RESUMO
No contexto social em que o indivíduo vive, ou seja, constrói suas relações e faz suas
interações, é possível que este mesmo indivíduo possa de não ler?
Ler e escrever compõe o cotidiano, não somente como prática escolar mas de vida e
vivência do sujeito em sociedade.
A todo momento, praticamos o ato de leitura, seja ele através da disseminação da cultura
em que vivemos, na construção de sentidos e significados, na prática da cidadania.
1Pós Graduação em Alfabetização e Letramento, pela Instituição Faculdade de Educação São Luis;
Pós Graduação Lato Sensu; E-mail: valeriakandido@gmail.com; Orientador: Lúcia Helena Vasques.
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1 Introdução
Portanto, para cada um, o ato de ler pode ter diferentes tipos de inferências.
A leitura de mundo acontece antes mesmo do indivíduo ler a palavra, ou seja, antes
mesmo deste frequentar os bancos escolares e conhecer as palavras, o sujeito integrante do seu
contexto, do seu modo de vida, do seu cotidiano têm leituras diferentes aos da escolarização.
Desta maneira, a leitura das palavras na escola ou até mesmo de sua escrita, difere da
leitura de mundo, da leitura da realidade.
Ler, não é somente ter domínio de textos, palavras, letras, mas sim a percepção de
contexto, de mundo.
E, para tanto, se o indivíduo que não pratica o ato de ler, se torna incapaz de integrar-se
nesta realidade, fazer parte da sua cultura, expressar opiniões e ser agente transformador da
sociedade.
2 O ato de ler
“reescrita” do lido pelo indivíduo, ou seja, quanto mais se codifica a leitura da realidade, mais
aumenta a capacidade do indivíduo de perceber e aprender.
Portanto, ler não se apresenta como a decodificação de signos e símbolos, é muito mais
que isso, ler é um movimento de interação das pessoas com o mundo e com seus pares.
Através da leitura que se é possível descobrir e conhecer outros lugares, outros tempos,
outros jeitos de agir e ser, de outra ética, outras visões. É através desta que se conhece o mundo.
3 Literacia
Ler através de um texto sem contexto, dar sentido e compreender a palavra, a linguagem
e suas relações com o contexto de quem fala, de quem lê e escreve e, portanto, da relação entre
leitura do mundo e leitura da palavra, leva à prática de letramento.
Ser letrado e ler na vida e na cidadania é fugir da literalidade dos textos e interpretá-los,
é discutir com os textos, avaliar posições e ideologias, propor modificações, construir sentidos
diversos; é trazer o texto para a vida e se posicionar a partir deste; transformando assim seu
contexto e a sociedade.
4 Leitura e Letramento
Ler, de maneira simplista, foi por muito tempo considerado um processo de percepção
e associação na decodificação de grafemas(escrita) em fonemas(fala), para leitura de um texto.
Neste contexto, aprender a ler estava diretamente ligado ao processo de alfabetização,
caracterizado como conhecer o alfabeto, memorização dos grafemas, símbolos e sinais,
percepção auditiva e dos sons da fala (fonemas).
Uma vez alfabetizado e construídas estas associações, o indivíduo poderia chegar a letra,
à sílaba e a palavra e sucessivamente à construção de frases, o texto e seus significados. Desta
maneira, quem detinha a fluência na leitura e a capacidade de decodificar o texto, era um leitor.
No entanto, o ato de ler, não envolve somente a capacidades de decodificação, mas sim
as capacidades de ativação, reconhecimento e resgate de conhecimento, capacidades lógicas,
capacidade de interação social entre outras.
Além disso, torna-se letrado o indivíduo ou grupo que desenvolve as habilidades não
somente de ler e de escrever, mas sim, de utilizar leitura e escrita na sociedade, ou seja, para
Soares (2009, p.39), somente a alfabetização não garante a formação de sujeitos letrados. Para
a promoção do letramento, é necessário que esses sujeitos tenham oportunidades de vivenciar
situações que envolvam a escrita e a leitura e que possam se inserir em um mundo letrado.
leitura e o letramento perpassam pelas mudanças sociais e pelo modo que as pessoas se
comunicam, seja em qualquer relação social ou em processos de aprendizagem.
5 A importância de ler
Ler é uma prática social que se interliga a diversos textos, discursos, opiniões,
conhecimento e ademais onde a leitura de um texto pressupõe em ações conjuntas de valores,
crenças e atitudes que refletem o grupo social em que as pessoas estão inseridas.
