ABORDAGEM DO TRAUMATIZADO
INTRODUÇÃO
O Trauma é o principal responsável pela mortalidade acima de 1 ano e antes dos 45 anos de
idade. A análise das estatísticas revela que a principal causa são os acidentes de viação.
As quedas, outros acidentes de trabalho (além das quedas) e as agressões também são
fatores que, anualmente, contribuem para que os números da mortalidade e morbilidade
permaneçam muito elevados.
Um aspeto fundamental para diminuir o impacto deste problema passa pela correta prestação
de cuidados de Emergência Médica Pré-hospitalar às vítimas de trauma, contribuindo para a
redução da mortalidade e morbilidade associadas a este flagelo. Além da assistência rápida, é
necessário que os cuidados pré-hospitalares sejam prestados de forma correta, permitindo a
estabilização do traumatizado e a sua preparação para o transporte para a Unidade de Saúde mais
adequada, minimizando as perdas de tempo e limitando-as ao estritamente necessário para que o
traumatizado possa chegar a essa Unidade nas melhores condições possíveis.
Assim, as prioridades da abordagem do traumatizado são as seguintes:
1) Garantir a segurança da vítima e da equipa durante toda a intervenção.
2) Identificar e corrigir as situações que implicam risco de vida.
3) Não agravar as lesões existentes nem provocar novas lesões.
4) Garantir a correta imobilização do traumatizado e apenas mobilizá-lo quando
necessário, recorrendo às técnicas adequadas.
5) Limitar o tempo no local ao mínimo necessário para estabilizar a vítima e preparar o
seu transporte em segurança (idealmente este tempo não deveria exceder 10
minutos para vítimas com lesões traumáticas graves ou potencialmente graves).
ATUAÇÃO
A primeira preocupação deve ser a segurança da equipa e das vítimas: atuar de acordo com as
circunstâncias, em coordenação com os bombeiros e as forças de segurança presentes no local.
De forma rápida, deve ser obtida uma impressão geral sobre as características da ocorrência.
O tipo de ocorrência e os mecanismos de trauma envolvidos, o número de vítimas e a sua
localização, os meios de socorro já existentes no local, necessidades especiais (por exemplo,
equipas médicas mais diferenciadas, forças da autoridade, desencarceramento ou equipas de
resgate especiais) ou a existência de problemas específicos (por exemplo, ocorrência multivítimas,
presença de substâncias perigosas ou incêndio em curso) devem ser rapidamente identificados. Só
após esta avaliação inicial a equipa deve decidir se estão reunidas as condições de segurança
necessárias e avançar para prestar cuidados à(s) vítima(s).
Num primeiro momento é possível recolher vários dados importantes, mesmo antes de tocar
na vítima. Se esta anda, fala, não apresenta lesões visíveis importantes e tem uma coloração
normal (ausência de palidez e/ou cianose), provavelmente não terá lesões significativas nem
correrá risco de vida.
No entanto, dada a dificuldade (impossibilidade) para, em ambiente pré-hospitalar, excluir
com absoluta segurança algumas lesões importantes, mesmo estas vítimas deverão ser
submetidas a uma abordagem sistemática e metódica, que consta de uma Avaliação Primária
(ABCDE) e uma Avaliação Secundária por segmentos. A Avaliação Primária tem como principal
objetivo identificar a vítima crítica e corrigir as situações que colocam a vida dessa vítima em
risco. A Avaliação Secundária destina-se a identificar e corrigir o maior número possível de lesões.
Por norma, todos os traumatizados deverão ser submetidos a este tipo de abordagem inicial.
Se em algumas situações se irá confirmar a impressão inicial de que não existem lesões
significativas, noutras serão evidenciadas lesões inicialmente insuspeitadas (ocultas). Em todos os
casos, a sistematização da abordagem inicial permite, de um modo rápido, identificar as vítimas
críticas e a maior parte das situações que, colocando a vida dessas vítimas em risco, carecem de
intervenção imediata.
Perante uma vítima crítica, a prioridade é estabilizá-la rapidamente e, sem demoras, proceder
ao seu transporte para o hospital mais indicado, fazendo a Avaliação Secundária na ambulância e
já em trânsito.
Embora este protocolo apresente uma sequência de passos e etapas, com alguns aspetos a
serem referidos em determinado momento, é possível obter alguns dados e executar alguns
procedimentos em simultâneo, desde que não sejam omitidos passos importantes nem
comprometida a correta realização de procedimentos essenciais.
Em situações excecionais, a ordem dos procedimentos deverá ser adaptada às necessidades.
Por exemplo, perante uma vítima com uma hemorragia arterial importante, um dos elementos da
equipa deverá iniciar imediatamente os procedimentos necessários para controlar essa
hemorragia.
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Deve, também, ser maximizada a eficiência da equipa SIV. Assim, sem se perder o fio
condutor da avaliação e da intervenção, as tarefas devem ser realizadas pelo elemento da equipa
que se encontra em melhores condições para as realizar em cada momento.
É fundamental a reavaliação periódica do traumatizado, nunca se devendo assumir que um
traumatizado está “estável” e assim vai permanecer.
A atuação perante uma vítima traumatizada é a seguinte:
Garantir a segurança da equipa e da vítima.
Efetuar uma avaliação rápida do local da ocorrência, identificando fatores que poderão
comprometer a segurança, necessidades especiais e os mecanismos de trauma
envolvidos. A recolha de informações sobre a ocorrência junto dos presentes pode
fornecer dados extremamente importantes.
Obter uma impressão geral sobre o estado da vítima.
