RT MFXY
CONCEITO E VALIDADE
DO DIREITO
L
0 tema central deste livro e a relacdo entre direito e mo
0 positivism° juridic° afirma que ambos devem ser
separados e que as definicOes tanto do conceito quanto
validade do direito devem ser isentas de moral. Robert
Alexy tenta mostrar que essa tese é incorreta. Existem
conexoes conceitualmente necessarias entre direito e moral
e existem razOes norrnativas para que as definicees de
direito e de validade do direit o incluam elementos morais.
Por isso, o positivismo juridico fracassaria como teoria
abrangente do direito.
A analise termina corn a proposta de uma definicao do
conceito de direito que retine de forma sistematica os
elementos da legalidade conforrne o ordenamento, da
eficacia social e da correcao material.
ISBN 978
I1
9 7 B8
wtnfmartinsfontes
OUTRAS OBRAS DE DIREITO
DO NOSSO CATALOGO
Filosofia critica e razdo juridica
Simon e Goy ard-Fabre
Homo juridicus
A lain S upiot
Problemas de filosofia do direito
Richard A . Posner
terpretacao da lei e dos atos juridicos
io Betti
titucionalizacao simbolica
N eves
sistemas juridicos
VI 0
'aria e seus criticos
•)s humanos
\ques
igualitario
to
CON
CEITO E VALIDADE
DO DIREITO
Robert Alexy
Organiza0o
ERNESTO GARZÓN VALDÉS, HARTMUT KLIEMT,
LOTHAR KUHLEN E RUTH ZIMMERLING
Traduláo
GERCÉLIA BATISTA DE OLIVEIRA MENDES
Reviso da tradulao
KARJNA JANNIN I
WMfmartinsfontes
edicao2009
2t tiragem2011
Traducao
GERCELI A BA TI STA DE OLI V EI RA M ENDES
Revisit) da traducao
Karina Jammu
Acompanhamento editorial
L uzia A pare cida dos S antos
Revisoes graficas
loamAAndrea S tahelM M
parecida . daCazar
artins S ilv a im
Producio grafica
Gera ldo A lves
Paginacio/Fotolitos
Studio 3 Desenv olinmente Editori al
Alexy, Robert
Conceito e validade do direito / Robert Alexy ; Organiza-
cio Ernesto Garzonlet all . ; tradu cao G ercelia B a-
tista de Oliveira Mendes. -Sao Paulo : Editora WMF Martins
Fontes, 2009. - (B ibliot eca juridica WMF)
1. Eficacia e vali
dade dalei 2. Positivism° juridic°I. Gar -
zOn Valdes, Emesto. II. Kliemt, Hartmut. III. Kuhlen, Lothar.
IV. Zimmerling, Ruth. V. Tftulo. VI. Serie.
09-06338 CDU-340.12
Indices para catalogo sistematico:
1. Concerto e validade do direito 340.12
Capítulo 1
O problema do positivismo jurídico
Capítulo 2
O conceito de direito
I. Conceitos de 101
1. 0 conceito validade ......................................
sociologic° de validade ......... 101
2. 0 conceito etico de validade .................... 103
3. 0 conceito juridic° de validade ............... 103
H. CoHsi:3es de validade ........................................ 105
1.Validade juridica e social.......................... 105
1.1. Sistemas normativos ................................ 105
1.2. Normas individuals ................................. 107
2.Validade juridica e moral.......................... 108
2.1. Sistemas normativos ................................ 109
2.2. Normas individuals ................................. 110
III. A norma fundamental 113
......................................
essaOideia
grande positivistafórmula:
na seguinte jurídico "Por
Hansisso,
Kelsen resumiu
todo e qual-
quer conteúdo pode ser direito."'
1. A INJUSTWA LEGAL
nor nao tern como fazer isso. Basta pensar, por exemplo,
em norrnas de urn regime injusto, normas essas estabe-
lecidas conforme o ordenamento e socialmente eficazes,
que exijam ou autorizem medidas que atentem contra os
7
2. AFORM
AcA0DO DIREI
TO
8. BVerfGE 34, 269 (286 s.). Corn efeito, cm decisoes ulteriores, relativas
a formacao judicial do direito, muitas vezes o Tribunal Constitucional Federal
mostrou-se mais moderado ao manifestar-se contra o enunciado da lei, mas
manteve sua admissibilidade fundamental;cf. BVerfGE 35, 263 (278 ss.); 37, 67
(81); 38, 3 86 (396 s.); 49, 304 (318 ss.); 65, 182 (190 ss.); 71, 354 (362 s.); 82 , 6
(11 ss.).
O PROBLEMA DO POSITIVISMO JURÍDICO 11
zacaoOssac)
conceitos
encontrados
de direito
sobretudo
orientados
no para
ambito
a normati-
da teoria
analitica do direito , ou seja, no campo das correntes da
teoria do direito que se dedicam, em primeiro lugar, a
analise logica ou conceitual da pratica jurldica. Enquan-
to a perspectiva do observador predomina nos concei-
tos de direito orientados para a eficacia, naqueles orien-
tados para a normatizacao e a perspectiva do partici-
pante, especialmente a do juiz, que esta em primeiro
piano.
Urn exemplo classic° de urn conceit° de direito
orientado para a normatizacao e o de John Austin. Se-
gundo ele, o direito compoe-se de comandos:
"Every law or rule.., is a command."'
