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TEORIAS E POLÍTICAS DE GÊNERO: fragmentos históricos e desafios atuais*

Dagmar Estermann Meyer**

Resumo Abstract Resumen


Abordo, aqui, teorizações e políticas This text approaches contemporary gender Abordo teorizaciones y políticas
contemporâneas de gênero focalizando theories and politics focusing on the tensions contemporáneas de género para focar las
tensões que permeiam essas teorizações. permeating these theories. It briefly revisits tensiones entremezcladas en ellas. Retomo,
Retomo, brevemente, aspectos históricos que historical aspects to introduce an con brevedad, aspectos históricos que permiten
permitem compreender a introdução do understanding of the to the concept of gender comprender la introducción del concepto de
conceito de gênero no campo dos Estudos in the field of Feminist Studies, and discusses género en el campo de los Estudios Feministas
Feministas e discuto desdobramentos teóricos the theoretical and political developments y discuto los desdoblamientos teóricos y
e políticos decorrentes de sua utilização. associated with its use. It presents some políticos que recurren de su uso. Presento
Apresento alguns resultados de investigações results from investigations that make the algunos resultados de investigaciones que
que problematizam posições de sujeito mulher positions of the subject of woman, and problematizan posiciones de sujeto mujer, y
e, especialmente, de sujeito mãe, em discursos particularly the subject of mother, problematic especialmente, de sujeto madre, en discursos
que atravessam políticas e programas atuais in discourses running through current health que atraviesan políticas y programas actuales
de educação e saúde. Finalizo sugerindo que and education policies and programs. It de educación y salud. Finalizo al sugerir que
estudos que articulam gênero, saúde e concludes by suggesting that studies relating estudios que articulan género, salud y
educação, nessa perspectiva, contribuem para gender, health and education from this educación, en esa perspectiva, contribuyen para
compreender e delimitar redes de poder que perspective contribute to understanding and comprender y delimitar redes de poder que se
se colocam em movimento com determinados outlining power structures that come into play ponen en movimiento con determinados
conhecimentos, ênfases educativas, with certain educational emphases, knowledge, conocimientos, énfasis educativos,
instrumentos de diagnóstico e modos de diagnostic instruments, and ways of assisting instrumentos de diagnósticos y modos de asistir
assistir e educar mulheres, homens e crianças, and educating women, men and children in y educar a mujeres, hombres y niños en dichos
nesses campos, na atualidade. these areas today. campos, en la actualidad.
Descritores: teorias e políticas de gênero; Descriptors: gender theories and politics; Descriptores: teorías y políticas de género;
políticas de educação e saúde; gênero e health and education policies; gender and políticas de educación y salud; género y
enfermagem nursing enfermería
Title: Gender theory and politics: historical Título: Teorías y políticas de género:
fragments and current challenges fragmentos históricos y desafíos actuales

1 Sinalizadores atuais... vez que mulheres e homens, “(...) em função da organização


Se nos dispuséssemos a fazer uma revisão sistemática social das relações de gênero, também estão expostos a
de estudos, políticas e práticas que adotaram o conceito de padrões distintos de sofrimento, adoecimento e morte”(2:13).
gênero como ferramenta teórico-metodológica e política para Ao mesmo tempo e no mesmo espaço político, a Lei n.
problematizar e intervir nos processos que instituem e 10.745 de 09.12.2003, instituiu o ano de 2004 como o Ano da
sustentam desigualdades sociais entre homens e mulheres e Mulher e a SPM proclama que ele deverá se constituir como um
autorizam formas de subordinação feminina, poderíamos marco “na luta pela igualdade de gênero no país” (3:3). Também
contabilizar, inclusive na área da saúde, vários indícios que nesse contexto o Decreto Presidencial publicado no Diário Oficial
sinalizam uma trajetória de reconhecimento, incorporação e da União, na edição n. 247 de 19.12.2003, convoca a I
legitimação crescentes dessa teorização, nas últimas décadas. Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, com o
A extensa lista de grupos de estudos e pesquisa, registrada na tema “Políticas para as mulheres: um desafio para a igualdade
plataforma Lattes do CNPq com esse foco de investigação, numa perspectiva de gênero”(3: 5).
constitui um sinalizador contundente disso. É óbvio que essas (e outras) evidências políticas atuais
Poderíamos, no entanto, elencar outros sinalizadores, de institucionalização de perspectivas (plurais e até
tão ou mais significativos, que permitem configurar melhor conflitantes) de gênero não podem ser atribuídas, linear e
algumas dimensões do “estado” desse processo de unicamente, a um governo e aos partidos políticos que lhe
institucionalização do gênero, sobretudo no contexto político dão sustentação, e nem resultam de ações isoladas de
brasileiro atual. Assim, por exemplo, o Plano Plurianual 2004- políticos, grupos, instituições e entidades sociais. Elas
2007 (1:6) estabelece como uma dentre três prioridades resultam de processos multifacetados, disputados e
governamentais, na área social, “promover a redução das negociados, desencadeados com e a partir do Feminismo e
desigualdades de gênero”. Pretende-se que essa meta, a ser dos movimentos de mulheres, em que se articulam
impulsionada pela Secretaria Especial de Políticas para as movimentos sociais e políticos com abordagens teórico-
Mulheres (SPM), seja incorporada, de forma transversalizada, metodológicas de diferentes matizes. Mais fortemente
no conjunto das políticas e programas propostos e “localizáveis” nos países ocidentais e na segunda metade do
implementados pelo atual governo. século XX, estes movimentos e abordagens tiveram “o mérito
Em consonância com essa meta, a Política Nacional de de transformar as até então esparsas referências às mulheres
Atenção Integral à Saúde da Mulher(2: 63), delineada para esse – as quais eram usualmente apresentadas como a exceção,
mesmo período, explicita como uma de suas diretrizes que “a a nota de rodapé, o desvio da regra masculina – em tema
elaboração, a execução e a avaliação das políticas de saúde da central”(4:19). E é esse movimento político e teórico que focalizo,
mulher deverão nortear-se pela perspectiva de gênero (...)”, uma brevemente, a seguir.

