do Vale do Araguaia
Resumo
Abstract
The present article is a monographic synthesis with objective to show the results of the study
Semiotic and Sociosemiotic discusses the relationship between the Xavante indigenous culture and
Catholicism in Vale do Araguaia region. Through the analysis of religious statues introduced in
Xavante culture by the Salesians missionaries’ order of Don Bosco. Thus, we analyze the problem
of conflicting between cultural identity and the discursive and ideological sense in the images,
statues and paintings found in the Aldeia Xavante Cachoeira, Vale do Araguaia region, Mato
Grosso state. Consequently, we can prove the existence of a relationship of domination, power and
imposition of the Church on the Xavante indigenous culture resulting in cultural hybridity and the
construction of a new identity for this people. Consequently, it is necessary to pay attention to this
study the changes in reporting practices to Xavante Indians through the interaction of
language/image. Therefore, we focus our analysis on the theoretical concepts developed by Roland
Barthes, devoting more attention to the connoted or syntagmatic meaning, as he himself points out.
Keywords: Culture. Xavante Indians. Christianity. Catholicism. Semiotics.
Introdução
Esta pesquisa partiu de um interesse pessoal em procurar entender as práticas
comunicacionais mediadas pela contradição cultura religiosa indígena e a cultura dos padres
salesianos, em uma relação que se expressa na relação cultura X imagem. A consciência da
importância dos povos indígenas foi tomada considerando a realização de uma pesquisa de campo1
junto a Aldeia Xavante Cachoeira. A partir dessa oportunidade tivemos a certeza de um caminho a
trilhar. Essa experiência trouxe profundas mudanças pessoais na medida em que o conhecimento
que adquirimos passou a fazer parte da construção da própria identidade. Ressalta-se, ainda, que
este trabalho é um recorte de outro denominado: “Comunicação pela imagem: uma análise
semiótica de fotografias de elementos religiosos da cultura indígena Xavante”2.
Tattersall (2006), pontua que no processo da comunicação, a linguagem e a cultura são
elementos indissociáveis. Nesse sentido, comunicação é um termo muito amplo, assim como
cultura, e para compreendê-los é necessário buscar os meios necessários para construir a identidade
do indivíduo. Utilizando a temática da cultura Xavante, pode-se entender que uma cultura é
formada a partir do momento em que as pessoas se relacionam.
O conceito de aculturação, num sentido geral, é o processo em que culturas diferentes
sofrem modificações quando em contato, uma causando impacto na outra e vice-versa. De acordo
com Oliveira (1976, p. 104), a "mudança aculturativa [aculturação] pode ser consequência da
transmissão cultural direta, derivada das causas não culturais, tais como modificações ecológicas e
demográficas induzidas por um choque cultural". A aculturação indígena não é um tema recente, ela
vem desde o descobrimento do Brasil, quando a cultura europeia começou a ser imposta aos
habitantes locais, por meio de práticas incomuns à cultura indígena como o modo de vestir, portar, a
forma de comércio primitivo (escambo) e a religião. Esta última foi primeiro traço indígena que
sofreu aculturação. pois desde a colonização os valores, crenças e dogmas dos não índios que aqui
aportaram foram sendo impostos ao povo autóctone, como escreveu Gilberto Freyre, em Casa-
grande & Senzala (2003), os primeiros missionários Jesuítas tornaram-se "meio e mensagem na
comunicação de uma civilização cristã, que marcaria indelevelmente a cultura brasileira".
Nesse sentido, ao reconhecer que os índios, de hoje, são resultado do encontro de
incontáveis antepassados e culturas. Empreendemos o primeiro passo para responder ás questões
pertinentes ao problema: Em termos de aculturação como os indígenas da etnia Xavante, da aldeia
Cachoeira, reinterpretam alguns símbolos religiosos inseridos em sua cultura pela religião Católica,
por intermédio de religiosos da Congregação Dom Bosco, os Salesianos.
