Anda di halaman 1dari 20

“INFORMAL”, ILEGAL, INJUSTO:

percepções do mercado
de trabalho no Brasil

Eduardo G. Noronha

Introdução De fato, o significado da dupla conceitual


“formal”/”informal” não é claro, assim como não
Os mercados e os contratos de trabalho “in- há coesão sobre a pertinência de contratos homo-
formais” têm sido percebidos no Brasil como pro- gêneos nem sobre o papel da legislação nos con-
blemas econômicos e sociais, pois representam tratos de trabalho. Argumentamos que somente
rupturas com um padrão contratual único (ou quando tivermos identificado os diversos tipos ou
quase único), isto é, o contrato “formal”. Subja- grupos de “contratos atípicos” (conceito que tal-
centes a essa afirmação há duas premissas: (1) a vez seja preferível ao de “informalidade’), previs-
boa sociedade deve ter apenas um tipo de contra-
tos ou não pelas leis, poderemos definir as even-
to (o “formal”) e (2) para isso deve contar com al-
tuais inconveniências da ausência de um padrão
gum órgão central (o Estado, por meio do poder
contratual único e, principalmente, identificar as
Legislativo) que defina padrões mínimos de lega-
lidade para os contratos de trabalho. A noção de razões da existência de contratos atípicos e ilegais
“informalidade” é tanto mais problemática quanto ou não previstos em lei e socialmente ilegítimos.
mais a noção de “padrões mínimos legais” não é O conceito de “informalidade”, embora mui-
consensual. Desde meados da década de 1990 as to adotado pelas ciências sociais e econômicas
noções de mínimo estão em debate no Brasil, em- brasileiras, refere-se a fenômenos demasiadamen-
bora verbalizadas sob a forma de flexibilização. te diversos para serem agregados por um mesmo
conceito, como a literatura internacional vem apon-
Artigo recebido em fevereiro/2003
tando. O significado de “informalidade” depende
Aprovado em agosto/2003 sobretudo do de “formalidade” em cada país e

RBCS Vol. 18 nº. 53 outubro/2003


112 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 18 Nº. 53

período, e, embora isso seja evidente, as análises conta com uma longa história de contratos atípi-
sobre o tema tendem a ignorar a noção contra- cos e de fracassos na busca da homogeneização
posta da qual ela deriva. Assim, a compreensão dos mercados de trabalho. Sustenta-se neste artigo
da “informalidade” ou dos contratos atípicos de- que o debate sobre “informalidade” pouco avan-
pende antes de tudo da compreensão do contra- çou, pois a maioria dos analistas continua a classi-
to formal predominante em cada país, região, se- ficar sob um mesmo conceito fenômenos diversos.
tor ou categoria profissional. Mesmo os que detectam a insuficiência da contra-
No Brasil, o entendimento popular de “traba- posição da dupla conceitual raramente apresen-
lho formal” ou “informal” deriva da ordem jurídi- tam e discutem a diversidade de tipos contratuais
ca. São informais os empregados que não pos- e suas formas de classificação.
suem carteira de trabalho assinada. Até as recentes Sustenta-se aqui que as noções de contratos
mudanças introduzidas no governo FHC, o contra- “eficientes” da economia, de contratos “legais” do
to por tempo indeterminado previsto na CLT era direito, bem como as noções populares de contra-
praticamente a única opção disponível para as em- tos “justos”, podem elucidar as possibilidades con-
presas do setor privado. O “formal”, no Brasil, ti- tratuais de fato existentes no mercado de trabalho
nha apenas uma forma, ao contrário de outros paí- de forma mais rica do que aquela derivada de
ses, cuja legislação prevê (e de fato são praticados) uma interpretação puramente econômica, jurídica
contratos em tempo parcial, contratos específicos ou sociológica. Portanto, o objetivo deste artigo é
para pequenas empresas, contratos temporários sobretudo conceitual. Trata-se de um esforço de
etc. No Brasil, as mudanças legais recém-criadas ti- redefinir “informalidade” com base na forma pela
veram impactos limitados, seja por serem bastante qual os economistas, os juristas e a opinião públi-
inspiradas no padrão CLT, seja por sua aplicação ca a interpretam – termo esse aqui usado para de-
ainda reduzida. De todo modo, os padrões contra- signar os grupos não especialistas, mas direta-
tuais da “informalidade” são muito mais diversos, mente envolvidos ou interessados, tais como
e, apesar disso, pouco discutidos, salvo em estu- empregados, empregadores e seus representan-
dos sobre categorias ou segmentos informais es- tes. Toma-se como pressuposto a existência de
pecíficos. Ao formal (no sentido de legal) contra- uma disputa conceitual entre diversos segmentos
põem-se diversos tipos de contratos “informais”, para redefinir novas noções de contratos de traba-
sejam os claramente ilegais (ou criminosos, como, lho moralmente defensáveis no Brasil – tema que
por exemplo, o trabalho escravo), sejam trabalhos será objeto de outro artigo.
familiares ou diversos outros tipos de contratos, Os argumentos apresentados neste estudo
cujo estatuto legal está freqüentemente em dispu- são o resultado inicial de uma pesquisa1 sobre os
ta – por exemplo, cooperativas ou contratos de diferentes significados de formalidade e “informa-
tercerizados. Contudo, freqüentemente trata-se a lidade” e as noções de contratos de trabalho legí-
“informalidade” como se fosse um fenômeno uni- timos. Na primeira parte, faz-se um breve resumo
forme, objetivo e mensurável. Aliás, o planejamen- do surgimento de contratos atípicos como problema
to governamental e as políticas públicas impõem social e, em seguida, apresenta-se o argumento da
formas de mensuração objetivas e de fácil aplica- existência de três grandes matrizes de abordagem do
ção (muitas vezes padronizadas para comparações tema: (1) os economistas, com a oposição formal/”in-
internacionais) das condições contratuais, as quais formal”; (2) os juristas, com a oposição legal/ile-
reforçam sobremaneira a simplificação que a clas- gal; e (3) o senso comum com a oposição justo/in-
sificação binária implica. justo. Eficiência, legalidade e legitimidade são três
Aceitas essas considerações, é necessário ad- dimensões subjacentes a esses princípios constitu-
mitir que as abordagens econômicas ou sociológi- tivos do contrato.
cas baseadas no par formal/”informal” represen- Na segunda parte, faz-se uma crítica às inter-
tam apenas uma visão parcial e com limitado pretações predominantes de “informalidade” e
poder explicativo das razões pelas quais o Brasil apresenta-se a diversidade de situações contra-
“INFORMAL”, ILEGAL, INJUSTO 113

tuais abarcadas pelo termo “informal”. Em segui- lho, sedimentado sobretudo por leis federais e,
da, argumenta-se a respeito da especificidade do apenas secundariamente, por contratos coletivos.
“trabalho informal” dentro do “mercado informal”, A legislação do trabalho estabelecia, de ma-
bem como os princípios que distinguem as ativi- neira cada vez mais detalhada, quais eram as re-
dades de empregado, empregador e prestador de gras mínimas de relações de trabalho justas. Salário
serviços autônomos. mínimo, jornada de trabalho, férias anuais e mui-
Com base nos princípios que orientam as tos outros direitos foram definidos por lei. Acordos
abordagens econômica e jurídica sobre o tema, na coletivos tiveram um papel bastante secundário
terceira parte, apresenta-se um quadro contendo nesse processo. Muitos direitos sociais também fo-
seis tipos de explicações a respeito do fenômeno ram garantidos aos trabalhadores, aqui entendidos
da “informalidade”, as quais, ao enfatizarem as como trabalhador formal, conformando um típico
origens dos contratos atípicos, mostram-se mais welfare ocupacional.2 Os servidores públicos foram
adequadas a determinadas épocas, regiões ou seg- os primeiros beneficiários dos contratos de traba-
mentos do mercado. lho formais e, conseqüentemente, dos direitos so-
Na quarta parte, analisam-se as noções popu- ciais a ele associados. Gradualmente, os trabalha-
lares de contrato de trabalho “justo”, na medida em dores urbanos não industriais foram incorporados.
que elas mantêm relações reflexivas com as noções Wanderley Guilherme dos Santos descreveu essa
econômicas e jurídicas de contratos legítimos. história como a do desenvolvimento de uma “cida-
Na quinta, argumenta-se sobre as dificulda- dania regulada”, isto é, um processo no qual as di-
des analíticas do tema no Brasil dada a sobrepo- versas categorias de trabalhadores obtiveram direi-
sição no tempo e no espaço dos diversos proces- tos sociais (e do trabalho) de acordo com sua
sos geradores de contratos atípicos. A partir desse posição no mercado. Entre as grandes categorias,
quadro, apontamos para a necessidade de estu- uma das últimas a obter sua “cidadania” foi o dos
dos interdisciplinares no sentido de uma melhor trabalhadores rurais na década de 1960. Assim, es-
compreensão dos contratos atípicos. pecialmente a partir de 1930, o mercado de traba-
lho brasileiro e as questões do subemprego3 ou da
“informalidade” só podem ser entendidos como re-
Definindo o problema: O significado sultados da própria construção da noção de “for-
de “informalidade” malidade”, que, por sua vez, está associada às no-
ções de cidadania e de direito social.
A seguir, apresentamos um resumo simplifica- Nos anos de 1970 o perfil do mercado de tra-
do da história do mercado de trabalho no Brasil. balho já era claramente dual: a maioria dos trabalha-
No início do século XX, começou a se de- dores industriais havia sido incorporada ao mercado
senvolver o mercado de trabalho, no sentido mo- formal, bem como expressiva parte dos trabalhado-
derno do termo, como a forma predominante de res do setor de serviços. Além disso, o processo si-
produção de bens e serviços. Durante as primei- multâneo de urbanização diminuiu de modo signifi-
ras três décadas, o trabalho transformou-se numa cativo, em poucas décadas, o número de
mercadoria livremente negociada, já que leis e trabalhadores rurais, os quais se encontravam fun-
contratos coletivos eram quase inexistentes (ver damentalmente no mercado de trabalho “informal”,
Lamounier, 1988). Durante as décadas de 1930 e ou em outras relações não propriamente contratuais
1940, o corporativismo de Estado de Vargas esta- de trabalhos familiares, em economias de subsistên-
beleceu um amplo código de leis do trabalho, o cia e com práticas “contratuais” tradicionais. A urba-
qual marcou o mercado nacional por todo o sé- nização e a industrialização ampliaram também a
culo. A partir de então, as noções de “formalida- massa de trabalhadores subempregados, mal incor-
de” e “informalidade” foram pouco a pouco sen- porados ao mercado de trabalho.
do construídas. As estatísticas indicam um longo A invenção peculiar da carteira de trabalho
processo de formalização das relações de traba- teve variados significados simbólicos e práticos.
114 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 18 Nº. 53

