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‘Talo original: Idea delle Prose © Ginsgio Agamben, 1985 © Edigdes Cotovia, Lda, Lisboa, 1959 Concepsio gréfica de Judo Botelho ISBN 972-8423-705 Giorgio Agamben Ideia da Prosa Tradugio, prefacin enotas de Jodo Barrento Cotovia Ideia do estudo Talmud significa estudo. Durante 0 exilio em BabilGaic, os Judeus, gue ja no podiam celcbrar os sactificios, uma vez que 0 Templo tinha sido des- truido, confiaram a preservacio da sua identidade ao estudo do culto, em vez de a0 préprio culto. Alids, Tora no significava, nas origens, Lei, mas doutrina, e 0 préprio termo Mishnah, que designa va.a compilacio das leis rabinicas, derivava de uma raiz cujo sentido era antes de mais o de “repetir. Quando o édito de Ciro autorizou os Judeus a re gressar & Palestina, o Templo foi reconstruido; mas # religido de Israel ficou para sempre marcada pela piedade do exilio. Ao Templo tnico, onde se cele- brava o sactificio solene e de sangue, vieram juntar- ‘se numerosas sinagogas, simples lugares de reuniio e de oracio, ¢ 0 poder dos sacerdotes viu-se reduzi do pela crescente influéncia dos fariseus € dos sé- bios das Escrituras, homens do estudo e do livro. No ano 70 d.C. as legides romanas voltaram @ destruir 0 Templo. Mas 0 douto rabino Joannah ben- ~Zakksj, fugido secretamente da Jerusalém assediada, obteve de Vespasiano autorizacio para continuar 0 easino da Tora na cidade de Jamnia, Desde ent2o 0 Templo nio foi reconstruido, e 0 estudo, o Talmud, tomou-se assim o verdadeiro templo de Isréel 32 No legado do judaismo conta-se, assim, tam- bem esta polaridade soteriolsgica do estudo, pro- Pria de uma religiio que nfo celebra 0 seu culto, mas dele faz objecto de estudo. A figura do dovtor ou do letrado, respeitada em todas as tradigdes, ac- Guire assim uma significacdo messianica desconhe. ida no mundo pagio: ume vez que, na sua busca, & a redengio que esta em jogo, ela confunde-se com a do justo, com a sua pretensio de salvacio. ‘Mas, ao mesmo tempo, ela é atravessada por ten SSes contraditérias. O estudo, de facto, & em si mes ‘mo intermindvel. Quem conheca as longas horas de vagabundagem entre os livros, quando qualquer fragmento, qualquer cédigo, qualquer inicial prome te abrir uma via nova, logo abandonada em favor de uma nova descoberta, ou quem quer que tenha co- nhecido a impressfo iluséria e labirintica daguela “lei da boa vizinhanga” a que Warburg! submeteu a ‘organizagio da sua biblioteca, sabe bem qi do no s6 nio pode ter fim, como também 0 no quer ter A ctimologia da palavra studiumy torna-se entio transparenie. Ela remonta a uma raiz s¢- 00 sp-, que designa o embate, 0 choque. Estudo ¢ espanto (stu- disre ¢ stupire) sho, pois; aparentados neste sentido aquele que estuda encontra-se no estado de quem “yecebeu um chogue e fica estupefacto dianve daqui- lo que © tocou, incapaz, tanto de levar as coisas até a0 fim, como de se libertar delas. Aquele que est » Weburohisesade da mee colesona jaar Aby Wat lng 84192) a se capa da nls d Angad en is nities cvopia mada. 33 da fica, portanto, sempre um pouco esttipido, ata- rantado. Mas, se por um lado ele fica assim perple- x0 ¢ absorto. se 0 estudo € essencialmente softi mento ¢ paixio, por outro lado, a heranga messin ca que ele traz consigo incita-o incessantemente a prosseguir © concluir. Esta festina lente, esta alter- nincia de estupefacgao e de lucidez, de descoberta € de perda, de paixio e de acgio constituem o rit mo do estudo. Nada se assemclha mais a isso do que aquele estado que Aristételes, opondo-o ao acto, designa de “poténcia”. A poténcia é, por um lado, potentia passiva, passividade, paixio pura ¢ virrualmente in- finita, e por outro lado potentia activa, tensio irre: drivel em direcgio & conclusio, passagem ao acto. F por isso que Filon compara a sabedoria realizada com Sara, que, sabendo-se estéril,instiga Abraao @ tnirse a sua serva Hagar, isto € ao estudo, para po- der gerar um filho. Mas, uma vez fecundado, 0 