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Com as mãos constantemente ensanguentadas, B) às Reformas religiosas, a partir das quais as pessoas
pregava incansavelmente o conceito de que para deixaram de ser crentes e místicas.
conhecer o corpo humano era necessário dissecá-lo.
C) à expansão marítima, cujos lucros contribuíram para
o desenvolvimento científico e comercial autônomo das
colônias.
QUESTÕES
01) Os estudos de anatomia, praticados pelo médico A dimensão mais autêntica da filosofia é a da
belga Vesalius (1514 – 1564) e por Leonardo da Vinci "sabedoria", que ensina como devemos viver para
(1452 – 1519), não só alteram várias concepções sermos felizes.
inadequadas da anatomia tradicional, baseadas nas Mas como a razão cética, abraçada por
obras de Galeno (séc. II), como também alteram a Montaigne, pode alcançar esses objetivos, aquela
representação religiosa do corpo humano e lhe dão uma mesma razão cética que propõe acima de todas as coisas
conotação física, naturalista e biológica. a pergunta de advertência "o que sei eu?".
02) Por considerar o corpo humano apenas matéria, a Sexto Empírico (filósofo grego que viveu entre
Igreja da Idade Média não se importava com a os séculos II e III d.C) escreveu que os céticos
exumação de cadáveres para a prática de experiências conseguiram resolver o problema da felicidade
científicas. precisamente mediante a renúncia ao conhecimento da
04) A Idade Moderna desenvolve uma concepção verdade. A este propósito, ele citava o conhecido
mecanicista do corpo que pode, inclusive, ser apólogo do pintor Apeles que, não conseguindo pintar
encontrada na obra de René Descartes. satisfatoriamente a espuma sobre a boca de um cavalo,
08) A secularização da concepção do corpo apresenta- tomado de raiva, lançou contra a pintura a esponja
se durante o Renascimento na expressão artística, embebida em tintas.
como, por exemplo, na arte pictórica de Rembrandt, Então, a esponja deixou na tela uma mancha
que reproduz a experiência de Vesalius no seu quadro que parecia espuma. E da mesma maneira que, com a
A lição de anatomia. renúncia, Apeles alcançou o seu objetivo, os céticos,
16) A exumação dos cadáveres, sua dissecação e as com a renúncia a encontrar o verdadeiro (ou seja,
experiências neles exercidas eram, no início da Idade suspendendo o juízo), acabaram encontrando a
Moderna, rigorosamente submetidas aos princípios da tranquilidade.
bioética e fiscalizadas por um conselho composto por A solução adotada por Montaigne inspira-se
membros da Igreja e magistrados. nessa, mas é muito mais articulada, rica em nuanças e
sofisticada, com a inclusão, também, de sugestões
epicuristas e estóicas.
2. MICHEL DE MONTAIGNE O homem é mísero? Pois bem, captemos o
sentido dessa miséria. É limitado? Captemos o sentido
O Ceticismo dessa limitação. É medíocre? Captemos o sentido dessa
conseguiu criar verdadeira e mediocridade. Mas, se compreendermos isso,
própria maneira cultural na compreenderemos também que a grandeza do homem
França com Michel de está precisamente em sua mediocridade.
Montaigne (1533-1592). Então é claro que o "conhece-te a ti mesmo"
Com ele o Ceticismo não pode desembocar em uma resposta sobre a essência
convive com uma fé sincera. do homem, mas somente sobre as características do
Isso surpreendeu muitos homem singular, que alcançamos vivendo e
historiadores. Na realidade, observando os outros viverem, bem como procurando
porém, sendo o ceticismo nos reconhecer a nós mesmos refletidos na experiência
desconfiança na razão, ele dos outros.
não põe a fé em causa, pois Os homens são notavelmente diversos entre si
esta situa-se num plano diferente, sendo, portanto, e, não sendo possível estabelecer os mesmos preceitos
estruturalmente inatacável pelo espirito cético. para todos, é preciso que cada um construa uma
A "naturalidade" do conhecimento de Deus sabedoria a sua própria medida. Cada qual só pode ser
depende inteira e exclusivamente da fé. O cético, sábio de sua própria sabedoria; o sábio deve saber dizer
portanto, só pode ser fideísta. sim a vida, em qualquer circunstância, e aprender a
Mas o fideísmo de Montaigne não é o do aceitá-la e amá-la assim como é, sempre.
místico. E o interesse de sua obra volta-se Como cada ser humano apresenta múltiplos
predominantemente para o homem e não para Deus. A aspectos e cada um tem suas características próprias,
antiga exortação contida na sentença inscrita no templo não é possível estabelecer regras para todos os homens.
de Delfos, "conhece-te a ti mesmo", da qual Sócrates e Não podemos indicar algo que seja comum a todos,
grande parte do pensamento antigo se apropriaram, cada indivíduo tem que elaborar seu próprio
torna-se para Montaigne o programa do autêntico conhecimento, sua sabedoria particular, que vai ser a
filosofar. Mas não só isso, os filósofos antigos visavam sua medida para conhecer a si mesmo. Conhecendo a si
ao conhecimento do homem com o objetivo de mesmo o homem também regressa a si, o que é um dos
alcançar a felicidade e esse objetivo também está no princípios do renascimento.
centro da sua filosofia. Montaigne se preocupa também com a
condição existencial do ser humano. A existência é um
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problema, uma pergunta que nunca poderá ser C) a rejeição de Montaigne à tese de superioridade do
respondida. A nossa existência é uma experiência ser humano na natureza é um ponto de vista próximo
constante e constantemente também deve explicar a si da concepção dos atuais movimentos ambientalistas,
própria. Cada pessoa traz em si a condição existencial empenhados na valorização de todas as formas de vida.
de toda humanidade. Ele busca descrever o homem D) do mesmo modo que Montaigne era um filósofo
descrevendo a si mesmo. Ele e o homem são um cético, os ambientalistas defendem o desenvolvimento
milagre em si mesmo. sustentável a partir da tese de que os seres humanos não
Em seus escritos ele diz utilizar a própria vida atingem conhecimentos universais.
como filosofia. A sua filosofia é um relato E) o texto de Montaigne e as posições ambientalistas
autobiográfico, pois para ele cada indivíduo tem em si a atuais combinam a crítica à ideia de que os seres
capacidade máxima da situação humana. O homem humanos são senhores do Universo com o entusiasmo
deve buscar ser somente o que ele é, ou seja, um pelo domínio tecnológico sobre a natureza.
homem, e nada mais que isso. Não podemos fazer nada
melhor do que sermos humanos. De nada adianta 2. (UEM 2013) “É costume de nossos tribunais
criarmos fantasias de que seremos algo mais elevado do condenar alguns para exemplo dos outros. Condená-los
que humanos que somos. Aspirarmos ser algo além de unicamente porque erraram seria inepto, como diz
homens é inútil e pode nos causar danos morais. Platão. O que está feito não se desfaz; mas é para que
Ele afirma ainda que a morte faz parte da nossa não tornem a errar ou a fim de que os outros atentem
condição de humanos. Nós somos uma mescla de vida para o castigo. Não se corrige quem se enforca;
e morte e ambas confundem-se em nós. Aprender a corrigem-se os demais com ele. Eu faço a mesma coisa.
viver é aprender a morrer. Quando assumimos nossa É certo que os meus erros são naturais e incorrigíveis,
condição mortal tendemos a estimar mais a vida que mas assim como os homens de bem oferecem ao povo
temos. A morte nos faz desejar viver mais e melhor. o exemplo do que este deve fazer, eu os convido a não
me imitarem”
(MONTAIGNE, M. Da arte de conversar. In: Ensaios. São Paulo:
QUESTÕES Abril Cultural, 2005, p. 245).
A partir do trecho acima, assinale o que for correto.
01) A punição de um crime não desfaz o erro cometido.
1. Que me explique pelo raciocínio em que consiste a 02) Os tribunais não fazem justiça, pois aplicam ao
grande superioridade que pretende ter sobre as demais sentenciado uma punição em vista dos outros.
criaturas. Quem o autoriza a pensar que o movimento 04) O efeito educador da punição não está no temor
admirável da abóboda celeste, a luz eterna dessas tochas que gera no restante da comunidade, mas no rigor da
girando majestosamente sobre sua cabeça, as flutuações sentença.
comoventes do mar de horizontes infinitos, foram 08) A imitação das boas ações não se funda no exemplo,
criados e continuem a existir unicamente para sua conforme o ditado: “faça o que eu mando, mas não faça
comodidade e serviço? Será possível imaginar algo mais o que eu faço”.
ridículo do que essa miserável criatura, que nem sequer 16) A educação dos costumes não se faz visando ao
é dona de si mesma, que está exposta a todos os passado, mas às ações futuras.
desastres e se proclama senhora do Universo? Se não
lhe pode conhecer ao menos uma pequena parcela,
como há de dirigir o todo? 3. GIORDANO BRUNO
MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, 2000a, p. 379.