Abordar a vítima, imobilizando a cabeça desta em posição neutra.
Avaliar se a vítima está consciente ou não.
Se a vítima está consciente, orientada e colaborante, iniciar um inquérito dirigido,
recolhendo informações sobre o seu estado e a ocorrência, em simultâneo com os
procedimentos descritos em seguida. O doente consciente que responde
normalmente, pelo menos naquele momento, tem a via aérea permeável, está a
respirar e tem boa perfusão cerebral.
Efetuar a Avaliação Primária (ABCDE), avaliando e garantindo os seguintes aspetos,
com as adaptações necessárias resultantes das condições de acesso à vítima, do seu
estado de consciência e das lesões encontradas:
1. A - Via Aérea (Airway), com controlo da coluna cervical.
o Garantir a imobilização da cabeça em posição neutra.
o Avaliar e garantir a permeabilidade da via aérea, através da protusão da mandíbula (a
extensão da cabeça está contra-indicada no traumatizado), pesquisando a existência e
removendo eventuais corpos estranhos e aspirando sangue e/ou secreções quando
necessário. Pode ser equacionada a utilização de um tubo de Guedel no doente
inconsciente.
o Se não há compromisso evidente da ventilação (por exemplo, se a vítima falou sem
dificuldade), logo que possível, deve ser colocado um colar cervical de tamanho
adequado. Antes do colar ser aplicado, a região cervical deve ser examinada
rapidamente para despiste de eventuais alterações, como feridas ou desvios da
traqueia.
o Em caso de compromisso ventilatório, a prioridade é a resolução dessa situação. No
entanto, a imobilização da cabeça deve ser mantida da forma mais conveniente,
atendendo às circunstâncias. Assim, se estiverem presentes outros meios de socorro, a
equipa SIV pode concentrar-se na resolução do compromisso ventilatório enquanto a
imobilização é assegurada por elementos desses meios.
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PRECAUÇÕES ESPECIAIS
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Solicitar apoio para as seguintes situações, caso não haja informação de ativação prévia de
VMER/Heli:
Situações multivítimas desde que uma delas tenha compromisso ABCD.
Identificação de lesões que implicam risco de vida.
Paragem respiratória, FR < 10 ou > 36 /min.
PCR, FC < 40 ou > 150 bat/min, TA sistólica < 90 mmHg.
Nível de consciência de acordo com Escala de Coma de Glasgow ≤ 8 ou deterioração
superior a 2 pontos durante o período de observação.
Empalamento com objetos inamovíveis ou de corte difícil.
Lesões moderadas ou graves na criança, na grávida, no idoso ou se há patologia
associada importante.
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PASSAGEM DE DADOS
TRANSPORTE
O transporte deverá ser o mais rápido possível (em segurança) para a Unidade Hospitalar mais
adequada, de acordo com as indicações do CODU.
Durante o transporte dever-se-á manter o doente em vigilância contínua de consciência e
parâmetros vitais através de monitorização contínua de ritmo cardíaco, FC, TA e SpO2 conforme
indicação.
As principais considerações relacionadas com o transporte são:
Possibilidade de ser necessário transporte imediato para a Unidade de Saúde mais
próxima.
Possibilidade de ser efetuado “rendez-vous” com meios mais diferenciados.
Perante a indicação do CODU para Helitransporte, proceder de acordo com o
Procedimento Preparação para Helitransporte.
Vigilância permanente para o aparecimento de alterações que sugiram a existência de
lesões não identificadas ou para a deterioração da situação clínica da vítima.
Garantir a permeabilidade e correta fixação dos acessos venosos.
A ocorrência de vómito num traumatizado devidamente imobilizado pode levar à
aspiração de conteúdo gástrico. Esta possibilidade deve sempre ser antecipada durante
o transporte (além de condições específicas que podem provocar o vómito, o
transporte aumenta essa possibilidade) pelo que os elementos que acompanharem a
vítima devem estar preparados para a sua ocorrência.
O acompanhamento da vítima por parte de um familiar ou conhecido de confiança
deve ser facultado, desde que sejam cumpridos os requisitos em vigor para o efeito.
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REGISTOS
Proceder ao registo dos dados relativos à ocorrência, tendo em particular atenção o seguinte:
Identificação da vítima.
Tipo de ocorrência.
Nível de consciência (Escala de Coma de Glasgow), parâmetros vitais e glicemia capilar.
Queixas principais.
Lesões identificadas.
Medidas terapêuticas instituídas.
Pedidos de apoio médico e resultado desses pedidos.
Patologia associada prévia relevante e medicação em uso.
Adotar sempre uma postura calma, segura e profissional, procurando não evidenciar sinais de
ansiedade ou nervosismo.
A equipa deve sempre apresentar-se, indicando a função/categoria e o nome dos seus
elementos.
Perguntar o nome da vítima e dirigir-se a esta de forma correta. Deve ser utilizando Sr. ou Sr.ª
(Dona) ou outro título, se conhecido, e o nome. As crianças e adolescentes devem ser tratados
pelo primeiro nome.
As crianças pequenas e as vítimas confusas, desorientadas, com dores intensas ou sob o efeito
de álcool ou drogas podem ser pouco colaborantes e deverão ser abordadas com cuidado.
Nas vítimas conscientes, informar sempre antes de realizar qualquer procedimento. Nestas
vítimas, nunca cortar a roupa sem antes obter a necessária autorização.
Não utilizar expressões como “Não se preocupe. Está tudo bem!”. Ter atenção àquilo que é
dito junto da vítima, mesmo que esta esteja com depressão do estado de consciência.
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BIBLIOGRAFIA
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