Linguística Textual
Material Teórico
Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan.
Pragmática: As categorias de enunciação
(tempo, pessoa e espaço)
• Introdução
• Dêixis – Dêiticos
• Debreagem e Embreagem
• A Pessoa
• O Tempo
• O Sistema Enunciativo
• O Sistema Enuncivo
• Os Advérbios de Tempo
• O Espaço
Nesta unidade, vamos falar a respeito da instauração das categorias de pessoa, espaço e
tempo na enunciação e sua relação com essas mesmas categorias no enunciado. Buscaremos
entender como as pessoas do discurso se colocam, como o tempo se organiza e como os lugares
se determinam.
Para obter um bom desempenho, você deve começar pela leitura do Conteúdo Teórico.
Aqui, você encontrará o material principal de estudo na forma de texto escrito. Depois, assista
à Apresentação Narrada e à Videoaula, que sintetizam questões importantes. Consulte as
indicações sugeridas e leia os textos na íntegra. É importante e interessante, se possível, ir aos
textos indicados pois eles trazem pormenores e curiosidades que não estavam no âmbito desta
unidade.
É muito importante que você exerça a sua autonomia de estudante para construir novos
conhecimentos.
Bons estudos!
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
Contextualização
Cheguei!!!
Em 2014,
tivemos eleição
para presidente.
Aqui é o melhor
lugar do mundo!
Voltaremos para o
Brasil só em 2018. A vida é
bela!!
Ele foi um
ótimo pai
Esse é meu
melhor amigo
Você não imagina
como estou feliz!!
A viagem para
Os Estados Unidos
foi maravilhosa.
Lá é o melhor lugar
que já estive.
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Introdução
A comunicação humana se efetiva por meio de textos. Os textos produzidos pelos sujeitos,
sejam orais ou escritos, trazem enunciados que transmitem muito mais do que se explica apenas
na observação dos elementos linguísticos que o constitui.
Por exemplo:
Na realidade, o que a pessoa realmente deseja é que o outro lhe acenda o cigarro. Essa
informação não está contida no enunciado, mas é previsível pela situação de comunicação
desenvolvida. Esse exemplo nos faz perceber que existem ocorrências que somente serão
equacionadas no uso efetivo da língua por meio da linguagem.
A Pragmática é ciência que se preocupa em observar e explicar ocorrências como a do
exemplo acima. Ela mostra que por meio da linguagem se comunica muito mais do que as
informações centradas no sentido das palavras que compõem um enunciado.
Lembrando Fiorin, “A Pragmática é a ciência do uso linguístico, estuda as condições que
governam a utilização da linguagem, a prática linguística.” (2004a, p.166)
Existem vários fatos linguísticos que necessitam de uma abordagem pragmática para serem
compreendidos. No entanto, nesta unidade, nos deteremos nos fatos de enunciação e nos
focaremos nos trabalhos do Prof. José Luiz Fiorin sobre esse tema.
A Enunciação é “o ato produtor de enunciado”. Ela é uma instância linguística virtualmente
pressuposta por todo enunciado. Para entender melhor essa colocação, compreenda que o
enunciado é uma sequência linguística que comporta marcas que remetem a instância da
enunciação ou não.
A enunciação é a instância virtual de produção do discurso, percebida pela projeção de um
“eu” virtual que se realiza quando alguém fala ou lê, em um espaço considerado sempre como
um “aqui” e dentro de um tempo presente.
O enunciado é a sequência linguística concreta, que pode ter as marcas que remetem a
instância da enunciação ou pode não ter marcas que coincidam com a instância da enunciação.
As marcas da enunciação aparecem no enunciado por meio da dêixis que projeta os elementos
chamados dêiticos. Vamos estudar isso melhor a seguir:
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
Dêixis – Dêiticos
A dêixis se efetiva por meio de elementos chamados dêiticos (eu, tu, aqui, agora).
Para entendermos as marcas deixadas pelo ato de enunciar, recorreremos à dêixis. Ela
instaura elementos que fazem referências à situação comunicativa. Esses elementos marcam a
pessoa, o tempo e o espaço da enunciação.
Os dêiticos definem os participantes de uma situação comunicativa na hora da enunciação.
As pessoas são “eu” quem fala, “tu” ara quem se fala, o momento é sempre um “agora” e o
lugar é sempre um “aqui”.
