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GISELE

KRONHARDT SCHEFFER







DIÁLOGOS DE DIREITO ANIMAL


© 2019 - Editora Canal Ciências Criminais


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autor (Lei nº 9.610/1998) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.
Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Lei nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004.

Direção Editorial
Bernardo de Azevedo e Souza

Conselho Editorial
André Peixoto de Souza Bruno Augusto Vigo Milanez
Diógenes V. Hassan Ribeiro Fábio da Silva Bozza
Fauzi Hassan Choukr Felipe Faoro Bertoni
Fernanda Ravazzano Baqueiro Maiquel A. Dezordi Wermuth

Capa e projeto gráfico
Estúdio Xiru
Diagramação
Bernardo de Azevedo e Souza



Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S316d Scheffer, Gisele Kronhardt
Diálogos de direito animal [recurso eletrônico] / Gisele Kronhardt Scheffer. –
Porto Alegre : Canal Ciências Criminais, 2019.


Inclui referências.

ISBN:978-85-92712-30-3 (e-book)

Modo de acesso:
http://editora.canalcienciascriminais.com.br

1. Direitos dos animais - Brasil. 2. Animais – Proteção – Legislação. I.
Título.


CDD 341.3476

Bibliotecária Responsável: Eliane Mª. Pereira Kronhardt (CRB 10/1518)

SUMÁRIO


Prefácio

Capítulo 1 - Violência contra cadela: o caso Carrefour
Capítulo 2 - Maus-tratos aos animais: uma perspectiva criminológica
Capítulo 3 - Direito Animal e Ciências Criminais
Capítulo 4 - Criadouros fundo de quintal: uma das principais razões econômicas
de maus-tratos
Capítulo 5 - Tráfico de animais: uma atividade ilegal baseada no sofrimento
Capítulo 6 - Carroças: a crueldade que persiste nas ruas
Capítulo 7 - O caso do cavalo pintado por crianças: maus-tratos?
Capítulo 8 - Zooerastia: o repugnante ato para satisfação do ser humano
Capítulo 9 - Animais como entretenimento: o lado perverso do divertimento
humano
Capítulo 10 - Abandono de animais: um crime silencioso
Capítulo 11 - Extermínio de animais de rua: não acontece só na Rússia
Capítulo 12 - Maus-tratos a animais em filmes
Capítulo 13 - O sofrimento animal na paralisação dos caminhoneiros
Capítulo 14 - Animais em alguns rituais religiosos: direito ao culto ou
crueldade?
Capítulo 15 – Ainda sobre a utilização de animais em rituais religiosos
Capítulo 16 - A bandeira animal nas eleições de 2018
Capítulo 17 - Animais acorrentados e confinados: até quando?
Capítulo 18 - Confinamento dos animais de produção
Capítulo 19 - Animais em zoológicos
Capítulo 20 - Parques temáticos: diversão x exploração

Considerações finais

Referências



PREFÁCIO


Esta obra é uma coletânea de colunas quinzenais de minha autoria,
publicadas em 2018 no espaço denominado “Direito Animal” do Canal Ciências
Criminais. Sendo o Direito Animal um ramo que aborda e defende os interesses
dos animais não-humanos em questões éticas, filosóficas, políticas e
legislatórias, dentre outras, o Canal Ciências Criminais proporcionou esse
espaço de diálogo tão necessário e, infelizmente, ainda raro.
Muitas das colunas abordaram temas bastante pontuais, porém
extremamente relevantes no momento em que foram escritas. Por essa razão,
fez-se necessário um posicionamento firme na defesa do direito dos animais,
violados, por exemplo, na morte da cadela em um famoso hipermercado; na
paralisação dos caminhoneiros deflagrada em maio de 2018; no massacre de
cães de rua na Rússia, no período que antecedeu a Copa do Mundo de futebol;
ou na apreensão de um grande número de animais traficados numa rodovia do
Brasil.
Outras, porém, são atemporais e enfocam diferentes aspectos do Direito
Animal, muitas vezes perturbadores, pois revelam o sofrimento a que são
submetidos esses seres declarados sencientes desde 2012, porém ainda
considerados objetos pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Os capítulos não correspondem necessariamente à ordem cronológica de
publicação; foram dispostos e agrupados de acordo com os temas tratados, a fim
de facilitar a leitura e provocar a reflexão tão necessária para que ocorra a
mudança na atual situação dos animais não-humanos.
O que se almeja é que, com o crescente interesse pelo Direito Animal, os
animais não-humanos sejam respeitados e considerados como verdadeiros
sujeitos de direitos. Boa leitura!


CAPITULO 1
VIOLÊNCIA CONTRA CADELA: O CASO CARREFOUR

O Brasil tomou-se por uma comoção geral no início de dezembro de


2018, quando foi amplamente divulgado o caso da cadela espancada e morta por
um segurança que atuava no hipermercado Carrefour em Osasco, São Paulo.
Apesar do vídeo fornecido pelo Carrefour, mostrando a agressão, o
hipermercado “divulgou nota na qual nega que a morte tenha sido causada pelo
segurança e diz que o cão desfaleceu em razão do uso de um ‘enforcador’, tipo
de equipamento de contenção” (VÍDEO…, 2018). O enforcador, ou cambão,
referido anteriormente, foi utilizado pelo pessoal do Centro de Controle de
Zoonoses, para onde o animal foi levado após a agressão.
Já a Prefeitura de Osasco afirmou que o cão morreu após chegar ao
atendimento emergencial com hipotensão severa (pressão baixa), hipotermia
intensa, hematêmese (vômito com sangue) e escoriações múltiplas. Apesar do
tratamento, instituído o animal veio a óbito (VÍDEO…, 2018).
O que se percebe é que há um “jogo de empurra” entre o Carrefour e a
prefeitura. Contudo, as imagens das câmeras de vídeo mostram o segurança do
hipermercado perseguindo a cadela, que retorna para dentro do Carrefour
ensanguentada. Algum tempo depois, funcionários do CCZ imobilizam e
conduzem o animal.
Uma sucessão de erros aconteceu no caso em questão: segundo a
delegada da Delegacia de Polícia de Investigações Sobre o Meio Ambiente e
Setor de Produtos Controlados Seccional de Osasco (D.I.I.C.M.A.), que
conversou com a ativista Luísa Mell, não havia boletim de ocorrência no
momento do recolhimento pelo Centro de Controle de Zoonoses, por isso o
procedimento padrão foi feito, que é a cremação do animal que vem a óbito.
Como o corpo do animal foi cremado, não pode ser feito o exame de corpo de
delito.
O fato que culminou com a morte da cadela já foi antecedido por outro
ato criminoso, quando do abandono do animal. Estima-se que, no Brasil, há 30
milhões de animais vivendo em situação de abandono. E a cadela espancada era
uma entre esses 30 milhões…
Cabe, no caso em questão, a averiguação da conduta dos funcionários do
CCZ e uma ação civil pública contra o hipermercado, com vistas à reparação do
dano, o qual causou ampla comoção, revolta e mobilizações populares,
principalmente nas redes sociais, com incentivos a boicotes à rede do
hipermercado e abaixo-assinados.
Muitos internautas cogitam, inclusive, no calor do momento, que seja
praticada a autotutela, sugerindo que o segurança do hipermercado seja também
espancado até a morte, como ocorreu com o animal. No entanto, deve-se
ressaltar que no ordenamento jurídico a autotutela é vedada. Por mais que as
pessoas tenham sede (justificada) de justiça, somente o Estado detém o poder
punitivo. Neste caso, o conceito de justiça mistura-se com o de vingança e o que
deve ser buscado é a JUSTIÇA.
Os abaixo-assinados que circulam nas redes sociais pedem a prisão do(s)
responsável(is). Entretanto, todos os que acompanham essa coluna já sabem –
mas não custa repetir – que a Lei que tipifica crimes de maus-tratos aos animais
é a chamada Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) e, segundo o seu artigo
32:

Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos


ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
[…]
§2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

Como se pode ver, a pena neste caso é de detenção de três meses a um
ano, e multa, acrescida de um sexto a um terço porque houve a morte do animal.
Contudo, por se tratar de um crime de menor potencial ofensivo (pena menor de
dois anos), seguirá o procedimento do Juizado Especial Criminal (JeCrim – Lei
9099/95), onde o Ministério Público deverá propor uma transação penal ao(s)
réu(s). As propostas do MP poderão abranger apenas duas espécies de pena:
multa e restritiva de direitos. De acordo com o art. 8º da Lei 9605/98:

Art. 8º As penas restritivas de direito são:

I – prestação de serviços à comunidade;

II – interdição temporária de direitos;

III – suspensão parcial ou total de atividades;

IV – prestação pecuniária;

V – recolhimento domiciliar.

Portanto, por mais que a população clame pelo encarceramento do


acusado, não há prisão em caso de maus-tratos a animal no ordenamento jurídico
brasileiro. Há, entretanto, alguns projetos de lei que visam aumentar a pena.
Na falta do cadáver da cadela, é impossível a necropsia. Por conseguinte,
as provas testemunhais e documentais (como as imagens das câmeras de
segurança) são de extrema relevância para a apuração dos culpados. Sabe-se que
houve testemunhas oculares, e seus depoimentos são necessários para auxiliar na
investigação do caso.
O Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (2018, p. 3),
em seu Guia Prático para Avaliação Inicial de Maus Tratos a Cães e Gatos,
define maus-tratos intencionais como aqueles que “têm objetivo de produzir
dano físico ou psicológico ao animal. Observa-se, por exemplo, a agressão direta
ao animal ou crueldade intencional.” Há também o significado de negligência,
“quando não é fornecido os devidos cuidados a animais que estejam sob
responsabilidade da pessoa em questão, sendo a negligência intencional ou não.
Geralmente é resultante da falha em fornecer recursos básicos necessários, tais
como: água, alimento e abrigo”.
Já a Resolução 1236/18 do Conselho Federal de Medicina Veterinária
(2018) afirma:

Art. 2º Para os fins desta Resolução, devem ser consideradas as seguintes
definições: […]

II – maus-tratos: qualquer ato, direto ou indireto, comissivo ou omissivo, que


intencionalmente ou por negligência, imperícia ou imprudência provoque dor ou
sofrimento desnecessários aos animais;

III – crueldade: qualquer ato intencional que provoque dor ou sofrimento


desnecessários nos animais, bem como intencionalmente impetrar maus tratos
continuamente aos animais;

IV – abuso: qualquer ato intencional, comissivo ou omissivo, que implique no


uso despropositado, indevido, excessivo, demasiado, incorreto de animais,
causando prejuízos de ordem física e/ou psicológica, incluindo os atos
caracterizados como abuso sexual; […]

XI – corpo de delito – conjunto de vestígios materiais resultantes da prática de


maus-tratos, abuso e/ou crueldade contra os animais;” […]
Art. 5º – Consideram-se maus tratos: […] III – agredir fisicamente ou agir para
causar dor, sofrimento ou dano ao animal; IV – abandonar animais; […]
Portanto, o animal em questão, além de ser vítima de maus-tratos
intencionais, também foi negligenciado, ao ser provavelmente abandonado. Se o
abandonador pudesse ser localizado (o que, obviamente, é quase impossível), a
conduta do mesmo também seria enquadrada no artigo 32 da Lei de Crimes
Ambientais. E no caso de a violência ter partido de uma ordem de alguém
hierarquicamente superior ao acusado aquele responderá como coautor do crime.
Apesar de esse tipo de violência ocorrer cotidianamente, são apenas
alguns os casos que provocam essa estrondosa repercussão popular. A
mobilização da população é um fator importante para que haja uma investigação
profunda e esse caso não caia no esquecimento, como tantos outros.
Aliás, não seria o caso de ocorrerem mais mobilizações contra maus-
tratos? Afinal, todo dia ocorrem situações desse tipo perto de cada um de nós.
Existem várias “cadelas do Carrefour” sendo espancadas e mortas todos os dias e
que não recebem a devida atenção. Que esse caso abra os olhos da população
para todos os maus-tratos contra animais.
Deveria haver, também, mobilizações para que a legislação protetiva aos
animais seja modificada, inibindo situações como a ocorrida e abordada nesta
coluna. Ressalto que a proteção aos animais deveria ter legislação específica,
desvinculada da Lei de Crimes Ambientais.
A população já mostrou sua força e seu poder em diversas situações. Não
seria a vez de mobilizar-se também em prol dessa importante causa? Em um país
onde crimes contra as pessoas são muitas vezes banalizados, o que esperar de
maus-tratos contra animais? Estes, apesar de serem também seres sencientes,
ainda são considerados inferiores, meros objetos semoventes e não merecedores
de uma legislação mais específica para sua proteção.

Aquele cachorro estava feliz e saltava para cumprimentar qualquer um que saía
do mercado. […] Mas a sua alegria incomodou o segurança. […] Não apenas o
correu dali, porque não combinava com os enfeites parados de Natal do local,
encurralou o indefeso animal em um corredor fora das câmeras e o espancou
com uma barra de metal. […] A rua é pública, o coração é público, o assassinato
é público. Não há como calar o pungente latido. O latido é também voz
(CARPINEJAR, 2018).


Obs.: Publicada originalmente em 05 de dezembro de 2018.



CAPÍTULO 2
MAUS-TRATOS AOS ANIMAIS: UMA PERSPECTIVA CRIMINOLÓGICA


O elo que une homens e animais é muito antigo. O animal doméstico – e
até mesmo o exótico – adquiriu, com o passar do tempo, o status de membro da
família. Entretanto, devido a essa proximidade, constata-se um grande número
de casos de maus-tratos: abandono, negligência, espancamentos, mutilações,
queimaduras, tráfico de animais silvestres, zoofilia, promoção de rinhas,
esgotamento de matrizes devido à exaustiva reprodução, caça ilegal e uso de
animais para fins recreativos, entre outros.
Apesar de uma grande parte da sociedade estar mais consciente em
relação ao status dos animais, o crime de maus-tratos ainda continua sendo
considerado de menor potencial ofensivo. Historicamente muitos estudos foram
desenvolvidos, não com a intenção de abordar os maus-tratos aos animais em si,
mas porque podem indicar uma predisposição de futuros crimes contra o ser
humano: é a chamada Teoria do Link, uma abordagem claramente
antropocêntrica.
Embora Agnew tenha elaborado uma definição que nos parece a mais
pertinente e esclarecedora até agora em relação ao conceito de maus-tratos, ainda
há dificuldade em se determinar claramente o que seria abuso contra os animais.
Segundo ele, abuso animal é “qualquer ato que contribui para a dor ou morte de
um animal ou que ameace o seu bem-estar”. Esta definição, segundo Agnew, tem
muitas vantagens, pois não limita os abusos somente a comportamentos ilegais
(AGNEW, 1998, p. 179).
Agnew (1998) argumenta que as causas que levam as pessoas a
maltratarem animais devem ser examinadas não somente porque o abuso está
correlacionado com a violência interpessoal de humanos, mas também porque
animais são dignos de consideração moral, independentemente da sua relação
com humanos. Sua teoria começa com três fatores individuais, diretamente
relacionados com o aumento da probabilidade de um indivíduo agredir um
animal. Segundo ele, o abuso animal é mais provável de ocorrer quando os
indivíduos são ignorantes das consequências abusivas de suas ações, acreditam
que seu tratamento abusivo é justificado e quando percebem que os benefícios de
suas ações são maiores que os malefícios.
No Brasil, a primeira proteção legal contra a violência aos animais surgiu
em 1924, quando por meio do art. 5º do Decreto nº 16.590 as corridas de touros,
brigas de galo e canários foram proibidas (BRASIL, 1924). Em 1934, o Decreto
24.645 (BRASIL, 1934) especificou os maus-tratos como um crime e ainda
serve como parâmetro para a caracterização de atos de abuso contra animais,
embora revogado. No entanto, atualmente, no Brasil, a lei que protege os
animais é a Lei nº 9605/98 (BRASIL, 1998), que equipara, em seu art. 32, os
animais domésticos aos silvestres, nativos ou exóticos para fins de aplicação de
penas relativas aos atos de maus-tratos: “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir
ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos
confere ao réu pena de detenção de três meses a um ano, e multa”. Percebe-se
que não há caracterização do que sejam maus-tratos e essa Lei, juntamente com
a Constituição Federal, representa o ordenamento jurídico que protege os
animais em âmbito federal. Apesar da referida legislação, o animal não é
considerado, no Brasil, um sujeito de direitos: conta apenas com proteção
jurídica.
Para Beirne (2013, p. 62), “na Criminologia [...] a agressão contra os
animais tem pouca ou nenhuma significância sui generis, presumidamente
porque não é vista como um crime real, mas, ao invés disso, como uma pequena
ofensa contra a propriedade”. Porém, alguns criminologistas (como Agnew,
Flynn, Arluke e Ascione), a partir do final do século XX, vêm liderando o
caminho no estudo do abuso animal a partir de uma perspectiva sociológica que
o reconceitualiza de forma menos antropocêntrica. Apesar disso, estudos
criminológicos no Brasil sobre maus-tratos aos animais per si são ainda raros.
Infelizmente percebe-se que, apesar de alguns casos de maus-tratos a
animais atingirem grande repercussão através das mídias, esses delitos (e,
consequentemente, seus agentes) ainda são mais brandamente tolerados pela
legislação e pela sociedade na comparação com outras transgressões, reforçando
claramente a perspectiva antropocêntrica.
No entanto, da área de contexto específico das relações homem-animal e
justiça de espécies, surge a Criminologia Verde (Green Criminology), que está
em posição privilegiada para promover novas maneiras de pensar sobre nossas
atitudes e exploração de animais como parte integrante da justiça criminal
dominante, embora digna de estudo dedicado como aspecto distinto da
criminalidade. Para Nurse (2006), dentro da Criminologia Verde há um conjunto
de teorias relacionadas às interações homem-animal que exploram diferentes
aspectos do dano aos animais e à justiça ecológica.
É possível, então, se começar a pensar também em criminologias
biocêntricas, onde todos os seres vivos devem ser considerados por terem valor
em si mesmos e não por sua utilidade ou capacidade de servir ao homem. O ser
humano precisa compreender que suas ações geram consequências não somente
sobre outros seres humanos, mas sobre todas as formas de vida. E que todas são
igualmente importantes e merecedoras do nosso respeito.

