Preparação e interpretação de New Orleans, obra
para trombone baixo e piano de Eugène Bozza:
análise e reflexão para o seu estudo
Viana do Castelo, 17 de fevereiro de 2017
Miguel Alexandre Forte de Barros
nº 10729 /CISP
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Índice
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 4
1 CONTEXTUALIZAÇÃO ....................................................................................................... 5
1.1 ESTILOS, INFLUÊNCIAS E CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ................................................. 5
1.2 EUGÈNE BOZZA (1905-1991) ............................................................................................... 5
1.2.1 New Orleans ................................................................................................................. 6
2. COATIVAÇÃO .................................................................................................................... 7
2.1 ANÁLISE .................................................................................................................................. 7
2.2. DIÁRIO DE BORDO .............................................................................................................. 11
CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 17
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 18
ANEXOS ................................................................................................................................. 19
ANEXO A – PARTITURA DA OBRA NEW ORLEANS PARA TROMBONE BAIXO E PIANO DE
EUGÈNE BOZZA: ......................................................................................................................... 19
Introdução
No processo de escolha do tema para a Prova Teórica no Projeto de Aptidão
Profissional, eu, juntamente com o meu professor, Gonçalo Dias, optamos pela peça “New
Orleans” do compositor francês Eugène Bozza, para trombone baixo e piano.
Esta peça irá contribuir para o meu desenvolvimento enquanto aluno e enquanto
músico e performer. Primeiro, por nunca ter trabalhado nenhuma obra deste compositor;
depois, por ser uma das peças standard mais importantes do reportório do meu
instrumento; por último, por se tratar de uma das peças mais requeridas pela maioria das
orquestras nas suas audições sobretudo na Europa. Por tudo inframencionado, penso que
será uma peça que me fará evoluir tanto do ponto de vista estilístico como técnico.
Com esta obra pretendo estudar principalmente o estilo, ultrapassar e aperfeiçoar
todas as dificuldades técnicas que a peça exige, desenvolver a expressividade e
musicalidade necessária para a execução da obra. Por exemplo, o registo agudo, que é
predominante nesta peça, consiste num obstáculo que dificulta a execução da obra.
1 Contextualização
1.1 Estilos, Influências e Contextualização histórica
O prodígio compositor viveu praticamente todo século. Foi um contemporâneo que
compilou na sua música diversas correntes musicais nomeadamente, o expressionismo, o
futurismo, o objetivismo, o serialismo, o minimalismo e o maximalismo. Os trabalhos de
Bozza não contam com uma grande história de inovação musical, no entanto, Bozza
explora melhor a sonoridade, o timbre e as articulações que pretende nas suas produções.
(Seth Brodsky http://www.eugenebozza.com)
Nas suas obras é muito eclético onde escreve com liberdade e como acha melhor,
e não induz uma determinada corrente ou um determinado estilo, no entanto são
amplamente conhecidas por serem muito sensíveis às técnicas do instrumento para o qual
são compostas.
O seu estilo mostra muitas tradições da escola impressionista francesa misturada
com o domínio fundamental da harmonia de Bach. As suas composições podem ser
colocadas dentro do género neoclassicista, que também é povoada por Darius Milhaud e
Igor Stravinsky.
Uma das suas grandes influências era também o jazz, blues e o ragtime. Com o
melhoramento de métodos de gravação, como a gravação eletrónica, o jazz ultrapassou
as fronteiras e foi-se expandindo geograficamente. Tais circunstâncias levaram a que
compositores mais recentes incluíssem este estilo nas suas escritas.
Outro elemento significativo da produção de Bozza foram os métodos educacionais
e os livros de estudos. Durante os seus anos como diretor em Valenciennes, Bozza compôs
pelo menos 18 livros de estudos para muitos instrumentos, incluindo: violino, contrabaixo,
flauta, oboé, clarinete, fagote, saxofone, trompete, trompa e trombone. Todos estes
métodos de estudos justificam a sua popularidade em diversas escolas de música.
