Anda di halaman 1dari 49
eee ee rene SoU desde o final do século XIX. No entanto, poucos trabalhos Penner eos Ceo occ Pe ae eC er en ene Pe eo om das ciéncias sociais que assuma o peso do presente, com Per errr eee enc a Cc Onan Quer sejam socidlogos, antropélogos, historiadores eres Cee oem Pee Cee nnn) Africa no sistema-mundo. Indo ao encontro do seu povo nos seus lugares de invengio, eles ajudam a restituir a Pee ee OO ano e do actual, eles permitem-Ihe que "se pense” e Prac? No momento em que a Africa constitui um desafio do Pre EC Ce CR um restabelecimento dos saberes. Ele desenha um pro- jecto concreto de implantagao de estruturas pedagogi Cee On ioe oc realidades sécio-econémicas dos paises africanos. JEAN-MARC ELA 2 2 = 2 8 a = z z 2 JEAN-MARC ELA ESTITUIR AHISTORIA A SOCIEDADES AFRICANAS PROMOVER AS CIENCIAS SOCIAIS NA AFRICA NEGRA JEAN-MARC ELA RESTITUIR AHISTORIA AS SOCIEDADES AFRICANAS PROMOVER AS CIENCIAS SOCIAIS NA AFRICA NEGRA Coleccao Reler Africa Nota de Apresentacao Uma das lacunas do mercado editorial dos paises de lingua oficial portuguesa é a auséncia, em lingua portuguesa, de obras de referéncia de autores africanos e africanistas, que fizeram cétedra no dominio dos chamados "estudos africanos” nas academias dos paises angléfo- nos e francéfonos. A Coleceao Reler Africa pretende colmatar essa lacuna. Trata-se de uma colecrao especializada em teméticas africanas no dominio das CCigncias Sociais € Humanas. Ao inaugurar esta coleceao, as E ‘Mulemba da Faculdade de Ciéncias Sociais da Universidade Agostinho Neto (Luanda ~ Angola) e as Edigdes Pedago (Mangualde ~ Portugal) pretendem criar um espaco de debate, alteridade e reflexao critica sobre o continente africano, A colecgao publicar§ obras, textos ¢ artigos compilados de recone: dos autores africanos e africanistas, que contribuam para a compreen- sio ea reinterpretagao do continente africano, ‘Além de apresentar uma visio end6gena (de dentro) do continente, a coleceao esta aberta & comunidade cientifica internacional que tem 0 continente africano como objecto da sua pesquisa. Publicar e divulgar conhecimentos e saberes sobre Africae provenie! tes de Africa é, assim, um desafio que a colecgio abraga, de contribuir para a construcao de uma nova epistemologia e uma nova hermenéu- tica dos estudos africanos no espaco lus6fono, livre de esterestipos € de um olhar folclérico e exético. Ao abracar esse desafio, a colecs30 pretende ser uma galeria de conhecimentos e saberes de Africa e sobre Africa, que interpele os leltores e investigadores especializados areler Africa para compreendé-la e reinterpreté-la Luanda, 19 de Agosto de 2012, Victor Kajibanga (Coordenador da Coleceio Reler Africa) £6 06 1a se ¥6" 8 za o8 77 u 9 +9 2 09 “s 6b £8" 6 fF oe ze ar wea 1 seyjoosg sep owrawoyy ou 1oLadng oussug Q :oRsn|aU0D {watt} op seaugID sep ogSinquNuOD y stoynua1) sopepiunwoy sep rpuaiowy eum e1eq wiaBesseg ap 128] win apepiieurérosipiaimy 2 euafopug apepranelsy SeUeDLYY Sapepomos sep .1A9q 9 SfeII0s seIONEID ™ srevioreyy seuajqord a opSenstunupy soqttounpayuo sop ovseijeay opSpindog op 2 cquauayoauasag op sv:2u919 sep owuaunnandag ‘p souvqun sopmasg 2p anuay‘¢ opbojodo.nuy 2p 2 v16oj0}205 ap oqiaupzindeg ‘2 soupauify sopnasg ap ormnsuy “T so2y6ipBopag sommn.nsg a soan3alqg islets sepougi9 sep warn eum gnbiog Ogbuaaty ap sare] snos Sou oursiyy wawo} op onuosUg oF 21 sainSiy 09 0110 0 owstuestyy op wg[e exed voy y wit soo119aj, sopipag 2 seUeatAyy Sapepatsos sep apepIAeLsD asifeuy ap souquiy ‘wafepogy ew ap apepyjemay y sezayiag

RWEUIG astTeMy eum eed 1 owisnuerndsqg CAN wIp) :orDRFaIg aorpuy ‘wn sod waa opunp ‘néseu9 opvauies 0046 0 anb band ayltyoy [oD 9 ajuopis-auuy p pray oY Prefacio Um Novo Obscurantismo? Apesar dos numerosos trabalhos de investigacao efetuados sobre continente africano desde o final do século XIX, constata-se que a tomada de consciéncia da urgéncia e da necessidade dos inquéritos so- ciol6gicos é muito recente, Em 1959, nas vésperas das independéncias africanas, teve lugar, em Roma, o Segundo Congresso dos Escritores ¢ Artistas Negros. Depois da apresentagao dos debates a subcomissdo de sociologia, esta registou “o cardcter por vezes incompleto e pouco clentifico dos estudos sociolégicos sobre a Africa e 0 mundo negro. Tais estudos, outrora inacessiveis ou praticamente inacessiveis aos investiga- dores africanos, sofriam das caréncias que se prenciem inevitavelmente com o sew exercicio exclusive por investigadores ndo africanos’. 0 que mais surpreende, é o infcio particularmente tardio das inves- tigagdes de natureza especificamente sociolégica dedicadas a Africa. Contrariamente aos estudos de antropologi e sobretudo de geografia que abundam, a sociologia é a disciplina menos representada entre as ciéncias sociais dedicadas a andlise das realidades africanas. Houve Interesse por diversos fenémenos da vida social como 0 casamento € a familia, No entanto, talvez.a abordagem destes fenémerios continue dominada por uma problematica que nem sempre toma em considera- ‘40 as mutagdes que intervém na sociedade africana no seu conjunto, Assim, 0 Congresso dos Escritores e Artistas Negros recomenda que “um esforco particular de investigacdo seja dedicado ao estudo das transformagdes sociais na Africa atua?’. Neste contexto em que nu- merosos factores dao conta dos processos de mudanga nas sociedades pés-coloniais, a necessidade desta investigagao nem precisa de ser demonstrada. Se ndo quisermos continuar a reproduzir o discurso que considera Africa como uma espécie de museu de antiguidades eu- ropeias, torna-se urgente um questionamento sobre o tipo de abor- dagem apropriada & situagao actual das nossas sociedades. Ja nao necessério insistir no apoio que os governos africanos, preocupados com a promogio das ciéncias, deveriam conceder as ciéncias sociais, Nas universidades, onde numerosos alunos se iniciam cada vez mais nestas disciplinas, um novo espirito deve, sem diivida, ser suscitado € desenvolvido, Para além dos campus universitarios, muitos africanos perceberam o interesse dos estudos antropologicos e sociol6gicos Estes sectores do conhecimento que pertencem a cultura do nosso tempo devem figurar em. programas de formagao abertos as realidades da Vida e destinados a preparar as novas geracdes para a sua atuacao nos dominios da produgio. Seria grave conservar um verdadeiro obscu- rantismo em relago a disciplinas a propésito das quais se imagina que no sao necessarias numa sociedade onde se quer fazer parecer que ‘temos essencialmente necessidade de matematicos e de engenheiros. ‘Na cruzada a favor da formagao técnica e cientifica, acontece chegar-se a pensar que o importante é enfartar as criangas com matematica, fisica ‘equimica. No limite, para ter os especialistas de que precisa, Africa tem de investir nos conhecimentos que se desenvolvem em laboratério. Nos meios alucinados pelos ntimeros, as estrelas do novo analfabetis- ‘mo imaginam que s6 uma pagina cheia de equagdes algébricas ou de figuras geométricas tem autoridade. Na era dos cérebros eletrénicos e do computador, ciéncias s6 mesmo as exactas. E, partindo desta ideia, para qué extraviar-se pelas letras e pelas ciéncias humanas? Nao se percebe muito bem para que servem a filosofia, a sociologia ou a antropologia. Se queremos sair da ignorancia do mundo no qual fala- ‘mos, trabalhamos e produzimos, é preciso abrirmo-nos ao saber que se constréi nos lugares de estudo onde as pessoas para além de serem sujeitos de conhecimento sao também objetos de investigacao. As re- flexes que submetemos aqui, para anilise, vao permitir a definigao do quadro teérico dos trabalhos de investigagao cuja necessidade se faz sentir numa Africa em mutagdo, ‘As ciéncias humanas e sociais que estiveram muito tempo em moda ce registaram progressos desde o fim da Segunda Guerra Mundial" si0 hoje alvo de depreciagao: estudos de luxo que nao alimentam o estu- dioso. Sera que o retorno do balanceiro nao corre o risco de ficar caro nos préximos anos? Porque ndo hd sociedades economicamente desen- volvidas sem o aporte das ciéncias sociais*. Na Africa negra, numerosos projectos de desenvolvimento fracassaram. E isto aconteceu nao por falta de capitais ou de técnicos, mas sim porque os planificadores e os peritos valorizaram mediocremente os factores socioculturais. Face ao futuro, que se anuncia sob o signo das formagdes técnicas rentiveis, é necessério questionar-se sobre as graves consequéncias que resultariam de uma pentiria de homens de analisee de reflexio num con- texto historico em que se faz sentir a necessidade de instrumentos {{ Apropésito da origem e do desenvolvimento das ciéncias, fa obra de G, Gusdart, Les Sciences el Perse ccidetae, Pay. Pars 2 Sobre est toma, or “Fat supprimer les Scences Humaines? Black n* 39, pp22-24 sata eatin ddr cn Ponce a de grelhas de leitura apropriadas para compreender a complexidade das nossas sociedades. Ao lado dos matemticos, dos cientificos e dos técnicos, os representantes das ciéncias humanas e sociais tém 0 seu papel a desempenhar para ajudar Africa a encontrar o seu equilibrio. A crise do emprego nao devers, portanto, dissimular as tarefas destas jéncias nas mudangas em curso. Com razao, o Conselho do Ensino Su- perior e da Investigacio Cientifica declarava outrora nos Camarves: “Uma sociedade que nao pense constantemente ests votada a estagnasoe, final mente degeneresc2ncla. Assim, disciplinas como a flosofa, a pscologia ea socio- Jogia devem ser encorajadas porque fornecem instruments de: 0 da sociedad’ ise de renova- Mais do que nunca, estas ciéncias devem reexaminar 0 seu papel hum contexto histérico em que as sociedades africanas se arriscam a ser marginalizadas pelos investigadores que, na sua propria terra, Feencontram 0 que eles estavam tentados a ir buscar nas culturas exdticas. Temos assistido a um verdadeiro “repatriamento” dos an- tropélogos aos seus paises de origem. Gragas a uma real “conquista do presente’, eles retomam por sua conta o mundo vasto dos “restos" ha muito tempo abandonados nos trabalhos académicos por uma espécie de a priori tecnocratico. Descobre-se que o estudo das “tribos moder- nas" pode ser suficiente para responder as exigéncias duma andlise cientifica. Destaquemos 0 reinvestimento das investigagées sobre 0 imaginario no momento em que se reabilita o mito no seio da explica- sao historica e social. A atengao também se concentra sobre as imagens ¢ os simbolos veiculados pelos media na civiliza¢ao contemporanea. Nos paises industrializados, os etndlogos interessam-se pelo metro, pela policia, pelos castelos, pelos cemitérios, pelos clubes de férias, pela empresa, O sentido desta corrente é claro: ndo é necessdrio ir para o fundo das florestas ou das savanas para exercer a profissao de antropdlogo. Na realidade, e tendo em conta que, para retomar o titulo de um livro recente, “ns nunca fomos modernos’, é no préprio seio da cidade que ‘a antropologia encontra os seus objectos de estudo. Pode-se portanto esclarecer e compreender a actualidade a partir dos rituais e dos cédigos, das imagens e dos mitos, dos objectos e dos sinais oferecidos a investigagao no mundo de hoje. Concluimos que, para além das aldeias que recuperam uma nova dignidade como campo de investigagio, é, de uma forma geral, “o qui antropélogos e os sociélogos. iano” “o presente” que interpelam os 3-Conselio vo Enso Superior edafavestgag Centfica, Yaoundé, 1967, Nao podemos ficar indiferentes ao arranque desta “etnologia do contemporaneo’. Pois tudo acontece como se ‘Africa tivesse de ser um jugar de estigio ou de iniciago onde se forjam os utenslios de trabalho para investigar sobre as formas de ser €0s modelos de organizarao das pociedades ocidentais. Este passo atrés foi necessario, um trampolim indispensavel no salto para a actualidade. Chegow a julgar-se ser bom testudar Africa para ser antropélogo “em casa’. Mas, uma mudanga