Obs.: Publicada originalmente em 05 de abril de 2018.

No próximo capítulo serão abordados diferentes estudos sobre os abusos a
que os animais não-humanos são submetidos. Os pesquisadores buscaram, entre
outros objetivos, verificar o perfil do agressor de animais, as causas dos maus-
tratos e uma provável ligação entre crueldade aos animais na infância e posterior
violência contra seres humanos. Como o leitor poderá perceber, infelizmente o
Brasil e os demais países da América Latina ainda carecem de pesquisas sobre
esses temas.




























CAPÍTULO 3
DIREITO ANIMAL E CIÊNCIAS CRIMINAIS

Não é de hoje que a Criminologia vem abordando temas sobre os animais


e os maus-tratos a que estes são submetidos, através de pesquisas e de literatura
publicada a respeito.
Em 1985, Stephen Kellert e Alan Felthous, dois professores
universitários norte-americanos, conduziram uma importante pesquisa intitulada
Childhood Cruelty toward Animals among Criminals and Noncriminals
(Crueldade na Infância contra os Animais entre Criminosos e não Criminosos).
Objetivavam avaliar a relação entre crueldade contra os animais e outros
comportamentos violentos durante a infância, bem como a relação da família
com essas crianças ou adolescentes agressores. Os criminosos foram
selecionados nas penitenciárias federais de Leavenworth, Estado de Kansas e
Danbury, Estado de Connecticut, ambos nos Estados Unidos da América. Os
indivíduos não criminosos foram selecionados nessas mesmas comunidades. Ao
todo, 152 amostras foram analisadas, todas do sexo masculino, divididas entre
criminosos excessivamente agressivos, criminosos moderadamente agressivos e
não criminosos. Verificou-se que os criminosos extremamente agressivos
cometeram crueldade animal com maior frequência em relação aos demais
grupos. Nenhum ato de crueldade contra animais foi cometido pelos não
criminosos participantes da amostra (KELLERT; FELTHOUS, 1998).
Esses pesquisadores concluíram, então, existirem, pelo menos, nove
causas para a prática dos maus-tratos, enumeradas na própria pesquisa. São elas:
para controlar o animal; retaliação contra o animal; para satisfazer um
preconceito contra uma espécie ou raça; para expressar agressão através de um
animal; para aprimorar sua própria agressividade; para chocar as pessoas por
diversão; retaliação contra outra pessoa; deslocamento de hostilidade de uma
pessoa para um animal; e, finalmente, por sadismo não especificado (KELLERT;
FELTHOUS, 1998).
Frank Ascione, psicólogo e professor na University of Denver,
concentrou recentemente sua atenção no abuso de animais perpetrado por
crianças e adolescentes. Em 1993 definiu crueldade aos animais como:
“Comportamento socialmente inaceitável que intencionalmente causa dor,
sofrimento ou angústia desnecessários ou morte a um animal” (FLYNN, 2008, p.
168).
Já em 1995, Carol Adams, uma escritora americana, feminista e
defensora dos direitos dos animais afirmou que os maus-tratos aos animais são
parte da dominância e exploração perpetrada por homens sobre outros seres
menos poderosos – mulheres, crianças e animais (ADAMS, 1995).
Outra pesquisa foi publicada, desta vez em 1997, por Arnold Arluke,
professor de Sociologia na Northeastern University (EUA), e Carter Luke, que
examinaram casos de crueldade contra os animais, processados em
Massachusetts (EUA) entre 1975 e 1996. Constataram que aproximadamente
97% dos agressores eram do gênero masculino, com idade média de 30 anos.
Concluíram, também, que adultos são mais propensos a ferir cães (com arma de
fogo), enquanto os gatos são as vítimas preferidas dos adolescentes (por meio de
espancamento) (ARLUKE; LUKE, 1997).
Um passo importante ocorreu no ano de 1998, quando uma diferente
definição de abuso animal foi proposta pelo criminólogo norte-americano Robert
Agnew, já abordada no Capítulo 1 desta obra. No mesmo ano, Piers Beirne,
professor de Introdução à Criminologia, Abuso de Animais e Criminologia
Comparada na University of Southern Maine, preconiza uma “Criminologia não
especista”, na qual o abuso animal seja reconhecido como legítimo tema para
pesquisas, independentemente de sua relação com violência contra humanos.
Mais tarde, no ano de 2000, Beirne abordou o ataque sexual interespécies
centrado nos direitos e bem-estar do animal. Afirma que frequentemente
prevalece uma visão antropocêntrica onde a zoofilia é condenada por causa de
preocupações sociais, religiosas ou morais.
Em 1999 Clifton Flynn, professor de Sociologia na University of South
Carolina, realizou uma pesquisa sobre o perfil do agressor de animais. Como
resultado, verificou que a maioria pertence ao gênero masculino, com faixa
etária situada entre o final da adolescência e o início da fase adulta. A exceção
são os acumuladores, onde predominam mulheres de meia idade ou idosas.
E, por falar em acumuladores de animais, Gary Patronek concluiu, após
conduzir uma pesquisa sobre o tema em 1999, que 76% deles pertencem ao
gênero feminino, com idades entre 37 e 60 anos, o que corrobora a afirmação de
Flynn. Averiguou, também, que 72,2% dos acumuladores são mulheres solteiras,
viúvas ou divorciadas (PATRONEK, 1999).
Por outro lado, Angus Nurse, professor de Criminologia na Middlesex
University School of Law, Reino Unido, assegura que a pesquisa sobre abuso
animal não ocupa atualmente a posição que merece no meio acadêmico ou no
discurso político. É necessária uma análise mais detalhada sobre maus-tratos aos
animais, a fim de desenvolver uma compreensão de sua complexidade, variados
efeitos sociais e a maneira como são tratados pelas agências de aplicação da lei
(NURSE, 2016)
Já no ano de 2001, Linda Merz-Perez e colegas pesquisaram a ligação
entre crueldade animal na infância e uma provável agressão contra pessoas na
idade adulta, o que foi denominado “Teoria do Link” (MERZ-PEREZ et al.,
2001). E, no Brasil, em 2013, Marcelo Nassaro procurou comprovar tal teoria,
analisando 643 autuações da Polícia Militar Ambiental no Estado de São Paulo
por maus-tratos a animais entre 2010-2012. Constatou que o perfil médio do
agressor a animais é composto por 90% de homens, com média etária de 43
anos, e a maioria dos casos (73%) envolveu animais domésticos (NASSARO,
2013).
Como pode ser verificado, pesquisas e publicações sobre maus-tratos a
animais ocorrem, majoritariamente, em outros países. No Brasil, estão sendo
conduzidas por mim duas pesquisas criminológicas a respeito de maus-tratos,
que terão seus dados divulgados em breve.
Espera-se contribuir para que ocorram mudanças positivas na situação
dos animais não-humanos, numa sociedade cujo ordenamento jurídico ainda os
considera meros objetos.

Obs.: Publicada originalmente em 10 de setembro de 2018.


Angus Nurse, em sua obra intitulada “Animal harm: perspectives on why
people kill and harm animals”, de 2016, enumerou, a exemplo de outros
pesquisadores, algumas causas que levam as pessoas a maltratarem os animais.
Identificou o lucro ou ganho comercial como uma das razões pelas quais os
animais são submetidos ao sofrimento. A seguir será enfocado um tema onde
predomina a ganância e a perspectiva da obtenção de altos lucros à custa de
matrizes exaustivamente exploradas e, após uma vida de tormentos, descartadas:
os criadouros clandestinos de animais, verdadeiras fábricas de filhotes.









CAPÍTULO 4
CRIADOUROS “FUNDO DE QUINTAL”: UMA DAS PRINCIPAIS RAZÕES
ECONÔMICAS DE MAUS-TRATOS


Dentre as causas que levam uma pessoa a maltratar animais, uma das
principais é a econômica. O animal não humano, desde os primórdios da
humanidade, é visto como uma fonte de lucro para o homem, reforçando a
perspectiva antropocêntrica. Como exemplo dessa exploração podemos citar o
criadouro clandestino, popularmente chamado de “fundo de quintal”.
Os criadouros clandestinos são um flagrante exemplo de crueldade contra
os animais. Cães são os maiores alvos – cadelas reprodutoras de raças populares,
chamadas de “matrizes”, são compradas para que se forme um plantel, dando
início ao canil. A partir de então, são forçadas a terem ninhadas a cada cio (em
média de seis em seis meses), o que pode resultar em perda de peso e
fragilização da imunidade, fazendo com que as cadelas fiquem mais suscetíveis a
doenças.
Sendo o lucro o objetivo principal, não é difícil imaginar como mães e
filhotes são tratados. Criados em um ambiente insalubre, muitas vezes
trancafiados em gaiolas minúsculas e com doenças infectocontagiosas e
parasitas, os animais são submetidos a péssimas condições de vida, como se
pode notar pela passagem e fotos abaixo:

As cadelas vivem em condições piores do que as galinhas abusadas em granjas e
dão à luz em condições insalubres, sendo que os filhotes são arrancados das
mães com apenas quatro semanas e muitas vezes morrem dentro de seis meses.
Animais são mantidos em um recinto pequeno, ela [cadela] será impregnada e
seus filhotes levados com quatro semanas. Ela pode receber injeções hormonais
para produzir mais filhotes [...]. Estes animais viverão três ou quatro anos e
então terão suas mortes induzidas devido à exaustão. [...] Encontramos filhotes
em baldes, incluindo alguns mortos. Era um negócio baseado na venda de cães
doentes, era crueldade em escala industrial. Havia milhares de cães passando por
sua casa e muitos ficam doentes e morrem. Eles não se importam, pois são uma
mercadoria. Eles os trazem e os vendem o mais rápido possível para obter lucro
(AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS, 2016, não paginado).

Além de todo o impacto direto aos animais, há os danos secundários para
os compradores. Quem cria os animais nestas condições não zela pelas
características da raça, ou seja, o consumidor que pretende adquirir um filhote de
uma raça pode acabar pagando mais barato, mas recebendo “gato por lebre”.
Outros problemas muito comuns neste cenário são os comportamentais e de
saúde. No momento da compra o animal normalmente já está com alguma
doença infectocontagiosa, ainda sem manifestação clínica, o que pode levar o já
frágil filhote a óbito. Não obstante o sofrimento do animal, os donos podem
dispender somas consideráveis em tratamentos para o filhote e ainda sofrer
perturbações significativas ou riscos pessoais potenciais como, por exemplo,
contrair uma zoonose.
Um ponto importante a ser considerado é a venda destes animais, que
proporciona oportunidades adicionais para atividades criminosas, em particular
através de representações fraudulentas para os potenciais compradores.
Primeiramente, quanto mais novo o filhote fica disponível para venda, mais
interesse há por parte dos adquirentes. Isso faz com que os animais sejam
desmamados e retirados de suas mães muito cedo e, acrescentando nessa soma o
fator estressante que é o transporte, doenças muitas vezes fatais como a
parvovirose e a cinomose podem ocorrer. Além disso, vendedores podem tentar
lograr consumidores mais atentos. Parte da população tem sido encorajada a
comprar filhotes somente se puderem ver toda a ninhada com sua respectiva
mãe. Consequentemente, os criadores “fundo de quintal” podem transportar o
filhote para um local em boas condições e vender a ideia de que ali é que ele foi
criado. Em muitos casos o comprador é enganado, vindo a adquirir um animal
que teve uma qualidade de vida e bem-estar pobres.
Casos de desmantelamento de canis “fundo de quintal”, quando feitos
por ONGs, associações ou institutos com reconhecimento nacional, são
amplamente veiculados pela mídia. Em São Paulo não são raros os casos em que
o Instituto Luísa Mell resgata animais de criadouros clandestinos. No mês
passado, araras, papagaios e 113 cães de diferentes raças foram resgatados de um
imóvel na zona leste do município. Cachorros foram encontrados em caixas,
gaiolas e até dentro de armários. No momento do resgate, a pessoa que cuidava
do canil tentou ainda esconder dois filhotes dentro do sutiã e uma cadela grávida
debaixo de um travesseiro (INSTITUTO, [2018?]). O responsável poderá
responder pelo crime de maus-tratos (art. 32 da Lei 9.605/98), podendo a pena
ser aumentada de um sexto a um terço, conforme parágrafo 2º do citado artigo,
já que foram encontrados animais mortos no local (BRASIL, 1998). Além disso,
ainda poderá receber sanções previstas na legislação do município (Lei
14.483/07), que regra a criação e venda de animais (SÃO PAULO, 2007).
Apesar da cobertura da mídia nesses casos, percebe-se que o interesse
das pessoas por um animal de raça por um preço baixo ainda é grande.
Infelizmente não é fácil obter uma mudança desse panorama. Para haver uma
alteração significativa da realidade atual, o ser humano necessita deixar de lado a
visão antropocêntrica de que os animais não humanos podem ser explorados,
neste caso visando ao lucro. Além disso, quem compra de canis não registrados,
ou adquire um filhote com um custo abaixo do habitual para a raça, pode estar
fomentando esta prática cruel.
Como apenas a fiscalização não consegue coibir esses insalubres locais,
onde nascimentos se misturam com morte, é importante haver medidas de
conscientização para que as pessoas evitem comprar filhotes de procedência
duvidosa, além de estímulos à adoção de animais abandonados.
Obs.: Publicada originalmente em 19 de abril de 2018.

Seguindo na linha da obtenção de lucro por meio do sofrimento animal, o
capítulo que segue enfocará a terceira maior atividade lucrativa no mundo, na
qual animais são covardemente retirados da natureza e transportados de forma
cruel até os locais de destino. Entretanto, a maioria deles morre nesse processo.
Enquanto houver compradores que paguem altas somas por animais silvestres, o
tráfico de animais não terá fim.


















CAPÍTULO 5
TRÁFICO DE ANIMAIS: UMA ATIVIDADE ILEGAL BASEADA NO
SOFRIMENTO

Graças a uma denúncia anônima, no dia 19 de abril de 2018 foram
apreendidos pela Polícia Ambiental de Guarulhos (SP) 562 animais vítimas do
tráfico de vida silvestre. Foram encontrados, esmagados dentro de caixas de
papelão e de sacos plásticos, 427 jabutis, 87 iguanas, 21 saguis, dois falcões,
duas corujas e 23 pássaros de várias espécies, sendo que 16 já chegaram mortos
ao Centro de Recuperação de Animais Silvestres (Cras), localizado no Parque
Ecológico do Tietê. Os animais vieram da Bahia e seriam vendidos em mercado
clandestino. Estavam no bagageiro de um ônibus de turismo e viajaram dois dias
até chegar a São Paulo. Três pessoas foram detidas por violarem os artigos 29 e
32 da Lei 9605/98, que se referem a manter em cativeiro animais silvestres e
maus-tratos, porém foram liberadas em seguida. A coordenadora do Cras
afirmou que muitos animais não suportarão os ferimentos e calcula que de 30 a
50% não sobreviverão. Alerta, ainda, que o mais importante é as pessoas
evitarem comprar animais sem a certificação d o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e que é preciso ter
consciência (DONATO, 2018).
A apreensão do dia 19 de abril conseguiu barrar a comercialização desses
562 animais, mas, muitas vezes, os traficantes obtêm sucesso em seu intento. O
comércio de vida silvestre, na qual se inclui a fauna, a flora e seus produtos e
subprodutos, é considerada a terceira maior atividade ilegal no mundo. Fica
atrás, apenas, do tráfico de armas e de drogas. Levando-se em consideração
somente o tráfico de animais silvestres no Brasil, é estimado que cerca de 38
milhões de exemplares sejam retirados anualmente da natureza. “O Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) calcula
que para cada animal silvestre que chega a um dono pelo mercado ilegal, nove
são mortos. As causas variam de ferimentos e sufocação até falta de comida e
água” (PRIES, [s.d.]).

A Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de
Extinção (CITES) é um tratado para proteger e conservar a fauna e a flora
selvagens. Foi adotada em 1973 para garantir a sobrevivência em longo prazo de
qualquer espécie que esteja ou possa estar ameaçada pelo comércio. Seus mais
de 180 Estados-Membros, até o momento, regulam estritamente o comércio
internacional de fauna e flora silvestres cobertas pela CITES, por meio de um
sistema de permissões e certificados. Pode-se afirmar, portanto, que a CITES é
uma das ferramentas mais poderosas do mundo para a conservação da
biodiversidade por meio da regulamentação do comércio de vida selvagem. Ela
regula o comércio internacional em mais de 35.000 espécies de plantas e
animais, incluindo seus produtos e derivados, garantindo sua sobrevivência na
natureza com benefícios de subsistência para a população local e o meio
ambiente global. Seu sistema de licenças procura assegurar que o comércio
internacional de espécies listadas seja sustentável, legal e rastreável
(CONVENTION ON..., [s.d.]). O Brasil é membro da CITES por meio do
Decreto nº 3.607, de 21 de setembro de 2000.
Mas, apesar das medidas destinadas a combater o tráfico de espécies
ameaçadas, o tráfico de animais silvestres cresce em nível global. Isso acontece
porque o tráfico de animais selvagens é muito atraente para os criminosos, sendo
altamente lucrativo. Na maioria dos países há uma baixa prioridade na aplicação
da lei em comparação com outras formas de tráfico. Portanto, o risco de
detecção e a aplicação de penalidades são muito limitados. Há, também, ligação
entre o tráfico de animais e outras formas de crime organizado, e pode-se dizer
também que o tráfico local e o internacional de animais selvagens estão
interligados (EUROPEAN COMMISSION, [s.d.]). No Brasil, por exemplo, o
tráfico doméstico de animais é muito praticado por pessoas humildes que, devido
à sua condição social e econômica – e por não terem acesso à educação
ambiental –, consideram a venda ilegal de animais uma forma de sobrevivência.
O Brasil é um dos principais países do mundo que comercializa e exporta
ilegalmente fauna e flora. Sua condição de país periférico no cenário econômico
mundial, aliada à riqueza de sua biodiversidade, às dificuldades operacionais, à
ineficiência do governo e às más condições de vida prevalentes na maior parte
de sua população contribuem para perpetuar e reforçar essa situação (WORLD
WIDE..., 1995). A maioria dos animais e seus subprodutos originários do Brasil
e contrabandeados regularmente para a Europa, EUA e Japão são enviados
primeiramente para Bolívia, Paraguai, Colômbia, Argentina, Guiana, Venezuela,
Panamá e México, onde geralmente são legalizados com documentação falsa
(REDE NACIONAL..., [s.d.]).
Entre as principais cidades europeias importadoras e receptoras da vida
selvagem brasileira estão “Antuérpia, Bruxelas, Amsterdã, Roma, Milão,
Frankfurt, Stuttgart, Viena e Londres” (WORLD WIDE..., 1995, p. 11).
No Brasil, a ineficiência das agências encarregadas de aplicar a
legislação de controle e controle ambiental está diretamente associada à falta de
vontade política para implementar políticas públicas que conciliem o
crescimento econômico do país com programas de conservação de recursos
naturais. O controle do tráfico de animais silvestres no Brasil ocorre, em sua
maioria, por denúncias anônimas. Há vigilância nas rotas já conhecidas como
utilizadas pelo crime, com a ajuda da Polícia Federal, mas os animais são
transportados, muitas vezes, em veículos pequenos, para não atrair a atenção dos
agentes. Utilizam-se técnicas que levam muitas espécies à morte, como malas ou
fundos falsos de carros falsos, e os traficantes preferem filhotes porque dão
pouco trabalho e atraem menos a atenção.
A atual Constituição Brasileira, promulgada em 1988, inclui um
importante instrumento legal para a proteção das espécies que compõem a nossa
biodiversidade. Em seu Capítulo VI, art. 225, § 1º, inciso VII, determina como
responsabilidade do Poder Público "proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma
da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a
extinção das espécies ou submetam os animais à crueldade" (BRASIL, 1988). E
a Lei 9605/98, a chamada “Lei dos Crimes Ambientais”, que, em seu art. 29, tem
a seguinte redação: “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna
silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou
autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”
(BRASIL, 1998), sujeita o infrator à pena de detenção de seis meses a um ano e
multa.
Porém, a pena e a fiscalização não são suficientes para inibir o tráfico.
Percebe-se que o controle, tanto nos países de origem quanto nos países de
destino, não é efetivo, pois o tráfico de animais silvestres continua crescendo.
Mesmo que os países-membros da CITES não coloquem esse crime
ambiental no mesmo nível das outras formas de tráfico (ZIMMERMANN,
2012), pelo menos as sanções penais para o comércio ilegal da vida selvagem
precisam ser revistas, e as punições, aplicadas. O combate ao tráfico de animais
selvagens necessita de campanhas para mudar as atitudes sociais em relação ao
consumo de animais selvagens. Deve haver imposição e repressão, mas a
informação, a educação e a consciência ambiental são essenciais. Os cidadãos
devem conscientizar-se para fazer escolhas individuais que não ameacem as
espécies, como apoiar empresas ambientalmente responsáveis e não comprar
animais silvestres protegidos por lei. Somente com a participação de todos o
tráfico da vida selvagem será algo do passado.

Obs.: Publicada originalmente em 17 de maio de 2018.

Mas não são somente os animais silvestres que sofrem em mãos humanas.
Os animais domésticos e domesticados também são vitimizados. E, apesar das
diversas legislações que tentam proteger os animais de tração da crueldade a que
são submetidos, muitos ainda sucumbem devido à exaustão e aos maus-tratos.
As carroças, que ainda persistem nas ruas e estradas, serão o assunto do próximo
capítulo.

CAPÍTULO 6
CARROÇAS: A CRUELDADE QUE PERSISTE NAS RUAS

“NEGLIGÊNCIA, DESUMANIDADE, IRRESPONSABILIDADE,
BARBÁRIE”, esses são alguns dos termos que resumem o tratamento
dispensado aos nossos cavalos de rua” (INSTITUTO NINA ROSA, [s.d.]).

Em pleno século XXI presenciamos diariamente nas ruas das cidades (e


também na zona rural) carroças puxadas por cavalos famintos, sedentos e
submetidos a todo tipo de maus-tratos. Conduzidos por homens, mulheres e até
crianças despreparadas e sem a menor consciência do respeito devido àquele
animal que lhes provê o sustento. Além disso, após uma vida inteira de trabalho
excessivo são abandonados para morrer, simplesmente descartados.
Na maioria dos casos, os animais trabalham o dia todo em meio ao
trânsito perigoso, sob pressão, gritos e chibatadas, expostos ao sol forte ou ao
frio e à chuva. Muitas vezes são alugados pelo dono para trabalharem também
no período noturno, sem descanso. Os apetrechos que os prendem à carroça
causam-lhes ferimentos e desconforto. O resultado só poderia ser animais
apáticos, desnutridos, cansados, humilhados, subjugados.
Infelizmente, TODAS as Cinco Liberdades, proclamadas pela Farm
Animal Welfare Committee (FAWC) são violadas em relação a esses animais: a
liberdade de sede, fome e má-nutrição; a liberdade de dor e doença; a
liberdade de desconforto; a liberdade para expressar o comportamento
natural da espécie; e a liberdade de medo e de estresse (INSTITUTO
CERTIFIED HUMANE BRASIL, [s.d.]; CONSELHO FEDERAL DE
MEDICINA VETERINÁRIA, [s.d.]).
Em Porto Alegre, a exemplo de outras cidades, como Curitiba e Rio de
Janeiro, já existe uma lei que proíbe os veículos de tração animal. A Lei nº
10.531, de 10 de setembro de 2008, estabelecia um prazo de oito anos, a partir
da data de sua publicação, para que veículos de tração animal fossem proibidos
de circular em Porto Alegre. As exceções são: em locais privados; na área
rururbana, incluindo-se os núcleos urbanos intensivos; na região periférica; em
locais públicos, para fins de passeios turísticos; e em rotas e baias que sejam
autorizadas pelo Executivo Municipal. A lei instituiu o Programa de Redução
Gradativa do Número de Veículos de Tração Animal (VTAs) e de Veículos de
Tração Humana (VTHs), que propunha estabelecer as ações que viabilizassem a
transposição, por meio de políticas públicas, dos condutores de VTAs e de VTHs
para outros mercados de trabalho (PORTO ALEGRE, 2008). O prazo expirou
em 2016, porém ainda se verifica um grande número de carroças circulando
pelas ruas da capital gaúcha, num visível desrespeito à lei, tracionadas por
animais sobrecarregados, espancados e à beira da exaustão.
No Brasil, o Decreto nº 24.645, de 1934, hoje revogado, estabelecia
medidas de proteção aos animais, que englobavam os animais de tração. Do art.
3º foram selecionados apenas alguns incisos que interessam ao tema em questão,
preservando-se a grafia original:

Art. 3º Consideram-se maus tratos:
I - praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal;
[...]
III - obrigar animais a trabalhos excessívos ou superiores ás suas fôrças e a todo
ato que resulte em sofrimento para deles obter esforços que, razoavelmente, não
se lhes possam exigir senão com castigo;
IV - golpear, ferir ou mutilar, voluntariamente, qualquer órgão ou tecido de
economia, exceto a castração, só para animais domésticos [...];
[...]
IX - atrelar animais a veículos sem os apetrechos indispensáveis, como sejam
balancins, ganchos e lanças ou com arreios incompletos incomodos ou em mau
estado, ou com acréscimo de acessórios que os molestem ou lhes perturbem o
funcionamento do organismo;
X - utilizar, em serviço, animal cego, ferido, enfermo, fraco, extenuado ou
desferrado, sendo que êste último caso sómente se aplica a localidade com ruas
calçadas;
XI - açoitar, golpear ou castigar por qualquer forma um animal caído sob o
veículo ou com êle, devendo o condutor desprendê-lo do tiro para levantar-se;
XII - descer ladeiras com veículos de tração animal sem utilização das
respectivas travas, cujo uso é obrigatório;
[...]
XIV - conduzir veículo de tração animal, dirigido por condutor sentado, sem que
o mesmo tenha bolaé fixa e arreios apropriados, com tesouras, pontas de guia e
retranca;
[...]
XVI - fazer viajar um animal a pé, mais de 10 quilômetros, sem lhe dar
descanso, ou trabalhar mais de 6 horas continuas sem lhe dar água e alimento
(BRASIL, 1934).


Já o Decreto Lei nº 3.688/1941 (Lei das Contravenções Penais), ainda
vigente, em seu art. 64 prevê: “Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a
trabalho excessivo: Pena – prisão simples, de dez dias a um mês, ou multa, de
cem a quinhentos mil réis” (BRASIL, 1941).
E, segundo o art. 225 da Constituição Federal de 1988:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público: [...] VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade (BRASIL, 1988).

Não poderia deixar de ser citado, também, o já famoso art. 32 da Lei
9.605/98:

Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos
ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e
multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel
em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem
recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre
morte do animal (BRASIL, 1998).


O que ocorre é que, mesmo com a legislação citada acima, os animais de
tração (assim como diversos outros) estão longe de serem protegidos e tratados
com dignidade e respeito.
Uma alternativa aos veículos de tração animal foi criada em Santa Cruz
do Sul, cidade do interior do Rio Grande do Sul, por um engenheiro de
produção, sensibilizado com a situação precária dos animais utilizados por
catadores de materiais recicláveis para transportar cargas de peso excessivo. Ele
criou o Cavalo de Lata, um veículo elétrico urbano para coleta seletiva. Iniciado
no final de 2012, o empreendimento visa a dar conforto e melhores condições às
pessoas que trabalham com a coleta seletiva, prevenir acidentes de trânsito e
reduzir o número de animais afetados por maus-tratos (AGÊNCIA DE
NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS, 2013b).
O Cavalo de Lata é energeticamente eficiente, pois demanda valores
entre R$ 0,02 e R$ 0,06 de eletricidade por quilômetro rodado (valores de 2013).
Além de ecologicamente correto, o modelo também se preocupa com a
segurança dos condutores, pois foram instalados cintos de segurança, freios a
disco, sinalizadores laterais e faixas reflexivas seguindo as medidas
determinadas pelo Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN). Com
potencial para transportar duas pessoas e até 500 kg de carga, a “versão metálica
do cavalo” já foi exposta em diversas cidades brasileiras (AGÊNCIA DE
NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS, 2013b).
Cabe agora às prefeituras proporem uma forma de subsídio ao “Cavalo
de Lata” para que as pessoas que sobrevivem da coleta de resíduos e de
pequenos fretes, hoje executados com veículos de tração animal, possam adotar
esse novo tipo de meio de transporte. Faz-se necessário, também, habilitar os
condutores para que saibam manejar esse veículo.
Ressalta-se que na Estrada Chapéu do Sol, zona Sul de Porto Alegre, há
um abrigo para cavalos recolhidos pela Empresa Pública de Transporte e
Circulação (EPTC) de situações ilegais, como tração de carroças em via pública.
Muitos deles chegam ao local em situação deplorável e alguns quase mortos. No
abrigo eles recebem tratamento veterinário e, depois de terem sua saúde
normalizada, podem ser adotados. Quando se configuram os maus-tratos, o
animal não retorna para o dono, nem que este reclame a propriedade
(MASSARO, 2018).
Ao adotar um desses cavalos, o adotante deve estar ciente de que o
animal não poderá ser comercializado; realizar qualquer tipo de trabalho
(especialmente os de tração de carroça/ charrete/ arado); e ser usado em práticas
esportivas, como saltos, corridas, cavalgadas, etc. (PORTO ALEGRE, [s.d.]). É
uma oportunidade para que estes animais tenham, pelo menos até o final de suas
vidas, a dignidade e o respeito que lhes foram negados por tanto tempo.
Não basta simplesmente proibir as carroças. Uma alternativa viável tem
de ser apresentada para acabar de vez com a crueldade a que são submetidos os
animais de tração.

Obs.: Publicada originalmente em 26 de agosto de 2018.

Aproveitando que foram abordados os maus-tratos aos animais de tração, o
próximo capítulo tratará de um fato ocorrido no final do mês de julho de 2018 e
que obteve grande repercussão: um cavalo foi pintado por crianças em uma
atividade que teria cunho pedagógico. A partir das opiniões apresentadas o leitor
poderá, também, posicionar-se a respeito: houve ou não abuso ao animal?











CAPÍTULO 7
O CASO DO CAVALO PINTADO POR CRIANÇAS: MAUS-TRATOS?


Recentemente foi notícia – e polêmica – em todo o Brasil o caso do
cavalo que foi pintado com tinta guache por crianças na Escola de Equitação da
Hípica no Distrito Federal. O caso teve muita repercussão na mídia em geral e
nas redes sociais, com pessoas defendendo e outras condenando a atividade, que
teria cunho pedagógico.
A polícia irá investigar se o animal sofreu maus-tratos, já que o caso
resultou em denúncia na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (Dema) por
Ana Paula Vasconcelos, membro da Comissão de Defesa dos Direitos dos
Animais da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Distrito Federal
(OAB/DF): “Depois da denúncia, fomos até o local e vimos o quanto o cavalo
estava acuado e triste. Conversamos com os responsáveis da escola e disseram
que o animal havia sido resgatado porque sofria maus-tratos. Se fosse um animal
de sangue puro, com um valor econômico alto, fariam isso? Usaram o animal
como objeto” (NASCIMENTO, 2018).
A Escola de Equitação da Hípica, por sua vez, afirmou que repudia
qualquer ato de maus-tratos aos animais, além de dizer que tem experiência na
interpretação de sinais emitidos por cavalos e que no caso em questão não houve
indício de estresse. Ainda de acordo com a escola, a atividade foi realizada em
conjunto com a pedagoga parceira do estabelecimento e aprovada por um
médico veterinário.
Haveria muitos pontos para se discutir após o ocorrido, desde éticos,
como a objetificação de um animal senciente, até se esse seria um método
positivo do ponto de vista pedagógico. Porém, como sempre, vamos nos ater à
esfera jurídica criminal. Afinal, os responsáveis poderão responder por maus-
tratos, de acordo com o artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais? Lembrando que
o legislador, ao redigir o tipo penal, feriu o princípio da taxatividade ao não ter
descrito quais atos se enquadrariam como sendo de abuso e maus-tratos. De uma
perspectiva doutrinária, de acordo com Luiz Regis Prado (2016): “As ações
típicas alternativamente previstas são: a) praticar ato de abuso (usar mal ou
inconvenientemente – v.g., exigir trabalho excessivo do animal -, extrapolar
limites, prevalecer-se); b) maus-tratos (dano, ultraje); c) ferir (ofender, cortar,
lesionar); d) mutilar (privar de algum membro ou parte do corpo); e) realizar
(pôr em prática, fazer) experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que
para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos –
elemento normativo do tipo (§ 1º)”.
Para podermos definir se o ato pode ser enquadrado como maus-tratos
devemos ouvir a pessoa habilitada para dar tal diagnóstico: o médico veterinário.
De acordo com o site Metrópoles, “os agentes dos Conselhos de Medicina
Veterinária (regional do DF e federal) não encontraram quaisquer irregularidades
ou indícios de maus-tratos durante vistoria das instalações ou nos espaços
reservados aos animais” (LORRUAMA, 2018). Segundo os Conselhos, tudo
estava de acordo com critérios de bem-estar animal estabelecidos.
Já conhecido o parecer dos Conselhos, alguns profissionais com
diferentes posições foram convidados por mim a exporem suas opiniões.
De acordo com o médico veterinário Henrique dos Reis Noronha, o
evento foi positivo. Segundo o profissional, a atividade aconteceu com a
supervisão de médico veterinário especialista em equinos, que conhece o animal
utilizado e seu comportamento natural, sendo a equipe da Hípica extremamente
qualificada e reconhecida nacionalmente por sua qualidade. “Os cavalos, como
outros herbívoros, possuem uma sensibilidade cutânea extremamente
desenvolvida. Em especial, os cavalos possuem muito mais mecano-receptores
(táteis) que a grande maioria das espécies. Do ponto de vista do comportamento,
diversos trabalhos ao longo dos anos ressaltam a importância do “toque”, do
grooming ou até mesmo do self-grooming como alguns chamam, afirmando que
o toque direto, ou (indireto) através de equipamentos (escovas, esponjas, pincéis)
são benéficos à relação homem x cavalo, baseando-se no seu comportamento
natural e suas interações, favorecendo uma relação prazerosa e de confiança para
ambos. Por outro lado, mesmo com toda inteligência que um cavalo comprova
facilmente ter, alguns sentimentos como ‘humilhação’, por exemplo, são
sentimentos exclusivamente humanos, por definição”.
Já a também médica veterinária Moira Civeira tem uma opinião diferente
sobre o assunto. Ela ressalta que todos os animais possuem sua zona de conforto
ou de fuga frente a um estranho e que, com o animal acorrentado, seria
impossível fugir caso não estivesse se sentindo confortável. Esta zona muitas
vezes é utilizada em manejo, no qual o animal se afasta para seguir em frente, ao
destino proposto pelo humano. Segundo ela, as muitas vozes das crianças (ou
mesmo gritos), o toque e a pressão ao desenhar podem ser fatores estressantes ao
animal, neste caso mais velho, magro e sem reação. Cada vez mais lutamos para
não haver estudos em animais vivos, e esta atividade contraria o quesito de
respeito aos animais. Animais não são brinquedos, são seres sencientes que
podem reagir frente a um estímulo desagradável e gerar reações que podem
colocar as crianças em risco. E conclui afirmando que a interação homem e
animal deve ser cada vez mais respeitosa e ética.
Adriana Pessôa, também médica veterinária e ativista pelos direitos dos
animais, por sua vez afirmou que “as pessoas estão começando a acordar para a
questão dos direitos animais. Temos o dever de não expor a dignidade dos
animais, além de garantir sua integridade, ajudá-los e protegê-los, preservando
sua identidade e liberdade. Ainda temos dificuldade de entender que o animal
deve existir por si só, livre de nossas amarras e subjugações”.
Para finalizar, ressalto que os principais doutrinadores não se referem a
maus-tratos como uma ação que possa infligir danos emocionais aos animais –
somente físicos. Já as definições de maus-tratos, de acordo com a Criminologia,
são diferentes. Agnew (1998, p. 179) define como “qualquer ato que contribui
para a dor ou morte de um animal ou que ameace o seu bem-estar”, enquanto
Ascione (1993) refere-se a maus-tratos como um “comportamento socialmente
inaceitável que intencionalmente provoca dor, sofrimento ou angústia
desnecessários e/ou morte de um animal”. Portanto, para a Criminologia, não
importa o tipo de sofrimento, podendo ser físico ou emocional: ambos são
considerados maus-tratos.
Ante o exposto convido você, caro leitor, a dar sua opinião. Afinal,
podemos dizer que houve maus-tratos ao equino?

