restaurar
a política?
problemas brasileiros
Movimentos formados por
ano 55
jun/jul 2018 # 4 46 novas lideranças incentivam
o engajamento na vida pública
AS ameaças DO
DISCURSO NACIONALISTA
AGRONEGÓCIO: O
MOTOR DA ECONOMIA
ENTREVISTA
Marcos de Azambuja
“Um surto de desenvolvimento costuma
vir acompanhado de imensa corrupção.”
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coletiva (tabela de julho/2017 - SP). 2A disponibilidade e as características da rede médica e/ou do benefício especial podem variar conforme a operadora
de saúde escolhida e as condições contratuais do plano adquirido. Planos de saúde coletivos por adesão, conforme as regras da ANS. Informações resumidas.
A comercialização dos planos respeita a área de abrangência das respectivas operadoras de saúde. Os preços e as redes estão sujeitos a alterações, por parte Siga a Qualicorp:
das respectivas operadoras de saúde, respeitadas as disposições contratuais e legais (Lei nº 9.656/98). Condições contratuais disponíveis para análise. Maio/2018.
É possível
presidente Abram Szajman restaurar
superintendente Antonio Carlos Borges problemas brasileiros
ANO 55
JUN/JUL 2018 # 446
a política?
MOVIMENTOS FORMADOS POR
NOVAS LIDERANÇAS INCENTIVAM
Quer fal ar com os
O ENGAJAMENTO NA VIDA PÚBLICA
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desta obra são de propriedade exclusiva da
FecomercioSP, nos termos da Lei n.º 9.610/98 e demais
AS AMEAÇAS DO
DISCURSO NACIONALISTA
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disposições legais aplicáveis à espécie. A reprodução AGRONEGÓCIO: O
MOTOR DA ECONOMIA
de aul a?
total ou parcial é proibida sem autorização.
DANIEL BUARQUE, DE LONDRES
Espelho, espelho meu
Por que o Brasil se preocupa tanto
com a sua própria imagem no exterior?
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ENTREVISTA
Marcos de Azambuja
“Um surto de desenvolvimento costuma
vir acompanhado de imensa corrupção.”
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PUBLICAÇÕES
#446
DIRETOR DE CONTEÚDO André Rocha
Gerente de conteúdo Fernando Sacco
Editor e jornalista responsável
Lucas Mota MTB 46.597/SP
Editora-assistente Iracy Paulina
Repórter Filipe Lopes
Um olhar crítico Ensino integral? Presente. Estrutura das escolas?
Fotos Christian Parente e Folha Press
Estagiária Priscila Oliveira Em circulação desde 1963, Problemas Presente. Alunos com deficiência? Presente.
Brasileiros reflete as transformações
REVISÃO Flávia Marques
Formação de professores e diretores? Presente.
direTORES DE ARTE Clara Voegeli e Demian Russo e os desafios do País. Por meio de
EDITORa DE ARTE Carolina Lusser reportagens, entrevistas e artigos Ciências? Presente. Empreendedorismo na sala de
DESIGNERS Laís Brevilheri, Paula Seco e Cintia Funchal com respeitados nomes de variados
assistentes de arte Tiago Araujo e Pedro Silvério setores, a revista estimula e contribui aula? Presente. Educação sexual? Presente.
colaboram nesta edição para o debate de assuntos de
Daniel Buarque, Fabíola Perez, Filipe Lopes, Guilherme Meirelles,
Herbert Carvalho, Humberto Dantas, Jaime Spitzcovsky, Juliano Dip, interesse nacional. Em um período de
Marco Chiaretti, Mônica Sodré, Paulo Delgado e Vinícius Pereira crise da democracia representativa,
retratamos nesta edição iniciativas
Fale com a gente publicacoes@fecomercio.com.br
que estão tentando reinventar o jeito
Estamos preparando uma edição especial da Problemas Brasileiros que abordará temas
de fazer política no Brasil. O pano essenciais da educação no País. A revista será publicada no bimestre de outubro e novembro
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Capa
8
NOVOS MOVIMENTOS QUEREM INOVAR
A FORMA DE FAZER POLÍTICA
14 Política
COMO SURGIRAM OS IDEAIS NACIONALISTAS
Entrevista
20
OS VALORES DO BRASILEIRO,
POR GUILHERME MARBACK
29 TODOS
Este número de Problemas Brasileiros traz
Economia
rico conteúdo sobre o momento em que vivemos.
UM GIGANTE CHAMADO AGRONEGÓCIO O economista Guilherme Marback comenta os
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mesmo e na sociedade. A ânsia pela boa imagem
DE POLÍTICA
Estados Brasileiros
no exterior é o tema do texto assinado pelo re-
MINAS GERAIS: CONTAS DESeQUILIBRADAS pórter Daniel Buarque. Na esfera internacional,
discutimos como o mundo está reagindo ao acir-
Artigo Internacional ramento de ideais nacionalistas que desencadea-
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O distanciamento entre a classe política e o Bra- ram na eleição de Donald Trump e no Brexit. O
A NOVA DEMOCRACIA, POR QUE DESEJAMOS SABER O QUE IMPRENSA
sil real das ruas atingiu o seu limite com conse- diplomata Marcos de Azambuja analisa o alcan-
POR MÔNICA SODRÉ ESTRANGEIRA PENSA SOBRE NÓS? quências drásticas à qualidade da democracia. ce de nossa política externa ao longo dos anos.
Com isso, as instituições perderam credibilidade Temos também matéria que mostra entidades
7 perguntas Literatura perante o cidadão comum, que deixou de ver a ocupando lacunas deixadas pelo Estado na ofer-
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vida pública como o meio para resolver os pro- ta de serviços à população, a exemplo do Sesc-SP.
DIPLOMATA MARCOS DE AZAMBUJA CARTAS BRASILEIRAS NOS CONVIDAm
blemas do cotidiano. Estamos em meio a uma transformação irre-
ANALISA O BRASIL PERANTE O MUNDO A UM PASSEIO NA HISTÓRIA Esse cenário negativo permeado por sinais de versível capitaneada por uma juventude mais
intolerância e ódio, por outro lado, disparou um ligada à ideia de compartilhar do que individua-
Brasil que faz processo de mudança no entendimento sobre lizar seus anseios e frustrações. E só teremos o
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como e por que fazer política. Lideranças de di- Brasil que tanto sonhamos se ao menos ouvirmos
ENTIDADES NO VÁCUO DAS versos segmentos da sociedade entenderam que a voz dessas novas gerações. Afinal, será para elas
POLÍTICAS PÚBLICAS negar a política não é a saída. Tirar o Brasil de e para seus filhos o Brasil que queremos reformar.
um pessimismo improdutivo requer cidadania
Biblioteca na sua forma mais pura. É preciso participação
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e aferição de resultados.
Artigo “AUTOBIOGRAFIA, UMA VIDA
A matéria de capa desta edição detalha como
POR PAULO DELGADO POLÍTICA” – NORBERTO BOBBIO estão agindo os novos movimentos interessados
em “oxigenar” o ambiente político brasileiro. Ani-
ma-nos saber que há gente engajada em monito-
Abram Szajman,
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rar partidos e governos e capacitar novos líderes
Cultura
– embora o País tenha traços histórico‑geográficos
ALAÍDE COSTA, ANGELA MARIA E CLAUDETTE SOARES CANTAM A VIDA presidente da Federação do Comércio
e leis que não favoreçam a renovação. Nas eleições
que se aproximam, essas iniciativas terão papel de Bens, Serviços e Turismo do Estado
indispensável ao lançar candidatos desprendidos de São Paulo (FecomercioSP), entidade
gestora do Sesc-SP e do Senac-SP
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da ordem tradicional de poder.
Grande Angular
JORNADAS DE JUNHO: O DESPERTAR DE UMA GERAÇÃO
CApa jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
VONTADE DE MUDAR
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CApa jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
U
se vê maior envolvimento por meio de novas formas de parti-
cipação. “É necessário entender a complexidade do Brasil e a
pluralidade de vozes”, afirma Beatriz. Nesse contexto, nascem
movimentos de diferentes bandeiras e linguagens. Esses mo-
vimentos eclodiram, segundo ela, de um cenário de insatis-
“OS movimentos de renovação nascem
fação, que se tornou mais evidente a partir dos protestos de
junho de 2013, estimulando diversos tipos de manifestações. como resposta a uma sociedade cada vez
Diante de um sistema político estagnado que não respon-
dia mais aos anseios de cidadania, tornou-se recorrente a
expressão “Não me representa”. “As pessoas passaram a en-
mais conectada, com dinâmicas menos
tender que para mudar a política é preciso estar dentro dela”,
diz Beatriz. “Temos de ocupar os partidos e criar novas ins- dependentes das estruturas tradicionais
tituições ligadas aos movimentos de cidadania, que estejam
acompanhando a gênese desse processo.” Embora hoje, no
Brasil, criar um partido político e disputar eleições não seja
de poder e com uma demanda universal
uma tarefa simples, segundo a fundadora do Update, o exer-
cício de pensar quais seriam as características desses parti- por abertura e transparência.”
dos já é fundamental. “Por enquanto, é preciso ocupar os já
existentes, apesar de a maioria dos partidos brasileiros pre-
servar uma estrutura hierárquica e oligárquica que dificulta
o processo de renovação”, ressalta.
No espectro da renovação, as iniciativas são muitas. Al- Ricardo Borges Martins, cientista político
guns deles, como a Bancada Ativista e o Muitxs, de Belo Hori- e articulador de movimentos de renovação
zonte, em Minas Gerais, têm a proposta de inovar no formato
de disputa das eleições. A ideia é apostar em linha pedagógica
e linguagem lúdica para emplacar candidatos no Legislativo.
Outros, como a Transparência Partidária, cobram a prestação
de contas dos partidos. Há também uma linha que busca res-
Uma população que não espere do Estado, tampouco dos po- gatar a política em suas definições elementares, promovendo discernimento e informação possível e que possamos preser- mo de impacto social, valorizar os espaços criativos na peri-
líticos e ou da economia, a solução para seus problemas. Uma rodas de conversas e oficinas presenciais, como a Virada Polí- var o sistema democrático”, afirma Maísa. feria e criar um ambiente de oportunidades que acelere o pro-
sociedade que seja capaz de se engajar para construir alterna- tica e o Nova Democracia. Pensando em novos líderes políti- Uma das diferenças percebidas desde os primeiros en- tagonismo negro e periférico na economia. Outra iniciativa
tivas às demandas do dia a dia e de fortalecer a democracia. cos, o movimento Acredito estimula a formação de represen- contros é o foco das organizações. No início, a maior parte se que quer estimular esse engajamento é a ONG Voto Conscien-
Esses são alguns dos objetivos dos novos movimentos que tantes cívicos que tenham a pretensão de se candidatar para dedicava à incidência política de maneira independente das te. De acordo com a vice-diretora da ONG, Rosangela Torrezan
estão buscando oxigenar o conceito de fazer política. “Mais o Congresso e as assembleias legislativas. Existem também instituições. “O que temos visto agora é o aumento do nú- Giembinsky, a participação política na periferia está relacio-
do que uma insatisfação com a política institucional, os no- movimentos e partidos das periferias, como o Voto Consciente mero de pessoas interessadas em se candidatar ou trabalhar nada a movimentos de grupos de interesses em temas especí-
vos movimentos são fruto de um entendimento comum de e o Frente Favela Brasil, que lutam pelos direitos de moradores em candidaturas, pensar em novos formatos de mandatos ficos dentro das comunidades. E, segundo ela, eles estão sujei-
que algo precisa ser feito, e nós não podemos ficar esperan- de comunidades menos assistidas e da população negra. legislativos e criar ferramentas de controle e transparência tos à influência de líderes políticos e interesses partidários já
do”, afirma o cientista político e articulador de diversos mo- de dados públicos”, conta Maísa. Com o aumento do interes- existentes. “Hoje, acredita-se mais na organização de grupos
vimentos Ricardo Borges Martins. “As democracias contem- Engajamento se, os organizadores da Virada criaram os chamados “aulões”, para a conquista de direitos nas comunidades”, analisa.