de Gtica levou as estruturas das sociedades do terceiro mundo a servirem ‘como ponto de partida para a andlise da modernidade. ‘Em ver de procurar o “primitivo’ o"selvagem" no seio da sua prépria sociedade, o etnélogo interroga-se agora sobre o seu semelhante, que tle quer captar na sua diversidade cultural e étnica. Pols, apesar dos progessos de uniformizacio e de nivelamento das mentalidades ¢ Gos comportamentos, as identidades permanecem complexas, com particularidades locais ou regionais. A partir dos materiais extraidos patrora nas sociedades e nas culturas longinquas, o etndlogo das so- ciedades contemporneas descobre-se detentor de saberes cuja pro- Cura se torna premente tal como 0 observamos, hoje, na empresa, na Gdministragao ou na reestruturagao do espago. A passagem do Outro para si proprio nao acontece sem que haja um questionamento acre Ho Outro. Ao deixar o algures” para reexaminar a pratica antropol6gi- fa partindo das culturas da “sua propria terra’, o estudo do presente Glargado 2 sociedade industrial obriga o investigador a aprofundar a veflexao acerca do seu objecto, mas pée em causa 0 predominio das ‘reas culturais nao europeias nas problemiticas antropolégicas. ‘Assim, nao se pode afastar a hipStese segundo a qual as nossas sociedades so deixadas por sua prépria conta no momento em que as disciplinas que trabalharam muito tempo nts nossos espagos, ¢s- Golhem os seus objectos nos lugares centrais da sociedade que, nos Galsee do Norte. exige novos trabalhos nas ciéncias humanas e socials. Falver os etnologos acabem por abandonar brevemente os topicos para “se confrontarem com o presente da sua prépria sociedade’. To" hase portanto necessério redefinir a funcdo das ciéncias sociais tendo vom conta as mutagdes que emergem no ambito das pesquisas actuals. Este esforco 6 exigido pelas enormes “jazidas* que constituem os solos” em pousio. £ também conveniente medir os desafios que es- peram os investigadores africanos nos lugares de estudo onde reina- Jam, outrora, os mestres que detinham o monopélio da producao dos Saberes sobre as nossas realidades humanas. Este desafio impoe-se ha medida em que numerosas elites intelectuais foram formadas no Smbito de uma cultura de extraversio, Encontramos os efeitos desta extraversio ao nivel dos estudos e das andlises nas quais o investigador Indigena, ndo tendo abandonado a busca do exético que envolve 0 africanismo, no resiste & tentagao de se observar com os olhos dos outros, transformando-se em verdadelro araut da sua diferenga Baraalém os trabahs que se desenvolveram em torn da etofloso- fia" eque tentam fazer um levantamentodos elementos que constituem a especificidade das nossas culturas, parece necessério esclarecer os novos desafios de uma investigagdo que se recusa a recolher, para 0 simples lazer e deleite do estrangeiro, uma quantidade de factos que constituem a armagao do “manifesto do homem primitvo" Se quiser- mos destacaralterativas para a promocao das cigncias socials nas dindmicas da Africa contemporanea, é necessario questionarmo-nos sobre as escolhas para o futuro num contexto em que a Africa constitu doravante,o desafio do conhecimento para as inteligéncias indigenas. Se ndo se pode deixar de parte o "ponto de vista" do socidlogo ou do antropélogo sobre as realidades que resistem e nio se deixam fechar hhuma palavra dnica, gostarfamos de indicar algumas pistas que se abrem & anilise das sociedades nas quais vivemos. Na medida em que as dinamicas especiicas das formas de organizaglo social e cultural dos pases africanos foram durante muito tempo nepigenciadas pela investigaraot, as nossas reflexdes pretendem insistir sobre a necess dade de uma abordagem “dindmica” dos campos de andlise que fazem dda Africa actual um verdadeiro laboratério das cidncias sociais. “Tentar defini as condigBes desta investigago, mostrar a sua urgen- ciaeasua pertinénciaa partir de alguns campos de aplicagio determi- rados em fungio dos desafios de maior importincia numa Africa em crise, constitu o eixo das andlises que seguem. {er B Oli de Sadan Paysons, experts charchursn Afi notre Sken développement rural. Karthala, Paris, 1985, p31. eee ae I. Para uma Andlise Dinamica das Sociedades Africanas Crise do Olhar Face a diversidade das disciplinas que se desenvolvem no seio das ncias humanas e sociais confrontadas com problemas internos* pocdemos ser levados a escolher entre duas formas de ver as socie- dades africanas. A primeira é aquela que nés chamamos de “arqueol6gica’: enraizada ‘numa longa tradigao intelectual, ela procura compreender as caracteristi- cas culturais, as estruturas sociais, as formas de organizagao politica, os grupos humanos, as instituigdes, as crencas, os sistemas simbéli- cos e religiosos. Esta forma de ver parece ter dominado a maior parte dos estuslos sobre as “sociedades tradicionais” onde, muitas vezes, sio referidos conceitos como a “etnia’, a “tribo’, a “linhagem’ e o “paren- tesco’, Neste Ambito, trabalha-se a partir de um postulado segundo 0 ‘qual as sociedades em questao sao mais ou menos simples ¢ estaveis, ou até mesmo fechadas sobre si préprias. Na realidade, durante mui to tempo, admitiu-se que as sociedades africanas eram, como 0 resto do mundo dos “primitives”, sociedades paradas no tempo, 4 margem da mudanga e protegidas das influéncias externas. Elas pertenceriam a. um mundo “intacto” e “puro” que escapou ao pecado original da Civilizacao*. Fechadas no mundo do mito que € o da repeti¢ao’, es- tas sociedades ignorariam o "progresso”, Em resumo, elas escapam a0 dinamismo estereotipado pelos hdbitos culturais ocidentais. Tal como o afirma J. Servier, a maior parte das sociedades tradicionais so ritmadas por um esquema ciclico astrobiol6gico e no por un esquema messianico: 5.A ese respi ver | FBoutinet et.al. Du dicoursd Faction, Les Sciences sociales steragent surelesméms,iarmatan Paris 985, 6A propésiin deste ponto de vista, vr JM. Ea, Ligue der villages Kartal, Paris, 1982, poalaz 7. ber M, Blade, Aspects du Mythe, Galimard, Paris, 1966; G, Gusdor, Mythe et Métapysiue, Flammarion, 1984, pes “h sociedade tradicional tenta apreximar-se das origens, prolongar momento primordial da Sua fund, Ela est desesperadamente ancoradso present, vada para o passado em recordagao do tempo em que o Homem vivia em unio com Tovisive,integrado no universo Ela usa todas ax suas forgas para evitar mudan fs qun, afastando-a da perelfo mitea,poderiam acentuar anda mals um dese fullbrio que nasceu da desobedléncia & Grande Proibigio & qual nds chamamos pecado original (.) Face stuagGes nova, a sociedad tradisonal rage o melhor Te pode através de uma série de mecanismos de compensagdo destinados 2s Naguardar o seu eqilibrio ..) Assim, € dif flar de dinamismo espontaneo + Jrepésto desta socedades que nos parecem paradas no tempo pela inal d ‘sua perfeigiot” Lévi-Strauss distancia-se da oposigao estatica estabelecida por Lévy- Bruhl entre sociedades “pré-légicas” e sociedades “logicas’, entre “primitivos” e “civilizados’, mas conserva, no entanto, uma " diferencia!” de ordem sociocultural entre sociedades com um ritmo hhistorico reduzido e quase imperceptivel e “sociedades quentes” onde a historia se acelera: -sugerimos (..) que a Inflizdistingao entre os “povos sem histira" @ os outros povos pdia ser substitu, de forma vantaoss, por uma dating entre o due nés epamimos, para as necessidades da causa, 2s sociedades “rias"¢ as sociedades quentes:umas procuram, com a ajuda das instugBes que eas proprias desen- ‘yulvem, anular de forma quase automitica o efeito que os factores histéricos pode tram ter sobre o seu equilbrio e a sua continuidade; as outras interiorizam decid Gamente odevirhistricofazendo dele o motor do seu desenvolvimento”: esta forma, sé um contributo das sociedades “prometeicas” as s0- ciedades sem histéria torna possivel a quebra do sonho do tempo em {que naa hé nada de novo sob o sol. Partindo deste raciocinio e seguin- do os tedricos da *mentalidade primitiva’, tornou-se facil, em teinpos, para os administradores coloniais, os professores ou os missionérios, Instruidos pelas obras dos etnélogos europeus” justificar as interven ‘gbes “modernistas” do Ocidente “civilizador” Depois das retractagées do proprio Lévy-Bruhl" fé nfo é necessério voltar a pretensa “primitividade" dos povos que, outrora, eram tidos tamo os antepassados dos Europeus colocados no topo da evolugao da 4 Server Histoire de lope, N-R.F, 1967, pp 33-18 S.C Livi straus, La pense sourage, Pin, 1962, pp.310-311 Hae cnclt dc abran de Levy: ruhl na administragaocalnial Poli, “La pense “hhnalogique de Léy-Broh”Piosophigue, 1957, n*4,ppS4O-S29. Tilter Lévy Lee Comets, 1948, ppb 62 ‘yumanidade pela teoria das idades da inteligincia”. Hoje, sabe-se que ‘mito do negro sem historia € uma construcio ideolbgica da domina- ‘0 colonial, Um facto esta confirmado: longe de estar & margem do progresso das luzes, a Africa € 0 lugar onde nasceu a razio™. Definitivamente, as sociedades africanas ttm a sua historicidade propria. Blas carregam a marca, dificil de desconhecer,do-acontecimen- to. Como vamos ver, é este dinamismo que deve ser evidenciado. Pois, niio basta saber 0 que sio estas sociedades; é preciso analisar aquilo fem que se tornam na medida em que para “se conservarem, clas estio incessantemente a "fazer-se’, Para captar este esforgo de “produczo” das sociedades africanas através delas proprias, torna-se necessério ver, para além das “especificidades locais’, os processos de invencao e de mudanca, as implicagées eas estratégias dos actores ‘A crise dos conceitos e das teorias construidas pelo saber colonial vem dai. +0 processo de descolonizagio twve consequénclas fmediatas sobre a pritice propria da antropologia social eda sociologia das sciedades no curopeiss sobre representaglo cassia desta categoria de sociedades, Ele perturbou os habitos ss cltou o pudor terminolégico (em relagao a qualificaives como “arcaieo, primitive’ etc) eintrodusin a divda quanto & importincia actual do intento antropoligico. De repente, as sociedades entendidas como estiticas ou paradas na repetiao abriran se 4 mudanga ou & rovolugdo; elas reencontraram uma historia; elas deixaram de pertencer&orsem da passividade e dos objectas!™ Um olhar “dinamico” impée-se se quisermos ir ao encontro das so- ciedades africanas actuais, no seu devir, Este olhar deve estar atento ‘a0 que “mexe” no seio das estruturas sociais, no contexto do enraiza- mento da vida dos africanos. Os grupos, diversos, veem-se confronta- dos com desafios que os provocam, Para responder a esses desafios, as sociedades locais elaboram respostas que revelam a capacidade dos actores miltiplos e variados. Eles dao testemunho dos dinamismos internos que convém reencontrar, Nao hd divida que uma oposigdo rigida entre estes dois olhares néo ‘se pode justficar. Na maior parte dos pafses, as "tradi¢des” permane- cem. Nao muda tudo de uma sé vez", Sem abandonar qualquer nopéo 72: Acerea dest tema, ver A. Comte Cus de phlasophie psi (1830-1043). Discours sr esprit post pp.1018 {i oetea deste mito, ler aformulaso dada por Hegel, La rain dons histoire 10-18, 9249 is por Hee 10-18 pp.24 1H Nero most etudo: Ch. Diop ou Mhonneur de penser, ppA7-50 18.6 Balan Scop ctl de PAque noire, p33. 