Nascido em Nola
Nesse texto, o filósofo Michel de Montaigne (1533- em 1548, Giordano
1592) apresenta uma concepção acerca da posição do Bruno entrou muito
ser humano na natureza. Entre as posições dos atuais jovem no convento de
grupos ambientalistas e a concepção de Montaigne há São Domingos em
certa semelhança, pois: Nápoles, onde foi
A) assim como os grupos de defesa ecológica criticam ordenado sacerdote em
os danos ambientais produzidos pela ação humana na 1572. Acusado em 1576
natureza, Montaigne, declara abertamente que as de heresia e de homicídio, deixou o sacerdócio e iniciou
interferências humanas no meio natural resultariam em uma fase de peregrinações pela Europa, até que em
graves desequilíbrios ecológicos. 1591 voltou para a Itália, aceitando o convite do nobre
B) Montaigne declara a miserabilidade natural do veneziano João Mocenigo, que desejava dele aprender
homem, e os atuais movimentos ambientalistas uma arte antiga de memorização, porém, denunciou-o
empenham-se para a eliminação de graves problemas ao Santo Oficio. Começou então o processo por heresia
sociais, como a miséria e a fome. que se concluiu com a condenação à morte na fogueira,
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executada em Roma dia 7 de fevereiro de 1600. Até o culto solar. Criou-se um escândalo, que obrigou Bruno
fim, Bruno não renegou seu credo filosófico-religioso. a despedir-se rapidamente dos "pedantes gramáticos"
de Oxford, que nada haviam entendido de sua
A discordância com o cristianismo mensagem.
A imagem que ele queria transmitir de si
Para entender a mensagem de um filósofo é mesmo, portanto, era a do mago renascentista, de
preciso captar a essência do seu pensamento, a fonte alguém que propunha a nova religião "egípcia" da
dos seus conceitos e o espirito que lhe dá vida. No caso revelação hermética, o culto do deus que está presente
de Giordano Bruno, onde estão esse fulcro, essa fonte nas coisas.
e essa alma? No seu pensamento o "egipcianismo" é
A marca que distingue o seu pensamento é de apresentado até mesmo como temática, ao passo que
caráter mágico-hermético. Bruno se coloca na trilha dos Hermes Trismegisto, é apresentado como fonte de
magos-filósofos renascentistas, procurando manter-se sabedoria. E essa visão do "deus nas coisas" esta
dentro dos limites da ortodoxia cristã, mas que ele expressamente ligada à magia, entendida como
tratou de levar às últimas consequências. E mais, o seu sabedoria proveniente do "sol inteligível", que é
pensamento pode ser entendido como uma espécie de revelada ao mundo ora em menor ora em maior
gnose renascentista, uma mensagem de salvação medida.
moldada no tipo de religiosidade "egípcia", como O "egipcianismo" de Bruno é uma forma de
precisamente pretendia ser a mensagem dos escritos religião paganizante, com base na qual ele pretendia
herméticos. Ele adequa o neoplatonismo para servir de fundar a reforma moral universal.
base e de moldura conceitual para essa sua visão Mas quais são seus fundamentos filosóficos?
religiosa. Acima de tudo Bruno admite uma "causa" ou um
A filosofia de Bruno é fundamentalmente "princípio supremo", ao qual ele chama também de
hermética, ele era um mago hermético do tipo mais "mente sobre as coisas", da qual deriva todo o restante,
radical, com uma espécie de missão mágico-religiosa. mas que permanece incognoscível para nós.
Consequentemente, é claro que Bruno não Todo o universo é efeito desse primeiro
podia estar de acordo com os católicos nem com os princípio; mas não se pode remontar do conhecimento
protestantes (em última instância, não pode ser dos efeitos ao conhecimento da causa, como não se
considerado sequer cristão, pois acabou pondo em pode remontar da visão de uma estátua à visão do
dúvida a divindade de Cristo e os dogmas fundamentais escultor que a fez. Esse princípio outra coisa não é do
do cristianismo) e que os apoios que buscava, ora de que o Uno de Plotino adaptado por um renascentista.
uma parte ora de outra, eram apenas apoios táticos para
realizar a própria reforma.
E precisamente por isso é que ele provocou
violentas reações em todos os ambientes nos quais
ensinou. Bruno não podia seguir nenhuma seita, porque
seu objetivo era o de fundar ele próprio uma nova
religião.
E, no entanto, estava cheio de Deus e o infinito
foi o seu princípio e o seu fim. Mas trata-se de um
"divino” e de um "infinito" de caráter neopagão, que o
aparato conceitual do neoplatonismo prestava-se a
expressar de modo quase perfeito.
Assim como em Plotino o Intelecto deriva do
Supremo Princípio, analogamente, Bruno também fala
O cosmo e seu significado
de um Intelecto universal, mas o entende, de modo
Depois do período na França, a etapa mais mais marcadamente imanentista, como mente nas
significativa da carreira de Bruno foi sua estada na coisas e precisamente como faculdade da Alma
Inglaterra, onde elaborou e publicou os "Diálogos universal, da qual brotam todas as formas que são
Italianos”, que constituem suas obras-primas. imanentes à matéria, constituindo com ela um todo
Antes de falar do seu conteúdo, é bom indissolúvel.
identificar como Bruno se apresentou aos ingleses, As formas são a estrutura dinâmica da matéria,
particularmente aos doutos da Universidade de Oxford. "que vão e vêm, cessam e se renovam", precisamente
Ele expôs uma visão copernicana do porque tudo é animado, tudo está vivo. A alma do
universo, centrada na concepção heliocêntrica e na mundo está em cada coisa. E na alma está presente o
infinitude do cosmo, vinculando-o à magia astral e ao intelecto universal, fonte perene de formas que
continuamente se renovam.
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Por isso, é compreensível que, nesse contexto, a) harmonizava-se perfeitamente com seu
Deus e natureza, forma e matéria, ato e potência hermetismo, que atribuía ao sol (símbolo do intelecto)
acabem por coincidir, a ponto de Bruno escrever: "Daí, um significado inteiramente particular, e
não é difícil ou grave, em última instância, aceitar que, segundo a b) permitia-lhe romper a visão estreita dos
substância, tudo é uno, como talvez tenha entendido Parmênides, aristotélicos, que sustentava a finitude do universo, e
tratado ignobilmente por Aristóteles. ” assim fazia desvanecer todas as "fantásticas muralhas"
dos céus, tornando-os sem limites rumo ao infinito.
A infinitude do todo e a revolução copernicana
Conclusão
O infinito se torna, a marca emblemática da sua
filosofia. Com efeito, para Bruno, se a Causa ou o Bruno é certamente um dos filósofos mais
Principio primeiro é infinito, também o efeito deve ser difíceis de entender. E, no âmbito da filosofia
infinito. renascentista, certamente é o mais complexo. Daí as
Com base nisso, Bruno sustenta não apenas a exegeses tão diversas que sobre ele foram propostas.
infinitude do mundo em geral, mas também No estado atual dos estudos, porém, muitas
(retomando a ideia de Epicuro) a infinitude no sentido conclusões a que se chegara no passado devem ser
da existência de mundos infinitos semelhantes ao revistas.
nosso, com outros planetas e outras estrelas, "e isso se Não parece possível fazer dele um precursor da
chama universo infinito, no qual há inumeráveis revolução do pensamento moderno, no sentido em que
mundos". operara a revolução científica, porque seus interesses
Infinita também é a vida, porque infinitos eram de natureza completamente diferente, ou seja,
indivíduos vivem em nós, assim como em todas as mágico-religiosos e metafísicos.
coisas compostas. O morrer não é morrer, porque A defesa que ele fez da revolução copernicana
"nada se aniquila". Assim, o morrer é apenas uma fundamenta-se em bases totalmente diferentes daquelas
mudança acidental, ao passo que aquilo que muda em que se baseara Copérnico, tanto que alguns
permanece eterno. chegaram até a levantar dúvidas de que Bruno
Mas, então, por que existe essa mutação? Por realmente tenha entendido o sentido cientifico daquela
que a matéria particular procura sempre outra forma? doutrina.
Será que procura outro ser? De modo bastante Em seu conjunto, a obra de Bruno marca um
engenhoso, Bruno responde que a mutação não dos pontos culminantes da Renascença e, ao mesmo
procura "outro ser" (pois tudo já existe desde sempre), tempo, um dos resultados conclusivos mais
e sim "outro modo de ser". E nisso reside precisamente significativos desse período irrepetível do pensamento
a diferença entre o universo e as coisas singulares do ocidental.
universo: "aquele abrange todo o ser e todos os modos
de ser; estas, cada qual tem todo o ser, mas não todos
os modos de ser". Assim, Bruno pode dizer que o 4. GALILEU GALILEI E O INÍCIO DA
universo é "esferiforme" e, ao mesmo tempo, CIÊNCIA EXPERIMENTAL
"infinito".
Na Itália, Galileu
O conceito de Deus como "esfera que tem o
Galilei (1564 – 1642)
centro em toda parte e a circunferência em nenhum
conseguiu se impor como
lugar", que apareceu pela primeira vez em tratado
um grande matemático e
hermético, serve admiravelmente a Bruno; é
inventor. Ele era
precisamente com essa base que ele opera a conciliação
estudante de medicina e
já referida.
abandonou o curso, para
Deus é todo infinito e totalmente infinito,
desgosto da família, no
porque é todo em tudo e totalmente também em toda
intuito de se aprofundar
parte do todo. Como efeito derivado de Deus, o
nos estudos de matemática, que era sua grande paixão.
universo é todo infinito, mas não totalmente infinito,
porque é todo em tudo, mas não totalmente em todas Galileu, contrariando os ensinamentos formais
as suas partes (ou, de todo modo, não pode ser infinito da Igreja predominantes nas escolas e universidades de
no modo como Deus é, sendo causa de tudo em todas seu tempo, acreditava que era possível explicar o
as partes). universo através da matemática, e dedicou sua vida a
Estamos agora em condições de entender as provar que estava certo.
razões da entusiástica aceitação da revolução
copernicana por Giordano Bruno. Não fosse por Galileu, talvez você não teria que
Com efeito, o heliocentrismo: responder 45 questões de matemática, um quarto da
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prova. Mas também se não fosse por ele, talvez você oferecia a Galileu a inesperada visão no céu de um
não estivesse lendo esse mateiral agora, pois modelo menor do que o modelo copernicano).
provavelmente não haveria a tecnologia necessária por
fazer ele chegar até você.