Durante muito tempo funcionou (e marginalmen- legislação e os que não assinam podem ser pro-
te ainda funciona) como uma verdadeira carteira cessados. De todo modo, a assinatura em carteira
de identidade ou como comprovante para a ga- torna mais fácil ao empregado a comprovação da
rantia de crédito ao consumidor, prova de que o existência de vínculo empregatício. Enfim, popu-
trabalhador esteve empregado em “boas empre- larmente no Brasil, ter “trabalho formal” é ter a
sas”, de que é “confiável” ou capaz de permane- “carteira assinada”.
cer por muitos anos no mesmo emprego. Hoje, Em janeiro de 1991, os empregados com car-
seu significado popular é o compromisso moral teira representavam 55,0% da força de trabalho.4
do empregador de seguir a legislação do trabalho, Além desses, quase 20,0% eram autônomos regis-
embora, de fato, não haja garantia, pois os empre- trados e outros 4,5% empregadores. Os emprega-
gadores podem, na prática, desrespeitar parte da dos “informais” representavam 20%.5
“INFORMAL”, ILEGAL, INJUSTO 115

Até o final dos anos de 1980 a “informalida- cias de formarem o elo fraco das cadeias produti-
de” (ou o subemprego) era percebida principal- vas internacionais (Gereffi, 1995). Sua vantagem
mente como um problema endêmico pela maioria competitiva é o baixo custo da mão-de-obra, que
dos especialistas. Porém, as mudanças das décadas leva os países em desenvolvimento a competirem
anteriores levaram os especialistas e políticos a entre si. Não se pretende aqui medir a “velha” e
prever (e desejar) uma expressiva redução do mer- a “nova” “informalidade”, mas discutir um tema
cado “informal”. Predominava a suposição de que que antecede tal avaliação, isto é, os diferentes
a “informalidade” (ou o subemprego) era um lega- significados de “informalidade” em contraposição
do de uma economia semi-industrializada, cujo fim ao termo “formal”.
era uma questão de tempo e desenvolvimento. Se esse conceito adquiriu algum significado
Contudo, em termos de mercado de traba- claro foi devido a certa abordagem econômica
lho, é razoável supor que o início dos anos de que vinculava a “informalidade” (ou melhor, o su-
1990 representou uma ruptura no movimento cres- bemprego) a atividades periféricas não rentáveis.
cente de formalização do trabalho. Desde então, Contudo, o uso coloquial do termo no Brasil está
tem crescido a “informalidade”. A proporção de ligado à legislação: o trabalho é formal se, e so-
empregados sem carteira cresceu 8,1%: de 20%, mente se, o trabalhador possui carteira de traba-
em janeiro de 1991, para 28,1%, em janeiro de lho assinada ou registro de autônomo ou, ainda,
status de empregador.
2001; ao mesmo tempo, a proporção de emprega-
A terceira interpretação é a adotada por ju-
dos com carteira decresceu 12,8% (Gráfico 1).
ristas: rigorosamente, não há contratos formais ou
É provável que esse crescimento represente,
“informais”, mas apenas “legais” ou “ilegais”. Na
de fato, uma reviravolta na história de um aparen-
verdade, a existência de registro que comprove o
te caminho seguro em direção à equalização do
status de empregado, empregador ou autônomo é
mercado de trabalho; pode também resultar da má
um parâmetro de importância indiscutível, tanto
performance macroeconômica da América Latina
pela relativa facilidade de sua mensuração como
nos anos de 1990, ou ainda ser o reflexo da rápi-
pela legitimidade da CLT, observável por seu pa-
da internacionalização da economia. Muitos países
pel paradigmático na definição de um “bom con-
sofreram mutações similares. Para alguns analistas, trato de trabalho”.
trata-se de uma nova safra de contratos atípicos, Portanto, há três diferentes fontes de inter-
os quais rompem com os padrões de “sociedade pretação do fenômeno, popularizado pelos eco-
assalariada” (ver Castel, 1998). Novos processos de nomistas e pela mídia como “informalidade”. A
trabalho e tecnologias demandariam novas formas primeira é justamente a interpretação econômica.
de contratos. A nova “informalidade” derivaria Contrastando-a, juízes e procuradores, por seu
dessas mudanças (voltaremos a tratar dessas inter- próprio ethos profissional classificam como ilegal
pretações na terceira parte deste artigo). a maior parte das situações entendidas como “in-
No Brasil “velhas” e “novas” formas de traba- formal” pelos economistas. Sob a influência de
lhos atípicos misturam-se, tornando particularmen- ambos (bem como dos institutos de pesquisa) a
te difícil a identificação das causas de seu recente população tende a identificar “informal” com a
crescimento. A incorporação de diversos segmentos ausência de carteira de trabalho e, em decorrên-
ao mercado formal ainda estava em processo quan- cia, com “injusto”.
do “novas informalidades” surgiram – retomarei Dessa forma, há três pares contrastantes de
essa contraposição também na terceira parte). conceitos por meio dos quais são percebidos os
Além disso, a coincidência do crescimento contratos de trabalho: formal e “informal”; legal e
dos contratos atípicos em muitos países reforça os ilegal; justo e injusto. Embora “informal” tenda a
argumentos dos que consideram que esses con- ser identificado com “sem carteira” e este com “in-
tratos resultam do aumento da competição inter- justo”, a aderência dos conceitos não é linear. Ve-
nacional por mercados. Os países na periferia do remos adiante o quão rica pode ser a combinação
mercado internacional sofreriam as conseqüên- entre eles.
116 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 18 Nº. 53

Crítica ao uso do conceito Apesar das contribuições de Portes, acredita-


de “informalidade” mos que ainda há certas ambigüidades, pois sua
análise não há separação clara entre economia
Não pretendemos discorrer sobre a vasta lite- “informal” e trabalho “informal”. A origem do tra-
ratura sobre economia ou trabalho “informais”. Há balho “informal” e as razões que explicam sua dis-
diversas revisões da literatura6 desde a primeira re- seminação em cada país diferem daquelas relacio-
ferência ao fenômeno numa pesquisa sobre a Áfri- nadas à economia “informal”. Desde o trabalho
ca elaborada pela OIT. O termo “informalidade”, a do Polanyi (1994) sabe-se que o contrato de tra-
despeito das tentativas de depurá-lo, é ainda por balho se distingue de outros contratos do merca-
demais polissêmico para ser utilizado sem adjetivos. do. Além disso, definições específicas da área do
As ambigüidades do conceito apareceram trabalho, como “assalariado”, “autônomo”, “empre-
desde sua origem, a qual não é estritamente aca- gador”, são em si por demais complexas para se-
dêmica, mas institucional. O termo foi cunhado rem descritas sob o quadro conceitual genérico
para retratar uma sociedade que não era tipica- de economia formal e “informal”.9
mente urbana e industrial.7 A despeito disso, o Se aceitamos a idéia disseminada entre so-
termo tem sido usado para descrever uma ampla cioeconomistas de que o mercado é sempre insti-
gama de situações urbanas-industriais, bem como tucionalizado seja pela lei, pelos acordos coleti-
para classificá-las e mensurá-las por meio de me- vos, seja por práticas sociais (as quais estão
todologias diversificadas de institutos de estatísti- também repletas de normas implícitas), por que
cas nacionais e internacionais. deveríamos nos referir a “informalidade” dos mer-
Muitos autores já criticaram a natureza obs- cados? A menos que entendamos “informal” como
cura desse conceito. Alejandro Portes apontou a “sem normas escritas”, o mercado será sempre
insuficiência de visões que identificam “informali- formalizado. Por que precisamos de uma contra-
dade” com algum tipo de pobreza ou que não posição (formal versus “informal”), se esta pode-
distinguem práticas criminosas (por exemplo, a ria ser mais bem expressa por “legal”/”ilegal” ou,
ainda, “contrato escrito” versus “verbal”? Acredita-
venda de produtos ilegais) de outras situações ile-
mos que, em primeiro lugar, deve-se separar as
gais não criminosas ou não previstas pela lei. Ins-
“informalidades” do trabalho das “informalidades”
pirado na sociologia econômica, Portes afirma
de outros contratos da economia e, em seguida,
que a “informalidade” depende de redes sociais.
atentar para os instrumentos necessários para dis-
Sem elos comunitários, os contratos “informais”
tinguirmos os status jurídico e contratual das nor-
não seriam possíveis. O controle de um grupo ét-
mas do trabalho, bem como sua legitimidade.
nico sobre determinadas atividades “informais”,
Mudanças nas estatísticas de emprego incen-
encontradas em muitas cidades do mundo, é um
tivam as pesquisas acadêmicas sobre o tema, mas
bom indício de que mecanismos sociais são re-
os dados são coletados de maneira ainda menos
queridos para selar contratos “informais”. Sem a
precisa que as teorias de “informalidade”, nas quais
lei ou outros contratos formais de compromisso
as metodologias são baseadas (Portes, 1994). As-
(por exemplo, acordos coletivos) as identidades
sim, a partir de variações nos dados estatísticos
culturais são a base da confiança mútua, evitando nunca sabemos exatamente que tipo de fenômeno
situações hobbesianas de mercado: estamos captando, salvo, é claro, se reduzirmos a
idéia de formal à carteira assinada, o que explica
[...] o contexto no qual tais oportunidades (lucrar
pouco e só pode ser aplicado no Brasil.10
com atividade informais) são transformadas em
Se estamos interessados no aumento ou no
empreendimentos informais depende da capaci-
dade das comunidades de mobilizar os recursos decréscimo da “informalidade”, ou melhor, de
sociais necessários para enfrentar o poder das leis contratos atípicos, no decorrer do tempo e do es-
estatais e asseguras transações de mercado tran- paço, o que procuramos entender? Seriam os con-
qüilas (Portes, 1994, p. 434).8 tratos verbais derivados da economia de subsis-
“INFORMAL”, ILEGAL, INJUSTO 117