16. Ver G Balanley Sens et Pusance, EU, 1979, p99 cde mudanga histérica no seio das sociedades africanas de hoje, pode-se admitir que os sistemas socioculturais, que agora podemos observar, rai mudam ao mesmo ritmo. Durkheim teve 0 mérito de discernir utrora uma mudanga de ritmo e, consecutivamente, de qualidade no devir sociocultural”, ‘Numa época de efervescéncia, muitos valores do passado cultural reencontram a sua frescura ¢ integram-se na vida da nossa actuali- dade. Assim acontece com os sistemas e obrigagdes de parentesco, as praticas matrimoniais, os sistemas de conhecimento e de representa- 40 que moldaram as sociedades ancestrais e sobrevivem as pertur- bagdes provocadas pelo Ocidente na vida dos Africanos. Tudo acon- tece como se estes Uiltimos organizassem uma espécie de “retirada® estratégica e de “resisténcia” perante 0 surgimento brutal de alguns modelos estrangeiros. Relembremos 0 sucesso limitado dos novos modelos familiares. Nao se pode negligenciar o impacto sobre os com- portamentos e as mentalidades dos verdadeiros motores de mudanga que so a forte escolarizagio e a urbanizacio desenvolvida. No entan- to, nestas sociedades onde nada est ao abrigo das mutagSes, os “casais modernos” so uma minoria, Para muitos citadinos, torna-se dificil adoptar os modelos de vida familiar praticados noutras para- gens. Apesar do prestigio imposto pelos modelos ocidentais, tenta-se sempre criar novidade a partir do mais antigo. Esperava-se o desen- volvimento de famflias reduzidas conforme 0 modelo europeu, mas ‘vemos que se conservam as familias alargadas. O declinio dos valores tradicionais nao é para ja. 0 essencial dos relactonamentos continua regrado pelas ldgicas de linhagem. Assim, em nome das exigéncias do parentesco, 6 necessario suportar os custos econémicos exigidos pela ‘dependéncia dos numerosos membros da famflia africana ‘Numa sociedade abalada pela crise econémica, os sistemas familiares continuam a resistir as légicas do mercado. Mais ainda, acontece ver 6 Africano a adaptar a tradigao aos constrangimentos da vida urbana. ‘Assim sucede com a sobreposigo de camas nos alojamentos construi dos, pelas sociedades mobilidrias, segundo as normas de uma antro- pologia da casa conforme os habitos e as praticas sociais das familias europeias. Na Africa negra, poucos se arriscam a “fazer de Branco” pois isso significa sujeitar-se a marginalizacao e & exclusio, num sistema social em que poucos aceitam fechar-se numa solidao altiva, Nos meios escolarizados e nos centros urbanos, os critérios funda- ‘montais de juizo e as referéncias culturais dos Antigos impregnam os espiritos e inspiram as formas de estar individuais e colectivas. Face a0 fracasso, & doenga, a morte e a infelicidade, reencontra-se sempre, “17.Wer E. Durkheim, Socsiogte et Philasophie, PU, Pari, 1963, pp-136-137 mais ou menos, o mesmo cenatio africano, na selva como nos bairros residenciais das grandes metrépoles, apesar do verniz de ocidentali- dade de que se cobre uma elite, Basta lembrar a influéncia das crengas na feitiparia,o peso das representagées relativas ao mundo invisivel 0 *poderes ocultos” exercem uma influéncia soberana em todos os meios socias, independentemente do nivel de formacio, das classes socials ou da pertenga religiosa®. Intelectuais formados nas melhores luniversidades ocidentats, com uma bagagem cientifica ou filosdfica marcada pelo racionalismo, nao admitem que algumas doengas sojam provocadas por um agente patogénico. ‘Adoenga ou a morte sio atribuidas 3 acsio de um “outro” num con- texto em que a imagem que se tem da pessoa integra uma leitura do real em que o invisivel se manifesta, De facto, ndo se pode aqui falar em doensa sem ter em contaas representagaes da pessoa que sio, elas ‘mesmas, um aspecto da organizassio social. Assim, a doenga poe em crise a ordem social. A doenga é sinal de uma desordem global. Resu- mindo, a doenga é um facto cultural. & por iss0 que os Africanos aban- ddonam as clinicas e os hospitais nos quais a “medicina dos Brancos" nao entende nada da “doenca dos Negros’ Prefere-sevoltar para junto daqueles “que curam na noite’ nas aldeias # nos balrros onde, partindo das confissées e das rituais, os especalis- tas do invisivel procedem a “libertasio dos enfeitisados". Nas soci dades africanas em tumulto, assiste-se ao regresso da medicina trad cional até mesmo nas grandes capitais. Mais ainda, ritos ancestra exorcismo e oragdes de libertasio, profetismos ¢ cultos de cura desenvolvem-se num contexto em que os novos terapeutas reabilitam as crengas na bruxaria. Nunca se falou tanto do Diabo como nestes tempos de crise em que, grasas a um esforgo popular de inculturacao, a figura do Adversdrio tomou o lugar dos espfritos maus. As crengas na feitiaria mantém-se na medida em que o mal fala da sociedade 3 qual se pertence. A doenga traz 8 luz as forgas maléficas internas da socie- dade global. £ necessério, portant situar estas crengas e as Igrejas terapéuticas no universo das representagdes da pessoa e da sociedade para compreender as raz6es que conduzem numerosos doentes a regressar 4 aldeta para obter a cura desojada. Tendo em conta o impacto das estruturas do imaginério que mer- gulham nas légicas indigenas, percebe-se a necessidade de recorrer a disciplinas que nao se julgaria necessarias ao estudo das sociodades 16.8 propio est er ih Slr cine dongeeue? a Soren pried dranc, sence A, 19) Tred Marne one fe {Gh Purr ll ote Mh ae Nord Cong oltueAane aae 1 'pp.73.83 - M. Dumont “A propos d'une expérience fétichste de V'échec scolaire & Brazzaville’, Mees deta shee, hide 902 pa ditas primitivas. Talvez tenhamos de retomar por nossa conta, num novo espirito, a etnologia para aprofundar o conhecimento das reall- dades que nos surpreendem quando nos esforgamos por criar um distanciamento critico em relac4o a0 nosso meio ambiente imediato. (0s antropélogos africanos tém hoje que sair da reserva e repensar a sua disciplina que, por causa da sua imagem colonial, se arrisca a ser tmarginalizada no sistema de formagao no selo dos governos que nao a consideram como uma prioridade e fazem dela um verdadeiro paria das ciéncias socials”. 'Na verdade, a partir de factos gravados “a nu” no terreno, temos que langar um novo olhar sobre a Africa dando o mais possivel a palavra Aqueles que, nos sistemas sociais actuais, menos a tém. Para compreender a Africa contemporanea, povoada, como se sabe, por jovens que nem sempre vem reconhecido o seu direito & palavra, é necessério tentar apreender o préprio Ambito da sua experiéncia tal como ela se dé a entender fora dos campos convencionais. £ pre- ciso investir os locais do discurso a partir do que se diz. em torno da sewualidade, do trabalho, da economia, da religiao e da politica. A per- cepsao do corpo, como o “sistema de objectos” que invadem a nossa sociedade, deve tornar-se um centro de preocupacao tendo em conta ‘05 mitos que se inventam em redor das realidades mais correntes da nossa vivéncia quotidiana. £ af que se deve procurar compreender a “dimensio escondida’ de uma cultura que determina as atitudes ¢ os comportamentos, as percepgBes e as priticas sociais, as crengas © 0 sistemas de representagdo dos individuos ¢ dos grupos. O Fim das Certezas No seio das saciedades urbanas em gestacdo, oinvestigador africano -vé abrirem-se amplos campos de estudo, face ao que Terray chama o “sistema do climatizador” oposto ao “da varanda’, tal como a mascara e a realidade™, Seria necessério perceber a que jogo brincam os “mais altos-de-l4-de-cima’ nesses ambientes onde o fato completo se articula ‘com a tiinica num vaivém entre os gabinetes climatizados dos minis- térios ea esteira do marabu. Pelos relatdrios que se estabelecem eas estratégias que se elaboram, talvez estejamos a assistir a formas de redistribuigao clas vantagens {SsApropbstadeatas quests le “Anthroplagleen Atiqu: passé. présente visions noweles buletn du CODESRIA, w 3, 1992, Daa p2 pol tetay “Le climasrur eta eran Aru plural, fine atu. Hommage Gears, Foland Kartal, Pris, 1986, pp. 3449. materiais e politicas acumuladas nas redes de relacao nas quais, como se pade observar no inicio do ano escolar, os “grandes” usam de toda a sua influéncia para arranjar um lugar para um primo em segundo grau ou um sobrinho da aldeia num bom estabelecimento de ensino primério ou secundério. Tendo em conta os jogos de influéncia que se desdobram nas dindmicas sociais de acordo com as estruturas tradi- cionais de parentesco, nas sociedades onde o “poder da noite” 6 tio poderoso quanto o do dia, os “pequenos” dispdem de poderosos mecanismos de controlo sobre os “grandes” Como nao evocar as questdes da linguagem que também oferecem um espago de exploracdo na medida em que, para além da literatura oficial (ensaios, romances, poesia, teatro), novas formas de expressio ede comunicagao em que os jovens revelam um dinamismo excepcio- nal, como no-lo lembra 0 “camfrangles” nas cidades dos Camarées, so inventadas nos lugares de vida? Utilizada por todos os alunos e estudantes, esta “lingua” é uma perfeita ilustragao da cultura dos jovens em meio urbano. Parece que as novas ‘geragées gostam de baralhar a comunicagao com a sociedade, apropr- ando-se dos meios de expressdo acessiveis& sua idade nos grupos, nos circulos, nos bandos ou nos meios escolares que lhes dio 0 vocabulrio a gramatica para produzir sentido. £ necessério pertencer a "tribo’ para compreender as palavras, as imagens e os simbolos que se afas- tam, deliberadamente, das linguagens institufdas. Na imprensa oficial, uma crénica célebre do Cameroon Tribune, “o humor do homem da rua’, inspirou-se nesta linguagem imposta a misica por Lapiro de Mbanga que deu aos jovens desempregados a consciéncia da sua situagao. O sucesso de um cantor ou 0 impacto de um discurso dependem do dominio deste idioma cujo repertério semantico apresenta uma riqueza consideravel. Nos campus universitérios, cada situagao € expressa com as pala- vras adequadas. Existe uma linguagem para os exames e a fraude, as raparigas, o amor e a sexualidade, a bolsa e 0 poder. Toda a cultura nova que se clabora a partir do sector informal, investido pelos jovens, cristaliza-se em torno do “camfranglés”, como o recorda 0 universo dos “vendedores furtivos’, que encontrou outrora a sua unidade num contexto sociopolitico dominado pela alianga entre os “salvadores” & ‘0 estudantes e o confronto entre o presidente da cimara de Yaoundé 0s “empresérios do passeio”™. 2, Sore sas alae le .Etound Mba, "Les vendors la savete ot ha’ Camaroon Ti: ‘nine, 11 de Setembro de 1907; M Nekoud“Conceration MLNDICE.Verdeurs la same pour ‘ne struction du secteur informe Cameron Tribune 29 sociologia da religiio, > sociologia do trabalho e das organizagdes, > sociologia da comunicagao, > sociologia da familia, > sociologia do conhecimento, > sociologia da cultura e dos lazeres, > sociologia das relagées internacionais, > sociologia da educarao, > sociologia politica. ‘Tendo em contaa evolugao das sociedades africanas ea sua abertura A civilizagdo mundial, ser necessério iniciar os estudantes & sociolo- ‘gia e & antropologia das ciéncias e das tecnologias. Da mesma forma, toda a Area relativa 8 socio-antropologia da saiide e da alimentago deverd reter a atencao. Os diferentes campos da antropologia encon- traro naturalmente o seu lugar no estabelecimento. Aqui também serd necessirio: 1) voltar as origens da antropologia; 2) mostrar como se faz.a passagem da etnologia para a antropologia; 3) verificar a abertura da antropologia a novos dominios de estudos, enriquecendo-se com a contribuigao de outras ciéncias socials, da influéncia do marxismo e do estruturalismo; 4) examinar a questo da sua especificidade no campo das ciéncias socials, em particular da sociologia; 5) seguir as tendéncias actuais da antropologia. ‘Ao mesmo tempo que se inicia os estudantes aos conceitos de base da disciplina, as teorias es correntes de pensamento, sera necessério preparé-los a adquirir os métodos de investigagao e a implicar-se nos trabalhos de terreno a partir dos exercicios praticos, tendo em conta os seus meios cle origem ou lugares acessiveis & investigacao. 