estu- do é de novo confiado a Sara, que é a sua patrotn}a. E pio é por acaso que Plato, na Carta Sétima, se serve de um verbo da mesmna familia de estudar (onovbétu), para referir a sua relagio com aquilo que mais preza: é apenas aps um longo perfodo de convivéncia séria com os nomes, a8 definigSes e os conhecimentos que se produz na alma a centelha ‘que, inflamando-a, marca a passagem da paixdo & realizagio. E isto que contribui para explicar a tristeza do tetrado: nada € mais amargo que uma permanéncia prolongada na esfera da poténcia. E nada mostra tio hhem a inconsolivel tristeza que pode nascer deste 54 perpétuo adiamento do acto como a melancholia pki- loloxica que Pasqusli, sob pretexto de a ter ido bus- car ao testamento de Mommsen”, transformou em simbolo enigmético da existéncia do letrado. O fim do estudo pode eventualmente nunca ser alcangado — ¢, neste caso, a obra ficard para sem- pre em estado de fragmento, de fichas —, ou entio. pode coincidir com o instante da morte, no qual aquilo que parecia uma obra acabada se tevela co: mo simples estudo. E 0 caso de S. Toms, que, pou- co antes de morrer, se abre em segredo com o seu amigo Rinaldo:"os meus escritos esto a chegar a0. fim, porque agora me foram reveladas coisas em re- ago com as quais tudo © que escrevi e ensine! me Barece sem importincia, E espero no sobreviver muito tempo ao fim da doutrina.” ‘Mas a mais extrema ¢ exemplar incarnagio do estudo na nossa cultura no é, aem a do grande fi logo, nem a do doutor da Lei. E antes a do estu: dante, tal como ele aparece em certos romances de Kafka ou de Walser'*. O modelo destes é 0 do estu- dante de Melville, que passa a vida numa mansarda baixa “em tudo semelhante a um timulo”, os coto- velos apoiados nos joelhos e a cabega entre as mios. E a sua figura mais acabada é a de Bartleby, 0 escri- tor que deixou de escrever. Neste caso, a tensio * Mommuon 0 histori «jar sleno Theodor Mommen (1817. 19), autor de uma mona infuene Hie de Roms, 5 von ""Walor otncis e road slg Robert Water 88-196), ce bu ata mis orn consti pes sos pagers itis em po fs \mcrograma) ge tlm andes com cas cena a de Kal, Waker Beja Bersrdo Soares (0 Lave do Dessonep) Wier paso viliner 7 ane de vide mim slo sem ecto 3 messianica do estudo foi invertida, ou antes, esta para Id de si mesma. O sen gesto é 0 de uma potén- cia que nfo precede o seu acto, mas se Ihe segue eo deixou para todo sempre atris de si: € 0 gesta de um Taimud que no s6 renunciou a reconstrugao do Templo, mas pura e simplesmente o esqueceu. Deste modo, estudo liberia-se da tristeza que 0 desfigurava, para regressar 3 sua verdadeira nature- 7a: nfo a obra, mas a iaspiracao, a alma que se ali- rmenta de si propria. Ideia do imemorial Quando acordamos subemos por veces que vi- ‘mos em sonhos a verdade, clara e a0 alcance da », de tal modo que ficamos totalmente domins dos por ela. Umas vezes é-nos dado ver uma escrita cujo selo subitamente quebrado nos fornece o se- agredo da nossa existéncia, Outras vezes, uma s6 pa- lavra, acompanhada de um gesto imperioso, ou re- petida numa lenga-lenga infantil, lumina como um relmpago toda uma paisagem de sombras, devol- ‘vendo a todos os pormenores a sua forma reencon. trada, definitiva No desperrar, porém, embora nos recordemos, de forma limpide, de todas as imagens do sonho, aquela escrita € aquela palavra pecderam a sua forca de verdade, € € vom tristeza que as voltamos de t0- dos os lados, sem conseguir redescobrir-lhes 0 en- canto. ‘Temos o sonho, mas, inexplicavelmente, falta- -nos a sua esséncia, que ficou sepultada naquela terra qual, uma vez despertados, deixmos de tet acesso, Raramente temos tempo de observar aquilo que devia ser perfeitamente evidente: que confia mos €m vao a um outro tempo e a um outro lugar o segredo do sonho. Sé no momento «lo despertar, quando nos vem como um lampejo, 0 sonho existe para n6s na sua inteireza, A recordacio que o so 37 ot6. dez ma

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