas centralizados são constituídos por unidades


Central Colectiva Central Individual que se encarregam de arrefecer ou aquecer, desumidificar
Aparelhos Sem aquecimento ou humidificar o ar dos espaços. Estas unidades podem ser
do tipo expansão directa, como parte de uma unidade autó-
noma compacta (e.g. rooftop) ou modelar, Unidade de Trata-
mento de Ar (UTA) em que neste caso é necessário um
Fonte: IDAE. sistema primário para aquecer ou arrefecer a água que
chega às baterias da unidade.
Climatizar o ar implica controlar uma série de variáveis
físicas no interior do local, como sejam a temperatura, a As unidades terminais que utilizam este sistema de trans-
humidade e a qualidade do ar, factores básicos no controlo missão são essencialmente de dois tipos, ou unidades de
do conforto térmico. Neste sentido, importa destacar que difusão (difusores e grelhas de todos os tipos), ou unidades

Figura 4
Sistema tudo ar.
capítulo 06

Ar para o exterior

Ar de recirculação
Recuperador
de calor
Comporta
de regulação Bateria
Ar do exterior de calor Humidificador
Bateria
de frio Separador de água

Pré-aquecedor Filtro

Ar climatizado

Filtro Ventilador Ventilador


Saída de condensados
de controlo da quantidade de ar a fornecer em cada espaço centrais térmicas onde ficam instalados os grupos produ-
(caixas de portas ou elementos de função semelhante). tores tanto de frio como de calor, mas pelo contrário propor-
138
cionam uma melhor qualidade de ar interior, permitindo a
• Sistema tudo água. São sistemas nos quais a água é possibilidade de arrefecimento gratuito (free-cooling) e a
o agente que se ocupa de compensar as cargas recuperação de calor.
térmicas dos espaços climatizados (apesar de
também poder ter ar exterior para a renovação). Aqui 5.3.1. Aquecimento
podemos encontrar sistemas de aquecimento com
radiadores ou piso radiante. Na actualidade, os sistemas de aquecimento que mais se
estão a instalar nas habitações são as instalações de gás
• Sistema ar-água. Trata-se de sistemas em que, quer a individual. Este não é um bom sistema quando comparado
água como o ar, são utilizados simultaneamente com um sistema colectivo (seja para um ou vários edifícios
como fluidos térmicos para compensar as cargas dos de habitações), que é mais barato e mais eficiente do ponto
espaços. A solução mais frequente deste tipo de de vista energético. Este facto deve-se a que as caldeiras
instalações são os ventilo-convectores, neles, o ar grandes têm um rendimento maior, ao mesmo tempo que
(normalmente procedente da mesma divisão que se o volume de consumo de combustível permite aceder a
deseja climatizar) é feito passar através de uma tarifas mais económicas.
bateria de frio ou de calor.
Deve existir uma manutenção cuidada das caldeiras, já que
• Sistemas de expansão directa. Trata-se de insta- uma caldeira com pouca manutenção consome 15% a mais
lações nas quais o fluido que se encarrega de de energia, devido a uma combustão deficiente. De igual
compensar as cargas térmicas do local é o fluido forma devem-se purgar os radiadores para eliminar o ar
frigorigéneo. Dentro destes sistemas podemos presente neles, pois dificulta a transmissão do calor.
englobar os pequenos equipamentos autónomos
(split e multisplit). A sua regulação pode ser tudo ou Quanto ao tipo de caldeiras, as mais eficientes são as de
nada ou então um sistema variável com recurso a um baixa temperatura e mais ainda as de condensação, já que
inversor. poupam até uns 25% de energia comparativamente às
convencionais.
Os split’s são muito utilizados no âmbito doméstico e têm
múltiplas configurações. São compostos por uma unidade Um sistema que na actualidade se está a adoptar em muitas
normalmente colocada no exterior onde se situam o habitações é o aquecimento por piso radiante. É um sistema
condensador e o compressor e outra localizada no interior tudo água no qual substituímos os radiadores por tubos de
do espaço a climatizar (evaporador). aquecimento que operam embutidos, no pavimento, e
conseguem-se desta forma grandes superfícies de trans-
• Multisplits (VRV ou CRV). Uma unidade condensa- ferência de calor.
dora serve vários evaporadores (existe a possibili-
dade de um sistema adicional que garante a reno- Ao aquecer-se o pavimento todo por igual anulam-se os
vação do ar). efeitos de superfice fria e consegue-se um aquecimento
suave e uniforme que proporciona maior conforto e bem-
estar, já que o ar não perde a sua humidade.
5.3 . Climatização
A poupança associada à utilização deste sistema em relação
Neste ponto vamos tratar dos equipamentos mais utili- aos tradicionais situa-se entre os 10% e os 30%, a insta-
zados hoje em dia nas habitações, sem esquecer outras lação é no entanto mais cara.
possíveis instalações.
Outros sistemas de aquecimento, como o eléctrico (com
Para climatizar edifícios de maior dimensão pertencentes recurso a resistências) não são eficientes, energeticamente
ao sector dos serviços, como edifícios públicos, universi- falando, e só são recomendáveis quando se utiliza uma
dades, hospitais, etc., na maioria dos casos utilizar-se-ão bomba de calor (expansão directa).
soluções mais adaptadas aos grandes espaços. Por
exemplo, em universidades e edifícios com grandes As temperaturas de ajuste são muito importantes, quer
espaços para climatizar, adoptam-se geralmente por para o aquecimento como para o arrefecimento, no
sistemas tudo ar, do tipo UTA. Estes equipamentos são consumo energético de uma casa. Assim sendo, o RCCTE
custosos, precisam de grandes condutas instaladas nos estabelece que as condições interiores de referência são
tectos falsos dos edifícios, necessitando também de uma temperatura do ar de 20ºC para a estação de aqueci-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 5
Esquema de uma Unidade de Tratamento de Ar.
139

Ar de Ar de
entrada saída
Zona de distribuição

Recuperador Sistema de
Ventilador Filtro
de calor distribuição

Separador
de água

Comporta de
regulação Ventilador Instalação Humidificador

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


Ar Ar Zona de recuperação Bateria
fresco recirculado e mistura de calor

Bateria
Filtro Pré-aquecedor Ventilador
de frio

Zona de
Zona de entrada climatização

mento e uma temperatura de 25ºC e 50% de humidade


5.4 . Ventilação
relativa para a estação de arrefecimento.
A Qualidade do Ar Interior (QAI) é uma exigência de salubri-
5.3.2. Arrefecimento dade da qual se tem que encarregar a instalação de climati-
zação de um edifício. A renovação do ar interior consegue-se
Quanto aos equipamentos de ar condicionado, os mais utili- introduzindo uma certa quantidade de ar novo proveniente
zados em habitações são os de tipo expansão directa, do exterior, que combinada com a extracção do ar interior
devido ao seu menor custo e fácil instalação. “viciado”, quando é necessário, eliminar ou diluir os odores capítulo 06
e fumos que se geram no interior pela própria actividade
O consumo de energia eléctrica procedente destes equipa- humana, ou outras actividades que estejam a ser levadas a
mentos de ar condicionado tem vindo a aumentar a nível cabo. A renovação do ar encarrega-se também por propor-
nacional, acompanhando as tendências europeias. Este cionar o oxigénio necessário pelo próprio consumo deste,
aumento torna necessário estabelecer critérios de eficiência devido à respiração dos ocupantes.
energética para estes sistemas. Neste sentido alguns
conselhos para um menor consumo de energia são: A ventilação de qualquer edifício ou espaço está perfeita-
mente regulada mediante o RSECE ou RCCTE que tem em
• Estabelecer como ponto de ajuste de temperatura vista a garantia de qualidade do ar interior.
aos 25 ºC.
Assim, por exemplo, para o caso de habitações (RCCTE)
• Utilizar equipamentos com uma etiquetagem de este diz que a taxa de referência para a renovação do ar,
eficiência energética de classe A. para a garantia do ar interior, é de 0,6 renovações por hora,
devendo as soluções construtivas adoptadas para o edifício
• Colocar as unidades condensadoras (as exteriores) ou fracção autónoma, dotados ou não de sistemas mecâ-
em zonas pouco expostas ao sol, ou quando não haja nicos de ventilação, garantir a satisfação deste valor sob
outra alternativa, cobri-las com toldos ou palas. condições médias de funcionamento.
No caso dos edifícios de serviços (RSECE), no projecto dos trução ou de acabamento ou revestimento não ecologica-
novos edifícios dotados de sistemas de climatização com mente limpos, os sistemas de renovação em novas insta-
140
ventilação mecânica devem ser garantidos os caudais lações de climatização devem ser concebidos para poderem
mínimos de ar novo que constam do Anexo VI do Decreto fornecer, se necessário, caudais aumentados em 50% rela-
de Lei nº 79/2006, tabelados segundo o tipo de actividade. tivamente aos valores tabelados.
Estes caudais garantem a renovação do ar interior e quali-
dade do ar aceitável em espaços em que não haja fontes Como requisito adicional, a velocidade do ar interior não
atípicas de poluentes e sem fumadores. deve exceder os 0,2m/s na maioria dos espaços ocupados
(definindo como indo do pavimento até 2m de altura) e que
Em espaços onde seja permitido fumar servidos por novas quaisquer desequilíbrios radiativos térmicos devem ser
instalações de climatização, os valores tabelados passam a devidamente compensados.
pelo menos, 60 m3/(h.ocupante), devendo estes espaços
ser colocados em depressão relativamente aos espaços Os caudais de ventilação mínimos segundo o tipo de locais
contíguos onde não seja permitido fumar. Em espaços de vêm dados pela tabela seguinte:
não fumadores em que sejam utilizados materiais de cons-

TABELA 1
Caudais de ventilação mínimos.

Fonte: 79/2006
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Os sistemas de climatização que podem resolver de uma grande medida para o aumento da eficiência das insta-
forma mas simples a renovação do ar, a um custo económi- lações, apesar de serem geralmente soluções com um
141
co-técnico mais baixo, são os sistemas tudo ar. Estes custo económico elevado. O RSECE obriga mesmo que as
sistemas normalmente só são instalados em grandes edifí- caldeiras com mais de 1000 kW de potência possuam quei-
cios em que os espaços a climatizar apresentam um volume madores modulantes.
considerável.
Os sistemas free-cooling são dispositivos que são inte-
Para o caso das habitações e pequenos locais são muitas grados dentro das Unidade de Tratamento de Ar (UTAs).
vezes utilizados sistemas tudo água ou de expansão directa. Contam com três dampers colocados de tal forma que,
Estes últimos contam com alguns equipamentos nos quais quando a temperatura ou entalpia exterior (dependendo se
se admite ar do exterior, podem no entanto apresentar são por temperatura ou entálpicos) é menor que a do ar de
alguns problemas relativos a qualidade do ar, do próprio retorno, utiliza o ar frio exterior para arrefecer o espaço,
local que se vai climatizar, uma vez que as suas unidades com a consequente poupança de energia. Nos sistemas
terminais dispõem de um filtro muito sensível e muitas tudo ar, com um caudal de ar de insuflação superior a 10000
vezes insuficiente. m3/h, é obrigatória a instalação de dispositivos que permitam
o arrefecimento gratuito, excepto nos casos em que seja

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


No caso do sistema tudo água, a ventilação requer um demonstrada em projecto a não viabilidade económica da
sistema independente com um pré-tratamento do ar sua instalação.
primário.
É igualmente obrigatório o recurso à recuperação de energia
de rejeição, na estação de aquecimento, com uma eficiência
5.5. Melhoria e optimização da eficiência mínima de 50%, ou recuperação de calor equivalente,
energética dos equipamentos sempre que a potência térmica de rejeição em condições
de projecto seja superior a 80 kW, excepto nos casos em
Existem formas diferentes para conseguir uma poupança que seja demonstrada em projecto que não há viabilidade
de energia nos edifícios: económica da sua instalação.

1. Diminuir o consumo de energia nos edifícios. O estudo de viabilidade económica de sistemas de co-ge-
ração é obrigatória nos seguintes tipos de edifícios com
2. Substituir as fontes de energia convencionais por mais de 10000 m2 de área útil.
energias renováveis (solar térmica, fotovoltaica,
biomassa ou geotérmica). • Estabelecimentos de saúde com internamento;

3. Utilizar sistemas e equipamentos térmicos mais • Empreendimentos turísticos, quando aplicável, de 4


eficientes. ou mais estrelas;

4. A recuperação de calor e o arrefecimento gratuito • Centros comerciais; capítulo 06


(free-cooling).
• Piscinas aquecidas com mais de 200 m2 de plano de
Para poupar energia e optimizar o funcionamento das água.
nossas instalações é necessário adequar a demanda que
temos às nossas reais necessidades (através de uma boa
regulação e segmentação de potência), assim como os 6. Aproveitamento da luz natural.
tempos de funcionamento dos nossos sistemas de climati- Iluminação artificial
zação às necessidades do edifício.

Os Regulamentos Portugueses exigem a utilização de 6.1. Implementação e aproveitamento


fontes de energia renováveis para determinados usos, da iluminação natural
como, por exemplo, em piscinas ou para o caso das Águas
Quentes Sanitárias (AQS), sendo necessário a falta de viabi- As janelas e os sitemas de iluminação com luz natural
lidade económica perante as entidades certificadoras. influenciam não só a distribuição deste, como também na
carga térmica de um edifício. A utilização de luz natural
A utilização de equipamentos mais eficientes como quei- como sistema de iluminação pode ajudar a reduzir as
madores modulantes em caldeiras, bombas de caudal entradas de calor no edifício devido à favorável relação de
variável ou caldeiras de condensação, contribuem em lúmens por watt de luz natural, e portanto, a poupar energia
142

Corredores com iluminação natural.

de arrefecimento. O controlo da iluminação em resposta à desta e a sua capacidade para ser utilizada como meio de
luz natural é frequentemente combinada com o controlo ventilação natural.
térmico. Quando não há ocupantes numa sala, o controlo
térmico reduzirá os ganhos caloríficos no Verão fechando as As janelas orientadas para Sul proporcionam níveis de lumi-
blindagens durante o dia para manter fora o calor e abrindo nosidade elevados e praticamente constantes, grande
as telas ou cortinas durante a noite para arrefecer por ganho de energia no Inverno e média no Verão. Se estão
radiação. Esta actuação pode inverter-se no Inverno. orientadas a Este e a Oeste os níveis de iluminação são
médios e variáveis ao longo do dia, com grande ganho de
O principal elemento para o aproveitamento da luz natural é energia no Verão e baixo no Inverno. A orientação Norte
a janela. Tanto a forma desta, como a sua posição dentro proporciona os níveis de luminosidade mais baixos, apesar
dos espaços que se quer iluminar e a sua orientação e de constantes ao longo do dia, com um escasso ganho de
tamanho influenciam em grande medida a qualidade da luz energia.
que fornecem.
A luz natural que penetra através das janelas pode criar uma
Assim sendo, quanto mais acima esteja situada a janela, variação agradável na iluminação e facilitar uma modelagem
maior penetração terá de luz solar. Se está centrada, a e uma distribuição de candeeiros específica no interior.
distribuição interior da luz será melhor, apesar de causar Tudo isso contribui para um sentimento geral de satisfação
maior encadeamento. A sua forma influenciará em grande visual experimentada pelos utilizadores do edifício, sempre
medida a distribuição da luz dentro do espaço, a qualidade e quando não exista encadeamento por parte do sol. Este
encadeamento pode evitar-se através da instalação de
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

persianas, grades ou telas, elevando o nível de iluminação fachada de vidro, consistem em proporcionar luz do sol,
eléctrica da zona adjacente à luz natural com o objectivo de iluminação diurna, ventilação, visão, isolamento, assim
143
compensar a elevada luminosidade das janelas. como regular o relógio biológico do corpo.

Figura 6
6.2 . Iluminação artificial Etiquetagem energética.

Em Portugal a iluminação representa quase 20% do gasto


total da energia eléctrica consumida. A obtenção desta
energia gera 6% dos gases de efeiro estufa e lança para a Energia Lâmpadas A etiqueta energética
atmosfera um total de 17,7 Mt de CO2. das lâmpadas

Mais eficiente I. Classe energética a que


pertence, segundo a
A iluminação nos subsectores do comércio e serviços,
A eficiência energética da
seguidos pelo residencial e a iluminação pública, são os lâmpada.
que têm maior repercussão no consumo B II. Fluxo luminoso da
lâmpada em lúmenes.
C

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


Existe uma etiquetagem obrigatória que nos informa sobre Mede a quantidade de luz
I que a lâmpada fornece
a eficiência energética segundo o tipo de lâmpadas, que as D
classifica em sete tipos desde A (mais eficiente) a G (menos III. Potência absorvida

eficiente). E pela lâmpada.


Energía necessária
F para que ilumine.
Se realizarmos uma comparação entre os balastros, elec- IV. Ciclo de vida médio
trónicos ou electromagnéticos, podemos chegar às G nominal da
seguintes conclusões: lâmpada. Quantidade
Menos eficiente
de tempo que a
lâmpada vai funcionar
• Redução de 25% da energia consumida, respectiva- XYOO Lumen II com as condições de
fluxo luminoso antes
mente a um equipamento electromagnético. XYZ Watt III expostas.
XY00 h IV
• Incremento da eficiência da lâmpada.
Fonte: IDAE.
• Incremento da vida útil das lâmpadas até 50% e
redução dos custos de manutenção.
Através de uma correcta distribuição das janelas e da opti-
• Redução da carga térmica do estabelecimento devido mização dos vidros empregues, pode-se melhorar o
à menor geração de calor. Isto resulta particular- conforto dos ocupantes do edifício reduzindo o consumo
mente importante para diminuir o consumo do de energia associado com a entrada e emissão de luz pelas
sistema de refrigeração. superfícies opticamente transparentes. capítulo 06

• Luz agradável, sem cintilação nem efeito de estro- TABELA 2


boscopia. Quadro de poupanças comparativas.

Poupança Poupança
6.3. Optimização da iluminação Bomba
Lâmpada de baixo
consumo que
em kWh em custo de
convencional durante electricidade
natural-artificial a substituir
oferece a mesma
a vida da durante a vida da
intensidade de luz
lâmpada lâmpada (euros)
Em geral, os edifícios utilizam energia de várias formas. Em
habitações, o maior gasto de energia é em iluminação, 40 W 9 W 248 25
aparelhos domésticos e água quente. Em espaços como
oficinas, escolas, bibliotecas, aeroportos e armazéns, os 60 W 11 W 392 39
custos da iluminação artificial constituem cerca de 50% do 75 W 15 W 480 48
uso total de energia e usam-se também computadores,
fotocopiadoras e ar condicionado. O uso da luz do dia 100 W 20 W 640 64
combinado com a iluminação de alto rendimento através de
vidros adequados pode conduzir a 30% - 50% de poupança 150 W 32 W 944 94
e em alguns casos até aos 70%. As funções principais do
Fonte: IDAE.
vidro como elemento de edifício, seja numa janela ou
A tendência actual está encaminhada no sentido de apro- ou translúcidas, clarabóias, cúpulas, tectos translúcidos ou
veitar a luz natural ao máximo. Não apenas tendo em conta envolventes de tipo membrana.
144
factores estéticos ou de poupança de energia, mas também
o aproveitamento do conforto visual que origina quando A luz natural pode trazer incrementos na eficiência energé-
comparada com a luz artificial. Por este motivo, é cada vez tica do sistema de iluminação combinada com sistemas
mais usual o uso de recursos construtivos como galerias, automáticos de regulação da luz artificial. Os sistemas
varandas, átrios, condutas de luz, paredes de cortina solar baseados no controlo da luz natural que penetra num local,

TABELA 3
Características das lâmpadas mais utilizadas em urbanismo e edificação.

Índice de
Tipo Eficácia
Vida útil luminosa Equipamento
reprodução
Imagem Observações Custo
de lâmpada cromática (horas) auxiliar
(0-100)
(lm/W)

Evitar. Consumem 80%


Incandescente 100 1.000 9-17 – mais que as fluorescentes Reduzido
e fluorescentes compactas

Arrancador,
O balastro electrónico reduz
Fluorescente 60-95 8.000-12.000 65-100 balastro e Reduzido
o consumo em 25%
condensador

Correntemente chamadas
Edificação

Equipamento lâmpadas de baixo consumo.


Fluorescente
85 8.000-12.000 45-70 electrónico Demoram a acender. Médio
compacta
incorporado As integradas substituem
directamente as incandescentes.

Ligam instantaneamente.
Elevada intensidade luminosa.
Halogéneo >90 2.000 15-27 – Médio
Curta duração da lâmpada
e reduzida eficácia luminosa.

Halogéneo
Poupança de 30%
de baixo >90 2.000-3.000 18-25 Transformador Médio
no consumo energético
consumo

Vapor de Balastro e Demoram a acender.


50-60 12.000-16.000 30-60 Medio
mercúrio condensador Aplicação em naves de grande altura

Vapor de Arrancador, Demoram a acender. Aplicação


sódio de alta 20-80 10.000-25.000 50-150 balastro e em naves de grande altura com Alto
pressão condensador pouca exigência visual e exteriores

Demoram a acender.
Vapor de só- Arrancador, Aplicação em iluminação pública pela
Urbanismo

dio de baixa 0 6.000-8.000 160-180 balastro e sua alta eficiência e boa percepção Alto
pressão condensador de contrastes. Reprodução
e rendimento da cor baixa.

Arrancador, Demoram a acender.


Halogéneo
60-85 6.000-15.000 75-90 balastro e Aplicaçaõ em naves com exigências Alto
metálico
condensador visuais moderadas ou altas.

Qualidade de iluminação alta.


Halogéneo Arrancador,
Luz brilhante e tamanho compacto.
metálico 80-90 15.000 80-90 balastro e Alto
É recomendável o uso
cerâmico condensador
de balastros electrónicos.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

por meio de fotocélulas, constituem outro método para a


poupança energética.
145

Alguns conselhos para poupar energia e atingir maior


eficiência podem ser:

• Utilizar lâmpadas de baixo consumo e, quando os


espaços que se vão iluminar não sejam de uso
contínuo, instalar detectores de presença.

• A instalação de fotocélulas (em combinação com


balastros electrónicos reguláveis), que façam variar o
fluxo luminoso emitido pelas lâmpadas em função da
variação da luz natural.

• Substituição dos balastros electromagnéticos por

Eficiência e Poupança Energética no Urbanismo e Edificação


electrónicos.

Os valores iniciais de luminosidade podem voltar a


alcançar-se limpando os candeeiros e mudando as lâmpadas
a intervalos convenientes.

• Limpar os candeeiros (para alcançar os valores iniciais


de iluminação) e mudar as lâmpadas que tenham
deixado de funcionar.

• Os átrios, clarabóias, janelas e demais espaços envi-


draçados podem e devem minimizar as nossas
necessidades de iluminação em interiores.

capítulo 06
07 Eficiência e Poupança Energética
no Transporte. Biocombustíveis
• A saturação da rede viária existente causa uma

148
1. Vantagens e impacto do transporte redução da velocidade média de circulação, com o
público e privado consequente aumento dos tempos de viagem,
incluindo para os veículos colectivos de passageiros,
o que origina uma pior qualidade de transporte.
1.1. Impacto do transporte
• Um aumento dos índices e dos custos de congestio-
Nos últimos anos o nosso país experimentou um grande namento, especialmente em grandes cidades.
aumento da mobilidade motorizada, sobretudo nas cidades,
que foi absorvido na sua maior parte pelo veículo particular, • Insegurança rodoviária. Um incremento no número
em deterimento de outros meios alternativos de transporte de acidentes de trânsito. O número de mortes por
público, as viagens a pé ou de bicicleta. milhão de passageiros transportados em veículo
privado é muito mais elevado do que em transporte
O transporte, como qualquer outra actividade humana, público.
produz impacto na natureza e na sociedade. Torna-se
portanto obrigatório avaliar este impacto e fazer um uso • Degradação dos centros urbanos, que sofrem uma
responsável e eficaz do transporte. As consequências da pressão por parte do automóvel, facto não pensado
tendência crescente que se verifica no seu uso são as aquando do projecto e construção dos mesmos.
seguintes.
A poupança energética no transporte permite reduzir o
• Um aumento dos combustíveis e, por isso, das emis- impacto ambiental e social do sector, ao mesmo tempo que
sões. Um dos aspectos directamente ligados ao supõe uma poupança económica importante. Uma forma
consumo de combustíveis fósseis é a emissão de eficaz de cumprir estes objectivos é utilizar o transporte
gases de efeito estufa, que contribuem para o aque- público em lugar do privado que, como veremos a seguir,
cimento global. apresenta importantes vantagens económicas, ambientais
e sociais.
• Maior contaminação atmosférica. Os veículos emitem
para o ar diversos contaminantes prejudiciais para a
saúde. As vias de circulação densamente transitadas 1.2. Diferentes meios de transportes
são as mais susceptíveis de sofrer níveis de contami-
nação atmosférica elevados. A baixa eficiência Dentro do sector do transporte, existe um grande desequi-
ambiental automóvel face ao transporte público e, líbrio na participação dos diferentes meios na mobilidade
logicamente, face às viagens de bicicleta ou a pé, faz total e no consumo energético do sector.
com que a contaminação atmosférica urbana seja
uma das consequências mais graves do aumento O consumo energético do sector do transporte aumentou
continuado do uso do automóvel. consideravelmente nas últimas décadas, com uma partici-
pação cada vez maior dos transportes rodoviários, principal-
• Maior contaminação acústica. Outro aspecto da mente do veículo privado.
contaminação de veículos é o ruído por eles gerado,
principalmente nas zonas urbanas, onde o ruído No entanto, apesar de ser o meio de transporte mais utili-
devido ao trânsito corresponde a 80% do ruído zado, o carro é um modo pouco eficaz em termos energé-
ambiental total. ticos, sobretudo em comparação com o autocarro.

• Aumento do volume de descargas líquidas e resíduos Importa destacar as grandes diferenças que existem entre
sólidos gerados durante a vida útil dos veículos e no um meio de transporte e outro em relação ao consumo
final da mesma. É importante fazer uma adequada específico. Em viagens interurbanas, o carro consome, por
gestão dos veículos depois da sua vida útil, deven- passageiro e quilómetro percorrido, quase três vezes mais
do-se separar cada um dos resíduos e reciclar e/ou do que qualquer autocarro. Estas diferenças são maiores
reutilizar aqueles que seja possível em meios urbanos, nos quais o transporte público é ainda
mais eficiente do que o veículo privado.
• Impacto ambiental e paisagístico produzido pelas
novas infra-estruturas utilizadas para o transporte:
redes de estradas, auto-estradas, bombas de gaso-
lina, etc.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 1
Total de Mercadorias Transportadas na UE por modo de transporte, em 2008.
149

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


Fonte: EUROSTAT

Figura 2
Total de Passageiros Transportados na UE por modo de transporte, em 2008.

capítulo 07

Fonte: EUROSTAT.
Figura 3
Consumos energéticos dos diferentes meios de trans- 1.3. O veículo como meio de transporte
150
porte.
Em Portugal, o parque de automóveis por habitante tem
100,0% sofrido um grande aumento nos últimos anos.
80,0% 17,3
17,3
17,3
Este aumento do número de veículos conduz, para além de
60,0% um incremento de todos os impactos comentados anterior-
40,0% mente, a uma maior ocupação do espaço, que tem maior
relevância em cidade, onde a densidade de veículos é muito
20,0%
52,0 12,2 13,0
elevada. A utilização do transporte público permite uma
_ 52,0 12,2 13,0 52,0 12,2 13,0
redução importante do espaço urbano ocupado.
1990 2000 2004

Estrada Caminho-de-ferro Marítimo Aéreo Outro aspecto chave para comparar o transporte público e
o privado são os custos. Para avaliar o custo total anual
Fonte: Ministério da Indústria, Turismo e Comercio (MITe\C) / Instituto para associado à posse de um veículo, há que ter em conta
a Diversificação e Poupança da Energia (IDAE). custos fixos e variáveis:

• Custos fixos. A parte anual repercutida do custo de


Figura 4 aquisição do veículo, que depende do número de
Consumo comparado dos diferentes meios de transpor- anos que o vamos utilizar, o imposto de circulação, o
te em unidades de energia por passageiro-quilómetro. seguro e os gastos de manutenção.

14 • Custos variáveis. Custo do combustível, gastos de


12
estacionamento, portagens e possíveis reparações.
12,1

10
O custo médio de um utilizador é de 0,25 €/km, ao passo
8 que para um automóvel de tamanho médio este custo pode
chegar aos a 0,34 €/km.
6

4 Para além dos custos directos anteriores que se reper-


2 2,9 2,6 cutem no utilizador, existem custos externos que são
1,8
_ 1 suportados pela sociedade como consequência dos
Autocarro Carro Avião AVE FF.CC. acidentes de trânsito, congestionamentos, contaminação
atmosférica e ruído. Os custos causados pelo congestiona-
Fonte: IDAE. mento do trânsito e os acidentes representam 0,5% e 2%
do Produto Interno Bruto (PIB) da UE respectivamente,
segundo os cálculos da União Europeia.
Figura 5
Carros de turismo por 1.000 habitantes. O índice médio de ocupação dos veículos é de 1,2 pessoas
por veículo, e mais de 75% das deslocações urbanas reali-
700 zam-se em veículos privados com um só ocupante. Adicio-
nalmente, 50% das deslocações de carro são de menos de
600
575 3 km.
500 533
478 488
400
452 Na cidade, o número de deslocações de carro e de trans-
porte público é similar. No entanto, o consumo do trans-
300
276 279 276 porte público representa apenas 2% do consumo total do
243
200 transporte urbano.
170
100
_ Estes dados põem em relevo a importância da utilização do
Itália Alemanha França Espanha EU15 transporte público ou então a consideração da possibilidade
1973 2001 de partilhar o carro com outras pessoas que realizem o
mesmo percurso.
Fonte: IDAE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

contribui para a acidificação do meio ambiente e para a


1.4. Vantagens do transporte público destruição da camada de ozono.
151
Em resumo, as principais vantagens da utilização do trans-
porte público em vez do privado são as seguintes:
2.1. Importância da gestão de frotas
• Menor custo para o utilizador (em muitos casos muito Considera-se uma frota de transporte o conjunto de veículos
menor) que, destinado ao transporte de pessoas ou mercadorias,
depende economicamente da mesma empresa. A rele-
• Grande redução do consumo de energia por pessoa vância do combustível na estrutura de custos das frotas de
e por quilómetro percorrido. transporte torna-as particularmente vulneráveis ao aumento
dos preços do crude e torna-as alvo de uma sociedade cada
• Menos emissões de gases contaminantes e de efeito vez mais preocupada com os fenómenos do meio
estufa. ambiente.

• Menos ruído gerado. A combustão do combustível do motor emite para a atmos-

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


fera dióxido de carbono (CO2), uns 2,6 kg/l e 2,35 kg/l por
• Menor ocupação do espaço e portanto menor cada litro de gasóleo e gasolina consumidos respectiva-
congestionamento mento. A redução no consumo de combustível está asso-
ciada a diminuição de emissões para a atmosfera, especial-
• Em frotas de transporte público é mais simples mente aquelas que se relacionam com os fenómenos do
instalar sistemas de redução de emissões através de aquecimento global do planeta e as mudançãs climáticas.
novas tecnologias, sistemas de propulsão ou combus-
tíveis alternativos. Entende-se por gestão do combustível o projecto e a imple-
mentação de um sistema de controlo e supervisão do
• É possível aplicar conceitos de gestão de frotas para consumo de combustível dos veículos de uma frota de
aumentar a eficiência. transporte com o objectivo de dar um uso mais eficiente a
cada litro de combustível adquirido.
• Aumento da segurança rodoviária ao reduzir o número
de veículos em circulação. Este uso mais eficiente do combustível não só contribuirá
para a melhor conservação do meio ambiente como
• Menor degradação dos centros urbanos. também se traduzirá numa poupança de custos para a
empresa. Adicionalmente, a utilização da redução de emis-
sões na gestão empresarial é um aspecto novo que pode
resultar numa melhoria da imagem da empresa e no conse-
2. Gestão de frotas
quente aumento da carteira de clientes

O desenvolvimento de sistemas de transporte cada vez Figura 6 capítulo 07


mais completos é uma necessidade inerente ao cresci- Benefícios da redução do consumo de combustível
mento económico pela sua contribuição para a melhoria da numa estrutura de custos fictícia.
acessibilidade, integração e coesão do território. O impulso
económico ao qual se assistiu na nossa sociedade nas Uma poupança em combustível de 10% pode aumentar
últimas décadas tem vindo a ser acompanhada de um forte o beneficio em 30%
incremento na procura de mobilidade e trouxe consigo
5,0% 6,5%
maiores exigências ao nível do consumo energético.
15,0% 13,5%

A baixa eficiência energética do sector (é o de maior 80,0% 80,0%


consumo de energia) e a sua dependência quase total das
importações de petróleo, determinam os seus problemas Benefício
ambientais associados. Dos seis gases de efeito estufa
Combustível
considerados no Protocolo de Quioto (dióxido de carbono
(CO2), metano (CH4), óxido de nitrogénio (N2O), hidrofluoro- Outros custos (pessoal,
manutenção, etc.)
carbonetos (HFC), perfluorocarbonetos (PFC), hexafluoruro
de enxofre (SF6), o transporte é responsável pelos três
primeiros (CO2, CH4 e N2O). Adicionalmente, também Fonte: Elaboração própria.
O peso relativo do custo dos combustíveis varia em função consumo, como por exemplo, a colocação da carga,
do tipo de frota considerada. Assim, pode oscilar desde os que afecta a resistência aerodinâmica do veículo.
152
5% para uma pequena frota com baixas quilometragens Outro factor que deve ser levado em linha de conta é
aunais, até os 30% em frotas de grande tonelagem e longa a forma de aquecimento da cabina quando o condutor
distância. Se considerarmos uma frota intermédia na qual do camião deve permanecer nela várias horas, sem
os custos de combustível correspondam a 15% do total, estar o veículo em movimento. Nesse caso, o aque-
uma redução de 10% nos custos de combustível pode cedor da cabina consome até dez vezes menos que
reverter num aumento do benefício até 30% o motor do veículo funcionando em marcha lenta.

2.2.2. Condutor
2.2. Elementos sobre os quais incide
a gestão de frotas A formação dos condutores em técnicas de condução
eficientes é um aspecto fundamental para as frotas de
Na busca da melhoria de eficiência energética, a gestão de transporte. Trata-se da aplicação de uma série de simples
frotas apresenta fudamentalmente três focos de actuação: técnicas que supõem uma modificação a certos hábitos
adquiridos pelos condutores, o que não só incrementa a
segurança, para além de permitir atingir importantes
2.2.1. Veículo
poupanças de combustível e emissões para o meio
No momento da aquisição é importante verificar que o ambiente.
veículo se ajusta às necessidade de potência e transmissão
da frota. Adquirir um veículo que habitualmente não se vai A condução eficiente permite:
utilizar empregando toda a sua potência supõem um
aumento desnecessário no consumo de combustível; do - Poupanças de combustível até os 15%.
mesmo modo, um veículo de duplo eixo de tracção pode
consumir até 3 litros mais por cada 100 km respectiva- - Redução das emissões de CO2.
mente a um simples.
- Diminuição da contaminação acústica.
Uma manutenção adequada das frotas é necessária para
assegurar o funcionamento e segurança dos veículos mas, - Aumento do conforto no veículo.
adicionalmente, pode incidir directamente na diminuição do
consumo de combustível. - Poupança nos custos de manutenção

• Controle dos pneus. Devem-se respeitar as pressões - Melhoria da segurança na condução.


mínimas e máximas recomendadas pelo fabricante.
Com uma pressão incorrecta aumenta o consumo de As empresas devem desenvolver programas de formação
combustível, diminui a velocidade e produz-se um para os seus condutores, em função dos distintos tipos de
desgaste irregular, o que dificulta a condução. veículo que utilizam. Um modelo elaborado permitirá apro-
veitar mais eficientemente os veículos da frota.
• Controle de filtros. O cuidado na sua utilização e a
mudança periódica são parte importante da manu- Está comprovado que a instalação de medidores de
tenção de qualquer veículo. consumo motivam o condutor a tratar de baixar a média;
muitas empresas estabelecem também mecanismos de
- Do estado do filtro do óleo depende em grande incentivos como prémios de produtividade, em função da
medida a vida útil do motor e pode aumentar o diminuição do consumo médio.
consumo do veículo até 0,5%.
2.2.3. Rota
- Um filtro de ar obstruído pode aumentar o
consumo de combustível até 1,5%, na medida As técnicas apresentadas até agora tinham como objectivo
em que altera a mistura de ar e combustível. fundamental a diminuição do consumo por quilómetro
percorrido. A optimização das rotas centra-se por seu lado
- O mau funcionamento do filtro pode aumentar o na redução do número de quilómetros percorridos para
consumo até 0,5%. poupar combustível.

• Existem outros aspectos que o condutor pode prive- Na escolha da rota para um determinado trajecto conside-
ligiar para que não tenha um impacto negativo no ram-se aspectos como o tipo de estrada, a saturação do
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

tráfego previsível e o número de quilómetros que se vão de venda e também disponível na internet (www.
percorrer. Este último aspecto refere-se à escolha do idae.es).
153
veículo mais apropriado, que em princípio será aquele mais
próximo do ponto de recolha; mas no caso de existirem • Também em Espanha existe adicionalmente uma
vários veículos disponíveis, deve considerar-se o consumo etiqueta voluntária, similar à etiqueta de eficiência
médio por quilómetro do veículo e que a capacidade seja a energética dos electrodomésticos. O consumo oficial
mínima necessária para transportar a carga em questão. A de combustível de um carro é comparado com o valor
utilização de sistemas de posicionamento nos veículo faci- médio dos carros postos à venda em Espanha por
lita muito a optimização das rotas. todos os fabricantes com igual tamanho e combus-
tível. A diferença em relação à média, expressa em
Os trajectos sem carga supõem um desperdício de combus- percentagem, é assinalada com uma determinada
tível, pelo que as empresas recorrem cada vez mais a cor e uma letra. Desta forma, os carros que
bolsas de cargas como ferramenta para optimizar a planifi- consomem menos combustível estão classificados
cação das necessidades e evitar viagens sem carga ou como A, B e C (cores verdes); os que mais consomem
cargas não transportadas. Tratam-se de sistemas de infor- pertencem às classes E, F e G (cores vermelhas) e os

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


mação interconectados que permitem pôr em contacto as da letra D (cor amarela) correspondem à média de
agências que necessitem de movimentar mercadorias com consumo da sua categoria.
transportadores que disponham de camiões vazios.
Adicionalmente, os dados oficiais do consumo e emissões
de CO2 devem estar reflectidos nos folhetos promocionais
3. Condução e manutenção eficiente dos fabricantes.

Uma utilização responsável e eficaz do nosso veículo passa Também há que considerar no momento da compra a possi-
pela escolha adequada da compra do automóvel, uma boa bilidade de escolher algum tipo de propulsão alternativa
manutenção deste e uma condução eficiente. como os veículos híbridos, que têm um menor consumo e
emissões, veículos eléctricos se se vão utilizar para
percursos curtos, ou veículos que utilizem combustíveis
3.1. A compra do carro
alternativos, como se verá nas secções correspondentes.
No momento da compra do veículo é necessário considerar
vários aspectos. Um dos mais importantes é o seu
consumo. Com a finalidade de conseguir diminuir as emis- 3.2. A manutenção
sões de CO2 e fomentar a poupança de energia, actual- A manutenção do veículo, para além de ser fundamental
mente a legislação obriga à difusão de informação sobre as para a sua segurança, influencia o consumo de carborante
características energéticas dos veículos novos através de e as emissões produzidas. É importante verificar periodica-
alguns meios: mente o estado geral do motor, níveis de líquidos e filtros
e, sobretudo, a pressão dos pneus, controlando que estão
• Uma etiqueta obrigatória que contém os dados dentro do especificado pelo fabricante. Os principais capítulo 07
oficiais de consumo de combustível e emissões de factores que influenciam o consumo e as emissões são:
CO2 , para além de fazer referência ao modelo de
veículo e ao tipo de combustível que utiliza. Deve • Diagnóstico do motor: deve realizar-se periodica-
estar colocada de forma visível, próxima de cada mente uma revisão computorizada do controlo elec-
veículo no ponto de venda. trónico do motor para detectar possíveis avarias
ocultas. Estas revisões devem realizar-se numa
• Em Espanha existe um guia na qual se especifica o oficina especializada, já que a manipulação indevida
consumo de combustível e as emissões de dióxido do sistema de controlo poderia aumentar significati-
de carbono de todos os modelos que se comercia- vamente as emissões contaminantes.
lizam no mercado, para além de oferecer conselhos
para consumir menos, explicar os efeitos dos gases • Controlo dos níveis, filtros e peças de reposição:
emitidos, etc. O conteúdo deste guia foi elaborado Devem-se mudar os filtros, o óleo e as velas de
pelo Instituto para a Diversificação e Poupança da ignição no momento indicado. A escolha incorrecta
Energia (IDAE), empresa pública do Ministério da do tipo de óleo pode aumentar o consumo até 3%,
Indústria, em colaboração com as associações de pelo que é importante seguir as recomendações do
fabricantes e com importadores de carros. Deve fabricante.
estar à disposição dos consumidores em cada ponto
• Controlo da pressão dos pneus: A falta de pressão • Conduzir suavemente, de forma a antecipar situações
nos pneus causa um aumento do consumo de imprevistas do trânsito; se mudarmos de velocidade
154
combustível de aproximadamente 3%, para além de no momento apropriado e sem travagens nem acele-
importantes riscos de acidente. rações evitam-se ruídos desnecessários, gases,
emissões e pode-se ainda poupar até 45% de
combustível para as mesmas distâncias.
3.3. Condução eficiente
Fazendo uma condução eficiente podem-se alcançar • Nos processos de aceleração há que realizar as
poupanças de combustível de 10% a 15%. Adicionalmente, mudanças de velocidade:
através de uma condução eficiente consegue-se melhorar a
segurança e o conforto, reduzem-se as emissões asso- - Entre as 2.000 e 2.500 rotações nos motores
ciadas e diminuem-se os custos de manutenção. de gasolina.

Pode-se conseguir uma utilização mais responsável e - Entre as 1.500 e 2.000 nos motores a diesel.
eficiente do automóvel seguindo algumas regras simples:
• Circular o maior tempo possível com mudanças
• Não utilizar o carro para distâncias curtas: Um motor elevadas e a baixas rotações. Na cidade, sempre que
frio utiliza 40% mais de energia do que o normal. seja possível, deve-se utilizar a 4ª e a 5ª mudança,
Valorizar a opção de ir a pé ou de bicicleta. respeitando sempre os limites de velocidade.

• Planificar a rota e escolher o caminho menos conges- • Não conduzir a velocidades elevadas. Poupa-se
tionado. combustível e evita-se ruído e gases do tubo de
escape; para além de aumentar o nível de segurança
• Não pôr o carro a aquecer em posição parada. Se se e a vida útil do carro.
começa a marcha imediatamente, o motor alcançará
a temperatura adequada mais rapidamente e poupará • Nas desacelerações há que levantar o pé do acele-
combustível e emissões. rador e deixar rodar o veículo com a mudança enga-
tada, travando suavemente e reduzindo de mudança
• Utilizar a primeira mudança só para arrancar o motor. o mais tarde possível.

Figura 7
Consumo a 60 km/h (em l/km) para cilindrada de 2,5 litros.

cilindrada de 2,5 litros

10

9
consumo a 60 km/h

8,9
8
7,9
7
7,2
6

5
_

3 4 5
mudança

Fonte: IDAE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• Desligar o motor se se está parado há mais do que aumenta aproximadamente 5% por cada 100 kg de
60 segundos aproximadamente. Quando um carro peso adicional.
155
está em marcha lenta, consome entre 0,4 l/h e 0,9
l/h. Depois de um minuto em marcha lenta, um carro
3.4. Eficiência energética no uso do veículo
terá expulsado mais gases do seu tubo de escape do
que teria produzido ligando e desligando o motor. Dentro das acções que podemos levar a cabo como cida-
dãos para reduzir o consumo energético, tem grande impor-
Outros factores relacionados com a condução que afectam tância a utilização racional e energeticamente eficiente do
o consumo, para além da manutenção do veículo vista veículo privado, já que aproximadamente metade da energia
anteriormante, são os seguintes: que as famílias portuguesas consomem destina-se ao carro
privado.
• Os acessórios exteriores, como porta-bagagens ou
outros, aumentam a resistência do veículo ao ar e A medida mais efectiva para reduzir o consumo de energia
podem aumentar o consumo até 35%. é utilizar meios de transporte alternativos ao carro.

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


• O uso de equipamentos auxiliares aumenta o • Em trajectos curtos, é possível ir a pé ou de bicicleta.
consumo de combustível de forma significativa, pelo Na cidade, 50% das viagens de carro são para perco-
que há que utilizá-los com moderação. Em particular, rrer menos de 3 km, com a agravante de que o motor
a utilização de ar-condicionado pode aumentar o frio pode chegar a utilizar 40% mais de energia do
consumo até 25%. A temperatura de conforto no que o usual.
interior do habitáculo encontra-se entre os 23 ºC e os
24 ºC. • Noutros casos, e sobretudo na cidade, a melhor alter-
nativa ao carro é o transporte público. Entre as nume-
• Conduzir com as janelas abertas aumenta a resis- rosas vantagens de utilizar o transporte público em
tência do veículo, pelo que o consumo aumenta vez do privado está o menor custo, menor consumo
aproximadamente 5%. de energia, menos emissões, menos ruído gerado e
menor congestionamento do trânsito.
• O peso dos objectos e pessoas transportadas no
veículo influencia significativamente o consumo, que Se a utlização do transporte público não for possível,
existem também várias possibilidades para reduzir o nosso

Figura 8
Consumo a 60 km/h (em l/km) para cilindrada de 1,2 litros.

capítulo 07
cilindrada de 1,2 litros

10

9
consumo a 60 km/h

7
7,1
6 6,3
6
5
_

3 4 5
mudança

Fuente: IDAE.
Figura 9
Decálogo de condução eficiente.
156

1. Pôr o motor a trabalhar sem pisar o acelerador. Aquecer o motor circulando suavemente.

2. Utilizar a primeira velocidade apenas para iniciar a marcha. Mudar para a 2ª aos 2 segundos
ou 6 m aproximadamente.

3. Realizar as mudanças de velocidade a baixas rotações e acelerar com suavidade depois da


mudança:

a. Entre 1.500 - 2.000 rotações por minuto em motores diesel.

b. Entre 2.000 - 2.500 rotações por minuto em motores de gasolina.

4. Circular em mudanças altas e baixas rotações o maior tempo possível

5. Evitar travagens, acelarações e mudanças de velocidade desnecessárias.

6. Travar de forma suave, com a mudança engrenada, reduzindo o mais tarde possível.

7. Imobilizar o carro sem reduzir previamente de mudança quando a velocidade e o espaço o


permitam

8. Desligar o motor em paragens de mais de 60 segundos.

9. Conduzir com antecipação e previsão. Manter a distância de segurança.

10. Em ocasiões de emergência, devem-se realizar acções específicas distintas para que a
segurança não seja afectada

Fonte: Elaboração própria.

Figura 10
Árvore de decisão para a poupança energética nas deslocações.

A pé ou de bicicleta
Não utilizo o carro
Transporte público
As minhas deslocações
Condução eficiente
Partilho o carro
Conduçãono eficiente
Utilizo o carro

Não partilho o carro Condução eficiente


Condução não eficiente

Fonte: Elaboração própria.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

consumo energético ao utilizar o carro. Uma delas é a possi- mais alta no diagrama, aquela que corresponde à maior
bilidade de partilhar o carro. A ideia de partilhar o carro poupança energética.
157
surge como algo natural, pode-se organizar de forma
simples quando os horários são similares e os pontos de
partida e chegada próximos, como no caso de viagens de 4. Biocombustíveis
trabalho ou estudos. Partilhar o carro permite-nos reduzir os
gastos da pessoa associada ao veículo e ao estacionamento Os biocombustíveis são os combustíveis produzidos a partir
até 75%, na medida em que são partilhados. Adicional- da biomassa e que são considerados uma energia reno-
mente é outra forma de reduzir as emissões para o vável. Os biocombustíveis podem-se apresentar tanto em
ambiente. forma sólida (resíduos vegetais, fracção biodegradável dos
resíduos urbanos ou industriais) como líquida (bioálcool,
Na hora de utilizar o nosso carro, é importante ter em conta biodiesel) e gasosa (biogás, hidrogénio, gás de síntese).
vários aspectos que nos permitem poupar combustível e
reduzir as emissões. Dentro dos biocombustíveis, os biocarburantes abarcam o
subgrupo caracterizado pela possibilidade de aplicação aos

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


Em primeiro lugar há que fazer uma escolha adequada da actuais motores de combustão interna (motores diesel e
compra do veículo, de forma a que este se adapte às nossas ciclo Otto) e, concretamente, aos motores que movem
necessidades. Um veículo novo consome aproximada- veículos. São, em geral, de natureza líquida.
mente menos 25% do que um de 20 anos, mas essas
vantagens perdem-se ao comprar carros de grande potência Biocombustível: combustível de origem biológica obtido
e cilindrada, com um consumo significativamente superior de forma renovável a partir de restos orgânicos. Pode ser
aos demais. sólido, líquido ou gasoso (a madeira ou os excrementos
secos são biocombustíveis). A utilização e produção dos
Durante a vida do veículo deve-se realizar uma boa manu- biocarburantes é uma das principais aplicações dos biocom-
tenção, que inclua o diagnóstico do motor em oficinas bustíveis.
especializadas de forma periódica, o controlo dos níveis,
filtros e peças de reposição e o controlo da pressão dos Biocarburante: engloba todos aqueles combustíveis
pneus, o que para além de reduzir o consumo de energia líquidos vegetais (também chamados biocombustíveis
nos trará poupanças económicas e aumentará a segurança líquidos) cujas características, similares à dos combustíveis
nas nossas viagens. fósseis, lhes permite serem utilizados em motores alterna-
tivos de combustão interna (MACI), principalmente usados
Adicionalmente, é muito importante realizar uma condução no sector do transporte. No entanto, as propriedades físico-
eficiente, com a qual se podem alcançar poupanças de químicas de alguns biocarburantes tornam-nos susceptí-
combustível de 10% a 15% com recurso a regras simples, veis de substituir o gasóleo e o fuelóleo queimados em
como a planificação da rota, não aquecer o motor do auto- caldeiras, seja para um aproveitamento térmico ou eléc-
móvel antes de iniciar a marcha, desligar o motor se se está trico.
parado mais do que 60 segundos, utilizar a primeira capítulo 07
mudança apenas para realizar o início da marcha, circular o
4.1. Classificação de biocarburantes
maior tempo possível com mudanças elevadas e a baixas
rotações e não circular a velocidades elevadas, nas quais o O uso e produção de biocarburantes é, depois da combustão
consumo dispara. Também há que ter em conta aspectos para usos eléctricos ou térmicos, a principal aplicação dos
que penalizam o consumo como porta-bagagens ou outros biocombustíveis (biomassa).
acessórios exteriores, a utilização abusiva de ar condicio-
nado, circular com as janelas abertas ou o transporte de Os biocarburantes com uma aplicação comercial impor-
pesos desnecessários. tante e/ou com um substancial potencial de desenvolvi-
mento podem-se dividir em dois grandes grupos: bioálcoois
É possível poupar uma grande quantidade de energia e bio-óleos.
através da mudança dos nossos hábitos na utlização do
automóvel, com o consequente benefício económico,
4.1.1. Bioálcoois
ambiental e social. É portanto interessante ter em mente o
esquema da figura 10 sempre que vamos realizar uma São derivados de produtos vegetais com um alto conteúdo
deslocação, para escolher a opção mais eficiente. de hidratos de carbono. Estes bioálcoois são principalmente
bioetanol (etanol de origem vegetal) e o seu derivado etílico
Sempre que seja possível devemos seguir a opção marcada tert – butil éter (ETBE), especificamente orientados para
pelas setas verdes, o que nos permitirá alcançar a posição
servir como combustíveis ou aditivos destes motores de Figura 11
ignição (ciclo OTTO). Proceso de produção do biodiesel.
158

• Bioetanol
O bioetanol produz-se principalmente através da
fermentação alcoólica de grãos ricos em açúcares ou Sementes oleaginosas
amido; por exemplo, os cereais, beterraba e sorgo. (girassol, colza, soja)
Misturando com a gasolina convencional, normal- prensado
mente como aditivo a 5%, pode utilizar-se nos
motores modernos de explosão que não tenham Óleo de sementes
sofrido nenhuma modificação. Os motores modifi-
extracção química
cados, tais como os utilizados nos chamados veículos
de uso flexível de carburante, podem funcionar com
Óleo BOLO(alimentação
misturas de etanol a 85%, assim como com bioe- puro ou em bruto para gado)
tanol puro e gasolina convencional.
refinado

• ETBE (etil tert - butil éter)


É um produto obtido a partir de etanol e isobutano. Óleo
refinado
Substitui o metil tert – butil éter (MTBE), que é um + metanol + catalizador
derivado do petróleo e que se utiliza em gasolinas (reacção de esterificação)

sem chumbo para aumentar as octanas (índice de


octano) e que substituiu o Tetraetil-chumbo. Para ÉSTER METÍLICO GLICERINA
fabricar ETBE, mistura-se o etanol com um subpro- OU ETÍLICO
duto obtido nas refinarias chamado isobutileno. O
uso deste aditivo tem como vantagens uma menor
volatilidade e solubilidade, para além de uma maior
eficiência térmica e o feito de resultar menos corro- Fonte: Elaboração própia.
sivo. Como desvantagens, a necessidade de dispor
de isobutileno e a exigência de um processo indus-
trial adicional. 4.2. Fabricação de biocarburantes

Em geral, o mais frequente é utilizar o bioetanol absoluto Os biocarburantes obtêm-se, geralmente, do processa-
em misturas com gasolina, em proporções que podem mento de culturas energéticas, excedentes agrícolas,
chegar a 10%, como nos Estado Unidos, ou até 20%, como subprodutos da indústria do açúcar ou de óleos usados,
é o caso do Brasil. Na Europa utiliza-se maioritariamente mas também se podem obter a partir de matéria celulósica.
para a fabricação de ETBE, apesar da tendência ser também As suas matérias-primas são muito diferentes e dependem
a mistura com gasolina. se se procura obter bioálcool ou bio-óleo.