0 ensino da antropologia coloca problemas tendo em conta o passado desta disci- plina e as suas relagdes com o imperialismo. Por isso, devem ser orga- nizadas discusses em torno dos conceitos ou das abordagens que tém tendéncia, pelo gosto do exético, a acentuar as diferengas que sepa- ram as sociedades ocidentais das sociedades nao-ocidentais. Retomas criticas e reformulagdes das tematicas devem ser pressentidas numa disciplina que nao se pode reduzir ao estudo por predileceao dos fen6- menos em aparéncia secundarios nas sociedades contemporaneas (0 Eprecisoabrir a antropologiaas dimensdes concretas das sociedades tomando emi consideragao a sua historicidade a fim de compreender em profundidade os povos eas culturas nas situagdes em que eles so confrontados com os desafios que comprometem o seu futuro. Dentro desta perspectiva, as dreas seguintes: + econdmico + politico * social + cultural *religioso + médico + urbano + histérico so lugares privilegiados para os estudos e para as investigacdes. "0s novos desafios da antropologia” oferecem-se a exploracao a par- tirdas mutagdes que afectam o homem ea sua cultura numa sociedade em mudanga, Porque nao promover uma antropologia das turbulén- cias nos Estados em crise onde os grupos humanos aprendem a gerit a incerteza? Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, parece ser necessério, dar provas de imaginacao para evitar recair na antropologia colonial. As realidades contemporaneas devem estar no centro das preocupa- ges dos antropélogos. Acreditamos na necessidade de uma antropo- logia das empresas que tenha em conta as relagdes entre a producao, a esto ea cultura. Em vez de reproduzir o discurso de ontem, trata-se portanto de renovar a abordagem dos factos de sociedade e de cultura, registando a abordagem antropolégicanas dindmicas de uma sociedade vviva. A antropologia deve estabelecer-se no centro da “modernidade” se ela quiser reencontrar a sua pertinéncia no estado actual das ciéncias sociais. Tal é o espirito que deve orientar o ensino desta disciplina para devolvé-la aos estudantes que nem sempre percebem a sua utilidade e sua importancia no curso académico que seguem. Entre as outras disciplinas principais a desenvolver no seio do de- partamento, assinalamos a historia das ciéncias sociais que constitui uma verdadeira iniciagao ao conjunto das disciplinas de ensino. Con- vém seguir a histéria do olhar do homem e da sociedade depois das grandes mutagées da inteligéncia, observando os grandes momentos. da cultura e do saber. Ajudando os estudantes a dominar as técnicas da dissertaco e os métodos de explicacdo de texto em sociologia em antropologia, também os preparamos para a aprendizagem da exposigao e do debate cientifico. Por outro lado, as estatfsticas ye aes sea Stade ances ce ahd aplicadas as ciéncias sociais eas ferramentas informiticas tornaram-se instrumentos de trabalho indispensdveis na investigago. 0 estudante deve apropriar-se desses instrumentos quando se familiariza com os problemas de acesso a0 terreno. 3. Centro de Estudos Urbanos Bis as consideragées que justificam a criagao deste Centro: 1) os problemas de eco-desenvolvimento obrigam a situar a vida e a8 actividades colectivas dos grupos humanos no contexto espac temporal da sua insera0; 2) a consideracao dos problemas do melo ambiente e dos riscos ‘ecol6gicos tal como do seu impacto na vivencia humana e social; 3) anecessidade de uma compreensao do homem na sua relagéo com as realidades primordiais como a terra, a Agua, a fauna e a arvore; 4) a importincia dos sistemas de representacdes e de crencas ligadas as técnicas de gestdo do espaco em funcao dos modelos socio-culturais; 5) 0 peso das mutagées socio-econémicas e a relagtio do homem com oespago; 6) as implicages da propriedade em meio urbano; 7) a importancia da cidade nas sociedades contemporaneas com as formas de habitar e de comer que abrem novas perspectivas & antro- pologia e a sociologia; 8) os movimentos migraté: e 0s problemas de adaptaga 9) as relagdes entre urbanizagao e meio ambiente, 6,0 seu impacto no crescimento urbano A partir das aulas de tronco comum, das op¢bes, das leituras dirigi- das e dos seminarios, 0 centro teré como objectivos: 1) 0 aprofundamento dos estudos urbanos segundo abordagens diver- sas que apelem & histéria, a sociologia, a antropologia, a demografia, as ciéncias politicas e econémicas; 2).a formagio dos investigadores em estudos urbanos numa perspec tiva de desenvolvimento vidvel repondo as questoes da cidade e do ‘meio ambiente nos contextos socio-econémicos, politicos e culturais. Em cada ramo de formagio, é preciso recordar que a cidade, na sua totalidade, é um desafio a interdisciplinaridade. € preciso ter em conta as implicagdes desta realidade quanto a questo da intervenga0 em meio urbano, Para além disso, face aos problemas de urbanismo, de adlaptagio, de turismo e de populagao, o Centro de Estudos Urbanos tenta reencontrar o social dentro do urbano. Daf a necessidade de divul- gar + as obras das forgas sociais na vida urbana; + as formas de apropriagao da cidade pelos africanos; + as desigualdades sociais e econémicas; + 0s comportamentos desviantes e a criminalidade em meio urbano; + as formas de organizagao e os grupos de pressao; ‘+a crise das solidariedades tradicionais e as novas culturas em gestaglo; + 0s grupos de futuro como os jovens e as mulheres; + os movimentos sociais; + 0s lazeres modernos e as indiistrias do imaginario; + os sistemas politicos e a sua intervengo nos problemas de gestao do espace. Parece-nos essencial que as questdes colocadas pela relagao do homem africano com o espago sejam assumidas no seu conjunto. Seria interessante, em particular; privilegiar assuntos como: + homens, mulheres e jovens face ao meio-ambiente: percepcdes, ati- ‘tudes e comportamentos; + praticas de mercado imobilidrio e sistemas juridicos; + migrasdo, urbanizacao e problemas de emprego; + cidades e infra-estruturas: passado e presente; + a gestdo das aglomeragdes metropolitanas nos pafses africanos; + estratégias residenciais e bairros periféricos; + as politicas da agua nas cidades africanas; + 0 Estado, os poderes locais e as formas de gestéo dos servigos ur~ banos; * a pertinéncia das redes associativas e as politicas urbanas; + 0 papel das populagdes nas estratégias de produsdo e de apropria~ fo da cidade; + as estratégias de sobrevivéncia e os processos de integracio no mundo do trabalh + cidades e empresas; + 0s joven, as mulheres e a cidade; + cultura, democratizaco e urbanizagao; + 0 religioso no espago urbano; + urbanizago e mudancas sociais na Africa negra. 1 feanacE ar din dnd An Per Cee eg Estes temas, cuja lista ndo é exaustiva, permitem a construgio de blocos de aulas e sugerem assuntos de investigacao. Concretamente, um ano de iniciacao seria consagrado a um médulo centrado sobre “o urbano e o rural” a articular a volta dos seguintes temas: + histéria das cidades e das sociedades humanas. Estudos de casos; + a cidade no imaginério das novas geragies a + acidade na literatura e no cinema africanos; + as relagées cidade-campo; + introdugdo ao urbanismo, No segundo ano dos estudos urbanos e sociais, uma unidade de valor incidiria sobre “Espaco, sociedades e culturas” Esta UV. seria desen- volvida em torno dos temas: + a ecologia, uma ciéncia do homem e da natureza; + natureza e cultura: o homem eo seu meio; + percepcio do espago: 0 Outro e o algures; ‘+ que futuro para os povos da floresta? + 0 “fendmeno do lixo”; abordagem pluridisciplinar da rejeigao dos lixos e problemas de garbologia; +s sociedades pastorais ea crise dos ecossistemas. Estudos de casos; Para avancar na compreensdo das relagées entre espagos e socie- dades, uma segunda unidade de valor seria consagrada ao exame das relagdes entre "Cidades e sociedades”. Esta UV. permitiria a aborda- gem dos problemas de sociologia urbana e a andlise da vida social em ‘meio urbano a partir das culturas novas que emergem (modas, lingua- gens, lazeres). Esta unidade daria a possibilidade de promover estu- dos de antropologia urbana e seria o encaminhar para a abordagem dos problemas do meio ambiente com um esforgo para discernir as relagdes entre a ciéncia e a ideologia a partir dos riscos ecol6gicos em torno da floresta, do deserto, da fauna, ..No cerne dos assuntos a estu- dar, é necessdiio situar os problemas de gestdo do espaco no seio das sociedades e das culturas diferentes num contexto em que a passage do campo paraa cidade necessita de politicas urbanas a definir. No decorrer do terceiro ano, a unidade de valor que se articula a volta do médulo “espacos, desafios e estratégias” parece fundamen- tal, De facto, para além das descrigdes miserabilistas centradas sobre 0s “bairros de lata’, trata-se de compreender as dindmicas urbanas, as formas de criatividade pelas quais os diversos actores intervém na produgdo do espaco a partir das légicas sociats e das estratégias que les inventam. 0 objectivo ¢ 0 de mostrar em que medida o espaco urbano é um lugar de inovacao e de lutas sociais. Nesta perspectiva, abordariamos os temas seguintes: « sistemas alimentares e processos de urbanizagi0; «+ antropologia e sociologia da alimentagao; «a economia urbana popular: uma sociologia do “desenr “contrabando"; + 0s desafios imobilidrios em meio urbano: poderes e estratégias; ‘+ nascer e morrer na cidade: abordagem pluridisciplinar; + morar na cidade: desafios, actores e estratégias; + as culturas urbanas; « violéncia urbana e novas formas de luta social; + ohomem e a natureza: ideologias e desafios politicos ¢ econémicos. que” edo Finalmente, justifica-se a promogdo dos estudos de ecologta urbana {que examinariam os assuntos seguintes: + gestio da cidade e politica urbana; « espago urbano: capital e poder; + urbaniza¢o, movimentos e conflitos soci + adaptagao dos solos: abordagem pluridiscip + construir a cidade: actores e légicas socials. Estas indicagdes constituem simples pontos de referéncia, Elas nao procuram, de forma alguma, definir um programa de ensino e de investi- aco, O que nos parece importante é que a U.E.R. das Ciéncias Sociais seja um lugar de elaboracio e de difusdo dos saberes nos dominios testratégicos nos quais se decide o futuro do homem em sociedade. ‘Trata-se portanto de ficar aberto, procurando integrar os objectos de estudo cuja pertinéncia se impde. Em vez de se fechar num sistema fixo e intemporal, convém reinventar 03 conhecimentos a partir das regides onde o inédito é um desafio & investigagao. 4, Departamento das Ciéncias do Desenvolvimento e da Populacdo Ando é necessatio lembrar o interesse dos estudos sobre os problemas de desenvolvimento e de populagao. Nao deveriam, as universidades 1 senhote meta nie bese Pama sos wh ee africanas, mobilizar-se e concentrar-se sobre estes estudos num con- texto em que os Estados africanos so confrontados com questies demograficos que constituem um dos grandes desafios deste fim de século? Todos os estudos universitarios deveriam permitir de “inte- grar desenvolvimento e populagao” num sistema de conhecimentos a promover no ensino superior, Tendo em conta as contribuigdes tespecificas das ciéncias sociais, sugerimos aqui algumas orientagies de estudo e de investigacio. 1) Campos profssionais a privilegiar « Formagio e investigagéo: uma prioridade a ponderar tendo em conta {as caréncias neste dominio, principalmente nos paises do terceiro mun- ‘do onde ha falta de quadros competentes para os programas eas inter- ‘vengées a promover em matéria de desenvolvimento e de populagao. « Importancia da Pesquisa devido a complexidade dos problemas © das implicagBes onde se desenha o futuro a partir dos sectores e dos Tugares que, no estado actual dos conhecimentos, ainda nao esto suficientemente dominados. * Outros campos profissionais: quadros podendo intervir nos pro- jectos e nos programas de populacao e dle desenvolvimento a nivel local, regional ou internacional « Servigo dos estudos e dos projectos nos departamentos ministeriais e nos organismos de interveng3o nas estratégias de desenvolvimen- to e de popularao. 