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O direito de não ler, existe?

The right of not reading, it exists?

Valéria Aparecida Pereira Candido1

RESUMO

No contexto social em que o indivíduo vive, ou seja, constrói suas relações e faz suas
interações, é possível que este mesmo indivíduo possa de não ler?

Ler e escrever compõe o cotidiano, não somente como prática escolar mas de vida e
vivência do sujeito em sociedade.

A todo momento, praticamos o ato de leitura, seja ele através da disseminação da cultura
em que vivemos, na construção de sentidos e significados, na prática da cidadania.

A leitura é parte constitutiva da vida social do indivíduo. Em uma sociedade de cultura


escrita, a falta de cultura e letramento impede o indivíduo de se desenvolver como cidadão
pleno de seus direitos.

Portanto, existe o direito de não ler?

PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Letramento; Cultura.

1Pós Graduação em Alfabetização e Letramento, pela Instituição Faculdade de Educação São Luis;
Pós Graduação Lato Sensu; E-mail: valeriakandido@gmail.com; Orientador: Lúcia Helena Vasques.
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1 Introdução

Ler não é só codificar e decodificar palavras. É primordialmente construir sentidos para


o que se lê.

A leitura, é um testemunho oral da palavra escrita de diversos idiomas, é uma atividade


extremamente importante para a civilização com finalidades distintas tanto no processo
educacional quanto na construção do indivíduo.

Para construir sentidos, é preciso considerar os conhecimentos prévios que o leitor


possui sobre o assunto e sua interação com o suporte de leitura.

Ademais, há de se considerar as influências cognitivas do indivíduo, tais como as


crenças, as opiniões, história de vida ou atitudes e até mesmo a motivação ou objetivos
diferentes de cada um na construção do seu significado.

Portanto, para cada um, o ato de ler pode ter diferentes tipos de inferências.

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra” Paulo Freire

A leitura de mundo acontece antes mesmo do indivíduo ler a palavra, ou seja, antes
mesmo deste frequentar os bancos escolares e conhecer as palavras, o sujeito integrante do seu
contexto, do seu modo de vida, do seu cotidiano têm leituras diferentes aos da escolarização.

Desta maneira, a leitura das palavras na escola ou até mesmo de sua escrita, difere da
leitura de mundo, da leitura da realidade.

Ler, não é somente ter domínio de textos, palavras, letras, mas sim a percepção de
contexto, de mundo.

E, para tanto, se o indivíduo que não pratica o ato de ler, se torna incapaz de integrar-se
nesta realidade, fazer parte da sua cultura, expressar opiniões e ser agente transformador da
sociedade.

2 O ato de ler

Para Paulo Freire em “A importância do Ato de Ler” (1988), o processo de leitura, é


denominado como o “ato de ler”; este processo busca a percepção crítica, a interpretação e a
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“reescrita” do lido pelo indivíduo, ou seja, quanto mais se codifica a leitura da realidade, mais
aumenta a capacidade do indivíduo de perceber e aprender.

O ato de ler transita em diversas estruturas, resultando em uma série de coisas, de


objetos, de sinais, onde sua compreensão acontece na interação da realidade e com seus pares,
levando o indivíduo ao conhecimento.

Conhecimento concebido por educação que transforma as pessoas e gera mudanças


sociais.

Vincular o processo de leitura ao processo de literacia, na compreensão mais ampla do


processo de aquisição de ler e escrever e principalmente da prática social destas capacidades.
Dessa maneira, a leitura se insere em um mundo vasto de conhecimentos e significados,
possibilitando o indivíduo de decifrá-lo; portanto ler o mundo.

Portanto, ler não se apresenta como a decodificação de signos e símbolos, é muito mais
que isso, ler é um movimento de interação das pessoas com o mundo e com seus pares.

Através da leitura que se é possível descobrir e conhecer outros lugares, outros tempos,
outros jeitos de agir e ser, de outra ética, outras visões. É através desta que se conhece o mundo.