1.2 Eugène Bozza (1905-1991)
Bozza nasceu em 1905 em França, na cidade de Nice. Bozza juntamente com os pais
mudaram-se para Itália no ano de 1915 para fugir a 1ª Guerra Mundial. Começou o seu
percurso musical no violino, piano e solfejo em Roma na Academia Nacional de Santa
Cecilia. No ano de 1919 graduou-se e conseguiu o diploma de violino. Mais tarde mudou-
se para a capital francesa, Paris. Estudou no conservatório de Paris, onde foi um dos mais
prestigiados alunos. Ao 2º ano de estudos em Paris, ganhou um Premier Prix no concurso
do conservatório, e ainda o prestigiado lugar de concertino na orquestra Pasdeloup em
1925. Depois 5 anos de tournée pela Europa com a orquestra, Bozza renunciou e voltou
ao Conservatório para estudar direção com Henri Rabaud. Continuando como um
excelente aluno, Bozza terminou seu estudo para maestro em 1931, ganhando outro
Premier Prix, mas, desta vez, em direção. Bozza foi solicitado como maestro titular para os
Ballets Russos de Monte Carlo, onde permaneceu apenas um ano antes de voltar ao
Conservatório de Paris pela terceira em 1932 para estudar composição musical. Também
em composição ganhou, dois anos mais tarde, outro Premier Prix. (Hervé Lussiez,
http://www.musimem.com/prix-de-rome.html)
Bozza ganhou, em 1934, com uma cantata de um ato o Prix de Rome. Como
recompensa do prêmio, ele viveu em Roma na Villa de Medici nos seguintes quatro anos
e cinco meses para que ele se pudesse concentrar e crescer como compositor. Em Roma,
Bozza compôs várias obras de grande escala como a sua ópera Leonidas, Salmos, e a
Introduzione e Toccata para piano e orquestra. (Hervé Lussiez,
http://www.musimem.com/prix-de-rome.html)
Mais tarde conseguiu um lugar com o cargo de maestro da Ópera Cómica de Paris na
década de terror entre os anos de 1938 e 1948. (Seth Brodsky
http://www.eugenebozza.com)
Mudou-se 3 anos depois para Valenciennes, onde dirigiu a Ecole Nationale de Musique
até à sua reforma no ano de 1975. Os anos passados em Valenciennes foram os anos
mais produtivos da vida do músico, tendo o mesmo composto muitos de seus livros de
estudos e trabalhos a solo durante este tempo para estudantes e professores da escola.
Para além disso, ao mesmo tempo que trabalhava na École Nationale, foi eleito Chevalier
da Légion d'Honneur, em 1956. (Seth Brodsky http://www.eugenebozza.com)
Após a sua reforma, em 1975, Bozza permaneceu na cidade onde trabalhou grande parte
da sua vida e continuou a fazer o que gostava, compôr. Mais tarde Bozza adoeceu e morreu
em 1991. (Seth Brodsky http://www.eugenebozza.com)
2. Coativação
2.1 Análise
Esta peça está dividida em 3 partes distintas nas quais se distinguem facilmente
pelo seu carácter e textura. A primeira parte vai até ao nº4, parte esta bastante livre de
forma, alternando entre momentos bastantes líricos e expressivos com passagens rápidas
enérgicas e fugazes.
A segunda parte vai do nº 4 até ao nº 8, esta parte não é uma parte totalmente livre,
é mais de carácter lírico e ainda mais profunda que a primeira parte, nesta parte já se
encontra a pulsação mais definida. Por último a terceira parte vai do nº8 até ao fim. Esta
parte, definitivamente é uma parte mais rítmica em que apela a que o executante mostre
toda a sua técnica.
Como já referi, esta obra tem influências jazzísticas, e como tal podemos observar
em vários pontos da obra, frases melódicas e harmonia inspiradas na escala de blues:
Primeiro acorde
da obra
Fig.1-Escala de Dó Blues
Com estas duas figuras conseguimos ver o primeiro acorde da obra e por baixo
temos a escala de blues em Dó. Assim conseguimos associar o acorde com a escala.
Basicamente é um acorde de Dó Maior com tensões de b3 (Ré#) e sétima menor (lá#).
Fig.2- Nº1 até ao compasso 8
Fig.4-Tema no piano no nº 5
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2.2. Diário de Bordo
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Como a peça tem um âmbito musical bastante amplo, explora tanto o registo grave
como o agudo do Trombone Baixo, tive de trabalhar bastante o registo agudo com alguns
estudos e exercícios, pois o registo agudo era uma das maiores dificuldades da peça New
Orleans para mim. Na próxima figura podemos observar a distância de registos usados na
peça.
Fig.6-Registo utilizado
Apesar desta peça possuir e conter um carácter mais livre ao inicio, desde o inicio
ate ao nº 4, temos referências de tempo que mudam com bastante frequência sobretudo
na primeira parte. Senti-me, na obrigação de assimilar muito bem todas estas mudanças
para me familiarizar com a peça e puder respeitar todas estas mudanças, mas ao mesmo
tempo fazer a minha interpretação sem deixar de respeitar a partitura.
Procurei também nas primeiras aulas perceber toda a partitura a nível da forma e
da junção e relação da parte solística com a parte de piano.