porâneas têm criado uma saudável aversão à manutenção de O encontro Virada Política viu seu movimento triplicar de atividades para explicar conceitos-chave da política de forma Segundo Rosangela, uma das razões por trás desse dis-
uma mesma elite no poder. O que há de novo é o desejo por 2016 para 2017, passando a receber 60 grupos de inovação e simples. O coletivo criou também indicadores de pluralidade tanciamento da política institucional é a falta de represen-
uma maior participação nas tomadas de decisão, acompa- incidência política. Curiosamente, um dos debates que mais dos temas dos encontros e do público presente, como gênero, tatividade. “Em torno de 87% da população não se sentem
nhada de novas ferramentas que nos permitam ultrapassar reuniu interessados abordou os novos movimentos eleitorais. raça, orientação sexual, classe social, ideologia e geração. representados e acreditam que os governantes administram
as velhas barreiras da ação coletiva”, diz. “Há uma esperança de que novas gerações possam trazer O debate sobre política começa a ter novo sentido também para si próprios e pelo interesse de grandes grupos.” Novas li-
Um levantamento do Instituto Update, realizado em 2015, avanços para nossas instituições”, destaca uma das organi- na periferia do País. Expoente disso é o Frente Favela Brasil, deranças mostram, porém, que é possível modificar essa nar-
mapeou cerca de 700 iniciativas políticas no Brasil e na Amé- zadoras, Maísa Diniz. A resistência do establishment político um partido já registrado pelo Tribunal Superior Eleitoral rativa. A vereadora do PSOL Marielle Franco, assassinada em
rica Latina. “O que vemos no País é a cidadania despontando ao diálogo com esses novos personagens não tardou a apare- (TSE), em fase de coleta de assinaturas para obter a legen- março deste ano, é citada por diferentes lideranças como uma
em um caminho sem volta”, afirma a cofundadora do Update, cer. Em outubro de 2017, dos 55 vereadores convidados para da. Nascido em 2016, tem 93 membros filiados que se distri representante da política institucional que tentava atuar de
Beatriz Pedreira. “Estão surgindo outros atores políticos dos o “Flertaço com os Vereadores”, apenas nove compareceram buíram em pelo menos cinco outros partidos. “Nossas pautas forma diferenciada. “É preciso tentar colocar o cidadão como
coletivos, das periferias, dos movimentos de renovação e uma para explicar o papel dos representantes públicos ao cidadão. estão ligadas à melhoria da vida das pessoas que sofrem com uma parte ativa e reencantá-lo. O desafio é romper a bolha
classe média que deseja atuar de forma mais decisiva”, diz. O movimento suprapartidário espera colaborar com a cons- as consequências de uma economia estagnada e sem oportu- acadêmica e se comunicar com as bases”, pontua a doutora
Se antes a atuação política era concentrada em organizações ciência do eleitorado. “O que queremos é que, independente- nidades de emprego e renda”, afirma o copresidente, Derson em Ciências Sociais e pesquisadora da Universidade Federal
não governamentais e setores específicos da sociedade, hoje mente da escolha eleitoral, ela seja feita com o máximo de Maia. Ele explica que a ideia é incentivar o empreendedoris- de São Paulo (Unifesp) Esther Solano. “Atualmente, existem
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CApa jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
dois movimentos: uma desconexão entre políti- tração maior dessas iniciativas na sociedade e
cos e cidadãos e uma sociedade civil que vem se nos grupos organizados já existentes criados pe-
organizando muito bem.” las gerações anteriores”, diz Romão. “Eles têm de
se sustentar no longo prazo para além das insa-
Formação de lideranças tisfações mais difusas da sociedade.” Além dis-
Se política se faz com discurso, é uma mani- so, há outros entraves de ordem prática a serem
festação realmente sintonizada com os anseios enfrentados. “As campanhas são caras, e os par-
das ruas que os movimentos buscam. Com isso, tidos tradicionais terão um fundo multimilio-
alguns se preparam também para formar lide- nário para investir em suas velhas lideranças”,
ranças capazes de levar novas ideias à ordem diz Lyra Neto, do Acredito. “O período de campa-
política existente, uma vez que no Brasil as can- vimentação financeira, mas essas informações nha reduzido dificulta a vida de quem ainda não
didaturas independentes ainda não são permi- disso, eles monitoram líderes com mandato para ainda não são públicas. O objetivo do grupo for- é conhecido.” Derson, da Frente Favela Brasil,
tidas. O movimento Acredito se define como um verificar se a atuação converge com os princípios mado por cientistas políticos, advogados e pro- “Atualmente, acredita que não há estímulo para que cidadãos
projeto político para os próximos dez anos. Neste estabelecidos pela organização. fessores é tornar públicos os dados disponibili- façam doações e participem da construção de
ano eleitoral, o grupo vai trabalhar temas como zados pelo TSE em uma ferramenta digital. “Com existem dois candidaturas enquanto pessoas físicas. “Nesta
Reforma Política, educação, empreendedorismo, Ocupação e cobrança de partidos isso, vamos caminhar para um nível de trans- eleição, haverá um pujante fundo eleitoral com
inovação, Reforma da Previdência e segurança. Outro eixo da renovação aborda temas rela- parência muito superior ao que temos hoje, que movimentos: dinheiro público, turbinando a reeleição dos
A vivência de dez anos à frente de Querem também construir núcleos de atuação cionados à Reforma Política e à demanda por é realizado de forma física, em papel”, afirma o parlamentares e gerando uma grande desvan-
regional e formar lideranças e prováveis candi- transparência nas estruturas políticas. O Nova advogado e porta-voz do Transparência Partidá- uma desconexão tagem competitiva entre nós, que desejamos
um projeto de iniciação política da datos. Suprapartidário, o movimento tem alian- Democracia, que se define como uma coalizão de ria, Marcelo Issa. Antes da atuação do movimen- renovar a política”, contesta. Para Beatriz, do
Fundação Konrad Adenauer, realizado ças com o que acreditam serem partidos abertos cidadãos, grupos e organizações comprometidas to, o debate sobre a transparência caminhava a entre políticos e Update, é natural que alguns movimentos não
à renovação. “Fechamos com esses partidos car- com o revigoramento da democracia no País, lan- passos lentos no País. A partir dessas eleições, os sobrevivam em função das dificuldades, mas,
nas periferias de São Paulo, deu cidadãos e uma
tas de compromisso que garantam autonomias çou o Pacto pela Democracia, com propostas para extratos bancários dos partidos já serão publica- ainda assim, “é o início de um importante pro-
origem ao livro Educação política – política e operacional dentro da estrutura par- a renovação política como reafirmação de valo- dos pelo TSE em formato aberto. “As pessoas pre- cesso de mudança”.
sugestões a partir da nossa atuação, tidária”, afirma um dos integrantes do Acredito, res democráticos – por exemplo, diálogo, ética, cisam saber de que forma o dinheiro é usado. A
sociedade civil Pelo visto, não é tarefa fácil renovar esse des-
José Frederico Lyra Neto. tolerância e respeito às diferenças, práticas elei- transparência é a contrapartida mínima que os gastado sistema. Trata-se de uma missão com-
do cientista social Humberto que vem se
O movimento possui mais de 2 mil voluntá- torais que garantam eleições limpas em outubro governantes devem oferecer, já que estão sendo plexa para garantir papel de destaque ao cidadão
Dantas. Com distribuição gratuita rios em quase 15 Estados. “Parte da crise que vive- e realização da Reforma Política após a disputa. vistos como os principais atores da corrupção comum na construção política. No Movimento
organizando
e download disponível na internet, mos veio por virarmos as costas para a política, Já a Bancada Ativista é um movimento polí- dos últimos anos”, ressalta Issa. Em março, foi Muitxs, de Belo Horizonte, em Minas Gerais, essa
e a única forma de enfrentarmos é levando uma tico suprapartidário com a proposta de revigorar lançado um ranking de transparência partidá- participação do cidadão se dá por meio de uma
a obra fala sobre os conceitos de muito bem.”
nova geração de lideranças para o Congresso.” os partidos com grande expressividade. Eles ar- ria. Hoje, 70 pessoas apoiam o movimento. plataforma online em que é possível apresentar
ética, democracia e cidadania; sugere Formar novos líderes também é o foco da Rede gumentam que o Brasil é um país composto em uma proposta que queira ver representada por
dicas de conteúdos digitais sobre o de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps). sua maioria por mulheres, pessoas negras, po- Desafios pela frente uma candidatura. O movimento também criou o
Nascida em 2012, tem atividades para estimular bres e jovens, enquanto os espaços de poder são Para o cientista político e pesquisador do Nú- Esther Solano, Gabinetona, um espaço legislativo compartilha-
funcionamento das instituições e do o interesse pela política institucional, entre elas, ocupados por homens brancos, mais velhos e de cleo de Pesquisa em Participação, Movimentos do, que busca trabalhar a política com base na
doutora em Ciências Sociais
sistema eleitoral; e mostra trechos da seminários, cursos de formação, construção co- alto poder aquisitivo. Composto por cidadãos Sociais e Ação Coletiva da Unicamp, Wagner de
e pesquisadora da Unifesp ideia de coletividade. “A ideia é fazer com que o
letiva de mandatos, elaboração de propostas, com atuação em diversas causas, o movimento Melo Romão, uma das dificuldades da democra- cidadão tome decisões sobre a cidade”, diz Áurea
Constituição de 1988. Com linguagem
participação em campanhas e troca de experiên- pretende oxigenar a política institucional com a cia representativa é a falta de capacidade de mo- Carolina, integrante do coletivo.
simplificada, recorre a Platão, cia entre lideranças com e sem mandato. Além construção de campanhas e mandatos coletivos nitoramento entre o que foi prometido e o exe- Ao que tudo indica, o Brasil vive o início de um
Sócrates, Alexis de Tocqueville, com foco em transparência, pedagogia e partici- cutado ao longo dos quatro anos. Hoje, porém, há longo processo de transformação. Segundo in-
pação. “Nas eleições de 2018, o voto para a Ban- ferramentas que mudaram esse cenário. “Seria tegrantes da Bancada Ativista: “A tarefa é en-
Theodor Marshall, Robert Dahl,
cada Ativista não elegerá uma pessoa, mas um impensável essa demanda por transparência se frentar os desafios de democratização do País,
Montesquieu e outros pensadores grupo”, afirmam integrantes. “Em vez de pro- não tivéssemos acesso aos dados pelas vias digi- fortalecer a cidadania ativa, tomar o poder des-
para dar exemplos práticos mover candidaturas individuais, desafiaremos tais”, diz ele. As novas tecnologias perpassam a de baixo e, com isso, compartilhar processos de-
a política tradicional construindo candidaturas estrutura dessas iniciativas. “Os movimentos de cisórios que afetam a vida das pessoas”. Para o
relacionados à educação política. coletivas que unirão representantes de causas renovação nascem como resposta a uma socie- cientista político Ricardo Martins, o que esses
em torno de um mesmo número na urna”, di- dade cada vez mais conectada, com dinâmicas movimentos têm mostrado é que os problemas
zem. Desse grupo, apenas uma pessoa será re- menos dependentes das estruturas tradicionais da democracia só se resolverão com mais demo-
gistrada na Justiça Eleitoral. de poder e com uma demanda universal por cracia. “A solução para a política é mais política.”