Obs.: Publicada originalmente em 03 de agosto de 2018.


Os temas até agora tratados versaram sobre crueldade e maus-tratos
infligidos aos animais não-humanos. A seguir será enfocada outra forma de
abuso, onde, além do sofrimento, faz-se presente a incapacidade de dizer “não!”:
a zoofilia. É um crime que causa traumas físicos e psicológicos aos animais, e,
em muitos casos, os leva à morte, num ato que objetiva transformar o animal em
mero objeto de prazer.




CAPÍTULO 8
ZOOERASTIA: O REPUGNANTE ATO PARA SATISFAÇÃO DO SER
HUMANO


Entre os diversos crimes contra aos animais já abordados nessa coluna,
certamente um dos mais abjetos é a zooerastia. Zooerastia (também chamada de
zoofilia, bestialidade ou abuso sexual), consiste no ato sexual de humanos com
animais e é praticada desde tempos remotos, conforme achados em pinturas
rupestres.
A gama de animais usados em zooerastia é bastante diversificada. Inclui
vacas, éguas, mulas, porcas, cadelas, gatas, ovelhas, cabras, coelhas, patas e
galinhas. O ato sexual com animais traz, como consequências, graves lesões
psicológicas, emocionais e físicas ao animal, como hemorragias internas,
rupturas anais, ferimentos na vagina e cloaca. Muitas vezes, o agressor não se
contenta em estuprar, mas também tortura e mata a vítima. E, quando o animal
não morre no momento do abuso, pode vir a óbito posteriormente em
decorrência dos ferimentos, pois seu organismo não possui estrutura para
atividade sexual com humanos.
O discurso usado por aqueles que abusam sexualmente de animais é
idêntico ao utilizado para justificar outras formas de agressão sexual
intrafamiliar. Um estudo conduzido pela Universidade de Iowa (EUA)
comprovou que o sexo com animais pode ser um importante indicador de
potencial co-ocorrência de crimes sexuais contra seres humanos, indicando uma
possível ligação entre esses delitos (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DE DIREITOS
ANIMAIS, 2014a). Alguns abusadores chegam ao ponto de afirmar que o
animal “queria e estava gostando”. Segundo a Agência de Notícias de Direitos
Animais (2014a), claramente não há benefício algum para os animais; eles
simplesmente não podem dizer “não” aos seus agressores.
Para Piers Beirne, professor de Sociologia e Estudos Jurídicos na
University of Southern Maine – um de seus cursos é sobre abuso de animais –,
estudos psiquiátricos recentes tendem a considerar a zooerastia como uma
perversão sexual praticada em grande parte por jovens do sexo masculino com
personalidades psicopatas e que, às vezes, também têm tendências agressivas e
sádicas. Um mínimo de 40% a 50% de todos os garotos norte-americanos que
moram na zona rural já experimentam alguma forma de contato sexual com
animais (BEIRNE, 2009).
No Brasil, uma pesquisa sobre zoofilia conduzida pelo médico urologista
Stênio de Cássio Zequi com 492 homens que vivem em zonas rurais identificou
que “quatro entre 10 homens de zonas rurais já fizeram sexo com animais;
80,1% dos entrevistados passaram de um a 26 anos na prática” (SEXO COM
ANIMAIS..., 2011). Mas engana-se quem pensa que a zooerastia ocorre apenas
no campo. Há notícias de festas universitárias e outras situações urbanas que
incluíram sexo com animais. E, para piorar a situação, há países onde “bordéis
de animais” são atividades legais.
Piers Beirne ainda afirma que a situação dos animais como vítimas que
são abusadas pode ser comparada à das mulheres e, em alguns casos, à das
crianças porque: as relações sexuais entre homens e animais envolvem coerção;
estas práticas normalmente causam dor e até morte; e os animais são incapazes
de consentir de uma maneira que os humanos possam compreender prontamente
ou falar sobre seu abuso (BEIRNE, 2009). A zooerastia também é similar ao
estupro de humanos, pois leva a uma erotização da violência, controle e
exploração.
Pode-se assegurar que, mais uma vez, encontra-se presente o
antropocentrismo. Os animais, apesar de sencientes, são vistos como objetos,
propriedades com status de patrimônio ambiental. Não são reconhecidos como
sujeitos de direitos. No Brasil o abuso é crime, conforme o artigo 32 da Lei
9.605/98 (BRASIL, 1998), a chamada Lei de Crimes Ambientais.
Esse crime praticamente não é punido porque não há testemunhas,
apenas o agressor – ou agressores, cúmplices – e a vítima, que não pode
expressar por meio de palavras o que ocorreu. Piers Beirne afirma ainda que
processos criminais de abuso sexual têm sido eventos muito raros. Se,
porventura, o ato for testemunhado por alguém (que não seja o ofensor), e
relatado às autoridades, a condução do caso dependerá de como é
problematizado pelas agências de controle social – como agressão sexual animal,
como um sério problema social, como brincadeira, como um assunto privado, e
assim por diante. O Direito tem, portanto, um papel importante na defesa dos
direitos dos animais (BEIRNE, 2009).
Nas últimas décadas, com o advento da internet, é fácil verificar que a
zooerastia transformou-se numa verdadeira indústria pornográfica, que lucra por
meio da exploração dos animais. A ganância do ser humano não tem limites, e a
tecnologia proporciona o acesso a fotos, vídeos, e, até mesmo, a cursos de
adestramento para fins sexuais. Há, inclusive, venda e aluguel de animais
“criados e treinados” com a finalidade de proporcionar prazer aos humanos.
Quando são analisadas imagens sexuais de animais online, pode-se observar
facilmente que a zooerastia é parte da mesma sociedade patriarcal que resulta em
estupros e abuso sexual de mulheres e crianças. Por outro lado, as redes sociais
servem, também, como meios de expressar indignação e promover mobilizações
contra essa abominável prática.
Para finalizar, cabe lembrar que, muitas vezes, os garotos são
incentivados a provar sua “masculinidade” iniciando a vida sexual com a
utilização de animais. Volto a afirmar, como sempre faço nessa coluna, que o
melhor meio de combater o abuso sempre será através da educação, com a
consequente conscientização sobre o respeito à vida, em todas as suas formas.
Obs.: Publicada originalmente em 14 de junho de 2018.

Com a proximidade da Copa do Mundo, notícias veiculadas pela mídia
envolvendo animais serviram de mote para que importantes assuntos fossem
desenvolvidos nos três capítulos a seguir. Primeiramente, a utilização de um urso
adestrado possibilitou o enfoque crítico da exploração de animais para o
divertimento humano em circos, rinhas, touradas e outros “espetáculos”. Após,
devido ao abandono, o extermínio dos animais de rua em algumas cidades russas
permitiu com que fosse feita uma triste conexão com outros casos idênticos
ocorridos no Brasil, onde é mais conveniente e simplista erradicar os animais do
que promover a implantação de efetivas políticas públicas que combatam o
abandono.
























CAPÍTULO 9

ANIMAIS COMO ENTRETENIMENTO: O LADO PERVERSO DO


DIVERTIMENTO HUMANO

No dia 15 de abril de 2018 foram divulgadas pelo mundo todo as
imagens de um urso – animal que é símbolo da Rússia – chamado Tim. Durante
um jogo de futebol da terceira divisão russa, o urso, controlado por um domador
e usando uma focinheira, posicionou-se à frente do gramado. Movimentou as
mãos como se estivesse batendo palmas, segurou a bola e a entregou ao árbitro
da partida.
Obviamente, se pudesse escolher, esse animal não estaria lá, contrariando
todos os comportamentos naturais de sua espécie, obedecendo comandos.
Obediência obtida através de treinamentos humilhantes, pois “espancamentos,
choques elétricos e privação de comida são métodos usados pelos tratadores
russos para fazer com que os ursos realizem truques depreciativos e estúpidos”,
disse Mimi Bekcechi, chefe de campanhas da People for the Ethical Treatment
of Animals (PETA), na Austrália.
Essa exibição é mais um exemplo de exploração animal cujo objetivo é o
entretenimento do ser humano. "Os ursos são animais selvagens e, como tal, têm
necessidades muito específicas e complexas. Ser amordaçado e forçado a
realizar atos antinaturais na frente de grandes multidões de pessoas causa
tremendo estresse e pode ter um impacto incalculável sobre esses animais, tanto
psicológicos quanto físicos", afirma Elisa Allen, da PETA/UK (USO DE
URSO..., 2018).
Devem ser citadas também as rinhas de galo e de cães, práticas cruéis
cujos maus-tratos iniciam-se muito antes de os animais entrarem nas arenas. A
preparação dos cães para rinhas nos EUA era composta de treinamentos
dolorosos, como eletrochoques, explosões de pólvora perto da cabeça dos
animais, pimenta e alimentação com altas doses proteicas. Atualmente, os
treinamentos também incluem maus-tratos, como espancamento (VIDANIMAL,
[s.d.]. Quanto aos galos, são cortadas cristas e barbelas; o bico e as esporas são
reforçados com aço inoxidável e, quando não estão em “treinamento”, são
mantidos em minúsculas gaiolas para atuar num combate que só termina com a
exaustão ou a morte de um dos competidores (LEVAI, [s.d.]).
No Brasil, apesar das proibições, as rinhas seguem acontecendo na
clandestinidade. E, novamente, para entretenimento do homem.
A vaquejada, o rodeio e expressões artístico-culturais similares ganharam
o status de manifestações da cultura brasileira e foram elevadas à condição de
patrimônio cultural imaterial do país, estabelecida pela Lei nº 13.364/2016
(BRASIL, 2016). Além da vaquejada e do rodeio, a lei estabelece como
patrimônio cultural imaterial do Brasil atividades como as montarias, provas de
laço, apartação e provas de rédeas.
Já a chamada “farra do boi”, continua a ocorrer, apesar de proibida em
todo o estado de Santa Catarina desde 1997 por meio do Recurso Extraordinário
nº 153.531, do Supremo Tribunal Federal. O boi é perseguido por uma multidão
entre ruas de cidades e vilarejos, em matas e praias. É provocado e agredido com
pedradas e pauladas, numa barbárie que pode durar dias, até, geralmente, ser
morto e ter sua carne distribuída entre os “farristas” (BONGIOLO, 2007). Isso é
divertido? Não para o animal!
As touradas, por sua vez, fazem parte da cultura de países como França,
Espanha e Portugal, apresentando também várias situações de maus-tratos
cometidas contra os touros. Além das touradas, na Espanha, mais
especificamente no município de Medinaceli, ocorre a celebração chamada
Touro de Fogo no segundo sábado de novembro. Segundo Soldera (2009, não
paginado), “durante cerca de 23 horas, como em todos os anos, um grupo de
jovens locais agarra um touro em nome da tradição” e coloca duas bolas em seus
chifres, ateando fogo logo a seguir. Então, soltam o touro que, aterrorizado, se
contorce com os “olhos abrasados pelo calor das chamas e dos pedaços de brasa
que saltam das coroa de espinhos que lhe colocaram”. Após horas de sofrimento
agoniza até a morte, sendo que essa tortura, assistida por espectadores que
aplaudem entusiasmados, é financiada pelos governantes do município.
E os circos? Tom Regan os considera uma das facetas mais perversas de
crueldade, onde os animais são explorados para o divertimento humano. Acentua
a privação sistemática a qual esses seres são sujeitados pela absurda limitação de
espaço e espancamentos por parte de seus tratadores, ocasionando grave
desestruturação social e severas anormalidades comportamentais nesses animais.
Regan comparou as condições de vida dos animais de circo às dos criminosos
atrás das grades (REGAN, 2006). No Brasil, alguns estados (Rio Grande do Sul,
Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina, entre
outros) já sancionaram leis que proíbem a utilização de animais em circos.
Regan (2006, p. 172) também afirma que “somente quando todos os
animais que ‘apresentam números’ estiverem livres é que haverá justiça”. E, ao
se perceber o sucesso estrondoso do Cirque du Soleil, fundado no Canadá em
1984 e que não usa animais em suas apresentações, compreende-se que não há
mais justificativa para a utilização de animais em circos.
Para concluir, e voltando ao urso da Rússia, afirmo que o animal não é
um tolo, repetindo ações para os quais fora treinado. Ele foi obrigado a isso.
Nós, seres humanos, é que precisamos nos conscientizar que os animais não são
objetos de entretenimento.

Obs.: Publicada originalmente em 03 de maio de 2018.

































CAPÍTULO 10
ABANDONO DE ANIMAIS: UM CRIME SILENCIOSO


Apesar da estreita união homem-animal, constata-se um grande número
de casos de maus-tratos contra os animais, cometidos pelos seres humanos:
abandono, negligência, espancamentos, queimaduras, tráfico de animais
silvestres, zoofilia, promoção de rinhas, esgotamento de matrizes devido à
exaustiva reprodução, caça ilegal e uso de animais para fins recreativos, entre
outros.
Os casos de abandono de animais constituem-se em um grave problema,
causando prejuízos para a ecologia, economia, saúde pública e bem-estar animal
(ALVES et al., 2013). Assim como muitos animais são amados por seus tutores,
outros são simplesmente descartados como mercadorias sem valor. Os animais
errantes podem sofrer de fome, desnutrição, parasitas, doenças, envenenamento
e outras formas de abuso.
Segundo a World Veterinary Association, há cerca de 200 milhões de
cães abandonados no mundo. No Brasil, há 30 milhões de animais vivendo em
situação de abandono. Já em Porto Alegre e Região Metropolitana, RS, Brasil,
há uma estimativa de que existam 500 mil cães e gatos errantes (WORLD
VETERINARY ASSOCIATION, 2016).
No Brasil, o abandono é uma realidade comum no dia a dia das ONGs e
nas cidades como um todo. Os descartes acontecem também em parques, praças,
estradas e portas de pet shops. Nem os hospitais veterinários públicos escapam.
Há quem interne o animal doente e não volte mais.
Patronek et al. (1996) afirmam que os cães com maior risco de abandono
são aqueles com problemas comportamentais, obtidos de abrigos ou a baixo
custo, com idade igual ou superior a seis meses, não castrados e também os que
não frequentaram cursos de obediência (adestramento).
A Fundação Affinity, por sua vez, realizou, em 2010, uma pesquisa na
Espanha sobre animais abandonados, adotados e perdidos. Os dados revelaram
que foram recolhidos, naquele ano, aproximadamente, 109 mil cachorros e 36
mil gatos (DEP INSTITUTO; FUNDACIÓN AFFINITY, 2010).
Eis o perfil dos animais abandonados: entre os cães, 56,2% eram machos
e 43,8% fêmeas; no caso dos gatos, 50,8% eram machos e 49,2% fêmeas;
aproximadamente 58,0% dos cães eram adultos; a maioria dos cães (81,6%) e
dos gatos (89,1%) não tinha raça definida; quanto ao tamanho, 43,6% dos cães
abandonados eram de médio porte; 29,3% de grande porte e 27,1% de pequeno
porte; quanto ao estado de saúde, 66,5% dos cães estavam saudáveis; 20,4%
apresentavam alguma enfermidade e 13,1% tinham algum ferimento; no caso
dos gatos, 59,7% gozavam de boa saúde; 25,3% estavam doentes e 15,0%
apresentavam ferimentos por maus-tratos (DEP INSTITUTO; FUNDACIÓN
AFFINITY, 2010).
Em uma pesquisa conduzida por Salman et al. (1998) nos Estados Unidos
em doze abrigos de animais, envolvendo 1.984 cães e 1.286 gatos, foram
identificadas as principais causas de abandono de gatos e cães. Em comum a
ambas as espécies são: mudança de endereço; o senhorio que não permitia
animais de estimação; muitos animais em casa; custo de manutenção dos
animais de estimação; proprietário tendo problemas pessoais; instalações
inadequadas; e falta de lugar disponível para ninhadas.
Nos casos dos gatos, as alergias na família, a sujeira na casa e a
incompatibilidade com outros animais de estimação estavam entre as dez
principais razões citadas. Entre as causas específicas para o abandono de cães
estavam donos que não tinham tempo para o animal de estimação, doença(s) do
animal e comportamento como morder.
Cabe lembrar que o abandono de animais é uma forma de maus-tratos,
crime que está tipificado, no Brasil, no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais
(9.605/98). O abandonador está sujeito a uma pena de detenção de 3 meses a 1
ano, além de multa. Apesar disso, pode-se afirmar que na maioria das vezes
quem pratica esse crime acaba impune, pelo abandono de animais ser um crime
silencioso e, geralmente, sem testemunhas.