3 Literacia

“Entende-se por literacia como sendo a capacidade de cada


indivíduo compreender e usar a informação escrita, contida em vários
materiais impressos, de modo a desenvolver
seus próprios conhecimentos. A sua definição vai além da
simples compreensão dos textos, para incluir um conjunto
de capacidade de processamento de informações, que
poderão ser usadas na vida pessoal de cada indivíduo.” (Dicionário
Informal)

Literacia, portanto, é a capacidade do indivíduo de ler, de escrever, de compreender e


de interpretar o que é lido. Qualidade da pessoa letrada, de quem é capaz de adquirir
conhecimento através da escrita e da leitura, para desenvolver suas capacidades.
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Ler através de um texto sem contexto, dar sentido e compreender a palavra, a linguagem
e suas relações com o contexto de quem fala, de quem lê e escreve e, portanto, da relação entre
leitura do mundo e leitura da palavra, leva à prática de letramento.

Ser letrado e ler na vida e na cidadania é fugir da literalidade dos textos e interpretá-los,
é discutir com os textos, avaliar posições e ideologias, propor modificações, construir sentidos
diversos; é trazer o texto para a vida e se posicionar a partir deste; transformando assim seu
contexto e a sociedade.

4 Leitura e Letramento

Ler, de maneira simplista, foi por muito tempo considerado um processo de percepção
e associação na decodificação de grafemas(escrita) em fonemas(fala), para leitura de um texto.
Neste contexto, aprender a ler estava diretamente ligado ao processo de alfabetização,
caracterizado como conhecer o alfabeto, memorização dos grafemas, símbolos e sinais,
percepção auditiva e dos sons da fala (fonemas).

Uma vez alfabetizado e construídas estas associações, o indivíduo poderia chegar a letra,
à sílaba e a palavra e sucessivamente à construção de frases, o texto e seus significados. Desta
maneira, quem detinha a fluência na leitura e a capacidade de decodificar o texto, era um leitor.

No entanto, o ato de ler, não envolve somente a capacidades de decodificação, mas sim
as capacidades de ativação, reconhecimento e resgate de conhecimento, capacidades lógicas,
capacidade de interação social entre outras.

A leitura transcorre de um simples ato de decodificação de um código para a


transposição deste em ato de cognição, de compreensão, que envolve o conhecimento de
mundo, de conhecimentos linguísticos e conhecimento de práticas sociais, esta passa a ser
considerada, o letramento.

O letramento, transforma a posição em relação ao discurso, ou seja, o que inicialmente


era importante compreender o texto, do que ele estava posto ou o seu pressuposto, em outro
momento, o texto era colocado em foco e o leitor extraía informações do texto, posteriormente
ler era a interação entre o leitor e o autor, onde o texto emiti conhecimentos práticos e sociais
cheios de intenções e sentidos requeridos. Recentemente, a leitura é vista como um ato de se
colocar em relação ao texto e outros anteriores a ele, emaranhados nele e posteriores a ele, como
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possibilidades infinitas de réplica, gerando novos discursos/textos. O discurso/texto é visto


como conjunto de sentidos e apreciações de valor das pessoas e coisas do mundo, dependentes
do lugar social do autor e do leitor e da situação de interação entre eles.

Podemos entender letramento não apenas como a apropriação e o conhecimento do


alfabeto, mas como o processo de apropriação das práticas sociais de leitura e de escrita e,
naturalmente, das capacidades nelas envolvidas. Soares (1998: 45-46) aponta que “à medida
que o analfabetismo vai sendo superado, que um número cada vez maior de pessoas aprende a
ler e a escrever, e à medida que, concomitantemente, a sociedade vai se tornando cada vez mais
centrada na escrita (cada vez mais grafocêntrica), um novo fenômeno se evidencia: não basta
aprender a ler e a escrever. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não
necessariamente incorporam a prática de leitura e da escrita, não necessariamente adquirem
competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com as práticas sociais de escrita.

Daí considerarmos a existência de diferentes tipos e níveis de letramento da população


em geral.

Além disso, torna-se letrado o indivíduo ou grupo que desenvolve as habilidades não
somente de ler e de escrever, mas sim, de utilizar leitura e escrita na sociedade, ou seja, para
Soares (2009, p.39), somente a alfabetização não garante a formação de sujeitos letrados. Para
a promoção do letramento, é necessário que esses sujeitos tenham oportunidades de vivenciar
situações que envolvam a escrita e a leitura e que possam se inserir em um mundo letrado.