Em busca de mais prestação de contas aos ci- abertura e transparência”, afirma Martins.
dadãos, o Movimento Transparência Partidária Se por um lado contam com a facilidade dos
vem cobrando a divulgação sistemática de dados recursos digitais, por outro, têm que lidar com o
de partidos políticos, que já informam sua mo- desafio da efemeridade. “Ainda falta uma pene-
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política jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Patriotismo exasperado
texto Herbert Carvalho
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jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
as nações que não quisessem se unir ou prefe- nacional-socialismo incorporou a doutrina das Congresso norte-americano vetara a participa- 1970, quando dispararam os preços do petróleo.
rissem a separação poderiam fazê-lo, de acordo superioridades cultural e racial do povo alemão, ção dos EUA –, a Organização das Nações Unidas Surgiram as grandes empresas transnacionais,
com o princípio da soberania e autodetermina- que, por isso, teria direito a um ilimitado Lebens- (ONU) surgiu com força, baseada em dois pilares: que espalharam suas fábricas pelos continentes e
Folhapress/Folhapress
ção dos povos. Essa liberdade, porém, tornou-se raum (“espaço vital”). Seus inimigos principais a Declaração Universal dos Direitos Humanos, engendraram uma nova divisão do trabalho, glo-
letra morta a partir de 1921, quando ocorreu a seriam os grupos humanos “racialmente infe- que convoca os Estados‑membros ao respeito e à balizando as cadeias produtivas. As forças gera-
ocupação da Geórgia pelo Exército Vermelho. riores”: internamente, os judeus, a serem segre- observância dos direitos e liberdades fundamen- das pelos avanços técnico e científico se tornaram,
As feridas da hecatombe nem sequer tinham gados e eliminados; externamente, os eslavos, tais para todos, sem distinção de raça, sexo, lín- contudo, grandes o suficiente para destruir o meio
começado a cicatrizar quando, em março de 1919, que deveriam ser escravizados e terem seus ter- gua ou religião; e a Carta da ONU, que reconhece ambiente – o que passa a exigir cooperação inter-
Benito Mussolini criou na Itália os fasci di com- ritórios incorporados ao Reich alemão. o direito de todos os povos à autodeterminação e nacional para a preservação do planeta.
battimento, esquadrões que empregavam a vio- Após disputar e vencer as eleições de 1933, faz proliferar os movimentos nacionalistas e de Retirada das ruínas pelo Plano Marshall e
lência física contra seus principais adversários Hitler precisou de apenas cinco meses para im- libertação nacional na Ásia e na África. cansada de tanta guerra, a Europa começou a se
políticos: os socialistas e comunistas. O fascismo, plantar o controle totalitário do Estado com unir em 1950, quando França e Alemanha – ini-
palavra italiana derivada de fascio – feixe de va- vistas à sustentação de seu projeto militar ex- migas desde a guerra franco-prussiana, de 1870 –
ras atadas a um machado, símbolo da autoridade pansionista. Em breve, Itália e Alemanha, paí- lançaram a Comunidade Europeia do Carvão e do
Rodízio de ditadores popular da antiga República romana – logo se ses integrantes do Eixo (mais tarde, completado Aço, que tem ainda como fundadores Itália, Lu-
transformou em movimento de massa. Com 320 pelo Japão), desencadeariam agressões no Norte xemburgo e os Países Baixos. Inaugurou-se uma
O Brasil viveu dois surtos de nacionalismo no século 20. Du- Surtos de
mil membros em 1921, os fascistas marcharam da África e no Leste da Europa, dando início à Se- época de união voluntária de povos e nações inte-
rante o Estado Novo, entre 1937 e 1945, o ditador Getúlio sobre Roma no ano seguinte. Portavam apenas gunda Guerra Mundial. ressadas em superar o passado e atuar conjunta-
nacionalismo
Vargas baniu o Poder Legislativo, governou por decreto, per- armas leves e poderiam ter sido derrotados se as A “Era da Catástrofe”, que o historiador Eric mente na preparação do futuro. Atualmente com
seguiu opositores e controlou com mão de ferro os meios de autoridades acovardadas não tivessem capitula- Hobsbawm situa entre 1914 e 1945, teve mais um ocorreram em 28 países-membros, a União Europeia inspirou
do, convidando Mussolini para formar um gover- poderoso ingrediente no fermento dos naciona- congêneres na Ásia, na África e nas Américas,
comunicação. Centralizou a administração e aboliu a autono- no. Três anos depois, já havia se tornado ditador. lismos: a Grande Depressão, que levou à queda
dois momentos no como o Mercosul e o Nafta.
mia dos Estados, que tiveram suas bandeiras queimadas em O eixo fundamental do fascismo era um na- de um terço do comércio mundial entre 1929 e Brasil : durante o As crises do fim do século 20 e início do 21
cionalismo de Estado orgânico e paramilitar, 1939. Na América Latina, 12 países mudaram de trouxeram, porém, o nacionalismo xenófobo
cerimônia pública. supostamente capaz de transcender os conflitos governo ou regime em 1930 e 1931, inclusive o Estado Novo, Getúlio de volta à cena política. Como indica a palavra
Ao mesmo tempo, estabeleceu a legislação e a Justiça do sociais. Seus adversários eram “traidores da na- Brasil, com a ascensão de Getúlio Vargas. O País que tem na origem a junção de dois termos de
ção”, seus mortos se tornavam heróis. Em todas se tornou símbolo da superprodução capitalista
Vargas baniu o origem grega, significando “medo (phobos) de
Trabalho, dirigindo a economia para a industrialização, com o
apoio de empresas estatais, como a Companhia Siderúrgica
as sedes do Partido Fascista havia um altar de- pela queima do café, tentativa desesperada de Poder Legislativo, estrangeiros (xénos)”, partidos de direita como
dicado ao país e a seus mártires. Sua ideologia impedir o colapso no preço de seu principal pro- a Frente Nacional, na França, estimulam o ódio
Nacional. Nesse período, o Carnaval se tornou uma “alegria estava fundada no culto ao chefe, no desprezo duto. Vargas, no Brasil, e Perón, na Argentina, governou por contra imigrantes, apontados como ameaça ao
dirigida”, e o samba exaltava as virtudes da Pátria e do regime, aos valores do liberalismo e nos objetivos de implantaram regimes nacionalistas que busca- modo de vida europeu.
expansão imperialista. Sua tática era aniquilar vam fortalecer o mercado interno por meio do
decreto, perseguiu A contenção da imigração de países pobres
como nestes versos de Ataulfo Alves: “O Estado Novo veio para as oposições por meio do terror e da propagan- reconhecimento dos direitos dos trabalhadores. opositores e para os ricos se tornou o epicentro de dois terre-
nos orientar. No Brasil não falta nada, mas precisa trabalhar”. da baseada no controle das informações e dos Mas enquanto o primeiro, após flertar com os motos que ameaçaram fazer desabar toda a enge-
Já a ditadura militar (1964-1985) fez uso intenso de sím- meios de comunicação de massa. países do Eixo, trocava o apoio à coalizão anti-hi- controlou os meios nharia das relações internacionais: o plebiscito
Já o nazismo era tudo isso, acrescido de algo tlerista pela siderúrgica de Volta Redonda, insta- que decidiu pela saída do Reino Unido da União
bolos como a Bandeira e o Hino Nacional e de slogans como que o fascismo não tinha, ao menos em seu iní- lada pelos Estados Unidos, o segundo permane-
de comunicação Europeia e, principalmente, a eleição de Donald
“Brasil, ame-o ou deixe-o”, mas subordinou a soberania do cio: o racismo. Se a Primeira Guerra Mundial ti- ceu simpático aos nazistas ao ponto de acolher no Trump para a presidência dos EUA. A construção
nha gerado crise econômica e conflitos sociais país vizinho muitos de seus líderes derrotados. de um muro na fronteira com o México, a prová-
País aos Estados Unidos, apoiadores do golpe que derrubou
até mesmo em países vencedores como a Itália vel implosão do Nafta, o abandono norte-ameri-
o presidente João Goulart. Durante o insólito rodízio de gene- – que, entretanto, considerava-se enganada pelas “ERA DE OURO” cano da Aliança do Pacífico e dos acordos sobre o
rais na presidência, apenas Ernesto Geisel, na década de 1970, “plutocracias”, como se referia Mussolini à Ingla- Em 1945, as bombas atômicas lançadas pelos EUA Em paralelo, são criados organismos de coope- clima, somados à imposição de taxas sobre im-
terra e à França –, a situação era verdadeiramente contra o Japão encerravam a carnificina de qua- ração como o Banco Mundial, o Fundo Monetário portações de aço e alumínio, em nome da segu-
praticou uma política externa independente e paradoxal: seu caótica na principal nação perdedora, a Alemanha. se 50 milhões de mortos, incluindo o holocausto Internacional (FMI) e o GATT, acordo de tarifas rança nacional, ameaçaram jogar o mundo em
governo, ferrenhamente anticomunista, foi o primeiro a reco- As condições impostas pelo Tratado de Paz de 6 milhões de judeus, e inauguravam a Guerra que, em 1995, deu lugar à Organização Mundial nova onda de confrontos e catástrofes.
nhecer uma guerrilha marxista à frente da Independência de de Versalhes, com mutilações territoriais e pesa- Fria, que duraria até a queda do Muro de Berlim. do Comércio (OMC). A estabilidade da economia
das reparações financeiras, que produziram um Ao contrário da Liga das Nações – que margina- mundial proporcionada por essas instituições
Angola. Foi também a última vez que tivemos um Plano Nacio- rastro de desemprego e hiperinflação, abriram o lizara a Alemanha e a URSS, deixando de fora supranacionais garantiu as condições para a Era
nal de Desenvolvimento (PND). caminho para Adolf Hitler chegar ao poder. Seu mesmo um de seus principais artífices, já que o de Ouro do capitalismo, que vai até a década de
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entrevista jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Guilherme Marback
Valores e comportamentos
do brasileiro
Economista analisa os resultados da “Pesquisa Nacional de Valores de 2017”,
estudo que mede as mudanças de atitude dos brasileiros nos últimos oito anos.
O que o brasileiro valoriza e acha importante na vida so- instituições, existe uma mudança de paradigmas em cur-
cial? Quais foram as mudanças no seu comportamento so. Os resultados do levantamento mostram que as pessoas
nos últimos anos diante de tantas desilusões e expectati- estão mais dispostas a assumir responsabilidades para
vas frustradas? Para responder a essas e outras questões, tornar o País mais próximo do que desejam em vez de es-
o Canal UM BRASIL entrevistou o economista Guilherme perar que o Estado faça algo por elas.
Marback, sócio-diretor da consultoria Crescimentum, res- Marback opina que houve uma evolução de consciência
ponsável pela “Pesquisa Nacional de Valores”, que teve sua em relação ao protagonismo do cidadão. “Eu tenho que fa-
segunda edição realizada em 2017. zer alguma coisa, já que não estão fazendo por mim.” Ele vê
O estudo teve perguntas sobre os valores que a pessoa os movimentos de 2013 como disparadores de uma reação
identifica em si própria, os valores que vê na sociedade e coletiva e coloca a educação como elemento-chave para a
aqueles que gostaria que fossem praticados. Segundo ele, evolução das futuras gerações. Acompanhe a entrevista
embora o cenário negativo de corrupção e descrença nas publicada com exclusividade pela Problemas Brasileiros.
