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MARK MAZOWER

Continente sombrio
A Europa no século XX

Tmd11ção
Hildegard Feist

-
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i,

Para Ruthie
e à memória de
Fromna Mazower

~
MaxMazower
RegSha.ffer
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Todos os dirtitos desta edição reservados à
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Fu(11)J84~1.4
www.co~c111S.com.br

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Sumário

Prefácio ....... . .................... : ........ . .. . ..... • • • • • • • • • • • • • • • 9

1.O templo deserto: ascensão e queda da democracia. . . . . . . . . . . . . . . . . . 17


2. Impérios, nações, minorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3. Corpos sadios, corpos doentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4. A crise do capitalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . n3
5. A Nova Ordem de Hitler, 1938-45 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
6. Projetos para a Idade do Ouro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
7. Uma paz brutal, 1943-9 ........ .--: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213
8. A construção da democracia popular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248
9. A democraóa transformada: a Europa ocidental, 1950-75 . . . . . . . . . . . . 282
10. A crise do contrato social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 321
Ú'- Tubo,ões e dcll\nSOO falência do comun~mo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,s:;J
Epílogo: AEuropa hoje . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 387
Mapas e tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397
Notas....................................... . .... .. .. ............... 4II
Indicações bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 441
índice remissivo ............................................... .. • -• · · 453

1 , ·-
Prefácio

Por que os Estados europeus se arrogam o direito de difimdir a civilização e


a civilidade aos diversos continentes? Por que não à própria Europa?
Joseph Rorh, 1937'

A Europa pode parecer um continente de Estados e povos antigos, mas sob


muitos aspectos é bem jovem e ao longo do século xx inventou-se e reinventou-se
por meio de transformações políticas geralmente convulsivas. Algumas nações -
como a Prússia - foram varridas do mapa; outras - como a Áustria ou a
Macedônia - existem há menos de três gerações. Quando minha avó nasceu, em
Varsóvia, essa cidade fazia parte do império czarista; Trieste pertencia aos
Habsburgo e Salônica aos otomanos. A Alemanha dominava a Polônia; a Ingla-
terra, a Irlanda; a França, a Argélia. As monarquias dos Bálcãs eram o que mais se
aproximava do Estado-nação democrático que hoje constitui a norma. Em
nenhum lugar os adultos de ambos os sexos tinham o direito de votar, e em poucos
países o Parlamento prevalecia sobre o rei. Em suma, a democracia moderna,
como o Estado-nação com o qual tem estreita relação, é basicamente o produto da
longa experimentação nacional e internacional que se seguiu ao colapso da antiga
ordem européia, ocorrido em 1914.

9
-
A PrimeiraGuerraMundial mobilizou 65 milhões de homens,
. . matou
, . mais de
- . _ . eliminou quatro dos antigos unpenos do conri-
ilOu 21 nulhoes,
8 milhoes e mut que O poiítico tcheco Thomas Masaryk definiu entreguerras. Seus adeptos tornaram-se, na pior das hipóteses, cínicos e, no me-
ansformou a Europa no . , . ,. ,. . .
nente e"um
tr laboratono
como nos obnga
, . em cim. a de um vasto cem1teno .. 'A Primeira Guerra
. a restar codos os valores", escreveu o artista russo El Lissitsky.
,,\l lhor dos casos, apáticos, conformados e submissos. As pessoas redescobriram as
serenas virtudes da democracia - o espaço concedido à privacidade, ao indivíduo
Mundial . ,. '--J
- réoime _ com o ka1ser no.exílio, o czar. e. sua família e à família. Assim, depois de 1945 a democracia ressurgiu no Ocidente, revitaliza-
Em meio às ruínas d o ancien
'( ~

da pelo desafio da guerra contra Hitler e consciente de suas responsabilidades
fuzilados-, os poIíticos
- prometeram às massas, ema€ª
, . adas
. e mobilizadas como
' , 1\0 sociais. Só que agora enfrentava a concorrência da esquerda, e não da direita, pois
nunca uma soCJe• d ad e maisJ·usca e um Estado propn . O liberal Woodrow Wilson
li1~
propos
na
• ' um mund o "seguro para a democracia"; Lenin, uma sociedade
. livre
. d e penuna
_ comunitá-
_
, · e das hierarquias exploradoras do passado. Hitler imaginou ~
~ ~- o Exército Vermelho, tendo esboroado os sonhos imperiais da Alemanha nazista,
estendeu o comunismo ao novo império soviético na Europa oriental.
Embora representasse o último estágio da luta ideológica pelo futuro da
u=ra~gucrrel· ra, purgada de elementos estrangeiros, cumprindo. seu destino
\ Europa, a...,Guerra Fria se diferenciava crucialmente das fases anteriores por.::1ª
.
1mpena • 1graças a, pureza
. de seu sangue e à unidade de seu propósito.
_ Cada
. uma des- \ : ~ aversão à guerra concr~ - ao menos no próprio continente. Claro está que
sas tres
• I·deo1o gi·as n·vais - a democracia liberal, o comurusmo e o fasasmo-juJ- ~ houve crises; de modo geral, porém, as duas superpotências levaram uma"coexis-
gava-se d estm
· ada a refazer a sociedade ' o continente e o mundo. numa
. Nova ~ tência pacífica", cada qual visando à futura extinção d~~~~ ace!!~l}-
Ord em para a human idade · A luta incessaJentre elas para defm1r a Europa· \ dõ'se"ii"direito de existir no presente em prol da estabilidade e da paz continentais.
moderna ocupou a maior parte do século xx.' ffi"do1s sistemas se armaram para uma guerr~~-não pÔdia acontecer ec:0mpe-
No curto prazo, nem Wilson nem Lemn conseguiram construir o "mundo tiram para proporcionar bem-estar a seus cidadãos e para promover o crescimen-
me or,. comquesonhavam · A revolução comunista não se difundiu pela Europa,
lh . to econômico e a prosperidade material. Ambos apresentaram inicialmente alguns
e a consrruçao
- d o soc1"alismO se limitou à União Soviética; a crise da .democraoa feitos espantosos, maf6 um se revelou capaz de adaptar-se às crescentes pressões
do capitalismo globall::,om o desmoronamento do império soviético em 1989,
liberal ocorreu logo em segw.da,ª, m edida que um país após outro. aceitava. o. auto-
chegou ao fim não só a Guerra Fria, como toda a era de rivalidades ideológicas que
. .
ntansmo. No f"m a1 d a d,ecada de 1930 a Liga das Nações havia fahdo,
A a direitarbpre-J seiniciaraemI917J . / -:7 - . ~
d .
ommava
e a Nova Ordem de Hitler parecia o futuro da Europa. defesa I era
• Id 1 · ·d de· ._ l t \.' ~
/V 1I L ~//41 ; { ;,-. ; -~-; . .
.
das liberdades individuais os nazistas opunh am o b em-estar
. racia
. co eavi ªdos•
a domínio (_\.

à doutrina da igualdade formal dos Estados, a luta darw,mana e o . s euro- ··i:• C; que todas as ideologias têm em comum é o prazer de apresentar a própria
. . , . a coordenação das economia
racialmente supenores; ao livre-comerc10, 1 d s ideologias --=-----
Utopia como um Final.e~ra---:::---
a História - na forma d ~ s m o universal, demo-
Péias como uma unidade lidera. d 1 l mães. Entretanto, a d"ura. a de águas do
a pe os a e cracia global ou Reich. Partilham o que Ignazio Silone defuliu certa vez como "a
.
passou por uma vertiginosa rev1ravo l ta. N a década de 1940-o iv1sor
. O fascismo foi
virtude muito difundida que identifica a História com o lado vitorioso". Lêem o
presente no passado e acreditam - por exemplo - que a democracia precisa ter
século-,autopianazistaalcançouoaugeeraP idamente . .se esvaJU._ da história
raizes profundas no solo da Europa simplesmente porque a Guerra Fria terminou
a primeira grande ideologia a sofrer uma d errota defimttva nas maos
da forma que sabemos. Hoje há necessidade de um tipo diferente de história -
que afirmava ter controlado. , urro motivo. menos útil como instrum~to político, porém capaz de nos aproximar mais das
No longo prazo, a década de 1940 fio1· !IDpo
· rtante tambem 0
. •por. d quase urn
A exaustiva e criminosa expenenaa. • . da guerra to tal - culmmanc1a l oue a um cres- - --
reãlic1ades pas"s°adas-, que vê o presente apen~romo~ ;esultado poss~cldas luta~
e incertezas denóssos predecessores. Afinal, a democracia reinava soberana na
.
século de luras imperiais e naaona1s . dentro e fiora d o continente- ev de onda da Europa ao encerrar-se a Primeira Guerra Mundial, mas praticamente agonizava
, • ·d
cente cansaço com as pol ittcas ' eoJ'og1cas
· e m toda a Europa. A gran 1 tivismo do -- -- ·------- _____
duas décadas depois. E, se 1989 assinalou sua vitória sobre o comunismo, tal vitóriy
---......._

, .
mobilização maciça começou a refluir, e com ela o n illitan.smo e o co e
u

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L as Jil! i li 1 .( 4 &! '


\

comunismo derrotara cabalmente O na cio


Segunda Guerra o . . . -.
só ocorreu porque na rito que a democraaa vencena o fascismo cracia liberal enfrentou no século xx·, e' poris
· so que an alisaro comeu· do cambian-
to não estava esc e
nal-socialismo.•Portan ' b que tipo de democracia a Europa pode e <lese- te do pensamento e da prática da democracia na Europa equivale a reconhecer a
-- . im como falta sa er , . .
0 comwusmo, ass to aqui é uma histona de sucessos dificeis e revi- real possibilidade, que se apresentou no final da década de 1930. de um continente
. E suma,oqueapresen .. organizado de acordo com os preceitos nazistas.
ja constrmr. m _ . , . s inevitáveis e progressos lllll1terruptos.'
. eradas nao de v1tona
ravoltas mesp . ·_ . ortantes não tanto como guias da histó ria, mas corno
As ideolog1as~IP.E:-- --- - - ·-
- 1> :::.;=--- · ~ _
veículos de conv1_ç_Q!O e acuaçao -
-d d ., -
- política. Se os dogmas o passa o Ja nao nos domi-
V-
i Evidentemente, seria possível ver o século sob uma luz bem diversa focali-
zando menos o fascismo que o comunismo. A historiografia marxista, ex~mplifi-
~ ~ada re~entemente no panorâmico Era dos extremos, de~ a
------ - - _ -----:~;fi e desde O inicio eram apenas grandes enganos. Tem-se
nam isso nao SIJ5•=1ca qu . _ ., _ -\ ~ 1mporcanc1a do fascismo concentrando-se no que considera a luta fundamental
':·· , 'í~ ~tre o comunismo e o capitalismo. Decidi não_fazer a mesma coisa aqui. em parte
' • como"0 fim de uma ilusao , mas uma oraçao fúne-
defmido o fim do comurusm0 , .
_ , 'li histórica. Depois de 1945, tambem se explicou o fascismo
,••_,
bre nao e uma ana se
, ',, e como uma pato1og1a
. .
• política através da gual ditadores msanos levar am à ruína
~
/· : . populações enfeitiçadas, hipnotizada . Contudo, não se ~od~m julgar as feridas do
,,·~d
., •., , C...:,

[ :
porque o impacto do comunismo sobre a democracia-p~;:-imponame ~ a
si~ geral mais ind~eto e menos ameaçad~r que o desafio la~do por
,--:!:!1tlerJ!~m parte porque o seculo xx mostrou que nao se pode reduzira política à
· ',
,-- · •
contmente com0 obra de uns poucos ementes nem atnbmr seus traumas à con- \ L,~ : é preciso te~ e~ coma as diferenças de valores e ideologias, e não vê-las
<lição mental de Hitler ou Stalin. Goste-se ou não, tanto o fascismo como o comu- com__!?.3mP.les contrastes entre int~es ae classes. O fascismo, em outras pala-
nismo envolveram esforços autênticos para abordar os problemas da política de , vr~s. foi mais que apenas outra forma de capitalismo.
massas, da industria~ção e da ordem social; a democracia liberal nem sempre Justamente porque a utopia n azista de um império alemão dinâmico e purifi-
teve todas as respostaj)Não podemos mais nos dar ao luxo de ficar com tudo o que cado do pomo de vista racial precisava de uma guerra para concretizar-se e porque
foi bom no passado e simplesmente dizer que é nossa herança", escreve Hannah essa utopia era também uma horripilante revelação do potencial destrutivo da civi-
lização européia - virando o imperialismo de ponta-cabeça e tratando os euro-
Arendt, "de descartar o que foi mau e simplesmente considerá-lo um peso mono
peus como afri~ ~s - , depois de 1945 esqueceu-se com amai~~ p~ssível
que o tempo acabará por sepultar no esquecimento."•
a experiência da Nova Ordem do fascismo (e de seu efêmero fascínio). A municipa-
O nacional-socialismo em particular encaixa-se na principal tendência não só
lidade de Bolonha fundiu sua estátua eqüestre de Mussolini e com o bronze escul-
da história alemã como da história européia. muito mais facilmente do que a maio-
piu um nobre par de partigiani; a França canonizou a lembrança de uma oposição
ria das pessoas gostaria de admitir. Se o comunismo soviético envolveu uma rup-
coesa a Vichy, enquanto a Áustria descaradamente explorou sua condição de pri-
tura realmente radical com o passado-uma tentativa, no país europeu mais sub- meira vítima de Hitler e construiu memoriais aos antinazistas que "lutaram pela
desenvolvido e devastado p ela guerra, de criar uma sociedade sem posses. de liberdade austriaca". Esses foram os mitos de fundação de uma Europa libertada da
manter coeso um império que se desintegrava e de ao mesmo tempo realizar em história; ele;:~ _apagaram lem_brança~_incômodas _e afirmaram o triunfo inevitável
poucos anos uma revolução industrial- , o nazismo, em contrapartida. foi menos da liberdªde.
ambicioso e muito mais seguro na Alemanha e muito mais agressivo no exterior. Para manter intacto um sentimento de superioridade civilizacional européia,
Sua retórica revolucionária encobriu maiores continuidades de idéias e instituições também foi preciso redesenhar incessantemente fronteiras mentais. A chamada
em relação ao passado. Sua construção de um sistema de bem-estar racial-naciona- "Comunidade Européia" implicitamente ignorou a metade do continente: a
listª apenas levou a extremos tendências visíveis no pensamento europeu em geral Europa do pós-guerra se equipar ou ao Ocidente. Desalentados, os europeus do
e encontrou uma oposição insignificante na economia européia mais desenvolvi- Leste se convenceram de que compunham a "Europa central" e, assim, distancia-
da tecnologicamente Ent . . · e- vam-se dos bárbaros. O hábito aindf.:~e: um ilustre historiador britânico
. recanto, esse reglffie solidamente estabeleodo emp
nhou-se como a União
' ,
s ·' ·
ovietica nunca o fez. em anular pela força o acor
dO d
e
recentemente descreveu a ~erra najBósnia fomo "um conflito primitivo. tribal,
Versalhes. E por isso que 0 Ti . . . . _
erce1ro Retch consttnuu o maior desafio que a demo 13

12

·.t•,. .
ue só os an
seguem cou•
..,.,preender", preferindo ver a\ lugosl . . l
rropólogos con . M ndo a aceitar que a Europa conter-n.porâ
Terceiro u
\, av1a
nea
-
o tema central deste livro• N o entanto, contra Aron pode-se perguntar: Qual era o
q do selvagem m mesmo o recorde de mortes no sécul
corno parte . Parece que ne o xx "próprio siStema de valores" da Europa? O liberalismo era apenas um desses valo-
ontaJJ1lrlar•se. .d de de iludir-se dos europeus.'
pudesse e ento, a capao a . . , . res, e havia outros. O século xx europeu é a história de seu confüto.•
. . w·u até o rnom 'fi da Europa e de seus limites e b asicamente pr
diJl']JJl ' - eogra ica ag.
Minha concepçao g e conflitos ocorridos na Europa, e não do lugar da
trata de fatos
rnática. Este livro , uenão é possível analisar as ambições contine Minha primeira dívida é com os muitos outros estudiosos a cujo trabalho
do. Mas claro esta q . . . n-
Europa no rnun texto do impenalismo ultramanno europeu nern recorri. Devo agradecimentos também a instituições e indivíduos que me apoia-
. sem vê-las no con '
tais de Hitler F . em fazer referência aos Estados Unidos. A União ram em épocas difíceis para as universidades britânicas. Este livro surgiu no
. sobre a Guerra na s . ambiente altamente estimulante da University of Sussex, e eu gostaria de agrade-
discorrer d tência eurasiana - coloca-se em diferentes ocasiões
., . -cornoagran epo , . cer a meus alunos e colegas da School of European Srudies e aos grupos de estudo
Sov1enca , . éia Portanto essa e uma Europa cups fronteiras-
º e fora da histona europ . ' . de História e Relações Internacionais pela ajuda que me deram - de modo espe•
dentr _ rosas e adaptáveis. A Europa onemal não é menos
rno na realidade - sao po . , . eia! ao falecido Christopher Thorne, a Alasdair Smith, Nigel Llewellyn, Rod
co . .d tal nem os Bálcãs menos que a Escandinav1a.
arte da históna que a oo en ' . - . Kedward,John RõhJ e Pat Thane.
P tões de geografia camuflam discussoes sobre pohtica,
Como sempre, as ques Sou grato também a Bob Connor, a Kent Mullikin e à equipe do National
seiam por estabelecer a unidade da Europa acharão Humanities Center, na Carolina do Norte, por terem me proporcionado a oporru-
religião e cultura, e os que an .
. . fundamente insatisfatório. Contudo, isso apenas corres- nidade de dar início a este projeto, e à Annenberg Foundation porpossibilitaro ano
meu agnosaasmo pro . .
,. h · envolve o próprio conceito de Europa. Afinal, o fas- que lá passei. Agradeço muito a Dimitri Góndicas e ao Program in Hellenic Studies,
ponde a incerteza que OJe . . . .
. . • , trica das três grandes 1deolog1as, muito mais que o na Princeton University, por seu constante apoio; à equipe do Institut für die
cismo foi a mais eurocen . .
• d · liberal· um credo ao mesmo tempo ant1amencano e Wissenschaften vom Menschen , em Viena, por permitir que finalizasse o livro em
comurusmo ou a emocraaa ·
•b !eh ·que tinha no mínimo, a virtude da clareza. Muito mais vago é o que a um ambiente tão tranqüilo; e a Barbara Politi e Walter Lummerding, por sua
ano o ev1 , d "O · extraordinária hospitalidade. Parte deste material foi publicada inicialmente em
0
Europa significa para nós hoje, após o término da Gu erra Fria - é part~ • . ~'.-
Daedalus e Diplomacy and statecraft, e agradeço aos editores dessas revistas pela
dente" (uma noção um tanto antiquada), u m afloramento ocidental da Eurasia '
autorização para utilizá-la aqui.
" " d U •- Européia pode ser uma
ambas as coisas ou nenhuma delas? A Europa a mao Deb Burnstone desde o início acreditou neste projeto. Ela, Nikos Alivizaros,
- , lid d L , .o as divisões e incer·.
promessaouumailusão,masnaoeumarea a e. evarasen Bruce Graham, Dave M;izower, Michael Pinnock, Gyan Prak.ash, Pat Thane,John
. . li b ndo n ar a metafis1·
tezas desse continente- como tentei fazer aqm - 1mp ca a a Thompson e Johanna Weber me estimularam, apoiaram e sugeriram muitas
· a'busca de uma "Europa" rrusten
ca, renunaar · ·osa e essena·aleesmiuçaroconSran· melhorias. As lembranças de meu pai, referentes à década de 1940, ajudaram-me
. ::.,,_.::.:- te debate para chegar ao verdadeiro significado da Europa. muito. Peter Mandler me proporcionou todo tipo de companheirismo, principal-
(( - - Yr Em u' l. uma ana'lise, o que está no amago
, d essa h.i stona
, . e, a q uestão dos valores
. mente intelectual. Steve Kotkin entendia antes de mim o que eu queria dizer e me
. e: rnararn ,ns· incentivava a dizer. Meus sinceros agradecimentos a todos eles.
-os valores que motivaram as pessoas a agir, que moldaram e transior . .
• • - . e: _:1;as e 1ndi· Dedico este livro a Ruth Shaffer, a mais extraordinária das avós, e à querida
mmçor;onentaram a política estatal e sustentaram comunidades, ,aruw _ ,
víduo "Toda ordem soc1a · 1e, uma solução possível para um prob lema que nao e memória de meu avô, de Frouma e Max. A história do século xx europeu é a histó-
. ífi 1954º r ia deles também.
cient ico, mas humano, o problema da vida comu nitária", escreveu ern
estudioso francês Ra d A..-n~ d praticarª
. ymon , ~ s europeus ainda são capazes e d
arte sutil requerida pel . , · 51·srerna e
as comunidades liberais? Preservaram o propno
valores?" O" robl . . . a}vez,
p ema da vida comunitária" levantado por Aron consocui, t 15
3. Corpos sadios, corpos doentes
l ({j r
esurnia as leis de Nuremberg e apresentava tab 1 , .
. . . e as ute1s para esclarecer genealo-
o-ias e invesogar estrrpes contammadas porcas .
t:J- , • amento com Judeus. Saúde e felici-
dade domesticas - o Manual lembrava aos leitore _ . , _
. _ . . . s Ja nao eram apenas uma
uestão de escolha e satisfaça o md1v1duais. o libe li
r~
\~
• .
q , _ . ra smo egocentnco de Weimar
cedera lugar a preocupaçao d o nacional-socialismo co .
. . , m a comurudade como um
'. vJ rodo. Antes das receitas havia uma frase preciosa do\Füh . "P d
. , . . ._ rer. er endo-se a força
para lutar pela própna saude, perde-se o d1re1to de viver neste mundo de luta" .J"
;\f -O livro nos mostra valores que não só haviam penetra:a-0 na v1ia2a alema_como
faziam parte de um discurso eu ropeu muito mais amplo sobre saúde nacional e
familiar no período de entreguerras. O Terceiro Reich pode ter levado esse discur-
ieratur
so a novos extremos e destacado o papel da raça de uma forma sem paralelo em
cransc
outro lugar. Todavia, a idéia de que a saúde da família preocupava a sociedade de
modo mais geral, de que a nação precisava de uma progênie racialmente robusta,
de que o Estado tinha, portanto, de interferir na vida privada para mostrar às pes-
soas como deviam viver percorria o espectro político da Europa do entreguerras,
refletindo as tensões e ansiedades de um mundo inseguro, em que Estados-nação
Dez mandamentos para a escolha do cônjuge: rivalizavam entre si, com suas populaçõ es dizimadas por uma guerra e ameaçadas
1. Lembre-se de que você é alemão. pela perspectiva de outra.
2. Se é de boa cepa, não deixe de casar-se. A preocupação com o tamanho da população nacional intensificou-se diante
3. Mantenha o corpo puro. do declínio nas taxas de natalidade que se iniciara antes da Primeira Guerra
M~dial. "Muitos governos europeus têm voltado sua atençao pãnnrãeCrescente
4. Mantenha espírito e alma puros.

í 5
. ~~~~~ã~,-~~col_~-~ !ªr~_c! n~u!e alguém de sangue germânico 011
~a de natalidade das raças brancas nas últimas décadas", observou um jornalista
italiano em 193 7. "A maioria dos biólogos, economistas e políticos concorda plena-
.••_ . _ 1101' tCO. _

6. Ao escolher o cônjuge, pesquise sua linhagem.


mente que os números constituem a força da nação." Depois de 1918 o Estado ten-
tou ~~rrigir essa tendência, criando ministérios da sa_ú de e promovend0 valor; ; _
7. A saúde é uma condição prévia da beleza exterior.
8. Sósecaseporamor.
9. No casamento procure um sócio, não um companheiro para brincar.
familiares. Incentivou e exortou as pessoas a ter mais filhos, ao mes
Q._esencor ajou e criminou o aborto e a contracepção. ~u_as.c.cm.4/ç~~-~-e
vi·da e as mstalaçoes
.
· - murucipa1s
• . --:--
para uso das massas. p0 mentou
. .
_ _ a boa
__ forma
_ _fisica,
·; ~ das caminhadas no
____,
QJ:I

1
1O. Queira ter tantos filhos quanto possível. esti.mulando a prática da natação nas novas p1scmas pu ·
extraído de Hausb11ch far die deutsche Familie (Berlim, s.d.) campo, dos passeios de bicicleta. d ·
,. . 1 bém teve um 1a o mais
Entretanto o desenvolvimento da polmca soem tam _
, .d d d scoque humano da naçao
Essas inSrruções para a harmonia doméstica estavam no início do Manual da sombrio: salvaguardar a "qualidade" e a quantl ª e O e d .
. . olíticos - implicava re uzir os
família alemã' que as a u t on·da des nazistas
. . d
rotineiramente forneciam a to O ca
sal s
- como recomendavam médicos, CJenn cas e P . . bairros
. , 1· T . erigos não se hm1tavam a
jovem. Sua excelente coletânea de receitas era acompanhada de conselhos sobre pengos que ameaçavam a saúde pub ica. ais P . . 'd fisica e mental-
. , . - . 1 , ainda os mdiVJ uos
cuidados com as cria . ·al rruseraveis, pobreza e má numçao; me mam
nças e a casa, alimentação e saúde racial. Uma seção espect
87
86
•~ - l1
H
li/ mente enfermos, q
ue deviam ser isolados, esterilizados ou até, ern c
. . .. aso extre
. ' ior beneficio da soCiedade. Delinquentes juvenis . nio, outros conflitos que prosseguiram até O início d d , d
mortos para ma , . ou cidadã ªd eca a de 1920' provavelmente
omíscuos tambem eram vistos como ameaça à estabili·d os 13 milhões de eu ropeus pereceram. A França
sexualmente pr . . . . ade fa . . - . . per eu !O% de sua população mas-
. , d m pública. E às vezes se deflllla ainda mais amplament lll.i- culina a uva; a proporçao fo1 amda maior na Sé . • .
liar e a or e . . e a arnea , rv1a e na Romema
_ m termos de uma classe inteira -como no chamado "grupos . Ça a A maioria dos mortos era de Jovens cuja a • . ·
naçao e . . oc1al proble usenc1a na Europa do pós-guerra 1 .
teve profundas e devastadoras conseqüências s0 6

~
, . o" que supostamente existm na Inglaterra entre as duas guer · . . re os remanescentes. Magnus
maoc , . . . . .. ras - ou e Hirschfeld, o p10neiro pesqutsador da sexualidade hum d r· .
termos de raça. O Terceiro Reich conJugou o ant1-serrut1smo biológ• ni , ana, e IIl!U a guerra como 1
. . ico corn urn "a maior catastrofe sexual que o homem civilizadoJ·á s0 fr .. .
aparelho estatal extremamente ef1nente para produzir a forma m . ,. . . . . eu • 0 urance o conflito,
. . . ais llloderna os papeis m asculino e ferruruno modificaram-se drasticame t . ,
desse tipo de Estado ass1stennal ranal na Europa. n e,Ja que as mulheres
e as crianças tiveram de defender-se sozinhas sem marido ne . .
Como sabemos hoje, a Suécia, a Suíça e outros países europeus co . . ' m pa1. 0 epo1sde 1918
.. _ , . .. ntinuararn a família tradicional sofreu amda mais: só na Alemanha havia cerca de 500 mil viú-
utilizando a estenlizaçao e outras praticas coercmvas de política social ,
. , . ate uma vas de guerra, e a maioria nunca se casou de novo.'
1 época relativamente recente. Tais praticas tornam a Alemanha de Hitle
r menos Os homens que voltaram para milhões de outras mulheres levaram consigo
1 excepcional e mais próxima da principal tendência do pensamento europeu do que
as cicatrizes físicas e mentais de sua experiência. Eram "homens destruídos"
! se imaginava. No entanto, convém não exagerar as semelhanças. Promoveu-se a
1
1 (segundo uma frase da época) e "patriarcas feridos". Incapazes de reintegrar-se na
Volksgemeinschaft (ou comunidade nacional) nazista por intermédio do que urn
j vida civil, assombrados pelas lembranças da guerra, muitos se suicidaram - os
1 comentarista social chamou de "Estado guardião da vida", m as evidentemente
' números aumentaram rapidamente no final do conflito-, ou buscaram esqueci-
esse "Estado guardião da vida" também achava necessário tirar a vida dos outros, mento na bebida, ou tentaram reafirmar sua autoridade batendo nas esposas e nos
expropriando-lhes seus bens e repartindo-os entre os que viviam no interior da filhos. Enquanto os governos erigiam nobres monumentos em memória dos mor-
nação. Sua emergência suscitou imitadores (como na Itália) e críticos - sobretu- tos, veter anos mutilados esmolavam pelas ruas ou procuravam trabalho. Tendo a
do na Inglaterra-, que atacaram a idéia de que o racismo tivesse qualquer funda- guerra total infligido tamanho golpe à tradicional família patriarcal européia, não
mento científico ou, mais amplamente, de que a política social devesse basear-se admira que se falasse tanto d a "juventude desregrada" numa "comunidade sem
na coerção. A Segunda Guerra Mundial converteu-se numa luta para definir a rela- pai". A atmosfera crítica de 1918-9, com insurreições, revolução e motins, aumen-
ção entre a comunidade como um todo, o cidadão individual e a política social, pre- tou a sensação de um colapso completo da ordem social. ''A revolução e suas con-
parando o terreno para as diferentes formas de Estado do bem-estar social que sur- seqüências foram particularmente prejudiciais à psique de muita gente, sobrerudo
giriam depois de 1945. Os Estados assistenciais fascistas ensinaram aos democratas dos jovens", observou um funcionário público prussiano. "Os alicerces se esboroa- ,
que não bastava garantir liberdades individuais para assegurar as lealdades do povo ram. As instituições estatais, bem como a Igreja, praticamente perderam sua auto-
numa época de política de massas. A derrota d e H 1t . 1er perm1tma
· · · a' democracia ridade. A influência educacional dos pais com freqüência reduziu-seª zero."'
. . a, v1'da europé'1a por meio
. d e um n ovo senso de solidarie· Como voltaria a ocorrer depois da Segunda Guerra Mundial, tais ansiedades
arraigar-se uma vez mais
levaram o Estado a atuar cada vez mais. como pai•subsn·tuto e fonte de autoridade
dade social e coesão nacional.
moral~om o acentuado aumento dos casos de divórcio, 0 E5tªdo reafirmou os
valore a coesão familiar - pois, nas palavras de Mussolim,· ª "ordem moral"
. pro- -:7 . •
· ·
duz a "ordem pública" - para mostrar às mulheres e as cnanç as seu devido
_ .-.. .1 ·..,
luga_:·
A GUERRA E A DESTRUIÇÃO DOS CORPOS (:,,
.
' di
L.,Uma nação não é um bando de individuas spostos ª 0
I d a lado mas wn grupo de
' , .
d' 1 lítico francês Edouard Hernot._
J
M . d . - . a Mundial famílias entrosadas" afirmou em 1919 ora 1ca po ,
ais e 8 milhoes de homens perderam a vida na Primeira Guerr " ' ili " Em outras palavras, não era so
'A célula orgânica não é o indivíduo, mas a fam ª·
fi · d · o tifo e os
- oram mais e 6 mil mort es por dia. Com a Revolução Russa, a gnpe,

88
,-~------------,';~--- -·

.d ava sumamente importante restaurar a família_ e Na prática, as cláusulas constitucionais referentes a oportum·da des 1gua1s
• .
a direita que cons1 er - , , se neces. ..
. . . . dividualismo- pelo bem-estar da naçao. esbarravam no novo culto da fam1ha e na velha legislação familiar elaborada pelos
sano, abolir o m .
d s'gnificava exorozar uma assustadora assombração qu . h omens. "O Estado reconhece
. que, com sua vida no recesso do 1ar, a mu Iher pro-
;1 l} 550 tu o 1 . .
erra_ a jovem mulher mdepe;?E e emancipada com lu
e surgira
porciona ao Estado um este10 sem o qual não se pode alcançar O bem comum",
1 ,, durante a gu . . , . ' gar pró-
.
pnono mercado de trabalho e o propno salano. uppence Beresford, por e xernplo rezava o artigo 41 da Constituição irlandesa de 1937, deixando claro o lugar onde
_ a heroína de o adversário secreto (1922), de Agat a Christie- , que atua racorno as mulheres deveriam trabalhar. Sindicatos conservadores e predominantemente
enfermeira nas frentes de batalha, ingressou no mundo do pós-guerra reiv' d' masculinos, assim como organizações de ex-combatentes, frustraram muitos
m 1can-
do oportunidades profissionais iguais, independência sexual e vida at·1va. No esforços para consolidar o direito das mulheres ao emprego e com freqüência con-
entanto, apesar do emprego crescente da mão-de-obra feminina, sobretudo no seguira1f-!2brigá-las a abandonar postos de trabalho que haviam ocupado durante
novo setor de prestação de serviço, exemplos como o de Tuppence eram cada vez a guerra\!3talelamente, muitas trnbalhadoras profissionais tinham de demitir-SI)
\U mais criticados como manifes~ões de "bolchevismo sexual", ameaçando a tradi- depois que se casavam, como ocorna, por exemplo, no funcionalismo britânico~

1
i
j li
0 cional autoridade dos homenU.s garçonnes da década de 1920, esfuziantes moci-
nhas de cabelos encaracolados e quadris esguios, revelavam um egoístico amor ao
Ao hedonismo egoístico da trabalhadora solteira contrapunha-se a "forma
heróica da vida cotidiana", encarnada pela esposa e mãe (as duas funções geral-
'Ij: prazer e um medonho desinteresse pelo fururo da nação. "Fumando, cortando 0 mente se equivaliam). '/\. maternidade é o patriotismo das mulheres", afrrmou um
cabelo, vestindo calças compridas ou traje esportivo [ ...], as mulheres se parecem propagandista fasci~ta. Até Stalin acabou chegando à mesma conclusão, assustado
cada vez mais com seus companheiros", escreveu um francês ho~ado. Como c'õm o grande número de divórcios e abortos que acompanhou a migração maci-
tais andróginos poderiam transformar-se em mães responsáveis?'_.JJ _ ça de camponesas russas para as cidades, e em meados da década de 1930 as leis
Havia em tais dúvidas cerco nervosismo político. Os bolcheviques revelaram libertárias dos primeiros bolcheviques cederam lugar a um novo compromisso dos
possibilidades fascinantes nas relações entre os sexos, ao promover em curto espa- soviéticos com a família tradicional.'
ço de tempo uma emancipação feminina sem paralelo no restante da Europa - Essa ideologia da maternidade na Europa do entreguerras tinha raízes pro-
refreando o poder da Igreja, banindo tradicionais privilégios patriarcais e permitin- fundas. As taxas de natalidade começaram a cair no final do século x1x,justamente
do às mulheres requerer divórcio. Alguns políticos soviéticos falavam até em abo- quando se acirrav-"'::n-,""°'metição entre impérios e nações. A crescente importância
dos exércitos de onscriçã obrigatória converteu o tamanho e a saúde da popula-
lir por completo o casamento e encorajar uniões livres; na opinião dos críticos,ª
ção de um país em ao de segurança militar e nacional, sobretudo nos Estados
família russa, destroçada pela guerra, estaria sendo incentivada a "desaparecer",
europeus empenhados numa luta darwiniana pela supremacia. Os franceses
junto com as outras instituições da vida burêlesa. '
temiam que o crescimento mais acelerado da população alemã significasse seu fim
Na atmosfera antibolchevique dos anos 1920, isso dificilmente ajudariaª
como grande potência. Os alemães não se preocupavam com os franceses, mas
causa da emancipação feminina no restante da Europa. É bem verdade que muitas
eS tavam apavorados com as "prolíficas hordas eslavas" do Leste. Os nacionaliStas
das novas constituições reconheceram o voto das mulheres, mas em vários países
húngaros acreditavam-se diante de uma 'batalha sem esperança" na luta contraª
- França, Itália, Grécia, por exemplo - elas não tinham acesso às urnas, e na Grã-
"morte do povo" nas mãos dos eslavos, alemães e romenos. Os ingleses, principal-
Bretanha seu direito ao sufrágio foi bastante limitado até 1930. Além disso surgi· m ence depo1s
· da Guerra dos Bôeres, perguntavam-se como u ma "raça em declí-
ram dis 'd' · . · .' ·cas acha- n·10" d • e G. seppe Sergi grande
si encias em seu movimento: as ativistas mais jovens e mais prati
po ena governar um império gigantesco. orno rn ' ., .
vam cada vez menos satisfatória a ênfase das velhas sufragistas na igualdade 'ali . li Progresso da C1enoa
espea sta em eugenia, informou à Sociedade !ta ana para O . . .
eleito 1 "P cipa· e - 'd .. de impeno - temia que
_ ,, ra · araª mulher que trabalha, o voto [ ... ] não representa sua ernan m 1916, a Europa de modo geral - ainda presa a 1 era
çao , argument . _ d supremª
. , . ou uma comurnsta grega. "Porque nessa questao e suas "raças superiores" estivessem minguando.'
tmportanc1a o que mais Ih . , ,,
e rnteressa e todo o problema social. ' 91

