Filosofia Antiga I
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As Origens da Filosofia
Do Mito á Filosofia
a) Conceito do mito
c) Orfismo
O Orfismo era uma religião de mistérios no antigo mundo grego, difundido a partir dos
séculos VII e VI a.C. Seu fundador teria sido o poeta Orfeu, que desceu ao Hades e
retornou. Os órficos também reverenciam Perséfone (que descia ao Hades a cada
inverno e voltava a cada primavera) e Dionísio ou Baco (que também desceu e voltou
do Hades). Como os mistérios de Elêusis, os mistérios órficos prometiam vantagens no
além-vida. Esses cultos de mistérios, que prometiam uma vida melhor após a morte,
parecem ter influenciado o início do cristianismo.
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Peculiaridades
Evidências
Mitologia
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Protogonos, perdida, composta cerca de 500 AEC, só é conhecida
através de comentários encontrados em papiros e de referências
nos autores clássicos, como Empédocles e Píndaro. A "Teogonia
Eudemiana ", também perdida, foi composta no século V AEC, e
teria sido o produto de um culto sincrético Baco-Curético. A
Teogonia Rapsódica, também perdida, composta na idade
helenística, incorporava os trabalhos anteriores, e ficou conhecida
através de sumários nos escritos de autores neo-platonistas. Já
os Hinos Órficos, 87 poemas hexamétricos de extensão mais
curta, foram compostos no final da era helenística ou início da
era imperial romana.
Mito de Orfeu
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o poeta deixasse o Hades, seguido por ela, sem olhar para trás uma
única vez. Atormentado pela dúvida, porém, Orfeu não resistiu e pouco
antes de sair olhou para trás. Eurídice teve que retornar e o desolado
músico, por sua vez, voltou ao mundo dos vivos.
Algum tempo depois, por razões mal esclarecidas pelas diversas lendas,
morreu esquartejado por um grupo de mulheres enfurecidas, as
mênades. A cabeça de Orfeu caiu no mar e chegou até a ilha de Lesbos,
onde os habitantes ergueram-lhe um túmulo de onde, dizia-se, era
possível ouvir com frequência o som de uma lira...
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β) Cosmogonia — Ensinava que no princípio existiu o Caos e a Noite.
O ―Chãos‖ deve compreendê-lo literalmente como o vácuo abissal ou o
precipício. A Noite gerou um ovo, o ovo cósmico, donde nasceu o amor
(Eros) alado. "E este, consorciado com o abismo hiante, alado e
nocturno, no vasto Tártaro, deu origem ao nosso género e o trouxe fora,
para a luz. Não havia o género dos mortais, antes de ser reduzido à
unidade pelo amor; quando, porém, ele uniu uma parte com outra,
surgiu o Céu, e o Oceano, e a Terra, e o género imortal de todos os
deuses". Segundo uma fonte mais recente, a origem primitiva do
Cosmos foi um dragão com cabeça de touro e de leão: no meio, porém,
tinha o rosto de um deus, e nos ombros, asas. 3Ê conhecido como o
deus do Tempo eternamente jovem. O dragão produziu uma tríplice
seminação: o Éter húmido, o Abismo ilimitado e hiante e a nebulosa
Escuridão; e além disso, de novo, um ovo cósmico.
d) O mito e o Logos
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examinar se os presumidos instrumentos racionais‘ ‗de pensamento
filosófico também estão, na realidade, todos racionalmente fundados.
Talvez não o sejam. E isto não somente por uma recusa, mas porque o
espírito ultrapassa o "saber" e abrange o mito, num sentido positivo,
como um caminho apropriado para a sabedoria. De maneira que
somente o crente na ciência iluminada é que pretende libertar-se do
mito, ao passo que Aristóteles diz, com razão, que também o mito, a seu
modo, filosofa.
As Origens da Filosofia
Quadro Político da Grécia Antiga até ao século VII
7
Não se conhece bem a organização política e social dos Aqueus. Sob o
ponto de vista político o poder está concentrado nas mãos do soberano;
é muito provável que haja traços orientalizantes no estado aqueu.
Sob o ponto de vista social deve existir uma hierarquia rígida na qual a
classe dos guerreiros é a mais importante.
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grandes proporções. Todavia, para alguns historiadores, entre os
quais citemos Finley e Claude Mossé, a importância da expedição a
Tróia foi diminuta.
O segundo problema refere-se ao fim da civilização dos Aqueus.
Não deve ter sido um final rápido: é possível que a destruição
durasse cerca de um século (do século XII ao século XI). Apontam-
se hoje várias hipóteses parecendo que se está longe de uma
certeza.
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uma forma geral a polis, tem um pequeno território o que a leva a
possuir, igualmente, quase sempre, uma pequena população.
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extremamente importantes: o litoral da Ásia Menor e aquela constituída
pelo Sul de Itália e a Sicília.
Este mito narra a forma como o mundo veio à existência e qual o papel
que os deuses desempenharam nesse acto. A origem do homem era
contemplada nesta exposição que era transmitida de geração em
geração: o mundo assim como o homem era obra dos deuses.
11
vezes por longos anos, com o espírito deixando de lado o corpo; descida
ao Hades; poderes para deter cataclismos naturais.
12
Os poemas de Hesíodo constituem um marco na História da Cultura
Grega – vejamos alguns aspectos.
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sua vez, implicava uma mobilidade espiritual que a diferenciava do
estado oriental.
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O mito não desaparece com a filosofia, umas vezes enfrenta-a, outra
cruza-se com ela. Na longa caminhada não há cortes bruscos, há
transformações mais ou menos lentas. Nos finais do século VII havia
condições para o aparecimento da filosofia. Um quadro político aberto é
uma delas. Mas há também um conjunto de experiências culturais que
preparam o terreno para a "aurora da filosofia".
Conclusão
15
O Filósofos Pré – Socráticos
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coisas mudem e desapareçam e a Natureza, apesar disto, continua
sempre a mesma?
Os Milésios
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as coisas segundo Anaximandro era o "abeiro". Já para Anaxímenes era
o "ar".