* Texto encomendado pelo editor a propósito do tema da 65ª Semana Brasileira de Enfermagem. **Enfermeira. Doutora em Educação. Professora
adjunto na Faculdade de Educação da UFRGS. Pesquisadora e atual coordenadora do Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero.
Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
E-mail do autor: esterman.ez@brturbo.com

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Teorias e políticas de gênero...

2 Das notas de rodapé ao corpo dos textos: fragmentos de feministas se viram frente ao desafio de demonstrar que não
histórias... são características anatômicas e fisiológicas, em sentido estrito,
Os movimentos de mulheres e os Feminismos ou tampouco desvantagens sócio-econômicas tomadas de
percorreram trajetos que podem ser contados de diferentes forma isolada, que definem diferenças apresentadas como
formas e sob diferentes óticas, mas suas estudiosas, em geral, justificativa para desigualdades entre mulheres e homens. O
registram esta história mais recente fazendo referência a uma que algumas delas passariam a argumentar é que são os
primeira e segunda ondas do movimento feminista(4-6). modos pelos quais determinadas características femininas e
A primeira onda aglutina-se, fundamentalmente, em torno masculinas são representadas como mais ou menos
do movimento sufragista, com o qual se reivindicava o direito de valorizadas, as formas pelas quais se distingue feminino de
votar para as mulheres e este praticamente começou, no Brasil, masculino, aquilo que se torna possível pensar e dizer sobre
com a Proclamação da República, em 1890, e arrefeceu quando mulheres e homens que vai constituir o que é inscrito no corpo
o direito ao voto foi estendido às mulheres brasileiras, na e definido e vivido como masculinidade e feminilidade, em uma
constituição de 1934, mais de quarenta anos depois. Sem dada cultura, em um determinado momento histórico. Um grupo
desconsiderar a importância capital dos movimentos políticos de estudiosas anglo-saxãs começaria a utilizar, então, o termo
da primeira onda e dos direitos políticos e civis que estes gender, traduzido para o português como gênero, a partir do
asseguraram, interessa-me explorar um pouco mais os início da década de setenta do século passado.
movimentos desencadeados com a segunda onda feminista. Embora sua introdução fosse cercada por controvérsias
Esta engendrou-se, nos países ocidentais, no contexto que diziam respeito à pertinência do uso de um conceito que
pós-segunda guerra e fortaleceu-se especialmente nos anos supostamente invisibiliza o sujeito da luta feminista, ele foi
60 e 70 do século XX, no contexto de intensos debates e gradativamente incorporado às diversas correntes feministas,
questionamentos desencadeados por movimentos de nos planos acadêmico e político, sendo necessário frisar que
contestação (intelectual e política) americanos e europeus que essas incorporações implicaram, também, em definições
culminaram, na França, com as manifestações de maio de múltiplas e nem sempre convergentes para o termo. De forma
1968. No Brasil, ela se associa, também, à eclosão de mais genérica, no entanto, pode-se dizer que as diferentes
movimentos de oposição aos governos da ditadura militar e, definições convergiam em um ponto: com o conceito de gênero
depois, aos movimentos de redemocratização da sociedade pretendia-se colocar em xeque a equação - que resultava em
brasileira, no decorrer dos anos 80. diferenças re-conhecidas como sendo inatas e essenciais –
Estes movimentos remeteram, principalmente, à na qual se articulava um determinado modo de ser a um sexo
necessidade de investir mais em produção de conhecimento e anatômico que lhe seria ‘naturalmente’ correspondente, para
estimularam o desenvolvimento sistemático de estudos e de argumentar que diferenças e desigualdades entre mulheres e
pesquisas que tivessem como objetivo não só denunciar, mas, homens eram social e culturalmente construídas e não
sobretudo, compreender e explicar a subordinação social e a biologicamente determinadas(7).
invisibilidade política a que as mulheres vinham sendo Esses movimentos no campo teórico foram retro-