4.1.2. Bio-óleos 4.2.1. Bio-óleos

Os bio-óleos e os ésteres derivados deste (genericamente Para a obtenção de bio-óleos as culturas com maior poten-
denominados biodiesel) utilizam-se principalmente em cial são a colza (centro e norte da Europa), o girassol (área
motores de ignição por compressão (Diesel). mediterrânea) e a soja (América do Norte). Também se
podem obter utilizando como matéria-prima óleos usados
Os óleos vegetais são formados por cadeias de ácidos de cozinha, somando-se às vantagens dos biocarburantes a
gordos extraídos de espécies oleaginosas, tais como a eliminação de um resíduo de difícil gestão (sobretudo em
colza, a soja ou o girassol, se bem que se podem utilizar estações de tratamento de águas residuais, se derramados
igualmente os óleos de cozinha usados ou a gordura animal. pelos esgotos). Tecnicamente podem-se produzir bio-óleos
Através da reacção dos óleos vegetais juntamente com um a partir de gorduras animais, apesar dos processos, concre-
álcool (transesterificação) obtém-se o biodiesel. Este é tamente a refinação necessária, serem bastante complexos.
outro grande pilar dos biocarburantes. Utiliza-se em motores Os bio-óleos e o seu derivado principal, o biodiesel (éster
de compressão, normalmente em forma de uma mistura a metílico), apresentam uma volatilidade baixa e uma alta
5% nos carro, até 30% em frotas cativas (como os autoca- temperatura de auto-ignição, o que os torna inviáveis para
rros urbanos) e muitas vezes no estado puro em motores os motores de ignição provocada (Otto). Assim sendo, os
modificados. biocarburantes cuja matéria-prima sejam espécies oleosas
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 12
Processo de produção de bioetanol.
159

Milho, trigo, cevada, sorgo, batata amidos

hidrólise

Cana de açúcar - Beterraba AÇÚCAR Etanol hidratado Etanol desidratado

destilação desidratação
fermentação

hidrólise

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


Madeira, desperdícios forestais, lixo celulose

Fonte: Elaboração própia.

encontram a sua aplicação ideal nos motores de ignição por Como produto obtém-se o éster metílico ou etílico e, como
compressão. subproduto, uma mistura que serve de alimento para o
gado (pelo seu alto conteúdo em proteínas) e glicerina,
4.2.2. Processo de produção de biodiesel matéria-prima para a fabricação de cosméticos, para usos
alimentares (conservantes, edulcorantes, etc.), para papel
No esquema da figura 11 pode-se observar o processo de de impressão, lubrificantes, etc.
obtenção de éster metílico ou etílico (biodiesel). A matéria-
prima são as sementes oleosas de girassol, colza ou soja.
4.2.3. Processo de produção de bioetanol

Figura 13 No esquema mostrado na figura 12 pode-se observar o


Processo de produção do ETBE. processo de produção de bioetanol. A matéria-prima são os
produtos agrícolas com alto teor de hidratos de carbono
(beterraba, cana de açúcar, trigo, milho, batata, etc.).
Culturas ricas em
capítulo 07
açúcares (polisacarideos)
4.2.4. Processo de produção de ETBE
hidrólise No esquema que aparece na figura 13 pode-se observar o
processo de obtenção do etil tert – butil éter (ETBE). A
matéria-prima é o etanol e o isobutano, derivado do
Monosacarídeos petróleo.

fermentação de
açúcar / destilação 4.3. Vantagens dos biocarburantes
Do ponto de vista ambiental os biocarburantes estão carre-
Etanol Isobutano gados de vantagens. De todas elas, aquela que mais se
destaca é a importante redução das emissões de gases de
efeito estufa, que se produzem como consequência da
substituição dos derivados do petróleo por estes combustí-
ETIL TERT - BUTIL ÉTER veis. Ainda que os biocarburantes libertem CO2 durante a
sua combustão, este terá sido previamente absorvido pela
matéria vegetal que constitui a sua matéria-prima. Deste
modo, o balanço de emissões é quase neutro, ainda que
Fonte: Elaboração própia.
não chegue a sê-lo totalmente porque se produzem alguns
desvios devidos às emissões produzidas pela maquinaria As Análises ao Ciclo de Vida (ACV) patrocinadas pelo Minis-
agrícola necessária para obter a matéria-prima, o consumo tério do Meio Ambiente e realizadas pelo Centro de Investi-
160
energético das plantas processadas ou o transporte da gações Energéticas Ambientais e Tecnológicas (CIEMAT)
biomassa para os centros de produção e dos biocarburantes em 2005, para as plantas de produção de biocarburantes do
já elaborados aos pontos de distribuição e venda. Em qual- grupo de empresas ABENGOA em Cartagena e na Corunha
quer caso, a redução é muito significativa. assinalam que:

Outra vantagem adicional é que grande parte do biodiesel • A mistura de gasolina e bioetanol (85%) produzida
que se elabora actualmente provém de óleos vegetais nessas plantas evita que se emitam 170 g de CO2
usados, pelo que para além de se obter um combustível de (90%) por cada quilómetro percorrido e permite uma
forma limpa se está a retirar um resíduo capaz de conta- poupança de energia fóssil de 36% respectivamente
minar uma média de 1.000 litros de água por cada litro de à gasolina sem chumbo de 95 octanas.
óleo.
• A mistura de gasolina e bioetanol (5%) produzida
O ponto comum a todos os biocarburantes é a sua menor nessas instalações evita que se emitam 8 g de CO2
perigosidade comparitavamente aos combustíveis fósseis. (4%) por cada quilómetro percorrido e permite uma
Para começar, tratam-se de produtos que têm muito poten- poupança de energia fóssil de 1,12 % respectiva-
cial para serem consumidos próximos dos seus lugares de mente à gasolina sem chumbo de 95 octanas.
origem, evitando grande parte do custo de transporte, e
com isso, o perigo de derrames acidentais. Mas no caso de • Quase qualquer país com suficiente terreno pode
serem produzidos, os biocarburantes têm uma capacidade produzir etanol para seu consumo como combus-
muito maior para dissolver-se na água, pelo que resulta alta- tível, ainda que necessite de muito espaço de cultivo
mente biodegradável. Ao contrário de um derrame de fuel dado o baixo rendimento do combustível. Supondo
que poder levar anos para a sua eliminação total, além de um conteúdo de açucar de 40% extraído do cultivo
exigir grandes investimentos em trabalhos de extracção e de cana original, obtém-se do seu melaço uns 18%
ser altamente perigoso para as pessoas e o ambiente, um de álcool como máximo e finalmente apenas 7% do
derrame de biocarburante elimina-se de forma natural num combustível do total da cultura original.
prazo médio de 21 dias e tanto a sua toxicidade como a sua
perigosidade são muito menores. Também em termos de • Durante a sua combustão produz-se um aumento de
segurança. Importa destacar que o biodiesel é um produto calor de vaporização que gera uma maior potência
menos perigoso que o gasóleo, já que este se inflama a comparativamente à gasolina; isto significa que com
partir de 55 ºC enquanto o biodiesel necessita 170 ºC para motores de pequena cilindrada podem-se conseguir
entrar em combustão. Isto traz segurança durante o trans- rendimentos equivalentes a motores de gasolina de
porte. maior cilindrada. Por esta razão, nas competições de
carros como “As 24 horas de Le Mans” este combus-
No seu relatório Biofuels for Transport, de Abril de 2004, a tível é muito utilizado; a equipa Nasamax foi a primeira
Agência Internacional da Energia, depois de analisar vários escuderia a utilizar, no circuito de Le Mans, um carro
testes e estudos da última década, conclui as seguintes de competiçao movido por um combustível comple-
vantagens ambientais: tamente renovável (bioetanol). Por este facto, a escu-
deria recebeu em 2003 um prémio especial do Auto-
• A adição de biocarburantes aos combustíveis fósseis mobile Club de l’Ouest por ter utilizado o bioetanol
reduz as emissões de CO, de hidrocarbonetos, partí- no lugar de combustível fóssil (dados obtidos de
culas e de SO2 pelo tubo de escape do veículo. Nasamax).
• A emissão dos contaminantes mais tóxicos do ar
(benzeno, butadieno, tolueno) diminui até 30%
quando se adiciona bioetanol à gasolina conven- 4.4. Inconvenientes dos biocarburantes
cional.
Para evitar introduzir as necessária modificações nos
• A Associação de Recursos Renováveis do Canadá motores que são exigidas para permitir a utilização de óleos
assinala que juntar 10% de etanol ao combustível vegetais sem modificar ou melhorar as suas características
reduz até 30% as emissões de monóxido de carbono combustíveis, recorre-se à transformação destes nos seus
(CO) e entre 6% e 10% de dióxido de carbono (CO2); derivados ésteres metílicos ou etílicos. Desta forma conse-
além disso provoca uma redução na formação de gue-se que as largas cadeias ramificadas iniciais, de elevada
ozono. viscosidade e alta proporção de carbono se transformem
em outras de cadeia linear, de menor viscosidade e percen-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

tagem de carbono e de características físico-químicas e • Escassez de uma rede de distribuição e de estações


energéticas mais semelhantes ao diesel utilizado nos auto- de serviço.
161
móveis.

Este biodiesel pode ser utilizado puro ou misturado em 5. Veículos híbridos


distintas proporções juntamente com o diesel automóvel,
que é a forma mais habitual de utilização. A indústria automóvel mundial começou há já algum tempo
à procura de soluções para a contaminação ambiental; as
A razão de realizar uma mistura com diesel convencional vias de desenvolvimento empreendidas até agora vão
radica no facto dos óleos vegetais terem, entre outras desde o carro eléctrico com baterias, até aos veículos
coisas, a particularidade de dissolver a goma e a borracha. híbridos ou à chamada pilha de combustível. O carro eléc-
Estes óleos vegetais são a matéria-prima para a fabricação trico parece a solução para conseguir um meio de trans-
do biodiesel, este produto também dissolve a goma e a porte limpo, mas as possibilidades de que possa vir a subs-
borracha, materiais empregues na fabricação das condutas tituir os automóveis convencionais parecem ser ainda muito
e juntas do sistema de alimentação dos veículos, pelo que distantes. De momento não existe nenhum tipo de bateria

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


com o uso prolongado de biodiesel 100% poderia-se que permita armazenar a carga necessária para assegurar
degradar as ditas condutas e a produzir algum poro ou uma autonomia suficiente, apesar do trabalho prosseguir
perda de combustível (o biodiesel é biodegradável a 98,3% na construção de novos protótipos. Existe uma solução
em 21 dias). intermédia: os carros híbridos, nos quais se combina um
motor de combustão interna com um eléctrico, que se
Desde meados dos anos 90, quase todos os fabricantes de alternam na função da propulsão.
veículos (principalmente as marcas alemãs), já substituíram
as ditas condutas por outras fabricadas com materiais plás- O objectivo do desenvolvimento de tecnologias híbridas é
ticos ou derivados, os quais não se dissolvem com o combinar duas fontes de energia distintas, para que as
biodiesel nos motores dos automóveis; os problemas asso- qualidades de cada sistema sejam utilizadas através de
ciados com a utilização do biodiesel como combustível de condições de geração variável, de tal forma que as vanta-
motores de injecção directa são apresentados de seguida: gens globais do desenvolvimento do sistema híbrido pesem
mais do que o custo da sua configuração.
• A potência do motor diminui, porque o poder calorí-
fico inferior (P.C.I.) do biodiesel é menor. De seguida apresenta-se uma classificação dos veículos
híbridos, uma descrição da tecnologia que inclui vantagens
• As emissões de óxidos de nitrogénio geralmente e desvantagens deste tipo de veículos, alguns casos
aumentam, consequência das maiores pressões e práticos e, por último, uma descrição do sistema híbrido do
temperaturas que se alcançam na câmara de tipo turbina eléctrica.
combustão.

capítulo 07
• Quando se utiliza 100% de biodiesel, o óleo lubrifi-
5.1. Soluções MCI-eléctricas
cante contamina-se, devido à menor viscosidade do São os híbridos que combinam um motor de combustão
éster em comparação com este. interna (MCI) e um motor eléctrico. São os únicos sistemas
híbridos que tiveram um desenvolvimento sério. Existem
• Alguns materiais deterioram-se com o biodiesel: dois tipos básicos: híbridos em série e híbridos em para-
pinturas, plásticos, borrachas, etc. Quando se utiliza lelo.
100% de biodiesel.
5.1.1. Motores em série
• Preços pouco competitivos comparativamente aos
derivados fósseis e o confronto resultante de culturas Utilizam o MCI acoplado a um gerador, o que produz electri-
energéticas, que também são empregues como cidade para o motor eléctrico que acciona a rotação das
culturas alimentares, o que produz uma situação rodas. É chamado híbrido em série pois o fluxo de energia
pouco desejável ao misturar o mercado alimentar move-se em linha recta. Com o MCI desacoplado da
com o dos combustíveis, o que distorce os preços e tracção, é possível que opere a uma velocidade constante
cria um impacto desfavorável no mercado. numa velocidade próxima do seu ponto óptimo de operação
em termos de eficiência e emissões, enquanto carrega a
• Elevado custo de produção. bateria.

• Desconhecimento por parte do consumidor.


Uma desvantagem do sistema é que a energia deve ser que depende das rotações do motor eléctrico para maxi-
convertida várias vezes e a eficiência mecânica entre o MCI mizar a eficiência. O inversor deve ser arrefecido a água.
162
e o eixo de tracção é dificilmente superior a 55% (incluindo
a eficiência de armazenamento da bateria). Outra desvan- Divisor de potência (híbridos em paralelo)
tagem é que requer um motor maior e mais pesado do que O sistema híbrido em paralelo necessita de um divisor de
o sistema em paralelo, o que apresenta graves consequên- potência, que utiliza uma engrenagem que distribui a
cias em autocarros de transporte público. rotação do motor C.I. entre a tracção e o gerador. Contro-
lando as rotações do gerador, o divisor funciona também
como uma transmissão contínua e variável.
5.1.2. Motores em paralelo

Utilizam tanto o MCI como o eléctrico para accionar a Baterias


tracção e atribuem a energia de cada um de acordo com as Utilizam-se baterias projectadas para veículos eléctricos,
condições da condução. É chamado híbrido em paralelo que requerem uma elevada densidade de energia, um peso
pois a energia flui em linhas paralelas. Neste sistema o MCI leve e uma longa vida
pode accionar a tracção ao mesmo tempo que carrega as
baterias. Estes tipos de veículos são os mais populares e Ultracapacitores
sobre os quais mais se investiga. Também se desenvolveu a tecnologia de ultracapacitores
para o armazenamento da energia. Ao não depender de
A tecnologia híbrida foi projectada para operar em zonas reacções químicas (como as baterias) podem ser carre-
urbanas nas quais existam problemas de poluição ambiental, gados e descarregados rapidamente. O ultracapacitor
pelo que o sistema híbrido é muito adequado para cumprir entrega a energia armazenada através de um poderoso
o objectivo da redução de emissões atmosféricas, especial- pulso eléctrico. Actualmente encontram-se em etapa de
mente em autocarros de transporte público. Também desenvolvimento comercial. Também operam unicamente
operam unicamente como veículo eléctrico e com a energia como veículo eléctrico, com a energia guardada nas bate-
armazenada nas baterias têm uma autonomia de 80 km a rias, alcançando uma autonomia de 80 km a 200 km.
200 km.

5.2. Elementos característicos 5.3. Vantagens dos veículos híbridos


Sistemas de travagem regenerativos • Não necessitam de carga externa. Ao contrário dos
Ao desacelerar ou travar, o motor eléctrico actua como carros eléctricos, os híbridos não necessitam de uma
gerador, recupera a energia cinética das rodas e converte-a carga externa, pelo que não têm os problemas de
em electricidade que pode ser guardada na bateria. Requer autonomia dos veículos eléctricos. O único abasteci-
travões de fricção tradicionais, assim como um sistema de mento que precisam é o de combustível, como os
controlo electrónico que permita maximizar a recuperação veículos diesel convencionais, mas em menor quan-
de energia e possa operar o sistema dual de travões. tidade.
Sistemas comerciais em utilização permitem recuperar
aproximadamente 30% da energia cinética tipicamente • Evitam consumos quando parados. Os veículos
perdida, como calor em travões de fricção. A energia recu- híbridos arrancam e param o MCI segundo a necessi-
perada ao travão pode reduzir o consumo energético am dade. Quando o veículo está parado ou circula a baixa
15% se se conduz pela cidade. velocidade, o motor de combustível desliga-se. Os
Gerador sistemas convencionais requerem que o motor seja
Um gerador sincrónico de corrente alternada produz electri- projectado para responder a picos de necessidade de
cidade para carregar as baterias. Funciona também como potência; no entanto, o veículo opera usualmente a
motor de partida para o motor diesel. níveis significativamente menores, o que implica que
os motores são maiores do que o necessário durante
Motor eléctrico grande parte da operação, pelo que consomem mais
Um motor sincrónico de corrente alternada, compacto, de combustível e geram maiores emissões. Nos
baixo peso e alta eficiência. sistemas híbridos, os picos de necessidade de
potência podem ser satisfeitos pela potência das
Inversor baterias em combinação com o motor.
O inversor altera a corrente eléctrica contínua da bateria em
corrente allterna para mover o motor eléctrico e altera a • Menores emissões. A redução das emissões,
corrente alterna do gerador em corrente contínua para comparando com um veículo tradicional, é da ordem
carregar a bateria. Também varia a frequência da corrente, dos 90% para os gases reactivos (NOx), 70% para os
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

químicos reactivos voláteis (VOC), 30% para o


monóxido de carbono (CO) e 100% para partículas 5.5.2. S
 erviço de autocarros híbridos
163
(Departamento de Engenharia Mecânica, Universi- na Nova Zelândia
dade do Chile).
Modelo Shuttle começou as suas operações em Dezembro
• Comparação da marcha com MCI convencional. de 1998. É uma versão de 20 lugares do híbrido-eléctrico
Um autocarro híbrido em série permite ao motor Olymbus, construído em Ashburton, Austrália.
diesel trabalhar de forma constante dadas condições
óptimas, reduzindo o consumo e emissões. Um Características: De tipo híbrido em série; baterias: 54 bate-
veículo híbrido pode percorrer o dobro da distância rias de sólido-gel, arrefecidas por água; motor/gerador:
que um tradicional com a mesma quantidade de motor diesel europeu de baixas emissões com rotações
energia. O motor de combustão interna é ineficiente, constantes.
não apenas devido às perdas ao transformar a energia
desde o combustível ao eixo de tracção, para além Rendimento similar aos autocarros diesel de cidade, mas
de também ser ineficiente quando o veículo não se ao estar em estado estacionário no trânsito intenso, não

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


encontra em movimento e o motor está em funcio- utiliza energia e portanto não cria emissões
namento.
5.5.3. Autocarro híbrido Toyota: Coaster
5.4. Inconvenientes dos veículos híbridos Tipo híbrido em série, equipado com motor a gasolina
• Emissões. Os híbridos não são veículos de zero compacto de 1.5 l. 24 passageiros.
emissões. Além disso, como o rendimento de emis-
sões de um motor de combustão tende a deterio-
5.5.4. Venda de cinco autocarros híbridos da Nova BUS
rar-se com o tempo, as emissões de contaminantes
Corporation à New York Transit Authority em 1999
provavelmente aumentarão com a idade do veículo.
Esta tecnologia é o culminar de cinco anos de desenvolvi-
• Custo. Os veículos hibridos, ao terem dois sistemas mento e corresponde à primeira venda para a Nova BUS
de geração, são mais complexos e dispendiosos na Corporation.
sua construção.
Os autocarros utilizam um motor diesel de 160 CV de
• Baterias. As baterias estão sujeitas a altas cargas potência (em inglês horse power HP) para gerar electrici-
específicas, que incrementam as perdas internas e dade e armazená-la em baterias. O sistema é híbrido em
tornam necessário o uso de equipamentos auxiliares paralelo, de forma que ao necessitar de uma intensa acele-
para o sistema de baterias. ração tanto o pack de baterias como o motor C.I. providen-
ciam a energia necessária. Isto permite ter um motor de
160 HP em vez de um standard de 250 HP.
5.5. Algumas experiências práticas
capítulo 07
A companhia pertence ao grupo Volvo Bus Group da Suécia
e ao grupo Henlys Group da Grã-Bretanha.
5.5.1. Experiências de cinco autocarros híbridos
em Aalborg (Dinamarca)
5.5.5. Magnet - Motor. GMBH da Alemanha
A implementação do projecto começou em Janeiro de 1997
quando cinco autocarros híbridos de 12 m foram postos em Utiliza um motor diesel de um terço do tamanho de um
serviço. Especificações principais: motor de tracção: dois normal, segurando um volante para suportar as condições
motores eléctricos de corrente alternada, cada um com 75 de aceleração. Autocarros experimentais com esta tecno-
kW; um motor/gerador: motor de petróleo Saab, 2.0 I logia encontram-se em operação em Munique.
acoplado a um gerador de corrente contínua; baterias: 10
de níquel-cádmio (Ni-Cd) colocadas no tecto do autocarro,
5.5.6. Toyota Prius
ao estarem totalmente carregadas, a potência é de 400 W;
inversor: transforma os 400 W em corrente alterna de três O Prius foi o primeiro veículo híbrido fabricado em série
fases. quando apareceu no Japão em 1997. Está dotado de um
motor de gasolina de 1,5 l (esperam-se futuras versões
A introdução destes autocarros permite alcançar o objec- com motor diesel) que trabalha coordenadamente com um
tivo de emissões locais zero, todavia à custa de deslocar motor eléctrico numa configuração chamada híbrida. O
essas emissões para outras áreas da cidade. motor eléctrico ajuda o de gasolina a encontrar condições
Figura 14
Autocarro híbrido Nova.
164

Fonte: Ise Corporation.

ideais de funcionamento e, dadas certas circunstâncias e quase o dobro do rendimento dos veículos convencionais
por determinados lapsos, pode mover independentemente comparados.
o automóvel, o qual então se desloca sem consumir
combustível e reduzindo significativamente o ruído
5.5.7. Porsche Cayenne híbrido
produzido.
Antes de 2010, a Porsche prevê lançar um modelo híbrido
O motor eléctrico alimenta-se de uma série de baterias que do Cayenne. Será formado por um motor de gasolina e um
se recarregam enquanto o automóvel está em movimento eléctrico, que poderão funcionar simultanea ou separada-
(o que se conhece por Hybrid Synergy Drive) e portanto não mente, pelo que contará com duas embraiagens dife-
requer uma força externa, problema de que sofrem os rentes.
veículos eléctricos que têm que ser conectados periodica-
mente para se recarregar. Para modelá-lo, a unidade de gestão electrónica do veículo
controlará a posição do acelerador para optimizar o uso dos
Outra estratégia de poupança de combustível é o motor de dois motores.
gasolina que se desliga nas constantes paragens causadas
pelo trânsito urbano. O motor eléctrico, funcionando sem o de gasolina ao
mesmo tempo, permitirá viajar a uma velocidade de até 30
O Prius supera os problemas de pouca autonomia, longo km/h e adicionalmente recarregar-se a si mesmo utilizando
tempo de carregamento e fracas prestações dos veículos o mecanismo de travagem.
eléctricos e converte-se no automóvel com motor de
combustão interna de mais alto rendimento e mais baixas
emissões disponível na actualidade, de acordo com a regu- 5.6. Sistema híbrido do tipo turbina-eléctrico
lamentação da União Europeia. As suas especificações
assinalam um rendimento de 96 km por unidade de acele- A utilização de uma microturbina no lugar de um MCI no
ração g em ciclo urbano e apesar destes números serem veículo híbrido eléctrico oferece vantagens adicionais à
difíceis de se alcançar no uso real, indicam que o Prius tem configuração híbrida.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 15
Veículo híbrido Toyota Prius.
165

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


Fonte: Toyota.
As turbinas têm uma operação quase silenciosa e, por no últimos dois anos. Dentro das tecnologias utilizadas,
serem motores rotativos, oferecem uma operação quase 72% das pilhas de combustível instaladas são do tipo PEM,
livre de vibrações. Adicionalmente, as turbinas possuem o que consolida esta tecnologia como a mais prometedora
maiores temperaturas de operação, o que permite uma para um grande número de aplicações.
combustão mais completa do combustível, que por sua vez capítulo 07
se repercute em menores emissões. Fala-se da pilha de combustível como a solução com mais
futuro do veículo de propulsão eléctrica. De momento são
Este sistema encontra-se em fase de desenvolvimento, várias as cidades, entre elas Madrid e Barcelona, que estão
mas tem muito boas perspectivas, devido à sua versatili- a experimentar autocarros do tipo propulsão e o seu número
dade e à diminuição de emissões contaminantes. está a aumentar de dia para dia. Funcionam com hidrogénio
como combustível e utilizam o oxigénio do ar para produzir
uma contaminação zero porque como resíduos tem-se
6. Veículos com pilha de combustível apenas água. No entanto, calcula-se que para que se possa
garantir a autonomia dos veículos de hidrogénio previstos
As pilhas de combustível foram inventadas em 1839 por Sir pelos principais fabricantes na próxima década, pelo menos
William Grove e posteriormente, nos anos 60, a NASA 5% das estações de serviço convencional deveriam contar
acelerou o seu desenvolvimento para proporcionar energia com algum dispensador preparado com hidrogénio.
eléctrica para as naves Apollo e Gemini. No entanto, o
grande desenvolvimento desta tecnologia à escala mundial
teve lugar nos últimos cinco anos.
6.1. Transformação da energia
As pilhas ou células de combustível formam-se com a asso-
Actualmente há mais de 6.800 pilhas de combustível insta- ciação de várias pilhas e configuram um pacote ou uma
ladas no mundo, o que representa um aumento de 300% pilha. A tensão de saída de cada pilha é pequena (da ordem
de um volt), mas a intensidade e o rendimento são muito • Funcionamento silencioso. Ao carecer de partes
elevados; de modo que associando várias em série móveis, calculou-se que o nível de ruído a 30 m de
166
obtém-se uma tensão mais elevada. A pilha de combustível uma pilha de combustível de tamanho médio é unica-
é um dispositivo electromagnético que permite transformar mente de 55 dB. É por isso que se poderiam usar
directamente a energia química resultante de uma reacção pilhas de combustível em recintos urbanos.
de oxidação de um combustível em energia eléctrica, de
forma contínua e com alta eficiência. Ao contrário das popu- • Admissão de diversos combustíveis. Qualquer
lares baterias de acumuladores, que armazenam uma quan- combustível que inclua hidrogénio na sua composição
tidade fixa de energia entre os seus eléctrodos, as pilhas de pode ser utilizado. Podem empregar-se para este
combustível continuam a funcionar se forem alimentadas processo, por exemplo, gás natural, carbono gaseifi-
com combustível e oxidante. cado, gasóleo ou metano.

• Flexibilidade de localização. As células de combus-


6.2. Vantagens da pilha de combustível tível, com o seu inerente funcionamento não ruidoso,
• Altas eficiências na utilização de combustível. A emissão zero e requisitos mínimos, podem ser insta-
conversão directa do combustível para energia eléc- ladas facilmente.
trica através de uma reacção electromagnética, faz
com que as pilhas de combustível possam produzir • Simplicidade do dispositivo. As pilhas de combus-
mais energia com a mesma quantidade de combus- tível carecem de partes móveis. A falta de movimento
tível em comparação com uma combustão tradicional. permite um projecto mais simples, maior fiabilidade e
O processo directo faz com que as eficiências possam operacionalidade e um sistema que é menos propenso
alcançar entre 30% e 90%, dependendo do sistema a avarias.
de pilha de combustível e adicionalmente pode-se
empregar o calor adicional produzido. A geração de
6.3. Inconvenientes da pilha de combustível
energia baseada na combustão converte previamente
o combustível em calor, limitando-se o processo à lei • Alto custo destinado aos sistemas de armazenamento
de Carnot da Termodinâmica, e depois em energia e fornecimento (de hidrogénios, metanol ou gás
mecânica, que produz movimento ou conduz a que as natural)
turbinas produzam energia. Os passos adicionais
implicados na combustão fazem com que a energia • Alto peso das pilhas de combustível para os protó-
escape sobre a forma de calor, fricção e outras perdas tipos actuais.
de conversão, e causam uma diminuição da eficiência
do processo global. As pilhas de combustível ao não • A produção de alguns componentes, ao não se
serem máquinas térmicas, não limitam o seu ciclo de produzirem em grande escala, implica um custo
rendimento pelo ciclo de Carnot e pode-se alcançar elevado. Calcula-se que um carro com pilha de
teoricamente os 100%. Unicamente as limitações no combustível custa 30% mais do que um de gasolina
aproveitamento da energia gerada e os materiais ou diesel com prestações similares.
empregues na sua construção impedem que se
alcance este valor.
6.4. Algumas experiências práticas
• Emissão zero de contaminantes. Quando o combus-
tível é hidrogénio, os produtos obtidos na reacção 6.4.1. Estação de serviço de hidrogénio
electroquímica catalizada da pilha de combustível
entre o hidrogénio e o oxigénio são água, calor e elec- No âmbito do projecto Europeu CUTE – sigla que significa
tricidade, em substituição de dióxido de carbono, Transporte Urbano Limpo para a Europa – equiparam-se
óxidos de nitrogénio, óxidos de enxofre e outras partí- três autocarros com pilha de combustível alimentados por
culas inerentes à combustão de combustíveis fósseis. hidrogénio na Comunidade de Madrid. O grupo H2, formado
Para extrair hidrogénio puro, os combustíveis fósseis pela Repsol YFP, Gas Natural SDG e Air Liquide, lançou o
devem passar primeiro por um reformador. Neste primeiro hidrogerador (estação de serviço de hidrogénio)
processo as emissões de dióxido de carbono, óxidos de Espanha, com produção no local, situada nas dependên-
de nitrogénio, óxidos de enxofre e outros contami- cias da EMT de Madrid. O hidrogénio produz-se a partir do
nantes, são somente uma fracção daqueles produzidos gás natral (processo reformado) e posteriormente compri-
na combustão da mesma quantidade de combus- me-se a 200 bar, para armazenamento, podendo abastecer
tível. os autocarros para as suas rotas diárias em menos de oito
minutos.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 16
6.4.2. Cofinanciamento DG TREN-CE Primeira cadeira de rodas propulsionada com pilha
Autocarros-projectos CUTE e CITYCELL 167
de combustível tipo PEM.
Ambos os projectos tiveram como objectivo o pôr em
funcionamento autocarros de linha da empresa municipal
de transporte (EMT) que funcionam com pilha de combus-
tível a hidrogénio e foram parcialmente financiados pela
Comissão Europeia. O projecto CUTE pôs em funciona-
mento três autocarros que actualmente prestam serviço
nas ruas de Madrid. O projecto europeu CITYCELL cons-
truiu o primeiro autocarro híbrido que combina baterias
convencionais com uma pilha de combustível. Os autoca-
rros abastecem o hidrogénio diariamente na estação de
serviço anteriormente mencionada.

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


6.4.3. Cofinanciamento DG TREN-CE
Projecto Ciclopilha
Fonte: BESEL S.A.
Com a participação da Organização Nacional de Cegos
Espanhóis (ONCE), o centro de inovação e tecnologia
CARTIF e as empresas ENERMAN, MEYRA, lideradas pela fundidos (MCFC). Os estudos foram levados a cabo na
empresa BESEL, foi projectada e fabricada a primeira Alemanha, Áustria, Eslováquia e Espanha. O demonstrador
cadeira para inválidos em Espanha propulsionada com pilha espanhol foi instalado na central de biometanização, para
de combustível tipo PEM, siglas inglesas de Proton tratamento de resíduos sólidos urbanos, que a Comunidade
Exchange Menbrane. O sistema tem uma autonomia muito de Madrid tem em Pinto. A instalação é operada pela
maior que os sistemas baseados em baterias, para além de empresa Urbaser, um dos sócios do projecto europeu.
reduzir peso e volume. A principal vantagem do protótipo é
a possibilidade de se poder recarregar rapidamente o
6.4.6. Cofinanciamento DG Investigação - CE
tanque de hidrogénio que alimenta a pilha de combustível,
O projecto HYCHAIN
em lugar de ter que carregar várias horas as baterias
convencionais. É um dos principais projectos europeus no âmbito da
demonstração das tecnologias do hidrogénio e das pilhas de
combustível. Co-financiado pela União Europeia e liderado
6.4.4. Cofinanciamento ADE e PROFIT
Projecto FIRST pela Air Liquide, na qual a empresa espanhola BESEL é a
responsável por levar a cabo a coordenação do projecto nos
No âmbito do projecto europeu Fuel cell Innovative Remote âmbitos europeu e internacional, leva a cabo as actividades
System for Telecom, FIRST, um consórcio formado pelo de Investigação e Desenvolvimento (I&D) e desenvolve um capítulo 07
CIMAT, o Instituto Nacional de Técnica Aeroespacial (INTA) programa de formação.
e o Instituto de Catálise e Petroquímica do Conselho Supe-
rior de Investigações Científicas (CSIC), juntamente com O projecto HYCHAIN MINI-TRANS construirá várias frotas de
outras entidades europeias, desenharam e construíram veículos de pequena e média potência, accionados mediante
uma instalação de demonstração para fornecimento ener- pilhas de combustível inovadoras, em quatro regiões da
gético de um sistema isolado. O sistema aproveita o Europa (França, Espanha, Alemanha e Itália) entre 2008 e
excesso de radiação solar para produzir hidrogénio que, 2011 que irão operar com hidrogénio como fonte alternativa
através de uma pilha de combustível de polímero (PEMFC), de combustível. As ditas frotas são baseadas em plataformas
proporciona energia eléctrica a um equipamento de teleco- de tecnologia modular e similar para diferentes aplicações,
municações. com o objectivo principal de atingir um volume suficiente-
mente grande de veículos (acima de 158) para obter em
termos industriais uma possível redução de custos e superar
6.4.5. Cofinanciamento DG Investigação - CE
barreiras sectoriais e regionais. Este projecto está pensado
Projecto EFECTIVE
para dar início a uma nova etapa no sector do transporte e,
É um projecto financiado pela Comissão Europeia, cujo através dele, os primeiros casos de desenvolvimento susten-
objectivo é estudar o potencial do biogás como combus- tável para o hidrogénio baseado em pilhas de combustível na
tível utilizando uma pilha de combustível de carbonatos Europa iniciar-se-ão nos lugares onde se obtenham as
maiores probabilidades de continuar e crescer para lá do O desenvolvimento tecnológico está complementado com
projecto. uma investigação socioeconómica, com o objectivo de
168
aumentar o conhecimento público e superar as principais
O projecto decorrerá em quatro passos; começará a partir de barreiras actuais, como a aceitação social, a falta de certifi-
protótipos existentes de cinco aplicações de pilhas de cações, a formação, etc. As actividades de disseminação e
combustível de baixa potência que cumpram as seguintes exploração proporcionarão o âmbito para manter o impulso e
características: dar lugar a um crescimento sustentável do mercado em
diversas linhas de aplicação.
1) Serão optimizadas em desenho e funcionalidade.
O projecto abrirá caminho para alcançar o desenvolvimento
2) Serão desenvolvidas as linhas de produção pré-comerciais massivo do hidrogénio, utilizando-o como solução de arma-
para reduzir custos, enquanto se melhora a qualidade. zenamento de energia e às pilhas de combustível como
conversores eficientes de energia.
3) A logística do hidrogénio necessário e serviços asso-
ciados (tais como transporte, distribuição, forneci-
mento) será estabelecida tendo em conta soluções
inovadoras de armazenamento recarregável e fácil
substituição.

4) Serão implementadas em quatro regiões da Europa,


redes de subprojectos com as mesmas caracterís-
ticas, que empreguem veículos de demonstração
similares. Este desenvolvimento permitirá uma
grande variedade de utilizadores finais, atraídos por
via dos custos competitivos, que proporcionam
condições favoráveis para alcançar uma redução
significativa tanto nos custos de fabricação como nos
operacionais.

Figura 17
Logo do projecto Hychain.

Fonte: BESEL S.A.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 18
Frota de veículos do projecto Hychain.
169

Eficiência e Poupança Energética no Transporte. Biocombustíveis


• Arranque de uma frota de 156 veículos
• Estabelecimento de infra-estruturas
• Sensibilização pública
• Lançamento do modelo de negócio

Fonte: BESEL S.A.

capítulo 07
08 Energias Renováveis: Eólica e Marinha
pontos do Velho Continente: na Holanda os moinho apre-
1. História da energia eólica sentavam quatro pás de lona, em Portugal e nas Baleares
172
seis e na Grécia doze.
O objectivo comum de todas as aplicações de energia
eólica é o aproveitamento da energia que possui o vento, o O moinho de torre desenvolveu-se no século XIV. Este
qual é um recurso energético natural que pode alcançar destacava-se pela sua maior solidez e durabilidade. A parte
níveis de utilização interessantes e que acima de tudo é inferior destas máquinas é uma torre de tijolo ou pedra,
gratuita. Esta energia do vento foi utilizada ao longo da sendo a parte superior a giratória, já que inclui o rotor. A
história para múltiplos usos: agricultura, transporte marí- orientação das pás destes moinhos chegou a realizar-se de
timo e, naturalmente, geração de energia eléctrica. forma automática. A cauda do moinho foi a mais eficaz.
Esta consiste num eixo horizontal com pás de pequeno
As primeiras aplicações da energia do vento foram reali- tamanho, a qual é perpendicular às pás principais. O rotor
zadas pelos persas entre 500-900 antes de Cristo. Estes de direccionamento bloqueava quando recebia vento de
moíam grão e bombeavam água por meio de moinhos de lado. Nesse momento o rotor de potência permanecia na
eixo vertical. As pás destes moinhos moviam-se graças à direcção do vento. Se a direcção do vento mudava, o rotor
força do vento. Por razões de optimização de materiais, de direccionamento girava até que de novo se alcançava o
pelas técnicas de fabrico disponíveis na época ou pela correcto alinhamento do rotor de potência.
maior durabilidade face às condições metereológicas, se se
queria dispor de uma maior potência não se construiam A bombagem de água, a extracção mineral, os trabalhos
moinhos maiores mas antes se aumentava o seu número em ferrarias, o movimento em serralharias… são algumas
com o mesmo tamanho. das aplicações do moinho ocidental. Esta máquina e a
turbina hidráulica lançaram as bases da Revolução Indus-
Usava-se uma tela de alvenaria para reduzir a incidência do trial, em redor das minas e artesãos próximos dos rios, não
vento sobre o moinho. O inconveniente deste projecto é
que apenas se podia aproveitar o vento se este soprava
numa determinada direcção. Não obstante, nas regiões do
império persa onde se utilizaram estes moinhos, isto não
era um problema porque os ventos eram de direcção domi-
nante. A potência controlava-se por meio de contraportas
na parede ou nas próprias velas do moinho.

As possíveis influências que os persas adoptaram para a


realização deste projecto talvez tenham vindo da China,
onde se utilizavam já máquinas parecidas, ou do próprio
moinho de água ou até das velas de barco.

Na Europa, apenas no século VII apareceram máquinas de


eixo horizontal com quatro pás. Estas máquinas vinham de
Este e eram ideais para ventos da ordem dos 5 m/s. Fabri-
caram-se na Holanda em grande número, apesar do
desenho das suas pás não ser o óptimo para obter a máxima
potência, pelo que necessitavam de uma regulação da
orientação da tela, facto comum a estes moinhos de eixo
horizontal que trabalhavam contra o vento.

No Irão, Turquia e Afeganistão apareceram os mais antigos


moinhos para moagem do grão e de elevação de água nos
princípios do século XII. A generalização destas máquinas
aconteceu por volta dos séculos XII e XIII.

Os moinhos com elevado número de pás determinam velo-


cidades de rotação relativamente baixas e apresentam um
funcionamento útil a partir de ventos na ordem de 2 m/s. A
Europa encheu-se de moinhos no mencionado século XIII,
apesar do modelo de moinho não ser igual em todos os Moinho Torre.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

tendo sido generalizada a utilização da máquina de vapor durante a segunda metade do século XIX, tendo sido fabri-
até ao início da Revolução Industrial, devido à impossibili- cadas mais de seis milhões de unidades, funcionando por
173
dade de transmissão de potência a longa distância. A todo o mundo.
potência máxima destas máquinas estava entre os 7 kW e
os 15 kW. A potência nos moinhos ocidentais era contro- Charles Brush, em 1887, construiu aquela que hoje se crê
lada através do uso de contraportas de madeira nas pás ou ser a primeira turbina eólica de funcionamento automático
pela quantidade de tecido revestido nas mesmas. para geração de electricidade. Com um diâmetro do rotor
de 17 m e 144 pás fabricadas em madeira de cedro, era à
Foi nas zonas medievais cristãs que apareceram os data a maior do mundo. A turbina funcionou durante 20
primeiros vestígios de moinhos de vento na península anos a carregar baterias. Apesar do seu tamanho, o gerador
ibérica. Restam grandes quantidades de vestígios de era de somente 12 kW.
moinhos dos séculos XVI – XIX em Huelva, Cádiz, Carta-
gena, Mallorca, La Mancha, etc. O dinamarquês Paul la Cour provou, anos depois, que as
turbinas eólicas de rotação rápida com poucas pás são mais
Não fosse em 1850, com a descoberta do dínamo, que real- eficientes do que as de rotação lenta para a produção de
mente se começou a desenvolver a transformação de electricidade.
energia eólica em electricidade. Antes deste ano, em 1802,
já se haviam tomado os primeiros passos para a transfor- A aplicação dos conhecimentos de aerodinâmica desenvol-
mação energética, tendo Lord Kelvin feito a ligação de um vidos na aviação trouxe um impulso tecnológico determi-
aerogerador eléctrico a um aeromotor. nante nas primeiras décadas do século XX, ao aumentar de
forma simples o rendimento destas máquinas. Entre as
duas guerras mundiais, realizaram-se projectos de grandes
aerogeradores de duas ou três pás, sobretudo de duas,

Energia Renováveis: Eólica e Marinha


devido ao seu menor custo, resultado dos progressos
técnicos de hélices de avião. Também se pensou em
empregar uma única pá equilibrada por um contrapeso.

Em 1941, os norte-americanos, mais concretamente a


NASA, construíram uma bipala de 53 m de diâmetro,
prevista para uma potência máxima de 1.250 kW, que se
instalou em Vermont, no noroeste dos Estados Unidos. Os
primeiros testes, iniciados em Outubro de 1941, deco-
rreram durante uns 15 meses. Um pequeno incidente em
1943 bloqueou a máquina durante dois anos, já que as difi-
culdade ligadas à guerra atrasaram a fabricação de peças
novas. Colocado novamente a funcionar, o aerogerador
proporcionou corrente ao sector durante 23 dias; rapida- capítulo 08
mente partiu-se uma das pás e o projecto foi abandonado.

A maior máquina eólica construída neste período foi a cons-


truída pela empresa Smith-Putman, dos Estados Unidos,
em 1945, com uma potência de 1.250 kW e pás de peso
variável. Funcionou centenas de horas até que uma das pás
partiu-se.

Embora a construção de aerogeradores tenha diminuido


devido à rápida expansão do motor de explosão e aos baixos
preços do petróleo, em França, um vasto programa patroci-
Primeira turbina eólica para geração de electricidade nado pela Electricité de France realizou um estudo do vento
construída por Charles Brush. em todas as regiões e construiu vários aerogeradores expe-
Fonte: windpower.org rimentais. Os aerogeradores Best Romani de três pás e 30
m de diâmetro com placas de liga metálica foram instalados
O chamado “moinho americano” trata-se de um pequeno em Nogent-le-Roy, em Bauce. Podia proporcionar 800 kW
rotor acoplado a uma bomba alternativa para a bombagem de potência à rede, com um vento de 60 km/h. Esta máquina
de água em zonas rurais. Esta máquina desenvolveu-se experimental trouxe, entre 1958 e 1962, um enorme fluxo
de informação sobre o seu funcionamento em condições Figura 1
reais de exploração. A companhia Neyrpic instalou em Tubo de corrente da aeroturbina na teoria
174
Saint-Rémy-des-Landes (Manche) dois aerogeradores de unidimensional de Betz.
três pás. O primeiro, de 21 m de diâmetro e que produzia
130 kW de potência, funcionou até Março de 1966. O outro,
Estela
de 35 m previsto para produzir 1.000 kW, proporcionou uma
potência satisfatória durante as provas, mas em 1964 foi
abandonado o programa de estudos.

Na década de setenta, a crise gerada pelos altos dos preços


do petróleo imposta pelos países produtores e os sinais
claros de problemas derivados da contaminação deram um
novo impulso ao desenvolvimento das energias renováveis,
especialmente a eólica, nos países da Europa e América do
U1 U2 U3
Norte.

Neste novo cenário desenvolveram-se protótipos de


máquinas de elevada potência, acima dos 2.000 kW, espe-
cialmente nos Estados Unidos, à medida que renascia uma
importante indústria produtora de máquinas perfeitamente Fonte: U
 niversidade de Zaragoza.
operacionalizáveis e rentáveis, na gama de potências de
100 kW a 500 kW. Estas máquinas foram instaladas em
grande número, agrupadas em zonas de ventos favoráveis, reduzida da pá da aeroturbina. Na figura 2 podemos ver um
constituindo aquilo a que se viria a chamar de “parques destes túneis de vento.
eólicos”.
Figura 2
Túnel de vento.
2. Princípio geral de funcionamento
O modelo mais simplificado de uma aeroturbina foi desen-
hado por Betz (1926). Este modelo permite calcular a
potência e a força de impulso que produz o vento sobre o
rotor utilizando um modelo unidimensional muito simplifi-
cado.

Na figura 1 mostra-se a aeroturbina do modelo de Betz. As


linhas exteriores da figura delimitam um tubo de corrente.
O ar entra neste tubo de corrente com velocidade U1, passa
através do rotor da aeroturbina com velocidade U2 e aban-
dona o tubo de corrente com velocidade U3. A zona que se
encontra por detrás da aeroturbina denomina-se de vigília.

A forma do perfil aerodinâmico das pás de uma turbina tem 2.1. Tipos de rotor e seu funcionamento
uma importância chave nos parâmetros de uma turbina, tais
como a potência máxima e as propriedades estruturais. Existem dois tipos de rotor, o de eixo horizontal e o de eixo
vertical. O primeiro consiste numa hélice ou rotor conec-
A simulação numérica do fluxo de fluidos, denominada tado a uma gôndola, onde se localizam o alternador e a
Dinâmica de Fluidos Computacional (CFD), experimentou caixa de engrenagens.
um avanço muito importante nas últimas décadas.
Mostra-se de seguida uma turbina eólica de eixo horizontal,
O cálculo experimental dos coeficientes de arrasto e o qual é sensivelmente paralelo à direcção do vento.
sustentação realiza-se nos chamados túneis de vento.
Geralmente utiliza-se a análise dimensional e de semel- Estes geradores de eixo horizontal (HAWIT) necessitam de
hança física para realizar um ensaio sobre o modelo a escala estar alinhados com a direcção do vento, de forma que o
vento sopre paralelamente ao eixo de rotação.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

175

Aerogerador de eixo horizontal.


Fonte: EUFER.

Os geradores de eixo vertical (VAWT, vertical axis wind


Aerogerador de eixo vertical (tipo Darrieus). turbines) têm como desvantagens uma menor eficiência, a
necessidade de desmantelamento para substituir o eixo e o
não autoarranque. Por outro lado, a maior vantagem destes
geradores verticais é a acessibilidade do multiplicador e o
gerador, para além da não necessidade de mecanismos de

Energia Renováveis: Eólica e Marinha


orientação.

O funcionamento básico de um aerogerador é, do ponto de


vista conceptual, muito simples. O vento, ao fazer girar as
pás do rotor, gera energia cinética que se transmite, através
do eixo principal, ao alternador instalado na gôndola.
Gera-se uma corrente eléctrica que é transmitida através
de cabos condutores a um centro de controle, onde se
armazena em acumuladores ou se distribui para os centros
de consumo ou é entregue na rede de transporte de energia
eléctrica.

Nas turbinas de eixo horizontal existem duas possibilidades


de situação para o rotor. Este pode estar situado a barla- capítulo 08
vento ou a sotavento. Sotavento é na direação dominate e
barlavento é na direcção oposta à dominante do vento. A
maioria das turbinas grandes têm rotor a barlavento.

No caso da situação do rotor a barlavento, o rotor está


situado na frente da torre no sentido do movimento do
vento, pelo que recebe um fluxo relativamente livre de
distorções da própria torre, o que provoca que os efeitos
Aerogerador de eixo vertical (tipo Savonius). das cargas de fadiga sobre as pás do rotor sejam menores
devido ao menor efeito sombra da torre. O inconveniente
deste tipo de aerogeradores de eixo horizontal é a necessi-
A turbina Darrieus consiste num número de perfís montados dade de possuírem um dispositivo de orientação. Para além
verticalmente sobre um eixo giratório. Este desenho foi disso, as pás não devem ser demasiado flexíveis de modo
patenteado por Georges Jean Marie Darrieus em 1931. a serem colocadas longe da torre.
A turbina Savonius foi inventada pelo engenheiro finlandês
S. J. Savonius em 1922. Aerodinamicamente, trata-se de No caso do rotor estar situado a sotavento, a turbina pode
um mecanismo de arrasto que consiste em duas ou três auto-orientar-se, mas os efeitos das cargas de fadiga das
pás. pás do rotor são maiores, dado o efeito sombra da torre ser
Figura 3
Turbinas de eixo horizontal com diferente número de pás.
176

Uma pala Duas palas Três palas Multi-pala Orientação Orientação Orientação Orientação passiva
passiva a passiva a activa a de cone virado
contravento contravento contravento ao vento
com leme com leque
caudal

Fonte: elaboração própria

significativo. Produz-se uma flutuação na energia produzida relativamente às de duas pás), menor efeito visual e acús-
cada vez que uma pá passa pela esteira da torre, o que tico e apesar do seu maior custo, as turbinas de três pás
provoca uma fadiga superior. Com respeito à flexibilidade são as mais utilizadas na Europa.
das pás deste tipo de rotores, estas podem ser muito mais
flexíveis, levando a uma poupança no peso e a uma redução Considerando tipos similares de pás, os rotores com menor
de cargas na torre. número de pás girarão a maior velocidade, o que se reper-
cutirá numa possível diminuição do rácio do multiplicador
Se o rotor gira de forma passiva muito tempo na mesma de velocidade embora aumente o nível de ruídos e de
direcção, poderia dar-se uma excessiva torção dos cabos do erosão.
gerador. Em turbinas pequenas usam-se anéis colectores,
sendo que nas grandes esta utilização levanta problemas. É importante destacar adicionalmente que as forças num
motor de três pás tendem a estar melhor distribuídas,
O componente mais crítico da turbina são as pás. Este é o sendo a distribuição mais simples.
elemento responsável pelo maior custo da máquina (aproxi-
madamente 30% do investimento total) e o mais problemá-
tico no projecto. O rotor pode possuir uma, duas, três e até 3. Estado da arte
seis pás.
A capacidade instalada a nível mundial atingiu os 159.213
A escolha entre duas e três pás é um compromisso entre MW em 2009, dos quais 38.312 foram adicionados durante
eficiência aerodinâmica, complexidade, custo, ruído e esté- esse mesmo ano. O crescimento da capacidade eólica
tica. instalada cresceu 31,7 %, a taxa mais elevada desde 2001.

No caso de uma pá única existe a necessidade de um O total das turbinas instaladas a nível mundial estão a
contrapeso para equilibrar o rotor. produzir aproximadamente 340 TWh de electricidade por
ano, o que corresponde a 2% do consumo total de electri-
No caso de uma ou duas pás, existe a necessidade de uma cidade no mundo.
maior velocidade de rotação ou um maior comprimento
para conseguir a mesma potência de saída do que numa Em 2009, Portugal tinha uma capacidade instalada de
turbina de três pás, mas podem ter um custo menor, não energia eólica de 3.535 MW, sendo assim o sexto país
obstante o maior impacto visual e acústico. europeu e o nono mundial em termos de capacidade insta-
lada.
Nos parques eólicos as turbinas têm geralmente duas ou
três pás e uma velocidade de ponta da pá entre 50 m/s e 70
m/s. Devido à sua maior eficiência (da ordem dos 2% a 3%
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

tabEla 1 Os aerogeradores mais comuns são os de potência de 2


 apacidade eólica instalada pelos 9 maiores produtores
C MW, embora no mercado actual se poderem encontrar de
177
mundiais em 2009. potências até 3 MW e 4 MW, algumas marcas vendem
máquinas de 5 MW e existem até experiências de aeroge-
radores de 10 MW.
Fabricante Capacidade instalada (MW)

Vestas 35.000

Enercon 19.000

Gamesa 16.000

GE Energy 15.000

Suzlon 6.000

Nordex 4.500

Energia Renováveis: Eólica e Marinha


Acciona 4.300

RE Power 3.000

Goldwind 2.889

Fonte: dados dos fabricantes

3.1. Eólica terrestre capítulo 08

O mercado mundial de aerogeradores integra cerca de


trinta companhias, mas o negócio está dominado por 10,
que no conjunto representam 85% do mercado.

Na actualidade, o desenvolvimento de novas máquinas


eólicas caracteriza-se pelos seguintes aspectos:

• Tendência para o aumento das potências nominais.

• Utilização de materiais sintéticos na produção.

• Sofisticados sistemas electrónicos de controle.

• Elevada fiabilidade. Exemplos de aerogeradores mais comuns.


Fonte: EUFER.
• Redução de custos de fabricação e exploração.
Figura 4
Evolução dos aerogeradores desde 1985 até 2003.
178

120

105

90
4,5
75
(m)

60
1,6 2,0
45 1,3

30 0,3 0,5

15 0,05

1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003

MW

Fonte: Enercon.

Embora não se trate de uma tecnologia amplamente difun-


3.2. Eólica offshore
dida, existe uma aposta clara no desenvolvimento da
As principais vantagens da energia eólica offshore são as energia eólica offshore. Em alguns países como a Alemanha
seguintes: estão a começar a desenvolver-se as primeiras instalações
a nível experimental, mas prevê-se um rápido desenvolvi-
• Elevado potencial eólico que oferece o mar em super- mento e expansão, à medida que se dita o final da expansão
ficies imensas com altas velocidades de vento. das instalações terrestres, o que conduzirá a que ambas as
tecnologias se igualem em termos de potência instalada.
• A melhor qualidade do dito recurso, já que a intensi-
dade da turbulência que possui o vento no mar é Apesar das dificuldades que se apresentam no desenvolvi-
muito menor do que em terra. mento destas instalações, o potencial é tão elevado que se
poderia abastecer metade de toda a energia consumida no
• Menor impacto ambiental. O impacto visual e acús- mundo com um parque eólico que abarcasse todo o Mar do
tico sobre as pessoas é muito reduzido, já que se Norte.
encontra a grande distância dos núcleos urbanos.
Também pouco afecta a vegetação e não se recon- Nos Estados Unidos, o potencial estima-se em 1.000 GW,
hece um efeito relevante sobre a vida animal. dos quais mais de 90% estariam situados em águas
profundas. Também o Japão pode multiplicar por 20 o seu
• Implantação próxima do consumo. As zonas de costa potencial eólico se conseguir desenvolver as instalações
são zonas de grande consumo de energia. Os aero- marinhas.
geradores podem situar-se a poucos quilómetros dos
pontos de consumo. A principal diferença entre a tecnologia offshore e a terrestre
é a complicação tecnológica das estruturas de base marinha.
• Sem limitações de transporte. O transporte de Os aerogeradores instalam-se em monopilhas ou jackets
componentes e maquinaria necessária para a cons- presos no fundo do mar ou sustentados pela gravidade.
trução podem realizar-se sem limitações do terreno.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

A tecnologia disponível para bases navais deriva daquela manutenção dos incentivos e apoios ao desenvolvimento
desenvolvida previamente pelo sector petrolífero para insta- do sector da energia eólica.
179
lação de plataformas de extracção. Existe tanto a tecno-
logia de plataformas cimentadas como flutuantes, mas
5. Participação na geração e contribuição
estas não têm aplicação directa em parques de energia
eólica offshore porque o rácio de custo/benefício é conside-
para a cobertura da procura
ravelmente maior numa plataforma petrolífera do que numa
eólica.
5.1. Energia eólica: terceira tecnologia
do sistema eléctrico
A fundação está condicionada pela batimetria local. Existem
tecnologias para profundidades baixas, médias ou altas. Se considerarmos o total da energia eléctrica gerada em
Portugal no ano de 2008, dos 45.969 GWh produzidos,
Até 30 m de profundidade considera-se baixa profundidade 5.757 GWh couberam ao sector eólico, colocando-o em
e é viável a instalação de monopilhas com a tecnologia terceiro lugar em termos de energia produzida, atrás da
disponível a nível comercial. térmica e da hidráulica.

Entre 30 m e 50 m considera-se profundidade média ou Da energia eléctrica produzida em 2008 (figura 6), a térmica
profundidade de transição e a tecnologia torna-se conside- continua a ser a tecnologia líder com 71,1% do total,
ravelmente mais cara. Normalmente recorre-se a tripés de seguida da hidráulica com 15,87% e da eólica com 12,52%
treliça. do total produzido.

Para batimetrias superiores a 50 m consideram-se águas Se excluirmos do grupo das energias renováveis as insta-
profundas e não se dispõe ainda da tecnologia necessária, lações de produção de electricidade hidráulicas com

Energia Renováveis: Eólica e Marinha


que consistiria em plataformas flutuantes de custo muito potência instalada superior a 10 MW, então a energia eólica
inferior à das plataformas petrolíferas. O maior desafio é a maior fonte de produção de electricidade a partir de
tecnológico consiste em construir as ditas plataformas de fontes renováveis em Portugal.
forma economicamente viável mas suficientemente
estáveis para albergar aerogeradores em funcionamento. Em 2008, 33,54% da electricidade produzida em Portugal
teve origem em fontes renováveis. A participação de cada
Estão em fase experimental diferentes formas de construir fonte renovável para a produção de electricidade vem
suportes flutuantes para águas profundas. Está-se a descrita na figura 7.
trabalhar principalmente em:
Esta liderança da eólica entre as energias renováveis (uma
• Suporte flutuante amarrado. vez mais, excluindo as instalações hidráulicas com potência
instalada superior a 10 MW) foi alcançada em 2006, quando
• Suporte flutuante lastrado. esta ultrapassou em termos de produção de energia aquela
proveniente das instalações de biomassa. Este aconteci- capítulo 08
• Suporte flutuante estabilizado. mento deveu-se ao facto do sector eólico, ter mantido o
aumento do número de parques eólicos, dando uma volta
radical ao cenário das energias renováveis em Portugal,
4. Política e planificação europeia e revelando-se a eólica como a mais eficaz e eficiente das
portuguesa tecnologias renováveis.

Em Portugal a produção de energia eólica é abrangida por Ao analisar os dados da potência eólica instalada durante o
um regime especial (PRE - Produção em Regime Especial). ano de 2009, podemos constatar que foram instalados 673
Em 2009, a PRE representou 28,9% do total de electrici- MW de potência, passando esta última de 2.862 para 3.535
dade consumida, com um volume total entregue à rede de MW de potência instalada.
14.402 GWh.
Em Dezembro de 2009 existiam em Portugal 1941 turbinas
O documento que regula a produção em regime especial eólicas instaladas - mais 141 em construção - distribuídas
em Portugal é o Decreto-Lei nº 225/2007 de 31 de Março. por um total de 250 parques eólicos.

A nível europeu, o compromisso estabelecido de atingir a Quanto à repartição da potência eólica instalada por Distrito,
meta dos 20% de produção de electricidade a partir de Viseu aparece à frente (651,3 MW), seguida de Coimbra
fontes renováveis até ao ano 2010 deverá contribuir para a
(449,8 MW), Castelo Branco (430,5 MW), Viana do Castelo TABELA 2
(326,8 MW) e Lisboa (313,5 MW). Taxa de crescimento da energia eólica produzida.
180

Figura 5 Energia Produzida Taxa de crescimento


Produção Bruta de Energia Eléctrica em 2008 . (GWh) (%)

Até 2006 1.773 –


0,4% 0,1%
2006 2.925 64,97

12,5% 15,9%
2007 4.037 38,02

2008 5.757 42,61

Fonte: DGGE.

71,1%
5.2. Geração
A procura anual de energia eléctrica alcançou durante 2008
os 45.969 GW/h, o que corresponde a uma diminuição de
-2,72% respectivamente ao ano de 2007.
Hidráulica Térmica
Durante 2008, as tecnologias renováveis produziram 15.419
Eólica Geotérmica
GW/h, dos quais 37,34% (5.757 GW/h) corresponderam à
Fotovoltaica eólica, 3,35% (516 GW/h) à mini-hídrica, 13,83%
(2.133GW/h) à biomassa e 0,27% (41 GW/h) à solar fotovol-
Fonte: REE (Rede Eléctrica Espanha) e AEE (Associação Empresarial Eólica).
taica.