tência de países ou regiões subdesenvolvidos? Ou para amigos) ou, ainda, atividades transitórias e
as inevitáveis, e mais que isso, desejáveis, práticas oportunistas em termos renda (um estudante, por
“informais” como, por exemplo, cultivar uma hor- exemplo, que ajuda um colega em determinada
ta apenas por prazer, vender cerâmicas produzi- disciplina e, por sua vez, é ajudado por este em
das em casa como hobby, alugar a vaga na gara- outra, ou em troca de dinheiro) e muitas outras ati-
gem de seu prédio residencial? Estamos falando vidades semi-econômicas nas quais o ganho mo-
de engraxates e meninos que vendem produtos netário representa uma proporção bastante resi-
feitos em casa nos semáforos, ou de seus “cole- dual no orçamento individual ou em termos da
gas”, na mesma esquina, que vendem produtos motivação de sua ação. Os limites entre essas ati-
de uma multinacional? Ou, ainda, de empregados vidades semi-econômicas e as atividades econômi-
domésticos? E, nesse caso, podemos agrupá-los cas não são facilmente observáveis empiricamente,
com os empregados domésticos que possuem mas podem ser definidas em teoria como aquelas
carteira assinada? São eles diferentes dos faxinei- (a) irrelevantes do ponto de vista do orçamento fis-
ros das empresas formais? Em que aspectos? Esta- cal público e (b) assim percebidas socialmente –
ríamos nos referindo a trabalhadores altamente por exemplo, ninguém acha injusto que tais ativi-
especializados que decidem abandonar a condi- dades não paguem impostos. Trata-se de ativida-
ção salarial e estabelecer uma atividade voltada des que não são questionadas nem pelo economis-
para apenas uma companhia? Ou a médicos que ta, nem pelo jurista, nem pelo cidadão comum. São
cobram menos para as pessoas que não precisam encontradas em sociedade tanto tradicionais como
de recibo? Ou, ainda, ao comércio de drogas? Ou, pós-modernas. Na verdade, constituem um tipo de
por fim, a relações de escambo em empresas que, fenômeno que prova a impossibilidade da moneta-
por suas outras características, poderíamos classi- rização completa das relações sociais.
ficá-las como modernas?11
Essa lista de situações não pretende ser
exaustiva, busca apenas mostrar a variedade de A especificidade do trabalho “informal”
realidades descritas sob o mesmo conceito. Esses na economia “informal”
exemplos incluem atividades não propriamente
econômicas, trabalhos autônomos, contratos de
Ao considerarmos apenas a “informalidade”
prestação de serviços para o público e para em-
do trabalho evitamos a complexidade da econo-
presas e diversas formas de contratos de trabalho
mia “informal” em geral. As interdependências en-
não previstos na legislação.
tre economia e trabalho “informal” não justificam
Não pretendemos definir conceitos que se-
tratá-las como um mesmo fenômeno. A economia
jam capazes de abarcar todas as situações men-
“informal” (não legal, isto é, não registrada como
cionadas, mas trataremos do mercado de trabalho
urbano. Tal restrição visa a evitar a complexida- atividade econômica) só pode criar empregos “in-
de das relações de trabalho rurais tradicionais, ao formais”, mas a economia formal freqüentemente
menos num primeiro momento da pesquisa. Limi- abre postos de trabalho “informais” – empresas
ta-mo-nos, pois, à “sociedade salarial” e pós-sala- formais (registradas e pagadoras de impostos) fre-
rial, deixando de lado outras formas tradicionais qüentemente contratam todos ou parcela de seus
de dependência em relação ao contratante. trabalhadores sem registrá-los em carteira.12
Deixamos também de lado alguns tipos de A tradicional distinção entre empregado e
trabalho “informais” por não serem propriamente autônomo, bem como entre autônomo e empre-
atividades econômicas, podendo ser mais bem gador, baseia-se no grau de subordinação ou de-
descritos como atividades semi-econômicas. Por pendência. O primeiro normalmente trabalha de
exemplo, as atividades que se situam entre o hobby acordo com regras definidas pelo empregador, é
e o artesanato (tricotar, pintar, colecionar moedas pago por hora de trabalho (e não por tarefa ou re-
raras etc.) ou que estão ligadas a padrões familia- sultado), tem horário de trabalho relativamente
res tradicionais (alugar um quarto sobressalente definido e deve estar disponível e subordinar-se a
118 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 18 Nº. 53

apenas um empregador nas horas contratadas. Es- convivência prévia de um grupo de pessoas em
sas características variam de acordo com as ativi- posição socialmente inferior ou estigmatizada e a
dades. O “tipo ideal” de assalariado, o qual agru- percepção de uma certa igualdade “contratual”,
pa todas elas, encontra-se aparentemente em de forma a prevenir que um processe o outro em
declínio por diversas razões. Primeiro, por causa virtude da relação que mantiveram. Nos contratos
de mudanças econômicas e administrativas do de trabalho “informais” nas grandes cidades, os
mundo empresarial. Mas, ao mesmo tempo que o contratantes compartilham uma condição ilegal,
contrato de trabalho típico declina, juristas vem mas dentro de um contrato de subordinação. Por-
tentando atualizar a noção de contrato de “empre- tanto, as relações de dependência e subordinação
go” por meio da definição de um conjunto de tra- são variáveis-chave para distinguir os tipos de tra-
ços que distinguiriam os contratos de trabalho dos balhos “informais”.
contratos de serviço.13 Isso ocorre em países tan-
to de tradição legislada (ou corporativista) como
de tradição contratual (ou pluralista). Discutindo Explicações para o fenômeno
a legislação e a tradição jurídica britânica, Pitt do trabalho “informal”
(1995) opõe os contract of service (empregados)
aos contract for service (autônomos). Ao reduzir nosso objeto ao “trabalho infor-
Raramente poderíamos confundir o status de mal” alguns problemas conceituais puderam ser
empregador com o de empregado, mas “autôno- evitados. Porém, muitas das questões expostas
mos” podem ser confundidos com ambos. Se al- permanecem. Nesse momento de análise, procu-
guém trabalha apenas para uma empresa ou pes- ramos identificar três abordagens principais para
soa, a justiça do trabalho tende a interpretar isso o fenômeno, juntamente com outras três parale-
como um contrato de trabalho. De maneira aná- las”, cada qual apropriada para explicar um deter-
loga, se um autônomo passa a contratar ajudantes minado tipo de contrato atípico.
com certa freqüência e continuidade, a interpreta- A primeira – denominada velha informalida-
ção judicial tende a ir na direção oposta.14 de – afirma que a “informalidade” deriva da condi-
De todo modo, os princípios de dependên- ção de um país em desenvolvimento, em que mui-
cia e subordinação,15 como guias das definições tas atividades não são suficientemente atrativas
jurídicas e sociológicas dessas três categorias, para o investimento capitalista. Essa era uma abor-
também indicam claramente a distinção entre o dagem típica no Brasil dos anos de 1960 e 1970, a
contrato de emprego e os contratos entre empre- qual freqüentemente classificava o trabalho “infor-
sas, nos quais a subordinação não está suposta. mal” como subemprego.16 Trata-se de um ponto
O compromisso moral observado por Portes de vista exclusivamente econômico, na medida
(1994) entre empresários dominicanos, imigrantes em que o investimento é a variável-chave. A se-
ilegais atuantes nos Estados Unidos, não ocorreria gunda, considera o trabalho “informal” o resultado
entre cidadãos norte-americanos em relações de natural da busca por maximização de lucros por
subordinação (e não contratantes de mesmo sta- empresas em países com extensivo código de tra-
tus) num mercado de trabalho urbano. Não fosse balho e elevado custo indireto da folha salarial, so-
a condição de migrante ilegal, o compromisso bretudo em momentos de aumento da competição
com a “informalidade” (ou ilegalidade) comparti- internacional por mercados – aqui designada in-
lhada duraria apenas enquanto houvesse relação formalidade neoclássica.17 Por fim, outros argu-
de trabalho. No Brasil, a prática de ex-emprega- mentam que a “informalidade” resulta de mudan-
dos “informais” processarem seus empregadores ças nos processos de trabalho, novas concepções
quando demitidos exemplifica os limites do acor- gerenciais e organizacionais e novos tipos de tra-
do “informal” prévio entre contratantes desiguais. balho, os quais não exigem tempo nem locais fi-
A permanência e “reprodução de acordos xos – podemos nos referir a esse tipo como nova
“informais” parece depender de duas variáveis: a informalidade ou informalidade pós-fordista.18
“INFORMAL”, ILEGAL, INJUSTO 119