historicamente submetidas. Pretendia-se, com esses alimentados e alimentaram, ao mesmo tempo, várias iniciativas
investimentos, ampliar e qualificar formas de intervenção que políticas nos contextos internacional, latino-americano e
permitissem aprofundar o confronto com tais condições. brasileiro, que se multiplicaram ao longo da segunda metade
Nesse contexto, nas últimas quatro décadas, as do século XX, na esteira da Declaração Universal dos Direitos
estudiosas feministas levaram para a academia temas e fontes Humanos (1948). Esta afirmou, explicitamente, a igualdade de
de investigação até então concebidos como menores e não direitos entre mulheres e homens e indicou aos países
autorizados pelo paradigma científico vigente, podendo-se signatários a necessidade de implementar tanto instrumentos
mencionar temáticas e fontes vinculadas ao cotidiano, à família, jurídicos quanto programas e ações que viabilizassem o
à sexualidade e ao trabalho doméstico, dentre outras. Tais alcance desta igualdade.
abordagens e objetos vêm sendo introduzidos, também, de O Brasil assinou vários documentos e tratados
forma paulatina e nem sempre harmoniosa, em agendas internacionais patrocinados pela Organização das Nações
curriculares e de pesquisa de inúmeros campos disciplinares Unidas nesse período, destacando-se dentre os que focalizam
e profissionais de diferentes níveis de ensino e instituições. desigualdades que envolvem mulheres: a Convenção sobre a
Incorporando as características do próprio movimento, Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a
esses estudos adotaram perspectivas teóricas plurais e não Mulher (1979); a Declaração e Programa de Ação de Viena
necessariamente convergentes, aliando-se com diferentes (1993); o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre
campos de estudo como, por exemplo, a psicanálise, ou População e Desenvolvimento do Cairo (1994); a Declaração
incorporando e tensionando a teorização marxista ou, ainda, de Beijing adotada pela IV Conferência Mundial sobre as
produzindo teorias feministas como a teoria do patriarcado. Mulheres (1995) e o Protocolo Facultativo à Convenção sobre a
Nessa trajetória de institucionalização científica e acadêmica, Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a
as teorizações feministas também questionaram e abalaram, Mulher (promulgado pelo Brasil em 2002). O Brasil assinou,
desde o início e de muitas formas, pressupostos básicos do ainda, diversos documentos de convenções latino-americanas
paradigma de Ciência hegemônico, tais como a universalidade, como a Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto
a racionalidade, a neutralidade, a objetividade, a prerrogativa de San José da Costa Rica (1969) e a Convenção
de definir ‘a’ verdade, a ascendência sobre qualquer outra forma Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
de saber que não compartilhasse de tais requisitos, a Contra a Mulher – Convenção de Belém do Pará (1994)(8).
suposição de uma essência humana – masculina e branca - No plano interno, essas redes políticas internacionais
centrada na razão, dentre muitos outros. Tais processos foram têm fortalecido, conectado e retro-alimentado desde então,
(são) permeados por confrontos e resistências tanto com reivindicações e ações programáticas substantivas de
aqueles e aquelas que continu(av)am utilizando e reforçando inúmeros grupos organizados de mulheres e entidades
justificativas biológicas ou teológicas para as diferenças e feministas, podendo-se mencionar como exemplo recente, a
desigualdades entre mulheres e homens, quanto com aqueles Conferência Nacional de Mulheres Brasileiras, realizada em
que, desde perspectivas marxistas, defendiam e defendem a Brasília em junho de 2002 - um evento político que sintetiza e
centralidade da categoria de classe social para a compreensão re-afirma, na Plataforma Política Feminista, “seu potencial de
das diferenças e desigualdades sociais. contestação, mobilização e elaboração política e,
E é no contexto de tais debates e confrontos que algumas estrategicamente, posiciona coletivamente, os conteúdos de