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entrevista jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
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entrevista jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
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jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Além de honestidade,
Esse método é muito usado para empresas,
porque faz uma leitura pragmática da gestão
e da cultura organizacional. E quanto mais
você alinha a cultura organizacional com a
a humildade e a família.
ponto de vista da evolução da sociedade, es-
tamos começando a fazer algo nessa direção.
No mundo já tem essa experiência muito rele-
vante, muito interessante. Em um país como o
Já quando observa
Brasil, é preciso trazer a consciência que uma
parte do problema está nas nossas mãos. Mas
do ponto de vista prático, como é que conse-
guimos fazer isso? As experiências que têm
Saiba mais em
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ECONOMIA jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Vocação para
o trabalho no campo
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ECONOMIA jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
c
baixo. Com o aumento de 30% na produção em nos últimos 40 anos,
geral, os alimentos baixaram 1,87%, auxilian-
do o índice oficial de preços a ficar abaixo da segundo a Confederação
Condutor da economia brasileira, o agronegócio meta fixada pelo governo.
parece ser a vocação natural do Brasil: nenhum
setor no País dá tão certo quanto esse. Entretanto, MAIS PRODUTIVO... ... MAIS TECNOLÓGICO da Agricultura
ter sucesso não requer apenas um talento natural, Não é só o clima. O que ajuda a explicar melhor o Isso, contudo, só foi possível graças ao incremento da tecnolo-
mas também doses cavalares de esforço, preparo estabelecimento do agronegócio, cada vez mais gia na produção. Ela corresponde a 68% do processo produtivo e Pecuária (CNA)
e disposição. Parece que é isso que o setor vem imponente em relação aos outros setores, é o ga- da agricultura brasileira.
fazendo para se posicionar como referência mun- nho de produtividade, tão cobiçado por empre- Em análise feita pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-
dial e elemento importante dentro de uma equa- sários de qualquer setor produtivo. pecuária (Embrapa), a tecnologia foi identificada como o fator
ção complexa que é a economia brasileira. Dados da Confederação da Agricultura e Pe- mais importante no aumento da produção nas últimas qua-
Não fosse a força do campo e suas variáveis, o cuária (CNA) apontam que a produtividade cres- tro décadas. Ela contribuiu com cerca de 60% do valor bruto
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teria ago- ceu cerca de 200% nos últimos 40 anos, ao passo da produção agropecuária, e o somatório dos demais fatores
nizado por mais tempo. O ano de 2017 acabou, o que a área plantada teve alta de 60%, e a produ- (terra, mão de obra e recursos financeiros) respondeu por 40%.
PIB registrou alta de 1% por causa desse vetor, e ção, de 350%. “De 1996 a 2015, o crescimento da Com isso, o País se tornou referência. São anos de estudo
a economia pôde, enfim, sair de uma dolorosa produtividade na pecuária, por exemplo, foi de e expertise para que o resultado viesse. E esse know-how do
recessão. Enquanto a agropecuária cresceu 13%, 148%, enquanto que na indústria de transfor- agronegócio brasileiro tem grande participação do Estado.
o setor de serviços teve alta de apenas 0,3%, e a mação foi zero”, compara o economista Antonio É consenso entre analistas que o papel que a Embrapa desen-
indústria se manteve estável no período. Lanzana, assessor técnico da FecomercioSP. volveu no setor é único.
Responsável por 27,5% de tudo aquilo que o De acordo com a CNA, caso a produtividade Com um orçamento médio de R$ 72 milhões por ano, des-
País produz, o setor agro também se tornou en- se mantivesse nos patamares da década de 1970 tinados a projetos de pesquisa, a empresa fez uma verdadeira “O Brasil é uma potência em criação de conhecimento do
carregado por 40% das exportações do Brasil, na agropecuária, por exemplo, seria necessário revolução no campo, mesmo com esse valor relativamente agro. Mas, dentro desse setor, o mais competitivo entre todos,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geo- 176 milhões de hectares para que a produção che- tímido. “Tem-se a imagem de que, no Brasil, tudo o que plan- faltavam empresas para pegar a tecnologia e servir ao merca-
grafia e Estatística (IBGE). “A balança comercial gasse aos níveis de hoje. Atualmente, graças aos ta, dá. Isso é uma inverdade. Foi papel da Embrapa transfor- do”, diz o sócio da gestora de investimentos SP Ventures, Fran-
foi salva pelo agronegócio, e não só ela: a alta do avanços nesse quesito, é necessário “apenas” 61 mar locais dificílimos em oásis do agro”, diz Paulo, do Insper. cisco Jardim. Ele conta que a gestora investiu R$ 84 milhões,
PIB também foi puxada por esse mesmo setor”, milhões de hectares. Ou seja, produzimos mais “O cerrado brasileiro, por exemplo, é um ambiente impróprio ou 80% do montante total, apenas em empresas de tecnolo-
analisa o coordenador do Centro de Estudos em utilizando menos recursos financeiros e naturais. e só foi possível ter alguma produtividade lá com avanços gias voltadas ao setor agro.
Negócios do Insper, Paulo Furquim de Azevedo. tecnológicos”, conclui. Uma das escolhidas foi a Agrosmart. A agtech, com sede
O agronegócio, que engloba desde a cadeia Em 2017, para cada R$ 1 investido em pesquisas realiza- em Campinas, no interior de São Paulo, atenta-se ao monitora-
produtiva, do trabalho agropecuário até a co- das pela empresa, o retorno para o País em inovações foi de mento agroclimático de fazendas. Ou seja, todas as variáveis
mercialização dos produtos, vem se consolidan- R$ 11,06, de acordo com a entidade. de solo, clima e planta são verificados, têm os dados coletados
do como o principal agente econômico nacional “Isso foi fruto decorrente de impactos econômicos de 117 e, assim, um produto é gerado para a necessidade de cada lo-
– que há anos passa por um processo de desin- tecnologias e cerca de 200 cultivares lançadas apenas neste cal. O principal componente da empresa, voltado a cultura de
dustrialização e ainda sente, de forma ordiná- ano”, afirma o gerente de inteligência estratégica da Embrapa, grãos, é focado em irrigação. Um software mede todas as con-
ria, os tremores políticos na economia. Edson Luis Bolfe. dições de ambiente, umidade, temperatura, vento e radiação
Tantos resultados positivos só puderam ocor- Atualmente, a estatal ganhou o reforço das chamadas solar para mensurar a quantidade exata de água que a plan-
rer pela junção de fatores significativos. O clima “agtechs” (startups do campo), que vêm aparecendo em di- ta precisa. Além disso, com as informações em mãos, o pro-
adequado e o advento de novas tecnologias no versos polos espalhados pelo interior do Brasil. Em comum, dutor também pode prever doenças e usar menos insumos.
campo fizeram com que a produção crescesse, todas elas buscam solucionar os problemas do setor com au- Dessa forma, o agricultor economiza energia elétrica e água,
atingindo 241 milhões de toneladas de grãos, xílio de tecnologia. Ou seja, o ganho de eficiência também diminui custos e aumenta a produtividade, pois, com a irri-
um recorde absoluto. faz parte da atuação dessas novas empresas. gação “perfeita”, todo o potencial da planta é desenvolvido,
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ECONOMIA jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Fotoarena / Folhapress
ciados a cada mandato. O próprio governo Temer
Nacional para Difusão de Adubos (Anda). chegou a anunciar R$ 45 bilhões em projetos, mas
o segmento se mostra cético em relação a isso.
A mão estrangeira está presente do maquinário que Isso porque, mesmo que o governo mante-
nha esperanças, as empresas buscam altos re-
ensaca a colheita até a comercialização no exterior.
tornos, uma vez que o risco de investir por aqui
Essa internacionalização, contudo, não atinge uma vertente: não é baixo. Nessa hora, porém, o governo não
a posse de terras para plantio. Isso porque a Lei n.º 5.709/71 está disposto a ceder.
Além disso, há ainda o terceiro fator: a demo-
prevê que pessoas físicas ou jurídicas com capital estrangeiro
ra das agências reguladoras. O engessamento de
possam comprar no máximo 15 módulos rurais. O tamanho de gerando melhores grãos. “O custo varia de R$ 30 a R$ 300 por para atender à demanda por crédito. Os juros um supervisor que remunera técnico e produtor tais órgãos faz com que qualquer obra relativa-
cada módulo varia entre 5 e 100 hectares, segundo a região hectare. Em irrigação, temos casos que economizam até 40% eram de, no máximo, 8,5% ao ano, bem abaixo por metas atingidas. Ao todo, 70 mil produtores mente grande perca anos dentro de uma legis-
de energia e 60% do uso da água”, destaca um dos fundado- dos utilizados pelo mercado, mas ainda insufi- já têm sido assistidos nesse programa, segundo lação complicada. Tudo isso faz com que as me-
em que se está. Atualmente, há 5 milhões de hectares nas res da Agrosmart, Raphael Rizzi. Segundo ele, em geral, na ciente ao produtor. a entidade. lhorias tão esperadas demorem a sair do papel.
mãos de estrangeiros no Brasil, de acordo com o Instituto maioria dos produtores, o investimento é pago em uma ou “Enquanto a produção cresceu a 8 milhões de to-
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). duas safras. Com quatro anos de existência, a Agrosmart já CAPITAL HUMANO INFRAESTRUTURA DEFICITÁRIA neladas, as exportações do Arco Norte, de 2009
tem uma filial nos Estados Unidos e prevê ainda outras na Falta dinheiro e interesse também na forma- Mas de que adianta ter o produto mais barato do a 2015, cresceram só 2 milhões de toneladas. Em
A discussão em torno da regularização do capital externo Colômbia e no Peru. ção das pessoas envolvidas com o trabalho no mundo, se ele mal consegue chegar a quem pre- pouco tempo, teremos um apagão logístico nes-
Para o desenvolvimento de toda essa tecnologia, contudo, campo. Um grande desafio é encontrar e pre- cisa? É esse questionamento que traz o problema sa região”, diz o superintendente técnico da CNA,
na posse da terra se alastra há anos. Críticos afirmam que
é necessário dinheiro. Em duas rodadas de investimento, a parar mão de obra mais bem orientada para as da infraestrutura – gargalo que parece eterno Bruno Lucchi. “O nosso custo de frete hoje é qua-
a lei tem viés desenvolvimentista do governo militar. Agrosmart já captou R$ 9 milhões, montante que capitaliza evoluções que o segmento vem passando. Uma por aqui – à tona. tro vezes maior que dos Estados Unidos e da Ar-
Por isso, querem alterar o entendimento para permitir a a empresa até 2019. Mas, pensando na internacionalização, já indústria de ponta necessita, necessariamente, Essa trágica condição, que afeta os negócios gentina. Nunca vai ser igual, mas quatro vezes
abriu outro processo de captação para que a companhia não de pessoas bem preparadas para o serviço para nacionais, passa por três pontos essenciais, de vai onerar cada vez mais o produto”, afirma ele.
compra de até 100 mil hectares de terra e arrendamento de caia na vala comum da falta de capital disponível por aqui. reduzir essa lacuna. acordo com especialistas. O primeiro é a falta de Apesar de desafios ainda latentes, o agronegó-
outros 100 mil. Quem é contra a flexibilização diz que tal política A Embrapa, por exemplo, tem buscado parce- investimento. Segundo eles, o governo federal cio brasileiro continua a trazer resultados robus-
ameaçaria a soberania do País. “Hoje, muitos proprietários DINHEIRO CARO rias com produtores, cooperativas, associações, gasta apenas 1,5% do que arrecada em infraes- tos que ajudam o País a crescer e se desenvolver.