90

. '!'r-,•- ~--
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. te a Primeira Guerra Mundial piorou muito a situação lev d
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Obv1amen ,
líderes nac1on
" . , . , an o os
. ai·s a pregar a idéia de que a gravidez e o serviço ativo da ,,.., Ih
.,,u er"
j
ernpregados a ter mais filhos; tais medidas também tornavam os b ~ós mais
q
leais à empresa e menos propensos a greves. Na década de 1920 Dja das Mães - 1

Em seu esforço para estimular a n~talidad~, as autoridades francesas difundira1~ urna invenção das floriculturas e papelarias - mostrou de outra ~ 0 1

is exortando os soldados em licença a trabalhar pela repovoação" e ped·


poSta 1ra1n capitalismo sabia tirar vantagem da obsessão pela maternidade. "
1
às jovens que "trabalhassem pela França". Na Inglaterra, os paladinos da nat~. Incutia-se o maternalismo nas meninas desde o momento em que entravam
fa..~blicara~ livros ~orripilan_tes - como A ameaça do berço vazio e Berços 011 ~ na escola. Na Inglaterra, elas estudavam matérias como "puericultura" e "econo-
1

ossa mawrnecessidadenacional, de 1916- sobrde seus con-.p . mia doméstica", que lhes permitiriam exercer "a técnica, a arre e a profissão de 1
" ' atn 0 •
Na Alemanha, ~eichstag aprovou leis p oscrevend a contracepção e uma boa mãe". Na França aprendiam a alimentar bebês, dar-lhes banho e trocar 1
restringindo o abort<\:g ~e~-~star ge:al do Estado_·de . ter pre~ência sobre os fraldas. AB jovens que já eram mães eram bombardeadas com campanhas como a
1
sentimentos das mulheres , dizia o preambulo da lei antiaborto.'º Semana Nacional do Bebê, cuja Conferência pelo Bem-Estar Infantil, realizada em
o medo do declínio populacional não desapareceu com o un da guerra. Ao Londres, em 1923, apresentou artigos para a mãe consciente da importância da 1

contrário, o assunto se tornou manchete com o aumento dos divórcios e uma série saúde; também eram convidadas a adquirir conhecimentos especializados nos 1

de sombrias previsões demográficas. "Menos bebês britânicos. Queda repentina Centros de Treinamento de Mães, de Sir Frederick Truby King. Na Alemanha liam 1

da natalidade. Se o declínio persistir, a população da Grã-Bretanha poderá estacio- revistas como Die Deutsche Hausfrau [Adona-de-casa alemã], de Weimar, publicada
nar", advertiu o Daily Mail depois que um estatístico anunciou que a população da por uma popular associação de senhoras da classe média, ou visitavam uma das 1

Inglaterra e do País de Gales cairia para 31 milhões em 1975 e para minguados 17,7 muitas exposições itinerantes organizadas pelo Museu de Higiene de Dresden 1

milhões no final do século xx. O principal demógrafo da França calculou que a para garantir a 'boa forma nacional e a saúde fisica e mental das gerações futuras"-
1

população de seu país estaria reduzida a 29 milhões em 1980. A Alemanha de Nada menos que 7 milhões de pessoas visitaram a exposição Ge-So-Lei (Gesimd/1eit,
1
Weimar apavorou-se em 1927 com o panfleto Geburtenrückgang [Redução da nata- soziale Fürsorge und Leibesübungen) [Saúde, assistência social e exercícios fisicos],
lidade], escrito por Richard Korherr, que mais tarde seria o chefe do Serviço de cem sua visível propa da J.,iga d as Famili.as Ricas de Filhos · Para muitas des- 1

Estatística da ss e, como tal, responsável perante Himrnler pelas estimativas sobre sas mulheres o fim de rmar assinalou o auge de um movimento "contrárioªº-
1
as mortes de judeus europeus; outro título, Volk ohnejugend [Povo semjuvenrude], liberalismo, iavorável lmg{ções; contrário à trabalh~~_<?r:_profissional,_f~rá-
1
' - - : - : - , - - - -- - - - - - ~ -

esgotou logo após a publicação, em 1~3, e teve mais três edições. E as ansiedades vel à dona-de-casa e mãe': U -
'---
gl,obais se sobrepunham às nacionais "A resente queda da tax~ ~e-nat~lida~e eu;:i·
peta é um mal contra o qual é necessa 10 reagir em nome da ovihzaçao ociden ' nsformarem em reprodu-
E, ao mesmo tempo que instava as mulheres a se tra ..
cuja supremacia poderá ser ameaçada pela abundância das raças de :Dreveniu ,, · · um peso para o Estado ,
toras, o Estado dificultava o aborto. O aborto consnrw
um italiano especializado em política social. 11 •b · - feminina à produ-
nd escreveu um médico soviético, "porque reduz a contn uiçao . .
"Agora vão e digam às mulheres que preciso que ponham filhos no mu º' __ ., - orno já havia sido em
t ção." Em 1936 o aborto;· crirninado na Umao Sovienra, c dl
muitos filhos", Mussolini ordenou às líderes das organizações femininas fasriS ª s. . tinente suas idéias escan a 0 -
grande parte da Europa Bmvezdedifundirpelocon .d d d
O Duce e Hitler não foram os únicos nem os primeiros a estabelecer tal objetivo. . , eafirmação pró-nata1I a e a
sarnente libertárias o comunismo sucumb iraª r
~ ln~ d
~ a parte e sua propaganda baseava-se nos esforços dos franceses, que c
oncediarrt
.
{ família tradicional e,dos papéis sexuais.,:-1 , , do de entre-
j medalhas às mães prolíficas- bronze para cinco filhos, ouro~a
dez- , curnprt· ,,,) O aborto porem no peno

! d~ras de seu ~~triótico dever após a matança da Grande Guerra. rupos com:: Os países católicos sempre condenaram
,. .
guerras adotaram uma pohnca ainda ais P
.'
· re ress1va, graças
d
à intervenção do
ônio em 1930.
u
· n

1
Liga das Familias Numerosas, da Bélgica, reivindicavam isençao imp0stos e p · .. santidade o marr '
i aticano com a /!náclica do papa Pio Xt s bre ª
suíam · t·var os
" 1 muitos membros. Os patrões ofereciam salário-familia para incen 1

______
93
i \
92.
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,,:
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" ·..., ,i., •--~
r
!
A Itália estabe1ece

. ,.
u penas severas para o aborto ilegal e obrigou os méd•
.
., • ucoridades. Em certo momento, o governo fascista até acal
1
denunaa- o as a . .
. crartodosos casos de gravidez; suas Le1sde Segurança Públi d
icos a
entou
rnonia conjugal. Sua Society for Constructive Birth Contrai and Racial Progress,
junto com outros grupos, criou clínicas de contracepção, despejou torrentes de
no país e organizou caravanas missionárias de controle da natalidade "
a ideia de regis . . ca eter. panfletos . ---:--- - - .
. que "impedir a fecundidade do povo italiano" constituía crime e , Na Alemanha, o movimento f01 amda mais forte e mais politizado, talvezpor
nunaram , o codi-
l de 193 0 incluiu um capítulo intitulado "Crimes contra a integrid d enfrentar uma oposição muito maior e mais determinada, em meio a uma cons-
go pena a eea
., . mais profunda de crise nacional. Para Helen e Stõcker - intelectual de
sau, de da raça". A França proscreveu o aborto em 1920, observando que, "depo1.s 0 enoa
da guerra, quando quase 1,5 milhão de franceses sacrificaram a própria vida para racionalista e líder da Federação pela Proteção das Mães-, proscrever
. r esquerda,
que a França pudesse ter o direito de viver com independência e honra, não se pode ão implicava renunciar ao controle sobre a natureza. A seu ver, a con-
J a contraCepç
colerar que outros franceses tenham o direito de ganhar a vida com a dissenu·naçao
_ - n·nha um propósito eugên ico, pois, "como a humanidade submeteu
tracepça0
do aborto~as a tendência extrapolou o mundo católico: na Inglaterra, a Lei da rodas as outras coisas a sua percepção racional, assim deve dominar cada vez mais
o Criança (Preservação da Vida) de 1929 transformou o aborto num delito estatutá- uma de suas questões mais importantes: a criação de um ser humano. Teremos de
,.... rio punível com prisão perpétua. ~ encontrar meios para evitar que os doentes incuráveis ou os degenerados se repro-
~~ Em toda a Europa, porém, os desejos do Estado e os das mulheres estavam zam. ,, ~ u eda e direita não estavam tão distantes uma da outra como às vezes
.
J ~ longe de coincidir. Continuou sendo tão difk il fazer cumprir a legislação do sécu- ·
recia. Ambas sonhavam com uma uto 1a eu ênica e acreditavam-seca azes de -~
: "- ...~ ' lo xx.sobre o aborto quanto sua equi.v alente napoleônica. ?s processos foram pou- ~ o Terceiro Reich na verdade liberalizou algumas cláusulas de \
i: .J cose não tiveram grande impacto sobre uma prática que se mantinha amplamen- eimar sobre O aborto, baseando-se também na eugenia, porém fechou centros
:i ~ teaifund±cla-eutre rnulhexes de mdas as classes. Especialistas na década de 1930 de controle da natalidade e cerceou a propaganda de contraceptivos." '
J '.i, calcularam que se realizavam anualmente ITÍê10 milhão de abortos na França e 150
• mil na Bélgica. Na Alemanha de Weimar, onde houve mais processos sob as leis
L· 11 antiaborto que nos primeiros anos do Terceiro Reich, ocorriam anualmente até Contudo, não foi fácil para os governos europeus elevar os índices de natalida-
J 800 mil abortos. Ou seja, o aborto constituía um método comum de controle da de ou obrigar as mulheres a abandonar o emprego e se tornar mães. A presença
,l natalidade. As leis que o coibiam não tiveram nenhum efeito considerável sobre as - di · · na Europa de modo
feminina no mercado de trabalho praticamente nao nunrnu
i taxas de natalidade; apenas tornaram a prática mais arriscada e furtiva para geral e em alguns países até aumentou no peno , do deentreguerras· As caxas.de nata-
' milhões de mulheres. Na verdade, elas talvez a tenham utilizado mais justamente lidade não apresentaram nenhum crescimento. espetacular, e a maiorautondadeno
porque o Estado combatia outras formas de contracepção. A França baniu ª pro· , d -ras fracassou redondamen-
assunto conclui que a política demografica o entreguei • .
. a lffiltOU
a e contraceptivos em 1920; a Be, 1g1ca • · e ml 923ealtálía, _. d ' d d 1930 provavelmencepormoa-
Paganda e a vendd te. NaAlemanha essas taxas cresceramna eca a e '
, . 1 da naralida- -- ' ,. . d mógrafos do regime afir-
em 1926. N~Q,anh!.de Franco a classe medica condenou o ~ o e . vos que pouco tinham a ver com a políaca naz1stª· 0 s e _
~ por motivos religiosos. "Todas as restrições à fertilidade são perigosas paraª . 1 . !ismo estimulara os alemaes a
mavam que a "revolução psíquica" do nac10na -socia . .
e deviam ser os pnmetros a
sau e dª mu1her; todas
'd - as mulheres escurecem sua alma com o crepe negro do
ter mais filhos. Entretanto, os membros da ss, qu - .
au exemplo ao resto da popu1açao.
pecado mortal", declarou em 1941 um médico espanhol.•• . demonstrar fervor ideológico e sexual, davam m , . filho "
Fora dª Europa catohca
' · o movimento pelo controle d ata foi rnais tinham em media apenas 1,1 .
e ~ em 1939, 61 % eram solteiros, e os casados . . dos quais O mais
0
forte e na eca a 1 . d fi d contracepça u or muitos monvos,
---.::..:...:.. e a guns ob 1e o n s e g u ~- , 'J A campanha pró-natalidade fracasso P d overnos. Eles pode-
como um ~füei_t,? da ~ul~er, ou, baseand~-s~~e.\l~rlií!..,_como um recurso un . . s ·mencoporparce osg
importante talvez seja o pequeno mve n , . familia restituição de
para a saúde da naç~ N G -·-:--··--- ---" , blico ao afir· . . . . fi]h s oferecendo sa1ano· ,
ao. ª ra-Bretanha Marie Stopes assombro u O pu nam mcentivar os casais a ter mais 1 0 '
mar que o cont oi d li re da bar·
r e ª nata dade constituía um importante componen 95

94
. to de renda subsídios para habitação. Todavia, a péssima situação f·
1mpos • . . . . inancei- O ESTADO COMO PATF!R FAMILIAS
a em que a maioria se encontrava os 1mped1a de elevar tais mcentivos a ,
r ~~
capaz de produzirgrandes resultados. Po_u co.uec.o_rreram_ao-tm.genhoso .
_ . .. ~ ~ ~Ped1en. Trancafiado numa prisão fascista, o italiano Antonio Gramsci, teórico do
te fascista de cobrar imposto dos solteir.Qâ. Em geral utilizaram métodos ·.-- -~-
- - - - - - - - - - -· - , mais ba comunismo, refletiu sobre o "papel educador e formador do Estado. Seu objetivo
ros-:eineficazes, como repressão policial e medalhas para as mães prolíf• ra-
' 1cas.
A insistência dos propagandistas oficiais na família muitas vez sempre é criar novos e mais el~os'títyõs ãec:1vílízãçãõ(7âêseiwõi~é-ftsie:r-
. , . - - . es produzia o
efeito contrano. As maes _n.~9. g~~p_ge ver a procriação como uma respoi . ~ -e-;-;;,novos tipos de huma~ . As ambições sociais do Estado no período de
d
., .

. .
. d
lida e patnotica nem queriam pensar que um ia seus fühos iriam servir de b
de canhão. Enfatizando o "dever" e a "responsabilidade"' --ÕEsta~ ~
,
parecerum fardo. Pior amda: do ponto de vista financeiro a prole z
. . '
1sab1•

-o 1az1a a prore---
rea mente se con-
entreguerras confirmaram suas palavras. Os pais já não podiam criar os filhos;

-
medo do declínio nacionallevou à criação de uma vasta gama d!!_~erviços sociais ofi-
.- - - - . _ _ . - -- - ----- ·--·---- ··-
ciais, que se somaram aos já prestados por organizações particular~;relig~ ou
-0

vertia cada vez mais num fardo. As perspectivas de trabalho e - • -~ivas mais anrigasE,.m o setor público intervencionista surgiram o assistente
_ ram incertas e 0
desemprego, uma preocupaçao constante. O Estado queria que ·d d- . social profissional, o supervisor da habitação, o inspetor sanitário escolar e o psicó-
os a a aos tives-
sem filhos, mas não deixava que esses filhos trabalhassem para . logo educacion~ Estado intrometia-se nos assuntos mais íntimos da vida priva-
. . . se manter, obriga-
va-os a passar mais tempo na escola e eX1g1a que estivessem ade d da, oferecendo - é verdade - uma série de novos benefícios, porém exigindo em
qua amente ali-
mentados e instalados. Com o trabalho braçal cedendo luga r, cad a vez mais . a, troca a adesão a um modelo cada vez mais explícito de comportamento sexual.'º
mão-de-obra qualificada e alfabetizada' a economia famili'ar m u d ou d.1ast1camen-
· ' ~urante ou imediatamente após a guerra,_ as autoridades na.ornais construí-
te. Afanúlia deixou de ser essencialmente uma unidade de produça~o, como no caso ram clímcas para o tratamento de doenças venereas e ruberculos_;J n~edida do
dos agricultores tradicionais e dos operários, para se converter numa unidade de possível regulamentaram o consumo de álcool, esse "veneno raci~a Grã-
consumo. Bretanha, aprovaram-se leis para diminuir a mortalidade entre parturientes e
. ~!vez seja confortador saber que o Estado do entreguerras teve pouco recém-nascidos e, em 1919, criou-se o Ministério da Saúde. Suas prioridades no
impacto sobre as tendências demográficas e não conseguiu controlar as decisões tocante aos cuidados com as crianças preocuparam alguns especialistas em euge-
• .:;::--r, que faz as pessoas terem mais
dos indivíduos comuns n o que tange a, procnaç~ nia, como Sir Robert Hutchinson, presidente do Royal College of Physicians, que
ou menos filhos continua send o um d os grandes rrustenos
. , . - as causas do longo se perguntou "se hoje em dia o[... ] empenho em salvar vidas incipientes é de fato,
declínio
. da fertilidade na Europa nao
- estao
- mais· d efimidas
· · da
hoje que os mouvos biologicamente falando, tão proveitoso quanto a produção em massa[... ] do sécu-
mesperada explosão d anatalida d e na decada
, de 1950-, e é por isso, talvez, que as lo passado". No entanto, só uma minoria pensava dessa forma: o processo do nas-
tendências demog · fi . cimento estava sendo cada vez mais assistido por médicos e profissionais (nem
ra icas suscitaram pavores apocalípticos. Imagens horripilantes
de um planeta superpo d d
voa o, e uma Europa - cuja população está minguan
d
° sempre em beneficio da mãe), e a proporção de partos em hospital subiu de 15%
e envelhecendo-· d'd , . . . em 1927 para 25% dez anos depois e para 54% em 1946. Fora da Grã-Bretanha, o
mva 1 ª por prolíferos 1m1grantes do Terceiro Mundo constI-
tuem o equivalente daq 1 , . - papel do Estado expandia-se com mais rapidez e decisão. Na França, o serviço de
. ue es parucos do entreguerras. Por outro lado, se nao con-
segum o que queria _ u . assistência aos militares na época da guerra converteu-se em Ministério da Saúde
E d _ . m cresamento mais rápido da população nacional -, 0
sta o nao Interferiu em se . . . em 192~tália, a Agência Nacional pela Maternidade e pela Infância (criada em
d . · tores maiores da vida pessoal dos cidadãos. Por meio
e encoraJamento e coer ão 0 d . ·_ 1925) divulgou métodos modernos de higiene do bebê e promoveu o parto aco~
tou uma . d ç ' eseJo de um estoque biológico aprimorado suso
varie ade de políticas f: T
obsessão do d clin' ami lares que sobreviveram por muito tempo
à panhado por médico num país em que 93% das crianças ainda nasciam em c3/
e 10 populacional. responsável por centros para mães e crianças, instalados em novos edifícios moder-

1 96
97
il minados por sanatórios à beira-mar para trabalhadoras l'
nos e bem u ' , co onias d
e: .
,enasepo sros de saúde• a Agência só foi dissolvida em 1975. 21 e OberbürgermeiSter Gustav Boess ressaltou "os novos parques, quadras de esporte
A esquerda-atuando como sempre mais no âmbito municipal que no . e playgrounds, bem como os banhos públicos"."
e fortemente inf1 · d a pe1as 1'd'·
uencia e1as b o1ch ev1ques
· - concebe l nac,o·
na1 . . . , u a gllns do O planejamento da vida moderna estendeu-se da cidade para o interior da
planos assistenc1a1s mais abrangentes da decada de 1920. Na Alemanh s casa, sistematizando O movimento também na esfera privada. Sob a influência do
. . - " . ' . a, Os SOci [
democratas cnaram reparnçoes de ass1stencia familiar" que visavam .. ª· estilo internacional, projetistas da esquerda modernizaram a vida doméstica, tra-
roda a família" para salvá-la da força desintegradora do capital,·s abraçar tando as tarefas do lar como funções e a unidade familiar como um elemento da
mo. Na 'V
Vermelha" -que entre 1919 e 1934 teve a municipalidade socialist . iena era da máquina. "Concebo o projeto com base em estudos sobre procedimento
a ma,s amb· .
sa da Europa - , os vereadores marxistas propuseram um "com icio. na c~nha - ações, movimentos e!S,'.', escreveu um arquiteto tcheco sobre sua
rato social" co
pais: em troca de ajuda especial, como roupas de bebê os casais p b mos nova cozinha e ~". "~is ponho as partes individuais do
. . . ' o ressecompr0 _
metenam a cnar os filhos com responsabilidade. Onde não ct· equipamento lado a lado, na ordem em que sao usadas. A esteira básica é, assim,
. . . . se ispunha de tais
recursos, havia assistentes sociais para levar as crianças aos ce t . . um círculo continuo, evitando ziguezagues e idas e vindas." A maioria das donas-
n ros municipais d
observação infantil. Tudo isso fazia parte de uma "Polític d C e de-casa da década de 1920 devia achar futurista demais essa cozinha, com seus armá-
- ,, . . , a o asamento e da rios embutidos e suas longas superfícies de trabalho; parecia a visão de um mundo
Populaçao , concebida para garanttr as familias as "condições d · - .
e cnaçao ideais" A
esquerda, tanto quanto a direita, acreditava que a "família er ·d d : e ~ não só o ato de preparar a comida, ~ o o dia-a-dia eram planejados e
• j
ª ª um a e social organizados segundo padrões industriais. Na verdade, a mecanização da vida no lar
natural, primária e fundamental" -assim rezava a Constitu·ç- · 1and esa d e 193?
;: li i ao tr só se firmaria realmente nos 1960, com o desaparecimento do serviço domés-
- e estava mais propensa que os conservadores antiquados a utiliz d
. f' , . , . .
publicas para defende-la. Seu at1v1smo modernizador e sua ambição·de criar um
ar os po eres tico barato; no períod~ entregue s as casas da classe média em grande parte da
Europa ainda tinham q~rto de empre da para instalar a lava-louças."
"novo ser humano" forneceram um modelo para os movimentos intervencionis-
i' 11

tas da direita fascista na década de 1930.


O admirável mundo novcxl-a.década de 1920 conjugava racionalismo e gran-
deza moral. Havia leis que controlavam a superlotação para garantir a "higiene
A saúde da família estava estreitamente relacionada às condições de vida nas social", eliminando os perigos que a vida nos bairros miseráveis apresentava para
st
con ruções que a rodeavam. As casas, os edificios e a própria cidade converteram- a moralidade e a saúde. Ao visitar famílias residentes em propriedades da Me-
se em laboratórios para novas formas de vida aprimoradas e mais saudáveis. Os tropolitan Housing Corporation de Londres, as senhoras da Society of Women
velhos cortiços do século xrx foram demolidos para dar lugar a prédios de aparta· Housing Estate Managers verificaram "um constante aprimoramento nos padrões

1•
l
i
,_' :
mentos em condorrúnios planejados. Assistentes sociais e supervisores da habita·
:ão verificavam padrões de higiene e métodos culinários. Os grandes e novos con-
. d a v·1ena lT
JUntos habitadonais vermelha- cercade60milapartamentosconstrm'dos
em quinze anos - incluíam lavabos e banheiros comunitários: 'J\o invés de edifi-
de limpeza e na saúde soda! da maioria dos inquilinos". A Corporation montara um
"apartamento-modelo" e convidava os moradores a conhecê-lo, apresentando-
lhes, assim, um "ideal que muitos deles são incentivados a esforçar-se para alcan-
çar". A maneira como o sistema habitacional criou normas de comportamento
• 1
I
1, cios compactos com , , , . s familiar evidenciou-se ainda mais na Holanda, onde se construíram prédios espe-
. ' areas comuns ex1guas, ergueram-se pred10s com espaço
1: mternos amplos liv l • 'b 1 ciais para a segregação de "farrúlias insociais". Segundo as autoridades:
i: ' res, c aros e are1ados. Cada residência dispunha de vesti u o,
. i banheiro,gáseluzel't. [ - - . . ,, e;:;:, ., do
11
1
e nca ...] Morar em porao já nao era pernundo peno t.:º As famílias escolhidas são instaladas temporariamente nesses conjuntos, rendo-se
de entreguerras as cidad ,. ]eis
1 es europeias racionalizaram-se com a ajuda de novas
de planejamento urbano· · . . , bl'cas como objetivo reabilitá-las e torná-las asseadas, responsáveis e pacatas. Procura-se
'pro3etaram-se parques; construíram-se p1scmas pu 1 , a usar suas ms· ralações adequadamente e fazê-las per-
e playgrounds condiz -~ ]te· com todo o empenho ensina-las
d entes com a obsessão pelo sol e pela boa forma fisICa. na
cen o as realizações das 'd 20 o ceber os erros de sua conduta [.. •] Q uando uma família demonstra que
· se tornou nor-
auton ades municipais de Berlim na década de 19 '
99
98
r ,
•,[/
6
,.,
',' . fi rida para um dos condomínios municipais [ ...] Se depois de t d
mal. e erans e
J ,.
la incurável, é expu sa.
u o se re
Ve,
aprimoramento racial fosse mais importante que hoje. Sacrificando-se patriotica-
J_

i'

/
it
. ,
Famílias "incuráveis": eis aqui a linguagem da medicina aplicad
. . a a norma
mente em ambos os lados da Guerra Mundial,tt Europa perdeu grande parte da
h~rança irrecuperável d_e séculos de civilizaçãd.r~~ certos lugares da Europa:, o~ 7
..
, ; . sociais e morais num contexto bem diferente do da Alemanha nazista N
/ , •i . • . • a verdad
s p10res e a soo edade . de am destruir os melhores .~
.J as obsessões do Terceiro Re1ch encaixavam-se no debate europeu mais am e, Impelidas por esses ;nedos, sociedad~~ dedicadas à promoçao a eugerua -
IO
política soo·a1. O Estad o do entreguerrasJUSt· if•1cou suas intervenções P
. sobre ou de sua prima irmã, a t:higiene ra~al" / espalharam-se por toda a Europa, da
- . . na vida Priva
da apelando para noçoes de profiss10nalismo, de conhecimento científico e · Espanha à União Soviéticã:'"''En~r,,w-omoveram a saúde nacional na Hungria
tência apolítica. Profissionais liberais da classe média, funcionários e adminicornpe. \,' e na Tchecoslováquia e filiaram-se a associações esportivas patrióticas. Na Rússia,
. bl. . strado- ~
res pu 1cos apresentavam-se como um instrumento moderno de _ 0 Departamento de Eugenia, fundado em 1921 , incitou "cientistas e assistentes
gestao social ,.
com médicos trabalhando no corpo da sociedade e preocupados co . ' ,, sociais a realizartrabalhos comparativos sobre o tema" e estabeleceu vínculos com
. msuasaude
Assim, por exemplo, os funcionários americanos que depois d 19 · ge.ni(;..R-ecC1félUlfice american , iedade Pró-Raça e Biologia Social alemã
. . . . . . e 18 presta- e a ritish Eu enics Education Society. ortanto, o movimento foi não s0J._m sinis-
ram a1uda humamtana na Europa, distnbuindo alimentos aos cam
• . • _ _ , . poneses famin-
tos da Polorua e da Ucrarua, mstalando chrucas pediátricas e fome d .
cen o 1e1te grá-
r
,IJ -::_,_
tro precursor da postura nazista, como pai'e~ oje, mas tamb~/ ~ Õor~~do,
tis em Viena ou supervisionando o reassentamento de milhares de . fu - d ., · .. ,ruma vasta congregação confiante na própria c ~ 1ªdr ie . · l e_,seus
te g1a os na J .

-
\.~ / adeptos havia social-democratas e reformadores libérai_~ f _
n~s · Beve-
Grécia, consicderavam-se explicitamente acima da luta política. A Rockefeller . (,
ridge na Grã-Bretanha, bem como conservadores e autontanst~ da dp:e1ta. Havia
Foundation _P~trocinou campan~~s ~e,,erradicação da tuberculr,~1e"a~~o-a __,.
anti-semitas, mas alguns dos principais ''higienistas raciais" alemães eram judeus.
arte da publicidade aos fatos da oenoa . Mas os europeus tamt{_\ 6t?1
~ -. gosrayc)fu de
Havia os que insistiam em medidas "negativas", como esterilização, e os que defen-
ver a política social como uma matéria apolítica, uma questão de:/'h reni.l 'ál"
. /; º9 . ~. <liam estratégias "positivas" para aprimorar a boa forma fisica, a nutrição e a saúde
Na Inglaterra, por exemplo, o British Social Hygiene Council pediu a "ltí'stltucio- ' f pública, acreditando que ar puro, exerácios constantes e banhos de sol evitariam o
nalização" dos doentes mentais, o ensino de educação sanitária e sexual nas esco- .
\
/ declínio racial. Todos acreditavam que o Estado e as autoridades públicas eram
las, melhorias na habitação, no saneamento e na alimentação infantil. Na França, ~ capazes de criar uma sociedade melhor.]
um Conseil Supérieur d'Hygiene Sociale aconselhava o Ministério da Saúde. Via- Evidentemente, nesse espectro político os especialistas em eugenia apresen-
se a sociedade como objeto da engenharia social, em que se adotava um procedi- tavam diferentes definições da natureza do futuro "homem novo" e do ambiente
mento esclarecido e imparcial, num espírito de distanciamento racional das pai- social mais amplo. Os social-democratas enfatizavam as condições dos trabalhado-
xões políticas.'' res urbanos e da cidade em geral. Já os conservadores achavam que a visão de um
Asam i .. idades desse tipo de abordagem eram mais evidentes entre os espe- mundo industrial mecanizado, onde os seres humanos se reduziam a componen-
cialistas e u eni
---=ª..,. .
gente que, tanto na esquerda como na direita, acreditava na
tes funcionais de um processo de trabalho, era o problema, não a solução para a
possibilidade
____ .• de prod uz,r ~
· seres humanos "melhores" mediante uma polinca soua1
crise da sociedade moderna. Não lhes interessavam os sonhos da "cidade contem-
. ---·- ~~ - - - ~ ~ - - - -, -.
·-~
adeguada. Cada vez · . _._
mais aceito por c1ent1stas sociais e administradores no peno
do anterior à Primeira G M . · 1o
. porânea com 3 milhões de habitantes" - "la ville radieuse" (1935) -. acalentados
por Le Corbusier. Associavam a saúde social não à cidade, mas ao campo; não à
, uerra und1al, o movimento eugênico ganhou 1mpu 5
com ª propria matança do indústria e à máquina, mas à terra e ao trabalho braçal. Para muitos especialistas
C provocada pelo conflito. Discursando no segun
ongresso Internacional d E em eugenia, as cidades tinham efeitos paradoxais sobre a fertilidade humana: tor-
ri M e ugenia, em 1921, Henry Fairfield Osborn, do Ame· navam a classe média estéril e ao mesmo tempo induziam os pobres a procriar com
can useumofNaturalH'1st0 ' ·a
d ry, declarou duvidar "que tenha havido na histon assombrosa rapidez. Na verdade, as preocupações com a eugenia suscitaram em
o mundo um momento em , re
que uma conferência internacional sobre carate
IOI
roo
a uma profunda ambivalência em relação às conseqüênc.
to da a Europ ias socia• Uma forma de abordar o problema consistiu em fornecer casas populares
. - qe
biológicas da urbamzaçao. ,
com espaço para hortas e jardins e em incentivar a construção nos subúrbios e nas
Antes de 1914 o excedente da população européia havia at
• . . ravessado 0 novas pseudo-aldeias, Na Polônia, na Escandinávia e na Alemanha, as autoridades
Arlântico ou se instalado em vastas colomas. Depms de 1918, porém a ,
construíram moradias que pareciam destinadas a agricultores urbanos. Na Grã-
fechou as portas e a imigração transoceânica na escala do passad~ toA.rnerica
Bretanha, empreiteiros particulares ofereciam a seus clientes imitações do estilo
impossível. As potências imperiais tentaram incentivar seus súdit rnou-se
. . ma~~~ Tudor e outros estilos "pré-urbanos" .28 Contudo, à medida que o panorama político
Jecerem como agncultores em Tangamca, na Líbia ou nas Índ· O . e-
. ,. , ias nentais europeu se ensombrecia, esse namoro público com um campo idealizado intensifi-
entanto essa 1de1a atraira pouca gente no passado e menos ainda na d,ecada de 19' no
2 cava-se, Em todo o continente o idioma modernista da década de 1920 - interna-
Camponeses em b a de tra
-
o e refugiados de perseguiçõ •
,.
.
es mvadiram as cida-
º· cionalista, mecanizado - cedia lugar, nas artes, a uma preocupação mais nacio-
des, e o número d onurbaçoe europeias com mais de 1 milh- d h . nalista com o orgânico e com uma vida mais ligada à natureza, O racionalismo era
d li d ao e abnantes
up cou entre
- as u ssa fuga para os centros urb anos io1
r . modesta e
substituído por uma ênfase no instintivo, o individualismo pela vida tribal e comu-
comparaçao
. d com a que ocorreria depois
. de 1950 , mas , no c ma d e depressãome
li nitária, o cérebro pelo corpo. Ao novo realismo de Weimar seguiram-se as paisa-
ans1e ade dos anos 1920 e 1930, susotou profunda preocupação. gens arianas de Hitler, com campos e lavradores, assim como na França a cosmo-
Na Alemanha, o secretário da Sociedade da Reform ª H a b'itaoonal . escava polita cena artística de Paris enfrentou o desafio das paysages declaradamente
' assustado
" , com o crescimento das "grandes cidades" ·
, as quais, a seu ver, ameaçavam gaulesas de Dunoyer de Segonzac e Ozenfant. A Itália fascista começara a reveren-
ÍI
I' as raizes de toda a nossa existência[. .,] biologicamente pelo enorme ded' . ciar a máquina, o futurismo e a destruição do passado, mas na década de 1930 resol-
1 d , ' mio nas
il taxas e natalidade[ ...] politicamente, pela negação das bases de uma demo . veu abraçar o classicismo, a história e a cerra.
di [ ] u· craoa
sa a ... m itarmente, pela óbvia e imensa vulnerabilidade dos grand es centros Na prática, todavia, mais uma vez o Estado encontrou dificuldade para impor
urbanosemtempodeguerraem
. ora1mente, pelos enormes obstáculos que as gran- seus desejos a sua população recalcitrante. Mussolini tentou impedir que campone-
/
./ ddes adades contemporân
_ ,, .
easco1ocamnocaminhodanecessáriaregeneraçãomoral ses desempregados se estabelecessem nas cidades, mandando-os de volta para as
i e. nossa
. naçao · Sir Arthur Ke 'th ,
1 , emmente antropólogo inglês, presidente da províncias. Não teve muito sucesso. Outros governantes procuraram tornar a vida
Bnt1sh Association for the Advancement of Sc1ence, . comparou a vida dos citadinos rural mais atraente, fornecendo empréstimos a novos agricultores e construindo
modernos com
. .. a de seus "a . ºb . ,,
ncestra1s tn ais e mostrou-se apreensivo com "os efei- conjuntos hàbitacionais em áreas campestres. Na irlanda, o governo subsidiou
tos .da ovilização moderna na mente e no corpo dos que a ela estão expostos por remotas comunidades de língua gaélica. Na Inglaterra, que foi praticamente pionei-
munas gerações" 0 .0, 10
text . . ' ° Konrad Lorenz, que depois de 1938 revelou em seus
ra em urbanização, facilitou-se o acesso dos citadinos ao campo. Não surpreende,
pois, que um eminente cientista como Lorde Horder, médico real e presidente da
hum os simpatia pe. nacional
· -' -soa.alismo, screveu que a "domesticação" dos seres
- anos v1damo ____________,.:__ _ __ ento familiar e ao
Eugenics Society, se interessasse por saúde ment
tr:T._1:!,ili _ , . erna est~va levando à deterioração racial e, portanto, con-
mesmo tempo se preocupasse com boa forma fisica, scotismo parques nacionais.
um s e n ~ q u a n t o a antiga aldeia supostamente gerava
- -~ e comurudade e esti ui .. - ,.,- -r ~
Na realidade, porém, Eª deteve o movimento r _as cidades, q~e c~nti-
eia prazere;·e ~ -- - m ava a cnaçao aos :fiiliõs;''ãCiâãcte moderna o,ere- nuavam oferecendo empregos e liberdade culrur_:!; Ademais, o Estado pao nnha
egoísmo e a ali
entaçoes que ame
_
. -----=
açavam~elaricdadc .f?ií.iiliar e ãlimentavam
- 0
maior interesse em seguir a própria retórica: numa época em que o oderio na io-
enaçao: seus tristes fi: . "
bem como hed .
O
utos eram Jovens "insociais" e "psicopatas • ~ ?~.!!!=!ràia tloprogréss"o indus,:j1, a v~~âmEest:~n~a averia de represen:,
orusmo sexual re 1 .
;ais e da contracepçã;--0 cine~-~~e--~-~-:li.~?.onibfüda~-~~ P _ ~ º~ tar uma alternativa convíncente. "E necessano corrigir mUitas lendas referentes a
tava uma influência , . essa assombração do pós-guerra - represen ~b.i'nizâçãoe~idades populosas", um jornalista italiano escreveu em 1925. "O
,, permc1osa cond d 10 s
po11t1cos conservado ' ena ª pelos líderes da Igreja criticada pe campo idílico, criador de gente vigorosa e longeva, é invenção dos poetas; de qual-
res e estudada 1 . ,
pe os cientistas sociais."
103
102
,/
/ 1- '· .,
,. '-}'
,
do não pode harmonizar-se com o desenvolvimento da • d ,
quer mo , m Ustria "
/ meri.ço-êt1gênico;-cabia ·a-o Estad ensar tanto na qualidade como na quantidade

r,
s Estados-nação decididos a lutar por seu lugar no mundo . · A.os
oIhos do , as Cidade
- 'd fi sera do es~oque humano da nação.
indispensáveis, ainda que pengosas para a sau e e a orça nacion ais." ni [, /