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Meyer DE.

seus discursos plurais frente ao contexto político brasileiro (...), da ‘mulher dominada, em si’ para a relação de poder em que
afirmando também a diversidade e a capacidade de aliança tais diferenças e desigualdades são produzidas, vividas e
entre feministas”(9:5) brasileiras. legitimadas; c) explorar o caráter relacional do conceito e
No conjunto desses movimentos teóricos e políticos considerar que as análises e intervenções empreendidas neste
plurais, gênero segue sendo incorporado e utilizado de duas campo de estudos devem considerar ou, pelo menos, tomar
maneiras bastante diferentes e conflitantes. Por um lado, gênero como referência, as relações – de poder - e as muitas formas
vem sendo usado como um conceito que se opõe - ou sociais e culturais que, de forma interdependente e inter-
complementa – a noção de sexo biológico e se refere aos relacionada, educam homens e mulheres como “sujeitos de
comportamentos, atitudes ou traços de personalidade que a(s) gênero”; d) ‘rachar’ a homogeneidade, a essencialização e a
cultura(s) inscreve(m) sobre corpos sexuados. Nas perspectivas universalidade contidas nos termos mulher, homem, dominação
derivadas dessa abordagem – que é largamente assumida masculina e subordinação feminina, dentre outros e, com isso,
em estudos, políticas e ações programáticas contemporâneas tornar visíveis os mecanismos e estratégias de poder que
- a ênfase na construção social e cultural do masculino e do instituem e legitimam estas noções; e) explorar a pluralidade, a
feminino não tensionou o pressuposto da existência de uma conflitualidade e a provisoriedade dos processos que de-limitam
‘natureza’ biológica universalizável do corpo e do sexo. Ou seja, possibilidades de se definir e viver o gênero em cada sociedade,
em algumas dessas vertentes continua-se operando com o nos seus diferentes segmentos culturais e sociais(12).
pressuposto de que o social e a cultura agem sobre uma Desdobrando e ampliando um pouco mais essas
biologia humana universal que os antecede. afirmações, elas implicam considerar, por exemplo, que ao longo
Por outro lado, gênero tem sido usado, sobretudo pelas da vida e através das mais diversas instituições e práticas
feministas pós-estruturalistas (4,6,10,11) para enfatizar que “a sociais, nos constituímos como homens e mulheres, num
sociedade forma não só a personalidade e o comportamento, processo que não é linear, progressivo ou harmônico e que
mas também as maneiras como o corpo [e, portanto, também também nunca está finalizado ou completo. Inscreve-se, nesse
o sexo] aparece”(10:9). Com este enfoque o conceito problematiza pressuposto, uma articulação intrínseca entre gênero e
tanto noções essencialistas que remetem a modos de ser e de educação e, também, uma ampliação da noção de educativo,
sentir, quanto noções biologicistas de corpo, de sexo e de uma vez que se enfatiza que educar engloba um complexo de
sexualidade e disso resultam importantes mudanças forças e de processos (que inclui, na contemporaneidade, além
epistemológicas e políticas para quem atua nesses movimentos das instâncias usualmente implicadas nisso, os meios de
sociais e campos de estudos. comunicação de massa, os brinquedos, a literatura, o cinema,
a música) no interior dos quais indivíduos são transformados
3 Desdobramentos epistemológicos e políticos dessa
em - e aprendem a se reconhecer como - homens e mulheres,
abordagem de gênero
no âmbito das sociedades e grupos a que pertencem.
O feminismo pós-estruturalista, alimentando-se Argumenta-se, sobretudo, que esses processos educativos –
especialmente de teorizações desenvolvidas por Michel constitutivos de muitos programas e ações desenvolvidos nas
Foucault e Jaques Derrida, assume que a linguagem (entendida, áreas da saúde e da enfermagem - envolvem estratégias sutis
aqui, em sentido amplo) é o lócus central de produção dos e refinadas de naturalização e legitimação que precisam ser
nexos que a cultura estabelece entre corpo, sujeito, reconhecidas, demarcadas e problematizadas.
conhecimento e poder. Os estudos que se ancoram nesse Acentuando que nascemos e vivemos em tempos,
pressuposto, se afastam de perspectivas que tratam o corpo lugares e circunstâncias específicos, essas abordagens
como uma entidade biológica universal (apresentada como admitem a existência de formas plurais, conflitantes e instáveis
origem das diferenças entre homens e mulheres, ou como de feminilidade e masculinidade. Apoiando-se em perspectivas
superfície sobre a qual a cultura opera para inscrever diferenças que concebem a cultura como sendo um campo de luta e
traduzidas em desigualdades) para teorizá-lo como um contestação em que se produzem sentidos múltiplos e nem
construto sócio-cultural e lingüístico, produto e efeito de relações sempre convergentes de masculinidade e de feminilidade,
de poder. noções essencialistas, universais e trans-históricas de homem
Nessa perspectiva, o conceito de gênero remete a todas e mulher – no singular – passam a ser consideradas
as formas de construção social, cultural e lingüística implicadas demasiadamente simplistas e contestadas. Então, exatamente
com processos que diferenciam mulheres de homens, porque gênero enfatiza essa pluralidade e conflitualidade dos
incluindo aqueles processos que produzem seus corpos, processos pelos quais a cultura constrói e distingue corpos e
distinguindo-os e nomeando-os como corpos dotados de sexo, sujeitos femininos e masculinos, torna-se necessário considerar
gênero e sexualidade. O conceito de gênero privilegia, que isso se expressa pela articulação de gênero com outras
exatamente, o exame dos processos que instituem essas ‘marcas’ sociais, tais como classe, raça/etnia, sexualidade,
distinções - biológicas, comportamentais e psíquicas - geração, religião, nacionalidade. E, ainda, que cada uma dessas
percebidas entre homens e mulheres. E, por isso, ele nos afasta articulações produz modificações importantes nas formas pelas
de abordagens que tendem a focalizar subordinações que quais feminilidades e masculinidades, no plural, são (ou podem
seriam derivadas do desempenho de papéis, funções e ser), vividas e experienciadas, por grupos diversos, dentro dos
características culturais estritas de mulheres e homens, para mesmos grupos ou, ainda, pelos mesmos indivíduos, ao mesmo
aproximar-nos de abordagens que tematizam o social e a tempo ou em diferentes momentos de sua vida.
cultura, em sentido amplo, como sendo constituídos e Nesse sentido, gênero sinaliza não apenas para as
atravessados por representações - sempre múltiplas, mulheres e nem mesmo toma exclusivamente suas condições
provisórias e contingentes - de feminino e de masculino e que, de vida como objeto de análise. Em vez disso, o conceito traz
ao mesmo tempo, produzem e/ou ressignificam essas implícita a idéia de que as análises e as intervenções
representações. empreendidas devem considerar, ou tomar como referência,
Esse modo de teorizar o gênero redimensiona, pois, as relações – de poder - entre mulheres e homens e as muitas
seu uso como ferramenta teórica e política sendo útil pontuar, formas sociais e culturais que os constituem como “sujeitos de
rapidamente, alguns desses redimensionamentos. Desde gênero”. Isso implica, portanto, analisar os processos, as
essa perspectiva, operar com o conceito de gênero supõe então: estratégias, os saberes e as práticas sociais e culturais que
a) assumir que diferenças e desigualdades entre mulheres e educam indivíduos como mulheres e homens de determinados
homens são social, cultural e discursivamente construídas e tipos, sobretudo se quisermos investir em possibilidades de
não biologicamente determinadas; b) deslocar o foco de atenção propor intervenções que permitam modificar, minimamente, as