Quadro 1
Abordagens Econômicas Abordagens Sociológicas e/ou Normativas
VELHA INFORMALIDADE (SUBEMPREGO) INFORMALIDADE POBRE

• Trata-se de uma abordagem tipicamente econô- • Inclui diversos tipos de trabalhos “pobres”
mica, pois toma o investimento como a variável sob o mesmo conceito, sendo, portanto, mais
principal. Visa a explicar a “informalidade” de empírica que a “velha informalidade”.
uma economia em transição, que gera desem- • A abordagem deriva (1) das antigas tentativas
pregados, subempregados ou empregados “in- da OIT de criar conceitos capazes de incluir as
formais” nos centos urbanos industrializados, “informalidades” dos vários países e (2) das
muitos deles recém migrados de áreas rurais. tentativas de se adaptar a tese da “velha infor-
• Abordagem desenvolvimentista do mercado de malidade” aos novos trabalhos precários.
trabalho. • Julgam a “informalidade” negativa.
• A “informalidade” é entendida como negativa
ou neutra por ser um fenômeno típico de so-
ciedades em transição, o qual será soluciona-
do com o próprio desenvolvimento.
INFORMALIDADE NEOCLÁSSICA INFORMALIDADE JURÍDICA

• Afirma que a “informalidade é o resultado na- • Assemelha-se à variante neoclássica pelo fo-
tural da ação de empresas em busca da maxi- co na regulação do trabalho, mas pode ser
mização de suas rendas em países com custos considerada seu espelho negativo por enten-
indiretos elevados da força de trabalho, im- der o excesso de liberdade do mercado na re-
postos por lei, ou rígidos acordos coletivos. gulação das relações de trabalho como des-
• Mainstream econômico internacional. truidor das intervenções legais necessárias à
• A “informalidade” é vista como positiva por garantia de condições mínimas para a sedi-
ser o meio pelo qual o mercado corrige os mentação de contratos do trabalho (entendi-
efeitos negativos de normas rígidas do merca- do como um contrato entre desiguais) social-
do de trabalho. mente justos.
• Abordagem típica de profissionais da área ju-
rídica e cientistas políticos, especialmente em
países com relações de trabalho de tradição
corporativista, neocorporativista ou legislada.
• Vê a “informalidade” de maneira negativa.
NOVA INFORMALIDADE INFORMALIDADE DA GLOBALIZAÇÃO

• A “informalidade é o resultado natural de mu- • Afirma que a realidade não mudou, isto é,
danças no processo de trabalho, de novas con- que a natureza e as características do trabalho
cepções organizacionais e novos tipos de tra- permanecem essencialmente as mesmas; e
balho, sem tempo ou espaço fixos, gerados que as mudanças ocorreram devido ao au-
pela sociedade pós-fordista ou pós industrial. mento da competição internacional, estimula-
• Escola regulacionista, analistas das socieda- da pelo credo neoliberal, que levou ao cres-
des pós-industriais ou da pós-modernidade. cimento do desemprego e de trabalhos
• Vê a “informalidade como relativamente neu- precários e instáveis.
tra, pois embora cause problemas sociais no • Sociólogos críticos da globalização e marxis-
curto prazo (negativo), representa uma mu- tas.
dança estrutural nos padrões de trabalho. • Vê a “informalidade” de forma negativa.
120 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 18 Nº. 53

A “velha informalidade” buscava explicar o mercado. A primeira quer evitar a falência do mer-
mercado de uma economia em transição, que co- cado devido à força da lei; a segunda quer evitar
meçava a gerar uma massa de desempregados e a falência da lei devido à força do mercado.
subempregados, os quais rapidamente se aglome- Finalmente, a “nova informalidade” também
ravam nas cidades industrializadas, recém chega- apresenta uma vertente positiva e outra negativa.
dos do campo. Essa era a agenda dos anos de A primeira acredita que o contrato de trabalho tra-
1960 e 1970. No Brasil, a abordagem “neoclássi- dicional não se ajusta às novas tecnologias e às
ca” disseminou-se num momento diferente, e re- práticas gerenciais. A crítica dessa posição afirma
tardatário em relação a outros países, a saber, no que a realidade não mudou, isto é, as caracterís-
final da década de 1980, quando os direitos do ticas da relação de emprego são as mesmas, e que
trabalho foram reforçados pela nova Constituição as mudanças ocorreram devido ao aumento da
e, simultaneamente, intensificou-se o comércio in- concorrência internacional e da preponderância
ternacional. A análise “pós-fordista” apareceu no de princípios neoliberais no cenário mundial, o
Brasil no início dos anos de 1990, mas, diferente- que causou muitos problemas sociais como o de-
mente das outras, é mais apropriada para explicar semprego ou os empregos “precários”. Tal crítica
a “informalidade” da classe média (e até operária) circunstancia, pois, a vertente negativa e pode ser
do que a “informalidade” dos menos abastados – denominada a abordagem da globalização.21
ambulantes e similares. No Brasil, todas essas abordagens encon-
Para cada uma dessas abordagens encontra- tram respaldo: a “velha informalidade” ainda está
mos perspectivas similares quanto ao diagnóstico, em vigência em diversas regiões ou atividades; o
porém, bastante diferentes em seus pressupostos argumento da “informalidade” neoclássica tam-
e implicações, até porque contêm intenções nor- bém tem solo fértil no país, dado o modelo legis-
mativas mais explícitas. lado de relações de trabalho; por outro lado, o
A abordagem da “velha informalidade”, em- contra-argumento “jurídico” é forte, na medida
bora clara e consistente, pode facilmente gerar em que o direito do trabalho é a fonte do direito
interpretações mais frágeis, como, por exemplo, social no país, e não o oposto – isto significa que
aquelas que identificam “informalidade” com tra- uma eventual desregulamentação teria expressi-
balho precário.19 Em países com grandes diferen- vos impactos sociais. Além disso, o debate sobre
ças regionais e que enfrentam rápidas mudanças “o fim do trabalho” (ou variações mais brandas
sociais, incluindo fluxos migratórios, é bastante como o “trabalho pós-industrial”) tem considerá-
difícil distinguir o trabalho “informal”, derivado vel efeito simbólico sobre a classe média, ávida
da economia tradicional da “informalidade” das por uma visão que explique seu próprio desem-
grandes cidades, de trabalhos ao mesmo tempo prego ou subemprego, a despeito da discutível
modernos e pobres, típicos de relações capitalis- disseminação real de relações de trabalho subs-
tas recém-deterioradas. Isso talvez explique a tantivamente novas e diferentes.
adoção desta versão do conceito por vários cien- Essa é a complexidade do trabalho “infor-
tistas sociais brasileiros. mal” no Brasil: todas as abordagens possuem ao
A perspectiva “neoclássica” tem como con- menos um bom argumento no debate. Talvez a
traposição uma abordagem que pode muito bem menos consistente (embora muito adotada) seja a
ser denominada jurídica, e que nos leva a conclu- vertente da “informalidade “pobre”, dada sua fra-
sões opostas às da primeira. A semelhança é o gilidade teórica. Todavia, acreditamos que no Bra-
foco na regulação do trabalho, e a principal dife- sil o principal debate gira em torno do eixo “neo-
rença é a maneira pela qual, de um lado, a versão clássicos” versus “jurídicos”, visto que o conceito
neoclássica vincula o excesso de regulação à ex- de contrato de trabalho no Brasil é bastante enrai-
pansão da “informalidade” e, de outro, a versão ju- zado. De qualquer forma, se essa classificação dos
rídica culpa a falência do setor público em garan- tipos de abordagem se mostrar apropriada, cremos
tir o cumprimento da lei20 diante das forças do que a tarefa das pesquisas empíricas hoje é a iden-
“INFORMAL”, ILEGAL, INJUSTO 121

