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:: LITERATURA::
O mestre Graça
Pesquisadores lembram os 50 anos da morte de Graciliano Ramos
Oscar D’Ambrosio
Angústia existencial
A trajetória de um clássico
Se fosse um romance, a vida de Graciliano Ramos seria um best seller. Sua trajetória é
repleta de angústia e sofrimento. Nascido em Quebrangulo, AL, em 27 de outubro de
1892, foi caminhando – como Fabiano, Sinhá Vitória, os meninos e a cadela Baleia, em
Vidas secas – junto com o pai, comerciante, com menos de três anos, em meio à seca,
para Buíque, PE. Com uma doença nos olhos que lhe deixava as pálpebras inflamadas,
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16/09/2019 ACI - Assessoria de Comunicação e Imprensa
era chamado de “cabra-cega” pela mãe. Publica seu primeiro texto, “O pequeno
pedinte”, em 1904 e, aos 18 anos, muda-se para Palmeira dos Índios, AL, onde trabalha
na loja de tecidos do pai. Quatro anos depois, vai para o Rio de Janeiro, para trabalhar
como revisor, mas logo retorna e se estabelece. Casa-se com Maria Augusta de Barros,
paixão da adolescência, que morre, em 1920, ao dar à luz o quarto filho do casal.
Seis anos depois, com o assassinato do prefeito em uma briga política, é eleito para o
cargo. Abre estradas, mata cachorros sem dono e multa o próprio pai por deixar
animais soltos nas ruas da cidade. Conhece a jovem Heloísa, com quem se casa em
apenas 45 dias, e escreve relatórios ao governo estadual numa linguagem literária que
logo chama a atenção. Consegue assim espaço para, quatro anos depois, em 1933,
fazer a sua estréia em livro, com Caetés.
Convidado para dirigir, em Maceió, a Imprensa Oficial do Estado, aceita, mas logo se
decepciona com a vida de burocrata e retorna a Palmeira dos Índios. Com a Revolução
de 1930, é chamado para ser diretor da Instrução Pública, uma espécie de secretário da
Educação. Rígido, chega de surpresa aos grupos escolares, sabatina professoras e
implanta a merenda escolar e cursos de aperfeiçoamento.
Considerado homem de esquerda, embora só viesse a se filiar ao PCB em 1945, é preso
em 1936. Durante quase um ano, passa por carceragens em Maceió, Recife e Rio de
Janeiro, na Colônia Correcional de Ilha Grande, em episódios narrados no livro
Memórias do cárcere, publicado em 1953. Deixa a prisão, doente, em 1937. Pobre,
mora com a esposa e duas filhas pequenas numa pensão carioca, onde escreve, em
capítulos autônomos, para serem facilmente vendidos, Vidas secas. Arruma novo
emprego público e se estabelece no Rio. Em 1953, é internado na Casa de Saúde São
Vitor, com câncer de pulmão, resultado de uma vida de fumante inveterado. Falece em
20 de março, ainda sem ver respondida a pergunta que fizera em carta à mulher
Heloísa, ao escrever São Bernardo, publicado em 1934: “Quem sabe daqui a 300 anos
eu não serei um clássico?”.
(O.D)
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