Confirmando Copérnico
A fé na luneta
Dia 12 de março de 1610 Galileu publica em
Na primavera de 1609 Veneza o Sidereus Nuncius, obra que inicia com estas
Galileu vem a saber que um palavras:
certo flamengo havia fabricado "Grandes na verdade são as coisas que neste breve
uma lente mediante a qual os tratado proponho a visão e contemplação dos estudiosos da
objetos visíveis, por mais natureza. Grandes, digo, tanto pela excelência da matéria em si
distantes que estivessem dos mesma, como pela novidade delas jamais ouvida em todos os
olhos do observador, eram tempos passados, como também pelo instrumento em virtude do
vistos distintamente como se qual as próprias coisas se tornaram manifestas a nosso sentido".
estivessem próximos. Nessa obra ele corrobora o sistema copernicano
A mesma noticia lhe é confirmada por seu ex- e desmente o sistema defendido pela Igreja, que era o
discípulo Jacques Badouere. Justamente com base geocentrismo. Atraves de seus estudos de astronomia
nestas notícias Galileu construiu a luneta. E a coisa ele chegou às mesmas conclusões de Copérnico sobre a
realmente interessante é que ele a tenha levado para posição da terra no sistema solar, sustentano um
dentro da ciência, como instrumento científico a ser sistema heliocentrico (sol no centro), contrariando a
utilizado como potencialização de nossos sentidos. posição geocentrica (terra no centro) da Igreja.
Esse foi o grande passo para o conhecimento Daqui as raízes do desencontro entre Galileu e
experimental. Veja que um indivíduo, por meios dos a Igreja. Copérnico afirmara que "todas as esferas giram
sentidos, pôde sozinho desafiar os conhecimentos em torno do sol como seu ponto central e, portanto, o
contemplativos sustentados por todo o clero da Igreja. centro do universo está dentro do sol". E ele pensava
que sua própria teoria fosse uma representação
Além de desbancar Aristóteles com relação à verdadeira do pressuposto universo. Deste parecer era
queda dos corpos, por meio de seus cálculos também Galileu. Para ele, a teoria copernicana descreve
matemáticos e suas experiencias na torre de Pisa, ele o sistema do mundo.
também provou que as esferas celestes não eram Tal tese realista devia necessariamente aparecer
perfeitas como o filosofo grego sustentava. perigosa a todos - católicos e protestantes - pois
pensavam que a Bíblia em sua versão literal não podia
Esse foi o grande passo para o conhecimento errar. No Eclesiastes (1,4-5) lemos que "a terra
experimental. Veja que um indivíduo, por meios dos permanece sempre em seu lugar" e que "o sol surge e se
sentidos, pôde sozinho desafiar os conhecimentos põe voltando ao lugar de onde surgiu"; e por Josué
contemplativos sustentados por todo o clero da Igreja. (10,13) somos informados de que Josué ordena ao sol
que pare. Com base nestas passagens da Escritura
Ele viu com seu telescópio as crateras lunares, e
Lutero e Calvino se opuseram ferrenhamente à teoria
o extraordinário era que não se tratava apenas de uma
copernicana.
disputa de opiniões, a palavra de Galileu contra a de
Nesse ano, também, obtém da parte do grão-
Aristóteles. Qualquer pessoa podeira ver isso pelo
duque Cosme II o rendoso posto de "matemático
telescópio e atestar que Galileu estava com a razão.
extraordinário do estúdio de Pisa". Era como se fosse o
Mediante a luneta, se podem ver, além das título de “o” filósofo-cientista da sua época, o pensador
estrelas fixas, "outras inumeráveis estrelas jamais mais notável e respeitado da Europa e, por conseguinte,
divisadas antes de agora"; o universo, em suma, torna- do mundo.
se maior; constata-se que a lua não é um corpo
perfeitamente esférico, como até então se acreditava,
Ciência e fé
mas é escabrosa e desigual como a terra (este é um
resultado que destrói uma coluna da cosmologia
Entre 1613 e 1615 Galileu escreve as famosas
aristotélico-ptolomaica, isto é, a ideia da clara distinção
quatro cartas copernicanas sobre as relações entre
entre a terra e os outros corpos celestes); vê-se que a
ciência e fé. Uma a seu discípulo, o beneditino
Galáxia não é “nada mais que um monte de inumeráveis
Benedetto Castelli, duas a dom Piero Dini; e uma a
estrelas, disseminadas em amontoados"; observa-se que
senhora Cristina de Lorena, grã-duquesa de Toscana.
as nebulosas são "rebanhos de pequenas estrelas";
Galileu teoriza a incomensurabilidade entre
veem-se os satélites de Júpiter (e esta descoberta
saber cientifico e fé religiosa, os conhecimentos
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científicos são autônomos em relação à fé, pois Na prisão domiciliar escreve os Discursos e
pretendem descrever o mundo; os dogmas da fé, as demonstrações matemáticas sobre duas novas ciências, que
proposições religiosas, de sua parte, não são e não aparecerão em 1638.
querem ser um tratado de astronomia, mas uma Essas ciências são a estática e a dinâmica. Tais
mensagem de salvação. discursos são propostos em forma de diálogo onde
Galileu fixa o princípio da distinção entre discute-se sobre a resistência dos materiais, sobre
ciência e fé, segundo o qual "a intenção do Espirito sistemas de alavanca, e está presente a celebre
Santo seria ensinar-nos como se vai ao céu e não como experiência sobre planos inclinados. Nesta obra
vai o céu". apresenta-se a contribuição mais original de Galileu à
Para Galileu, portanto, ciência e fé são história das ideias cientificas.
compatíveis porque incomensuráveis, não se trata de
um “ou-ou”, e sim de um “e-e”; o discurso cientifico é
um discurso factualmente controlável, destinado a
fazer-nos ver como funciona o mundo; o discurso
religioso é um discurso de "salvação" que não se ocupa
de descrever o mundo, e sim do "sentido" do universo,
da vida dos indivíduos e de toda a humanidade.
Denunciado ao Santo Oficio, Galileu é
processado em Roma em 1616, ele é proibido de
ensinar ou defender com palavra ou com os escritos a
teoria copernicana.
No dia 19 de fevereiro de 1616 o Santo Oficio
passou a seus teólogos as duas proposições não aceitas
pela Igreja e que resumiam o núcleo da questão:
a) "Que o sol esteja no centro do mundo, e por
conseguinte imóvel de movimento local". Assistido por seus discípulos Vicente Viviani e
b) "Que a terra não está no centro do mundo Evangelista Torricelli, Galileu morre no dia 8 de janeiro
nem imóvel, mas se move segundo si mesma inteira, de 1642.
também com movimento diurno".
Cinco dias depois, dia 24 de fevereiro, todos os A nova ciência
teólogos do Santo Oficio condenaram as duas
proposições. A sentença do Santo Oficio é transmitida Explicitando mais detalhadamente a imagem
à Congregação do Índex, que no dia 3 de março de 1616 galileana da ciência é preciso salientar que, para Galileu,
emana a condenação do Copernicanismo. a ciência não e mais um saber a serviço da fé, não
No dia 26 de fevereiro, o papa tinha alertado depende da fé, tem um escopo diferente do da fé,
Galileu a abandonar a ideia copernicana e lhe ordenava, aceita-se e encontra fundamentos diferentes dos da fé.
sob pena de prisão, "não ensiná-la e não defendê-la de Autônoma em relação à fé, a ciência está desvinculada
nenhum modo, nem com as palavras nem com os também do autoritarismo da tradição aristotélica que
escritos". Galileu concordou e prometeu obedecer. bloqueia a pesquisa cientifica.
Em 1623 sobe ao trono pontifício, com o nome E contra os aristotélicos dogmáticos e livrescos,
de Urbano VIII, o cardeal Maffeo Barberini, amigo e Galileu recorre justamente a Aristóteles, o qual
admirador de Galileu. Encorajado por este evento, "antepõe [...] as experiências sensatas a todos os
Galileu retoma sua batalha cultural; e em 1632 publica discursos"; de modo que "não duvido nada de que se
a obra Dialogo de Galileu Galilei Linceu, onde se discorre Aristóteles vive-se em nosso tempo, mudaria de
sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico opinião". Com isso Galileu faz "o funeral [...] da
e copernicano, fazendo uma defesa cerrada do sistema pseudofilosofia", mas não o funeral da tradição
copernicano. O Diálogo sobre os dois máximos sistemas do enquanto tal.
mundo aparece em 1632. Com as devidas cautelas se pode dizer que
Urbano VIII foi convencido pelos adversários Galileu é platônico em filosofia (o livro da natureza está
de Galileu de que o Dialogo constituía um descrédito escrito em linguagem matemática) e aristotélico no
da autoridade e talvez também do prestigio do papa, o método (Aristóteles "teria [...] anteposto, como
qual estaria sendo ridicularizado. convém, a sensata experiência ao discurso natural").
Foi assim que iniciou o segundo processo A ciência de Galileu é a ciência de um realista,
contra Galileu em 1633, que o condenou a negar o que ou seja, a ciência de um cientista convicto de que as
havia dito. A prisão perpetua lhe é logo comutada em
confinamento, em sua casa.
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E o movimento renascentista não ficou só na A) o desprezo de Galileu por Deus e por qualquer
Peninsula Itálica, ele se espalhou por toda a Europa. Na explicação de caráter metafísico embasada em entidades
França tivemos também Rabelais (1490 – 1553), na supranaturais.