A eugenia negativa - obcecada pela idéia da degeneração social- preocu-


QUANTIDADE E QUALIDADE ~
pava-se par ticularmente com a ameaça dos doentes ment~. Desde que Francis

No período .entre as duas guerras os corpos se e


/ ~ s 1 f r á s t 0_a~-~~;anatãlidad'e
. . , - . . xpuseram como n 'j dos ineptos", eseecialistas e-m eugenia-insístíainpara que o Estado ~ n t i -
haviam feito ate entao, eXIbmdo-se em trajes menores O u escandalosamente unca <(
'd o de impedi.Nl reprodução dos racialmente infer~~ Na Inglaterra, o ~ o
nus. Os calções dos futebolistas encurtaram até osJ·oelhos, enquanto os int Semi.
ra antenor a 1914 analisou o problema dos "~~is m_f:ntaf(.- uma categoria
tes das pirâmides humanas fotografadas por Rodchenk. , . egran- abrangente que incluía os surdos-mudos, os indivíduos "incapazes de ganhar o
, . o, na Russ1a, apresentav
se ate mesmo sem camiseta. As piscinas públicas
-
li
' ao ar vre, proporcio
am- próprio sustento" ou de "administrar seus assuntos com prudência comum". Num
recreaçao e lazer; novos estádios, construídos em Wi bl . navam e~ ( o ' particular com o primeiro-ministro Asquith, o jovem Winston Churchill
em ey, Viena e Berlim ab .
gavam grandes eventos esportivos e políticos Ap' h d fi . ' n- explicou que os altos índices de natalidade dos "deficientes mentais" e a "restrição
1
·- . m a os e en ile1rados, esses cor-
li
,,1 1 pos demonstravam uruao coletiva e força política. Em 1931 100 mil . . da progênie entre os prósperos, vigorosos e superiores" constituíam "um terrível
. 'I eh I Ri d ' SOC!ahstasmar-
perigo para a raça". Em 1913, foi aprovada uma lei determinando a internação dos
' ~ aram pe o ng e Viena antes de instalar-se no novo estácÍio d p
as · t' o rater para
s1s 1f a uma representação da derrubada do capitali . "deficientes mentais" em instituições especiais a fim de evitar que tivessem filhos!º
ce p · smo com 4 mil atores em Mulheres jovens que de um modo ou de outro ameaçavam as normas sociais
1
na. o1 um superespetáculo' com es t an d artes, d esfiles, exercícios de ginástica
1 '
11 l
dcoros, cantoria
. . .e juramentos s 0 1enes. C onstituiu uma demonstração deliberada'
vigentes corriam o risco de ser capturadas ao menor pretexto - por determinação
·1 do pai, do marido, do médico ou do patrão- e mantidas durante anos entre autên-
o podeno militar
. . do movimentO d ostrab aIhadores e sob mmtos. aspectos inspi-
ticos portadores de problemas m entais. Só depois da morte de seu pai, um rapaz
rou-se nos fest1va1s Proletkult d os b o!ehev1ques
. no início da década de 1920 Hoje de Bristol chamado Archie Leach - mais conhecido mundialmente como Cary
nos parece muito semelhant , . . .
l' 'd e aos com1C1os do Partido Nazista em Nuremberg. Até Grant - , descobriu que sua mãe não o abandonara, como lhe haviam contado,
a p ac1 a Inglaterra
, - numa atrnosfiera política
, . bem menos carregada - organi- mas fora enclausurada numa instituição por seu pai, que assim ficara livre para
zou espetaculas públ' .
'M , icos, como o Festival Imperial de1924 ou os "especiais" da viver com a amante .
-r,
...:9men s League of Health a d B ' Contudo, manter as pessoas em asilos - a solução britânica - era um meio
---=-
---.. .-.--=n:.
mante b n eaun: no Albert Hall. Na maioria dos países,
de···· ra - oa
-- ormanãoeratanto umaquestaQ..de.escglh.i"co.mo se torna na dep01s dispendioso de evitar que tivessem filhos. A esterilização - uma alternativa mais
. 1950' quanto um dever · barata, que, porém, envolvia violência física direta - havia sido amplamente dis-
dor é ce d ----- naC1onal ou de classe: ':,\ cultura do corpo cto trauawa-
. O
movim · ·
rne a constniçã--o-so · ,1, t ,, • .
a· ·-- _, _ _.-~
eiauS -a , diz1a·e •s!o"CP.rn~um cartaz soVIenco.
o5 cutida na Alemanha e na Escandinávia no final do século XIX e implantada em
entos 1re1t1stas d. ~ - e,-.. d vários Estados americanos. Nessa época, os Estados Unidos lideravam a eugenia
de Ferro rom ' es e os conservadores escoteiros aos fascistas da Guat a
ena, pensavam da ,. - _ _· e em 1922 haviam esteriliz~eme 2233 ~~ssoas, a n:1aioria na
1 I'
mos de luta m - . mesma forma. Quanto mais se via a pohnca em cer alifornia. ntretanto, na Alemanha d~aàliversos medicas tambem faziam
! 11ltar e sobrevivê · . · · b0
forma fisica da . . ncia nacional, mais importância adquma a ª sterilizaçõ s voluntárias ilegais."
1
co eav,dade
Noenranr0 b' . -e"§í:érilização constituía uma resposta precisa à questão das taxas de natali-
, ca
um modo ou de outro
'ª ao Estado nãO , .
so promover o corpo sadio como impedir,
· de dade diferenciais entre grupos populacionais "superiores" e "inferiores", que tanto
[
·. ' que o corpo doente o contaminasse. Nos termos do pensa·
105
104
r
,.
;

preocupava Os
especialistas em eugenia. Dirigia-se aos prolíficos 1·nc .
. .
uer que os defüussem - e suplementava, assim, as medidas p . .
1enores ___
como q _ . . . _ Ositivas de ção especial de Hitler usou-se gás para m atar entre 70 m il e 93 mil internos em asi-
bem-estar soaal que o Estado podia tomar para mcenrivar procnações . " los e clinicas, até que a oposição dos líderes da Igreja pôs fim à campanha de euta-
. . rna1s VaJi0
sas". Seu custo relanvamente baixo tornou-se cada vez mais atraente gra - násia. Depois de l94 l, a m atança de pacientes mentais prosseguiu em menor esca-
[inanceira de 1929, e entre 1928 e 1936 Suíça, Dinamarca, Alerna la, utilizando-se geralmente um a injeção letal; nessa época, os especialistas em
Noruega, Finlândia e Estônia aprovaram leis que regulamentavam eutanásia estavam administrando os campos de extermínio na Polônia e operando
voluntária. Até na liberal Inglaterra a discussão reiniciou-se e unidades móveis de gás mortífero.
Relatório Wood sobre Deficiência Mental, que apontou um al Tais medidas [E.@ID-Pai'Ee,eie-tlffta--flQva conce ção de olít'
arm ecres
to do problema em relação às duas décadas anteriores e denu . rnen- 113-~vi saúde d "comunidade nacional" e o mesmo tempo suprimia seus inimigos
" . , . " nc10u a existência d
um grupo sooal problematICo - cujo tamanho estimou d e biológicos internos. Por um lado ajudava os recém-casados com empréstimos (con-
. - . . , em na a menos de 4
milhoes de mdividuos, cerca de 10% da população total _ . , cedidos, é óbvio, desde que a noiva abrisse mão do emprego e o casal fosse racialmen-
. , , 1--- , que const1tu1a u
séna ameaça a saude naoonal. Especialistas em eugenia p rna te puro) e oferecia abonos familiares, férias remuneradas e creches. Por outro lado,
- - . . . ropuseram a esteriliza-
çao como soluçao, depois que o SoCial Problem Group I • - saía à caça de mendigos e confinava-os em acampamentos ou os incluía em progra-
. . . nvest1gat1on Committee
da Eugerucs Society informou que as más condições de vid d • , mas de trabalho compulsório. "A construção de um manicômio custa 6 milhões de
. . a se eviam a deficiên-
cia mental. Como hoje, responsabilizavam-se os pobres_ " •a1 . marcos. Quantas casas de 15 mil marcos cada uma poderiam ser construídas com
,, . - ou SOCI mente made- essa quantia?", propunha um livro de aritmética para crianças. O extremismo da filo-
quados - por sua situaçao: os habitantes dos bairros miserávei·s e " . .
. ram os prma- sofia do regime era impressionante, porém não menos que os esforços da máquina
pais arquitetos da miséria"."
estatal mais moderna da Europa para colocar em prática tal filosofia.
. . Na Inglaterra, refletindo a característica obsessão nacional por classe, os espe-
Mesmo antes de 1933, o Estado alemão já demonstrava uma extraordinária
oalistas em eugenia esbarraram numa cerrada oposição. Líderes religiosos e sindi-
cais, bem como da class , di •d capacidade de organizar políticas sociais repressivas. Com a ajuda da lei bávara de
eme ca,aJu aramavetaralegislaçãoproposta etambém
houve complicaçõe · 'di Tud . ' combate aos ciganos, viajantes e vagabundos, assinada em 1926, unidades espe-
_ _ s Jurt cas. o isso demonstrou que entre os ingleses o sen- ciais da polícia dedicavam-se a caçar os ciganos, enquanto os desempregados rece-
ttmento de cnse nacional b d -
era ran o em comparaçao com o restante dos euro- biam o rótulo de "vagabundos anti-sociais" e, para que não ficassem pelas ruas,
peus. Contudo se pe di
'
ndeodesejodereafirm - . =-------·
r a terreno na Inglaterra, a eugenia o ganhava na Alemanha.~
açao nacional era tão intenso quanto em outros países. Ao
tomaropoder,osnacion 1- . li . . ..
eram alistados à força em "grupos de companheiros" militarizados. Depois de
1933 tais procedimentos foram centralizados e se intensificaram, com base nas des-
_ ª sooa staslogo trataram e mtroduzrr leis de estenhza· cobertas de cientistas raciais, como o doutor Ernst Rüdin, cujos "trinta anos de pes-
ç~ compulsória vnltad - .
- - ~ as pnmerro para os doentes menta.JS depoís para os "cri-
mmosos contumazes peri
------ -----:-::-::-:~-
'
quisa na á.rea da genealogia E:.
uiátrica" fornec_eram a jus~cativa científica parn
tinh .d gos e por para os delinqüentes juvenis. Em 1937, as novas leis de esterilizaçã . O Estado financiava o Instituto de Antropologia,
am si o esterilizadas . . ,
- mai e ~00 rrnl pes as-nos Estados Unidos esse nume- Hereditariedade e Genética aiser Guilherme, o mais importante do país, para o
ro era pouco superior a 3 mil .
bastardos d R • . . - , en.tn:-:'"8-S~!atS havia muitos ciganos, os chamados qual um jovem pesquisador cha~do Josef Mengele, atuando em Auschwitz,
dos morais" "
ª enama (filhos de ªlemas - "
com soldados franceses negros), retar a-
d enviaria olhos e órgãos humanos~
' vagabundos desord . " " Demógrafos e estatísticos ajudaram a organizar enorme!kvantamento~e
A ~~ eiros , preguiçosos" e "insociáveis" "
A1 .
ra, a emanha d H' 1 · lí · fichas põlioais e registros m~s, enquanto doutores e pesquisadores em medi-
de engenh • . e it er praticava em escala maciça uma po nca
ana social coercitiva , . ciiu, bem como ps!ci'llogos, Julgavam casos de esterilização nos tribunais de saúde
maior comedi que outros pa1ses, como a Suécia, segrnam com
memo. E no entantO b. - E ' · EspeCiahstas
h eredi tana. · · em b'10log1a
· cnmt!!lllU--1-UJJ.UU."'.I.!!~~====:.;:..:::
· · ·am investi a ões sobre ..:::.::
1939, o regim asam içoesnazistas iam ainda mais longe. m
e passou da esteriliza - . "tipos criminais", esta eleciam sua genealogia e criavam bancos de dados. Longe de
çao ao extermínio em massa. Com a auconza· <-.....------··,
106 107
. não científica e bárbara, essa pesquisa era moderna o bastant ( ºm uma época de impérios e darwinismo social, as noções de uma hierarquia
ser VISta como e para
interesse de policiais e legisladores de outros países. Só a eclosão d raYeram onipresentes, e poucos europeus, da direita ou da esquerda, não acre-
desperraro aguer.
ra, em 1939, impediu que Sir Norman Kendal, chefe da Scotland Yard• aceitasse um ditavam nas idéias de superioridade racial ou não aceitavam sua relevância para a
convite dos alemães para visitar o campo de concentração de D achau, a fim de esru. política colonial. O chamado "racismo científico" era levado a sério e influenciava
dar métodos de policiamento contemporâneos e assistir às palestras de Arthur Nebe atitudes públicas. Em 1908, Sir Harry Johnston, comentarista colonial britânico,
chefe da Polícia Criminal, sobre novas técnicas de controle da criminalidade. ' defendera publicamente a nova ciência da antropologia, argumentando que ajuda-
'"~ ("" A natureza racial do Estado do bem-estar nazista visava sobretudo a t d ria os governantes dos i~périos a decidir~viam pre~ervar as raç~s, permitir sua
~ · om m
··J·udeus do pais, que foram, gradativa mas sistematicamente exc uídos d " miscigenação ou obriga-las a desaparecer.~ antropologos alemaes que cunha-
· L .• ~ • a comu-
~acional" -primeiro, demitidos do serviço público; depois, sujeitos a boi- ram a política racial da ss na Europa oriental, durante a Segunda Guerra Mundial,
cote econômico e privados da proteção da lei. Em 1935 as leis de Nurembe iniciaram sua carreira com artigos acadêmicos sobre "mestiçagem" na África e na
' rgapre-
sentaram a primeira definição sistemática de judeu e o transformaram em súdito; Ásia coloniais anteriores a 1914, onde seus colegas britânicos e franceses partilha-
seguiram-se a criminação das relações sexuais inter-raciais e a proibição dos casa- vam as mesmas preocupações."
mentos mistos. Aarianização sistemática de propriedades pertencentes aos judeus Por outro lado, a aplicação dessas idéias dentro da Europa - e de forma tão
- notadamente em Viena, após o Anschluss, em 1938 - também fazia parte desse radical - era algo totalmente diferem~ gemi o conceito ~e raça cinh~um sig-
programa de bem:estar racial coercitivo e exclusivista: em três anos os nazistas nificado extraordinariamente vago~anava multo de um pais para outro. Com a
obtiveram na capital austriaca mais apartamertos do que os social-democratas política de Hitler tornou-se mai?ctttÍcil não confrontar e trabalhar essas ambigüi-
' '
construíram na década de 1920. dades, mormente quando coincidiam com novas descobertas dos especialistas em
A ~clusão, a perseguição e, _por fim, o ~temJ.íniQ.do$d~!~ a . .• genética, serologia e causa das doenças mentais que punham em dúvida teorias
culminan~:_~~~~~~1.a l__baseada na proteção da Volksgemeinschaft- a ''· anteriores sobre as bases cientificas do pensamento racial.
comunidade nacional radalmente defin~. " [ ~os de Weimar] falharam ,, ~ poucos países o racismo bioló~~oi tão i~p~rtante p_ara a def~ção d~
no caso dos forasteiros-;;: escreveu em 1944 um jurista de Munique. "Não usaram ' nação como na Alemanha do entreguv5 re~erenoas a la st:trpe, na It~lia; ou a
os conhecimentos de eugenia e biologia criminal como base de um bem-estar sóli· "saúde da raça", na Inglaterra, ge~ente se _aplicavam a co~~rudades histoncas
e tinham pouco impacto politic ~ al, os italianos espeoalizados em eugema
do e de políticas criminais corretas. O pensamento liberalista considerou apenas os
eram favoráveis à m estiçagem, e os ing~tavam mais preocupados com as
'direitos' do indivíduo e preocupou-se mais com a proteção dos direitos em face do
taxas de natalidade difere. nciais enrr5-5,as~França definia-s~ a nação b~s'.~a-
ES tado do que com o bem-estar da comunidade. No nacional-socialismo o indiví- (
mente em termos de língua e cul~os Bá.lcãs, em termos de língua e religiao.
duo não conta no que concerne à sociedade."''
O preconceito racial e o anti-semitismo eram onipresentes, mas não necessaria-
mente decisivos para a formulação de uma política. Sem dúvida o Terceiro ~eich
fez escola, e movimentos racistas radicais floresceram na Polônia e na Hungna. Na
O surgimento do Estado do bem-estar racial alemão - que sob muitos aspec· ' · do general Metaxas os Judeus
· - podi am m·gressar no movimento jovem
tos foi a apoteose de t d' · . . . Greoa nao _
. . en enc1as muito difundidas no pensamento sooal europeu do regime. Na Itália fascista as leis raciais de 1938 suscitaram centenas de expulsoes
- mev1tavelmente p .
. . rovocou mtenso debate em outros países. A exclusão de gru· das universidades e do serviço público. Nada disso, porém, se comparava, em
pos mte1ros dos b fí .
. ene aos concedidos à "comunidade nacional", a definição dessa _ endo na Alemanha nazista.
comumdade em termos de b.101 . . . 1• • extensao ou intensidade ao que estava ocorr
eia , . ogia racial, o uso da repressão policial e da vio en ' d d. · orno poucos países a década
Na França dividida entre a esquer ªeª ireita c '
medica destacaram toda b. .. . s ' · d anti racismo Nos anos 1920 os
sobre s asam igu1dades existentes na reflexão dos europeu de 1930 assistiu ao fortalecimento do racismo e O
raça. • ·

109
108
-
altos índices de imigração - da Polônia, da Argélia e de outros lugares _ foram proeminentes defensores dessa idéia. Façamo-lo loiro como Hitler, dolicocéfalo
vistos como uma forma de elevar as taxas de natalidade; nos anos 1930, contudo, como Rosenberg, alto como Goebbels, magro como Goering e másculo como
0
sentimento antiimigrantista intensificou-se, e multidões imensas - entre as quais Srreicher. Até que ponto se parecerá com o alemão ideal?"
se encontrava o jovem François Mitterrand - exigiam a deportação dos recém-
cbegados. Como acontecera anteriormente nos Estados Unidos e na Grã- Como outros pesquisadores britânicos contemporâneos, Huxley e Haddon
Bretanha, as questões raciais tinham estreita relação com as reivindicações de con- declararam que não havia na Europa nenhuma "raça pura" no sentido biológico.
troles de imigração contra os "estrangeiros" . Ao mesmo tempo, panfletos como Afirmaram que o ambiente era mais importante para a formação do senso de iden-
Laracefrançaise( 1934), de René Martial, eram combatidos por jornais anti-racistas tidade comunaJ que a h ereditariedade e recomendaram o uso do termo "grupo
como Races et Radsme. Na verdade o conceito de "racismo" data dessa ép oca.' étnico" em lugar de "raça", pois não tinha as associações biológicas errôneas deste
Ludwig Hirszfeld, que, junto com sua esposa, Hanna, foi pioneiro na pesquisa dos último. Concluíram o livro, porém, com uma sombria advertência:
grupos sanguíneos, após a Primeira Guerra Mundial, pediu que O dissociassem
"daqueles que relacionam os grupos sanguíneos com a mística da raça".'' o violento racismo que encontramos hoje na Europa constitui um sintoma do exa·
Na Inglaterra o ataque ao racismo científico foi ainda mais vigoroso, embora gerado nacionalismo europeu: uma tentativa de justificaro nacionalismo em termos
não esteja claro se isso se deveu ao melhor entendimento das questões científicas não-nacionalistas, de encontrar na ciência objetiva uma base firme para idéias e polí-
por parte do público, a índices mais baixos de imigração no período de entreguer- ticas que são geradas internamente porum sistema econômico e político particular e
ras, a uma tradição meio tênue e nebulosa quando se tratava de refletir sobre nacio- só em relação a tal sistema têm real relevância. A cura do miro racial, que hoje ator-
nalismo ou simplesmente a uma antipatia maior pelas tendências da Alemanha menta a Europa, com suas concomitantes auto-exaltação e perseguição aos outros,
·
requer uma reonenraçao - do I"deaJ nac1ona
· 11·st a e, na escera
" prática , a renúncia das
nazista. De qualquer modo, eminentes cientistas que pesquisavam as causas das
doenças mentais demoliram o mito do "grupo social problemático" e, com ele, a nações a suas reivindicações de direitos soberanos absolutos. Entrementes, porém, a
ciência e O espírito científico podem fazer alguma coisa, apontando as realidades bio-
base da causa eugênica radical. Ao mesmo tempo, um grupo de cientistas e inte-
lógicas da situação étnica e recusando-se a sancionar os absurdos e horrores perpetra-
lectuais de esquerda fazia campanha contra o racismo científico."
.
dos em seu nome. O raasrno e, um rruro
· e, am
· da por Cima,
· um miro perigoso."
São obras típicas desse espírito no mundo de língua inglesa Race: a study in
modern superstition, de Jacques Barzun, e Man's most dangerou.s myth: thefallacy of
Foi na Segunda Guerra Mundial que Sir William Beverid~e p~opôs seu
race, de Ashley Montagu. Entretanto, foi um livro intitulado We Europeans: a survey " ,. . - "E do de guerra nazista. Con-
Estado do bem-estar social , em opos1çao ao sra
of "racial" problems, best-seller em 1936, que encerrou o ataque mais violento. di · bem-estar social e guerra
tudo, no período que separa os dois coniliros mun a.is,
Escrito pelo biólogo Julian Huxley, com a participação do antropólogo A. C. ,. · · para aumentar a popula-
estavam intimamente relacionados, e as po1mcas soaais
Haddon, We Europeans investiu furiosamente contra o que os autores definiram 1
d na ão disposros a se defender
ção e sua saúde refletiam as ansiedades dos Esta os- ç .
como a "pseudociência da 'biologia racial"'. Huxley acreditava piamente na euge- . . . S da Guerra Mundial susawu
1 ou a se reafirmar num mundo de 1ru.nugos. A egun d
nia e achava que o racismo nazista causara muito prejuízo ao movimento. Ele des- . . . 1 ue foi corroborado por novas es-
um novo consenso anti-raasta mternaoona , q .
tacou a vagueza do termo "raça" e questionou a existência de um "sentimento de . . . s oliticamenre engapdos, como
cobertas genéticas conduzido por c1ennst ª P
grupo racial" (conceito caro não só aos nazistas, mas também a antropólogos , . ue a olitica nazista acabara provocan-
Huxley, e reforçado pelo conhecunento do q p ,odo de entre-
raciais britânicos, como Sir Arthur Keith). Sarcasticamente observou: d. r atirudes comuns no pen
1 do. Tudo isso contribuiu para desacre ita . .
. ífi só persisnu entre a1gun
guerras. A crença no racismo oent ico . .
s antropólogos e
endo a sua volta tipos
Nossos vizinhos alemães se atribuíram um tipo teutônico que é loiro, dolicocéfalo, . até hoJe continuam v
aentistas sociais da Europa centra1, que
alto e viril. Montemos a figura de um teu tão típico com as características dos mais 111

no
raciais "dolicocéfalos" e "ossudos". Trata-se, porém, de um grupo r 1 .
. e ativamente
periférico, com pouco impacto sobre a política social. De modo geral é dificil 4. A crise do capitalismo
nós- vivendo num mundo mais individualista - entender até qu para
,. . . . , . . e ponto muitas
polit1cas ass1stenc1a1s do pos-guerra ongmaram-se numa série · d'
- , . muno iferente de
preocupaçoes com o decliruo, a degenerescência e o revigora d _
menco a naçao e d
raça."' · a

Meu pai brincava m11ito naquela época. Mas dois anos depois tudo mudou.
Um dia ele chegou em casa arrasado. Minha mãe só precisou olhar para ele
para saber o que /ta.via acontecido. Ele ti11Jia perdido o emprego [...] Agora
meu pai está desempregado há mais de três anos. A gente acreditava que mn
dia ele ia conseguir empregar-se de 11ovo, mas agora até 11ós, crianças, perde-
mos a esperança.
Hanna S. ( 14 anos), dezembro de 1932'

"Esta casa vê mais esperança em Moscou que em Detroit."


Moção debatida no Sindicato de Cambridge, 1932

"Parecia que alguém tinha sacu dido o mundo, lançando-o na maior confu-
são" , escreveu O romancista Sholem Asch. "Não havia valores permanentes.
Dinheiro, diamantes, ouro, casas, fábricas - o que eram? Uma ilusão passageira,
um brilho fugidio, uma fantasia efêmera."' Depois da Grande Guerra a economia
européia mergulhou num caos; na Polônia circulavam simultaneamente quatro
moedas; a "Viena famélica" se convertera numa "cidade gigante" dentro de um
- e suas ruas estavam rep1e tas de I•efug1·ados e antigos funcionários públi-
' anao,
Pais
Il2
113
. . rodos faminros: 83 600 coroas austríacas equivaliam a um do' ar no
cos do lmpeno, 1
_ d 1922 Em rodo lugar os preços eram centenas ou milhares de vezes . interferir mais que antes nas questões de economia para "organizar" a vida econô-
verao e · mais
mica; contudo, na Inglaterra ou na Prança, os dois países que tomariam adiantei-
al rosqu e antes da guerra. O governo grego inventou um novo estilo de tributaçao
_
Jbendo rodas as notas, cortando-as ao meio e devolvendo a metade a seu ' ra na reconstrução econômica da Europa, poucos queriam que esse ativismo esta-
reco s pos-
tal persistisse numa época de paz. Assim, os primeiros planos de recuperação
suidores originais. A situação não era muito melhor na Europa ocidental, onde
0 continental envolveram estadistas contando com o apoio do setor privado - e,
boom do pós-guerra logo chegou ao fim, deixando mais de 2 milhões de <lese
mpre- como seria de esperar, deram em nada.
gados só na Inglaterra. Uma hiperinflação abalou a Alemanha de Weimar em
1923 Lloyd George e Aristide Briand, respectivamente o primeiro-ministro britâ-
ano em que Hitler e os comunistas tentaram tomar o poder à força: as perspectiva~
nico e o francês no início da década de 1920, ambos ativistas por temperamento,
de reconstrução do capitalismo na Europa eram sombrias.
concordavam que o problema da Europa era comum ao leste e ao oeste e, por-
Quatro anos de guerra total haviam destruído por completo as traclic· .
1ona1s tanto, requeria uma abordagem geral. Conforme escreveram num memorando
bases monetárias da segurança burguesa e da estabilidade econômica do século
preliminar:
x1x. O conflito obrigara os países a suspender a conversibilidade de suas moedas e
abandonar os princípios fundamentais do capitalismo vitoriano: o padrão-ouro e
os mercados da Europa centrai e ori enral são essenciais para o bem-estar da indústria
o livre-comércio. Os governos acumularam dívidas enormes para custear a guer-
européia. Se não for possível restaurá-los, a Europa do leste e do sudeste perderá
ra, ao término da qual os principais credores da Europa eram devedores dos
milhões de habitantes e a reconstrução se tornará cada vez mais dificil; e as condições
Estados Unidos. O conflito também aumentara o poder dos sindicatos e tornara que produzem miséria e fome no leste condenarão a população industrial do oeste a
mais difícil manter salários baixos. Destruíra velhas redes comerciais do continen- um longo período de subemprego, durante o qual competirá consigo mesma em
te e estimulara novos centros de produção industrial e agrícola fora da Europa, de mercados incapazes de absorver mais que uma parte das mercadorias que está ansio-
modo que, ao seu final, os produtores europeus viram-se enfrentando urna con- sa por produzir. Em tais circunstâncias, a reabilitação econômica da Europa será
corrência global.
inviável. A inflação persistirá, o custo de vida se elevará, o padrão de vida cairá; e tanto
Paralelamente, o sucesso da revolução bolchevique e a emergência da União no oeste como no leste do continente, a fome e a subnutrição acabarão por quebran-
Soviética apresentaram um desafio inédito para o capitalismo europeu. 'j\ Rússia tar os assalariados e os profissionais liberais.'
não é aÁfrica,nemo México, nem Java", declarou um artista russo em 1922. "Nós
e os europeus ocidentais vivemos na mesma época e já não estamos distantes uns Sua proposta consistia na criação de um consórcio internacional de investi-
dos outros." Depois da "revolução social global", prosseguiu ele, era a União mento que injetaria capital privado na Europa central e na oriental. Desnecessário
Soviética que estava ensinando ao resto do mundo seu futuro e a possibilidade de dizer que esse precursor do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento
um "recomeço". Tal perspectiva, sobretudo no início da década de 1920, fazia (que na década de 1990 recebeu uma incumbência semelhante) não foi um grande
st
e remecer os estadistas europeus e os incitava a levar a sério a tarefa de reconstruir sucesso: os banqueiros ocidentais só emprestariam dinheiro quando se pusesse
a economia do continente. .
a1guma ordem na Europa onenta l; buscavam estabil"dade
1 , e não se podia esperar
.

i:ntretanro, essa tarefa encerrava um paradoxo. Reconduzir a Europa à . li d ·


que a gerassem. O equilíbrio capita sta o connnen te desaparecera • mas o capita-
"normalidade" do mundo pré-1914, como tantos queriam, significava retomar 0 !ismo europeu não conseguiu ir além de uma fria reação. . _
livre-comércio, as taxas de câmbio fixas e o mínimo envolvimento do ES ta do. O fracasso do plano Lloyd George-Briand ressaltou a fraqueza e a hes'.taçao
Nesse mundo O Estado não se intrometia nas questões de economia e deixava as ,
das forças do mercado do pos-guerra, bem comO a n ecessidade de algum npo de .
decisões relativas a · · de 1 . nto do capitalismo. Com esse obJe-
. . mvesnmentos para os empresários particulares e a massa ação por parte do governo para o resta be ecime .
obngac1onistas ind' 'd · A
IVt ua.is.
d a
guerra mundial evidentemente forçara o Esta 0 tivo, ingleses e franceses voltaram-se para sua criação intergovernamental, a Liga