8. Ibid., p. 89.
9. Ibid., pp. 86 s.
10. Ibid., p.221.
22 CONCEIT° E V A LIDA DE DO DIREITO
1. A TESE DASEPARAcA0
E A TESE DAVINCULAcA0
18. Poder-se-ja pensar num terceiro grupo, qual seja, o dos argumentos
empíricos. Todavia, observando-se mais atentamente, fica demonstrado que
os argumentos empíricos, em se tratando da definigáo do conceito de direito,
seja no sentido da tese da separagáo, seja naquele da tese da vinculagáo, tor-
nam-se parte integrante de argumentos analíticos ou normativos. É urna tese
empírica a que afirma que um sistema jurídico que no protege nem a vida,
nem a liberdade, nem a propriedade de um sujeito de direito qualquer no
tem perspectiva alguma de vigencia permanente. Mas a protegáo da vida, da
liberdade e da propriedade também é uma exigénc-ia moral. POrtanto, pode-se
dizer que o cumprimento de determinadas exigéncias morais mínimas é fac-
ticamente necessário para a vigéncia permanente de um sistema jurídico. O
argumento empírico conduz exatamente até esse ponto, e no além. Para lan-
gar a ponte até o conceito de direito, é preciso inseri-lo num argumento ana-
lítico que diga que, por raz5es conceituais, apenas os sistemas que tém urna
vigéncia permanente sáo sistemas jurídicos. Por outro lado, a insergáo num
argumento normativo acontece, por exemplo, guando, para determinada de-
finigáo de direito, apresenta-se como argumento a tese empírica de que de-
terminados objetivos, como a sobrevivéncia, só podem ser alcangados guan-
do o direito produz determinados conteúdos juntamente com a premissa nor-
mativa de que esse objetivo deve ser alcangado.
26 CONCE
IT° E VA
LIDADE DO DIREIT
O
2. UM QUADRO CONCEITUAL
2.5 Combinacoes
As quatro distincoes expostas, ou seja, entre urn con-
ceito de direito isento de validade e outro nao isento de
validade, entre norma e procedimento, entre observador
e participante e entre conexoes classificadoras e qualifi-
cadoras, ha que se acrescentar a quinta distincao, ja tra-
tada, entre urn contex t° conceitua lm ente ne cessdr io e outro
nor m ativam ente necessar io. Completa-se, assim, o quadro
conceitual. Ele torna claro que, corn a tese de que existe
uma relacao necessaria entre direito e moral, pode-se
querer dizer coisas muito diversas. Dentro desse quadro
sac) possfveis 3 2 combinacoes das caracterfsticas conti-
das nas cinco distincoes. Para cada combinacao é possf-
vel formular tanto a tese de que existe uma relacao ne-
cessaria quanto a de que ela ndo existe. S endo assim, ha
ao todo 64 teses. No entanto, entre essas 64 teorias exis-
tern, sem dtivida, algumas relacOes implicativas, de modo
que a verdade ou a falsidade de algumas das teses impli-
ca a verdade ou a falsidade de outras. Alem disso, e pos-
sive' que algumas combinacoes sejam conceitualmente
impossfveis. Todavia, isso nao muda ern nada a nocao
fundamental de que na polemica sobre as relacoes ne-
cessarias entre direito e moral ha uma pluralidade de
afirmacoes distintas. Uma explicacao para a ausencia de
resultados nessa polemica seria o fato de seus partici-
pantes muitas vezes nao reconhecerem que a tese que
defendem é totalmente diferente da que atacam, de modo
que acabam travando discursos paralelos. Essa explica-
c5o ganha ainda mais plausibilidade quando se conside-
ra que, alem das cinco distincoes aqui apresentadas,
O CONCEITO DE DIREITO 33
possível conceber outras, de maneira que a quantidade de
teses possíveis poderia exceder 64.
Aqui, a pluralidade das teses já foi reduzida num a s-
pecto: parte-se de um conceito de direito que inclui o
conceito de validade.
da ao se colocar Outra simplificnáo
urna distirkáo em primeiro seria produzi-
plano: aque-
la existente entre a perspectiva do observador, ou o pon-
to de vista externo, e a perspectiva do participante, ou o
ponto de vista interno. As outras distinOes encontram
aplica0o no ámbito dessa dicotomia. Por conseguinte,
trata-se de saber qual tese é correta, se a da separnáo ou
a da vincula0o, partindo-se da perspectiva do observa-
dor ou daquela do participante.
3. A PERSPECTIVA DO OBSERVADOR
29. Cf. R. Dreier, 1991, p. 99. Outras designal5es sáo: argumento da ti-
rania, argumento da lex corrupta, argumento da perversáo e argumento do to-
talitarismo.
34 CONCEITO E VALIDADE DO DIREITO
Como enunciado
cao encerra de urn observador,
uma contradicao. essa constru-
Para urn observador, inte-
gra o direito aquilo que os tribunais e as autoridades fa-
zem apoiando-se no enunciado de normas que, de acordo
corn os criterios de validade do sistema juridic° vigente
em questa°, sao estabelecidas conforrne o ordenamento.