Tales de Mileto
As 3 afirmações de Tales:
Tales é apontado com um dos sete sábios da Grécia Antiga. Além disso,
foi o fundador da Escola Jónica. Considerado, também, o primeiro
filósofo da "physis" (natureza), porque outros, depois dele, seguiram seu
caminho buscando o princípio natural das coisas.
Tales considerava a água como sendo a origem de todas as coisas. E
seus seguidores, embora discordassem quanto à “substância primordial”
18
(que constituía a essência do universo), concordavam com ele no que
dizia respeito à existência de um ―princípio único" para essa natureza
primordial.
Entre os principais discípulos de Tales de Mileto, merecem destaque:
Anaxímenes que dizia ser o "ar" a substância primária; e
Anaximandro, para quem os mundos eram infinitos em sua
perpétua inter-relação.
A Cosmologia de Tales
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também de todos os demais filósofos da escola Jónica – foi a
verificação da permanente transformação das coisas umas nas
outras e sua intuição básica é de que todas as coisas são uma só
coisa fundamental, ou um só princípio (arché).
Dos escritos de Tales, nenhum deles sobreviveu até nossos dias. Suas
ideias filosóficas são conhecidas graças aos trabalhos de Diógenes
Laércio, Simplício e principalmente Aristóteles.
Em sua obra - Metafísica, Aristóteles nos conta: ―Tales diz que o
princípio de todas as coisas é a água, sendo talvez levado a
formar essa opinião, por ter observado que o alimento de todas as
coisas é húmido e que o próprio calor é gerado e alimentado pela
humidade. Ora, aquilo de que se originam todas as coisas é o
princípio delas. Daí lhe veio essa opinião, e também a de que as
sementes de todas as coisas são naturalmente húmidas e de ter
origem na água a natureza das coisas húmidas”.
Em seu livro – Da Alma, Aristóteles escreve: ―E afirmam alguns que ela
(a alma) está misturada com o todo. É por isso que, talvez, Tales
pensou que todas as coisas estão cheias de deuses. Parece
também que Tales, pelo que se conta, supôs que a alma é algo que
se move, se é que disse que a pedra (imã) tem alma, porque move o
ferro‖.
Esse esforço de investigação de Tales no sentido de descobrir uma
unidade, que seria a causa de todas as coisas, representa uma
mudança de comportamento na atitude do homem perante o cosmos,
pois abandona as explicações religiosas até então vigentes e busca,
através da razão e da observação, um novo sentido para o universo.
Quando Tales disse que todas as coisas estão cheias de deuses, ou
que o magnetismo se deve à existência de “almas” dentro de
certos minerais, ele não estava invocando as palavras deus e
alma, no sentido religioso como as conhecemos actualmente, mas
sim adivinhando intuitivamente a presença de fenómenos
naturais inerentes à própria matéria.
Embora suas conclusões cosmológicas estivessem erradas podemos
20
dizer que a Filosofia começou então com Tales, que ao estabelecer a
proposição de que a água é o absoluto, provoca como consequência o
primeiro distanciamento entre o pensamento racional e as percepções
sensíveis.
Contos
Plutarco disse que Tales certa vez olhando para o céu, tropeçou e
caiu, sendo repreendido por alguém como lunático: analisava o
tempo para descobrir que haveria uma seca, com a qual ganhou
dinheiro.
Usando seu conhecimento astronómico e meteorológico
(provavelmente herdado dos babilónios), Tales previu uma
excelente colheita de azeitonas com um ano de antecedência.
Sendo um homem prático, conseguiu dinheiro para alugar todas
as prensas de azeite de oliva da região e, quando chegou o verão,
os produtores de azeite tiveram que pagar a ele pelo uso das
prensas, o que levou-o a ganhar uma grande fortuna com esse
negócio.
Quando perguntaram a Tales o que era difícil, ele respondeu:
―Conhecer a si próprio‖. Quando lhe perguntaram o que era fácil,
ele respondeu: ―Dar conselhos‖.
Terramotos - Foram explicados por Tales como flutuação pouco
firme da terra sobre a água que a sustenta nos fundamentos. Diz
um texto, cujo informe deriva da tradição de Teofrasto, através da
escola estóica de Possidónio: "Porque diz Tales, que o mundo está
apoiado sobre a água, e que ela viaja como navega ao modo de
navio, e que ela flutua movente". O terrífico fenómeno do
terramoto, que as narrativas míticas apresentavam como punição
divina, passa, a partir de Tales, a ter uma explicação racional,
ainda que com falta de acerto. A explicação de Tales significa ao
menos um bom começo. Estimulado certamente por esta teoria,
Anaximandro tentará outra melhor.
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Principais Fragmentos
―... A água é o princípio de todas as coisas...‖. - ―... Todas as coisas estão cheias de
Deuses...‖. - ―... A pedra magnética possui uma alma porque move o ferro...". - “... A
alma é uma natureza sempre em movimento, ou que se move por si mesma...". - ―...
Deus é o mais antigo dos entes, porque ele é por si mesmo...‖. - ―...O mundo é isto,
que de mais belo existe, porque ele é a obra de Deus...‖. - ―... O espaço é aquilo, que de
maior existe, porque ele contém tudo...‖. - ―... A mente é isto, que de mais rápido
existe, porque ela corre através de tudo...‖. - ―... A necessidade é o que há de mais
forte, porque ela tudo rege...‖. - "... O mais sábio é o tempo, porque ele descobre
tudo...".
Conclusão:
Tales vai responder que a origem das coisas é a água. Com isto quer
dizer que é a partir da água que o universo, com tudo o que ele encerra, se
vai formar.
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Quando a água, suporte da Terra, entra em agitação a Terra
estremece – é o terramoto.
Outra tese de Tales diz que tudo está cheio de deuses. É uma
afirmação um pouco misteriosa para nós.
Sabemos que Tales fez pequenas experiências com o âmbar e o imane; viu
assim que havia corpos que atraíam outros corpos (é possível que estas
experiências sejam anteriores ao filósofo).