2) Perfil intelectual > Disciplinas de base a promover: « historia econémica e social de Africa; + historia da popula + cigncias econémicas e politicas; + demografia; + sociologia da familia; + sociologia do desenvolvimento e da populagao; + antropologia social e cultural; + antropologia do desenvolvimento; + sociologia rural; «economia rural e problemas de desenvolvimento regional. > Outras tematicas: + crescimento demografico e mutagdes sociais; + transferéncia de conhecimentos e de competéncias (ideologias © vealidades); + cultura e desenvolvimento; + politicas de desenvolvimento e de populacao; + ajuste demografico e crise do desenvolvimento. > Nas diferentes disciplinas de ensino, o Departamento destacaria: +o aprofundamento dos conhecimentos de base; + a aptidio para a reflexio critica; + a mestria das técnicas de investigagdo e de comunicagio dos conhe- cimentos; + o rigor da abordagem; +a capacidade de inovagao e de antecipagao teéric + 0 reconhecimento das diferencas e a abertura a especificidades culturais; + osentido da objectividade, 3) Para realizar este perfil > vers disciplinas enumeradas mals acima; > no que concerne as disciplinas novas a promover, deve-se insistir sobre os estucos urbanos e a sua implicagao sobre os problemas de desenvolvimento e de populario, a economia alimentar eas politicas agricolas, as ciéncias socials da satide e os problemas de desenvolvi- mento em meio rural e urbano; > pdra um alargamento dos horizontes onde, hoje, se colocam os problemas de desenvolvimento e de populagio, inscrever no pro- ggrama do Departamento ensino sobre: + o conceito do desenvolvimento (histéria e teoria) + as culturas e civilizagdes dos povos do terceiro mundo (Africa, ‘América Latina, etc.) E + as religides africanas e os movimentos religiosos contemporaneos; + Iskio, Cristianismo e problemas de populagio; ‘+ a percepeao da crianga nas sociedades tradicionais e no mundo contemporaneo + sexualidade e fecundidade nos adolescentes; + SIDA, antor, morte e imagindrio do mal nas sociedades africanas. > que pedagogia? + para as dlisciplinas de base: aulas ordindrias ancoradas no real e no quotidiano: repensar as praticas elaboradas no Norte tendo em con- sideragdo as questdes que se levantam nos paises do Sul constituiria um desafio interessante; + quanto a disciplinas novas, privilegiar os seminarios e os ateliers; + em todas as vertentes do departamento, promover uma aborda- gem global, dinémica e pluridisciplinar dos problemas do desenvolvi- mento e da populagio. 4) Problemas e desafios negligenciados, esquecidos ou inéditos a) > Quanto 20s problemas do desenvolvimento: preparar os futuros estudantes para discernirem as interacsdes entre as relagdes de poder e as relapdes de producao por forma a apodera- rem-se dos mecanismos de reproducao social relativos as ldgicas e estratégias das classes dirigentes. Numa palavra, seria interessante abrir no programa uma “drea problematica’ sobre o Estado, a socie- dade eo desenvolvimento; > Outros sectores negligenciados: + 0 impacto dos organismos internacionais (Banco Mundial, Fundo Monetario Internacional, Organizagdes nao-Governamentais (ON.G,}, ete) nos projectos e nas priticas de desenvolvimento; +0 papel das empresas e dos empreendedores; + as estratégias de sobrevivencia e as formas de criatividade das, sociedades locais em meio rural e urbano; + as mutagdes econémicas e sociais nos paises do terceiro mundo; + Estado, violéncia e mecanismos de acumulagao: + faléncia do desenvolvimento e processos de recolonizagao. ») > Em matéria de populacao: + os problemas da juventude e da sexualidade precoce nos e nas ado- lescentes em mefo escolar e urbano; «+ 05 problemas do envelhecimento nas mutagdes actuais das socie- dades do terceiro mund ‘ o papel do imaginario social e das formas simbélicas nas atitudes € nnos comportamentos procriadores: « a diversidade das respostas eas estratégias inventadas pelas socie- dades locais face aos seus desafios demograficos; ‘a insergao das dinamicas demogréficas nas mudangas sociats; so papel dos organismos internacionais e das O.N.. nas politicas de populacao. 5) Pontos fortes e de ruptura da ciéncia de amanha Quanto A problemética do Departamento das cléncias do desenvolvi ‘mento e da populagao, insistimos em trés pontos importante 1. Voltar a situar as sociedades do terceiro mundo na sua histéria € no seu ambiente, assumindo os novos desafios que surgem nas rela- ¢g0es Norte-Sul/Sul-Sul. 2, Repensar os problemas do desenvolvimento e ca populacdo toman- do em consideragio a crise actual do Estado ea emergéncia da socie- dade civil e integrando os problemas ambientals. 43, Tomar nota da crise dos modelos e das certezas e responder aos haves pedidos teéricos inventando as ferramentas de andlise, os conceitos e as teorias apropriadas para-ajudar a tomar decisdes eficazes que respondam a pluralidade das situagdes e das culturas. De qualquer forma, o Departamento deve abrir-se e participar no debate cientifico e intelectual sobre os problemas do desenvolvimento eda popula¢ao que constituem um dos grandes desafios do final do sé- culo XX. Esse debate traria a sua contribuigao e 0 seu reconhecimento ‘20 papel das ciéncias sociais demastadamente esquecidas na planifica- {40 e nas priticas do desenvolvimento e da populacao. ‘Ao concluir a sua formagio, o estucante deve dar a prova das suas aptiddes em matéria de ciéneias sociais. Para isso, é necessario que cle aceda a uma visio de conjunto destas ciéncias e saiba apreciar a sua ccontribuigao e o seu lugar no sistema de conhecimentos, Af também, ‘uma epistemologia das cléncias socials constitui um centro de interesse ‘maior. Talvez os niveis do mestrado e do doutoramento sejam os mais indicados para aprofundar a reflexao sobre estes problemas funda- ‘mentais. Os ateliers e semindrios sao os locais preconizadis para este 8st ese ii sade cnn, Ponerinae esforgo a partir do estudo de um texto, de um tema ou de uma discussio sobre um assunto importante. (Os programas de ensino e de investigaso destes estabelecimentos ‘obedecem as necessidades: «de transmissao e de aprofundamento dos conhecimentos em cién- cias socials e; + da investigagao cientifica e da profi selo da U.ER. das Ciéncias Sociais. nalizagio da formasao no A elaboracao destes programas deve abrir-se aos departamentos envolvidos numa experiencia de pluridisciplinaridade em ciéncias so- ciais, Pensamos particularmente nas “ligagdes" a estabelecer com: + ahistorias #2 geografia; +a demografia + alingufstica; «a psicologia social ea psicandlise; «as cigncias econdmicas e politicas; «+s ciéncias biol6gicas e florestais. Nas investigagdes a desenvolver para derrubar as divisdes entre as disciplinas que tocam as ciéncias do homem e da sociedade, nao seré ‘suficiente retomar as disciplinas de base necessarias e a dominar pelos estudantes; serd necessério ter a audacia de criar disciplinas no- vvas que lever em conta os problemas ou os sectores negligenciados ¢ esquecidos ou os pedidos teéricos que possam surgir em redor de desalios inéditos. 'Em todos os estabelecimentos a criar, 0 essencial € lembrar, nas priticas pedagégicas ¢ cientificas que h4 hoje, no que concerne as cigncias sociais: + dominios a cobrir; ‘relagées interdisciplinares a estabelecer; + métodos e técnicas de investigagio a dominar; + uma organizagao da investigacio a promover: ‘equipas de trabalho a constituir; ‘+2 informasio e a difusio dos resultados d volver; «a necessidade de romper o isolamento das ciéncias socials ¢ pro- mover a sua abertura em relagao empresa e ao mundo do trabalho em geral. westigagao a desen- Aste respeito, a UER. das Ciéncias Sociats deve interrogar-se em permanéneia sobre o futuro dos seus estudantes e a sua insersio na vida activa, Ela deve prever uma revisao sistematica dos conhecimen- tos, abrindo-se aos problemas colocados: + pelo recurso a avaliagao nacional dos diferentes programas de investigagao e ao estudo de projectos; + pela dominagao do espaco agrario e pelo futuro da agricultura; + pelo desenvolvimento da criagao e da pesca; + pela planificagao da adaptagao do territorio; += pela educacao; «pela satide; + pelos assuntos sociais e a condicio feminina; + pelo turismo; + pela comunicagao e a cultura; + pelas relagdes internacionais; + pelo ambiente; +pelo urbanismo e a gestiio do espaso. Para além de assegurar estas tarefas pedag6gicas e cientificas, privi- Jegiando os ramos de formagio relacionados com a vida activa,a U.ER. das Ciéncias Sociais deve também estabelecer contactos com todos ‘05 actores ou organismos que, hoje, manifestam um interesse sempre maior a favor das disciplinas especializadas no estudo do homem e da sociedade (jornalistas, grupos de pressdo, decisores, gestao, ... Avaliagdo dos Conhecimentos Nesta altura, o éxito do projecto de uma U.E.R. das Ciencias Sociais de- pende de algumas condides, Primeiro, o ensino tem que ter condigdes para a investigacao. Depois, tem que estar préximo das realidades Cientificas e abrir-se ao meio para 0 qual o estudante regressa depois da sua formagio. Isto supde uma reforma do contetido e dos méto- dos de ensino, £ necessario interrogar-se, constantemente, sobre o fu- turo dos jovens que decidem inscrever-se em ciéncias saciais. Como acompanhé-los nesta decisao ao longo dos anos de estudo que se deve tornar um tempo de aprendizagem para a vida? £ esta questo que tem que decidir a orientacao dos estudos. E, também, tem de intervir ao nivel da avaliagao da formacao. Além dos problemas com as notas de onde tem de desaparecer qualquer forma de arbitrariedade, 6 ne- cessirio interrogar-se sobre o tipo de homens que se formam nas nossas universidades. Se 0 estucante nao pode ser um simples eco do seu restre, hd que criar ruptura com os métodos de avaliaco onde se en- contra um sistema de ensino que se limita a uma formagao artesanal. ‘Num sistema que privilegia o bachotage', é necessdrio insistir nas aptidées a desenvolver em funcao da finalidade dos estudos, 0 contro- lo dos conhecimentos tende a fazer-se a partir das aulas dadas. Num contexto socio-cultural em que muitos dos jovens nao foram treinados, a leitura desde a infancia, nao deverfamos antes medir o nivel de um estudante submetendo-o ao estudo de um problema a partir de um artigo, do capitulo de um livro ou de um outro documento? Tendo em conta uma escolha de leitura em funsdo de pontos de vista diferentes, veriamos como o estudante reflecte sobre as suas leituras, como delas retira o essencial, procede & critica das afirmagdes, descobre as con- tradigées e formula as sinteses. Em ciéncias humanas e sociais este exercicio nao é s6 uma iniciagdo a cultura, mas também prepara para a investigagao na medida em que, aqui também, ha a necessidade de es- colher um tema, de proceder a uma pesquisa documental, estabelecer um plano e redigit um texto. Apartir dos trabalhos praticos dos ateliers ou dos seminarios, o en- sino vai fornecendo diversas ocasiées de testar 0 método de exposigao, de andlise e de discussio, Com estas experiéncias podemos evitar que © ensino superior siga os moldes do ensino secundario quanto ao indi- vvidualismo alucinado do qual encontramos vestigios na preocupacio de dar notas baseadas na prova do exame. A par do trabalho pessoal que ainda constitui uma grande exigncia, ndo ser necessario desen- volver a aptidao para o trabalho em equipa na medida em que este representa um factor de integrago numa teia de relacGes humanas no seio de uma empresa ou de uma organizagio? 