Obs.: Publicada originalmente em 12 de outubro de 2018.














CAPÍTULO 11
EXTERMÍNIO DE ANIMAIS DE RUA: NÃO ACONTECE SÓ NA RÚSSIA

Copa do Mundo não é só torcida e alegria. Várias reportagens estão


denunciando matança de cães de rua na Rússia, país-sede do evento. Os animais
foram exterminados para “limpar” o país para a Copa.
De acordo com uma petição online contra a matança, as cidades-sede
criaram “esquadrões da morte” de cães. Uma das primeiras reportagens a trazer
evidências concretas sobre o extermínio foi publicada pelo The Moscow Times
em abril. Nela, foi revelado que

a prefeitura de Ecaterimburgo, uma das cidades-sede, pagou o equivalente a
cerca de 530 mil dólares para que uma empresa capturasse 4.600 cachorros de
rua. Pelo contrato, segundo o jornal, 4.050 deles deveriam ser mantidos em
abrigos por dez a quatorze dias. Se ninguém viesse buscá-los, sofreriam
eutanásia (LISBOA, 2018).

Na verdade, “esta não é a primeira acusação do tipo feita contra
autoridades russas. Em 2014, nas Olimpíadas de Inverno de Sochi, reportagens
relataram uma situação idêntica” (LISBOA, 2018).
Apesar da repercussão mundial do fato, essa não é uma situação nova ou
isolada. Extermínios de cães de rua já aconteceram várias vezes, aqui mesmo, no
Brasil. Serão abordadas três ocorrências.
Em maio de 2013, em Santa Cruz do Arari, estado do Pará, o prefeito
buscou uma solução simplista para o problema de excesso de cães no município,
pagando à população R$ 5,00 por macho e R$ 10,00 por fêmea capturados nas
ruas. O prefeito pretendia obter vantagem política junto a um grupo de eleitores.
Foi utilizada até uma embarcação pertencente ao município (VIEGAS, 2018).
Como havia pagamento pela captura dos animais, não só cães de rua, mas
também os que tinham lares foram roubados de suas casas e encaminhados à
morte. Os cães, depois de presos, imobilizados e levados para a embarcação,
eram lançados no rio para morrerem afogados. Outros foram abandonados na
Ilha do Francês, onde vive uma população ribeirinha extremamente carente
(PARÁ, 2013).
Os cães deixados na ilha ficaram 15 dias sem comer. Alguns ainda
tinham patas e focinho amarrados com arame farpado quando foram encontrados
pela equipe de resgate, formada por protetores de São Paulo e de Belém do Pará
(CHUECCO, 2013). Mais de oitenta cães sobreviveram à chacina de Santa Cruz
do Arari, mas cerca de 300 foram mortos por afogamento ou abandono.
A Constituição Federal (BRASIL, 1988) assim aborda o tema:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito,
incumbe ao Poder Público: [...] VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na
forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade [...].

A Lei 9.605/98 (BRASIL, 1998), em seu art. 32, tem a seguinte redação:
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de três
meses a um ano, e multa. [...] § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço,
se ocorre morte do animal. Além disso, a mesma lei, em seu art. 15, II, (r),
considera circunstâncias agravantes se o agente é funcionário público no
exercício de suas funções, o que se aplica ao caso de Santa Cruz do Arari.

O prefeito foi condenado, em maio de 2018, a 20 anos de prisão mais
multa, porém da decisão cabe recurso (EX-PREFEITO ACUSADO..., 2018).
Outro caso ocorreu no final de 2014, quando 126 cães e três gatos foram
mortos na cidade de Bom Jesus, localizada nos Campos de Cima da Serra, no
Rio Grande do Sul. Quatro funcionários da prefeitura foram indiciados pela
Polícia Civil. Três deles admitiram participação no caso e explicaram que as
tarefas foram compartilhadas: enquanto um teve a ideia, os demais se dividiram
a fim de comprar o veneno, adquirir o alimento e fazer a mistura fatal
(DUARTE, 2014). Os animais foram envenenados com estricnina, circunstância
que lhes impôs sofrimento exagerado, revelando-se absolutamente cruel, haja
vista que o emprego deste veneno causa paralisia dos músculos dos animais,
culminando na sua morte por asfixia, passando antes por convulsões (RIO
GRANDE DO SUL, 2017).
Os animais começaram a aparecer mortos na manhã seguinte à
distribuição do veneno. Os lugares das mortes foram os mais variados. Foram
atingidos cachorros de rua e de pátio, pois o veneno foi distribuído
aleatoriamente. Como o extermínio foi combinado fora da prefeitura, em
ambientes informais, a ação, cujo objetivo seria o de conter a proliferação dos
animais na cidade, ficou descaracterizada como uma ordem oficial da
administração municipal (DUARTE, 2014). Fato semelhante já havia acontecido
em 2010 ou 2011, quando morreram mais de 40 cães.
Para encerrar, no dia 6 de março de 2018 mais de 30 cães foram mortos
pela Prefeitura do município de Igaracy, no sertão paraibano. De acordo com o
secretário de Saúde do município, o motivo do extermínio é que os animais
estavam abandonados nas ruas, apresentavam perfil violento e doenças. O
Ministério Público investiga denúncias de que os animais foram mortos a
pauladas dentro de um prédio público da cidade. Em abril de 2018 os secretários
de Saúde e Infraestrutura do município de Igaracy foram denunciados pelo
Ministério Público da Paraíba (PREFEITURA MANDA MATAR..., 2018).
Foram abordados, aqui, apenas quatro casos de matanças (um na Rússia e
três no Brasil). Infelizmente, não são os únicos. A crueldade do ser humano
atravessa fronteiras. No mundo há cerca de 200 milhões de cães abandonados.
Segundo a Agência de Notícias de Direitos Animais (2013a), no Brasil 30
milhões de animais “vivem” em situação de abandono.
É um grave problema, ocasionado pela falta de políticas públicas que
contemplem esterilização e tratamento aos animais. Consequentemente, há
números insuficientes de abrigos municipais, hospitais públicos veterinários ou
ONGs para atendê-los. Certamente a solução para os animais abandonados nas
ruas não é – e nem será – o cruel extermínio.

Obs.: Publicada originalmente em 28 de junho de 2018

No próximo capítulo será abordado um assunto não percebido por muitas
pessoas: nos filmes e séries onde há a participação de animais os maus-tratos
também podem se fazer presentes. Como o leitor poderá verificar, são inúmeros
os casos de ferimentos, explosões, mutilações e até mortes de animais durante as
filmagens. Portanto, por trás das impecáveis cenas a que assistimos, muitos
sofrimentos podem ter sido infligidos a esses seres que não ambicionam fama
nem estrelato.






CAPÍTULO 12
MAUS-TRATOS A ANIMAIS EM FILMES

Foi lançado, no mês de junho de 2018, o filme “Jurassic World: Reino
Ameaçado”, onde dinossauros são ameaçados pela erupção de um vulcão.
Obviamente não são animais reais, porém muitos filmes utilizaram – e ainda
utilizam – animais como figurantes e até mesmo como protagonistas. Mas
muitos também são os casos de maus-tratos a que foram submetidos.
Em 2017 houve grande repercussão mundial e um boicote ao filme
“Quatro Vidas de um Cachorro”. O boicote foi organizado pela People for the
Ethical Treatment of Animals” (PETA), organização não governamental que se
dedica a defender os direitos dos animais, sob a alegação de que cães teriam sido
maltratados e negligenciados durante as filmagens. A ONG divulgou, à época, o
seguinte comunicado:

A PETA está convidando os amantes de cães a boicotar o filme para passar a
mensagem de que cães e quaisquer outros animais devem ser tratados com
humanidade, e não como peças descartáveis de filmes. A nossa investigação
sobre a empresa que comercializou os cães para o filme revelou que os animais
não tiveram cuidados veterinários nem antes nem durante ou depois das
gravações, foram forçados a dormir ao relento no frio, sem cama ou algo para se
aquecerem, tiveram que ficar em ambientes sujos e sem banho regular e muito
mais (PETA CONVOCA..., [s.d.]).


Ativistas afirmam que o cão aparenta estar apavorado, mas mesmo assim
é forçado a entrar em um tanque com água em movimento. A Birds & Animals
Unlimited, empresa especializada em fornecer animais para gravações em
Hollywood, assegura que o vídeo foi editado para provocar a ira da opinião
pública (EMPRESA QUE..., 2017).
“No Animal Were Harmed®”, ou, em português, “Nenhum animal foi
ferido” é um certificado instituído por uma organização norte-americana
chamada American Humane Association (AHA), para garantir a segurança dos
animais utilizados em filmes. A certificação, que aparece ao final do filme de
cinema ou de televisão, é concedida apenas a produções que cumprem seu
rigoroso padrão de atendimento para os atores animais. A AHA foi criada em
1877 para assegurar o tratamento adequado aos animais em fazendas e afins
(AMERICAN HUMANE ASSOCIATION, [s.d.]). Mas foi somente em 1939
que passou a monitorar também o tratamento que Hollywood dispensava aos
animais. E isso só aconteceu por grande pressão pública depois que um cavalo
foi obrigado a pular de uma ribanceira durante as filmagens do western “Jesse
James”. O animal quebrou a coluna e morreu. O homem nada sofreu (CORRÊA,
2017).
Eis alguns outros, entre tantos filmes e séries nos quais houve mortes,
maus-tratos ou acidentes envolvendo animais:
No filme “Tarzan of the Apes”, 1918, um leão é esfaqueado até a morte
pelo protagonista (PIETRA, 2016).
Durante as filmagens de “Ben Hur”, 1925, muitos cavalos morreram. A
maioria das mortes ocorreu na filmagem da famosa cena da corrida de quadrigas
(PIETRA, 2016).
Numa cena do filme “The Silent Enemy”, 1930, um leão da montanha e
um urso lutam entre si. Para a produção desse confronto, os dois animais foram
mantidos em jaulas durante vários dias, sem comida, e então libertados para
disputar a carcaça de um veado (PIETRA, 2016).
Em “The Charge of the Light Brigade”, 1936, aproximadamente 25
cavalos morreram ou foram mutilados. Devido à brutalidade da cena de batalha,
o congresso norte-americano debateu pela primeira vez a crueldade contra os
animais em filmagens (PIETRA, 2016).
Durante as filmagens de “Heaven’s Gate”, 1980, quatro cavalos
morreram. Um deles morreu após ter sido detonado um explosivo entre suas
patas. Além disso, houve brigas de galos, decapitação de galinhas e sangria de
um boi (PIETRA, 2016).
Em “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra”, 2003, foram feitas
tantas explosões em Petit Tabac, São Vicente e Granadinas, que peixes marinhos
da região morreram (WINNER HORSE, 2015).
Nas filmagens de “As Crônicas de Nárnia”, 2005, cavalos também se
feriram. Em um só dia, quatorze animais precisaram ser substituídos (WINNER
HORSE, 2015).
Nas filmagens de “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” (The Hobbit),
2012, 27 animais foram mortos. Cavalos usados nas filmagens caíram em
buracos, e galinhas, ovelhas e cabras que estavam na fazenda usada para as
filmagens vieram a óbito devido à má alimentação e falta de cuidados nos
abrigos (WINNER HORSE, 2015).
Na série “Luck”, produzida pela HBO, entre 2011 e 2012, o cavalo usado
nas filmagens sofreu ferimentos tão graves na cabeça que foi sacrificado. Depois
disso, a série foi cancelada (WINNER HORSE, 2015).
Segundo a Agência de Notícias de Direitos Animais,

animais explorados para entretenimento humano, seja em filmes, eventos ou


atrações, são vítimas constantes de abusos e maus-tratos. O mínimo que
podemos fazer para não alimentar esse tipo de violência é não consumir ou
financiar nada que advenha da exploração e do sofrimento dos animais
(PIETRA, 2016).

Animais não pediram para participar de filmes. Nem para serem


atemorizados, decapitados, explodidos, enjaulados, mutilados ou mortos devido
às filmagens. Não lhes fascina o estrelato. Isso é coisa do ser humano.

Obs.: Publicada originalmente em 13 de julho de 2018.

Animais abandonados nas ruas, utilizados como entretenimento ou feridos
em filmagens são mais três exemplos de como o ser humano dispõe dos outros
seres de acordo com sua vontade. Existem, porém, outras formas de violência,
praticamente invisíveis às pessoas que vivem nas grandes cidades: a criação e o
transporte dos animais destinados ao consumo humano. A partir de episódios
deflagrados durante a paralisação dos caminhoneiros, ocorrida no Brasil em
maio de 2018, várias manchetes evidenciaram que não apenas os seres humanos
– mas também os animais – sofreram as consequências desse movimento. É o
que veremos a seguir.



CAPÍTULO 13
O SOFRIMENTO ANIMAL NA PARALISAÇÃO DOS CAMINHONEIROS


As manchetes acima foram colhidas durante a paralisação dos
caminhoneiros, que iniciou em todo o país no final do mês de maio. Mesmo que
na data da publicação dessa coluna a paralisação já tenha terminado ou, pelo
menos, os caminhões que transportam animais já transitem livremente pelas
estradas, as consequências já se fizeram sentir.
Não serão abordadas aqui as decisões políticas que há muito priorizaram
o transporte rodoviário, deixando o país dependente dos caminhões, nem
avaliados os motivos da paralisação dos caminhoneiros. O que será enfocado,
nesse momento, apesar de muitas outras implicações – como falta de alimentos,
remédios e combustíveis –, é o bem-estar e a vida de milhões de animais
atingidos diretamente pelo movimento.
O bem-estar dos animais de produção se tornou uma grande preocupação
científica e social devido à sua importância e abrangência no mundo todo. Um
marco foi a publicação na Inglaterra, em 1964, do livro Animal Machines, da
veterinária e jornalista Ruth Harrison (HARRISON, 1964). No livro, Harrison
mostrou as péssimas condições e os maus-tratos a que os animais de produção
eram submetidos. Os britânicos puderam encarar, pela primeira vez, como eram
criados os animais que davam origem ao alimento que chegava às suas mesas.
Essa obra chocou o público e provocou a criação de um comitê para investigar o
assunto, liderado pelo pesquisador Francis Brambell. Em 1965 foram divulgadas
as conclusões do relatório, que demonstrava a situação dos animais de criação na
Inglaterra: boa parte deles vivia em espaços insuficientes para que pudessem se
deitar, virar, esticar os membros ou cuidar de seu próprio corpo de acordo com
os hábitos que naturalmente apresentam na natureza.
Essas constatações levaram à criação do Farm Animal Welfare Council
(FAWC) (Conselho do Bem-estar dos Animais de Fazenda). Em 1979 esse
órgão publicou um documento com os princípios que hoje norteiam as boas
práticas de bem-estar animal e a legislação relativa ao assunto.
Bem-estar animal significa como um animal está lidando com as
condições em que vive. Um animal está em bom estado de bem-estar se é
saudável, está confortável, bem nutrido, seguro, capaz de expressar seu
comportamento inato e se não estiver sofrendo dor, medo e angústia. Um bom
bem-estar animal requer prevenção de doenças e tratamento, abrigo apropriado e
nutrição, além de manejo e abate sem sofrimentos evitáveis. O Farm Animal
Welfare Council instituiu as Cinco Liberdades (Five Freedoms), aceitas até hoje
como uma descrição geral de bem-estar animal. De acordo com as cinco
liberdades os animais devem estar:
1) Livres de fome, sede e desnutrição: os animais devem ter acesso à
água e a alimento adequados para manter sua saúde e vigor.
2) Livres de desconforto: o ambiente em que vivem deve ser apropriado
a cada espécie, com condições de abrigo e descanso.
3) Livres de dor, ferimentos e doenças: os responsáveis pela criação
devem garantir prevenção, rápido diagnóstico e tratamento aos animais.
4) Livres para expressar seu comportamento: os animais devem ter a
liberdade para se comportar naturalmente, o que exige espaço suficiente,
instalações adequadas e a companhia da sua própria espécie.
5) Livres de medo e estresse: o sofrimento psicológico também precisa
ser evitado. Os animais não devem ser submetidos a condições que os levem a
sentir medo ou estresse, por exemplo (INSTITUTO CERTIFIED HUMANE
BRASIL, [s.d.]).
Fica evidente, diante das condições às quais muitos animais estão
submetidos em decorrência da paralisação dos caminhoneiros, que não são
respeitadas as Cinco Liberdades citadas acima. Tanto aqueles trancados por dias
dentro das carrocerias, nas rodovias, como os que estão nas fazendas ou granjas
sofrem os efeitos da paralisação.
Segundo notícias, caminhões carregados com aves, bovinos e suínos

estão parados nos bloqueios dos caminhoneiros em todas as regiões do país, com

os animais enfrentando situações de fome, sede, sofrimento físico e estresse. A

Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) alerta que há casos de

animais que ficaram sem alimentação por mais de 50 horas e que cerca de um

bilhão de aves e 20 milhões de suínos podem morrer devido à falta de ração. A


entidade pede que o movimento dos caminhoneiros cumpra a promessa de

liberar o transporte de animais e rações em todos os bloqueios (RIBEIRO, 2018).