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Teorias e políticas de gênero...

relações de poder de gênero vigentes nas sociedades e grupos humanos, quanto da influência de um leque cada vez maior de
em que vivemos. conhecimentos, cientificamente autorizados a definir e prescrever
Por último, e de forma importante, essa abordagem do modos mais adequados de cuidar e se relacionar com a infância,
gênero implica considerar que as instituições sociais, os dentre os quais se destacam a Medicina, a Psicanálise, a
símbolos, as normas, os conhecimentos, as leis, as doutrinas Psicologia, o Direito e a Pedagogia. Repercutem também,
e as políticas de uma sociedade são constituídas e atravessadas nesses sistemas de representação, efeitos das profundas e
por representações e pressupostos de feminino e de abrangentes transformações sociais, econômicas e culturais
masculino, ao mesmo tempo em que estão centralmente desencadeadas pelo neoliberalismo e pela globalização(19).
implicadas com sua produção, manutenção ou ressignificação. Essa relações entre neoliberalismo, globalização e
Dessa forma, deixa-se de enfocar, de forma isolada, aquilo que gênero têm sido analisados por várias estudiosas feministas e
mulheres ou homens fazem ou podem fazer ou os processos tem sido possível constatar que
educativos pelos quais seres humanos se constituem como
em todos los processos de ajuste estructural, las mujeres
mulheres ou homens e se enfatiza a necessidade de han funcionado como um factor oculto de equilíbrio para
compreender esses aspectos e processos, articulando-os aos absorver los shocks de los programas de ajuste de la
diferentes modos pelos quais o gênero opera estruturando esse economia, tanto intensificando el trabajo doméstico para
social que os torna possíveis e necessários. compensar la disminución de los serviços sociales por
Ao lado de tudo isso, e sobretudo na área da saúde, é la caída del gasto público, como por el hecho que la
importante registrar que a ênfase no caráter fundamentalmente privatización de los sitemas de seguridad social ha
histórico, social, cultural e lingüístico do gênero não significa incidido em mayor medida em las mujeres, por su papel
em la reproduction (costos sociales de la maternidad
negar que ele se constrói com - e através de - corpos que
asumidos individualmente, por ejemplo) Así, su posición
passam a ser re-conhecidos e nomeados como corpos em la família y en el mercado de trabajo las ubica como
sexuados. Não se está, portanto, negando a materialidade do parte de la estratégia desreguladora del mercado(20:196).
corpo ou dizendo que ela não importa, mas mudando o foco
dessas análises: do ‘corpo em si’ para os discursos, processos Quando se busca, então, delimitar efeitos desses
e relações que possibilitam que sua biologia passe a funcionar discursos e processos, por exemplo, nas representações de
como causa e explicação de diferenciações e posicionamentos mulher e de maternidade produzidas e veiculadas nas políticas
sociais (um exemplo simples dessa operação é o pressuposto, e programas que vimos examinando, chama atenção a
ainda ativo, que sustenta a idéia de que ser portadora de um ampliação e complexificação do leque de condutas, modos de
útero implica, necessariamente, a existência de um algo mais, cuidar e modos de sentir que dizem respeito a uma relação
chamado de instinto materno). mãe-filho ‘normal’ e ‘natural’, as quais são apresentadas como
Desse modo, quando nos dispomos a discutir a sendo indispensáveis ao processo de desenvolvimento físico
produção de diferenças e de desigualdades de gênero, e, principalmente, emocional de crianças que devem tornar-se
assumindo estes desdobramentos do conceito, também adultos produtivos, equilibrados e ‘saudáveis’. Chama atenção,
estamos, ou deveríamos estar, de algum modo, fazendo uma ainda, a incorporação de uma “linguagem do risco”(21: 22) com e
analítica de processos sociais mais amplos que marcam e através da qual determinados grupos de mulheres e crianças
discriminam sujeitos como diferentes, tanto em função de seu são classificados e valorados, crescentemente, como “de risco”
corpo/sexo quanto em função de articulações de gênero com e, por conseqüência, transformados em sujeitos-alvo de práticas
raça, sexualidade, classe social, religião, aparência física, assistenciais, educativas e de controle mais sistemáticas e
nacionalidade, etc. E isso demanda uma ampliação e estandartizadas.
complexificação não só das análises que precisamos O exame de tais representações vem nos permitindo
desenvolver, mas, também, uma re-avaliação profunda das perceber que a noção de indivíduo mulher-mãe, ainda supõe,
intervenções sociais e políticas que devemos, ou podemos, ou supõe com força renovada, a existência de um ser que
fazer. Um processo de reflexão que procuro desenvolver um incorpora e se desfaz em múltiplos – a mãe como parceira do
pouco mais, a seguir, para finalizar este ensaio. estado, a mãe como agente de promoção de inclusão social, a
mãe como esteio de sua família e, mais especificamente, a
4 Gênero, saúde e educação: ‘exercícios de pensar’ sobre mãe como responsável única e direta por seus filhos. Nesse
tais relações contexto, gerar e criar filhos ‘equilibrados e saudáveis’ passa a
Essa abordagem dos estudos de gênero, em sua ser social e culturalmente definido, também, como um ‘projeto’
confluência com os Estudos Culturais, tem-se mostrado de vida, responsabilidade individual de cada mulher que se
extremamente fértil para compreender e problematizar torna mãe, independentemente das condições sociais em que
processos de produção de diferenças e desigualdades sociais essa mulher vive e dos problemas que ela enfrenta – um projeto
que são colocados em ação na relação entre educação e saúde; que deve começar a ser preparado, em todos os sentidos,
sobretudo porque podemos perceber como esses processos desde muito cedo, e que deve pautar sua vida como mulher
funcionam, posicionando mulheres, mães, homens, pais e (não beber, não fumar, exercitar-se, comer as coisas adequadas,
crianças em torno de eixos como saudável/doente ou normal/ escolarizar-se, ter equilíbrio emocional, condições financeiras,
patológico ou, ainda, norma/risco, com base nos conhecimentos escolher bem o parceiro, fazer exames regularmente etc...); é a
que dão sustentação a políticas e programas de educação e de isso que eu, particularmente, venho me referindo, em meus
saúde - especialmente naquelas voltadas para o segmento estudos, como sendo uma nova politização da maternidade;
materno-infantil - que são implementadas nesses campos. nova não no sentido de inovadora, mas no sentido de uma
Os estudos que temos desenvolvido com essas atualização, exacerbação, complexificação e multiplicação de
abordagens(13-18) vêm permitindo delinear, por exemplo, em investimentos educativo-assistenciais que têm como foco as
representações de mulher e de mãe que esses programas mulheres, especialmente aquelas de segmentos mais pobres
educacionais e de saúde produzem ou veiculam, elementos da população(23-25).
importantes de representações produzidas nos séculos XVIII e Nesse contexto, a atualidade e a pertinência da
XIX, em diversas instâncias das culturas européias ocidentais. problematização da maternidade, por exemplo, se colocou para
Ao mesmo tempo, essas representações parecem incorporar mim quando comecei a me deparar, de forma sistemática, em
e inscrever, no corpo feminino e na maternidade, ‘novos’ e minha prática docente no campo da educação em saúde, com
conflitantes ‘atributos’ derivados tanto das lutas de movimentos um conjunto disperso, porém recorrente, de enunciados que
sociais como o feminismo e os movimentos em prol dos direitos atribuem o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social