115

·-------
/j

_ que em meados da década de 1920 efetivamente desempenhou urn


das Naçoes,
. arcante no esforço de reconstrução. Não sendo apenas um fóru ct· investimentos ingleses. O Ministério das Relações Exteriores desconfiava da Liga
pape1llllp . . _ . . . _ m 1plo-
a'tico a Liga teve uma partiopaçao ativa na mtermediaçao de negócios fi . das Nações e não se empolgou com o trabalho de sua Comissão Financeira. Eram,
m , mancei-
ros entre governos empobrecidos e obrigacionistas ocidentais. Levantou fundos portanto, claros os limites da disposição de Whitehall para promover uma nova
ordem econômica na Europa.'
Para os governos austríaco, estoniano, húngaro, grego e outros' com a co n d.1çaode
_
que estabilizassem seus orçamentos, e insistiu na criação de bancos ceilt • . d A reconstrução do capitalismo sofreu também com as tensões que surgiram
ra1s in e- entre as potências da Entente a propósito da conveniência de fomentar a reabilita-
pendentes. Assim como ansiosos economistas de Harvard correram para a Europa
ção da Alemanha, assunto amplamente discutido ao abordarem a questão das
oriental após a queda do comunismo, setenta anos antes banqueiros e fin .
anastas reparações. A Inglaterra via com pouca simpatia o antigermanismo dos franceses
ocidentais ajudaram a redesenhar essas economias devastadas pela guerra seguin-
e os esforços de Paris para sobrecarregar Weimar com indenizações pesadas
do os prinópios liberais aprovados. Os ocidentais atuaram como supervisores de
demais. Já a França estava decepcionada com Londres. No início de 1923 a luta no
·bancos centrais, inspetores de receitas tributárias e até como presidentes de comi-
outro lado do Reno atingiu o clímax: como a Alemanha não pagava suas dívidas, o
tês poderosos que reassentaram milhões de refugiados.
governo francês e o belga ocuparam militarmente o Ruhr. Na verdade, essa ocupa-
Embora a Comissão Financeira da Liga das Nações reunisse representantes
ção foi um humilhante fiasco, que serviu apenas para ressaltar as limitações do
de vários países, foi a atuação dos delegados britânicos que provocou comentários
poderio francês. Na Alemanha a inflação fugira ao controle, e em dezembro os pre-
e suspeitas. Considerando a tradicional relevância de Londres como mercado de
ços eram 126 trilhões de vezes mais elevados que antes da guerra. Ingleses e ame-
capital internacional, não surpreende, talvez, que o Bank of England fosse acusa- ricanos pressionaram Paris para que evacuasse o Ruhr bem no momento em que
do de praticarimperialismo financeiro e de querer estabelecer "algum tipo de dita- uma crise orçamentária e financeira sublinhava a fragilidade da França. Tudo isso
dura sobre os bancos centrais da Europa" . Sir Otto Niemeyer, o mais poderoso e ajuda a explicar por que tais acontecimentos foram interpretados como "o fim do
ativo delegado britânico, que fez parte da Comissão Financeira entre 1922 e 1937, predomínio francês na Europa".
também era, por acaso, um dos diretores do Bank of England. Foi fácil ver a Liga A crise do Ruhr ensinou uma dura lição: os vitoriosos de Versalhes só pode-
como O instrumento utilizado pelos plutocratas londrinos para recolher as ricas riam conquistar a paz pela ação conjunta. E, mais importante, demonstrou que,
sobras de um continente indefeso.• sozinhos, os europeus não conseguiriam reconstruir o capitalismo em seu conti-
Montagu Norman, o excêntrico presidente do Bank of England, realmente nente. Entre suas principais economias - francesa, britânica e alemã - havia
acalentou O sonho de um livre-comércio europeu com bancos centrais atrelados à muita hostilidade: era preciso envolver também os Estados Unidos, que a guerra
libra est lin E ' ·
er ª· sperava preservar a primazia de Londres como centro bancano transformara no maior credor do mundo. Na verdade, após o término do conflito
~t~rnacional por meio de, por exemplo, "uma federação econômica" que inclui- os americanos despejaram capital privado na Europa ocidental, além de ajudar a
na meia dúzia de países danubianos ou próximos do Danúbio". Contudo, esse era amenizar a fome na Ucrânia e a reassentar refugiados nos Bálcãs. Era preciso per-
um sonho muito Z-b l . 1 vol- suadir seu governo a sair do isolacionismo. A crise do Ruhr e o resultante impasse
t era e esvaeceu-se graças à relutância de Whitehal em en
ver-se em assuntos e , . . d diplo- diplomático forneceram O catalisador, e os americanos voltaram. Intermediaram
. conorrucos. No longo prazo o tradicional laissezfaire ª
maoa econômica b11·t· · fr fez um acordo que durante cinco anos apaziguou a questão das reparações e com seu
amca ustrou todos os planos de Niemeyer e Norman e
da Inglaterra um arquit . . ais capital impulsionaram a recuperação da Europa.
eto muito frio da retomada capitalista: o mercado eram
sacrossanto em Londres
Llo d que, talvez, em qualquer outro lugar. Com a exceçao
• de ·
Entretanto, a volta dos amencanos ·
mtens1·nicou no Velho Mundo os receios
Y George, o governo b · • · - rral de um controle transatlântico e refletiu todos os temores e ansiedades que desde a
ea · ntamco nao estava convencido de que a Europa cen
onenta1realmente im or . .dos, guerra os europeus vinham sentm . do em re1açao- a0 declínio de seus valores. Pela
a Eu ·a P -tavam, pois, em comparação com os Estados Uni
ropa oc1 ema] ou o im , . . se · • ·
prtmeira vez, a supremacia econom1Ca os sd E cados Unidos desafiava a força,eco-
peno de sua majestade, atraíam poucos negócio
II6
II7
• . raJ da Europa. As ruas da Inglaterra,]. B. Priestley advertiu
nonuca e culru em. sua Inglaterra, Itália, Alemanha e França associaram sua moeda ao ouro. Às bruscas
. . (1934), agora "diferem apenas em pequenos detalhes de tni!
English;oumey outras flutuações das taxas de câmbio e à hiperinflação seguiu-se um período de inflação
E
dos Unidos, onde se vendem os mesmos cremes dentais sab
ruu~m ' º~~ e baixa que estimulou os negócios e favoreceu o crescimento. Novos bancos centrais
. Av;bem os mesmos filmes". Livros como o best-seller Amenc
discos e se ...,... a comes of passaram a operar, a especulação arrefeceu, o investidor recuperou a confiança e
age 0927), de André Siegfried, alertavam para o desafio que estava por vir.,
os principais mercados monetários começaram a conceder empréstimos em larga
Com efeito, a expansão multinacional dos americanos no exteri
or ta 1vez escala por toda a Europa. Demonstra os atrativos dessa revivescência do capitalis-
tenha sido mais rápida entre 1924 e 1929 que em qualquer momento d .
epo1s de mo e das recompensas que aparentemente aguardavam seus adeptos O fato de a
l945. Políticos de todos os matizes, sindicalistas e empresários preocup
avam-se Jugoslávia retomar o padrão-ouro, em junho de 1931 .
com a incapacidade competitiva .dos europeus e estabeleceram uma mora] que
Todavia, a recuperação era frágil, e mesmo antes da quebra da Bolsa de Nova
hoje é familiar. Conforme preveniu Ramsay MacDonald, líder trabalhista britâni- York, em 1929, havia indícios do que estava porvir. Na Alemanha e na Inglaterra os
co: "Os Estados Unidos já se desenvolveram como potência supranacional. Se a negócios apresentavam números mais baixos que em 1913. Poucos países aprovei-
Europa não seguir o exemplo, é certo o fracasso de suas pretensões econômicas. taram a relativa prosperidade de meados da década de 1920 para reduzir tarifas.
0
continente começa a reconhecer tais fatos [ ...] O objetivo ainda está muito distan- Estavam mais preocupados em proteger seus produtores contra a pressão dos mer-
te[...] Há indícios, porém, de que já se iniciou um movimento em sua direção, e cados mundiais, onde o preço dos artigos básicos já vinha caindo desde a metade
essa pode ser a questão decisiva do século xx" .' da década. "Hoje, mais ou menos em toda parte - no Extremo Oriente, na Índia,
Impelidos pelos franceses, estimulados pdo crescimento que presenciavam na América do Sul, na África do Sul -, existem ou estão surgindo regiões indus-
em meados da década de 1920, os proponentes da cooperação econômica pan- triais que, em conseqüência de seus salários baixos, constituirão para nós uma con-
européia ganharam coragem. Em 1925, ao assinar os acordos de Locamo, que corrência mortal" , escreveu um assustado Oswald Spengler. "Os privilégios inata-
inauguraram uma nova era de cooperação franco-alemã, Aristide Briand descre- cáveis das raças brancas se perderam [...] O mundo explorado está começando a
veu-os como "o esboço da constituição de uma família européia na órbita da Liga vingar-se de seus senhores."•
das Nações[ ... ] o começo de uma obra magnífica, a renovação da Eu ropa". A Além dessa nova concorrência global, com seu impacto deflacionário, dificul-
Conferência Econômica Internacional de Genebra, realizada em 1927 por iniciati- tavam a recuperação da Europa na década de 1920 as próprias políticas e teorias
va dos franceses, pretendia - segundo seu presidente -vir a ser "uma liga econô- econômicas dos europeus. Acontece que as regras do jogo não haviam sido criadas
mica das nações, cujo objetivo em longo prazo[...) consiste na criação dos Estados para fomentar a produção ou gerar empregos. A prioridade absoluta que se dava à
Unidos da Europa". Para ele essa era "a única fórmula econômica capaz de comba- retomada do padrão-ouro demandava algumas doses de deflação para baixar salá-
ter efetivamente os Estados Unidos da América". Importantes industriais britâni- rios e preços, bem como cortes drásticos na assistência social. As conseqüências
cos também acreditavam no surgimento inevitável de "um bloco europeu organi- políticas evidenciaram-se dramaticamente na Inglaterra, onde se seguiu essa estra-
zado"· Entretanto, como o futuro iria mostrar os franceses não tinham força e aos tégia com especial rigor: foi a retomada do padrão-ouro, concluída em 1925 pelo
ing~e~es faltava vontade para concretizar tal ;rojeto. O governo britânico escava chanceler Winston Churchill, que provocou a greve geral do ano seguinte; e, se a
dividido entre a Europa e · , . d . , · N m pri· crise de 1929-31 teve menorimpacro ali que na Alemanha, foi só porque os índices
. . o impeno e ca a vez mais optava pelo 1mpeno. u
meiro mstante a causa d ·- · ·a de de desemprego entre os ingleses se mantiveram altos na década de 1920.
ª umao européia abortou; para ter sucesso prec1san
um grande envolvim d o Em toda a Europa O problema fundamental era que a guerra suscitara na bur-
. enro os americanos, de uma Alemanha voltada para
Oadente e da Guerra Fria.• guesia o desejo de recuperar a estabilidade anterior ao conflito e levara os governos
Sob alguns aspecto a prometer aos recrutas-operários e camponeses - um padrão de vida mais ele-
'd d s, os meados da década de 1920 foram uma época de pros· vado. "Casas d.1gnas d e h ero1
, ·s" na~o condiziam muito bem com a retomada do
pen a e, estabilização e su a·
cesso. Controlaram-se as moedas, uma após outr '
us 119
democracia sofreu com isso. Os conflitos entre mão-d b
padrão-ouro, e a e-o ra e A maneira como os governos reagiram tem sido até hoje uma fonte de con-
. . menos apaziguados durante a guerra - ganharam no .
capital- mais ou , . . . va inten- trovérsia. Em geral recorreram à convencional sabedoria de apertar o cinto, res-
ºd d , se abrandaria com a renuncia ao laissezfaire, depois de 1932 Al
s1 a e, que so , . . · guns tringir os gastos públicos e esperar que o investidor recuperasse a confiança. Não
industriais e sindicalistas reivindicavam uma políttea mdustrial muito diferente _
elaboraram uma política espeáfica para enfrentar o desemprego, p ois temiam que
baseada num modelo americano de salários altos, produção em larga escala e alta
seu gasto crescente - e, portanto, sua dívida - durante uma recessã~ só abalasse
produtividade. No entanto, o medo da inflação impediu a implantação de tal olí-
• ' ' . ' - p ainda mais a confiança n a administração da economia por parte do Estado. Um
tica, que só se tentaria por em pratica com a amencaruzaçao da Europa ocidental
velho funcionário público explicou ao primeiro-ministro Ramsay MacDonald que
depois de 1950. '
a posição do governo britânico era como a do "capitão e dos oficiais de um grande
Mais crucial para a frágil recuperação da década de 1920 foi sua dependência
navio que encalhou com a maré baixa; nenhum esforço humano fará o navio flu-
do fluxo de capital internacional, inerentemente instável. A Inglaterra, que até
tuar até que, seguindo o curso da natureza, a maré volte a subir" .1º
1914 havia sido o banqueiro do mundo, nunca concedera empréstimos menores
Entrementes o padrão-ouro era sacrossanto. "A indústria crucificada numa
que os de agora. O pagamento das reparações dos alemães aos aliados e das dívidas cruz de ouro?", um jornal perguntou. Quando o Bank of England anunciou um
de guerra dos aliados para com os Estados Unidos dependia da disposição dos ame- aumento na taxa de juros, em fever eiro de 1929, a imprensa interpretou-o como "a
ricanos de emprestar dinheiro para a Europa. Quase a metade dos empréstimos fei- completa e final condenação do evangelho da deflação, o encarecimento da moeda
tos à Alemanha depois de 1924 era em curto prazo, e por isso a estabilidade finan- e a exaltação do valor teórico da libra em detrimento das necessidades práticas da
ceira internacional passou a depender das decisões de milhares de pequenos indústria britânica". Entre os políticos, porém, prevalecia o que os ingleses chama-
investidores. Depois de 1945, os americanos aprenderam a lição e ajudaram a vam de "a opinião do Tesouro": era preciso baixar salários e cortar a assistência aos
reconstruir a Europa com empréstimos do governo, mas na década de 1920 isso desempregados. 11
não combinava com os conceitos predominantes do papel do Estado nas finanças ê - Um fatalismo semelhante evidenciou-se na Alemanha. O governo Brüning
internacionais, em que devia atuar como fiador e não como provedor direto de poderia ter impedído a ascensão de Hitler e preservado a República de Weimar ado-
fundos. Em 1928 os investidores transferiram capital através do Atlântico para tando em 1930-2 uma política de refiação? Alguns historiadores econômicos keyne-
aproveitar um boom que estava ocorrendo na Bolsa; no ano seguinte liquidaram, sianos seguem essa linha de raciocínio. Outros argumentam que a crítica não con-
pelo motivo oposto, o que haviam deixado na Europa. O resultado foi um desastre sidera a atmosfera intelectual da época: os intervencionistas eram pouco numerosos
fmanceiro internacional sem precedentes. e estavam na defensiva em relação aos custos de seus planos. Na Alemanha, como
/ Aquebra da Bolsa de Nova York, em 1929, acarretou fechamento de bancos, na Polônia, na Áustria e em outros países, a lembrança da hiperinflação recente
desvalorização de moedas e caos monetário. Por sua vez, a crise fmanceira provo- levou os governos a tomar muito cuidado antes de pensar em fazer qualquer coisa
cou falências ' d'munuiçao
· · - d a produção, redução da semana de trabalho e aumen to capaz de ameaçar a estabilidade monetária. Mesmo assim, hoje está claro que a polí-
das filas de pensioru·stas. o comerao
, · mternacional
· em queda contn·bmu· para pro- tica deflacionária praticada pela maioria dos países em 1929-31 deve ter aprofunda-
vocar uma crise ag , 1 d di ·d arn do a depressão. Os governos encontraram alternativas por acaso, não deliberada-
, nco ª e proporções imensas - os fazendeiros se en vi av
a medida que os p d d te mente, quando a crise os obrigou a abandonar o padrão-ouro.
reços e seus produtos despencavam - fez crescer o exce en
de supérfluos, reduziu a d . d . , 1 ou a Não é possível datar a crise com precisão, dada sua múltipla natureza. Embora
f eman a interna de artigos manufaturados e ace er
uga de desempregad dO s os preços começassem a cair por volta de 1926 e as exportações os imitassem mais
de ali os campo para as cidades da Europa. Enquanto estoque · geralmente se consi'dera 1929 como o ponto de partida.
menta se deteriorav a ou menos um ano dep01s,
fomeeap b amou eram deliberadamente destruídos, enquanto , abandonaram opad rao-ouro
-
o reza cresciam oca . lí . d vez AIguns pa1ses nesse ano, outros em 1930: no verão de
menos racional. ' pita smo conduzido pelo mercado pareoa ca ª 1932 h avia
· poucos que nao
- u·nham desvalorizado sua moeda ou bloqueado seu

120 121

·:r~..
• . d ra a França, que estava acumulando ouro e só foi seriam
cambio. Um e1es e . . , ente
sem filmes sobre o sofrimento dos trabalhadores, como Lave on the dole, não era
afetada pe1a recessão em 1934, quando a ma1or~a dos paises começou a recup erar.
. a desesperada de ater-se à velha ordem reduziu sua capacidade de fácil esconder o impacto do desemprego em massa; a criação de frentes de traba-
se. Sua tentaav
lho e de prestação de serviços públicos em troca de ben eficias não conseguiu tirar
. r·r
res1s 1 a' ascensão do Terceiro Rei eh.
muitos desempregados das ruas. Em Down and out in Paris and London e The road to
Os sintomas da crise também variaram muito de um país para outro. o aban-
Wigan Pier, George Orwell descreve a sopa dos pobres, os albergues e o desespero
dono das taxas de câmbio fixas foi mais ou menos universal: os países ou adotaram
resultantes do fracasso do capitalismo.u
taxas mais baixas, ou deixaram sua moeda fluruar. Grandes quedas no comércio
Contudo, a reação dos governos foi lenta e caótica, e eles relutaram em aban-
ocorreram também em toda parte, intensificadas por aumentos de tarifa e outras
donar antigos preceitos de mercado. Nem a Conferência de Seresa, em 1932, nem
formas de protecionismo. Na Alemanha, um dos países mais atingidos, a produção
a Conferência Monetária e Econômica Mundial, que, ainda mais ambiciosa, se rea-
industrial caiu 46% e 6 milhões de trabalhadores perderam o emprego; na Ingla-
lizou em Londres no ano seguinte, levaram a uma ação coordenada: ao contrário,
terra o desemprego, que se mantivera alto durante a década de 1920, não apre-
mostraram com maior clareza a confusão e o crescente nacionalismo dos partici-
sentou um aumento tão significativo depois de 1929. Contudo, entre 1929 e 193Z a
pantes. Com o fracasso da cooperação internacional aboliu-se o padrão-ouro
produção industrial caiu 28% na França, 33% na Itália e 36% na Tchecoslováquia. (agora restrito à França, com suas imensas reservas desse metal, à Bélgica, à
Nas economias mais agrárias da Europa central e oriental a crise assumiu a forma Holanda, à Suíça, à Tchecoslováquia e à Polônia) e acabaram-se os empréstimos de
de urna espiral de débito agrícola e desemprego entre os camponeses menos visí- Londres e Nova York. O fim dos mercados monetários significou, na verdade, o fim
vel que sua contrapartida industrial. A França amorteceu o impacto expulsando do esforço de toda uma década para reconstruir a economia da Europa por meio
trabalhadores estrangeiros e despachando trabalhadores urbanos para suas roças do capitalismo liberal. A França manteve o padrão-ouro, enquanto a Inglaterra vol-
e aldeias de origem. tou sua atenção para o comércio com seu império. Ambas começaram a pensar
Naturalmente houve por toda parte uma deterioração da saúde fisica e psico- seriamente no desenvolvimento colonial e na exploração econômica de seus terri-
lógica. "O desemprego no período de entreguerras incutiu nos pobres o medo da tórios imperiais na África e na Ásia. O resto da Europa ficou -entregue à própria
marginalização", lembra Dimicri Kazamias, que cresceu entre refugiados na sorte.
Atenas de 1930. "O 'filante' temia perder suas fontes, e o 'fura-greve', sua fé na lei Assim, na década de 1930 a realidade financeira impôs à Europa um novo
e na Justiça." A recessão mudou o próprio ritmo da vida social e familiar. Os nacionalismo econômico, claramente incompaúvel com o modelo liberal de livre-
homens desempregados andavam sem rumo, num passo mais lento que o das comércio e movimentação internacional de capitais propostos pela Inglacerra e
mulheres, que ainda tinham as tarefas domésticas para cumprir. "Nada mais é pela França, mas não com o comunismo do estilo soviético, nem com o capitalis-
urgente; eles já não sabem apressar-se", registraram observadores de desemprega- mo nacionalista nos moldes criados primeiro na Itália e depois no Terceiro Reich.
dos numa cidade alemã. "Para os homens a divisão dos dias em horas há muito per- Tanto a esquerda quanto a direita encontraram, pois, um meio de fugir aos entra-
deu o sentido. Em cem homens 88 não usavam relógio e apenas 31 tinham relógio ves da "plutocracia" anglo-americana; ambas colocaram o crescimento econô~i-
em casa. Levantar-se de manhã, almoçar, ir dormir são os únicos pontos de referên- co acima da retidão financeira, a nação acima da economia global, a produçao
·
ac1ma dos preços estave1s
, · e dos interesses
· , dos que viviam de rendas. Ambas, prin-
cia que sobraram. Entre esses pontos o tempo passa sem ninguém saber de fato 0
que ocorreu."" npalmente, ofereceram trabalho e aca aram com o desemprego
. b , em massa.
. Agran-
e
de crise do capitalismo teve, portanto, 1ortes ·
imp licaç·õespolíticas:haviaumaalter-
.
"Chega de mãe e filho passando fome!", clamava na Inglaterra o Movimento
nativa democrática ao fascismo e ao comunismo capaz de enfrentar os desafios