Ano após ano, presenciamos avanços importantes no Brasil: sindicatos e universidades, de forma a elevar a trutura, enquanto que em países desenvolvidos Se a vocação do Brasil é alimentar o mundo, que
querem valorizar suas terras e, por isso, olham com bons geração de plantas mais produtivas, nutritivas e resistentes; disponibilidade de informações, dados e capaci- o porcentual vai a 5%. façamos isso da melhor forma: melhorando nosso
olhos a possibilidade da compra por estrangeiros”, diz o sócio animais de melhor adaptação aos ambientes; novas máqui- tações em novas tecnologias para todas as clas- Pior: com a crise que abate as contas públicas, preparo e mantendo nossas habilidades para tal.
do Levy & Salomão Advogados, Daniel Tardelli Pessoa. nas e equipamentos; programas de informática; e até siste- ses de produtores rurais. essa condição só piora. Dados da Confederação
mas de monitoramentos. “Essa profissionalização é um dos grandes Nacional da Indústria (CNI) mostram que, ape-
Entre 1994 e 2010, por decisão da Advocacia-Geral da União A boa fase do agronegócio, contudo, não mascara os proble- desafios aos quais as instituições públicas e em- nas no último ano, o governo federal reduziu em
mas que ainda cerceiam o setor. Tecnologia custa caro, e o cré- presas privadas têm dedicado grandes esforços. 18,5% os investimentos em infraestrutura. “No
(AGU), eliminaram-se as restrições à compra de terras dito ainda está oneroso e limitado, já que a participação deste É necessário dar maior dinamismo e obter mais passado, nos anos de 1970, o Brasil chegou a in-
brasileiras com maioria de capital formada por estrangeiros. como fonte de financiamento vem caindo. Na safra passada, integração entre produtor e pesquisa, ensino, in- vestir 5,4% em infra. O setor público tinha recur-
A batalha agora é pela possibilidade de a AGU rever novamente a modalidade correspondeu a 39% do total emprestado, en- dústria, comércio, assistência técnica e extensão sos e fazia isso, mas hoje não tem mais nada. Nos
quanto que o capital próprio do agricultor já representou 31%. rural”, diz Bolfe, da Embrapa. últimos anos, o Brasil gastou muito em custeio,
a questão. Para, o especialista em Direito Comercial e Mesmo com a taxa básica de juros (Selic) em queda, já na Diante das dimensões continentais do Bra- mas não sobrou nada para infra”, conta Lanzana
professor do CEU Law School, Marcelo Godke Veiga, essa casa dos 6%, e inflação oficial abaixo dos 3%, penduricalhos sil, a CNA opta pelo caminho do ensino a dis- da FecomercioSP.
seria a forma mais fácil de alterar o direito à posse. “Não é bancários acabam representando até 20% do custo de pro- tância. A entidade montou até mesmo uma fa- Se o investimento não é estatal, poderia ser
dução. Assim, o produtor brasileiro ainda depende muito culdade para formar técnicos em agronegócio. privado. O País, contudo, ainda não conseguiu
necessário mudar a lei. A AGU pode mudar a interpretação do crédito subsidiado. O Plano Safra deste ano destinou um O profissional, recém-formado, faz um plano de atrair o capital para infraestrutura – o segundo
sobre o que é empresa de capital estrangeiro”, afirma. total de R$ 200,2 bilhões, sendo que 79% a juros controlados trabalho, com metas, e isso é monitorado por ponto na avaliação de quem estuda o setor. Pou-
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A Reforma Trabalhista
alterou mais de 100
pontos da CLT. Você
tem algumas dúvidas?
minas gerais
CRESCENDO COM A CORDA NO PESCOÇO
texto GUILHERME MEIRELLES
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Alf Ribeiro/Folhapress
ESTADOS BRASILEIROS jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
“
“Um bom mineiro só acredita na fumaça quan-
do vê fogo, só arrisca quando tem certeza, não
troca um pássaro na mão por dois voando”, dis-
se, com sabedoria, o escritor João Guimarães
Rosa. Embora distante no tempo, a frase se en-
caixa ao espírito cauteloso do empresariado de
Minas Gerais, que ainda demonstra ceticismo
com a recuperação da economia nacional. De
acordo com o Índice de Confiança do Empresário
Industrial (ICEI), realizado pela Federação das
Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG)
em parceria com a Confederação Nacional das
Indústrias (CNI), o empresariado mineiro está
mais pessimista do que a média nacional. O ICEI
de Minas Gerais ficou em 53 pontos, 3,5 abaixo do
registrado em março, enquanto o índice nacio-
nal apontou 56,7 pontos. A metodologia do ICEI
se baseia em duas variáveis: as condições atuais
e a expectativa para os próximos seis meses, com
O grande desafio para resgatar
a confiança do empresariado
passa pela busca de soluções
que estanquem o crescimento
da dívida pública do Estado
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ESTADOS BRASILEIROS jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Humano, que, segundo o IBGE, é de 0,731 (o do Brasil é 0,754, tornar o Estado o maior polo de inovação e tecnologia da consecutivas de déficit no balanço entre produ-
de acordo com a ONU), pode ser explicado pela desigualdade América Latina. Segundo a Secretaria de Estado de Desen- ção e consumo mundial. O aumento da produ-
presente no território de 586.520,732 quilômetros quadrados, volvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Supe- ção na Índia, na Tailândia e na União Europeia
o equivalente a um país das dimensões da Espanha. As áreas rior (Sedectes), já foram investidos mais de R$ 200 milhões fortalecem a sensação de superávit para a safra
mais desenvolvidas estão nas regiões do Triângulo Mineiro, em programas de formação empreendedora, aceleração, in- 2018/2019, pressionando os preços no mercado
do Alto Paranaíba e do Sul de Minas, com forte presença da centivo à tecnologia e inovação, qualificação profissional, doméstico brasileiro. Na pecuária, os produtores
pecuária e culturas de café, soja e cana-de-açúcar, além da integração e conexão com o mercado. deverão redimensionar suas estruturas, princi-
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articulista
“FALA SÉRIO!”
Renovação novação na próxima legislatura, mas por qual
razão, apesar das sucessivas renovações, não há
@ C a n a lU M B R A S I L | WWW.UMBRASIL.COM
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INTERNACIONAL jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Um país preocupado
internacional é uma constante na história do
País. De forma quase obsessiva, os brasileiros
acompanham os reflexos do que acontece em
suas vidas pelas lentes de quem vê a Nação
D
E a partir do acirramento das disputas políticas
no Brasil nos últimos anos, o interesse brasi-
leiro se converteu ainda em uma batalha pela
narrativa internacional sobre o que acontece
em território nacional. No impeachment de
Dilma Rousseff e na prisão de Luiz Inácio Lula
da Silva, por exemplo, houve um forte movi-
mento em torno do que se dizia a respeito do
País no resto do mundo.
Segundo o presidente da Imagem Corpora-
tiva – agência que realiza o principal levanta-
mento regular sobre o que a imprensa interna-
cional diz a respeito do Brasil –, Ciro Dias Reis,
esse interesse é justificado porque existe uma
tendência no Brasil de se valorizar o que se faz
lá fora. “É uma característica muito comum.
Sempre se procura saber sobre o que está acon-
tecendo nos Estados Unidos, na Europa. Existe
esse olhar para fora. Isso [que se fala sobre o País
na imprensa estrangeira] é um desdobramento
dessa cultura.”
“Deu no New York Times, deu no New York Ti- O editor-executivo da BBC Brasil, Caio Que-
mes”, repetia o cantor Jorge Ben Jor no início ro, faz avaliação parecida. Segundo ele, um dos
da década de 1990, no refrão do que se torna- motivos para isso é o fato de o Brasil sempre ter
ria uma de suas músicas mais simbólicas: “W/ buscado um modelo externo. “Estamos de olho
Brasil”. A afirmação simples sobre a repercus- em países que são modelos de desenvolvimen-
são externa de algo que aconteceu no País, de to para a elite brasileira a fim de entender o que
uso comum entre a população, é reveladora de eles falam, para nos entendermos melhor, en-
uma característica marcante da Nação. Ela re- tendermos os parâmetros do nosso desenvolvi-
flete a relação de interesse dos brasileiros pelo mento”, explica.
que a imprensa internacional diz a respeito do O repórter brasileiro da agência internacio-
Brasil. O que é relevante aparece na mídia es- nal de notícias Associated Press, Maurício Sava-
trangeira. O que aparece nos jornais do resto rese, faz um contraponto. Para ele, a imprensa
do mundo é importante. brasileira perde tempo demais pensando no que
Independentemente de ser a cobertura do a mídia estrangeira diz. Um dos motivos para
The New York Times, a capa da The Economist isso, alega, é que o Brasil “toma o que é reporta-
mostrando o Cristo Redentor decolando como do por estrangeiros como uma questão civiliza-
um foguete, os editoriais do The Guardian, as tória sobre nós mesmos”, diz.
análises do Le Monde ou as imagens mostradas Reis alega que essa cobertura internacional
pela CNN, o fato é que a atenção e a preocupa- é muito importante. “Uma reportagem no The
ção com a imagem de si próprio na imprensa New York Times é replicada no mundo inteiro
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INTERNACIONAL jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
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7 p e r g u n ta s jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Em plena globalização, o Brasil pode se dar o luxo de para Venezuela imediatamente são a Colômbia, o Peru e o Assista esta e
Pol í t ica ter a política externa como interesse secundário? Equador, países com quem tem grande afinidade, uma histó- outras entrevistas
ria compartilhada e total integração política. da plataforma
e xt erna e Não, mas o País consegue manter a ilusão de sua autono- UM BRASIL, que
mia. O Brasil tem uma tendência a achar que não está in- Não é um paradoxo que o Brasil, que o senhor descreve aborda questões
> Em cinco décadas de serviço diplomático, convencido é que o Brasil vai se arrumar, não por uma de-
finição central de um governo, mas por acertos setoriais.
to de desenvolvimento, ele costuma vir acompanhado de
imensa corrupção. Nos Estados Unidos dos séculos 19 e 20,
Marcos de Azambuja representou o Pela complexidade, não se trata de um país que possa ser na Inglaterra do século 18, a história do desenvolvimento
governado de uma cidade, há diversos polos naturais de é a história de ações predatórias para fora e corrompidas
País nas embaixadas de Buenos Aires e crescimento. É preciso que se aceite isso: não há uma fór- para dentro, mais ou menos. Mas o País vive isso em um
mula única, centralizadora. O que vai haver em certo mo- momento que a sociedade internacional não tolera mais
Paris, foi secretário-geral do Itamaraty mento é um somatório de acertos que vão produzir o Brasil esse comportamento. É uma situação de difícil acomoda-
e um dos principais responsáveis pela que nós tanto esperamos. ção: como corrigir pecados graves, éticos, uma democracia
cheia de fragilidades, ao mesmo tempo em que se promove
Eco-92. O embaixador aposentado O senhor testemunhou o nascimento do Mercosul, em 1991, quando um crescimento acelerado? O impacto dos escândalos de
era embaixador em Buenos Aires. Qual é a sua avaliação desse bloco? corrupção recém-revelados demonstra o aspecto negativo
discute o papel do Brasil no século 21 de uma sociedade incapaz de se policiar e de se autocon-
O Mercosul deu certo no que não se esperava. Deu certo trolar. Por outro lado, há outro aspecto que redime o pri-
e comenta grandes desafios globais. como um processo de integração político-democrático, meiro, que é a ideia de uma sociedade capaz de fazer uma
fortaleceu as democracias, o entendimento, a amizade; e correção de rumos, sem sacrificar suas instituições. O que
não deu muito certo como uma zona de economia integra- tem se destacado pelo mundo afora é que o Brasil não está
entrevista Jaime Spitzcovsky da. Porque os países queriam uma retórica da integração se corrigindo porque o mundo cobra isso dele, mas porque
foto Christian Parente econômica, mas estávamos todos casados com a ideia do ele mesmo não aceita mais o tipo de sociedade que ele era.
nacionalismo econômico. Essa diferença entre o discurso
e o comportamento é muito frequente no Brasil. É um país Na sua opinião, até onde chegará essa onda nacionalista
que professa a integração e cultiva o isolacionismo. na Europa e quais as suas repercussões no Brasil?