tificação setorial e regional dos diversos tipos de táveis independentemente ou a despeito de sua
“informalidade” e a avaliação de seu peso relativo. justeza e legalidade). Ademais, os indivíduos fa-
zem considerações a respeito de contratos ideais
ou completamente intoleráveis, tanto do ponto de
O contrato de trabalho “justo”, vista pessoal como social.
segundo o senso comum As linhas divisórias entre contratos de traba-
lho “ideal”, “justo”, “aceitável” “pessoalmente ina-
O quadro sobre o trabalho “informal” não se ceitável”, “injusto” ou “socialmente intolerável” são
completa sem o entendimento do senso comum22 a tênues e misturam noções de necessidade pes-
respeito dos contratos de trabalho. Por sua própria soal, de eficiência, de éticas pessoais e familiares,
natureza, a percepção popular não é planejada, de justiça e de valores, normas e hábitos social-
coesa e nem tem um propósito delineado. Assim, mente definidos (muitos deles de natureza tradi-
não se pode imputar a ela a pretensão de criar um cional, não problematizados).
conjunto lógico de conceitos para classificar os ti- Um trabalho pode ser aceitável porém injus-
pos de contrato de trabalho. Seus conceitos são to, ou, ao contrário, inaceitável para um indiví-
dialógica e difusamente construídos, mas forte- duo, mas socialmente “justo”. O par “justo” e “in-
mente influenciados por noções especializadas, di- justo” diz respeito à esfera pública, enquanto as
vulgadas pela mídia, de juristas e economistas. noções de “ideal”, “aceitável” e “inaceitável” se re-
Em sociedades democráticas a lei é, por de- ferem às preferências individuais. As noções de
finição, justa. Caso não seja, deve ser mudada, justiça pública afetam as preferências individuais,
mas nunca desprezada. Contudo, muitos contra- mas não as definem de forma linear ou mecânica.
tos considerados justos por determinados grupos Um contrato “informal”, verbal, pode ser en-
não são previstos em lei ou são francamente ile- tendido como “justo” se o empregado percebe
gais. Além disso, no Brasil, popularmente, o tra- que o empregador tem boas razões para não re-
balho “informal” típico pode ser entendido, se gularizar a situação (por exemplo, uma micro em-
não como “justo”, ao menos como “aceitável”, e presa em dificuldades financeiras).24 Ao contrário,
certamente não é considerado “ilegal” a menos quanto mais o trabalhador percebe que a “infor-
que se trate de crime (em geral comércio de pro- malidade” é um meio de gerar um retorno extra
dutos ilegais) e não apenas um contrato ilícito. As- para a empresa, mais “injusto” será o contrato.
sim, na visão popular, os contratos legais (com re- Embora as percepções do justo e do injusto, do
gistro em carteira) opõem-se aos “informais” (sem aceitável e do inaceitável sejam modeladas por
registro) e não aos ilegais23 (entendidos como cri- um amplo conjunto de valores morais e de éticas,
minosos), o que denota as influências dos dois dois princípios gerais compõem a linha divisória
sistemas classificatórios concorrentes da econo- básica entre o justo e o injusto. Primeiro, não ter
mia e do direito. direitos iguais a outros empregados da mesma
Ambos os contratos, “legais” ou “informais” empresa em posto similares;25 segundo, perceber
(ou melhor, como ou sem registro) podem ser en- que ganhos extras dos empregadores são alcança-
tendidos como legítimos. A escolha ou a aceita- dos por meio da restrição de seus direitos.
ção de um ou outro demanda uma complexa ava- Uma situação bastante diferente ocorre nos
liação que inclui noções de direito, justiça, ética contratos “informais” de prestação de serviços, os
bem como conveniências pessoais. Dessa manei- quais não implicam nem a perda de direitos tra-
ra, quando da escolha ou da aceitação de um tra- balhistas, nem vantagens obtidas pelo contratante
balho, há um conjunto de considerações a respei- às expensas do contratado. Por meio da “informa-
to da legalidade do contrato (daí o par conceitual lidade”, ambos se beneficiam às custas do setor
legal/ilegal), mas, com mais freqüência, de sua público ao se auto-isentarem das taxas. Porém
justeza (justo/injusto) e de sua adequação e con- esse raciocínio simplista não se sustenta quando
veniência pessoal (contratos aceitáveis ou inacei- o prestador de serviços se identifica pelo ofício,
122 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 18 Nº. 53

condição de trabalho ou condição social com tra- Um contrato legal (com registro) tende a ser
balhadores registrados e, portanto, membros dos visto como justo, mas em apenas alguns casos os
sistemas solidários de compensação de riscos. contratos ilegais (sem registro) são percebidos
Neste caso, as vantagens e a segurança do regis- como injustos. Trata-se de uma curiosa dissociação
tro tornam-se mais atraente do que a liberdade do que demonstra o papel da CLT no Brasil, isto é, um
prestador de serviços. Portanto, os limites entre o código do trabalho legítimo a ponto de influenciar
contrato “informal” “justo” e “injusto” dependem as práticas do contrato “informal” e ao mesmo tem-
tanto da percepção de quem será lesado com o po incapaz de instituir parâmetros mínimos que
não cumprimento da lei, como de uma noção de orientem a legitimidade dos contratos de trabalho.
piso de direitos e da atratividade que o sistema A CLT definiu parâmetros do bom contrato de tra-
solidário implícito no contrato representa. balho, mas foi incapaz de definir o inaceitável.
Há alguns indícios que nos permitem supor Além disso, aquilo que o empregado enten-
(algo a ser confirmado em pesquisas futuras) que as de como aceitável não se distingue tanto da per-
noções populares de contrato de trabalho “ideal” cepção do empregador como poderíamos ser le-
são bastante influenciadas pela legislação do traba- vados a crer pelas abordagens que sobrevalorizam
lho. Os cidadãos dos centros urbanos têm como o conflito capital-trabalho ou aquelas que vêem
parâmetro do ideal o contrato em carteira; alterna- os atores como maximizadores racionais de suas
tivamente, e com mais intensidade sonha-se com preferências. Empregados e empregadores assu-
um trabalho autônomo, mas quase nunca com um mem, conscientemente ou não, um conjunto mí-
contrato de trabalho “informal”. O “ideal” varia en- nimo de direitos e benefícios em segmentos espe-
tre a segurança do contrato de trabalho (cujos in- cíficos dos mercados de trabalho de cada região.
convenientes são os deveres a ele associados) e a As diferenças dessas percepções são provavel-
liberdade do autônomo – atividade arriscada espe- mente maiores na comparação entre regiões que
cialmente para não-profissionais.26 Entre esses dois entre empregados e empregadores de um mesmo
“ideais”, muitos contratos atípicos são percebidos município e categoria.
como “aceitáveis”, isto é, nem “ideal” nem “inacei- Embora a idéia do “socialmente aceitável”
tável”. Entretanto, para ser “aceitável” é necessário não seja correlata de “justo”, dada a resignação
possuir o mínimo de direitos, os quais são freqüen- pragmática dos indivíduos à realidade do mercado
temente inspirados na legislação do trabalho, tais de trabalho (expressa na frase: um emprego nun-
como 13o salário, vale-transporte e férias anuais. ca é justo, mas assim é a vida), a idéia do social-
Há forte correlação entre o respeito a um mente inaceitável tende a ser próxima de “injusto”.
dispositivo legal e sua legitimidade social, cuja ex- Assim, para o entendimento da forma como o “ho-
pressão é seu respeito também no mercado “in- mem comum” enfrenta o conflito entre a aborda-
formal”. Muitos contratos “informais” contemplam gem jurídica (ilegal versus legal) e a econômica
dispositivos da CLT.27 A idéia do “inaceitável” está (“informal” versus formal) é mais apropriado in-
ligada a esse piso de direitos (incluindo nível sa- vestigarmos a noção do “socialmente inaceitável”
larial) que compõem a expectativa mínima dos do que qualquer outro termo acima mencionado.
trabalhadores de uma região. Os trabalhadores Um trabalho pode ser inaceitável para uma
não agem como maximizadores de preferências. pessoa devido a muitos fatores, tais como as tare-
Como disse Kerr, fas requeridas (por exemplo, atividades inferiores
às qualificações não são bem vistas pelos empre-
[...] a idéia de satisfação [explica] algumas gados, especialmente as “degradantes”), as condi-
decisões individuais melhor que a idéia de ções do ambiente de trabalho (por exemplo, am-
maximização, por exemplo quando trabalha- bientes sujos e insalubres), ou relações pessoais
dores aceitam o primeiro trabalho disponível (chefes autoritários), entre outros.
que corresponda às suas expectativas míni- Ademais, a percepção da ilegalidade ou da
mas [...] (Kerr e Staudohar, 1994, p. 77).28 injustiça de um tipo de contrato varia conforme as
“INFORMAL”, ILEGAL, INJUSTO 123

práticas populares locais. O trabalho infantil, por gumento de que a redução do custo da força de
exemplo, pode ser popularmente visto no Brasil trabalho era a forma mais eficiente de enfrentar a
como ilegal, apenas “informal” ou pode nem mes- competição internacional em produtos de mão-
mo ser reconhecido como trabalho (e portanto de-obra intensiva. Tão logo a proposta foi imple-
como problema), dependendo de variáveis cultu- mentada, os sindicatos estaduais começaram a de-
rais e econômicas das regiões do país. nunciar as “novas cooperativas” como “falsas
O piso de direitos e benefícios para um con- cooperativas” e, apesar da discussão criada em
trato “justo” ou “aceitável” varia de acordo com o torno do tema,29 com o passar dos anos tornou-se
local, com o padrão contratual aí prevalecente, claro que os trabalhadores “cooperados” na gran-
com as experiências prévias de trabalho do indi- de maioria dos casos eram, rigorosamente, em-
víduo e de sua família, bem como em função das pregados das empresas exportadoras. Inspetores
expectativas profissionais, o que por sua vez é de- do trabalho,30 procuradores públicos do trabalho31
finido por muitos outros elementos das histórias e juízes32 recolheram evidências e argumentaram
individuais, incluindo variáveis como grau de es- nesse sentido. Atualmente há processos jurídicos
colarização, sexo e idade. (já executados ou em andamento) que visam à
transformação dos trabalhadores “cooperados”
em empregados subordinados à CLT.
Uma rápida transição da “velha” No debate público, o governo estadual e os
para a “informalidade da globalização” empresários exportadores uniram-se na defesa das
“cooperativas”, baseados em argumentos econô-
Propomos a seguir a análise, embora não micos, mas admitiram indiretamente a inconsistên-
aprofundada e resumida, de como se deu o pro- cia legal de seus argumentos e, portanto, passaram
cesso recente de transição de um mercado de tra- a propor uma mudança da legislação nacional.
balho em um estado “pobre” do Brasil. Compara- Sustentavam que parte da população favorecida
tivamente, o Ceará é um Estado pequeno, pobre, pelo programa nunca havia recebido qualquer sa-
onde uma considerável parcela da população ain- lário, que o padrão de consumo e de vida das po-
da vive de uma economia de subsistência e, mui- pulações locais havia melhorado consideravel-
tas vezes, trocam mercadorias sem a referência mente, que a instalação de indústrias nessas
monetária, embora Fortaleza (e muitos outros mu- regiões jamais teria ocorrido sem tais incentivos;
nicípios) seja uma cidade turística, moderna, e em suma, superar a condição de pobreza seria
com amplo mercado formal de trabalho. mais relevante que observar a lei.
No final dos anos de 1980, o governo esta- Nos primeiros anos do programa, os inspe-
dual iniciou um programa para atrair indústrias e tores do trabalho da DRT local não atuaram sobre
desenvolver a economia local. Para isso, dois in- as “novas cooperativas” – para os propósitos ini-
centivos principais foram criados: primeiro, incen- ciais dessa discussão, não importa se isso ocorreu
tivos fiscais para a instalação de indústrias de por desatenção, tolerância, conivência ou sim-
mão-de-obra intensiva, os quais seriam mais ge- plesmente porque não foram chamados a agir.33
nerosos quanto mais distante de Fortaleza fossem Mais tarde, as denúncias de sindicatos e procura-
as propostas de instalação das indústrias. Os in- dores (muitas vezes aplaudidos discretamente por
centivos fiscais visavam à instalação de indústrias empresários não favorecidos pelas “cooperati-
nas áreas secas do Estado. O segundo atrativo era vas”) levaram os inspetores locais a notificarem as
a permissão de criação de “cooperativas”, nas empresas e informarem o Ministério do Trabalho.
quais os trabalhadores poderiam vender o produ- Os trabalhadores das cooperativas rapida-
to de seus trabalhos para indústrias de exportação mente entenderam que aquele arranjo não respei-
(principalmente de calçados). O governo estadual tava a lei. O sentimento de ter sido “abençoado”
incentivou a formação de tais “cooperativas” so- por indústrias de exportação no meio do mais
mente para as indústrias exportadoras com o ar- seco sertão e de ter tido seu poder de compra ele-
124 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 18 Nº. 53