Nacional dos Desempregados. E decerto não se tratava de exagero, pois as famílias
econômicos da década de 1930?
dos desempregados realmente passavam fome. Embora os censores cortassem dos
noticiários cinematográficos imagens das manifestações do Movimento e proibis-
123
122
,_
A FAÇANHA COMUNISTA
mo começou a emergir como uma alternativa nacional radical para o capitalismo
es residentes nos subúrbios do nordeste de Londr internacional.
Os rraba1hador . . es que
- m Gants Hill talvez se 1mpress1onem com essa grandiosa e t _ Os bolcheviques tinham de construir o socialismo e ao mesmo tempo criar
romam O metro e , . s açao
ado e faixas amarelas. Construida em 193 7, ela fo1 uma homen uma economia nacional realmente unificada. O degelo da primavera tornava as
b
de teto a bo ªd agern
estradas russas intransitáveis, a velocidade média de um trem de carga era inferior
. 1 ao metrô de Moscou, inaugurado no ano anterior. Hoje após O f' d
~~~ ' ~o a 16 quilômetros por hora em 1923 e o número de trens de passageiros se reduzira
comum•smo, em 1989 ' é mais difícil que nunca entender a "mística da Un1ao·-
à metade do registrado em 1913. As agências de correio fechavam no inverno por
Soviética" no período de entreguerras. Seus vestígios, porém, espalham-se por
falta de recursos para remover a neve; nas áreas rurais as linhas de telégrafo eram
toda a Europa. Na década de 1930 o comunismo era um sucesso, comparado coru cortadas com freqüência. O atraso educacional travava o Estado tanto quanto a
0 capitalismo em ruínas, um exemplo de como enfrentar as dificuldades econômi. precariedade dos transportes: o analfabetismo era generalizado. Constatou-se que
cas da sociedade moderna. Em poucos anos transformara o império czarista, des- um jovem de 27 anos, veterano do Exército Vermelho e dos quadros do Partido,
pedaçado pela guerra, numa grande potência industrial: era um sistema que fun. habituado a lerjornal, não entendia termos como "inimigo social" ou a sigla URSS!"
cionava. O regime pode ter adotado o tom de onisciência dogmática, característico de
Em nenhum país a reconstrução da economia no pós-guerra foi mais extraor- Lenin, diante do mundo exterior, porém tudo o que se referia a sua nova e colossal
empreitada ainda estava por definir, especialmente na cabeça dos dirigentes. Não
dinária que na Rússia, onde os estragos provocados pelo conflito perduraram por
se sabia ao certo com que rapidez e até que ponto se deviam abandonar o capitalis-
mais tempo que em qualquer outra parte da Europa. A luta só acabou em 1921,
mo e a propriedade privada. A princípio os bolcheviques assumiram uma postura
com um número de baixas maior até que o da Primeira Guerra Mundial. Calcula-
radical, decidindo-se pela nacionalização extensiva dos meios de produção e por
se que, entre 1914 e 1926, 14 milhões de civis morreram de causas não naturais, uma primeira versão da planificação central. Isso os ajudou a ganhar a guerra civil,
sendo 5 milhões vítimas da fome que assolou a Rússia meridional em 1921-2, ao tér- mas ameaçava fazê-los perder a paz, já que a produção e a distribuição cessaram e
mino da guerra civil. Essa "fome de tudo", como a definiu um inglês que prestava a resistência rural cresceu. Em 1921, diante da feroz oposição interna, Lenin optou
ajuda humanitária na região, obrigou as pessoas a comer cavalos (incluindo os pelo pragmatismo: sua Nova Política Econômica (NEP)- com o relaxamento dos
arreios), ossos moídos, bolotas de carvalho, serragem e mesmo cadáveres. controles centrais - constituiu um recuo em relação ao comunismo de guerra
Tamanho sofrimento superou até aquele produzido pela queda dos outros gran- linha-dura e um esforço para ressuscitar uma economia devastada. Representou o
empenho do regime em reconquistar a confiança dos camponeses, reagrupar-se
des impérios - o Otomano e o dos Habsburgo - e impôs uma perspectiva mais
politicamente após as dificuldades da década anterior e talvez também tentar
sombria dos problemas europeus do pós-guerra."
lucrar com o comércio e a tecnologia internacionais. Durante alguns anos empre-
Milhões de refugiados tomaram a estrada: em 1921, 20 mil deles chegavam
sas privadas foram toleradas em pequena escala. A agricultura - esteio da econo-
diariamente à cidade de Omsk, no rumo do leste. Calcula-se que 7 milhões de órfãos mia soviética - começou a recuperar-se. A liderança ganhou espaço para respirar,
vagavam pelo campo. Bandidos e outros grupos armados aterrorizavam as aldeias consolidar-se politicamente e desenvolver instituições federais.
e as ferrovias .As colhe1·tas cairam
, , . m1enores
a mve1s . e . aos d o pre-guerra,
, com os cam- No entanto, a NEPfoi uma política ambivalente de curta duração. Porum lado,
ponesessujeitosàco · - .. - e - Juta E!Tl o setor privado, embora tolerado na teoria, com freqüência era perseguido na prá-
. nscnçao e requ1s1çao por parte de todas as 1acçoes em ·
meio a esse caos os líde ., . dº - do sacia· tica. Por Outro lado, muitos comunistas não viam na NEP o caminho para o socia-
' res sov1eticos tentaram conduzir o país na ireçao
lismo. Vendofracass e · nrral, lismo pelo qual haviam lutaqo; antes, viam o retorno ao poder e à influência das
. ar seus es,orços para fomentar a revolução na Europa ce
foram obrigados a se co . 1unis· velhas elites pré-revolucionárias técnicas, administrativas e intelectuais. Era difícil
ncentrar nas terras do antigo império czansta. O con
125

·. .;_
.. ~ .
ele zelo utopista de "construir um mundo novo" ess .
ciliar a NEP com aqu • enc1a]
con . t Como os que tinham acesso aos mercados prospera A "verdadeira luta bolchevique pelo trigo" envolveu o envio de tropas de cho-
ao projero comums a. , . . vam, a
. d . crescentes desigualdades econorrucas entre diferentes grupo A que, formadas por trabalhadores, membros do partido e integrantes da polícia
NEP mrro UZill s. s
. 'd d de classe e de regiões aumentaram - entre camponeses mais . secreta numa operação equivalente a uma guerra interna para punir funcionários
dispan a es . ricos,
operariado pobre e agitado-, ameaçando a sempre frágil co _ relapsos e sentenciar os "especuladores", ou seja, os camponeses que tentavam
mascares e Um esao
ficar com o trigo produzido. "Quando se ataca, não há lugar para a piedade", decla-
de roda a economia. Na verdade, a NEP condicionou os índices do crescimento
rou um ativista do partido. "Não pense na fome dos filhos do kulak; na luta de clas-
soviético ao comportamento de mercado dos operários e camponeses, e não ao
ses a filantropia é um mal." As metas estabelecidas tinham bem pouca relação com
partido ou ao Estado. E o pior, talvez, foi que tornou cada vez mais dificil para a elite
o que os produtores podiam efetivamente entregar ao Estado. No entanto, as auto-
moscovita controlar as regiões."
ridades locais eram pressionadas para alcançar tais metas "a qualquer preço", sob
Depois da morte de Lenin, eclodiu no interior do partido um violento deba- pena de sofrer punição por seu "liberalismo podre".
te sobre o ritmo eo rumo da política econômica. A princípio, Stalin alinhou-se com Claro está que apenas uma pequena proporção dos camponeses tinha algu-
os que pediam moderação, ao contrário da Oposição de Esquerda, que, agrupada mas posses, e só uma parcela minúscula de fazendas dispunha de empregados assa-
em torno de Trotsky, pleiteava investim ento pesado na indústria e medidas enérgi- lariados. "Por que vocês vivem falando dos kulaks?", perguntou-se numa aldeia aos
cas contra os camponeses. Depois, com a Oposição de Esquerda politicamente quadros do partido. 'í\qui não existe kulak." Alguns lavradores mais pobres, que o
superada e Trotsky marginalizado, Stalin aproximou-se mais do programa de seus regime tentava instigar contra os aldeões mais abastados, percebiam o que estava
adversários. Agota d' água, que levou diretamente ao que receberia o nome de sra- por ocorrer: 'í\gora eles estão confiscando pão dos kulaks; amanhã vão se voltar
linismo, foi a crise do trigo, em 1927-9. Nesse momento a fraqueza do Estado evi- contra os camponeses remediados e pobres". Na primaver a de 1930, os campone-
ses mataram suas últimas vacas para não entregá-las às autoridades; nem mesmo
denciou-se. Não admira que, dada a escassez de informações confiáveis no tocan-
os alemães, onze anos depois, infligiriam tamanho prejuízo ao rebanho soviético."
te à economia, Stalin fosse pego de surpresa pelo que logo estaria chamando de
Segundo dados oficiais, a safra de trigo caiu na década de 1930, refletindo cla-
"greve dos camponeses". Defrontado com estoques menores de trigo, raciona-
ramente o desastroso impacto da coletivização e da coerção no campo; por outro
mento nas cidades e alta crescente no preço dos alimentos, o regime retomou os
lado, o confisco de trigo por parte do Estado subiu de 1o, 7 milhões de toneladas em
métodos do comunismo de guerra e adotou medidas de emergência para confis- 1928 para 31,9 milhões em 193 7, ou de 14, 7% da safra total para 36, 7%. O regime
car o trigo à força. desprezara estratégias de desenvolvimento industrial que talvez demandassem
Em l929 Stalin vencera seus críticos da esquerda e da direita: o comunismo se paciência e cooperação com os trabalhadores rurais e optara pela violência em
imporia no campo e a agricultura seria coletivizada e mecanizada. No final do ano curto prazo: assim, conseguiu o grão de que precisava, mas no lorigo prazo preju-
Sralin voltou-se contra os camponeses mais ricos, os "kulaks", e declarou-se favo· dicou a agricultura soviética, acarretando conseqüências fatais para a União."
rável a sua "liqui'daçao
- como classe". De acordo com instruções de M oscou, divi- Em 1932-3, quando a fome resultante dessa política fez milhões de vítimas, a
diram-se
, . ,, os kulaksem tres
• grupos: os mais
• perigosos, do "aktiv
. contra-revoluci0· polícia manteve os forasteiros fora das áreas atingidas e os flagelados dentro dessas
nano 'que deviam ser entregues à OGPu (a polícia secreta do Estado); os que mesmas áreas, restabelecendo um sistema de passaporte interno, como o modelo
devia~ ser deportados para áreas "remotas" da União Soviética; e os que deviaJ11 czarista que Lenin abolira. Mas é óbvio que muitos sabiam o que estava ocorren-
ser reinstalados em our 1 e a pe· do. "Camponeses famintos invadiram Dniepropetrovsk", lembrou um ativista do
_ ros ugares da região em que viviam. Calculou-se qu 0
raçao envolveria cerca d 1 'lh- . - de pes· partido. "Muitos jaziam ali, apáticos, fracos demais para esmolar nas estações fer-
e rru ao de famílias ou algo entre 5 e 7 m1lhoes roviárias. Seus filhos eram pouco mais que esqueletos de barriga inchada." Esse ati-
soas; na verdade 10 milh- d . . , ' dos e
l oes e md1v1duos, ou mais podem ter sido deporta vista estava horrorizado, porém seu superior tinha uma visão diferente da situação.
pe o menos 30 mil fi '
oram sumariamente fuzilados. ,1
126 127
oneses de nosso regime uma luta sem trégua[ ...] urn
"Trava-seenrreoscamP . • . . a 1Uta
testou nossa força e nossa res1stenoa. F01 preciso um e
até a morte. Este ano . . - a l0n1e ]ismo. Em fevereiro de 1931 Stalin fez uma extraordinária profecia. "Vocês querem
Jes quem manda aqui. O teste custou milhoes de vidas ma .
para mosrrar a e , .. • s o s1s- que nossa pátria socialista seja derrotada e perca a independência?", perguntou.
'-
rema da ,azen
da coletiva veio para ficar. Nos ganhamos a guerra. 'º
. .
A ~•na'pio muita gente, dentro e fora do parndo, ficou perplexa com ª~~
la da confusão. Houve protestos contra as deportações e expressões públicas de
1 "Se não querem isso, precisam acabar com o atraso no menor tempo possível e
construir nossa economia socialista num verdadeiro ritmo bolchevique [... ]
Estamos cinqüenta ou cem anos atrás dos países desenvolvidos. Temos de alcançá-
simpatia pelos kulaks. Até os militantes revelaram "atitudes negativas" . "Se Lenin los em dez anos. Ou fazemos isso o u falimos." Faltava exatamente uma década
estl·vesse vivo" um deles comentou, olhando para o retrato do líder falecido " .
' , ~m para a Operação Barbarossa."
permitido O livre-comércio e amenizado nossas agruras; depois, teria dado início à A estratégia de Stalin exigia não só o controle implacável do estoque de ali-
coletivização - não pela força, e sim pelo consentimento e pela persuasão." Mas mentos interno como grandes investimentos na indústria pesada, com o conse-
0 pânico e a passividade crescente superaram a indignação. 'i\ntes dois milicianos qüente sacrificio dos padrões de vida urbanos. Na teoria o meio seria o plano; na
conduziam um.preso. Hoje um miliciano pode conduzir grupos inteiros, cami- realidade, porém, o plano funcionou basicamente como uma fonte instável de esti-
nhando calmamente, e ninguém foge."" mulas e objetivos, guardando pouca relação com os recursos, e com freqüência foi
O confisco do trigo no início da década de 1930 constituiu um treinamento suplementado por uma intensa publicidade de "táticas de choque" e "superdesem-
para uma nova geração de membros do partido, familiarizando-os com um nível penho". É isso que explica a desordenada taxa de industrialização na mesma época
em que profundos expurgos comprometiam o funcionamento das agências esta-
de violência e repressão que poucos anos depois, com o terror, atingiria o restante
tais de planificação e os chefes regionais do partido competiam furiosamente por
da sociedade soviética. Reforçou sua tendência - já visível em 1927 - a acreditar

1
fundos de investimentos.
num mundo de conspirações, com "demolidores", "russos brancos", terroristas e
O extraordinário é que em certa medida todo esse processo frenético e con-
sabotadores empenhados em combater a revolução. Afinal, seus métodos violen-
fuso funcionou. A produção real muitas vezes ficou aquém das metas absurdas
tos suscitavam o tipo de oposição que tornava seus temores bem plausíveis,
propostas no plano (que fora concluído um ano antes), mas houve ganhos notá-
enquanto a política oficial causava problemas, sofrimento e destruição pelos quais
veis. Novas cidades - Magnitogorsk, por exemplo, a m aior aciaria do mundo -
não se podiam culpar os verdadeiros responsáveis. A deportação de milhões de
surgiram do nada; as usinas metalúrgicas existentes foram levadas ao limite.
camponeses levou à rápida criação de colônias de trabalhos forçados e ao aperfei- Fábricas de tratores e de m áquinas operatrizes desenvolveram-se rapidamente
çoamento de técnicas de controle populacional que nas décadas de 1930 e 1940 para reduzir as necessidades de importação. Tudo isso ocorreu apesar de se terdes-
Stalin empregaria contra outras minorias - poloneses, tchetchenos, alemães étni· tinado tanto investimento à indústria pesada que o combustível e o transporte não
cos, por exemplo. Ademais, a coletivização abriu caminho para a apressada indus- conseguiram acompanhar o ritmo, causando freqüentes paralisações e perdas.
trialização do primeiro Plano Qüinqüena1. Quanto a gerar empregos, a política do regime foi um sucesso incomparável.
A mão-de-obra urbana saltou de 11,3 milhões para 22,8 milhões entre 1927-8 e
l932; em 1939 chegou a 39 milhões. Na mesma época em que a Europa capitalista
Industrialização forçada era a po!itica de Stalin. Vitorioso no tocante à coleti· estava m ergulhada na recessão, a União Soviética acabara com o desemprego,
vização da agricultura, ele agora enfatizava seu desejo de promover em pouco tinha grande número de mulheres trabalhando e na verdade sofria de escassez de
tempo um crescimento industrial que colocasse a Rússia na era da máquina. mão-de-obra. "Não foi por acidente que o país onde o marxismo triunfou é agora
Afinal, os bolcheviques gabavam-se de estar criando uma sociedade m oderna. E o único do mundo que não conhece crise e desemprego, enquanto em todos os
num mundo host'l 1 ·· h • d uro a outros, inclusive nos países fascistas, a crise e o desemprego imperam já há quatro
·- , que Jª avia tentado sufocar a revolução no nasce O '
Umao Soviética tinh d · d . . d O 5 oda- anos", gabou-se Stalin em 1934.0
a em ustnalizar-se rapidamente para salvaguar ar
128 129

.~
,. t va criando uma nova classe proletária, formada sob
Sua pohnca es a , _ retudo
_ _ d camponeses que nesse penodo nugraram para as cidad violentas arrastaram suas tendas". Esse quadro só piorou com a introdução da
elos rnilhoes e es, ern
P r das novas fazendas coletivas. Entre 1929 e 1933 0 nú "emulação soviética", ou a competição liderada por "trabalhadores de choque" e
geral para escapa ' mero de
tres pulou de 18 700 para 83 800 - a vasta maioria composta de t b pelos odiados stakhanovistas."
contrames , . ra a-
lhadores incultos- e O de administradores e tecrucos saltou de 82 700 para 312 Todo o esforço exigiu o sacrificio de economias particulares - por meio da
100
. de fato uma nova civilização, embora não fosse, talvez a que s·d · venda de bônus do governo - e pesou sobre o consumo. As necessidades indivi-
Surgira, , . ' 1 ney e
Beatrice Webb imaginavam. Uma soaedade em grande parte rural estava sendo duais subordinavam-se às necessidades coletivas, suscitando ao mesmo tempo des-
eletrificada, mecanizada e conquistada por um regime modernizador, mas tarn- contentamento e altruísmo. O racionamento do pão foi imposto em 1929, e o con-
bém O estava controlando: camponeses tornavam-se operários, administradores e sumo de carne e laticínios caiu. Só em 1935 houve alguma melhora. As cidades não
membros do partido. No final da década de 1930 o Estado, o partido e a economia paravam de crescer- a população urbana duplicou entre 1926 e 1939-, agravan-
eram dirigidos pelos beneficiários dessa revolução social.,. do muito a perene falta de moradia. Entre 1929 e 1931, o espaço vital por pessoa,
determinado por normas, diminuiu um terço em Moscou . O desejo de morar
Naturalmente, os supostos heróis da revolução logo constataram que não
melhor tornou-se apenas uma das razões para ingressar no partido, antes dos
eram mais livres que qualquer outro indivíduo nas todo-poderosas máquinas do
expurgos implacáveis ocorridos em meados da década de 1930.
Estado e do partido. Quando passavam de um emprego a outro, os trabalhadores,
As agruras da industrialização stalinista não se limitaram, contudo, às habita-
geralmente ignorantes e não-especializados, podiam ser acusados de "espontanei- ções exíguas: os anos do primeiro Plano Qüinqüenal também assistiram ao desen-
i' dade pequeno-burguesa". A imposição de uma disciplina de trabalho surgiu como volvimento explosivo do sistema de campos. Historicamente os trabalhos força-
' 1
1 uma preocupação importante do regime, e, em face da crescente escassez de ali- dos tiveram crucial importância no desenvolvimento econômico de boa parte das
1
1 mentos, do racionamento e da falta de bens de consumo, os sindicatos deixaram de Américas e do império czarista. Stalin levou esse processo mais longe que antes.
proteger os trabalhadores para impor-lhes disciplina, lutando contra a "vadiagem" Em 1929, os campos de concentração da OGPU receberam um novo nome- "cam-
e o "absenteísmo". Os amigos dirigentes foram afastados por causa de seu "desvia- pos de trabalho" -e uma função econômica explicita. Começando com as prisões
cionismo de direita" e os sindicatos receberam ordens de "encarar a produção". em massa durante a coletivização e variando a intensidade de sua atuação na déca-
Isso significou, entre outras coisas, ignorar as primitivas e perigosas condições de da de 1930, os órgãos de segurança passaram a controlar milhões de indivíduos
trabalho. confinados numa complexa rede de prisões, "campos de trabalho corretivos",
colônias penais e comunidades especiais: segundo estimativas mais recentes, o
A construção do socialismo podia ser empolgante para os numerosos intelec-
número total de prisioneiros passou de 2 ,5 milhões em 1933 para 3,3 milhões
tuais do Ocidente que iam vê-la de perto, mas na prática era dura e deletéria.
pouco antes da invasão alemã, em 1941."
Apesar do culto à máquina, a industrialização soviética era altamente baseada na
Os trabalhos forçados desempenharam um papel importante no processo de
mão-de-obra intensiva, e em conseqüência do baixo nível de conhecimentos récni-
industrialização: às vésperas da Segunda Guerra Mundial, a NKVD (sucessora da
. 1·12ados mmtas
cos espec1a . maqumas
, . .
ficavam ooosas, e nquanto se 1e.az1·aotrabalho OGPU) respondia por cerca de 25% de todas as construções do país e dominava esse
manualmente: sobretudo nos primeiros anos, caminhões e tratores importavam setor nos Urais, na Sibéria e no extremo leste; um funcioná tio da polícia secreta elo-
menos que cavalos e carrinhos de mão. Mão-de-obra intensiva é, porém, um cerro~ giou publicamente seus campos de organização, "pioneiros no desenvolvimento
abStrato: lOo/o dos kulaks obrigados a construir Magnitogorsk morreram no ,p~- cultural de nossas periferias distantes". Produtos específicos dessas regiões - ouro
meiro inve rno que a11· enfrencaram. Os construtores da gigantesca usma
· hidreletn· e outros metais, madeira e, depois, munições- dependiam do trabalho escravo, que
cade Dne st · · ~es recla· foi responsável também pela construção do canal entre o mar Branco e o Báltico, um
pro roi tiveram um pouco mais de sorte: "O pessoal dos barraco
~
. ~ ~ q u e entrava no alopmenco. · O pessoal das barracas supo r~~ . dos triunfos da propaganda do regime no início dos anos 1930. Colonos especiais
inverno temp t - c. . camas
era uras mienores a 13ºC negativos, e no verão de 1929 ven
131

130
vos centros industriais, como Magnitogorsk. Em 1939 h .
fi enviados para no , . , avia
oram . ardas atuando apenas nos campos e colomas da NKVD." consultoria técnica, enquanto alguns dos mais ilustres arquitetos e urbaniS tas
cerca de l 07 mil gu . . .- d d .
, . do capitalismo, cuJa v1sao e mun o era essencialmente harm _ europeus, como Le Corbusier e Ernst May, competiram para elaborar o projeto
Aoconcrano 0
. comunismo se considerava em estado de guerra e de sítio . . urbanístico de Moscou e de outras cidades. No entanto, com os julgamentos exem-
niosa e benigna, 0 _ . · O s tni-
os tentaram sufocar a revoluçao ainda no nascedouro· os int plares da década de J930- cujos réus incluíam engenheiros e empresários ociden-
migas exrern . . ' ernos
tais -, esses contatos minguaram e tornou-se mais difícil entrar e sair do país. Ao
~~m desen caminhar o partido por meio de seu sectansmo e de seus "d . ~~
. . mos" Coincidindo com o auge da repressão e o início do terror a indu . operar-se O "milagre econômico", as realidades soviéticas sumiram de vista e o país
aoms · •
stna-
lização soviética ocorreu num clima de conspirações, "sabotagens" e "complôs se fechou em si mesmo.
Foi sobretudo a ascensão de Hitler que dificultou uma avaliação objetiva da
contra-revolucionários". A partir do julgamento de engenheiros estrangeiros, em
Rússia. Com a Alemanha nazista despontando como a principal ameaça à demo-
1928 , técnicos especializados, administradores e chefes do partido trabalharam
cracia na Europa, boa parte do centro e da esquerda ocidentais uniu-se numa fren-
sob a ameaça de purúção arbitrária: uma falha, uma rivalidade pessoal ou mesmo
te antifascista e amplamente pró-soviética: "Nas atuais circunstâncias o apoio à
uma alteração repentina na linha da cúpula podia bastar para desgraçá-los. De-
União Soviética (a única esperança de evitar a guerra) é tão importante que não se
zenas de milhares de profissionais de nível superior foram mandados para os cam-
deve dizer nada que O outro lado possa citar" , o editor inglês Victor Gollancz adver-
pos. A necessidade de treinar uma nova geração de administradores tornou-se
.
tmoescn ·tor H . N . Brailsfiord, em 193 7 • Para muitos intelectuais europeus, a União
prioritária para o regime, porém ao m esmo tempo possibilitou a ascensão social
Soviética tornou-se, assim, um espelho que refletia as próprias obsessões, suas
dos mais jovens. O sta!irúsmo significou, portanto, terror e repressão, mas também
esperanças e seus medos do que o nazismo faria.'º
mobilidade ascendente e empolgantes oportunidades de vida nova que contrasta-
vam com a estrutura relativamente estática e hierárquica da sociedade czarista: cal-
cula-se que entre 1928 e 1933 cerca de 770 mil membros do partido deixaram de ser
RECUPERAÇÃO NACIONAL
proletários para se tornar burocratas e executivos."
Hoje em dia é normal criticar ocidentais como H. G. Wells, Bernard Shaw ou Nenhum lugar acompanhou a façanha dos soviéticos com mais interesse que
os Webb por terem desdenhado os aspectos mais repulsivos e brutais do stalinismo a Europa central e oriental, devastada pela crise. No inicio de 1931 o embaixador
e confundido a propaganda com a realidade soviética. Contudo, numa época em britânico informou que "entre os empresários e banqueiros de Berlim o principal
que o capitalismo parecia estar se suicidando, a Rússia de Stalin representava 0 assunto tem sido a ameaça representada pelo progresso da Urúão Soviética na exe-
oposto do Ocidente - uma imagem de energia, empenho, realizações coletivas e cução do Plano Qüinqüenal e a necessidade de os países europeus se esforçarem
modernidade-, tanto mais sedutora quanto pouco compreendida. E as denún- seriamente para pôr a casa em ordem antes que a pressão da economia soviética se
cias dos raros críticos francos e cultos, como o ex-comunista croata Ante Ciliga- torne forte demais"."
cujo livro Na terra da grande mentira foi publicado em 1938-, praticamente caíam A liderança necessária não podia partir da Inglaterra. Os capitalistas liberais
em ouvidos moucos." falavam corno se vivessem no século anterior, e o livre-comércio - o mantra dos
Essa credulidade refletia, em parte, o que um historiador define como "a von· ingleses - constituía uma resposta nada convincente e antiquada. Quando lhe
tade fenomenal de acreditar em utopia", presente na Europa do entreguerras. Mas recomendaram, em Genebra, que abolisse as barreiras comerciais e importasse
refletia também O gradativo desinteresse dos ocidentais pelas realidades da vida trigo barato do Canadá e da Argentina, o ministro do Exterior da Iugoslávia repli-
soviética. Na década de 1920 os contatos dos soviéticos com o restante da Europa cou que poderia fazê-lo, "desde que sacrificasse quatro quintos de sua população".
foram substanciais-nos campos da tecnologia, da ciência e da cultura, se não das A única diferença entre a política de livre-comércio proposta pela Inglaterra e o
finanças e do com' · E nh . eram
ercio. nge e1ros americanos, alemães e ingleses fornec
133
132

·,~,
. ,. JS 'l f
. " e em vez de fuzilarem a população,
.. . .. a1 de Stalin, concluiu, era qu , teª mais de 10% dos gastos governamentais na Grécia, na Romênia e na Bulgária,
Plano Qumquen
• atam de fome"." fi . , por exemplo, entre 1931 e 1935. O que poderia ser mais racional que tomar gran-
voces a m • . li , cio revelou, ortmtamente, aos pa,ses
co a falenc1a do vre-comer
Enrrecan ' .nh t" os e inesperados para sair da depressão. O des empréstimos na década de 1920 e ignorar o débito na de 1930? Os obrigacionis·
. li5 t 5 aJguns canu os aIterna 1v tas ingleses e americanos se indignaram, porém nada puderam fazer."
capita ª ' • . d teve mais sucesso do que os historiadores
acionalismo econom1co os anos 1930 . , . Internamente, tornou-se possível conter o consumo, bem como os salários,
n d . d consumo interno, mmros pa1ses lucraram mais que
admitem, e, pro uzm o para o - sobretudo nos Estados totalitários, que suprimiram os sindicatos independentes.
, da de 1920 quando lutaram para retomar o padrao-ouro e enfrentaram a
na deca , . .• . Inflação, impostos municipais elevados, estrito controle de salários e outras formas
.
concorrenoa• · mter · nac,·onal· Naturalmente a aut0-suf1ciencia teve um preço.
de poupança compulsória ou "voluntária" mantiveram os salários baixos e canali-
Onerou os consunu·dores com produtos locais caros, mas também incentivou os zaram recursos para os cofres do Estado. O regime nazista construiu vias expres-
produtores. o mesmo se deu com a suspensão das dívidas, que liberou agriculto- sas e edificios públicos; o governo britânico, moradias populares; quase todos sub-
res e industriais endividados e fomentou a demanda interna. Essa relativa melho- sidiaram agricultores e m ais cedo ou mais tarde investiram no rearmamento.
ria custou aos produtores um controle estatal crescente. Com o abandono do lais- Surgiu, assim, uma terceira estratégia de desenvolvimento, que não era nem a
sez-faire, os governos depararam com a necessidade de estabelecer a taxa de dependência de empréstimos externos nem a industrialização forçada de Stalin, e
câmbio; viram-se atraídos para a política comercial e a alocação de divisas; interna- que propiciou um ritmo de crescimento mais lento que na União Soviética, custou
mente começaram a planejar a produção, a favorecer cartéis de produtores e a menos vidas e ajudou a estabilizar a classe política.
interferirno desenvolvimento e na localização de novos negócios. Assim, indepen- No conjunto, porém, a autarquia continuou sendo uma opção de curto prazo
dentemente da ideologia, a auto-suficiência alterou a relação entre o Estado e a ini- para o capitalismo europeu. Encorajou a recuperação da indústria, sem dúvida,
ciativa privada. As nações capitalistas tomaram emprestada dos bolcheviques a
idéia de planificação e controle estatal e a diluíram: a recessão levou ao surgimen•
1 mas só num ambiente protegido e não competitivo. Esquemas de cartel patrocina-
dos pelo Estado protegeram as empresas existentes de rivais estrangeiras e até
to do capitalismo nacional conduzido pelo Estado.
No curto prazo, a recuperação e o crescimento industrial locais foram irnpres•
sionantes. Protegidos por tarifas mais altas e moedas inconversíveis, os preços
pararam de cair e a oferta de emprego aumentou. As indústrias voltadas para o
l mesmo de novas concorrentes locais. Empresários de sorte colheram gordos
lucros, mas tiveram pouco incentivo para reinvesti-los em instalações e equipa•
m'e ntos, sobretudo quando precisavam importá-los. A principal exceção ocorreu
onde o Estado nacionalista deixou bem claro que esperava resultados em troca de

l
,J
1

li
1
mercado interno, como as têxteis, químicas e geradoras de eletricidade, cresceram
rapidamente, e a agricultura também se recuperou com a ajuda do Estado, que
comprava safras a preços mínimos. Entre 1932 e 1937, a produção industrial
sua proteção. Na Alemanha nazista, uma empresa•de utilidade pública, como a
Volkswagen, ou uma fábrica particular, como a Daimler-Benz, construíram insta·
lações, adquiriram equipamentos e acumularam lucros na década de 1930 (e no iní•
aumentou 67% na Suécia e 48% na Grã-Br.etanha, enquanto estagnou na Polônia, cio da de 1940) que constituiriam a base de seu crescimento no pós-guerra. A maio-
j
na França e na Bélgica, obcecadas pelo padrão-ouro. Na Alemanha nazista - gra· ria dos Estados, contudo, era ou insuficientemente nacionalista (o britânico, por
!
ças ªº serviço de trabalho obrigatório, ao rígido controle de salários, aos planos de exemplo), ou desorganizado demais (como o francês e o italiano) para que a autar·
criação de empregos e a uma campanha contra mulheres trabalhadoras - , o quia compensasse. Apesar de se falar muito em "eficiência" e "coordenação", não
desemprego baixou de 5 6 ilh - . . se registrou nenhum avanço tecnológico comparável à "racionalização" dos anos
• m oes para 900 mil em cinco anos e em 1939 pranca·
mente inexistia. 1920 e em alguns casos houve mesmo retrocesso. Só na década de 1950 a indústria
Surgiramnovasfonresinte d fi . européia se modernizaria de verdade; ironicamente a União Soviética tornou-se,
d . rnas e manaamento para substituir os mercados
e capital do Ocidente. Deixar de " " . no pós-guerra, um exemplo do que podia acontecer quando um país persistia
nificou . pagar- ou renegociar - a dívida externa s1g·
mu1to para os Estados devedor d E demais na autarquia ."
es ª uropa central e oriental: o equivalen·
134 135

.,,, j. '
. sobretudo na atrasada Europa ori'enral
história se repenu, . Polônia e Tchecoslováquia) · o es fiorço mais
. resoluto para criar um novo sistema
Na agricuJcura ª . _ sementes melhores, uso maiJ intensivo de comercial compatível com a autarquia · parem
· da Alemanha, em 1934, com seu
aJ ma modermzaçao - . .
verificou-se gu . d ai dão e outros substitutos de produtos impo rta- Novo Pl ano - uma rede de con tas de compensaçao - b1latera1s
· · com os pa1ses
·
.. maior cuJnvo e go . do
fertilizantes, . "b talhas do trigo" impedrram que o campo prosperasse Leste e do Sudeste europeus .
. ~um~ a '
dos-,P . ·vo Os agricultores afastaram-se do m ercado para
anto o mannvessem v1 . . Anunciado por alguns geopolíticos nazistas como o início de uma Nova
conqu mia de subsistência. No longo prazo a autarquia não apre- Ordem e atacado por antinazistas como um sistema de exploração fascista, 0 Novo
dedicar-se a uma econo
alução para as aldeias superpovoadas da Europa, que também Plano teve, na verdade, um impacto mais modesto. As economias pobres e atrasa-
sentou nenhuma s . . .
. d ar ate' a década de 1950, quando o comurusmo e o capitalismo inter- das da Europa oriental dificilmente poderiam substituir os velhos mercados de
tenam e esper
. . eliri'am os camponeses para as cidades e criariam novos postos de tra- exportação da Alemanha. O regime nazista queria os produtos desses países, mas
naoona1lffiP
balho na indústria. sem taxas alfandegárias, e conseguiu seu objetivo estabelecendo grandes déficits
o capitalismo nacional enfrentou muitos outros obstáculos nos anos 1930: a comerciais com os vizinhos mais pobres. Assim, a Bulgária, a Iugoslávia e a Grécia
oferta de emprego cresceu, mas os salários permaneceram baixos, principalmente ajudaram a financiar a recuperação alemã. De qualquer forma, ninguém mais que-
nos regimes autoritários. A Frente de Trabalho nazista organizou excursões turís- ria suas exportações, e eles continuaram adulando os alemães porque era importan-
ticas e pressionou os patrões para aprimorar as condições de trabalho, o que aju- te manter os próprios agricultores contentes. Quando o governo grego ameaçou
dou a dissipar a insatisfação dos trabalhadores, contudo não contribuiu para u m suspender as vendas de tabaco para o Terceiro Reich, porque não estava obtendo
aumento substancial nos salários. Assim, o tipo de recuperação que se processou grande coisa em troca, os protestos de seus produtores fizeram-no voltar atrás.
na Inglaterra durante a década de 1930, liderada pelo consumidor e baseada na · Assim, embora a Alemanha dominasse seu comércio, os Estados balcânicos
crescente oferta de emprego por parte da indústria leve, era essencialmente incom-
patível com o tipo de recuperação que a Alemanha nazista ou a Itália fascista bus-
1 nunca foram para ela mais que parceiros comerciais menores. Seu valor residia
basicamente em produtos específicos - a bauxita da Iugoslávia, o tabaco da
cavam. Ademais, foi o Estado militar, e não o consumidor, que sustentou a recupe- Grécia, o petróleo da Romênia -, vitais para o boom armamentista do Reich.
ração nesses países. A guerra da Etiópia foi fundamental para ajudar a Itália a sair Explo ração, talvez, porém não do tipo que poderia proporcionar a um país como
da recessão. Até 1939, a Alemanha investiu em rearmamento praticamente o
1 a Alemanha algo mais que beneficias no curto prazo. A paràr de 1938, formas mais
dobro da proporção do PNB que a Grã-Bretanha destinou ao setor e dez vezes o que diretas de exploração econômica suplantaram o escambo: minerais valiosos, reser-
os Estados Unidos gastaram. Para Hitler o motivo do rearmamento não foi a recu- vas de moeda estrangeira e grande quantidade de aço decorrente do Anscltluss com
peração, e sim a necessidade de preparar-se para o inevitável "novo conflito" com a Austria; depois, com a ocupação da Tchecoslováquia no ano seguinte, mais ouro
V
o bolchevismo soviético· A consequenaa,
·· • · no entanto, foi um tremendo estirou, 1o e as fábricas de Skoda, o mais importante produtor de armas da Europa central. A
ao crescimento• que no final da d,ecad a d e 1930 provocou séria escassez de mao-de-
_ conquista externa - o objetivo primário da política econômica nazista - havia
obra e pressões inflacionárias. começado."
O comércio internado 1 -
. . na nao parou por completo depois de 1932, mas res-
tnng1u-se de tal modo que nãO . . .
. d consegum estimular o crescimento como fana a
partir e 1950. Seus níveis des en . , O CAPITALISMO FASCISTA
mesmo em . . p caram depois de 1929 e nunca se recuperaram:
1937 eram mfenores ao d
aumentado A E . . . s e 1929, apesar de a produção mundial cer 'í\gora estamos enterrando o liberalismo econômico", Mussolini proclamou
. uropa d1v1dm-se em b[ . .
truindo uma zona de fi • . . ocos comerc1a1s, com a Ing laterra cons· em 1933 . A essa altura já se aceitara o fim do laissezfaire. O Estado ativo substiruí-
pre erenaa imperial fi d d
sem sucesso, manter u ora O continente e a França tentan o, ra o mercado livre; o indivíduo egoísta cedera lugar à coletividade disciplinada. Era
ma pequena área d dr-
e pa ao-ouro (Holanda, Bélgica, Suíça,
136 137

_,,. .··..... · ..e.,.


, . diam levar a ver no fascismo a economia
tais cendenc1as po . · 1·1stas, como o Jovem
os "nazistas vermelhos" , a n t'1cap1ta · ·
Goebbels, unham o
fácil perceber como . . anomia especificamente fascista? Se o libe-
Mas eX1st1a uma ec mesmo receio. "Toda a repulsa causada pelo parlamentarismo e a justa crítica do
capitalista do futuro. _ .. . mo tinha todas as respostas?,.
. a morto, entao o ,asas , . . - socialismo e da democracia terminarão em amarga decepção, em retórica vazia e
ralismo esrav . . rimiu seu estilo a administraçao da economia_
rtamente o fasCJsmo imp " . . . - pior ainda - numa fatal ilusão reacionária, se o fascismo não tiver uma base
Ce mil' . . , "Batalha do Trigo de Mussohm seguiram-se a
ativista heróico, itansta. a . l" . d " mais sólida, realista e humana", um eminente fascista pró-trabalhadores advertiu
' . ,, "C panhapeloProdutoNaoona e,maistar e,a Lutapelo
"Baralha da Lrra , a am , ,. ao Duce. "A utopia comunista poderá recobrar sua deletéria influência se a nova
,, H'tl Os fascistas tambem gostavam de transformar problemas ordem se revelar incapaz de garantir um mínimo de bem-estar econômico." De
Trabalho de I er.