“Letramento, é o estado ou condição que o indivíduo ou o grupo social


passam a ter, sob o impacto das mudanças de âmbito social, cultural,
político, econômico, cognitivo e linguístico alcançado através da escrita
quando este ou aquele aprende a usá-la socialmente. O adjetivo literate
é o que caracteriza o indivíduo que faz uso social da leitura e da escrita,
ou seja, ele é letrado”. (SOARES, 2009, p.18)

Nesse sentido, cumpre observar que as práticas de leitura e letramento na sociedade


contemporânea mudaram suas características sociais, pois “os usos da língua escrita foram
mudando na família, no trabalho, nas relações comerciais, na ciência, ao longo da história,
também mudou, na escola a concepção do que seria “ser alfabetizado”, e do que é necessário
para saber poder usar a escrita ao longo da vida.” (KLEIMAN, 2005, p.21). De modo geral, a
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leitura e o letramento perpassam pelas mudanças sociais e pelo modo que as pessoas se
comunicam, seja em qualquer relação social ou em processos de aprendizagem.

5 A importância de ler

“Em que se baseia a leitura? No desejo. Essa resposta é uma opção. É


tanto o resultado de uma observação como de uma intuição vivida. Ler
é identificar-se com o apaixonado ou com o místico. É ser um pouco
clandestino, é abolir o mundo exterior, despertar-se para uma ficção,
abrir o parâmetro do imaginário. Ler é muitas vezes trancar-se (no
sentido próprio e figurado). É manter uma ligação através do tato, do
olhar, até mesmo do ouvido (as palavras ressoam). As pessoas lêem
com seus corpos. Ler é também transformando de uma experiência de
vida, e esperar alguma coisa. E um sinal de vida, um apelo, uma ocasião
de amar sem a certeza de que vai amar. Pouco a pouco desejo
desaparece sob o prazer”. (Bellenger. Os métodos de leitura. p. 17),
KLEIMAN, 2013, p.22.

Ler é uma prática social que se interliga a diversos textos, discursos, opiniões,
conhecimento e ademais onde a leitura de um texto pressupõe em ações conjuntas de valores,
crenças e atitudes que refletem o grupo social em que as pessoas estão inseridas.

O contato com a leitura e a escrita acontece com todas as pessoas, independentemente


de serem alfabetizadas ou não. Ter contato com a escrita e a leitura nos vários espaços de
circulação de um texto é uma prática social de letramento.

A escrita está presente em todos os eventos sociais das pessoas, quando saímos de casa
nos deparamos com a escrita em placas, letreiros, outdoors, jornais, revistas, panfleto, enfim a
escrita é um componente da paisagem urbana e, consequentemente a leitura é exigida para o
entendimento e compreensão dessa forma de comunicação denominada escrita.

A origem da escrita estabelece controle da produção, do comércio e da administração


da sociedade, ou seja, o indivíduo que não possui o domínio da leitura, não se insere
completamente na sociedade.
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Desde os tempos dos hieróglifos, a escrita tem ocupado um lugar de destaque na


comunicação das sociedades. Tais escritos representavam os conceitos e as ideias dos egípcios.
Cabia aos escribas à incumbência de grafar por meio de símbolos e desenhos tais registros. A
partir destes registros, os especialistas, arqueólogos e cientistas conseguiram saber, conhecer e
descobrir muitas informações dessa civilização.

A sociedade, com sua evolução e revolução no comportamento social, revolucionou o


uso da escrita, contribuindo para os avanços e descobertas da linguagem, comunicação e leituras
nos diversos espaços de interação social. O mundo contemporâneo exige o uso cada vez mais
intenso das práticas sociais da escrita e da leitura de formas distintas e específicas para cada
interlocutor.

Tais exigências sociais permeiam espaços distintos para cada indivíduo, na escola, no
poder público, nas instituições sociais e na mídia.

Saber ler, compreende habilidades básicas e práticas de ler palavras e frases, no entanto,
as demandas sociais que implicam o leitor, seja, na organização da vida doméstica, nas relações
com seus pares, na busca de informação e instrução, de entretenimento, como atividade
profissional, transformam esta atividade como obrigação. Sem ela, o indivíduo vive à margem
social.

A linguagem é uma atividade constitutiva dos sujeitos, das relações sociais e das formas
de organização da sociedade, a partir dela e, somente dela propõe-se a construção da identidade
do sujeito.

Identidade esta, como processo de significação na transmissão de fatos, sentimentos,


emoções, valores, conceitos, etc.; na representação de conteúdos e conhecimentos; na
construção de pensamentos e atitudes.

A leitura e escrita devem ser tratadas como linguagens interativas e complementares no


contexto das práticas sociais e culturais.

Ler, portanto, não é apenas decodificar letras, ler é atribuir sentidos, é aprendizagem, é
prática social.