No dia 25 de maio, a entidade assim se manifestou: “Caminhões com carga viva

não são autorizados a transitar. A situação mais grave está no trânsito de ração,

que está sendo impedido” (GIRALDI, 2018). A ativista pela causa dos animais,

Luisa Mell, publicou um pedido no seu Instagram para que os caminhoneiros

parados nas estradas alimentem os animais que estão presos nos caminhões de

carga (ALVARENGA, 2018). Conclui-se, portanto, que não basta estarem

destinados ao abate. O sofrimento já lhes é imposto bem antes.


Além disso, com o racionamento de ração em função dos protestos nas
rodovias, os animais das indústrias de frango e suínos devem ser sacrificados
antes do período de abate (abate sanitário). As empresas não estão conseguindo
levar alimento aos animais, que já começam a morrer e praticar canibalismo
(ALBUQUERQUE, 2018). Cerca de 10 mil galinhas vivas foram distribuídas à
população em Vitória, Espírito Santo, na tarde de sábado (26/5), devido à falta
de ração ocasionada pela paralisação dos caminhoneiros. Outra empresa, de
produção de ovos, localizada no interior do Rio Grande do Sul, até o fechamento
desta coluna estava distribuindo 150 mil animais para a população em geral por
não ter condições de alimentá-los pelo mesmo motivo.


Obs.: Publicada originalmente em 31 de maio de 2018.

Sacrifícios de animais, todavia, não ocorrem apenas em abatedouros. Nos
próximos dois capítulos será abordado um tema extremamente controverso e
polêmico: a utilização de animais em alguns cultos religiosos. Devido ao elevado
número de defensores e de opositores que se pronunciaram após a publicação da
primeira coluna versando sobre o tema, uma segunda foi publicada.


O assunto, entretanto, não se esgotou e nem se esgotará rapidamente. Isso
porque, ao mesmo tempo em que a Constituição Federal assegura a liberdade de
crença e de culto, essa mesma Constituição e a Lei de Crimes Ambientais vedam
qualquer prática que submeta os animais à crueldade. Percebe-se, portanto, que o
debate envolvendo o tema ainda está longe de terminar.
























CAPÍTULO 14

ANIMAIS EM ALGUNS RITUAIS RELIGIOSOS: DIREITO AO CULTO OU


CRUELDADE?


O sacrifício de animais em determinados rituais religiosos justifica-se
pela liberdade de crença e de culto?
É um tema bastante controverso, que divide opiniões, já que as
liberdades de crença e de culto são asseguradas no inciso VI do art. 5º da
Constituição da República. No entanto, a mesma Constituição, em seu art. 225, §
1º, VI, assim determina: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar
a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: VII - proteger a fauna e a
flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade” (BRASIL, 1988). Além da Constituição temos o artigo 32 da Lei de
Crimes Ambientais, que veda a prática de maus-tratos aos animais (BRASIL,
1998).
Aí reside a polêmica, a qual incita argumentos tanto de defensores dos
animais quanto daqueles a favor da prática de rituais religiosos envolvendo a
utilização destes.
O uso de animais para sacrifícios em rituais religiosos de matriz africana
é amplamente praticado no Brasil. No candomblé, os animais são considerados
como oferendas aos orixás. As partes dos animais ofertadas são as patas, asas,
cabeça, cauda, coração, pulmão e moela; as demais não possuem valor como
oferenda (VIEIRA; SILVA, 2016).
Segundo a Associação Amigos dos Animais (SOAMA), os animais são
protagonistas passivos dessa polêmica, as vítimas:

É até risível a justificativa de tom antropológico segundo a qual os maus-tratos
rituais não podem ser proibidos porque seus praticantes não os percebem como
maus-tratos. [...] Uma proposta que trata animais como objetos, como seres que
são obrigados a servir às ideologias humanas e que ignora o direito inerente e
biológico de qualquer ser vivo à vida, não pode ser aceito por qualquer Estado
(ASSOCIAÇÃO AMIGOS DOS ANIMAIS, 2018).


E prossegue, afirmando que a lei é para todos. Citam o exemplo de
alunos judeus, muçulmanos, adventistas (a maioria vegetarianos), que não têm
opção de cardápio de acordo com suas crenças; dos mórmons, cuja tradição mais
radical permite o casamento com mais de uma mulher e não podem aqui exercer
este preceito, pois bigamia é crime no Brasil; e de evangélicos e protestantes, os
quais não podem ultrapassar em seus cultos os limites da poluição sonora, que é
crime ambiental no Brasil (art. 54 da Lei nº 9.605/1998), entre outros.
Já para a Agência de Notícias de Direitos Animais (2015),

um crime não deixa de ser um crime só porque resolvemos chamar o crime de
‘liberdade de culto’ ou outra coisa. E nem deixa de ser crime se a vítima é
comida depois do ritual. O foco da justiça deve ser a vítima, e não o grupo que
se sente injustiçado por não poder vitimar um inocente. E se ainda,
infelizmente, cometemos o mesmo crime em nome da cultura culinária de
comer animais, temos de lembrar que 2 errados não fazem 1 certo.

Por outro lado, de acordo com José Carlos dos Anjos, professor do
Departamento de Sociologia da UFRGS, “decretar que não é mais legal o
sacrifício religioso de animais é o mesmo que banir o culto aos orixás por puro
preconceito” (ANJOS, 2015).
Para Fábio C. Leite, professor de Direito Constitucional da PUC-Rio, a
princípio o sofrimento do animal objeto do sacrifício é o mesmo do animal
abatido para consumo, não podendo ser este um argumento válido para um
questionamento jurídico do rito religioso, salvo, é claro, se for demonstrado um
tratamento cruel e de tortura maior no primeiro caso do que no segundo. Afirma
ainda que sacrifícios e oferendas são elementos verificáveis, histórica e
atualmente, em variadas confissões religiosas (LEITE, 2013).
Segundo Djamila Ribeiro, pesquisadora na área de Filosofia Política, nas
religiões de matriz africana são sacrificadas aves e animais de quatro patas como
bodes e carneiros. Não é verdade, como se tentou espalhar, que se sacrificam
gatos e cachorros, por exemplo. Os animais são entregues em oferendas aos
orixás e, depois, a carne é comida nas festas dessas religiões, o couro é utilizado
nos atabaques. Os animais não são sacrificados “à toa”, há uma questão do
sagrado, mas também prática. Não muito diferente de quem já compra sua carne
abatida no açougue ou no mercado, por exemplo. É sabido o modo desumano
pelo qual os animais são tratados nos grandes abatedouros e pela indústria da
carne. Logo, faz sentido proibir o sacrifício nessas religiões enquanto a indústria
fatura bilhões? (RIBEIRO, 2015).
Vieira e Silva (2016, p. 113-114) concluem que, “diante desse conflito de
interesses, há opiniões favoráveis a ambos os lados. Aos que pregam a
prevalência do sacrifício animal, seu fundamento básico é o antropocentrismo,
em que o animal tem apenas utilidade aos desígnios humanos”, nesse caso, ser
oferenda por meio de seu sacrifício durante ritual religioso. “Para esse
pensamento, todo e qualquer motivo de proibição dessa prática tem base no
preconceito religioso”. E afirmam ainda:

Aos que defendem o outro lado, a lei constitucional garante a integridade física e
a vida dos animais não-humanos, sendo terminantemente proibidas práticas
cruéis. Nesse sentido, a lei infraconstitucional criminaliza essa prática, cabendo
aos agentes responderem pela conduta delituosa. Tal entendimento ultrapassa a
simples visão antropocêntrica, numa busca pela valorização do animal pelo que
representa ao meio natural, e não somente aos caprichos do homem.

O fato é que, apesar de existir o chamado “abate humanitário” nos
matadouros, nem sempre ele é feito de maneira correta, o que leva o animal a
sofrer desnecessariamente. Já na prática dos cultos religiosos não há um
regulamento para prevenir o sofrimento dos animais, o que leva os praticantes a
poderem sacrificá-los da maneira que eles (ou a religião) entenderem ser a
adequada. Portanto, podemos dizer que há uma morte mais “regulamentada” –
nos matadouros – e outra, nos sacrifícios religiosos, nos quais não há diretrizes.
Para finalizar, digo que não se deve analisar o sacrifício dos animais em
rituais de um ponto de vista utilitarista. Pouco importa se o animal, após sua
morte, vai ser utilizado como comida ou outra coisa. Aliás, a maioria não o é,
dada a quantidade de animais mortos (principalmente galinhas) que vemos nas
esquinas e encruzilhadas das cidades. O que deve ser analisado aqui é o direito à
vida – que deveria ser dado a todos os seres sencientes – e a não sofrer.
Percebe-se, portanto, a impossibilidade de esgotar esse tema em um
artigo. E você, leitor, já tem um posicionamento sobre o assunto?

Obs.: Publicada originalmente em 26 de julho de 2018.



CAPÍTULO 15
AINDA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE ANIMAIS EM RITUAIS RELIGIOSOS

Vem sendo motivo de discussão nesse canal a questão do uso de animais
em cultos, mais especificamente em religiões africanas. No artigo do dia
26/07/18 o tema foi retratado, apresentando argumentos de estudiosos a favor e
contra a prática, bem como a opinião da pessoa que assina esta coluna.
Após os debates suscitados em comentários e artigos expondo outros
pontos de vista, vi a necessidade de abordar um pouco mais o tema. Afinal,
como havia escrito, é impossível esgotar o assunto em apenas um curto texto.
Além disso, no dia de hoje (09/08/2018), o STF irá julgar a proposta do
Ministério Público do Rio Grande do Sul que considera inconstitucional uma lei
do estado que autoriza o sacrifício de animais em rituais religiosos de crenças de
matriz africana. Segundo o MP, a lei seria inconstitucional por submeter os
animais à crueldade (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS,
2018), prática vedada pela Constituição no seu artigo 225, § 1º, VII (BRASIL,
1988).
Para começar, gostaria de conceituar Direito Animal, que é o nome da
coluna. Em linhas gerais, podemos dizer que o Direito Animal é um ramo que
aborda e defende os interesses dos animais não-humanos em questões éticas,
filosóficas, políticas, legislatórias, dentre outras. Ou seja, abrange animais
domésticos, domesticados, silvestres, exóticos, animais utilizados para
entretenimento, esporte e, obviamente, atividades culturais e religiosas.
Medeiros (2013, p. 119) defende que: “O direito dos animais envolve, a um só
tempo, as teorias da natureza e os mesmos princípios de Justiça que se aplicam
aos homens em sociedade, porque cada ser vivo possui singularidades que
deveriam ser respeitadas”.
Portanto, o que se prega nessa coluna sempre serão os direitos dos
animais não-humanos no nosso meio e o combate ao antropocentrismo, não
cabendo aqui qualquer outro argumento aos temas apresentados que não seja o
de salvaguardar os direitos que estes seres sencientes têm (ou deveriam ter).
Citando especificamente o tema proposto, o sacrifício de animais em
cultos (e deixo claro que isso se aplica a qualquer religião ou doutrina que utilize
animais), pode-se dizer que é mais uma forma de agir antropocêntrica. Afinal, se
a liberdade de crença e culto é um direito do homem e ele, portanto, poderia
fazer uso dos animais nesse contexto, onde ficam os direitos dos animais não-
humanos que são explorados para esse fim? Assim afirma o filósofo Carlos
Naconecy (2015):


A maioria das religiões têm três características: primeira, elas são
antropocêntricas, centradas no ser humano, e o animal fica à margem do
esquema; segunda, elas são hierárquicas, o homem está abaixo do próprio Deus,
da própria divindade, e o animal fica bem atrás; e terceira, elas são
instrumentalizantes, isto é, o animal foi criado para atender às necessidades
humanas.


Ainda nessa linha, Lourenço (2008) argumenta que a aceitação de que há
a dominação humana sobre toda a natureza e os animais deve ser rechaçada.
Além disso, o argumento de que se podem utilizar animais como coisas
baseando-se em escrituras bíblicas não prospera, afinal, por que outros tipos de
discriminação encontrados nos textos sagrados são rejeitados pela sociedade
contemporânea, como escravidão e patriarcalismo?
Falando em discriminação, os defensores das práticas de sacrifícios de
animais em rituais, principalmente de religiões africanas, mencionam muito esta
palavra. Segundo eles, a criminalização da prática seria uma forma de racismo
ou preconceito religioso. Sem entrar nesse mérito, afinal, como reafirmo, o que
se debate nessa coluna é puramente os direitos dos animais, gostaria de inverter a
situação: a não criminalização do sacrifício é uma discriminação com os animais
não-humanos, que continuam tendo um status jurídico e moral abaixo dos
humanos, não tendo sua senciência reconhecida. De acordo com a Declaração de
Cambridge sobre Consciência Animal:


A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente
estados afetivos. Evidências convergentes indicam que os animais não-humanos
têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de
estados de consciência juntamente com a capacidade de exibir comportamentos
intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos
não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência.
Animais não-humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras
criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos
(DECLARAÇÃO DE CAMBRIDGE..., 2012).


Sabendo então que os animais não-humanos possuem consciência,
emoções e vontades e que sentem dor assim como os seres humanos, por que o
sacrifício de animais não causa tanta repulsa na sociedade quanto causaria se
utilizássemos seres humanos para os mesmos fins? O motivo gira na crença de
que o ser humano é superior aos demais seres, ou seja, voltamos à explicação
para a maior parte dos atos cruéis cometidos contra animais não-humanos: o
antropocentrismo.
Uma outra questão apontada pelos defensores dos rituais com animais é a
dos abates. Por que não há protestos também contra o derramamento de sangue
nos matadouros? Citando novamente Naconecy (2015): “A situação nos
matadouros é pior do que nos terreiros? Muito provavelmente é. E a maioria das
pessoas não protesta contra comer carne? Não protesta, mas deveria protestar”.
Cabe dizer que um animal abatido dentro de um matadouro vale tanto
quanto uma vida dizimada em rituais religiosos. Ou seja, por mais que a
indústria da carne abata mais animais comparativamente aos sacrifícios
religiosos, de uma forma ou de outra vidas sencientes estão sendo ceifadas – e
isso deveria ser inadmissível.
Afinal, será que as tradições são imutáveis? Deve-se preservá-las a
qualquer custo ou elas também podem sofrer adequações de acordo com a
evolução da humanidade? Um ótimo exemplo de que pode haver mudanças nas
religiões vem da mãe-de-santo Iya Senzaruban. Vegetariana, nascida em uma
família de cultura tradicional do candomblé, no Sri Lanka ela entrou no culto à
Krishna e Shiva e acabou descobrindo uma forma para substituir, em sua
alimentação e nos rituais, os animais e ingredientes de origem animal. Segundo
ela:

A proposta do vegetarianismo no candomblé é fazer de uma outra forma, sem
prejudicar o tipo de energia que a gente trabalha, sem mudar muito. As
mudanças são muito poucas. Não são eliminados os elementos da natureza, que é
o que o candomblé trabalha, as forças da natureza. No livro que estou
escrevendo apresento as mudanças que vão desde a comida de santo, que não usa
nem camarão ou ovo, nada de origem animal (SENZARUBAN, 2010).

Portanto, a identidade de um povo não é imutável. É possível que, por
uma evolução qualquer, um comportamento não reflita mais os anseios de um
determinado grupo (MEDEIROS; HESS, 2017).
Para finalizar, afirmo que a liberdade de crença e culto deve ser sim
respeitada – até o limite do respeito pela vida. A partir do momento em que há
vítimas, o princípio do direito pela vida é o que deve prevalecer, vida esta em
todas as suas formas.

E como sabiamente diz Fernando Araújo, professor da Universidade de
Lisboa: “Os animais somente querem que os deixemos em paz” (ARAÚJO,
2018).

Obs.: Publicada originalmente em 09 de agosto de 2018.

Após muitos capítulos com enfoque em maus-tratos e exploração aos
animais não-humanos, o próximo abordará um assunto bem pontual: a bandeira
animal como estratégia de campanhas eleitorais.
Não somos tão ingênuos para crer que todos os candidatos que se
propõem a defender os direitos dos animais realmente o farão, caso sejam
eleitos. Porém já conhecemos a caminhada de alguns deles e constatamos o quão
difícil é modificar conceitos profundamente arraigados em nossa sociedade.
Entretanto, o simples reconhecimento da importância dos direitos dos
animais – a ponto de se fazer dessa pauta uma bandeira de campanha – já é um
bom indicativo de mudanças. Cabe a nós, eleitores, fazermos as melhores
escolhas.