Inglaterra, Willian Sheakespeare (1564 – 1616), na
Espanha, Miguel de Cervantes (1547 – 1616), nos B) a defesa do heliocentrismo, tese introduzida por
Paises Baixos, Erasmo de Rotterdam (1466 – 1536). Nicolau Copérnico.
É importante destacar que talvez a principal C) a superação da filosofia platônica com seu apreço
invenção dessa época, sem a qual nada disso poderia ter excessivo pela construção lógica.
acontecido, tenha sido a imprensa (1454) do alemão
Gutemberg. Ela possibilitou a reprodução rápida e D) a inversão entre religião e ciência com relação à
barata dos livros já produzidos e dos que estavam sendo prioridade sobre a enunciação da verdade.
escritos.
2. Leia o seguinte texto:
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“A filosofia está escrita neste imenso livro que transformação no modo de conceber e explicar o
continuamente está aberto diante de nossos olhos conhecimento da natureza. Com base nos
(estou falando do universo), mas que não se pode conhecimentos sobre a investigação da natureza no
entender se primeiro não se aprende a entender sua início da ciência moderna, particularmente em Galileu,
língua e conhecer os caracteres em que está escrito. Ele atribua V (verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a
está escrito em linguagem matemática e seus caracteres seguir.
são círculos, triângulos e outras figuras geométricas,
( ) A nova atitude de investigação rendeu-se ao poder
meios sem os quais é impossível entender
de convencimento argumentativo da Igreja, a ponto de
humanamente suas palavras: sem tais meios, vagamos
o próprio Galileu, ao abjurar suas teses, ter se
inutilmente por um escuro labirinto.”
convencido dos equívocos da sua teoria.
(GALILEI, G. Il saggiatore. Apud REALE, G. & ANTISERI, D.
História da filosofia. São Paulo: Paulinas, 1990, v. 2, p. 281.) ( ) A observação dos fenômenos, a experimentação e a
noção de regularidade matemática da natureza abalaram
Tendo em mente o texto acima e os conhecimentos as concepções que fundamentavam a visão medieval de
sobre o pensamento de Galileu acerca do método mundo.
científico, considere as seguintes afirmativas.
( ) O abandono da especulação levou Galileu a adotar
I. Galileu defende o desenvolvimento de uma ciência pressupostos da filosofia de Aristóteles, pois esse
voltada para os aspectos objetivos e mensuráveis da pensador possuía uma concepção de experimentação
natureza, em oposição à física qualitativa de Aristóteles. similar à sua.
II. Para Galileu, é possível obter conhecimento ( ) O método de investigação da natureza restringia-se
científico sobre objetos matemáticos, tais como círculos àquilo que podia ser apreendido imediatamente pelos
e triângulos, mas não sobre objetos do mundo sensível. sentidos, uma vez que o que está além dos sentidos é
mera especulação.
III. Galileu pensa que uma ciência quantitativa da
natureza é possível graças ao fato de que a própria ( ) Uma das razões mais fortes para a condenação de
natureza está configurada de modo a exibir ordem e Galileu foi sua identificação da imperfeição dos corpos
simetrias matemáticas. celestes, o que contrariava os dogmas da igreja.
IV. Galileu considera que a observação não faz parte do Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo,
método científico proposto por ele, uma vez que todo a sequência correta.
o conhecimento científico pode ser obtido por meio de
demonstrações matemáticas. a) V, V, V, F, F.
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5. (UNICENTRO 2010) “A filosofia encontra-se B) o significado aparente daquilo que é lido acerca da
escrita neste grande livro que continuamente se abre natureza na bíblia constitui uma referência primeira.
perante nossos olhos (isto é, o Universo). Ele está
escrito em língua matemática, os caracteres são C) as diferentes exposições quanto ao significado das
triângulos, circunferências e outras figuras geométricas. palavras bíblicas devem evitar confrontos com os
Sem estes meios, é impossível entender humanamente dogmas da Igreja.
as palavras; sem eles nós vagamos perdidos dentro de
um obscuro labirinto.” D) a bíblia deve receber uma interpretação literal
(GALILEU. Apud. COTRIM. Fundamentos da filosofia: história e porque, desse modo, não será desviada a verdade
grandes temas. 16ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2006 - p.133.) natural.
De acordo com o texto acima, e com seus E) os intérpretes precisam propor, para as passagens
conhecimentos sobre a ciência da natureza em Galileu, bíblicas, sentidos que ultrapassem o significado
assinale a alternativa correta. imediato das palavras.
16) A Igreja Católica, desde a criação da Inquisição, 08) A filosofia é o primeiro momento da investigação,
demorou nove séculos para reconhecer os erros que precede a matemática.
cometidos contra a ciência e retratar-se das sentenças 16) O estudo da filosofia identifica-se com o estudo da
injustas proferidas contra os cientistas que ousaram natureza.
revolucionar a ciência.
5. MAQUIAVEL E O DILEMA DO PRÍNCIPE
8. (UEM 2008) Uma das características do
“Como é meu intento
Renascimento e da Modernidade que lhe é associada é
escrever coisa útil para os
um processo de secularização da ciência que se expressa
que se interessarem, pareceu-
por uma dissociação entre a teologia e a filosofia da
me mais conveniente
natureza. A secularização da ciência realiza-se na
procurar a verdade pelo
separação entre razão e fé, as verdades científicas
efeito das coisas, do que pelo
tornam-se independentes das verdades reveladas.
que delas se possa imaginar.
E muita gente imaginou
Assinale o que for correto.
repúblicas e principados que
01) O processo de secularização na Modernidade
nunca se viram nem jamais
modifica o caráter da ciência; essa deixa de ser
foram reconhecidos como
essencialmente contemplativa para transformar-se em
verdadeiros. ” (Maquiavel)
uma ciência instrumental, cujo objetivo é conhecer a
natureza para intervir nela, controlá-la e apropriar-se da As transformações sofridas pelo poder político
mesma para fins úteis. não passaram despercebidas pelos renascentistas, e a
02) O mecanicismo constitui-se em um aspecto principal, e mais significativa personalidade nesse
importante da ciência moderna. A natureza e o próprio campo foi o florentino Nicolau Maquiavel (1469 –
ser humano são comparados a uma máquina, isto é, a 1527).
um conjunto de mecanismos cujas leis precisam ser
descobertas. Ele assumiu um cargo importante no governo
04) Copérnico encontra em Aristóteles os fundamentos de Florença depois que a família Médici foi afastada do
teóricos para combater a concepção heliocêntrica do controle da cidade. Trabalhava como diplomata
universo defendida por Ptolomeu e pela Igreja. fazendo várias viagens aos grandes reinos que haviam
08) Vesalius contribui para o conhecimento da se unificado, e não se conformava com o estado de
anatomia humana, ao desafiar a proibição religiosa de guerra que se encontrava a Península Itálica.
dissecação de cadáveres. Suas observações corrigem
muitos erros contidos na medicina de Galeno. Maquiavel é considerado o pai da ciência
16) Com Galileu Galilei, o experimento torna-se parte política moderna porque não escreveu um tratado
do método científico; torna-se um marco do novo teórico de como deveria ser o governo ideal. Desde os
espírito da ciência. É com seus experimentos que ele gregos até sua época, todos fizeram isso.
refuta as teses aristotélicas de que o peso de um corpo Sua preocupação não era como deveria ser a
depende de seu tamanho. política, mas sim em como ela é realmente praticada.
Com isso em mente, tendo como fundamento
9. (UEM 2012) Afirma o filósofo Galileu Galilei (1564- empírico as lições que a história havia dado e como se
1642): “A Filosofia encontra-se escrita neste grande comportavam os grandes políticos de sua época, ele
livro que continuamente se abre perante nossos olhos escreveu um manual de como construir um estado
(isto é, o Universo), que não se pode compreender antes forte e como se manter no poder para governá-lo.
de entender a língua e conhecer os caracteres com os
quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática,
os caracteres são triângulos, circunferências e outras Formação do Estado nacional
figuras geométricas, sem cujos meios é impossível
entender humanamente as palavras: sem eles nós Durante a Idade Média, como vimos, o poder
vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto”. do rei era sempre confrontado com os poderes da Igreja
(GALILEI, Galileu. O ensaiador. São Paulo: Abril Cultural, 1973, ou da nobreza.
p. 119 - Coleção Os pensadores).
As monarquias nacionais surgem com o
Segundo esse fragmento, é correto afirmar:
fortalecimento do rei, e, portanto, com a centralização
01) Conhecer algo natural implica poder traduzir as
do poder, fenômeno este que se desenvolve desde o
informações em conceitos matemáticos.
final do século XIV (Portugal) e durante o século XV
02) A matemática restringe-se ao estudo do Universo.
(França, Espanha, Inglaterra).
04) A matemática é uma língua não escrita.
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Dessa forma surge o Estado moderno, que É nessa Itália dividida que vive Nicolau
apresenta características específicas, tais como o Maquiavel (1469-1527) na república de Florença.
monopólio de fazer e aplicar as leis, recolher impostos, Observa com apreensão a falta de estabilidade política
cunhar moeda, ter um exército. A novidade é que tudo da Itália, dividida em principados e repúblicas onde
isso se torna prerrogativa do governo central, o único cada um possui sua própria milícia, geralmente formada
que passa a ter o aparato administrativo para prestação por mercenários. Nem mesmo os Estados Pontifícios
dos serviços públicos bem como o monopólio legítimo deixavam de formar os seus exércitos.
da força. Maquiavel não foi apenas um intelectual que
É em função desse contexto que se torna refletiu a respeito de política, pois viveu intensamente a
possível compreender o pensamento de Maquiavel. luta de poder no período em que Florença,
tradicionalmente sob a influência da família Médici,
A Itália dividida encontrava-se por uma década governada pelo
republicano Soderini.