A Aliança do Pacífico, iniciada em 2012 e que reúne A União Europeia é uma das grandes construções políti-
México, Chile, Colômbia e Peru, avançou mais do que cas e econômicas da história. Há 60 anos estamos vivendo
Qual é o papel do Brasil no século 21, um período histórico As elites econômicas e políticas brasileiras dão a devida importância o Mercosul nos últimos anos. Devemos ter inveja dela? um dos ciclos mais duradouros de paz e riqueza da história
de mudanças, com a ascensão meteórica da China? à política externa e à inserção do País no cenário global? da humanidade – senão o maior. Mas há problemas, por
Eu acho que sim. O Pacífico está dando mais certo que o Atlân- exemplo, os dois países europeus que ela não reconhece
Se o Brasil não der certo, o mundo não vai dar certo. Não Não. Isso é até natural, porque o Brasil tem tido uma tico Sul. Uma inveja não de rancor, mas de emulação. O Brasil como sócios, a Turquia e a Rússia. Há ainda o problema da
como pretensão, mas porque o Brasil é um microcosmo. O geografia e uma história tão serenas. O País é um remanso tem de desenvolver estradas, ferrovias, acessos portuários. imigração, que deixou de ser um fato ocasional para ser um
Brasil é uma síntese de raças, de culturas, de situações, de estratégico, é um lugar em que pouca coisa acontece em Estamos muito perto do Pacífico. No Acre, a distância é de movimento imenso de pessoas fugindo de situações into-
espaços. Portanto, é importante para o mundo que [o Brasil] termos de repercussão mundial. Nós estamos fora dos 250 quilômetros, o que em termos geopolíticos não é nada. leráveis. Então, o que há na Europa hoje é o medo de uma
dê certo. Se nós não dermos certo, as condições para o mundo grandes eixos de tensão, não estamos na linha dos gran- Primeiro, nós temos de desenvolver a costa brasileira que dá sociedade de desaparecer na sua própria imagem, de não
ficam prejudicadas, então a Nação tem um papel crescente. des conflitos. Historicamente, o Brasil não tem vizinhos para o Oeste. Portanto, há aí uma engenharia política a ser ser mais ela mesma. Na minha experiência, a imigração é
Há agora uma tendência a achar que o Brasil era um país que que o guiassem, tampouco está em alguma daquelas li- perseguida. Eu creio que há caminhos. Em relação ao aceite bem-vinda até o ponto em que pode ser absorvida. Depois
se jugava inferior ao que era; um país vira-lata. A expressão nhas de divisão de poder ideológico ou militar, então tem da adesão da Venezuela, houve um erro de antecipação: ela de um certo volume, ela ameaça a identidadede quem re-
ganhou certo trânsito, mas o Brasil tem de jogar dentro de uma posição confortável. Por isso, a política externa tem entrou cedo demais e, em vez de fortalecer o sistema, enfra- cebe os imigrantes. Em princípio, os movimentos imigrató-
suas possibilidades. Nem excesso de protagonismo, nem um interesse acessório, mais de curiosidade do que de queceu-o. É um grande país e um sócio desejável, mas não es- rios que o Brasil recebeu foram desejados e nenhum deles
excesso de modéstia. O Brasil está chegando lá: quase uma preocupação. Nós não temos uma guerra com um vizinho tava totalmente harmonizado com os objetivos do Mercosul. teve um efeito demográfico tão decisivo. O País nunca rece-
grande potência, mas ainda só uma potência regional com há mais de cento e poucos anos; na nossa lembrança, o Parece paradoxal, mas nós somos vizinhos distantes, temos beu um grande número de não cristãos, por exemplo. Nós
projeções mundiais. conflito é uma coisa remota. com a Venezuela uma relação tangencial. Quem importa temos uma grande massa sírio-libanesa, mas não islâmica.
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literatura jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Retratos
do Brasil
Carta. [Do gr. chártes , pelo lat. charta.] S. f. 1. Comunicação manuscrita ou impressa
texto Marco Chiaretti
devidamente acondicionada e endereçada a uma ou várias pessoas; missiva, epístola. Cartas, aquele estranho tipo de documento em meio de um conjunto de missivas, escritas desde
papel, geralmente trocado entre duas pessoas, o que o Brasil existe. Aliás, desde que ele começou
(in: Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa; 4a. Edição, Curitiba; ed. Positivo, 2009) (ou a) autor(a) da carta e seu (ou sua) destinatá- a existir, já que uma dessas cartas é justamente
rio(a), não são coisa deste nosso tempo. Foram en- aquela que Pero Vaz de Caminha escreveu a seu
viadas e recebidas por milhares de anos. Foram, rei, lá em 1500.
mas não são mais, ou quase – o que faz com que Rodrigues é mineiro, mas mora há anos no
boa parte dos brasileiros (e dos humanos, a pro- Rio de Janeiro. Escreve sobre vários assuntos e é
pósito) nunca tenha visto ou escrito uma. Servi- bem conhecido por seu amor pela língua portu-
ram para transmitir de tudo: sentimentos como guesa. É dele o best-seller Viva a língua brasilei-
esperança, ódio, decepção, problemas, soluções, ra, um compêndio de dicas e sugestões para todo
amor, intenções. Foram sendo substituídas por aquele que use nossa língua para se comunicar.
formas imediatas de comunicação que, embora A coleção que ele organiza é também isso, um li-
escritas, simulam a comunicação oral, em sua vro de um apaixonado pela língua.
quase simultaneidade. Cartas representavam a Esse volume de cartas se lê com tanto prazer
passagem do tempo. E-mails e mensagens ele- quanto aquele sobre o português e aquele de car-
trônicas e digitais eliminam o tempo. tas do mundo. É um belo livro, divertido, praze-
Há alguns anos, uma editora publicou um li- roso, um elogio à humanidade – mesmo quando
vro de cartas, em língua inglesa. À diferença da reflete o mal que os homens se fazem. E uma ele-
comum e corrente coleção epistolar entre duas gia ao Brasil.
pessoas, o volume em questão (Cartas extraordi- São 80 cartas, algumas escritas à mão, ou-
nárias, publicado no Brasil pela Companhia das tras, datilografadas. Várias, nem em português
Letras) trazia 125 documentos, de várias épocas, foram escritas. Duas, são as últimas, a de Getú-
com vários autores e destinatários, do mundo lio Vargas (que, de fato, são duas, uma manus-
todo. A ideia, muito boa, frutificou: a mesma crita e outra datilografada, revelada vários dias
editora brasileira do volume internacional pe- após sua morte) e a de Stefan Zweig. Há uma
diu a um conhecido jornalista, Sérgio Rodri- carta de Charles Darwin, sobre as belezas do
gues, que fizesse o mesmo, pensando no Brasil, País, sobre enjoos e sobre uvas passas, e outra
nos brasileiros e em todos que por estas terras do pintor Iberê Camargo, falando de satélites
passaram ou viveram. Deu no que deu – Cartas soviéticos (a União Soviética ainda existia em
brasileiras é um retrato da alma brasílica, por 1953, quando a carta foi escrita). Há cartas de
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literatura jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Sérgio Rodrigues
comenta sobre a obra
problemas brasileiros – Por que essas 80
cartas? E por que 80 e não cem? Ou 101? Ou 51?
sérgio rodrigues – Por que não essas
e por que não 80? São as únicas respostas
possíveis. Descontadas duas ou três cartas
ditas obrigatórias, minha seleção se assume
como radicalmente impressionista, uma
proposta de passeio pelo mundo das cartas, desconhecidos e outras de personagens históri- Mal sabia seu autor que ele nem veria seu Portu- O mundo e quem nele vive
cos. Einstein fala de Rondon, e Rondon escreve gal amado – morreria na Índia alguns meses de-
entre infinitas outras possibilidades. Cartas extraordinárias (Companhia
aos irmãos Villas-Bôas. Todas, sem exceção, re- pois de escrever ao rei. E como os índios que aqui
fletem seu tempo e seu mundo. viviam não escreviam nem cartas nem nada, das Letras, 2014) antecede em alguns
pb – Qual delas mais o impressionou? Qual Há uma carta de uma menina ao presidente não há registro do que eles acharam daqueles anos o volume brasileiro, e é um pouco
delas achou mais engraçada? Mais triste? bossa-nova, Juscelino Kubitschek, perguntando sujeitos esquisitos e todos cobertos que chega-
maior. Reúne 125 correspondências
sr – É difícil fazer escolhas desse tipo num sobre Brasília recém-criada. Há outra de Elis Re- ram em canoas gigantescas. Talvez, se houvesse
gina ao filho recém-nascido; Lampião ameaçan- alguma carta de um dos que viram a chegada, várias, escritas por personagens da
conjunto que já foi, ele mesmo, resultado de
do o prefeito de uma cidade; e Mário de Andrade ela não seria tão otimista. história universal ou por pessoas comuns
inúmeras escolhas. Gosto de todas as cartas dando conselhos a Fernando Sabino. Aliás, como A escrita pelo suicida Getúlio Vargas é se-
inclusas no livro, é claro. Tenho um carinho especial escreve Mário de Andrade... minal. Aliás, as escritas, já que são duas as
envolvidas em histórias extraordinárias.