CAPÍTULO 16

A BANDEIRA ANIMAL NAS ELEIÇÕES DE 2018



Aproxima-se mais uma eleição. E, mais uma vez, muitos candidatos
apoderam-se da bandeira animal para tentarem cargos públicos.
Sabemos da importância de contarmos com políticos, nos mais diversos
cargos, que lutem pela implementação de políticas públicas voltadas à causa
animal.
Realizei uma pesquisa, visando justamente identificar de que forma o
assunto “Animal” é enfocado por candidatos a diferentes cargos neste pleito.
Sem citar nomes, minha abordagem visará à análise dos bordões e das propostas,
mostrando que o tema evidencia que nosso país ainda está longe de ter uma
consciência formada sobre esses seres sencientes e sua possibilidade de se
tornarem sujeitos de direitos.
O primeiro ponto a ser observado é a permissão, pelo Tribunal Superior
Eleitoral, de carros de som tracionados por animais, conforme a Resolução nº
23.551, de 18 de dezembro de 2017, que em seu art. 11 § 4º, I, que assim
determina: “Para efeitos desta resolução, considera-se: carro de som: qualquer
veículo, motorizado ou não, ou ainda tracionado por animais, que use
equipamento de som com potência nominal de amplificação de, no máximo,
10.000W (dez mil watts) e que transite divulgando jingles ou mensagens de
candidatos” (TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL, 2017). Aí já começa o
absurdo, com a permissividade da União em relação à crueldade animal. Rocha
(2018) afirma que na Paraíba, porém, está proibida a utilização de veículos de
tração animal em campanhas.
Muitos candidatos prometem a proteção e a defesa dos direitos dos
animais. Alguns nós já conhecemos, e reconhecemos o belo e árduo trabalho por
eles realizado, o qual merece ter continuidade. Foram encontrados candidatos
adeptos ao veganismo ou ao vegetarianismo e que incentivam seus possíveis
eleitores para que também se engajem nessas práticas. Outros já participam de
ONGs e outras entidades de proteção e acolhimento animal e posicionam-se
contra a exportação de animais vivos, por exemplo.
Percebendo um “filão” a ser aproveitado como estratégia de campanha,
muitos arvoram-se agora em verdadeiros paladinos dos que não têm voz. Nas
redes sociais e em reportagens, candidatos aparecem abraçando e posando com
animais, na tentativa de comover o público cada vez mais engajado na causa.
Como propostas de candidatos em favor dos animais, podem ser citadas
(salientando-se que foram pesquisados candidatos a diferentes cargos em todo o
país): a criação de um hospital público veterinário; a criação do serviço de
castração nos bairros; a instalação de Restaurante Popular Vegetariano; a criação
da Delegacia Especial de Proteção aos Animais; o fim da eutanásia em animais
que podem ser tratados; a inclusão de opções de alimentos 100% de origem
vegetal em todos os cardápios de refeições de lanchonetes e cantinas em órgãos
públicos estaduais; a defesa do fim do uso de animais vivos em exposições
artísticas e em eventos esportivos como vaquejadas e rodeios; a proibição da
comercialização de animais domésticos; a abolição das carroças; a
conscientização sobre o veganismo enquanto política; a criação do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência Animal e de Unidades Básicas de Saúde
Animal; a redução de impostos em rações e medicamentos animais; a criação de
um cadastro de protetores animais, dentre outras.
Em apenas dois programas de governo dos candidatos à Presidência da
República foram encontradas menções à proteção animal. Num deles aparece
“capacitar os profissionais que lidam com as diversas espécies e reforçar a
fiscalização para coibir práticas que causam sofrimento dos animais empregados
em diferentes atividades produtivas ou em pesquisa” e, noutro programa, consta
a vaga “criação de política de proteção aos animais” (COSTA; DAMÉ, 2018).
Foram encontrados também, candidatos que utilizam apelidos de nomes
de animais ou, após o seu nome, adicionam o complemento “DOS ANIMAIS”,
ou “PROTETORA DOS ANIMAIS” na intenção de associar seu nome à causa
como bandeira política.
Por outro lado, alguns parecem servir a propósitos de classes que
defendem a perpetuação dos maus-tratos, na tentativa de angariar os votos de
categorias que possuem interesses contrários a tudo aquilo que se apregoa
quando o assunto é Direito Animal.
Um candidato apareceu em rodeio, montado em um cavalo, sendo
ovacionado pelo público frequentador de tal “espetáculo”. E outro candidato,
concorrendo a deputado federal, lançou um projeto de revogação da atual Lei de
Proteção à Fauna (Lei 5.197/67), considerado pelo Ministério Público "o tiro que
faltava para a extinção das espécies" (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2018),
pois objetiva a liberação da caça. A caça está prevista como crime no art. 29 da
Lei 9.605/98: “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna
silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou
autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena -
detenção de seis meses a um ano, e multa” (BRASIL, 1998).
Mais dois exemplos encontrados referem-se a um candidato a deputado
federal e outro a deputado estadual. Ambos defendem a rinha de galos, sendo
que um deles apregoa em sua campanha o compromisso pela manutenção das
rinhas de galo, complementando que esses animais lutam por instinto!
As rinhas de galo, por sinal, têm um histórico de proibições e liberações
ao longo dos tempos em nosso país. O Decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934
assim dispunha sobre em ser art. 3º, XXIX: “Consideram-se maus tratos:
[...] realizar ou promover lutas entre animais da mesma espécie ou de espécie
diferente, touradas e simulacros de touradas, ainda mesmo em lugar privado”
(BRASIL 1934). Já o Decreto-Lei 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das
Contravenções Penais) proibia, em seu art. 64 a crueldade contra os animais:
“Tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo: Pena – prisão
simples, de dez dias a um mês, ou multa, de cem a quinhentos mil réis”
(BRASIL, 1941). Porém, apesar da Lei das Contravenções Penais (e a discussão
sobre a revogação do Decreto de 1934), a rinha foi praticada por vinte anos, até
que em 18 de maio de 1961 foi editado o Decreto nº 50.620, que “proíbe o
funcionamento das rinhas de ‘briga de galos’ e dá outras providências”
(BRASIL, 1961). Todavia a proibição durou pouco, pois em 1962 o então
primeiro-ministro Tancredo Neves editou o Decreto nº 1.233, que revogou o
anterior, permitindo novamente a prática das rinhas. Finalmente, a Lei nº 9.605,
de 12 de fevereiro de 1998, em seu art. 32, prevê que quem pratica “o ato de
abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos”, está sujeito à pena de detenção de três meses
a um ano, além de multa (BRASIL, 1998).
É importantíssimo, portanto, escolher candidatos verdadeiramente
engajados na luta pelos direitos dos animais. Sabe-se que muitas das proposições
não passam de promessas de campanha, muitas das quais não dependem apenas
da vontade do candidato para se concretizarem. Mas espera-se que sejam
cumpridas; que não sirvam apenas para enganar aqueles que almejam respeito e
consideração para com os animais.

Obs.: Publicada originalmente em 06 de setembro de 2018.

Os próximos quatro capítulos tratam de um tema comum, que ocorre,
entretanto, em situações diversas: o confinamento e/ou o acorrentamento de
animais. Quando cães passam toda sua vida acorrentados e aves são confinadas –
muitas delas vítimas de tráfico –, quando animais são mantidos em espaços
minúsculos nas fazendas de produção, em jaulas de zoológicos ou em parques
temáticos, estão impedidos de se movimentar livremente e demonstrar seu
comportamento natural. Que direito possui o ser humano de dispor da vida de
outros seres?


CAPÍTULO 17
ANIMAIS ACORRENTADOS E CONFINADOS: ATÉ QUANDO?


Infelizmente, quando um animal é confinado ou acorrentado, pelo menos
uma das Cinco Liberdades, proclamadas pela Farm Animal Welfare Committee
(FAWC) – e já abordadas nesta coluna – é violada: a liberdade para expressar o
comportamento natural da espécie (INSTITUTO CERTIFIED HUMANE
BRASIL, [s.d.]; CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA,
[s.d.]).
O que se vê, entretanto, é a ocorrência de inúmeros casos em que o
animal, além de acorrentado, também passa fome e sede e fica ao relento, sujeito
às intempéries. São-lhe, portanto, negadas também outras Liberdades, e está
sendo infringido o art. 32 da Lei 9.605/98.
Por outro lado, foi publicada no Diário Oficial Eletrônico de
Florianópolis a Lei nº 10.422, de 26 de julho de 2018. De acordo com a nova
legislação, o art. 2º da Lei n. 9.643, de 2014, passa a vigorar com a seguinte
redação:

Art. 2º Define-se como maus-tratos e crueldade contra animais as ações diretas
ou indiretas, capazes de provocar privação das necessidades básicas, sofrimento
físico, medo, estresse, angústia, patologias ou morte.
§ 1º Entende-se por ações diretas [...]
IV - confinamento, acorrentamento ou alojamento inadequado.
§ 2º [...] entende-se como confinamento, acorrentamento ou alojamento
inadequado, qualquer meio de restrição à liberdade de locomoção dos animais.”
[...]
§ 4º Nos casos de impossibilidade temporária por falta de outro meio de
contenção, o animal será preso a uma corrente do tipo vai-vém, que proporcione
espaço suficiente para se movimentar, de acordo com as suas necessidades.
§ 5º A liberdade de locomoção do animal deve ser oferecida de modo a não
causar quaisquer ferimentos, dores ou angústias [...] (FLORIANÓPOLIS, 2018,
p. 1, grifo da autora).

Portanto, pela nova legislação, inclui-se nos maus-tratos também a
privação de movimentos físicos dos cães. A lei trata também das necessidades de
alojamento dos cães, que deve ter tamanho compatível com o porte dos pets,
espaço suficiente para ampla movimentação, incidência de sol, luz, sombra e
ventilação, fornecimento de alimento e água limpa, asseio, restrição de contato
com animais agressivos e atendimento veterinário (CÃES ONLINE, [s.d.]).
O Projeto Cãominhada (2015), em seu site, traz a seguinte colocação:

Em muitos casos, os pescoços dos cães acorrentados ficam em carne viva e
infectados devido a coleiras demasiado apertadas e aos puxões contínuos que
dão à corrente para tentarem se libertar. As correntes podem também facilmente
emaranhar-se em outros objetos, asfixiando ou estrangulando os cães até à
morte.

E prossegue:

Para se tornarem animais de companhia bem ajustados, os cães devem interagir
com pessoas diariamente e praticar exercício regular. [...] a crueldade de manter
animais acorrentados é quase sempre tolerada ou ignorada, e estes continuam a
sofrer sem esperança de uma vida melhor. Nenhum mal fizeram, mas vivem
acorrentados pelo pescoço uma vida inteira.

Quanto a animais domésticos, por enquanto há apenas a proibição do
confinamento de cães pela lei do município de Florianópolis, mencionada acima.
Infelizmente ainda se trata de caso isolado, pois a Lei 9.605/98 não penaliza
especificamente o acorrentamento. Fala em maus-tratos, porém sem nomeá-los.
Então, é necessário que seja constatado um dano ao animal como consequência
do acorrentamento para que a lei 9.605 seja aplicada.
Entretanto, vários Projetos de Lei visam à proibição do acorrentamento
de animais em diferentes cidades do país. Dois exemplos são o PL n° 66/2018L,
do município de São Roque (SP) e o projeto de Lei 15/2018, que determina a
proibição de animais em correntes no estado do Rio Grande do Sul.
Quanto ao confinamento de animais silvestres, nativos ou em rota
migratória, a Lei 9.605/98, em seu art. 29, assim prevê:

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre,
nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da
autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas:
[...]
III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro
ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre,
nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos,
provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença
ou autorização da autoridade competente (BRASIL, 1998, grifos da autora).

Pássaros nasceram para voar. Para a liberdade. Todos. Animais silvestres
também. Mas, limitando-me ao campo do Direito, somente se configura crime
ambiental os casos de confinamento de espécimes especificados pela lei acima,
apesar de que nenhum animal deveria ser confinado, quer sejam em gaiolas,
jaulas ou correntes.
O tráfico de animais só se sustenta porque há quem compre e consuma
tanto os espécimes quanto seus derivados (peles, penas, ossos, escamas). De
acordo com a Rede Nacional Contra o Tráfico de Animais Silvestres ([s.d.]), os
animais vítimas do tráfico são enviados principalmente para “colecionadores
particulares, indústrias químicas e farmacêuticas, artesãos e pet shops” (REDE
NACIONAL..., [s.d.]). Isso significa que muitos serão sacrificados para a
extração de subprodutos, mas muitos outros serão confinados por toda a vida.
Entretanto, sob a ótica do abolicionismo, nenhum animal, silvestre ou
não, deveria ser aprisionado. É tolher a liberdade, tão valorizada pelo ser
humano quando se trata da sua própria.
Tom Regan, autor do livro Empty Cages, ou “Jaulas Vazias” em
português, vai mais além: “Mas imagine o mesmo cão em um pequeno
apartamento. Que tipo de vida é essa? Minha resposta é: não é bem uma vida. Se
temos animais de estimação, temos uma pesada obrigação de assegurar que eles
tenham uma vida rica, cheia de exercício ao ar livre e diversão – horas de lazer
por dia. Estamos prontos para a tarefa? Apenas poucos de nós” (DEFENSORES
DOS ANIMAIS, [s.d.])
Publicado em 2005, o livro Empty Cages “foi dedicado pelo autor a
indivíduos de quaisquer partes do planeta que questionam a liberdade humana de
infligir dor e sofrimento aos animais e de privá-los de direitos fundamentais.
Esses direitos são os mesmos que os seres humanos não admitem perder: os
direitos relativos à integridade do corpo e à liberdade de mover-se para prover
seu próprio bem-estar. Empty Cages, conforme o anuncia o próprio título,
defende a abolição total do aprisionamento de animais.” (FELIPE, 2005).
Mais uma vez afirmo que, se não houver conscientização, as leis não
serão eficazes para evitar o confinamento de animais não-humanos. Somente
indivíduos conscientes extinguirão correntes, gaiolas e jaulas. Para sempre.

Obs.: Publicada originalmente em 27 de setembro de 2018.
































CAPÍTULO 18
CONFINAMENTO DOS ANIMAIS DE PRODUÇÃO


Os animais de produção ou “de fazenda” são aqueles destinados ao
consumo do homem. Será abordada nesta coluna a criação intensiva, onde é
determinante que os animais dispendam o mínimo de esforço possível para que
ganhem peso em pouco tempo e gerem lucro. Isso significa confinamento. E
também maus-tratos, apesar de considerados legais do ponto de vista jurídico.
Para Becker (2008), “certos comportamentos são considerados incorretos, mas
nenhuma lei se aplica a eles e nem há qualquer sistema organizado para detectar
os que infringem a regra informal”. Ressalta-se, entretanto, que Becker não
abordou a questão dos maus-tratos, e que suas reflexões foram utilizadas nessa
coluna para ampliar o conceito de abusos para além da definição legal.
Agnew (1998) define abuso animal como “qualquer ato que contribui
para a dor ou morte de um animal ou que ameace o seu bem-estar”. Esta
definição, segundo o autor, tem várias vantagens, como não limitar o abuso
somente a comportamentos ilegais, contribuindo para reforçar a afirmação de
Becker.
Em criações intensivas de animais, as oportunidades para se engajar em
atividades biologicamente normativas para espécies (cuidar das crias, companhia
de adultos da mesma espécie, exercícios, brincadeiras, sexo e comportamento
natural) são negadas aos animais.
No mundo, mais de 43 bilhões de frangos de corte são abatidos por sua
carne todos os anos. Cerca de metade destes são criados em sistemas industriais,
onde dezenas de milhares são amontoados em enormes galpões, nos quais a
amônia excretada pode causar bolhas no peito, queimaduras de jarrete e pés
ulcerados; a superlotação leva a graves problemas de bem-estar, como resultado
do estresse térmico e da inatividade (PICKETT, 2003). As aves são engaioladas
firmemente, ficando incapazes de se mover. A frustração pode levar as galinhas a
bicar as gaiolas e, para evitar isso, muitas são debicadas sem o uso de anestesia
(CUDWORTH, 2017).
Em relação às galinhas poedeiras, existem mais de cinco bilhões delas no
mundo, produzindo mais de 50 milhões de toneladas de ovos por ano, com a
média anual de mais de 300 avos por galinha. A gaiola da galinha poedeira é tão
pequena que as aves não conseguem esticar as asas ou virar sem dificuldade. A
falta de oportunidade para o exercício, combinada com a constante demanda por
produção de ovos fazem com que as galinhas desenvolvam ossos quebradiços.
As galinhas também se tornam frustradas porque são impedidas de realizar seus
comportamentos naturais de nidificação, banhar-se na poeira e empoleirar-se
(PICKETT, 2003).
Os porcos, por sua vez, são rotineiramente sedados e mantidos na
penumbra para serem encorajados a comer e dormir. Suas curtas vidas em
criação intensiva são estressantes (CUDWORTH, 2017), porque não podem
explorar, exercitar-se ou socializar-se. Em grande parte do mundo é comum uma
porca prenhe ser mantida em uma 'caixa de gestação' durante toda a sua gravidez
de 16 semanas. Essa ‘caixa de gestação’ é uma gaiola de metal – geralmente com
um piso de concreto/ripas – tão estreita que a porca não pode se virar; a ela só
resta levantar e deitar com dificuldade (PICKETT, 2003). Além disso, as porcas
reprodutoras recebem quantidades insuficientes de alimento para satisfazer sua
fome (CIWF, [s.d.]).
Essas gaiolas são ilegais na Suécia e no Reino Unido. Estão sendo
eliminadas em alguns estados nos EUA e na Nova Zelândia, e há um acordo
voluntário do setor para interromper seu uso na Austrália. Na União Europeia, a
proibição parcial é aplicada desde 2013. No entanto, continua a ser permitido
que as porcas sejam mantidas em gaiolas desde o desmame da ninhada anterior
até ao final das primeiras quatro semanas de gravidez. Várias empresas
produtoras de alimentos estão começando a eliminá-las voluntariamente por
razões de bem-estar animal, devido à pressão do consumidor (PICKETT, 2003).
Assim como as gaiolas, as caixas de parto também restringem
severamente o movimento da porca e frustram sua motivação para construir um
ninho antes de dar à luz. É comum que os leitões tenham os dentes triturados ou
cortados, sem anestesia, para minimizar lesões por morder. Leitões são
desmamados e tirados de suas mães quando atingem três a quatro semanas de
idade, e ainda mais cedo em alguns países. Em estado selvagem, as porcas
continuariam a alimentar os seus leitões até as 13-17 semanas de idade
(PICKETT, 2003).
No confinamento de gado, lotes de animais são encerrados em piquetes
ou locais com área restrita, onde os alimentos (ração) e a água necessários são
fornecidos em cochos. Esse sistema de criação visa a acelerar a engorda,
otimizando o processo produtivo (FORMIGONI, 2017).
O gado criado no sistema intensivo também tem um estado de bem-estar
pobre. As vacas leiteiras são mantidas em um estado de constante sobreposição
de lactações e gestações. Cada vez que a vaca dá à luz ela será separada de sua
cria, geralmente dentro de 48 horas, causando extrema angústia a ambos
(PICKETT, 2003).
Aqueles bezerros destinados a fornecerem a carne chamada vitela, após
serem separados das mães são confinados em estábulos com dimensões
reduzidíssimas, onde permanecerão em sistema de ganho de peso, com
alimentação que consiste de substituto do leite materno. Um dos principais
métodos de obtenção da carne branca e macia, além da imobilização total do
animal para que não crie músculos, é a retirada do mineral ferro da sua
alimentação – tornando-o anêmico – e fornecendo o mineral somente na
quantidade necessária para que não morra até o abate (CHAVES, 2008).
Os animais podem crescer e parecer saudáveis, mas ainda assim ter um
bem-estar pobre se experimentarem o sofrimento de ter pouco espaço para se
movimentar (MENDL, 2001). Doenças, lesões, dificuldades de movimento e
anormalidade de crescimento indicam mal-estar (BROOM, 2008).
Percebe-se, portanto, que no sistema intensivo de criação de animais não
são consideradas as necessidades e os comportamentos naturais destes seres
sencientes. O que vale é o lucro.