vado foi, no período de dez anos, substituído pelo rica. Subemprego, trabalho informal, trabalho pre-
sentimento de estar excluído de direitos disponí- cário ou precarização são termos possivelmente
veis para a maioria dos trabalhadores brasileiros. úteis para descrever situações ou processos gerais
Pessoas que estavam habituadas à “velha in- que marcam determinadas épocas ou regiões,
formalidade” do trabalho até o final dos anos de mas são insuficientes para entender a gama de
1980 experimentaram, na década seguinte, a “in- contratos atípicos. Ou seja, aqueles contratos do
formalidade da globalização” (e muitos se disse- setor privado que fogem do padrão legal – CLTis-
ram satisfeitos e agradecidos por isso34) e agora se ta, no caso brasileiro. A diversidade de razões
sentem prejudicados por estarem em situação ile- para a CLT ser desrespeitada não pode ser restri-
gal – a “informalidade jurídica” –, enfrentando ta a nenhum fator em específico. A explicação
empresários e governantes preocupados com a neoclássica, aparentemente tão robusta, não con-
“informalidade neoclássica”. segue resolver o problema da legitimidade da lei,
sobretudo daquelas cujas práticas reiteradas re-
produzem a todo momento padrões contratuais
Considerações finais do passado. E não poderia ser diferente. Novos
padrões contratuais nascem inspirados nos velhos
Dada a complexidade da matéria proposta e, nesse sentido, são um excelente laboratório de
neste trabalho, não cabe propriamente uma con- criação normativa.
clusão, mas apenas sugerir alguns pontos para Por sua dimensão, o trabalho “informal”
tornar o debate sobre contratos informais ou atí- (sem registro) é um problema econômico e social
picos mais frutífero. Num país com regiões que no Brasil, mas, em contrapartida, o trabalho formal
ainda enfrentam a transição de uma economia de também está fortemente enraizado no país. Aqui,
subsistência para uma economia moderna e urba- o contrato de trabalho é matéria de lei, mais que
na, qualquer noção de contrato de trabalho legí- de contrato coletivo. Juízes dessa área criticam
timo está em permanente e rápida mutação, o que com freqüência a detalhada legislação nacional,
potencializa o caráter provisório de qualquer pes- mas a maioria deles não pretende que se abando-
quisa empírica sobre o tema. ne os princípios subjacentes à noção de “empre-
Não só no Brasil, as noções do lícito, do jus- gado”, particularmente a noção de subordinação.
to, do aceitável estão em constante mudança, e Os economistas (refiro-me ao mainstream neo-
mais ainda em períodos como o atual, no qual a clássico) tentam abstrair a legislação trabalhista e
economia e o cenário ideológico internacional propor um amplo programa de “desregulamenta-
trazem para a pauta novas noções de contratos de ção”, mas suas propostas enfrentam o “fardo” de
trabalho. Nesses momentos, a discussão sobre a um modelo de relações de trabalho não contra-
legitimidade dos contratos (legitimidade essa tual, no qual a condição de “assalariado” é a base
oriunda das noções populares de contratos “jus- da cidadania. Com isso, retiram a cidadania social
tos” ou “aceitáveis”) não pode ser obscurecida pe- da esfera do contrato, sem transferi-la para outras
los debates tradicionais no âmbito do direito e da esferas. De forma reativa, os sindicalistas tentam
economia sobre a legalidade e a eficiência econô- manter o conjunto de direitos constitucionais e da
mica dos contratos. Ao contrário, para compreen- CLT. Contudo, para fazer valer seus argumentos
der o fenômeno da “informalidade”, ou melhor, eles precisam de propostas que solucionem a “in-
dos contratos atípicos, é essencial a compreensão formalidade” endêmica e que considerem aspec-
daquilo que escapa à razão do economista e do tos de eficiência. Os políticos locais podem pac-
jurista, isto é, o balanço efetivamente elaborado tuar com empresários que desrespeitem a lei, seja
pelas partes dos contratos entre as noções de efi- por interesses eleitorais (Tendler, 2002), seja para
ciência e justiça. incentivar a criação de novos padrões contratuais,
Procuramos mostrar neste texto que a maté- mas eles vivem num Estado federado onde a lei
ria vem sendo tratada de forma por demais gené- trabalhista sempre foi nacional. Esbarram, portan-
“INFORMAL”, ILEGAL, INJUSTO 125

to, em um tema fora da pauta, a saber, a estadua- NOTAS


lização das leis trabalhistas.
A legislação do trabalho é uma referência 1 Trata-se da pesquisa “A ‘Informalidade’ e os Contra-
nacional. Assim, a despeito das práticas, das tra- tos de Trabalho Legítimos segundo a Economia, o
dições e das realidades regionais, a noção popu- Direito e o Senso Comum”, financiada pela Fapesp
lar de “contrato justo” tem sido influenciada pelos desde maio de 2002. Essa pesquisa envolve cinco
princípios legais nacionais, rapidamente assimila- subprojetos e tem apoio de estudantes de gradua-
dos pelas populações e, por outro lado, pela no- ção e pesquisadores de pós-graduação. Agradeço,
ção de eficiência que o mercado impõe com o au- particularmente, a Antonia Celene Miguel e Karen
mento da competição nacional e internacional. Artur pelos subsídios à pesquisa, bem como aos
Do ponto de vista teórico, o desafio enfren- alunos de graduação envolvidos no trabalho.
tado é o entendimento da forma pela qual as no- 2 Ferrara (1993, cap. 3) distingue dois sistemas de Es-
ções conflitivas de eficiência e justiça são resolvi- tado de Bem-Estar: ocupacional e universal. A Fran-
das em contratos entre desiguais35 em mercados ça e a Suécia são, respectivamente, os mais repre-
dominados pela irregularidade, nos quais os ato- sentativos de cada um desses modelos. A
res já supõem que a lei não precisa ser cumprida, Alemanha, a Áustria e a Bélgica também são classi-
dada as práticas reiteradas de empreendimentos ficados como “ocupacionais”. Outros países como
similares que operam com algum grau de sucesso Suíça, Itália, Holanda e Irlanda são considerados
e com baixo risco de punição.36 Contudo, apesar modelos mistos.
da “informalidade”, a lei continua sendo uma re- 3 Até o início dos anos de 1980 o fenômeno hoje
ferência na formação das preferências das partes identificado como trabalho “informal” era classifica-
contratantes. As análises institucionais históricas e do principalmente como subemprego. Para um ba-
a sociologia econômica têm reforçado essas idéias lanço extensivo que retrata o debate econômico da
de path dependency seja por sua construção teó- época, ver Hoffmann (1980) e Jatobá (1990). Cada
rica, seja pelas evidências empíricas.37 um dos conceitos é mais adequados a um tipo de
Do ponto de vista empírico, o desafio é a relação de trabalho, mas têm sido usados de forma
construção de uma tipologia contratual capaz de relativamente indiscriminada e com limites pouco
retratar e explicar as diferentes razões que levam definidos. De todo modo, a utilização do termo “in-
à não observância da lei. É nesse sentido que as formalidade” vem, desde meados da década de
abordagens predominantes sobre informalidade 1980, se sobrepondo ao termo subemprego, já que
falham. Interpretações radicalmente concorrentes este último seria uma das formas da “informalida-
como as que apresentamos são menos incompa- de”. Voltaremos a essa questão na segunda seção
tíveis do que parecem, pois cada uma delas retra- deste estudo.
ta as razões e as origens de determinados tipos de 4 Média de seis áreas metropolitanas (IBGE-PNAD).
contratos atípicos. 5 Esses dados contestam a idéia prevalecente de que
Se as hipóteses defendidas neste texto esti- a “informalidade” era (ou é) predominante no Bra-
verem corretas, as políticas públicas destinadas à sil. Embora esse não seja o foco deste artigo, vale a
redução da “informalidade” (contratos ilegais ou pena destacar essa distorção promovida na mídia
não previstos em lei) terão de atuar de forma se- do significado dos dados.
letiva de acordo com os tipos de trabalho “infor- 6 Para uma revisão da literatura, ver Jatobá (1990), Tok-
mal” encontrados, e, para isso, a tarefa empírica man (1990), Mesa-Lago (1990) e Cacciamalli (1983).
de definir e dimensionar os diversos tipos de con- 7 Mario Theodoro lembra-nos a história peculiar do
tratos atípicos terá de ser feita. termo, criado pela OIT e disseminado na comuni-
dade acadêmica e entre os institutos de pesquisa.
8 No original: “[…] the extent to which such opportu-
nities (to profit with ‘informal’ activities) are trans-
formed into ‘informal’ enterprise depends on the
126 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 18 Nº. 53