1
A observação/participante do cotidiano dos Xavantes se deu por meio de visitas, entrevistas e contato
expressivos, iniciados no ano de 2010 e que prosseguem até os dias de hoje.
2
Trabalho apresentado no XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro Oeste - XIX Prêmio
Expocom 2012 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação.
Para a análise semiótica desses símbolos interessa-nos entendê-los, enquanto processo
resultante de uma “imposição” que visa a dominação e o poder dos conquistadores, sendo os
religiosos salesianos os agentes encarregados desse processo. Em outros dizeres, os religiosos ao
introduzirem nas aldeias indígenas imagens de santos católicos são os responsáveis em difundir
recursos imagéticos que alteraram a concepção de um Ente criador da natureza.
O Estado de Mato Grosso, parte central do Brasil, concentra uma área reconhecida pela
diversidade cultural, mistura de povos e suas histórias. Área que abriga 38 povos de etnia indígena
somando uma população de 23 mil pessoas. A Região do Vale do Araguaia está compreendida entre
os Estados de Goiás e de Mato Grosso, cortada pelo Rio Araguaia, é responsável por abrigar a
população indígena distribuindo-a em, aproximadamente, 104 aldeias. Constituindo-se, portanto,
como importante polo para desenvolvimento de estudos e pesquisas, especialmente, antropológicas
e de comunicação e linguagem, que é o foco desta pesquisa.
O povo Xavante vivia em Goiás, onde hoje é o Estado do Tocantins, no século XVII, para
fugir do contato com os não índios os Xavantes migraram para a região do Vale do Araguaia,
fixando-se nas redondezas do Rio das Mortes. Em 1981, dividiram-se em seis reservas: São Marcos,
Sangradouro, Parambure, Couto Magalhães, Areões e Rio das Mortes. Esta última constitui-se
objeto deste estudo, especificamente, a Aldeia Cachoeira, no município de Nova Nazaré.
As sociedades indígenas, no decorrer do tempo, com o desenvolvimento da região do
Médio Araguaia se aculturaram e recriaram-se em novas sínteses culturais. Um exemplo disso é a
“releitura” de imagens santas assemelhadas às figuras indígenas, conforme se observa nas imagens
contidas neste trabalho. As imagens sacras possuem as mesmas afeições e características próprias
da etnia: cor de pele, corte de cabelo, adornos entre outras características e são utilizadas para
introduzir um diálogo com os Xavantes, trazendo a religião do não índio para a sua realidade. Dessa
forma, pode-se comprovar a existência de uma relação de dominação, imposição e poder da Igreja
sobre a cultura indígena Xavante originando o hibridismo cultural e a construção de uma nova
identidade para este povo.
Esta aculturação entre o índio e o não índio serviu para suportar os impactos de uma nova
realidade. Contudo, o indígena continua sendo índio com valores, diferenciações, e com graus
diversos de inclusão e interação com a sociedade.
Nesse sentido, faz-se necessário chamar atenção deste estudo para as alterações das
práticas de comunicação com os índios Xavantes, por meio da interação da linguagem/imagem.
Buscando tecer reflexões a respeito dos discursos, considerando relação entre a teoria da semiótica
de Roland Barthes (1969, 1984, 1989) e as teorias de análise do discurso (linguagem visual). Dessa
forma, procura-se compreender de que forma os recursos imagéticos, introduzidos pela Igreja
Católica, são responsáveis por alterar a cultura Xavante mediante as forças discursivas que auxiliam
os processos de aculturação nessa etnia, originando uma cultura religiosa híbrida.
Para muitos a ideia de índio, ainda, é aquela reproduzida nos livros escolares, como
pessoas de hábitos pouco civilizados que vivem em meio a matas com hábitos, crenças e cultura
próprias. Isso vem ilustrar o pensamento de Boffi (2005), o qual afirma que "o conceito de índio
surge, em nossa mente, pelo ambiente onde fomos criados pelos nossos interesses pessoais e pelos
preconceitos que circulam e que são aceitos passivamente." Diante disso, é relevante questionar:
Quem é o índio? Como o índio é considerado?
