Aula Demonstrativa
Prof. Antonio Nóbrega
Repare, candidato, que nas duas próximas aulas nosso objetivo será
trabalhar a Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) sob uma ótica
diferenciada, com apontamentos dos dispositivos legais que apresentam uma
carga de conteúdo que pode ser incorporado em uma questão de concurso.
É certo, também, que a mera apresentação ou menção a artigos, que
visem a simplesmente fazer com que o candidato memorize o texto legal,
poderá causar alguns problemas no momento da realização da prova,
principalmente quando ocorrer o tão temido “branco” em hora de nervosismo.
Torna-se necessária, então, uma leve abordagem doutrinária sobre alguns
temas, principalmente aqueles que apresentam especificidades não encontradas
usualmente pelos candidatos. Alguns termos e expressões, utilizados na
redação das normas, que serão debatidas nas aulas seguintes, exigem um
conhecimento pontual para sua total compreensão.
Com uma boa base de conhecimento teórico, será possível ao candidato
analisar uma questão e, mesmo que não se recorde com exatidão do texto
legal, deduzir qual é a opção correta (ou pelo menos quais respostas estão
possivelmente erradas).
Para reforçar o conhecimento que será discutido nas aulas seguintes,
serão apresentados exemplos e exercícios, muitos retirados das provas de
concursos anteriores.
Recomendamos, desde já, que a leitura dos artigos das Leis, Decretos e
Resoluções citados seja feita repetidamente pelo candidato e em conjunto com
o estudo de nossas aulas. Tal tarefa inicialmente parecerá enfadonha e
cansativa, mas vou lhe dar uma dica: procure sublinhar os dispositivos mais
relevantes e aqueles que realmente têm chance de serem explorados pela
banca, para que na segunda leitura você possa se limitar a tais artigos,
repetindo-os em voz alta e dando uma aula para si mesmo.
E então candidato, vamos começar nosso caminho em direção à
aprovação?
AULA DEMONSTRATIVA
De acordo com o que foi debatido até agora, torna-se evidente a vocação
constitucional do CDC, já que nasceu em virtude de disposições previstas na
Constituição Federal de 1988. Com efeito, a natureza diferenciada da Lei nº
8.078/90 gera consequências no modo de interpretação dessa norma, na
interação com outras leis e no seu papel dentro do sistema jurídico nacional.
Diante deste quadro, é relevante atentar para a natureza
principiológica do Código de Defesa do Consumidor, o que significa dizer que
2.2 Microssistema
Natureza principiológica
Microssistema jurídico
“(...) Mesmo nas relações entre pessoas jurídicas, se da análise de hipótese concreta decorrer
inegável vulnerabilidade entre a pessoa-jurídica consumidora e a fornecedora, deve-se aplicar o
CDC na busca do equilíbrio entre as partes. Ao consagrar o critério finalista para interpretação
do conceito de consumidor, a jurisprudência deste STJ também reconhece a necessidade de, em
situações específicas, abrandar o rigor do critério subjetivo do conceito de consumidor, para
admitir a aplicabilidade do CDC nas relações entre fornecedor e consumidores-empresários em
que fique evidenciada relação de consumo.(...)” (STJ, 3ª Turma, REsp 476.428/SC, 09/05/05)
“(…) consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire produto como destinatário final
econômico, usufruindo do produto ou do serviço em benefício próprio. Excepcionalmente, o
profissional freteiro, adquirente de caminhão zero quilômetro, que assevera contar defeito,
também poderá ser considerado consumidor, quando a vulnerabilidade estiver caracterizada por
alguma hipossuficiência quer fática, técnica ou econômica.(...)” (STJ, 3ª Turma, REsp
1080719/MG, 17/08/09)
Por fim, é relevante frisar que parte da doutrina refere-se tão somente às
teorias maximalista e finalista. Nesta linha, a possibilidade de aplicação das
regras consumeristas em casos onde o produto ou serviço é utilizado, por
exemplo, na atividade econômica de uma empresa ou para o exercício de uma
profissão, e uma das partes é flagrantemente mais fraca que a outra, configura
apenas um abrandamento da teoria finalista.