, . ,, "questões de vontade", o que muitas vezes equivalia a dizer que nada adiantaram tais advertências: a ala esquerda do fascismo e do nazismo acabou
econormcos em
'd d s n-ao tinham a menor idéia do que fariam a seguir. Na verdade a ideo- se curvando, e o princípio da propriedade privada nunca foi seriamente ameaçado.
as auton a e '
logia fascista era quase deliberadamente obscura no tocante à economia, em parte Na Alemanha a esquerda nazista sonhou com uma "segunda revolução" contra o
porque a cúpula precisava contentar a esquerda e a direita do movimento, e em capitalismo, porém seu sonho terminou com a Noite dos Longos Punhais e o assas-
parte porque não tinha grande interesse pela matéria, vendo-a como um meio para sinato de Gregor Strasser, em 1934; na Itália o projeto da esquerda morrera anos
chegar a um fim. Hitler queria usar" a técnica de produção da empresa privada em antes." Nas relações industriais os regimes fascistas tendiam claramente a apoiar
conformidade com as idéias do bem comum sob o controle do Estado", uma fór- os patrões. Os sindicatos independentes foram suprimidos tanto na Itália como na
mula que satisfazia a todos e a ninguém. O fascismo era fortemente anticomunis- Alemanha, mas as associações patronais continuaram existindo, e o poder dos
ta, mas também antiplutocrata. Opunha-se às finanças internacionais- que costu- empregadores sofreu poucas restrições até o momento em que, com a volta do
mava condenar como "parasitas" e "cosmopolitas"-, porém apoiava a "produção" pleno emprego, esbarrou no poder do mercado de trabalho. O fascismo manteve-
nacional. Por causa disso era socialista? Talvez, num sentido especial, excluindo a se como uma economia de salários baixos, diferente da que se implantou na
noção de classe. "Nosso socialismo é um socialismo de heróis, de virilidade", decla- Europa ocidental depois de 1945.
rou Goebbels, que saiu da ala esquerda do partido." Se o tipo de protesto do proletariado que gerações de historiadores de esquer-
Um "socialismo de heróis" implicava hinos intermináveis ao trabalhador: da procuraram não se materializou, talvez tenha sido, em parte, por causa do
todo ditador europeu deve ter posado em algum momento como o primeiro-cam- sucesso da Frente de Trabalho Alemã (DAF) e de suas subsidiárias, que conseguiram
ponês ou primeiro-operário de seu país. Entretanto, o fascismo enfatizava o traba- organizar o bem-estar dos trabalhadores e melhorar as condições das fábricas; afi-
lho braçal, não a máquina e a tecnologia, como faziam a União Soviética e os nal, com uma renda equivalente ao triplo do que o próprio Partido Nazista recebia
~stªdos Unidos. Os homens fascistas empunhavam foices, não dirigiam tratores. e um número de associados muitas vezes maior, a DAF não deixou de ter alguma
influência. Na Itália a organização Dopolavoro também sinalizou o interesse do
Sou socialista"
. • Hitler ª ftrmou, "porque me parece incompreensivel
, manter e
maneJar uma máquina com t0 do o cm'dad o e permitir que os mais nobres repre- regime pelo lazer e pelo bem-estar dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, a nova
sentantes do trabalho a d f' ,, _ ordem hierárquica introduzida nas relações de trabalho dificultou a ação coletiva.
' s pessoas, e tnhem. Cartazes enalteciam os artesaos -
um olhar para trás que tal . d . Entretanto mais crucial foi, talvez, a lembrança do desemprego. Como um
_ vez ªJu asse a desvencilhar o trabalho braçal de suas for-
tes conotaçoes de classe Até o observador alemão escreveu em 1938, "embora saibam que falta mão-de-obra,
ubli . , . . · s construtores de estrada figuravam nos folhetos
P manos nazistas com a leg d ''Ar todos temem perder O emprego. Não esqueceram os anos de desemprego".
Na r '. ena: amosaterraeterna".'•
p anca, contudo, o fascismo - . Contudo, a façanha dos nazistas também podia expressar-se em termos mais posi-
lini, o ex-socialista . nao era amigo do trabalhador. Tanto Musso- tivos: em 1938 0 desemprego na Alemanha afetava 3% da população economica-
, como Hitler dirigira
antesdechegaraopod d m-se aos trabalhadores de uma forma mente ativa contra 13% na Grã-Bretanha, 14% na Bélgica e 25% na Holanda. Os
. er e e outra depois
cismo italiano temia is . que O galgaram. A ala esquerda do fas- níveis de de:emprego muito mais altos na Itália talvez expliquem por que os traba-
so e mstava Mussolini -
ª nao se submeter aos empregadores;
138 139
--
. . d do regime que seus colegas alemães. Os
• mais aliena os massa. Posta à prova, a economia de guerra alemã, apesar de todo o zelo do regi-
·ralianospareaam d balho" e a "honra do trabalhador ale-
lhadores 1 "dignidade o rra
""'ns nazisras sobreª meaça dos campos de "trabalho de emer- me nazista, revelou-se incapaz de competir com suas rivais capitalistas ou com a
s1ob~ funcionaram; entre a a . . comunista."
ão" cerramente filmes esportes e viagens orgaruzadas, por
m lado e os concertos, ,
gênaa •
• " por um ' li · '°
um esqueceu a luta po uca.
0 trabalhador com d d . d ., -
ourro, 'li a Alemanha aproprie a e pnva a Ja nao reina-
.Afinal tanto na Ita a como n . - A REFORMA DO CAPITALISMO DEMOCRÁTICO
' ·t1 explicou não se reivindicava expropnaçao quando se
soberana. Como H1 er ' " - ". .
va ~ A a existiam valores mais altos - a Naçao italiana e o
tinha um Estado !0rte. gor . . . . " "Basta considerar países tão diferentes como os Estados Unidos da América,
_ dos quais se devia adm1mstrar a economia. No futuro,
Volk alemao -, em nome a Rússia soviética, a Itália ou a Alemanha para compreender a força irresistível
. di ·d · ão poderão desempenhar papel nenhum nessas questões",
interesses m v1 uais n " . desse avanço rumo a uma economia nacional planificada", observou em outubro
.
Hitler dec1arou em 1936, quando deu sinal verde para o rearmamento. Existe de 1933 o socialista belga Hendrikde Man. Na década de 1930 coube à Europa oci-
apenas um mteres · se, O interesse da nação." Numa formulação , . esplendidamente
., dental descobrir se a democracia podia aprender com essas novas tendências da
• funcionário público alemão avisou os empresanos de que no fundo vida econômica."
preosa, um _ . . ,, .
procuramos uma nacionalização mental' e nao matenal, da econorma . Foi uma A ênfase de fascistas e comunistas na vontade e na ação impressionou intelec-
advertência para a empresa privada e também um repúdio. Da mesma forma lem- ruais da Europa ocidental, que se sentiam cada vez mais cercados de mediocridade
brou-se aos banqueiros italianos que "os bancos já não dominam a economia da e fatalismo. A partir de 1933 foram sobrerudo os socialistas mais jovens - perple-
nação; são apenas o instrumento do exercido de uma forma particular de crédito"; xos ante a rápida aniquilação da social-democracia alemã - que começaram a
os negócios "têm o direito e o dever de utilizar todas as fontes de crédito que a impacientar-se com a cautela de seus líderes. Um crítico escreveu, sarcasticamen-
nação coloca à disposição da atividade produtiva do povo italiano"." 1 te, que em seu congresso de 1933 a cúpula socialista francesa advertiu os delegados
Apesar dos infindáveis apelos à " eficiência" e à "coordenação", é dificil discer-
nir uma abordagem do Estado caracteristicamente fascista. O Estado como
modernizador? Não. Na Itália a necessidade de salvar fábricas falidas levou à cria-
ção de holdings gigantescas no setor público. Teoricamente, o controle estacai
i de que "cumpria ser prudente, cumpria ter paciência, cumpria avaliar com preci-
são as forças adversárias. Não devíamos partir para o poder porque seria perigoso
demais, a resistência do próprio capitalism o nos esmagaria; não devíamos partir
para a revolução porque não estávamos prontos, porque não chegara a hora [...]
sobre a economia aumentou muito. Na prática, porém, a administração industrial Não devíamos partir para lugar nenhum!"."
quase não sofreu alteração. O Terceiro Reich criou uma série de controles estatais, Na Inglaterra sentimentos semelhantes levaram o parlamentar trabalhista
antes de o Plano Quadrienal de 1936 impulsionar o rearmamento sob a liderança Oswald Mosley a abraçar o fascismo, exasperado com o que um colega seu definiu
de Goering: no final da década de 1930 seu ministério determinou cerca de 50% de como a "paixão [ da cúpula] por esquivar-se às decisões". Na convenção trabalhista
todo O investimento industrial no país. Inspirado em parte no exemplo soviético, o de 1930, Mosley apresentara um plano radical de recuperação econômica e, quan-
Estado alemão empreendeu um maciço investimento de capital, construindo o do a liderança o rejeitou, alegando custos, afastou-se do partido e começou a apro-
. formidável complexo mu·1tar-m
mais · d ustn·a1 da Europa. Todavia, as realizaçoes
. ~ ximar-se da direita num processo que culminaria na British Union of Fasdsts."
gigantescas-como a metalúrgica de Brunswick, a maior indústria de alumínio do Em termos de opinião e temperamento, um abismo separava jovens como
mundo, a fabricação de armas d I ali . Mosley, que Jurara na Primeira Guerra Mundial, dos líderes socialistas mais velhos.
,. e a ta qu dade - contrastavam com uma realida-
de caot1ca, complicada pela lut b .
, ª urocrát1ca e pela falta de planificação central ou Estes últimos queriam mostrar ao eleitorado que sabiam agir de acordo com as
ate mesmo de simples coordena ã0 O - · ·
ma d . ç · s padroes de competência eram elevados, normas capitalistas; a " Front Generanon
· " cons1'derava as normas, irracionais. e a,
s esv1avam a atenção da verdad . . · · e cad uca. "Esta época é dinâmica • e a epoca anterior a
eira necessidade: a eficiente produção em liderança passiva, derronsta

141

~ . %& .. tt ~
"-,,,: .
, . .. dedarou Mosley. "Os homens do pré-guerra são muito mais farçado. Você torna o Estado oni . .
gu erra era estauca ' . . d, potente e so com uma ditadura conseguiria realizar
, sim como sua época era muito mais agra avel que a seu programa. E principal me t
'bonzinhos' do que nos, as . ,. n e espera rud º da nação e nada da Internacional"."
•ricos trata-se de saber se suas ideias para resolver os proble-
nossa. Em termos pra '
são melhores que as idéias daqueles que o presente produziu." De Man rebateu tais objeções• observando que o destmo
. de Weimar
.
mas do presente mostra-
•r s m·regrantes da "Front Generation" o fascismo e o comunismo repre- ra o que podia acontecer quando os social-democratas se recusavam a coIa borar
Para mw o
sentavam formas de organização econômica mais "modernas" e dinâmicas que as com. .a classe média:
_ _era
, inútil
. querer aumentar O nível de emprego com projetos·
do liberalismo ou do socialismo reformista.•• politicamente mace1tave1s para a classe média, assim como de na da servia
· ,a
e: 1ar em

Sua exasperação é compreensível. Só ocasionalmente os partidos socialistas acabar com o capitalismo, já que o partido não tinha nem força nem vontade para
tentaram repensar teoria e prática à luz do desemprego e da recessão. O melhor tanto. Como Mosley, De Man percebeu muito bem a nova situação criada pela
exemplo é a Suécia, que não demorou a desvalorizar sua moeda e se recuperou crise: a necessidade de os socialistas se adequarem ao nacionalismo, questionarem
rapidamente, graças à política reflacionária de seu governo social-democrata de o dogma do orçamento equilibrado e oferecerem ao mercado uma alternativa
1932. O país contava com uma administração sagaz e disposta a utilizar a política decisiva. Na prática, porém, teve só um pouco mais de sucesso: em 1935, como
fiscal para proporcionar melhorias. "Só haverá recuperação espontânea à medida ministro das Obras Públicas do governo de Renovação Nacional, reduziu o desem-
que a política estatal ajudar a provocá-la", declarou em 1933 o ministro das prego substancialmente - o que, na verdade, se deveu mais à desvalorização
Finanças. O governo aumentou os investimentos, e em 193 7-8 o desemprego dimi- monetária determinada pelo governo nessa mesma época que ao PlanDeMan. Sua
nuiu consideravelmente (de 139 mil, em 1933, para menos de 10 mil) e ocorreu um façanha foi real, mas não representou o triunfo do planisme. Desiludido, De Man
pouco a pouco se aproximou da direita e colaborou com os alemães em 1940,
boom industrial. A política oficial foi cuidadosamente planejada. É verdade que a
declarando que o nazismo era "a forma alemã do socialismo". Suas idéias, contu-
Suécia desfrutava certas vantagens econômicas que a protegeram dos piores efei-
do, frutificaram depois da guerra: sob muitos aspectos, o famoso Plan serviu de
tos da depressão internacional: entretanto, com sua política fiscal contracíclica e o
modelo para a planificação estatal de boa parte da Europa ocidental depois de 1945.
pacto entre sindicatos e empregadores, que ajudou a regulamentar as relações
Na França discutiu-se muito o PlanDe Man, e contudo, em 1936, o programa
industriais• preparou-se para o cap1ºtalismo orgaruza
· d o que o resto da Europa oci-
·
da Frente Popular omitiu por completo um plano equivalente; pior ainda, o gover-
dental só adotaria depois de 1945."
no Blum tentou atender às reivindicações dos trabalhadores e ao mesmo tempo
_ A Bélgica industrializada, apegad a ao pad rao-ouro
- e mergulhada na depres-
preservar um franco forte. Blum admirava o pragmatismo de Roosevelt e preten-
, 1: p1aru·r·1caçao
sao, ofereceu a outra respost a notave _ capitalista. Em 1933 Hendrik
dia atuar como um "leal administrador" do capitalismo francês. O resultado foi um
de Man retornou da Alemanha para trab alhar em seu Plan van der Arbeid A idéia de
desastre econômico, que não satisfez nem à esquerda, nem à direita, aniquilou as
que podia haver uma planifica - . . ·
. çao soaa11sta num contexto capitalista e até nacio- esperanças de muitos na Frente Popular e diminuiu ainda mais o prestígio e a auto-
nalista constituiu uma novidad .
, . . e que se refletiu na oposição a De Man dentro do confiança da esquerda européia não-comunista. Até as incensadas conquistas do
propno Partido dos Trabalhadores:
governo da Frente Popular - férias remuneradas, semana de quarenta horas de
trabalho e arbitragem das disputas entre patrões e empregados - já haviam sido
Quando expus o Plan à executiva do p . . l
trei mais oposi ã d . aro do dos Trabalhadores, em outubro, encon- 1 obtidas em muitos outros países.
ç o o que havia previsto A1 . De Man, Mosley e outros abandonaram a democracia e passaram a acreditar
rado demais em sub . . · guns disseram: "Você é realmente mode-
sntu1r o conceito de socializ - que só com o Estado autoritário haveria uma ação conjunta contra o desemprego,
lugar da lealdade à lut d açao pelo de economia dirigida. E em 1
I
a e casses você busca um . mas também se podia interpretar de modo muito diferente a década de 1930 e suas
cultores". Outros falaram· "O • , ª aliança com a classe média e os agri-
. que voce esta nos a lições para a democracia. Alguns liberais acabaram rejeitando o intervencionismo
presentando é um fascismo mal dis-
143
• ·co como a essência do problema e a planifica-
do Estado e O nao
·onalismoeconomi .
"tária Essa foi a crítica do mercado livre ao Estado
5. A Nova Ordem de Hitler, 1938-45
. entemente auton .
ção como J.11CT terra e na Itália, encontrou adeptos entusiásticos nos
r , . Popular na 1Hng1aek e Von Mises, ambos refugiados
rota ,cano.
. ,. ,
políticos. A decada
nomiscas austríacos ay ..
eco _ , "deal para a difusão de suas mensagens, que só mam surtir
de l 930 nao era a epoca 1
efeito quarenta anos depois. . . . .
Nocurtoprazo, os críticos democráticos do liberalismo tJveram mu1to mais
sucesso. Mw•tos concordavam com H. W. Arndr, analista dos anos 1930 que escre-
veu em l 944: "Os nazistas desenvolveram numerosas técnicas econômicas - no
tocante a finanças governamentais, intervenção estatal planificada, controle do
câmbio e manipulação do comércio exterior- que, mutatis mutandis, podem apli-
car-se a uma causa mais digna."" John Maynard Keynes, por exemplo, encontrou
certas virtudes no nacionalismo econômico, destacando a autonomia que os
Estados individuais ganharam sobre a política em função do colapso de uma eco-
nomia internacional unificada. "Idéias, conhecimento, ciência, hospitalidade, via-
gens[...] devem ser internacionais", escreveu em 1933. "Mas a produção deve ser
interna, sempre que razoável e possível, e sobretudo as finanças devem ser basica-
mente nacionais."'° Tenl,o a impressão de que a Alemanha possui certos planos [...] referentes a
O polonês Michal Kalecki, contemporâneo de Keynes, chegou a uma conclu- uma nova ordem européia [...] nos moldes da economia planificada que
são semelhante. Ao discorrer sobre o experimento de Bium, afirmou que o contro- conhece e que certamente encerra vantagens importantes, em comparação
le do câmbio era necessário para os governos que desejavam alterar o equiliôrio do coma falta de planejamento quefaz parte do egoísmo liberal e vem reinando
poder industrial em beneficio do trabalhador; sem isso os capitalistas sempre até o momento. Cabe-nos colaborar, calmamente e de boa vontade, com a
podiam recorrer à fuga de capitais para arruinar a credibilidade de um regime. adaptação que mencionei.
Kaleck.i pertencia a uma escola de economistas segundo a qual o Estado precisava Thorvald Stauning, primeiro-ministro dinamarquês,
"conduzir a economia" ao pleno emprego - uma doutrina que corroborou o 8 d e março de 1941'
Plano Quadrienal de Investimento polonês de 1936, uma das mais importantes
experiências de planificação centralizada que ocorreriam fora da União Soviética.
No verão tornou-se cada vez mais claro para nós que, aq1â 110 Leste, concep-
Em Keynes podemos vera incipiente revisão do capitalismo, a qual forneceria dire-
ções espiritualmente insuperáveis estão lutando entre si: o conceito alemão
trizes para a política do pós-guerra na Europa ocidental; em KaJecki, as doutrinas
de /,oura e raça e uma tradição militar de muitos séculos contra 11111 modo
que contribuiriam para o socialismo de Estado no Leste. Em ambos ao lados, alem-
asiático de pensar e ittstintos primitivos alimentados por mn punhado de
brança do fracasso do liberalismo clássico na década de 1930 levaria a uma reava-
intelectuais, quase todos jttdeu.s [...) . Mais que nunca estamos imbuídos da
liação do equilíbrio entre poder público e privado na economia moderna, prepa-
idéia de uma nova era, na qual afo rça da superioridade racial e da.s realiza-
rando. o caminho para o g rande boom do pos-guerra.
, -
Portanto, os europeus nao
precisavam que os russos ou O . d ções do povo alemão lhe confia a liderança na Europa. Reconhecemos clara-
, . s amencanos o New Deal lhes ensinassem que era
necessano fazer O Estado int . . . .• . mente nossa missão de salvar a cultura européia da barbárie asiática que
ervir na economta naaonal; sua própria expenenaa
entre as guerras apontava para a mesma conclusão. ,1 avança. Agora sabemos que temos de lutar contra um adversário fi,rioso e

144 145
mundial aumentando os poderes do dir .
~ '\ 11
1. dade de asse
gurar a paz
.d ontra indivíduos e Estados. A Conven _
r medi as e
eito int
Çao do
ernacio
na1
·1
,·' '1 " )
'• !
:, .· 1 para coma . e importante aos reconhecidos pelo dire. . Genocíd·
tou um cnm 1to II1te 10 7. Uma paz brutal, 1943-9
aCfescen dos que a ratificaram a ob ngaçao
· - de agir no sentid rnac1ona1
·
iJJ1 ôs aos Esta . . o de Prev . e
P_ etração. No entanto, a comurudade internacional . en1rou
unir sua perp ignorou .
P tendal da Comissão e poucos fatos sustentaram a confi inteira.
mente o po . 1ante afir
- es Unidas de que "cada vez mais a sociedade mundial s . . lllativa
das Naço __ . . , entira que
s grupos nacionais, raaais, religiosos e etnicos de todo 1 'Ptote.
gendo O ugar do 1
taremos protegendo a nós mesmos". Durante quatro década P_aneta,
es s, uma se.
genocídios cometidos fora da Europa ficaram impunes; em 1992 e . . ne de
, , . " , ssa indiferença
estendeu-se a propna Europa.

Agora que as Nações Unidas estão começando a tomar a Europa dos nazis-
tas, inicia-se a fase "democrática'' da política colonial[... ] O que [os euro-
peus] chamavam, com certo desprezo, de "política nativa" aplica-se atual-
mente a eles.
Dwight Macdonald, "Política nativa", 1944'

A Segunda Guerra Mundial - a culminância de quase um século de violên-


cia crescente entre as potências européias dentro e fora do continente -foi na ver-
dade várias guerras em uma. Antes d.e mais nada foi um conflito militar, travado
por forças armadas, provocado pelas ambições imperialistas de Hitler. Foi também
uma guerra entre raças, religiões e grupos étnicos - um sangrento acerto de con-
tas por parte de nacionalistas radicais que queriam modificar à força o acordo de
Versalhes. Em terceiro lugar foi em muitas áreas da Europa ocidental e oriental
uma guerra de classes no sentido mais extenso, com braccianti sem terra contra
proprietários pró-fascistas no norte da Itália, com camponeses pobres contra cita-
dinos. Por fim, quando os movimentos de resistência se expandiram em 1943-4 e
provocaram duras represálias das milícias colaboracionistas, tornou-se uma guer-
ra civil de extraordinária ferocidade, atiçada pelos alemães com armas e dinheiro,

213
, esmo_ na França - a 1789. Essa atmosfi
d 1919 e atem e-
suas ralZ
°
, es rernontan ª
_ u-se quan o o
d Exército Vermelho marchou para O Oe
ste pleta (só a Áustria e a Escandinávia resistindo à torrente) e as inimizades da época
ra polarizada intensifico rimaram do Leste., da conflagração haviam se transmudado sob a pressão da Guerra Fria.
r1ados se apro l
do continente e osª milhões de mortos u trapassou não só Quando a ocupação nazista cedeu lugar a formas de subordinação mais dura-
wnadamente 40 os
o saldo de apro as franco-prussiana, dos Bôeres ou dos Bálcãs douras - à União Soviética no Leste, aos Estados Unidos no Ocidente-, a rein-
. tombaram nas guerr . . '
milhares que m na Primerra Guerra Mundial e na guerra civil venção da democracia na Europa deixou de ser um projeto definido contra a amea-
, milhões que morrera
como ate os _. tos_ talvez a metade do total - não tem prece- ça do fascismo e converteu-se numa arena para a competição da Guerra Fria. Em
A roporção de av1s mor
: russa. P _ , de ou 6 milhões de judeus, alguns milhões de polo-
d tes Entre eles estao, a1em , 5
1950 os vencedores já haviam emergido: no Ocidente, os anticomunistas social-
,
i
i
en ·
neses alemães, russos e ucra .
. . -
nianos A guerra de aruquilaçao na Europa oriental
.
democratas e democratas cristãos; no Leste, as democracias populares comunis-
1 ' . •f· - numa destruição em escala diferente e com normas tas. Cada lado via o outro como o sucessor de Hitler e a si mesmo como seu verda-
resultou na maior carru icma, . . , .
deiro adversário. Stalin estava certo, afinal. "Esta guerra não é como no passado",
diferentes da que ocorreu na Europa ocidental. As baixas enrre bntarucos e france-
comentou, ao término das hostilidades. "Quem ocupa um território também lhe
ses por exemp1o, representaram menos de um décimo das enormes perdas entre
- Nem mesmo estas • porém' se comparam com as da União impõe seu próprio sistema social. Todos impõem seu próprio sistema nos lugares
os 'militares
-• alemaes.
que estejam ao alcance de seu exército. Não pode ser de outra forma."'
•, - que, ale'm de mais de 10 milhões de civis, perdeu 3 milhões de prisionei-
Sov1et1ca,
ros de guerra que morreram de fome e 6,5 milhões de soldados que tombaram na
Frente Oriental.'
DESLOCAMENTO E CRISE SOCIAL: 1944-8
l1 A intensidade do sofrimento e da destruição que se abateram sobre os civis ao

longo de seis anos transformou profun d amente as soo·e d a d e s européias· A políti-
As guerras invariavelmente deslocam populações. Mas essa guerra fora trava-
ca de extermínio dos nazistas ameaçara grupos étnicos e nacionais inteiros; gran-
da especificamente para instaurar uma nova ordem por meio do extermínio, do
de parte da elite militar e inte1ectual da Polônia pereceu nas mãos d e a1ema- eserus-,
encarceramento, da expatriação, do traslado. Hitler quis redesenhar o mapa etno-
sos. O genocídio foi a forma mais extrema de uma guerra que vis · ou aos civis e a
gráfico da Europa, enquanto Stalin, por sua vez, deportou centenas de milhares de
própria estrutura da sociedade do pré-guerra. A reconstruçao epm·s de 1945 con-.
- d
"inimigos" sociais e étnicos, entre os quais incluiu poloneses, ucranianos, lituanos
. . . d, ada de 1920.
s1st1u, portanto, numa tarefa muito diferente da que se realizou na ec e tchetchenos. A derrota da Alemanha acarretou o encarceramento de prisionei-
- 1
agora nao se podia pensar em voltar atrás. As perdas impostas pe ague rra abriram ros de guerra alemães e a libertação de milhões de indivíduos confinados nos
. . s inspiraram
rasgos imensos no tecido social e fisico; deixaram lembranças amarga ' , campos de concentração, bem como de trabalhadores escravos e estrangeiros.
emoções violentas, mas também suscitaram novos desafios e oportunidades. Durante o conflito, planejou-se o que fazer com os refugiados, mas a escala do
C . d repente eJll
orno conflitos de tamanha magnitude puderam encerrar-se e . ia· problema humanitário surpreendeu os aliados. Aqueles que entre 1939 e 1948
1945? Ar di - d . •aos b1scor
· en çao a Alemanha constitui um marco convemente par ario· deixaram sua terra _ quer por fuga, evacuação, reassentamento ou trabalhos
dores, entretanto n-a 0 - . , , . - ,.,.,ente eng
vai mwto alem disso. Na verdade, e posinva,., vede forçados - totalizavam cerca de 46 milhões só na Europa central, superando em
sana medida em qu Não hoU
e sugere o fim de uma era e o começo de outra. Fria, muito os movimentos de refugiados na Primeira Guerra Mundial. Alguns desses
fato um ano zero n d Guerra
. ' em uma separação completa entre luta arma ª e . isda movimentos foram provisórios e voluntários, porém não a maioria. Hoje s~u prin-
e os regimes que surgir , . , ciaS soda . cipal motivo é bastante claro: depois da insatisfatória experiência com rrunonas
, am no pos-guerra tinham raízes nas expenen i111-
epoca do conflito. Podem . , -guerra se nos novos Estados-nação, no período de entreguerras, os deslocamentos humanos
ci os dizer que a transição para a era do pos ção e
ou em 1943, quando li . . d ocupa tinham por objetivo consolidar fronteiras políticas.'
reconstru - os a ados invadiram a Itália e os problemas e e cof11•
çao começaram S . a quas
· eis anos depois, a divisão da Europa e stav 215
nante no final da década de 1940 e sendo autorizados a emigrar para a Inglaterra,
A libertação revelou que mais de 11 milhões de pessoas ioram
vezes .o número das que
e desl
\ a cornrnonwealth e os Estados Unidos.'
. sofreram a mesma sorte d epois . da Primeiocadas, dez Quanto aos judeus sobreviventes, a maioria não quis ou não pôde voltar: suas
Mundial.. Algumas se vingaram dos alemães' roub and o e ameaçand0 .ra. Guerra casas haviam sido ocupadas por outras pessoas e seus bens desapareceram. Na ver-
4 .de maio de 1945, por.exemplo, a russa Elena skr·Jªbºma viu
. um civis. No dia dade, nú.Il1ero de refugiados judeus aumentou depois da guerra, quando cerca de
motas saquear a casa de alemães onde se encontrava. Eles e grupo de campa· 0 judeus do Leste europeu tomaram o rumo do Oeste. Os pogroms ocorridos
0 mil
ameaçaram
" o proprietário com um revo, lver, acusando-o d ntraram . de
, repente e 22
na Polônia em 1946, resultando em dezenas de mortes, aceleraram esse movimen·
Espalharam-se pela casa dizend e nazista e 'hitlerista" to, assistido por organizações sionistas. Em conseqüência do anti-semitismo da
. . • o-nos que os bens dos ale - .
por direito(.. -1 Cerca de meia hora dep O1s . a casa est · maes lhes pertenciam Europa ocidental, as portas que foram abertas para os europeus orientais fecharam·
entaram todos os baús e malas es • ava irreconhecível. Eles arre- se para os refugiados judeus, cujo número continuou aumentando até 1948, quan-
b ' cancararam os arm, .
regando nas costas sacos enormes ,. O . di , anos e foram embora, car- do a criação do Estado de Israel e a lei americana dos Indivíduos Deslocados permi-
. · s m v1duos d l d
nazista para designar esse tipo d d " es oca os usavam um termo tiram que a maioria deixasse a Europa. Durante a guerra árabe-israelense, em 1948,
e con uta· organiz ., ,
Tendo sido arrancados dº'- sua terra expl . meio milhão de refugiados palestinos pagaram caro pela relutância da Europa em
d ar .
esses Ostarbeiter não estavam dis , ora os e humilhados na Alemanha absorver sua minguada população judia. A própria Europa tornou-se menoscenrral
dd postos a demo . ,
a es ou pessoas. Com o tempo l nstrar mwto respeito por proprie· para a vida judaica, e a notável intensificação do anti-semitismo depois de 1945 suge-
b • e esse transfor .
ca eça para as autoridades da o - manam numa considerável dor de re que, conquanto os alemães perpetrassem o genocídio, o continente aproveitou·
d cupaçao. Todavi .
preen entemente poucos Apn·· .d d a, os atos de vmgança foram sur-
d · on a e absol d . se de suas repercussões socioeconômicas e culturais.'
ca oseravoltarlogoparasuaterr uta a maioria dos indivíduos deslo-
d e OVlS· • que partiam da Alemanha e para sua famllia. No verão de 1945' longas filas
·· a em todas as dir - Não admira que, ao terminar a guerra, houvesse por toda parte rancor
p~1as. No outono, a maior parte havia deixad eçoes lotaram as estradas euro·
çao das Nações Unidas dedicada a . . o a Alemanha; só a UNRRA, a organiza- ardente e "ódio mórbido" contra os alemães. Em 1948, um viajante que visitou a
En assistir refugiad .
tretanto, 1,5 milhão de pessoas ficar os, aJu dou cerca de 6 milhões. Holanda observou que "os holandeses não querem nem mesmo ouvir a palavra
em _ junho d e 19 7 ainda
. viviam cerca dam confinadas . . e m campos especiais, onde 'Alemanha', pois durante a guerra sofreram muito com os alemães"· Na Europa
4 5
nao q uenam · voltar para sua terra e 00 mil cnaturas que por vários motivos oriental, onde se demonstrara claramente a ameaça que as minorias alemãs repre-
Al . sentavam para os novos Estados-nação, o sentimento era de vingança. Os alemães
gumas repatriações, contudo n-
do acordo
. de Yalta, os aliados
. deveriam , ao foram voluntárias. Segundo os termos e os judeus foram as duas minorias mais numerosas da Europa no período de enrre-
cos. E plauslvel que tivessem pouca ma:gn:~r a Stalin todos os cidadãos soviéti- guerras, e seus destinos acabaram se entrelaçando em mais de um aspecto. No pas-
seus próprios p ns1
· ·oneiros
. de guerra que havi e escolha' pois
• d esejavam proteger sado, os judeus foram importantes transmissores da cultura alemã na Euro_pa
· l · li \u'dia da desrruição da vida
te o avanço do E~ército Vermelho. Essa foi dea;:::aido_ na_s mãos dos russos duran-
nenta ; agora, seu extermínio maciço eqwva a ao pre _
russa teve perrrussão para .mStalar centros de int a pnnapal raz-ao por que a NKVD Oalemã fora da Alemanha. Pois a guerra não levou apenas à solução_final da quest~o
gem de repatriados soviéticos· Ao alastrar-se o med
errogatório
d a fim d e 1azer
e a ma-
. judaica; levou também, de outra forma, ao fim -ou pelo menos a transformaçao
crescente
d . europeus orientais que se ªehavam na oAl o comunismo, um número
. de d consolidar a Deutsditulll rea-
os res1sttu à repatriação. Um ano de oi . emanha ocu ada . - da questão alemã. nhO
indu!am 380 mil I p s do Dia da Vitó . p pelos alia- lsso fazia parte do legado de Hitler. Seu so e O em nome da homogene1.-
po oneses, 125500iugoslavose 187rnil na, esses núm , de modo horripilante, e os aliados toleraram-o oblema que desencadeara a
ou-se
nos, entre os quais havia colaboracionistas e anti estonianos, letões lieros liz 0
outros destacamentos alemães. Acabanam . g anhgos
andomembros
com O da • w,.a: e etua-
=en-ss de
ª
d d
e emica e da futura segurança da Europa. pr
217
anncom .
:u6 Unismo rei-
t

Segunda Guerra Mundial foi definitiva e brutalmente resolvido mediante O .


maior . VUl
· gavam-se ' assim ' dos sofrimentos que en,rentaram
r .
movimento de refugiados da história européia. Em 1944-5, diante do ava ca.is nos anos antenores;
nço do entretanto não podemos ignorar que, junco com essa raiva popular, havia uma poli-
Exército Vermelho, 5 milhões de alemães abandonaram as regiões o rientais do
. oficial muico bem planejada pelas novas autoridades da regiao.
oca -- "P reasamos
·
Reich. Entre 1945 e 1948, os regimes instalados na Tchecoslováquia na Polo'n·
' ia,na eXPulsar rodos os alemães"' ressaltou o polonês comunista Gomulka, "porque a
Romênia, na Iugoslávia e na Hungria expulsaram outros 7 milhões de indivíduos
conscrução de um pais se baseia em princípios nacionais, não multinacionais.""
pertencentes a suas minorias alemãs. Não seria exagero dizer que na Europa oci- A natureza dessa política tornou-se mais clara em Potsdam. Os aliados aceira-
dental, não menos que na oriental, a lembrança dessa violenta convulsão foi quase rarn O princípio da expulsão maciça de milhões de alemães, não só dos Volksdeutsche
totalmente reprinúda até pouco tempo atrás. Conrudo, seu efeito sobre O lugar da como dos cidadãos do Reich do pré-guerra que viviam sob ocupação so,·iética ou
Alemanha na Europa foi no mínimo tão profundo quanto a divisão desse país e tal- polonesa. Sua maio r preocupação consistia em controlar O fluxo de refugiados
vez - no longo prazo - ainda mais importante.'º para que fossem adequadamente recebidos na Alemanha. Assim. chegou-se a um
A primeira fase de pânico e fuga ante o avanço do Exército Vermelho situa-se acordo sobre a suspensão temporária das transferências. Na verdade, as expulsões
entre o outono de 1944 e a Conferência de Potsdam, em julho de 1945. Centenas continuaram, sobretudo nos antigos territórios do Reich que agora eram adminis-
de milhares de alemães deixaram a Prússia oriental, por mar e por terra; mais tarde trados pela Polônia. Só no inverno de 1945-6 ocorreram "transferências" mais
outros deixaram a Silésia e a Pomerânia. Os estupros e massacres cometidos pelo "organizadas", porém, com a baixa temperatura, muitos morreram nos trens de
Exército Vermelho criaram um clima de terror. "Os russos entravam em todo gado que os transportavam para o Oeste. No total foram "transferidos" cerca de 12
esconderijo, em todo porão e com ameaças arrancavam das pessoas relógios, anéis a 13 milhões de alemães - de longe o maior movimento populacional da história
e outros objetos de valor", informou no início de 1945 um relatório procedente de européia. No trajeto devem ter mo rrido centenas de milhares; algumas fontes
Danzig. "Quase todas as mulheres foram estupradas - tanto velhas de sessenta e falam em 2 milhões.
75 anos quanto meninas de quinze e até mesmo doze. Muitas foram estupradas O desaparecimento de alemães e judeus da Europa oriental por meio da
dez, vinte ou trinta vezes... Quem não fugiu foi jogado nos campos de trabalho ou expulsão ou do extermínio fazia parte de um processo ainda mais amplo de turbu-
de detenção e despojado de todos os seus bens. Muitos tiveram de portar marcas lência e instabilidade demográfica que se seguiu à guerra. Mais de 7 milhões de
de identificação - primeiro grandes suásticas pintadas nas roupas e depois distin- refugiados de outros grupos étnicos (sobretudo poloneses, tchecos, eslovacos,
tivos. Assim a população alemã pagou coletivamente pela humilhação racial que a ucranianos, lituanos, letões e estonianos) foram tangidos de sua terra e reassenta•
política nazista infligira aos Untermenschen." dos. Com isso, muitas minorias da Europa oriental praticamente desapareceram
Na Tchecoslováquia, o ódio aos alemães era generalizado, sobretudo porque - caíram de 32% para 3% da população na Polônia, de 33% para 15% na Tchecos-
muitos deles não demonstravam arrependimento e pareciam "irritados e perigo- lováquia e de 28% para 12% na Romênia. Agora o Volk alinhava-se mais eS treita-
sos". O presidente Benes já havia obtido o apoio dos aliados para seus planos de mente com as fronteiras do (dividido) Estado alemão; assim também os ucrania-
expulsar os "desleais" de seu meio, porém o que se seguiu se deveu mais ao opor- . • . e o deslocamento soc1a
nos. A guerra a v10lenoa · 1mac·ço
1 transformaram em
tunismo que à justiça. Em 30 de maio de 1945, por exemplo,jovens da Guarda '
re alidad e os sonhos . 1acalentados por Versalhes."
de homogeneidad e naoona
Nacional conduziram até a fronteira austríaca toda a população alemã de Brno _ f, am mortos ou desloca-
Aproximadamente 90 milhões de seres humanos or _. .
cerca de 25 mil indivíduos. Medidas discriminatórias, como a proibição de utilizar dos na Europa entre 1939 e 1948. Somandoasvmmas , . militares e civis os pns1one1-
'..
o transporte público ou a obrigação de portar "distintivos da derrota", aumenta- . em caráter defirut1vo ou tem-
ros de guerra e os civis obrigados a deLXar sua terra d
ram a pressão sobre os alemães que permaneceram no país. Em julho de 1945 , , . esses grupos correspon em a
porano durante e após a guerra, con statamos que d
vários milhões de alemães haviam fugido ou foram expulsos de suas casas e leva- - 1 m casos extremos como os a
nada menos que a metade da populaçao tota ' e . · .
dos para campos de detenção ou para o outro lado da fronteira. Os europeus orien- . no caso de pa1ses comparauva
Alemanha e da Polônia, e a uma pessoa em cinco
218 219
1
mente menos afetados, como a França. Em 1950, muito mais da m
·' · Oa ·dentais· daPo1·orna
çãodosTernronos · compreendia
· colonos e mietadedapop u1a.
exemplo, teve o mesmo destino de outras cidades da Silésia: sua população, que
·- Aí grantes rec ·
chegados de outras reg1oes. se encontravam, em estado emb • , . en,. antes da guerra era de 33 500 pessoas, reduzira-se a 5 mil no começo da década de
nonano as .
da "nova realidade de uma comunidade nacional integrada s . d ' ongens _ "Para todos os efeitos Glogau não existe mais", um visitante registrou em
'alis " . , 1 ' urgm o no crisa! da 1960
mudança soei ta , que os socio ogos poloneses analisaram , _ '~qui uma ruína grotesca, ali um buraco fundo, acolá um outeiro com um
- no pos-guerra ,. 1960
Nao podemos ter a esperança de entender a histó · ,. · " Mesmo em 1966, a cidade de Wrodaw abrigava apenas 477 mil habi-
. na europeia subse .. rnato ralo·
sem considerar essa enorme convulsão e sem tenta cl quente cantes - três quartos da população que tinha em 1939, quando ainda se chamava
r es arecer suas canse ...
sociais e políticas. Os anos da ocupação nazista e d , . quencias Breslau.••