"Atualmente entende-se por índio todo o indivíduo que se identifica como diferente da
sociedade nacional e que é, por sua vez, considerado indígena pela população brasileira com a qual
tem contato". (BARSA, 2002). Após essa conceituação generalizada, pode-se entender e considerar
o índio sob varias óticas, por exemplo, para os fazendeiros e interessados nas terras da reserva, o
indígena é um obstáculo ao desenvolvimento econômico de extensas regiões.
Para muitos da população em geral, ele é preguiçoso, coitado e até perigoso, devendo ser
ajudado a se socializar e a desenvolver-se como cidadão. Para o próprio índio, ele é tido como o
verdadeiro homem, centro do seu universo - a aldeia. "Sua cultura é o padrão com que todas as
outras devem defrontar" (BOFFI, 2005, p. 13). Em observância ao dito, faz-se necessário considerar
neste trabalho o índio da etnia xavante, como elemento de aculturação por meio da religião católica
introduzida pelos missionários salesianos, que os tornaram símbolo da relação conflituosa entre
dominante e dominado.
Estando, nós, conscientes da multiplicidade da aculturação indígena introduzida pelos
jesuítas desde quando aqui aportaram aos dias de hoje, por meio da catequese - instrução
sistemática e oral da doutrina cristã - da cultura não índia, de valores e costumes passados
genealogicamente aos grupos indígenas remetendo, especificamente, à Região do Vale do Araguaia.
Os salesianos foram os grandes responsáveis pela nova "visão" dos Xavantes perante a
sociedade, uma mudança comportamental de ambos os lados. Os missionários da ordem Dom
Bosco, por meio das intituladas "Missões", sob o jargão: evangelizar educando e educar
evangelizando, realizaram trabalhos de educação e catequização, impondo conceitos dogmáticos
culturais dominantes, aculturando elementos indígenas e remoldando sua identidade cultural.
A identidade cultural de um povo não está só presente nos elementos simbólicos de sua
cultura como pinturas corporais, ritos, mitos e cerimônias, mas também na forma que se comunica
com outras culturas. Para tanto, ela está sujeita a outras relações, sejam com os brancos ou não
brancos, respeitando a hierarquia cultural do grupo, mas também a autonomia de cada indivíduo.
Aplicando o dito na identidade cultural xavante, ela também está em constante construção,
constituindo-se em um objeto plástico, moldável, à medida que se relaciona com grupos
contraditórios.
As trocas de relações entre diferentes grupos culturais são provocadas por agentes
divididos em dois grupos: agentes indiretos, compostos pela mídia e seus representantes formadores
de opinião, e os agentes diretos, pessoas que têm contato direto com o grupo, como a comunidade
escolar, os órgãos públicos, os constantes frequentadores das aldeias como os padres.
Segundo Lopes da Silva (1998), a história dos Xavantes deixa evidente a enorme
capacidade desses indígenas em responder a fatores externos, realizando rearranjos que visem
preservar sua sociedade. E com isso temos que a identidade cultural de um grupo é algo puro e
intocável; nota-se, então, dentro e fora da comunidade indígena, a valorização dos processos
culturais como os ritos de passagem, cerimônias espirituais, danças, símbolos, crenças,
ensinamentos dos mais velhos aos mais jovens, entre outros, estabelecendo uma socialização com a
comunidade, para que essas relações culturais continuem em voga na aldeia.
Para o povo Xavante os rituais constituem-se um elemento-chave para a preservação de
sua identidade e também uma forma de promover a comunicação e o entendimento entre os
integrantes do grupo, manter as tradições, exercer a criatividade, a crença nos mitos e nos seus
ancestrais.