6 O direito de não ler ou razões para ler


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“O homem constrói casas porque está vivo, mas escreve livros porque
se sabe mortal. Ele vive em grupo porque é gregário, mas lê porque se
sabe só. Esta leitura é para ele uma companhia que não ocupa o lugar
de qualquer outra, mas nenhuma outra companhia saberia substituir. Ela
não lhe oferece qualquer explicação definitiva sobre o seu destino, mas
tece uma trama cerrada de conivências entre a vida e ele. Ínfimas e
secretas conivências que falam da paradoxal felicidade de viver,
enquanto elas mesmas deixam claro o trágico absurdo da vida. De tal
forma que nossas razões para ler são tão estranhas quanto nossas razões
para viver. E a ninguém é dado o poder para pedir contas dessa
intimidade”. (DANIEL PENNAC)

A obrigatoriedade da leitura, nada se concebe, do direito a ler; Deve, portanto, haver


liberdade para a leitura.

A transformação da leitura como obrigação, tira do indivíduo sua liberdade, na


imposição de critérios que não respeitam a individualidade do leitor.

A concepção de leitura deve estar atrelada às suas funções e atribuições como o de


provocar mudanças, transformar, obter informações, elaborar novas ideias, mudar
comportamentos, propor novos questionamentos, criar novas perspectivas.

Para o escritor frânces Daniel Pennac em seu livro “Como um Romance”, aborda o
direito do leitor, voltando-se contra a obrigação de ler, são descritos como:

O direito de não ler.

O direito de pular páginas.

O direito de não ler um livro inteiro, até o final, de capa a capa.

O direito de reler, quantas vezes quiser.

O direito de ler qualquer coisa, não importa o quê.

O direito de acreditar nos livros. (a quem sabe até ao bovarismo, uma doença
“textualmente transmissível”).
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O direito de ler em qualquer lugar, não importa onde.

O direito de ler uma frase aqui e outra ali, pulando de livro em livro.

O direito de ler em voz alta e de contar histórias.

O direito de não falar do que leu.

Tais direitos do leitor elencados pelo autor, nada mais são que o respeito ao espaço
necessário para que o sujeito se faça como leitor.

“Uma só condição para se reconciliar com a leitura: não pedir nada em troca”
(PENNAC, 1998, p.121).

Compreendendo, tais direitos, segundo Daniel Pennac:

O direito de não ler: sem esse direito, não existiria seu oposto. Ler seria, então, uma
obrigação.
O direito de pular páginas: O leitor tem o direito de saltar partes de um livro que não
são atrativas, sem que isso pareça um ato de traição.
O direito de não terminar um livro: Ninguém deve se sentir inferior por não
compreender certo tipo de narrativa ou não se sentir atraído por sua leitura. Ler é uma questão
de gostos e sempre haverá outros livros à espera na estante.
O direito de reler: São muitos os motivos que nos levam a querer reler um livro: nos
recriarmos naquilo que nos atraiu, nos reencontrarmos com o que nos encantou e nos
encantarmos com o que permanece.
O direito de ler qualquer coisa: Apenas lendo de tudo um pouco, teremos critérios de
seleção de uma boa leitura. Além disso, gostos não se discutem.
O direito ao “bovarismo”: Este direito baseia-se na figura de Madame de Bovary, que
se identificava tanto com as personagens dos livros que lia que chegava a agir como elas. Da
mesma forma, devemos deixar livres nossos sentimentos e sensações ao ler um livro.
O direito de ler em qualquer lugar: Todo espaço é apropriado para se começar a
leitura de um bom livro.
O direito de ler uma frase aqui, outra ali: Qualquer leitor tem o direito de abrir um
livro em qualquer página e se perder dentro dela quando se dispõe apenas desse momento.
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O direito de ler em voz alta: Pelo simples prazer de ouvir um texto ressoar, identificar
o sabor de um som, ou simplesmente, dar vida às palavras.
O direito de calar: Ninguém é obrigado a dar opinião sobre o que lê.

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que delineia os direitos
básicos do ser humano que incluem, dentre outros: o direito à vida, segurança, propriedade,
educação, trabalho, repouso, lazer, igualdade, liberdade de pensamento, opinião e religião; Ler
um livro é e deve ser um ato prazeroso e de liberdade.