A enunciação se realiza sempre a partir de um sujeito “eu” e o espaço e o tempo será sempre
organizado em função desse “EU”. Ou seja, em relação ao “eu” temos o seu espaço que é
um “aqui” e um tempo que é o “agora”. Todas as relações espaço temporais acontecerão em
relação ao “eu” pressuposto pela enunciação.
Fiorin comenta:
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Debreagem e Embreagem
A debreagem e a embreagem são os mecanismos de instauração de pessoa, tempo e espaço
no enunciado.
Debreagem
Consiste em projetar no enunciado a pessoa, o espaço e o tempo. Quando ela acontece
falamos em debreagem actancial – de pessoa, debreagem espacial – de espaço e debreagem
temporal – de tempo.
A debreagem instaura nos enunciados dois sistemas distintos com relação às categorias de
pessoas, espaços e tempos:
Eu decidi que vou ficar aqui no Japão para estudar um pouco mais
e aprender sobre as novas tecnologias que ajudam os deficientes a
serem mais independentes.
Veja que no exemplo, o eu que decide é o mesmo eu da enunciação, sua decisão coincide
com o momento do agora da enunciação é uma decisão que ocorre no momento em que se
enuncia e o espaço de onde o enunciador fala, é o mesmo onde o enunciador está, o Japão.
Nesse exemplo, instaura se no enunciado um ele, Roberto que não coincide com o eu da
enunciação. O verbo decidiu mostra que Roberto tomou sua decisão em um momento anterior
ao momento do agora da enunciação. E o espaço da enunciação visto como um aqui não é o
mesmo que o do enunciado que foi projetado como um lá no Japão.
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
Embreagem
A embreagem é um mecanismo de neutralização das categorias de pessoa, espaço e tempo que
busca recriar a instância da enunciação e apagá-las no enunciado. Ela instaura o discurso direto.
Exemplo:
Neste exemplo, temos uma debreagem enunciva – um ele, o Presidente; mas, na realidade,
ocorreu uma neutralização, pois ele significa eu. O presidente deveria ter falado “Eu julgo que o
Congresso Nacional deve estar afinado com o plano de estabilização econômica.”, mas preferiu
usar sua titulação. Essa neutralização da categoria de pessoa “ele- presidente” no lugar de “eu”
projeta a imagem pública do presidente e busca esconder seu posicionamento particular. Perceba
que não é uma escolha aleatória, ao contrário, tem a intenção de realçar o valor institucional da
pessoa pública.
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A Pessoa
Existem 3 tipos de pessoas – eu, tu, ele – no entanto como afirma Benveniste: “elas não
possuem o mesmo estatuto”.
Exemplos:
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
O professor Fiorin, também, nos ensina que será no ato enunciativo, ou seja pela enunciação,
que se determinará quem são as pessoas e as não pessoas e nomearemos de:
1. Pessoas Enunciativas (eu/tu): que participam do ato de comunicação
2. Pessoa Enunciva (ele): aquele que está inscrito no enunciado.
As pessoas enunciativas são aquelas que efetivamente participam da comunicação, são
aquelas que falam e escutam. A pessoa enunciva é considerada uma não pessoa porque não
participa da cena comunicativa, ela está fora da comunicação, ou seja, é de quem se fala.
Exemplo:
Tu: é aquele com quem se fala, aquele a quem o eu diz tu, que por esse fato se torna
interlocutário;
Nós: não é a multiplicação de objetos idênticos, mas sim a junção de um eu com um não eu;
• há três nós:
• um nós inclusivos, em que ao eu se acrescenta um tu (singular ou plural);
• um nós exclusivo, em que ao eu se juntam ele ou eles (nesse caso, o texto deve
estabelecer que sintagma nominal o ele presente no nós substitui);
• um nós misto, em que ao eu se acrescentam tu (singular ou plural) e ele(s).
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Os morfemas que expressam a pessoa são de três tipos:
Pronomes pessoais retos e oblíquos (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas, me, mim, te, ti,
1. o, a, lhe, se, si, nos, vos, os, as, lhes);
2. Pronomes possessivos (seu, sua, seus, suas, dele, dela, deles, delas);
Exemplo:
Gansa dos Ovos de Ouro
“Quem tudo quer tudo perde”
Certa manhã, um fazendeiro descobriu que sua gansa
tinha posto um ovo de ouro. Apanhou o ovo, correu para
casa, mostrou-o à mulher, dizendo: - Veja! Estamos ricos!