Todos os rituais presentes na cultura Xavante como as danças, as pinturas corporais, os
ritos de passagem, as crenças, entre outros, são transmitidos por meio dos signos e símbolos.
A partir deste conceito de Bernd (1995), entende-se que um elemento híbrido é formado
pela junção de características ou funções diversas de um elemento, e dessa forma obtém um novo
conceito ou elemento. Observamos tal conceito presente na aldeia em questão, do contato dos índios
com os missionários salesianos. Houve uma hibridação dos ritos praticados pelos autóctones e os
ritos que foram impostos pelos padres da Congregação Salesiana Dom Bosco. Sobre hibridação ou
hibridismo Canclini () conceitua o termo como....... Contudo, devemos ter em mente que esse
processo não ocorre rapidamente, de um dia para o outro, nem de forma consciente e intencional. Ele
é construído por meio da prática num período temporário longo. Nesse sentido, Melchior (2007)
entende que a "hibridação surge da criatividade individual e coletiva", desse modo, compreendemos
que esses ritos manifestam-se a partir desta relação, ou seja, os ritos xavantes ao entrarem em
contato com a abordagem religiosa, neste caso de forma impositiva - exercendo poder sobre o
individual e o coletivo - originou o terceiro elemento, hibridizado.
Compreende-se então que toda imagem é portadora de uma dupla mensagem visual
(denotação e conotação), composta de variados tipos de signos. Desse modo, devemos considerá-la
como um discurso, ou no mínimo, parte dele e, portanto, uma ferramenta de comunicação. Em face
do exposto, podemos fazer um paralelo entre tal conceito e a imagem do Menino Jesus no colo de
Maria Auxiliadora, como ela foi adaptada à cultura religiosa dos Xavantes:
Maria Auxiliadora e o Menino Jesus Xavante (LELLIS, 2011).
3
José Cândido da Silva é Padre Salesiano da Ordem Dom Bosco, trabalhou com evangelização dos índios
Bororos e Xavantes na Aldeia de Sangradouro.
olhos pequenos, mas está representada com adornos e vestimentas, bem como, a postura de uma
famosa pintura de Tommaso Lorenzone, fatores que "colorem" a semelhança para a associação vir a
mente.
A pesar de na cultura indígena Xavante não haver o costume de usar vestes a mulher aqui
representada como Maria Auxiliadora, usa uma roupa na cor vermelha. Essa cor é muito utilizada
pelos iconográficos nos mantos e túnicas de Cristo e dos mártires e santos. Simboliza o sangue do
sacrifício, bem como, o amor. Para os católicos, o amor é a causa principal do sacrifício, integrado
ao desenvolvimento espiritual. O vermelho é uma cor distintamente humana, representando,
portanto, a plenitude da vida terrena, chama atenção por ser uma cor considerada positiva e que, em
termos semióticos, nos remete a feminilidade e nobreza.
Sobre a roupa está um manto na cor azul, essa cor está presente em todas as culturas
antigas, pois associavam o azul a divindade. O manto, por si só, é símbolo de nobreza, usado por
reis e rainhas, a cor simboliza o céu, o ar, a vida, verdade, fidelidade, confiança, inteligência,
transmite sensação de calma, serenidade. Dessa forma, nota-se que o manto também é um ícone e,
denotativamente, vem caracterizar a figura para representá-la como uma rainha.
O manto está preso por uma estrela de oito pontas em cor amarelo dourado, que na
iconografia bizantina4, representa a luz divina, a proximidade com Deus. O tom pode também
significar o Símbolo da luz, da pureza, felicidade, colheita, hospitalidade, sabedoria. A estrela é
considerada um símbolo do destino, da verdade, do espírito e da esperança. Oito é tradicionalmente
o número da regeneração. Daí se tem que o octograma é um símbolo de plenitude e regeneração.