Para melhor ilustrar esta situação, vamos imaginar que uma pessoa tenha
comprado em uma padaria diversos salgadinhos e doces para uma festa.
Contudo, tais alimentos não estavam bem conservados por aquele
estabelecimento comercial, o que causou uma intoxicação generalizada em
diversos convidados do evento.
Indaga-se: somente o comprador dos salgadinhos e doces estaria
amparado pelo Código de Defesa do Consumidor? Ou seja, em uma eventual
ação judicial, somente ele poderia ser beneficiado pelas regras previstas na Lei
nº 8.078/90, enquanto os convidados da festa seriam submetidos às normas
previstas no Código Civil?
A resposta é negativa.
Nos termos do dispositivo legal em comento, basta que a coletividade
de pessoas tenha, de alguma forma, participado da relação de consumo
para que sejam aplicadas as normas do CDC.
Perceba candidato, que, de acordo com o próprio texto legal, não há
necessidade de identificar cada uma das pessoas da coletividade que, de algum
modo, interveio na relação de consumo. Com efeito, busca-se a proteção dos
grupos de pessoas, ainda que indefinidas, expostas a produtos e serviços
colocados à disposição do público em geral.
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CURSO DE ATENDIMENTO PARA O BANCO DO BRASIL
PROFESSOR: ANTONIO NÓBREGA
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Para que uma atividade escape ao conceito de serviço nos termos do §2º
do art. 3º da Lei nº 8.078/90, é necessário que, direta ou indiretamente, o
prestador não tenha se ressarcido dos custos ou obtido qualquer tipo de lucro.
Para melhor ilustrar esta situação, podemos imaginar um professor que dá aulas
particulares gratuitamente para amigos de seu filho ou uma cozinheira que nos
sábados prepara o jantar para vizinhos sem cobrar para tanto.
Outro ponto relevante refere-se às relações de caráter trabalhista. Nesta
situação particular, entende-se que, se um serviço é prestado em virtude de
contrato de trabalho, também não se pode considerar a aplicação do CDC. De
fato, haverá um vínculo de subordinação e dependência, devendo-se observar
as regras consignadas na CLT.
É curioso notar que o legislador optou por incluir expressamente as
atividades de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, para que
não houvesse questionamento na aplicação das regras consumeristas a estes
casos. Assim, contratos de financiamento, de seguro, empréstimos, títulos de
capitalização, leasing, dentre outros que tem origem no Sistema Financeiro
Nacional, em regra, deverão observar as regras positivadas no CDC. Da própria
redação do §2º do art. 3º e possível inferir tal ideia1.
Evidentemente, a referência a estas atividades é meramente
exemplificativa e não afasta a incidência de outras inúmeras hipóteses que
podem ser consideradas serviços nos termos do §2º do art. 3º da Lei nº
8.078/90.
Para concluir, é importante notar que, em relação às instituições
financeiras, tais como o Banco do Brasil, foi ajuizada uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (2.591-1) para questionar a aplicação do CDC nas
atividades financeiras desempenhadas por tais entidades. Aquela ação foi
julgada improcedente pelo Supremo Tribunal Federal. Neste passo, merece
destaque a Súmula 297 do STJ, que dispõe que “O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.
1
Para complementar, saliente-se que as entidades de previdência privada também devem
observar as regras positivadas na Lei nº 8.078/90 na relação com aqueles que utilizam seus
serviços e produtos. Tal tema, inclusive, encontra-se disposto na súmula 321 do STJ (“o Código
de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica entre a entidade de previdência privada
e seus participantes”)
5) Exercícios
Gabarito
Questão 1 – E
Questão 2 - C
Questão 3 - C
Questão 4 - D
Questão 5 - A
Questão 6 - B
Questão 7 - A
Questão 8 - C
Comentários
Questão 1
A questão exige do candidato o conhecimento preciso do texto legal.
Assim, as opções “a”, “b”, “c” e “d” estão de acordo, respectivamente, com o
art. 2º, §1º e §2º do art. 3º e Parágrafo Único do art. 2º.