Umas das partes mais difíceis para mim foi a interpretação da peça por ser um tipo
de música com que eu não estava muito familiarizado, sobretudo a primeira parte da peça
que tem um carácter dado a uma interpretação mais livre. No segundo compasso da obra,
aparece a indicação já em cima referida “a piacere” que me dá um pouco de liberdade em
relação ao tempo, situações idênticas continuam a aparecer nesta parte.
Como tive alguma dificuldade quanto à interpretação, então foi sugerido pelo
professor, imaginar uma personagem em que pudesse encarnar discursando um
monólogo. Foi apenas uma ideia, mas ajudou-me bastante a entrar na música e abstrair-
me um pouco a partitura. Trabalhei também o máximo de expressividade possível para que
o discurso da personagem fosse claro e credível. Para melhorar a expressividade tentei
enfatizar certas notas, como é o caso do glissando no inicio do compasso 8.
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Durante toda a primeira parte procurei uma sonoridade bastante ampla em todas
as partes mais livres indicadas com “a piacere, cédez e rubato”, e uma sonoridade mais
leve nas partes mais técnicas e rápidas de forma a poder criar o contraste pretendido pelo
compositor.
Esta foi uma das partes também onde tive mais dúvidas e dificuldades com as
respirações, pois algumas frases tal como a primeira, são bastante longas e com registo
grave, por isso tive de definir muito bem todas as respirações e trabalhar mais a minha
capacidade respiratória para conseguir suportar essas mesmas frases sem interromper o
discurso musical pretendido.
Fig.8-Exemplo da primeira frase em que o “v” simboliza a respiração
Algumas passagens exigiram um trabalho mais pormenorizado pela sua dificuldade
não só de técnica, mas também de afinação e articulação.
Com o exemplo seguinte eu pretendo mostrar uma dificuldade que tive no número
1 da peça. Nesta passagem devido ao conjunto de articulações, notas e à indicação dada
pelo compositor (animando), tive de trabalhar um pouco nota a nota para que não houvesse
erros de notas e ainda trabalhar de forma bastante lenta para clarificar a articulação
necessária que o autor pretende. O trabalho com metrónomo foi essencial para ultrapassar
esta dificuldade.
Fig.9-Dificuldade técnica
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No próximo exemplo, apresento uma das passagens difíceis nesta 3ª parte devido
aos intervalos difíceis e alternância de registos em conjugação com articulações e
dinâmicas. Também nesta passagem fui obrigado a trabalhar de forma pormenorizada e
para me ajudar fiz estudos técnicos de intervalos do livro de “Arban´s Famous Method for
Trombone”
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Conclusão
Em suma, este trabalho serviu de enriquecimento para desenvolver as minhas
capacidades como instrumentista, conhecer a escrita de Eugène Bozza, e principalmente
serviu para me ajudar a interpretar de uma forma mais elaborada a obra “New Orleans”.
Como tal, esta obra foi um bom desafio, pois no inicio tudo parecia difícil, mas com
o trabalho que eu e o meu professor desenvolvemos, tudo se tornou mais fácil. A utilização
do gravador como técnica de estudo ajudou também com que pudesse corrigir os meus
erros de forma mais rápida e eficaz.
Sinto que esta peça me obrigou a trabalhar e superar aspetos que considero
bastante difíceis, fazendo com que tenha evoluído tanto como instrumentista, como na
parte da minha cultura musical.
O sentido musical é, em todos os casos, mais uma construção do que uma tradução
ou uma reprodução; e a composição é em si própria, essencialmente, uma performance
intencional e imaginada. (Correia, J. 2007 p.67)
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Bibliografia
Arban, J. (1936) Arban's Famous Method for Trombone. Editor: Charles L. Randall e
Simone Mantia. Publicado por: Carl Fischer
Bozza, E. (1962). New Orleans: pour saxhorn basse si b ou tuba ut ou trombone basse et
piano. Paris: Alphonse Leduc.
Bordogni, M. (s.d.) 43 Bel Canto Studies For Tuba (or Bass Trombone). Robert King
Music.
Griffiths, P. (1980). Bozza, Eugène. In S. Sadie (Ed.), The New Grove Dictionary of Music
and Musicians (p. 148). (v.3). Reino Unido: Macmillan Publishers Limited 1980.
Pederson, T. (1971) Advanced Etude For Bass Trombone. Date Music Inc.
Ted, G. (s.d.) The history of the jazz. New York: Oxford University Press.
Disponível em: https://www.questia.com/library/80454647/the-history-of-jazz
consultado a 25-10-2016
Vernon, C. (1995) A “Singing” Aproach To The Trombone (and other brass). Atlanta Brass
Society Press.
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Anexos
Anexo A – Partitura da obra “New Orleans” para trombone baixo e piano de
Eugène Bozza:
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