Por esta razão muitas pias de batismo têm base octogonal ou mesmo a própria estrela desenhada
nela. Portanto, para os católicos as estrelas são símbolos que fazem parte do imagético (da
representação), do textual e do oral desta religião; servindo para designarem a importância ou
realeza de algo, como por exemplo, a Estrela de Belém que surgiu no céu anunciando o nascimento
de Jesus Cristo:
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É a forma de arte que se tem usado no Cristianismo desde a antiguidade e que se conservou até hoje na Igreja
Ortodoxa, como expressão de sua fé.
Em outros dizeres, entendemos que o uso deste elemento, na pintura, vem transmitir a
mensagem de que a mulher ali representada é uma figura importante, majestosa. Outro elemento a
ser analisado é o uso das coroas, que de acordo com Freire:
Desde a Antiguidade, se atribui valor simbólico e icônico à coroa. De acordo com a matéria
de que era feita: flores, folhagem, metais e pedras preciosas, e pela sua forma circular, que
representa o céu, fazendo, assim, a união entre o humano e o espiritual. Para os católicos, a coroa é
símbolo de autoridade, pode também representar a "coroa da vida", a eterna recompensa dos fiéis
por obediência e bondade.
Na iconografia da América Central, a coroa é elemento usado, somente, por deuses agrários
- aqueles que, quando cultuados, a eles são oferecidos alimentos. No Brasil, especificamente na
etnia Xavante, faz-se o uso do cocar. Uma espécie de coroa confeccionada em palha e plumagem de
pássaros. É símbolo da nobreza e possui o significado do ciclo vital (presente, passado e futuro), em
suma, a importância do ser; é usado apenas por homens e durante rituais, cerimônias religiosas,
festas e também fazem referência aos anciãos e chefes da tribo.
Em volta das cabeças há um circulo em amarelo chamado de auréolas, do Latim aureus que
significa ouro, mas também é chamado de nimbo. Na iconografia cristã é usado para representar as
Pessoas Divinas e simboliza a elevação espiritual, a eternidade, em sumo é a "luz de Deus".
Portanto, a mulher e a criança com feições indígenas, aqui retratadas são tidas como divindades,
neste caso específico, são dois símbolos macros do catolicismo, Maria Auxiliadora e o Menino
Jesus.
A criança está retratada sem vestes, como se estivesse nua. Característica que na cultura
indígena é comum, este é o fator que mais se aproxima dos costumes e valores dos povos
autóctones. Na etnia Xavante as crianças não usam nenhum tipo de vestimenta até os seis anos. Os
homens antigamente usavam uma espécie de cobertura peniana feita de broto de palmeira, e só
cobria o órgão sexual. Além do protetor de sexo eles não usavam nenhum outro tipo de vestimenta e
andavam completamente nus.
Segundo os escritos de Maybury-Lewis (1984), os Xavantes consideravam falta de decoro
um homem ser visto sem essa proteção. Entretanto, em virtude do contato com a civilização, os
Xavantes, atualmente, usam vestimentas iguais as dos “brancos” e, assim, o protetor peniano entrou
em desuso.
O uso de roupas é um costume ocidental, e foi imposto aos índios pelos colonizadores, pois
lhes causavam estranhamento vê-los nus misturados aos estrangeiros. Pode-se interpretar o fato de
somente a criança aparecer sem vestes como referência à simplicidade e pureza do menino Jesus
nascido no estábulo na cidade palestina de Belém, parte central da Cisjordânia, onde não havia
panos para vesti-lo.
Na imagem é possível constatar a presença de adornos nos pulsos e pescoço das figuras. São
acessórios que remetem aos usados pelos índios. Os Xavantes usam cordões de fibra vegetal,
chamados de dañipsi15, idêntico ao que está representado no pulso do braço direito da mulher. O
indivíduo decora seu corpo segundo o rito e também o grupo social a que pertence.
