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SINGER, Peter. Ética prática. Lisboa: Gradiva, 2002. [cap. 1: Sobre a ética].

[Por Rogério A. Picoli – Curso de Filosofia da UFSJ] é a mera presença dessas questões que tornam o tema
relevante ou de interesse mais fundamental na ética.
Esta resenha é sobre o capítulo 1 do livro Ética A segunda concepção examinada é a que evidencia o
Prática de Peter Singer. Publicado em inglês, contraste entre a pretensão de nobreza do discurso
originalmente em 1977, o livro já recebeu duas outras moral e a sua inutilidade prática. O argumento de
edições, em 1993 e em 2011. As duas últimas edições Singer pode ser apresentado aproximadamente nos
do livro estão organizadas em 12 capítulos. O livro de seguintes termos: dado que a principal função da teoria
Singer ganhou uma tradução para o português moral é orientar a prática, se ela falha nessa orientação,
brasileiro em 1994, baseada na segunda edição de isso é evidência de que a teoria é problemática e não os
1993. O texto dessa mesma edição também foi seus efeitos práticos. Outro argumento considerado é o
traduzido para o português de Portugal em 2002, por de que o fracasso prático da ética pode ser devido à
Álvaro Augusto Fernandes. A presente resenha está adoção de uma concepção teórica muito simplistas que
baseada na versão do texto publicada em Portugal. não contempla complexidade do fenômeno. Singer
Após uma breve discussão sobre a ética, Singer argumenta ainda que há versões bastante sofisticadas
aborda temas como: a igualdade entre humanos e a da ética deontológica e do utilitarismo que, em
igualdade para com os animais; o que está envolvido princípio, são capazes de contornar muitas das
em tirar a vida de animais, de embriões e fetos e de limitações práticas apresentadas por concepções
outros seres humanos; o problema da miséria, das simplistas.
mudanças climáticas e as questões ambientais; além da A terceira concepção examinada é a que supõe uma
desobediência civil, da violência e do terrorismo. O dependência da ética em relação à religião. O primeiro
autor conclui o livro examinando as clássicas perguntas argumento de Singer é o de que se essa dependência diz
sobre por que devemos agir moralmente e o que respeito à definição de bem em termos “daquilo que
significa adotar um ponto de vista ético. Como o Deus aprova”, como já mostrado por Platão, ou os
próprio Singer afirma, o primeiro capítulo visa deuses aprovam uma ação por ela ser boa, por alguma
esclarecer o modo como ele compreende o termo razão; ou, pela hipótese contrária, os deuses são
“Ética”, isto é, ele pretende expor concepção de ética caprichosos, arbitrários. Outro argumento, o de que
que adotará nas discussões dos temas nos capítulos Deus é bom e recompensa os virtuosos, pode ser
seguintes da obra. O primeiro capítulo está dividido recusado porque a moral parece demandar obediência
numa breve seção introdutória intitulada “Sobre a pelos méritos próprios da ação, da motivação e do
ética” e em outras duas seções: “O que a ética não é” e caráter, aspectos que não parecem contemplar o frio
“O que a ética é: uma perspectiva”. interesse numa recompensa futura.
A quarta concepção examinada por Singer é a que
O que a ética não é. assume a relatividade ou a subjetividade da moral. Ele
A seção “O que a ética não é” aborda algumas das começa apontando a distinção entre uma forma
concepções de senso comum associadas às noções de superficial de relativismo, não problemática, e uma
moral e ética. O problema examinado por Singer é se a forma mais relevante que recusa a possibilidade da
ética ou moral, que ele assume como sinônimos, pode aplicação universal de um princípio ético. Dizer que a
ser adequadamente compreendida nos termos de bondade de uma ação é relativa às consequências é uma
algumas dessas visões de senso comum. Singer coisa, dizer que um valor não pode ser universalmente
examina, particularmente, quatro concepções. válido, é outra. A versão mais restrita desse relativismo
A primeira concepção associa a moral a um conjunto é o dualismo marxista, segundo o qual, a moral em
de proibições relativas ao sexo. O principal argumento vigor nas sociedades é relativa aos valores da classe
de Singer é de que se trata de uma concepção dominante que se sobrepõe à moral dos dominados; de
moralizante. Há envolvidas no tema “sexo” tantas acordo com Engels somente a superação da divisão de
questões morais quanto em “dirigir veículos”; mas não classes instauraria uma moral “realmente humana”. De
acordo com Singer, a solução de Engels ilustra a tese de explora o seguinte problema: o que significa viver de
que, em decisões morais difíceis, ninguém assume, sem acordo com padrões éticos?