Figura 6
Participação de cada fonte para a produção a partir de 6. Impacto ambiental e socioeconómico
fontes renováveis em 2008..
1,2%
0,3%
6.1. Benefícios ambientais

Por cada kW/h de electricidade eólica produzida evita-se a


geração de uma unidade de electricidade que poderia ter
sigo gerada numa central convencional. Não se pode afirmar
37,3% com exactidão a quantidade de emissões que evitam, já
44,0%
que esse valor depende de características como a eficiência
da instalação, o sistema operacional ou a composição de
combustível. Por exemplo, segundo o fabricante, deco-
rridos 20 anos, uma V90 de 3,0 MW evita a emissão para o
meio ambiente de 233.000 t de CO22.
13,8%
Na União Europeia, aproximadamente um terço das emis-
3,3% sões de CO2 procedem da geração de energia. Por cada 1%
Hídrica > 10MW Hídrica < 10MW Biomassa de energia procedente de centrais convencionais que seja
Eólica Geotérmica Fotovoltaica substituída por energias renováveis, produz-se uma redução
de CO2 na ordem dos 0,3%. Em particular, uma turbina de
Fonte: DGGE

2
Fonte: AIE, 2005.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

600 kW numa localização média, em função do regime de emissões de CO2 em +27% respectivamente às emissões
ventos da zona, evita a emissão de 20.000 t a 36.000 t de de 1990. A energia eólica como fonte de geração eléctrica
181
CO2 durante os seus 20 anos de vida3. de origem renovável é crucial na redução de emissões de
CO2, ao fazer baixar a produção de outras tecnologias conta-
A concentração de CO2 na atmosfera aumentou em 25% minantes como o carvão, o fuel ou o ciclo combinado e
desde o início da industrialização. Estima-se que este valor dessa forma contribuindo para o cumprimento do objectivo
vai duplicar no ano de 2050. O IPCC4 estimou em 1996 que fixado pelo Protocolo de Quioto.
a temperatura média global havia aumentado em 0,3 ºC –
0,6 ºC e prevê um aumento no período compreendido entre
1990 e 2100 de 1,0 ºC – 3,5 ºC. Da mesma forma, para o 6.2. Impacto ambiental
nível médio do mar, espera-se um aumento de 15 cm – 95
cm. A instalação de um parque eólico é precedida por um
Estudo de Impacto Ambiental, estudo que deve ser apro-
A não emissão de contaminantes vê-se favorecida em: vado pelas autoridades da comunidade autónoma corres-
pondente com o objectivo de obrigar os promotores da
• É uma fonte de energia renovável, limpa, inesgotável instalação a adoptar as medidas pertinentes para minorar
e segura. os possíveis impactos negativos que possam produzir-se
sobre o meio ambiente local.
• Não contribui para a chuva ácida, pelo que se reduzem
os efeitos negativos que recaem sobre a saúde A realização de estudos deste tipo justifica-se mais pela
humana, as florestas e culturas, para além de reduzir sensibilidade social nas áreas geográficas onde se instalam
o impacto sobre os ecossistemas. do que pelas características concretas deste tipo de insta-
lações, cujos efeitos ambientais negativos são geralmente

Energia Renováveis: Eólica e Marinha


• Não contribui para o efeito estufa. muito inferiores aos produzidos por qualquer outra activi-
dade de produção de energia.
• Está isento de contaminação atmosférica, derrames
tóxicos (salvo na fabricação dos equipamentos e no A aprovação ambiental é geralmente acompanhada tanto
óleo das engrenagens) e de contribuição para as alte- de medidas correctivas para o desenho global da instalação
rações climáticas. como para o posicionamento dos aerogeradores, restau-
ração da cobertura vegetal, forma das torres, pinturas ou
• Não há lugar a combustão, fissão nem transformação enterramento das linhas eléctricas, assim como um plano
de combustível. de vigilância cuja função básica é garantir a afectação
mínima do parque à envolvente na qual está situado.
• Tratam-se de instalações móveis, cujo desmantela-
mento permite recuperar totalmente a zona. Qualquer instalação de energia produz alterações de dois
tipos (tabela 3).
• O tempo de construção é curto (inferior a seis capítulo 08
meses). Quanto mais intensa seja a acção, mais frágil e de maior
qualidade seja a zona, o impacto produzido será maior. Uma
• Representa um benefício económico para os municí- instalação eólica possui um carácter de pouco impacto,
pios afectados (taxa anual pela ocupação do solo) pelo que a atenção deve centrar-se na fragilidade e quali-
recurso autóctone. dade do terreno sobre o qual se pensa implantar a insta-
lação.
• A sua instalação é compatível com muitos outros
usos do solo. Para realizar a avaliação do impacto ambiental é necessário
comparar a situação pré-operacional da envolvente com
• Criação de postos de trabalho. cada uma das fases do projecto: construção, operação e
abandono.
Segundo os compromissos adquiridos no âmbito do Proto-
colo de Quioto, Portugal teve como objectivo limitar as

3
Fonte: Universidade de Zaragoza.
4
Fonte: Intergovernmental Panel on Climate Change.
Figura 7
Evolução das emissões de gases de efeito estufa - Emissões de CO2 (kt).
182

Fonte: Banco Mundial.

Os aspectos mais comuns às instalações eólicas são os A incorporação da oferta energética das fontes renováveis
seguintes: esteve e estará condicionada num mercado livre pela
exigência de uma rentabilidade directa suficientemente alta
A energia eólica diferencia-se de outras fontes no seu para que o investidor altere o seu modelo de abasteci-
impacto ambiental localizado e reversível, cessando uma mento. O investidor não inclui referência alguma aos bene-
vez terminada a actividade se o parque for desmantelado fícios induzidos pelo uso de energias renováveis nem às
cuidadosamente. externalidades que as energias convencionais incorporam.

As chaves do êxito da aceitação de um projecto eólico Apenas em alguns casos, a incorporação das renováveis
baseiam-se na realização de consultas prévias, conheci- pode significar um valor adicional para o investidor, a
mento da tecnologia, negociação com os afectados e infor- melhoria da imagem externa por contribuir para um bom
mação dos benefícios. fim. Apesar disso, o custo dessa melhoria de imagem será
valorizada face a outras opções.

6.3. Impacto socioeconómico As receitas de um produtor provêm da venda de energia, a


qual é de compra obrigatória por parte dos exploradores da
As alterações do tipo socioeconómico são muito positivas, rede, a um preço superior ao da venda, se se cumprem
tanto na escala local como regional e nacional, pois para certas condições. O preço de aquisição regula, portanto, o
além da redução da contaminação associada à geração da interesse dos investidores em energias renováveis e cons-
energia e ao uso de recursos renováveis criam-se directa e titui, juntamente com os subsídios directos, a principal
indirectamente postos de trabalho de alta qualificação ferramenta de incentivo ao uso. No futuro é possível que se
profissional, média e baixa. Por outro lado, os terrenos de venham a estabelecer as eco-taxas, impostos de produção
elevado potencial eólico não são geralmente de exploração de contaminantes, o de CO2, o que também afectará a dinâ-
agrária intensiva, pelo que pode estabelecer-se sem mica da evolução. O mercado de títulos de emissão vai no
problemas uma coexistência, eventualmente afectada mesmo sentido.
apenas pelo problema acústico.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

TABELA 3
<<
Tipos de alterações produzidas por qualquer instalação de energias limpas e duradouras, 183
de produção de energia. associado à linha harmoniosa dos
aerogeradores modernos, expoente
Afectam apenas a área ocupada e as da sua adaptação à função de
zonas circundantes. utilidade pública que realiza, para
outros a sua presença na paisagem
Factores de que depende: resulta intolerável.
Sobre o meio
físico • Carácter da acção.
A tolerância à sua presença depende
• Fragilidade ecológica da zona. da beleza natural da paisagem a
perturbar e de outros factores como
• Qualidade ecológica da zona.
o tempo.

Ao passo que uma instalação de


Afectam não apenas o âmbito
Sobre o meio poucas aeroturbinas pode até
local, mas também o regional e até
socioeconómico resultar atraente, um parque eólico
o nacional. massivo supõe um impacto visual
muito considerável, especialmente
se a concentração é alta.

TABELA 4 Os elementos que contribuem para


Impactos mais comuns em instalações de produção de o impacto visual são: aerogeradores,
energia eólica. casa de suporte, linhas eléctricas e
Impacto acessos.
visual

Energia Renováveis: Eólica e Marinha


O movimento das terras para a (continuação) Os fabricantes de turbinas têm-
construção das fundações, vias de se vindo a adaptar as cânones
acesso e evacuação da electricidade estéticos, eliminando torres de
quebra o solo, pelo que em zonas com treliça, suportes e reduzindo as
tendência para a desertificação é um linhas aéreas, para além de usar
aspecto a cuidar para evitar a linhas para as gôndolas, resultado de
Impacto
desertificação do solo. um projecto industrial de qualidade.
sobre a flora
Não é conhecida a ocorrência de A vegetação pode ser usada para
qualquer outro efeito nocivo e pode-se reduzir a interferência visual em
sobrepor um parque eólico a uma zonas muito frequentadas. Os
exploração agropecuária, ocupando edifícios situam-se geralmente numa
somente 1%. zona pouco visível e distante.

capítulo 08
O impacto visual pode estabelecer-
Se a construção se realiza num tempo se a três níveis:
curto, o que é possível em poucos • Carácter da acção.
meses, a fauna tende a voltar a
ocupar a zona sem problemas, salvo • Fragilidade ecológica
em casos especiais que deverão ser da zona.
detectados através de um estudo de • Qualidade ecológica da zona.
Impacto impacto ambiental detalhado.
sobre a fauna
As aves não tendem a colidir com as
pás, salvo em zonas com tráfegos
intensos devido às rotas de migração O nível de ruído emitido pelos
concentrada de aves migrantes aerogeradores é similar ao de
nocturnas, como é o caso do estreito qualquer instalação industrial de
de Gibraltar. similar potência, se bem que conta
Ruído com o inconveniente de estar ao ar
livre, pelo que se não conta com o
É um tema subjectivo. Apesar efeito redutor dos edifícios.
Impacto de para alguns a imagem de um A aplicação de técnicas específicas
visual parque eólico sugerir um sentimento
de redução do ruído atingiram
positivo de progresso rumo ao uso
>> >>
<< TABELA 5
avanços substanciais, sem que se
incremente substancialmente o Divisão dos custos de uma instalação de produção
184
custo da máquina. O aumento da de energia eólica.
qualidade da produção de peças
específicas contribui para a redução
do ruído. 325 a 400 €/m2
de área de rotor (na
O grau de incómodo depende de:
Custo faixa dos 225 KW
• O nível de ruído emitido pelo aerogeradores a 1.800 KW de
potência eléctrica
aerogerador.
nominal)
• A posição com respeito à
turbina.
• A distância ao aerogerador. O
ruído decresce com a distância 25% do custo
Outros custos
por absorção atmosférica e por aerogeradores
repartição da sua energia na
área maior: -6 dB ao duplicar a
distância > 2D. Investimento-
inicial Infraestructura civíl
• A existência de barreiras e eléctrica
acústicas, como montanhas,
vegetação, edifícios, etc.,
apesar de serem pouco
eficazes para frequências Transporte e
Ruído baixas. montagem
(continuacão)
• O ruído de fundo, que disfarça
o emitido pelo aerogerador.
Especialmente notável é o
efeito do vento no local de Gestão e
percepção, que aumenta o administração
ruído de fundo ocultando o 2,5% do
investimento inicial
gerado pela turbina.
O nível de ruído de fundo em zonas
rurais pode ser muito baixo, da
ordem dos 20 dB, equivalente a um
silêncio quase absoluto, pelo que
Custos
o impacto das aeroturbinas pode
operacionais 1%
notar-se bastante nas redondezas. e manutenção
Actualmente está a ser estudada
a criação de regulamentos que
impeçam aumentos superiores a
5 dB pela instalação de um parque
eólico. Muitas das aeroturbinas
modernas passariam por esta
regulamentação, se se realizar uma Custos
Seguros 0,75%
operacionais
instalação projectada com cuidado.

Acondicionamento
0,75%
da infraestructura
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Os custos principais dividem-se segundo aparece reflectido Assim sendo, a produção de electricidade a partir do vento
na tabela 5. está enquadrada pela PRE, beneficiando de incentivos
185
especiais que permitam a alavancagem económica dos
A análise financeira é similar à utilizada para um projecto investimentos a serem realizados pelo sector privado.
normal, tendo em conta que nos projectos de energia eólica
usa-se um período de amortização da ordem dos 10 aos 20 O Decreto-Lei nº 33-A/2005 estabelece o quadro regula-
anos. tório para a remuneração da geração a partir de fontes de
energia renovável. O diploma estabelece novos valores
A situação política em Portugal no âmbito energético expe- para a fórmula de cálculo da retribuição no regime especial,
rimentou mudanças importantes em anos recentes, como bem como um horizonte temporal que permite garantir a
resultado do Protocolo de Quioto e do progresso da política recuperação dos investimentos realizados e a respectiva
europeia no âmbito energético. expectativa do retorno económico dos investidores.

Os preços públicos para a venda de energia eléctrica, se Relativamente à produção de energia eólica, a legislação
bem que permitiram a criação de uma indústria incipiente, referida estabelece, para os parques eólicos que já tenham
não reflectem os custos reais de forma completa, nem a obtido licença de estabelecimento à data da entrada em
estabilidade de futuro adquirida, nem o efeito descentrali- vigor do novo Decreto-Lei ou que venham a obter a licença
zador, etc., e têm de baixar. de estabelecimento num prazo de um ano após a entrada
em vigor do mesmo, a manutenção da tarifa de €88,2/
MWh, evoluindo esta à taxa de inflação, por um prazo de 15
7. A regulamentação do sector eólico em anos a contar da data de entrada em vigor do referido
Portugal diploma. No final desse período, a tarifa irá convergir para o
preço de mercado adicionado de um prémio pela venda de

Energia Renováveis: Eólica e Marinha


certificados verdes.
Em Portugal, a produção de energia eólica está abrangida
por um regime denominado Produção em Regime Especial Se a licença de estabelecimento do parque eólico tiver sido
(PRE). obtida um ano após a entrada em vigor do Decreto-Lei
citado, a tarifa inicial é calculada com base nos parâmetros
A Produção em Regime Especial trata-se da actividade de referidos no diploma em causa (evoluindo com a taxa de
produção de energia eléctrica, licenciada ao abrigo de inflação). Até ao limite máximo de 15 anos - a contar desde
regimes jurídicos especiais, com base em energias reno- o início do fornecimento de electricidade à rede - esta tarifa
váveis, resíduos, processos de cogeração e microprodução; é aplicável aos primeiros 33 GWh entregues à rede por MW
estes regimes jurídicos surgem no âmbito da adopção de de potência de injecção na rede atribuída. Na ocorrência de
políticas destinadas a incentivar a produção de electrici- uma destas duas condições, a tarifa irá convergir para o
dade, a partir de fontes renováveis e endógenas. preço de mercado mais um prémio pela venda de certifi-
cados verdes
O quadro legal em vigor considera como PRE a produção capítulo 08
de energia eléctrica: 8. Regulamentação Especial da eólica
offshore
• Com base em recursos hídricos para centrais até 10
MVA e nalguns casos até 30 MW. A qualidade do vento aumenta consideravelmente no mar,
onde apresenta menos perturbações ao não se ver alterado
• Que utilize outras fontes de energia renovável. pelo declive do terreno, uma velocidade média mais alta do
que na maioria dos locais em terra, menor turbulência,
• Com base em resíduos (urbanos, industriais e agrí- menor variação da velocidade média em função da altura...,
colas). o que permite a instalação de aerogeradores de maior
potência unitária, assim como uma menor altura respectiva-
• Em baixa tensão, com potência instalada limitada a mente ao equivalente em terra.
150 kW.
O principal obstáculo destes parques é o elevado custo,
• Por microprodução, com potência instalada até 5,75 muito superior ao dos seus equivalentes terrestres, devido
kW. principalmente a dois factores: o maior custo da fundação e
a cablagem submarina.
• Através de um processo de cogeração.
Situação actual ‘offshore’ A capacidade eólica offshore continua em franca expansão;
são já doze os países a nível mundial que possuem destes
186
A Dinamarca foi o primeiro país em todo o mundo a cons- parques de produção de electricidade. O total da capaci-
truir parques eólicos no mar. A primeira instalação foi colo- dade instalada offshore corresponde actualmente a 1,2%
cada em 1991 no mar Báltico e contava com 11 aerogera- do total da capacidade eólica existente no mundo.
dores. Desde então, e apesar da Dinamarca ainda concentrar
mais de metade da produção mundial da energia gerada A taxa de crescimento do eólico offshore é de 30% ao ano,
em parques eólicos marítimos, estes têm sido reproduzidos ligeiramente abaixo da taxa de crescimento do eólico
pelo mundo, principalmente na Europa. Holanda (dois convencional.
parques), Suécia (três), Reino Unido (cinco), Irlanda (um),
Alemanha (dois), Japão (um) são os outros países que
contam com este tipo de infra-estruturas, segundo a recolha 8.2. Análise da situação actual. Recursos
efectuada pelo Centro Nacional de Energias Renováveis
(CENER). O parque maior, situado em Horns Rev (Dina- Na hora de estabelecer os critérios para a análise dos
marca), conta com mais de 80 aerogeradores e uma recursos, deve-se ter em conta mais aspectos do que com
potência instalada de 160 MW. O objectivo das autoridades a energia eólica terrestre, já que para se considerar a exis-
dinamarquesas é alcançar os 6.500 MW instalados em tência do recurso não bastam os elementos habituais
2030. (vento, terreno de apuramento, distância à REE, etc.), há
que considerar a instalação de aerogeradores no fundo do
O potencial eólico de uma zona marítima depende de vários mar, tendo em conta que maior profundidade significa
factores: maior custo e que este sobrecusto deve amortizar-se graças
a umas condições de vento óptimas.
• Recurso eólico.
Para determinar os locais adequados para o desenvolvi-
• Morfologia do fundo do mar. mento da energia eólica offshore foram tidas em conta
recomendações recolhidas nos estudos de diversas asso-
• Profundidade, composição, distância à costa. ciações profissionais para o desenho de parques eólicos
offshore, assim como outra série de parâmetros supor-
• Conexão à rede eléctrica. tados por projectos offshore de demonstração realizados
até à data. Portanto, os parâmetros que determinam a viabi-
• Capacidade técnica e viabilidade económica. lidade de um parque eólico são os seguintes.

A energia eólica offshore está em pleno processo de desen- • Recurso eólico. O principal problema que apresenta
volvimento e barreiras tecnológicas que há uns anos limi- a estimação deste recurso é a escassez de fontes de
tavam as zonas adequadas para a exploração de parques informação de qualidade. Para este projecto foram
eólicos marítimos começam a ser superadas, aumentando utilizados dados procedentes do European Wind
com isso a disponibilidade de espaço e melhorando a Atlas, da rede de medição oceanográfica existente
potência unitária dos aerogeradores, concebidos especial- na costa espanhola e do Mapa Eólico Nacional, publi-
mente para uso offshore. Esta capacidade técnica desen- cado em 1994.
volvida colide com o desenvolvimento da energia offshore
em Portugal e provoca a existência de locais com condições TABELA 6
de exploração já aproveitadas no norte da Europa, junta-  omparação da Europa com o Resto do Mundo
C
mente com outras, as quais o avanço na investigação vai a nível da potência eólica offshore instalada
tornando viáveis com o passar dos anos e que começam a
aproveitar-se noutros países. 2008 2009
(GW) (GW)

8.1. Eólica offshore no mundo Europa 1.481,1 1.913,8

A potência instalada em parques eólicos marítimos somava


1.955,9 MW nos finais de 2009, correspondendo a maior Resto do
1.491,6 1.955,9
Mundo
parte deles ao Reino Unido, com 688,2 MW; Dinamarca,
com 663,9 MW, Holanda, com 246,8 MW e Suécia, com
163,7 MW (figura 12).
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

TABELA 7 das estações metereológicas pertencentes à dita


Potencial eólico offshore no mundo. Ano 2020. organização, assim como um resumo energético por
187
comunidades autónomas. Dentro da Administração
Potência Área ocupada também se dispõe da rede de medição oceanográ-
(GW) (km2) fica da Entidade Pública de Portos do Estado (EPPE),
que dispõe das seguintes redes de monitorização.
Bélgica 6,67 834
- Rede Meteorológica Portuária (REMPOR).
Consta actualmente de 30 estações meteoroló-
Dinamarca 27,79 3.474
gicas instaladas em 21 autoridades portuárias.
Todas elas dispõem de sensores de vento,
Finlândia 13,4 1.675 pressão, temperatura, humidade relativa e preci-
pitação. Tanto as suas características técnicas
como a sua exploração respondem a convenções
França 32,78 4.097
determinadas pela Organização Meteorológica
Mundial e ajustam-se aos Projectos de Legis-
Alemanha 11,54 1.443 lação Espanhola da série 500.

- Rede Costeira (REMRO). Proporciona dados das


Grécia 3,3 413
ondas em tempo real em pontos de água pouco
profunda. O seu objectivo é complementar as
Irlanda 15,34 1.917 medidas da rede exterior em lugares de espe-
cial interesse para as actividades portuárias ou a

Energia Renováveis: Eólica e Marinha


validação de modelos de ondas. Através de
Itália 16,98 2.122 bóias escalares e direccionais Waverider.

Holanda 6,56 820 - Radar na Costa. A tecnologia Radar de Alta


Frequência permite a monitorização remota de
correntes e ondas numa área com raio entre
Portugal 12,74 1.592 centenas e milhares de quilómetros quadrados.
Ainda está em fase de experimentação.
Espanha 25,52 3.190
- Medidores de corrente marítima. O objectivo
desta rede é obter medições oceanográficas
Suécia 17,26 2.157 (correntes, temperatura e salinidade) que
complementem e ajudem a interpretar as
Reino
46,75 5.844
obtidas pelas bóias da rede exterior. Está capítulo 08
Unido formada por cadeias de medidores (modelo
RCM7) instalados a profundidades pré-defi-
TOTAL 236,63 29.578 nidas.

- Rede de Marégrafos (REDMAR). O objectivo é a


monitorização dos dados do nível do mar em
O European Wind Atlas (Risø, 1989) foi o resultado tempo real e a geração de séries históricas para
de uma iniciativa da Comissão Europeia e envolveu sua posterior exploração. Na actualidade está
institutos metereológicos e organizações relacio- constituída por 15 marégrafos acústicos SONAR
nadas de toda a União Europeia (UE). A coordenação e 7 marégrafos de pressão Aanderaa.
e elaboração do Atlas foi encarregue ao Risø National
Laboratory (Dinamarca), um dos principais centros - Rede de águas profundas (Projecto RAYO-
de investigação em energia eólica do mundo, e a EMOD). A rede de águas profundas está formada
ferramenta utilizada foi o WasP, software específico por 11 bóias Seawatch e 3 Wavescan. Os instru-
para a estimação de recursos eólicos. mentos estão implantados em pontos com
profundidades entre 200 m e 800 m e medem
O Mapa Eólico Nacional, elaborado pelo Instituto parâmetros oceanográficos e meteorológicos.
Nacional de Meteorologia (INM), oferece informação
Figura 8
Repartição por países da potência eólica offshore.
188

2% 1%

2%

3%

53%

38%

Dinamarca Reino Unido Suécia


Irlanda Holanda Alemanha

Fonte: EWEA.

Os dados são transmitidos a cada hora vía saté- nental estreita e com encostas íngremes que não
lite. são favoráveis para o desenvolvimento da energia
eólica offshore. A análise das condições batimétricas
Para a estimação eólica descarta-se a utilização de medições deve-se fazer de forma precisa para cada implan-
realizadas a partir de barcos pela inexatidão das mesmas. tação. Neste relatório apenas se apontam aquelas
Das redes incluídas, somente as de águas profundas e a zonas favoráveis para a implantação de aerogera-
REMPOR têm capacidade para registar vento e outros parâ- dores marítimos.
metros meteorológicos. O resto das redes de medição
proporciona informação acerca de correntes e ondas, • Condições geológicas. Em Espanha, os principais
apesar de não resultar útil nesta primeira estimação do recursos de informação geológica na costa espan-
potencial eólico, resultará de grande utilidade em fases hola provém do estudo da plataforma continental
mais avançadas do desenvolvimento de parques eólicos espanhola, elaborado pelo ESPACE, e do desenvolvi-
offshore. mento de um sistema de informação geográfica para
a gestão dos fundos marítimos, elaborado pelo
Para a viabilidade de um parque eólico offshore, a intensi- SIGFOMAR. De igual modo com as condições bati-
dade média do vento deve ser pelo menos 7 m/s à altura do métricas, a análise realizar-se-á por comunidades.
eixo, considerando-se óptimo intensidades de 8 m/s ou
superiores. Diversos estudos fixam em 20% o aumento da • Ao seleccionar locais para aerogeradores, conside-
intensidade do vento no mar respectivamente à costa, a ram-se preferencialmente locais com substrato de
uma distância de 10 km, o que implica que o vento na costa lama e areia em lugar de rochas, embora isto se deva
deve ser 5 m/s no mínimo, estando o valor ideal entre os 6 principalmente a razões de custo e não a problemas
m/s – 7 m/s. O aumento de intensidade, segundo as expe- técnicos.
riências offshore mais recentes, pode ser inclusivamente
superior. • Capacidade técnica. A I&D em energia eólica offs-
hore é intensa e os avanços conseguidos nos últimos
• Batimetria. Portugal possui uma costa com boa bati- anos vêm ampliando as perspectivas de desenvolvi-
mentria. Contudo conta com uma plataforma conti- mento e as fronteiras que se podem alcançar com
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

baixo custo. No quadro seguinte (tabela 8) mostra-se


a situação tecnológica do sector.
189

TABELA 8
Capacidade técnica e perspectivas.

Comercial Demonstração I+D


Plataformas
Profundidade 10-25 m Até 50 m
flutuantes

Aerogeradores 2-3,6 MW 5 MW 10 MW

Dist. costa < 20 km < 30 km < 40 km

Custo 1.600 €/kW – –

Fonte: CENER e AEE.

Energia Renováveis: Eólica e Marinha


capítulo 08

Aerogeradores offshore.
09 Energias Renováveis: Solar
potência (denominadas neste caso centrais eléc-
1. Introdução
tricas termosolares) e, em menor escala, também
192
servem para aplicações de química solar: orientadas
A energia solar foi e continua a ser aproveitada em maior para a conversão da energia radiante em energia
ou menor escala pelo homem e a Terra ao longo da sua química como o reformador solar de gás natural ou a
história, de forma directa através do aquecimento directo, obtenção de hidrogénio solar através de processos
fotossíntese, habitações bioclimáticas e, indirectamente, de electrólise a alta temperatura, dissociação térmica
através de moinhos de vento, combustão de biomassa, de vapor ou outros procedimentos termoquímicos.
etc. Outras aplicações ainda menos desenvolvidas são
as de dessalinização da água, a detoxificação de
Quando se fala de instalações de energia solar há que efluentes industriais e agrícolas, o tratamento ou a
especificar a tecnologia que se utiliza no seu aproveita- síntese de materiais, etc.
mento, já que existem muitas formas de o fazer. As mais
importantes são: • As instalações solares fotovoltaicas, têm como objec-
tivo a produção de electricidade de forma directa, sem
• As instalações de energia solar térmica de baixa necessidade de utilizar nenhum ciclo de potência.
temperatura, cuja aplicação fundamental é a produção Esta electricidade pode-se vender à rede eléctrica ou
de água quente em habitações, processos industriais, consumir directamente em lugares onde não exista
piscinas, etc., e em menor escala a produção de frio rede eléctrica, como habitação no campo, bombagem
para refrigeração e climatização de espaços. de água, sinalização, telecomunicações, etc.

• As centrais de energia solar térmica de média ou alta Nesta classificação não foram incluídas outras formas de
temperatura, os Sistemas Termosolares de Concen- aproveitamento menos difundidas, como por exemplo as
tração, cuja aplicação fundamental é a produção de cozinhas solares, processos de secagem, fotoemissão, etc.
electricidade através da utilização de um ciclo de

TABELA 1.
Tipos de aproveitamento da radiação solar através de instalações projectadas para esse efeito.

Transformação
da radiação solar em Tipo de instalação Equipamento principal Aplicações

Água quente sanitária


Para Aquecimento piscinas
Calor aquecimento
Captador plano ou tubo de vácuo
Secagem de alimentos e materiais
Energia solar Aquecimento de espaços
térmica
de baixa
temperatura
Aproveitar
Captador plano ou tubo de vácuo
Frio o calor para
e equipamento de absorção
Refrigeração de espaços
produzir frio
Radiação solar

Instalações conectadas à rede:

- Venda de energia à rede


Energia
- Instalações isoladas da rede
Electricidade solar Célula fotovoltaica
- Bombagem de água
fotovoltaica
- Sinalização
- Electrificação rural
- Telecomunicações

Concentrador da radiação com um


ciclo de potência: Instalações
Centrais eléctricas - Cilindro-parabólicos conectadas à rede:
Electricidade termosolares1 - Concentradores lineares de Fresnei
- Receptor central - Venda de energia à rede
- Discos parabólicos

1 Estão dentro dos Sistemas Solares de Concentração.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

A única característica que têm em comum estas instalações é cidos. Neste sentido, são instalações que vão contri-
que todas utilizam o mesmo recurso: a radiação solar. As prin- buir para uma produção energética mais distribuída do
193
cipais vantagens destas instalações são: que na actualidade, com menores perdas energéticas
e menos impactos ambientais.
• É renovável, já que se estima que a idade do Sol seja
5.000 milhões de anos, com perdas de massa de 4,5 • É muito pouco contaminante, já que a contaminação
t/s, pelo que se estima uma duração de pelo menos ambiental se produz na fabricação dos componentes,
6.000 milhões de anos para reduzir a sua massa em não no processo de transformação da radiação solar
10%. em energia final. As características dos seus compo-
nentes fazem com que esta incidência seja muito
• É sustentável, porque é uma fonte de energia que não pequena.
contribui para o aquecimento terrestre ao ser recebida
diariamente e se se aproveitar não contribui para o seu Como desvantagem principal, destaca-se que o recurso não
aquecimento. está presente durante as 24 horas do dia, pelo que devem
ser complementadas com outras fontes de energia
• É abundante, no sentido de que a energia diária inci- (biomassa, eólica, gás, etc.) se se quiser assegurar uma
dente é da ordem de 10.000 vezes o consumo energé- determinada produção, o que nos leva a pensar num futuro
tico da humanidade. imediato no uso de instalações híbridas, solares em combi-
nação com outras fontes energéticas.
• É dispersa, isto é, encontra-se em maior ou menor
quantidade em todos os lugares da Terra, inclusiva-
mente é mais abundante nos lugares mais desfavore-

Figura 1
Mapa de radiação de Portugal e zonas climáticas de Inverno e Verão.

Energias Renováveis: Solar


capítulo 09

Fonte: Agência Portuguesa do Ambiente.


2. Radiação Solar 3. Energia solar térmica
194

A fonte energética por excelência que deu origem a todas as


3.1. Aspectos básicos
demais – incluindo os combustíveis fósseis – é, sem dúvida,
a radiação solar. Um aspecto importante da radiação solar em relação ao seu
aproveitamento energético é a sua distribuição espectral.
Ela ocorre na Terra sobre a forma de radiação electromag- No caso concreto da transformação em módulos fotovol-
nética (entre 0,2 µm e 3 µm) que se origina nas reacções taicos para obter directamente electricidade, apenas a parte
nucleares de fusão que têm lugar no Sol, a 150 milhões de do espectro solar em comprimentos de onda inferiores a 1
quilómetros de distância. Ao chegar ao exterior da atmos- µm é aproveitada e por isso o rendimento energético destes
fera tem um potência de 1.367 W/m2 (constante solar) e dispositivos é relativamente baixo (entre 10% e 15%). Como
atravessa-a, reflectindo-se uma parte, absorvendo-se curiosidade, é interessante saber que as plantas verdes
outra e chegando ao solo aproximadamente 50% do inci- também são sensíveis para realizar a função fotossintética a
dente. Naturalmente, quando há nuvens reflecte-se e comprimentos de onda inferiores a 0,7 µm. Pelo contrário,
absorve mais quando não as há, pelo que, em última os conversores térmicos (captadores de baixa temperatura
análise, a quantidade de radiação solar que chega a um e outros dispositivos de média e alta temperatura)
determinado lugar é muito variável (entre 0 W/m2 e respondem em todos os comprimentos de onda do espectro
1.000 W/m2). Em termos de energia, em Portugal a solar, já que se trata de absorção térmica e todos os mate-
radiação solar que chega a uma superfície horizontal é de riais respondem a este estímulo energético sem nenhuma
1600kWh /m2 em valor médio anual. selectividade espectral.

Na figura 1 (página anterior) indica-se a distribuição da Uma instalação térmica tem como objectivo a produção e
radiação solar em Portugal, segundo o RCCTE, classificando armazenamento de água quente a partir da radiação solar.
Portugal em três zonas climáticas, desde as zonas de menor Esta água quente pode ser destinada ao consumo directa-
radiação solar (zona I) até as zonas de maior radiação solar mente no chuveiro, máquina de lavar a roupa, processo
(zona III). industrial, aquecimento de piscinas, aquecimento ambiente,
etc., ou como entrada de uma máquina de absorção para
De um certo ponto de vista, interessa saber que a radiação produzir frio, usada na refrigeração. A utilização para uso em
solar nos chega em duas formas principais: directamente refrigeração é ainda muito limitada, sendo maioritário o
do disco solar, sem modificações na direcção (componente consumo de água quente.
directa), e de todo o céu, como consequência das difusões
que os componentes atmosféricos produzem na radiação Na figura 2 mostra-se um esquema básico de uma instalação
incidente (componente difusa). Como é evidente, a compo- solar para produção de água quente.
nente directa é muito superior em quantidade do que a
difusa, sobretudo em dias claros, chegando a alcançar Podem-se distinguir os seguintes equipamentos:
valores de até 10 kWh/m2 por dia no Verão (quando existem
mais horas de sol), enquanto que a difusa tem valores • Um sistema de captação formado por colectores
normais inferiores a 1 kWh/m2 por dia em dias claros, solares, encarregado de transformar a radiação solar
apesar de em dias nubolosos poder chegar a valores da incidente em energia térmica de forma a aquecer o
ordem dos de 2,5 kWh/m2 por dia. fluido de trabalho que neles circula. O princípio de
funcionamento está baseado no efeito estufa. O equi-
Nos dispositivos de transformação da radiação solar em pamento fundamental da instalação pode ser de dois
energias intermédias (electricidade e calor, principalmente), tipos: captadores solares planos ou tubos de vácuo.
necessita-se de informação da radiação solar na sua compo-
nente directa ou a projecção da total sobre a superfície incli- • Um sistema de permutação de energia que realiza a
nada na qual se encontrem os colectores solares ou módulos transferência de energia térmica captada desde o
fotovoltaicos correspondentes. Nem sempre se dispõe circuito de colectores, ou circuito primário, à água
dessa informação, pelo que é necessário obtê-la a partir de quente que irá ser consumida.
umas medições básicas de estações específicas ou a partir
de imagens de satélite através de processos de cálculo nem • Um sistema de acumulação constituído por um ou
sempre fáceis. vários depósitos que armazenam a água quente até
que esta seja necessária para o consumo.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 2
Esquema de uma instalação solar térmica para produção de água quente.
195

Energias Renováveis: Solar


• Sistema de regulação e controlo que se encarrega de as instalações de termossifão e as instalações de circulação
coordenar os fluxos dos diferentes circuitos para maxi- forçada.
mizar a eficiência, fiabilidade e durabilidade da insta-
lação. Nas instalações de termossifão o movimento do fluido de
trabalho produz-se através de variações de densidade do capítulo 09
• Um circuito hidráulico constituído por tubagens, mesmo, como consequência de variações na sua tempera-
bombas, válvulas, etc., que se encarrega de estabe- tura, isto é, circula com convecção natural. Nas instalações
lecer o movimento do fluido quente até ao lugar de de circulação forçada o movimento do fluido tem lugar graças
consumo final. a uma bomba de circulação.

• Um equipamento de energia convencional auxiliar que Para o caso da pequena procura de água quente, como por
se utiliza para complementar, caso seja necessário, a exemplo nas habitações unifamiliares, existem no mercado
contribuição solar fornecendo a energia necessária instalações solares térmicas pré-fabricadas que são formadas
para as necessidades previstas, garantindo a continui- por todos os equipamentos necessários para a instalação,
dade do fornecimento de água quente em casos de conectados entre si e prontos a serem instalados, que se
escassa radiação solar ou necessidades superiores ao comercializam com um só nome comercial.
previsto. Trata-se geralmente de uma caldeira de gás
ou eléctrica. Para o caso de habitações multifamilares, existem diferentes
configurações e possibilidades que em cada caso o projec-
Existem diversas configurações de instalações solares tista deve analisar detalhadamente, porque é fundamental a
térmicas para a produção de água quente. De forma simplifi- selecção da configuração adequada para uma óptima
cada, de acordo com o mecanismo responsável pelo movi- eficência, fiabilidade e durabilidade da instalação. Por
mento do fluido através do circuito primário, distinguem-se exemplo, existe a possibilidade de utilizar uma instalação
completa (colectores, depósitos e caldeira auxiliar) centrali-
zada na cobertura do edifício com um uso partilhado por 3.2. Situação actual
196
todos os focos habitacionais ou, pelo contrário, colectores
comuns para todas as habitações mas cada habitação a Estima-se que aproximadamente 40% dos colectores solares
dispor de um reservatório térmico independente, para além instalados no mundo se encontrem na China. A Europa
de outras possibilidades distintas. representa apenas 9% do mercado mundial de energia solar
térmica, com uma potência instalada de 10.000 MW térmicos
Em Portugal é obrigatório que os edifícios de nova cons- por hora em finais de 2004, o que representa um total de 14
trução, os edifícios reabilitados e as piscinas climatizadas milhões de metros quadrados de colectores solares em
incorporem instalações de energia solar térmica para satis- funcionamento.
fazer uma parte da procura de água quente. Apenas a título
exemplificativo, em Portugal 1 m2 de colector solar aquece, Apesar dos objectivos contemplados pela Comissão Euro-
em média anual, diariamente à volta de 60 litros (no Norte) e peia no seu Livro Branco estarem demasiado distantes, o
80 litros (no Sul). Dito de outra forma, pode-se considerar certo é que os primeiros anos deste novo milénio resul-
0,75 m2 de colector solar por pessoa no Sul e 1 m2 de taram decisivos para o arranque definitivo da tecnologia
colector solar por pessoa no Norte. Os colectores devem ser solar térmica na Europa. O crescimento da superfície insta-
orientados para Sul e é comum incliná-los aproximadamente lada durante 2006 foi de 47%, instalando-se aproximada-
à latitude do local. mente 3 milhões de metros quadrados apenas durante
esse ano. Para 2007 espera-se um crescimento moderado
A outra aplicação é a produção de frio. Na figura 3 indica-se de 17%. Não obstante, será difícil alcançar os objectivos
o esquema de uma instalação solar térmica para produção colocados no Livro Branco, que se estimam em 100 milhões
de frio em refrigeração através de fancoils. Observe-se como de metros quadrados instalados na Europa em 2010.
se inclui um equipamento de absorção que é o que se utiliza
para produzir frio através de uma entrada de calor. Considere Em Portugal em 2006 estavam instalados cerca 180.950 m2
o leitor que se trata do mesmo mecanismo dos frigoríficos segundo o portal das renováveis na hora. Nestes 15 anos
de butano que existem no mercado que produzem frio, mas verificou-se um crescimento global e sustentável de 15%,
neste caso incorporando o calor através da combustão do sem ser obrigatória a instalação.
gás.
Em Portugal, devido à entrada em vigor da obrigatoriedade
Em Portugal existe a obrigatoriedade de instalar este tipo de das instalações solares térmicas em Abril de 2006, o cresci-
instalações e actualmente estas estão a experimentar um mento nos próximos anos vai ser muito superior, sendo tal já
grande desenvolvimento tecnológico. indicado pelos fabricantes e empresas instaladoras.

Figura 3
Esquema simplificado de uma instalação solar térmica para arrefecimento.

Colectores solares

Fan-coils

Caldeira

permutador
de calor das placas
Equipamento
de
absorção

Tanque
de armazenamento
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

No ano de 2008 começaram a habitar-se as habitações que colector solar plano e vem revestida igualmente por uma
foram construídas tendo em conta as exigências do RCCTE, pintura selectiva. Os tubos de vácuo “heat-pipe” utilizam
197
dispondo todas elas de instalações solares térmicas. um fluido diferente no interior dos tubos. A radiação solar
aquece este fluido provocando a sua evaporação e movi-
mento até à parte superior do colector, onde está colocado
3.3. Aspectos tecnológicos um condensador que transmite a energia ao fluido do
circuito primário e volta ao estado líquido descendo nova-
Colectores solares mente pelo tubo.
Como foi indicado, o componente principal é o colector solar.
Este pode ser do tipo plano ou de tubo de vácuo. A principal diferença que apresenta respectivamente aos
colectores solares planos é que se cria o vácuo no interior
Colectores solares planos dos tubos de vidro. O vácuo diminui de forma importante as
São formados por uma grade ou bobine de tubos soldados a perdas térmicas, anulando praticamente as perdas por
uma chapa de absorção. Esta superfície é coberta por uma convecção, permitindo alcançar melhores eficiências neste
pintura negra ou um revestimento selectivo que favorece a tipo de colectores a maiores temperaturas de funciona-
absorção e diminui a emissão de energia para aumentar os mento, apesar de ser mais caro.
ganhos térmicos por parte do fluido. Estes tubos e a chapa
de absorção são geralmente de cobre ou alumínio, existindo Na figura 5 apresentam-se imagens de ambos os tipos de
também colectores de materiais plásticos de menor colectores.
eficiência. Para diminuir as perdas térmicas incorporam um
isolamento térmico na parte posterior e lateral, geralmente Figura 5
lã de rocha. A parte frontal é constituído por vidro solar (com Colector tubo de vácuo (esquerda) e colector solar
baixo conteúdo de óxidos de ferro) que permite a entrada da plano (direita).
radiação ultravioleta e limita a saída da radiação infravermelha
emitida pelo absorvedor, favorecendo assim o efeito de
estufa e aumentando a temperatura no interior do colector. A

Energias Renováveis: Solar


superfície destes colectores é da ordem dos 2 m2 por
unidade.

Figura 4
Componentes de um colector solar térmico.

capítulo 09
Os tubos de vácuo são mais eficientes que os colectores
planos quando se requer altas temperaturas de água quente
(acima dos 80 ºC - 90 ºC), ou em climas pouco quentes como
o norte da Europa; para além disso têm a vantagem de possi-
bilitar uma melhor integração arquitectónica, ao serem menos
sensíveis à orientação e inclinação da instalação.

No entanto, os tubos de vácuo apresentam os seguintes


Colectores de tubos de vácuo. inconvenientes quando comparados com os colectores
Este tipo de colectores é formado por uma série de tubos planos:
cilíndricos de vidro. Existem fundamentalmente dois tipos
de colectores desta tecnologia, de “fluxo directo” e “heat- • O preço de um tubo de vácuo é 2 a 3 vezes superior
pipe”. Os tubos de vácuo de “fluxo directo” transferem a ao de um colector plano.
energia proveniente do sol directamente ao fluido do
circuito primário; em muitos casos, coloca-se no seu inte- • A instalação de um colector de tubo de vácuo é mais
rior uma tubagem em forma de U pela qual circula o fluido cara porque requer mais tempo para a sua instalação
a aquecer. Esta tubagem tem soldada uma alheta de cobre e maiores competências profissionais dos instala-
ou alumínio que é equivalente à chapa de absorção do dores.
• A manipulação de um tubo de vácuo é mais delicada, no rendimento da instalação e que actualmente estão em
devido à sua menor resistência. Este facto também os processo de melhoria tecnológica e de custos.
198
condiciona ao longo da sua vida útil.
Máquinas de absorção
• A vida útil de um tubo de vácuo é menor, sobretudo As máquinas de absorção têm como objectivo produzir frio a
devido às perdas das condições de vácuo. A garantia partir de uma entrada de calor. No mercado existem máquinas
dos fabricantes de tubos de vácuo é de 2-3 anos, de grande dimensão (desde 300 kW até 5,2 MW) accionadas
perante os 8-10 anos dos colectores planos. com vapor sobre pressão. Estes modelos não se adaptam,
pela sua dimensão, à energia solar térmica.
Em Portugal, para a produção de água quente utilizam-se
maioritariamente colectores planos, sendo que para insta- Para potências menores do que 300 kW, são poucas as
lações de refrigeração utilizam-se colectores de tubo de empresas que oferecem algum equipamento. Sanyo e Yasaki
vácuo, embora estas instalação não são muito comuns. dispõem de equipamentos de absorção H2O-LiBr activados
com água, de potências menores do que 300 kW. Yasaki
Para além dos colectores existem outros componentes comercializa dois modelos de 35 kW e 105 kW e Sanyo tem
como tanques, permutadores de calor, acessórios, sistemas um modelo de 105 kW. Estes equipamentos são fabricados
de controlo, etc., que também têm uma grande importância para serem accionados com fontes de baixa temperatura (90

tabEla 2
Comparação das condições nominais, especificações técnicas e custo dos equipamentos de absorção de pequena
potência muito úteis para energia solar térmica.

Equipamento Rotartica Wegracal SE 15 Phönix ClimatWell 10

EAW, Institute of Phönix SonnenWärme


Fabricante / País Air-Conditioning and AG, ZAE Bayern, Technical
Rotartica, SA / Espanha ClimateWell
Refrigeration / Dresden, University of Berlin /
Alemania Alemania

Fluido de trabalho H2O/LiBr H2O/LiBr H2O/LiBr H2O/LiCl

COP 0,66 0,75 0,82 0,68

5,6 (água-água)
Potência frigorífica (kW) 15 10 9
4,2 (ar-água)

12/7 (água-água)
Temp. água fria (entrada/saída) 18/15 18/15 -/15
20/18 (ar-água)

Temp. água quente


(entrada/saída) ( ºC) 80/- 90/80 75/65,3 80/70

29/- (dissipação
Temp. água de refrigeração húmida)
(entrada/saída) ( ºC) 32/36 27/34,7 30/35
38/42 (ambiente)
(dissipação seca)

1.200 (ar-água)
Potência eléctrica (W) – – 170
600 (água-água)

Custo aprox. (€) 12.000 14.900 – 16.000


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

ºC) e portanto aptos para o uso de energia solar térmica. O TABELA 3


custo de um equipamento de absorção de H2O-LiBr de efeito Ordem de grandeza do tamanho mínimo para uma ins-
199
simples é da ordem de 260  €/kW de refrigeração, e um talação solar térmica numa habitação unifamiliar
sistema de efeito duplo tem um custo da ordem dos 280 €/
kW de refrigeração.
Necessidade Superfície Depósito
Quartos de AQS mínima solar mínimo
Respectivamente à mistura amoníaco-água (NH3-H2O), (litros a 60º C) (m²) (l)
somente três empresas fabricam equipamentos que utilizem
esta mistura, Colibrí bv (Países Baixos), Robur (Itália) e Carrier 1 45 0,0 0,0
Corporation (Estados Unidos). Estes equipamentos eram
fabricados inicialmente para a indústria da refrigeração indus- 2 90 2,7 136,5
trial de grandes potências (250 kW-700 kW), para tempera-
turas de evaporação próximas ou abaixo de 0 ºC, mas actual- 3 120 3,6 182,0
mente estes equipamentos são os mais comuns em
aplicações domésticas de pequena potência
4 180 5,5 273,0
(10 kW-17,4 kW).

Actualmente estão a aparecer no mercado equipamentos de 5 210 6,4 318,5


refrigeração por absorção de baixa potência (adequados para
funcionarem com energia solar térmica em aplicações dos 6 240 7,3 364,0
sectores doméstico e comercial) activados com tempera-
turas de 90 ºC ou inferiores. Estes fabricantes de máquinas
7 270 8,2 409,5
de pequena potência são resumidos na tabela 3.

3.4. Obrigatoriedade de instalações solares TABELA 4


térmicas

Energias Renováveis: Solar


Ordem de grandeza do tamanho mínimo para uma ins-
talação solar térmica numa habitação multifamiliar.
Desde 4 de Abril de 2006, o Regulamento das características
de Comportamento Térmico dos Edifícios estabelece, que
todos os edifícios de nova construção e os reabilitados no Pessoas/
(Habitação 3 Procura Superfície Depósito solar
envolvente e nas instalações cujo custo seja superior a 25% (litros a 60 ºC) (m²) mínimo (l)
quartos)
do valor do edifício, devem dispor de instalações solares
térmicas que satisfaçam uma percentagem da sua procura
30/(7,5) 660 20,0 1.001,0
de água quente.

Os utilizadores devem conhecer que têm direito a que nos 60/(15) 1.320 40,0 2.002,0 capítulo 09
novos edifícios que adquiram, uma parte da procura térmica
necessária para aquecer água quente tem que ser fornecida
a partir de uma instalação solar. Adicionalmente, têm a obri- 100/(20) 2.200 66,7 3.336,7
gação de realizar uma manutenção adequada, reflectida num
livro de manutenção do edifício. 150/(37,5) 3.300 100,1 5.005,1

A percentagem de água quente que deve ser satisfeita com


energia solar depende da zona climática, da procura total de 400/(100) 8.800 266,9 13.346,8
água quente do edifício ou piscina e do tipo de energia auxi-
liar que utilize.
6 240 7,3 364,0
Se o edifício é uma habitação unifamiliar, a instalação que
deve ser instalada é uma do tipo pré-fabricada. Na tabela 4, 7 270 8,2 409,5
indica-se uma ordem de magnitude do tamanho mínimo do
depósito solar e da superfície de colectores mínima exigida
numa zona climática com fornecimento de energia auxiliar a
gás, numa habitação unifamiliar em função do número de
quartos.
Se o edifício é multifamiliar, há que prestar especial atenção

200
à selecção da configuração da instalação solar para que todas 3.6. Legislação
as habitações possam aproveitar a radiação solar de forma
óptima com uma adequada eficiência e custo. Na tabela 5
indica-se a ordem de grandeza do tamanho mínimo do depó- A legislação técnica e administrativa para este tipo de insta-
sito solar e a superfície de colectores mínima requerida numa lações, não incluindo as relativas ao impacto ambiental e/ou
habitação multifamiliar, para uma zona climática IIII com riscos laborais, é a seguinte:
fornecimento de energia auxiliar com gás, em função do
número de pessoas, supondo que o edifício dispõe de habi- • Decreto de Lei 78/2006, de 4 de Abril, no qual se
tações com três quartos. aprova o Sistema de Certificação Energética (SCE).

Para outros usos como restaurantes, fábricas, hospitais, • Decreto de Lei 79/2006, de 4 de Abril, no qual se
hotéis, etc., o regulamento indica que se deve utilizar outros aprova o Regulamento dos Sistemas Energéticos e de
cálculos presentes no regulamento.. Climatização nos Edifícios (RSECE).

• Decreto de Lei 80/2009, de 4 de Abril, no qual se


3.5. Aspectos económicos aprova o Regulamento das Características de Compor-
tamento Térmico dos Edifícios (RCCTE).
As instalações solares térmicas têm um custo em Portugal
da ordem dos 600 €/m2 - 1.000 €/m2 de superfície de colector
instalado, em função do tamanho e características de cada
3.7. Contactos de interesse
instalação. Devido à entrada em vigor do RCCTE, os Associação Solar de la Indústria Térmica (ASIT)
programas de subvenção que existem nas comunidades Avenida del Doctor Arce, 14. 28002 Madrid
autónomas para este tipo de instalações centraram-se nas Telefone: 91 411 01 62
instalações solares térmicas que o utilizador decida fazer de admin@asit-solar.com
forma voluntária, sem que seja obrigatória a sua instalação. www.asit-solar.com
Por exemplo, numa habitação existente onde não se realize
nenhuma reabilitação, é muito possível que se obtenha um Agência para a Energia (ADENE)
subsídio para a instalação solar térmica. O utilizador interes- Rua Dr. António Loureiro Borges, nº 5 - 6º andar
sado deverá perguntar na agência da sua localidade. Arquiparque - Miraflores
1495-131 Algés
Do ponto de vista dos utilizadores destas instalações, devem Portugal
ter presente que estas são viáveis economicamente face a Telefone: (+351) 214 722 800
outras alternativas como aquecedores de água ou de gás. No Fax: (+351) 214 722 898
entanto, para a sua completa satisfação devem exigir uma www.adene.pt
boa qualificação profissional e experiência da empresa insta-
ladora, bem como as componentes da instalação, já que Federação da Indústria Solar Térmica Europeia (ESTIF)
quando o mercado cresce muito rapidamente existem Rue d’Arlon 63-65
muitas empresas com muito pouca ou nenhuma experiência B-1040 Bruxelas
que querem introduzir-se no mesmo sem os conhecimentos Telefone: 32-2-54 619 38
adequados, ocasionando graves prejuízos para os utiliza- info@estif.org
dores e para o próprio sector. www.estif.org

Do ponto de vista empresarial, o mercado está a atravessar Solar Heating and Cooling Programme
um grande crescimento tanto em Portugal como no resto do Agencia Internacional da Energia
mundo, permitindo uma oportunidade de negócio, tanto na Telefone: +1/231/6200634
fabricação e comercialização de componentes como na pmurphy@MorseAssociatesInc.com
instalação dos mesmos. www.iea-shc.org

Do ponto de vista social, estas instalações permitem uma Painel Internacional do Câmbio Climático (IPCC)
grande criação de emprego, que se estima em 16 empregos www.ipcc.ch
criados nesta indústria por cada milhão de euros investidos.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

As instalações fotovoltaicas agrupam-se em dois grandes


4. Energia solar fotovoltaica grupos em função do objectivo da mesma. Por um lado
201
estão as instalações fotovoltaicas isoladas da rede, que
têm como objecto cobrir as necessidade de energia eléc-
4.1. Aspectos básicos trica num lugar determinado, normalmente isolado da
rede eléctrica convencional. Entre as instalações fotovol-
Uma instalação solar fotovoltaica tem como objectivo taicas isoladas, as aplicações mais frequentes são o forne-
produzir electricidade directamente a partir da radiação cimento de electricidade para bombagem de água para
solar. rega, gado ou abastecimento humano; electrificação rural
para casas de campo, fornecimento eléctrico para insta-
Os módulos fotovoltaicos são formados por células solares lações de telecomunicações, sinalização e iluminação para
associadas entres si. As células solares são dispositivos estradas, túneis, etc., como para pequenos fornecimentos
encarregues da conversão directa da radiação solar em eléctricos para brinquedos, relojoaria, etc. Existem muitas
energia eléctrica na forma de corrente contínua, sendo o configurações deste tipo de instalações em função da
principal componente de uma instalação fotovoltaica. No aplicação. Estas instalações isoladas dispõem de módulos
módulo, quanto maior a radiação e menor a temperatura, fotovoltaicos e também incluem muitas vezes outros tipos
maior é a produção. Na sua implantação há que procurar que de equipamentos como baterias, inversores e regula-
esta não receba sombras, já que nestes casos o seu rendi- dores.
mento diminui consideravelmente. A orientação do módulo
que mais energia produz em posição fixa é a Sul. Por outro lado as instalações fotovoltaicas conectadas à
rede, que têm como objectivo fundamental injectar a energia
Nas instalações fotovoltaicas podem existir outros compo- produzida na rede da companhia eléctrica obtendo receitas
nentes, como por exemplo: o inversor, que é o dispositivo com esta venda de energia.
que transforma a corrente contínua em corrente alterna; a
bateria, que se encarrega de armazenar a energia e o regu- Estas instalações, para além dos módulos fotovoltaicos,
lador de tensão, que é um dispositivo para o controlo e prote- levam um inversor, protecções eléctricas e contadores. O

Energias Renováveis: Solar


cção da bateria. seu diagrama unifilar está regulado pela CERTIEL - Asso-
ciação Certificadora de Instalações Eléctricas. Por este

Figura 6
Esquema de uma instalação fotovoltaica para uma habitação isolada.

capítulo 09
Figura 7
Esquema de componentes de uma instalação fotovoltaica de conexão à rede.
202

Quadro eléctrico
(protecções e contadores)

Gerador fotovoltaico Unidade de acondicionamento


de potência
REDE ELÉCTRICA

motivo, está proibida a incorporação de baterias, geradores produção eléctrica tende a ser mais distribuída, esta tecnologia
eléctricos, etc., dentro da instalação. vai desempenhar um papel importante.

Este tipo de instalações está muito regulamentado pela Figura 8


legislação e, de acordo com ela, toda a energia produzida Evolução da produção mundial de módulos Fovoltaicos
deverá ser vendida à rede eléctrica, recebendo o titular uma (MWp).
quantidade de dinheiro por essa venda. Dentro desta confi-
guração estão os parques solares.

Em Portugal, desde há alguns anos que se tem vindo a


assistir a um espectacular aumento deste tipo de instalações
devido fundamentalmente ao enquadramento económico
impulsionado pelo Governo.

4.2. Situação actual


As instalações fotovoltaicas cresceram de forma quase Fonte: EuroObserv’er.
exponencial nos últimos anos, como se pode verificar na
figura ao lado, e as expectativas apontam para a conti- Também nos países em vias de desenvolvimento o seu uso
nuação deste crescimento. tem vindo a crescer (sobretudo em instalações isoladas)
devido a que permite garantir um desempenho eléctrico
O motivo deste crescimento é devido ao impulso generalizado mínimo a muitas pessoas sem acesso a redes eléctricas.
nos países desenvolvidos (em instalações ligadas à rede) por
ser uma energia renovável, muito sustentável devido ao seu Na tabela 5 reflecte-se a distribuição da potência instalada na
baixo impacto ambiental, distribuída (pode ser utilizada em qual- Europa em instalações isoladas e ligadas à rede nos anos
quer lugar) e produz energia nas horas de maior procura ener- 2005 e 2006.
gética. Na maioria dos países desenvolvidos está a ser intro-
duzido um enquadramento económico que permite que se Do ponto de vista de fabricantes de células fotovoltaicas, na
incorporem no sistema eléctrico nacional instalações fotovol- tabela 6 estão indicados os maiores produtores. Verifica-se o
taicas distribuídas em habitações e em instalações de potência crescimento da produção em todos eles em apenas um
não muito elevada (<10 MW). No futuro imediato, no qual a ano.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

TABELA 5
Evolução da potência instalada na Europa, em instalações fotovoltaicas ligadas à rede e isoladas.
203

Países 2005 Total 2006 Total


Ligada Isolada
Isolada (MWp) Ligada (MWp)

Alemanha 863,000 3,000 866,000 1.150,000 3,000 1.153,000

Espanha 13,700 0,800 14,500 59,500 1,000 60,500

Itália 15,300 0,300 15,600 11,000 0,600 11,600

França 3,553 1,776 5,329 6,114 0,300 6,414

Áustria 4,633 0,208 4,841 4,785 0,215 5,000

Reino Unido 2,567 0,146 2,713 2,600 0,150 2,750

Bélgica 0,795 0,000 0,795 2,103 0,000 2,103

Grécia 0,156 0,745 0,900 0,201 1,049 1,250

Suécia 0,060 0,311 0,371 0,400 0,250 0,650

Chipre – – – 0,440 0,080 0,520

Portugal 0,073 0,215 0,288 0,227 0,250 0,477

Energias Renováveis: Solar


Países Baixos 1,547 0,150 1,697 0,300 0,150 0,450

Irlanda 0,000 0,200 0,200 – – –

Rep. Checa 0,111 0,003 0,114 0,241 0,000 0,241

Dinamarca 0,320 0,040 0,360 0,200 0,030 0,230

Eslovénia 0,076 0,004 0,080 0,183 0,000 0,183

Polónia 0,016 0,067 0,083 0,087 0,027 0,114


capítulo 09
Finlanda 0,030 0,270 0,300 0,064 – 0,064

Luxemburgo 0,044 0,000 0,044 0,042 0,000 0,042

Hungria 0,010 0,007 0,017 – – –

Malta 0,009 0,000 0,009 0,033 0,000 0,033

Lituânia 0,000 0,000 0,000 0,000 0,023 0,023

Estónia 0,000 0,001 0,001 0,000 0,005 0,005

Eslováquia 0,000 0,000 0,000 0,000 0,004 0,004

Letónia 0,000 0,001 0,001 0,000 0,001 0,001

Total UE 905,999 8,243 914,242 1.238,520 7,134 1.245,654

Fonte: EuroObserv’er.
tabELA 6
Fabricantes de células fotovoltaicas em 2005 e 2006. 4.3. Aspectos tecnológicos
204

Fabricante País
Produção Produção Capacidade Célula solar
2005 (MWp) 2006 (MWp) em 2006
A célula solar é o componente fundamental de qualquer
Sharp Japão 427,5 434,7 600,0 instalação fotovoltaica. É um elemento tão fiável que os
fabricantes dão geralmente garantias das suas caracterís-
Q-Cells Alemanha 165,7 253,1 420,0 ticas por prazos superiores a 20 anos. Na actualidade a vida
útil deste dispositivo é superior a 35 anos.
Suntech China 82,0 160,0 330,0
Na tabela 7 estão representadas as características dos prin-
Sanyo Japão 125,0 155,0 165,0 cipais tipos de células solares que existem a nível comer-
cial, observando que uma célula fabricada num laboratório
Kyocera Japão 142,0 180,0 240,0 tem maior eficiência que uma célula fabricada a nível indus-
trial ou que um módulo fotovoltaico, que é uma associação
Bp Solar Reino Unido 85,8 85,6 200,0 de células com perdas associadas.