Na época de Maquiavel as cidades mais Nessa época Maquiavel ocupa a Segunda
expressivas da Península Itálica eram: a sua Florença, Chancelaria do governo, função que o obriga a
Milão, Nápoles e Veneza. Apesar de seu forte comércio desempenhar inúmeras missões diplomáticas na
elas eram frágeis politicamente e totalmente vulneráveis França, Alemanha e pelos diversos Estados italianos.
a ataques externos. Na época dele era a coisa mais Tem oportunidade de entrar em contato direto
comum uma cidade invadir e dominar outra, por isso a com reis, papas e nobres, e também com o condottiere
sua preocupação. César Bórgia, que estava empenhado na ampliação dos
Estados Pontifícios.
Além disso, Maquiavel acreditava que a região Observando a
italiana só teria a ganhar se fosse unificada. Mas como maneira de Bórgia agir,
fazer isso? Essa é a pergunta central de O Príncipe (1515), Maquiavel o considera o
a sua grande obra prima que iria mudar totalmente o modelo de príncipe que a Itália
modo dos homens ocidentais enxergarem a política. precisava para ser unificada.
Quando Soderini é
deposto e os Médicis voltam à
cena política, Maquiavel cai em
desgraça e recolhe-se para
escrever as obras que o
consagraram. Entre peças de
teatro (como a famosa
Mandrágora), poesia, ensaios diversos, destacam-se O
príncipe e Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio.
Escrito em 1515 e
dedicado a Lourenço de Médici,
O príncipe tem provocado
inúmeras interpretações e
controvérsias.
Uma primeira leitura nos
dá uma visão da defesa do
absolutismo e do mais completo
imoralismo: "É necessário a um
Enquanto as demais nações europeias príncipe, para se manter, que
conseguem a centralização do poder, a região onde aprenda a poder ser mau e que se
futuramente será a Alemanha e a Itália se acham valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade".
fragmentadas em inúmeros Estados sujeitos a disputas Essa primeira leitura apressada da obra levou à
internas e a hostilidades entre cidades vizinhas. criação do mito do maquiavelismo, que tem atravessado
No caso da Itália, a ausência de unificação a os séculos. Esse mito não só representa a figura do
expõe à ganância de outros países como Espanha e político maquiavélico, mas se estende até à avaliação das
França, que reivindicam territórios e assolam a atividades corriqueiras de qualquer pessoa.
península com ocupações intermináveis.
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Na linguagem comum, chamamos O príncipe de virtú não deve se valer das normas
pejorativamente de maquiavélica a pessoa sem preestabelecidas da moral cristã, pois isso geralmente
escrúpulos, traiçoeira, astuciosa que, para atingir seus pode significar a sua ruina.
fins, usa da mentira e da má-fé, sendo capaz de enganar Implícita nessa afirmação se acha a noção de
tão sutilmente que pode nos fazer pensar que agimos fortuna, aqui entendida como ocasião, acaso. O príncipe
livremente quando na verdade somos por ela não deve deixar escapar a fortuna, isto é, a ocasião.
manipulados. De nada adiantaria um príncipe virtuoso, se não
Como expressão dessa amoralidade, costuma-se souber ser precavido ou ousado, aguardando a ocasião
vulgarmente atribuir a Maquiavel a famosa máxima: propícia, aproveitando o acaso ou a sorte das
"Os fins justificam os meios". Ora, essa interpretação circunstâncias, como observador atento do curso da
se mostra excessivamente simplista e deformadora do história. No entanto, a fortuna não deve existir sem a
pensamento maquiaveliano e, para superá-la, é preciso virtú, sob pena de se transformar em mero oportunismo.
analisar com mais atenção o impacto das inovações do O príncipe deve usar de todas as artimanhas
seu pensamento político. possíveis, mentir, ludibriar, enganar. É o homem astuto,
Contrapondo-se à análise pejorativa do esperto o suficiente para conseguir o que deseja. Desse
maquiavelismo, Rousseau, no século XVIII, defende o modo, para conseguir o poder ele tem que possuir a
florentino afirmando que O príncipe era na verdade uma virtú , ou seja, qualidades especiais que o diferencie dos
sátira, e a intenção verdadeira de Maquiavel seria o outros homens. É ela que vai possibilitá-lo a reconhecer
desmascaramento das práticas despóticas, ensinando, as circunstâncias certas (fortuna ) para agir como se
portanto, o povo a se defender dos tiranos. Tal hipótese deve no momento certo. A fortuna é o que muitos
se sustentaria a partir da leitura dos Comentários sobre a chamam de sorte, mas só a aproveita quem estiver
primeira década de Tito Lívio, onde são desenvolvidas as preparado.
ideias do Maquiavel republicano.
Modernamente, no entanto, rejeita-se a visão Esse é o elemento característico do pensamento
romântica de Rousseau, e a aparente contradição entre renascentista nos seus ensinamentos. Maquiavel sabe
as duas obras é interpretada como fruto de dois que existem forças independentes da vontade do
momentos diferentes da ação política. Em um primeiro homem agindo sobre ele. Mas o homem como um ser
estágio, representado pela ação do príncipe, o poder racional, dotado de inteligência, não é uma simples
deve ser conquistado e mantido, e para tanto justifica- marionete jogada de um lado a outro ao sabor do acaso.
se o poder absoluto. Posteriormente, alcançada a Ele pode usar sua racionalidade para decidir os rumos
estabilidade, é possível e desejável a instalação do de sua vida.
governo republicano.
Chegado ao poder, é preciso saber como se
Além disso, as ideias democráticas aparecem
manter nele. Para isso, é melhor ser temido do que
veladamente também no capítulo IX de O príncipe,
amado. Maquiavel tinha uma visão pessimista sobre o
quando Maquiavel se refere à necessidade de o
homem, acreditava que ele é um bicho escroto, que
governante ter o apoio do povo, sempre melhor do que
quando tá tudo bem, todo mundo é seu amigo, mas “na
o apoio dos grandes, que podem ser traiçoeiros. O que
hora do vamos ver” todo mundo lhe vira as costas.
está sendo timidamente esboçado é a ideia de consenso,
que terá importância fundamental nos séculos Não existe essa de bem comum. Os indivíduos
seguintes. vivem em constante conflito em sociedade, e não dá
para agradar todo mundo. Para manter a lealdade de
O príncipe virtuoso todos é melhor que eles o temam, pois assim é mais fácil
de obedecerem e se manterem fiéis. É até bom de vez
Para descrever a ação do príncipe, Maquiavel em quando esfolar um infeliz para que todos vejam que
usa as expressões italianas virtú e fortuna. Virtú significa o príncipe não está para brincadeira.
virtude, no sentido grego de força, valor, qualidade de
lutador e guerreiro viril. Homens de virtú são homens Maquiavel escreveu essa obra, quando os
especiais, capazes de realizar grandes obras e provocar Médici retornaram ao poder e ele foi posto para fora da
mudanças na história. cena política. Ele a dedicou a Lorenzo de Médici, o
Não se trata do príncipe virtuoso no sentido único homem que poderia, aos olhos dele, unificar a
medieval, enquanto bom e justo segundo os preceitos Itália e lhe trazer de volta o brilho e esplendor da Roma
da moral cristã, mas sim daquele que tem a capacidade republicana anterior à ditadura de Júlio César. É
de perceber o jogo de forças que caracteriza a política necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda
para agir com energia a fim de conquistar e manter o a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso
poder. segundo a necessidade.
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Textos complementares à paz e à fé. O que, bem considerado, mostrará que ele
foi muito mais piedoso do que o povo florentino, o
O príncipe qual, para evitar a pecha de cruel, deixou que Pistóia
fosse destruída. Não deve, portanto, importar ao
1 - Segundo Claude Lefort, como "em definitivo, em príncipe a qualificação de cruel para manter os seus
nenhum lugar está traçada a via real da política", cabe súditos unidos e com fé, porque, com raras exceções, é
ao homem de ação descobrir, na paciente exploração ele mais piedoso do que aqueles que por muita
dos possíveis, os sinais da criação histórica e assim demência deixam acontecer desordens, das quais
inscrever sua ação no tempo. podem nascer assassínios ou rapinagem. É que estas
Os príncipes prudentes repeliram sempre tais consequências prejudicam todo um povo, e as
forças (as mercenárias e as auxiliares), para valer-se das execuções que provêm do príncipe ofendem apenas um
suas próprias, preferindo antes perder com estas a indivíduo. E, entre todos os príncipes, os novos são os
vencer com auxílio das outras, considerando falsa a que menos podem fugir à fama de cruéis, pois os
vitória conquistada com forças alheias. Estados novos são cheios de perigos.
(...) Se se considerar o começo da decadência do
Império Romano, achar-se-á que foi motivada somente 5 - Nasce daí esta questão debatida: se será melhor ser
por ter começado a ter a soldo mercenários godos. amado que temido ou vice-versa. Responder-se-á que
se desejaria ser uma e outra coisa; mas como é difícil
2 - Um príncipe deve, pois, não deixar nunca de se reunir ao mesmo tempo as qualidades que dão aqueles
preocupar com a arte da guerra e praticá-la na paz ainda resultados, é muito mais seguro ser temido que amado,
mais mesmo que na guerra, e isto pode ser conseguido quando se tenha que falhar numa das duas.
por duas formas: pela ação ou apenas pelo pensamento.