A escrita está presente em todos os eventos sociais das pessoas, quando saímos de casa
nos deparamos com a escrita em placas, letreiros, outdoors, jornais, revistas, panfleto, enfim a
escrita é um componente da paisagem urbana e, consequentemente a leitura é exigida para o
entendimento e compreensão dessa forma de comunicação denominada escrita.
Tais exigências sociais permeiam espaços distintos para cada indivíduo, na escola, no
poder público, nas instituições sociais e na mídia.
Saber ler, compreende habilidades básicas e práticas de ler palavras e frases, no entanto,
as demandas sociais que implicam o leitor, seja, na organização da vida doméstica, nas relações
com seus pares, na busca de informação e instrução, de entretenimento, como atividade
profissional, transformam esta atividade como obrigação. Sem ela, o indivíduo vive à margem
social.
A linguagem é uma atividade constitutiva dos sujeitos, das relações sociais e das formas
de organização da sociedade, a partir dela e, somente dela propõe-se a construção da identidade
do sujeito.
Ler, portanto, não é apenas decodificar letras, ler é atribuir sentidos, é aprendizagem, é
prática social.
“O homem constrói casas porque está vivo, mas escreve livros porque
se sabe mortal. Ele vive em grupo porque é gregário, mas lê porque se
sabe só. Esta leitura é para ele uma companhia que não ocupa o lugar
de qualquer outra, mas nenhuma outra companhia saberia substituir. Ela
não lhe oferece qualquer explicação definitiva sobre o seu destino, mas
tece uma trama cerrada de conivências entre a vida e ele. Ínfimas e
secretas conivências que falam da paradoxal felicidade de viver,
enquanto elas mesmas deixam claro o trágico absurdo da vida. De tal
forma que nossas razões para ler são tão estranhas quanto nossas razões
para viver. E a ninguém é dado o poder para pedir contas dessa
intimidade”. (DANIEL PENNAC)
Para o escritor frânces Daniel Pennac em seu livro “Como um Romance”, aborda o
direito do leitor, voltando-se contra a obrigação de ler, são descritos como:
O direito de acreditar nos livros. (a quem sabe até ao bovarismo, uma doença
“textualmente transmissível”).
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O direito de ler uma frase aqui e outra ali, pulando de livro em livro.
Tais direitos do leitor elencados pelo autor, nada mais são que o respeito ao espaço
necessário para que o sujeito se faça como leitor.
“Uma só condição para se reconciliar com a leitura: não pedir nada em troca”
(PENNAC, 1998, p.121).
O direito de não ler: sem esse direito, não existiria seu oposto. Ler seria, então, uma
obrigação.
O direito de pular páginas: O leitor tem o direito de saltar partes de um livro que não
são atrativas, sem que isso pareça um ato de traição.
O direito de não terminar um livro: Ninguém deve se sentir inferior por não
compreender certo tipo de narrativa ou não se sentir atraído por sua leitura. Ler é uma questão
de gostos e sempre haverá outros livros à espera na estante.
O direito de reler: São muitos os motivos que nos levam a querer reler um livro: nos
recriarmos naquilo que nos atraiu, nos reencontrarmos com o que nos encantou e nos
encantarmos com o que permanece.
O direito de ler qualquer coisa: Apenas lendo de tudo um pouco, teremos critérios de
seleção de uma boa leitura. Além disso, gostos não se discutem.
O direito ao “bovarismo”: Este direito baseia-se na figura de Madame de Bovary, que
se identificava tanto com as personagens dos livros que lia que chegava a agir como elas. Da
mesma forma, devemos deixar livres nossos sentimentos e sensações ao ler um livro.
O direito de ler em qualquer lugar: Todo espaço é apropriado para se começar a
leitura de um bom livro.
O direito de ler uma frase aqui, outra ali: Qualquer leitor tem o direito de abrir um
livro em qualquer página e se perder dentro dela quando se dispõe apenas desse momento.
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O direito de ler em voz alta: Pelo simples prazer de ouvir um texto ressoar, identificar
o sabor de um som, ou simplesmente, dar vida às palavras.
O direito de calar: Ninguém é obrigado a dar opinião sobre o que lê.
De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que delineia os direitos
básicos do ser humano que incluem, dentre outros: o direito à vida, segurança, propriedade,
educação, trabalho, repouso, lazer, igualdade, liberdade de pensamento, opinião e religião; Ler
um livro é e deve ser um ato prazeroso e de liberdade.
O leitor assume uma postura crítica quando entende como e o que constitui uma
consciência do mundo, já que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Isso porque a
consciência do mundo se constitui na relação com o mundo; não é um ato apenas individual,
mas econômico, cultural, político e também social.