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Meyer DE.

saudável do feto e da criança – posicionados, cada vez mais levá-las regularmente aos serviços de saúde, participar de
cedo, como seres que sentem e re-agem e como sujeitos de programas educativos e qualificar-se para gerar e administrar
direitos - a sentimentos, comportamentos, formas de cuidar e a renda familiar, entre outras. Na perspectiva assumida por tais
se relacionar da mãe com o feto/criança. Nesse sentido, apesar programas, as mulheres precisam tornar-se constituintes e
das inovações tecnológicas e das conquistas dos movimentos constituidoras dessa trama que promove, protege, cuida e
feministas, tal discursividade vem transformando o exercício fiscaliza a educação e a saúde das crianças.
da maternidade, na contemporaneidade, em uma tarefa cada A partir de nossos estudos poderíamos sintetizar alguns
vez mais difícil, complexa e abrangente que pode incluir desde pontos que permitem estabelecer e delimitar convergências
o controle de riscos de transmissão de doenças e distúrbios importantes entre tais políticas e programas:
hereditários (que hoje deveriam ser mapeados e calculados - Eles têm, entre seus objetivos, a promoção da inclusão
antecipamente) quanto evitar o tabagismo, o consumo de álcool social. Nesse sentido, embora utilizem, freqüentemente,
e drogas, o sedentarismo ou, ainda, sentimentos de negação e uma retórica direcionada ao conjunto dos grupos
rejeição que algumas mulheres podem experimentar em socialmente marginalizados ou a “todas as mulheres
situações de gravidez não desejada, os quais seriam sentidos brasileiras”, suas ações estão dirigidas, sobretudo, a
e vivenciados pelo feto, no útero. mulheres dos segmentos sociais mais pobres;
A prática do aleitamento materno, tal como esta é
- Os discursos que atravessam e instituem esses programas
concebida e recomendada hoje (em regime de livre demanda e
interpelam o sujeito mulher, valorizando sua capacidade de
como fonte exclusiva de alimentação do bebê até os seis meses
inserção concomitante no mercado de trabalho e na família
de vida, quando a licença maternidade é de três a quatro meses)
(porque seguem assumindo a maior parte dos encargos
pode ser tomada como um exemplo emblemático desse
vinculados ao cuidado e ao trabalho doméstico), os níveis
processo. Uma leitura atenta do programa e dos materiais
de escolaridade atingidos pela população feminina, suas
educativos vinculados a ele, permite evidenciar o quanto se
qualidades humanas ‘inatas’ (por exemplo, priorizar sempre
tornaram complexas, multivariadas e quase que irrefutáveis as
as necessidades de seus filhos em detrimento das próprias)
vantagens dessa prática que é apresentada como sendo a mais
para então posicioná-la, enquanto sujeito mãe, como sendo
importante prova do amor e da competência maternas. Na
a maior responsável pela operacionalização dessa inclusão
perspectiva em que é apresentada, ela garante a saúde física,
social, que passa, principalmente, pela promoção de mais
emocional e até mesmo cognitiva do bebê e os efeitos de sua
educação e saúde das crianças;
adoção seriam sentidos ao longo de toda a sua vida. Nesse
contexto de vantagens irrefutáveis, a amamentação e a - Alguns desse programas incorporam, explicitamente,
representação de maternidade a que ela dá sustentação tem definições mais abertas e progressistas de família e isso
sido apresentada e passa a funcionar como uma unanimidade resulta, em parte, da mobilização e da crítica de várias/os
capaz de congregar governos, regimes políticos, instituições estudiosas/os e movimentos sociais. Paradoxalmente, no
de ensino e pesquisa, empreendimentos empresariais e entanto, um dos efeitos de poder dessa incorporação parece
econômicos e movimentos sociais que conflituam ou divergem ter sido não só a ‘naturalização’ da ausência do homem-pai
frontalmente em muitas outras posições que assumem e nos núcleos familiares mais pobres, mas, sobretudo, sua