Quanto à ação, além de manter os soldados 6 - Um príncipe prudente não pode nem deve guardar
disciplinados e constantemente em exercício, deve estar a palavra dada quando isso s e lhe torne prejudicial e
sempre em grandes caçadas, onde deverá habituar o quando as causas que o determinaram cessem de existir.
corpo aos incômodos naturais da vida em campanha e Se os homens todos fossem bons, este preceito seria
aprender a natureza dos lugares, saber como surgem os mau. Mas, dado que são pérfidos e que não a
montes, como afundam os vales, como jazem as observariam a teu respeito, também não és obrigado a
planícies, e saber da natureza dos rios e dos pântanos, cumpri-la para com eles.
empregando nesse trabalho os melhores cuidados. (...).
Agora, quanto ao exercício do pensamento, o príncipe 7 - (...) Quem se toma senhor de uma cidade
deve ler histórias de países e considerar as ações dos tradicionalmente livre e não a destrói, será destruído
grandes homens, observar como se conduziram nas por ela. Tais cidades têm sempre por bandeira, nas
guerras, examinar as razões de suas vitórias e derrotas, rebeliões, a liberdade e suas antigas leis, que não
para poder fugir destas e imitar aquelas. esquecem nunca, nem com o correr do tempo, nem por
influência dos benefícios recebidos. (...). Assim, para
3 - Destarte todos os profetas armados venceram e os conservar uma república conquistada, o caminho mais
desarmados fracassaram. Porque, além do que já se seguro é destruí-la ou habitá-la pessoalmente.
disse, a natureza dos povos é vária, sendo fácil persuadi-
los de uma coisa, mas sendo difícil firmá-los na 8 - Como e meu intento escrever coisa útil para os que
persuasão. Convém, pois, providenciar para que, se interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar
quando não acreditarem mais, se possa fazê-Los crer à a verdade pelo efeito das coisas, do que pelo que delas
força. Moisés, Ciro, Teseu e Rômulo não teriam se possa imaginar. E muita gente imaginou repúblicas e
conseguido fazer observar por muito tempo suas principados que nunca se viram nem jamais foram
constituições se estivessem desarmados. reconhecidos como verdadeiros. Vai tanta diferença
É o que, nos tempos que correm, aconteceu a entre o como se vive e o modo por que se deveria viver,
frei Girolamo Savonarola, o qual fracassou na sua que quem se preocupar com o que se deveria fazer em
tentativa de reforma quando o povo começou a não lhe vez do que se faz aprende antes a ruína própria, do que
dar crédito. E ele não tinha meios para manter firmes o modo de se preservar; e um homem que quiser fazer
aqueles que haviam acreditado, nem para fazer com que profissão de bondade é natural que se arruine entre
os incrédulos acreditassem. tantos que são maus.
Assim é necessário a um príncipe, para se
4 - Cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou
não como cruel: apesar disso, deve cuidar de empregar deixe de valer-se disso segundo a necessidade.
convenientemente essa piedade. César Bórgia era (Maquiavel, O príncipe, trad. Lívio Xavier. Os
considerado cruel, e, contudo, sua crueldade havia pensadores, São Paulo, Abril cultural, 1973 p.62-63,
reerguido a Romanha e conseguido uni-la e conduzi-la 65-66, 31, 75, 76, 79. 28, 69.)
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(GRAMSCI, A. Maquiavel. A política e o Estado moderno. 5. ed. b) Estabeleceu critérios para a consolidação de um
Trad. de Luiz Mário Gazzaneo. Rio de Janeiro: Civilização governo tirânico e despótico.
Brasileira, 1984. p. 42/43.)
c) Consolidou a tábua de virtudes necessárias a um bom
Considerando o texto de Gramsci, marque a alternativa
homem.
correta.
d) Fundou os procedimentos de verificação da correção
A) A realidade factual não deve ser vista como o
das normas.
conjunto das forças históricas. Elas podem ser
desprezadas porque o príncipe é dotado de sabedoria e) Rompeu o vínculo de dependência entre o poder civil
suficiente para prescindir delas e agir motivado apenas e a autoridade religiosa.
pelos seus desejos.
05. Leia o texto abaixo.
B) O poder da paixão do político prático é visto por
Maquiavel como o único caminho para o poder, isto Deixando de lado as discussões sobre governos e
significa que o príncipe deve agir guiado pelas suas governantes ideais, Maquiavel se preocuparia em saber
veleidades e desejos que alimentam o seu sonho de como os homens governam de fato, quais os limites do
poder. uso da violência para conquistar e conservar o poder,
como instaurar um governo estável, etc.
C) Maquiavel não trata o "deve ser" na perspectiva
(CHALITA, Gabriel. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Ática,
ontológica da filosofia clássica. O juízo moral se
2006. p. 200.)
submete às condições concretas que se apresentam para
a conquista e a conservação do poder do Estado pelo Marque a alternativa que descreve corretamente o
príncipe moderno. objetivo de Maquiavel.
D) O príncipe é um homem de criação, que dá forma A) De acordo com Chalita, Maquiavel examina a
ao "dever ser" e rompe a distância que separa o sonho política de forma a dar continuidade às análises da
da realidade, porque tudo aquilo que ele quer, ele faz tradição filosófica.
independente da realidade factual em que se insere a
ação política. B) Conforme Chalita, o pensador florentino tem por
objetivo demonstrar como um Príncipe deve conquistar
04. Leia o texto a seguir. e manter o poder, tratando-o como uma realidade
concreta.
Certamente, a brusca mudança de direção que
encontramos nas reflexões de Maquiavel, em C) Como observamos no texto, a obra de Maquiavel é
comparação com os humanistas anteriores, explica-se inovadora por definir o que é o governo e quem são os
em larga medida pela nova realidade política que se governantes ideais.
criara em Florença e na Itália, mas também pressupõe
uma grande crise de valores morais que começava a D) De acordo com o texto, pode-se observar que
grassar. Ela não apenas constatava a divisão entre “ser” Maquiavel não admite o uso da violência para
e “dever ser”, mas também elevava essa divisão a conquistar e conservar o poder.
princípio e a colocava como base da nova visão dos 06. Maquiavel escreveu: "é necessário a um príncipe
fatos políticos. que o povo lhe vote amizade; do contrário, fracassará
(REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. São Paulo: nas adversidades".
Paulinas, 1990. V. II, p. 127.)
(MAQUIAVEL. O Príncipe. Trad. de Lívio Teixeira. Coleção Os
Dentre as contribuições de Maquiavel à Filosofia Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 41.)
Política, é correto afirmar: Para Maquiavel, esta máxima deve ser observada para a
a) Inaugurou a reflexão sobre a constituição do Estado manutenção do poder e a estabilidade do Estado.
ideal. Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a
posição de Maquiavel para atingir este preceito.
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A) O príncipe moderno deverá contar com o apoio dos religiosa, não precisando nem mesmo aparentá-las em
magistrados para conduzir as suas ações até a obtenção suas ações.
do governo absoluto sobre os súditos.
08. Leia as informações abaixo.
B) Não há uma regra certa para alcançar a confiança do
povo, porque as regras mudam conforme as No entendimento de Maquiavel, o fundamental não é
circunstâncias, portanto, o príncipe deve ser homem de possuir todas as qualidades que são atribuídas ao bom
virtù. governante, o mais importante para o novo príncipe é
aparentar possuí-las todas. "E há de se entender o
C) O povo, assim como os grandes de uma cidade ou seguinte: que um príncipe, e especialmente um príncipe
de um reino, quer receber favores. Assim, a satisfação novo, não pode observar todas as coisas a que são
de suas vontades garante a vida do príncipe no poder. obrigados os homens considerados bons, sendo
freqüentemente forçado, para manter o governo, a agir
D) O príncipe deve usar a sua fortuna e formar bons contra a caridade, a fé, a humanidade, a religião."
exércitos que lhe devotem fidelidade e sejam capazes de
manter a ordem social. (MAQUIAVEL, N. O príncipe. Trad. de Lívio Xavier. São Paulo:
Nova Cultural, 1987. p. 74.)
07. Analise a seguinte afirmação de Maquiavel.
Assinale a alternativa abaixo que justifica a afirmação de
"Eu sei que cada qual reconhecerá que seria Maquiavel.
muito de louvar que um príncipe possuísse, entre todas
as qualidades referidas, as que são tidas como boas; mas A) O príncipe é um homem de virtú, isto é, ele sabe se
a condição humana é tal, que não consente a posse submeter aos caprichos do destino e cede ao fluxo dos
completa de todas elas, nem ao menos a sua prática acontecimentos com a esperança de alcançar os seus
consistente; é necessário que o príncipe seja tão intentos políticos.
prudente que saiba evitar os defeitos que lhe B) O príncipe é maquiavélico, o que importa é o poder
arrebatariam o governo e praticar qualidades próprias e a fortuna do governante. Para isso, tudo é justificado
para lhe assegurar a posse deste, se lhe é possível; mas, mediante a força e a fraude, porque o que dá poder e
não podendo, com menor preocupação, pode-se deixar fortuna é a exploração e a miséria do povo.
que as coisas sigam seu curso natural."
C) O príncipe deve ter o ânimo voltado para a direção
(MAQUIAVEL, N. O príncipe. Trad. de Lívio Xavier. São Paulo:
apontada pelos sinais da sorte. Procedendo assim, ele
Nova Cultural, 1987, p. 64.)
saberá aproveitar as ocasiões que se apresentam para a
Assinale a alternativa correta. tomada e a conservação do poder.