Motech Taiwan 60,0 102,0 200,0 Do total de módulos fotovoltaicos instalados a nível mundial,
90% - 95% são de células de silício monocristalino e de células
Solarworld Alemanha 37,5 90,0 190,0 de silício policristalino, sendo uma parte muito pequena (<2%)
de células de CdTe e células de CIS e o resto (3% - 7%) são
Mitsubishi Japão 100,0 111,0 135,0 módulos de células de silício amorfo. Entre o silício monocris-
talino e policristalino não existe uma grande diferença: o mono-
Schott Solar Alemanha 92,0 93,0 129,0 cristalino é ligeiramente mais eficiente (ocupa portanto menos
superfície para igual potência) mas é ligeiramente mais caro.
Isofotón Espanha 75,0 61,0 130,0 Para tomar uma decisão entre um dos dois, haverá que
conhecer em cada momento os dados económicos e técnicos
Photowatt França 32,3 35,0 50,0 dos possíveis módulos para uma instalação. Ambos apre-
sentam uma grande durabilidade nas suas prestações eléc-
Fonte: EuroObserv’er.

taBELA 7
Características dos diferentes tipos de módulos fotovoltaicos comerciais.

Rendimento Rendimento Rendimento


Superfície
Tipo de célula de célula em de célula em do módulo Custo
para 1 kWp Prestações
laboratório fábrica em fábrica (€/Wp)
(m2)
ηcl (%) ηci (%) ηmi (%)

Silício monocristalino 25 18 14 7-9 3,0 - 4 Muito boa

Silício policristalino 20 15 13 8 - 11 2,9 - 3,95 Muito boa

Silício amorfo (película fina) 13 10 7,5 16 - 20 2,5 - 4 Regular

Telúrio de cádmio (CdTe)


16,3 10 9 14 - 18 2,5 - 4 Regular
(película fina)

Selénio de cobre-índio (CIS)


18,5 13,9 9,9 11 - 13 2,1 - 3,9 Regular
(película fina)
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

tricas, os fabricantes fornecem hoje em dia garantias da ordem ordem dos 1,5 €/Wp - 2,5 €/Wp; por outro lado, produzir
dos 20-25 anos para pelo menos 80% da sua prestação. células muito eficientes apesar de apresentarem um maior
205
custo, o que normalmente é compensado devido à utilização
Em geral, o grupo de módulos de película fina (CdTe, CIS e de dispositivos de concentração da radiação solar e/ou
silício amorfo) apresenta a particularidade de que as suas seguidores solares. As eficiências actuais deste grupo
prestações são inferiores, em geral, devido à eficiência, e situam-se à volta dos 14% - 17% e os seus custos na ordem
diminuem mais rapidamente com o tempo, sobretudo dos 3 €/Wp - 7 €/Wp.
durante o primeiro ano, onde podem alcançar uma redução
até 20% devido ao envelhecimento por indução da radiação Nos próximos anos irá-se produzir uma melhoria na relação
(efeito Staebler-Wronski). Para além disso, existe menos energia produzida/custo que vai permitir que esta tecnologia
experiência em processos de fabricação e garantia a muito avance rumo a um uso mais generalizado junto dos cida-
longo prazo. Há que destacar que nos últimos anos se dãos.
avançou muito no solucionar destas desvantagens.
Seguidores solares
Outros tipos de células, que nos últimos anos tendem a Outra alternativa tecnológica é a de fixar os módulos fotovol-
tornar-se comercializáveis, são as células híbridas HHIT (que taicos sobre alguma estrutura de suporte com movimento
já estão a aparecer no mercado), células de corante, células que permita aos módolos fotovoltaicos seguir a posição do
orgânicas ou de polímeros, etc. Sol. Na actualidade existem numerosos fabricantes de segui-
dores tanto de dois como de um eixo.
Em modo de resumo, existem múltiplas linhas de investi-
gação em novas células solares. O objectivo a alcançar a Se se incorpora um sistema de seguimento, o módulo foto-
curto-médio prazo é a redução do custo da energia produzida voltaico recebe mais radiação solar durante o dia e produzirá
através deste tipo de instalações. Para isso está-se a inves- mais energia eléctrica. O aumento da radiação incidente
tigar em múltiplas direcções, sendo que estas se podem num módulo fotovoltaico que está sobre uma estrutura de
agrupar em duas. Por um lado, produzir células mais baratas, seguimento comparativamente ao de posição fixa não é o
apesar da sua eficiência não ser muito elevada (dentro deste mesmo em todo o mundo, pelo que depende da locali-

Energias Renováveis: Solar


grupo estão as células de dispositivos de película fina, como zação. Em lugares onde normalmente está nebulado (por
a-Si, CdTe, CIGS, células orgânicas e de polímeros…), com exemplo, Londres) o aumento de radiação captada é muito
eficiências actuais em torno dos 6% - 10% e custos da

capítulo 09

Módulos fotovoltaicos comerciais com concentração solar 2X em Sevilla PV. Plataforma Solúcar. Abengoa Solar.
206

Célula solar de arsenieto de gálio, com concentração da radiação 1000X desenvolvida por Isofotón.

menor do que em lugares onde normalmente não existem eficiências superiores às actuais (até 40%), apesar do seu
muitas núvens (por exemplo, Sevilha). custo ser mais elevado.

Pelo contrário, os sistemas de seguimento da posição do Sol Os sistemas de concentração requerem seguidores solares
têm o inconveniente dos custos adicionais de investimento e de dois eixos e de bons dissipadores térmicos para evitar o
manutenção em comparação com os módulos instalados aquecimento excessivo da célula.
numa estrutura fixa, sendo que cada caso particular merece
um estudo detalhado. Nos últimos anos, foram realizadas em Em Espanha, Abengoa Solar dispõe de uma central fotovol-
Portugal instalações com módulos em estrutura fixa, com taica Sevilla PV em Sanlúcar La Mayor (Sevilha) de 1,2 MWp,
estruturas com seguimento num eixo (ganhos de radiação até com células comerciais de silício monocristalino com uma
24% face ao fixo óptimo) e com seguimento em dois eixos concentração da radiação até duas vezes (2X), através de
(ganhos de radiação em torno dos 30% face ao fixo óptimo). espelhos de ambos os lados de cada módulo.
Em cada caso, aconselha-se a analisar bem os ganhos de
radiação e de produção eléctrica em cada lugar face aos custos Portugal possui uma das maiores centrais fotovoltaicas do
do sistema de seguimento face ao fixo. mundo. Localizada em Moura possui 46 MWp.

Concentração solar Também em Espanha, a empresa espanhola Isofotón está a


A concentração solar tem como objectivo que numa célula ponto de lançar no mercado uma célula de arsenieto de gálio
solar incida mais radiação que a correspondente à sua super- (GaAs) de 1 mm2 de superficie dotada com um concentrador
fície. A nível terestre, a máxima radiância que pode incidir de até 1.000 vezes a radiação solar.
numa célula sem concentração é de aproximadamente
1.000 W/m2, enquanto este valor se pode multiplicar enor- Do ponto de vista tecnológico, foi criado em Puertollano
memente (a nível comercial, até 1.000 vezes) se forem utili- (Ciudad Real) o Instituto de Sistemas Fotovoltaicos de
zados dispositivos concentradores da radiação como espe- Concentração (ISFOC) para potenciar a investigação e
lhos, sistemas ópticos, etc. Para além disso, estão a começar desenvolvimento de centrais fotovoltaicas com concen-
a desenvolver-se células específicas para concentração com tração.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

eléctrica numa habitação onde exista rede eléctrica de distri-


buição. Neste caso, o único que tem sentido económico é
4.4. Obrigatoriedade de instalações 207
realizar uma instalação fotovoltaica conectada à rede.
fotovoltaicas
TABELA 8
O Código Técnico da Edificação em Espanha estabelece, no Estrutura de custos aproximada, com referência ao
documento básico HE5, que todos os edifícios de nova Wp instalado, para uma instalação fotovoltaica fixa
construção e os reabilitados, que tenham a utilização e a de conexão à rede para um tamanho mínimo de uns
superfície mínima indicada na tabela anexa, deverão incluir 100 kWp.
obrigatoriamente uma instalação fotovoltaica de conexão à
rede. Em Portugal não existe essa obrigatoriedade, apenas Componentes Preço
na instalação do solar térmico.

Módulos fotovoltaicos 2,80 €/Wp


4.5. Aspectos económicos
Instalações de conexão à rede
O custo deste tipo de instalações (com todos os conceitos Estruturas suporte 0,34 €/Wp
incluídos) varia entre 550 €/m2 e 700 €/m2 de superfície de
módulo fotovoltaico instalado (4,5 €/Wp e 6 €/Wp).

Inversor + protecções + contador + cabelagem 0,67 €/Wp


Na tabela 8 indica-se uma repartição orientativa dos custos
de uma instalação fotovoltaica fixa conectada à rede de
tamanho na ordem dos 100kWp. Se a concentração é maior,
o custo pode ser ligeiramente inferior e, se é mais pequena, Cerca + vigilância + sistema de monitorização 0,08 €/Wp
ligeiramente superior.

Energias Renováveis: Solar


As receitas obtidas pela energia produzida por este tipo de
Montagem e colocação em funcionamento 0,14 €/Wp
instalações, dependem da potência do inversor. Decreto-Lei
nº 363 de 2007 descrevem-se com detalhe as distintas
possibilidades de receitas económicas (regime regulatório
geral e bonificado). Obra civíl de preparação de terrenos 0,18 €/Wp

Na actualidade, a maioria dos bancos e caixas têm linhas de


financiamento para este tipo de instalações para aproxima- Infra-estrutura de média tensão (se existe) 0,12 €/Wp
damente 80% do investimento. O prazo de amortização
deste tipo de investimentos está entre 12 e 16 anos aproxi-
madamente, com uma TIR que pode oscilar à volta dos 10% Engenharia, gastos de promoção, gastos gerais, capítulo 09
1,12 €/Wp
(obviamente, dependendo das condições financeiras, do gastos de administração e benefício industrial
lugar e dos custos específicos de cada central).

Instalações isoladas Total custo instalação 5,45 €/Wp


As instalações fotovoltaicas para abastecimento eléctrico
têm interesse económico face a outras alternativas de
fornecimento eléctrico (gerador ou rede eléctrica) quando
se procura energia na maioria dos dias do ano e a rede eléc-
trica de distribuição não está presente no local (mais de O custo deste tipo de instalações (com todos os compo-
500 m). Nestas instalações é fundamental analisar previa- nentes incluídos) varia entre entre 1.000 €/m2 e 1.500 €/m2 de
mente os consumos reais incorporando medidas de superfície de módulo fotovoltaico instalado (8 €/Wp - 12 €/
poupança e eficiência energética e não transferir os “abusos Wp).
energéticos” que se cometem numa habitação urbana.
Uma aplicação muito difundida na Europa são as insta- 4.6. Legislação aplicável às instalações
lações fotovoltaicas para o bombagem de água. fotovoltaicas
Do ponto de vista estritamente económico, não faz sentido A legislação mais relevante para este tipo de instalações é a
realizar uma instalação isolada para consumo de energia seguinte:
FIGURA 9
Tarifa fotovoltaica da microgreração no regime bonificado (2008).
208

Fonte: Renováveis na hora

• Decreto-Lei n.º 363/2007, de 2 de Novembro. Estabe- industriais ou de dessalinização, a produção de combustí-


lece o regime jurídico aplicável à produção de electrici- veis, etc. Os sistemas de geração de electricidade denomi-
dade por intermédio de unidades de microprodução. nam-se por Centrais Eléctricas Termosolares (CET).

• Normas particulares das companhias eléctricas. Uma CET é composta por um sistema concentrador, um
sistema receptor e um sistema de conversão de potência,
• Condições impostas pelas entidades públicas afec- podendo adicionalmente incluir um sistema de armazena-
tadas, como municípios, Ministérios do Meio mento térmico e um sistema de energia auxiliar.
Ambiente, Obras Públicas, Indústria, etc., de cada
comunidade. Na maioria das comunidades autó- O sistema concentrador capta e concentra a radiação solar
nomas existe um regulamento técnico e/ou adminis- sobre o receptor, onde se converte em energia térmica,
trativo que complementa a legislação nacional aumentando a temperatura do fluido de trabalho. A energia
geral. converte-se noutra forma de energia apta para sua utilização
(por exemplo, energia eléctrica) no sistema de conversão de
• Normas UNE dos componentes. potência. Os sistemas de armazenamento térmico e de energia
auxiliar permitem operar a CET em períodos de ausência de
radiação solar, facilitando assim a sua gestão.

5. Centrais Eléctricas Termosolares A radiação solar numa CET pode complementar-se com o
fornecimento energético de um combustível fóssil, dando
lugar a centrais conhecidas como híbridas. O grau de hibridi-
5.1. Aspectos básicos
zação pode ser muito variável: desde centrais que recorrem
ao combustível fóssil para eliminar ao mínimo imprescindível
Os Sistemas Termosolares de Concentração (STC) são o armazenamento térmico, e cuja função principal é absorver
sistemas de aproveitamento da energia solar em média e os transientes produzidos por variações mais ou menos
alta temperatura através da concentração da componente bruscas da radiação solar e garantir a produção de acordo
directa da radiação solar. com a estratégia operacional estabelecida, até ciclos combi-
nados convencionais apoiados por energia solar, nos quais o
A aplicação comercial mais comum hoje em dia destes fornecimento desta última fonte energética está entre 10%
sistemas é a geração de electricidade em centrais de e 20% da produção.
pequena a média dimensão (entre 10 kW e 100 MW) a partir
da energia solar, apesar de ser também utilizado em outras Do ponto de vista do sistema concentrador, os STC podem
funções, como a geração de energia térmica para processos classificar-se em dois grandes grupos:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• Sistemas de foco linear: A radiação concentra-se Tecnologia. Nas centrais de concentradores cilindro-parabó-
sobre um tubo que atravessa o foco do concentrador. licos actuais, a radiação solar concentra-se por meio de espe-
209
A este grupo pertencem os sistemas de colectores lhos curvados, de secção parabólica, sobre um tubo, o
cilindro-parabólicos e os concentradores lineares de receptor, situado sobre a linha focal do concentrador. A
Fresnel. radiação solar concentrada converte-se aqui em energia
térmica ao produzir-se o aquecimento do fluido de trabalho
• Sistemas de foco pontual: a radiação solar concen- (um óleo sintético nas centrais actuais) que circula pelo inte-
tra-se sobre uma zona centrada no foco do concen- rior do tubo receptor até temperaturas próximas a 400 ºC.
trador. Estes podem alcançar maiores relações de Finalmente, a energia térmica do fluido de trabalho é utili-
concentração e operar a maior temperatura. Os zada para produzir vapor de água que, finalmente, se utiliza
sistemas de torre ou receptor central e os concentra- para gerar a electricidade numa turbina de vapor similar às
dores ou discos parabólicos pertencem a este grupo. convencionais.

Colector. O elemento caracterísitico de uma central de


5.2. Concentradores cilindro-parabólicos concentradores cilindro-parabólicas é conhecido como
colector, existindo vários no mercado, apesar de todos os
Aspectos tecnológicos que se utilizam em centrais eléctricas termosolares terem
A tecnologia de concentradores cilindro-parabólicos é actual- características similares. Os seus elementos principais são:
mente a mais desenvolvida entre as solares térmicas. Desde
meados dos anos oitenta, em que se construíram as • A estrutura de suporte, que dota de rigidez o conjunto.
primeiras centrais SEGS (Solar Electric Generating Systems) Existem vários desenhos, como o Eurotrough, desen-
na Califórnia, estas instalações foram até muito recente- volvido por um consórcio europeu, o LS3 da empresa
mente as únicas centrais eléctricas termosolares operando israelita Solel y el Senertrough, da empresa espanhola
em regime comercial. A construção da última central SENER.
terminou em 1991. Actualmente estão em funcionamento
nove instalações SEGS no deserto do Mojave (Califórnia), • O sistema de seguimento, que permite a orientação

Energias Renováveis: Solar


totalizando um total de 354 MW de potência eléctrica insta- do concentrador.
lada, às quais há que adicionar os 64 MW da central Nevada
Solar One, próxima de Las Vegas (Nevada, Estados Unidos), • O reflector, espelho que reflecte e concentra a radiação
que foi recentemente inaugurada. solar. Actualmente existe apenas um só fabricante no
mundo, a empresa alemã Flabeg, se bem que a espan-

Figura 10
Princípio de funcionamento do concentrador cilindro-parabólico.

capítulo 09
hola Rioglass Solar anunciou a futura abertura de uma dades do Regime Especial propiciaram que quase todas as
linha de produção nas Astúrias. centrais tenham uma potência nominal de 50 MW e incluam
210
um sistema de armazenamento térmico em sais fundidos de
• O tubo absorvedor, composto por um tubo de aço grande capacidade – até oito horas equivalentes à potência
com revestimento selectivo e um tubo de vidro envol- nominal – o que permite a operacionalidade da central
vente, entre os quais é feito o vácuo. Actualmente durante várias horas na ausência do sol.
existe um só fabricante de tubos receptores – Solel -,
mas num futuro próximo a alemã Schott irá pôr em No norte de África, região privilegiada do ponto de vista da
marcha uma central de produção em Aznalcóllar radiação solar disponível, estão a ser desenvolvidos grandes
(Sevilha). projectos – Argélia e Marrocos – de ciclos combinados de
gás natural com fornecimento de energia solar procedente
Fluido de trabalho. Quase todas as instalações em funcio- de duas fábricas de concentradores cilindro-parabólicos,
namento ou em projecto utilizam óleos térmicos sintéticos, configuração favorecida pelo Global Environmental Fund do
com capacidade para operar até 400 ºC, já que para lá desta Banco Mundial, que apoia financeiramente estes projectos.
temperatura o óleo se degrada. Na Plataforma Solar de
Almería (PSA) tem-se vindo a trabalhar durante os últimos Aspectos económicos
anos no desenvolvimento da tecnologia de geração directa A rápida evolução do mercado nos últimos anos torna difícil
de vapor (GDV) nos tubos, o que permitirá operar a maiores uma estimação precisa dos custos actuais das centrais de
temperaturas, para além de reduzir o custo das centrais. concentradores cilindro-parabólicos; avançam-se valores
Existe um projecto para a construção de uma instalação GDV indicativos na ordem dos 3.000 €/kW a 5.000 €/kW de
de 3 MW de potência nominal nas imediações da PSA. potência nominal instalada, dependendo da capacidade do
sistema de armazenamento da central. A título exemplifica-
Sistema de armazenamento. O sistema de armazena- tivo, para uma central de 50 MW com seis horas de arma-
mento térmico permite operar na ausência da luz do sol. A zenamento, o investimento estimado situa-se por volta dos
tecnologia de armazenamento térmico em dois tanques de 200 milhões de euros. Destes, quase 60% correspondem
sais fundidos a diferentes temperaturas – tanque frio e ao campo solar (colectores), seguindo-se o sistema de
quente – é a opção melhor adaptada às centrais de concen- armazenamento térmico e o ciclo de potência – turbina,
tradores cilindro-parabólicos actuais. Utiliza-se uma mistura condensador, etc. – ambos em torno dos 15%.
de nitritos e nitratos de sódio e potássio que no processo
de carregamento se aquecem com a energia que o óleo A forte procura que se está a verificar nos últimos dois ou
térmico procedente do campo lhes cede no permutador de três anos, unida à escassez de fornecedores dos elementos
calor. No processo de descarga são os sais procedentes do principais – espelhos, tubos receptores – pode produzir um
tanque quente que cedem calor ao óleo térmico. aumento dos preços a curto prazo, situação que se espera
que seja corrigida pela entrada em mercado de novos forne-
Com vista às próximas gerações de centrais, está-se a cedores e com o aumento da capacidade de produção.
trabalhar no desenvolvimento de novos sistemas de armaze-
namento térmico, como os baseados em cimento ou em
materiais de mudança de fase, que armazenam a energia em 5.3. Concentradores lineares de Fresnel
forma de calor latente.
Aspectos tecnológicos
Tanto as centrais SEGS como Nevada Solar One carecem de O desenvolvimento desta tecnologia é muito recente e
sistema de armazenamento térmico. Em seu lugar, as apenas existem algumas centrais piloto de demonstração na
centrais SEGS utilizam uma caldeira auxiliar de combustível Europa e Austrália, se bem que recentemente começou a
fóssil que se utiliza nos períodos nebulosos. Nevada Solar operar uma central de 1,2 MW térmicos integrada numa
One é uma instalação puramente solar, que apenas produz central de carvão na Austrália. Também muito recentemente
energia com a presença do sol. foi inaugurada a maior destas centrais piloto na Plataforma
Solar de Almería, promovida pela empresa alemã MAN em
Situação actual colaboração com centros de I&D alemãs.
Para além das mencionadas centrais SEGS e de Nevada
Solar One, ambas nos Estados Unidos, há actualmente na Este tipo de instalações caracteriza-se pelo sistema concen-
Europa três centrais de concentradores cilindro-parabólicos trador que é composto por um conjunto de tiras de espelhos
– dois na província de Granada, Andasol I e II, e uma na ligeiramente curvados que se orientam coordenadamente,
província de Badajoz, Extresol I – e estão em distintas fases de forma a que a radiação solar se concentre sobre um tubo
de desenvolvimento vários outros projectos. As particulari- receptor situado a uma certa altura sobre o conjunto de
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

espelhos. O fluido de trabalho é água que aquece e evapora A figura 11 mostra um esquema de um SRC e ilustra o seu
à passagem pelo tudo receptor, podendo logo utilizar-se para modo de funcionamento.
211
gerar energia eléctrica numa turbina. Constituem uma alter-
nativa de baixo custo à tecnologia de concentradores cilin- A maior parte dos sistemas de receptor central construídos
dro-parabólicos, mas a temperatura máxima operacional e o até agora foram centrais de demonstração entre 500 kW e
rendimento, estão mais limitados. 10 MW de potência nominal, construídos em princípios dos
anos oitenta em vários lugares do mundo. Entre estas há
Actualmente existe um projecto para construir uma central de que mencionar a central Solar One em Barstow (Califórnia), a
6,5 MW eléctricos com esta tecnologia em Tavira (Portugal), maior construída até recentemente (10 MW) e já desmante-
utilizando tecnologia da empresa australiana SHP. O custo lada, bem como as duas existentes na Plataforma Solar de
estimado pelos promotores situa-se em torno dos 3.000 €/ Almería, construídas inicialmente como centrais de teste e
kW instalado. que desde há alguns anos funcionam como centrais de
ensaio, tendo desempenhado um papel fundamental no
5.4. Sistemas de receptor central desenvolvimento da tecnologia.

Aspectos tecnológicos Embora exista uma vasta experiência com este tipo de
Os STCS de receptor central (SRC) caracterizam-se pelo sistemas, o grau de maturidade da tecnologia é ainda inferior
sistema concentrador que é composto por um grupo, mais à dos concentradores cilindro-parabólicos, já que até muito
ou menos numeroso, de concentradores individuais recentemente não existia nenhuma central em funciona-
chamados helióstatos, que dirigem a radiação solar concen- mento em regime comercial. Desde princípios de 2006, está
trada para um receptor central, normalmente situado a uma em funcionamento a central PS10 da Abengoa Solar em
certa altura do solo numa torre. Sanlúcar La Mayor (Sevilha), que é a primeira CET que entrou
em funcionamento no Regime Especial.
São sistemas que podem alcançar um valor elevado da razão
de concentração e, portanto, operar eficientemente até Tecnologia. Os componentes principais de um sistema
elevadas temperaturas (acima dos 1.000 ºC). receptor central são os seguintes:

Energias Renováveis: Solar


Figura 11
Princípio de funcionamento de um sistema de receptor central.

capítulo 09
• Sistema colector ou campo de helióstatos. O receptor. O receptor de uma CET de receptor central
situa-se geralmente, por questões ópticas, sobre uma torre.
212
• Receptor, situado sobre uma torre. É o dispositivo onde a radiação solar concentrada se trans-
forma em energia térmica, produzindo-se o aquecimento ou
• Sistema de controle. a evaporação do fluido de trabalho. Ao longo da história desta
tecnologia foram propostos e testados um grande número
• Sistema de armazenamento. de receptores de diversas características geométricas e
operacionais com distintos fluidos de trabalho.
Helióstato. O helióstato é, juntamente com o receptor, o
componente mais característico de uma CET de receptor Os estudos e experiências realizados até agora não foram
central. capazes de demonstrar a superioridade de uma tecnologia
sobre as demais, entre outras causas porque a escolha de
Um helióstato é composto basicamente por uma superfície uma ou outra está condicionada não apenas por factores
reflectora, uma estrutura de suporte, mecanismos de movi- técnicos, mas também de política industrial. Assim, enquanto
mento e um sistema de controle. a indústria norte-americana aposta na tecnologia de sais
fundidos, a europeia aparece mais inclinada para os recep-
tores volumétricos de ar, sejam eles atmosféricos ou pressu-
rizados, ou os receptores de vapor de água, como o de
PS10.

Sistema de controlo. O sistema de controlo de uma CET de


receptor central apresenta características singulares, já que
deve garantir que todos os helióstatos – centenas numa
central comercial – estajam correctamente orientados em
todo o momento, de forma a garantir o funcionamento
correcto e seguro da central, Até à data, utilizam-se sistemas
de controlo de malha aberta, determinado-se em cada
instante a posição de cada um dos helióstatos através de
cálculos geométricos que têm em conta as equações do
movimento do Sol e posição relativa de cada helióstato
respectivamente ao receptor.

Sistema de armazenamento. As funções e características


do sistema de armazenamento de uma CET de receptor
central são similiares às das centrais de concentradores cilin-
dro-parabólicos, se bem que os distintos níveis de tempera-
turas permitam dispor de uma gama mais ampla de mate-
riais e configurações. Até agora, os meios de armazenamento
térmico utilizados têm sido de sais fundidos, água sobre
pressão, etc.
Heliostato de vidro-metal de 90 m2 de
superfície reflectora. Situação actual
A central PS10 de 11 MW da Abengoa Solar em La Mayor
As superfícies de reflexão mais utilizadas até hoje são à base (Sevilha), já em funcionamento, é a primeira central das
de espelhos de vidro, de características similares aos utili- várias que se construirão no mesmo local, constituindo a
zados para os colectores cilindro-parabólicos. Plataforma Solar de Sanlúcar La Mayor, com uma potência
prevista de 300 MW. A Abengoa Solar iniciou já a construção
A implantação do campo de helióstatos em relação ao de uma segunda instalação de receptor central, chamada
receptor está condicionado em grande medida pelas carac- PS20. Ambas utilizarão a mesma tecnologia, com helióstatos
terísticas do terreno disponível (forma da parcela, geografia...), de 120  m2 projectados e fabricados pela Abengoa e receptor
pelo tamanho da central e pela posição do receptor. As duas de vapor saturado, com um pequeno sistema de armazena-
opções clássicas contemplam a instalação do campo de mento em água sobre pressão com capacidade para operar
helioestatos ao redor (campo circundante) ou a um lado 50 minutos à potência nominal na ausência de sol.
(campo Norte ou Sul, segundo a latitude do local) de uma
torre, sobre a qual se situa o receptor.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 12
Esquema de um sistema de disco parabólico.
213

Outro projecto de CET de receptor central é a instalação bloco com o receptor. A radiação solar concentrada pelo

Energias Renováveis: Solar


Solar Tres de Sener. Esta central, ainda em fase de projecto, parabolóide incide sobe o receptor, onde se converte em
utilizará tecnologia de sais fundidos tanto no receptor como energia térmica aquecendo um gás que permite gerar elec-
no sistema de armazenamento. tricidade – trabalho mecânico – no sistema gerador.

Custos Os discos parabólicos caracterizam-se por um alto rendi-


Embora também neste caso seja difícil obter valores precisos mento, modularidade e autonomia.
sobre os custos, os valores indicativos que se utilizam estão
em torno dos 3.000 €/kW – 3.500 €/kW de potência nominal Tecnologia. Os componentes de um sistema de discos
instalada, para centrais sem sistema de armazenamento parabólicos são:
térmico. Como no caso da tecnologia de concentradores
cilindro-parabólicos, o capítulo-chave é no campo dos heliós- • Concentrador. capítulo 09
tatos (sistema concentrador), seguindo-se em importância o
ciclo de potência, o sistema de armazenamento – se o houver • Receptor e sistema de geração.
-, o receptor e a torre.
• Estrutura de suporte e mecanismos.
As características desta tecnologia colocam uma especial
ênfase nos problemas de escassez de fornecedores, se bem Concentrador. A forma da superfície reflectora num sistema
que tanto a torre como o receptor são elementos “únicos”, deste tipo é a de um parabolóide de revolução. O tamanho
que devem ser objecto de um projecto específico. do concentrador dependerá tanto da potência nominal como
da energia a gerar num período de tempo para determinadas
condições de radiação solar e rendimentos associados dos
5.5. Discos parabólicos elementos que constituem o sistema.

Aspectos tecnológicos Os discos parabólicos podem constituir-se com caracterís-


Os sistemas de discos parabólicos são compostos basica- ticas que se aproximam de forma discreta à geometria do
mente por um concentrador em forma de parabolóide de parabolóide ou com membrana de metal sobre tensão,
revolução, um receptor situado no foco do dito parabolóide aproximando-se assim de forma contínua à geometria preten-
e um sistema de geração eléctrica compacto (motor ou dida.
turbina mais alternador), que geralmente formam um único
Sendo assim, constitui a interface entre o concentrador e a
máquina térmica. Os receptores utilizados nos discos parabó-
214
licos são receptores de cavidade nos quais a radiação se
concentra sobre uma abertura (situada próxima do foco do
parabolóide) incidindo posteriormente sobre o absorvedor.
Desta forma conseguem-se diminuir as perdas térmicas,
assim como homogeneizar o fluxo radiante incidente sobre o
absorvedor e reduzir o seu valor mínimo.

O sistema gerador está constituído por uma máquina térmica


e pelo gerador propriamente dito, que transforma a energia
mecânica em electricidade. O desenvolvimento dos sistemas
de discos parabólicos está muito ligado aos motores Stirling.
Em 1984, com o sistema de disco parabólico e um motor Stir-
ling conseguiu-se aquele que continua a ser o maior rendi-
mento de conversão solar-eléctrico (29,4%), com um sistema
de 25 kW eléctricos com hidrogénio como fluido de trabalho
a 200 bar e uma temperatura máxima do ciclo de 720 ºC. O
rendimento térmico do motor Stirling foi de 41%.

Na actualidade pondera-se também a utilização de turbinas


de gás, graças ao desenvolvimento de turbinas de gás de
tamanho reduzido e alto rendimento.

Sistema Eurodish na Escola Técnica Superior de Engen- A potência destes motores ou turbinas oscila geralmente
haria em Sevilha. entre os 5 kW e os 25 kW, com rendimentos entre os 30%
e os 40%.

Estrutura e sistema de seguimento. Um sistema de disco Situação actual


parabólico deve dispor também de uma estrutura de suporte Os sistemas de disco parabólico com motor Stirling são muito
e de um mecanismo de seguimento do Sol de dois eixos, adquados para a geração distribuída. No entanto, apesar de
com o objectivo de seguir a posição do Sol em qualquer apresentarem custos comparáveis aos da tecnologia fotovol-
instante. taica, tiveram pouco desenvolvimento comercial até agora.

Os dois tipos de montagem utilizados são: Na Europa, a empresa alemã SBP desenvolveu e comercia-
liza o sistema Eurodish de 10 kW de potência, com um motor
• Acompanhamento de altitude-azimute, no qual o Stirling fabricado pela também alemã Solo GMBH. Nos
movimento é feito ao longo de dois eixos, vertical e Estados Unidos, a SES assinou um contrato para o forneci-
horizontal. mento de 20.000 unidades dos seus sistemas de 25 kW,
resultando numa potência de 500 MW ampliáveis a
• Acompanhamento polar, no qual o movimento do eixo 850 MW.
é muito lento, pois apenas deve seguir as variações
sazonais do Sol, enquanto o movimento do outro eixo Estes sistemas apresentam um grande potencial de redução
é feito a velocidade constante. de custos dadas as suas características, que permitem a
fabricação em série de todos os seus componentes.
Receptor e sistema de geração. O receptor de um sistema
de discos parabólicos tem duas funções fundamentais: Custos
Os custos dos sistemas de disco parabólico com motor Stir-
• Absorver a radiação solar reflectida pelo concen- ling são ainda muito elevados, estimando-se em torno dos
trador. 5.000 €/kW para produções de 100 a 500 unidades. É de
esperar que estes custos se reduzam significativamente para
• Transferir a energia absorvida ao fluido de trabalho da séries de produção mais elevadas.
máquina térmica associada.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

6. Contactos de interesse 215

Asociação Solar da Indústria Térmica (ASIT)


www.asit-solar.com
admin@asit-solar.com

Asociação Solar da Indústria Fotovoltaica (ASIF)


www.asif.org
info@asif.org

Associação Europeia da Indústria


Fotovoltaica (EPIA)
www.epia.org
com@epia.org

Sociedade Portuguesa de Energia Solar (SPES)


www.spes.pt

Federação da Indústria Solar Térmica Europeia (ESTIF)


www.estif.org
info@estif.org

Solar Heating and Cooling Programme


Agência Internacional da Energia

Energias Renováveis: Solar


www.iea-shc.org
pmurphy@MorseAssociatesInc.com

capítulo 09
216
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

capítulo 09 Energias Renováveis: Solar


217
10 Energias Renováveis:
Cogeração, Biomassa
o seu consumo como combustível, tanto sólido como

220
1. Conceitos básicos para biocarburantes. O objectivo é conseguir a
máxima quantidade de energia na colheita. Podemos
destacar algumas espécies: o cardo (Cynara cardun-
1.1. O que é a biomassa culus), sorgo (Sorghum bicolor), o álamo, eucalipto,
etc. Dentro das culturas energéticas encontramos
A biomassa é um conjunto heterogéneo de materiais, tanto espécies herbáceas ou espécies lenhosas (árvores).
pela sua origem como pela sua natureza, o que condiciona
a sua utilização. De forma mais ampla, pode-se definir a • Resíduos sólidos urbanos (RSU): dentro deste
biomassa como toda a matéria orgânica de origem vegetal grupo apenas podemos ter em conta os resíduos
ou animal, incluindo também os materiais procedentes da orgânicos, previamente separados numa central de
sua transformação natural ou artificial. Do ponto de vista gestão de resíduos, para evitar assim a inclusão de
energético e de sustentabilidade, a biomassa é uma fonte plásticos, metais, vidro, etc., não aproveitáveis dentro
de energia renovável, que não prejudica o meio ambiente. deste âmbito.

A biomassa tem um carácter renovável já que o seu


conteúdo energético é proveniente da energia solar fixada
pelos vegetais durante a fotossíntese. Esta energia
obtém-se na degradação dos compostos orgânicos.

1.2. Tipos de biomassa segundo a sua


origem e características do resíduo
Existem diferentes tipos de biomassa que podem ser utili-
zadas para fornecer as necessidades energéticas de uma
instalação. Uma classificação que podemos fazer segundo
a origem e características do recurso é:

• Biomassa natural: é aquela que se gera de forma


espontânea na natureza sem a intervenção do ser
humano. Um exemplo claro são os ramos de árvores
dos bosques caídos por acção do clima, do seu
processo biológico, folhas do solo, etc. Este tipo de
biomassa necessita de um sistema de gestão para a
sua recolha e transporte até à central. O baixo nível
de produção torna-a não rentável economicamente.

• Biomassa residual seca: aqui incluem-se todos os


subprodutos das actividades agrícolas (podas de
oliveira, vinha e árvores frutícolas em geral), flores-
tais (restos da limpeza de florestas) e das indústrias
agroalimentares (cascas de amêndoa, resíduo da
extracção do azeite de oliva) e de transformação da
madeira (resíduos de serraria, como o serrim e as
aparas de madeira, resíduos de fábricas de móveis,
etc.).

• Biomassa residual húmida: São resíduos de alto


conteúdo em humidade entre os quais se encontram
as águas residuais urbanas e industriais e os resíduos
animais (esterco ou fezes de animais).

• Culturas energéticas: são aquelas espécies que são De cima para baixo, cultura de cardo e cultura de sorgo.
cultivadas com o único fim de produzir biomassa para Fonte: IDAE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Geralmente, o conteúdo energético da biomassa mede-se Podemos observar na tabela, como é lógico, que quanto
em função do poder calorífico de cada um dos materiais, menor é o conteúdo em humidade maior é o PCI da
221
apesar de em alguns casos, como o da biomassa húmida biomassa.
ou dos biocarburantes, se determinar em função do poder
calorífico do produto energético obtido no seu tratamento. No caso da biomassa residual húmida, como podemos
observar na seguinte tabela, produz biogás e o seu conteúdo
Na seguinte tabela mostra-se o Poder Calorífico Inferior energético é:
(PCI) para distintos conteúdos de humidade da biomassa
residual seca mais utilizados. TabEla 2
PCI e utilização dos distintos tipos de Biomassa.
TabEla 1
PCI e utilização de distintos tipos de Biomassa. Quantidade de Conteúdo
biogás a PCI
Substrato em metano (kcal/m3N
PCI à humidade X (kJ/kg) 30 ºC por l/kg de biogás)
(%)
Produtos de resíduo seco
H (%)* PCI H (%)* PCI H (%)* PCI
Estrume com
286 75 6.100
Lenhas e palha
0 19.353 20 15.006 40 10.659
ramos
Excrementos
237 80 6.500
de palha
Serragem
0 19.069 15 15.842 35 11.537
e aparas Purina
257 81 6.600
de porco

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


Resíduos 100
0 18.839 15 15.800 35 11.746 Água residual
de oliva (por m3 de 65 5.300
urbana água tratada)
Casca de Fonte: CIRCE.
0 18.559 10 16.469 15 15.424
amêndoa

Cortiças
1.3. Tipos de biomassa segundo a sua
composição química
Coníferas 0 19.437 20 15.257 40 11.077

Folhosas 0 18.225 20 14.087 40 9.948 Outra classificação da biomassa pode ser feita em função
da sua composição química; esta é reflectida no gráfico
Poda de seguinte:
árvores de 0 17.890 20 13.836 40 9.781
capítulo 10
fruto Figura 1

Palha de
Classificação da biomassa segundo a sua composição quí-
0 17.138 10 15.173 20 13.209 mica.
cereais
TIPOS DE
BIOMASSA
Videira

Sarmentos 0 17.765 20 13.710 40 9.656


PRIMÁRIA SECUNDÁRIA

Ramos de
0 17.263 25 12.331 50 7.399
uva
Oleaginosas Amiláceas Lignocelulósicas Resíduos Resíduos Resíduos
Animais Industriais Antropogénicos
Bagaço
0 18.894 25 13.543 50 8.193 Girasol Sementes Azeitonas
de uva Sementes de Cynara de cereal Videira Dejectos RSI RSU
Sementes de colza Trigo Frutos líquidos Águas Águas
Bagaço Cebada Tratamentos Resíduos residuais residuais
* H (%) = percentagem de humidade. Orujillo Aveia forestais semilíquidos
Alperujo Centeio Cynara cardunculus
Fonte: circe. Palha
Cascas de frutos

Fonte: AEDIE.
TabEla 4
1.4. A biomassa
Resultados previstos de geração eléctrica.
222
O Plano Nacional de Acção para Eficiência Energética
(PNAEE) 2008-2015, em conjunto com o Plano Nacional de
Total
Acção para as Energias Renováveis (PNAER), apontam 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2004
como objectivo de cobrir com fontes renováveis pelo menos 2009
31% do consumo total de energia em 2020, assim como
incorporar os outros objectivos indicativos.
Produção
biomassa
Durante os últimos anos a biomassa tem verificado em
eléctrica 541 640 643 702 654 849 4.029
Portugal um desenvolvimento significativamente inferior ao anual
previsto, sendo que persistem importantes barreiras às (GWh)
quais o PNAER pretende dar resposta.
Fonte: DGEG
Naquilo que se refere às aplicações eléctricas de biomassa,
o objectivo para 2012 é 225 MW instalados. Em 2009 já foi
atingido cerca de 93% desse objectivo, como está repre-
sentado na tabela 3. 1.5. Principais fontes de biomassa

A evolução anual da potência instalada em Portugal conti- 1.5.1. Biomassa


 florestal
nental para geração eléctrica com biomassa, no período
2004-2009, é a seguinte: A biomassa florestal tem um aproveitamento tradicional na
produção de lenhas e é amplamente explorada na indústria
TabEla 3 da madeira, papel, papelão, móveis... hoje em dia tem um
Evolução da potência instalada num período entre outro caminho, a produção de biocombustíveis sólidos.
2004-2009.
A origem deste tipo de biomassa pode ser:
Total
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2004 • Tratamentos silvícolas
2009
As massas florestais necessitam de uma série de
Potência tratamentos ao longo do tempo, de forma a melhorar
biomassa o seu crescimento, para além de evitarem a propa-
eléctrica 107 108 120 124 124 209 793
anual
gação de incêndios, doenças e pragas.
(MW)
Destes tratamentos podem-se obter grandes
Fonte: DGEG.
volumes de biomassa que é susceptível de ser apro-
veitada com fins energéticos (galhos, ramos,
A tabela seguinte reflecte os resultados de produção relati- arbustos) e, de uma forma geral, todos aqueles resí-
vamente à geração eléctrica com biomassa, que corres- duos que não apresentam um valor acrescentado
pondem às instalações implementadas durante o período nas indústrias de transformação da madeira.
2004-2009:
• Resíduos de corte
Finalmente, naquilo que se refere a utlilizações térmicas da
biomassa, esta é utilizada no sector doméstico para aqueci- Quando se realizam cortes em áreas arborizadas,
mento e na indústria para gerar vapor de processo. geram-se resíduos, como cascas de árvore, pequenos
ramos e até frutos.
Este crescimento na área da biomassa é condicionado pelo
desenvolvimento de um mercado maduro de fornecimento, • Culturas energéticas
assim como pelo desenvolvimento legislativo que regula a
introdução das instalações de biomassa no sector domés- Como o próprio nome indica, são culturas ou plan-
tico, através da sua inclusão no Regulamento das Caracte- tações nos quais a única finalidade é a de utilizar o
rísticas de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE), produto que com o passar do tempo se obterá como
assim como através de um maior desenvolvimento da legis- combustível para a produção de energia. Actual-
lação portuguesa, referente às energias renováveis. mente, este tipo de culturas tem pouca presença em
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Portugal, mas há que não deixá-las de parte porque Armazenamento e tratamento secundário da biomassa
poderão vir a tornar-se uma prática mais comum no de origem florestal
223
futuro. Quando se tomam medidas para a instalação de uma
central de biomassa florestal, deve-se ter em conta a loca-
Em Portugal, as espécies mais produtivas dentro lização dos pontos de armazenamento intermédio e final, já
deste âmbito são o álamo, o eucalipto, o carvalho que um parque apenas para o empilhamento seria dema-
(Quercus), etc. Para além disso estão a começar a siado amplo e custoso.
ser realizadas experiências com salgueiros e algumas
espécies exóticas como a paulowniam que dá resul- Uma vez na instalação e antes de alimentar a caldeira com
tados muito prometedores. a biomassa, deve-se fazer um segundo tratamento no qual
se dê a granulometria apropriada à tecnologia a utilizar,
Como se verá mais adiante em detalhe, a biomassa homogeneizando desta forma o combustível.
florestal passa por uma série de etapas antes do seu
aproveitamento final. A biomassa agrícola pode ser proveniente das seguintes
fontes:

1.5.2. Biomassa
 agrícola

• Resíduos de culturas alimentares

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


A produção de alimentos, tanto para os humanos
como para os animais, gera uma série de resíduos
susceptíveis de serem revalorizados energetica-
mente. Anualmente, esta quantidade de resíduos é
muito grande e vai crescendo, o que apresenta um
elevado potencial para ser usado em centrais de
biomassa.

• Resíduos de culturas não alimentares

Outro tipo de culturas que geram muitos resíduos


são aquelas cuja finalidade é a de produzir matérias-
primas para processos industriais (têxtil, cosmética,
perfumaria, farmácia, química base, etc.).
Lenha para aproveitamento energético.
Fonte: IDAE. • Culturas energéticas capítulo 10

Tratamento/acondicionamento Do mesmo modo que no caso da biomassa florestal,


Quando se extrai a biomassa florestal do monte, é neces- este tipo de culturas têm como única finalidade a
sário fazer um primeiro tratamento ou acondicionamento já produção de combustível para centrais de biomassa.
que o custo de transporte desde o ponto de recolha até à Importa destacar neste tipo de culturas as de plantas
zona de armazenamento será reduzido na medida em que a oleaginosas (por exemplo o girassol) para a produção
matéria que se vai transportar seja mais homogénea e de de biocombustíveis, amiláceas para a produção de
menor tamanho. Esta tarefa é de grande importância já que bioetanol e linhocelulose para combustão directa,
pequenas quantidades em peso podem ocupar grandes gaseificação ou pirólise.
superfícies.
Dentro das culturas energéticas para a produção de
Transporte da biomassa de origem florestal biocombustíveis aparecem espécies tradicionais,
Normalmente é feito por estrada em camiões, já que o conhecidas de sobra pelos agricultores como os
ponto de destino não deve ter uma distância maior do que cereais (trigo, aveia,...), a cloza, o girassol... E entre
50 km do ponto de origem, já que tal tornaria economica- as novas espécies destacamos algumas como a
mente inviável a central de geração de energia. couve, a cynara carduculus (cardo) e o sorghum
bicolor (sorgo), etc.
De igual modo que com a biomassa florestal, a Dentro deste tipo de resíduos, deverá ser feita uma
biomassa agrícola passa por etapas antes da sua utili- distinção entre os resíduos nas explorações de gado, os
224
zação como fonte de energia. que se produzem nos matadouros e noutras indústrias afins
(conservas de carne).
Tratamento/acondicionamento
Para reduzir custos de transporte, a biomassa agrícola, do Estrume ou chorume
mesmo modo que a florestal, deve ter um primeiro trata- As explorações de gado são grandes produtoras de resí-
mento de trituração e homogeneização. duos, pelos excrementos produzidos pelos animais.

Por outro lado, este tratamento e acondicionamento existe Estes excrementos podem ser líquidos ou semi-sólidos.
para que a biomassa passe por uma primeira etapa de Tradicionalmente este resíduo tem sido utilizado como
secagem na qual se elimina o excesso de humidade. adubo para o campo, devido à grande quantidade, grau de
diluição em matéria útil e concentração com que se
Transporte produzem estes resíduos nas explorações intensivas, de
Este transporte realiza-se por estrada e não deverá ser modo que o seu transporte não se torna economicamente
superior a 50 km, já que distâncias superiores podem atractivo para longas distâncias. Por conseguinte, apenas
comprometer a viabilidade económica da central de são aplicáveis na medida que são suportáveis pelo solo
biomassa. agrícola circundante à exploração.

Armazenamento e tratamento secundário Por outro lado, a aparição no mercado de adubos sintéticos
Este tipo de biomassa pode estar disponível ao longo de com alta concentração de fertilizantes NPK, fazem com que
todo o ano (quando a instalação de aproveitamento está a prática da adubagem com esterco comece a ser muito
apta para biomassas diferentes, certos frutos ou subpro- reduzida, estando actualmente a cair em desuso.
dutos podem ser armazenados para posterior processa-
mento industrial durante o ano) e a central pode ter um A tendência é para:
abastecimento contínuo, pelo que as dimensões do parque
de armazenamento ou empilhamento não deve apresentar • A redução do seu volume através da secagem forçada
dimensões exageradas. com gás natural, para sua posterior descarga ou
transporte, o que é já mais económico pela dimi-
nuição da massa e volume.
Quanto ao tratamento secundário que se dá a este tipo de
biomassa, é muito parecido ao descrito para a florestal. Já • A digestão anaeróbia, para reduzir a PBO1 (Procura
que se trata de homogeneizar a sua granulometria, de Biológica de Oxigénio e a PQO2 (Procura Química de
forma a permitir a sua introdução na caldeira. Oxigénio), com ou sem utilização energética do
biogás gerado, usando o resíduo como fertilizante
No caso da biomassa agrícola para a produção de biodiesel (após um processo de compostagem) ou derraman-
e bioetanol, este tratamento será específico para este tipo do-o. Como se verá mais à frente, a digestão anaeró-
de centrais. bica é uma tecnologia genérica que deverá ser adap-
tada a cada tipo de resíduo devido à possibilidade de
interferência de organismos vivos muito estritos
1.5.3. Biomassa de origem animal quanto às suas condições de vida, não se podem
generalizar os processos excessivamente. Para além
Nos últimos anos foram desenvolvidos diferentes sistemas disso, os processos são muito sensíveis às mudanças
de aproveitamento energético da biomassa de origem na composição do substracto.
animal, que são destinados, por um lado, para a obtenção
de energia de resíduos e, por outro, minimizar as descargas Resíduos da indústria
destes para o meio ambiente (são muito contaminantes). Neste campo existem principalmente dois focos produ-
tores que são os seguintes:
É cada vez maior a pressão a que estão sujeitos os produ-
tores de resíduos, para que eles mesmos procedam à sua • Matadouros: nos quais se geram resíduos, que são
auto-gestão, evitando a sua descarga, o que cria um impacto as partes não comercializadas do animal (vísceras,
ambiental nefasto nos solos e águas superficiais e subte- etc.). O processo que se deve aplicar a estes resí-
rrâneas. duos é o da digestão anaeróbia.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• Resíduos de mercado e indústria de primeira tran- Resíduos Sólidos Urbanos (RSU)


formação do peixe, pois devido à quantidade de Estes são compostos por uma parte reciclável e outra que
225
gorduras que apresentam, estes resíduos são não o é. Por sua vez, a parte não reciclável subdivide-se
susceptíveis de serem utilizados para a produção de naquelas matérias susceptíveis de recuperação energética
biodiesel. (RDF), a putrescível, que pode ser metanizada ou usada
como substrato para compostagem e a que tem que ser
descarregada por não estar apta para as tecnologias em
1.5.4. Biomassa antropogénica
uso, normalmente devido à sua composição. Dependendo
A evolução e o desenvolvimento dos países origina a do tipo, os RDF são processados de diversas formas.
geração de resíduos por parte do homem, sejam de carácter
sólido ou líquido. A maior nível de desenvolvimento corres- Estes residuos podem ser secados e posteriormente inci-
ponde maior quantidade de resíduos per capita. nerados, ou podem usar-se para produzir biogás através de
uma digestão anaeróbia.
Actualmente, a recolha e gestão destes resíduos gerados Outra forma de aproveitamento destes resíduos é o
em residências e estabelecimentos comerciais está muito derrame controlado e a posterior extracção de gás do
desenvolvida, pelo que é mais fácil retirar um benefício derrame gerado nos aterros fechados, com posterior uso
energético destes resíduos. energético.

Podemos classificar os resíduos gerados nos centros Águas Residuais Urbanas


urbanos como: As grandes urbes e, em menor escala, as de tamanho mais
reduzido, apresentam actualmente Estações de Tratamento

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


capítulo 10

Central de Tratamento Integral de Resíduos Sólidos Urbanos Tirmadrid.


Fonte: EUFER.

1  BO é a quantidade de oxigénio libertado que requerem os microorganismos para a oxidação aeróbia da matéria orgânica biodegradável presente no meio
P
ambiente.
2 PQO é a quantidade de oxigénio necessária para a oxidação da matéria orgânica presente no meio através de compostos químicos.
de Águas Residuais (ETAR) (figura 2), que estão encarre-
gadas de depurar todas as águas residuais de procedência
226
antropogénica. Nestas estações, leva-se a cabo com cada
vez maior frequência uma digestão anaeróbia das lamas
produzidas na fase primária (aeróbia), com a finalidade de
produzir biogás para ser usado como combustível.

Figura 2
Esquema de uma ETAR.

Fonte: www.consorcioaa.com. Serradura e serrim provenientes duma serraria


Fonte: IDAE.

1.5.5. Biomassa industrial Resíduos líquidos

Dentro deste tipo de biomassa proveniente do sector indus- • Águas residuais de processo: são geralmente
trial, podemos distinguir os seguintes produtos: usadas em etapas da lavagem e concentração nos
processos industriais e não podem ser despejadas
Resíduos sólidos nos rios sem um tratamento prévio em Estações
Depuradoras de Águas Industriais (ETAR).
• Provenientes das indústrias de primeira transfor-
mação da madeira, como são os resíduos de • Licor negro: são águas residuais provenientes do
serrações (serrim, aparas, cascas, cortes). processo de elaboração da pasta de papel.

• Provenientes da indústria de segunda transfor- • Água vegetal, melaço e vinhaça.


mação da madeira, onde nos deparamos com resí-
duos que podem conter produtos químicos que
impeçam a recuperação energética, sendo que estes
devem ter um tratamento específico no momento de
2. Tecnologias de preparação
serem utilizados como combustível.

• Resíduos provenientes da indústria agroalimentar, 2.1. Recolha


que podem ser desde cascas de frutos comerciali-
zados até restos do próprio fruto uma vez proces-
sados (resíduos da azeitona e polpa da beterraba, 2.1.1. Florestal
etc.).
A floresta tem sido tradicionalmente utilizada para a
• Resíduos provenientes da indústria não agroali- extracção de madeira para pasta ou placas, mas hoje em
mentar, que são as que se geram em fábricas como dia existe outra aplicação, que é a sua exploração como
as têxteis, de produtos químicos, etc. fonte bioenergética e, dentro deste âmbito, aplicam-se
diferentes sistemas de trabalho.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

A aplicação deste sistema é muito eficiente para o corte de


pinheiros (Galiza, País Basco, Burgos...), de eucaliptos
227
(Costa Cantábrica e oeste da Andaluzia) e de choupos
(Granada, Ribeira do Douro...)

Este sistema é o mais económico em grandes montanhas


e o que melhor se adapta às condições de Inverno, já que
se podem remover os resíduos e o material aparado nas
bermas da estrada. O custo aproximado em 2005 é:

• Extracção: 6,55 €/t.

• Aparo: 13,55 €/t.

• Acondicionamento dos resíduos e taxas:


13,10 €/t.

Aparo móvel no monte


Empilha-se o material residual do aproveitamento o mais
concentrado possível no monte, este resíduo é aparado
com uma trituradora rebocada por um tractor ou integrada

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


no transportador, com posterior arraste.

Resíduos de uva. As aplicações deste sistema são: corte de pinho ou euca-


Fonte: IDAE. lipto, ambos em montes pequenos, existe o inconveniente
da dificuldade de encontrar lugares de descarga. Portanto,
Colheita de pés completos e triturador fixo o custo de transporte das máquinas é maior.
Consiste num sistema com uma cabeça multifunções para
arrancar árvores pequenas, sua recolha e posterior empil- Este sistema é o mais económico em montes de média
hamento. O ideal após o seu empilhamento, após um breve dimensão
período de pré-secagem, é cortar a madeira sobre contentor
ou com uma trituradora incorporada num camião. Embalado no monte e cortado em fábrica
É a melhor abordagem para grandes centrais de co-com-
Este sistema pode ter uma boa aplicação para podas, corte bustão com uma vasta gama de abastecimento, por ser
de produtos comerciais (pinho, faia, ...) e de produtos já menos exigente em presença de impurezas e humidade do
transformados noutras indústrias (industrias transforma- que em instalações de menor dimensão.
doras, de trituração). capítulo 10
Uma das vantagens é que este sistema utiliza os mesmos
Os custos aproximados deste sistema de trabalho são: métodos utilizados na madeira (trituradores/aparadores,
camiões, tractores), reduzindo os problemas logísticos, de
• Extracção: 8,25 €/t. forma que ao diminuir o volume do material diminuem-se
os custos de transporte e manipulação a distâncias médias
• Aparo: 11,55 €/t. e curtas.

• Corte, empilhamento e transporte: 13,20 €/t. Este sistema tem uma boa aplicação para clareiras de pinho
ou eucalipto, em pequenas propriedades de acesso
Não é o sistema mais barato de extracção da biomassa, complexo, sempre e quando o consumidor seja de tamanho
dado a dimensão do material que é necessário manusear. médio ou grande, com um raio de abastecimeno amplo.

Secagem de restos e aparo ou trituração fixa Segundo um estudo feito em 2004, o custo total de todo
Fundamentalmente consiste na separação dos restos este processo seria de 15,6  €/m3, incluindo transporte a 80
durante o aproveitamento do produto, deixando os resíduos km e corte na fábrica. Para uma densidade de 450 kg/m3,
concentrados, estes são acondicionados para pré-secagem representaria um custo total de 34,67 €/t.
e posterior trituração através da trituradora incorporada no
camião.
2.1.2. Agrícola
228

A maquinaria e os sistemas de recolha das espécies agrí-


colas não diferem quando se trata de culturas destinadas à
obtenção de biomassa ou quando se trata da obtenção de
grão ou palha.