o caos o penodo imedi
te posterior à guerra desfizeram laços human d atamen. Sem colonos suficientes para substituir os alemães e os uniatas expulsos, as
. os, estroçaram lares e comu .
e em mmtos casos arruinaram as próprias ba d . nidades autoridades polonesas procuraram atrair forasteiros por meio de anúncios. Num
ses a soaedade Os milh
ficios destruídos, estradas minadas e econ . d . ares de edi. folheto de 1953, intitulado "Mudança para novos sítios", lemos que "no condado
., arruas evascadas foram o 1 d .
VISlve\ desses anos; no entanto houv l' d . - ega o mais de Rzeszów, distrito de Sanok, você encontrará terras abundantes, casas e celeiros;
. , e, a em a destruiçao mat . l fi 'd .
mtangtveis que persistiram por . . ena ' en as mais e, se acha isso bom demais para ser verdade, veja com seus próprios olhos. A via-
muito tempo depo1S d cl 'd
reconstrução A m d d e con u1 o o trabalho de gem de trem não lhe custará nada". Sanok ficava numa região de católicos ortodo-
. u ança as perspectivas morais .
mento individual e, portanto aso . d d , . e mentais alterou o comporta- xos que estava despovoada desde as transferências populacionais de 1945 e a repres-
' cie a e e a pobttca.
Dentre essas mudanças de valores uma da . . são à oposição em 1947. 11
to à propriedade priv d E ' s mais evidentes refere-se ao respei- o desempenho dos funcionários públicos que conduziram essa violenta troca
a ª· m grande parte d E
gente acabou ocupand _ ª uropa central e oriental, muita de propriedades marcou as atitudes populares para com a autoridade. A domina-
o casas que nao lhe per . .
Muitas propriedades d ~ tenaam e usufruindo bens alheios. ção nazista já havia convencido muita gente de que só a força teria valor. Agora essa
e a1emaes, como as d , .
mudaramdedonoab e suas vmmas no passado recente, gente não só presenciava como participava da expulsão e da espoliação de seus con-
. ruptamente. As expulsõ .
Judeus - provocara es-assim como as deportações dos cidadãos diante dos olhos das novas autoridades políticas. Todos aproveitavam as
. m nos espectadores um " d .
bem o camponês alemã , d ,. ar ente deseJo de roubar". "Nem oportunidades. Essa experiência confirmava um cinismo crescente em relação à
o saia e seu Sltlo e de
o roubo e a pilhagem sua casa, sendo levado pela policia, e política que alimentava a apatia e o conformismo e solapava os esforços para desa-
começavam a todo ova " 1
Hungria. "Pobres-diab d por • embrou um alemão étnico da fiar os detentores do poder.
os e ontem agora b .
da cidade em caminh- rou avam noite e dia. A turba chegava Para as novas autoridades e seus aliados soviéticos, as expulsões constituíam
1
oes Otados e se apoderav d
conseguia pegar. Na poli . , ª e tudo o que via pela frente e que uma forma de adquirir popularidade e ampliar o nível de dependência política.
eia tambem havia bandid "
anos antes, nos batalhões d , . os. Exatamente como houve, Distribuindo os bens dos judeus entre seus vizinhos não-judeus, os naziS tªs cria-
d a po1ic1a alemã e nas .d d
as na Europa oriental." uru ª es da Waffen-ss estaciona- ram uma rede de cumplicidade que enfraqueceu a resistência; depois de 1945, a
~ugares mudaram de identidade e de co . - expulsão dos alemães permitiu aos funcionários comunistas seguir uma eStr ªtégia
alema retomaram seus nom I mposiçao. Cidades de denominação semelhante. Assim, as considerações de justiça social e segurança nacional muitas
. . es po oneses tche ,
onental, smagogas, mesquitas igre· 1 , cos ou hungaros. Por toda a Europa vezes camuflavam interesses mais práticos. Os novos colonos eS t ªvam gratos ao
·d ' Jas uteranas ·
verti as em tulhas, estábulos arm , e uruatas foram demolidas ou con- regime por sua mudança de vida; ávidos de proteção contra aquelas familias que
saque li ' azens e, mais tard .
genera zado não tornara i e, em cmemas. As casas que o tentavam recuperar as propriedades perd1.das, eles eram , desde o início• uma das·
p · , · . nseguras ficara •
netanos. Emgrandeparteporcausad 'lh m vazias até receber novos pro- se dependente."
várias áreas de povoamento permaneceª p1 dagem inicial de edificios desocupados,
ram esertas p •
or muitos anos. Glogau, por
220

22!
FAMÍLIA E MORALIDADE

joso que o bem, e as mentiras mais lucrativas que a verdade. Os que se acostuma-
Derrick Sington, um dos primeiros soldados britânicos a ent ram a cochichar não conseguem falar naturalmente; ou gritam, ou sussurram [ ...J
" - rar ern Bels
registrou que, no verao de 1945, tendo acabado o terror da mon en, Não é fácil arrancar o medo do coração das pessoas do continente.""
e peIa forn
nas câmaras de gás, os milhares de sobreviventes com saúde ba e ou Os pequenos órfàos desconfiavam de demonstrações de afeto, eram propensos
stame para refl .
e acalentar esperanças dirigiram seus pensamentos para as . etir à violência e, muitas vezes, perigosos. Sua "emancipação do domínio da lei moral"
esposas ou irmãs .
ou fühos, que lhes foram arrancados meses e até anos ante " E . . ' pais podia manifestar-se no crime, em repentinos e incontroláveis acessos de raiva ou em
s . nVIaram canas
parentes começaram a aparecer. A prinápio os ingleses f; . ' e os brutalidades com crianças menores ou mais fracas. Todavia, sua atitude displicente
aziam um carro percor diante da violência também se revelava em suas brincadeiras. Enfermeiras inglesas
o campo, anunciando pelo alto-falante os nomes das p rer
. essoas procuradas; de . surpreenderam-se com o estranho comportamento de um grupo de crianças judias
passaram a compilar um arquivo central.,. pois
que sobreviveram aos campos de concentração. Encerradas num mundo autoconti-
O deslocamento na época do conflito e .
. no pos-guerra destruiu inumeráv . do que excluía todos os forasteiros, essas crianças aparentemente não esperavam
familias em todo o continente Em 1947 h . d eis
, . . avia cerca e 50 mil órfãos na Tch nenhuma ajuda ou apoio por parte dos adultos. Se uma delas sumia do grupo, as
lovaqu1a. Na Iugoslávia calcula-se que esse nu' eh ecos-
mero egava a 280 mil e ue 1 outras concluíam com indiferença: "Ora, morreu"."'
menos 1Omil crianças sobrevivera , q pe o
di - d b . ma guerra escondendo-se nos bosques, em con- Muitos desses padrões de comportamento acabaram sendo superados graças
çoes e a soluta penuria. Na Holanda aproxi·m da a uma dedicação contínua. Tanto as crianças quanto os adultos observados apre-
· a mente 60 mil cri ·
savam de ajuda, entre elas os filhos dos colab . . anças prec1- sentavam relativamente poucas psicoses decorrentes da experiência da guerra;
- inh st
oraaom as presos· em Bucareste JO
mil nao t am teto Só na Ale anh ' ' acredita-se que a maior parte dos problemas - como as dificuldades sexuais que
tas das quais não sa~· . m a a UNRRA assistia cerca de 50 mil crianças. mui-
iam mais quem eram ou de onde vinham 'º antigos membros da Resistência enfrentaram em conseqüência da abstinência for-
A Cruz Vermelha, os governos nacionais . . çada durante o conflito - se resolveu com o tempo. No longo prazo, parece que o
busca. O Central T . B e ª UNRRA logo cnaram serviços de
raang ureau empregou . impacto psicológico do sofrimento nos sobreviventes e em seus filhos dependeu
vinte países enquanto C . entreVJSt adores e investigadores em muito da interpretação dada a esse sofrimento - os sobreviventes do Holocausto
' o entra1 Locat1on Ind .
de 1 milhão de nomes D ex amencano acabou listando mais (que achavam dificil heroificar suas experiências) e os ex-prisioneiros políticos
. urame anos as emissora d . . .
divulgaram listas de desapa .d C s e radio e a imprensa oficiais (para os quais a heroificação era mais fácil) encontravam-se, pois, em situações dis-
rec1 os. ontudo o nú . . .
seus parentes sempre foi m ' mero dos mdiv1duos reunidos a tintas. No curto prazo, tais diferenças eram menos visíveis, e podemos constatar
enor que o dos que ainda t
Em seu primeiro ano de exist~ . eS avam por ser encontrados. que as atitudes emocionais observadas nesse grupo são subjacentes a reações
enc1a, a UNRRA canse .
parte dos casos sob sua responsabilid d E . gwu resolver apenas a sexta sociais e políticas mais amplas da população em geral."
. a e. m1ulho de 1948 . d
car mais de 4 mil crianças assistidas co d am a faltava identifi- O cinismo em relação à autoridade e o desejo de se dar bem na vida evidencia-
mo esIocadas p 1 -
Estudos sobre órfãos de guerra re 1 e as Naçoes Unidas.,, vam-se de modo especial e por motivos óbvios nas terras devastadas da Europa
d ve am uma variedad d
tos eles sofreram por causa de suas exp .• . e e traumas que mui- oriental. Um escritor polonês definiu O clima: "Os bolcheviques estão no país, os
, . . enencias. As c .
senas demaIS para a idade e muito nervos p . nanças eram deprimidas comunistas estão no poder, Varsóvia está reduzida a cinzas, o governo legítimo
as. arec1am cín. '
crentes de qualquer autoridade. Muitos a h icas, desanimadas e des- [sediado] em Londres está abandonado. Nada pior pode nos acontecer; perdemos a
- c avam que a
geraçao de antiidealistas. "Temos de entender guerra produzira uma guerra e temos de cuidar de nós mesmos". Em 1972, outro observador da situação
h , . .. . que a ocupação
e ero1s , uma Jovem tcheca disse para um amigo inglês. " produziu covardes polonesa assinalou a "desmoralização deixada pela ocupação brutal da Segundª
vam crescendo, a moral se inverteu; o mal muitas v Quando os jovens esta- Guerra Mundial"· os resultados incluíam o "atual cinismo" e "um desejo maior de
ezes se mo
strava rn . bens materiais e b~gigangas em detrimento de valores mais idealísticos" •"
ais Vanta-
222
223
~ I . devastados que a Polônia muita gente viu O fun d
té nos paises menos a guer.
A 'd de de esquecer a loucura de um mundo dilacerad0 inteiramente imprevist a - explosão da natalidade que ocorreu no pós-guerra.
uma oportuill ª . Pela
ra com0 A1 nha Franz Neumann definiu o estado de espírito d como conseqüência da nova tendência a aumentar o número de nascimentos -
Jura política. Na ema • . . . o Povo que em muitos países se iniciara ainda na época do conflito-, os sombrios prog-
. . - deliberada da política e dos parudos, as atitudes irônicas e .
como "a re1e1çao . . . sarcas.

'
ismo a desnazificação, a democraaa e o antifascismo e a conce nósticos de declínio populacional, tão comuns no Ocidente antes de 1939 e ainda
dcas ante o naz • ntra. presentes na década de 1950, revelaram-se infundados.
_ nm·oramento mais rápido possível da educação pessoal e [na aquisiça~ ]
çaonoap
. - dinheiro e bens de consumo" . Os crentes mais fervorosos transforma
o de Os efeitos do deslocamento e da turbulência durante e após a guerra foram, l
pos1ça 0, ra111. portanto, paradoxais. Por um lado, em muitos países as novas autoridades políticas
se em cínicos desiludidos. "Quem ama um deus indevidamente obriga os outros a
depararam com uma tabula rasa na qual podiam imprimir sua própria visão social.
amá-lo e está disposto a exterminá-los, caso se recusem", escreveu em seu m anifes-
Para isso podiam contar com o apoio de uma população radicalizada que se ban-
to da indiferença pessimista, Précis de décomposition ( 1949), o romeno Emil Cioran, deara para a esquerda durante o conflito e agora exigia reformas e reconstrução.
exilado na França - o mesmo Cioran que na década de 1930 havia adorado com Por outro lado, há poucas dúvidas de que o sentimento predominante era de exaus-
fervor messiânico Hitler e Codreanu por seu "culto do irracional" ."' tão. "A História nos deixou esgotados", declarou um eminente romancista grego;
Depois de 1945, a política passou a ser algo que se devia tolerar, enquanto a "esgotados e apreensivos." Em 1946, o escritor Ivo Andric observou em Sarajevo
intimidade e a vida doméstica se tornaram, mais importantes que nunca, fatores os rostos exaustos e os cabelos brancos dos transeuntes prematuramente envelhe-
estabilizadores da existência individual. No romance Le donne diMessina (1949), um cidos. Cansadas de luta, desconfiadas de ideologia e política, as pessoas queriam
clássico sobre a reconstrução da Itália no pós-guerra, Elio Vittorini descreve um refazer o mundo seguro e privado da estabilidade familiar e dos padrões de vida
mundo em que a ideologia perdeu seus poderes mágicos de persuasão e a busca decentes, onde muitas desejavam refugiar-se.18
da privacidade predomina. A necessidade de calor humano estende-se ao tio O resultado foi uma postura popular ao mesmo tempo radical e conservado-
Agrippa, que vive viajando de trem pelo país, à procura da filha, e ao anti-herói ra. Todos ansiavam pela construção de um mundo novo, mas não queriam que esse
Ventura, ex-fascista fanático, ex-ideólogo, que agora se apega à terra e à amada e processo fosse destrutivo. Passadas a raiva e a exaltação dos primeiros momentos
tenta desesperadamente enterrar o próprio passado. da libertação, a tendência era optar pela calma social. Na Europa oriental o extraor-
Foi sobretudo a família que se converteu num refúgio contra as ansiedades da dinário torvelinho do período entre 1939 e 1948 constituiu, pois, um fator impor-
guerra e do pós-guerra. "Constatou-se entre os sobreviventes dos campos de con- tante para compreender a adaptação popular à imposição do regime comunista.
centração alemães a tendência de preservar a vida familiar", assinalou a antropó- Mas também na Europa ocidental vemos que as conseqüências sociais e psicológi-
loga Vera Erlich, observando que eles tinham pressa de casar-se. "Com O casamen- cas da guerra lançaram as bases de um consenso social fundamentado no compro-
to mudaram totalmente. Só então começaram a reviver." o afeto e a intimidade misso com o bem-estar social, o consumo de massa e a recuperação da familia.
foram, pois, essenciais em seu processo de ressuscitar O "'- " d ·
• . . " s 1antasmas epo1s que
sa1ram do cat1ve1ro. 'Ao ter um filho muitos encontr 1 . .
. . ' aram a gum equ ilibno men-
tal. Seu deseJO apaIXonado da vida conjugal surgira e . A POLÍTICA DA OCUPAÇÃO, 1943-5
spontaneamente assim como
sua vontade de ter filhos. Mostravam-se extremam . ' •
. • . ,, ente cannhosos com os bebes, · · é · d Guerra britâ-
tendendo mesmo arruma-los demais. Muitas vez . Em maio de 1943, Anthony Eden comunicou ao Mmist no ª
es, as piores cons .. " · si- . dominassem inteiramente a
cológicas desse tipo de relacionamento entre sob . equenaas P nico que só havia um modo de impedir que os russos . . .
reV1ventes d . "Comissão de Arm1st1O0
filhos só afloraram dez ou vinte anos depois." os campos e seus Europa oriental após o término da guerra: cnar uma . _ •
Esse novo apego à família não era exclusivo dos s b . . , d 10
' dessa Com1ssao, os Tres
Interaliada" com presidência rotativa. Por mterme _
o reviventes d . adotariam com relaçao aos
contrário, era bastante comum e contribuiu muito pa os campos. Ao li
Grandes determinariam conjuntamente a po nca que
ra a extrao din. .
r ana - equase
225
224
r

territórios sob seu controle. Os russos aplaudiram a idéia. Assim


. , . _ , poucos
depois, quando se vrram exdwdos das negociaçoes referentes a' di _ llleses
ren Çaod sobretudo na Europa". A eSCabilidade européia seria assegurada, de preferência
protestaram vigorosamente. Nas palavras de Stalin: a Itália,
com a contmmdade da Grande Aliança da época da guerra, ou pe1o menos com a

Aré agora tem sido assim: os Estados Unidos e a G - B exploração das eventuais rivalidades entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha."
ra- retanha fecham Os Três Grandes tinham, pois, muito em comum, e durante a guerra o enten-
si, e a União Soviética é informada [ ...] como um . acordos entre
a tercerra parte que ob dimento entre eles permaneceu intacto. Quando Stalin rompeu relações com 0
mente. Devo dizer que não é mais possível tolera . - , serva passiva.
r essa s1tuaçao." governo polonês no exílio, a fraca reação dos aliados só pode tê-lo levado a pensar
que apoiariam seus esforços para garantir um regime pró-soviético na Polônia do
Antes de responder, Churchill assinou os te
atuação dos aliados falava mais alto nu al rmos do armistício italiano. A pós-guerra. Não havia então, nos níveis mais altos, um tácito quid pro quo envolven-
-.i. e as p avras· no out d
Exército Vermelho obrigar a Wehr eh b . ono e 1943' antes de o do a Polônia e a Itália? Na conferência de Teerã, em fins de 1943, os aliados concor-
- ma ta ater em retirad f 1 daram em deslocar a fronteira polonesa para o oeste, o que observadores sagazes
peraçao dos Três Grandes tinha lirni· ,. a, icou c aro que a coo-
. tes. Como a Itaha foi · • , perceberam que inevitavelmente transformaria a Polônia num Estado-satélite da
te a sarr da guerra criara-se um p d o pnme1ro pais beligeran-
' rece ente 'º União Soviética, pois significava tirar território da Alemanha. Em 1944 o preceito
Até que ponto os aliados percebera~ . . -
para a cooperação com os russ ' O _as imphcaçoes do armistício italiano de Strang parecia formar a base da política ocidental em relação à Polônia, pelo
, os. s amencanos • menos.
pos-guerra, fugiam de qualqu . ' apreensivos com a Europa do
. . er coisa que cheirasse a li . d Depois que ingleses e americanos resolveram não invadir os Bálcãs pelo
rrnagmar a solução amigável d po t1ca e força e preferiam
. - os problemas eur . Mediterrâneo, tornou-se claro que n ada poderia deter a marcha do Exército
ruzaçaodasNaçõesUnidas opeus por mtermédio da Orga-
' que esperavam criar d . d Vermelho pela Europa oriental. Durante as negociações do armistício romeno, em
contavam desmobilizar-s epo1s o conflito. Por outro lado
e em pouco tempo d '
necessariamente tornava seus , quan o a guerra terminasse - o que setembro de 1944, os embaixadores da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos em
argumentos me .
A possibilidade de perd . nos convmcenrt~. Moscou não se manifestaram quando Molotov acertou com a delegação da
er o apoio americano
mo era um luxo a que os ingl preocupava Whitehall: o idealis- Romênia os termos que conferiam ao Alto Comando Soviético amplos poderes
eses extenuados nã d"
ceu um esteio potencial para Lond o po iam dar-se. De Gaulle ofere- políticos no país ocupado. Em outubro as conversações entre ingleses e soviéticos,
res na Europa d ,
um entendimento anglo-francês se . . o pos-guerra. Mas, mesmo que em Moscou, permitiram que Churchill e Stalin discutissem abertamente esferas de
sendo um fac0 matenahzasse O P0 d . influência. O chamado Acordo das Porcentagens, ao qual se seguiu uma barganha
concreto. Assim O M· . , . ' eno russo continuava
muito i ' IIllSCeno do Ext · .,
mportante conhecer os desejos de M enor bntanico considerava surrealista entre Eden e Molotov, esclareceu o equilíbrio de forças na região: se
a concordar com d . oscou e estava di Stalin teria carta branca na Romênia, os ingleses controlariam a Grécia do pós-
, . ª ommação soviética sob sposto, se necessário,
Russ1a dominar a E . re a Europa O · ,, ,
uropa onenral que a Al nental. E melhor a guerra. O predomínio soviético se estenderia também à Hungria e à Bulgária."
concluiu Sir Willi emanha dom·
am Strang em maio de 1943 " mar a Europa ocidental" Não devemos, porém, cometer o erro de pensar que nesse estágio as grandes
Quanto à União Soviética estava 1 . , potências pretendiam uma partilha geral do continente. No final de 1944 pratica-
E ' onge de pl •
. ~ropa que os combatentes da Guerra Fria iriam t ane1ar a rápida conquista da mente não havia dúvida sobre as intenções dos soviéticos na Polônia, na Romênia
Jª ores no pós-guerra imaginavam uma "t , emer. Ao contrário se l e na Bulgária, assim como era óbvio que Stalin estava concedendo a Itália aos alia-
confirmariam as fronteiras de 1941 regua" de décadas du ' us p ane-
' se corrigiria a d ' rance a qual se dos e consentindo que Churchill tivesse plenos poderes na Grécia, onde os caças
man ha deixaria de constituir am evastação d .
. eaça e a União Soviéti o conflito a Ale britânicos bombardeavam bairros de Atenas para acabar com um levante liderado
gravidade para todos os países médios e . case tornaria " , .
pequenos verdade. um centro de pelos comunistas..Na Hungria, contudo, Stalin adotou uma tática muito diferen-
iramente d
226 emocráticos, te, para estabelecer um contraste tranqüilizador com sua política em relação à

227
• - d que países como
. F e na Itália os partidos comunistas - que por causa de seu d • . .dental nem tinha realmente a conv1cçao e
Polôrua. Na rança ' . , .. es. com a toleranoa oc1 . ~stivessem prontos para a revolução. Em 1945 os russos
Resistência acumularam cons1deravel poder militar - recebera
tacado papel na rn a Jugoslávia ou a H~ngna as do jogo parlamentar nas áreas exteriores a sua esfe-
ordens de praácar uma política legalista. Na Itália o resultado foi que o PC! concor.
queriam tanto segulf as regr em dois casos-na Áustria e na Finlândia-os par-
dou em apoiar a desacreditada monarquia antes da maioria dos outros partidos. ._n • · que ao menos .
ra de m.iiuenoa às eleições, tiveram mau desempenho e v1Tam-se
Em dezembro seu secretário, Togliatti, era um dos dois vice-presidentes no gover- unistas concorreram
tidos com li.
. alizados da po nca. . •
no e mais que nunca-em conseqüência do confronto entre a esquerda e os britâ- efeávamente margtn . do a questão fundamental. Sena erro-
AI ha conttnuava sen
nicos na Grécia - insistia em fugir à tentação revolucionária. O futuro da eman d 'did em 1945.Aocontrário,osTrêsGrandes
ilha já estava eCJ a
É à luz desse incipiente entendimento entre as grandes potências que cabe neo pensar que a part . d , Assim quando a guerra terminou e os
ar a umdade o pais. ' . li .
avaliar a Declaração de Yalta sobre a Europa liberada - e a promessa de uma era Pretendiam preserv bl mas da reconstrução sooal e po nca,
nfrentar os pro e • .
europeus começaram a e - não de impasse entre as potenaas.
de liberdade e democracia. Pouco antes de Yalta, Roosevelt dissera que " os russos - d rescente tensao, mas
houve uma siruaçao e c . a comum naquele ano. Governos
controlam a Europa oriental, obviamente não há possibilidade de romper com . _ assuntos mternos er
Tampouco a polanzaçao em fi as sodoeconômicas necessárias para
eles, e, portanto, a única atitude viável consiste em usar nossa influência para eenderas re orm
de coalizão, dispostos a empr . , m a norma em toda a Europa.
melhorar a situação"." O nobre compromisso de eleições livres em todo o conti- . 1 menear consuru1a
a renovação da democr~c1a par a d ' 1945-6 representariam um momento de
nente, assumido em Yalta, não condiz com o pragmatismo do Acordo das Porcen- Para as gerações postenores, os anos e
tagens de três meses antes, quando Stalin e Churchill secretamente dividiram a tes de cair a Cortina de Ferro.
promessa, an
Europa oriental em esferas de influência. Decerto nenhum dos Três Grandes acre-
ditava que Yalta afetasse muito as atitudes soviéticas em relação à Polônia, à Ro·
mênia e à Bulgária, países que Stalin considerava essenciais para a segurança russa. UM RECOMEÇO?
Surpreendentemente, tanto os comunistas poloneses quanto seus opositores . . ·u1 mento de um colaboracionista
viram Yalta como uma vitória de Stalin. Na primavera de 1945, o Exército Ver- Em 18 de setembro de 1944 o pnmelfOJ unhga h Donato Carretta, ex-
d a testem a-c ave,
melho estava prendendo e deportando milhares de guerrilheiros do Exército em Roma interrompeu-se quan um
. - .d d
° freu um ataq1:1e no
tribunal. Liderados por
Nacional e obrigando outros a se refugiar nas florestas para pegar em armas. Na diretor da principal pnsao da o a e, so ai - oucos meses antes, os espec-
. ' fuzil do pelos emaes p . ..
mesma época o Partido dos Trabalhadores polonês lançou uma imensa e bem- uma mulher CUJO filho ,ora ª . "P . vamos imitar Pans! ,
meio a gntos de ans,
sucedida campanha de recrutamento para ter uma base sólida entre as massas. tadores agarraram Carretta e, em , Depois penduraram
, di e acabaram por mata-1o.
Assim, na Polônia, como na Romênia e na Bulgária, os dois pilares da dominação arrastaram-no para fora do pre 0 • - JS
soviética - repressão maciça da oposição e campanhas de filiação aos partidos seu corpo pelos pés na frente de sua antiga pnsa~- . nte vulnerável à acu-
1 - es deixou muita ge
comunistaS locais- evidenciaram-se mesmo antes da rendição da Alemanha. Por toda a Europa a retirada dos a ema • . tituía um vergonhoso
. . . - Sua existenc1a cons d
Todavia, em 1945 ainda estamos um pouco longe da polarização de três anos sação de colaboraoorusmo ou muçao. d ·d pública_ às vezes a
. af tamento a vi ª
depois. A tática comunista na Polônia chocou a opinião pública O •d . . lembrete da Nova Ordem naz1Sta; seu as do A ocupação revela-
c1 enta1e msp1- .ai prura com o passa . .
rou a Churchill e a Roosevelt protestos enérgicos - conquanto em ai . , rópria vida - pareda esseno para a ru ,. d'fi il imaginar o refloresa-
ger mocuos. P - ope1a Era I c
Ademais, boa parte da Europa ficou fora das esferas de influência ta . as profundas ria unidade da naçao eur · . •migos· dificil cam-
, c1tamente con- ra falh - ão de seus 1ru •
firmadas em Yalta. A Austria, a Finlândia, a Tchecoslováquia H . t de uma democracia autêntica sem a pumç expurgo daqueles
. . . • ª ungna, a men o _ . d endentes sem o
Iugoslávia, a Albarua e a Alemanha onental formavam o que Ceir Lu d
n estadcha- bém ver a revivescência dos Estados-naçao
• .
m ep
· No entanto, aª
narquia legal e a difu-
mou de "esfera intermediária" de Moscou. Nesse âmbito, Stalin não p0 d' traíram com uma potenaa esrrangeira.
1acontar queos

228
1
L
são do poder que caracterizaram os primeiros tempos da libertação permitira
surgimento de concepções de punição muito distintas. ni
0 aplicar. Assim, no norte da Itália, "alguns partigiani disseram que seria melhor
jogar granadas na sala onde os prisioneiros se encontravam e exterminá-los ali
A primeira foi a que se evidenciou na morte de Carretta - um des •
. eJopopu. mesmo, porém o comandante e outros decidiram mandar os presos para os cárce-
lar de vingança que se manifestou em execuções instantâneas lincha
' mentas e res de Rovigo, onde se procederia à investigação de praxe".11
humilhações públicas. Aflorando no sangrento período de 1943-4 es ,.
, se espirita Nos dez anos seguintes ao término da guerra, relatos anticomunistas dessa
vingativo foi mais patente em países como Itália, França e Bélgica ond
_ _ . . , e a repres- fase apontaram os excessos do résistentialisme e os horrores da ''.iustiça informal".
sao por parte dos pelotoes colaboraoorustas atingira níveis mais alt N I,.
os. a taha Puro exagero. "Foi espantosa a maneira como a libertação aconteceu", lembra-nos
sobretudo, a libertação proporcionou uma oportunidade de desfiar d '
ra contra uas Francis Cammaerts, agente da Executiva de Operações Especiais. "Só se ouvia
décadas de dominação fascista. Um partigia.no lembrou a história d " •.
e um SUJeito falar de raspar a cabeça das mulheres, de vinganças pessoais e por aí afora. Mas um
que, tendo sido obrigado a tomar óleo de rícino, agarrou um fascista e lhe disse: tenente me consultou: 'Estou com trezentos prisioneiros alemães. O que as con-
'Agora vá para casa e não apareça na aldeia por uma semana'. E O fascista obede- venções internacionais dizem sobre a quantidade diária de comida e de exercício
ceu. As pessoas tratavam os fascistas como eles as trataram durante vinte anos" que lhes cabe?' E aqueles alemães haviam enforcado membros da Resistência e
Muitas vezes, porém, a violência foi maior e os ataques a colaboracionistas logos~ suas familias. A libertação teve algo de extraordinariamente civilizado." Todavia, é
transformaram numa onda mais ampla de assassinatos. Em Bolonha "saía-se à caça verdade que teve também um lado vergonhoso (que as organizações de resistência
pelas ruas" e," em se tratando de gente que criara problema para os partigia.ni, fazia- prefeririam esquecer) e o número de mortos na primeira onda de expurgos certa-
se justiça com certa liberdade [ ...] Alguns indivíduos certamente pagaram por ini- mente foi alto em comparação com o ritmo mais lento seguido pela Justiça oficial
mizades pessoais ou por brigas relacionadas a mulheres".,. - talvez 10 mil a 15 mil vítimas na Itália em 1943-6, 9 mil a 10 mil na França (além
A natureza aleatória e brutal dessas mortes serviu no longo prazo para desa- de cerca de 40 mil detidos)."
creditar toda a idéia de punir os colaboracionistas; no curto prazo, entretanto, as A terceira fonte de poder, que acabou se impondo sobre essas "improvisações
execuções evocaram o espectro da guerra civil e levaram os movimentos de resis- de autoridade" (na expressão usada por De Gaulle), foi a dos lideres políticos que
tência a interferir e afirmar sua própria autoridade. voltaram do exílio e contavam com algum reconhecimento do exterior. O desejo
A segunda reação, portanto, foi a da resistência organizada, que teve de man- de vingança atenuou-se, e a preocupação com a ordem pública e o procedimento
ter um difícil equilfürio entre as paixões de suas bases e a moderação e O legalismo legal aumentou. Em muitos países logo surgiram tensões entre a morosidade da
de sua cúpula. Durante a luta, os movimentos de resistência selecionaram colabo- Justiça oficial e as expectativas populares. Constituem exemplos disso, sobretudo
racionistas para "liquidação"; depois da guerra, seu empenho em punir traidores ainda durante a guerra, o governo italiano, que, apoiado pelos aliados, mantinha
foi uma de suas principais armas para desmoralizar os adversários. Na França, por uma relação equívoca com o fascismo, e até mesmo os Franceses Livres, cujos
exemplo, o Cansei! Nacional de la Résistance ordenou aos líderes locais que tomas- modestos esforços iniciais para julgar funcionários de Vichy em Argel, no final de
sem "providências imediatas para expurgar e neutralizar traidores" 06 • 1943, suscitaram críticas severas na França."
. v1amente,
definir como traição o envolvimento com Vichy também ajudou a af . Entretanto, em 1945-6 começava a estabelecer-se um padrão. Os governos de
rrmara 1eg1-
timidade do governo De Gaulle perante os aliados. Entretanto a Res· • . b' coalizão responderam à demanda de um recomeço com amplas investigações judi-
, 1stenaa sa ia
muito bem que era preciso controlar o "desejo popular de revan h " A ciais de colaboracionistas e julgamentos exemplares de políticos, escritores e atri-
c e • s cortes
marciais realizadas em toda a Europa durante o conflito persistiram . . zes. (Os empresários geralmente recebiam penas leves.) Criaram-se sistemas de tri-
nas primeiras
semanas da libertação; a elas foram acrescentados campos rudimenr . bunais com vários níveis e, quando necessário, definiram-se novos crimes. Mas
ares para abri-
gar os suspeitos de colaboracionismo e, às vezes, defendê-los da tu b . poucos julgamentos tenninaram em punições severas, e em 1946 a desilusão com
, . . . . . . r a Justiceira
Em seu propno seio havia disputas acirradas sobre o tipo de justi · todo O processo crescia em determinados setores da sociedade. Surgiram as pri-
ça que se devia
230
231


_tre?

. as leis de anistia, às quais se sucederam outras. No começo dos an


melf . . _ . . . . os l950já
se abandonara a maioria das mvesngaçoes 3udic1ais. notadamente a policia, permaneceram em grande parte imunes a investigações. A
Na Noruega, por exemplo, todos os membros do pró-nazista N . criação de uma nova força policial republicana - a CRS- por De Gaulle foi inco-
Samling-cerca d e55 mil m . divi'duos - 1oramj
' ulgados. Poucos po , asJonaJ , mum; mais típicos foram os casos dos carabinieri italianos e da Guarda Nacional
' rem, 1ora111
condenados a mais de cinco anos de prisão. Executaram-se apenas 25 grega, cujos integrantes simplesmente mudaram de uniforme entre 1943 e 1946.
penas capi
tais e em 1957 o último sentenciado à prisão perpétua foi libertado N H · Outros setores cruciais da sociedade - Justiça, educação e negócios -escaparam
. . . . · a olanda
mvesngaram-se mais de 200 mil casos, que resultaram em cerca de ' com pouco mais que uma investigação superficial. Se a nação devia renascer, a
. quarenta penas
de morte efetivamente cumpridas. Ali também a maioria dos p · · · máquina estatal praticamente não se alterou.
. ns1one1ros recupe-
rou a liberdade no começo da década de 1950. Os tribunaisfra · 1 Dentro dos governos de coalizão os democrata-cristãos e os conservadores
. , nceses3u garammais
de 300 mil reus e condenaram à morte mais de 6700 no entant 1 • apregoavam os beneficios da amnésia e da caridade. "Temos a capacidade de
, o re ativamente
poucos foram executados ou encarcerados Uma sén·e de a · u· d · , esquecer! Esquecer o mais rápido possível!", exclamou fl Popolo em abril de 1945.
· rus as re uz,u o nume-
ro de presos de 29 mil em 1946 para menos de mil em 1954 Impo t' ·
. • r anaa muno
. o medo das "improvisações jacobinas", intensificado pela guerra civil grega, con-
maior teve, na França e em outros países a perda dos dir . . . - tribuiu para isso tanto quanto qualquer cálculo eleitoral. O anticomunismo con-
.. , . , e1tos av1s: a acusaçao de
degradauon nationale" ou de "incivisme" contribw· . b li . servador ajuda a explicar o surgimento de determinada resistência à idéia de um
. u para sim o cameme d1s-
tanoar da lembrança do colaboracionismo os regimes do pós gu fi expurgo total. No entanto, também o ajuda o desejo popular, mais elementar, de
• . , . - erra e rea 1.rmara
essenoa democrauca da nação. ver os governos concentrar energia na reconstrução da economia, na melhoria dos
Ainda mais ambí,mos fo
, . -o- rarn os expurgos efetuados no funcionalismo públi- padrões de vida e no apaziguamento das paixões políticas."
co, na políoa e no Exército. Por um lad . , .
. o, as novas elites políticas desejavam gover- No interior da Resistência tais atitudes pareciam incompreensíveis. Muitas
nar segundo pnncípios pós-fascistas· or .
d , ' P outro, prensavam instaurar o mais vezes, os mesmos policiais que perseguiram partisans em 1943 ainda lhes diziam o
epressa poss1vel um governo eficaz e or ani.z d
blemas socioeco • . .g ª oparaenfrentaroshorrendospro- que fazer cinco anos depois. As lutas que eclodiram em Atenas e na Bélgica no fmal
, . norrucos que os nazistas deixaram. Na ltáli . de 1944 se deveram, em parte, ao temor da Resistência de que os governos recém-
Austna, era evidente a mv1a • . biliºdade de uma lim a, assrm como na
chanceler Fig! informou aos ali d . . peza geral. Em julho de 1946 o chegados do exílio não promovessem nenhum remanejamento substan cial no fi.m-
, . a os que a administração , ,. . cionalismo. Em outros lugares, a desmobilização das forças da Resistência foi
espmto nacional-socialista"· d ai austrtaca estava livre do
. , e um tot de 299 mil fu.n . , . , . .
Sido demitidos 70 818-número . b . oonanos publicos, haviam extraordinariamente dificil e só ocorreu mediante promessas de reformas genuí-
mwto aixo para os antin . .
te alto para a maioria da população .. N 1 'li . azistas e excess1vamen- nas. Agora o medo de traição parecia plenamente justificado. Os partisans viram-
., . . . . . a ta a, a Violência dos ,, 1 se postos de lado e impotentes ante "a continuidade do Estado". Seus perigosos res-
gos IDl• ais levou a um retrocesso ainda . , . se vagens expur-
., mais rap1do: os expur d . .
cessaram Jª no outono de 1945 Na F gos a nurustrativos sentimentos traduziram-se às vezes em atos de violência. A Grécia foi o caso
, . . rança, apenas 6500 d .
publicas foram demitidos, a maior pane no Minis , . os 850 mil funcionários extremo, em que a trégua temporária de 1945 se converteu numa guerra civil que
. d ~~~-
aa e o Exército pouco se fez, e De Gaulle decla -nor, mas fora da polí- durou três anos. Mas a ameaça estava sempre latente na Itália também e emergiu
. . rou que nao
vasta maiona dos serv~res do Estado". Na Hol da se podia ,,afastar a durante um breve e assustador momento na insurreição que se seguiu ao atentado
. I' . an ,talvezpo t h
v10 enaa por ocasião da libertação, o expurgo foi ma· r er avido menos contra Palmiro Togliatti, em julho de 1948. Nessa época, contudo, a Guerra Fria já
15
· á · 'bli profundo
c10n nos pu cos demitidos e 6 mil punidos." • com 17 500 fun- havia mudado a maneira de ver as coisas: a radicalização dos anos do conflito desa-
Em geral os governos da Europa ocidental parecera e, com ela, o apoio popular à violência revolucionária.
Al . optararn pel
guns servidores do Estado receberam punição. Poré ª continuidade.
m, os bastiões d
232
º Poder•

.. , - - ,·
233
MJtlol8ca
ó , , - ~ -~ 1'\,.à" ~ -
""'·

Na Europa oriental houve igualmente vastos expu


. rgos depo • d
mas uveram um objetivo muito diferente e tomaram ts a &ue
. . - . . . um rumo dis . rra,
basearam na mvest1gaçao JUdmal de delitos individu . . tuuo. Nã 0 de "inimigos do povo", identificando-os muitas vezes apenas por sua condição de
. atS, e sun nu se
mais ampla de culpa coletiva por causa da posição social d , ma atribuiç· "burgueses". Entrementes, na direita grega, guerrilheiros nacionalistas mataram
fc. difc b' . ou ocarate , . ao centenas de chams (muçulmanos de língua albanesa) e levaram os 15 mil restantes
o1 a erença as1ca entre os dois projetos sociais do O r etnico. Es
d , este e do Le sa para a Albânia, alegando que haviam colaborado com O Eixo.''
os expurgos na Europa ocidental separou a puni - d . . , ste. A ftlosofi
- d çao e mdiv1d ia Os regimes apoiados pelos russos realizaram mais sistematicamente esse tipo
questoes e reforma socioeconômica que de . uos Culpados d
, . , viam ser tema d as
crauco. Na Europa oriental, por outro lado o e um debate dern de limpeza étnica. Anticomunistas e sabotadores, em muitos casos equipados
. d ' s expurgos co t " e o. pelos alemães em 1944-5, atormentaram esses regimes, que reagiram com repres-
mmosos e guerra" tornaram-se part . n ra iascistas" e " .
e essenaal da e . _ cn.
acordo com o modelo soviético. onstruçao da sociedade de são e expropriação. Na Romênia, por exemplo, onde em fins de 1944 a Waffen-ss

Categorias sociais inteiras foram aJ d andou lançando paramilitares na Transilvânia, as autoridades soviéticas agiram
são d - vo e campanh " . com rapidez e energia para esmagar qualquer resistência potencial. Em 7 de janei-
' eportaçao, expropria - . . as antifascistas" d d .
nf . çao ou coisa pior Na H . e enus.
e attzou a necessidade de banir" 1 . ungna, por exemplo M ro de 1945, cerca de 100 mil Volksdeu.tsche foram deportados para a União Soviética