Desse modo, fica clar o que existe urn emprego da ex-
pressao "direito" na perspectiva do observador, segundo
a qual uma inclusao classificadora de elementos morais
no conceito de direito que se refira a normas individuais
n5o
bemapenas é conceitualmente
conceitualmente desnecessaria,
impossivel. como
Diante disso, naotam-
se
pode objetar dizendo que nosso observador podera con-
cluir seu relatorio simplesmente corn a seguinte pergun-
ta aberta:
mente duradoura" (Kelsen, 1960, pp. 49 s.), mas no como elemento moral
necessário do conceito de direito.
41. Nesse caso, Kelsen nem sequer falaria em "bando de saqueadores",
já que, devido á ausencia da proibkáo de violencia, os bandoleiros náo forma-
riam urna comunidade e, portant°, náo existida "bando" (Kelsen, 1960, p. 48).
40 CONCEIT° E VALIDADE DO DIRETTO
45. Nesse sentido, existe certa analog-ia corn o famoso exempt() de John
Langshaw Austin: "The cat is on the mat but I do not believe it is" (J. L. Aus-
tin, 1962, pp. 48ss.; idem, 1970, pp. 63 ss.)
O CONCEITO DE DIREITO 47
te aqui é mais do que urna irregularidade social ou jurí-
dica'. O juiz incorre numa contradi áo performativa e,
nesse sentido, comete um erro conceitual. Com urna de-
cisáo judicial pretende-se sempre que o direito seja cor-
retamente aplicado, por menos que essa pretensáo seja
satisfeita. O conteúdo da senterm contradiz essa pre-
tensáo formulada com a execuáo do ato institucional da
condena0o.
Ambos os exernplos mostram que os participantes
de um sistema jurídico nos mais diversos níveis formu-
lam necessariamente urna pretensáo á corre0o. Se e na
medida cm que essa pretensáo te m implicnóes morais,
fica demonstrada a existencia de urna conexo concei-
tualmente necessária entre direito e moral.
Todavia, isso ainda náo comprova a tese da vincula-
"áo. Um positivista pode concordar com o argumento da
•
46. De outra opiniáo é Neumann, 1986, pp. 68 ss., que, a esse respeito,
refere-se ao seguinte exemplo: "Em nome do poyo, o senhor N. é condenado
a dez anos de prisáo, embora náo existam boas razóes para tanto."
48 CONCEIT° E VALIDADE DO DIRETTO
49. Cf. , p.
supra 37.
O CONCEITO DE DIREITO 51
50. Hart, 1971, pp. 45 s.; de modo semelhante, Hoerster, 1987, pp. 187 s.;
idem, 1986,
pp. 2.481 s.
O CONCEITO DE DIREITO 53
tos morais. Por outro lado, há que se considerar, porém,
que clareza, no sentido de simplicidade, no é o único
objetivo de urna conceitua0o. A simplicidade no deve
existir 'á custa da adequnáo' l . Além disso, um concei-
to complexo também pode ser claro. Há poucos motivos
para temer que os juristas se confundam com a incluso
de elementos morais no conceito de direito'. Eles esto
acostumados a lidar com conceitos complica dos. No que
diz respeito ao cidadáo, a falta de clareza no surge, cm
primeiro lugar, com a incluso de elementos morais no
conceito de direito. O cidadáo também pode se confun-
dir com a informnáo de que até mesmo a injustia extre-
ma é direito. A falta de clareza é criada muito mais pela
dificuldade de trnar, em muitos casos, urna linha divisó-
ria entre normas que s o extremamente injustas e nor-
mas que no o sáo. Mas isso no é um problema do ar-
gumento da clareza, e s i m daquele da segurarna jurídi,
ca. No caso do argumento da clareza, trata-se apenas de
saber se elementos morais devem realmente ser incluí-
dos no conceito de direito.
Isso significa que o argumento da clareza apresenta-
do por Hart e por Hoerster náo tem em mira indetermi-
nnóesconceituais gerais. Trata-se, antes, de como um
confito entre direito e moral deve ser entendido do pon-
to de vista conceitual. Hart e Hoerster ta mpouco dese-
jam solucionar o conflito em caso de extrema injustiqa.
Segundo eles, o que o direito exige é urna coisa, e o que
a moral reclama é outra. A moral pode permitir ou exigir
que o jurista, como ser humano e cidadáo, negue obe-
diéncia ao direito. Contudo, aquilo a que se nega obedién-
cia continua sendo direito. Qualquer outra representnáo
61. Ibid., p.
186.
62. Kelsen, 1960, p. 71; no mesmo sentido, Hoerster, 1990, p. 32; cf. tam-
bem H. Dreier, 1991, p. 133.
O CONCEITO DE DIREITO 57
que um conceito no positivista de direito no pode de-
senvolver efeito algum contra a injustka legal. A segun-
da diz que um conceito náo positivista de direito com-
porta o risco de legitimar a injustka legal de forma acrí-
tica. A segunda tese vai mais longe e será examinada em
primeiro lugar.
Com efeito, o risco de urna legitimnáo acrítica exis-
tiria caso a tese no positivista da vinculnáo afirmasse
que urna norma só é jurídica se seu conteúdo é condi-
zente com a moral. É essa varináo da tese da vinculnáo
que Kelsen e Hoerster tém em mente guando formulam
a objeáo da legitimnáo acrítica. Assim, Kelsen fala da
"tese de que o direito, por sua esséncia, é morar', e, se-
gundo Hoerster, a tese da vincula0o diz: "Urna norma
só é legal guando é moral", o que, do ponto de vista ló-
gico, é equivalente á proposkáo: "Quando urna norma é
legal, ela é moral.' Se partirmos dessa versáo da tese da
vinculaqáo, que pode ser qualificada de "forte ", todo ju-
rista que identificar urna norma corno sendo jurídica terá
de classificá-la, ao mesmo tempo, como moralmente
justificada. De fato, isso comportaria o risco de urna le-
gitimnáo acrítica do direito.