Faz a previsão de um eclipse em 585 mas hoje pensa-se que Tales podia
prever a data mas não o lugar onde ele era visível. É muito provável que
Tales tivesse tido acesso às tábuas astronómicas dos babilónios, o que
demonstra a sua grande curiosidade.
23
Anaximandro de Mileto
O Apeiron
24
Hipólito sobre o nascimento no terceiro ano da 42ª olimpíada (610
a.e.c.).
25
a) O Apeiron. Segundo as fontes procedentes de Teofrasto,
Anaximandro havia afirmado que o principio de todas as coisas
existentes não é nenhum de os denominados elementos (água, ar,
terra, fogo), se não alguma outra natureza Apeiron [indefinido o
infinito];
O Apeiron
O cosmos
A ideia de Apeiron
pode adquirir
26
diferentes sentidos negativos segundo os diferentes parâmetros que
fizermos para o limitado. Assim, se tomamos como parâmetros o
limitado dos objectos concretos do mundo das formas (exemplo, uma
lâmina metálica, uma cinta), Apeiron será o que não tem bordas ou
extremos, porque se uniu a um anel. Aristóteles e Aristófanes
apontaram a associação do Apeiron com algo circular ou esférico,
círculo pode ser tomado, por sua vez, como referencia do limitado
(exemplo: cosmos esférico limitado por uma superfície imersa em um
espaço vazio), e, então o Apeiron seria uma esfera de raio infinito, sem
limites. o Apeiron seria, pois, o circulo, o infinito em extensão espacial.
27
servir para explicar a transformação de algumas coisas em outras.
Assim, por exemplo, o ar para converter-se em fogo por rarefação
(aumento de volume), necessita esquentar-se; As nuvens ao condensar-
se se convertem em água, mas para elas necessitam esfriar-se, etc.
28
O Cosmos - A segunda ideia de Anaximandro, que chega aos nossos
dias é a ideia de cosmos. o termo kósmo se traduz geralmente por
―mundo‖ e por ‖natureza‖ (no contexto de ―mundo natural‖). Na
evolução semântica do termo kósmo pode-se distinguir os seguintes
estados:
29
como tais formas. Esta unidade é já um conceito M3, que no se absorve
em nenhum corpo (M1), nem em nenhuma mente (M2).
30
terra, é mar. Que por ser secado pelo sol, diminui e acaba secando. A
Terra está no centro do universo, suspendida livremente, sem estar
sustentada por nada, movimentando-se em um espaço infinito, este
movimento acaba neutralizado, pois, por estar no centro, as forças de
atracão que actuam desde os distintos lugares da abóbada se
compensam entre si. Assim, pois, a Terra tem que permanecer em seu
lugar. Anaximandro parte da ideia de movimento e deduz dela o
repouso da Terra.
31
3) Se houvessem tido essa protecção, a espécie humana não teria
resistido.
Os anéis de
fogo, e do sol
particularmente
, enquanto gira
vão
determinando
uma evaporação
da água
terrestre, que
terminará por
secar a terra (sufocando a vida que há nela) e assim acabará com o
próprio ar que envolve os anéis. Produzir-se-ia assim uma espécie de
morte térmica do universo. Em termos mais modernos, se poderia dizer
que o cosmos de Anaximandro leva em seu ventre a morte entrópica,
seu desaparecimento pela conversão de todo o calor, em fogo.
32
Se o cosmos não é eterno e a aniquilação desse cosmos não é possível,
então o fim do cosmos tem que dar origem a novos mundos.
Anaximandro concebe o Apeiron fora do tempo, mas integramente
orientado no cosmos. O cosmos em que estamos começa e acaba, e o
Apeiron dá lugar a novos mundos que começam e acabam. Mas a
multiplicidade dos mundos pode ser entendida como simultânea ou
como sucessiva. Defendem a pluralidade simultânea Santo Agostinho,
Burnet, W. Capelle, e outros, sobre tudo Kirk e Raven ao manifestar
que, em caso de atribuir a multiplicidade de mundos a Anaximandro,
observação de nosso mundo sugere mais a pluralidade simultânea (a
multiplicidade dos astros) que a sucessiva. Defendem a multiplicidade
sucessiva de mundos Zeller e Cornford (Principium Sapientiae) quem
demonstraram a falácia de muitos dos argumentos de Burnet e
conseguiram que a interpretação de Zeller desfrutasse do favor geral.
33
Mas a Ideia de metakósmia tampouco é incompatível com a de
simultaneidade, no caso de que a multiplicidade de mundos isolados
constitui um cosmos que tem como limite a ideia de meta cosmos.
O Fragmento de Anaximandro
"O ilimitado é a origem dos seres. E a fonte da geração das coisas existentes é
aquela na qual a destruição também acontece [segundo a necessidade
porquanto pagam castigo e retribuição uns aos outros, pela sua injustiça,
de acordo com o decreto do tempo] como ele se exprime, nestes termos um
tanto poéticos." (Trad. M. H. Rocha Pereira)
Conclusão:
34
Vejamos agora a doutrina de Anaximandro.
O termo Apeiron aparece na linguagem vulgar grega: nela significa algo sem
limites, inacabado e por isso não é perfeito ou belo. Porém, para
Anaximandro o termo embora conserve o sentido de qualquer coisa sem
limites tem uma dignidade que não possui na linguagem vulgar.
35
A Terra tem uma forma cilíndrica;
A Terra está imóvel, no centro, sem necessitar de qualquer suporte
porque está equidistante de todos os outros pontos;
os astros são constituídos por rodas ou anéis (das estrelas, da Lua e do
Sol) cheias de fogo, envoltas por uma película opaca e com aberturas
pelas quais sai a luz.
No que diz respeito ao tema das origens façamos, ainda referência à dos
seres vivos. Segundo Anaximandro os seres vivos nasceram da lama e nos
primeiros tempos, devido à escassez de terra firme, eram peixes ou
semelhantes aos peixes.
O homem foi idêntico aos outros seres e em determinada altura veio para
terra firme e perdeu a sua carapaça espinhosa. Podemos fazer as seguintes
observações:
36
As palavras de Anaximandro estão entre parênteses rectas.