defendem, de uma tal forma que passa a ser quase impossível ‘des-responsabilização’ pela vida dessas crianças, e isso
criticá-la ou questioná-la(23,24). tem se traduzido em dois movimentos distintos: por um lado,
O modo como a mãe foi posicionada no Programa no posicionamento do Estado no lugar de autoridade
Nacional Bolsa Escola, desenvolvido no governo de Fernando conferido ao pai na família mononuclear moderna; por outro,
Henrique Cardoso, bem como a miríade de ações que se na sobreposição de uma parte significativa dos deveres até
vinculam ao exercício dessa maternidade, é outro exemplo que então definidos como ‘paternos’, sobretudo aqueles
permite delimitar alguns dos mesmos mecanismos e vinculados ao provimento do lar, aos já consagrados ‘deveres
estratégias(16). O referido programa comprometia-se com a maternos’.
construção de uma sociedade mais justa, a ser moldada através Assim, esses estudos e abordagens têm permitido,
de um conjunto amplo de ações que integravam a chamada dentre outras coisas, compreender e problematizar algumas
Rede de Proteção Social, onde se incluíam, ainda, entre os das tensões que se estabelecem entre tais políticas e aqueles
mais divulgados, o Programa Bolsa-Alimentação, o Auxílio-Gás movimentos e teorizações que se esforçaram por demonstrar
e os Programas de Geração de Renda. Tais programas, hoje que mulher e mãe são posições de sujeito distintas,
integrados sob a denominação de Bolsa Família, tinham e têm socialmente construídas, que não se sobrepõem e nem se
como foco principal o combate à pobreza e à exclusão social, e configuram como extensão necessária uma da outra. A meu
educação e saúde são posicionadas neles como instâncias ver, algumas das estratégias que estão em ação nessas
centrais para o alcance de tais objetivos. políticas e programas funcionam, exatamente, no sentido de
As ações propostas e desenvolvidas pelo programa são borrar essas distinções e rearticular tais posições e identidades.
dirigidas à escola e à família e, do modo como são definidas e E como educadoras que, nas áreas da saúde e da educação,
organizadas, elas posicionam mulheres-mães como agentes investem em projetos de transformação social que pretendem
prioritárias para a sua implementação, sendo “imprescindível” incorporar perspectivas de gênero, penso que não podemos
contar com sua ajuda e participação. Primeiro, auxiliando na deixar isso passar em branco.
permanência das crianças na escola, com a intenção de chegar Isso não significa que estejamos, com análises como
aos 100% de crianças escolarizadas. Segundo, melhorando a essas, contestando a necessidade e a importância de políticas
qualidade de ensino através da efetiva presença da família e programas que se comprometem com a diminuição da
(apresentada na grande maioria dos textos como sinônimo de exclusão e da injustiça social. Transformação social e mais justiça
mulher-mãe) no processo de aprendizagem dos/as seus/suas social implicam prover o acesso de todos os segmentos da
filhos/as. Como contrapartida, o programa proporciona uma população aos bens e serviços de uma sociedade, mas a forma
suplementação mensal de renda às famílias que vivem em como isso vem sendo proposto, nessas políticas e programas,
situação de pobreza para que mantenham seus/suas filhos/as re-afirma a centralidade da díade mulher-mãe, sintetizada agora
freqüentando a escola. Carin Klein(16) vai descrevendo como como família, que segue sendo sustentada pelo pressuposto
tais afirmações vinculam as mulheres ao exercício de uma dada essencialista de que “a reprodução e a sexualidade causam
forma de maternidade através do cumprimento de um conjunto diferenças de gênero de modo simples e inevitável”(26:1).
de práticas, tais como ser “fiscal da educação das crianças”, Configuram-se, portanto, como políticas públicas que

Rev Bras Enferm, Brasília (DF) 2004 jan/fev;57(1):13-8 17


Teorias e políticas de gênero...