2.2. Pré-tratamento
A utilização energética dos recursos biomássicos tem uma
série de limitações devidas à sua própria natureza e hetero-
geneidade.

• Tamanho e granulometria variável.

• Baixa densidade.

• Grande dispersão geográfica de resíduos.

• Elevados custos de extracção.

• Dificuldade de transporte e manipulação.

• Presença de produtos indesejáveis (pedras, areia,


metais, plásticos, etc.).

Os pré-tratamentos que se aplicam à biomassa são uma


série de processos de acondicionamento e transformação
física dos resíduos, de forma a melhorar as suas caracterís-
ticas e a sua eficiência como combustível.

Em função do tipo de biomassa, o estado em que é recol-


hida e as características finais que irá adquirir, serão reali-
Colheita de sorgo. Fonte: IDAE. zados uma série de tratamentos, que estão relacionados
Extracção e aproveitamento de cotos das árvores directamente com a aplicação final do combustível e o seu
preço.
É o sistema mais caro, mas a sua utilização está-se a
difundir pela grande procura dos países nórdicos. A As operações mais usuais, tanto para resíduos agrícolas
extracção realiza-se com uma retroescavadora adaptada e é como florestais, são:
logo feita uma pré-trituração lenta, prévia ao transporte,
apesar de em alguns casos se transportar em bruto, tratan- 2.2.1. Estilha ou materiais triturados
do-se integralmente em fábrica. Normalmente os clientes
desta biomassa dão tratamentos secundários à madeira Com a estilha consegue-se uma primeira fase de redução
(limpeza, trituração/aparo definitivo). da granulometria do resíduo, isto é, obtém-se matéria de
menor tamanho. A função da estilha aplica-se a diferentes
Este sistema é ideal em desflorestações para infra-estru- tipos de biomassa:
turas (auto-estradas, vias rápidas...)
• Resíduos florestais de tratamento silvícola.
É provável que seja o sistema de fornecimento que mais
cresça, apesar de apenas ser adequado para grandes • Lenha de poda de árvores de frutos, oliveiras e ramos
consumidores. de videiras.

• Resíduos de indústrias transformadoras de madeira.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

2.2.3. Triagem e peneiração


229
São processos para a classificação dos resíduos biomás-
sicos segundo o seu tamanho, que posteriormente terão
um aproveitamento em diferentes aplicações.

2.2.4. Secagem

Geralmente a biomassa tem um alto conteúdo de humi-


dade, entre 20% - 50%, pelo que na hora do seu aproveita-
mento térmico aparecem alguns inconvenientes.

• Aumento dos custos de extracção, manuseamento e


transporte.

• Dificuldade ou impossibilidade de transformação em


combustíveis.

• Problemas operacionais e diminuição dos rendi-


mentos nos processos de conversão termoquímica.

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


Existem dois tipos de secagem:

• Secagem natural: é o aproveitamento das condições


ambientais para reduzir o conteúdo de humidade dos
Estilha de biomassa na berma da estrada. resíduos. Estas condições, com as quais se consegue
Fonte: IDAE. a desidratação da biomassa, são uma temperatura e
humidade ambiental adequadas.
Os estilhadores classificam-se em função do seu sistema
de tracção: • Secagem forçada: é um método térmico, que
consiste na redução da humidade do resíduo através
• Estilhadores estáticos: são aqueles equipamentos do fornecimento de calor.
que se encontram geralmente no lugar do tratamento
da biomassa e têm uma grande capacidade de 2.2.5. Adensamento ou compactação
processamento por hora.
Estes processos são empregues quando se quer obter
• Estilhadores semi-móveis: São equipamentos de combustíveis de maior densidade a partir de resíduos capítulo 10
grandes dimensões com rodas, que são deslocados biomássicos. Os objectivos destes processos são dois:
para as explorações para realizar a estilha no campo.
• Obtenção de material empacotado, melhorando a
• Estilhadores móveis: são aqueles equipamentos densidade aparente para o transporte, para sua
que têm a facilidade de trabalhar dentro das explo- posterior desagregação e trituração. Um exemplo é o
rações tanto agrícolas como florestais. Este tipo de embalamento de restos florestais ou agrícolas (poda
estilhadores podem ser rebocados por um tractor ou de árvores de fruto, ramos, etc.).
auto-propulsionados.
• Obtenção de pellets e briquetes, que para além de
2.2.2. Moagem reduzir os custos de transporte, se utilizam directa-
mente como combustíveis nas caldeiras de
É a segunda etapa da redução granulométrica dos resíduos biomassa.
e utiliza-se para conseguir combustíveis de menor tamanho
que as estilhas, para compactá-los posteriormente e obter Enfardamento
produtos de maior qualidade como os pellets e briquetes. O objectivo deste processo é reduzir o volume da biomassa,
de forma a conseguir diminuir os custos de transporte e
armazenamento. Este processo realiza-se com uma
máquina especializada.
230

Enfardadeira de resíduos lenhosos agrícolas e florestais.


Fonte: Trabisa.

No caso de resíduos agrícolas e culturas agrícolas lenhosas


a compactação realiza-se através de enfardadeiras. No caso
dos resíduos florestais existe maquinaria que permite
recolher, compactar e atar a biomassa residual florestal
numa espécie de fardos.

Fabricação de briquetes e pellets Diferentes tipos de pellets de biomassa residual.


Os principais produtos obtidos pela compactação da Fonte: IDAE.
biomassa são as briquetes e os pallets, que para além da
sua maior densidade possuem outras vantagens como a As briquetes têm densidades entre 900 kg/m3 e 1.400 kg/
homogeneidade, limpeza e facilidade de manuseamento. m3. São peças cilíndricas de 25 cm de comprimento e 6 cm
Para a sua fabricação utilizam-se geralmente materiais resi- ou 8 cm de diâmetro. Os pellets têm a mesma forma que
duais de processos de transformação da madeira como as briquetes mas dimensões muito menores, entre 2,5 cm
serradura, aparas de madeira, poeira de lixa, etc. Estes resí- a 6 cm de largura e com um diâmetro entre 0,7 cm a 2 cm,
duos são gerados em grande quantidade nas indústrias de a sua densidade é aproximadamente 1.200 kg/m3, com uma
transformação da madeira e podem chegar a ser um densidade inferior a 10%.
problema de armazenamento, manuseamento e elimi-
nação. Para a fabricação destes combustíveis utilizam-se equipa-
mentos que exercem uma forte pressão sobre os resíduos
Também se podem utilizar resíduos de podas ou da silvicul- moídos, o que dá lugar à plasticização da lignina (compo-
tura. Nestes casos, a biomassa requer uma série de trata- nente da madeira).
mentos prévios como a secagem, aparo/trituração. As
operações na fabricação destes combustíveis são necessá- Na tabela 5 pode-se comparar o Poder Calorífico Inferior de
rias em condições de humidade e granulometria especiais, briquetes e pellets com outros biocombustíveis sólidos,
pelo que os custos do processo e o preço do produto final para além da sua aplicação ou uso e preço por tonelada.
(briquetes ou pellets) são altos, em comparação com outros
biocombustíveis sólidos como as estilhas ou os caroços de
azeitona. 3. Tecnologias de utilização

As briquetes e os pellets são combustíveis de grande quali- Hoje em dia existe tecnologia mais do que suficiente e
dade; devido a isso têm um maior valor acrescentado e, fiável para conseguir um aproveitamento energético da
apesar do seu elevado custo, a sua produção é rentável. biomassa, entre as quais cabe destacar:
Estes combustíveis são utilizados para aquecimento, ar
condicionado e água quente sanitária em aplicações domés- • Combustão.
ticas.
• Gaseificação.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

231

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


Lenha, serrim, pellets e briquetas. Fonte: IDAE.

• Pirólise.

• Digestão anaeróbia.

3.1. Combustão
A combustão define-se como uma reacção química relativa-
mente rápida, na qual se combina o oxigénio do ar (carbu-
rante) com os diferentes elementos oxidáveis que contém
o combustível; no processo origina-se uma libertação de capítulo 10
calor. As reacções típicas de um processo de combustão
completo são detalhadas de seguida:

2C + O2 = 2CO

2CO + O2 = 2CO2

Cn Hm Ox + 2H2 + O2 = 2H2O

S + O2 = SO2

N2 + 2O2 = 2NO (NOx)

É necessário passar por uma série de etapas, que são as


seguintes:
Câmara de combustão de uma caldeira de biomassa
• Secagem da biomassa: evaporação da humidade doméstica.
contida no combustível (100 ºC). É endotérmica. Fonte: IDAE.
• Queima de voláteis: vaporização, pirólise e
oxidação. 3.1.1. Caldeira de grade
232

• Queima de sólidos carbonosos: ruptura e vapori- As caldeiras de grade usadas actualmente são:
zação de moléculas grandes a mais pequenas,
oxidação. • Grade fixa com alimentação inferior:
Neste sistema o combustível é carregado na grade
Os equipamentos que se empregam na combustão de através de um parafuso sem-fim desde a zona inte-
biomassa podem-se classificar do seguinte modo: rior. A carga é gerada pela parte frontal ou por qual-
quer dos lados da caldeira.
TabEla 5
Propriedades dos combustíveis biomássicos.

Combustíveis PCI seco Humidade Preço


Utilização
(MJ/kg) (% b.h.) (€/t)

Lenha 14,4 - 16,2 20 a 60 Doméstico, individual 90 - 120

Estilhas 14,4 - 16,2 20 a 60 Doméstico, Residencial, Industrial 36 - 80

Pellets 18 - 19,5 <12 Doméstico, Residencial 150 - 300

Briquetes 18 - 19,5 <12 Doméstico 150 - 300

Caroço de azeitonas 18 12 a 20 Doméstico, Residencial, Industrial 60

Casca de frutos secos 16,7 8 a 15 Doméstico, Residencial, Industrial 60

Poda de oliveira 17,2 20 a 60 Doméstico, Residencial, Industrial 36 - 50

Poda de videira 16,7 20 a 60 Doméstico, Residencial, Industrial 36 - 60

Fonte: Sistemas automáticos de aquecimento com biomassa em edifícios, Guia práctico da Comunidade de Madrid.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Existem dois tipos de sistemas segundo a colocação • Temperatura uniforme (melhor controle, menos escó-
da grade: rias, menos partículas não queimadas).
233

- Horizontal. • Simplicidade de sistemas de alimentação, retirada de


cinzas, controlo do equipamento.
- Inclinada.
• Maior transferência de calor.
• Grade móvel:
Nestes sistemas o combustível carrega-se na câmara • Menor excesso de ar: menos fumos.
de combustão através de um parafuso sem-fim
mediante um sistema de alimentação hidráulico, e • Menor temperatura: menos escórias, menos
logo se distribui pela grade através de elementos formação de gases muito reactivos (NOx).
móveis.
• Maior rendimento.
Este tipo de caldeiras são as mais usadas na combustão de
biomassa, usando uma ou outra configuração, dependendo Inconvenientes do leito fluidizado
do tipo de biomassa que se vai utilizar.
• Maior custo.
Estes sistemas normalmente empregam um parafuso
sem-fim para alimentação das caldeiras ou um sistema • Menor desenvolvimento.
pneumático.

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


• Maior desgaste do leito.
À medida que aumenta o tamanho da caldeira, aumentam
também o número de pontos de introdução da biomassa. • Necessidade de instalação de ciclones.

• Maior possibilidade de corrosão (por recombinação


3.1.2. Leito fluidizado de óxidos sulfurosos a sulfúricos resultante ácido
sulfuroso e sulfúrico).
Consiste em desenvolver a combustão no seio de uma
massa em suspensão de partículas de combustível, cinzas
e um inerte, que são fluidizados por uma corrente de
3.2. Gaseificação
combustão de forma ascendente. As caldeiras de leito flui-
dizado podem ser: A gaseificação de um sólido é um processo que engloba a
decomposição térmica da matéria orgânica e a acção de um
• Borbulhante: Opera com injecção a baixas veloci- gás. Que reage principalmente com o resíduo carbónico
dades e caracteriza-se porque permanecem no leito preveniente da composição térmica.
a maior parte dos sólidos (apenas passa a ciclone uns capítulo 10
10%). Por gaseificação transforma-se um material sólido num gás
(gás de síntese) susceptível de ser aproveitado como
• Circulante: com velocidades mais elevadas do ar de combustível ou como matéria-prima (metano, amoníaco,
fluidização produz-se o arrasto de uma grande quan- metanol, gasolina).
tidade de sólidos do leito, pelo que se pode reciclar
uma parte destes através de um ciclone ou multici- Dependendo do meio gaseificante utilizado podem distin-
clone, o que dá lugar ao denominado leito fluidizado guir-se distintos processos de gaseificação, que dão dife-
circulante, que por sua vez pode ser: rentes distribuições de produtos com diferentes apli-
cações.
- Atmosférico.
• Gaseificação com ar: o ar introduz-se principalmente
- Sobre pressão. Neste caso podem-se utilizar para fornecimento de calor através da combustão de
turbinas de gás, apesar de ser mais complexo. parte do resíduo carbonoso. Obtém-se um gás
combustível de baixo conteúdo energético (< 6 MJ/
Vantagens do leito fluidizado Nm3).

• Diversidade de combustíveis.
• Gaseificação com oxigénio: troca-se o ar por
oxigénio na reacção e produz-se um gás através do
234
conteúdo energético (10 MJ/Nm3 - 20 MJ/Nm3).

• Gaseificação com vapor de água e oxígénio (ou


ar): neste caso produz-se um gás que ao estar enri-
quecido com oxigénio e CO pode-se utilizar como
gás de síntese para metanol, amoníaco e gasolina.

• Gaseificação com H2: produz-se um gás com alto


conteúdo energético (> de 30 MJ/Nm3), que por ter
uma alta percentagem de metano e olefina pode ser
utilizado como substituto do gás natural.

3.2.1. Termoquímica da gaseificação

Na gaseificação produzem-se várias reacções físicas e


químicas. As físicas consistem na evaporação da humidade
da biomassa e na posterior pirólise das moléculas de hidro-
carbunetos (de sólido a líquido e de gás e líquido a gás).

De seguida, começam-se a produzir reacções químicas de


oxidação e de redução. As mais habituais são:

• C + H2O = CO + H2 + 130,2 MJ

• C + 2H2 = CH4 - 74,9 MJ

• C + CO2 = 2CO + 170 MJ


Gaseificador de leito fluidizado de Energia Natural
de Mora. • 2C + O2 = 2CO – 222,8 MJ
Fonte: IDAE.

figura 3
Esquemas de funcionamento de gaseificadores: da esquerda para a direita: gaseificador updraft, gaseificador de leito
fluidizado e gaseificador downdraft.

Biomassa Gases Biomassa Biomassa

Gás
SECAGEM produto SECAGEM
PIRÓLISE PIRÓLISE

Produtos
de pirólise
Char Gases Cinzas
Agente
gaseificante OXIDAÇÃO

REDUÇÃO Char Gás


OXIDAÇÃO
REDUÇÃO

Agente Gases
gaseificante produto

Cinzas Agente Cinza


gaseificante
Fonte: AEDIE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• 2CO + O2 = 2CO2 – 564 MJ • Pode usar-se o gás em motores, com posterior geração
de energia eléctrica.
235
• CO + H2O = CO2 + H2 – 40,67 MJ
• Pode usar-se para ciclos combinados (maior
• CO + 3H2 = CH4 + H2O – 206,2 MJ eficiência).

• Mais limpa.

3.2.2. Tipos de gaseificadores


Os inconvenientes são:

• Leito móvel • Podem-se produzir alcatrões e partículas, que devem


ser eliminados.
1. Simples de construir e operar.
• Difícil de usar para materiais com alto conteúdo em
2. Difícil controle dos produtos a obter. cinzas.

3. Formam-se muitos alcatrões. Hoje em dia já existe tecnologia de gaseificação fiável, que
oferece alto rendimento e que não apresenta problemas de
4. Perigo de fusão de cinzas. alcatrões devido à configuração dos reactores e às
condições nas quais se produzem as reacções no seu inte-
5. Tipos: rior.

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


a. Contra corrente (updraft).
- Baixa qualidade do gás obtido. 3.3. Pirólise
- Baixa temperatura do gás (bom para combustão
directa). A pirólise é a degradação térmica da biomassa na ausência
de um agente oxidante.
b. Correntes paralelas (downdraft).
- Gás com baixo conteúdo declarado em alcatrões. A decomposição térmica dos materiais biomássicos
- Não adequado para biomassa muito húmida. produz-se através de uma complexa série de reacções
- Gás aceitável para turbinas de gás pela sua maior químicas, para além de processos de transferência de
qualidade. massa e calor, o que torna difícil prever o curso da pirólise,
uma vez que esta é influenciada por uma série de variáveis
• Leito fluído como as condições operacionais ou o tipo de biomassa
utilizada. Todos os compostos orgânicos decompõem-se
1. Não se formam líquidos, ao registrar-se maior tempera- quando são submetidos ao aquecimento.
tura. capítulo 10
A pirólise da madeira pode ser considerada ou represen-
2. Mais fácil controlar o processo. tada adequadamente como a soma da pirólise dos seus
três constituintes: celulose, hemicelulose e lignina.
3. Maior conteúdo energético do gás. A pirólise da madeira é um processo utilizado há já muito
tempo, pelo que foram utilizados outros termos para a
4. Difícil fluidizar a biomassa. caracterizar, os mais usuais são:

5. Importante arrasto de sólidos. • Carbonização, quando o principal produto obtido é o


carvão.

3.2.3. Vantagens e inconvenientes da gaseificação • Destilação de madeira, quando o que se deseja é o


líquido pirolenhoso ou o alcatrão.
As vantagens desta tecnologia são:
• Destilação destrutiva, quando se produz carvão e
• Maior flexibilidade do produto obtido. líquido de alcatrão.
• Gaseificação por pirólise rápida, quando se obtém O Poder Calorífico Médio (PCI): 5.500 kcal/m3 partindo
principalmente gás (esta reacção é de aplicação de dejectos.
236
muito recente).
• A fracção sólida do digestor sedimenta com facili-
dade e pode-se reintroduzir no digestor para melhorar
3.4. Digestão anaeróbia o processo.
A digestão anaeróbia é o conjunto de processos bioquí-
micos escalonados nos quais uma série de bactérias trans- • A água restante (com sais minerias em dissolução),
formam a matéria orgânica em biogás e deixam um resíduo pode ser utilizada para irrigação, ou concentrar os
chamado digestato (lama). sais para serem utilizados como adubo inorgânico.

• O biogás é um combustível formado por metano


(CH4)(50% - 75%); dióxido de carbono (CO2) 3.4.1. Digestores
(25% - 50%); sulfeto de hidrógeno (H2S)(≤ 1%); H2;
monóxido de carbono (CO) e nitrogénio(N2) em São recipientes herméticos nos quais se realizam as dife-
pequenas quantidades. rentes etapas biológicas que transformam a matéria orgâ-
nica biodegradável em biogás.
• Dependendo da composição, o poder calorífico varia
desde 500 kcal/m3 a 6.300 kcal/m3 (5,2 kWh/ O processo deve ser projectado para facilitar o trabalho das
m3 - 7,3 kWh/m3). Isto é, 52% - 73% do gás natural. bactérias. Adicionalmente, o projecto deve ter como

figura 4
Esquemas de funcionamento de um processo de digestão anaeróbia.

Homogeneização Biogás
Digestão Eliminação
e/ou separação Anaeróbia do H2S
Purinas

Lodos
Aquecimento

Resíduo Sólidos G.N.


sólido
Motogerador
Separação
de fases
E.E.
Compostagem
Líquidos
Permutador
Composto
Gases de Rede
Sólidos Secagem escape
Adubagem
Autoconsumo

Águas

Rega

Fonte: AEDIE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

premissas o bom funcionamento da carga e descarga, a reduzir a efectividade e inclusivamente eliminar certas
transmissão do calor e a agitação. bactérias.
237

As bactérias são muito sensíveis à temperatura. Existem São melhores e mais fiáveis os digestores de aço inoxidável
duas franjas entre 30 ºC - 40 ºC (mesófila) e entre ou de materiais compostos.
50 ºC - 60 ºC (termófila), nas quais a metanização é
melhor. De forma simplificada, as fases que se produzem no
digestor são:
• Faixa mesófila
• Entrada de grandes moléculas orgânicas no
- Processo mais lento. digestor.

- Processo mais eficiente. • As bactérias hidrolíticas rompem essas moléculas e


produzem outras mais simples (ácidos voláteis e
- Menor consumo de energia. ácido acético).

- Maior tamanho dos equipamentos. • As bactérias metanogénicas usam o ácido acético,


mais o H2 e o CO2 para produzir metano.
• Faixa termófila
3.4.3. Benefícios da digestão anaeróbia
- Processo rápido.

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


• Devido à utilização dos resíduos
- Processo eficiente.
- Redução dos problemas da sua gestão.
- Maior consumo de energia.
- Redução dos derrames incontrolados.
- Menor tamanho dos equipamentos.
- Redução da contaminação de solos e aquí-
feros.

- Redução das emissões de gases de efeito


estufa provenientes da fermentação incontro-
lada.

• Devido à produção de fertilizantes

- Recuperação de parte da matéria orgânica para capítulo 10


sua reincorporação no solo, de forma concen-
trada (sem água), mas não perigosa.

- Redução de odores devido à digestão dos


dejectos.

- Redução do custo de transporte.


Instalação de digestão anaeróbia de estrume de porco
com mistura de outros resíduos orgânicos. - Permitir uma adubagem mais regular e de
Fonte: IDAE. melhor qualidade ao utilizar uma granulometria
homogénea e uma composição conhecida e
estável.
3.4.2. Processo de biodigestão
• Devido à recuperação da água
A qualidade e estabilidade da composição do biogás
depende de um fornecimento regular de matéria-prima. - Possibilidade de efectuar irrigação com um
Um pH ácido ou muito base, assim como alguns metabó- efluente livre de muitos organismos patogé-
litos devidos a uma alimentação animal incorrecta, podem nicos.
- Não esgotar os resíduos hídricos subterrâneos. ticos de ignição e regulação, sendo que alguns incluem até a
remoção de cinzas, o que facilita o manuseamento por parte
238
• Devido à produção de energia de origem reno- do utilizador. Para aplicações de aquecimento doméstico ou
vável comercial, estes equipamentos são de potência baixa a
média, até 150 kW – 200 kW. Este tipo de sistemas de aque-
- Redução da procura eléctrica e térmica das insta- cimento alcançam rendimentos entre os 85% e os 92%,
lações. valores similares aos das caldeiras de gasóleo ou de gás.

- Redução da dependência de energia externa. Um caso concreto, cada vez mais generalizado, são as
caldeiras de pellets. Devido às características do pellet: poder
- Exportação e venda de excedentes eléctricos. calorífico, compactação, etc. As caldeiras projectadas para
este tipo de combustível são muito eficientes e mais
- Redução de emissões contaminantes e de efeito compactas que o resto das caldeiras de biomassa.
estufa.
Para a escolha de uma caldeira deste tipo deve-se ter em
- Redução do consumo de energia no transporte conta uma série de características:
de electricidade e combustíveis.
• Fiabilidade do sistema.
4. Aplicações
• Rendimento da combustão da caldeira. Quanto mais
elevado, o consumo será menor e melhorará a eficiência
do sistema.
4.1. Aquecimento
A biomassa, do mesmo modo que o gás ou o gasóleo, serve • Cumprimento da legislação de emissões de gases e
para alimentar um sistema de climatização (calor e frio). partículas.
Actualmente existem muitos biocombustíveis sólidos que se
utilizam em sistemas de climatização de edifícios, entre os • Sistema de regulação e controle simples para o utili-
quais se destacam pela sua grande qualidade os pellets e as zador.
briquetes. Para além disso, também é usual a utlização de
coroços de azeitona, cascas de frutos secos, etc. • Automatização do sistema de limpeza.

As caldeiras de biomassa são equipamentos compactos • Fácil manutenção e operacionalização da caldeira.


desenhados especificamente para o seu uso, seja domés-
tico, em habitações unifamiliares, edifícios de habitação ou • Bons serviços técnicos.
comerciais, apesar de existirem também modelos para insta-
lações industriais. Todas elas apresentam sistemas automá- • Garantia de fornecimento de combustível.

figura 5
Esquema do processo de biodigestão.

Ácidos
Acidogénese CO2 + H2
Moléculas voláteis
Orgânicas Hidrólise
insolúveis Ácido
acético
CH3COO- + H2O

CH4 + HCO3- Metanogénese


BIOGÁS Acetoclástica

Metanogénese
CH4 + 2H2O CO2 + 4H2 Hidrogenotrófica

Fonte: AEDIE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

4.2. Refrigeração por absorção


239

A climatização com biomassa é tecnicamente possível utili-


zando sistemas e equipamentos comerciais, que estão no
mercado, que são homologados e que demonstram a sua
eficiência e fiabilidade, com custos operacionais competi-
tivos.

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


Sistema de climatização (Calor e frio) da Casa
da Cultura de Viana de Cega. Valladolid.
Fonte: IDAE.
Caldeira automática multi-combustível.
Fonte: IDAE. Um sistema de arrefecimento por absorção difere de um
sistema de compressão eléctrica no qual a energia que
acciona o compressor é o calor, em forma de água quente,
Um sistema de aquecimento com biomassa consta de uma produzida numa caldeira de biomassa.
série de equipamentos ou sistemas principais:
A máquina de absorção arrefece a água que circula pelo
• Armazém de combustível: silo, funil. circuito de distribuição de frio até aos fancoils, os climatiza-
dores, ou o sistema escolhido. Emprega refrigerantes capítulo 10
• Sistema de alimentação: parafuso sem-fim, pneu- inócuos no caso de fuga, como soluções aquosas, cloreto e
mático, ou gravidade. brometo de lítio.

• Caldeira: câmara de combustão, zona de inter- A utilização do sistema de absorção, como alternativa a
câmbio, cinzeiro, e caixa de fumos. grupos de arrefecimento accionados por electricidade
aumenta o número de horas anuais de utilização da caldeira
• Chaminé: igual a um sistema convencional. de biomassa, melhorando a sua rentabilidade. Por outro
lado, utiliza pellets em épocas de calor, quando estes são
• Sistema de distribuição de calor: igual a um conven- mais baratos por haver menos procura.
cional.

• Sistema de regulação e controle: igual a um sistema 4.3. Produção de calor industrial a partir
convencional quanto à interface do utilizador.
de biomassa
Esta geração realiza-se através de caldeiras. As caldeiras de
biomassa têm na actualidade umas prestações superiores
às de carvão, gasóleo ou gás. Estas caldeiras aproveitam o
calor gerado pela combustão da matéria orgânica como
serrim, estilhas, madeira triturada e preparados para a Com potências entre 15 kW e 100 kW, e a possibilidade de
combustão como os pellets, sendo estes transmitidos ao utilizar como combustível madeira, pellet ou material resi-
240
sistema de aquecimento ou produção de calor, que alcança dual triturado, a utilização destas caldeiras é a melhor opção
um rendimento de 96%. Estas caldeiras têm dispositivos em aplicações como serrarias ou secadores de madeira nos
de limpeza automática e tecnologia que regula o seu funcio- quais a procura energética térmica necessária ao processo
namento. de secagem da madeira une a disponibilidade permanente
e combustível de baixo custo, que permite por sua vez a
O esquema geral de uma caldeira consiste em: eliminação de resíduos que de outro modo iriam requerer
um espaço para o seu armazenamento ou tratamento com
• Funil de biomassa. os respectivos custos derivados.

• Parafuso sem-fim que leva a biomassa ao quei- A caldeira representada na figura anterior utiliza-se na
mador. indústria de serração. A sua função é de gerar calor para
secar o serrim, que servirá para a produção dos pellets à
• Queimador. posteriori. Como combustível destas caldeiras utilizam-se
resíduos da própria serração, o que torna ainda mais inte-
• Permutador de calor tubular. ressante a sua utilização.

• Quadro eléctrico que torna a caldeira automática. Quando se pretende uma autonomia superior nos sistemas
de geração de calor biomássicos é necessária a construção
A instalação da biomassa é a mesma que uma de gasóleo. de um silo de armazenamento de biomassa.
Apenas a chaminé deverá ser inoxidável e o tanque de
expansão um pouco maior. Estes silos de armazenamento são compostos por remo-
vedor de pás flexíveis, com motor e reductor que alimenta
As caldeiras de biomassa podem ser domésticas ou indus- um parafuso / tubo sem-fim que por sua vez realiza o forne-
triais. Estas últimas podem alcançar os 1.500 kW e se forem cimento de combustível desde o silo de armazenamento
sistemas de multicombustível os 6.000 kW. até ao interior da caldeira de biomassa.

Se o silo alimenta caldeiras de biomassa de elevada


potência, ou no caso de ser necessária uma grande capaci-
dade de armazenamento de combustível, é necessária a
construção de um armazém do tipo solo móvel com bandas
transportadoras até à entrada de alimentação da caldeira.

4.4. Cogeração

A cogeração consiste na produção conjunta de energia


térmica e eléctrica, utilizando como combustível a biomassa.
Pode-se realizar a cogeração com biomassa pré-tratada por
aparo, trituração, compactação ou por transformação em
distintos processos termoquímicos (gás síntese) ou bioló-
gicos (biogás).

Esta tecnologia tem como grande vantagem que os rendi-


mentos globais são superiores aos dos sistemas de
produção de energia eléctrica e térmica em separado.

Inicialmente, a cogeração consiste no aproveitamento do


calor residual de sistemas de produção eléctrica (turbina de
vapor, gaseificação, digestão anaeróbia, etc.), de tal forma
que, em vez de se perder, é aproveitada para uso térmico,
pelo que origina rendimentos maiores.
Caldeira de estilha de madeira.
Fonte: IDAE.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

A cogeração é o sistema mais eficaz para o aproveitamento (PNAER) e do Programa E4, assim como dos novos objec-
de um combustível, já que geralmente um sistema de tivos que se incluam no PNAER, serão revistas as tarifas,
241
produção eléctrica alcança uma eficiência em torno dos prémios, complementos e limites inferior e superior defi-
30% (ciclos de vapor, turbinas, motores, etc.), deixando nidos agora, atendendo aos custos associados a cada uma
escapar todo o seu calor residual, pelo que com um sistema destas tecnologias, ao grau de participação do regime
de cogeração o rendimento do combustível pode chegar especial na cobertura da procura e à sua incidência na
até uma eficiência de 85%. gestão técnica e económica do sistema, garantindo sempre
umas taxas de rentabilidade razoáveis com referência ao
custo do dinheiro no mercado de capitais. A cada quatro
4.4.1. Enquadramento legal anos, a partir de então, será realizada uma nova revisão na
4.4.1.1. Visão geral qual se manterão os critérios anteriores.

A produção de electricidade a partir de fontes renováveis As revisões às quais se refere esta secção da tarifa regu-
como a biomassa está regulada desde 1999, com a apro- lada e dos limites superior e inferior não afectarão as insta-
vação do Decreto-Lei n.º 168/99 texto que regulava a lações cuja introdução tenha sido outorgada antes de 1 de
produção de energia eléctrica em regime especial. Publi- Janeiro do segundo ano posterior ao ano em que se tenha
cou-se também em Setembro de 2006 o Decreto-Lei nº efectuado a revisão.
178/2006, de fomento à cogeração.
Uma revisão de tarifas tem efeito apenas sobre as centrais
Com a aprovação do novo decreto lei cria-se um cenário que tenham entrado em funcionamento a partir de 1 de
favorável para as cogerações com biomassa, especialmente Janeiro do ano seguinte à sua publicação. O objectivo é dar

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


no sector terciário, sendo que este se mostra exigente com um prazo suficiente aos promotores para que actualizem os
cogerações com pouca valorização de calor. seus projectos às tarifas que os vão afectar.

4.4.1.2. Instalações híbridas O prémio apenas se outorga às instalações que vendam a


sua electricidade no mercado, sejam de cogeração ou
No caso de centrais em que a biomassa não seja o único apenas de produção de electricidade. O prémio consiste
combustível, ou coexistam biomassas enquadradas em numa quantidade adicional ao preço que resulte no mercado
diferentes grupos, a retribuição de cada uma delas será organizado ou o preço livremente negociado pelo titular ou
feita atendendo à energia fornecida por cada uma das o representante da instalação.
fontes, em função da massa e poder calorífico inferior (kWh
/kg) de cada uma.
5. Impacto ambiental da biomassa
4.4.1.3. Estrutura da distribuição de energia
Com excepção dos resíduos sólidos urbanos (RSU) e os
Para a venda da energia eléctrica exportada para a rede industriais que se utilizam na própria indústria que os gera,
pode-se escolher uma das duas opções seguintes. a utilização dos resíduos e as culturas energéticas como capítulo 10
fonte de energia oferece uma série de impactos positivos.
• Regime Normal: o preço de venda à rede eléctrica é Estes impactos não devem deixar de ser considerados ao
definido de acordo com o preço de compra (no caso definir as políticas e regulamentações que permitam impul-
de microgerações). sionar o seu desenvolvimento; entre eles importa
destacar:
• Regime Bonificado: O preço de venda é 30% da
tarifa estabelecida para as energias renováveis, em Intensificação e melhoria da gestão florestal
2008 fixava-se em 0,65€ (tarifas aplicadas a microge- Um aumento da procura de madeira como combustível
rações) pode criar incentivos para a recolha dos resíduos prove-
nientes da desflorestação, o que por sua vez facilitará a
No caso de venda à rede através de centrais de biomassa. preparação posterior do lugar para a reflorestação. A venda
Em 2010 a tarifa de venda encontra-se em 109 €/MWh. dos resíduos de desbaste ou colheita podem gerar uma
receita adicional, já que permite ao industrial florestal
4.4.1.4. Actualizações e revisão de preços e prémios realizar maiores investimentos na gestão das suas explo-
variáveis para instalações de biomassa rações e um aproveitamento mais racional dos mesmos.
Portanto, a utilização de resíduos florestais para energia
Durante o ano de 2010, segundo o grau e cumprimento do pode contribuir para o objectivo final de intensificar e
Plano Nacional de Acção para as Energias Renováveis melhorar a gestão florestal. Adicionalmente, possibilita a
utilização dos resíduos agrícolas das explorações locali- Emissão de substâncias contaminantes
zadas em torno da fábrica de transformação. Os processos de transformação da biomassa implicam o
242
aparecimento de substâncias contaminantes que se
Utilização dos resíduos derramam no meio ambiente em maior ou menor grau,
Nas indústrias florestais existe o conceito de que os resí- dependendo da natureza dos reagentes e das tecnologias
duos representam um desperdício que importa fazer utilizadas. Entre elas, destacam-se as seguintes:
desaparecer, o que leva à sua queima ou eliminação descon-
trolada, o que causa graves prejuízos. Mas se estes resí- • Dióxido de carbono. Ao contrário dos combustíveis
duos são eliminados, isto pressupõe uma melhoria das fósseis, o dióxido de carbono originado no processo
condições ambientais e sanitárias da zona onde se de transformação da biomassa é devolvido à atmos-
produzem. fera, de onde foi captado durante a sua geração.
Assim sendo, a utilização da biomassa como combus-
Redução de emissões tível não faz aumentar o conteúdo de dióxido de
A recolha e utilização dos resíduos florestais pode reduzir carbono da atmosfera e, portanto, não contribui para
as emissões nocivas, tanto da queima incontrolada in situ o efeito estufa. A realidade é que, se o ritmo de utili-
como dos incêndios florestais. O balanço de CO2 emitido é zação se tornar muito alto e superar o ritmo de
neutro. A combustão da biomassa, se realizada em produção da biomassa, aumentará a quantidade do
condições adequadas, produz água e CO2, mas a quanti- dito composto no ar.
dade emitida deste último gás, principal responsável pelo
efeito estufa, é captada pelas plantas durante o seu cresci- • Monóxido de carbono. No caso do monóxido de
mento. Isto é, o CO2 da biomassa viva forma parte de um carbono, as emissões que se produzem ao queimar a
fluxo de circulação contínuo entre a atmosfera e a vege- biomassa são maiores do que quando se queima o
tação, sem que suponha o aumento desse gás na atmos- carvão, ainda que dependa muito da tecnologia utili-
fera de modo que a vegetação se renove à mesma veloci- zada. A redução na formação deste composto conse-
dade que se degrada. gue-se quando o equipamento de combustão
funciona adequadamente e se garante que esta seja
Prevenção dos efeitos de chuva ácida completa.
A combustão de biomassa florestal contribui para a neutra-
lização da chuva ácida, combinação de dióxido de enxofre • Compostos de enxofre. Os compostos de enxofre
(SO2) e dos gases reactivos NOx com vapor de água, dado que se formam durante a combustão são óxidos de
que existe uma diminuição da emissão de derivados do enxofre, que podem chegar a converter-se em ácido
enxofre e os combustíveis de biomassa possuem um teor sulfúrico, sendo esta uma das substâncias que
consideravelmente menor deste elemento do que os contribui para a chuva ácida. Também se podem
combustíveis fósseis. formar óxidos de enxofre nos processos de fermen-
tação e na pirólise da biomassa.
Inovação tecnológica
A tecnologia para o seu aproveitamento conta com um bom • Óxidos de nitrogénio. Os óxidos de nitrogénio
grau de desenvolvimento tecnológico para muitas apli- formam-se devido à oxidação do conteúdo na
cações. É um importante campo de inovação tecnológica. biomassa e no ar, que é necessária em alguns dos
As respostas tecnológicas em curso estão dirigidas para a processos da sua utilização e transformação. Parece
optimização do rendimento energético do recurso, minimi- que, como a biomassa normalmente se queima a
zação dos efeitos ambientais dos resíduos aproveitados e temperaturas inferiores àquelas dos combustíveis
das próprias aplicações, aumento da competitividade fósseis, a formação de óxidos de nitrogénio é inferior
comercial dos produtos e possibilidade de novas aplicações àquela que se produz com estes últimos.
de grande interesse como os biocombustíveis, entre
outros. • Substâncias cancerígenas. Algumas substâncias
que se emitem são o ácido acético, fenol e óleos
Tudo o que foi dito constitui um importante argumento para insolúveis na água como benzeno, tolueno, benzopi-
sustentar a conveniência e pertinência do projecto de polí- reno e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. No
tica energético-ambiental que considere prioritariamente o caso deste último, o problema que existe é que, uma
aproveitamento múltiplo e racional dos recursos e resíduos vez no exterior e em contacto com o solo, transfor-
florestais. mam-se em substâncias que contêm nitrogénio e
oxigénio, sendo que apresentam maior poder cance-
No entanto, a obtenção de energia a partir da biomassa rígeno do que as iniciais. A formação destes hidrocar-
envolve outros inconvenientes. bonetos deve-se à combustão incompleta das maté-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

rias orgânicas e deve ser assinalado que não estão - Produções sazonais. É necessário armazenar
apenas associadas à biomassa, sendo também a biomassa para garantir o fornecimento
243
produzidas em grandes quantidades na combustão durante o ano ou combinar distintas culturas
incompleta do carvão e dos derivados do petróleo, ou culturas e resíduos.
como a gasolina.

• Resíduos sólidos. Na combustão da biomassa, 6. Impacto socioeconómico


obtêm-se cinzas como produtos sólidos. A retenção,
extracção e tratamento destas substâncias pode As principais barreiras que afectam a aplicação da biomassa
contaminar a água e o solo devido à presença de não são de carácter tecnológico mas antes de mentalidade
substâncias tóxicas entre os compostos que consti- e de capacidade organizativa em todos os sectores sociais
tuem as cinzas, como o chumbo ou o cádmio, pelo envolvidos e os âmbitos de acção possíveis (público ou
que é necessário um controlo exaustivo nas dife- privado). Inclusivamente o subsector de biocombustíveis
rentes etapas que constituem o tratamento destas. que é, provavelmente, o menos desenvolvido, conta com
recursos científico-técnicos suficientes.
• Risco de incêndios. Ao contrário do que ocorre com
os resíduos agrícolas, que são deixados no campo e • Planificação da recolha de matérias-primas. No
que actuam como protecção contra a erosão dos caso de cultivos energéticos e de resíduos de
solos, os resíduos da exploração florestal abando- culturas, assim como dos resíduos florestais, as prin-
nados no terreno impedem a formação de um tapete cipais dificuldades que se apresentam têm que ver
herbáceo que diminui os riscos de erosão, do mesmo com a dispersão espacial do recurso, a abundância

Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


modo que aumenta as possibilidades de incêndio de produtores, a sazonalidade, a variabilidade da
pela madeira seca e outros efeitos indesejáveis. produção, a dificuldade de planificar podas, limpezas,
colheitas e a coordenação dos agentes envolvidos.
• Desflorestação. Os problemas de desflorestação Gerir adequadamente estas questões-chave para
associados com a exploração da biomassa produ- aproveitar os recursos mais abundantes.
zem-se quando se ultrapassa a capacidade de rege-
neração da floresta. Isto aconteceu muitas vezes no • Menor dependência. Diminui a dependência externa
passado. Este problema foi reduzido extraordinaria- do abastecimento de combustível.
mente nos países desenvolvidos, nos quais se
pratica, regra geral, uma exploração da floresta • Competência do aproveitamento energético da
baseada em critérios racionais. No entanto, subsiste biomassa com outros usos. O que ocasiona incer-
todavia em muitos países do terceiro mundo, nos tezas de abastecimento e oscilação de preços de
quais a biomassa é com frequência o único recurso matérias-primas. Este aspecto é particularmente
disponível para a maior parte da população. crítico para as plantas de geração eléctrica, quando
os fornecedores não fazem parte do projecto de
• Ruídos. O funcionamento da central pode ocasionar exploração. capítulo 10
ruídos ou vibrações
• Dificuldade de armazenamento e manuseamento
• Necessidade de procurar novas culturas. São na planta. Seja para a transformação da matéria-
necessárias culturas diferentes às tradicionais, já que prima em outros produtos como para utilização
estas foram seleccionadas para fins alimentares ou directa, necessita de espaços amplos e uma planifi-
industriais, mas não energéticos. cação adequada para poder automatizar as
operações.
• Falta de experiência e risco de pragas. Falta de
experiência do agricultor e dos técnicos do sector • Afastamento dos sectores implicados. Sectores
agrícola neste tipo de culturas. Ao tratar-se de novas agropecuário, energético, industrial de produção de
culturas é possível que haja que sintonizar técnicas equipamentos. Na maior parte das situações apenas
específicas de cultivo e prever a necessidade de se pode chegar a projectos viáveis com uma boa
estudar possíveis novas pragas e doenças que coordenação destes três sectores.
apareçam.
• Desconexão das políticas públicas aplicáveis aos
• Dependência das condições climáticas e suas sectores envolvidos e à política fiscal. As linhas de
flutuações: ajuda não têm frequentemente em consideração a
necessidade de integrar vários sectores numa
mesma iniciativa, para alcançar a viabilidade.
244

• Desenvolvimento rural. A produção de biomassa é


totalmente descentralizada, baseada num recurso
disperso no território, que pode ter um grande
impacto social e económico no mundo rural e criar
postos de trabalho.

• Insuficiência das acções de demonstração e de


apoio a projectos com este carácter, em todas as
aplicações.

• Falta de informação sobre os recursos e tecnolo-


gias disponíveis.

• Falta de consciência. Falta de consciência suficiente


sobre o interesse ambiental e social da biomassa
como fonte de energia e, consequentemente, falta
de esforço necessário para ultrapassar as diversas
barreiras. Este factor actua tanto à escala individual,
de colectivos sociais, da indústria, das grandes
companhias (eléctricas e de combustíveis) e da Admi-
nistração em muitos casos.

• Pouco desenvolvimento de hábitos de consumo


compatíveis com a extensão de fontes renováveis
de energia e com poupança energética

• Dificuldades para pôr em prática as distintas vias


de apoio previstas. Dificuldades por falta de infor-
mação, por dispersão ou acompanhamento defei-
tuoso das linhas de apoio, por dificuldade de gestão,
por falta de adequação às realidades...

As diversas barreiras influenciam, através de distintos


mecanismos, a viabilidade económica da produção de
energia com biomassa e, portanto, na possibilidade de que
se converta num sector significativo da teia social e econó-
mica.

O uso da biomassa como fonte de energia renovável requer


uma base tecnológica, cujas características dependerão
das possibilidades económicas e de desenvolvimento
socio-cultural. O condicionamento económico pode ser
resolvido por diferentes vias, mas, do ponto de vista social
e cultural, geralmente a utilização destas fontes de energia
em sociedades desenvolvidas segundo o modelo ocidental
tradicional, deve implicar mudanças importantes nos
padrões de vida e consumo.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

capítulo 10 Energias Renováveis: Cogeração, Biomassa


245
11 Energias Renováveis: Geotérmica
e Mini-hídrica
da temperatura com a profundidade; o valor médio normal
1. Energia geotérmica é 3 ºC por cada 100 m. A diferença de temperatura entre o
248
núcleo e a superfície dá lugar a um fluxo de calor e a energia
térmica é transferida por condução. As temperaturas que
1.1. Conceitos gerais e princípio se alcançam no interior da Terra justificam o interesse pela
de funcionamento utilização da energia térmica. No entanto, o baixo fluido de
calor, devido à baixa condutividade dos seus materiais, faz
A geotermia é o conjuntos de técnicas utilizadas para extrair com que seja muito difícil o seu aproveitamento. Por outro
calor acumulado na crosta terrestre. Este calor produz-se, lado, há zonas onde se produzem anomalias geotérmicas
principalmente, pela desintegração espontânea, natural e que dão lugar a um gradiente de temperatura superior ao
contínua dos isótopos radioactivos que existem em muito habitual e constituem uma excepção: estas recebem o
pequena proporção em todas as rochas naturais. nome de reservatórios geotérmicos (geralmente são zonas
vulcânicas).
A Terra é quase uma esfera, cujas temperaturas são supe-
riores a 1.000 ºC excepto na crosta, através da qual se Existem diversos tipos de anomalias geotérmicas nas quais
produz um fluxo de calor. A geração continua de calor no o gradiente é 10-15 vezes superior. Estas são as
centro da Terra deve-se aos processos de fissão que se seguintes:
levam a cabo no núcleo devido à existência de elementos
radioactivos como o urânio e o tório. Este calor conserva-se • Vulcanismo de Rift
facilmente dada a baixa conductividade térmica das Gradiente entre 8 ºC e 15 ºC por cada 100 m de
rochas. profundidade. A este tipo pertecem os fenómenos
da Islândia, Mar Vermelho, etc.
A Terra é formada por quatro camadas, crosta, manto,
núcleo exterior e núcleo interior. À medida que aumenta a • Vulcanismo de subsidência
profundidade da Terra, aumenta a temperatura. As tempera- Fenómeno que tem lugar em zonas de choques de
turas e larguras de cada camada indicam-se de seguida: placas, sobretudo entre uma continental e uma oceâ-
nica. Um exemplo é o da cordilheira dos Andes na
América do Sul.
TabEla 1
Temperaturas e espessuras das camadas da Terra. • Fracturas profundas
Em zonas de actividade tectónica muito intensa as
fracturas podem cortar em ou mais aquíferos e
Espessura Temperatura
(km) (ºC) actuam como um colector nas descargas destes. É o
tipo de manifestação geotérmica mais frequente em
Espanha. Ocorre fundamentalmente nas Ilhas Caná-
Núcleo interior 2.400 4.000 rias.

As seguintes são diversas formas de manifestação de um


sistema geotermal:
Núcleo exterior 2.000 –
• Géiser
Erupções de vapor na superfície, devido a sistemas
geotermais de alta temperatura. São geralmente
Manto 2.900 –
utilizadas de forma directa para a geração de energia
eléctrica. Um exemplo é o géiser Old Faithfull em
Yellowstone (Estados Unidos).
Crosta 15
6 - 64
(- 88 - 58)
• Fumarola
Emanações de gases e vapor normalmente com alto
Fonte: BESEL S.A.
conteúdo em enxofre.

No núcleo da Terra o nível térmico é muito superior ao da • Lagos de lodo


superfície. Nele podem-se alcançar temperaturas de até Produzem-se quando o caudal das águas é baixo e há
4.000 ºC, que vão diminuindo à medida que se sobe rumo à arrasto de partículas argilosas pelo que se formam
superfície. Denomina-se por gradiente térmico a variação lagoas de argila com uma temperatura similar às
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

águas termais ou até superior quando há borbulha- Figura 1 Tipos de depósitos segundo a temperatura.
mento de gases.
249

• Mananciais termais Depósitos de baixa


É a forma mais habitual e consiste no surgimento de temperatura

águas subterrâneas a uma temperatura maior do que T<100 ºC. Aplicação:


Aproveitamento directo
a normal. O seu aproveitamento típico é para aqueci-
do calor (aquecimento,
mento, fins terapêuticos e recreativos. processos industriais).
90% de eficiência
em aplicações não
eléctricas.
1.2. Tipos de campos geotérmicos
em função da temperatura
Depósitos de média
temperatura
1.2.1. Energia geotérmica de alta temperatura T entre 100 ºC e
150 ºC. Aplicação:
Produz-se em zonas activas da crosta. A sua temperatura Pode-se produzir
electricidade mas não
está compreendida entre 150 ºC e 400 ºC, produz-se o directamente.
vapor na superfície que ao ser enviado para as turbina gera
electricidade. São necessárias várias condições para que

Energias Renováveis: Geotérmica e Mini-Hídrica


exista um campo geotérmico: um tecto composto por uma
cobertura de rochas impermiáveis; um depósito, o aquífero, Depósitos de alta
temperatura
de permeabilidade elevada, entre 300 m e 2.000 m de
T>150 ºC. Aplicação:
profundidade; rochas fracturadas que permitam uma circu- Produção directa de
lação convectiva de fluidos e, portanto, a transferência de electricidade.
calor da fonte até à superfície, e uma fonte de calor magmá- De muito difícil acesso
e exploração.
tico, entre três a dez quilómetros de profundidade a 500 ºC Pouco frequentes.
– 600 ºC. A exploração de um campo destas características 15% de eficiência.
faz-se por meio de perfurações segundo técnicas quase
idênticas às de extracção de petróleo. Fonte: BESEL S.A.

1.2.2. Energia geotérmica de média temperatura 1.3. Tipos de sistemas de obtenção de


energia geométrica
A energia geotérmica de média temperatura é aquela na
qual os fluidos aquíferos estão a temperaturas menos A extracção de energia térmica do depósito realiza-se por
elevadas, normalmente entre 100 ºC e 150 ºC. Por conse- meio de um fluido que possa circular pela sua proximidade, capítulo 11
guinte, a conversão vapor-electricidade realiza-se com aquecendo-se e que, posteriormente, possa alcançar a
menor rendimento e deve utilizar-se, como intermediário, superfície onde se aproveitará a sua energia térmica.
um fluido volátil. Pequenas centrais eléctricas podem
explorar estes recursos. A energia geotérmica de média As possíveis aplicações da energia geotérmica vão depender
temperatura é aproveitável em zonas mais amplas do que do estado em que se encontre o fluido, vapor, líquido ou
as anteriores; por exemplo, em todas as bacias sedimen- mistura de ambas as fases.
tares.
Além disso, segundo o tipo de reservatório, o fluido pode
ser parte dele de forma natural ou ser injectado desde a
1.2.3. Energia geotérmica de baixa temperatura
superfície artificialmente.

Considera-se energia geotérmica de baixa temperatura Deste modo, e tendo em conta as distintas possibilidades
aquela na qual os fluidos estão a temperaturas inferiores a de reservatórios, classificam-se os sistemas de obtenção
100 ºC. Esta energia utiliza-se para aproveitamento directo de energia geotérmica em três grupos:
como necessidades domésticas, urbanas, agrícolas ou
processos industriais. • Sistemas hidrotérmicos

• Sistemas geopressurizados
motos locais, do ruído sísmico (microterramotos) e
• Sistemas de rocha quente dos materiais quaterbários deformados.
250

1. Sistemas hidrotérmicos • Estudo vulcanológico, no caso de existir esta feno-


Têm no seu interior o fluido térmico (água prove- menologia. Para a datação absoluta das erupções,
niente da chuva ou do degelo) e pode encon- estudo petrológico e geoquímico dos produtos vulcâ-
trar-se em estado líquido ou gasoso em função nicos, análise química e isotópica dos gases e cálculo
da temperatura e/ou pressão do reservatório. da temperatura e pressão da câmara magmática.

2. Sistemas geopressurizados • Estudo estratigráfico e tectónico. Realizam-se para


São similares aos anteriores com a diferença definir os materiais que compõem a zona e estudar a
que se encontram a maior profundidade. Nestes sua disposição no tempo e no espaço. Para além
sistemas o fluido de água líquida tem tempera- disso detectam-se fracturas locais que interrompem
turas que rondam os 150 ºC e 200 ºC, com alto esta geometria.
grau de salinidade. Apresentam uma série de
inconvenientes que dificultam a exploração e o • Estudo hidrogeológico. Proporciona o balanço hidráu-
desenvolvimento de uma tecnologia apta para a lico da zona, cálculo da pluviometria, escoamento
sua utilização, como seja: o seu difícil acesso, o superficial, evapotranspiração e infiltração eficaz.
alto grau de minerais dissolvidos e o seu baixo Neste estudo definem-se os aquíferos principais e
nível térmico. Por outro lado, também oferece a sua geometria, para além de se calcular a dinâmica
vantagem de uma variedade de energias dife- hidráulica e a produtividade potencial.
rentes de forma simultânea: energia de pressão
de água, energia térmica da água e o gás O conjunto dos estudos anteriores definirá a viabilidade
natural. geológica da sua exploração, para além do ponto mais indi-
cado para realizar a sondagem e a profundidade aproxi-
3. Sistemas de rocha quente mada.
São constituídos por formações rochosas imper-
miáveis que têm uma temperatura elevada entre 1.4.2. Sondagens de exploração
150 ºC e 300 ºC sem que exista no seu interior
nenhum fluido que as desloque. Apesar destes Uma vez definido o lugar mais adequado para realizar a
sistemas serem os mais numerosos e terem sondagem, sua profundidade e o tipo de material que se vai
um alto potencial térmico, a profundidade a que perfurar, define-se o tipo de maquinaria necessária para
se encontram, bem como o carácter imper- fazer a sondagem de exploração. Este é de diâmetro
miável da rocha, dificultam o seu aproveita- pequeno e a sua utilidade consiste em recolher os dados
mento. Encontra-se ainda em fase de desenvol- dos minerais que se vão atravessar, a variação da tempera-
vimento. tura do terreno e os dados sobre o caudal e a composição
química da água.

1.4. Etapas no desenvolvimento geotérmico


Quando a perfuração estiver terminada e tiverem sido feitos
os ensaios de bombagem e de estudo das temperaturas e
1.4.1. Técnicas geológicas composição da água, condiciona-se o poço como, insta-
lando uma tubagem metálica perfurada com umas ranhuras
As condicionantes geológicas são determinantes na hora na zona produtora de água termal. Os piezómetros são
da prospecção geotérmica e há que começar a estudar a poços que se utilizam para controlar o nível aquífero uma
zona com a metodologia de reconhecimento crescente: vez que se utilizam os poços de exploração.

• Estudos de teledetecção, fotografia satélite e foto- Após se terem comprovado os recursos geotérmicos e
grafia aérea. Fornecem a situção da zona no quadro conhecido os parâmetros principais através das sondagens
geral da tectónica de placas e facilitam a limitação de reconhecimento (temperatura, pressão, caudal, quali-
das grandes linhas de fractura. dade química, etc.) realiza-se a sondagem de exploração,
através de uma máquina de perfurações. Se é de pouca
• Estudos de sismicidade, ruído sísmico e neo-tectó- profundidade, até uns 200 m – 300 m, utiliza-se uma
nica. Para o reconhecimento e quantificação do movi- máquina de fazer poços de água potável, ao passo que para
mento actual das falhas através do estudo dos terra- perfurações de até 2.000 m se utilizam torres de perfuração
petrolífera.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Há casos em que a qualidade química da água representa importante ebulição do fluido geotérmico e para utilizar o
um perigo para o meio ambiente por causa do excesso de calor contido nos fluidos residuais das centrais de sepa-
251
salinidade, como acontece na bacia de Paris. Sendo assim, ração de vapor.
depois de se extraírem calorias da água, tem que se rein-
jectar esta no subsolo, dentro do mesmo aquífero, para Figura 2
manter a pressão. Isto obriga a fazer dois poços de explo- Diagrama de uma Central de separação de vapor.
ração em vez de um, denominados doublets. Os poços têm
que estar separados na parte inferior para não voltarem a
recolher a água arrefecida que se acaba de injectar. Esta
separação tem que ser de várias centenas de metros e
pode ser feita verticalmente separada a esta distância ou
um ao lado do outro, desviando-os a muita profundidade. A
técnica de desvio de poços resulta da tecnologia petrolí-
fera, podendo chegar a ser feito o ângulo e a situação de
desvio com uma precisão muito elevada.

Noutros casos a água não representa nenhum impacto


sobre o meio ambiente e pode ser utilizada directamente
Fonte: Asociação Internacional Geotérmica.
para o consumo, sendo depois retirada como água pluvial.

Energias Renováveis: Geotérmica e Mini-Hídrica


Nestas centrais, o calor que se obtém do fluido geotérmico
1.5. Tecnologias. Estado da arte
transmite-se por meio de um trocador de calor a um fluido
Existem vários tipos de processos de conversão da energia de trabalho secundário com um menor ponto de ebulição
para gerar electricidade através de recursos hidrotermais. (geralmente um refrigerante). O fluido de trabalho expan-
Actualmente, três destes processos encontram-se em de-se numa turbina, condensa-se e reaquece-se noutro
operação comercial: vapor seco, sistemas de separação de ciclo.
vapor com predomínio de água líquida e sistemas de ciclo
binário. São os que mais se têm desenvolvido na última década.
Neles a temperatura da água está compreendida entre 30
1.5.1. Centrais de vapor seco ºC e 350 ºC.