Assinalemos, por fim, que para o milésio o universo é regido por normas (os
decretos do tempo); é um universo regido pela necessidade e não pelo acaso.
37
Anaxímenes de Mileto
O Ar
38
O verdadeiro significado de Anaxímenes está em haver dado
continuidade à ciência e à filosofia em curso. Por Anaxímenes se
constata que a ciência e a filosofia, já nascidas, prosperam
definitivamente por fora das tradições dogmáticas mitológicas.
A influência de Anaxímenes ocorreu sobre os mais diversos filósofos,
como por exemplo Pitágoras, Melisso, Anaxágoras, Demócrito, Diógenes
de Apolónia.
Nada mais se sabe sobre sua vida e profissão. Supõe-se que escreveu
um livro pois segundo as informações de Diógenes Laércio ―escreveu em
dialecto jónico em um estilo simples e conciso‖. Vale lembrar que
naquela época os autores se utilizavam de papiros, uma vez que não
existiam livros de facto.
O ar como elemento
Cosmologia
39
como arché substitui a água de Tales, mas por sua vez incorpora
algumas das propriedades do Apeiron de Anaximandro.
40
que esta ideia não foi anunciada formalmente até Empédocles: conhecer
racionalmente os fenómenos não significa explicar as coisas por seus
últimos princípios (por exemplo, a partir do ar) mas a partir dos
elementos.
Cosmologia
41
Fragmentos
I ―...O sol é largo como uma folha...".
II ―... Do ar nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as
coisas divinas...‖.
IV ―... O ar contraído e condensado da matéria é frio, e o ralo e frouxo é quente. Como nossa
alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o Cosmo, sopro e ar
mantém...''.
Conclusão:
42
Segundo Anaxímenes o universo deve a sua génese ao processo de
rarefacção e condensação. Assim, surgiu a Terra, achatada, assente na
bruma, e os astros que circulam em redor da Terra são corpos ígneos.
Quanto ao fragmento parece que alma de que nos fala o filosofo é vital
e sensitiva ou seja o que nós hoje chamamos vida. Desta forma parece
que a alma que o fragmento fala não é intelectual.
A afirmação de que a alma é a bruma não nos deve espantar pois tal
ideia que nos parece constituir o sentido de todo o fragmento, é
coerente com a doutrina de Anaxímenes. De facto a substancia
primordial não é só a origem como a estrutura das coisas existentes, é
perfeitamente admissível que o milésio considerasse que a alma fosse
constituída por bruma já que o homem também sendo uma coisa
existente, deveria estar integrado na mesma substancia primordial. A
alma embora esta seja vital ou sensitiva, é algo extremamente
importante e tal como possui a dignidade de ser composta pela
substancia primordial.
43
Xenófanes de Cólofon
44
Floresceu na sexagésima olimpíada 540-537 a.e.c. Lê-se também em
Demétrio de Falera, no Tratado da velhice, e em Panécio o Estóico, Da
tranquilidade, que enterrou os filhos com as próprias mãos. Acredita-se
houvesse sido vendido como escravo e posto em liberdade pelos
pitagóricos Parmenisco e Orestades" (D., L., IX, 20). Pouquíssimo mais
se encontra em outros doxógrafos, que citaremos oportunamente.
Vida
Xenófanes de Colófon, o cantor afoito, não teria sido bem visto pelos
novos senhores da Ásia Menor, os persas. Expulso, terá sido mandado
andar e cantar por outras terras. Agora o artista empobrecido, se
aprimora como pensador e crítico, radicando-se finalmente em Elea,
depois de passar por Zancle e Catânia cidades da Sicília.
O fato de haver enterrado seus próprios filhos outra vez confirma sua
longa idade, ao ponto de ter sobrevivido a estes. Os versos para Colófon
significa haver actuado em sua terra pelo tempo suficiente para formar
vivências, que teria depois transformado em poema de saudade. Por sua
vez os versos sobre Elea confirmam sua estadia significativa nesta.
Não tendo sido um homem rico e nem mestre de uma escola, o colofônio
exilado foi um pregador de civismo e de pensamentos filosóficos, morais
45
e religiosos, através de um importante instrumento de comunicação, o
do canto e da recitação. Desta sorte influenciou aos de sua época.
Receptivo, por causa de sua arte, ensinou um pensamento novo,
reagindo contra os aspectos mais ingénuos da religiosidade mítica.
Obras
46
Doutrinas:
Também diz: "Terra e água é tudo quanto vem a ser e cresce" [Frag. 29]
(Simplício, Física 188, 32).
47
convertem em amigos, dos quais assistimos as bodas, os partos e a
criação dos filhos. Outro, dizendo que são apenas dois, o húmido e o
seco, ou quente e o frio, junta-se e os casa. Mas, lá a nossa gente de
Eleia, que vem de Xenófanes, e de mais além, admite em suas doutrinas
que um único é o ser, designando tudo" (Platão, Sofista 242 c-d).
48
Subjectivismo e relativismo - O unicíssimo de Xenófanes, - qualquer
seja a avaliação de sua profundidade, - tem implicações gnosiológicas, -
o carácter subjectivo e relativo do conhecimento. Conscientizou-se
Xenófanes sobre a dificuldade do problema levantado. E isto é
importante anotar. Parece haver estado próximo do vago cepticismo
depois praticado por outros: "Não há homem algum que claramente
visse, e nenhum haverá jamais que claramente tivesse visto, e saiba dos
deuses e de tudo quanto eu falo; pois ainda que alguém viesse a
pronunciar o melhor possível a lavra definitiva, nem esse saberia: sobre
tudo recai a opinião" (Sexto, Contra os matemáticos, VII 49, 110; Plut.
Aud. Poet. 2 p.17 E).