refletir, que se deve agir em conformidade com os A posição em favor da qual Singer quer argumentar
valores da sociedade. O segundo argumento é o de que é a de que quem quer que siga padrões morais está
o relativismo reduz ou confunde o inconformismo comprometido em apresentar razões em favor do seu
moral com um erro factual. Isso porque, se o bem é o posicionamento e tais razões devem ser de um tipo
que cada sociedade escolhe, os membros que desafiam eticamente relevante, elas devem ir além do mero
essa visão o fazem porque estão enganados em relação interesse pessoal. Como um primeiro argumento em
a esse fato; e isso torna sem sentido que alguém tenha a favor desse sentido “relevante”, Singer que muitos
pretensão de reformar os valores da sociedade. O filósofos, inscritos em diferentes tradições, defendem
terceiro argumento é direcionado ao subjetivismo, noções como a do observador ideal, do espectador
entendido como uma forma individualizada de imparcial ou o caráter universalizável dos juízos éticos.
relativismo; trata-se da tese segundo a qual os juízos Para esclarecer a sua tese de que a ética adota um
éticos dependem não da sociedade, mas apenas da ponto de vista universal, Singer ressalta que quando
opinião ou preferência daquele que os emite. fazemos juízos éticos, vamos além das aversões e
Analogamente ao problema do inconformista no preferências porque a distinção entre o “eu” e o “você”
relativismo, o subjetivista não consegue explicar as torna-se irrelevante.
divergências morais. O contrassenso decorre do fato de O próximo problema examinado por Singer é se é
que, neste caso, duas pessoas com opiniões diferentes possível deduzir uma teoria ética dessa exigência tese
acerca de uma mesma questão moral estão ambas da universalidade dos juízos. Na visão do autor, a
corretas porque os seus juízos, se sinceros, são pluralidade de teorias ética compatíveis com a tese da
verdadeiras. universalidade faz parecer arbitrária a decisão por
Singer concede que uma forma mais sofisticada de alguma teoria específica e muitos autores falharam em
subjetivismo pode responder a essa objeção alegando tentar superar essa limitação.
que juízos éticos não descrevem crenças; eles Alternativamente, Singer propõe defender não
expressam atitudes como um esforço para recomendar conclusivamente a tese da universalidade tal como
ou prescrever que as outras pessoas adotem a mesma esboçada na versão específica do utilitarismo de
atitude; então, pode haver acerca dos mesmos fatos interesses. O argumento é que podemos chegar ao
discordâncias genuínas nas atitudes. utilitarismo se consideramos o aspecto universal da
Esse subjetivismo expressivista pode tornar ética em decisões simples, mesmo a partir de um
plausível a tese de que não há padrões morais objetivos. estágio pré-ético. Nesse estágio, se ao colher os frutos
Outra forma de sustentar essa mesma tese seria alegar temos que decidir se os comemos todos sozinhos ou se
que os nossos juízos morais, equivocadamente, tentam os repartimos, então temos que pensar sobre como os
objetivar aspectos que são subjetivos. Um argumento cursos de ação possíveis afetam os nossos interesses.
complementar examinado por Singer é o de que a Podemos decidir apenas em favor dos nossos
plausibilidade dessas posições não invalida a tese de interesses, mas em algum momento podemos
que os nossos juízos morais podem ser racionalmente considerar ter em conta os interesses alheios e nesse
criticados; isso não é a mesma coisa que defender que momento do raciocínio considerar tomar uma decisão
não há lugar para a argumentação no domínio moral; tendo em conta as melhores consequências para os
essa é a tese principal que Singer quer defender na interesses de todos os afetados.
primeira seção do capítulo. Por isso, ele critica as O argumento não prova que o utilitarismo pode ser
concepções que pretendem invalidar ou afastar o lugar deduzido do princípio da universalidade da ética, há
da razão nas discussões morais não são propriamente outros ideais além do utilitarismo. Seja como for, o
de interesse para a ética. argumento é que o utilitarismo permanece como uma
forma minimalista e primitiva de teoria ética porque
O que é a ética: uma perspectiva chegamos a ele rapidamente e naturalmente e porque
Nessa seção, Singer pretende apresentar, mas não quem quer que deseje ir além tem de oferecer boas
discutir exaustivamente, os pressupostos de uma razões para que o utilitarismo seja abandonado. Logo,
perspectiva possível da ética. Para esclarecer a sua enquanto não surgirem essas boas razões, estamos
posição, já insinuada no final da seção anterior, Singer justificados em aceitar o utilitarismo.

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