Capta-se o vapor das fracturas no solo. O vapor saturado ou


ligeiramente sobreaquecido que se obtém na superfície é 1.6. Nova regulamentação (SCE)
enviado directamente para uma turbina para mover um
gerador eléctrico. Os sistemas de vapor predominantes A 4 de Abril de 2006 foi publicado o Sistema Nacional de
foram explorados unicamente na Indonésia, Itália, Japão e Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos
Estados Unidos. Edifícios (SCE). Também em 4 de Abril de 2006, através do capítulo 11
Decreto-Lei 80/2006, foi aprovado o Regulamento das
1.5.2. Centrais com predomínio de água líquida Características de Comportamento Térmico dos Edifícios
(RCCTE).
Neste tipo de depósitos com predomínio de água líquida,
os poços produzem geralmente uma mistura de água e O âmbito de aplicação para este Sistema de Certificação
vapor na superfície. Isto deve-se ao facto do fluido do depó- Energética (SCE) é o dos edifícios de nova construção,
sito sofrer um processo de ebulição no interior do poço, assim como todos aqueles em que se realizem modifi-
causado pela queda de pressão ao longo da tubagem. cações, reformas ou reabilitações com uma superfície útil
Quando a mistura chega à superfície, o vapor e o líquido superior a 1.000  m2 onde se renove mais do que 25% dos
separam-se por meio de instalações adequadas. O primeiro seus compartimentos e também a reabilitação de edifícios
é utilizado para alimentar a turbina, enquanto o líquido se de qualquer utilização, nos quais exista uma procura de
injecta novamente no depósito. aquecimento, ou de água quente sanitária ou ainda de
climatização de uma piscina coberta.

1.5.3. Centrais com sistema de ciclo binário


Relativamente ao aquecimento, o novo código actualiza os
As centrais de ciclo binário são apropriadas para a explo- conceitos que se tornaram obsoletos nas disposições em
ração dos sistemas geotérmicos de líquido dominante que vigor até agora, estabelecidas nas Normas Tecnológicas da
não estão suficientemente quentes para produzir uma Edificação, Condições Térmicas dos Edifícios (NTE-CTE79)
252

Central Geotérmica de Nesjavellir na Islândia.

e promulgadas em 1979 como resposta à primeira crise sanitária (AQS) que variam dependendo da zona climática
petrolífera. Concretamente, a secção energética da nova onde se vai proceder à instalação, entre 30% e 70%.
legislação (CTE-HE) completa e moderniza os métodos e
unidades de cálculo da procura energética dos edifícios, Regulamento das Características de Comportamento
harmonizando-os com os do resto da União Europeia e Térmico dos Edifícios (RCCTE) proíbe o aquecimento de
sublinhando a necessidade de poupança energética através piscinas ao ar livre e em geral todos os espaços abertos
de dois parâmetros: através de fontes de energia convencionais. Se a piscina é
coberta, uma parte das necessidades energética de aqueci-
• Um projecto eficiente dos edifícios, que diminua a mento da água deverão ser cobertas através de fontes de
procura energética. energia renovável, que devem cumprir em todo o caso as
exigências fixadas na contribuição solar mínima de água
• E a utilização de energias renováveis, com a finali- quente sanitária do SCE.
dade de reduzir o uso das energias convencionais.
As exigências solares mínimas nem sempre são fáceis de
Quanto à água quente sanitária, o Sistema de Certificação cumprir, seja por motivos de espaço, de construção ou
Energética (SCE) estabelece a obrigatoriedade de cobrir outros. Neste sentido e ao ser a energia geotérmica uma
uns mínimos da procura energética para a água quente
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

energia renovável, pode ser utilizada como alternativa para Uma bomba de calor geotérmica é um sistema que cede e
cumprir os regulamentos. absorve o calor do terreno através de um conjunto de tuba-
253
gens de polietileno enterradas. É formada por: uma grande
A energia geotérmica pode ser utilizada de forma directa massa térmica (solo) que permite ceder/extrair calor, um
para aquecimento ambiente e para a produção de água conjunto de tubagens enterradas pelas quais circula água/
quente, bem como através de bombas de calor geotér- anticongelante com permutador de calor enterrado e um
micas, que utilizam a energia armazenada no solo para sistema hidráulico do tipo bomba de calor água/água
aquecer e arrefecer edifícios. sistema interior.

Deve destacar-se que a produção de Água Quente Sanitária Se bem que o custo de um sistema deste tipo é elevado, tal
(AQS) através de geotermia/aerotermia apresenta rendi- facto pode ser superado tendo em conta que os custos de
mentos económicos e ambientais muito superiores ao manutenção são menores do que nos sistemas tradicio-
métodos convencionais (caldeira de gasóleo ou de gás, nais, para além de existirem subsídios para a sua insta-
aquecedores instantâneos de gás, aquecedores eléctricos, lação.
etc.).
Pelo contrário, têm uma série de vantagens que podem
Consequências da implementação do SCE tornar atractivas estas instalações, como seja:

• Segundo estudos realizados, a implementação de 1. Poupança energética, ao ter um COP (relação entre
sistemas de Energias Renováveis (ER) e outras a energia que proporciona a máquina e a que forne-

Energias Renováveis: Geotérmica e Mini-Hídrica


medidas de redução do consumo de energia que cemos), de 4 contra 2,8 de outros sistemas tradicio-
inclui o SCE supõem uma poupança energética por nais de aquecimento. Funcionando em regime de
edifício entre 30% e 40% e uma redução de emis- frio esta relação aumenta e é de 4,5 contra 2,3 dos
sões de CO2 entre 40% e 55%. tradicionais.

• Segundo os especialistas, o aumento do custo das 2. Isto traz consigo uma poupança económica ao gastar
habitações pela colocação de sistemas de ER será menos energia eléctrica.
de 1% e 3%, o que resulta totalmente razoável. O
custo será logicamente mais importante em habi- 3. Biosegurança. Elimina torres de arrefecimento e,
tações unifamiliares, ao passo que em habitações portanto, riscos de legionelose.
colectivas será mais razoável.

1.7.2. O aquecimento central em distritos


1.7. Aplicações
Teve um grande desenvolvimento na Islândia, onde a capa-
A utilização directa do calor é uma das formas mais antigas, cidade total dos sistemas de aquecimento em distritos
versáteis e comuns para a utilização da energia geotérmica. aumentou nos últimos anos. Esta forma de aquecimento capítulo 11
As aplicações em banhos, aquecimento ambiente, na agri- está amplamente distribuída nos países da Europa oriental,
cultura, aquicultura e algumas utilizações industriais consti- bem como nos Estados Unidos, China, Japão, França, etc.
tuem as formas mais conhecidas de utilização, mas as Os sistemas geotermais de aquecimento em distritos
bombas de calor são as mais generalizadas. exigem grande investimentos de capital. Os maiores custos
correspondem ao investimento inicial, em poços de
Em menor escala, há muitos outros tipos de utilização, produção e de reinjecção, em bombas dentro dos poços,
sendo alguns deles pouco usuais. tubagens e redes de distribuição, em equipamentos de
monitorização e controlo, em estações de peaking e
tanques de armazenamento. No entanto, os custos opera-
1.7.1. A energia geotérmica no âmbito doméstico cionais são comparativamente mais baixos do que em
sistemas convencionais e correspondem a energia para
A energia geotérmica de baixa entalpia baseia o seu prin- bombagem, a sistemas de manutenção, controlo e gestão.
cípio na capacidade que tem a terra para acumular o calor Um factor crucial no cálculo do custo inicial de um sistema
proveniente do sol, mantendo uma temperatura pratica- é a densidade da carga termal, o da procura de calor divi-
mente constante ao longo do ano a partir de determinada dida pela área de terreno do distrito. Uma alta densidade de
profundidade. Assim sendo, a partir de cinco metros de calor determina a viabilidade económica de um projecto de
profundidade a temperatura mantém-se mais ou menos aquecimento em distritos, já que a rede de distribuição é
constante em torno dos 15 ºC. custosa. Alguns benefícios económicos podem ser conse-
guidos combinando aquecimento e arrefecimento naquelas ficativa na temperatura do solo, são necessárias grandes
áreas nas quais o clima o permita. quantidades de água a temperaturas suficientemente
254
baixas de modo a não danificar as plantas do campo que se
deve regar. Uma solução possível para este problema é
1.7.3. O Arrefecimento
adoptar um sistema de rega interna conectado a uma
O arrefecimento é uma opção viável de utilizar geotermia tubagem enterrada de aquecimento do solo. O aqueci-
através da adaptação de equipamentos de absorção. A mento do solo através de tubagens enterradas sem sistema
tecnologia destes equipamentos é bem conhecida e encon- de regadio poderia diminuir a conductividade térmica do
tra-se disponível no mercado. O ciclo de absorção é um solo, por causa da diminuição da humidade ao redor da
processo que utiliza calor como fonte de energia em vez de tubagem e o consequente isolamento térmico. A melhor
electricidade. O efeito de refrigeração consegue-se através solução parece ser aquela que combina o aquecimento do
da utilização de dois fluidos: um refrigerante, que circula, solo com o regadio. A composição química das águas
se evapora e condensa, e um segundo fluido ou absor- termais utilizadas no regadio deve ser cuidadosamente
vente. Para aplicações acima de 0 ºC (principalmente na controlada para evitar efeitos adversos sobre as plantas.
refrigeração e processos de ar condicionado), o ciclo utiliza
brometo de lítio como absorvente e água como refrige- A utilização mais comum da energia geotérmica em agricul-
rante. Para aplicações abaixo dos 0 ºC utiliza-se um ciclo de tura é no entanto o aquecimento de estufas, que se desen-
amoníaco/água, com o amoníaco como refrigerante e a volveu em grande escala em muitos países.
água como absorvente. Os fluidos geotermais propor-
cionam a energia geotérmica que alimenta estes equipa- Figura 3
mentos, apesar de que a sua eficiência diminui com tempe- Aplicação típica de um sistema de bomba de calor.
raturas menores do que 105 ºC.

1.7.4. O ar condicionado geotermal


(aquecimento e arrefecimento)

Teve uma expansão considerável desde os anos 80, conjun-


tamente com a introdução e generalização do uso de
bombas de calor. Os diferentes sistemas de bombas de
calor disponíveis permitem extrair e utilizar economica-
mente o calor contido em corpos de baixa temperatura, tais
como solos, aquíferos, lagoas, etc.

As bombas de calor são máquinas que movem o calor numa


direcção oposta à direcção natural, isto é, desde um corpo
frio até um de maior temperatura. Uma bomba de calor
efectivamente não é mais do que uma unidade de refrige-
ração. Qualquer equipamento de arrefecimento (condicio-
nador de ar de janela, frigorífico, congelador, etc.) transmite
o calor desde um espaço (para mentê-lo frio) e descarrega
este calor a outros de maior temperatura. A única diferença
entre uma bomba de calor e uma unidade de refrigeração é
o efeito desejado, arrefecimento para a unidade de refrige-
ração e aquecimento para a bomba de calor. Um segundo Fonte: Geo-Heat Center.

factor distintivo de muitas bombas de calor é que são rever-


síveis e podem proporcionar seja calor ou frio ao espaço.
1.7.6. Aplicações Industriais

1.7.5. As aplicações agrícolas As diferentes formas possíveis de utilização incluem


processos de aquecimento, evaporação, secagem, desti-
As aplicações agrícolas de fluidos geotermais consistem lação, esterilização, lavagem, descongelação e extracção
em aquecimento em campo aberto e estufas. A água termal de sais. Os exemplos incluem o estabelecimento de
pode ser utilizada em agricultura em campo aberto para concreto, o embalamento de água e de bebidas com gás, a
regar e/ou aquecer o solo. A maior desvantagem na rega produção de papel e partes de veículos, a recuperação de
com água quente é que para conseguir uma variação signi- petróleo, a pasteurização do leite, a indústria do couro, a
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 4
Esquema de uma bomba de calor em aquecimento.
255

Energias Renováveis: Geotérmica e Mini-Hídrica


Fonte: Geo-Heat Center.

extracção de produtos químicos, a extracção de CO2, a utili- Figura 5


zação em lavandarias e secagem de diatomáceas, o proces- Utilização em linha da energia geotérmica.
samento de celulose e papel e a produção de borato e capítulo 11
ácido bórico. Existem também planos para utilizar fluidos
geotermais de baixa temperatura para degelo de estradas e
para dispersar a neblina em alguns aeroportos.

1.7.7. Balneários

Os únicos aproveitamentos geotérmicos desde a antigui-


dade até ao século XX foram os banhos termais, tanto na
forma de termas romanas como de balneários em tempos
mais modernos. São lugares dedicados ao repouso e à cura
através da utilização das águas termais e minerais.

Fonte: Asociação Internacional Geotérmica.


reto de hidrogénio, com traços de amoníaco, hidrogénio,
nitrogénio, metano, rádon e algumas espécies voláteis
256 1.8. Impacto ambiental
como boro, arsénico e mercúrio.
O desenvolvimento e construção de instalações de aprovei-
tamento de energia geotérmica contribuem em geral para a O sulfureto de hidrogénio causa incómodo pelo odor
conservação do meio ambiente e para a melhoria da quali- desagradável que provoca e, a altas concentrações, pode
dade de vida tanto nas cidades como nas zonas rurais. chegar a danificar o sistema respiratório das pessoas.

As principais características positivas do ponto de vista Por seu lado, o amoníaco é irritante e o rádon é cancerígeno
ambiental são: por inalação, mas as emissões são normalmente baixas e
não causam problemas.
• Produzir energia a partir de um recurso renovável e,
portanto, evitar o esgotamento das reservas de As emissões de boro e mercúrio são normalmente muito
combustíveis fósseis; baixas, pelo que não constituem um risco para a saúde. De
igual modo, estes metais podem depositar-se nos solos e
• Não originam ruídos nem fumos, não exigem medidas se forem transportados por escoamento podem contribuir
sofisticadas de segurança e não produzem resíduos para a contaminação das águas subterrâneas e superfi-
difíceis de eliminar. ciais.

Não se geram emissões de dióxido de carbono (CO2), Contaminação dos cursos de água superficiais
dióxido de enxofre (SO2) e dióxido de nitrógeno (NO2) como Os problemas de contaminação podem resultar da depo-
sucede nas centrais de produção de energia convencionais sição na superfície de fluidos geotérmicos, os quais contêm
e, portanto, contribuem para alcançar os objectivos colo- uma grande variedade de iões (sódio, potássio, cálcio, flúor,
cados pelo Protocolo de Quioto sobre a redução de emis- magnésio, iodatos, silicatos, iodatos, antimónio, estrôncio,
sões contaminantes. biocarbonato, etc.). aqueles que causam maior preocu-
pação são os químicos de maior toxicidade como: boro,
• Aproximam-se os centros de produção de energia lítio, arsénico, sulfureto de hidrogénio, mercúrio, rubídio e
dos centros consumidores; portanto elimina-se a amoníaco. A maioria deles diluem-se e permanecem em
necessidade de grandes infraestruturas de transporte solução na água pelo que podem penetrar na vegetação
(como linhas eléctricas, oleodutos, etc.) com os aquática e dali passar para os peixes.
impactos ambientais que estes acarretam.
Contaminação do solo e das águas subterrâneas
No entanto, estas características positivas podem variar A contaminação das primeiras camadas de água subte-
em função da fase em que se encontre o projecto. rrânea podem resultar de:

• Líquidos utilizados na etapa de perfuração;


1.8.1. Impactos produzidos durante a fase de
exploração, perfuração e construção • Infiltrações por orifícios nas paredes do poço na
etapa de reinjecção, as que fazem com que o líquido
A construção de caminhos de acesso pode causar a contaminado escorra até às primeiras camadas de
destruição de áreas naturais com o levantamento da cober- água subterrânea;
tura vegetal, enquanto que a localização propriamente dita
pode causar distúrbios no ecossistema local, por exemplo: • Falhas na impermeabilidade das piscinas de evapo-
ruídos, pós, fumos e também, em algumas zonas, pode ração e suas consequentes infiltrações.
causar a erosão do solo.
Todas estas situações problemáticas podem ser evitadas
com projectos apropriados da central e com monitorizações
1.8.2. Impactos produzidos durante a fase operacional periódicas das camadas subterrâneas. É importante
trabalhar com controles de qualidade, principalmente nas
Emissões Gasosas etapas de perfuração e construção.
Os gases não condensáveis, causados pelo vapor geotér-
mico, devem ser libertados para a atmosfera (dependendo Depressão do aquífero
do tipo de central de geração que se utilize). Estes são Os níveis de água subterrânea podem ser deprimidos sobre
compostos principalmente por dióxido de carbono e sulfu- certas condições, principalmente em centrais de aproveita-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

mento de energia geotérmica que trabalham a altas tempe- profundidade, mas na actualidade é muito estranho
raturas. Estas situações podem ser evitadas controlando e se algum destes eventos ocorrer. A sua frequência
257
mantendo a pressão das reservas de água. pode ser ainda mais minimizada através da utilização
de equipamentos de prevenção de projecções e utili-
Os níveis de água podem diminuir como consequência de zando procedimentos de perfuração correctos.
rupturas nas paredes de poços em desuso; esta situação
pode ser prevenida, monitorizando o estado destes poços • As erupções hidrotermais são raras e ocorrem quando
e reparando-os rapidamente perante qualquer problema. a pressão do vapor nos aquíferos se intensifica e
ejecta até à superfície a terra que os cobre. Manter a
Colapso ou subsidência do terreno pressão nas reservas pode ajudar a reduzir a
Nas localizações geotérmicas, os fluidos geotérmicos são frequência da ocorrência de erupções; também se
retirados dos aquíferos a uma taxa superior à de entrada devem evitar as escavações em terrenos com activi-
natural do líquido nelas. Isto pode compactar as formações dade termal.
rochosas no lugar e chegar à subsidência do terreno. Há
muito pouco a fazer a este respeito, o único que se pode • Muitas das localizações de aproveitamentos de
levar a cabo para evitar estes efeitos é manter a pressão do energia geotérmica encontram-se em terrenos
aquífero. acidentados e é por isso que são mais susceptíveis
do que um terreno plano a deslizamentos do solo.
Uso do solo Isto pode ocasionar graves acidentes se as rochas
As centrais de aproveitamento da energia geotérmica que caem danificam a cabeça dos poços ou tuba-

Energias Renováveis: Geotérmica e Mini-Hídrica


devem ser construídas sobre zonas específicas. No caso de gens, o que poderá resultar numa libertação de
que estas zonas também tenham um elevado valor paisa- vapores e líquidos a alta temperatura. A possibilidade
gístico, as estruturas que estão sobre a terra podem causar de ocorrência pode ser minimizada estabilizando-se
impacto visual. todas as encostas susceptíveis de sofrer desliza-
mentos de terra, apesar disto poder aumentar o
As superfícies utilizadas podem ser menores no caso de se impacto visual do local.
utilizarem técnicas de perfuração direccional.
Resumindo, a probabilidade e gravidade do impacto visual
Impacto Visual sobre o meio ambiente é detalhado na tabela 2.
As centrais de aproveitamento da energia geotérmica
passam geralmente quase despercebidas no terreno,
apesar de muitas vezes o seu impacto visual ser significa- 1.9. Impacto socio-económico
tivo devido aos lugares de alto valor geotérmico são geral-
mente espaços com lugares de grande valor natural e Um projecto geotérmico caracteriza-se pelo seu elevado
paisagístico. investimento inicial. A utilização directa do calor, com tecno-
logias actuais, requer geralmente procurar o recurso a mais
Potenciais eventos catastróficos de 1.500 m de profundidade, o que requer a realização de capítulo 11
Os principais eventos catastróficos que podem ocorrer sondagens profundas e custosas.
numa central de aproveitamento da energia geotérmica
são: No entanto, os custos de exploração são reduzidos: electri-
cidade para a bombagem, mão-de-obra para manutenção,
• Em zonas de elevada actividade tectónica, a reinje- instalação de peças de reposição. Normalmente estes
cção de fluidos no terreno durante a exploração das estão entre os 0,6 c€/kWh - 0,7 c€/kWh. Estas centrais
reservas pode aumentar a frequência de pequenos trabalham as 24 h do dia durante todo o ano, salvo 15 dias
terramotos na zona. Estes efeitos podem ser minimi- em que se para para proceder a trabalhos de manutenção.
zados reduzindo as pressões de reinjecção ao mínimo
e assegurando que os possíveis edifícios afectados A procura média de potência eléctrica de um indivíduo é de
pelos movimentos sísmicos estejam preparados para 0,2 kW nas áreas menos desenvolvidas e 1 kW nas mais
suportar a intensidade destes terramotos. A activi- desenvolvidas. Sendo assim, uma central de 100 kW pode
dade sísmica de maior intensidade (superior a 6 na abastecer entre 100 e 500 pessoas.
escala de Richter) poderia causar infiltrações de
fluidos em algumas partes indesejáveis do sistema. Nas central geotérmicas convencionais o custo de investi-
mento por quilowatt instalado é sensível àquilo que se
• A projecção ou explosão dos poços eram eventos conhece geralmente como o efeito de escala, isto é, que
comuns nas primeiras épocas da perfuração a grande
258

As localizações de aproveitamento da energia geotérmica encontram-se em terrenos acidentados.

TabEla 2
Probabilidade e gravidade do impacto sobre o meio ambiente.

Impacto Probabilidade Gravidade das consequências

Contaminação do ar B M

Contaminação da água superficial M M

Contaminação do subsolo B M

Subsidência de terreno B B/M

Altos níveis de ruído A B/M

Abertura de poços B B/M

Conflitos com aspectos culturais e arqueológicos B/M M/A

Problemas socio-económicos B B

Contaminação química ou térmica B M/A

Emissão de resíduos sólidos M M/A

B: baixo, M: médio, A: alto Fonte: BESEL S.A.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

uma central maior tenderá a custar menos por quilowatt do centrais, encontra-se outra categoria: as micro-centrais de
que uma pequena de tipo similar. menos de 100 kW de potência.
259

Esta vantagem a favor da central maior deve-se em parte à As centrais mini-hídricas são um bom negócio, já que
distribuição do sobrecusto administrativo entre um maior durante os 25 anos de vida média que têm, cerca de 20%
número de quilowatts, em parte as outras poupanças gerais dos investimentos previstos para a construção de novas
da manufactura em grande escala e, finalmente, ao feito de centrais mini-hídricas contarão com subsídios e ajudas do
que as centrais maiores podem utilizar pressões e tempera- Governo.
turas mais elevadas, o que resulta numa maior eficiência e
na possibilidade de acomodar um maior número de etapas Numa central pode-se chegar a contratar 19 pessoas aproxi-
numa turbina de um só eixo. madamente durante a etapa de construção. Depois, para a
manutenção da instalação e sua operação, preve-se a contra-
As duas razões fundamentais para estes efeitos de escala tação de 1,4 pessoas/ano.
nas centrais geotérmicas são as seguintes
2.1.1. História Presente
1. Os custos de perfuração são mais ou menos directa-
mente proporcionais à capacidade da central insta- As centrais mini-hídricas tiveram o seu auge no princípio do
lada. século XX, quando se construiram numerosas centrais deste
tipo para poder abastecer aldeias e indústrias isoladas. Nos
2. Os custos dos turbogeradores estão mais ou menos finais do dito século, muitas destas centrais foram substi-

Energias Renováveis: Geotérmica e Mini-Hídrica


sujeitos ao efeito de escala, em parte por existir uma tuídas por centrais hidroeléctricas de maior potência. Hoje
selecção mais limitada do tamanho máximo da em dia está-se a regressar à tendência de instalação de
unidade para a central e em parte porque as tempe- mini-hídricas já que foi demonstrado que o impacto ambiental
raturas e pressões de admissão são de modo geral é muito pequeno quando comparado aos grandes benefí-
modestas, já que se vêem influenciadas por outros cios sociais que produzem.
aspectos para além do tamanho da central.
Recentemente começaram a valorizar-se de novo os
Pode-se dizer que um projecto geotérmico se traduz rapida- recursos autóctones e renováveis. Mas, apesar da maturi-
mente numa poupança substancial em relação às soluções dade da tecnologia da mini-hídrica, apenas consegue almejar
clássicas que utilizam combustível fóssil. ao seu passado glorioso. No debate que pretende analisar
os impactos ambientais das distintas fontes de energia, a
mini-hídrica está-se a sair mal.
2. Mini-hídrica
Segundo dados do Instituto Nacional de Engenharia, Tecno-
logia e Inovação (INETI), o número total destas centrais em
2.1. Conceitos gerais e princípio Portugal eleva-se a 98, o que soma 256 MW de potência
de funcionamento instalada, com uma produção estimada em 815 GWh/ano. capítulo 11

A fonte energética da energia hídrica é, em última instância, Existe um conjunto de situações que dificulta e impede o
a energia solar, já que é esta a que regula o ciclo hidrológico. processo de licenciamento e a sua tramitação em tempo
Apesar da água ser um recurso renovável, devido à sua útil. A partir de 1994, um dos principais constrangimentos
continuidade e ao seu carácter supostamente inesgotável, diz respeito à aplicação do regime jurídico de Reserva Ecoló-
apenas são consideradas como energia renovável as centrais gica Nacional (REN), obrigando o reconhecimento de inte-
hidroeléctricas de menos de 10 MW de potência e que resse público o que exigia, entre outras condições, a atri-
tenham uma barragem (no caso de a terem) de menos de 15 buição pela Assembleia Municipal de uma declaração de
m de altura, devido ao grande impacto ambiental que utilidade pública municipal. A taxa de realização dos
produzem as de maior potência. Pequenos Aproveitamentos Hídricos (P.A.H.) é, actualmente,
muito baixa devido também a outros factores, dos quais se
As centrais hidroeléctricas com uma potência instalada de destacam:
menos de 10 MW são conhecidas como centrais mini-hí-
dricas. Estas centrais são consideradas renováveis devido a • Dificuldade na obtenção de licenciamentos, sujeitos a
que os sistemas de distribuição e gestão são muito dife- um processo extremamente complexo onde intervêm,
rentes dos empregues nas centrais de elevada potência, sem aparente coordenação, diversas instituições e
pelo que se diminui o impacto ambiental. Dentro das mini- ministérios.
• Dificuldade na ligação à rede eléctrica nacional por Entretanto, foram dados alguns passos no sentido de
insuficiência da mesma e, ainda, por outras dificul- eliminar algumas dificuldades do licenciamento, nomeada-
260
dades processuais e operacionais. mente a publicação do Despacho do MAOT n.º 11091/2001,
de 25 de Maio, e a aprovação do designado Programa E4
• Ausência de critérios objectivos na emissão de pare- (Eficiência Energética e Energias Endógenas) e dos
ceres de diversas entidades e na apreciação dos diplomas complementares que se lhe seguirão.
estudos de carácter ambiental.
Para prosseguir o objectivo que o País se propôs, conside-
• Eventual opinião negativa de agentes locais. ra-se fundamental:

• Escassez de meios humanos na Administração para • Uma melhor articulação entre os vários organismos
tratamento dos processos de licenciamento. intervenientes no processo de licenciamento dos
P.A.H. e adequação da legislação ao mesmo apli-
No início de 2001, a situação podia resumir-se ao impasse cável.
quase completo no licenciamento dos P.A.H.. Se a insta-
lação de novas centrais está comprometida, é também de • A eliminação de algumas indefinições relativas a
referir outro problema: a legalização e licenciamento de competências legais na área da gestão do domínio
aproveitamentos existentes titulados por antigas conces- hídrico e a clarificação da intervenção do poder local
sões. nos processos de novos aproveitamentos.

TabEla 3
Barreiras e medidas propostas.

Barreiras Medidas

Incerteza sobre o potencial hidroeléctrico Definição, avaliação e quantificação do potencial hidroeléctrico a des-
por desenvolver. envolver, viabilidade técnica e ambiental.
Fomentação de concursos Aproveitamento hidrológico dos
Existência de infraestruturas públicas sem aprovei-
públicos em infra-estruturas do caudais ecológicos não aproveita-
tamento hidroeléctrico.
Estado. dos.
Regularização de situações no domínio das concessões (expediente de
Centrais hidroeléctricas paradas e abandonadas.
caducidade).
Lentidão no outorga-
Falta visão global entre
mento das autorizações Armonização de procedimentos administrativos nas CCAA.
distintos organismos.
CCAA.

Problemas com municípios e administrações


Regulação de acordos económicos com administrações locais.
locais para outorgamento e autorizações.

Oposição de grupos ecologistas locais por descon-


Campanhas de imagem e informação para a opinião pública.
hecimento das vantagens ambientais.

Abandono ambiental de medidas de correcção. Estabelecimento de programas de vigilância ambiental.

Falta de critérios específicos em medidas de cor- Desenvolvimento da regulamentação técnica de medidas de correcção
recção e aspectos ambientais. de centrais hidroeléctricas.
Importantes demoras na resolução sobre a Decla-
Harmonização de critérios ambientais
ração de impacto ambiental de novos projectos ou
para a execução de projectos.
ampliações.
Legislação de conexão, acesso à rede e condições
Novos Decretos Lei sobre acesso à rede e condições operacionais.
de operação obsoletos.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• A definição de critérios operacionais de conciliação • A sua construção e entrada em funcionamento requer


de condicionamentos ambientais globais locais, em investimentos importantes. Para além disso, as loca-
261
particular os decorrentes das diversas Directivas lizações em que se podem construir centrais hidro-
Comunitárias. eléctricas em boas condições económicas são limi-
tadas.
• A constituição de processos construtivos certificados
e eventual certificação de promotores e consultores • As barragens tornam-se obstáculos intransponíveis
deste tipo de energias. para espécies como os salmões, que têm que subir
os rios para desovar. Por seu lado, os reservatórios
• O equacionamento da realização de aproveitamentos afectam os caudais, causam erosão e afectam, de
de fins múltiplos, suportada por legislação uma forma geral, o ecossistema do lugar.
adequada.
• Empobrecimento da água: a água do reservatório
• O reforço de meios humanos nos Organismos licen- não tem condições de salinidade, gases dissolvidos,
ciadores. temperatura, nutrientes e outras qualidade da água
que flui pelo rio. Os sedimentos acumulam-se no
Assim, levando em conta os aproveitamentos actualmente reservatório, pelo que o resto do rio até à foz acaba
em exploração, os que têm processos em curso com alvará por ficar empobrecido de nutrientes. Sendo assim,
de licença de uso de água concedido e ainda outros cuja existe o risco do rio ficar sem caudal no seu final,
realização se considere também viável, não parece difícil especialmente nas épocas secas.

Energias Renováveis: Geotérmica e Mini-Hídrica


atingir num prazo não muito longo, pese embora os riscos
de apreciação envolvidos numa análise desta natureza, uma • As instalações hidráulicas estão geralmente longe
potência total instalada cuja ordem de grandeza se poderá das grandes povoações, pelo que é necessário trans-
situar entre 500 a 600 MW, com uma produção média entre portar a energia produzida através de custosas
1500 e 1800 GWh/ano. redes.

2.1.3. Princípios de funcionamento


2.1.2. Características da energia mini-hídrica
e classificações
As principais características desta fonte de energia são as
seguintes: Uma central hidroeléctrica é uma instalação que se centra
na conversão da energia cinética e potencial da água em
• Disponibilidade: o ciclo de água converte-o em energia eléctrica. A energia da água converte-se em energia
recurso inesgotável. eléctrica através de turbinas que se movem devido à massa
de água que passa pelo seu interior. Deste modo, graças às
• Energia limpa: Não emite gases de efeito estufa, lâminas a turbina recolhe a energia da água e transmite-a
nem origina chuva ácida, nem produz emissões como potência mecânica através de um gerador de electri- capítulo 11
tóxicas cidade.

• Energia barata: os seus custos de exploraçao são Os tipos de centrais mini-hídricas classificam-se com base
baixos e a sua melhoria técnica faz com que se apro- em diferentes critérios, de potência ou de funcionamento.
veitem de maneira mais eficiente os recursos hidráu-
licos Classificação por Potência:

• Opera à temperatura ambiente: não são necessá- O produto do caudal de água pela diferença de altura em
rios sistemas de refrigeração ou caldeiras, que que se armazena a água define a potência de uma insta-
consome energia e, em muitos casos, contaminam. lação. Deste modo, as centrais podem classificar-se em:

• O armazenamento da água permite o fornecimento • Centrais de pico: potências inferiores a 5 kW.


de regadios ou a realização de actividades de
recreio. • Micro centrais: potências inferiores a 100 kW.

• A regulação do caudal controla o risco de inun- • Mini centrais: potências inferiores a 1.000 kW.
dações.
262

Central de Fluxo Regulado.


Fuente: www.sxc.hu

• Pequenas centrais: potências inferiores a anterior pode-se observar uma fotografia de uma central
10.000 kW. de fluxo regulado (de base de barragem).

Classificação por tipo de fluxo: Outras não se encontram situadas junto à barragem,
estando situadas a uns metros da barragem e a água é
• Centrais de fluxo regulado dirigida até esta através de um canal. Uma vez lá, a turbina
São aquelas nas quais se pode regular a água através gera a energia que seja necessária.
de um depósito (ou reservatório) capaz de regular o
caudal superior a um dia. Isto é, têm a capacidade de Dentro das centrais de fluxo regulado existe um tipo de
turbinar no momento do dia em que seja mas neces- centrais que se devem assinalar, que são as centrais de
sário ou oportuno sem que existam perdas de água. bombagem ou centrais reversíveis. Estas centrais, para
Esta capacidade é geralmente aproveitada para fornecer além de possuírem uma ou várias turbinas, possuem
energia nos momentos de maior procura energética e também uma ou várias bombas, de tal modo que podem
assim regular dentro do possível o custo da energia. gerar electricidade ou bombear a água a montante da
barragem. Este tipo de centrais caracterizam-se por
Existem várias configurações dentro das centrais de terem dois reservatórios, um de águas a baixo e outro
fluxo regulado. A mais usual é a de base de barragem, acima. Isto permite que quando exista uma grande
na qual a central se encontra, como o próprio nome procura energética funcionem como centrais hidroeléc-
indica, junto do reservatório onde se realiza a produção tricas normais e em períodos de pouco consumo eléc-
de energia. trico bombeiam água para cima de modo a assegurar o
fornecimento eléctrico quando a procura assim o exija.
Em Portugal existem vários exemplos de mini-centrais
com configuração de base de barragem. Na imagem
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Finalmente, podemos indicar a central de La Seo de a água através das pás fixas e directrizes, não se projectem
Urgell em Espanha como um dos exemplos mais caracte- para as pás do rotor de forma frontal, tratando-se antes de
263
rísticos de centrais reversíveis, tendo instalada uma um deslizamento sobre elas, de tal modo que o sentido da
turbina Flyght que é capaz de trabalhar como turbina ou rotação do rotor não coincida com a direcção da entrada e
como bomba. saída da água.

• Centrais de água corrente A água, no seu percurso entre as lâminas do rotor muda de
As centrais de água corrente são muito mais utilizadas direcção, velocidade e pressão. Tudo isso causa uma
nas mini-hídricas já que o impacto ambiental é muito reacção no rotor, o que dá origem à potência produzida na
menor. O problema é que ao terem um depósito de regu- turbina, cujo valor, paradoxalmente se torna função da carga
lação, a sua eficiência vem afectada, já que quando a perdida pelo líquido na sua deslocação. Como exemplo de
central para, toda a água que passa se perde e é energe- turbinas de reacção temos as Francis e as Kaplan.
ticamente ineficiente.
A turbina Francis foi desenvolvida por James B. Francis.
Para melhorar a eficiência destas centrais e para resolver Trata-se de uma turbina de reacção de fluido interno que
a falta de barragens, o que se utiliza geralmente são os combina conceitos tanto de fluido radial como axial.
açudes, pequenas barragens que se utilizam para elevar
o caudal dos rios e assim desviar parte dele. Por seu lado, As turbinas Francis são turbinas hidráulicas que podem ser
as centrais de água corrente podem ser de dois tipos: projectadas para uma ampla variedade de quedas e de
fluxos, sendo capazes de operar com intervalos de desnível

Energias Renováveis: Geotérmica e Mini-Hídrica


- Central construída directamente no açude que vão desde os dez até várias centenas de metros. Isto,
Instalam-se directamente no açude, que eleva o nível do juntamente com a sua alta eficiência, fez com que este tipo
rio sem desviar nenhuma quantidade de água do caudal, de turbina seja a mais utilizada no mundo, principalmente
pelo que não afastam a água de nenhuma zona. Para para a produção de energia eléctrica através de centrais
além disso, em nenhum momento o caudal ultrapassa o hidroeléctricas.
máximo permitido pela turbina já que nesse caso a água
transbordaria o açude, descarregando a água na entrada
da turbina.

- Central com canal de derivação


Nestas centrais a água é captada por um canal de deri-
vação que provém do rio, que também dispõe de um
açude para subir o nível. O dito açude tem que evitar que
as zonas de águas abaixo não fiquem com um mínimo de
água. Para além disso, quando o caudal ultrapassa o
máximo que a turbina é capaz de suportar, a água supera
o açude e continua o seu curso natural. A vantagem que capítulo 11
oferece esta configuração é o aumento do nível da água
e portanto da energia que se pode aproveitar.

2.2. Tecnologias. Estado da arte

Para a produção de energia numa central hidroeléctrica, a


máquina fundamental é a turbina, já que esta se encarrega
de transformar a energia cinética e potencial da água em
energia mecânica para mover o eixo do gerador. Actual-
mente existem diferentes turbinas que se adaptam às
distintas necessidades dos recursos hidroeléctricos.
Podem-se dividir em dois tipos:

2.2.1. De reacção

Consideram-se turbinas de reacção aquelas nas quais cada Turbinas verticais numa central hidroeléctrica.
uma das lâminas de fluido que se forma, depois de passar Fonte: www.sxc.hu
A vantagem desta máquina consiste no aproveitamento de gralmente ao rotor. A esta classe de turbinas pertencem as
toda a queda disponível, até ao canal de drenagem. A cons- Pelton.
264
trução é complexa e o elevado regime de funcionamento
causa uma maior fricção e, portanto, desgaste da máquina. As turbinas Pelton funcionam de tal modo que o bocal lança
Para além disso sofre alguns problemas de vazamento que o jacto de água contra umas paletes em forma de colher
dificultam a sua utilização em centrais mini-hídricas, dupla, para manter equilibradas as forças na roda, que estão
podendo mesmo ser um factor impeditivo. uniformemente montadas na sua periferia. Cada palete
encarrega-se de captar a energia cinética da água que nela
As turbinas Kaplan são turbinas de água de reacção de fluxo incide e transmite-a para a roda, que faz girar a turbina.
axial, com um rotor que funciona de forma semelhante à
hélice de um barco. Muito parecida às turbinas utilizadas nas centrais maiores,
a turbina Pelton pode ser de eixo vertical ou horizontal e,
As lâminas do rotor nas turbinas Kaplan são sempre regulá- devido ao seu baixo regime de funcionamento, é geral-
veis e têm a forma de uma hélice, ao passo que as lâminas mente utilizada em quedas grandes e de pressões elevadas.
dos distribuidores podem ser fixas ou reguláveis. As turbinas Pelton são de fácil e sólida construção, ocupam
pouco espaço, têm um rendimento bastante elevado, não
Se ambas são reguláveis, diz-se que a turbina é uma turbina geram problemas de vazamento e podem chegar a ter até
Kaplan verdadeira; se apenas são reguláveis as lâminas do seis jactos de água.
rotor, diz-se que a turbina é uma turbina semi-Kaplan. As
turbinas Kaplan são de entrada radial enquanto que as semi-
Kaplan podem ser de entrada radial ou axial. 2.3. Nova regulamentação de retribuição
Para a sua regulação, as lâminas do rotor giram em torno do Em Portugal existe apenas uma forma de vender energia
seu eixo, accionados por alças, que apoiam as bielas articu- eléctrica produzida, que é através de uma tarifa regulada. Já
ladas a uma cruzeta, que se move para cima e para baixo em Espanha além da tarifa regulada é possível ainda parti-
pelo interior de um eixo oco da turbina. Este movimento é cipar no mercado de produção eléctrica.
accionado por um servomotor hidráulico, com a turbina em
movimento. Na tarifa regulada existe discriminação horária, ou seja, a
mini-hídrica pode beneficiar desta forma de pagamento na
Nos casos em que a água apenas circule em direcção axial qual a tarifa regulada é calculada como o produto do tempo
pelos elementos do rotor, teremos turbinas de hélice ou num determinado período e a tarifa correspondente.
Kaplan. As turbinas Kaplan têm lâminas móveis para se
adaptarem ao estado da carga. TabEla 4
Horários de Verão e de Inverno de horas de cheias e vazio
Estas turbinas asseguram um bom rendimento com baixas (Média Tensão - MT).
velocidades de rotação.
Inverno Verão
As turbinas de hélice caracterizam-se pelo facto de tanto as
lâminas do rotor como as do distribuidor serem fixas, pelo Cheias Vazio Ponta Vazio
que apenas se utilizam quando o caudal e a queda forem
praticamente constantes. 22 h - 24 h 23 h - 24 h
8 h - 22 h 9 h - 23 h
e0h-8h e 0 h - 9 h
Fonte: ERSE
2.2.2. Acção

São consideradas como tais as turbinas nas quais o sentido


de projecção do jacto de água e o sentido de rotação do 2.3.1. Tarifa regulada
rotor coincidem no ponto de impulso ou choque da água
sobre as lâminas deste. A venda através do modelo de tarifa regulada consiste na
transferência da electricidade à rede eléctrica, pelo qual se
No rotor, a velocidade de saída da água é praticamente igual recebe uma quantidade fixa (tarifa regulada), única para
à da entrada, pelo que ao não serem consideráveis as todos os períodos do planeamento.
perdas de carga, a potência transmitida a este é função
exclusivamente da energia potencial ou, dito de outra A tarifa regulada é fixada em função da categoria, grupo e
forma, da queda existente. Logo, deduz-se que a energia subgrupo à qual pertence a instalação, assim como pela
cinética, causada pelo movimento da água, é cedida inte-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

sua potência instalada e a data de entrada em funciona- Outra possível alternativa é a utilização de sistemas híbridos
mento. (sistema de duas ou mais formas de geração energética),
265
No mercado de produção eléctrica, o preço de venda da que asseguram um funcionamento contínuo sempre e
electricidade é o preço resultante no mercado ou o nego- quando tenham o apoio de uma fonte de energia conven-
ciado livremente pelo titular ou representante da instalação, cional. Normalmente são constituídos por uma fonte de
ao qual se acresce o prémio relativo às mini-hídricas. energia convencional e uma alternativa, mas também se
podem utilizar duas fontes alternativas. Estas instalações
são complementadas com baterias de armazenamento e
rectificadores de potência para obter um sinal de maior
2.4. Aplicações qualidade.
As centrais mini-hídricas apenas necessitam de um
consumo energético para satisfazer e um curso de água do
qual obter a energia, que tenha uma queda de uns poucos
metros.

Os lugares nos quais as centrais de pouca potência trazem


um valor acrescentado são aquelas zonas montanhosas
que se encontram isoladas da rede eléctrica. Assim sendo,
normalmente constroem-se mini-centrais em cursos de
água de origem torrencial ou permanente para o forneci-

Energias Renováveis: Geotérmica e Mini-Hídrica


mento de pequenas comunidades locais, pequenas indús-
trias ou hotéis isolados.

Outro sector no qual cada vez mais se utiliza este tipo de


instalações é o chamado de recuperação de energia. Nos
sistemas nos quais se dispersa parte da água na saída para
poder regular o caudal, pode-se instalar no canal uma
turbina para recuperar energia. Os sistemas hídricos nos
quais se pode realizar esta opção são:

• Aquedutos de água potável, industrial, de rega, etc.

• Canais de rega. Mini-central de Anllo em Pontevedra.


Fonte: EUFER.
• Canais de refluxo para transbordo de caudal.

Quando fazem falta alguns quilowatts para alimentar um Estes sistemas complementam os seus benefícios e capítulo 11
frigorífico, um rádio ou a iluminação de um refúgio ou de podem substituir os geradores diesel habitualmente utili-
uma cabana alpina, pode-se inserir directamente no canal zados em áreas isoladas sem pontos de conexão à rede
de um pequeno curso de água uma turbina e um alternador próximos. Deste modo pode-se melhorar a eficiência da
selado, com o cabo da energia eléctrica a chegar directa- geração, já que permite um maior tempo de vida para estas
mente ao refúgio ou cabana. instalações, para além de uma redução considerável dos
custos de manutenção e uma melhor exploração dos
Do ponto de vista económico, a instalação deste tipo de recursos energéticos disponíveis.
centrais é conveniente quando as quedas de água e os
caudais são significativos. Nestas instalações, o fornecimento dos motores diesel é
mais representativa do que o necessário, pois realizam um
Adicionalmente também se utilizam estas instalações de trabalho auxiliar, já que as energias renováveis podem
tal forma que através de uma bomba accionada pelo gerador chegar a fornecer 80% - 90% da energia necessária.
(trabalhando em regime motor) se bombeia a água para
cima quando o preço da electricidade é baixo (noites), para A energia mini-hídrica depende das condições climáticas,
assim garantir um fornecimento mínimo para a seguinte pelo que a sua aplicação pode resultar inviável em determi-
hora de ponto de consumo. nados lugares nos quais os recursos hídricos sejam
escassos ou em períodos de seca.
Apesar das vantagens ambientais claras deste tipo de insta- gicamente, incidindo não apenas na metedologia, como
lações, é necessário que exista uma clara vontade políitica também nos materiais que se vão utilizar e a utilização de
266
para o fomento deste tipo de energia, já que, sobretudo no materiais pré-fabricados.
caso das centrais de menor dimensão, o esforço de inves-
timento não é proporcional à rentabilidade obtida. A inicia-
tiva pública é fundamental nestes casos, pelo que há que
considerar adicionalmente que muitas destas infra-estru-
turas são de propriedade parcial ou total do Estado e a sua
introdução realiza-se através de concessões administrativas
por concurso público.

2.5. Impacto ambiental e socioeconómico


A energia mini-hídrica é uma energia não contaminante,
que não necessita para a sua produção de nenhuma
combustão nem gera resíduos. A sua transformação da
envolvente é reduzida já que aproveita os desníveis já exis-
tentes nos fluxos de água, apesar de não se dever esquecer
que os sistemas mini-hídricos podem ter impactos nega-
tivos sobre o meio-ambiente. É importante que se preste
especial atenção ao caudal ecológico do curso de água utili-
zado para a produção eléctrica, de modo a preservar o
ecossistema fluvial e evitar alterações na flora e fauna da
envolvente.

Sabendo que o impacto ambiental é a incidência na envol-


vente da central hidroeléctrica devida à implantação desta,
os estudos vão se centrar na relação envolvente-central
hidroeléctrica.

Os principais impactos produzidos ao implantar uma central


hidroeléctrica são:

• Perdas de solo por erosão.

• Destruição do habitat de algumas espécies animais.

• Mudança da qualidade das águas (desvios, açudes,


etc.).

• Impacto visual (obra civil).

• Diminuição de caudal.

• Electrocução de aves devido às linhas eléctricas.

• Destruição da zona agropecuária.

• Contaminação sonora.

As linhas futuras de desenvolvimento apontam primordial-


mente para o desenvolvimento de microturbinas submersí-
veis para o aproveitamento de pequenas quedas. Para além
disso, serão desenvolvidos novos métodos para realização
de obras civis de uma forma muito mais sustentável ecolo-
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

capítulo 11 Energias Renováveis: Geotérmica e Mini-Hídrica


267
12 Produção de Energia Eléctrica
1. Introdução 2. As fontes de energia
270

Neste capítulo é apresentada a actividade de produção de Como já se adiantou no primeiro capítulo deste Manual,
energia eléctrica nos diferentes contextos internacional e uma fonte de energia não é mais do que um depósito de
nacional. energia. Em função do seu nível de transformação são clas-
sificadas da segunte maneira:
Alguns especialistas classificam a energia eléctrica como
fonte de energia secundária ou vector energético (sistema • Primárias. São aquelas que se encontram directa-
capaz de armazenar energia e apartir dela obter energia mente na natureza, não tendo sido submetidas a
luminosa, térmica e mecânica), enquanto outros a consi- qualquer processo de transformação. Em função da
deram energia final (aquela que se consome directamente sua disponibilidade na natureza (quantidade limitada
nos sectores residencial, industrial e de transporte). Em ou inesgotável), podem classificar-se como não reno-
qualquer dos casos, do mesmo modo que outras fontes váveis (petróleo, carvão, gás e urânio) e renováveis
finais, esta obtém-se por aplicação de processos mecâ- (hidroeléctrica, eólica, solar e biomassa), respectiva-
nicos, físicos e químicos a partir das fontes de energia mente. As primeiras constituem 94% do consumo
primárias. mundial.

Ao longo deste capítulo serão revistos alguns temas-chave • Secundárias. Denominam-se também por vectores
(presente e futuro) da actividade de produção de energia energéticos. A sua missão é transportar e/ou arma-
eléctrica. Estes são: zenar a energia, mas não se consomem directa-
mente. As mais importantes são o hidrogénio e a
• Matérias-primas. Distribuição das fontes. Segurança energia eléctrica, a qual muitos especialistas (orga-
do abastecimento. Preços. nismos nacionais e internacionais) denominam
também electricidade primária. A partir dela obtém-se
• Emissão de elementos contaminantes durante a energia luminosa, mecânica e térmica.
produção de energia eléctrica.
• Finais. São aquelas que consumimos cada dia em
• Novos sistemas e tecnologias para uma produção habitações, indústrias e transportes. As principais
menos contaminante. são os derivados do petróleo (gasolinas, gasóleos,
querosene, butano, propano, etc.), o gás natural e a
Na segunda secção deste capítulo apresentam-se as princi- energia eléctrica. A partir delas extrai-se a energia
pais fontes de energia, sua classificação e a sua situação nas suas três formas possíveis, energia luminosa,
actual no mundo. mecânica e térmica. Cada uma destas, por sua vez, é
susceptível de converter-se em qualquer uma das
Na terceira secção mostram-se as principais tecnologias outras duas1.
utilizadas para produzir energia eléctrica.
Cada fonte de energia tem um diferente conteúdo energé-
Na quarta secção será feita uma exposição da situação tico (energia por unidade de massa). Pelo que é necessário
mundial das matérias-primas utilizadas na produção de ter em conta outros aspectos (principalmente os relativos a
energia eléctrica. custos, de localização, extracção, transformação, etc.), em
princípio, quanto maior seja o conteúdo energético de uma
Na quinta secção apresenta-se o contexto internacional da fonte, mais rentável será a sua exploração. As fontes com
produção de energia eléctrica (no mundo e na UE). maior conteúdo energético são as de origem fóssil (carvão,
petróleo, gás natural) e o minério de urânio.
Na sexta secção apresenta-se a actividade de produção de
energia eléctrica em Portugal. A unidade de medida de energia utilizada habitualmente é a
Tonelada Equivalente de Petróleo (tep). O seu valor é igual
Na sétima secção analiza-se o futuro da actividade e na ao da energia obtida na combustão de uma tonelada de
última apresenta-se uma relação de contactos de interesse petróleo e, portanto, irá variar em função do tipo de petróleo
para quem pretenda ampliar os conhecimentos.

1
“A energia não se cria nem se destrói, apenas se transforma”, frase conhecida por todos e que corresponde à primeira lei da Termodinâmica.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

considerado. A tep utiliza-se para fazer comparações e • Incineração de resíduos sólidos urbanos (RSU).
medir a qualidade energética dos diferentes combustíveis. Sétima fonte de consumo. Na década de 1990, foram
levados a cabo sistemas de incineração junto às
271
Quanto à situação em 2008 das fontes de energia primária grandes cidades, mas tornam-se sistemas impopu-
em Portugal, pode-se assinalar o seguinte: lares principalmente devido aos odores que emitem.

• Petróleo. Primeira fonte de consumo (42%). A partir • Solar térmica. Captação de energia térmica do Sol
dela, através de um processo denominado por refi- para aquecer a água consumida em processos indus-
nação, obtém-se os seus derivados (gasóleo, gaso- triais e residências. Teve início na década de 1980
lina, fuel, butano, propano, etc.) O seu consumo em com a crise do petróleo, mas encontra-se muito
Portugal em termos absolutos cresce a cada ano pouco desenvolvida. Representa uma percentagem
devido ao impulso adquirido pelo sector de trans- mínima entre as fontes de energia primária.
porte (público e privado).
• Solar fotovoltaica / Solar térmico. Até agora o seu
• Hidroeléctrica. Segunda fonte de consumo (15%). nível de consumo (para produzir energia eléctrica) é
Até 1970 representava uma percentagem mais rele- baixo, mas o seu potencial de crescimento é
vante na produçao de energia eléctrica. Uma vez que enorme.
foi paralizada a construção de barragens, não se
espera um grande desenvolvimento desta energia Quanto à situação das fontes de energia final em Portugal,
nos próximos anos. pode-se destacar o que consta na tabela 1:

• Eólica. Terceira posição em termos de consumo TabEla 1


(13%). Situação das fontes de energia final em Portugal 2008

• Gás natural. Quarta fonte de consumo (12%). Utili- Fonte


Peso Destino principal
za-se principalmente para a produção de energia de energia final
eléctrica (centrais de ciclo combinado), na indústria

Produção de Energia Eléctrica


Transporte / Residencial /
Derivados do petróleo 52%
(cogeração) e no sector residencial para produzir Industrial
energia térmica. O objectivo actual é reduzir a depen- Electricidade 8% Residencial / Industrial
dência do fornecimento da Argélia (quase metade do
consumo total em 2004) diversificando as fontes de Gás natural canalizado 17% Residencial / Industrial
abastecimento. Carvão 10% Residencial
Transporte / Residencial /
• Carvão. Quinta fonte de consumo (7%). Durante a Outras 13%
Industrial
crise do petróleo dos anos setenta e oitenta, foram
lançados planos para potenciar o uso do carvão a utli- Fonte: Elaboração própria.

zação do carvão nacional para a produção de electri-


cidade (centrais térmicas). A quase totalidade é utili- As centrais de produção de energia eléctrica são como uma capítulo 12
zada para a produção de energia eléctrica (centrais fábrica. Tem-se uma matéria-prima (fonte de energia ou
térmicas). Utiliza-se geralmente como solução de combustível) a qual é submetida a um processo de transfor-
emergência para aliviar os preços do petróleo. É a mação (para extrair/converter a energia contida) para obter
fonte cuja combustão produz mais contaminantes. um produto (energia eléctrica).
Estão a ser investigadas tecnologias (complexas e
custosas) para obter carvão limpo.
3. Tecnologias de produção de energia
• Biomassa. Sexta fonte de consumo (3%). Espera-se eléctrica
um crescimento rápido da sua utilização nos próximos
anos graças ao incentivo dos Governos como energia
renovável (para produzir energia eléctrica) em bruto Alguns combustíveis requerem processos de preparação
(resíduos vegetais e florestais, restos de fábricas de prévios à sua exploração (carvão, petróleo, gás natural,
móveis, lenha, etc.) ou transformada (briquetas) utili- urânio, resíduos e biomassa) e outros não (sol, vento e
za-se principalmente para produzir energia térmica. reservatórios de água).
Na segunda metade do século XX perdeu cota, espe-
cialmente no consumo residencial, a favor dos gasó- As principais tecnologias para produção e o combustível
leos e dos gases liquefeitos do petróleo (propano e que utilizam são as seguintes:
butano).
TabEla 2 de horas anuais de funcionamento em condições normais).
Tecnologias de produção e combustível. Cada central ou, para ser mais exacto, cada um dos seus
272
grupos de produção, tem uma potência nominal e um
Ciclo
Tecnologia Peso regime de funcionamento característico. Vejamos um
de vapor
exemplo para termos uma ideia das diferentes capacidades
Térmica Carvão / Fuel / Gás Natural X de produção de energia existentes entre cada uma delas.
Nuclear Urânio enriquecido X Uma central térmica (neste caso seria apenas um dos seus
subgrupos) típica pode ter uma potência de 400 MW e
Eólica Vento
funcionar durante 7.000 h/ano, pelo que será capaz de
Hidráulica Reservatório de água produzir 2,8 GWh/ano. Por seu lado, um parque eólico de
Hidráulica tamanho convencional tem uma potência de 50 MW e um
de bomba- Reservatório de água regime de funcionamento, no melhor dos casos, de 2.700
gem
h/ano, pelo que produzirá 0,135 GWh/ano (5% da anterior).
Cogeração Calor residual + Gás Natural X
Solar Tér-
Energia solar X Por serem as centrais mais utilizadas e que mais energia
mico
produzem, vai ser explicada de seguida, de maneira resu-
Fotovoltaica Energia solar
mida, o funcionamento das centrais térmicas e o seu ciclo
Incineradora Resíduos / Biomassa X de vapor2.

Fonte: Elaboração própria.


Uma vez preparada a matéria-prima (combustível), esta é
introduzida numa caldeira onde é queimada gerando calor
Para os leitores interessados, na página da UNESA (www. (energia calorífica). Este calor utiliza-se para converter em
unesa.es) pode-se ver o funcionamento de cada tipo de vapor a alta pressão a água que circula por uma extensa
central (tecnologia). rede de tubos. Este vapor, por sua vez, é utilizado para
mover (energia mecânica) as pás de uma turbina que, ao ter
De uma forma geral (nem todas são sempre necessárias), o seu eixo unido a um alternador, origina a rotação deste e
estas são as etapas que se sucedem numa central: assim se produz electricidade (energia eléctrica). Como se
pode ver, numa central térmica são levadas a cabo múlti-
• Recepção do combustível. plas transformações de distintas formas de energia3.

• Armazenamento do combustível.
4. Matérias-primas para a produção
• Preparação prévia do combustível. de energia eléctrica
• Armazenamento do combustível preparado.
As centrais nucleares, de cogeração, termosolares e incine-
• Processamento (aplicação da tecnologia) do combus- radoras também funcionam com um ciclo de vapor. A prin-
tível para a obtenção de energia eléctrica. cipal diferença para as térmicas tem a ver com a matéria-
prima utilizada. Concretamente, as centrais de cogeração
• Distribuição da energia eléctrica. dispõem de um ciclo de vapor e outro de gás4.

• Eliminação de resíduos. As fontes de energia mais utilizadas para produzir energia


eléctrica são o petróleo, o carvão e o gás natural. Tanto o
• Elevação do nível de tensão da energia eléctrica. gás natural (nos últimos anos) como o carvão (uns 4,5% de
2005 a 2006) são as que mais cresceram. O aumento desta
• Injecção da energia eléctrica na rede transporte / fonte deve-se ao extraordinário desenvolvimento econó-
distribuição. mico que estão a atravessar países como a China e a Índia,
cujos parques de geração estão formados quase exclusiva-
A quantidade de energia que uma central é capaz de mente por centrais térmicas de carvão (certamente a
produzir depende basicamente de dois factores: a sua matéria cuja combustão emite mais CO2).
potência nominal (potência capaz de desenvolver em
condições normais) e regime de funcionamento (número

2
Denomina-se ciclo de vapor porque a turbina funciona com vapor de água.
3
A 1ª Lei da Termodinâmica enuncia que “A energia não se cria nem se destrói, apenas se transforma”.
4
Para além da turbina de vapor, estas centrais dispõem de outra de gás (as pás são movidas pelos gases quentes e a pressão emitida na combustão do gás
natural).
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 1 fontes utilizadas para a sua produção torna-se chave, espe-


Evolução das fontes utilizadas para a produção cialmente os seguintes aspectos: o preço, a localização das
273
de energia eléctrica (1981-2006) em 106 tep. reservas, a quantidade de reservas provadas (o que é o
mesmo que o número de anos para os quais existem
reservas) e a contaminação produzida na sua exploração.