Levou o ovo ao mercado e vendeu-o por um bom preço. Na
manhã seguinte, a gansa tinha posto outro ovo de ouro, que o
fazendeiro vendeu a melhor preço. E assim aconteceu durante
muitos dias. Mas, quanto mais rico ficava o fazendeiro, mais
dinheiro queria. E pensou: “Se esta gansa põe ovos de ouro,
dentro dela deve haver um tesouro!” Matou a gansa e, por
dentro, a gansa era igual a qualquer outra.
(Fonte: http://www.mensagenscomamor.com/livros/fabulas.htm. Acesso em: 09/12/2014)
Observe que no início do texto ocorreu uma alternância entre a pessoa enunciva, ele- o
fazendeiro, que descobre o ovo de ouro e a pessoa enunciativa expressa por nós na frase “Veja!
Estamos ricos!” O uso do “ele” cria o efeito de sentido de distanciamento da história narrada
com relação ao leitor, no entanto, quando se instaura um nós por meio de uma debreagem
enunciativa esse distanciamento é por alguns instantes apagados, apesar do nós referir-se ao
fazendeiro + a esposa, esse pronome pessoal possibilita um ponto de ligação entre o texto e o
sujeito da enunciação que vivencia a alegria do fazendeiro. É um efeito de sentido singelo, mas
que colabora para ligar o texto ao leitor e enfatizar a moral que será desenvolvida na história.
Veja que o uso dos pronomes possibilita não apenas recuperar os sujeitos do texto, mas criam
efeitos de sentido que colaboram para a compreensão do texto como um todo.
Além da categoria de pessoa, a categoria de tempo também é muito importante para a
projeção de efeitos de sentido dentro do texto. Veja a seguir:
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
O Tempo
1. O tempo cronológico é o tempo dos calendários que marca a ordem dos acontecimentos;
O tempo físico é o tempo baseado no movimento dos astros e possibilita a organização dos
2. calendários em dias, meses e anos;
Nos deteremos, aqui, ao tempo linguístico por ser ele que organiza o nosso posicionamento
em relação aos tempos que se encontram instaurados nos enunciados e que organizam os textos
em uso. Veja o seguinte comentário:
Em outras palavras, a enunciação é sempre tomada como um agora que ocorre toda vez que
se enuncia e será a partir desse agora que todos os tempos se organizarão de acordo com um
eixo constituído pelo ato de linguagem em concomitância vs não concomitância ao momento
da enunciação (ME).
A não-concomitância, ainda, se articula em anterioridade vs posterioridade. Essas relações
estabelecerão os momentos de referência (MR) presente, passado e futuro.
Os momentos de referência (MR) passado e futuro encontram-se marcados no enunciado
pelo tempo cronológico (No ano passado, em janeiro de 2015, no século XXI).
O momento da enunciação (ME) pode ser instaurado em qualquer ponto do tempo
cronológico. Exemplo: Estamos a cem milhões de anos. Os dinossauros passeiam pela Terra e,
nesse caso, o agora está colocado no passado cronológico remoto.) (Fiorin, 2004b, 166)
As categorias concomitância vs não concomitância em relação ao ME instauram o momento
de referência (MR) que são o presente, o passado e o futuro.
Ainda em relação ao MR presente, passado e futuro aplica-se as categorias concomitância vs
não concomitância e as categorias anterioridade vs posterioridade, então, teremos o momento
do acontecimento (MA) que determina cada tempo linguístico.
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A língua apresenta dois sistemas temporais:
ME momento da enunciação;
ME (Momento da enunciação –
presente implícito)
Anterioridade Posterioridade
Agora, passemos a observar cada sistema apontado no gráfico: sistema enunciativo e, logo
após, sistema enuncivo.
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
O Sistema Enunciativo
O sistema enunciativo organiza-se pelo momento de referência presente (MR presente),
ao qual vamos aplicar as categorias concomitância vs não concomitância e anterioridade vs
posterioridade. Teremos, então, os momentos dos acontecimentos referentes ao Presente, ao
Pretérito Perfeito 1 e ao Futuro do Presente. Veja o gráfico a seguir:
MR presente
Anterioridade Posterioridade
(1) Presente
O sistema enunciativo organiza-se pelo MR presente, ao qual aplicamos as categorias
concomitância e teremos (1) MA Presente.
