Eu não tinha ideia de que este pequeno livro deveria ter um prefácio.
Mas eu tive que escrever estas poucas linhas face ao insistente
desejo de alguns amigos que achavam que algo da natureza de um
prefácio ajudaria os aspirantes espirituais a entenderem melhor o
texto.
As expressões Atma, Ishwara e Brahman parecem ter sido usadas
nos textos antigos, algumas vezes, praticamente como sinônimos e,
em outras vezes, com significados bem diferentes. Para o olhar
perspicaz, ficará claro que estas expressões possuem diferentes
matizes de significado. No Mahavakaya*, Tat Tvam Asi – “Vós Sois
Isso” – o sentido literal de Tvam – “Vós” – é Jiva ou a alma individual,
ao passo que o sentido figurado é o Kutastha ou a alma individual
vista como separada de seus apêndices aparentes, tais como o
corpo, mente etc. O sentido literal de Tat – “Isso” – é Ishwara ou
Deus, enquanto o seu sentido figurado é Brahman ou o Absoluto.
Ao se meditar na fórmula Aham Brahma Asmi – “Eu sou Brahman” –
o aspirante deixa de lado o sentido literal das palavras e assume o
seu sentido figurado. A finalidade da meditação é que a ideia
reducionista que é frequentemente sobreposta sobre a real natureza,
i.e., Kutastha, deve ser superada pela contemplação da ideia de se
ser o grande Brahman, e que a ideia de que Brahman é algo exterior
a um alguém deve ser substituída pela contemplação da ideia de
Brahman sendo o próprio ser deste alguém, e esse é o objeto, por
assim se dizer, da experiência imediata sempre presente. Mesmo
depois de isto ter sido alcançado, a ideia de grandiosidade associada
a Brahman permanecerá. Esta ideia de grandiosidade, que é também
uma sobreposição, deve ser superada, evitando-se outros objetos e
pela contemplação da ideia de que se é a pura consciência em si,
Prajnanam Brahma. Só então pode o aspirante ter esperanças de
atingir a Realidade Absoluta. É essa Realidade Absoluta que é
denominada neste livro como Atma e como “Eu”.
1. ADVAITA
8. PURA CONSCIÊNCA
9. O SER
I. Expressões tais como imutável e sem forma não podem, até pelo
seu cunho negativo, mostrar a Realidade como ela é.
II. A declaração de que o homem não é um animal é, sem dúvida,
verdadeira. Mas ela mostra alguma das verdadeiras características
do homem?
III. É impossível mostrar a Realidade como ela é. Palavras são,
quando muito, meras indicações.
IV. Caso, desconhecendo-se isso, considere-se literalmente o que é
indicado por palavras, a experiência da Realidade será maculada
nessa medida.
V. Está em perfeita ordem se as palavras forem, meramente,
tomadas como auxílio para se erguer acima de todos os
pensamentos.
VI. A Realidade é compreendida como além de todos pensamentos,
e uma vez direcionada de modo condizente a contemplação, as
palavras podem ajudar a se chegar a um ponto onde todos os
pensamentos cessam e a Realidade é experienciada.
VII. Podem surgir dúvidas quanto à possibilidade de se contemplar
alguma coisa além de todos os pensamentos. Isso é possível. A
dificuldade é apenas aparente.
VIII. É verdade que apenas objetos da percepção podem ser
diretamente contemplados. O “Eu” é sempre o percebedor; jamais
um objeto da percepção.
IX. Como não se trata de um objeto da percepção, a contemplação
direta do “Eu” está fora de questão.
X. Não pode o “Eu” ser contemplado como resíduo, após a remoção
de tudo o que é objetivo do “Eu” aparente?
XI. Esse mesmo pensamento contemplativo chegará, por fim,
automaticamente a um impasse, e nessa quietude se verá, brilhando,
a sua (do “Eu”) verdadeira natureza.
XII. O que está além de todos os pensamentos pode ser
indiretamente contemplado também por outros modos. Eles
igualmente conduzirão à verdadeira natureza de si mesmo.
XIII. Sempre tenha em mente que palavras como Consciência ou
Conhecimento, Ser ou Felicidade apontam todas para o “Eu”.
XIV. Atenha-se a um pensamento para dispensar outros
pensamentos. Deixe-o assim ficar, enquanto ele aponta para o ser.
XV. Pense no ser como aquilo onde todos pensamentos se fundem,
assim o pensamento utilizado abre mão de sua forma e se funde ao
Ser.
XVI. Assim como usamos a palavra conhecimento para denotar
também a função de conhecer, usamos da mesma forma a palavra
felicidade para denotar a função de desfrutar.
XVII. É da experiência de todos que o conhecimento e a felicidade
surgem apenas quando suas respectivas funções de conhecer e
desfrutar terminam.
XVIII. Assim Conhecimento e Felicidade são o próprio Ser. Com essa
convicção, se um pensamento é direcionado a qualquer um destes,
esse pensamento também desiste de sua forma e se dissolve.
12. EXPERIÊNCIA
I. Está claro que uma coisa nunca pode se transformar em outra sem
a destruição de sua swarupa.
II. Se a sua swarupa é destruída, pode a coisa permanecer? A não
ser que permaneça, como se pode dizer que ela se transformou em
outra, já que sua identidade está perdida e não há nada para conectá-
la com a nova coisa?
III. Assim uma coisa jamais pode passar por uma mudança. Não há
nascimento nem morte – não são ambos mudanças?
IV. Aquele que, de modo similar, por uma intensa investigação acerca
da natureza das coisas, descobre essa verdade e nela permanece, é
a grande alma que conseguiu seu objetivo, estabelecida na única
coisa que há para ser conhecida, permanecendo sempre contente.
16. JNANI