A) O príncipe é um homem de virtú, que deve voltar o D) A imoralidade do príncipe é a sua virtude. Somente
seu ânimo para a direção que a fortuna o impelir, pois a um homem destituído de todos os valores torna-se
conquista e a conservação do Estado podem implicar capaz de governar de maneira insensível o corpo
ações más. político tendo por finalidade o próprio poder.
B) O príncipe é um estadista sem princípios, cujas ações 09. "Portanto, um príncipe deve gastar pouco para não
são destituídas de qualquer valor de conduta, dando ser obrigado a roubar seus súditos; para poder
vazão às suas paixões sem levar em conta o bem-estar defender-se; para não se empobrecer, tornando-se
do povo. desprezível; para não ser forçado a tornar-se rapace; e
pouco cuidado lhe dê a pecha de miserável; pois esse é
C) O príncipe pode fazer aquilo que bem entender, pois um dos defeitos que lhe dão a possibilidade de bem
a maior virtude do governante é a capacidade de governar."
provocar o ódio dos súditos, que são violentamente
reprimidos pela força das armas. (MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural,
1987. Coleção Os Pensadores. p. 66.)
D) O príncipe não precisa praticar a piedade, a
fidelidade, a humanidade, pode até desprezar a devoção Assinale a alternativa que interpreta corretamente o
pensamento do filósofo florentino.
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A) O príncipe não precisa roubar os súditos, porque a a) Maquiavel se preocupa em analisar a ação política
ele é reservada a fortuna, toda riqueza possível de ser considerando tão somente as qualidades morais do
acumulada graças à capacidade de poupar os Príncipe que determinam a ordem objetiva do Estado.
tesouros. Esta definição de fortuna, cunhada por
Maquiavel, é típica da época em que havia o apego às b) O sentido da ação política, segundo Maquiavel, tem
riquezas materiais, especialmente, a prata e o ouro da por fundamento originário e, portanto, anterior, a
América. ordem divina, refletida na harmonia da Cidade.
B) A visão política de Maquiavel era a mesma dos seus c) Para Maquiavel, a busca da ordem e da harmonia, em
contemporâneos, favorável ao poder absoluto dos face do desequilíbrio e do caos, só se realiza em a
governantes e defensora da opressão do Estado sobre conquista da justiça e do bem comum.
os súditos, o que resultou na manutenção do Estado d) Na reflexão política de Maquiavel, o fim que deve
feudal, caracterizado pela expropriação da sociedade, orientar as ações de um Príncipe é a ordem e a
por meio de tributos elevados e injustos. manutenção do poder.
C) A defesa da sobriedade administrativa do príncipe e) A análise da Maquiavel, com base nos valores
evidencia a forte ligação que unia Maquiavel à Igreja espirituais superiores aos políticos, repudia como
Católica, ambos imbuídos na defesa do poder divino ilegítimo o emprego da força coercitiva do Estado.
dos soberanos. Prova disso é que, em seu livro O
Príncipe, Maquiavel exorta o novo príncipe a ser 11. (UFU 2011) A Itália do tempo de Nicolau
sempre piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso. Maquiavel (1469 – 1527) não era um Estado unificado
como hoje, mas fragmentada em reinos e repúblicas. Na
D) Maquiavel identifica o príncipe com o homem de obra O Príncipe, declara seu sonho de ver a península
ação, cujo caráter é formado pela ética que lhe permite unificada. Para tanto, entre outros conceitos, forjou as
o uso dos meios apropriados para a organização do seu concepções de virtú e de fortuna. A primeira representa a
capacidade de governar, agir para conquistar e manter
Estado; o novo príncipe deve ser corajoso e inteligente, o poder; a segunda é relativa aos “acasos da sorte” aos
evitando a opulência e a ostensão em favor de seu poder quais todos estão submetidos, inclusive os governantes.
político. Afinal, como registrado na famosa ópera de Carl Orff:
Fortuna imperatrix mundi (A Fortuna governa o mundo).
10. Leia o seguinte texto de Maquiavel a responda à
questão. “Por isso, um príncipe prudente não pode nem deve
guardar a palavra dada quando isso se lhe torne
Como é meu intento escrever coisa útil para os que se prejudicial e quando as causas que o determinaram
interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar a cessem de existir.”
verdade pelo efeito das coisas, do que pelo que delas se MAQUIAVEL, N. O príncipe. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura,
possa imaginar. E muita gente imaginou repúblicas e 1973, p. 79 - 80.
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D) O fragmento de Maquiavel expressa bem a noção de B) São os valores espirituais que se sobrepõem aos
virtú, ao dizer que o príncipe deve ser prudente, mas não interesses meramente materiais, somente a virtude da
se relaciona com a noção de fortuna, pois em nenhum humildade permite a realização do bem comum, que é
momento afirma que as “circunstâncias” podem mudar. a fonte inesgotável da paz e harmonia entre súditos e
12. (UFU 2013) Em seus estudos sobre o Estado,
Maquiavel busca decifrar o que diz ser uma verità governante.
effettuale, a ―verdade efetiva‖ das coisas que permeiam C) É a prática da bondade, qualidade indispensável que
os movimentos da multifacetada história
humana/política através dos tempos. Segundo ele, há permite o discernimento da idéia de bem como
certos traços humanos comuns e imutáveis no decorrer norteadora das ações políticas, de maneira
daquela história. Afirma, por exemplo, que os homens desinteressada e sempre voltada para a realização dos
são ―ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante os princípios supremos da religião.
perigos, ávidos de lucro‖.
(O Príncipe, cap. XVII) D) É o poder, a virilidade humana, capaz de agir e
Para Maquiavel: dominar o curso das coisas humanas, imprimindo nos
A) A “verdade efetiva” das coisas encontra-se em plano acontecimentos as mudanças necessárias à realização de
especulativo e, portanto, no “dever-ser”. grandes obras para a conquista e conservação do poder.
B) Fazer política só é possível por meio de um
moralismo piedoso, que redime o homem em âmbito 14. (UFU 2009) Maquiavel esteve empenhado na
estatal. renovação da política em um período ainda dominado
C) A Virtù possibilita o domínio sobre a Fortuna. Esta é pela teologia cristã com os seus valores que atribuíam
atraída pela coragem do homem que possui Virtù. ao poder divino a responsabilidade sobre os propósitos
D) Fortuna é poder cego, inabalável, fechado a qualquer humanos. Em sua obra mestra, O príncipe, escreveu:
influência, que distribui bens de forma indiscriminada.
“Deus não quer fazer tudo, para não nos tolher o livre
13. Leia o texto abaixo. arbítrio e parte da glória que nos cabe”.
Não me é desconhecido que muitos têm tido e têm a MAQUIAVEL, N. O príncipe. Tradução Lívio Xavier. São Paulo: Nova Cultural,
1987. Coleção Os Pensadores. p. 108.
opinião de que as coisas do mundo são governadas pela
Assinale a alternativa que fundamenta essa afirmação de
fortuna e por Deus, de sorte que a prudência dos homens Maquiavel.
não pode corrigi-las, e mesmo não lhes traz remédio
algum. [...] Às vezes, pensando nisso, me tenho A) Deus faz o mais importante, conduz o príncipe até
inclinado a aceitá-la. Não obstante, e porque o nosso o trono, garantindo-lhe a conquista e a posse. Depois,
livre arbítrio não desapareça, penso poder ser verdade cabe ao soberano fazer um bom governo submetendo-
que a fortuna seja árbitra de metade de nossas ações, mas se aos dogmas da fé.
B) A conquista e a posse do poder político não é uma
que, ainda assim, ela nos deixa governar quase outra dádiva de Deus. É preciso que o príncipe saiba agir,
metade. valendo-se das oportunidades que lhe são favoráveis, e
com firmeza alcance a sua finalidade.
(MAQUIAVEL. O príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p.
109.)
C) Os milagres de Deus sempre socorreram os homens
piedosos. Para ser digno do auxílio divino e alcançar a
O pensamento apresentado acima abre caminho para o glória terrena é preciso ser obediente à fé cristã e
conceito de virtú, qualidade indispensável para o êxito submeter-se à autoridade do papa.
D) Nem Deus, nem o soberano são capazes de
do príncipe, pois a fortuna oferece as ocasiões para as conquistar o Estado. Tudo que ocorre na História é
ações do governante, que terá de agir com virtú. obra do capricho, do acaso cego, que não distingue nem
o cristão nem o gentio.
Assinale a alternativa que oferece a definição de virtú tal
como Maquiavel a concebeu. 15. (UFU 2010) Leia com atenção o texto abaixo.
A finalidade da política não é, como diziam os
A) É a violência indiscriminada e dirigida ao corpo dos pensadores gregos, romanos e cristãos, a justiça e o bem
cidadãos, somente o emprego da força das armas é comum, mas, como sempre souberam os políticos, a
capaz de submeter as vontades humanas sob a tomada e manutenção do poder. O verdadeiro príncipe
autoridade impiedosa e avara do príncipe moderno. é aquele que sabe tomar e conservar o poder [...].
(CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000, p. 396.)
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A respeito das qualidades necessárias ao príncipe 17. Um príncipe não deve, pois, temer a má fama de
maquiaveliano, é correto afirmar: cruel, desde que por ela mantenha seus súditos unidos
e leais, pois que, com poucos exemplos, ele será mais
A) O príncipe precisa ter fé, ser solidário e caridoso, piedoso que aqueles que, por excessiva piedade, deixam
almejando a realização da virtude cristã. acontecer as desordens das quais resultam assassínios
B) O príncipe deve ser flexível às circunstâncias, ou rapinagens: porque estes costumam prejudicar a
mudando com elas para dominar a sorte ou fortuna. comunidade inteira, enquanto aquelas execuções que
C) O príncipe precisa unificar, em todas as suas ações, emanam do príncipe atingem apenas um indivíduo.
as virtudes clássicas, como a moderação, a temperança MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988. p. 95-
96.
e a justiça.