Esse tempo marca uma coincidência entre os três momentos ME = MR = MA. No entanto,
essa coincidência não precisa ser exata, ela varia em sua extensão de acordo com instantes que
acabaram de passar ou que ainda passarão. Neste caso, o que vai marcar a coincidência é que
em algum ponto ocorrerá um englobamento do ME no MR. Observe alguns exemplos:
Nesse exemplo, ocorre uma coincidência entre o MR e ME demarcado pelo verbo fulgura.
Nesse exemplo, “um milênio” é o momento de referência e o “progride” coincide com esse
momento de referência, trata-se de um Presente de continuidade.
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(2) Pretérito Perfeito 1
O Pretérito Perfeito 1 caracteriza-se por uma anterioridade do MA em relação ao MR presente.
Exemplo:
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
O Sistema Enuncivo
MR Pretérito
Anterioridade Posterioridade
Dentro do MR Pretérito (Passado) pode haver uma concomitância ou uma não concomitância dos
acontecimentos. Se a referência for concomitante aos acontecimentos, teremos o Pretérito Perfeito 2
e o Pretérito Imperfeito. Se os acontecimentos não forem concomitantes à referência, teremos o
Pretérito mais que perfeito, o futuro do pretérito simples e o futuro do pretérito composto.
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O verbo ganhou e ganhava marca uma relação de concomitância a um MR pretérito, no
entanto, ganhou marca algo acabado, como um ponto no MR. Já ganhava marca uma ação
inacabada dentro do MR (no dia 30 de junho de 2002).
(2) Pretérito Mais que Perfeito, Futuro do Pretérito Simples e Futuro do Pretérito Composto.
A não concomitância instaura um pretérito mais que perfeito, um futuro do pretérito simples
ou um futuro do pretérito composto.
No exemplo o MR é junho de 2001, “substituíra” é um pretérito mais que perfeito que indica
algo que aconteceu antes do MR.
Exemplo :
2. No dia seguinte, ele partiu para a França, onde tinha vivido por
muitos anos.
No exemplo, o MR é no dia seguinte e tinha vivido é um pretérito mais que perfeito que
indica um acontecimento anterior ao MR.
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
MR Futuro
Anterioridade Posterioridade
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(2) Futuro Anterior
O futuro anterior, conhecido por futuro do presente composto, consiste em uma anterioridade
do acontecimento em relação a um MR futuro.
Exemplo:
No exemplo o MR futuro é passar na faculdade após esse momento acontecerá outro, ir a sua casa.
Para marcar o tempo muitas vezes recorremos não aos tempos verbais, mas a outra classe
de palavras: os advérbios. É o que veremos a seguir:
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
Os Advérbios de Tempo
Por fim, aprofundaremos nosso conhecimento sobre a categoria de espaço. Você verá que
utilizamos classes de palavras específicas para a demonstração do espaço na enunciação, mas
a análise que faremos toma a perspectiva da linguística e não a da gramática e das relações
estabelecidas pela norma culta, e sim pelo uso efetivo da língua.
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O Espaço
Como sempre o espaço da enunciação é instaurado como um aqui, mas no exemplo acima
se projeta em relação ao aqui da cena enunciativa um lá (Alemanha) onde Pedro não apenas
tem a oportunidade de ampliar seus estudos como também acaba ampliando seu conhecimento
de mundo graças aos contatos com culturas de diversos países. Esse lá projetado no enunciado
mostra um lugar fora da cena enunciativa que possibilitou ao Pedro uma melhoria profissional
e pessoal.
Como você pôde observar para expressar o espaço linguístico utilizamos os advérbios de
lugar, mas também podemos utilizar os pronomes demonstrativos. Ambos servirão para situar a
cena enunciativa, sempre em relação ao “eu” enunciador – primeira pessoa.
Os Pronomes Demonstrativos:
Têm duas funções:
1. Dêitica – serve para mostrar ou designar seres singulares;
2. Coesiva - Anafórica ou catafórica – serve para lembrar o que foi dito (anafórica) ou o
que será colocado a seguir (catafórica);
Em função dêitica:
As gramáticas dizem que temos um sistema tricotômico – esse, este, aqueles que funcionariam
da seguinte maneira:
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
Exemplo:
Ganhei este anel de meu pai – disse, segurando a joia entre os dedos...
Está ocupada essa cadeira ao seu lado.
Você sabe quem é aquele homem que está parado na porta?