0 ensino superior deve preparar os futuros quadros nacionals para trabalhar num mundo complexo onde a pluridisciplinaridade exige, doravante, a colaboracao a partilha, O mundo do trabalho em que os jovens se preparam para entrar impée a redugao da carga do exame, 0 essencial é que 0s estu- dantes tenham a ocasido de fazer a experiéncia de uma autonomia na organizagio de um trabalho colectivo em que eles treinam a andlise ea reflexiio. ‘Nao podemos aqui avaliar os resultados desta experiéncia sem re- definir 0 perfil do proprio docente: este é um animador de um grupo de estudos, um iniciador & pesquisa ou um educador que transmite com clareza a ciéncia que se faz? Encontra-se nele um guia ou um inspirador {que estimula o trabalho intelectual dos grupos de estudantes a seu cargo? Resumindo, ele é aquele homem junto do qual os estudantes podem usar 124, estado intense exsencalmente mnemnico como obectivo de passa um exame livremente a palavra e que consagra o seu tempo d colectividade univer- sitéria? Estas perguntas ficam sem resposta quando o docente nao acredita na sua missio, ou seja, quando nao acredita no valor do ensino quanto a sua potencialidade e utilidade para ele préprio, para os estudantes e para a sociedade. Se a investigacao nao encontrar o lugar que merece na organizagio da sua tarefa pedagogica, ele esta condenado a repetir-se. Ora, é também necessério insist na aprendizagem para a investigacao. Partindo dat, os critérios de avaliago dos conhecimentos devem ter em conta 0 conjunto dos factores que pdem em causa 0 docente € 0 estudante, Nesse sentido, 6 preciso rever as préticas actuais tendo em ‘conta os objectivos da formagéo que devem apontar primeiro o papel de orientagio e nio de selecsio. Dito de outra forma, é necessario rever a avaliago do trabalho universitario a partir das exigéneias de uma pedagogia de acompanhamento destinada a preparar os estudantes para o amanha, & em fungao desta pedagogia que é necessdrio exam nara questéo dos diplomas. Resta-nos insistir na criagdo de diplomas que se inscrevam no pro- ‘cesso de avaliagao e do controlo dos conhecimentos no seio das U.E-R. das Ciencias Sociais. Para além da licenciatura de sociologia e de antro- pologia, propomos que seja submetido.a exame a criagao dos seguintes diplomas: > um mestrado e um doutoramento em ciéncias sociais concedido numa disciplina ou numa dada especialidade. Por exemplo: mestra- do em ciéncias sociais conferido na disciplina ou especialidade de: + estudos africanos; + sociologia e antropologia; + estudos urbanos; + ciéncias do desenvolvimento e da populagao. A criagio destes diplomas depende das dificuldades especificas de organizagdo do ensino na U.ER, das Ciéncias Sociais. Administragdo e Problemas Mate is Entre as urgéncias a honrar na aplicagio do decreto sobre as UER, 6 claro que se impde uma adaptagio das estruturas de acolhimento a fim de eriar melHores condicbes de trabalho para os docentes © para ‘os estudantes do actual departamento de sociologia. Nao se concebe uma UR. das Ciéncias Sociais em barracas, a ndo ser que se procure conduzir este sector do ensino superior e da investigagao cientifica & asfixia ow A morte. Se as ciéncias sociais no so um luxo para o Estado africano, a politica dos estabelecimentos universitarios deve obede- cera uma hierarquia de necessidades que privilegie as disciplinas cujo ensino esteve, durante décadas, isolado em edificios de tébuas como vvimos nos Camardes. Para promover as equipes de investigagao assocladas, € necessério rever a situago dos locais (salas de aulas e de trabalho} e abrir novos ppostos de ensino para dar resposta as necessidades pedagégicas da ER das Ciéncias Sociais. Finalmente, ndo se pode ignorar os problemas materiais e logistics do pessoal nao docente dos estabelecimentos a desenvolver no ambito da U.E.R. (secretariados, material de escritério, Por outro lado, a utllizacio das técnicas modernas ao servigo do en- sino e da investigagao em ciéncias sociais levanta novos problemas a resolver a nivel do equipamento: «biblioteca especializada em ciéncias sociais; + laboratérios de investigagao; « meios audiovisuais; + informati Para a gestdo da nova estrutura a criar, propomos a criagdo de trés tipos de concelhos: + conselho de administragao e de gestdo; + conselho cientifico; + conselho pedagégico. Consethos formados por docentes e investigadores exp« cujo perfil o niimera terao de ser definidos; os conselhos cientificos fe pedagégicos serao encarregados de assegurar a animacao da UE. das Ciencias Sociais no conjunto dos problemas especificos ao ensino eA investigacao cientifica. III. Ciéncias Sociais e Devir das Sociedades Africanas Criatividade Endégena e Interdisciplinaridade Neste momento da Histéria, em que os desafios so importantes, torna-se urgente, em todos os dominios que abrem novas tarefas do pensamento as inteligéncias africanas, desenvolver a capacidade de reflectir sobre os nossos problemas e encontrar solugdes que se dife- renciem das do exterior. Logo, o problema que se pde'é o da “criativi- dade endégena’: Este problema surge no seio das instituigdes de ensino e de inves- tigacdo onde se deve formar homens e mulheres aptos a criar e nao a repetir e a reproduzit. Se nao dissociarmos o dominio das ciéncias sociais de um sistema de valores socio-culturais, podemos medir a importancta das responsabilidades que nos incumbem de proceder a uma verdadeira descolonizagéo das ciéncias do homem em Africa. 0s processos de inovarao esbarram-se aqui na influéncia de modelos que, com a transferéncia de conhecimentos, tendem a impor-se num contexto ein que 0 Norte detém o monopélio da informagio e da difusio das ideias. Nesta situagao, é necessério proceder a um questio- namento dos esquemas conceptuais, dos modelos e dos paradigmas ‘que orientam e conduzem a investigag4o empfrica a fim de permitir a interpretagao rigorosa das realidades complexas e das mudangas ‘no nosso continente. & para responder a necessidade de elaboragio de estratégias de acgdes praticas ¢ eficazes que nos obrigamos a esta abordagem critica. Nenhuma contribui¢ao possivel & valida para a Africa, se o desenvolvimento das ciéncias sociais se desenrolar como ‘um processo de mimetismo e sob a hegemonia da produgao socio- ientifica dos grandes centros mundiais. Para sair cle uma situagao de dependéncia intelectual que é 0 reflexo de uma situagao de sub-desenvolvimento e de tutela das sociedades africanas, 6 essencial desenvolver o sentido critico e ultrapassar os es- tados da imitagao. E a tinica maneira de se separar do etnocentrismo da conceptualizagao nos sistemas de conhecimento nos quais o peso dos modelos do Norte & consideravel, Agora, passada uma década, mais do que nunca, estas precaugdes io titeis, porque assiste-se a um novo interesse pelas ciéncias sociais no seio dos organismos mundiais empenhados nos paises do terceiro mundo. Referimo-nos ao recurso a antropélogos € a socidlogos nos dominios de intervengio onde, depois da “faléncia do desenvolvimen- to" de Africa, sé redescobre a importancia das factores socio-culturals negligenciados durante muito tempo. Da mesma forma, as campanhas de luta contra a epidemia da SIDA impdem pesquisas sobre o imagindrio do mal nas culturas e nas so- ciedades onde a andlise dos fluxos migratérios esté ligada, doravante, 4 elaboracdo das politicas de saiide, como sugere a Conferéncia de Marraquexe, Numa Africa em mutacao, é urgente Implementar uma verdadeira antropologia e uma sociologia do corpo, a partir da articu- lagao dos relat6rios entre o amor, a sextalidade e a SIDA. Nao se pode evitar 0 aprofundar dos conhecimentos acerca dos comportamentos sexuais num ambiente socio-cultural onde se observa uma espécie de resisténcia aos preservativos no seio de grupos que preferem o full contact (como dizem os estudantes de Yaoundé). Por outro lado, se 0 dominio da fecundidade continua a ser um dos problemas chave do continente negro, & necessério interrogar-se sobre a contribuigo das ciéncias do homem no estudo «los actos da populagdo, no momento em que, "para além do quantitativo’,trata-se de tomar em consideragio as estruturas sociais, as representagées colectivas e os modelos culturais presentes nas atitudes e nos compor- tamentos dos individuos e dos grupos humanos. Depois da Conferéncia do Rio, onde se reencontrou os conflitos entre o Norte eo Sul, os problemas incontornaveis de populacao e de ambiente e o desafio da sua integra- lo exigem pesquisas pluridisciplinares. Em todos os dominios que acabamos de invocar, o que esta em causa sti os grandes desafios da Africa de hoje e de amanha. Percebe-se as- sim, a importincia e o papel das ciéncias sociais no devir das clen- cias africanas, Com toda a evidéncia, estas ciéncias so as cféncias do futuro, Nao ha diivida de que nada o faz supor como no-lo Iembra 0 deserto cientifiéo no qual evolut o ensino destas disciplinas que, na maior parte doS paises, ndo sio a maior preocupacio dos governos. Nos Camarées, regime de Paul Biya entendeu ser necessirio fechar 0 Instituto das Ciéncias como sea promogao dos estudos sobre o homem, ea sociedade nao tivessem qualquer interesse para o futuro do pats! ‘Apenas alguns espfritos atrasados continuam a acreditar que estas iéncias so um luxo para os “literdrios’ Desde que a O.MS. recomen- da uma definigo global da saiide, é necessario renunciar a ideia de que este sector é unicamente apandgio das faculdades de medicina, (fanaa Resa tacked tens ono slaco Sc Mae £, realmente, o conjunto dos factores que contribuem paraa satide que é necessario abordar, Assim, 6 necessério considerar os problemas de satide que nao dependem unicamente da bioquimica, Ai esté a neces- sidade de se abrir a dominios que ndo dependem obrigatoriamente da formacao de base do médico. Lembremos também a obrigacao para o ecologista de pensar nos problemas econémicos subjacentes a qualquer problema de poluicio e vice-versa, 0 economista deve aprender os problemas de ambiente na inckistria, Pois, a partir de uma especializago, somos chamados a uma abertura sobre o conjunto dos conhecimentos num mundo onde se faz sentir a necessidade de reencontro interdisciplinar ‘Na medida em que os técnicos so convidados a sentar-se a volta de uma mesma mesa para discutir, juntos, os problemas, convém orien- tar-se, a partir de um dominio de especificagao definido, rumo a uma unificagii das perspectivas e das relagdes do homem coma sociedade. Portanto, para compreender, em toda a sua complexidade, os problemas aos quais somos confrontados, é necessSrio abrir, no selo do ensino, possibilidades de interdisciplinaridade, Tal é o papel da interpenetragao das disciplinas que contribui para a aquisigao de um saber total. Esta orientagdo coloca em causa as barreiras disciplinares inscritas num sistema de ensino que, tendo em conta a divisao entre as faculdades e as Grandes Ecoles”, s6 pode oferecer uma cultura em migalhas. Um Lugar de Passagem Os problemas estruturais ndo devem abafar as questées de fundo ‘que persistem nas universidades, onde ¢ necessério interrogar-se sobre o futuro dos estudantes que se orientam para ciéncias humanas e so- ciais. O debate sobre a profissionalizacio do ensino deve levar-nos a ropensar o estatuto destas disciplinas nas unidades de formacao e de investigagio, Nao se trata s6 de saber como ensinar estas diseiplinas. ‘Também é preciso perguntar: que disciplinas ensinar? Porqué este en- sino? Estas questdes sublinham a necessidade de uma reflexao sobre os problemas de método, de conteiido € de finalidade do ensino das cigncias do homem e da sociedade. Este trabalho de reflexdo nao pode ser conduzido do exterior: An- tropélogos e sociélogos, historiadores, psicélogos e gedgrafos, devem instaurar processos de auto-avaliagao da sua pratica num contexto em 125. sob esta designacio francesa esti nuldas diversas escola engenari de comér cioete que se enracteriza, em geral pelo sevalto vee els exigncin do concurs de entrada que a passagein do ensino secundério para o ensino superior com- promete o futuro dos estudantes. Corre-se o risco de esquecer que a luniversidade é um lugar de passagem onde os estudantes fazem uma stadia transitoria antes de uma entrada definitiva na vida activa. Ao nivel do ensino, arruma-se esta questéo “do a seguir” como se toda agente tivesse de ficar no campus, quando este & apenas 0 caso dos docentes. Hoje, trata-se de gerir a saida da universidade interrogando-se sobre ‘forma como um estudante em ciéncias sociais, tendo portanto feito uma escolha diferente daquele que cursou numa Grande Ecole, deve estar consciente das dificuldades que 0 esperam a saida. & aqui que ‘ propria instituigdo tem de fazer escolhas, lembrando-se de que um diploma de estudos superiores ja nao é um cartdo de entrada para um cemprego de nivel superior. 