A obje0o da legitimnáo acrílica ignora, porém, que
um no positivista náo precisa defender a tese forte da
vincula0o, que contém
cia de conteúdo o postulado
entre toda de urnae acoincidén-
norma jurídica moral. A
fórmula de Radbruch diz expressamente "que o direito
positivo, assegurado por seu estatuto e por seu poder,
tem prioridade mesmo guando, do ponto de vista do
conteúdo, é injusto e no atende a urna finalidade"'. O
caráter jurídico só se lhe esvairá guando a contradkáo
rancaOjurídica.
argumento
Eledo
náorelativismo aguca
só afirma que aqueleentre
o limite da segu-
a in-
justica extrema e no extrema é difícil de reconhecer,
como também que todo julgamento acerca da justica, ou
seja, incluidos aqueles sobre urna injustica extre ma, sáo
insuscetíveis de urna fundamentacáo racional ou de urna
recognicáo objetiva. Essa é a tese do relativismo radical.
Se ela estiver correta, a incluso de elementos morais no
conceito de direito significará apenas a possibilidade,
para o juiz, de decidir contra a lei nos casos em que suas
preferéncias subjetivas
especialmente intenso. estiverem envolvidas
Hoerster faz de modo
urna descriQáo drás-
tica dessa ideia:
"Náo existe nenhuma garantia nem probabilidade
de aquela moral que o juiz ou o cidadáo em questáo assi-
mila cm seu conceito de direito ser, de fato, urna moral
'esclarecida'! 1...] De modo geral, no há nenhum in-
78. Cf., por exemplo, Maus, 1989, p. 193: "0 argumento moral pode fa-
cilmente ser mal utilizado como substituto da democracia."
0 CONCEITO DE DIREITO 69
que uma injustica legal tambem pode ser considerada de
outro modo que nao por meio do nao reconhecimento
da qualidade juridica. Assim, o novo legislador teria em
maos a possibilidade de revogar uma injustica legal me-
diante uma
Para lei retroativa'.
avaliar corretamente o argumento da inutilida-
de, ha que se distinguir entre casos do direito penal e ca-
sos que nao sao de direito penal. 0art. 103, § 2 da Lei
Fundamental formula o principio elementar do estado
de direito, "nulla poena sine lege", como norma do di-
reito constitucional positivo. Corn isso, proibe-se ao le-
gislador ordinario a instituicao de leis penais retroativas.
Isso pode ser generalizado. Sc o principio "nulla poena
sine lege" tern categoria constitucional, nao se pode evo-
car, node
gaga() ambito do ordinaria
uma lei direito penal, o fatotomaria
retroativa de que adesneces-
promul-
saria a aplicacao de um conceito de direito nao positivis-
ta. Contudo, poder-se-ia pensar numa modificacao da
constituicao que admitisse excecoes ao principio "nulla
poena sine lege" — e , por conseguinte, tambem ao prin-
clpio "nullum crimen sine lege" — em casos de injustica
extrema. N o entanto, sob uma constitui cao como a Le i
Fundamental que, em seu art. 79, § 3 , retira os principios
elementares do estado de direito tambern da disposicao
do legislador
riam, queproblematicas.
no minim°, altera a constituicao,
A essetais excecoes
problema se-
juricli-
co vem se agregar outro, de carater tactic°. Ainda que
fosse juridicamente admissivel prover o princi - pio "nulla
poena sine lege" de uma clAusula de excecao, seria alta-
mente duvidoso que tal clausula obtivesse a aprovacao da
maioria qualificada e necessaria para uma modificacao
da constituicao. Tudo isso mostra que a mera referencia
colunas
81. 'bid., 208 s.
82. Haveria que se perguntar principalmente se essa tese de que a de-
núncia infringe "o sentimento de equidade e justiga de todas as pessoas de
pensamento dece nte" a ponto de ser ilegal e, por co nseguinte, punível ni°
implicaria o fato de a sentenga ser injusta por seu conteúdo. Poderia também
a denuncia infringir "o sentimento de equidade e justiga de todas as pessoas
de pensamento decente" a ponto de ser ilegal e, por conseg-uinte, punível, se
a sentenga náo fosse injusta cm sentido algum? Se a resposta for negativa, a
questáo decisiva será: a punibilidade da denuncia apenas pressupiSe que a
sentenga era injusta em alguma medida ou exigia um caráter extremamente —
e, por conseguinte, evidentemente — injusto da sentenga?
83. Hart, 1961, pp. 234 s.
0 CONCETTO DE DIREITO 73
juriclica as leis nacional-socialistas nas quais se baseou a
sentenca de morte. Se nao se considerar extremamen-
te injusta uma lei que admite a pena de morte para ma-
nifestacOes depreciativas contra urn ditador — como fez o
Tribunal
impor uma de justica
omissao,de bastard
B amberg — simplesmente
imaginar por ela
o caso hipotetico
no qual uma mulher denuncia seu marido porque ele,
estando numa ditadura, nao participa de N oes homici-
das extremamente injustas, que the sao impostas em vir-
tude de uma lei. Nesse caso, segundo o entendimento
do Tribunal de Justica de B amberg, a mulher tambern de-
veria ter sido condenada, uma vez que a sentenca pro-
nunciada em relacao a sua dernincia seria ilegal.