capacity of communities to mobilize the social re- 18 Talvez nenhum autor brasileiro possa ser claramen-
sources necessary to confront state enforcement te identificado como representante dessas teses,
and ensure smooth market transactions”. mas ela aparece com um componente relevante da
9 Harding e Jenkins (1989) criticam não apenas o uso explicação do crescimento da “informalidade” re-
de conceitos correlatos a “informal”, como econo- cente em várias obras.
mia subterrânea ou escondida, mas também a for- 19 Barbier (2002) faz um balanço crítico do uso, para
ma dual e estanque de definição desses mercados. fins científicos, do termo “precariedade” na França.
10 Segundo a OIT, muitos países (21 em 54) definem a O autor aponta a existência de diversos significados
“economia informal” a partir do não registro da em- do termo ao longo dos últimos trinta anos. Além
presa, sendo o “emprego informal” aquele ofertado disso, seu texto nos permite perceber a especifici-
por essas empresas (International Labour Office, dade dos conceitos e da terminologia acadêmica so-
2002). bre contratos atípicos em cada país, uma vez que o
11 Os exemplos são inspirados nas diversas situações autor foi justamente motivado pela sua percepção
“informais” que detectamos na pesquisa referida na da especificidade do conceito em torno do termo
nota 1. precarité na França.
12 Baseado em dados da dissertação de mestrado de 20 Dois bons exemplos de interpretações que mostram
Celine Claro, em fase final de redação. as “anomias estruturais” dos Estados Latino-ameri-
13 Essa é uma das preocupações que moveram o deba- canos para fazerem as instituições governamentais
te de Alan Supiot com diversos pesquisadores, o qual (incluindo a lei) operarem propriamente são os tra-
resultou em uma obra de referência (Supiot, 2001). balhos de Malloy (1993) e Santos (1992). Porém,
14 Na verdade, a pesquisa ainda não levantou evidên- suas análises não tratam dos mercados de trabalho,
cias empíricas sobre isso. A afirmação baseia-se so- mas dos Estados. Alguns analistas do tema, como
bretudo na doutrina jurídica e não em decisões do Camargo e Amadeo (1993) e Noronha (2000), ten-
judiciário brasileiro. tam evitar explicações unilaterais, pró ou anti-regu-
15 Uriarte e Alvarez (2001) discutem o quanto o con- lação, mas, no Brasil, o debate acadêmico ainda
ceito de subordinação como fundamento do direito está muito restrito.
do trabalho estaria sendo superado por novas prá- 21 A vertente positiva tem como o expoente mais po-
ticas organizacionais, novas tecnologias e novas pular Rifkin (1996). Além dele, a escola da regula-
concepções de trabalho. Suas análises e conclusões, ção ao enfatizar as rupturas com o pós-fordismo
entretanto, não apontam para nenhum princípio tende também a destacar os novos padrões de em-
que o substitua. Ao contrário, os autores apontam prego. O mesmo vale para autores que tratam das
para a possibilidade da extensão do âmbito de atua- rupturas da modernidade, como Giddens (1990).
ção do direito do trabalho (e, portanto, dos concei- No Brasil, não acreditamos que haja um represen-
tos de tutela e subordinação) para toda a forma de tante típico dessas correntes. Contudo, a partir de
trabalho humano. pressupostos e preocupações diversas, os pesquisa-
16 O melhor exemplo dessa abordagem encontra-se dores do GT “Trabalho e Sociedade” da Anpocs
em Hoffmann (1980). Mas praticamente todos os produziram, ao longo dos últimos anos, diversos
sociólogos e economistas que trabalharam com o trabalhos sobre as mudanças tecnológicas e admi-
tema tomaram o subemprego como um importante nistrativas. Recentemente Nadia Guimarães e Scott
componente da “informalidade”. Martin reuniram em um livro estudos sobre compe-
17 Não se pode dizer que os economistas brasileiros te- titividade internacional, direitos sociais e desenvol-
nham uma interpretação particular da abordagem vimento (2001). Com outros pressupostos e preocu-
neoclássica. Contudo, Pastore (1994) é o mais cita- pações (valorização do empreendedorismo versus
do autor entre os economistas críticos da legislação estabilidade do velho gerente) Roberto Grün (2000)
do trabalho. Outros autores, porém, como Amadeo discute as rupturas na forma pela qual a classe mé-
e Camargo (1996), adotam esse argumento de for- dia percebe as relações de trabalho. Outro tema
ma secundária e complementar. que tem interessado cada vez os pesquisadores da
“INFORMAL”, ILEGAL, INJUSTO 127

área são os sistemas cooperativos propostos pela 30 Veja entrevistas realizadas pela pesquisa “Desenvol-
economia solidária (ver Singer, 2002). Nenhum dos vimento e upgrading de cadeias produtivas e rela-
autores, contudo, considera as diversas mudanças ções de trabalho: a cadeia de calçados” (Ipea), de-
por eles assinaladas exclusivamente positivas ou senvolvida por Eduardo G. Noronha e Lenita
negativas. A vertente negativa está mais bem repre- Turchi. O relato sobre o caso do Ceará baseia-se es-
sentada por alguns autores de inspiração marxista, sencialmente nessa pesquisa.
que tendem a enfatizar os fatores desestabilizadores 31 Ver artigo de José Antonio Parente da Silvano no
da globalização sobre as práticas contratuais do Diário do Nordeste, 20/10/1997.
mercado de trabalho. Entre os economistas do tra- 32 Ver artigo de Almir Pazzianotto Pinto no Correio
balho, Dedecca é um dos mais críticos dos efeitos Brasiliense, 4/6/1997.
do capitalismo moderno sobre os mercados de tra- 33 Os inspetores das DRTs podem agir após (1) denún-
balho (1996). cia normalmente feita por trabalhadores ou sindica-
22 Com as expressões “senso comum” ou “visão popu- tos e (2) programa de ação definido pelo Ministério
lar” referimo-nos às interpretações não especializa- do Trabalho e do Emprego (Mannrich, 1991).
das da formalidade ou “informalidade”, isto é, ex- 34 Ver entrevistas da pesquisa “Desenvolvimento e up-
cluímos fundamentalmente as interpretações dos grading de cadeias produtivas e relações de traba-
juristas e dos economistas, mas inserimos no senso lho: a cadeia de calçados” (Ipea).
comum as interpretações dos empregados e dos 35 Temos como pressuposto, evidentemente, que a no-
empregadores em geral. ção de “subordinação” continua sendo o eixo prin-
23 Não é nossa intenção mensurar a quantidade de tra- cipal na distinção entre prestação de serviço e con-
balho ilegal no Brasil no sentido de “criminoso”, até trato de trabalho a despeito de muitos contratos de
porque não há dados disponíveis. Mas, é certo que trabalho estarem sendo transformados em contratos
as atividades criminosas representam a menor par- de prestação de serviços por meio das terceiriza-
te da “informalidade” no Brasil. ções e não obstante os discursos administrativos
24 Todos os exemplos apresentados nesta parte são ba- que reforçam as noções de parcerias entre empre-
seados em entrevistas realizadas pela pesquisa já re- gados e empresas. Isto é, apesar das mudanças
ferida (nota 1). reais e discursivas sobre a condição de subordina-
25 Elster já havia identificado esse princípio de justiça ção dos empregados, supomos que a grande maio-
em The cement of society, 1989. ria dos contratos de trabalho continuam tendo di-
26 Dados do Sebrae, analisados por Elson Pires, mos- versas das características que definem
tram a grande proporção de colapso de pequenas subordinação.
empresas com menos de um ano de existência (Ce- 36 Na verdade o MTE tem alterado sua prática de fisca-
brap e Desep-Cut, 1994). lização, buscando torná-las mais eficientes e menos
27 Baseado em dados da dissertação de mestrado de punitivas. De todo modo, tal afirmação ainda está
Celine Claro, em fase final de redação. para ser provada e será matéria de outro artigo des-
28 No original: “the idea of satisfaction [explains] some ta pesquisa.
individual decisions better than maximizing, such as 37 No campo da ciência política ou da sociologia eco-
when workers take the first available job that meets nômica vários balanços de literatura reforçam essa
their minimum expectations [...]”. idéia, aliás presente tanto no “velho” como no
29 A Lei 5.764 de 1997 institui o regime das cooperati- “novo” institucionalismo. Ver a esse respeito, por
vas, sendo alterada pela Lei 8.949 de 1994. Tal alte- exemplo, Dimmaggio e Powell (1991), Thelen e
ração visava à criação de empregos e era apoiada Steinmo (1992) e Scott (1995); particularmente so-
por boa parte dos sindicalistas. Contudo, a prolife- bre a relação entre leis, normas e mercados, ver
ração de denúncias sobre falsas cooperativas levou Suntein (1997).
muitos a denunciá-las como inconstitucional. Atual-
mente, no Congresso Nacional, há projetos de alte-
ração e de revogação da lei.
128 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 18 Nº. 53