(Fiorin, 2004b, p.175)
No português está ocorrendo uma neutralização da oposição entre esse/este. Assim, estamos
passando para um sistema dicotômico. Esse/ este estão sendo usados em variação livre. Mas, os
estudiosos observam um predomínio do uso de esse. No novo sistema teríamos os seguintes valores:
Exemplo:
Em função coesiva:
Aquele exerce função anafórica, indica o que foi dito a algum tempo ou noutro contexto
Prof. Fiorin, citando Mattoso Câmara, comenta que o sistema em função anafórica, também,
é dicotômico. Pois, desaparece a oposição este/esse. Sendo que “este” tem uma força enfática
que não se apresenta em “esse”.
Exemplo:
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Ao usarmos este e aquele na mesma oração para retomar dois termos que acabaram de ser
ditos, eles terão o seguinte valor:
Exemplo:
Os Advérbios de Lugar:
• Apresentam duas séries:
»» Primeira tricotômica: aqui, aí, ali
»» Segunda dicotômica: cá, lá
Aí marca o espaço do tu
Acolá está em oposição ao lá, para distinguir dois espaços fora do espaço da enunciação.
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
Exemplo:
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
(...)
Gonçalves Dias
Ao ler esse pequeno trecho do poema de Gonçalves Dias instaura-se o aqui da enunciação
que está sempre pressuposto, já no enunciado temos um aqui que coincide com o espaço da
enunciação, mas também se projeta um lá que está fora do espaço enunciativo. O texto cria
um efeito de sentido de valorização do espaço que está fora da cena enunciativa. O espaço
linguístico demarcado como lá é valorizado como melhor do que o espaço do aqui.
Caro (a) aluno(a), chegamos ao fim dessa unidade. Esperamos que você tenha compreendido
como as categorias de pessoa, tempo e espaço vistas a partir da perspectiva linguística podem
ampliar o conhecimento a respeito do uso da língua. A partir dessa perspectiva podemos
contrapor algumas regras gramaticais a um sistema de análise que leva em consideração a língua
em uso e todos os elementos extralinguísticos, isto é, a tudo que pertence à cena enunciativa,
que corroboram para a produção de sentidos.
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Material Complementar
Para aprender mais sobre os conteúdos trabalhados nesta unidade, indicamos os links a seguir:
Vídeos:
Nesse vídeo, o Prof. Fiorin ministra uma aula em que explica o conceito de enunciação,
traçando um panorama histórico do desenvolvimento dos estudos linguísticos.
Vídeoaula do Prof. José Luiz Fiorin, no Cursos Livres - TV cultura, título:
Enunciação (1) conceito de enunciação.
https://www.youtube.com/watch?v=RQzJaFYiqhc
Nesse vídeo, o Prof. Fiorin ministra uma aula em que explica a categoria de pessoa.
Ele mostra quem são as pessoas e quem são as não pessoas do discurso.
Vídeoaula do Prof. José Luiz Fiorin, no Cursos Livres - TV cultura, título:
Enunciação (2) – A categoria de pessoa.
https://www.youtube.com/watch?v=Htrw8tTmigY
Nesse vídeo, o Prof. Fiorin ministra uma aula em que explica o funcionamento do
tempo linguístico.
Vídeoaula do Prof. José Luiz Fiorin, no Cursos Livres - TV cultura, título:
Enunciação (3) – A categoria de tempo.
https://www.youtube.com/watch?v=Z6HUcpg8NoQ
Nesse vídeo, o Prof. Fiorin ministra uma aula em que explica a categoria de espaço.
E como ela se instaura ou não nos enunciados.
Vídeoaula do Prof. José Luiz Fiorin, no Cursos Livres - TV cultura, título:
Enunciação (5) – A categoria de espaço.
https://www.youtube.com/watch?v=jjuU3SJromc
Não deixe de acessar o material complementar, pois é muito importante sua ação como
protagonista na construção dos seus conhecimentos.
Bons Estudos!
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Unidade: Pragmática: As categorias de enunciação (tempo, pessoa e espaço)
Referências
FIORIN, José L. A linguagem em uso. In: Fiorin, José L. (Org.). Introdução à Linguística I:
objetos teóricos. 2ed. São Paulo: Contexto, 2004a.
FIORIN, José L. Pragmática. In: Fiorin, José L. (Org.). Introdução à Linguística II: princípios
de análise. 2ed. São Paulo: Contexto, 2004b.
FIORIN, J. L. Introdução à linguística II: princípios de análise. 3. ed. São Paulo: Contexto,
2004. (E-book)
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Anotações
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