Contra isso, Hart objeta:
"Naturalmente, existiam duas outras possibilidades.
Uma era a de deixar a mulher impune; podemos simpa-
tizar corn essa opiniao ou admitir que ela seria ruim. A
outra era a de resignar-se corn o fato de que a punicao da
mulher requereria a promulgacao de uma lei flagrante-
mente retroativa, corn consciencia absoluta daquilo de
que se esta abdicando para, por essa via, conseguir sua
condenacao. Por mais repulsivas que possam ser uma le-
gislacao penal retroativa e uma condenacao, nesse caso,
executa-las abertamente ao menos teria a vantagem da
honestidade, o que deixaria claro que, na condenacao da
mulher, haveria que se escolher entre dois males: o de dei-
xi-la impune e o de abr ir mao de urn principio moral va-
lioso, que a maioria dos sistemas juridicos sanciona."'
0 argumento da honestidade e o mais forte contra o
conceito nao positivista de direito. M esmo assim, ele nao
102. Gunther entende que a distinc5o entre regras e principios nao de-
veria ser interpretada como uma distincao entre dois tipos de normas, mas ex-
clusivamente como uma diferenciacao entre dois tipos de aplicacao de nor-
mas (Gunther, 1988, pp. 272 ss.). A isso ha que se objetar que um model° que
reproduz a disti ncao tanto no p iano da norma q uanto naquele da aplicacao e
mais rico. Ele pode explicar por que um determinado tipo de aplicacao aeon-
tece. De resto, nao se p ode abrir m5 o da distincao entre regras e principios,
porque somente corn ela e possfvel reconstrui r adequadamente conceitos
como o da restricao de urn direito (cf. Alexy, 1985, pp. 249 ss.).
O CONCEITO DE DIREITO 89
corre0o. Como se expós acima, urna senterm judicial
formula necessariamente urna pretensáo á corre0o".
Em virtude da vinculnáo necessária com a sentenQa ju-
dicial, essa pretensáo é jurídica, e no meramente moral.
A essa pretensáo jurídica á corre0o corresponde o dever
jurídico de cumpri-la, náo importando em que consis-
tem as consequIncias jurídicas da infra0o desse dever.
A pretensáo á corre0o exige que, num caso duvidoso,
sempre que possível, se proceda a urna pondernáo e,
por conseguinte, a urna considera0o de principios. As-
sim, a pretensáo á correláo no necessariamente é satis-
feita guando um juiz, num caso duvidoso, entre duas de-
cisóes compatíveis com o material dotado de autoridade,
escolhe
vesse urna com teria
ponderado, a seguinte fundamenta0
chegado o: "Smas
á outra decisáo, e eu no
ti-
ponderei." Com isso, fica claro que cm todos os sistemas
jurídicos nos quais existem casos duvidosos, nos quais é
possível fazer urna pondernáo, exige-se juridicamente
que se fina urna pondernáo e, por conseguinte, urna
considernáo de principios. Isso significa que, por razóe s
jurídicas, cm todos os sistemas jurídicos desse tipo os
princípios so elementos necessários do sistema jurídico.
Ao adversário do argumento dos princípios resta
urna última saída.
tir sistemas Ele nos
jurídicos podequais
sustentar que caso
nenhum é possível exis-
é entendi-
do como duvidoso, de modo que urna ponderaáo náo é
pertinente cm caso algum. Como cm tais sistemas jurí-
dicos seria possível decidir sem considerar os princípios,
no se confirma a tese de que todos os sistemas jurídi-
cos contém necessariamente normas com a estrutura de
princípios. Do ponto de vista empírico, seria interessan-
104. Cf. Hart, 1961, p. 199: "The law of every modem state shows at a
thousand points the influence of both the accepted social morality and wider
moral ideals."
O CONCEITO DE DIREITO 93
tem-se em mente urna conexo necessária entre o di-
reito e a ou urna moral correta. Isso se aplicaria espe-
cialmente á perspectiva do participante. Na realidade,
essa objeqáo atingiria o no positivista se o argumen-
to dos princípios no conseguisse estabelecer urna co-
nexo necessária qualquer entre o direito e a moral cor-
reta. O fato de ele conseguir fazé-lo constitui o conteú-
do da tese d a cor ref fio. Esta última é o resultado de urna
aplicnáo do argumento da corre0o nos limites do argu-
mento dos princípios.
