Resumo. Trata-se de um ensaio téorico que tem como objetivo debater e esclarecer sobre as escolhas
relacionadas ao paradigma epistemológico da pesquisa intitulada: Narrativa de professores em situação de
desenvolvimento profissional: estudo no contexto do PIBID; e que teve como objetivo compreender em como
a inserção no Pibid UECE movimenta o desenvolvimento profissional de professores da Educação Básica que
atuam como supervisores. Ao longo do trabalho são debatidas questões sobre epistemologia, paradigma e,
ao final, expõe-se o motivo pelo qual a pesquisa optou pelo paradigma epistemológico compreensivo.
Palavras-chave: Epistemologia; Paradigma epistemológico; Pesquisa em educação.
1 Introdução
Desde que iniciamos nossos estudos de pós-graduação stricto sensu em Educação, um dado
entendimento imediatamente tornou-se inequívoco para a compreensão: o fato de que, qualquer
realidade indagada, independentemente do momento histórico do estudo, pode ser analisada
cientificamente a partir de perspectivas distintas. Assim, cada uma das ciências pode chegar a
conclusões distintas sobre um mesmo fenômeno, bastando, para isso, sejam empregados referencias
teóricos, modos de proceder e raciocínios diversos. Não há a metodologia científica, como pregavam
os adeptos do positivismo do século XIX, cujos remanescentes ainda hoje encontramos no campo de
batalha da luta teórico-metodológica, antes, compreendemos existirem várias formas de fazer
ciências.
Ilustrativo desse argumento é o fato da Física de Isaac Newton não ter se tornado menos ciência, nem
deixado de ser ensinada nas escolas ou empregada na produção, porque as descobertas neste campo
do conhecimento, realizadas por Albert Einstein, questionaram algumas de suas conclusões. O mesmo
também pode ser dito das Ciências Sociais, em que conforme Santos (2010, p.21), nesta “não há
consenso paradigmático”. De forma que a Sociologia de Emile Durkheim não desapareceu dos
institutos de pesquisa porque os achados de Max Weber, que validou o papel da ação social dos
indivíduos, opõem-se às conclusões sobre as instituições sem sujeito da concepção durkheimiana.
Assim, diferentes modos de produzir as ciências podem ser encontrados no debate sobre os
paradigmas epistemológicos.
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A Epistemologia, como assevera Santos Filho e Gamboa (2009, p.68), pode ser apreendida como sendo
o “estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências, destinado a
determinar sua origem lógica (no psicológico), seu valor e seu alcance. Atinge prioritariamente a
pesquisa científica, alimentando com constantes interrogações o desenvolvimento das ciências”.
Laville e Dione (1999), por sua vez, conceituam Epistemologia como o estudo da natureza e dos
alicerces do Saber, em particular de sua legitimidade, de suas condições, de seus limites e de sua
produção. Severino (2007, pp. 107-108) acrescenta outros elementos a essas conceituações, ao
argumentar, que,
O pressuposto epistemológico refere-se à forma pela qual é concebida a relação
sujeito/objeto no processo de conhecimento. Cada modalidade de conhecimento
pressupõe um tipo de relação entre sujeito e objeto e, dependentemente dessa
relação, temos conclusões diferentes. Assim, está implicada no conhecimento
científico uma afirmação prévia da parte que cabe a cada um desses pólos. Por isso,
o pesquisador, ao construir seu conhecimento, está aplicando esse pressuposto
epistemológico e, por coerência interna com ele, vai utilizar recursos
metodológicos e técnicos pertinentes e compatíveis com o paradigma que catalisa
esses pressupostos. Daí falar de referencial teórico-metodológico.
Desta forma, o objetivo do presente trabalho é debater e esclarecer sobre as escolhas relacionadas ao
paradigma epistemológico da pesquisa1 intitulada: Narrativa de professores em situação de
desenvolvimento profissional: estudo no contexto do PIBID2; e que teve como objetivo compreender
em como a inserção no Pibid UECE movimenta o desenvolvimento profissional de professores da
Educação Básica que atuam como supervisores. Trata-se, portanto, de ensaio teórico.
1Trata-se de um estudo desenvolvido durante o percurso de doutoramento do primeiro autor deste trabalho no Programa
de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará (PPGE-UECE).
2 Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência.
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3 Para realizar essa classificação em três grandes blocos nos baseamos em, Santos Filho e Gamboa (2009), Alves-Mazzotti
(1996) e Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2002, p. 130). Estes últimos dizem: “...nos detemos nas tendências atuais,
focalizando os três paradigmas mais comumente apontados como sucessores do positivismo – pós-positivismo, teoria-
crítica e construtivismo – nos quais é possível perceber a influência das diversas correntes presentes na discussão
anteriormente delineada”. Todavia, ao invés de nos referir ao termo construtivismo, vamos chamar de compreensiva por
representar melhor, em nosso juízo, as características deste bloco paradigmático; e pós-positivismo, vamos adotar o termo
positivismo por entender que embora haja diferenças entre o positivismo criado por Auguste Comte e o que vemos
atualmente associado a esse termo, esta diferença ocorre mais por um processo de sofisticação do paradigma positivista
do que a existência de um rompimento de sua racionalidade, pois ela mantêm fundamentos importantes do positivismo
clássico, ou seja, o dogma do objetivismo e a crença de que os temas das ciências humanas e sociais podem ser tratados
como os temas das ciências da natureza. (Alves-Mazzotti & Gewandsznajder, 2002).