Declara que é um, por ser o mais poderoso de todos; se vários entes
houvesse, estaria repartido em igualdade o poder entre todos; ora Deus
é o que há de mais sublime e a tudo superior quanto ao poder. É
ingénito; o que nasce, haveria de nascer, ou do semelhante, ou do
dissemelhante. Ora, o semelhante, diz ele, não pode exercer este efeito
(de gerador) sobre o semelhante, porquanto não convém mais a um que
a outro o gerar e o ser gerado. De outra parte, se nascesse do
dissemelhante, nasceria do que não é. Assim demonstra a
ingenerabilidade e a eternidade.
Não é infinito; porque o infinito é o não ser, pois não tem início, nem
meio, nem fim e porque (só) os múltiplos seres se limitam
reciprocamente. Do mesmo modo elimina o movimento e o repouso;
49
porque o imóvel é o não ser, que em outro não se torna, nem outro nele
se torna; o movimento convém mais ao múltiplo, que o uno, pois neste
caso podem um em outro se transmutar. Por conseguinte, quando se
diz – E sempre se mantém no mesmo lugar, sem mover-se, nem convém
à sua natureza que se mova para cá e para lá [Frag. 24], entenda-se não
a imobilidade que se opõe à mobilidade, mas sim a estabilidade sem
movimento e sem repouso.
Em outro passo: "… dizia Xenófanes que tantos são ímpios os que
afirmam que os deuses nasceram, como os que asseveram que eles
morreram. De ambos os modos se diz que em determinado tempo
não existiram" (Retórica, II, 23 p. 1399 b 5).
50
sacrificar" (Ibidem, II, 26 p. 1400 b 5). Fragmentos dos Silos apresentam
a mesma linguagem satírica de Xenófanes contra as imaginações
antropomórficas.
51
des Xenophanes, Breslau, 1866, trabalho a que nós devemos muito. O
argumento decisivo contra o pretendido monoteísmo de Xenófanes está
contido no único verso: um só deus, entre os deuses..." (Th. Gompers,
Pensadores gregos, nota ao item Xenófanes).
"A sabedoria de certo é mais nobre que o vigor dos homens e dos
cavalos. Insensato costume, e injusto, este, de mais prezar a força que a
sabedoria. Mesmo que haja entre o povo um pugilista hábil, ou quem
vença no pentatlo e na luta, ou até na corrida (que mais estimada é a
rapidez que a força), quem quer que vitorioso saia das másculas
competições, - nem por isso o povo andará mais bem governado. Pouco
proveito adviria à cidade, se algum cidadão vencesse as margens do
Pisa. Não é isso que lhe aumenta tesouros da cidade" [Frag.2] (em
Ateneo X, 413 F).
52
Cosmogonia e cosmologia Não obstante sua nova maneira de
interpretar a variedade dos entes como sendo fundamentalmente um
unicíssimo, Xenófanes apresentou uma filosofia da natureza não menos
curiosa. Não deve todavia condenar a Xenófanes de contradição com
sua tese da unidade do ente ao estabelecer una interpretação
cosmológica à natureza, como já o quis invectivar de incoerência, na
antiguidade, Teodoreto: "Xenófanes, o fundador da seita eleática,
assevera que o todo é um, esférico e limitado; ingénito, mas eterno e
absolutamente imóvel; mas depois, olvidado destas doutrinas, diz que
da Terra tudo nasce" (Teodoreto, IV, 5 em Aécio).
53
Diz então Xenófanes: "Fonte da água é o mar, e fonte dos ventos; pois
nem existiriam as nuvens sem o vasto mar, nem o curso dos rios, nem a
chuva dos céus. Mas é ele, o vasto mar, que gera as nuvens, os ventos e
os rios" [Frag. 30] (Aécio, III, 4,4).
Fragmentos
I "...Deus é uma substância esférica sob nenhum aspecto parecido com o homem. O
todo vê, o todo ouve, porém não respira. Ele é ao mesmo tempo todas as coisas,
inteligência, pensamento, eternidade" (D. Laércio, IX, 19).
II "...Todo inteiro vê, todo inteiro pensa, todo inteiro ouve" [Frag. 24] (em Sexto, Contra
os matemáticos, IX 144).
III "...Se a divindade é a mais forte de todas as coisas, só pode ser uma única (...), pois
se houvesse dois ou mais deuses, não poderia ser o mais forte e o melhor de tudo.
Portanto, só pode haver uma divindade (Pseudo-Aristóteles, De Meliso, Xenophonte,
Górgias 3,3)
VI "...O sol apaga-se, e outro sol renasce no Oriente" (Aécio, II, 24,2).
Conclusão:
Xenófanes ficou famoso pelas críticas à religião tradicional e pela sua concepção
de Divindade.
54
O antropomorfismo dos deuses já criticado no frag. B11 é reforçado em B14
(roupagem e corpo, por exemplo, idênticos aos homens).
"Mas se os bois [os cavalo] ou os leões tivessem mãos ou pudessem pintar ou esculpir
como os homens,
os cavalos desenhariam imagens equinas dos deuses,
e os bois, bovinas,
e pintariam a forma e o corpo dos deuses como
eles o têm
de modo que cada [espécie] teria o seu aspecto físico."
A filosofia, não obstante a sua pequena tradição, travava, com Xenófanes, uma
das suas grandes batalhas: a apresentação de uma nova paidéia, que se
contrapunha à tradicional, cujos pilares eram Homero e Hesíodo.
55
Xenófanes não ficou pela crítica ao antropomorfismo: apresentou, também, a
sua concepção de divindade.
Assim, fala de um deus com o máximo poder e que não possui traços
antropomórficos (frag. B23). Este deus está imóvel e não necessita de fazer
qualquer esforço para dominar todas as coisas (frag. B 26+25). O último
aspecto é reforçado pelo frag. B24: vê tudo, ouve tudo, pensa tudo.
No frag. B18 Xenófanes afirma que os deuses não deram a conhecer todas as
coisas nos primeiros tempos da Humanidade; o homem ao longo dos tempos
através da indagação descobre o que é melhor.
56
Xenófanes defende o progresso da Humanidade opondo-se assim ao mito
da Idade de Ouro, o qual afirmava que a primeira sociedade tinha vivido
numa autêntica beatitude. Em contrapartida o filósofo considera que o
esforço consegue obter o progresso. Isto significa que o homem não está
em regressão mas sim em marcha para aquilo que é melhor. Trata-se de
outro tema que será debatido por filósofos posteriores.