A alternativa “e” está incorreta. Como debatido, não há óbice para que os
serviços públicos sejam alcançados pelas regras e princípios do CDC. Para tanto,
é necessário que não ocorra o pagamento de um tributo, o que mudaria a figura
de consumidor para contribuinte. É oportuno frisar que, não obstante a
incidência de regras consumeristas, não há impedimento para que tais serviços
também sofram o influxo de normas de Direito Administrativo.
Questão 2
A alternativa correta é a letra “c”. Conforme o teor da parte inicial desta
aula, vimos que, de fato, a vulnerabilidade do consumidor diante das práticas
de mercado motivou o desenvolvimento da cultura de defesa do consumidor,
resultando na promulgação da Lei nº 8.078/90.
A letra “a” está equivocada, tendo em vista que menciona contrato de
locação, o qual escapa às regras do CDC.
Questão 3
Novamente exige-se do candidato o conhecimento do texto legal. O único
item incorreto é o III, já que se refere a “relações de caráter trabalhista”, o que
não se compatibiliza com o §2º do art. 3º da Lei nº 8.078/90.
Questão 4
O exemplo citado na opção “a” enquadra-se perfeitamente ao conceito
legal de relação de consumo. Deste modo, evidencia-se que aquele que se
utiliza dos serviços de hospedagem de um estabelecimento voltado para tal
atividade será considerado como consumidor, o que indica a inexatidão daquela
assertiva.
A opção “b” também está equivocada. De fato, para que seja classificado
como consumidor, a pessoa, física ou a jurídica, deve utilizar o produto ou
serviço como destinatário final, nos termos do art. 2º do CDC.
No tocante à alternativa “c”, o contrato de locação, como já dissemos, não
se submete às regras consumeristas.
A assertiva “d” está correta, de acordo com o entendimento predominante
na doutrina e jurisprudência. Ou seja, ainda que se utilize o produto em sua
atividade econômica, é patente a hipossuficiência de uma das partes, o que
demanda a aplicação das regras positivadas no CDC.
A opção “e” está em descompasso com o Parágrafo Único do art. 2º, pois
afirma que a coletividade de pessoas deve ser determinável.
Questão 5
A alternativa “a” está em harmonia com o que foi tratado em nossa aula,
quando afirmamos que, muitas vezes, não obstante ser gratuito, o serviço pode
ter seu custo repassado, de alguma forma, ao consumidor.
A opção “b” está em descompasso com o Parágrafo Único do art. 2º,
enquanto a opção “c” é contrária à redação do caput daquele dispositivo.
A possibilidade de a pessoa jurídica ser fornecedora já foi discutida. De
fato, se houver pagamento pela prestação de um serviço público, é certo que
incidirão as regras do CDC.
Para a aplicação da Teoria maximalista, é necessário somente que a
pessoa física ou jurídica utilize o produto ou serviço como destinatário final. Ou
seja, tal teoria defende uma aplicação mais ampla da Lei nº 8.078/90.
Questão 6
A questão exige somente o conhecimento da redação do art. 2º do CDC,
que está em harmonia com a opção “b”.
Questão 7
Dentre todos os contratos apresentados nas cinco assertivas, o único que
não pode ser classificado como serviço é o contrato de locação residencial
(opção “a”), que se encontra disciplinado por diploma legal próprio (Lei nº
8.245/91).
Frise-se que os serviços mencionados nas letras “b”, “c” e “d” encontram-
se previstos no próprio §2º do art. 3º do CDC.
Questão 8
O fato de o vendedor do imóvel não exercer esta atividade de modo
profissional e com habitualidade descaracteriza o conceito de fornecedor, o que
indica a inexatidão da opção “c”. Todas as outras relações jurídicas
apresentadas na questão estão submetidas às normas e princípios trazidos pelo
CDC.
Bibliografia
ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. 4 ed. ver. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2003.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 10 ed. rev. e atual., São
Paulo: Saraiva, 2007.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 2º vol.: teoria geral das
obrigações. 18 ed. rev. e atual. de acordo com o novo Código Civil, São Paulo:
Saraiva, 2003.
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, 27 ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2010.