D) O príncipe deve ser bondoso e gentil, angariando O filósofo florentino Nicolau Maquiavel é
exclusivamente o amor e, jamais, o temor do seu povo. tradicionalmente interpretado como um autor que
separa completamente a ética da política, sobretudo por
16. Leia o texto. sua afirmação de que a virtude de um governante
consiste na adequada utilização de todos os recursos
[...] em toda república há dois humores disponíveis para a sua permanência no poder.
diferentes, o do povo e o dos grandes, e [...] todas as leis Entretanto, estudos mais cuidadosos de seus textos
que se fazem em favor da liberdade nascem da desunião indicam que esse autor, na realidade, estabelece uma
deles, como facilmente se pode ver que ocorreu em distinção entre ética pública e ética privada. A partir da
Roma; [...]. E não se pode ter razão para chamar de não leitura do trecho anterior, extraído de O príncipe,
ordenada uma república dessas onde há tantos podemos concluir que:
exemplos de virtú; porque os bons exemplos nascem da
boa educação; a boa educação, das boas leis; e as boas a) Maquiavel procura justificar o exercício ocasional da
leis, dos tumultos que muitos condenam sem ponderar: crueldade pelo governante a partir de uma ética própria
porque quem examinar bem o resultado deles não da política, argumentando que a unidade da sociedade
descobrirá que eles deram origem a exílios ou violência, sob o poder do Estado evita um conjunto significativo
mas, sim, a leis e ordenações benéficas à liberdade de prejuízos coletivos.
pública. b) Maquiavel promove um radical deslocamento dos
MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. São Paulo:
Martins Fontes, 2007, p. 22. valores morais sancionados pela cultura religiosa cristã,
transferindo-os do âmbito das relações privadas para a
Nesse texto, o filósofo florentino Nicolau Maquiavel esfera pública, na qual princípios como lealdade,
(1469-1527) trata dos conflitos sociais e políticos, caridade e benevolência são realmente indispensáveis.
afirmando que: c) a conceituação maquiavélica de ética pública é a
A) os conflitos sociais e políticos justificam o poder reprodução moderna das teses filosóficas gregas, como
absoluto exercido pelo monarca, bem como sua as de Platão e as de Aristóteles, para as quais a política
estratégia de exercer a crueldade, sempre que isso for ideal deve excluir os conflitos entre os grupos humanos
necessário à ordem social. na consecução de uma sociedade harmônica e voltada
B) os conflitos sociais e políticos, apesar de negativos, para o bem comum.
são exemplos a serem utilizados pelos governantes para d) a política é incompatível com qualquer noção ética,
instruir a população e evitar definitivamente qualquer pois a tese de que os fins justificam os meios ampara o
tumulto futuro. poder do príncipe em detrimento da ordem social,
C) os conflitos sociais e políticos ocorridos na antiga sendo que esta é progressivamente aniquilada pelo
república romana foram importantes para a constante exercício da repressão estatal.
transformação da natureza humana e para a evolução e) a política é o campo de realizações éticas que desafia
histórica da humanidade. a história, dado que as sociedades humanas revelam-se
profundamente instáveis, ou seja, não há como
D) os conflitos sociais e políticos entre o povo e os procurar ensinamentos na efetividade histórica da
poderosos desdobra-se, inevitavelmente, na humanidade, sendo necessário, isto sim, investir em
fragmentação política e na formação de novos reinos, perspectivas originais e idealizadas de estruturação
marcados por novas legislações. política da sociedade.
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república de Florença no centro formavam ao final do quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas
século XV o que se pode chamar de mosaico da Itália que o determinaram cessem de existir”.
sujeita a constantes invasões estrangeiras e conflitos
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Tradução de Lívio Xavier. São
internos. Nesse cenário, o florentino Maquiavel Paulo: Nova Cultural, 1993, cap, XVIII, p.101-102.
desenvolveu reflexões sobre como aplacar o caos e
instaurar a ordem necessária para a unificação e a Com base no texto e nos conhecimentos sobre O
regeneração da Itália. Príncipe de Maquiavel, assinale a alternativa correta:
(Adaptado de: SADEK, M. T. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem a) Os homens não devem recorrer ao combate pela
fortuna, o intelectual de virtú. In: WEFORT, F. C. (Org.). força porque é suficiente combater recorrendo-se à lei.
Clássicos da política. v.2. São Paulo: Ática, 2003. p.11-24.)
b) Um príncipe que interage com os homens, servindo-
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a
se exclusivamente de qualidades morais, certamente
filosofia política de Maquiavel, assinale a alternativa
terá êxito em manter-se no poder.
correta.
c) O príncipe prudente deve procurar vencer e
a) A anarquia e a desordem no Estado são aplacadas
conservar o Estado, o que implica o desprezo aos
com a existência de um Príncipe que age segundo a
valores morais.
moralidade convencional e cristã.
d) Para conservar o Estado, o príncipe deve sempre
b) A estabilidade do Estado resulta de ações humanas
partir e se servir do bem.
concretas que pretendem evitar a barbárie, mesmo que
a realidade seja móvel e a ordem possa ser desfeita. e) Para a conservação do poder, é necessário admitir a
insuficiência da força representada pelo leão e a
c) A história é compreendida como retilínea, portanto a
importância da habilidade da raposa.
ordem é resultado necessário do desenvolvimento e
aprimoramento humano, sendo impossível que o caos 20. Leia o texto de Maquiavel a seguir:
se repita.
“[Todo príncipe prudente deve] não só remediar o
d) A ordem na política é inevitável, uma vez que o presente, mas prever os casos futuros e preveni-los com
âmbito dos assuntos humanos é resultante da toda a perícia, de forma que se lhes possa facilmente
materialização de uma vontade superior e divina. levar corretivo, e não deixar que se aproximem os
acontecimentos, pois deste modo o remédio não chega
e) Há uma ordem natural e eterna em todas as questões
a tempo, tendo-se tornado incurável a moléstia. [...]
humanas e em todo o fazer político, de modo que a
Assim se dá com o Estado: conhecendo-se os males
estabilidade e a certeza são constantes nessa dimensão.
com antecedência o que não é dado senão aos homens
19. Leia o texto a seguir. prudentes, rapidamente são curados [...]”
(MAQUIAVEL, N. O Príncipe: Escritos políticos. São Paulo: Nova
“Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se
cultural, 1991, p.12.)
combater: uma, pelas leis, outra, pela força. A primeira
é própria do homem; a segunda, dos animais. [...] Ao Nas ações de todos os homens, máxime dos príncipes,
príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar onde não há tribunal para recorrer, o que importa é o
convenientemente o animal e o homem. [...] Sendo, êxito bom ou mau. Procure, pois, um príncipe, vencer
portanto, um príncipe obrigado a bem servir-se da e conservar o Estado. Os meios que empregar serão
natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da sempre julgados honrosos e louvados por todos,
raposa e do leão, pois este não tem defesa alguma porque o vulgo é levado pelas aparências e pelos
contra os laços, e a raposa, contra os lobos. Precisa, resultados dos fatos consumados.
pois, ser raposa para conhecer os laços e leão para
(MAQUIAVEL, N. O Príncipe: Escritos políticos. São Paulo: Nova
aterrorizar os lobos. Os que se fizerem unicamente de
cultural, 1991, p.75.)
leões não serão bem-sucedidos. Por isso, um príncipe
prudente não pode nem deve guardar a palavra dada Com base nos textos e nos conhecimentos sobre o
pensamento de Maquiavel acerca da polaridade entre
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virtú e fortuna na ação política e suas implicações na 22. (ENEM 2012) Não ignoro a opinião antiga e muito
moralidade pública, considere as afirmativas a seguir: difundida e que o que acontece no mundo é decidido
por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em
I. A virtú refere-se à capacidade do príncipe de agir com nossos dias, devido às grandes transformações
astúcia e força em meio à fortuna, isto é, à contingência ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais escapam
e ao acaso nas quais a política está imersa, com a à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar
inteiramente o nosso livre arbítrio, creio que se pode
finalidade de alcançar êxito em seus objetivos.
aceitar que a sorte decida metade dos nossos atos, mas
II. A fortuna manifesta o destino inexorável dos [o livre-arbítrio] nos permite o controle sobre a outra
metade.
homens e o caráter imutável de todas as coisas, de
modo que a virtú do príncipe consiste em agir MAQUIAVEL, N. O Príncipe . Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).
b) Somente as afirmativas II e III são corretas. 23. (ENEM 2013) Nasce daqui uma questão: se vale
mais ser amado que temido ou temido que amado.
c) Somente as afirmativas II e IV são corretas. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas
porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. temido que amado, quando haja de faltar uma das duas.
Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral,
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e
ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são
21. (ENEM 2010) O príncipe, portanto, não deve se inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida
incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está
é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos longe; mas quando ele chega, revoltam-se.
exemplos duros poderá ser mais clemente do que
outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios MAQUIAVEL, N. O principe . Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.
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GABARITO 12. c
13. d
1. b 15. b
2. a 16. e
3. d 17. a
4. 1/8 18. b
1. c 20. a
2. 1/8/16 21. e
1. d 23. c
2. a
3. d
4. c
5. d
6. e
7. 1/2/4/16
8. 1/2/8/16
9. 1/16
QUESTÕES MAQUIAVEL
1. b
2. d
3. c
4. e
5. b
6. b
7. a
8. c
9. d
10. d
11. a
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