Obs.: Publicada originalmente em 10 de outubro de 2018.




CAPÍTULO 19
ANIMAIS EM ZOOLÓGICOS

Os zoológicos são locais específicos onde animais são exibidos ao
público.
Na Idade Moderna, com as Grandes Navegações e a descoberta de novos
continentes, as ricas famílias europeias ficaram interessadas nas espécies
exóticas das terras distantes. Para completar suas coleções particulares,
"importavam" os animais, utilizados como demonstração de riqueza e poder
(DIREITOS DOS ANIMAIS, [s.d.]).
Atualmente existem zoológicos que tentam reproduzir o ambiente natural
dos animais. Um zoológico pode melhorar suas condições, substituindo as barras
das grades por fossos, aumentando os recintos, praticando o enriquecimento
ambiental, ou tomando outras medidas. Mas não é o suficiente. Isso causará uma
melhor impressão aos visitantes, mas para os animais o problema será mesmo,
pois continuarão expostos ao público, sem possibilidade de expressar grande
parte de seus comportamentos naturais (DIREITOS DOS ANIMAIS, [s.d.]).
Para Tom Regan, “temos de esvaziar as jaulas, não deixá-las maiores” (REGAN,
2006).
O comportamento repetitivo compulsivo – abnormal repetitive behavior,
ou ARB – é o termo científico para distúrbios comportamentais notados em
animais cativos. Isso abrange todos os tipos de desvios de comportamento
indicativos de estresse como o pacing (felinos andando de um lado a outro
repetidamente), ou os hábitos de sacudir a cabeça, balançar de um lado a outro,
bater-se em paredes, sentar-se imóvel e morder o próprio corpo. Esses
comportamentos, que são típicos de animais mantidos em cativeiro como os
zoológicos, são atribuídos à depressão, ao tédio e às psicoses (PROJETO GAP,
2014).
Aves arrancam suas penas e alguns animais apresentam úlceras, atrofia
de tecidos, aumento das adrenais e mais uma lista enorme de problemas
(DIREITOS DOS ANIMAIS, [s.d.]).
O contato constante com o público que visita o local também causa
estresse aos animais. Muitas pessoas, por pura diversão, incomodam os animais.
Além disso, há casos de adultos e crianças que atiram balas, chicletes, pipocas e
outras guloseimas aos animais, mesmo existindo placas que proíbem a
alimentação destes (ONCA DEFESA ANIMAL, [s.d.]).
Filhotes nascidos nos zoológicos que não são reintroduzidos à natureza
jamais conhecerão seu habitat natural nem desenvolverão os hábitos de sua
espécie. Serão para sempre dependentes dos cuidados e da atenção dos humanos,
muitas vezes, funcionários que sequer estão aptos ou se identificam com o trato
aos animais – são empregados assalariados que desempenham funções como
qualquer outra (ONCA DEFESA ANIMAL, [s.d.]).
Observar animais em zoológicos não auxilia no conhecimento sobre seu
comportamento, uma vez que tal confinamento altera totalmente (ou em grande
parte) seus hábitos naturais. Para conhecer o comportamento natural do animal
há uma variedade de estudos realizados e documentados de observação das
espécies em seus habitats naturais (ONCA DEFESA ANIMAL, [s.d.]).
Muitos estabelecimentos não oferecem condições adequadas para os
animais. Eles frequentemente são mantidos em espaços pequenos e sem a
climatização necessária. Há relatos de ursos polares que vivem sob um calor de
30 graus (CATRACA LIVRE, 2005). Em setembro de 2018, a ursa parda
siberiana Marsha deixou o Zoobotânico de Teresina – no qual sofria pelo intenso
calor da região – e foi conduzida ao santuário Rancho dos Gnomos, no
município de Joanópolis, em São Paulo.
Outras iniciativas já lograram êxito na transferência de animais de
zoológicos para santuários, através de habeas corpus. Em abril de 2017, Cecília,
uma chimpanzé argentina que vivia no zoológico de Mendoza, Argentina,
chegou ao Santuário dos Grandes Primatas, em Sorocaba (SP). A primata é o
primeiro animal não-humano a usufruir na prática o direito de viver num
santuário por meio de um habeas corpus. O pedido foi feito pela ONG argentina
Alfada – Associação de Funcionários e Advogados pelos Direitos dos Animais –
à justiça do país, sob os argumentos de que a chimpanzé é um sujeito de direito e
não um objeto, e de que se encontrava em condições muito ruins no zoológico
(WATANABE, 2017).
Mais um habeas corpus pretendia conseguir a transferência de outra
chimpanzé, chamada Suíça, para Sorocaba. Suíça e seu companheiro, Geron,
chegaram ao Jardim Zoológico de Salvador em 2001. Desde maio de 2005,
quando Geron morreu de câncer, a macaca de 23 anos passou se comportar de
forma estranha, até ser encontrada morta em sua jaula na manhã do dia 27 de
setembro. Heron Gordilho, Promotor de Justiça do Meio Ambiente do estado da
Bahia, acredita que a admissão da chimpanzé como sujeito jurídico, mesmo que
não a tempo de salvá-la das grades onde aparentava depressão, deve colocar a
Justiça baiana como referência mundial (BRIGHAM, 2005). Após a morte de
Suíça, o processo foi extinto sem julgamento de mérito (YNTERIAN, 2005).
Apesar de todos os problemas, alguns (e só alguns) zoológicos são
importantes na preservação e resgate de espécies. Eles abrigam animais em
extinção, realizando diversos programas de reprodução, que incluem
congelamento de células e inseminação artificial. Uma parcela também resgata
bichos que sofriam maus-tratos em circos e parques (DIREITOS DOS
ANIMAIS, [s.d.]).
A Lei 7.173/83 dispõe sobre o estabelecimento e funcionamento de
jardins zoológicos. A referida lei trata dos procedimentos a serem adotados para
o funcionamento de estabelecimentos que mantenham animais vivos em
cativeiro, ou semiliberdade, para a visitação pública, conforme definidos no art.
1º. Do ponto de vista dos direitos dos animais merece destaque principalmente o
art. 7º, in verbis:

Art. 7º - As dimensões dos jardins zoológicos e as respectivas instalações
deverão atender aos requisitos mínimos de habitabilidade, sanidade e segurança
de cada espécie, atendendo às necessidades ecológicas, ao mesmo tempo
garantindo a continuidade do manejo e do tratamento indispensáveis à proteção e
conforto do público visitante.

A legislação exige determinadas condições de “habitabilidade, sanidade e


segurança” para cada espécie mantida, todavia, com um duplo caráter. De um
lado “atendendo as necessidades ecológicas” e, portanto, tendo os animais como
foco determinante das condições, e, de outro, a garantia de continuidade “do
manejo e do tratamento indispensáveis à proteção e conforto do público
visitante”, ou seja, o objeto último a ser protegido e mantido confortavelmente é
o ser humano (SANTOS FILHO, 2008).

Zoológicos são centros de confinamento, dor e sofrimento, onde os animais
são condenados a viver longe da natureza à qual pertencem e de onde foram
forçosamente retirados – vítimas dos interesses dos humanos. Lugar de animal
é livre na natureza (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS,
2012).

Obs.: Publicada originalmente em 25 de outubro de 2018.





CAPÍTULO 20
PARQUES TEMÁTICOS: DIVERSÃO X EXPLORAÇÃO

Parques temáticos sempre foram sinônimos de diversão – mas apenas
para os humanos. Para os animais que lá vivem e/ou se apresentam nada é
divertido.
A Disney é composta por doze parques temáticos localizados em seis
complexos ao redor do mundo. “Mesmo com padrões incrivelmente altos de
atendimento aos animais, com o seu próprio hospital veterinário e uma vasta
equipe de profissionais, a Disney está cumprindo apenas com a obrigação de se
responsabilizar por animais em prol do entretenimento.” Pode-se afirmar,
também, que [...] “a exploração animal não deixa de ser contada como
impulsionamento para o lucro de determinados parques que ainda utilizam
animais como entretenimento” (ANIMAL KINGDOM..., 2018).
A organização In Defence of Animals – fundada em 1983 e defensora dos
direitos dos animais – alega que “o parque Animal Kingdom […] é um dos piores
zoológicos do mundo para elefantes. A associação baseada na Califórnia elencou
o parque, em 2014, na décima posição de uma lista elaborada com os piores zoos
do mundo” (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DE DIREITOS ANIMAIS, 2014b).

Parques temáticos e animais para entretenimento
Mas não é só a Disney que usa os animais para entretenimento.
O SeaWorld e o Universal Orlando também apresentam shows com animais.

Uma das pouquíssimas vezes que assisti foi um pouco depois do ataque de uma
orca a uma treinadora e a sua consequente morte. […] não é da natureza da orca

fazer malabarismos, dar beijinhos em shows… seu lugar é o oceano. Não curti

o show (só assisti o das orcas), pensei o tempo todo na vida totalmente fora de
contexto desses animais, fora de seu habitat e seus hábitos naturais…

(PEIXOTO, 2012).

Sabemos que orcas, golfinhos, focas, leões marinhos e outros animais
encontrados nesses parques temáticos deveriam estar nos oceanos. Segundo a
organização People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), no Brasil há
restrições e normas que tornam quase impossível que companhias mantenham
golfinhos e baleias, como orcas e belugas, em cativeiro.
Mas nos Estados Unidos a história é diferente. [Esses animais] sociáveis
e inteligentes são mantidos em tanques deploravelmente pequenos no SeaWorld.
No mar aberto as orcas podem nadar até 160 quilômetros por dia e os golfinhos
até 96 quilômetros, mas baleias e golfinhos cativos são confinados em tanques
tão pequenos que eles nada podem fazer a não ser nadar em círculos ou flutuar
inertemente. Os sons emitidos por seus sonares batem nas paredes dos tanques e
voltam, enlouquecendo-os (PETA, 2015).

Orcas e parques temáticos
A PETA ainda lista fatos que ocorrem com as orcas no SeaWorld, em
Orlando:

As orcas foram sequestradas de seu habitat e enviadas para
o SeaWorld;
Algumas das orcas que não foram capturadas foram mortas;
Os animais sofrem em lugares apertados, sob condições
anormais;
Orcas em liberdade não matam pessoas, mas no SeaWorld elas
matam;
Orcas não vivem muito tempo em cativeiro. Orcas
no SeaWorld estão morrendo muito aquém de sua expectativa
de vida natural. Quarenta e uma morreram com uma idade
média de apenas 14 anos. Nenhuma delas atingiu o tempo
máximo de vida de uma orca na natureza.
Em cativeiro, todas as orcas macho adultas sofrem de prolapso
das nadadeiras dorsais. O SeaWorld afirma que isto é comum e
natural. Entretanto, o prolapso das nadadeiras dorsais é causado
pelo ambiente anormal do cativeiro, e raramente é notado no
ambiente natural. Na natureza, apenas 1 a 5% das orcas macho
em algumas populações (e nenhuma em outras populações)
sofre de prolapso das nadadeiras dorsais, e nesses casos
costumam ser resultado de ferimentos.
As queimaduras solares são cobertas com óxido de
zinco preto. As orcas no SeaWorld passam a maior parte do
tempo na superfície da água, com pouca ou nenhuma sombra
para abrigarem-se do sol escaldante. Na natureza, as orcas
passam até 95% de seu tempo submersas e encontram sombras
nas profundezas do oceano, mas no SeaWorld os tanques são
rasos demais para mergulhar. O tanque mais fundo tem 12
metros de profundidade – nem perto do suficientemente
profundo para dar-lhes alívio das agressões do ambiente.
Antigos treinadores relatam que, devido a isto, as orcas sofrem
permanentemente de queimaduras de sol, as quais são
escondidas do público com a ajuda do óxido de zinco preto, que
é da mesma cor de suas peles.


As orcas não são mantidas em grupos compatíveis, e brigam
entre si. Orcas incompatíveis entre si são forçadas a conviver
em espaços ínfimos. A ansiedade e tensão resultantes podem
ocasionar brigas. Na natureza, quando ocorrem brigas, elas
podem simplesmente nadar para longe umas das outras. Em
cativeiro não há para onde escapar, o que leva a ferimentos
graves.
Famílias são desfeitas. Orcas são animais altamente sociáveis
que vivem em grupos estáveis, compostos de dois a quinze
indivíduos. O SeaWorld tem rotineiramente separado mães de
seus rebentos, enviando filhotes para vários parques temáticos
ao redor do mundo (PETA, 2015).

Como se pode perceber, “é um negócio construído sobre o sofrimento de
animais inteligentes e sociáveis, a quem é negado tudo o que é natural e
importante para eles” (PETA, [s.d.]).
O SeaWorld, que detém todas as orcas mantidas em cativeiro nos EUA –
exceto uma –, tem uma longa história de maltratar animais. Na natureza, as orcas
são predadores inteligentes que trabalham cooperativamente em busca de
comida. Elas compartilham relações complexas em uma sociedade matrilinear.
As orcas livres estão entre os animais mais velozes do mar, podem nadar
até 140 milhas por dia e mergulhar nas profundezas. Mas no SeaWorld elas
nadam em círculos sem fim em pequenos tanques de concreto (PETA, [s.d.]).
A partir da polêmica com o lançamento do documentário Blackfish, em
2013, que conta a história da baleia Tilikum e mostra ex-treinadores do
SeaWorld denunciando maus-tratos aos animais, a companhia anunciou que
transformaria os espetáculos em ações educativas. Ainda há acrobacias e
entretenimentos no show com golfinhos, mas agora os treinadores falam também
sobre os hábitos dos animais.
Quanto às orcas, o cenário passará por mudanças, ganhando quedas
d’água e pedras para deixá-lo mais “natural”. O número de orcas será reduzido
ao longo das próximas décadas. Em 2016 a empresa anunciou que não criaria
mais orcas em cativeiro. A última delas nasceu em 2017 (ZAREMBA, 2017).
Por mais que alguns considerem que os animais silvestres são bem
tratados nos habitats para os quais foram deslocados, devemos considerar que o
simples fato de os seres humanos os terem retirado ou privado de seu lugar de
origem já pode ser considerado maus-tratos.
Apesar disso, cada vez mais podemos dizer que, felizmente, muitas
pessoas estão se conscientizando de que não há diversão quando animais são
explorados. Afinal de contas, o lugar de animais silvestres e selvagens é a
natureza.

Obs.: Publicada originalmente em 27 de novembro de 2018.





























CONSIDERAÇÕES FINAIS

Prezados leitores!

Os animais não-humanos já são reconhecidos como seres sencientes
desde 2012, o que não constitui novidade para todos aqueles que os amam e os
respeitam. E é grande a satisfação ao perceber que o movimento em prol dos
animais não-humanos se agiganta mundo afora. Quando iríamos imaginar, há 30
ou 40 anos, que centenas de pessoas das mais diferentes áreas do conhecimento
estariam reunidas em seminários, jornadas e congressos para debater o assunto e
buscar soluções?
Espero que os leitores tenham apreciado essa obra, cujo objetivo foi
fomentar a reflexão sobre a atual situação dos animais não-humanos.
Continuarei escrevendo e lutando por acreditar que a mudança, além de
necessária, é possível, e que algum dia os animais serão reconhecidos como
sujeitos de direitos, não só perante o ordenamento jurídico brasileiro, mas
também em nível mundial. É imprescindível, pois, conscientizar o maior número
de pessoas sobre o respeito e a consideração a eles devidos.


















REFERÊNCIAS

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the abuse of women, children, and pet animals. Hypatia, Hoboken, NJ, v. 9, n. 2
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elefante. 2014b. Disponível em:
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______. A ironia e contradição dos sacrifícios de animais em religiões de
matriz africana. 2015. Disponível em:
<https://anda.jusbrasil.com.br/noticias/177392059/a-ironia-e-contradicao-dos-
sacrificios-de-animais-em-religioes-de-matriz-africana?ref=topic_feed>. Acesso
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______. Documentário da BBC expõe mortes de animais e outros horrores
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<http://www.anda.jor.br/21/12/2016/documentario-da-bbc-expoe-mortes-de-
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______. “Mais de 30 milhões de animais abandonados estão esperando uma
chance”, diz especialista. 2017. Disponível em:
<https://www.anda.jor.br/2017/05/mais-de-30-milhoes-de-animais-abandonados-
estao-esperando-uma-chance-diz-especialista/>. Acesso em: 5 dez. 2018.

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