pela carta da estudante a Juscelino – não por Jorge Amado manda uma carta ao amigo cartas-testamento – uma, datilografada e a A coletânea de Shaun Usher é ambiciosa: vai
português Saramago, enquanto um ministro de outra, manuscrita. O final épico, “saio da vida de bilhetes suicidas a receitas de pãezinhos;
acaso, a primeira. A mais triste para mim é, sem
Estado esparrama elogios a Benito Mussolini, para entrar na história”, está na datilografa-
dúvida, a que Olga Benário escreve do campo logo ele. Santos Dumont conta de sua decepção da, que por sua própria forma parece indicar
de Iggy Pop a Leonardo da Vinci; de um piloto
de concentração, na véspera de sua morte. em relação a uma norte-americana em Paris e com clareza que o suicídio foi mais do que camicase a Dostoiévski; de Beethoven a
Paulo Leminski escreve a um amigo, poeta como pensado. Há outra carta de um suicida, escrita Ghandi; de Nixon a Hitler. Junta cartas de
pb – Qual é a mais definitiva de todas ele. Carlos Drummond de Andrade escreve a João pelo austríaco Stefan Zweig, o autor de Brasil,
Cabral, e Vinicius de Moraes, a Chico Buarque. um país do futuro. Ambas são tristes, muito amor, humor ou dor. Os destinatários incluem
para a nossa história? Ou nenhuma
Há de tudo: cartas de músicos, de poetas, de tristes, mas não são o momento mais triste do um editor de jornal que jura que Papai Noel
delas é “mais” do que as outras? escritores, de arquitetos. Cartas de mulheres a livro. É a carta de Olga Benário, a comunista
existe, cientistas famosos não identificados
sr – Para a nossa história, com “h” maiúsculo, homens, de homens a mulheres, de mulheres a alemã casada com Luís Carlos Prestes, entre-
acho indiscutível que as duas versões da carta de mulheres e de homens a homens. Cartas de prin- gue grávida aos nazistas pela ditadura de Var- e outros identificados (Einstein é um deles),
suicídio de Getúlio Vargas levantam o caneco. cesas a príncipes. Está lá a carta que Leopoldina gas, em 1942. Olga, que foi morta em um cam- presidentes da República e atores (Marlon
mandou a Pedro pedindo que este tomasse uma po de concentração, escreveu à filha no dia
Brando, por exemplo). Eisenhower recebe várias
atitude e declarasse a Independência. Pedro, ao antes de sua morte, em uma câmara de gás.
pb – Eu as li aos saltos e na ordem, do que parece, leu a carta e obedeceu a mulher (e Juntas, essas 80 cartas são um bom retrato das missivas; Roosevelt é o destinatário de
começo ao fim. Qual é a melhor maneira, em tempos depois, mandou uma carta à amante). do Brasil e dos brasileiros, um daqueles livros uma delas, escrita por Fidel Castro (que tinha
sua opinião? Ou não há maneira certa? O volume inclui também nossa certidão de de história de leitura obrigatória para quem
nascimento, a famosa, muito citada e quase quiser entender esta terra. E quem nela vive,
14 anos quando a enviou e queria US$ 10 de
sr – O livro tem uma proposta lúdica que permite nunca lida carta de Pero Vaz de Caminha a El viveu e viverá. presente). Aqui, como na coletânea brasileira,
qualquer ordem de leitura. Quem o ler na ordem Rey, Dom Manuel I. Treze páginas são dedica- há reproduções, fotos e textos explicativos.
que eu proponho – e que não tem nada de linear das a transcrever o texto completo da carta (e
mais duas reproduzem a carta original), escrita
Não se trata de mostrar o espírito de um
–, encontrará algumas relações subterrâneas
em português arcaico (hoje, à época, era moder- povo ou de um lugar, mas do gênero humano,
interessantes entre textos de origens e até de níssimo), tratando da bela e vasta terra, dos ho-
épocas diversas. Mas nada impede o leitor de em um recorte muito particular. Um retrato
mens que aqui viviam e de suas belas e moças
estabelecer novas conexões por sua conta. mulheres. A carta é de um otimismo absoluto. extraordinário das gentes do mundo.
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BRASIL QUE FAZ jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Nas lacunas
do Estado
Com cortes drásticos nos orçamentos, áreas DE educação, cultura,
lazer e esporte sobrevivem graças a iniciativas de entidades
independentes. Trabalhos consolidados como os do Sesc atendem
pessoas que, embora com direitos garantidos pela Constituição,
na PRÁTICA, ficam à margem dos investimentos públicos.
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BRASIL QUE FAZ jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
Favela em debate
No Rio de Janeiro (RJ) o coletivo Observatório de
Favelas, criado em 2002, dedica-se a diminuir
as desigualdades socioeconômicas e raciais em
universidades cariocas e debater a violência
policial contra jovens de comunidades e fave-
las, por meio de pesquisas feitas em parceria
com universidades, entidades e órgãos públicos.
Também promove exposições de artes plásticas,
sessões de cinema, shows, cursos e seminários
Embora a Constituição Federal garanta aos cida- ba para a pasta da cultura. Em 2018, alcançou de arte e cultura. das dentro das favelas e nas periferias. Um dos
dãos o direito ao bem-estar social, a lei acaba não o mais baixo orçamento, de R$ 15,8 milhões, o Graças aos estudos do Observatório, foi possí- objetivos é “a troca de experiências inovadoras
sendo cumprida. Diante da queda de arrecadação equivalente a 0,22% do total do orçamento anual vel constatar que os jovens negros e de periferia de convivência entre os moradores dos espaços
nas três esferas de governo, houve reduções con- do município para o ano (R$ 7,3 bilhões). enfrentam mais dificuldades de acesso aos cur- populares e do município em seu conjunto”. Nas
sideráveis nos orçamentos destinados a cultura, Nesse cenário de escassez de investimentos sos de Medicina, Direito, Comunicação e outros oficinas e nos cursos de gestão e produção cultu-
educação e esportes. De 2017 para 2018, os gastos públicos, o terceiro setor toma a frente e atua mais concorridos, em razão da baixa qualidade ral já foram formados 120 jovens de seis favelas
definidos pela União para a área de educação di- para preencher lacunas deixadas pelo Estado em da educação básica que tiveram. As pesquisas (Rocinha, Cidade de Deus, Alemão, Complexo da
minuíram em R$ 1,5 bilhão; o orçamento de cul- áreas fundamentais para o dito bem-estar da geraram debates sobre as cotas raciais em uni- Penha, Manguinhos e Maré). Cerca de 5 mil pes-
tura foi cortado em R$ 400 milhões; e o da pasta Constituição. Na capital baiana, o Centro Cultural versidades e colégios. Outro levantamento cons- soas são atendidas por ano nas atividades.
de esportes caiu quase pela metade, passando de Ensaio (CCE) reúne jovens atores e atrizes que ali tatou que a violência letal dos policiais ceifava a
R$ 960 milhões para R$ 490 milhões. aprimoram suas habilidades artísticas, trocam vida de milhares de jovens pobres moradores de Brasil que dá certo
Por outro lado, o repasse de recursos da União experiências e têm oportunidade de emprego. O comunidades e favelas. O grupo, então, publicou O Serviço Social do Comércio de São Paulo
aos Estados e municípios aumentou em R$ 7,5 grupo surgiu em 2009, da inquietude de artistas o Manual de redução de violência letal, destinado (Sesc-SP), criado em 1946, é uma das organiza-
bilhões de um ano para o outro. Ainda assim, que se mobilizaram para obter um espaço no qual a gestores públicos na área de segurança, ofere- ções mais simbólicas quando o assunto é cultu-
14 dos 26 Estados (mais o Distrito Federal) estão pudessem ensaiar e ter aulas gratuitas. A ideia cendo inclusive oficinas para gestores munici- ra, arte, educação e lazer. A instituição mantida
com as contas em déficit, sendo que 11 seguem ganhou corpo com a participação da comunidade. pais de diversas cidades brasileiras interessados pelos comerciantes permanece em expansão
gastando mais do que arrecadam, conforme le- Segundo o diretor-geral do CCE, Fábio S. Tava- em políticas de prevenção à violência. e longe dos escândalos administrativos de cor-
vantamento feito pela Federação do Comércio de res, além da dificuldade histórica da falta de es- Segundo o diretor do Observatório de Favelas, rupção que abalaram a credibilidade de muitas
Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo paços públicos para trabalhar, existe a carência Jorge Barbosa, a atuação é forte ainda na promo- organizações no País.
(FecomercioSP) em 2017. de visibilidade em veículos de comunicação de ção das pluralidades cultural e artística gera- No Estado de São Paulo, o Sesc mantém uma
Na cidade de São Paulo, reconhecida como massa (jornais, revistas, grandes portais), para rede de 43 unidades (serão 44, com a inauguração
polo de artes e cultura, o orçamento municipal, que possam promover os espetáculos indepen- de Guarulhos ainda em 2018). A entidade é reco-
de R$ 56,2 bilhões, em 2018 vai destinar R$ 478 dentes. “Ter um espaço não bastava, pois os ar- nhecida Brasil afora por oferecer atividades cul-
milhões para a Secretaria Municipal de Cultura tistas não são bons gestores de suas próprias car- turais, de turismo social, programas de saúde e
– queda de 8% em relação a 2017. No Rio de Ja- reiras, e era preciso criar um núcleo de apoio para de educação ambiental, inclusão digital e progra-
neiro, o cenário é ainda pior. A cultura receberá organizar a gestão”, afirma. As mídias sociais ti- mas especiais para crianças e terceira idade. A
R$ 173,1 milhões neste ano, contra os R$ 214 mi- veram papel fundamental na promoção do CCE instituição emprega 7.321 funcionários e atende
lhões garantidos em 2017, queda de 19%. e, hoje, são o ponto de contato com o público. uma média de 450 mil pessoas, semanalmente.
O CCE realiza festivais de teatro, bazares e Ao longo de sete décadas, o Sesc tem se con-
União entre terceiro setor e comunidade exposições, além de oficinas gratuitas abertas à solidado por introduzir novos modelos de ação
A situação é dramática na Bahia. Desde 2014, a comunidade. “Alguns dos nossos cursos são pro- cultural e, desde a década de 1980, encara a edu-
Prefeitura de Salvador vem diminuindo a ver- fissionalizantes. Assim, conseguimos abastecer cação como ferramenta para a transformação so-
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BRASIL QUE FAZ jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
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articulista biblioteca
ELEIÇÕES,
mia do sistema produtivo aumentou a euforia
pelo controlado. A sociedade é tratada como imu-
nodeficiente, e muitos fecham os olhos para a má
A
O Brasil segue em turbulência sem conseguir se geração de empregos não serão, infelizmente, o A história cultural da Itália é daquelas
reerguer acima das paixões. O ano eleitoral in- centro da preocupação eleitoral. O que vem em- cheias desde sempre de intelectuais,
fluencia o ambiente de negócios, as incertezas polgando o cidadão é a agenda criminal da polí- pensadores, filósofos, escritores, enfim,
da urna aumentam a especulação. Afinal, a ca- tica e o seu combate cinematográfico. Na opera- Paulo Delgado seres humanos que vivem pela palavra
beça do brasileiro é um crânio flutuante. A má ção Mãos Limpas na Itália, o Judiciário descobriu e em torno dela. Poucos lugares do mundo elencam
foi deputado
política é destruidora de capital e estimula a an- que grupos mafiosos controlavam a política e tantos (e tantas). Desses, há um nome que aparece
tipatia da sociedade com a vida pública. impunham seus interesses. Na Lava Jato, foram
constituinte; é em todas as antologias: o piemontês Norberto Bob-
Alguns fatos contribuem para agravar o ce- grupos políticos com comportamento criminoso copresidente do bio, um dos maiores cientistas políticos em qual-
nário pré-eleitoral. Primeiro: a entrada em vigor que se destacavam, abrindo a vida pública para Conselho de Economia, quer língua – e um dos maiores entre os maiores,
da “Lei de Ferro” dos partidos políticos. Foi feita influências mafiosas. É por este caminho, da cla- Sociologia e política quando de Filosofia do Direito se trata.
para funcionar como uma cápsula de autofe- ra opinião sobre o papel da corrupção na desor- da FecomercioSP Bobbio nasceu em Turim, em 1909. Viveu sua
cundação destinada a consolidar a não renova- ganização da vida brasileira, que deverá passar adolescência e a entrada no mundo adulto no fas-
ção de parlamentares da história do Congresso. o debate presidencial. cismo, naqueles 20 e poucos anos entre 1922 e 1943,
A regra eleitoral engessou de tal maneira a elei- Por isso, o atual estado de espírito do Supre- nos quais Benito Mussolini mandou e desmandou.