A tese da correáo no apresenta dificuldades guan-
do os principios do direito positivo tém um conteúdo que,
moralmente, é exigido ou, ao menos, admitido. Corno
exemplos podem servir os seis principios básicos da L ei
Fundamental, ou seja, os princípios da dignidade huma-
na, da liberdade, da igualdade, do estado de direito, da
democracia e do Estado social. Corno mandamentos de
otimiza0o, esses principios exigem sua mais ampla rea-
liznáo possível. Juntos, exigem a realiznáo aproximati-
va de um ideal jurídico, qual seja, o ideal do estado de di-
reito democrático e social'. Sendo esses princípios, ou
seus inúmeros subprincípios, pertinentes num caso du-
vidoso, o juiz estará juridicamente obrigado a proceder a
urna otimiza0o relacionada ao caso concreto. Trata-se,
aqui, de dar urna resposta a urna questáo jurídica, que,
por seu conteúdo, também é urna questáo de moral po-
lítica. Ao menos urna parte dos argumentos com os
quais o juiz fundamenta a concluso de sua pondernáo
tem, quanto a seu conteúdo, o caráter de argumentos mo-
rais. Disso resulta que a pretensáo á corre0o jurídica
necessariamente vinculada á decisáo inclui urna pre-
tensáo á corre0o moral. Nesse sentido, nos sistemas
A validade do direito
I. Conceitos de validade
1. Cf., por exemplo, Rottleuthner, 1981, pp. 91 ss.; Rohl, 1987, pp. 243 ss.
2. Cf. Rottleuthner, 1987, pp. 54 ss.
A VA LIDADE DO DIREITO 103
normas jurídicas inclui o exercício de coa0o física, que,
nos sistemas jurídicos desenvolvidos, é a cono organi-
zada pelo Estado'.
3. A esserespeito, cf.
supra, pp. 18 s.
104 CONCE
IT° E VA
LIDADE DO DIREIT
O
1. VALIDADE JURÍ
DICAE SOCIAL
Quanto
moral, a colisdo
ja se falou entre validade
o necessario juridicadaecritica
por ocasiao validade
do
conceito positivista de direito'. Aqui, portant°, trata-se
exclusivamente de fazer uma comparacao da conclusao
ja obtida corn a solucao da colisao entre validade juridi-
ca e validade social.
a, pp. 15 s.
8. Cf. supr
A VA LIDADE DO DIREITO 111
de juridica quando nab apresenta urn minimo de efica-
cia social ou de possibili dade de eficacia". E m ambos os
casos, faz-se referencia a urn caso-limite. Em vez de afir-
mar que uma norma individual deve apresentar urn mi-
nim° de eficacia social ou de possibilidade de eficacia,
tambem seria possivel dizer que ela no pode ser extre-
mamente ineficaz e ter uma possibilidade extremamen-
te insignificante de eficacia. I nversamente, seria possivel
substituir a formula segundo a qual uma norma perde
sua validade juridica quando e extremamente injusta por
aquela segundo a qual o pressuposto da validade juridi-
ca de uma norma individual é que ela apresente urn mi-
nim° de justificabilidade moral'". Contudo, esta Ultima
formula induz a falsas interpretacOes. Uma norma, como
tal, tambem carece de urn minimo de justificabilidade
moral quando nao é extremamente injusta, mas apenas
injusta, pois uma norma injusta nao pode, como tal e
tambern por essa raid°, ser justificada numa escala mi-
nima. Apesar disso, uma norma mer amente injusta pode
ser juridicamente válida. Porem, segundo a formula que
se baseia num minimo, isso pressupoe que ela apresen-
te urn minim° de justificabilidade moral. Para resolver
essa contradicao, ha que se referir o conceito do minim°
de justificabilidade moral n5o a normas individuais como
tais, mas a validade juridica de normas individuais. De-
vido as vantagens morais da existencia de urn sistema
juridic°, a validade juridica de uma das normas que o in-
tegram pode apresentar urn minimo de justificabilidade
moral quando a norma, tomada em si, n5o o apresenta
por ser injusta. Logo, a formula que se baseia num mini-
mo pressupoe ponderacoes complicadas quando referi-
nem o enunciado:
(3) Ordena-se juridicamente um comportamento em con-
formidade com a C.
1.5.1. Funlóes
1.5.2. Status
O problema do status da norma fundamental diz
respeito principalmente á primeira furnio, a transforma-
ç ocategorias. Como norma que fundamenta a vali-
dade de todo o direito positivo, a norma fundamental
no pode, por sua vez, ser urna norma do direito positi-
entáoMas,
vo'. eta só de
queentio, que tipo
poderia ser éurna Seria possível
ela? norma pensare
no positiva
que, como tal, teria de ser urna norma do direito natural
ou do direito racional, o que Kelsen rejeita enfaticamen-
te'. Mas o que seria afinal, j á que nio é urna norma do
direito positivo nem urna norma do direito suprapositi-
vo, ou seja, do direito natural ou racional?
terizaEm
suareferencia a terminologia
norma fundamental, porkantiana,
ser ela Kelsen carac-
condicao ne-
cessaria da possibilidade de recognicao da validade juri-
dica e do dever juridic°, como "pressuposto logico-trans-
cendental" da recognicao do direito . Essa caracterizacao
acertada na medida em que, segundo Kant, e transcen-
dental aquilo que é necessario para tornar possivel a re-
38. Cf. Kant, 1903, p. 373: "A palavra transcendental [...I náo significa
algo que ultrapassa toda experiéncia, e sim aquilo que, embora a anteceda (a
priori), destina-se apenas a tornar possível a recogniláo da experiéncia."
39. Kelsen, 1960, pp . 218, 2 24, 443.
40. Quanto ao fato de que, até mesmo para um sociólogo do direito, no
é aconselhável interpretar o direito como um sistema de meros fatos, cf. Rot-
tleuthner, 1981, pp. 31 ss., 91S S .