A ornamentação do Xavante é que o diferencia e/ou identifica sua posição social na tribo em
relação aos demais. Temos de considerar os adornos móveis uma linguagem visual que funciona
como marca de identificação étnica, refletindo a maneira pela qual o indivíduo se socializa como
membro de uma comunidade.
Müller (1976), pontua que o uso desses "enfeites" marcam as áreas a ser cobertas pela
pintura corporal. O que se pode concluir é que, segundo as práticas católicas, os santos cultuados
não são representados com adornos "primitivos", este é mais um fator que comprova a aculturação
por hibridismo e consequentemente a imposição de ideologias, por meio da conotação barthesiana.
Diante do exposto, compreendemos que as roupas, a coroa, os adornos e a auréola
representam uma tentativa de identificação com a divindade e, por conseguinte, uma excepcional
tomada de poder. A identidade cultural Xavante compreende um conjunto de valores que se
intercomunicam, formando uma rede contínua de signos e símbolos transmitidos por meio das
tradições, do artesanato, dos rituais, as crenças e os mitos, os ritos de passagem, enfim, toda a
produção de uma determinada sociedade que as diferencia das demais.
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Um tipo de cordão tecido com fios de palha de buriti ou embira, amarrado em várias voltas, com um nó
central.
“Cristo Xavante” Crucificado, na representação Xavante. LELLIS, 2011.
A imagem acima também é uma releitura de dogmas católicos instituídos aos xavantes por
mio de representação. Denotativamente, vemos que a figura é uma pintura e retrata a mata em
terceiro plano, as casas em palha ou ocas, o índio pinturas corporais e outros três sentados ao chão
em segundo plano e os índios de costas e ao alto em primeiro plano. Na imagem ocorre a
representação real da arquitetura e dos costumes Xavantes, a aldeia segue uma sistemática peculiar.
A mata é típica do cerrado e região do Mato Grosso, onde a ocorrência de área com coqueiros é
grande, os quais se destacam em meio às árvores de estatura baixa. As casas são construídas em
madeira e palha de buriti, no pátio cerimonial denominado warã6, e curiosamente dispostas em
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é uma área descampada no centro da aldeia formada de terra de chão batido onde os índios se reúnem para
realizar seus ritos e demais atividades sociais da aldeia.
forma de ferradura de com as fachadas voltadas para a nascente d'água, os Xavantes são um povo
com organização social sistemática e com forte crença nas forças invisíveis.
Observamos que de fato ocorre uma reunião no warã da aldeia, para celebrar, adorar, orar
a Deus, ali representado pelo índio "flutuante" envolto a uma faixa amarela que representa a auréola
ou luz divina, a qual transmite a mensagem de que Aquele é Deus recebendo as orações do povo
Xavante. Os índios estão usando tapa sexos e adornos típicos como colar e pulseiras feitos em palha
de buriti e pena de aves; apenas um índio usa o corpo pintado e o cocar o que pode indicar que
aquele é um líder na aldeia, um cacique ou pajé - líder espiritual. Todos eles são representados em
posição de adoração, como olhando para o céu, como se estivessem fazendo orações, outro
elemento característico da cultura religiosa branca, pois segundo os índios Xavantes, suas formas de
cultuar são por meio de jogos, disputas, cantos e danças.
O povo Xavante é politeísta, não acredita em um Deus onipotente, onipresente e
onisciente, tal como lhe foi repassado pelos padres salesianos. A representação de um Deus com
todos esses poderes, conotativamente, contradiz os preceitos Xavantes transmitidos pelos Ihire7. Por
meio dos ritos são cultuados os espíritos bons, protetores para, assim, afastar as ações dos maus.
Desse modo, os missionários salesianos, com as pinturas, vem introduzir à religião Xavante novos
conceitos acerca de crença. A existência de um só Deus, que tudo pode, protege e faz pelos seus
semelhantes. Para ilustrar o discurso a imagem é importante no sentido da complementar a ideia e
convencer o receptor, a cerca dos símbolos católicos.
Considerações finais
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