0 laco a estabelecer entre 0 ensino e 0 es~ tatuto socio-econémico levanta portanto um debate de fundo sobre 0 futuro das ciéncias sociais. Se queremos evitar que o sistema provoque frustragdes amargas, é necessdrio que este sistema aceite submeter-se um processo de auto-critica que o obrigue a interrogar-se sobre as suas respostas aos pedidos sociais dos estudantes. Para sair das contradigées actuais, as ciéncias sociais devem dar pro- vvas numa sociedade onde é preciso arranjar contractos, colocar aqui ou ali um socidlogo ou um antropélogo, arranjar lugares a tempo in- teiro, Tudo isto coloca a prética destas ciéncias em interrogagao acerca da sua fiabilidade e da sua validade. € necessdrio mostrar em que é que (0s trabalhos dos socidlogos e dos antropélogos podem dar resultados praticos; é necessario dar provas da validade dos discursos, dos méto- dos e das hipéteses proprias as nossas disciplinas em factos concretos. HA nisso um desafio que interpela o conjunto das ciénetas sociais ¢ 0 seu modo de transmissio, Num periodo de mutagbes, é 0 actor soci- ‘olégico ou antropologico que deve dar provas da sua eficiéncia social. }i ndo se deve ensinar as ciéncias sociais ignorando os pedidos das empresas, dos gabinetes de aconselhamento, dos centros de formagao ou das escolas de saiide, das colectividades locais, dos organismos en- carregados de construsao, da adaptacao do territério, dos sectores do trabalho social ou das administragées publicas. Muitos sociélogos e antropélogos que se formam na unive podem par em pratica o seu saber pata responder a perguntas, inter- Vir, avaliar préticas ou programas, analisar situagdes ou estruturas, dar conta de alguns fendmenos. Na Africa negra, tendo em considera- sao a importancia dos problemas de desenvolvimento, talvez se veri- fique um aumento dos benefictrios das ciéncias sociais. E preciso entdo preparar-se para controlar as novas contingéncias da producdo lade cientifica, situando-se em relago aos novos pedidos que exigem uma renovacao dos campos de estudo. £ necessdrio abrir-se aos temas por tadores de questdes inéditas nas situagdes em que, em meio africano, os docentes confrontados com a difusdo da sua ciéncia sejam conde- nados a repensar a pratica da sua disciplina e da sua profissdo de in- vestigador face aos usuarios das ciéncias sociais que tm de verificar a pertinéncia dos seus métodos e a validade das suas abordagens. Comprometido nesta dindmica interna, o docente destas disciplinas no pode remeter para mais tarde a aquisigao dos métodos de anélise de investigagao contentando-se com a iniciagao, dos prin. através de nogées de base. Na medida em que um socidlogo ou um antropélogo pode ser levado a intervir num programa de accao, os problemas cle investigagao devem integrar todas as etapas da forma- (a0. Basta adaptar ao nivel dos estudantes que se inserem num siste- ma pedagégico onde o ensino e a investigagao se mantém indissocia- velmente ligados. ‘Apromog3o das ciéncias sociais deve articular-se, preocupando-se em enraizar a universidade no seu meio-ambiente cultural. Desta forma, ela poderd clevolver aos jovens africanos a consciéncia da sua identi dade. A este respeito, os historiadores, os antropélogos e os socidlogos carregam pesadas responsabilidades nas universidades herdadas do Ocidente. Ai, corre-se o risco de reproduzir 0 modelo de uma cultura extrovertida que penaliza os saberes indigenas. & necessério resistit a0 mito e seduga0 do que é importaco para considerar antes os conhe- cimentos que se elaboram a partir das terras africanas. ‘Tendo em conta a importancia da aquisicao dos conhecimentos para a formaga0 cla "personalidade de base’, nao sera indispensavel que, em qualquer nivel do ensino superior, a antropologia deixe de ser relega~ da para o Gltimo lugar de uma disciplina secundaria que apenas interessa a alguns estudantes das faculdades das ciéncias humanas? Porque é que um médico, um jurista, um agrénomo ou um politécnico ddevem ser mantidos.a distancia das -antropoligicas e sociol6gi- cas que dizem respeito ao exercicio da sua profissao, a sociedade ou a regido do mundo onde se preparam para trabalhar? Todos os que, por uma profissao, sao chamados a viver em contacto com populagdes muito diferentes das suas deveriam abrir-se a um sistema de conhe- dmentot nda aettocias do bomen ods sociedade encontram o seu lugar Para uma Emergéncia das Sociedades Cientifi- cas Em Africa, no contexto actual, peso dos constrangimentos provo- cados pelo ajustamento estrutural tende a abafar o ensino superior. Assim, para assumir as tarefas das ciéncias sociais, é necessério assi- nalar os graves obstdculos a ultrapassar. De facto, constata-se que as factores internos que colocam as universidades africanas & beira da decrepitude, e cujas manifestagdes sao assinalados aqui e além, & necessdrio acrescentar, doravante, as restrigdes orcamentais impostas pelas politicas de austeridade. Estas assumem um grau tao importante que nos questionamos quanto a possibilidade dos docentes ¢ dos investigadores conseguirem escapar ao risco de sufocar. Para os investidores, tudo se desenrola como se 0 ensino superior se tivesse tornado um luxo indtil. Talvez fosse melhor para estes paises pobres de Africa concentrarem-se primeiro na educagio de bbase em vez de dissipar os recursos 4 limitados por um sistema de ensino superior que, no que diz respeito a pertinéncia, néo parece ser “rentvel" tendo em conta o enorme desperdicio ao qual chega ‘uma formacio sem ligagao real com as necessidades da sociedade © da economia. ‘Num momento em que qualquer decisio a tomar a nfvel governa- ‘mental deve corresponder as tinicas prioridades estritamente com- pativeis com o plano de ajustamento estrutural, compreende-se as * Bes” ow as reservas do Banco Mundial e do FMI. perante as jcas que tém em vista a “deslocalizacao" de uma massa de estudantes que os poderes, em crise, ja nao conseguem gerir em espacos reduzidos. Tendo em conta os imperativos dos planos de investimento e dos orgamentos operacionais que se inscrevem numa estratégia global cuja elaboraeao escapa aos dirigentes locals, é pre- iso, doravante, esperar que os investidores definam quais S40 0s tipos de instituigSes, de programas de ensino e de formacdes que convém gs africanos. Nao basta que o crescimento dos efectivos de estudantes imponha a descentralizagio da universidade para que as instituigdes criadas funcionem. f também necessério que as informacies ¢ as jus- tificagSes submetidas ao Banco Mundial estejam conformes ao modelo e uma planificagao do ensino superior compatfvel com as andlises € as avaliagdes dos peritos. Se os objectos de estudo so um recurso “natural” cuja rentabilidade é incontestavel, 6 entio necessario devolver toda a sua importancia & investigagio em ciéncias sociais nos paises de Africa em que as politi ‘cas de ajustamento estrutural tém tendéncia a ignorar as estruturas > enMncEh Rebate beddings sociais, 0s comportamentos dos individuos e dos grupos humanos, a evolugao destas estruturas e destes comportamentos, as reacgdes as logicas que convém ter em consideracao para firmar as bases de um verdadeiro dominio do desenvolvimento. Em Africa, o essencial para as sociedades e as economias estd onde os peritos no imaginam. Assim, as medidas de austeridade remetem para segundo plano pre- cisamente as dindmicas locais e os ajustamentos espontdneos que é necessirio analisar. £ por isso que os processos de desenvolvimento constituem o dominio das investigagdes a promover. Para além dos equilibrios econdmicos e financeiros, é necessario destacar as dimen- sdes esquecidas, estes assuntos julgados sem importdncia pelos peri- tos. Para que ensino superior desempenhe 0 seu papel motor, temos de redefinir as condigdes de uma investigacdo durdvel. Nesta perspectiva, serd necessério reforpar a capacidade nacional de investigacao a partir da prépria universidade. ‘A tarefa nao é facil na medida em que a preocupaciio pela inteligén- cia nem sequer nos meios universitérios ocupa sempre um lugar de honra, Temos de admitir que o meio no qual evoluimos s6 de forma ‘muito débil estimula o trabalho intelectual. Basta recordar o estado das bibliotecas onde nao se encontra tudo ‘0 que foi escrito sobre os temas a estudar. Aqueles que tém possibili- ‘dades econémicas resolvem este problema fazendo longas estadias no estrangeiro para arranjar a documentacéo necessdria e dar-se conta da evolugdo da investigagao cientifica. Nas livrarias das capitals onde estio implantadas as faculdades e as grandes escolas, encontram-se ‘mais obras esotéricas do que livros cientificos. Também acontece que se termine um ano académico sem que se tenha realizado um ‘nico ‘col6quio permitindo a traca das experiéncias e 0 confronto dos resul tados da investigacao. A obrigacao de submeter o texto de uma inter- vencao a apreciagao das autoridades académicas desmotiva aqueles que pensam que a protbisgo da eritica universitéria é um entrave & produgao intelectual. ‘Também se compreende que face & atribuigio de miiltiplas tarefas administrativas, alguns docentes pouco tempo consagram a vida in- telectual. Tal como acontece com um antigo professor universitario que, depois de se tornar ministro, nao hesita a confessar que se des- ligou da sua especialidade. Nas sociedades votadas ao espectéculo onde o titulo de “Director” de uma alta administragao tem mais peso simbdlico do que o de autor de artigos ou de publicagées cientifi- cas, 0 compromisso com actividades mais Iucrativas provoca uma verdadeira "fuga” para outras funcGes. Para as elites assombradas pelo desejo de uma promogio na maquina do Estado, a preocupacao de ocupar um lugar no Governo, & frente de uma empresa ou de uma instituigao nacional conta mais do que a vontade de participar na histéria do saber "Nestes tempos de crise em que a prostituisio é uma estratégia de so- brevivencia, arriscamo-nos a ver aparecer uma espécie de “proletari- ado da ciéncia”, Na auséncta de meios regulares de trabalho, nenhum cientista sensato, e tendo uma familia para alimentar, pode gastar ‘tempo na investigagao. Os sakirios insuficientes e irregulares obrigam a recorrer a trabalhos que se oferecem sob a forma de peritagens, de conselhos ou de criagao de actividades (plantagdes, imobilidrio, taxi, bai; criagdo, ..) sem relagio com as competéncias cientificas, A sobre- carga das aulas nao é suficiente para justificar o facto de que as publi- cages s6 acontecem em caso de promogio, Nas sociedades africanas, os investimentos sociais impostos pelos constrangimentos do parentesco acompanham um modo de vida que absorve longas horas em tagarelice ao longo das conversagdes inter- minaveis onde, consumindo cervejas locais ou importadas, nos va~ mos consolando das infelicidades do tempo presente. Apesar de ha~ ver muitos que se comprazem na exibigao de cartdes-de-visita com 0s titulos académicos, ndo é evidente que estes manifestem sempre que ha uma forma de viver que consiste em impor-se horas de estudo e de investiga¢ao num lugar retirado ou num laboratério. Talvez se rencontre aqui uma heranca recebida dos meios de formacao onde nao hé lugar para a investigagiio. Tudo acontece como se os anos pas- sados a preparar uma tese tivessem esgotado toda a criatividade. Resultado: cedendo a tentagao do mandarinato, fica-se atolado num grau elevado nao saindo do anonimato através da autoria de uma obra de referéncia, Se a universidade é um lugar onde se concentra um potencial im- portante de pessoal cientifico, como compreender a fraca producao intelectual para um dominio