11.000 De seguida apresentam-se, para as principais fontes, alguns


10.000
destes aspectos e dados relevantes que ajudarão o leitor a
fazer uma ideia da situação mundial neste momento.
9.000

8.000

7.000
4.1. Petróleo
6.000

5.000 O primeiro poço de petróleo foi perfurado em 1859 pelo


4.000 norte-americano Edwin Drake na Pensilvânia (Estados
3.000 Unidos). A 14 de Setembro de 1960 foi constituída em
Bagdad a Organização dos Países Exportadores de Petróleo
2.000
(OPEP). Os países que actualmente integram esta organi-
1.000
zação estão representados na tabela 3.
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06

Carvão Hidroelectricidade Energia nuclear


Outros países produtores de petróleo que não integram a
OPEP (México, Noruega, Rússia, Casaquistão, Omã ou
Gás Natural Petróleo
Egipto), participam regularmente como observadores nas
reuniões ordinárias da Organização.

Fonte: B
 ritish Petroleum. (BP).
Os crudes de referência5 são os seguintes:

Produção de Energia Eléctrica


Figura 2 • Brent Blend. Proveniente do mar do Norte. De
Crescimento das fontes utilizadas para a produção de referência na Europa, África e Médio Oriente.
energia eléctrica em 2006.
• West Texas Intermediate. De referência para os
Estados Unidos.
5

• Dubai. De referência para a região da Ásia-Pacífico.


4
• Tapis. Proveniente da Malásia. De refêrencia como

3
crude ligeiro no Extremo Oriente. capítulo 12

• Minas. Proveniente da Indonésia. De refêrencia


2 como crude pesado no Extremo Oriente.

De seguida apresentam-se alguns dos aspectos que


1
definem a situação actual:

• Juntamente com o carvão é de longe a primeira fonte


Carvão Hidro Gás Nuclear Petróleo
de energia consumida no mundo.

• As reservas provadas são limitadas. Há petróleo para


Fonte: B
 ritish Petroleum (BP).
apenas 40 anos (1,3 x 1012 barris6). Logo, a prospe-
Dada a dependência do ser humano (países desenvolvidos cção (busca) leva-se a cabo em zonas mais incessí-
ou em vias de desenvolvimento; aqui não há excepções) da veis (mar e terra), o que exige novas e mais caras
energia eléctrica, tudo aquilo que se relaciona com as tecnologias.

5
Em função do lugar de origem e sua gravidade API (Índice do American Petroleum Institute).
6
Um barril de petróleo Brent contém 159 l (1,3878 tep).
TabEla 3
Países que formam a OPEP 2007 • Existe um défice mundial de capacidade de refi-
274
nação7. As refinarias são instalações muito caras e
País Ano de adesão com períodos de retorno longos, pelo que, enquanto
se investigam novas fontes de energia, as compan-
hias petrolíferas estão relutantes em realizar os
Iraque * 1960 investimentos necessários. Excepto nos países da
antiga União Soviética, a capacidade de refinação
Irão * 1960 manteve-se constante durante a última década.
Muitos países não se deparam com problemas para
aceder a todo o petróleo que necessitam, mas antes
Kuwait * 1960
no seu processamento para obterem os seus deri-
vados (que são aqueles que realmente se consomem,
Arabia Saudita * 1960 nas centrais de produção de energia eléctrica, trans-
portes, indústria e residências).
Venezuela * 1960
• Mede-se em barris.

Qatar 1961

4.2. Gás Natural


Líbia 1962
Ao ser composto em 90% por metanos (um único átomo
de carbono; CH4), a sua combustão gera menos CO2 do que
Indonésia 1962
os derivados do petróleo e do que o carvão, mas tem um
conteúdo energético inferior.
Emirados Árabes Unidos 1967
De seguida apresentam-se alguns dos aspectos que
Argélia 1969 definem a situação actual:

• Devido a que na maioria dos casos localiza-se junto


Nigéria 1971
aos poços de petróleo, o seu preço encontra-se
indexado ao do barril (o custo de extracção é
Angola 2007 similar).

* Fundador. Fonte: Elaboração própria. • As reservas provadas são limitadas. Existe gás natural
para 70 anos.

• As reservas encontram-se concentradas em poucas • As reservas encontram-se concentradas em poucas


áreas do planeta que, para além disso, caracterizam áreas do planeta (Rússia com 38% e Médio Oriente
-se pela sua instabilidade social e política (Médio com 35%).
Oriente, América Latina). Isto provoca insegurança e
incerteza no abastecimento. • Ao contrário da OPEP, até agora não existe nenhuma
organização de países produtores. A Rússia (maior
• O preço do barril de crude Brent ronda os 120 dólares produtor mundial) propôs este ano a sua criação e
(Julho 2008). obteve a recusa por parte da comunidade interna-
cional.
• O facto de dispor de aproximadamente 80% das
reservas provadas no mundo, coloca a OPEP numa • Actualmente constitui a segunda fonte na produção
posição dominante que não hesita em aproveitar em de energia eléctrica (tendo destronado o fuel-oil, que
benefício próprio. A decisão, por exemplo, de reduzir fundamentalmente se utiliza como combustível para
a produção causa uma imediata subida dos preços transporte).
do barril.
• Mais de uma quarta parte do gás que se consome na
Europa é proveniente da Rússia. Para a Alemanha e
7
Processo pelo qual se obtêm os derivados do petróleo.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 3
Distribuição das reservas existentes de petróleo em 2006 (109 barris).

275

800 742,7

600

400

200 144,4
117,2
103,5
59,9
40,5

Ásia América América África Europa Médio


Pacífico do Norte Central e Eurásia Oriente
e do Sul

Fuente: B
 ritish Petroleum (BP).

França representa 42% e 26% das fontes de energia • É um complemento perfeito para o petróleo e o gás
primária consumidas, respectivamente. natural em momentos de preços altos e/ou problemas
de abastecimento.

Produção de Energia Eléctrica


• Mede-se em metros cúbicos.
• Mede-se em toneladas.

4.3. Carvão
4.4. Nuclear
De seguida apresentam-se alguns dos aspectos que
definem a sua situação actual: De seguida apresentam-se alguns dos aspectos que
definem a sua situação actual:
• É a fonte de energia mais utilizada para produzir
energia eléctrica é aquela cuja combustão origina • Actualmente há mais de 400 reactores nucleares em
mais emissões de CO2. Para além disso, do mesmo funcionamento no mundo. capítulo 12
modo que os derivados do petróleo, a sua combustão
emite partículas de enxofre (que causam chuvas • Os maiores produtores de energia nuclear são os
ácidas8). Por estes motivos, investiga-se no sentido Estados Unidos, França e Japão.
de obter os denominados carvões limpos (com
reduzida emissão de partículas prejudiciais). • Nos Estados Unidos 20% da energia eléctrica é
proveniente de centrais nucleares enquanto na
• Existem reservas provadas para 200 anos, muito França este valor atinge os 80%.
acima do petróleo e do gás natural, pelo que no futuro
continuará a ser uma das principais fontes de • Entre as vantagens da energia nuclear destacam-se
energia. as seguintes:

• As ditas reservas encontram-se localizadas em 1. Ao não ter uma origem fóssil (não possui átomos
muitos países (Estados Unidos, antiga União Sovié- de carbono), a sua exploração9 para obter energia
tica, China, Alemanha, etc.) sem conflitos.

8
 enomina-se chuva ácida as precipitações de água que, contendo partículas de ácidos sulfurosos e nitrogenados em solução, têm lugar em forma de neblina,
D
chuva ou neve sobre a superfície terrestre. Estes ácidos formam-se pelo contacto do hidrogénio da água (H2O) com as moléculas de óxidos de enxofre (SOx) e
de nitrogénio (NOx) emitidas para a atmosfera pelo ser humano.
9
A energia térmica necessária para converter a água em vapor a alta pressão (ciclo de vapor) não se obtém da combustão de nenhuma matéria senão da fissão
(separação) de átomos de urânio.
eléctrica não emite CO2 nem outras substâncias • É uma tecnologia que complementa muito bem as
prejudiciais. restantes. No caso de ser necessário cobrir um pico
276
de procura de energia eléctrica, basta utilizar a água
2. O mineral de que provém a matéria-prima armazenada sobre as turbinas.
(urânio) é muito abundante em toda a crosta
terrestre e, apesar de apenas alguns países • Para muitos países em vias de desenvolvimento
(Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, China, representa a única alternativa para a produção de
França, etc.) disporem da energia necessária energia eléctrica.
para o enriquecimento, o urânio enriquecido é
barato em comparação com as outras fontes de
energia. 5. Contexto internacional da actividade de
produção de energia eléctrica
• Entre os seus inconvenientes destacam-se os
seguintes: Em primeiro lugar vai-se analisar a evolução da contribuição
de cada fonte de energia para a produção10 de energia eléc-
1. A construção de uma central nuclear requer trica durante o período 1971-2004. As principais conclusões
elevados níveis de investimento. extraídas são as seguintes:

2. Em caso de acidente na central nuclear, as • A fonte mais utilizada em todo o mundo para produzir
consequências podem ser desastrosas, tanto energia eléctrica é o carvão. A sua contribuição rela-
para o meio ambiente como para os seres tiva (percentagem sobre o total) manteve-se cons-
humanos em muitas centenas de quilómetros tante (próxima dos 40%) desde há mais de três
em seu redor. décadas.

3. Os resíduos (cúrio, neptúnio, amerício, etc.) • A contribuição relativa dos derivados do petróleo
mantém níveis de radioactividade prejudiciais desceu sensivelmente a favor do gás natural.
para o ser humano durante centenas ou até
milhares de anos, pelo que o seu armazena- • A contribuição da energia nuclear (construção de
mento e controle representam um dos desafios centrais) iniciou a sua escalada com a crise do
mais importantes para esta indústria petróleo dos anos setenta (desenvolvendo vias alter-
nativas para a obtenção de energia eléctrica).
4. Pelo potencial de destruição que teria a emissão
de partículas radioactivas para a atmosfera, as Desde o princípio dos anos noventa, a contribuição em
centrais nucleares converteram-se em objec- valor absoluto apenas cresceu como consequência da
tivos potenciais para ataques terroristas recusa social originada em todo o mundo.

• Nos últimos anos, devido ao forte aumento do preço • A contribuição até agora das fontes de origem reno-
do barril de crude de petróleo e de gás natural (GN), vável é insignificante.
foi reaberto o debate quanto à necessidade de desen-
volver novas centrais nucleares para reduzir a depen- Dada a importância que actualmente tem a energia eléc-
dência daqueles. trica na nossa sociedade, a análise deste tipo de gráficos
(consumo de energia eléctrica) resulta altamente interes-
sante, não apenas para conhecer a actividade da produção
4.5. Hidroeléctrica (passada, presente e tendências futuras) como também
para adquirir uma perspectiva alargada da situação geral da
De seguida apresentam-se alguns dos aspectos que energia no mundo.
definem a sua situação actual:
De seguida apresenta-se o mesmo gráfico correspondente
• O combustível (água) é gratuito. a alguns países significativos e os comentários que sugere
o seu estudo. O autor recomenda aos leitores interessados
• O nível de produção de energia eléctrica não é cons- a consulta, na página da Agência Internacional de Energia
tante (depende das chuvas). Num ano seco a (www.iea.org/Textbase/stats/index.asp), dos gráficos
produção diminui muito. correspondentes a outros países pelos quais possa ter

10
Dizer produção é praticamente o mesmo que dizer consumo - procura.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

curiosidade (em muitos casos encontram-se resultados China / Índia


inesperados). Juntamente com os Estados Unidos, os países que mais
277
energia eléctrica consomem no mundo. As economias
Figura 4 destes países e, portanto, o consumo de energia eléctrica,
Evolução da contribuição de cada fonte para a produção apresentam desde há alguns anos crescimentos anuais
de energia eléctrica mundial 1971-2004 próximos dos dois dígitos. Isto, juntamente com o facto
que, como se pode ver nos gráficos, em ambos os casos
GWh mais de 80% da energia eléctrica gerada provir do carvão,
20.000.000
converte estes países em dois dos maiores emissores de
CO2. Ambos encontram-se isentos de cumprir os objectivos
18.000.000
de redução de gases de efeito estufa estabelecidos pelo
16.000.000
Protocolo de Quioto. Na verdade, não aderiram a ele por
14.000.000
considerar que uma redução das suas emissões (do volume
12.000.000 de energia produzida) representaria um travão ao seu
10.000.000 desenvolvimento.
8.000.000

6.000.000
Tanzânia e Etiópia
Dois dos países mais pobres do mundo cobrem a sua
4.000.000
procura interna de energia eléctrica com uma fonte autóc-
2.000.000
tone e gratuita: a água.
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04
Anos
Quanto ao futuro,os especialistas da União Europeia apre-
Carvão Petróleo Gás
sentam, para o período 2000-2030, as seguintes previsões
Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
de contribuição de cada um dos sistemas de produção de
Geotérmica / solar / eólica energia eléctrica:

Produção de Energia Eléctrica


Fonte: Agência Internacional de Energia (IEA). • A lignite (modalidade de carvão com a qual se produz
mais de 50% da energia eléctrica mundial) vai reduzir
Estados Unidos a sua contribuição a favor dos carvões limpos (em
A fonte mais utlizada (menos de 50%) é o carvão. Este país fase de investigação). Em qualquer caso, seja em
é o maior emissor mundial de CO2 e, apesar dos orga- que modalidade for, com mais de 200 anos de
nismos internacionais, não aderiu ao Protocolo de Quioto. reservas não nos podemos permitir o luxo de
Tal como no resto dos países, os derivados do petróleo dispensar esta fonte de energia. De facto, tal como
quase já não se utilizam para produzir energia eléctrica. mostram as previsões, a quantidade de energia eléc-
trica obtida a partir do carvão triplicará (5.500 TWh
Rússia para 15.600 TWh) e passará a representar um terco
Caso singular. Nas últimas três décadas a produção de do total da produção (5.500 TWh sobre 15.400 TWh) capítulo 12
energia eléctrica não cresceu significativamente (como no para quase metade (15.600 TWh sobre 36.200 TWh).
resto dos países), como decresceu. Alto consumo de gás
natural (não é em vão que a Rússia é o primeiro produtor • O gás natural vai aumentar a sua contribuição em
mundial). 350%.

Austrália • A biomassa, que é a principal fonte de energia para a


A contribuição do carvão para a produção de energia eléc- produção de energia térmica (em muitos países
trica é superior a 80%, com tudo o que isso supõe de emis- subdesenvolvidos é a única matéria-prima de que
sões de CO2. Apesar de ser um grande país e desenvolvido, dispõem), em 2030 continuará a representar uma
não dispõe de energia nuclear. contribuição mínima como fonte para produzir energia
eléctrica.
África
De igual modo que no resto do mundo, o carvão é a fonte • Apesar da polémica suscitada pela maioria dos países
mais consumida para produzir energia eléctrica. Deve-se relativamenta à energia nuclear, a sua importação
destacar a contribuição relativa da energia hidroeléctrica e aumentará cerca de 30%. Países como Japão, França
de gás num continente com muitas quedas de água e com e Estados Unidos apostam decididamente por esta
8% das reservas mundiais de gás natural (dados de 2006). energia.
Figura 5
Evolução da contribução de cada uma das fontes para produção de energia eléctrica 1971-2004
278

GWh GWh

4.500.000 300.000

4.000.000 EEUU AUSTRÁLIA


250.000
3.500.000

3.000.000
200.000

2.500.000

150.000
2.000.000

1.500.000
100.000
1.000.000

500.000 50.000

71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04

Anos Anos

Carvão Petróleo Gás Carvão Petróleo Gás


Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
GWh Geotérmica / solar / eólica GWh
Geotérmica / solar / eólica
1.200.000 600.000

RÚSSIA ÁFRICA
1.000.000 500.000

800.000 400.000

600.000 300.000

400.000 200.000

200.000 100.000

92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04

Anos Anos

Carvão Petróleo Gás Carvão Petróleo Gás

Carvão Nuclear Petróleo Hidroeléctrica


Gás Nuclear
Comb. renew & waste Hidroeléctrica Comb. renew & waste
Nuclear Hidroeléctrica Geotérmica
Comb. /renew
solar &
/ eólica
waste

Geotérmica / solar / eólica Geotérmica / solar / eólica

Fonte: Agência Internacional de Energía (IEA).

• Em geral, a contribuição das fontes renováveis Promovido também pela UE e elaborado por peritos fran-
aumentará significativamente. A eólica e solar vai ceses, belgas e espanhóis, foi elaborado o WETO11 e
crescer 20 vezes em valor absoluto, mas a sua contri- WETO-H2 com as previsões mundiais para o conjunto da
buição continuará a ser mínima. energia para 2030 e 2050, respectivamente. As mais rele-
vantes são estas:
• A cogeração ganhará peso tanto relativo (triplicará)
como absoluto (representará quase 5% do total). • 2030

11
World Energy, Technology and Climate Policy Outlook.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

279

GWh GWh

2.500.000 3.000

CHINA TANZÂNIA
2.500
2.000.000

2.000

1.500.000

1.500

1.000.000
1.000

500.000 500

71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04

Anos Anos

Carvão Petróleo Gás Carvão Petróleo Gás

Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
GWh GWh
Geotérmica / solar / eólica Geotérmica / solar / eólica
800.000 3.000

ÍNDIA ETIÓPIA

Produção de Energia Eléctrica


700.000
2.500
600.000

2.000
500.000

400.000
1.500

300.000

1.000
200.000

100.000 500

71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 capítulo 12
Anos Anos

Carvão Petróleo Gás


Carvão Petróleo Gás
Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
Geotérmica / solar / eólica
Geotérmica / solar / eólica

1. A procura energética mundial aumentará em 4. A produção de energia eléctrica aumentará em


torno dos 1,8% ao ano. 3% ao ano (maior participação do carvão, reno-
2. Os países “em desenvolvimento” representarão váveis e gás natural).
mais de 50% face aos 40% actuais (mais emis- • 2050
sões de CO2).
1. O consumo médio anual de energia passará dos
3. EUA emitirá 50% mais de CO2 do que em 1990, 10 Gtep actuais para 22 Gtep.
face aos 18% que serão alcançados pela UE.
2. A contribuição das fontes de origem fóssil será
de 70% desses 22 Gtep (carvão e petróleo 26%
TabEla 4 7. As fontes de produção de energia eléctrica
Previsões mundiais da contribuição para a produção de serão quase exclusivamente carvão, as reno-
280
energia eléctrica dos diferentes sistemas 2000-2030 váveis e a nuclear.

2000 2030 Passando para a União Europeia, de seguida apresenta-se a


Tipo
(TWh) (TWh) evolução da contribuição de cada fonte para a produção de
energia eléctrica no período 1971-2004 para os países da
Térmica 9.298 25.803 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econó-
mico (OECD)12.
Carvão lignite convencional 5.516 4.326
• Incremento relativo das contribuições de gás natural
Tecnologia avançada carvão 0 11.332
e nuclear em favor do carvão, da hidráulica e, espe-
cialmente, os derivados do petróleo (o destino da
Gás 2.418 8.542
energia que contêm está cada vez mais focado para
Biomassa 196 423 o transporte em forma de energia mecânica e para o
sector residencial em forma de energia térmica). O
Nuclear 2.623 3.497 carvão, no entanto, aumentou a sua contribuiçao em
termos absolutos.
Hidro-Geotérmica 2.772 4.563
• Constância na contribuição absoluta da hidráulica
Solar 1,5 58,1 (não se constroem novas barragens ou quedas de
água).
Eólica 23,2 543,4

Mini-hídrica 148,4 258 • Tímida contribuição, nos últimos anos, das fontes de
origem renovável e biomassa (principalmente resí-
Total 14.866 34.723 duos).

Cogeração 585 1.567 De seguida são apresentados os gráficos correspondentes


aos países mais significativos, bem como alguns comentá-
Total geral 15.451 36.290 rios em cada caso.

Fonte: UE. Finlândia


Contribuição muito repartida. Há que destacar a nula contri-
cada um e o gás natural uns 18%). Os 30% buição dos derivados do petróleo e a importância das fontes
restantes serão repartidos em partes iguais de energia renovável que, em conjunto com a hidroeléc-
entre as renováveis e a nuclear. trica, representam 25% do total.

3. O consumo de energia eléctrica será quatro França


vezes superior ao actual. Primeiro do mundo quanto à contribuição da energia nuclear
para a produção de energia eléctrica. Exceptuando a hidro-
4. O carvão continuará a ser a fonte com maior eléctrica, as restantes fontes quase não existem.
contribuição para a produção de energia eléc-
trica. Alemanha
As três fontes de energia mais utilizadas são o carvão
5. O preço do carvão alcançará os 110$. (proveniente das suas áreas mineiras), a energia nuclear
(juntamente com França é o país que mais energia deste
6. Em 2020 começará o arranque da energia tipo consome) e por fim o gás natural. Apesar de ser líder
nuclear e das renováveis como novas tecnolo- mundial em produção de energia eléctrica a partir de fontes
gias, sendo consolidado em 2030. de origem renovável (especialmente solar e eólica), a sua
contribuição relativa é mínima, mas não em termos abso-
lutos (25.999 GWh em 2004).

12
Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Irlanda, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal, o Reino Unido, Suécia,
Suiça, Finlândia, República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 6 desde há mais de 30 anos. Outro feito que se pode destacar


Evolução da contribuição de cada fonte para a produção é o aumento da contribuição relativa das fontes reno-
281
de energia eléctrica OECD 1971-2004 váveis.

Suécia
GWh É dos poucos países do mundo que tendo um alto nível de
4.000.000 vida é capaz de cobrir toda a sua procura de energia eléc-
trica com fontes autóctones (biomassa e energia hidroeléc-
3.500.000
trica). Para além disso, é um dos países desenvolvidos com
3.000.000 maior experiência na exploração da biomassa e dos resí-
duos para obter energia eléctrica.
2.500.000

2.000.000 Reino Unido


Tal como a Alemanha, este país dispõe de importantes
1.500.000
reservas minerais, pelo que a contribuição do carvão é
1.000.000 superior a 30%. Nos últimos anos, porém, tanto a contri-
buição desta fonte como dos derivados do petróleo (prati-
500.000
camente anulada) diminuiu significativamente em favor do
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04
gás natural. Há que destacar o peso da biomassa e dos
Anos
resíduos (a rondar os 25% do total das fontes).
Carvão Petróleo Gás
Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
Quanto ao futuro, as previsões do WETO-H2 para a Europa
Geotérmica / solar / eólica
são as seguintes:

• O consumo actual de energia primária passará dos


Fonte: Agência Internacional de Energia (IEA).
actuais 1,9 Gtep/ano para 2,6 Gtep/ano.

Produção de Energia Eléctrica


Islândia • A partir de 2020 acelerará o desenvolvimento das
O país com maior rendimento per capita do mundo cobre fontes de origem renovável e reaparecerá o nuclear.
mais de 85% das suas necessidade de energia eléctrica
com a energia hidráulica, sendo o resto, como acontece • As fontes de origem não fóssil (renováveis e nuclear)
geralmente nos países do norte da Europa (com um elevado passarão dos actuais 20% para 40%.
nível de compromisso social entre os seus cidadãos pela
protecção do ambiente), com outras fontes de origem reno- • Estabilidade nas emissões de CO2 até 2030 (políticas
vável. de combate) e diminuição até 2050 chegando a ser
10% inferiores às actuais.
Dinamarca capítulo 12
Metade da energia eléctrica provém do carvão. Apenas na • As fontes de origem renovável irão satisfazer 22% da
última década é que o país apostou no gás natural e nas procura total de energia, as nucleares 30% e as de
fontes renováveis (especialmente a biomassa e a eólica) origem fóssil menos de 50%.
para substituir os derivados do petróleo e cobrir ao mesmo
tempo os aumentos da procura de energia eléctrica e, • Metade da geração de energia eléctrica em centrais
desde então, a contribuição relativa destas fontes tem sido térmicas irão dispor de sistemas que permitam a
elevada. captura e o armazenamento de CO2.

Itália • Metade do total dos edifícios serão de baixo consumo


Na última década, este país (um dos sete mais ricos do de energia e uma quarta parte de muito baixo
planeta), foi capaz de modificar a contribuição das fontes e consumo.
reduziu o consumo de derivados de petróleo em favor do
gás natural e, em menor medida, do carvão. Como a maioria • Mais de metade dos veículos serão de baixa ou muito
dos países desenvolvidos, a contribuição absoluta da baixa emissão (veículos eléctricos ou com motores
energia hidroeléctrica mantém-se praticamente constante de hidrogénio).

• A contribuição das renováveis e nuclear para a energia


eléctrica será de 60%.
Figura 7
Evolução da contribuição de cada uma das fontes para a produção de energia eléctrica 1971-2004
282

GWh GWh

100.000 700.000

90.000 FINLÂNDIA ALEMANHA


600.000
80.000

70.000 500.000

60.000
400.000
50.000

40.000 300.000

30.000
200.000
20.000

10.000 100.000

71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04

Anos Anos

Carvão Petróleo Gás Carvão Petróleo Gás

Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
GWh GWh
Geotérmica / solar / eólica Geotérmica / solar / eólica
600.000 10.000

FRANÇA 9.000 ISLÂNDIA


500.000 8.000

7.000
400.000
6.000

5.000
300.000
4.000

3.000
200.000
2.000

100.000 1.000

71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04

Anos Anos

Carvão Petróleo Gás Carvão Petróleo Gás

CarvãoNuclear Hidroeléctrica
Petróleo Gás Comb. Nuclear
renew & waste Hidroeléctrica Nuclear
Comb. renew & Hidroeléctrica
waste Comb. renew
Geotérmica & waste
/ solar / eólica
Geotérmica / solar / eólica Geotérmica / solar / eólica

Fonte: Agência Internacional de Energia (IEA).

geração e a quota da energia nuclear alcançará


• O consumo total de energia permanecerá quase 38%.
estável até 2030, começando depois a aumentar.

6. A actividade de produção de energia


• 70% da produção de energia eléctrica não gerará
CO2.
eléctrica em Portugal

• A passagem para uma economia de hidrogénio Antes de apresentar a actividade de produção de energia
induzirá novas transformações na estrutura da eléctrica em Portugal, expõem-se de seguida algumas
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

283

GWh GWh

60.000 180.000

DINAMARCA SUÉCIA
160.000
50.000
140.000

120.000
40.000

100.000

30.000
80.000

60.000
20.000
40.000

10.000 20.000

71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04

Anos Anos

Carvão Petróleo Gás Carvão Petróleo Gás


Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste
GWh GWh
Geotérmica / solar / eólica Geotérmica / solar / eólica
350.000 450.000

ITÁLIA REINO UNIDO

Produção de Energia Eléctrica


400.000
300.000
350.000
250.000
300.000

200.000 250.000

200.000
150.000
150.000
100.000
100.000

50.000 50.000

capítulo 12
71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 01 04

Anos Anos

Carvão Petróleo Gás Carvão Petróleo Gás

Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste Nuclear Hidroeléctrica Comb. renew & waste

Geotérmica / solar / eólica Geotérmica / solar / eólica

características do sector energético no seu conjunto. São • Portugal é uma ilha energética. Não dispõe apenas
estas: de petróleo nem de gás natural. Encontra-se geogra-
ficamente situada no extremo sul da Europa. Dispõe
• Alta dependência face ao exterior. Aproximadamente de interconexões eléctricas a Espanha e de gás
85% das fontes de energia primária são importadas, natural (gasodutos) com Espanha e Argélia.
o que pode causar riscos inflacionistas e desequilí-
brios macroeconómicos em situações de preços do • Intensidade energética13 crescente. Desde há uma
petróleo em alta. década, a intensidade energética apresenta uma

13
Define-se a intensidade energética como o consumo de energia por unidade de PIB.
tendência crescente, ao revés do conjunto da UE, Inverno. Em ambos os casos a rede de transporte
onde decresce. Isto deve-se fundamentalmente a funcionou com total normalidade e não aconte-
284
uma baixa eficiência do sector produtivo português ceram cortes no fornecimento.
(utiliza mais quantidade de energia para produzir a Analiza-se de seguida a situação das principais
mesma unidade de produto). Um dos grandes desa- fontes de energia primária utilizadas para a produção
fios para o futuro imediato é dissociar o crescimento de energia eléctrica.
económico do consumo de energia.
Das figuras 8 e 9 verifica-se a contribuição das
• Quanto às emissões de CO2, Portugal é um dos distintas fontes de energia primária para a produção
países da Europa que mais dificuldade tem tido para de energia eléctrica, daí podem-se extrair as
cumprir os compromissos do Protocolo de Quioto seguintes conclusões:
(no período 2008-2012 deveria emitir uma quanti-
dade máxima de CO2 equivalente a 27% mais do • A produção de energia é maioritariamente prove-
que a emitida em 1990; em 2004 as emissões eram niente de centrais térmicas. Centrais que utilizam
41% superiores). como combustível o carvão e petróleo são cada vez
menos usadas, sendo substituídas pelas centrais
No que se refere ao sector eléctrico, cabe destacar o de ciclo combinado de gás natural.
seguinte:
• A contribuição hidráulica mantém-se constante nos
• O crescimento da economia portuguesa durante a últimos anos porque não foram construídas grandes
última década motivou o maior crescimento do centrais, à excepção do Alqueva (2004).
consumo de energia eléctrica da UE.
• Apesar de em 2009 a contribuição da biomassa,
• A produção de energia eléctrica tem aumentado resíduos sólidos urbanos, biogás e solar fotovol-
146.000 tep/ano desde 1990, aumentou cerca de taico ter sido mínima, esperam-se crescimentos
75% de 1990 a 2004. relevantes para os próximos anos.

• A procura de energia eléctrica aumentou quase 40% • Em 2009, a fonte com maior peso na produção de
desde 1990 a 2008 energia eléctrica foi o gás natural, seguido do carvão
e do petróleo. Os derivados do petróleo, do mesmo
• Em 2007, para uma potência total instalada no final modo que na maioria dos países, quase não se
do ano de 15.300 MW, foram produzidos 43 GWh e utilizam (a sua aplicação maioritária é no transporte
consumiram-se 49 GWh. A diferença deveu-se ao e aquecimento).
saldo negativo de exportações.
• Em 2009, as fontes de origem renovável represen-
• Portugal encontra-se situado numa banda baixa taram quase 35% (delas a eólica e a hidráulica
quanto aos preços da energia eléctrica. representaram cerca de 88%).

• Tempo de interrupção equivalente da potência insta- Comparando estes dados com os médios da UE, temos o
lada - TIEPI14 (índice que mede a continuidade do representado na tabela 5.
fornecimento). Em 2007, o valor do TIEPI variou entre
234,01 minutos na Área de Rede Vale do Tejo e 41,99 De seguida veremos a potência instalada em Portugal de
minutos na Área de Rede Grande Porto, situando-se cada uma das tecnologias de produção de energia eléc-
abaixo da média europeia. trica. Na imagem seguinte mostra-se e compara-se o mix
de produção15 e a cobertura da procura16 em 2007.
• Tradicionalmente, os picos anuais de procura de
energia eléctrica (instantâneos) tinham lugar no Da análise é interessante comentar o seguinte:
Inverno (consumo do aquecimento, menos horas de
luz), mas desde há alguns anos para cá, muito devido • O facto de que 30% da potência total instalada
à utilização de aparelhos de ar condicionado, os corresponde à energia hidráulica não quer dizer que
picos de Verão são praticamente iguais aos do 30% da energia eléctrica gerada provenha dela. No

14
De maneira simplificada, pode-se dizer que o TIEPI reflecte o seguinte quociente “(potência afectada pela interrupção x duração em horas da interrupção) /
potência instalada na zona”. Calcula-se anualmente (horas/anos) e para uma zona geográfica determinada.
15
Quanta potência instalada existe de cada tecnologia de produção (megawatts).
16
Com quanta energia contribuiu cada tecnologia para cobrir a energia eléctrica procurada (megawatts-hora).
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 8
Evolução da contribuição das fontes de energia primária para consumo de energia eléctrica 1999 a 2009.
285

Fonte: APREN.

Figura 9
Balanço das fontes de energia primária utilizadas no consumo de energia eléctrica 2009

Produção de Energia Eléctrica


capítulo 12

Fonte: APREN.

caso de 2007 as centrais hidráulicas funcionaram abaixo (cobertura da procura) pelas centrais de ciclo combi-
dasua capacidade nominal e produziram apenas 22% da nado e, em menor medida, as eólicas. Algumas das
energia total. principais companhias eléctricas deste país assi-
naram acordos de fornecimento a longo prazo com
• Da comparação entre a evolução da potência instalada e os principais países produtores de gás natural do
a cobertura da procura no período 2004-2006, o que mais norte de África.
se destaca é:
• A diferença da energia anual produzida em centrais
• O grande aumento da potência instalada (entrada em hidráulicas, apesar da potência instalada, mantém-se
funcionamento) e, paralelamente, da energia produzida constante. Isto deve-se ao nível de precipitações de
cada ano (2005 foi um ano mais seco que 2004 e • Foi a partir de 2000 , quando começou o maior desen-
2006). volvimento da energia eólica, a tecnologia mais rela-
286
vante era a hidráulica.
TabEla 5
Comparação Portugal-UE da contribuição de diferentes • Também em 2000 verificou-se o maior desenvolvi-
fontes para a produção de energia eléctrica. mento da tecnologia de combustão da biomassa
(madeira e resíduos vegetais). Até ao momento,
2005 Nuclear Renováveis Origem fóssil aumentou mais a produção eléctrica a partir desta
tecnologia do que a potência instalada.

• Em 2007 começaram a entrar ao serviço as primeiras


Portugal - 32% 68% instalações solares para produção de energia eléc-
trica.

• A grande influência que tem a hidraulicidade no peso


das centrais hidráulicas. Em 2003 (ano muito chuvoso)
a contribuição das fontes de origem renovável (ou, o
UE 30% 5% 55% que é o mesmo, da eólica e da hidráulica) foi de 40%,
tendo passado a 30% em 2004. Esta diferença
deve-se exclusivamente à segunda, já que a eólica
Fonte: UE. APREN.
geralmente produz o mesmo todos os anos (ou até
mais se se puserem em serviço novos parques,
• A diminuição da contribuição do carvão em favor do como foi o caso).
gás natural (ciclos combinados) e da eólica para a
produção de energia eléctrica. • A contribuição das centrais térmicas de fuel é
pequena.
Respectivamente às fontes de origem renovável, da
imagem seguinte (evolução no período 2000-2009) • Quanto às fontes de origem renovável, e apesar dos
extraiem-se as seguintes conclusões: esforços do Governo para as fomentar, ainda sendo
Portugal um país que tem apostado nestas tecnolo-
• A evolução da produção em regime especial de gias e de se encontrar em pleno desenvolvimento da
energia renovável em 2009 foi mais do triplo em indústria solar fotovoltaica, a sua contribuição (junta-
comparação com o ano de 2000. mente com a biomassa e os resíduos) é todavia
pequena. Neste sector, o melhor ainda está para

Figura 10
Distribuição da potência instalada e do consumo por tecnologias (2007).

Fonte: DGGE, EDP


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Figura 11
Energia Renovável anual entregue à rede por tecnologia [GWh]
287

Produção de Energia Eléctrica


Fonte: ERSE

chegar. Para 2020, a UE acordou que 20% da energia produção e comercialização de electricidade e a
total consumida deve ter origem nestas fontes. gestão dos mercados de electricidade organizados
Espera-se uma grande explosão para os próximos estão agora inteiramente abertas à concorrência,
anos. sujeitas à obtenção de licenças e aprovações neces-
sárias. Contudo, as componentes de transporte e
Até agora, todas as análises foram feitas do ponto de distribuição na indústria de electricidade continuam a capítulo 12
vista da oferta de energia eléctrica (fontes, potência ser desenvolvidas através de concessões públicas
instalada, cobertura da procura, etc.). Se nos fixarmos atribuídas.
na procura, temos que a repartição entre os sectores
da energia procurada em 2009 foram os seguintes: • De acordo com a Lei Base da Electricidade, o SEN
divide-se em seis grandes áreas: produção, trans-
A legislação nacional seguiu a Directiva de Electricidade e missão, distribuição, comercialização, operação do
definiu o enquadramento legal para sector eléctrico Portu- mercado eléctrico e operações logísticas facilitadoras
guês. O Decreto-lei 172/2006, conforme alterações intro- da transferência entre comercializadores pelos
duzidas, permitiu desenvolver mais o enquadramento legal consumidores. Salvo algumas excepções, cada uma
da actividade, estabelecendo regras para as actividades no destas áreas é operada independentemente, quer do
sector da electricidade. ponto de vista legal, organizacional ou decisório.

• Na sequência da implementação da Lei Base da Elec- • As actividades do sector eléctrico devem ser desen-
tricidade, os sectores vinculados e não vinculados do volvidas de acordo com princípios de racionalidade e
Sistema Eléctrico Nacional (SEN) foram substituídos eficiência na utilização de recursos ao longo de toda
por um sistema de mercado único; as actividades de a cadeia de valor (i.e., desde a produção até ao
consumo final de electricidade) e de acordo com os
princípios de concorrência e sustentabilidade
ambiental, com o objectivo de aumentar a conco- 1. Produzir energia eléctrica nas centrais.
288
rrência e eficiência no SEN, sem prejuízo das obri-
gações de serviço público. 2. Injectar a dita energia nas redes de transporte.

Desde a entrada em vigor da Lei do Sector Eléctrico (LSE), 3. Vender a energia, para o qual dispõem de duas
os principais actores que operam nele e os papéis que vias principais:
desempenham são os seguintes:
- Regime Ordinário: Em 30 de Junho de 2007,
• Produção. A produção de electricidade está sujeita a todos os CAEs contratados com a EDP sob a
licenciamento e é desenvolvida num contexto de Antiga Lei Base da Electricidade foram anteci-
concorrência. A produção de electricidade divide-se padamente extintos, conforme definido pelo
em dois regimes: regime ordinário e regime especial. Decreto-lei 240/2004. Em conformidade, todas
O regime especial corresponde à produção de elec- as centrais antes abrangidas por CAEs
tricidade a partir de fontes endógenas e renováveis passaram a operar segundo as regras de
(excepto grandes centrais hidroeléctricas). A Mercado.
produção em regime especial está sujeita a dife-
rentes requisitos de licenciamento e beneficia de - Regime Especial: A produção em regime espe-
tarifas especiais. O comercializador de último recurso, cial é primeiramente regida pelo Decreto-Lei
actualmente a EDP Serviço Universal, está obrigado 189/88, de 27 de Maio, e por alterações desde
a comprar a energia produzida sob o regime especial então introduzidas (incluindo Decreto-Lei
Português. O regime ordinário abrange todas as 312/2001, de 10 de Dezembro e, no que toca a
outras fontes, incluindo as grandes centrais hidro- tarifas, pelo Decreto-Lei 168/99 de 18 de Maio,
eléctricas. Decreto-Lei 339-C/2001 de 29 de Dezembro,
Decreto-Lei 33A/2005 de 16 de Fevereiro, e o
As principais operações levadas a cabo por estes Decreto-Lei 225/2007 de 31 de Maio) (“Decre-
agentes são: to-Lei 189/88”). Contudo, a produção em

Figura 12
Estrutura do consumo de energia eléctrica em Portugal (2007)

31% Indústria
38%
Transportes
Agricultura
Doméstico
Serviços

28% 1%
2%

Fonte: DGGE, EDP


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

regime especial é também afectada pelo tarifas de acesso fixadas pela Entidade Reguladora
289
Decreto-Lei 29/2006 e Decreto-Lei 172/2006, dos Serviços Energéticos (‘‘ERSE’’), uma entidade
relacionados com o SEN. pública independente.
Em condições de Mercado, os consumidores são
 o caso particular da produção de energia solar fotovol-
N livres de escolher o seu fornecedor, sem qualquer
taica, ao encontrar-se subsidiada (por lei tem direito a uma encargo adicional com a mudança de comercializador.
retribuição quase seis vezes superior à tarifa), a produção é Uma nova entidade, cuja actividade será regulada
vendida directamente à empresa distribuidora proprietária pela ERSE, deverá ser criada para supervisionar as
da rede à qual se encontra conectada a central. operações logísticas facilitadoras da mudança de
fornecedor por parte dos consumidores.
• Transmissão. A actividade de transmissão de electri-
cidade é desenvolvida através da rede nacional de A Nova Lei Base da Electricidade enumera certas
transmissão, ao abrigo de uma concessão exclusiva obrigações de serviço público para os comercializa-
atribuída pelo Estado Português. Actualmente, a dores, com vista a assegurar a qualidade e continui-
concessão exclusiva da transmissão de electricidade dade do fornecimento, bem como a protecção do
está concedida à REN Rede Eléctrica, de acordo com consumidor no que respeita a preços, tarifas de
o artigo nº69 do Decreto-Lei 29/2006, e no segui- acesso e acesso a informação em termos simples e
mento da atribuição de concessão à REN Rede Eléc- compreensíveis.
trica constante do artigo nº 64 do Decreto-Lei 182/95,
de 27 de Julho. Decorrente das alterações introduzidas pelo Decre-
to-Lei 264/2007 de 24 de Julho, o comercializador de
• Distribuição. A distribuição de electricidade no último recurso é obrigado a comprar energia a prazo,
âmbito da Nova Lei Base da Electricidade tem por nos mercados geridos pelo OMIP e pela Sociedade
base a rede nacional de distribuição, que consiste na de Compensação de Mercados de Energia, S.A.
rede de média e alta tensão, e ainda as redes de (“OMIClear”), em quantidades e nos leilões definidos

Produção de Energia Eléctrica


distribuição de baixa tensão. pela DGEG. As compras de energia no mercado
gerido pelo OMIP incluem contratos de futuro
A rede nacional de distribuição é operada através de cotados anuais, trimestrais e mensais, a base-load e
uma concessão exclusiva atribuída pelo Estado Portu- com entrega física. As compras são reconhecidas
guês. Esta concessão exclusiva do direito de operar para efeitos de custos regulados quando atingem a
a rede nacional de distribuição está atribuída à subsi- maturidade.
diária do grupo EDP, EDP Distribuição, conforme o
artigo nº 70 do Decreto-Lei 29/2006, em resultado da O comercializador de último recurso tem de gerir as
conversão da licença detida pela EDP Distribuição ao diferentes formas de contratos com vista a adquirir a
abrigo da Antiga Lei Base da Electricidade. Os termos energia ao menor custo. Todos os desnecessários
da concessão estão estabelecidos nos Decreto-Lei excessos de energias adquiridos pelo comerciali- capítulo 12
172/2006. zador de último recurso são revendidos no mercado
organizado.
As redes de distribuição de baixa tensão continuam a
ser operadas ao abrigo de acordos de concessão • Operação dos Mercados. A operação dos mercados
firmados mediante concurso público lançado pelos de electricidade organizados está sujeita a uma auto-
municípios. Os acordos de concessão existentes rização conjunta do Ministro das Finanças e do
deverão ser mantidos ou aditados com vista a cumprir Ministro responsável pelo sector de energia. A enti-
os requisitos do novo regime, conforme definido no dade gestora dos mercados organizados está igual-
Decreto-Lei 172/2006. mente sujeita a autorização do Ministro responsável
pelo sector de energia e, quando requerido por lei,
• Comercializadores. A comercialização de electrici- pelo Ministro das Finanças.
dade está aberta à concorrência, sujeita apenas a um
regime de licenciamento. Os comercializadores Os mercados de electricidade organizados em
podem comprar e vender electricidade livremente. Portugal deverão ser integrados em outros mercados
Neste sentido, têm o direito de aceder às redes de de electricidade organizados estabelecidos entre
transmissão e distribuição mediante o pagamento de Portugal e qualquer Estado membro da EU. Os produ-
tores de electricidade a operar em regime ordinário e 5. Exploração de tecnologias de “carvão limpo”. A
290
os comercializadores, entre outros, podem tornar-se tecnologia mais desenvolvida neste momento é
membros desse mercado. a de “ciclos combinados de gaseificação inte-
grada” (IGCC). Nela o carvão é convertido em
• Consumo. Em condições de Mercado, os consumi- combustível gasoso e a sua combustão não
dores são livres de escolher o seu fornecedor/comer- emite GEE.
cializador de electricidade, estando isentos de qual-
quer custo quando mudem de fornecedor. No sentido 6. Utilização do hidrogénio para a produção de
de gerir o processo de mudança de comercializador, energia eléctrica (em fase de Investigação e
o qual implicará a gestão de leitura de electricidade e Desenvolvimento I&D).
de contador, será criada uma entidade, o Operador
Logístico de Mudança de Comercializador (“OLMC”). 7. Considerar eventualmente de projectos de
Esta entidade deverá ser independente das restantes energia nuclear desde que a opinião pública os
entidades do SEN, tanto do ponto de vista legal, aceite.
organizacional como decisório.
• Procura
A transmissão, distribuição e comercialização de
último recurso, bem como a logística e os termos 1. Consciencialização mundial (organismos,
aplicáveis às operações de mudança de comerciali- empresas, governos, cidadãos) para tratar de
zador e a gestão dos mercados organizados estão conter a mudança climática.
sujeitas à regulação da ERSE.
2. Não saturação das infra-estruturas para que não
se produzam cortes no fornecimento aos consu-
midores.
7. Futuro da actividade de produção
de energia eléctrica
3. Redução (poupança) e uso eficiente da energia
eléctrica.
Em modo de resumo, alguns dos aspectos que terão
influência no futuro do sector eléctrico e, em particular, na 4. Um novo Protocolo (Quioto II), sobre o qual já se
geração de energia eléctrica serão os seguintes: está a trabalhar, que inclua os sectores que mais
GEE emitem: transporte e residencial.
• Oferta
5. Fomentar a reciclagem.
1. Garantia do fornecimento e flutuação dos preços
das fontes de origem fóssil, especialmente o 6. Concretamente em Portugal, melhorar a produ-
petróleo e o gás natural. tividade e com isso reduzir a intensidade ener-
gética para assim poder atingir os objectivos de
2. Modificação do mix de geração para fontes emissão de CO2 comprometidos com a assina-
renováveis em deterimento das fontes de tura do Protocolo de Quioto.
origem fóssil.

3. Apoio (económico, administrativo, político, etc.)


8. Contactos de Interesse
ao desenvolvimento de uma indústria das ener-
gias renováveis auto-suficientes, isto é, que não
necessitem de subsídios públicos para a sua De seguida apresentam-se algumas direcções de internet
sobrevivência. Por todos os benefícios que nas quais se pode consultar a legislação e ampliar a infor-
representa, a contribuição das fontes de origem mação apresentada neste manual.
renovável deverá crescer significativamente
num futuro imediato. GRUPO GAS NATURAL
www.gasnatural.com
4. Continuar a trabalhar para reduzir as emissões
de Gases de Efeito Estufa (GEE), especialmente Rede Eléctrica Nacional
o CO2. www.REN.pt
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Portal das Energias Renováveis


291
www.energiasrenovaveis.com

Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos


www.ERSE.pt

Associação das Energias Renováveis


www.APREN.pt

Direcção Geral de Geologia e Energia


www.DGGE.pt

Agência Internacional de Energia


http://aie.ineti.pt

Union Fenosa
www.unionfenosa.com.pt

O Protocolo de Quioto
www.icex.es/Protocolokioto/default.htm

Operador do Mercado Eléctrico de Energia


www.OMIP.pt

Asociação Empresarial Eólica

Produção de Energia Eléctrica


www.aeeolica.org

Protocolo de Quioto
www.icex.es/protocolokioto/default.htm

Energia na UE
http://europa.eu/scadplus/leg/es/s14000.htm

Agência Internacional da Energia


www.iea.org

Conselho Mundial de Energia capítulo 12


www.worldenergy.org/wec-geis/

Organização dos Países Exportadores de Petróleo


www.opep.org
13 Inovação Tecnológica
indústria e poligeração integrada com energias reno-
Resumo executivo váveis.
294

O encarecimento das fontes tradicionais de energia, bem Também se considera o potencial de outras energias reno-
como as teorias que atribuem o aquecimento global às váveis como a energia solar térmica de concentração, a
emissões humanas de GEF (Global Environment Facility), energia hidroeléctrica, a energia geotérmica e a energia dos
orientam os objectivos dos programas de I&D em energia oceanos. É importante, por outro lado, destacar a impor-
com vista ao desenvolvimento de um sistema energético tância de introduzir e desenvolver os conceitos de eficiência
sustentável e nutrido por recursos autóctones (renováveis) energética, já que resulta como a forma mais barata e signi-
ou amplamente disponíveis no mercado mundial (carvão ou ficativa de reduzir a dependência energética e o gasto dos
nuclear). Sobre estas bases, identificam-se áreas de Estados-membros.
melhoria sobre as quais se deverá articular um desenvolvi-
mento coerente das tecnologias, em função das capaci- O nosso país não é uma excepção dentro da I&D europeia:
dades e necessidades existentes. em alguns campos destaca-se, enquanto noutros está a
fazer um esforço para convergir com o estado da arte a
A UE adverte para a possibilidade de liderar todos os nível europeu; ainda existem campos nos quais a presença
aspectos do desenvolvimento tecnológico em energia e de desenvolvimento espanhol é testemunhal.
recomenda a internacionalização das iniciativas nacionais.
Nos planos europeus identificam-se as seguintes inovações Por tecnologias, a I&D e a inovação energética podem-se
a curto prazo (antes do final de 2010): resumir do seguinte modo:

• Biomassa. Co-combustão, melhoria da eficiência, • Eficiência energética. É importante facilitar um


redução relativa das emissões de CO2 de origem mercado energético receptivo às novas tecnologias
fóssil por unidade de energia útil produzida. de geração. Identificam-se como sectores de atenção
preferencial o transporte e a habitação. As actuações
• Eólica. Energia offshore e integração de sistemas na destacadas localizam-se na arquitectura bioclimática
rede. Qualidade da energia entregue. e poligeração.

• Fotovoltaica. Disponibilidade de silício a custos • Energia eólica. Apesar da sua importância a nível
razoavelmente menores e inovação na fabricação. mundial, destaca-se a pouca participação portuguesa
Colectores de concentração. em projectos de I&D de referência a nível europeu,
assim como a estagnação da energia eólica offshore,
• Solar térmica de concentração. Armazenamento se bem que recentemente foi publicada legislação
de longa duração e inovação em sistemas de trans- que cria certas expectativas de negócio a médio
missão de calor. prazo, o qual, sem dúvida, promoverá desenvolvi-
mento tecnológico específico e multidisciplinar.
• Tecnologias limpas de carvão. Gaseificação, poli- Como aspecto positivo destaca-se o projecto CENIT
geração em grandes centrais, sequestro de CO2 por Windlider 2015. As actividades que se consideram
absorção, metanol-etanol-aminas e desenvolvimento mais necessárias a curto prazo são as relativas à
de técnicas de valorização do CO2. previsão eólica, qualidade da energia e eólica offs-
hore.
• Solar térmica de média e baixa temperatura. Frio
solar (absorção e adsorção), desalinização, novos • Energia solar. Há que prestar uma atenção preferen-
desenhos e aplicações industriais da energia solar. cial dado o clima em Portugal. Quanto às aplicações
fotovoltaicas, a investigação orienta-se a médio prazo
• Combustíveis renováveis. Estandardização, bioe- dada a necessidade de proceder a uma redução dos
tanol, biodiesel e combustíveis sintéticos (Fischer- custos, embora estes tenham sofrido uma redução
Tropsch). nos últimos 2 anos. Isto é, as actuações prioritárias
encontram-se nas áreas de solar térmico de concen-
• Redes energéticas inteligentes. Integração a grande tração. Redução de custos do silício/wafers.
escala de energias renováveis.
• Biomassa. Esta é uma das energias renováveis
• Eficiência energética. Aumento da reutilização de menos explorada em Portugal. O problema, mais do
calores residuais, inovação energética em PMEs e que tecnológico, reside na ausência de cadeias de
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

produção-distribuição, já que tecnologias como a gração de pilhas num sistema de emergência no


gaseificação e a digestão e co-digestão anaeróbia transporte por estrada. Considera-se prioritário
295
são viáveis e demonstradas como sendo ampla- trabalhar na produção limpa de hidrogénio e na fabri-
mente aplicáveis. Por outro lado, estando já implan- cação de pilhas em Portugal.
tada na indústria a primeira geração, trabalha-se nos
biocarburantes de segunda geração. Recentes • Tecnologias limpas de carvão. Respectivamente às
desenvolvimentos legais, como a Directiva nº técnicas de captura e armazenamento CENIT CO2 é
2002/91/CE que foi transposta em 2006 para a ordem um factor fundamental para que Portugal alcance o
jurídica nacional, o RSECE e o RCCTE criam uma desenvolvimento tecnológico de outros países. Por
envolvente favorável à utilização da biomassa como outro lado, a participação portuguesa em projectos
combustível para cogeração e climatização. A gaseifi- europeus e internacionais é bastante reduzida neste
cação e co-gaseificação para usos térmicos e termo- campo. Posto que a utilização limpa do carvão é
eléctricos, com cinco projectos de grau mais ou estratégica para a independência energética do
menos demonstrativo e alguns deles já comercial, nosso país, as actuações mais desejáveis seriam a
têm um grande potencial de introdução massiva no implementação de novas tecnologias de eficiência e
mercado a muito curto prazo. captura de CO2.

• Pilhas de combustível, hidrogénio. Apesar de faltar • Energia nuclear. Uma vez começado o desenvolvi-
um plano nacional de desenvolvimento que vá de mento do ITER na UE (França), a principal interro-
encontro com os objectivos europeus de economia gação é o futuro da energia de fissão, que conta com
do H2, existe uma certa actividade no campo da inte- grandes problemas de aceitação, se bem que o

Glossário de termos

4PQ, 5PQ, Quarto, Quinto, Sexto e Sétimo Programa-


IGCC Gaseificação integrada em ciclo combinado.

Inovação Tecnológica
6PQ, e 7PQ Quadro.

Reactor Termonuclear Experimental


Bioenergia Biomassa e sentido amplo. ITER
Internacional.

CCS Captura e armazenamento de CO2. MEC Ministério da Educação e Ciência.

Centro para o Desenvolvimento Tecnológico


CDTI MICYT Ministério da Indústria, Comércio e Turismo.
Industrial.

Consórcios Estratégicos Nacionais em capítulo 13


CENIT MEASNET Rede Europeia de Medição da Energia do Vento.
Investigação Técnica.

Organização para a Cooperação


CTE Código Técnico da Edificação. OCDE
e o Desenvolvimento Económico.

DG
Direcção Geral de Investigação da UE. PAE4 Plano de Acção da E4 2005-2007.
RESEARCH

Direcção Geral de Energia e Transporte


DG TREN PAE4+ Plano de Acção da E4 2008-2012.
da UE.

E4 Eficiência Energética e Energias Endógenas. PNER Plano Nacional para as Energias Renováveis.

Espaço Europeu de Investigação


EEI PROFIT Programa de Fomento da Investigação Técnica.
(ERA em siglas inglesas).

EURATOM Comunidade Europeia da Energia Atómica. SoG-Si Silício de grau solar.

GEE Gases de efeito estufa. UE 20%,10%, 63%.


debate nuclear tenha sido reaberto. Se se superarem sejam objecto de investigação e desenvolvimento na actua-
estes travões facilitará a instalação de novas centrais. lidade.
296
As actuações neste campo passam por um amplo
debate social, pela tecnologia de fusão, a colocação Devido aos elevados custos de desenvolvimento e matu-
em ponto de comercialização da fissão de terceira ração das novas tecnologias, ou optimização das existentes,
geração e os neutrões rápidos. os avanços apenas se produzem nas áreas com um forte
apoio económico público, seja europeu ou nacional.

Referências O apoio público à I & D é um feito isolado e que se gera


espontaneamente, mas é a ferramenta principal dos planos
de fomento ou promoção de I & D europeus e nacionais.
[1] The State and Prospects of European Energy Research
Comparison of Commission, Member and Non- Não obstante, a I & D não é suficiente para inovar. A criação
Member States’ R&D Portfolios. Comissão Europeia, de quadros legais, económicos, fiscais, etc., favoráveis para
2006, EUR 22397 que se estimulem ou facilitem a adopção de novas tecnolo-
gias energéticas são fundamentais para que as tecnologias
[2] Biofuels in the European Union: A vision for 2030 provadas se implementem e substituam as obsoletas.
and beyond. Final report of the Biofuels Research
Advisory Council. Comissão Europeia, 2006, EUR
22066 2. I & D em energia na Europa

[3] Further task for future European Energy R&D. O 6PM terminou a 31 de Dezembro de 2006, iniciando-se o
Comissão Europeia, 2006, EUR 22395 7PM a 1 de Janeiro de 2007. Isto é, de terminar o prede-
cessor, a UE, juntamente com os Estados-membros, grupos
[4] 6.1 Sustainable energy systems. Work Programme. de especialistas e representantes de sectores industriais,
Comissão Europeia, 2003 desenvolveram os termos gerais do 7PM, como sucessor.