É impossível conceber a alfabetização como leitura da palavra sem admitir que ela é
necessariamente precedida de uma leitura do mundo, ou seja, lemos a realidade do mundo antes
de poder escrever.
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, ou seja, antes de uma pessoa ser
alfabetizada e aprender a decodificar, segundo esse preceito, ela já saberia ler implicitamente,
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mas não as palavras grafadas num livro, por exemplo, mas, a grosso modo, essa pessoa sabe ler
a vida.
Primeiro, lê-se o mundo. “Ler o mundo” significa ler os signos: as coisas, os objetos, os
sinais, etc. O mundo, caracterizado por seus signos, transformam a realidade, esta social,
histórica e cultural.
8 A transformação do leitor
A educação faz parte da vida, sua trajetória histórica se confunde com o trabalho e com
a própria história da humanidade. Saviani (2007, p. 154) menciona que “A origem da educação
coincide, então, com a origem do homem (...)”.
Ao analisar a história percebe-se que a educação antes realizada por meio da aquisição
das experiências dos mais velhos, passou para forma de separar diferentes tipos de trabalho,
separando o trabalho manual do trabalho intelectual.
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Na Constituição Federal, em seu capítulo III, Art. 205, que garante educação como
direito de todos, é preciso repensar a educação, sua concepção e sua função social.
Estamos inseridos em uma sociedade capitalista, que visa o lucro e privilegia o ter ao
ser. Em contrapartida, a educação tem como função social humanizar o homem, formando-o
para a vida, de modo que o mesmo possa agir no seu meio, em favor de uma sociedade mais
igualitária e justa.
Para tanto esta educação precisaria atender igualmente aos sujeitos, seja qual for sua
condição social e econômica, seu pertencimento étnico e cultural e as possíveis necessidades
especiais para aprendizagem. Essas características devem ser tomadas como potencialidades
para promover a aprendizagem dos conhecimentos que cabe à todos.
Desta maneira, ao ter acesso aos bens culturais, ao saber elaborado, aos conhecimentos
universais, científicos, eruditos e historicamente construídos, compreendidos durante o
processo de aprendizagem modificamos tanto intelectualmente quanto em relação as nossas
concepções, atingindo uma melhor compreensão social, histórica e científica. E a partir disto,
tornarmo-nos conscientes da realidade em que vivemos e sujeitos no processo histórico e social.
Desta forma, propondo ações na construção de uma nova sociedade.
9 Conclusão
Antes de ler a palavra, lemos o mundo. O lemos através de gestos, olhares, expressões
faciais, do cheiro, do tato, do olfato. Qualquer leitura é uma produção de sentido e, o tempo
todo criamos sentido para o mundo que nos rodeia.
Antes de lermos a palavra, com sua estrutura de grafemas e fonemas, somos convidados
a vivenciar a leitura de mundo.
Esta leitura varia de pessoa para pessoa. Sua leitura de mundo interfere na produção de
sentidos e na sua relação com seus pares e seu ambiente social. Cada um lê à sua maneira, do
seu modo, de acordo com sua visão de mundo, de suas expectativas, de suas vitórias ou derrotas.
Nossas leituras, nunca serão iguais, são singulares.
Barthes (1976, p.197), diz que “teremos quantas escrituras, quantos escritores, quantos
leitores tivermos.”
A leitura é tão importante que é objeto da escrita. A leitura propicia a ampliação de seus
conhecimentos, a aquisição de consciência e reflexão sobre o mundo, pois na leitura estão
implícitos conhecimentos e informações que vão além da simples decodificação de letras e
palavras.
Sem ler, estamos e somos mantidos a uma margem social, de insignificação e sem
sentido, sem direitos e expectativas.
“Sem ler (...) somos sempre os mesmos. À medida que lemos mais, nossa compreensão
do Mundo – e de nós próprios, nele – como um barco em alto mar, vai mais e mais longe.”
Rezende (2005, p.4)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HTTPS://blog.estantevirtual.com.br/2010/12/10/pela-declaracao-universal-dos-direitos-do-
leitor/
HTTPS://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/ato-ler.htm
HTTPS://pt.wikipedia.org/wiki/Leitura
HTTPS://www.dicionarioinformal.com.br/literacia/
KLEIMAN, Ângela. Oficina da leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes, 1993.
PENNAC, Daniel (1998). Como um Romance. Tradução de Leny Werneck. 4ªed. Rio de
Janeiro: Rocco.
PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.
REZENDE, Lucinea Aparecida de. (Org.) Leitura e Visão de Mundo: peças de um quebra-
cabeça. I. Londrina: Atrito Art, 2005.