e emenros fas • ,, , oscou
preced eram a formação de u CIStas durante as negoci - como trabalhadores forçados. O decreto de março de 1945, referente à reforma
m governo prov· , . açoes que
Pretendi.a não só comer os extrellllS· , isono, em dezembro de 1944 As . agrária - englobando inimigos bélicos, sociais e étnicos-, expropriou as fazen-
qu . tas pro-ale - • sim
eassurruramopoderemoutu maes do movimento Cruz e das dos que haviam colaborado com os alemães, dos criminosos de guerra e de
il ruras feudais" bro, como também" b 1ir m Seta, qualquer indivíduo que possuísse mais de dez h ectares e não os tivesse trabalhado
·1 soei d d e tomar medidas contra os "re . , . a o por completo as estru-
e a e." Em 1945 . ac1onanos" p com o próprio esforço."
. ' cnaram-se mais d 3 . resentes no Estado e na
suspeitos de colabora . . e mil comitês loc . N a Hungria, a reforma agrária decretada no mesmo mês designou os "inimi-
eiais espe . . " Ciomsmo. Operários e cam ais para prender e julgar
gos do povo húngaro", voltando-se contra o inimigo social - os grandes proprie-
de reperc:::· . Tribunais populares" surgiram ~on~ses formaram unidades poli-
imensas I . . olm. as execuções públicas de crin-.;: ra Julgar casos políticos de gran- tários - e o étnico - a minoria alemã. Implantada sob um ministério da agricul-
,, . ntCia ente t . -~«u,osos de gu tura comunista, gozou de imensa popularidade entre os camponeses. Uma fonte
i to Cruz em S , ais processos concentrava erra atraíam multidões
eta, porem com m-se nos me b imparcial considerou-a "uma medida revolucionária social de suprema importân-
se. Em abti] de 19 . o tempo a deftnição d ... . . m ros do movimen-
45, a 1mpren e lntmigo d O cia, que arruinou os proprietários poderosos e liberou uma energia reprimida que
afirmando que" d sa comunista Criti povo" ampliou-
ª emocraciat "d cou a mode - algum tempo depois revigorou o campo"."
Oinceressanteéq h'. emsi ohumanadem . raçao dos tribunais,
ue a mdícios de ais com essa b Na Tchecoslováquia e na Polônia, o confisco de bens pertencentes a alemães
asmesmasdificuld d queoprocessojudi 'á. s estasfascistas".
a es em que esb c1 rio en ocorreu numa escala ainda mais ampla. Vastas propriedades rurais e milhares de
um número de conde - . arrou na Europa o 'd comrou na Hungria
naçoes 1gualm b a entale b imóveis urbanos foram abandonados e tornaram-se disponíveis para reassenta-
Na Iugoslávia T· ente abco." aca ou levando a
. , ito ordenou o mento - o que proporcionou aos governos um meio de conquistar o apoio popu-
v10s, croatas e esl massacredemiJh
Ad ovenos que os ingl I ares de coJ b
/· otou essa "solução p , . " eses he entregara a oracionistas sér- lar, apelando tanto para O sentimento nacionalista quanto para o interesse econô-
d ragmarica segu d m em abril mico. Às vezes a expulsão dos alemães fazia parte de um esquema mais amplo para
/r essem conta de tantas investi '_ . n oDjilas,porteme ·maio de 1945.
1' erradicar minorias do país. D epois das lutas sangrentas no período de entreguer-
,} quislings e colaboracionist gaçoes Individuais. As est' r que os tribunais não
as executado unativ
controvertidas, mas possiV'elm s na Iugoslávia do p, as do número de ras e sob a ocupação alemã, os poloneses também se vingaram da numerosa mino-
,< - ente 60 mil os-gu ria ucraniana, obrigando 480 mil de seus integrantes a partir para a União Soviética;
., mes de dezembro de 1944 viu . morreram dessa f, erra são muito
...
~! os comunistas cond .
UZtrem fuzu
orma. N
a Grécia, o em 1947 cerca de 150 mil ucranianos que haviam escapado das deportações ante-
234 ª tnento riores tiveram de instalar-se no oeste do país...
s maciços

235
✓.--·
J •
«t

Esses exemplos mdicam o contraste entre os expurgo li


. . s rea zados ovado, opondo-se à bolchevização da Europa, e os conquistadores assumiram
partes do connnenre. Na Europa oadenraJ, eles tiveram al _ nas duas
cance restrito 10 reJ1 ]e político da Alemanha.'º
saram para o controle dos tribunais e reduziram-se c G · go Pas. ocontro .
. . . . . ., . om a uerra Fria N No iflÍCÍO, os vencedores compamlhavam muitos objetivos básicos. Todos
onenral, a at1v1dade3ud1c1ana constituiu ape d , . · a Europ
., . . ,, " nas uma as varias med· a avam necessário eliminar o nazismo para garantir a segurança da Europa·
cnmmosos de guerra e inimigos dopo ,. 0 idas cone e]esach . ,
. vo . s expurgos do ó ra
ram-se um rnstrumento para uma compl t r P S·guerra torn dos eles comprometeram -se a purur os criminosos de guerra alemães. A Decla-
e a re10rmulação e • a. ro . , I "d
sociedade. Como tal serviram para os n . conomica e étnica d ração de Yalta sugen~ ~ p_oss1ve esmembramento" do país, mas também fez
- ovos regimes angariar o a . a
mesmaformacomo, depoisde 1918 a r po10 popular (ct referências a suas insatmçoes fundamentais. Tanto os russos como os americanos
, re,orma agrária a - d a
ses de boa parte da Europa oriental) .. yu ou os governos burgu consideravam desejável uma ampla reforma econômica que, por meio do desman-
e permmram que fi e-
sem o comando da nação. Com igurasdaesquerdapJeite telamento dos cartéis e da reforma agrária, destruísse o poder dos que teriam
o ocorrera antes na U -- . . as.
Europa oriental a revolução soe· 1 fi - ruao Sov1ét1ca, também apoiado Hitler. Por fim, todos eles concordavam quanto à necessidade de "demo-
ia e a a rmaçao nacional foram insepa , . na cratizar" a Alemanha. Tais objetivos correspondiam a nada menos que uma revo-
·' '' rave1s.
lução social e política.
1
A DIVISÃO DA ALEMANHA Esses pontos em comum constituíram a base da declaração que se seguiu à
11 '
J conferência de Potsdam, em julho de 1945. Estabelecendo uma distinção entre o
1 'J\ nacional-socialismo e o povo alemão, o acordo falava em preparar os alemães "para
~ gora está claro que o traçado d
ficou também a divisão da E ,, e uma fronteira no meio da Alemanha sign. a reconstrução de sua vida em termos democráticos e pacíficos". Ao mesmo
/: d, . uropa ' escreveu Ba il D .ds i-
uv1da de que, mesmo derrotada a A1 _s aVJ on em 1950. Hoje não há tempo, omitia-se em relação à crescente divergência entre os Três Grandes. Sem
, emanha tinh -
./ e '.ue sua partilha foi o que acabou dividindo a nas maos o destino da Europa dúvida, nenhuma divergência teve tanta importância imediata no verão de 1945
evidente é quando e por causa de qu o contmenre. O que está longe de ser quanto a posição assumida pelos franceses, que não foram convidados a Potsdam,
19 • em a partilha . mas que receberam sua própria zona de ocupação. De Gaulle era o principal opo-
45 os Tres Grandes concorda se tornou mevitáve]. Afmal em
Como - ram que era preciso m ' sitor de uma Alemanha unida. Obstinadamente contrário à idéia de uma adminis-
, entao, aconteceu a divisão' D ,. anter a Alemanha unida.
ao , • · eveu-se a mtra · • • tração central atuando sob o Conselho Aliado de Controle, queria anexar o terri-
contrano, da política ocidental nfc ns1genaa soviética? Resultou
incom a · · · 'co orme Davidson ass· ' tório alemão e acabar com o antigo Estado. Os franceses não concretizariam suas
p tibilidade básica entre as i'deol . d malou? Ou decorreu da
"bil·d agias as • . ambições territoriais, mas naquele momento seu veto impossibilitou a unidade
o J ade que, segundo ai . potenaas ocupantes - .
guns observadores mcompa-
1945, nos primeiros atos dos governos mili 'se revelara ames mesmo de maio de alemã. Entrementes, a política adotada nas diversas zonas de ocupação criou regi-
melho estabeleceram no território conqu15·ttadres que os aliados e o Exército Ver- mes sociais e políticos cada vez mais divergentes.
a o por eles?" Em escala menor, porém não insignificante, o repúdio ao regime nazista
tomou formas semelhantes em todo O país. Ruas mudaram de nome (novamente),
A política de "re d " - . livros nazistas foram retirados das bibliotecas públicas e apagaram-se os sinais visí-
n içao incondicional" .
finalmente prevaleceu O~,_,_ , anunciada pelos aliad veis do antigo regime. Além de tais medidas, contudo, as diferenças de enfoque tor-
· ,u.uurante Dõni os em 1943
tura da capitulação em 7 de maio de 194;'. su~essorde Hitler, autorizou a assina~ naram-se mais evidentes. Na zona soviética, a desnazificação constiruía um meio
comando ale - d , ate ser preso com de destruir as bases econômicas e sociais da reação. Não houve nenhuma busca sis-
. mao, uas semanas depois chefi o restante do alto
mais controverso. Não co . ' ou um governo efêmero temática de nazistas ou criminosos de guerra, cuja vida muitas vezes era mais fácil
nsegwu convencer os aliad . e cada vez que nas zonas dos aliados. Misturando os nazistas com outros "inimigos da demo-
osaapo1arum11 .
erce1ro Reich cracia", as autoridades concentraram-se num expurgo administrativo rápido e
236

237
.. • :

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. - -~:•,- '··
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--·. -~---1-

. c1 ·u O Judiciário e o magistério, e instituíram breves curso d


abrangente, quem w " . s e [iados tendiam a ver o nazismo como um regime ct·t t . • d .
compornovos quadros. Como na Europa onental, slogans a . a _ , 1 a ona1, imposto e Cima para
treinamento para , . nti. · · e nao como um fenomeno socioeco • • . . _ . .
. am-se a justificativa de amplas reformas econom1cas. Vastas ext balX0 , , . . nom1co (CuJa erradicaçao exigia uma
~w~ar . ~ . tervenção drasu ca na economia). Achavam portanto q . _
_ de re rra foram confiscadas em 1945, dando ongem a uma nova classe d e 10 • , ue a met1cu1osa remoçao
soes de ex-nazistas simplesmente liberaria os instintos democráticos do povo alemão. A
pequenos proprietários atrelados ao novo regime. Pr~cedeu-se à expropriação de
reforma social era, pois, menos importante que a cirurgia jurídica.
bancos e da indústria pesada. O desmantelamento de instalações industriais pros-
Infelizmente, as atitudes dos alemães com relação à derrota não confirma-
seguiu rapidamente, apesar de causar grandes prejuízos e deixar milhares de pes-
vam tal otimismo. Os aliados monitoravam a opinião pública e preocupavam-se
soas desempregadas.
cada vez mais com o que descobriam. Por um lado, não se materializou a resistên-
A política soviética refletia duas considerações básicas. Uma era a análise do
cia à ocupação, temida por muitos: constatou-se que os lobisomens não tinham
nazismo predominante entre os comunistas. Em 1945, Walter Ulbricht disse que
0 dentes e que o reduto alpino não passava de fantasia. A derrota completa, depois
"fascismo de Hitler" resultara da natureza reacionária do capitalismo alemão· da violência da ss e dos meses apocalípticos que antecederam o término da guerra,
assim, cumpria destruir o capitalismo e socializar a economia para erradicar~ parecia ter desacreditado o nazismo. Ao contrário de 1918, não havia dúvida sobre
autoritarismo. Peso ainda maior tinha, porém, o interesse dos soviéticos em explo- a dimensão da catástrofe. Entretanto os aliados esperavam mais que isso: queriam
rar ao málC.imo os recursos alemães a fim de reconstruir a própria economia des- ver sinais de arrependimento pelo que acontecera nos seis anos anteriores e gosta-
troçada e tirar plena vantagem das cláusulas relativas a reparações. Os dois objeti- riam de detectar algum desejo de que a democracia retornasse.
vos - a criação de uma Alemanha pró-soviética e altos níveis de reparações _ Os primeiros relatórios procedentes da Alemanha eram desalentadores. As
eram incompatíveis, mas em 1945 isso não estava claro." pessoas pareciam atordoadas com a repentina queda do Reich. Estavam apáticas,
Nos setores ocidentais, a desnazificação assumiu a forma de investigaçãojudi- ensimesmadas, mais interessadas em pão que em democracia. "Não conte comigo"
ciária caso a caso, o que satisfazia as concepções de justiça das potências ocupantes, era a resposta comum aos que cogitavam ativismo político. Tendo temido a pers-
no entanto revelou-se cada vez mais inviável, sobretudo quando a dimensão dos pectiva de uma revolução, os aliados agora se impressionavam com a passividade
expurgos se ampliou em 1945, após a divulgação de várias falhas. Os infames política. Quando divulgaram um filme sobre os campos de extermínio, a maioria
Fragebogen (questionários), elemento básico das investigações, acumularam-se - dos espectadores alemães considerou-o peça de propaganda."
só na zona americana chegaram a 1,6 milhão em junho de 1946- , e conseqüente- O pensamento nazista sobreviveu à queda do regime, manifestando-se mui-
mente todo o processo de desnazificação transformou-se num pesadelo burocrá- tas vezes da maneira mais incongruente. Saul Padover, um dos primeiros oficiais
tico, que começou a ser concluído já em fins de 1946, quando mais de 2 milhões de da inteligência americana a avaliar a disposição popular na Alemanha, regiS trou os
casos ainda estavam por ser examinados. Um estudo realizado na cidade de argumentos do social-democrata que defendia medidas severas contra os naziS tªs:
Marburg, sob ocupação americana, conclui claramente que a desnazificação foi "O sangue nazista é impuro, biologicamente doente e ·mcurav
' el[...) Não há salva-
._
um fracasso: nem tirou ex-nazistas de seus cargos nem contribuiu para uma vida - poss1vel
çao , , sangue nazista.
para aqueles que tem · E' preciso esterilizá-los defm1t1
_ -
mais democrática · os ·mg1eses e os franceses, mais pragmáticos, logo chegaram a ,. ,
vamente . Padover descreve tambem seu encon r O
t com O Bürgermeister de

uma con clusão semelhante. Os expurgos envolveram vários milhões de alemães, H amborn, que, depois de cumprimenta-lo mstmnvamente com a saudação hitle-
, . . .
. .
contudo de acordo com a O · •- , bl' . . . l r" Poucos ofic1a1s
pmiao pu ica atmgiram só os peixes pequenos e deixa- rista, gaguejou: "É um velho hábito. A gente preasa se centroª · _ d
ram os graúdos em paz E . ·erung(desnazificaçao)repro u-
· m suma, o procedimento dos aliados n ão foi m elhor que aliados deram-se conta de que a palavra Entnaziifiizt
o adotado no setor oriental."
zia OJ·argão nazis
· t a. " . h - udaria a men-
Como no caso dos soviético b, d azificação sozm a nao m
'fi _ s, tam emnaszonasocidentaisaspráticasdades- Percebendo pouco a pouco que a esn _ d rra psicológica
naz1 icaçao refletiam teorias mais , . . ·osa extensao ague
genencas sobre a natureza do Terceiro Reich. Os talidade, os aliados dedicaram-se a uma am b ici
238 239

\
......

envolvendo O P
_ Nesse aspecto, a "reeducação" - uma campanha d
ovo aJemao. . .
. uma sociedade meeira - tornou-se um dos'"" .
'"ª'º·
e Foi por isso também que reagiram co
. . . m crescente hostilidade à insistência dos
'
d
propagan ª par
a dernocrauzar
d século xx Livros escolares foram reescritos, escolas eu . rU
ssos em desmantelar a mdustna alemã como t· h
'
b'
m am com mado em Potsdam.
\
endiznentos o · n1- "ra-o
resempre das e expostas a novas teorias e interpretações. E, enqua , , há dúvida de que grande parte do esforço sovi·e·e·1co . nesse sentido
. resultou em
·dades reestrutura nto erdício. (A destruição das fábricas de porcelana d M . . .
versi . _ dolorosa porque se voltava para o passado, a " reeducaçã ,, de Sp e e1ssen const1tu1 um bom
a desnaz1ficaçao era o
etia um fururo melhor. exemplo: os fornos e as. bancadas foram feitos em pedaços, enquanto os fragrnen-
m ros de ferro foram enviados para uma fábrica de porcelana russa, perto de Lenin-
pro Os ingleses continuavam sendo os menos otimistas em relação às possibilida-
grado, onde fic'.11'am enferrujando durante anos.) Intensificada pela competição
des de êxito; em 1952, um funcionário público observou, com tristeza, que "no
burocrática, a pilhagem dos recursos alemães - não só na zona sov·, e·
~ITT-~~
futuro próximo é improvável o desenvolvimento da democracia na Alemanha".
enorme confusão e desemprego. Surpreendentemente, porém, as condições eco-
Os franceses davam muito mais importância à reeducação e concentraram-se,
nômicas no setor oriental não foram piores que no ocidental (podem muito bem
com alguns resultados positivos, na juventude alemã. Afinal, a desnazificação não
ter sido melhores) graças à rápida implementação de um plano econômico. Apesar
lhes interessava realmente; estavam preocupados com os alemães, não com os do grande volume de reparações, o crescimento industrial logo teve início. Talvez
nazistas, e acreditavam que a chave para a paz era a transformação da cultura ger- por causa da reforma agrária, a população da zona oriental alimentava-se relativa-
mânica. Sua exposição itinerante "Mensagem da juventude francesa" recebeu a mente bem, pelo menos até 1947."
visita de 120 mil alemães, e suas reformas no treinamento de professores, bem No entanto as reparações acabaram se tornando o motivo mais direto do flffi
como seus programas de intercâmbio cultural, tiveram grande sucesso. Mais entu- do governo das Quatro Potências. O acordo de Potsdam estabelecera que as zonas
siásticos que os ingleses, os americanos conseguiram efetuar um expurgo nas uni- ocidentais entregariam à União Soviética 15% do equipamento essencial "desne-
versidades alemãs, em 1946. Todavia, como os ingleses, viram esbarrar seus esfor- cessário para a economia de paz da Alemanha". No inverno de 1945-6 a escassez de
ços para reformar o sistema de ensino na oposição dos alemães. Também foram alimentos levou a um aumento perigoso do racionamento e surgiu a perspectiva
obrigados a recuar, embora tenham demorado mais." de uma fome generalizada. Agravavam os problemas os milhões de refugiados do
Assim, tanto na desnazificação como na reeducação os aliados colheram Leste que entravam nos setores dos aliados. Enquanto enfrentavam essa comple-
lucros minguados para um investimento maciço. Já os soviéticos realizaram em xa crise social, os governos militares ocidentais passaram a enfatizar a necessidade
seu setor reformas educacionais substanciais - notadamente a criação de um sis- de uma nova abordagem da reconstrução alemã. Em 27 de maio de 1946 suspen-
tema de ensino abrangente-, em grande parte porque silenciaram a oposição, tão deram o envio das reparações da zona americana para a União Soviética até que se
importante nas zonas ocidentais. Isso, porém, reflete a divergência básica entre os chegasse a um acordo sobre a economia alemã como um todo. Com as autorida-
regimes de ocupação: no setor dos aliados a desnazificação ocorreu sem nenhuma des soviéticas recusando-se a reduzir sua parte nas reparações, o tráfico econômi-
reforma social radical, enquanto no dos soviéticos propiciou profundas mudanças. co de um lado a outro das fronteiras zonais minguou rapidamente. Assim como
Renegando seus compromissos políticos anteriores, os aliados relutaram em apro- depois de 1918, as reparações ameaçavam acabar com o entendimento entre os
var uma ampla transformação social e econômica. Vetaram reformas agrárias, por conquistadores da Alemanha.
exemplo, e deixaram que os industriais do Ruhr escapassem à vigorosa dissolução A disputa que geraram foi. estimula
. d asob retu d o pe1ª terrível escassez de vive-
, • di to Todavia por trás da
dos cartéis concebida em 1944. Esse conservadorismo social deveu-se em 1945-6, res e pelo estado caótico da economia no pos-guerra une ª · ' .. .
não tanto ao anticomuni , ' e d ., . bismo de suas expenenc1as
1 en a que separava americanos e sov1et1cos estava O ª
. smo quanto a confiança dos aliados nos grup os de interes-
se eXlstentes em sua zona e d . . to do esforço de guerra
ld ª seu me o de agravar a escassez de alimentos e as difi- na época do conflito. A União Soviética suportara O impac .
cu ades econômicas que cons . , - . . , . _ . , . s Era natural que o deseJO de
tttuiam entao a pnnc1pal preocupação p oliuca em alemao e por conseguinte sofrera pre1uizos unenso ·
todoo país. ' ' h rientasse a política de Moscou. 0 s
explorar os recursos econômicos da Aleman ª 0

240 241
, .,
I '

, social-democratas de Berlim p
." ['' 1'
, . resceram economicamente por causa da gue ·doS-O s rotestaram .
,:ti parti . ·ros comícios na zona orienta\ 0 n 'eem abnl, quando realizou
.d s ao conrrano, c _ rra. ri1Pe1 • ovo Partid0 S . .
l Estados Um O •
oucas baixas nas m
ãos dos alemães, e suas rclaçoes com eles não tinh
. . . , . arn 5eu P
5 guiu arrebanhar todo o SPD. As rela • ociahsta Unificado (seo)
SofreramP . . 1 que os nazistas 1mpnm1ram a Vernichtungskne co11se . çoes entre 0
cao-onismo raCJa g no Jlão ·d ntal, e os aliados passaram a desc f· · SPo e o SED esfriaram no
11
nada do ª "' . as opiniões sobre a Alemanha dividiram-se entre os q ocl e on 1ar cada
esce. Em Washmgton . . Ue setor . vez mais da estratégia
L punitiva e os que queriam evitar os erros de 1918 e ado v-iéOCa- .
ropunham uma paz . , _ _ . tar so dezoito meses segumtes, as relações em
P . d •s favorável e menos radical. Ate Potsdam o pnme1ro grupo prev j'JoS re os soviétic .
umaa• ru ema1 , . a- e A uma discussão pública entre M os e os aliados dete-
, no final de 1945 começou a perder força a medida que se divulgava ararn-s . oIotov e seu 1
Jeceu, porem ' rn ri 0 r opósito da fronteira entre a Polônia e AI co ega americano,
as proporções da crise econômica. _ , nes, a pr . , ª emanha, su d .
ayr a soviética e em Berhm onental em outub ce eram-se ele1-
Deve-se analisar a disputa sobre as reparaçoes tambem no contexto dos , s na zon , ro de 1946 e a
çoe fi ça da oposição à união do SPD com o SEo Po . ' s urnas reve-
acontecimentos políticos da Alemanha. Quinze dias após a criação da Admi- laraJ1l a or b . • . fu d' . uco mais de um mês depois
rnericana e ntamca n rram-se, e os frances •
nistração Militar Soviética, o Partido Comunista foi oficialmente registrado na as zonas a , - . - es passaram a ser pressio-
ra aderir a fusao. A Corrussao de Controle das Q • _
zona oriental. Pouco depois, as autoridades soviéticas registraram vários outros nadas Pª . uatro Potencias havia
. menos parado de trabalhar, incapaz de decidir pouca . .
partidos políticos. As autoridades ocidentais, muito mais cautelosas, demoraram mais ou , . s coisas a1em da abo-
. , do Estado da Pruss1a. Nesse contexto, não admira que a C , • .
para permitir a atuação dos partidos no âmbito local. Assim, rejeitaram muitos )Içao _ . onierenc1a dos
grupos desejosos de cooperar na reforma das estruturas existentes, preferindo ,,· ·stros do Exterior, realizada em Moscou em março-abril de 1947 • h
,v.Inl , nao c egas-
contar com administradores mais conservadores e ostensivamente apolíticos. o se a um acordo sobre as bases de um tratado de paz com a Alemanha . Esse ,racas- e

rígido controle das atividades do Partido Comunista em especial sugeria grande so, que coincidiu com a proclamação da doutrina Truman, assinalou O início de
incerteza quanto à lealdade do eleitorado.'ª uma política mais decisiva e francamente anticomunista de Washington para com
A estratégia política dos soviéticos para a Alemanha evidenciou-se já em 15 de a Europa. Assinalou também o início da Guerra Fria."
julho de 1945, com a criação de um bloco antifascista quadriparridário. Recla- Com surpreendente rapidez, a desconfiança sobre a Alemanha estava deixan-
mando em Potsdam uma abordagem comum das atividades partidárias-posição do de se tornar o fator decisivo nas relações internacionais do pós-guerra. O Tra-
a que os demais aliados, notadamente os franceses, resistiram-, os russos recebe- tado de Dunquerque, assinado em 1947 pelos países integrantes do Benelux, pela
ram permissão para apresentar-se como defensores das forças que pleiteavam França e pela Grã-Bretanha, dirigira-se contra a Alemanha,vista ainda como a prin-
maior responsabilidade política para os alemães. O Partido Comunista enfatizou cipal ameaça à paz na Europa.Já o Tratado de Bruxelas, firmado no ano seguinte,
seu compromisso com uma democracia parlamentar para a Alemanha por meio foi menos específico quanto ao potencial agressor. As relações entre Leste e
de "um bloco de forças democráticas antifascistas". Nacionalismo e democracia Ocidente seguiam uma dialética de desconfiança. A Rússia considerou o Plano
parlamentar constituíam uma conjugação convincente depois da derrota: nessa Marshall uma tentativa de subverter seu domínio na Europa oriental. Os ingleses
época muitos alemães deviam achar que a União Soviética não tinha menos proba- e os americanos assustaram-se com a criação do Cominform, em setembro. Mas
bilidade de concretizá-la que os aliados ocidentais." provavelmente o fato crucial, que aos olhos do Ocidente transformouª Rússia na
Com O ressurgimento do SPD nas zonas ocidentais, no verão e no outono de Prina·Pal ameaça a, segurança europeia,
, . f01. o go1pe de Estado comunista que teve
1945
, os soviéticos pararam de reivindicar a criação de vários partidos separados e
passar · · · lugar em Praga em fevereiro de 1948.
am ª msistlr na unificação do SPD com o KPD ( o PC alemão). Tal mudança O ricanos Com promes-
deveu-se, talvez ao fra d nh s acontecimentos de Praga uniram franceses e ame ·
, • co esempe o dos comunistas nas eleições austríacas e sas d . . 'd venceram a França a aban-
hungaras e com certeza à ostu d . . e ªJuda militar e econômica, os Estados Um os con .
P ra ca a vez mais independente e agressiva adotada don , . na francesa fundiu-se com a
1 li
pe a derança do SPD N 0 f 1d fc ar seus sonhos de obter parte da Renama. A zo ão
· ma e evereiro de 1946, anunciou-se a fusão dos dois biz onetária e a reconstruç
ona, e os aliados começaram a conceber a reformam
243

. r .,....,_ •·•--
Estados Unidos, ao com:rário, cresceram economicamente por callsa da
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P•ca P"otifu • '"'•ção do, P"tido, no âmb;,o loc,J. As.s;m, ceje;"'-m mu;,., nados para aderir à fusão. A Comissão de Controle das Quatro Potências havia
grupo, desejoso, de coope,,c "' cefoon, da, """"''" e>iscen,es, prefetiodo mais ou menos parado de trabalhar, incapaz de decidir poucas coisas além da abo-
contar com adm.in.isrradores mais conservadores e ostensivamenre apolíticos. o lição do Estado da Prússia. Nesse contexto, não admira que a Conferência dos
ti,ôdo con0oJe da, • mridade, do Pa etido Comuru,o em e,peci,J suge,;, grnnd, Ministros do Exterior, realizada em Moscou em março-abri) de 1947, não chegas-
incerteza quanto à lealdade do eleitorado." se a um acordo sobre as bases de um tratado de paz com a Alemanha. Esse fracas-
A estratégia política dos soviéticos para a Alemanha evidenciou-sejá em 15 de so, que coincidiu com a proclamação da doutrina Truman, assinalou o início de
julho de ""·com• Criação de um bloco antif.,,;,,. quadc;p,ctidá,fo. Reda. uma política mais decisiva e francamente anticomunista de Washington para com
a Europa. Assinalou também o início da Guerra Fria.'°
mando em Pondam um, abonl,gen, comum da, •••;d,de,P.ctidátia, _ po,;çio
ª que os demais aliados, no tadamenre os franceses, resistiram-, os russos recebe- Com surpreendente rapidez, a desconfiança sobre a Alemanha es[ava deixan-
ram permissão para apresentar-se como defensores das forças que pleiteavam do de se tornar o fator decisivo nas relações internacionais do pós-guerra. O Tra-
maior responsabilidade política para os alemães. O Partido Comunista enfatizou tado de Dunquerque, assinado em 1947 pelos países integrantes do BeneJwc, pela
seu compromisso com uma democracia parlamentar para a Alemanha por meio França e pela Grã-Bretanha, dirigira-se contra a Alemanha, visraaindacomoapnn-
de "um bloco de lb,ça, demo,raoc,,
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. Naciooafumo e demo=ci• fccipal ameaça à paz na Europa. Já o Tratado de Bruxelas, firmado no ano segumte,
01 menos especifico quanto ao potencia1 agressor.
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"''''"" um, <eo,an., desub"'"" reu domuuo , . " Europa oriental. Os mgleses
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. · s, no verao e no outono e e os americanos assustaram-se com a criaçao- do Co minform em setembro. asa
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passaram a insistir na unifi - d
e reivm 1car a cnação de vários partidos separados e e reve
Provavelmente o fato crucial, que aos olhos do 0ci.de me transformou. a uss1a n
d eveu-se, talvez ao fraco dicaçao o LSPo com o KPo (o PC alemão). Tal mudança
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, e com certeza
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242
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nar seUs sonhos de obter parte da Renama. á ·a e a reconstruçao
bizona, e os aliados começaram a conceberª reforma monet n

243

--- ·- --.-~-.
• . nos moldes do Plano de Recuperação Européia. Os russos de;..,
econonuca =aran, 0 çou _ Trieste, p_or exe~~lo, em 1945 (em grande parte por causa da beligerância
iado de Controle, que nunca mais se reuniu , e bloquearam os
eonse lho Al . . . . . setores e Tito), Hungna e Grec1a.
'd orais em Berlim. No auge da cnse cnaram uma mumapalidade sepa d d urna conseqüência dessa divisão do continente foi que as disputas defrontei-
oa e . . . _ , ra a en,
oriental. A divisão da adade antecedeu a divisa o do pais. Em 23 de . uestões das minorias ainda restantes na esfera de influência de cada potên-
Berlim ~~ ras e as q .. .
firmou-se em Bonn a Constituição da Alemanha Ocidental· umas . . , ão ameaçavam a estabilidade internacional como antes. No Ocidente os
]949' ' emana eia Jª n , _
depois O Congresso do Povo adotou uma Constituição rival, em Berlim. A Repú- . canos puseram fim as pretensoes dos franceses com relação a Vai d' Aosta e à
arnen • .
blica Democrática Alemã foi oficialmente proclamada em outubro. Alernanha Ocidental. Nas conferencias de paz do pós-guerra ficara decidido que a
- de disputas entre a Tchecoslováquia e a Hungria, por exemplo, caberia aos
so1uça 0
, nvolvidos. Não se internacionalizariam problemas de minorias para tentar
pa1ses e
• los como fizera a Liga das Nações. Nem os tratados de paz com os aliados
A GUERRA FRIA NA EUROPA reso1ve- ' .
. nem as Nações Unidas deram muita atenção aos direitos das minorias.
do E1xo,
Numa Europa dividida tais problemas pareciam secundários. A subordinação às
A Guerra Fria levou uma estabilidade brutal a um continente esgotado e asse- • cias garantiria o continente contra as disputas de fronteiras que o ator-
superpoten
gurou a retomada da vida política nos termos permitidos pelo equiHbrio de forças
menearam no passado.
internacional. Contrariando as expectativas dos nazistas, os membros da Grande Naturalmente essa êstabilidade custaria caro. A partir de então a luta entre as
Aliança não passaram a digladiar-se depois da Segunda Guerra Mundial. Stalin não • cias não mais teria lugar no campo de batalha, porém se travaria me-
superpoten _
pediria aos aliados que invadissem a Europa para formar um segundo front, se pre- diante formas de guerra mais compatíveis com os perigos da era nuclear._ Agora
tendesse expulsá-los depois. As perdas dos soviéticos - que sofreram a maior des- cada um dos lados utilizava contra o outro a guerra psicológica e dandesuna que
truição da história em tempo de guerra - e o monopólio nuclear americano fize- desenvolveram contra Hitler. O espião tornou-se o soldado característico da
ram-no abandonar a beligerância. Por sua vez, ingleses e americanos aceitaram, Guerra Fria. o "evangelho da segurança nacional" acarretou a expansão de vastas
com relutância e em particular, a realidade de sua parceria com os russos. Tiveram organizações estatais de vigilância e espionagem. As atividades dos serviços de
inteligência deixaram de ser vistas como apêndice das operações militares e passa-
de reconhecer o predomínio militar dos soviéticos na Europa oriental e suas ques-
, • N E opa ocidental incorporou-se
tões de segurança. Com a dissolução do Comintem, em 1943, Stalin indicou que rama ter os próprios interesses b urocraucos. a ur • ·-
. . d na para os esp1oes compro-
renunciara à revolução mundial. A criação do Cominform, sucessor do Comin- a checagem ao modelo amencano, cnan o-se UIIla are _ _
. _ reendidas por uma mvasao
rern, em 1947, marcou a deterioração das relações de Moscou com os aliados, mas varem sua indispensabilidade. Para nao serem surp _
,. . d ela inteligência amencana no
soviética, as redes de " retaguard a , orgaruza as P . .
também sinalizou uma poHtica soviética de consolidação conservadora por trás da . , cl s anticomunistas malignos.
\ finaldosanos1940,formaramnocorpopoliuconu eo ,.
Cortina de Ferro - um fato igualmente importante, apesar de sua pouca reper- , ulo Gladio na l tália, se com-
Só na década de 1980, com as revelações sob re o are
~ o na época. Também para os americanos, a política de contenção foi essen-
aalmenre defensiva - falou a seno
, · quand o se reienu preenderia a extensão de suas atividades. . . d cres
· · Dulles· nao r · a um " recuo" do G Fria somado aos sinais a .
comunismo na década de 1950: a reação dos ocidentais aos motins na Alemanha 1 O predomínio do anticomunismo da uerra
-
' . _ d Ocidente um
nfi . . democrauzaçao o
Oriental, em 1953• 0 una H ungna,
• cente desilusão política da populaçao, co enu ª . odava os libe-
em 1956, demonstrou que não lhes interessava fi Ida década de 1940 mcom
desafiar o equili'brio de fiorças vigente.
· caráter altamente conservador, que no ma om O fucuro da
. O medo de hostilidades concretas revelou- . " - ·al ra quem se preocupa c
se infundado· apesar das rcl - rais e os esquerdistas. 'A questao crua Pª cl édia à democra·
' açoes tensas, sobretudo em 1948 nenhum dos lados . , a lealdade da asse m
pensou realmente em utilizar O pod . . . ' . • democracia na Europa é até que ponto ira N Itália na França e na
. do eno militar para interferir na esfera de influen· eia", escreveu em 1948 o historiador Carl Schorske. ª '
aa outro. Omaiorperioo
<> estava nos pontos em que a Cortina de Ferro se esgar-
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.d ele constatou um encaminhamento da política para adi .
Alemanha 0c1 enraI . . . . " reira
. etorno ao autoritarismo ant1dem ocrat1co sob apre •
e os "sinais de um r . , ssao da
. U depois outro observador, referindo-se a Alemanha rn que logo haver'.ª uma guerra entre O Ocidente e a União Soviética. Na Letônia e na
Guerra Fna. m anO . _ . . ' 0 strou. • 1·a seu numero dirrunuiu no final de 1946 porém na Lituânia o movimento
t Pe ssimista: "A democraazaçao prometida a1I1da não se efetu ,, ~00' ' .
se iguaJmen e . . ou ." is organizado. Em 1948 as autoridades precisaram mobilizar 70 mil solda-
. omunismo na Europa oodental ameaçava violar as liberdades c1v .. e erama
O annc 15 dos, além de esquadrões da morte, infiltradores e divisões regulares do Exército
. diras reformas sociais que muitos esperavam. Em 1946-7 os partidos
unpe comu.
nistas foram alijados do governo. Em 1948-9 o Estado recorreu a unidades pararni. vermelho.
Há alguns casos impressionantes de indivíduos que rejeitaram durante várias
li tares para reprimira resistência da esquerda. Agora a luta pela democracia expres.
décadas a estrurura de poder do pós-guerra. Em Um sonho para nossa época, roman-
sava-se nos termos da Guerra Fria: a esquerda acusava as administrações conser.
ce que apresenta um quadro assustador da Polônia nos anos 1960, Tadeusz
vadoras de tornar os antifascistas suspeitos e de ajudar os fascistas, enquanto os demo-
Konwicki mostra que os fantasmas da guerra ainda rondavam as florestas. Desco-
crata-cristãos afirmavam que a verdadeira ameaça à democracia estava no ataque berto pela KGB em 1978, o estoniano August Sabe, um dos Irmãos da Floresta, afo-
dos comunistas contra a liberdade. Em 1951 a Unesco organizou uma pesquisa gou-se para não se entregar. Da mesma forma após a queda do "regime dos coro-
sobre o significado da democracia no mundo do pós-guerra. Concluiu que, embo- néis", em 1974, encontrou-se nos Montes Brancos, em Creta, um grego que fizera
ra todos declarassem querê-la, um vasto abismo separava as duas metades da parte da Resistência e que ali se escondera pa ra não ter de voltar à vida normal.
Europa. Numa cidade do Auvergne descobriu-se em 1983 uma francesa que vivia como
Em 1949, as forças do mundo livre haviam triunfado no Ocidente. Na Itàlia e reclusa: por ocasião da libertação fora acusada de colaboracionismo e tivera a cabe-
na Grécia, onde a resistência violenta aos regimes do pós-guerra perdurou por ça raspada; desaparecera por trinta anos e havia enlouquecido."'
mais tempo, suspeiros de esquerdismo foram presos e colabor acionistas foram Pessoas como essas, que se recusaram a reintegrar-se na sociedade, consti-
libertados. Após a vitória decisiva dos democrata-cristãos nas eleições italianas de ruíam exceções. A maioria dos europeus aceitou a divisão do continente e o equi-
1948, as unidades paramilitares de Mario Scelba, munidas de granadas e lança-cha- 1.ibrio de forças do pós-guerra, participando, portanto, dos projetos soáais desen-
mas, prenderam centenas de partigiani e trabalhadores. Uma década depois do tér- volvidos em ambos ao lados da Cortina de Ferro. A aliança da época do conflito
mino da Guerra Civil espanhola, a policia de Franco ainda estava eliminando os preservou seu acordo básico, e a paz brutal da Guerra Fria proporáonou à Europa
esquerdistas que resistiam nas montanhas. Na Grécia o exército m onarquista, trei- o bem mais p recioso - tempo - , que permitiu urna extraordinária e inesperada
nado pelos americanos e equipado com napalm, derrotou o Exército D emocrático regeneração de sua vida econômica e uma ampla transformação de seus hábitos
dos comunistas e confinou em campos provisórios milhares de suspeitos de serem políticos.
simpatizantes.
Na Europa oriental a resistência à ordem da Guerra Fria naturalmente sofreu
uma repressão ainda mais severa. Na Iugoslávia os cch etniks [nacionalistas sérvios)
de Mihailovié foram presos junto com seu líder no início de 1946. Entretanto, na
Polônia e na Ucrânia a NKVD e as tropas pró-comunistas locais empreenderam uma
feroz caçada aos mem bros da Resistência até o f1I1aJ da década de 1940. A luta mais
ten~ talvez tenha ocorrido nos países bálticos. Ali a política soviética - de depor·
taçoes e coletivização 1 • ·r
- evou m uuos homens a se esconderem nas m atas a paro
de 1945. Os Irmãos d FI
ª oresta, como eram chamados, atacavam tropas russas,
tumultuavameleiçõesem . . · ~ d
atavam colaboraoorustas. Encor ajava-os a convJCçao e
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