reforçam e atualizam, através de várias estratégias e de forma 10. Nicholson L. Interpretando o gênero. Revista Estudos Feministas,
ampliada, a responsabilidade feminina pela reprodução Florianópolis (SC) 2000; 8(2):9-42.
biológica e social, pela educação dos filhos, pela erradicação 11. Weedon C. Feminism, theory and the politics of difference. Oxford:
da pobreza, das doenças e do analfabetismo, pela demanda e Blackwell, 1999, 220p.
organização de creches, por saúde e por outras necessidades 12. Meyer DEE, Santos LHS, oliveira DL, Wilhelms DM. “Mulher sem-
que garantam a sobrevivência da família, em contextos sociais vergonha” e “traidor responsável”: problematizando representações
cada vez mais precários. E nesse sentido, concordo com de gênero em anúncios televisivos oficiais de prevenção ao HIV/
Lourdes Bandeira quando esta diz que políticas e programas Aids. Revista Estudos Feministas, Florianópolis (SC) 2004;12(12).
(no prelo).
públicos de gênero deveriam se diferenciar de políticas e
programas direcionados para as mulheres porque precisam 13. Meyer DEE. Mulher perfeita tem que ter [mamas e] uma barriguinha.
Educação, saúde e produção de identidades maternas. Porto Alegre
não só considerar, mas acessar “necessariamente, a
(RS): FACED/UFRGS; 1999. 22p. Projeto de pesquisa (apoiado pelo
diversidade dos processos de socialização de homens e CNPq e FAPERGS).
mulheres, cujas conseqüências se fazem presentes, ao longo
14 Meyer DEE. Educar e assistir corpos grávidos para gerar e criar
da vida, nas relações individuais e coletivas”(26:1).
seres humanos “saudáveis”. Educação, saúde e constituição de
Assim, estudos que se proponham a articular gênero, sujeitos “de direito” e “de risco”. Porto Alegre(RS): FACED/UFRGS;
saúde e educação podem contribuir para delimitar, de forma 2003. 16p. Projeto de pesquisa (apoiado pelo CNPq).
mais ampla, algumas das redes de poder que se colocam em 15. Duro C. Concepções de maternidade e de cuidado infantil de um
movimento com determinados conhecimentos, ênfases grupo de mães da Vila Cruzeiro do Sul/POA – RS. [dissertação de
educativas, instrumentos de diagnóstico e modos de assistir e mestrado em Enfermagem]. Porto Alegre (RS): Escola de Enfermagem,
monitorar mulheres-mães e ‘suas’ crianças, que vêm sendo Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2002. 161f.
utilizados no contexto destes e de outras políticas e programas, 16. Klein C. “...um cartão [que] mudou a nossa vida”? Maternidades
na atualidade. Para além disso, se retomarmos dois dos veiculadas e instituídas no Programa Nacional Bolsa Escola.
pressupostos teórico-metodológicos centrais da perspectiva [dissertação de mestrado em Educação]. Porto Alegre (RS): Faculdade
analítica que assumimos nestas investigações, quais sejam, de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2003.
a noção de que educar envolve o conjunto de processos pelos 151f.
quais indivíduos são transformados ou se transformam em 17. Souza JF, Meyer DEE, Soares R. Qualificar o cuidado infantil e a
homens e mulheres específicos no âmbito de uma cultura e cidadania feminina: um trabalho com mulheres atendentes de creches
que esta engloba as práticas de significação lingüística e os comunitárias em Viamão/RS. Porto Alegre (RS): UFRGS/FAPERGS;
2001. Relatório de pesquisa. Faculdade de Educação da UFRGS,
sistemas simbólicos através dos quais os significados (que
Fundação de Amparo à Pesquisa no Rio Grande do Sul; 2001. 85p.
permitem a mulheres e homens conhecer e nomear seus corpos
18. Meyer DEE, Santos LHS, Oliveira DL, Wilhelms DM. Educação, saúde
como corpos sexuados e, com isso, entender suas experiências
gênero e mídia: um estudo sobre HIV/AIDS-DSTs com Agentes
e delimitar modos de ser e de viver), tais estudos deveriam, Comunitários/as de Saúde do Programa de Saúde da Família em
também, levar-nos a perguntar, mais freqüentemente, quais Porto Alegre, RS. Porto Alegre (RS): UFRGS;CN DST-HIV/Aids;
posições de sujeito a linguagem destas políticas e programas UNESCO, 2003. Relatório de Pesquisa. Faculdade de Educação da
está produzindo e legitimando para mulheres e homens, pais e UFRGS, Porto Alegre; 2003. 53 p.
mães, filhos e filhas e, conseqüentemente, que sujeitos de 19 Meyer DEE. Educação, saúde e modos de inscrever uma forma de
gênero elas estão constituindo e educando. maternidade nos corpos femininos. Movimento – Revista da ESEF/
UFRGS, Porto Alegre (RS) 2003 set/dez; 9(3). (no prelo).
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2. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. 21. Spink MJ. Trópicos do discurso sobre risco: risco-aventura como
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Políticas de metáfora na modernidade tardia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes. Brasília Janeiro 2001 nov/dez; 17(6):1277-88.
(DF): Ministério da Saúde; 2004. 80p. 22 Giddens A. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
3. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (BR). Conselho Editores; 2003. 233p.
Nacional dos Direitos da Mulher. Regimento da I Conferência Nacional 23. Meyer DEE. As mamas como constituintes da maternidade: uma
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estruturalista. 4ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2001.179p. 24. Meyer DEE, Oliveira DL. Breastfeeding policies and the production of
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Feminista. Brasília (DF): CFEMEA; 2002. 64p. Data de Aprovação: 30/04/2004

18 Rev Bras Enferm, Brasília (DF) 2004 jan/fev;57(1):13-8

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