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4 Santos (2002, p.63) argumentou que, “A matemática fornece a ciência moderna, não só o instrumento privilegiado de
análise, como também a lógica da investigação, e ainda o modelo de representação da própria estrutura da matéria. Para
Galileu, o livro da natureza está inscrito em caracteres geométricos e Einstein não pensa de modo diferente. Deste lugar
central da matemática na ciência moderna derivam duas consequências principais. Em primeiro lugar, conhecer significa
quantificar. O rigor científico afere-se pelo rigor das mediações. As qualidades intrínsecas são, por assim dizer, desqualificar
e em seu lugar passam a imperar as quantidades em que eventualmente se podem traduzir. O que não é quantificável é
cientificamente irrelevante. Em segundo lugar, o método científico assenta na redução da complexidade. O mundo
complicado e a mente humana não pode compreender completamente. Conhecer significa dividir e classificar para depois
poder determinar relações sistemáticas entre o que se separou”.
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Dos três grandes blocos epistemológicos anteriormente referidos, inferimos que o paradigma
epistemológico que mais se ajusta ao objeto de nossa investigação é aquele em que as narrativas dos
sujeitos participantes da pesquisa são determinantes para a compreensão da realidade social e
educacional. Nesse caso, identificamos a epistemologia compreensiva como sendo a mais apropriada.
Quanto ao bloco paradigmático-epistemológico compreensivo, notamos a existência de várias escolas
de pensamento colaborando para a sua constituição, iniciada ainda na segunda metade do século XIX.
Entre os nomes dos seus fundadores, destacam-se do velho continente europeu, as inspiradas nas
reflexões de Wilheim Dilthey, Max Weber, Heinrich Rickert, Edmund Husserl, e outros menos
propagados. E, do novo continente americano, destacam-se nomes como os de Herbert Mead, Charles
Peirce, William James, John Dewey, entre outros. Estes nomes estão associados às escolas
interpretativistas, relativistas, fenomenológicas, historicistas, interacionistas simbólicas,
hermenêuticas e pragmáticas, que divergem entre si em várias questões, mas também apresentam
algumas características em comum. Segundo Minayo (2014, p.100), estas características assim se
definem:
(a) Seu foco é a experiência vivencial e o reconhecimento de que as realidades
humanas são complexas; (b) o contato com as pessoas se realiza nos seus próprios
contextos sociais; (c) a relação entre o investigador e os sujeitos investigados
enfatiza o encontro intersubjetivo, face a face e a empatia entre ambos; (d) os
resultados buscam explicitar a racionalidade dos contextos e a lógica interna dos
diversos atores e grupos que estão sendo estudados; (e) os textos provenientes de
análise compreensivas apresentam a realidade de forma dinâmica e evidenciam o
ponto de vista dos vários atores ante um projeto social sempre em construção e
em projeção para o futuro e (f) suas conclusões não são universalizáveis, embora a
compreensão de contextos peculiares permita inferências mais abrangentes que a
análise das microrrealidades e comparações.
Outro elemento associado à discussão dos paradigmas epistemológicos refere-se às diferentes
abordagens de pesquisa, estabelecidas entre quantitativas e qualitativas (Santos Filho & Gamboa,
2009). Porém, recentemente, outra abordagem tem despontado no cenário acadêmico e entre os
pesquisadores profissionais. Esta abordagem busca articular elementos simultaneamente
quantitativos e qualitativos, daí ser chamada de abordagem “mista” (Dal-Farra & Lopes, 2013).
Entendemos que a escolha de uma das três abordagens de pesquisa, em um estudo, deve ser
congruente com os objetivos pretendidos e o paradigma epistemológico adotado. Em nosso estudo,
optamos por desenvolver uma abordagem qualitativa, compartilhando, do pensamento de Minayo
(2000, p. 15), que argumenta: “o objeto das Ciências Sociais é essencialmente qualitativo”.
A abordagem qualitativa pode ser empregada em estudos de aglomerados de grandes dimensões,
como demonstrou Minayo (2014). Mas, parece se adaptar melhor a investigações de segmentos e
grupos demarcados. Esta abordagem tem em mente consagrar-se ao estudo das relações, das
percepções, das representações, das crenças e valores, sob a ótica dos agentes e atores sociais, acerca
de suas experiências e vivências em contextos situados, como é o caso de nosso trabalho.
4 Conclusões
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As limitações presentes no estudo residem principalmente no tamanho do texto, pois também caberia
discutir as opções metodologicas e teóricas derivadas da escolha do paradigma epistemológico.
Quanto a escolha apontada para a citada pesquisa, partiu-se do entendimento de que o paradigma
epistemológico compreensivo, atualmente bastante utilizada na pesquisa educacional, seria a aquele
mais apropriada para a investigação em Educação ao tratar de narrativas, pois ele busca valorizar de
forma mais perceptivel as experiências docentes de modo a ressaltar as estratégias de ensino e
aprendizado que valorizam a inovação, evidenciam ações colaborativas entre os professores e
destacam o papel da reflexividade nos percursos da práticas pedagógicas tendo em vista a ratificação
ou a renovação das teorias didáticas.
Referências
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