Nota Adicional
57
Pitágoras de Samos
A sua biografia está envolta em lendas. Diz-se que o nome significa altar
da Pítia ou o que foi anunciado pela Pítia, pois mãe ao consultar a
pitonisa soube que a criança seria um ser excepcional.
Da vida de Pitágoras quase nada pode ser afirmado com certeza, já que
ele foi objecto de uma série de relatos tardios e fantasiosos, como
referentes às viagens e aos contactos com as culturas orientais. Parece
certo, contudo, que o Filósofo e matemático grego nasceu no ano de 496
a.C. na cidade de Samos, fundou uma escola mística e filosófica em
Crotona (colónia grega na península itálica), cujos princípios foram
determinantes para evolução geral da matemática e da filosofia
ocidental cujo principais enfoques eram: harmonia matemática,
doutrina dos números e dualismo cósmico essencial. Aliás, Pitágoras foi
o criador da palavra "filósofo". Acredita-se que tenha sido casado com a
física e matemática grega Theano, que foi sua aluna. Supõe-se que ela e
as duas filhas tenham assumido a escola pitagórica após a morte do
marido.
58
Pitágoras cunhado em moeda
A escola de Pitágoras
59
O pentagrama era o símbolo da Escola Pitagórica
60
factores que concorreram para esse fenómeno foi a linha política
adoptada pelos tiranos: para garantir o papel de líderes populares e
para enfraquecer a antiga aristocracia, os tiranos estimulavam a
expansão de cultos populares ou estrangeiros.
Principais descobertas
Números figurados
α
αα
ααα
αααα
61
Números perfeitos
Teorema de Pitágoras
62
Quando retornou à sua cidade natal, Samos, indispôs-se com o tirano
Polícrates e emigrou para o sul da Itália, na ilha de Crotona, de
dominação grega. Aí fundou a Escola Pitagórica, a quem se concede a
glória de ser a "primeira Universidade do mundo".
63
Pitágoras é o primeiro matemático puro. Entretanto é difícil separar
o histórico do lendário, uma vez que deve ser considerado uma figura
imprecisa historicamente, já que tudo o que dele sabemos deve-se à
tradição oral. Nada deixou escrito, e os primeiros trabalhos sobre o
mesmo deve-se a Filolau, quase 100 anos após a morte de Pitágoras.
Mas não é fácil negar aos pitagóricos - assevera Carl Boyer - "o papel
primordial para o estabelecimento da Matemática como disciplina
racional". A despeito de algum exagero, há séculos cunhou-se uma
frase: "Se não houvesse o 'teorema Pitágoras', não existiria a
Geometria".
Ao biografar Pitágoras, Jâmblico (c. 300 d.C.) registra que o mestre vivia
repetindo aos discípulos: ―todas as coisas se assemelham aos números‖.
Pensamentos de Pitágoras
64
Pitágoras de Samos
65
Por uma questão de respeito os pitagóricos atribuíram
teorias posteriores ao próprio fundador;
Uma literatura abundante sobre a Escola é muito posterior a
Pitágoras e aos seus primeiros discípulos.
A Doutrina de Pitágoras:
A Pitágoras poder-se-á atribuir três teses que estão ligadas entre si:
66
Se o tema da imortalidade da alma e a transmigração da alma estão
ligados como já vimos o parentesco dos seres animais decorre em 2
aspectos. E Porque? Uma vez que a alma humana pode habitar corpos
de outros animais (o homem incluído) Então existe um parentesco entre
os animais não é pois de admirar que a morte de qualquer animal
provocada por qualquer homem, seja considerada um pecado. A escola
pitagórica tinha um conjunto de regras que deviam ser observadas
entre as quais avultavam a que diziam respeito aos animais.
67
x
xx
xxx
xxxx
Os Primeiros Pitagóricos
Alcméon de Crotona
68
Em primeiro lugar a sua teoria sobre a saúde teve uma larga voga.
Para ele a saúde é o equilíbrio ente os opostos como põe exemplo o
amargo e doce. Quando este equilíbrio se rompe ou seja um dos
elementos fica em supremacia surge então a doença.
69
LIMITE ILIMITADO
Impar Par
Uno Múltiplo
Direito Esquerdo
Macho Fêmea
Imóvel Móvel
Recto Curvo
Luz Trevas
Bom Mau
Quadrado Rectangular
70
As Coisas são números
A cosmologia
71
É possível que esta cosmologia remonte ao tempo de Filolau. Aspecto
curioso é a chamada harmonia das esferas que consistia na música
provocada pelo movimento dos astros. A base desta teoria era a
seguinte: se um corpo é lançado provoca um ruído e se não ouvimos a
música dos astros é porque estamos, desde crianças, habituados a ela.
A questão da alma
72
Heraclito de Éfeso
O devir
73
sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o
constante movimento dos seres.
Poderá ter nascido por volta de 540 a.e.c. e vivido até pelo ano 480
a.e.c. Trata-se, pois de um tempo em que as cidades da Jônia grega já
se encontravam integradas no império persa, desde 546 a.e.c., quando
Ciro houvera conquistado Sardes, aos lídios, e logo também as cidades
da Jônia. Mileto, que se rebelara, foi destruída em 494 a.e.c., portanto
ao tempo de Heráclito. Já agora o grande rei da Pérsia se chamava
Dario 486 a.e.c.
74
Pronunciando-se sobre assuntos políticos, declarou muito
positivamente: "É necessário que o povo lute em defesa da lei como por
sua muralha". Tudo o mais que disse da política e seus episódios tem a
forma agressiva e contestatória. Reprovava amargamente aos efesinos a
expulsão de seu amigo Hermodoro, dizendo: ―Todos os efesinos adultos
deviam ser condenados à morte, e os adolescentes postos para fora da
cidade, porque expulsaram a Hermodoro, seu benfeitor. Que ninguém
aqui se destaca pela sua virtude; caso haja alguém deveria ir viver em
outro lugar e com outros".