ção que haverá um verdadeiro uso ditatorial do mo de discutir e rediscutir a execução da pena Viveu a guerra e a ocupação, a resistência contra
fundo partidário e do tempo de televisão para após a condenação em segunda instância mos- o nazismo e a libertação. Viveu a democratização,
salvar as grandes legendas do naufrágio. Não tra o quanto o sistema jurídico do Brasil está “o retorno à liberdade” e todas as sucessivas crises
há espaço para novidades. Segundo: a forte pres- desconectado dos sofrimentos da sociedade e políticas da segunda metade do século, em um país
são, acima das ideologias, sobre o Judiciário para das virtudes da boa economia. A Constituição que, como manda a Constituição, “é uma República
blindar a elite política do País das investigações. não fala que ninguém será preso até o transita- fundada no trabalho”, um país dividido (à época)
Terceiro: a falta de um consenso ético nacional do em julgado; fala que ninguém será considera- entre uma esquerda comunista visceralmente li-
que unifique o pensamento da sociedade e con- do culpado até terminar a sentença. E condena- gada à União Soviética e um centro e uma direita
dene, definitivamente, a corrupção como ins- do duas vezes não é mais inocente. ligados à Igreja e aos seus acólitos. Um país único e
trumento de ação política. Quarto: o movimento Nossa Justiça precisa ser alertada para o im- um pensador único, estudioso das vicissitudes ita-
de caráter eleitoral dos visitadores de um único pacto dos atos de corrupção e suborno na degra- lianas e dos problemas do mundo.
preso, que fingem querer ver crime político onde dação do ambiente corporativo e no destino de Nos oito capítulos desta Autobiografia, de sub-
temos crime de político. E insistem em balançar nascer, crescer e sobreviver de qualquer negócio. título “Uma vida política”, Bobbio “racconta” todos
a canoa em que navega o bom senso para afogar seus mais de 90 anos de vida (morreu em 2004, no
o princípio da igualdade de todos perante a lei. novo milênio). O autor de Estudos sobre Hegel, Os
Todos esses fatores mostram como ainda es- intelectuais e o poder, Política e cultura e Jusnatu-
tamos atrasados em relação às transformações ralismo e positivismo jurídico foi, na vida e na obra,
por que passa a sociedade. E contribuem para equilibrado e conciso, sutil e comprometido. Um in-
que a economia continue refém da política nos telectual no sentido mais completo – e mais exato
fazendo estacionar inviáveis diante do futuro. – da palavra. Bobbio.
Os modelos partidário e eleitoral se alimen-
tam do modelo estatal conservador e aprisiona
política, empresa e governo numa familiaridade
desastrosa. Esse entrelaçamento é que produz a
crise que impede que o Brasil se reinvente. A ba-
lança de poder que impôs ao País o capitalismo
sem livre-concorrência e a tutela sobre a autono-
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cultura jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
“OITENTONAS”
País. “Não há diferença nenhuma, porque eu sem-
pre peguei estrada, de ônibus, de avião, de carro, e
continuo.” Não é raro cruzar com outras estrelas
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cultura jun-jul 2018 Problemas brasileiros #446
“O Thiago é um guru para mim, porque a alguém dizer que minha voz continua jovem ape-
partir do nosso primeiro trabalho, que foi lindo, sar da minha idade, mas eu não faço nada em es-
ele acreditou. Com a minha idade, eu estou con- pecial, é tudo natural mesmo, é um dom que Deus
seguindo realizar coisas que eu não conseguia. me deu.” Apesar do talento, a cantora jura conser-
Só a partir da terceira idade que a minha vida var a mesma insegurança dos tempos do rádio.
começou a ter outro sentido”. O testemunho é de “Eu fico um pouco tensa no começo, porque eu sou
Claudette Soares, que em setembro do ano passa- uma pessoa tímida, mas, aos poucos, vou me sol-
do lançou o álbum Canção de amor, o terceiro em tando. É bom porque você entra com mais respon-
parceria com Marques. “Esse disco nos deu uma sabilidade em cena.” Para ela, manter a carreira
proporção, abriu portas”, comemora a cantora. ativa não é só um ato de paixão, mas também de
Neste ano, sairá a quarta parceria dos dois, o DVD porque, com a idade, a gente diminui, então o resistência. “O preconceito existe, está na cara,
já gravado do show que ela fez com Alaíde Costa salto aumenta”. “São dezoito [centímetros], pla- porque se eu fosse uma cantora branca eu estaria
em homenagem aos 60 anos da bossa-nova. Há taforma, o que você pensa? Eu sou uma travesti muito bem de vida. Não tem nenhuma outra ne-
ainda os discos A dona da bossa; Claudette Soares mirim! Eu costumo dizer que se tivesse um metro gra que cante o que eu canto, quando eu comecei
e orquestra Tom Jobim ao vivo; e Claudette Soares e oitenta eu seria insuportável.” em programas de calouros, ganhava nota máxi-
e a bossa de Caymmi. Thiago Marques também ma em tudo, mas a chance de me tornar profissio-
produziu os shows da cantora para divulgação A DAMA DA CANÇÃO nal demorou anos.” Nada disso desanima a dama
dos álbuns, tudo em ritmo acelerado, como gosta O primeiro DVD da carreira de Alaíde Costa da canção – assim como Angela e Claudette, ela só
Claudette. “Assim [trabalhando] eu não estou en- também é obra do jovem que virou produtor por pensa em cantar. “Eu nunca pensei em parar, por-
velhecendo sem fazer nada, vivendo do passado acaso. O álbum A dama da canção nasceu em que é a única coisa que eu fiz a vida toda. Eu vivo
– o que eu detesto. Eu não sou museu.” grande estilo, virou DVD e foi transmitido em da música, não passo parar.” Ainda bem!
canal de TV por assinatura, em um especial do
PASSADO, PRESENTE E FUTURO Canal Brasil. Alaíde também estreou esse ano
O passado serve só como referência. Foi nele que um show só com músicas de Chico Buarque e
Claudette e seu produtor buscaram inspiração Edu Lobo, e os convites para apresentações não
para o disco que está em produção. O novo ál- param. Apesar do grande volume de trabalho,
bum terá somente canções de Chico, Caetano e a cantora afirma que ainda há muito espaço
Gil, repetindo o trio de compositores do álbum para o seu talento. “Acho incrível porque o mo-
que a cantora lançou há 50 anos, em 1968. “Nós mento que eu mais gosto é o palco. É uma faca
vamos gravar novamente esse trabalho, mas de dois gumes, porque você não sabe o que vai
não com as mesmas músicas e, se possível, cada acontecer, mas é um momento muito especial.”
um cantando uma música comigo”, descreve Alaíde pegou gosto pelas câmeras durante os
Claudette. Nos momentos de agenda livre, ela shows no palco, e seu trabalho mais recente se
tem mais uma carta na manga: O baile da Clau- da garota que na década de 1960 deixou o Rio de encaminha para o mesmo rumo. “Eu gostaria
dette, show com convidados e um repertório que Janeiro para trazer a bossa-nova para São Paulo. de transformar esse show em DVD, que às ve-
vai muito além da bossa e passa por Rita Lee e “Sabe qual a minha maior vingança? É estar viva zes é mais fácil que CD, porque este depende de
Jorge Ben Jor. Está bom? Está, mas tem mais. para pode fazer tudo isso”, declara a cantora, ar- gravadora.”
Claudette acaba de concluir uma turnê de shows rematando com sua vibrante gargalhada. Além do DVD A dama da canção, Alaíde já
com o jovem cantor Ayrton Montarroyos, um ta- Para acompanhar essa versatilidade toda, a lançou outros dois discos sob a produção de
lento de apenas 22 anos de idade, apresentado a cantora dispõe de quatro bandas diferentes. Uma Thiago Marques, um cantando Jhonny Alf e ou-
ela por Thiago Marques. vez na semana, ensaia com Ayrton e a banda do tro com músicas de Milton Nascimento (Bituca é
“Nos cem anos da Dalva [de Oliveira], Thiago me show em homenagem a Dalva de Oliveira; no ou- seu parceiro de longa data). Ela foi a única mu-
chamou para fazer um programa de TV às nove tro dia, é a vez do grupo que faz O baile da Clau- lher a cantar no disco clássico de Milton e Lô Bor-
da manhã. Ninguém queria ir, mas eu e o Ayrton dette; depois, vêm os músicos que a acompanham ges, Clube da Esquina, de 1972. “O Clube da Esqui-
Montarroyos fomos. Você acredita que ficaram com Alaíde Costa; e, por fim, a banda do show de na é uma coisa muito especial para mim, que me
tão enlouquecidos que a Secretaria de Cultura do divulgação do novo disco, Canção de amor. “Cada trouxe de volta ao disco, porque, na época, eu já
Rio nos contratou para 15 apresentações em tea- um tem uma leitura diferente, e isso enriquece estava há muitos anos sem gravar”, lembra. Des-
tros do Estado?”, comemora, com uma longa risa- muito musicalmente. A pior coisa para um cantor sa participação, assinou com a Odeon e voltou a
da. “O show vai virar um especial do Canal Brasil, é cantar 50 anos com a mesma pessoa, com todo lançar um disco só seu no ano seguinte, em 1973.
e a Biscoito Fino [gravadora] vai transformar em o respeito. Esse é o grande segredo, porque cada Os anos passaram, mas a voz de Alaíde conti-
CD e DVD”, e lá vem mais risada. O riso constante um tem uma levada, uma harmonia”, conclui. nua a mesma: suave, quase um sussurro, perfei-
na entrevista é de alegria. Aos 80 anos, Claudette Em todos esses shows, Claudette sobe aos palcos ta, como exigia a bossa-nova. O segredo? Ela até
fala de seu trabalho com a mesma empolgação calçando enormes saltos, “agora, ainda maiores, contaria, se soubesse. “Semana passada eu ouvi
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grande angular
UM BOM DEBATE
PODE REFORÇAR OS
Fotoarena/Folhapress
SEUS ARGUMENTOS
DE VENDA.
A Problemas Brasileiros é uma revista
com projeto editorial moderno que lan-
ça um olhar diferenciado e aprofundado
sobre política, economia, educação, saú-
Era junho de 2013 quando centenas de cidades
brasileiras foram tomadas por manifestantes que de, sociedade, meio ambiente, cultura,
bradavam contra a baixa qualidade dos serviços história e inovação, além de reunir en-
públicos. Com reivindicações difusas, os protestos
tiveram início em São Paulo com uma mobilização
trevistas com acadêmicos, empreende-
via redes sociais – algo inédito no Brasil até então. dores e especialistas de diversas áreas.
O motivo inicial era contestar o aumento da passa-
São 15,5 mil exemplares bimestrais que
gem do transporte público na capital paulista.
Após forte repressão policial em 13 de junho, impactam empresários, formadores de
grupos de perfis variados se avolumaram nas ruas opinião, comunicadores, educadores e
paulistas com reclamações relacionadas a corrup-
estudantes que valorizam o debate de
ção, violência e gastos públicos despendidos para
a realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olim- questões essenciais para o País. Ou seja,
píada de 2016. O ápice das manifestações ocorreu um público altamente qualificado para
em 20 de junho, quando os 26 Estados e o Distrito
você falar sobre o seu produto.
Federal registraram protestos.
Os eventos foram o estopim para despertar o
interesse do cidadão comum sobre a agenda na-
cional. Desde então, avolumaram-se movimentos
Fotoarena/Folhapress
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