7 Leitura de Mundo e Leitura da Palavra

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior


leitura desta não pode prescindir da continuidade da leitura daquele (A
palavra que eu digo sai do mundo que estou lendo, mas a palavra que
sai do mundo que eu estou lendo vai além dele). (...) Se for capaz de
escrever minha palavra estarei, de certa forma transformando o mundo.
O ato de ler o mundo implica uma leitura dentro e fora de mim. Implica
na relação que eu tenho com esse mundo”. (Paulo Freire – Abertura do
Congresso Brasileiro de Leitura – Campinas, novembro de 1981).

O leitor assume uma postura crítica quando entende como e o que constitui uma
consciência do mundo, já que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Isso porque a
consciência do mundo se constitui na relação com o mundo; não é um ato apenas individual,
mas econômico, cultural, político e também social.
É impossível conceber a alfabetização como leitura da palavra sem admitir que ela é
necessariamente precedida de uma leitura do mundo, ou seja, lemos a realidade do mundo antes
de poder escrever.

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra” (Paulo Freire)

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, ou seja, antes de uma pessoa ser
alfabetizada e aprender a decodificar, segundo esse preceito, ela já saberia ler implicitamente,
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mas não as palavras grafadas num livro, por exemplo, mas, a grosso modo, essa pessoa sabe ler
a vida.
Primeiro, lê-se o mundo. “Ler o mundo” significa ler os signos: as coisas, os objetos, os
sinais, etc. O mundo, caracterizado por seus signos, transformam a realidade, esta social,
histórica e cultural.

A aprendizagem da leitura é fundamental no processo de aquisição de conhecimento,


tanto no nível da escola como fora dela. No mundo em que vivemos, a leitura é imprescindível.
A leitura é grande auxiliar da reflexão, da meditação, do voltar-se para dentro de si.

A leitura proporciona ao indivíduo uma autonomia em todos os segmentos da sociedade,


oferendo também acesso à cultura geral e ao entretenimento. A consciência disso tudo faz com
que o indivíduo provoque uma reação positiva, gerando estímulos à leitura no meio em que
vive.

Ao compreendermos a ação de ler de um modo amplo, veremos que ela se caracteriza


pelas relações entre o indivíduo e o mundo que o cerca. A tentativa de impor ao mundo uma
hierarquia qualquer de significamos, dizemos fazer “leitura”. O fruto de interações entre o real
e o código, nos traduz como “leitura de mundo”. Qualquer leitura de mundo é uma produção
de sentido relacionada com o momento e a situação vivida, não estando isolada do tempo e do
espaço. Ela sempre se relacionará com outras leituras, com outros textos, outros discursos. A
“leitura da palavra” está diretamente ligada à própria palavra, embora ser consoante com a
leitura de mundo, pois a todo momento lemos.

8 A transformação do leitor

A educação faz parte da vida, sua trajetória histórica se confunde com o trabalho e com
a própria história da humanidade. Saviani (2007, p. 154) menciona que “A origem da educação
coincide, então, com a origem do homem (...)”.

Ao analisar a história percebe-se que a educação antes realizada por meio da aquisição
das experiências dos mais velhos, passou para forma de separar diferentes tipos de trabalho,
separando o trabalho manual do trabalho intelectual.
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Na Constituição Federal, em seu capítulo III, Art. 205, que garante educação como
direito de todos, é preciso repensar a educação, sua concepção e sua função social.

É importante compreender que as mudanças sociais, econômicas e políticas interferem


diretamente na educação e que sua universalização não garante um processo de inclusão social.

Estamos inseridos em uma sociedade capitalista, que visa o lucro e privilegia o ter ao
ser. Em contrapartida, a educação tem como função social humanizar o homem, formando-o
para a vida, de modo que o mesmo possa agir no seu meio, em favor de uma sociedade mais
igualitária e justa.

Para tanto esta educação precisaria atender igualmente aos sujeitos, seja qual for sua
condição social e econômica, seu pertencimento étnico e cultural e as possíveis necessidades
especiais para aprendizagem. Essas características devem ser tomadas como potencialidades
para promover a aprendizagem dos conhecimentos que cabe à todos.

Entretanto, é preciso reconhecer a importância da formação como meio de participação


nas lutas sociais, percebendo que o homem é um “sujeito histórico e social que, pela sua práxis
objetiva, produz a realidade (e também por ela é produzido), o que possibilita o conhecimento
da mesma;” (CURY, 2000, p. 37).