"Foi excepcional desde sua infância. Quando jovem usava dizer que nada
sabia. Quando adulto declarava tudo saber.
De ninguém foi discípulo, mas dizia que indagava a si próprio e
aprendera tudo por si mesmo. Alguns, entretanto, como Sócion,
asseveram que ele foi discípulo de Xenófanes".
75
poderá não ser verdadeira em todos os detalhes:
Por fim passou a odiar os homens e se retirou para as montanhas.
Como ali só se alimentasse de ervas, adoeceu de hidropisia, sendo
obrigado a retornar à cidade. Fez aos médicos a enigmática pergunta, se
podiam mudar a chuva em secura. E como não o entendessem, meteu-
se sob o calor do esterco num estábulo, esperando que evaporasse a
água que o atormentava. Como o remédio não trouxesse resultado, logo
morreu, na idade de sessenta anos.
Obras :
76
não vale nem uma só. Eis o que vos digo, desde o fundo do palácio de
Proserpina.
Heráclito costumava afirmar que havia uma lei natural ordenadora para
todo o universo, ora ele denominava essa lei como Deus, obviamente
não como um Deus da mitologia, mas algo que fosse o organizador de
toda a existência do universo. Costumava chamar essa lei natural
também de Logos. A ordenação se dá dialecticamente, em direcções
contrárias, de concórdia e discórdia. Nesta visão complexa da
realidade total do universo de Heráclito se distinguem aspectos, que
77
importa abordar sucessivamente, começando pelo princípio
constitutivo cosmológico, o fogo.
“Este mundo, o mesmo para todos, nenhum dos deuses e nem dos
homens o fez, é e será fogo sempre vivo, que se acende e com medida se
apaga".
78
expandir-se a terra, que volta a produzir a água, e da água o restante
da série, cuja maior parte resulta da exalação do mar. Este é o caminho
para cima
79
tudo. A ordem do cosmos e sua transformação em tempo limitado
obedece a uma necessidade prefixada".
"Não é possível descer duas vezes ao mesmo rio, segundo Heráclito, nem
tocar duas vezes uma substância transitória no mesmo estado: por via
da impetuosidade e da velocidade da transmutação, aflui e reflui, avança
e retrocede, ou melhor, nem de novo, nem mais tarde, mas no mesmo
instante, se congrega e se desagrega, se junta e se disjunta" .
Mas que ele tenha considerado como eterno o cosmo, aquele que
consiste de toda a substância, estruturado como quer que seja, isto
claramente o revela, dizendo: - Este cosmo, que é o mesmo para todos,
nem Deus nem homem algum o fez; sempre foi, é e será um fogo
eternamente vivo, que se alumia por medida e por medida se apaga"
Lê-se em Aristóteles:
"Todos os físicos admitem que o céu foi gerado, uns o proclamam eterno,
outros, corruptível, como qualquer outra natureza composta. Há também
os que sustentam que a corrupção é alternada, ora num sentido, ou
noutro, e que este processo é infinito. Tal é a doutrina de Empédocles de
Agrigento e de Heráclito de Éfeso"
80
Causa e Lei - A ideia de causa e de lei natural para as transformações
é um aspecto novo desenvolvido pela filosofia de Heráclito. Ela marcará
a diferença entre os jónicos antigos e os novos. Os antigos cuidavam da
estrutura, e muito pouco da dinâmica das mesmas. Os novos
apresentam hipóteses sobre as causas da mudança ou da
transformação. Qualquer fosse o princípio primordial, importava saber
como se dinamizava. Heráclito ainda se preocupa com uma certa ordem
racional, portanto de uma lei, e que denominava logos (inteligência ou
razão). Não aconteceriam casos, por efeito de poderes gratuitos ou
fortuitos, fatais, absurdos, míticos.
81
também afirmam que alternadamente, ora o todo é um amigo, por virtude
de Afrodite, ora múltiplo e inimigo por obra de não sei que discórdia".
82
"Heráclito declara que a alma é o princípio primordial, uma vez que ela é
(idêntica à) exalação, da qual tudo o mais provém. Ele acrescenta que
este princípio é o que há de mais incorporal, e que ele está em fluxo
perpétuo"
.
"Heráclito diz que a alma do Cosmo é a exalação das coisas húmidas que
nele há, mas a dos seres viventes deriva da exalação tanto de fora como
de dentro deles mesmos, a qual em ambos os casos é homogénea"
83
Pois enquanto dormimos e cerrados permanecem os poros dos nossos
sentidos, a inteligência que está em nós, aparta-se do que a rodeia, e só
como que por uma espécie de raiz, a respiração mantém o liame. Em
consequência desta separação perde a capacidade de memória que
antes possuía. Na vigília, pelo contrário, olhando através dos poros dos
sentidos, ela retoma o contacto com o circundante e readquire as
faculdades racionais. Tal como os carvões que junto ao fogo se
transformam e ardem, e, pelo contrário, se extinguem uma vez
apartados dele, assim também, a parte que do circundante em nosso
corpo reside, dele separada, quase irracional se torna; ao passo que,
reunida pelo maior número de poros (dos nossos sentidos) torna-se
semelhante ao todo (do universo penetrado pelo logos).
Este logos comum e divino, por participações do qual nós somos lógicos,
- eis a faculdade da verdade segundo Heráclito. Por conseguinte tudo
quanto a todos comumente pareça (claro), crível, será; mas, pelo motivo
oposto, quanto a um só ocorra, incrível será. Eis porque logo no
princípio do seu livro Da natureza, aludindo de certo modo ao
circundante, diz:
Pois que lhe parecia ser o homem dotado de duas faculdades para o
conhecimento da verdade, - sensibilidade e razão (ou logos), também
para Heráclito, como para os mencionados físicos (Parménides e
Empédocles) a sensibilidade era suspeita. A razão (logos), pelo contrário,
ele a considera como faculdade (da verdade). A experiência sensível
84
reprova-a dizendo textualmente: más testemunhas os olhos e os
ouvidos para os homens com almas de bárbaros. A relatividade do ente,
do conhecimento, da moral decorre da doutrina da mobilidade
intrínseca do ente. Em virtude do movimento em direcções opostas,
para cima e para baixo, para a excitação e para o apaziguamento,
ocorrem no mesmo ente, os contrários em busca de equilíbrio.