BIBLIOGRAFIA ELSTER, J. (1989), The cement of society: a study


of social order. Cambridge, Cambridge
AMADEO, E. & CAMARGO, J. M. (1996), “Institui- University Press.
ções e o mercado de trabalho no Bra- GEREFFI, G. (1995), “Global production systems
sil”, in J. M. Camargo (org.), Flexibilida- and third world development”, in B.
de do mercado de trabalho no Brasil, Stallings (ed.), Global change, regional
Rio de Janeiro, Editora Getúlio Vargas, response: the new international context
pp. 47-94. of development, Cambridge, Cambridge
BARBIER, J.-C. (2002), “A survey of the use of the University Press, pp. 100-142.
term precarité in French economics and GIDDENS, A. (1990), As conseqüências da moder-
sociology”. Document de Travail – nidade. São Paulo, Edusp.
CNRS/Centre d'étude de emploi, vol.
GRUN, R. (2000), “Em busca da nova pequena
19, p. 37. burguesia brasileira”. Dados, 43 (2):
CACCIAMALLI, M. C. (1983), Setor informal e as 345-372.
formas de participação da produção. GUIMARÃES, N. A. & MARTIN, S. (eds.). (2001),
São Paulo, IPE/USP. Competitividade e desenvolvimento: ato-
CAMARGO, J. M. & AMADEO, E. (1993), “Labour res e instituições locais. São Paulo, Sena-
legislation and institutional aspects of ced.
the Brazilian Labour Market, in OIT e HARDING, P. & JENKINS, R. (1989), The myth of
IIEL (eds.), Reestruturación y regula- the hidden economy: towards a new un-
ción institucional del mercado de traba- derstanding of informal economic acti-
jo en América Latina, Genbra/Buenos vity. Milton Keynes, Open University
Aires, OIT – Organizacion Internacional Press.
del Trabajo/IIEL- Instituto Internacional HOFFMANN, H. (1980), Desemprego e sub-empre-
de Estudios Laborales (serie de Investi- go no Brasil. São Paulo, Ática.
gación 98).
INTERNATIONAL Labour Office. (2002), Decent
CASTEL, R. (1998), As metamorfoses da questão work and the informal economy. Gene-
social: uma crônica do salário. Petrópo- va, ILO.
lis, Vozes.
JATOBÁ, J. A. (1990), “Pesquisa sobre mercado de
CEBRAP; C.B.D.A.E.P. & DESEP-CUT (eds.). trabalho na América Latina: o estado
(1994), “Reestruturação produtiva e no- das artes”. Literatura Econômica, 12: 3-
vos padrões nas relações capital-traba- 106.
lho”. São Paulo, Cebrap, Cadernos de
KERR, C. & STAUDOHAR, P. (eds.). (1996), Labor
Pesquisa. economics and industrial relations:
DEDECCA, C. S. (1996), “Desregulação e desem- market and institutions. Cambridge,
prego no capitalismo avançado”. São Massachusetts, Harvard University
Paulo em Perspectiva, 10 (1): 13-20. Press.

DIMAGGIO, P. & POWELL, W. W. (1991), “Intro- LAMOUNIER, V. L. (1988), Da escravidão ao tra-


duction”, in P. Dimaggio e W. W. Po- balho livre: a lei de locação de serviços
well (eds.), The new institutionalism in de 1879. Campinas, Papirus.
organizational analysis, Chicago, Uni- MALLOY, J. (1993), “Política econômica e o pro-
versity of Chicago Press, pp. 1-38. blema da governabilidade democrática
“INFORMAL”, ILEGAL, INJUSTO 129

nos Andes Centrais”, in L. Sola (org.), SCOTT, W. R. (1995), Institutions and organiza-
Estado, mercado e democracia: política tions. Londres, Sage.
e economia separadas, Rio de Janeiro,
SINGER, P. (2002), Introdução à economia solidá-
Paz e Terra, pp. 97-126.
ria. São Paulo, Fundação Perseu Abra-
MANNRICH, N. (1991), Inspeção do trabalho. São mo.
Paulo, LTr.
SUNTEIN, C. R. (1997), Free markets and social
MESA-LAGO, C. (1990), “Protecccion del sector justice. Nova York/Oxford, Oxford Uni-
informal en America Latina y el Caribe versity Press.
por la seguridad social o medios alter-
SUPIOT, A. (ed.). (2001), Beyond employment:
nativos”, in O. P.-P. M. D. Empleo (ed.),
changes of work and the future of la-
Mas alla de la regulación: el sector in- bour law in Europe. Oxford, Oxford
formal en América Latina, Santiago, University Press.
OIT, pp. 277-318.
TENDLER, J. (2002), “Small firms, the informal
NORONHA, E. G. (2000), Entre a lei e a arbitra- sector, and the devil’s deal”. IDS Bulle-
riedade: mercados e relações de traba- tin, 33 (3).
lho no Brasil. São Paulo, LTr.
THELEN, K. & STEINMO, S. (1992), “Historical
PASTORE, J. (1994), Flexibilização dos mercados institutionalism in comparative politics”,
de trabalho e contratação coletiva. Sao in S. Steinmo, K. Thelen, et al. (eds.),
Paulo, LTr. Structuring politics: historical institutio-
PITT, G. (1995), Employment law. Londres, Sweet nalism in comparative analysis, Cam-
& Maxwell. bridge, Cambridge University Press.

POLANYI, K. (1944), The great transformation: TOKMAN, V. E. (1990), “Sector informal en


the political and economic origins of América Latina: de subterráneo a le-
our time, Boston, Beacon Press. gal”, in O. P.-P. M. D. Empleo (ed.),
Mas alla de la regulación. el sector in-
PORTES, A. (1996), “The informal economy and
formal en América Latina, Santiago,
its paradoxes”, in N. Smelser e R.
OIT, pp. 3-23.
Swedberg (eds.), The handbook of eco-
nomic sociology, Princeton, Princeton URIARTE, O. E. & ALVAREZ, O. H. (2001), “Apun-
University Press, pp. 403-425. tes sobre los questionamientos al con-
cepto de subordinación”. Revista de Di-
RIFKIN, J. (1996), O fim dos empregos. São Paulo,
reito do Trabalho, 27 (103), jul.-set.
Makron.
SANTOS, W. G. D. (1992), Razões da desordem.
Rio de Janeiro, Rocco.
RESUMOS / ABSTRACTS / RÉSUMÉS 179

“INFORMAL”, ILEGAL, INJUS- “INFORMAL,” ILLEGAL, “INFORMEL”, ILLEGAL,


TO: PERCEPÇÕES DO MERCA- UNFAIR: WORK MARKET INJUSTE : PERCEPTIONS DU
DO DE TRABALHO NO PERCEPTIONS IN BRAZIL MARCHÉ DU TRAVAIL AU
BRASIL. BRÉSIL.

Eduardo G. Noronha Eduardo G. Noronha Eduardo G. Noronha

Palavras-chave Key words Mots-Clés


Informalidade; Mercado de Informality; Work market; conomi- Informalité; marché de travail; So-
Trabalho; Sociologia Econômica. cal-Sociology. ciologie économique.

Neste artigo discutimos os diferentes This paper discusses the different Dans cet article, nous abordons les
significados de formalidade e “infor- meanings of formality and “infor- différents sens de la formalité et de
malidade”, bem como as noções de mality,” as well as the notions of l’“informalité”, ainsi que les notions
contratos de trabalho legítimos. legitimate work contracts. It aims at de contrats de travail légitimes.
Busca-se redefinir o conceito de redefining the concept of “informal- Nous cherchons à définir le concept
“informalidade” com base nos difer- ity” based on the different principles d’“informalité” suivant les différents
entes princípios que guiam as inter- that conduct the interpretations of principes qui guident les interpréta-
pretações de economistas, juristas e economists, jurists, and the public tions des économistes, des juristes et
da opinião pública. Primeiramente, opinion. Firstly, it presents a brief de l’opinion publique. Nous pro-
faz-se um breve resumo do surgi- summary on the appearance of the posons, tout d’abord, un bref
mento da “informalidade” como “informality” as social problem; résumé de l’apparition de l’“infor-
problema social, e, em seguida, crit- then, it criticizes the use of such malité” en tant que problème social
ica-se o uso desse conceito, dada a concept, given the diversity of con- pour, ensuite, critiquer l’emploi de
diversidade de situações contratuais tractual situations included in it. It ce concept, étant donné la diversité
abarcada por ele. Argumenta-se, also points out the necessity of ana- des situations contractuelles qu’il
ainda, sobre a necessidade de se lyzing the popular notions of a “fair” englobe. Nous rappelons, égale-
analisar as noções populares de work contract because the interpre- ment, le besoin d’une analyse des
contrato de trabalho “justo” por tations are related to economical notions populaires de contrat de tra-
serem acepções que se relacionam and juridical notions of legitimate vail “juste” car il s’agit d’acceptions
com noções econômicas e jurídicas contracts. It finally examines the qui ont un rapport avec les notions
de contratos legítimos. Examinamos, analytical difficulties on the theme économiques et juridiques de con-
por fim, as dificuldades analíticas do due to the diversity of processes that trats légitimes. Finalement, nous
tema devido à diversidade de generates relationships of “informal- examinons les difficultés analytiques
processos que geram as relações de ity” in Brazil. It points out, then, the du thème dues à la diversité des
“informalidade” no Brasil. Aponta- necessity of intensifying the aca- processus à la source des rapports
se, pois, para a necessidade de se demic dialog among economists, d’“informalité” au Brésil. Nous
intensificar o diálogo acadêmico jurists, and social scientists, in order indiquons, donc, le besoin d’intensi-
entre economistas, juristas e cientis- to better understand those atypical fier le dialogue académique entre
tas sociais para uma melhor com- contracts. les économistes, les juristes et les
preensão dos contratos atípicos. scientistes sociaux pour une
meilleure compréhension des con-
trats atypiques.

Anda mungkin juga menyukai