tendo em conta 0 niimero de docentes portadores de diplomas de alto nfvel? Sera que esta situagao pode ser explicada unicamente pela auséncia de estruturas de investigacdo nas universidades atingidas pela crise? Ou convém tomar em considera- aos estruturas mentais que levam um grande niimero de africanos a instalar-se num sistema onde o questionamento permanente ¢ o renovar dos conhecimentos sio uma preocupagdo menor? Para responder a esta pergunta, notamos com Nicole-Claire Ndoke: *afuncionarizagao dos professores tha evad colegasatomar-se por funcionsrios ea comportar-se como tal. les tinham esquecido a investigagio, Um dees, docente de dirito, a quem se censurava o facto de no ter publicado nada havia jf cinco ‘nos, respondeu-nos que no era poeta, e que s30 05 poetas eos romancistas que tam que escrever"™, ‘Vemos assim a necessidade de “desfuncionarizar” as mentalidades dos docentes africanos para sair da rotinizagdo das tarefas pedagégi- cas e provocar a emergéncia das comunidades cientificas no seio das universidaces. Impie-se uma reforma do entendimento. Num contex- to econémico em que o financiamento de um projecto de investigago Fepousa muitas vezes sobre a ajuda estrangeira, o que nos ameaga & a asfixia das investigagées universitarias. Mais precisamente, a partir da ligago ensino-investigagao, trata-se de ajudar @ criagdo de um meio ientifico no seio das universidades africanas. No que concerneao homem e sociedade, as U.E.R, so os meios privi- legiados onde, em varios dominios, a produgao cientifica por docente/ investigador pode ajudar a Africa a enfrentar os desafios de hoje e de amanha, Se o desenvolvimento passa pela investigagio cientifica, equi- pas pluridisciplinares devem formar-se em redor de projectos de in- vestigasio clefinidos a partir dos grandes desafios da sociedade. A este respeito, seria util identificar os assuntos de envergadura tendo em conta as prioridades nacionals ou regionais. Mobilizar 0 conjunto do dispositive universitério de investigaga0 e desenvolver a capacidade cientifica dos docentes € o objectivo que permitiré ao ensino superior valorizar o rico, mas dispar, potencial de ‘que dispoe. A Contribuigao das Ciéncias do Homem Nao se trata aqui de delimitar os campos sectoriais onde o potencial cientifico da universidade deve investirse. Nos dominios relativos as cigncias do homem, basta notar que apesar dos graves problemas que se colocam em torno de desafios de raiz nos paises onde as presses da populagao e os desafios alimentares obrigam a reconsiderar os ris- os ecoldgicos e o peso das dindmicas locais nos sistemas e nos pro- cessos de producdo, a prioridade da investigacao aplicada jé nao pode ser s6 dada ao desenvolvimento rural. £ preciso promover os estudos uurbanos nas sociedades onde a cidade é um desaflo para os estudos eas politicas africanas. Nesta perspectiva, nao é mais possivel negligenciar os problemas dos jovens e das mulheres em meto urbano; é preciso também assumir os novos temas que se oferecem a andlisea partir do mundo do trabalho e 1126. Dikalo, 25 de reiro 1993, | da empresa, da satide e do alojamento. Hé ai uma “jazida’ ¢ um desafio aos estudos afticanos na medida em que a antropologia e a sociologia nao podem abandonar este sector & economia. As condigies de acess a modernidade constituem um dominio que, em meio africano, inter- pelamas ciéncias sociais.& por isso que nao 6 tarde para imaginar uma antropologia das ciéncias e das tecnologias num ambiente em que a ‘Africa nao escapa as influéncias da modernidade como no-lo lembra a penetracio da informatica cuja importncia nos processos de mu- danga social deve ser medida. 'No momento em que o surgimento do Estado no corago da univer- sidade tende a reduzir os espacos critics cedendo a tentagao autori- tara que culpabiliza os desacordos, o que acontece nos campus revela accrise da sociedade global. A degradagao das condigdes de vida e de trabalho lembra-o constantemente. ‘Ao mesmo tempo, vive-se quotidianamente o drama dos jovens que descobrem que o saber em nada serve aquele que o tem. Desta forma, convém repensar os estudos a partir dos interesses dos estudantes. O verdadeiro debate deve incidir sobre a finalidade do ensino superior. Sem encerrar a reforma da universidade nos processos disciplinares fe nas transformagées administrativas, 6 preciso interrogar-se acerca do papel da universidade no desenvolvimento econémico e social dos pafses africanos. Ha jd uma década que o capital cultural que se apreende nos bancos da escola nia é factor de pertenga a burguesia do diploma, Com toda a evidéncia, este tempo acabou. A universidade jé nao é um lugar de selecco das elites. Como fazer dela o lugar da elaboracao de um saber ‘com 0 qual se alimente a Africa? Este é 0 desafio do debate que se im- poe a partir das questdes levantadas pelo surgimento dos jovens nas sociedades africanas contemporaneas. Conclusao: 0 Ensino Superior no Momento das Escolhas ‘Tendo chegado a um momento de viragem na sua histéria, a U versidade africana nao pode mais permitir-se os enormes desperdi- clos aos quals assistimos ha varios anos num contexto em que as condigdes de trabalho nao cessam de se detertorar. Para fazer face ‘20s desafios de hoje e de amanh& e cumprir as misses que Ihe ‘cabem, talver seja necessario, finalmente, criar uma universidade digna desse nome. ‘Apesar dos esforgos despendidos, parece nao se ter conseguido por em funcionamento um verdadeiro sistema de ensino superior. Tudo ‘acontece como se ndo se tivesse rompido totalmente com as estruturas dde um ensino de tipo colonial que se realiza no Ambito de um grande liceu assaltado por uma multidao de estudantes. Nos Camardes, como reconheceu corajosamente o 1° Conselho do Ensino Superior ¢ da Investigagao Cientifica e Técnica, parece hoje que o nosso ensino superior nada mals é ainda, do que o prolongs mento do ensino secundario de tipo colonial cujafinalidade era produzir os agentes necessities ao "bom funcionamento” dos gabinetesadministrativos de gest corrents. [Nao se preparam verdadeiros agentes de mudanca chamados a integrar-se nutn projecto de transformagao eseala nacional e continental De facto, constata-se hoje um certo desinteresse espantdne0 dos nossos diplomados, ‘em elagio administra, a favor do sector privado, Mas,independentermente das razBes materiais bem compreensivels que o podem expliear, este fendmeno é por si proprio significative do insucesso do sistema actual, até porque nie & raro que © compromisso profsstonal do jover diplomado nao correspenda a “formacao" que. teoricamente ele ters recebido"™? 27. A pltica do Ensino superior, eatioapresentad pelo Senior Ministro da Ecor 30 Nacional p32 Esta situagao nd pode mais durar. £ necessdrio por fim a qualquer forma de bricolagem e de gestao do dia-a-dia numa instituigéo que se deve tornar o forno onde se cose o pao intelectual do qual a nossa sociedade precisa, Nesta perspectiva, a ndo é possivel adiar muito mais tempo o debate sobre a universidade. Neste final de século em {que desalios sérios interpelam os homens das ciéncias e da cultura, parece-nos oportuno insistir sobre a importancia das ciéncias sociais na medida em que “o ensino superior deve permitir o desenvolvimento de uma reflexiio acerca da sociedade e, através desta, acerca do homem'=". Vimos que as ciéncias que fazem do homem e da sociedade o seu préprio objecto tém um papel a desempenhar nos esforgos quotidianos para o progresso do nosso continente. : Por este motivo, a criagdo de uma U.ER. das Ciéncias Sociais nao é simplesmente uma resposta a uma vontade politica. Ela é também ‘uma oportunidade de a agarrar. Neste momento, em que se impde uma revisto sistematica do modo de funcionamento da Universidade, a U. E.R, das Ciéncias Sociais pode tornar-se um lugar de inovaca0 pedagégica e de criatividade cientifica onde se elaboram as respostas 30s problemas da adequacao da formagio edo emprego. Precisamos, portanto, de assumir esta estrutura universitaria para tentar uma experiéncia aberta e dinamica a fim de conservar um clima de investigago e de suscitar um esforgo constante de reflexio inter- disciplinar acerca da sociedade contemporanea. De qualquer forma, se a Universidade em Africa no quiser tornar-se um quisto, mas sim um motor do desenvolvimento naclonal,a U.ER. das Ciéncias Sociais deve contribuir tornando-se um lugar ativo de formagao e de investigagao a partir dos campos do saber onde se criam areas de insergio e pontes ‘entre as diseiplinas, Sublinhamos a pertinéncia das inovagées que se impoem ao ensino superior no momento das escolhas tendo em vista o futuro. Bae Para além dos problemas de administragao e de economia domésti- ca, as universidades africanas tém de se reapropriar de um melhor conhecimento delas préprias, tomar consciéncia das mudangas que clas atravessam e repens's as suas missdes, Esta tarefa é-lhes imposta pela historia no momento em que, corrofdo “por cima" com a inves- tida do FM. e do Banco Mundial, o Estado enfrenta um tremendo despertar das sociedades do qual testemunha a emergéncia de uma 7 alc do in peri reatr apesetdo pl Serr Mn a Educ nal tl pas Acta do problema ds universdads africanas, ver Pau) M. Teg. Snse(nement SL eng are fephone La ctcrge?Uarmatn Par 908 cee ieatebicates tare etc asune no eager 2s de 15/02/5:"Eseigeent Seiotaur Quel tteacht"? pp7-10, er iuaimente 0 daser de Dikad sbrea Universidade Pom te ae tov 002 cultura de oposicao e de numerosos polos de iniciativas. Assisto-se, por toda a parte, a uma crise das verdades e da ldgica do Estado. As revoltas do desespero multiplicam-se enquanto que os jovens se veem sem trabalho face a regimes politicos cuja legitimidade se atrofia. Nos diversos mcios, os discursos de ontem perderam a sua capacidade de mobilizagao junto dos grupos e dos actores sociais que j nao confiam nas equipas no poder. Um importante movimento de protestos estru- tura o imaginario de uma sociedade em gestagao. Este imaginario deve tornar-se 0 campo de estudo dos sociélogos, dos antropdlogos e dos politicos, des economistas e dos demégratos. Sea universidade é outra coisa que nao um grande restaurante e um espagoso dormitério, cuja gestao absorbe o essencial dos financiamentos piiblicos, 6 necessario interrogar-se sobre a contribuigao dos esta- belecimentos de ensino e de investigacio produgéo dos discursos ientificos sobre a Africa contemporanea. Dito de outra forma, sera que a universidade permite a sociedade, que nasce sob os nossos olhos, falar dela prépria com conhecimento de causa a partir dos instrumen- tos de andlise, dos conceitos e das teorias, das problemsticas e das lin- guagens que ela Ihe prope? Que Ihe diz ela acerca dos seus problemas, das suas apostas e dos seus desafios? Como é que ela contribui para © conhecimento da nossa realidade social? So estas as questdes fun. ‘damentais que nos obrigam a reorganizar o ambito dos saberes tendo em conta as novas relagdes a estabelecer entre a universidade ¢ a sociedade. Tudo nos condena a renunciar aos discursos encantatérios e as crispagdes apaixonadas que ocupam ainda muitas vezes 0 centro dos debates acaciémicos. & tempo, enfim, de abordar as questdes de fundo submetendo o ensino superior a prova de uma sociedade da qual é preciso compreender as estruturas ¢ as légicas, as atitudes e os com ortamentos, os mitos, os sonhos ¢ os fantasmas, as contradigées e {0s conflitos, as explosies e as violéncias, os actores e as estratégias. Precisamos de nos concentrar fortemente no real e no imaginatio, no oficial e no oficioso, no banal e no quotidiano. Finalmente, resta-nos descobrir a esfera das relagdes e das dinamicas sociais numa Africa onde se procura uma outra forma de comportamen- to no poder assumindo as aspiragdes de uma juventude que, todos os anos, bate as portas da universidade e das empresas dos Estados em busca de credibilidade. ct 0 Sr

Anda mungkin juga menyukai