[5] FP7 Cooperation Work Programme:Theme 5 - Energy. Os resultados a curto prazo do 6PM são as tecnologias que
Call Fiche. RTD. Comissão Europeia, 2007 se implementarão de 2007 a 2010, isto é, aquelas a que
damos a denominação de inovadoras à data de publicação
[6] FP7 Cooperation Work Programme:Theme 5 - Energy. deste documento.
Call Fiche. TREN. Comissão Europeia, 2007

[7] Key task for future European Energy R&D. Comissão


2.1. Sexto Programa-Quadro em matéria
Europeia, 2005, EUR 21352 energética

[8] Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética Prioridades e resultados


2015 (PNAEE)
Os projectos de âmbito energético no 6PM foram divididos
em duas linhas, dependendo do prazo em que se esperam
1. Inovação energética resultados. Desta forma:

A inovação em matéria energética entende-se como a intro- • Linhas de investigação com resultados a curto prazo
dução massiva de novas tecnologias, que tenham demons- (horizonte 2010) (Direcção Geral de Energia e Trans-
trado previamente a sua validade e fiabilidade técnica, porte, DG TREN).
assim como a sua prevalência em termos económicos
respectivamente às suas predecessoras. • Investigação a longo prazo, mais estratégica (Dire-
cção Geral de Investigação, DG RESEARCH).
Isto é, a inovação é possível após a fase de demonstração,
sendo que esta vem precedida de um desenvolvimento A investigação em temas energéticos no 6PM tem sido
técnico. enquadrada dentro da área temática chamada desenvolvi-
mento sustentável, mudança planetária e ecossistemas
Portanto, as tecnologias energéticas mais inovadoras a (Sustainable Development, Global Change and Ecosys-
curto prazo são aquelas que recentemente tenham sido ou tems). As subprioridades da área temática foram:
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• Sistemas energéticos sustentáveis (Sustainable TabEla 1


Energy Systems). Número de projectos e fundos concedidos na área ener-
297
• Transporte de superfície sustentável (Sustainable gética do 6PM.
Surface Systems).
Fundos concedidos 6PM
Nº de
• Mudança planetária e ecossistemas (Global Change Área projectos M€ %
and Ecosystems).

Fotovoltaica 19 75,73 10,90%


A primeira está relacionada com a geração e distribuição
energética, enquanto que a segunda centra o seu interesse
no transporte, que tem um grande peso específico no Bioenergia 30 127,36 18,33%
balanço energético europeu. A última das subprioridades,
centrada na mudança climática, não trata a energia como
tal, senão os efeitos da extracção, transporte, transfor- Eólica 10 31,59 4,55%
mação e consumo final da energia sobre o ecossistema e o
clima do planeta.
Geotérmica 5 13,36 1,92%
Para o desenvolvimento do 6PM contou-se com um total
de 16.270 M€. Destes, a linha de orçamento destinada ao
Oceanos 7 14,03 2,02%
desenvolvimento sustentável, mudança planetária e ecos-
sistemas foi de 2.329 M€ (divididos por subprioridades em:
810 M€ para energia, 610 M€ para o transporte e 700 M€ Solar de con-
6 10,33 1,49%
centração
para a mudança climática e ecossistemas).

Pilhas de
Dentro desta área foram financiados 408 projectos ao longo 33 153,92 22,15%
combustível
de todo o programa-quadro, dos quais em 2005 se contabi-
lizavam 201 correspondentes a Sistemas energéticos Captura e
sustentáveis, que se agrupam, por áreas temáticas, na sequestro 18 68,71 9,89%
CO2

Inovação Tecnológica
tabela 1.
Hidrogénio 38 125,69 18,09%
É notório o interesse dos consórcios europeus em desen-
volver o par tecnológico formado pelo hidrogénio e a pilha
de combustível, que capta mais de 40% dos fundos com Integração
15 50,54 7,27%
em rede
apenas 25% dos projectos. Isto é, que têm um volume
unitário maior do que a média.
Socioeconómica 20 23,59 3,39%
Como exemplo de projectos nesta área, especialmente capítulo 13
quanto ao par H2-pilha, pode-se mencionar HYCHAIN1, que
Total 201 694,85 100%
está a arrancar em várias frotas de veículos, accionados
atravás de pilhas de combustível inovadoras, em quatro
regiões de outros tantos países da Europa (França, Espanha, Fonte: Elaboração própria.
Alemanha e Itália) operando com H2 como combustível. Tais
frotas estão baseadas em plataformas de tecnologia
modular, similar para diferentes aplicações, com o objectivo Em I & D relacionada com biomassa e hidrogénio pode-se
principal de atingir um volume suficientemente grande de mencionar CHRISGAS2, liderado pela Suécia, que pretende
veículos (acima dos 150) para obter em termos industriais desenvolver para 2009 um processo de produção de gás de
uma possível redução de custos e superar barreiras secto- síntese rico em H2 a grande escala (18 megawatts) através
riais e regionais. Este projecto está pensado para iniciar da gaseificação húmida de biomassa sólida, seguida de um
uma nova etapa no sector do transporte e, através dele, os upgrading, uma limpeza e uma reforma com vapor.
primeiros casos de desenvolvimento sustentável para H2
baseado em pilhas de combustível na Europa iniciar-se-ão O segundo lugar, em termos de número de projectos e
em lugares onde existam as maiores probabilidades de fundos concedidos, corresponde à bioenergia. Este facto
continuar e crescer mais além do projecto. está em linha com a política europeia para fomentar tanto a
1 http://www.hychain.es/glance/summary.htm
2 http://www.chrisgas.com/
biomassa sólida como os biocarburantes, como alternativa sistema produtivo como do módulo fotovoltaico, com a
parcial aos combustíveis fósseis e como novo negócio para intenção de alcançar 17% de rendimento na conversão da
298
o excedentário sector agrícola da UE. Os avanços mais energia solar incidente.
importantes foram produzidos neste último sector e foram
postos em prática muito rapidamente com a entrada no A energia eólica pode estar representada por UPWIND6 e
mercado da primeira geração de tecnologias de produção DOWNVIND7. UPWIND foca-se no futuro e persegue o
de biocarburantes, iniciando-se o trabalho de desenvolvi- projecto de turbinas entre 8MW – 10MW para utilização em
mento da segunda geração. terra e no mar. Isto implica rever quase todos os conceitos
actualmente em uso na indústria eólica. Até ao momento já
Um exemplo destas linhas de I & D é o projecto RENEW3, foram instaladas turbinas de 5 MW.
liderado pela Volkswagen, que se centra no desenvolvi-
mento da segunda geração de biocombustíveis para
motores modernos de combustão interna, basicamente a
partir da biomassa lignocelulósica, e da produção piloto das
mais prometedoras.

Com um orçamento mais limitado, BIOCARD4, liderado por


Espanha, procura demonstrar a viabilidade técnica e econó-
mica da exploração de Cynara cardunculus: para utilização
energética, através de um processo que combina a produção
de biodiesel a partir das sementes e de energia a partir do
resto da planta, utilizando diferentes tecnologias de
conversão.

São também dignos de serem mencionados os investi-


mentos em energia fotovoltaica, que já alcançaram um
elevado grau de maturidade (qualidade, fiabilidade, durabili-
dade), e os futuros esforços reorientam-se no sentido da
melhoria da eficiência das células e da redução dos custos
de fabricação, especialmente do silício cristalino, deixando
para médio e longo prazo os novos materiais fotoeléc-
tricos.

Como exemplo, o projecto FOXY5 reúne as PME europeias,


indústria e organismos de investigação que pretendiam
alcançar o objectivo de reduzir o custo dos módulo até 1€/
Wp em 2010, verifica-se que esse objectivo não foi atin-
gido, sendo que o custo mantém-se acima dos 1,6€/Wh.
Assumem que o wafer de silício continuará a dominar o
mercado na próxima década, pelo que procuram avançar na
refinação, purificação e cristalização de silício de grau solar
a partir do metalúrgico, assim como a reciclagem do de Microscópio electrónico para estudar a morfologia
grau electrónico. O objectivo é 15 €/kg de SoG-Si (silício de de um wafer fotovoltaico.
grau solar). A solidificação posterior e o estirado do cristal Fonte: CENER.
Czochralski, método de produção do silício monocristalino
(mais eficiente), será optimizado respectivamente ao rendi- DOWNVIND trata que os seus sócios liderem o mercado
mento actual. Também se desenvolverão técnicas para eólico offshore em águas profundas. Para isso necessita
produzir wafers finos e largos (200 µm e de 150x150 mm2, desenvolver uma nova geração de turbinas, reduzindo os
factores estes que aumentarão o rendimento, tanto do custos de capital actuais em 20%, através de I & D. Na

3 http://www.renew-fuel.com/home.php
4 http://www.biomatnet.org/secure/FP6/S1845.htm
5 http://www.sintef.no/content/page13____8812.aspx

6 http://www.upwind.eu/default.aspx

7 http://www.downvind.com/home/index.shtml
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

parte tecnológica está-se a trabalhar no desenho de modifi- Biomassa. Do ponto de vista de disponibilidade de
cações nas turbinas actuais de 5 MW para diminuir o custo combustível primário, esta fonte configura uma substituição
299
do seu transporte e instalação marítima em águas profundas, ampla e constante, apesar de limitada, aos recursos actuais
desenvolvendo novos conceitos de distribuição eléctrica, (na sua maioria fósseis). A biomassa para calor e electrici-
desenvolvendo metodologias para fabricar estes geradores dade também compete potencialmente com a biomassa
em massa e estabelecer parâmetros para a sua conexão às como matéria-prima para biocarburantes (aos quais se
redes eléctricas nacionais. alude mais a baixo). A combustão e gaseificação da
biomassa em ciclos termoeléctricos é uma tecnologia
O resto das áreas não se destacam de forma particular, muito eficiente, particularmente atractiva em zonas de
com a excepção do aparecimento de projectos importantes difícil acesso às redes de distribuição de energia na forma
de energia marinha e captura de CO2, linhas das quais se convencional, e com abundância de biomassa.
esperam resultados a médio e longo prazo.
A I & D neste campo dirige-se para a redução de custos e o
Por exemplo, o projecto CASTOR8, que terminou em 2008, desenvolvimento da gaseificação para combustíveis proble-
pretende desenvolver um novo método de captura em pós- máticos e complexos (co-gaseificação). Apresenta desafios
combustão adaptado às características dos gases de técnicos quanto à corrosão e geração de resíduos de
combustão das centrais térmicas. Está prevista a instalação combustão (alcatrões).
de uma central piloto na Dinamarca com capacidade para
1-2 tn/h. (70% do orçamento). Eólica. A evolução tecnológica da energia eólica promove a
melhoria dos sistemas de provisão, facilitando assim a inte-
Quanto à energia das marés, pode-se mencionar o projecto gração desta fonte a grande escala no mercado energético.
WAVESSG9, cujo principal objectivo é operar um conversor Tecnologicamente, os esforços são orientados para o
de energia das ondas de 150 kW. Para isso vai ser desen- desenvolvimento de geradores de maior potência com
hado, fabricado e instalado o sistema com uma turbina de custo mais eficaz e para a exploração dos recursos
tecnologia MST. A operação será monotorizada, com o marinhos.
objectivo de alcançar uma disponibilidade produtiva de
85%, uma eficiência hidráulica de 39% e eléctrica global de Fotovoltaica. É necessária uma mudança drástica para
25%. propiciar a produção em massa e a baixo custo de sistemas

Inovação Tecnológica
fotovoltaicos. Uma vez superada a integração na envol-
A consequência destas mudanças é a redução considerável vente, os principais desafios de I & D continuam a ser a
do número de projectos, sendo as PMEs tecnológicas e os eficiência e o custo.
grupos de menor tamanho os que têm suportado o peso.
O mesmo aconteceu com a grande indústria, que perdeu Solar térmico de concentração. Esta tecnologia está em
protagonismo em certas áreas em favor dos grupos acadé- pleno desenvolvimento e as suas perspectivas melhoraram
micos. com os últimos avanços. O grau de maturidade ainda é
baixo e necessita de grandes esforços para reduzir os
A redução no número de projectos, a par do aumento do custos de produção e optimizar o seu funcionamento. capítulo 13
financiamente, explica a importância que a Comissão deu Menção especial de I&D merecem os sistemas de acumu-
aos grandes projectos integrados (IP) em deterimento dos lação dinâmica.
denominados STREP (projecto objectivo), respectivamente
ao 5PM. Esta tendência vem-se a produzir desde o 4PM, no Solar de baixa e média temperatura. Amplamente desen-
qual os agora chamados STREP absorviam 90% do finan- volvida e conhecida, a I&D orienta-se para a melhoria dos
ciamento, enquanto que o restante apoio se destinava às sistemas existentes e para a extensão das aplicações à
chamadas acções de acompanhamento. refrigeração e à indústria.

Evolução do 6PM ao 7PM Geotérmica. A tecnologia de pouca profundidade alcançou


um nível de desenvolvimento notável, mas está muito limi-
Relativamente às prioridades tecnológicas, produziu-se tada pela disponibilidade de localizações adequadas. A I&D
uma evolução entre as prioridades do 6PM e do 7PM, tendo orienta-se a curto prazo para as bombas de calor (muito
inclusivamente aparecido novas áreas temáticas. eficientes) e para o desenvolvimento de sistemas de grande
profundidade, todavia muito dispendiosos.

8 http://www.co2castor.com
9 http://cordis.europa.eu/
combustível no transporte em 2030. Não obstante, devem
ser dados passos para desenvolver um fornecimento fiável,
300
com um volume suficiente de recursos biomássicos, pelo
que faz falta I&D para maximizar os rendimentos e mini-
mizar os custos, concentrando-se a actividade no desenvol-
vimento e ampla utilização da segunda geração de biocar-
burantes (incluindo a utilização da biomassa lignocelulósica)
e as denominadas biorefinarias integrais. Deve também ser
apoiada a investigação inicial sobre novos métodos e
conceitos como a genética, produção de hidrogénio via
fotólise, fotofermentação e vias similares.

Redes energéticas inteligentes. A integração das energias


renováveis e a geração distribuída produz desafios à distri-
buição e recursos da oferta e procura. É necessário desen-
volver as redes europeias de electricidade, gás natural e, a
seu momento, de H2. Isto é necessário para uma operação
normal e coerente dos mercados liberalizados. As redes
inteligentes serão geridas com a interacção de todos os
agentes, electronicamente de forma regulada.

Eficiência energética. Mesmo com eficiências superiores


na utilização final, a procura por electricidade vai continuar
a crescer, facto que poderia ser amenizado se o H2 para o
transporte se produzisse através da electrólise. Reduzir a
procura através da melhoria da eficiência na utilização final
é essencial. Nenhuma das opções tecnológicas aqui listadas
é adequada em si mesma para satisfazer a procura euro-
peia de electricidade, nem nenhuma deverá dominar o
sector eléctrico. A I&D orienta-se a contribuir para limitar a
procura energética em todos os âmbitos do consumo.

Sistemas de conhecimento da energia. Área de nova


Parque Eólico de Aldeavieja (Ávila). criação no 7PM. Situações de aquecimento global ou o fim
Fonte: EUFER. dos recursos fósseis impulsionaram a elaboração de estra-
tégias que permitam que, no futuro, estas situações se
minimizem.
Oceanos. Já existem pequenos projectos para extrair
energia das ondas, mas ainda está por determinar o papel Pilhas de combustível. As pilhas de combustível de alta
que esta tecnologia vai desempenhar no futuro mix energé- temperatura (incluindo SOFC, MCFC) produzindo calor e
tico. Apresenta um elevado potencial teórico. electricidade podem chegar a ser importantes para apli-
cações pequenas localizadas, juntamente com plantas de
Mini-hídrica. Leva muitos anos parada como I&D, não lhe cogeração de biomassa. As PEMFC, DMFC parecem mais
sendo atribuída excessiva importância, para além do desen- adequadas para o transporte e as aplicações de baixa
volvimento de estratégias a longo prazo. potência.

Combustíveis renováveis. A curto prazo é a melhor alter- Hidrogénio. Tal e qual como sucede com os veículos eléc-
nativa para reduzir substancialmente o consumo e as emis- tricos, a utilização de pilhas de hidrogénio requer infra-es-
sões no sector do transporte. Ainda que haja necessidades truturas de distribuição e abastecimento muito dispen-
de I&D em todos os aspectos das culturas energéticas e diosas. Por esta razão, a introdução no mercado será
sua conversão em combustíveis, as tecnologias de bioe- gradual, começando pelo ambiente urbano. A utilização
tanol e biodiesel já estão a penetrar no mercado, ainda que generalizada destas tecnologias será um longo caminho no
incentivados através da redução de impostos. A visão do qual se terá que adequar a capacidade de produção à
Biofuels Research Advisory Council [2] é a de que os biocar- procura. A I&D em H2 e pilhas deverá vir acompanhada do
burantes contribuirão até 25% das necessidades de
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

desenvolvimento das infra-estruturas necessárias a um economia europeia “a economia baseada no conhecimento


ritmo adequado. mais competitiva e dinâmica do mundo” no ano 2010.
301

Tecnologias limpas do carvão. As tecnologias limpas do O 7PM pretende servir como continuação do caminho
carvão, tendo em conta a disponibilidade e abundância empreendido pelo 6PM na construção do Espaço Europeu
deste recurso, constituem uma alternativa ao sistema ener- de Investigação (EEI), criando um mercado interno de
gético actual. O custo de capital das centrais avançadas de ciência e tecnologia, que fomente a qualidade científica, a
carvão é superior às de gás, mas os crescentes preços do competitividade e a inovação.
petróleo e do gás podem tornar mais competitiva a “geração
limpa” com carvão. É necessária uma considerável I&D na
investigação de materiais, integração de técnicas CCS e 2.3.1. Distribuição orçamental do 7PM
investigação para permitir às centrais operar com cargas
cíclicas e não apenas cobrir a carga base. Previsivelmente, a tendência do 6PM será repetida ao longo
do 7PM. A entrada de mais países faz com que os saldos
A utilização ambientalmente equilibrada de combustíveis de retorno dos actuais membros se vejam prejudicados,
fósseis depende da disponibilidade para capturar e arma- deixando Portugal de receber parte dos actuais subsídios,
zenar de forma permanente uma elevada fracção do CO2 em favor de outros países. Este facto levará a que seja o
emitido. É necessária I&D para verificar a viabilidade a longo nosso país a ter que financiar uma parte maior dos projectos
prazo das técnicas de CCS em diferentes situações. Os de I&D com fundos nacionais.
desenvolvimentos mais imediatos seriam a integração da
geração com carvão com as CCS e a maturidade comercial O 7PM conta com um orçamento total para investigação de
destas técnicas. 50.521 M€ (aumentando 246% respectivamente ao 6PM),
que se distribuem em quatro programas específicos:
Socioeconómica. A transição do sistema energético actual Cooperação, Ideias, Pessoas e Capacidades.
para um sustentável acarretará mudanças sociais e econó-
micas cuja magnitude deve ser considerada em sucessivas A prioridade Energia encontra-se incluida no programa de
investigações. Cooperação e a sua dotação económica é de 2.350 M€. Por
outro lado, as prioridades concomitantes Transporte

Inovação Tecnológica
(incluindo aeronáutica) e Meio Ambiente, estão dotadas de
2.2. Programa EURATOM
4.160 M€ e 1.890 M€, respectivamente.

A Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM) O objectivo da prioridade Energia é transformar o actual
adopta um Programa-Quadro independente de actividades sistema energético, baseado nos combustíveis fósseis,
de investigação e formação em matéria nuclear. O período num outro mais sustentável baseado numa ampla gama de
inicial de cinco anos pode ampliar-se para um total de sete fontes e vectores de energia, combinando por sua vez uma
de 2007 a 2013. melhoria da eficiência energética, para fazer frente aos
desafios, cada vez mais prementes, da segurança do abas- capítulo 13
O Programa-Quadro de actividade de investigação e tecimento e das mudanças climáticas. Visa também
formação compreenderá actividades comunitárias de inves- melhorar a competitividade das indústrias energéticas
tigação, desenvolvimento tecnológico, cooperação interna- europeias.
cional, difusão de informação técnica e exploração, assim
como de formação.
2.3.2. A prioridade temática Energia do 7PM

2.3. Sétimo Programa-Quadro


• Aceleração da penetração das fontes de energia
renováveis.
Oficialmente, o 6PM terminou a 31 de Dezembro de 2006,
tendo começado em Janeiro de 2007 um novo programa • Redução de emissões de CO2 na geração de energia
plurianual para acções de investigação, desenvolvimento e, no mais longo prazo, redução substancial das
tecnológico e demonstração, o 7PM, cujo período de emissões no transporte.
execução será de 2007 a 2013.
• Redução de emissões de outros gases de efeito
O 7PM pretende contribuir de forma substancial para a revi- estufa.
talização da Estratégia de Lisboa, adoptada pelo Conselho
Europeu de Lisboa de 2000, com o objectivo de fazer da • Diversificação das fontes de energia na Europa.
• Melhorar a competitividade da indústria europeia, logias de conversão melhoradas para as cadeias de
incluindo uma maior participação das PMEs. produção e abastecimento sustentáveis de combus-
302
tíveis sólidos, líquidos e gasosos obtidos da
Os Programas-Quadro de Investigação agrupam as áreas biomassa.
do conhecimento nas quais se pretende que a Europa
desempenhe um papel de liderança a nível mundial. Relati- • Fontes de energia renováveis para aquecimento e
vamente à energia não nuclear, os principais objectivos na refrigeração: Conseguir reduções de custos subs-
prioridade temática Energia organizam-se por tecnologias, tanciais, aumentar a eficiência e diminuir, ainda mais,
do seguinte modo: o impacto ambiental e optimizar a utilização das
tecnologias nas diferentes condições regionais.
• Hidrogénio e pilhas de combustível: aplicações
fixas, portáteis e de transporte em busca de criar • Tecnologias limpas de carvão: desenvolvimento e
uma base tecnológica sólida para construir uma demonstração de tecnologias limpas de conversão
indústria comunitária. do carvão, com os objectivos de aumentar significati-
vamente a eficiência e fiabilidade das instalações,
• Geração de electricidade a partir de fontes reno- minimizar a emissão de contaminantes e baixar os
váveis: desenvolvimento de tecnologias integradas custos gerais, em diferentes condições de funciona-
de produção a partir de energias renováveis, adap- mento.
tada às diferentes condições regionais, com o fim de
aumentar substancialmente a quota de produção • Tecnologias de captura e armazenamento de CO2
deste tipo de electricidade. na geração de electricidade com emissões
próximas de zero: desenvolvimento e demonstração
• Energias fotovoltaica, eólica, biomassa, geotér- de tecnologias eficientes e fiáveis de captura e arma-
mica, solar térmica, oceânica e mini-hídrica. zenamento (objectivo: 20 €/tnCO2, com índices de
captura de mais de 90%), assim como provar a esta-
• Produção de combustível a partir de fontes reno- bilidade, segurança e fiabilidade a longo prazo do
váveis: desenvolvimento e demonstração de tecno- armazenamento de CO2.

Painéis fotovoltaicos da Central Toledo PV.


MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• Redes inteligentes de transporte e distribuição: Tabela 2


Transformar as actuais redes eléctricas numa rede de Relação de prioridades temáticas entre Energia e outras
303
serviços resistente e interactiva (clientes/operadores) áreas do 7PM.
e eliminar os obstáculos à implantação a grande
escala, bem como à integração efectiva das fontes Prioridade
Relações com Energia
de energia renováveis e a geração distribuída. temática

• Poupança de energia e rendimento energético: Influência na saúde de novas fontes de


Saúde
energia, sistemas de diagnóstico portáteis.
Optimização, validação e demonstração de novos
conceitos de tecnologias para edifícios, serviços e
indústria. Combinação de estratégias e tecnologias Biotecnologia,
para o aumento da eficiência energética, a utilização Alimentação, Culturas energéticas, biocombustíveis.
Agricultura
da energia renovável, a poligeração e a integração
dos sistemas de gestão da procura a grande escala
Tecnologias de
em cidades e comunidades locais. Redes eléctricas inteligentes,
Informação e
controlo de geração distribuída.
Comunicação
• Criação de conhecimentos destinados à elabo-
ração da política energética: desenvolvimento de
Novos Novos materiais para aplicações
ferramentas, métodos e modelos para avaliar as prin- Materiais energéticas, pilhas de combustível.
cipais questões económicas e sociais relacionadas
com as tecnologias energéticas, incluindo a criação Redução do impacto ambiental na produção
de bases de dados e modelos hipotéticos para uma Meio de energia, armazenamento de CO2, tecnolo-
UE ampliada e a avaliação do impacto da energia e ambiente gias limpas de carvão, utilização de resíduos
como fontes de energia.
as políticas relacionadas com ela.

Novos combustíveis (CIVITAS), emissão


Transporte
zero, hidrogénio e pilhas de combustível.
2.3.3. Relação com outras prioridades temáticas

Inovação Tecnológica
As prioridades temáticas dos Programas-Quadro não são Novas fontes de energia, aplicação
Espaço
estanques, estando relacionadas umas com as outras. De de energias renováveis.
seguida indicam-se os vínculos que se podem estabelecer
entre outras áreas do 7PM com a área energética:
Segurança Fiabilidade no fornecimento energético.

2.4. Programa Energia Inteligente para


Europa (Intelligent Energy Europe) Fonte: Elaboração própria e programa de trabalho do 7PM.

capítulo 13
Com um orçamento de 727 M€ até 2013, este programa
centra-se na eliminação das barreiras técnicas, na criação O programa EIE é o mais próximo da inovação em matéria
de oportunidade de mercado e no aumento da sensibili- energética, já que pretende derrubar barreiras não tecnoló-
zação tanto dos particulares como da indústria e empresas. gicas, que se mantêm uma vez que determinada tecnologia
Isto é, abre caminho às tecnologias que estão a ser desen- se tenha revelado técnica e economicamente viável, mas
volvidas. que ainda se não tenha implementado de forma massiva no
mercado.
Em concreto, o programa Energia Inteligente para Europa
focaliza-se em três linhas de acção: 2.5. Plataformas tecnológicas europeias
relaccionadas com a energia
• Eficiência energética e utilização racional da energia
(SAVE). As plataformas tecnológicas são um agrupamento de enti-
dades interessadas num sector concreto (lobby), lideradas
• Fontes de energia novas e renováveis (ALTENER). pela indústria, com o objectivo de definir uma Agenda Estra-
tégica de Investigação sobre temas importantes e com
• Aspectos relativos à energia no âmbito do transporte uma grande relevância social, entre os quais atingir os
(STEER). objectivos europeus de crescimento, competitividade e
304

Detalhe de painel fotovoltaico de silício policristalino.

sustentabilidade, que dependem dos avanças tecnológicos e a utilização de sistemas energéticos e tecnologias
e da investigação a médio e longo prazo. de componentes baseadas em pilhas de hidrogénio
com um custo competitivo, para sua aplicação ao
Todas as plataformas tecnológicas partilham uma série de transporte e à energia estacionária e portátil.
características:
Esta plataforma pretende assegurar a participação equili-
• São lideradas pela indústria e os seus objectivos brada dos principais agentes (indústria, comunidade cientí-
estão relacionados com o crescimento da competiti- fica, autoridades públicas, utilizadores e sociedade civil) e
vidade. ajudar à consciencialização das oportunidade de mercado e
dos cenários energéticos das pilhas de combustível e hidro-
• Ampla implicação de diferentes entidades (indústria, génio.
autoridades públicas, investigadores, sociedade civil,
utilizadores e consumidores, etc.) Implicação das • Plataforma Tecnológica Europeia Fotovoltaica
autoridades nacionais. (http://ec.europa.eu/research/energy/nn/nn_rt/nn_rt_
pv/article_1933_en.htm). O seu objectivo é contribuir
• Enfoque operativo desde as fases iniciais. para um rápido desenvolvimento de uma tecnologia
fotovoltaica europeia competitiva a nível internacional
• Mercado potencial identificado para as tecnologias que contribua para a produção de electricidade
implicadas, cobrindo a cadeia completa, desde a sustentável.
investigação e desenvolvimento tecnológico até à
penetração futura a grande escala no mercado. • SmartGrids-Redes Eléctricas do Futuro
(http://www.smartgrids.eu). O seu objectivo é sugerir
A nível europeu, relacionadas com a energia encontram-se uma visão e estratégia de futuro para as redes de
definidas e operacionais as seguintes plataformas tecnoló- electricidade na Europa, incluindo a melhoria da
gicas: eficiência energética e a produção de energia limpa.
Assim sendo, as SmartGrids perseguem a identifi-
• Plataforma Europeia do Hidrogénio e das Pilhas cação das necessidades para a investigação, assim
de Combustível (www.hfpeurope.org). Os seus como fomentam a investigação pública e privada no
objectivos são facilitar e acelerar o desenvolvimento campo das redes eléctricas.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

• Central Termoeléctrica com Combustíveis Fósseis duzidas no mercado antes dos finais de 2010) são as
“Zero Emissões” (ETP ZEP) seguintes:
305
(http://www.zero-emissionplatform.eu/website/).
Procura a geração de electricidade com emissões • Biomassa: co-combustão, melhoria da eficiência,
“próximas a zero”. A plataforma pretende identificar e redução relativa das emissões de CO2 de origem
eliminar os obstáculos à criação de centrais gera- fóssil por unidade de energia útil produzida.
doras de electricidade eficientes, com emissões
próximas a zero. • Eólica: energia offshore e integração de sistemas na
rede.
• Plataforma Tecnológica de Reactores Arrefecidos
a Gás. O seu objectivo é o desenvolvimento de reac- • Fotovoltaica: disponibilidade de silício a custos
tores nucleares inovadores que satisfaçam tanto as razoavelmente menores e inovação na fabricação.
restrições económicas como as preocupações da
• Solar térmico de concentração: armazenamento de
sociedade (CO2, segurança, quantidade limitada de
longa duração e inovação em sistemas de trans-
resíduos) e por outro lado permitam a produção em
missão de calor.
grande escala de hidrogénio.
• Tecnologias limpas de carvão: gaseificação, polige-
• Plataforma Tecnológica Europeia de Energia
ração em grandes centrais e desenvolvimento de
Eólica (http://www.windplatform.eu/). Procura identi- técnicas de valorização de CO2.
ficar as prioridade de investigação até ao ano 2030 e
dirigir os fundos públicos e privados entre as áreas • Solar térmico de média e baixa temperatura: frio
de investigação chave. solar (absorção e adsorção), dessalinização, novos
desenhos e aplicações industriais.
• Plataforma Tecnológica Europeia de Biocarbu-
rantes (http://www.biofuelstp.eu/). O objectivo prin- • Combustíveis renováveis: estandartização, bioe-
cipal da plataforma do biofuel é a elaboração da visão tanol, biodiesel, combustíveis sintéticos e projectos
estratégica (Agenda Estratégica de Investigação) de demonstração.
com horizonte no ano 2030, assim como a criação de

Inovação Tecnológica
uma indústria europeia competitiva dos biocombustí- • Redes energéticas inteligentes: integração de ener-
veis e o estabelecimento de uma sociedade público- gias renováveis, simulação e validação e cenários de
privada no interesse de todos os interessados. desenvolvimento.

• Eficiência energética: Reutilização de calores resi-


duais, inovação energética em PMEs e indústrias,
poligeração mais energias renováveis. CIVITAS-plus.

capítulo 13
• Sistemas de conhecimento da energia: redes de
vigilância tecnológica.

2.7. Actuações estratégicas. Prioridades

Perante o facto dos recursos económicos para apoiar a


inovação energética serem limitados, há que criar priori-
dades na aplicação dos mesmos. Aquilo que se sugere a
nível europeu é o seguinte.

Para o transporte, as tecnologias que podem contribuir


Central Térmica de Meirama (La Coruña).
mais rapidamente para os objectivos de sustentabilidade a
longo prazo da UE incluem:
2.6. Actuações com resultado a curto prazo
• Redução da procura via políticas europeias
Seguindo os critérios aplicados nas primeiras convocatórias comuns: investigação em mudanças de comporta-
do 7PM, as actuações preferenciais nas quais se esperam mento, assuntos socioeconómicos, gestão do
resultados práticos no curto prazo (isto é, inovações intro- tráfego.
• Motores de combustão interna de elevada compromisso dos cidadãos de reduzir o consumo, torna-se
eficiência, para a sua utilização tanto com hidrocar- necessário um esforço para procurar novas possibilidades
306
burantes como com combustíveis biossintéticos e de poupança energética e das emissões em todos os
desenhos híbridos melhorados. sectores, incluindo os edifícios não residenciais privados.

• Desenvolvimento de uma infra-estructura de


matéria-prima biomássica para a produção de
3. I&D em energia em Portugal
biocombustíveis, com altos rendimentos, incluindo
produção a partir de biomassa lignocelulósica (garan-
tindo o apoio e coordenação das diferentes políticas). O sector energético, assume-se em todo o mundo, como
No entanto, as duas opções H2-pilha e veículos eléc- um dos domínios prioritários de I&D, face ao desafio que
tricos (ao menos inicialmente para uma determinada constitui o desenvolvimento sustentável. Assim o
faixa de aplicações) poderiam ser viáveis a longo demonstra o interesse dos governos e das empresas do
prazo, pelo que devem ser apoiadas. sector e, em particular, os planos da União Europeia para
I&D no âmbito do próximo Programa Quadro ( 7º Programa
Naquilo que se refere à geração eléctrica e de calor, as Quadro) sobre investigação e desenvolvimento tecnoló-
tecnologias que oferecem potenciais campos de melhoria gico.
rumo à sustentabilidade (gestão de emissões, segurança
de fornecimento, competitividade) a longo prazo são: A energia é um importante factor de crescimento da
economia portuguesa e um elemento vital para o desenvol-
• Renováveis: devem contribuir de uma forma impor- vimento sustentável do país. O Plano Tecnológico é um
tante e crescente, tanto a curto como a longo prazo. instrumento fundamental para aumentar o potencial de
A eólica terrestre e marítima, a fotovoltaica, a solar crescimento da economia portuguesa a médio e longo
térmica (de baixa, média e alta temperatura) e a prazo, através de actividades de investigação e desenvolvi-
biomassa. mento (I&D).

• Fissão nuclear: A implantação generalizada dos A energia tem um carácter transversal na busca de compe-
reactores de geração III e a aceleração no desenvol- titividade nos diversos sectores da economia. A relevância
vimento da geração IV, com ciclo fechado de combus- do sector é resultado da necessidade de reduzir a depen-
tível, assim como os sistemas de derrame e gestão dência energética de Portugal nos combustíveis fósseis,
de resíduos. Um debate político aberto também será dada a limitação das reservas mundiais das formas de
necessário dada a preocupação dos cidadãos. energia que deles dependem e o compromisso assumido
internacionalmente para redução global das emissões de
• Fusão nuclear: necessita de um forte esforço e gases com efeito de estufa.
compromisso a nível europeu e internacional.

• Carvão: Dado que a utilização do carvão aumentará 3.1. Política energética portuguesa em I&D
na Europa e a nível mundial, as melhorias na eficiência
da conversão, assim como o desenvolvimento de As fontes renováveis de energia em Portugal são mais do
tecnologias de captura e armazenamento, são de que uma necessidade ambiental, são também estratégias
importância para manter tanto o sistema energético para a segurança do abastecimento e desenvolvimento de
europeu como a competitividade da indústria. indústria, capaz de criar riqueza, particularmente em termos
de novos postos de trabalho. Neste contexto, é necessário
• Redes energéticas: os temas de rede eléctrica e gás encontrar soluções inovadoras que envolvam o fabrico de
continuam a ser de vital importância no desenvolvi- novos equipamentos, especialmente no domínio do Sistema
mento de um sistema integrado europeu. Eléctrico Nacional, que envolve tecnologias novas desde a
produção ao consumo, passando pela gestão integrada de
• Outras renováveis (geotérmica profunda, energia todo o sistema.
dos oceanos): também poderão contribuir no futuro
e necessitam de apoio na investigação para que O potencial de inovação no domínio da energia é significa-
avancem. tivo. Envolve um forte elemento tecnológico associado aos
equipamentos de conversão de energia, incluindo no campo
A eficiência na utilização final continuará a ser perseguida da prestação dos serviços associados, e um componente
pela indústria sem necessidade de apoio. No entanto, para sistémico e conceptual ligado aos equipamentos consumi-
além de uma forte intervenção política para conseguir o dores.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

O desenvolvimento do Plano Tecnológico na área da energia fica, passando pelos serviços de energia de acom-
envolve um conjunto de acções que visam a prossecução panhamento de obras e pela instalação e teste de
307
dos seguintes objectivos estratégicos: equipamentos.

• Reforço da investigação básica em domínios identifi- • Formação de técnicos para instalação e manutenção
cados, envolvendo as universidades e instituições de equipamentos, gestão dos diferentes sistemas de
científicas e tecnológicas. geração e verificação da eficiência energética nos
consumos.
• Promoção da investigação aplicada e de projectos-
piloto, envolvendo meios de simulação computa- • Definição de mecanismos que promovam a partici-
cional e experimental, para o que será necessário pação de pequenas e médias empresas no desenvol-
reforçar as estruturas laboratoriais existentes. vimento de produtos e soluções inovadoras no
domínio dos sistemas de energia.
• Transferência de tecnologias para fabricantes de bens
de equipamento e de software, incluindo a certifi- • A prestação de serviços de fornecimento de calor ou
cação e teste para produção de soluções comer- água quente associados a urbanizações ou edifícios
ciais. de serviços.

• Incentivo à exploração comercial das soluções desen- TABELA 3


volvidas pela criação de spin-offs e incentivo a Fundos Concedidos pelo 6º Programa Quadro
empresas existentes empenhadas em projectos
industriais na área da energia. Fundos
concedidos
6º PQ (M€)
• Sensibilização da indústria, da administração pública
e dos consumidores para as questões da eficiência Ciências da vida, genómica e
biotecnologia para a saúde 2.255
energética.
Tecnologias da sociedade da
informação 3.625
• Informação de parcerias e recursos financeiros dispo-

Inovação Tecnológica
nibilizados nos fóruns comunitários consagrados a Nanotecnologias 1.300
estas matérias e que ganharam um peso acrescido
com a reorientação estratégica que a União Europeia Aeronáutica e espaço 1.075
assumiu em matéria energética.
Qualidade e segurança
alimentar 685

3.2. Actividade das empresas Desenvolvimento sustentável,


alterações globais e ecossistemas 2.120

As maiores oportunidades para as empresas portuguesas Cidadãos e governação na capítulo 13


passam por: sociedade do conhecimento 225

Fonte: Comissão Europeia


• A prestação de serviços de energia que promovam a
eficiência energética e o financiamento por terceiros A política energética portuguesa em I&D foi elaborada de
de investimentos de redução dos consumos de acordo com as capacidades tecnológicas de Portugal
energia. partindo do planeamento de objectivos estratégicos de I&D
nos âmbitos nos quais se precise uma evolução.
• Criação de infra-estruturas e serviços de certificação
de equipamentos para produção de energia a partir Na secção seguinte são apresentadas actividades públicas
de recursos renováveis. de carácter institucional para Espanha.

• Criação de infra-estruturas e serviços de certificação


de equipamentos para produção de energia a partir 3.3. Actividade pública de carácter institucional
de recursos renováveis.
Centro de Investigações Energéticas, Ambientais e
• Concepção e projecto de sistemas que explorem Tecnológicas (CIEMAT).
energias renováveis, envolvendo o mapeamento dos
recursos com uso de sistemas de informação geográ-
O CIEMAT é um organismo público de investigação de
carácter sectorial que desenvolve actividades de investi-
308
gação, inovação e desenvolvimento tecnológico no âmbito
energético e ambiental. Dependente do MEC, mantém
vários programas de investigação e desenvolvimento. Os
principais âmbitos de actuação do CIEMAT são:

• Energias renováveis, 25,9% (13,1% corresponde às


actividades desenvolvidas à Plataforma Solar de
Almería, PSA):

- Biomassa. As linhas de investigação são:


obtenção de etanol (hidrólise, enzimática),
avaliação, caracterização, pré-tratamento e opti-
mização da biomassa como recurso energético
e, por último, a combustão da biomassa.

- Eólica. Sistemas eólicos isolados (híbridos


diesel ou fotovoltaica), volantes de inércia e
previsão eólica (horizonte 48 horas).

- Fotovoltaica. Materiais de película fina, módulos


baseados em silício depositado, integração em
edifícios...
Medição da grossura de células fotovoltaicas.
• Tecnologias de combustão e gaseificação, 5,1%. Fonte: CENER.
Dentro desta área incluem-se técnicas de valorização
energética de resíduos e combustíveis (co-com-
bustão, gaseificação) e aplicações com pilha de • CIEMAT CEDER. Especializado na biomassa, as suas
combustível e sua integração em sistemas estacio- duas linhas principais de investigação são: produção
nários e móveis. e avaliação de recursos de biomassa, culturas ener-
géticas, acondicionamento para sua utilização ener-
• Tecnologias de fissão nuclear, 6,8%. As principais gética e conversão termoquímica de biomassa (leito
linhas de investigação energéticas vão dirigidas aos fluído, gaseificação).
novos desenvolvimetos reflectidos na III e IV geração
de reactores nucleares. • CIEMAT PSA. Centro especializado em energia solar,
centrando grande parte das suas actividades em
• Fusão nuclear, 22,6%. O CIEMAT participa no ITER, sistemas de concentração. Tem grupos de investi-
grande projecto internacional para o desenvolvimento gação em energia solar térmica de média tempera-
da energia de fusão. tura, energia solar térmica de alta temperatura, em
hidrogénio solar e processos industriais e em LECE.
• Investigação básica, 17,21%.
Centro Nacional de Energias Renováveis (CENER)
• Meio ambiente, 22,3%. O Centro Nacional de Energias Renováveis dependente da
Fundação CENER-CIEMAT é um centro tecnológico nacional
Para a realização das suas actividades, o CIMAT conta com dedicado à investigação, ao desenvolvimento e ao fomento
vários centros especializados, além da sede central em das energias renováveis em Espanha. As suas áreas de
Madrid. Estes centros são: actividade são:
• Energia eólica. Conta com grandes recursos nesta
• CIEMAT Bierzo CO2. De recente criação (Julho de área. Membro de MEASNET. Proporciona suporte
2004) e ainda em desenvolvimento, procura conver- técnico à industria.
ter-se na referência institucional em I&D das tecnolo-
gias limpas de carvão. O objectivo da colocação em • Energia fotovoltaica. Está presente em projectos
funcionamento do centro é o desenvolvimento de nacionais e europeus de I&D relacionados com a
uma central “zero emissões” para o ano 2020.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

tecnologia do silício (BITHINK, de módulos bifaciais tativa, mostram-se de seguida os campos nos quais, dentro
de silício, por exemplo). do 6PM, a Universidade gerou interesse.
309

• Biomassa. Tem linhas de I&D em gaseificação para a • Meio ambiente em áreas urbanas (Arquitectura
produção eléctrica e em biocombustíveis (biodiesel, Bioclimática). Universidade de La Coruña, Universi-
etanol) provenientes tanto de culturas energéticas dade Jaume I, Universidade Politécnica de Barcelona
como de resíduos. e Universidade de Jaén.

• Arquitectura bioclimática. • Gaseificação de biomassa. Universidade Autónoma


de Madrid, Universidade de Barcelona e Universi-
Instituto Nacional de Técnica Aerospacial (INTA) dade Complutense.
As suas principais áreas de conhecimento em energia são
as aplicações de energia solar térmica de baixa tempera- • Terceira geração de conversores fotovoltaicos.
tura, especialmente a refrigeração por absorção e o hidro- Universidade de Oviedo, Universidade Politécnica de
génio juntamente com as pilhas de combustível. Madrid e Universidade de Sevilha.

Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) Outros organismos promotores da Inovação em matéria
É o principal organismo público de investigação. As suas de energia
áreas de interesse são múltiplas e muito variadas. Alguns Para além dos centros de I&D propriamente ditos existem
institutos adscritos ao CSIC têm actividades relacionadas em distintas instituições desde as quais se promove a
com a I&D energética, centrados principalmente na investi- investigação e a transferência tecnológica, mas sem realizar
gação básica. Estes centros são: por si mesmas as actividades de I&D.

• Instituto Nacional do Carvão (INCAR). Conta com • Instituto para a Diversificação e Poupança da
múltiplas linhas de investigação para a redução de Energia (IDAE). Participa na fase final da I&D através
emissões nos processos energéticos (gaseificação, da promoção da primeira implementação comercial
leito fluidizado). Destaca-se dentro das suas activi- das tecnologias que se consideram prontas para
dades o grupo de captura de CO2, com o desenvolvi- comercialização.

Inovação Tecnológica
mento de um técnica específica de carbonatação-
calcinação muito prometedora. • Centro para o Desenvolvimento Tecnológico
Industrial (CDTI). Entidade pública, dependente do
• Instituto de Carboquímica (ICB). Contam com MICYT, que promove a inovação e o desenvolvimento
múltiplos projectos de I&D nacionais. As suas princi- tecnológico das empresas espanholas.
pais linhas de investigação são: desenvolvimento de
catalizadores para a redução de contaminantes, • CENIFER. Navarra realizou um importante esforço
produção de H2 por descarbonização de combustí- em favor do desenvolvimento das energias reno-
veis fósseis e preparação de electrocatalizadores váveis e adquiriu uma liderança num sector em capítulo 13
suportados por carbono com pilhas poliméricas. contínuo crescimento, um mercado com grande
projecção de futuro e com valores acrescentados
• Instituto de Catálise e Petroquímica (ICP). As suas especialmente benéficos para a sociedade.
principais áreas de actividade com a energia são o
desenvolvimento de catalizadores e materiais para • Confederação Espanhola de Organizações Empre-
os processos químicos das pilhas de combustível. sariais (CEOE). Instituição que representa todos os
empresários espanhóis e que tem com finalidade
• Laboratório de Investigação em Tecnologias da primordial defender os seus interesses e contribuir
Combustão (LITEC). Centrado na física de fluidos da para o crescimento económico e bem-estar da socie-
combustão tanto de matéria fóssil como da dade espanhola.
biomassa.

Aparte dos centros de I&D, as universidades desempenham 3.4. Plataformas tecnológicas nacionais
um papel importante como centros de desenvolvimento relaccionadas com a energia
tecnológico e apoio técnico a distintos projectos de I&D
tanto de iniciativa pública como privada. É muito compli- As plataformas tecnológicas nacionais surgiram como apoio
cado registar todas as actividade de investigação das para as plataformas europeias, bem como mecanismos de
universidades espanholas, pelo que, de maneira represen- orientação e estruturação do sector a nível nacional.
As plataformas tecnológicas nacionais pretendem definir
actividades estratégicas de I&D que se ajustem, na medida
310
do possível, ao cenário europeu. Assim sendo, pretendem
criar uma massa crítica na indústria nacional que permita
orientar e optimizar os recursos públicos e privados.

3.5. Tecnologias com resultados a curto


prazo

Biomassa
As investigações em I&D com biomassa estão orientadas
em dois sentidos; por um lado, a melhoria da logística de
fornecimento e redução de custos de exploração, recolha,
transporte e tratamento. Por outro lado, para a produção
em utilização de biocombustíveis no transporte e geração
eléctrica.

Energia solar fotovoltaica


Na área fotovoltaica, o obstáculo é o limite à redução de
custos de fabricação que representa o preço do silício cris-
talino. A actividade neste sentido é a longo prazo e está
orientada para o desenvolvimento de materiais baseados
em outros elementos e a sistemas bifaciais ou de película
fina. O principal projecto português na área é a Central

3.6. Tecnologias com resultados a médio


e longo prazo

Prova de ensaio de um módulo do Simulador Solar Con-


tínuo.
Fonte: CENER.

desafios estão orientados para a produção de frio por abso-


rção. A alta temperatura (solar térmico de concentração), o
estado de desenvolvimento é inferior e orienta-se para a
produção eléctrica.

Energia eólica
A investigação centra-se numa redução da tarifa de
produção , melhorar a capacidade de penetração na rede
eléctrica e, a médio prazo, considerar eólica offshore.

Diferentes tipos de biodiesel. Energia dos oceanos


Fonte: CENER. Trata-se de uma tecnologia ainda em desenvolvimento.
Iniciativas em Portugal:
Fotovoltaica de Moura com 46 MW instalada.
• Testes do Pelamis: Protótipo com 750 kW.
Energia solar térmica
Dentro deste conceito tecnológico encontramos, segundo • Central de Coluna de Água Oscilante do Pico com
a temperatura de operação, distintos graus de maturidade 400kW.
tecnológica. Por um lado, a baixa temperatura os principais
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

tivas para promover a I&D em captura e armazenamento de


CO2.
311

4. Conclusões

4.1. Actuações em I & D de energia a


impulsionar em Portugal

No quadro europeu de investigação existem particulari-


dades que diferenciam tanto as políticas de I&D dos dife-
rentes países entre si e respectivamente aos Programas-
Quadro da UE. E Portugal não resulta como uma excepção
e enquanto nalguns campos joga um papel de investigador,
noutros a sua presença é meramente de testemunha. Claro
está que nenhum país pode aspirar a liderar todos os
campos de desenvolvimento na energia, mas o importante
é situar-se de tal forma que, à medida que se vai clarifi-
cando o futuro das tecnologias energéticas, esteja prepa-
rado para adptar-se de forma competitiva ao novo quadro.
Para que isso aconteça, dentro das tecnologias-chave iden-
tificadas nos sucessivos programas-quadro, Portugal deverá
seguir aquelas rotas que, pelo seu elevado peso específico
(hidrogénio) ou pela sua facilidade de inserção na sociedade
portuguesa (solar, eólica) tragam valor ao sistema energé-
tico.

Inovação Tecnológica
4.1.1. Com resultados a curto prazo

Eficiência energética. As actuações necessárias neste


Central de TRACJUSA para tratamento de excrementos campo são:
por digestão anaeróbia.
Fonte: CENER. • Ferramentas de previsão e de gestão da procura.

Pilhas de combustível • Arquitectura bioclimática, Sistema de Certificação de capítulo 13


A pilha de combustível é uma tecnologia incipiente que Edifícios.
está na fase de demonstração de viabilidade técnica e
económica, mas que necessitará de apoio para a sua imple- • Poligeração, isto é, geração com vários combustíveis
mantação. É também necessária inovação para baixar os e tecnologias, e trigeração, isto é, produção de elec-
custos de produção. tricidade, calor e frio de forma combinada.

Hidrogénio Entre as medidas previstas, algumas das que se baseiam


Tradicionalmente, o conceito de pilhas de combustível e em inovação tecnológica concreta são as seguintes:
hidrogénio estavam unidos, mas hoje em dia é necessário
separá-los ainda que sejam campos complementares. As • Agricultura: migração de sistemas de rega por
linhas a potenciar são a geração de hidrogénio limpo e o aspersão para rega localizada.
desenvolvimento dos componentes necessários para a
futura economia do hidrogénio. • Regulação e controle de sistemas de iluminação
pública (tensão e frequência).
Tecnologias limpas de carvão
Portugal parte com um atraso importante no desenvolvi- • Renovação das frotas de veículos por outros com
mento das tecnologias de captura e armazenamento de motores mais eficiêntes.
CO2. Apenas nos últimos anos surgiram em Portugal inicia-
• Isolamento das envolventes dos edifícios. • Novo projecto de colector cilindro-parabólico e
geração de vapor directa no colector.
312
• Criação do Sistema de Gestão de Consumos Inten-
sivos de Energia. • Concentradores disco-parabólicos.

Quanto a renováveis, para além das inovações previstas Energia solar de baixa temperatura:
nos programas de I&D, há que ter em conta as mencio-
nadas no PNER. • Desenvolvimento de colectores de baixo custo para
aplicações de baixa temperatura.
Energia eólica. Deve-se harmonizar a presença no sector
com uma maior presença internacional. As actuações • Aplicações de refrigeração com energia solar, apli-
necessárias neste campo são: cações industriais e dessalinização.

• Gestão da produção. Fotovoltaica:

• Controle e adequação da potência da máquina e • Produção de matéria-prima, silício.


parque. Qualidade da energia cedida à rede.
• Colectores de concentração e alta concentração
• Geradores sincronizados, de potência superior a (lentes fresnel).
2 MW.
• Integração da fotovoltaica em edificios e serviços.
• Energia eólica offshore: parques de demonstração e
aerogeradores mais fiáveis. Bioenergia. Portugal deverá impulsionar definitivamente a
utilização da bioenergia alcançando os níveis europeus de
Energia solar de alta temperatura. O recente desenvolvi- desenvolvimento. Por um lado, fomentando a implantação
mento da tecnologia solar de concentração com a intro- de cadeias de distribuição que cheguem aos potenciais
dução de centrais de demonstração é uma oportunidade utilizadores e, por outro, investigando as possibilidades de
para uma tecnologia ainda em desenvolvimento. As culturas energéticas lignocelulósicas no seu território.
actuações recomendáveis são:
• Estabelecimento de cadeias de produção/distri-
• Optimização de custos e funcionamento. buição: culturas, maquinaria e sistemas de recolha e
manuseamento da biomassa, sistemas de acondicio-
• Fomento de instalações de demonstração. namento prévio à utilização.

• Sistemas fotovoltaicos de concentração. • Biocarburantes. Segunda geração de tecnologias de


fabricação a partir da celulose, algas, gorduras
• Modelos de previsão da radiação solar incidente. animais, etc. Selecção e melhoria de espécies, procu-
Este conceito é comum à energia solar fotovoltaica e rando mais amido e menos proteína (bioetanol).
à solar térmica.

O Projecto MEDUSA, desenvolvido pelo Grupo Gas Natural no porto de Corunha, tem o objectivo de minimizar as
emissões de pó devidas à descarga de carvão que tem como destino a Central Térmica de Meirama.
MANUAL DE EFICIENCIA ENERGÉTICA

Espécies oleaginosas mais frugais e adaptadas • Células fotovoltaicas bi-faciais e de novos materiais
perfeitamente à agricultura espanhola (biodiesel). fotossensíveis de menor custo.
313

• Biogás. Melhoria da eficiência da produção e limpeza, • Demonstração da segunda geração de biocarbu-


co-digestão, injecção de biogás na rede de gás rantes. Biorrefinarias.
natural. Melhoria do rendimento dos motores.
• Previsão a longo prazo da produção eólica. Utilização
Captura de CO2. Actualmente, a tecnologia mais promete- do hidrogénio como agente acumulador da energia
dora e já demonstrada é a absorção com aminas. Esta será excedentária.
a primeira que se irá desenvolver e generalizar.
• Planos estratégicos para energias geotérmicas e
oceânicas.
4.1.2. Estratégias a longo prazo
Energia nuclear. Enquanto se desenvolve a energia de
O grande desafio tecnológico, que alguns marcam como o fusão, a fissão deverá superar as barreiras sociais para
objectivo para o ano 2050, é a descarbonização da energia, desempenhar um papel no futuro energético português.
isto é, eliminar a emissão de CO2 da equação. Para isso, Para isso é essencial o desenvolvimento de tecnologias
hoje em dia identificam-se vários caminhos: o hidrogénio que gerem menos resíduos e com menor vida média.
como vector energético, as pilhas de combustível, as tecno-
logias limpas do carvão e as energias renováveis. • Armazenamento de resíduos seguro e de longa
duração.
Captura e armazenamento de CO2. Hoje em dia, este é um
processo possível mas economicamente inviável. É neces- • Ciclo supercrítico: geração III e III+.
sária uma investigação profunda para reduzir os custos e
implementar estas tecnologias em grande escala. Neste • Reactores de neutrões rápidos.
campo apresentam-se as seguintes oportunidades:

Pilhas de combustível. Haveria que equiparar ao nível

Inovação Tecnológica
europeu os níveis de investigação portugueses. Será vital
não perder a revolução tecnológica inerente ao H2 e seria
recomendável apoiar:

• Investigação básica em componentes e para a inte-


gração das pilhas nos diferentes sistemas energé-
ticos.

• Fomento do desenvolvimento da indústria nacional capítulo 13


de fabricação de pilhas.

• Projectos de demonstração.

Hidrogénio. As acções a realizar seriam:

• Elaboração de um plano estratégico.

• Fomento de tecnologias alternativas de produção/


distribuição de hidrogénio. Geração do hidrogénio
limpo através de renováveis.

• Viabilidade e eficiência dos processos de produção.

Energias renováveis. Os passos que estão a ser dados a


curto-médio prazo marcarão o futuro das energias reno-
váveis. Deverão estar abrangidas por um plano estratégico
que as realize. Observam-se as seguintes oportunidades:
c r é d i t o s

01 Introdução 05 Eficiência e Poupança Energética


no Sector dos Serviços
Vicente Soler Crespo
Engenheiro de Minas Guillermo Escobar López
Professor de EOI Aránzazu Sastre López
Escola de Negócios Alberto Nicolás Martínez
Besel, SA. Empresa Colaboradora de EOI
Escola de Negócios

02 Eficiência e Poupança Energética 06Eficiência e Poupança Energética


no Sector Doméstico no Urbanismo e Edificação
Guillermo Escobar López Guillermo Escobar López
Aránzazu Sastre López Aránzazu Sastre López
Alberto Nicolás Martínez Alberto Nicolás Martínez
Besel, SA. Empresa Colaboradora de EOI Besel, SA. Empresa Colaboradora de EOI
Escola de Negócios Escola de Negócios

03 Eficiência e Poupança Energética 07 Eficiência e Poupança Energética no


na Indústria I Transporte. Biocombustíveis
Guillermo Escobar López Guillermo Escobar López
Julio Rojo Alonso Ester Güiza
David Román Pereda Rocío Arias
Besel, SA. Empresa Colaboradora de EOI Besel, SA. Empresa Colaboradora de EOI
Escola de Negócios Escola de Negócios

04 Eficiência e Poupança Energética 08Energias Renováveis: Eólica


na Indústria II
Cosme Arana
Guillermo Escobar López Violeta Paniello
Julio Rojo Alonso Roberto Sánchez
David Román Pereda Besel, SA. Empresa Colaboradora de EOI
Besel, SA. Empresa Colaboradora de EOI Escola de Negócios
Escola de Negócios
09 Energias Renováveis: Solar 13 Inovação Tecnológica
Isidoro Lillo Bravo Guillermo Escobar López
Manuel Silva Pérez Engenheiro de Minas
Valeriano Ruíz Hernández Professor de EOI
E.S. de Ingenieros UniversIdad de Sevilla Escola de Negócios
Professores de EOI
Escola de Negócios

10 Energias Renováveis: Cogeração,


Biomassa
Javier Grande Martín
Guillermo Escobar López
Besel, SA. Empresa Colaboradora de EOI
Escola de Negócios

11 Energias Renováveis: Geotérmica


e Mini-hídrica
Roberto Sánchez
Violeta Paniello
Ester Güiza
Ignacio Jiménez
José María Sánchez
Besel, SA. Empresa Colaboradora de EOI
Escola de Negócios

12 Geração de Energia Eléctrica


Vicente Soler Crespo
Engenheiro de Minas
Professor de EOI
Escola de Negócios

Impresso em papel ecológico e sem cloro

© EOI ESCUELA DE NEGOCIOS


© Centro de Eficiencia Energética del Grupo Gas Natural
RESERVADOS TODOS LOS DERECHOS
EDITA: GRUPO GAS NATURAL

Diseño y Maquetación: Global Diseña


Impresión: División de Impresión
Depósito Legal: M-51519-2008

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