41. Cf. R. Dreier, 1979, p. 95.
42. Kelsen, 1960, p. 224.
43. Cf. Paulson, 1990, pp. 173 as.
A VA LIDADE DO DIREITO 131
cognicao empfrica so é possfvel dentro do espaco e do
tempo". Em contrapartida, a recognicao dos fenOme-
nos jurfdicos tambern e possfvel, em princfpio, sem o em-
prego da categoria do dever. Mesmo assim, esse aspecto
nao elimina totalmente o carater transcendental do ar-
gumento de Kelsen. Ele pode ate nao demonstrar uma
necessidade incondicional da norma fundamental e, por
conseguinte, da categoria do dever, mas prova uma ne-
cessidade condicional. 0 ponto de vista juridic° ou
aquele do participante de urn sistema juridic° e definido
pelo fato de, a partir dele, o direito ser interpretado como
urn sistema normativo vigente ou como urn ordenamen-
to de deveres. D e fato, podemos nos recusar nao apenas
em acao, mas tambem em pensamento, a participar do
jogo (extremamente real) do direito. Todavia, se ingres-
sarmos nesse jogo — e existem boas razoes para isso, ao
menos na pratica nao existira altemativa a categoria
do dever e, consequentemente, a norma fundamental.
Por conseguinte, o argument° de Kelsen pode ser cha-
mado de "argument° transcendental fraco". Isso mostra
que uma norma fundamental (ndo necessariamente a de
Kelsen) que introduz a categoria do dever e a chave para
o reino do direito.
44. Kant 1781/1787: A 24/B 38: "0 espaco é uma representacao neces-
saria a priori,que serve de fundamento a todas as percepcoes extemas"; A
31/B 46: "0 tempo 6 uma representacao necessaria que serve de fundamento
a todas as percepc5es."
45. Kelsen, 1960, pp. 206 s.
132 CONCEITO E VA LIDADE DO DIREITO
46. Kelsen, 1964a, p. 119: "Expus toda a minha teoria da norma funda-
mental como urna norma que no é o sentido de um ato de vontade, mas que
é pressuposta no pensamento. Mas, infelizmente, senhores, devo reconhecer
que já no posso manter essa teoria e que deveria abandoná-la."
47. Kelsen, 1960, p. 206.
48. Idem , 1964b, p. 74.
49. 'bid.,p. 70.
50. Kelsen, 1979, p. 207.
A VALIDADE DO DIREITO 133
ridades simuladas e normas fundamentais simuladas
que as autorizassem. A tese de Kelsen de que se trataria
de uma "verdadeira ficcao" e de que esta seria caracteri-
zada justamente pelo fato de ser contraditOria em si'' nao
soluciona o problema.
So sera possivel encontrar uma solucao se renunciar-
mos a ideia de que todo dever tem de ser atribulvel a urn
querer. Ha boas razoes para tanto. Na maioria das vezes,
urn dever esta conectado a urn querer, mas tambem exis-
te dever sem querer. Assim, baseando-se em considera-
cOes de justica ou equidade, uma pessoa pode chegar a
concepcao de que é moralmente obrigada a nao sonegar
impostos, mas, ao mesmo tempo, continuar querendo
sonega-los, agindo assim contra sua compreensao do que
moralmente
esti devido.vinculada
necessariamente A recognicao
a urndeatoum
de dever
vontadenao
prOprio nem a urn ato de vontade alheio'. Se isso estiver
correto, a ideia de que a norma fundamental e uma nor-
ma meramente pensada nao apresenta dificuldades.
Urn segundo problema e o do carater normativo ou
prescritivo de uma norma fundamental pensada. Kelsen
formula a norma fundamental pensada de modo que,
segundo ela, algo deve ser feito: "D evemos nos compor-
tar como a constituicao prescreve."" Esse e urn lado da
questa°.
quando 0reconhece
outro é que, para Kelsen,
o direito a ciencianessa
baseando-se do direito,
norma
fundamental, nada prescreve: "Ela nao prescreve que de-
vemos obedecer as ordens do legislador constitucional."54
Como e possiVel que um cientista do direito, por urn
51. Ib id ., p. 206.
52. A base dessa tese 6 constitufda pelo conceito semantic° de norma.
A esse respeito, cf. Alexy, 1985, pp. 42 ss.
53. Kelsen, 1960, p. 204.
54. Ib id ., 208.
134 CONCE VALI/MD[1DO DiREM)
ITO I
55.Ibid. p. 205.
56.Kelsen, 19641,, p. 66; idern, 1960, p. 197.
136 CONCEFTO E VAL1DADE DO DIREITO
1960, p. 197.
57 .1dem,
A VA LIDADE DO DIREITO 137
denamento juridic°, ou seja, por que se deve pressupor
a norma fundamental de Kelsen admite diversas r espos-
tas. A primeira diz que isso é uma questao de mera de -
cisao. No entanto, isso no constitui uma fundamenta-
cao. A segunda diz que isso seria adequado. Individuos
isoladamente considerados e coletividades (Estados, por
exemplo) poderiam orientar-se melhor e, portant°, ter
mais exito em suas acOes se f izessem essa interpretacao.
Essa é uma fundamentacao; caberia apenas perguntar
se, de todas as altemativas, a norma fundamental de Kel-
sen e a melhor condicao para o sucesso. A terceira res-
posta e que razOes morais — como a de que uma guerra
civil deve ser evitada — exigem a norma fundamental.