Aqui está directamente indicada a moral natural, mas sempre com uma
certa relatividade, por causa da mobilidade do todo.
"O cavalo, o cão e o burro têm prazeres diversos e, como diz Heráclito,
os burros prefeririam a palha ao ouro. Com efeito, mais grato aos
burros é o pasto que o ouro" .
85
"Pois justamente também o nobre Heráclito vitupera a turba, como
destituída de inteligência e raciocínio: que senso e intelecto é o deles?
Deixam-se guiar por poetas errantes e amestrar pela multidão; não
sabem que muitos são os maus, poucos os bons” .
"Um vale mais para mim, do que dez mil, se for melhor".
"Quem queira falar com inteligência, deve tornar-se forte com o (logos)
comum a todos, como uma cidade com a lei, e ainda mais forte; porque
todas as leis humanas se nutrem de uma só, divina, que tudo governa,
podendo quanto ser, sem tudo bastando, tudo excedendo".
86
Governo aristocrático. Ligado à nobreza de Éfeso, teve Heráclito
oportunidades de abordar e definir temas políticos, e nem lhe faltava
coragem para isto, nem mesmo inteligência.
"Que não vos falte a riqueza, ó efésios, para que fique demonstrada
vossa má conduta".
"O sol, como diz Heráclito, não somente é novo cada dia, senão que é
novo continuamente". Esta afirmação se deve entender no contexto do
mobilismo Heraclito.
Principais fragmentos:
I "Os homens são deuses mortais e os deuses, homens imortais; viver é-lhes
morte e morrer é-lhes vida".
87
IV ―... Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela
harmonia...‖
V ―... Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois da segunda vez,
tanto rio, como nós estaremos mudados...‖.
VII ―... Para mim, um homem vale trinta minas; uma multidão não vale nem
uma só...‖.
IX "...Bem dizia Heráclito: homens são deuses e deuses são homens, porque o
logos é um só...‖.
XI "O mais belo dos macacos é feio se compara com a raça dos homens. O
mais sábio dos homens, comparado com Deus parece um macaco em
sabedoria, beleza e tudo o mais.
Conclusão:
88
O interesse e a defesa por uma religião depurada é patente em Heraclito
(cfr. frag. B5). O filósofo inscreve-se numa linha do pensamento grego
cuja preocupação é a moralidade, portanto a dignidade da religião;
Tema caro a Heraclito é a diferença entre o homem e os deuses. O
filósofo reata aqui um tema contido no antigo corpo de saber. Para
Heraclito há um abismo entre a sabedoria do deus e a do homem: é a
concepção do saber humano como algo que pouco vale. É, no fundo, a
consciência de que a razão tem limites estreitos e que para além dela se
abre a imensidão do desconhecido.
Segundo penso para Heraclito o Logos é a estrutura das coisas existentes e o que
permite explicitá-las, fazendo, igualmente a sua unidade.
É minha opinião que o Logos se identifica com a Divindade e o Fogo, outras duas
noções fundamentais no pensamento heracliteano.
A Divindade é o uno, a sabedoria única (cfr. frag. B32); ora, a ênfase posta na
unidade liga-se, ao que nos parece, ao Logos que, como vimos, é algo de comum.
Quanto ao Fogo aparece como algo de eterno, que se acende e se extingue com
medida, sendo ele que constitui a ordem do mundo (cfr. frag. B30).
89
Como podemos ver este Fogo tem uma norma interna, é inteligente, passe a
expressão, o que permite, segundo penso, identificar Logos, Divindade e Fogo.
Até este momento acentuei a tónica da unidade numa filosofia mais conhecida
pela noção de fluir constante.
Heraclito ficou célebre pela luta dos contrários, pela mudança que se vai
operando, sem cessar.
O que quero dizer é que esta luta de contrários, este fluir, é superficial, ou
seja, o substrato das coisas não é afectada.
Por fim façamos uma referência ao tema da alma. O Efésio considera que a
alma é fogo, devendo estar ligada ao Fogo universal. As almas, e isso deve ser o
mais comum, podem transformar-se em água, o que constitui a sua morte. Por
seu lado as almas virtuosas (porque são secas) sobrevivem à morte do corpo
(veja-se os frags. B25, B36, B118).
90
O facto de Heraclito se ter debruçado sobre a questão da alma mostra-nos o
seguinte:
91
Parmenides de Eleia
O Pensamento de Parménides
92
metafísica ocidental com sua distinção entre o Ser e o Não- Ser.
Enquanto Heráclito ensinava que tudo está em perpétua mutação,
Parménides desenvolvia um pensamento completamente antagônico:
“Toda a mutação é ilusória”. Parménides vai então afirmar toda a
unidade e imobilidade do Ser.
93
Parménides de Eleia
Nota Introdutória
94
Vejamos, agora, alguns aspectos do Poema de Parménides.
Ainda no prelúdio são indicadas as duas vias que vão ser objecto dos
dois discursos da Deusa. Uma via afirma a existência de o que é e a não
existência de o que não é (cfr. frag. B2).
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Podemos, desde já, fazer duas observações:
96
digressão de Parménides teria como objectivo por em relevo aqueles que
seriam os seus grandes adversários.
97
"O que pode ser pensado e o pensar são o mesmo" (frag. 8,
v.34)
O discurso sobre a opinião vai desde o frag. B8, v.50 ao frag. B19.
98
dar origem às coisas são a luz e a escuridão (cfr. frag. B8, vv. 55-59). As
coisas têm um nascimento e uma morte (frag. B19) e sabemos,
igualmente, que a Terra está presa através de raízes aquáticas (frag.
B15a).
99
Penso que a última parte do Poema é um exercício, um jogo, realizado
por Parménides.
100