Segundo as obras de Jean Piaget, o qual entende que o “desenvolvimento é condição


necessária à aprendizagem”, ou seja, o ser humano se modifica conforme seu desenvolvimento,
a partir da interação com o meio e sobre os objetos. Nesta tendência o sujeito participa
ativamente da sua aprendizagem. Piaget (1977, p. 62). Para esta abordagem, o conhecimento
do sujeito é construído na e pela experiência espontânea, esta aprendizagem é mais útil e
importante ao indivíduo do que a aprendizagem dos conteúdos universais.

De acordo com Vigotski (2000, p. 67) “o movimento real do processo de


desenvolvimento infantil não se realiza do individual para o socializado, mas do social para o
individual”, ou seja, o conhecimento não é construído individualmente e de forma espontânea,
mas sim como um processo social, histórico e dialético.
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Desta maneira, ao ter acesso aos bens culturais, ao saber elaborado, aos conhecimentos
universais, científicos, eruditos e historicamente construídos, compreendidos durante o
processo de aprendizagem modificamos tanto intelectualmente quanto em relação as nossas
concepções, atingindo uma melhor compreensão social, histórica e científica. E a partir disto,
tornarmo-nos conscientes da realidade em que vivemos e sujeitos no processo histórico e social.
Desta forma, propondo ações na construção de uma nova sociedade.

Somente com posse deste conhecimento, nos libertaremos da alienação e teremos o


compromisso, não de manter a sociedade, mas de transformá-la a partir da sua formação
intelectual e crítica e da sua condição social.

9 Conclusão

Antes de ler a palavra, lemos o mundo. O lemos através de gestos, olhares, expressões
faciais, do cheiro, do tato, do olfato. Qualquer leitura é uma produção de sentido e, o tempo
todo criamos sentido para o mundo que nos rodeia.

Através destas leituras, percebemos as relações existentes espaciais, de afeto,


observamos que cada coisa ocupa um lugar e tem um nome, manifestações preferências ou
rejeições. Na construção destes sentidos partilhamos experiências, vivências, culturas,
sentimentos...ou seja, interagimos socialmente.

Antes de lermos a palavra, com sua estrutura de grafemas e fonemas, somos convidados
a vivenciar a leitura de mundo.

Vivemos em um mundo de diferentes linguagens, a partir do que percebemos a nossa


volta, tudo que nos cerca, ampliamos nossa visão de mundo. O tempo todo somos impactados
com leituras diversas, a do rádio, da televisão, dos sinais de trânsito, condições do clima, tempo
certo para as plantações e colheitas, dos sentimentos, do partilhar, do ceder, do crescer, de criar
e se desenvolver. E, quanto mais experiências que vivenciamos e partilhamos, mais crescemos
e desenvolvemos.
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Esta leitura varia de pessoa para pessoa. Sua leitura de mundo interfere na produção de
sentidos e na sua relação com seus pares e seu ambiente social. Cada um lê à sua maneira, do
seu modo, de acordo com sua visão de mundo, de suas expectativas, de suas vitórias ou derrotas.
Nossas leituras, nunca serão iguais, são singulares.

Barthes (1976, p.197), diz que “teremos quantas escrituras, quantos escritores, quantos
leitores tivermos.”

A leitura é tão importante que é objeto da escrita. A leitura propicia a ampliação de seus
conhecimentos, a aquisição de consciência e reflexão sobre o mundo, pois na leitura estão
implícitos conhecimentos e informações que vão além da simples decodificação de letras e
palavras.

A leitura exerce uma responsabilidade social, através da leitura somos incluídos no


mundo e na sociedade, participamos de pensamentos histórico-cultural, conhecemos ideias
diferentes, criamos caminhos, interagimos socialmente, possuímos valores, nos apropriamos de
um poder transformador.

Sem ler, estamos e somos mantidos a uma margem social, de insignificação e sem
sentido, sem direitos e expectativas.

“Sem ler (...) somos sempre os mesmos. À medida que lemos mais, nossa compreensão
do Mundo – e de nós próprios, nele – como um barco em alto mar, vai mais e mais longe.”
Rezende (2005, p.4)

Ler é transformar a própria realidade, o mundo que a circunda.

Portanto, o direito de não ler, existe?

A leitura nos proporciona uma concepção de aprendizagem, que nos leva a


questionamentos, dos homens que somos, a sociedade que almejamos construir, transformar ou
simplesmente manter.
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