Aqui tambern a questa° decisiva e saber se a melhor
fundamentacao moral conduz realmente a versdo kelse-
niana de uma norma fundamental. 0 argumento da in-
justica, discutido no ambito da critica do positivism° ju-
ridic°, mostrou que existem razoes morais fundadas
para nao se atribuir carater juridic° a tudo o que é esta-
belecido e eficaz; e o argumento dos principios leva a
concluir que direito nao e so o que é estabelecido e efi-
caz. 0 assunto sera retomado quando se discutir a nor-
ma fundamental de Kant. A quarta resposta diz que a
norma fundamental de Kelsen exprime o que desde sem-
pre foi a base da pratica juriclica. Essa e uma fundamen-
tacao empirico-reconstrutiva. Kelsen aproxima-se dessa
fundamentacao quando afirma: "Ela apenas traz a cons-
ciencia aquilo que todos os juristas fazem, na maioria
das vezes, inconscientemente." Mas volta a afastar-se
dela de pronto ao acrescentar: "Quando entendem o di-
reito exclusivamente como direito positivo."" Se os juris-
tas entendem o direito exclusivamente como direito po-
erno consiste
berdade justamente
de julgar quenáo
sobre oem aosnosúditos
deixarou
é justo a li-
segundo
seus próprios conceitos, e sim segundo a prescriláo do
poder legislador."'
uma cabeca
dro) que pode(como
ate sera bela,
cabecamasdeque
madeira da fabula de
— infelizmente! —Fe-
nao
tern cerebra"'
pode
Essa seria a razáo pela qual só sefalar da
existencia, mas náo da validade da rule of reco gnition.
Com efeito, ela é o critério para a validade de todas as
outras regras, mas, como critério máximo de validade,
ela mesma, porsua vez, no poderia valer". Sua exis-
tencia se mostraria na forma como os participantes de
76. 'bid., p. 97 .
77. !bid., p. 102
78. Ibid., p. 104.
79. lbid pp. 103 s.
80. 1bid., p. 245.
81. Ibid., p. 107.
82. Ibid., pp. 105 s.
A VA LIDADE DO DIREITO 147
urn sistema juridic° identificam regras como direito vi-
gente'.
A primeira vista, isso parece ser uma solucao sedu-
toramente simples para o problema da norma funda-
mental. Contudo,
tal de Kelsen, quando
ficou clarose discutiu
que a normaé fundamen-
essa solucao demasiado
simples. Hart deduz a existencia da rule of recog niti on de
sua aceitacao, que se manifesta na pratica juridica, e a uti-
liza como fundament° para a validade de todas as outras
regras juriclicas. 0 problema crucial esta no conceito de
aceitacao. Aceitar uma regra que encontra sua expressao
numa pratica comum significa passar do fato de que exis-
te a pratica ao juizo de que se ordena o comportamento
em conformidade corn essa pratica. A vantagem da teo-
ria
essakelseniana
transicao da
de norma
um ser fundamental consiste
para urn dever no fato
nao estar de
escon-
dida atras de conceitos como os de aceitacao e existencia
de uma pratica, mas de ser exposta a luz, tomando-se urn
tema. For fim, uma teoria empfrica da norma fundamen-
tal ha de fraca ssar por nao compreender adequadamente
o real problema de toda teoria da norma fundamental, a
saber, a transicao de urn ser par a urn clever'.
p. 21. "Se urn superior human° determinado, que nao tenha o habi-
to de obedecer a urn superior semelhante a si, recebe a obediencia
habitual da major parte de determinada sociedade, esse superior
determinado é soberano nessa sociedade
p. 116. "Sempre notei que os autores, seguindo por certo tempo a via
ordinária de raciocinio, estabelecem que existe um D eus ou fazem
observal5es sobre os assuntos humanos; mas, de repente, cm lugar
de encontrar a habitual justaposkáo das proposiOes 'é'e 'náo é', sur-
preendo-me por constatar que todas as proposic5es passam a estar
vinculadas a um `deve' ou 'náo deve'. Essa mudarlo, conquanto
imperceptível, tem consequéncias de capital importáncia. Urna vez
que o 'deve' ou 'náo deve' expressa urna nova relnáo ou afirrnaláo, é
necessário que se
necessario esta seja observada
apresentem raz5ese explicada; ao parece
para algo que mesmoabsoluta-
tempo, é
mente inconcebível: que esta nova relaláo seja deduzida de outras
que so completamente diferente s dela."
p. 117. "Se urna constitukáo que especifica as varias fontes do direi-
to é urna realidade viva, no sentido de que os tribunais e autoridades
do sistema realmente identificam o direito de acordo com os critérios
que ela oferece, entáo a constitukáo é aceita e realmente existe.
Parece redundante e desnecessário afirmar que há urna norma ulte-
rior que diz que a constitukáo (ou aqueles que a 'formularam') de-
vem ser obedecidos."
-
TRADIKA 0 DA S CITA COES 159
p. 118. "Mas a propria norma, de acordo corn seu contetido imedia-
to, expressa o que os individuos devem fazer. Qual 6, pois, o sentido
de afirmar-se que os individuos devem fazer o que devem fazer!"?
pp. 146. "E lei o que a C oroa decreta por meio do Parlamento."
Rü mann 11 Weber 18
Santo Agostinho 40 Xenofonte 3
Sieckmann 84