Texto base: Alicia Mayer. La Reforma Católica en Nueva España. Confesión, disciplina,
valores sociales y religiosidad en el México Virreinal.
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Tal proeminência tem sido cada vez mais perceptível entre o clero paroquial, pois não
obstante sua origem social modesta, com a formação por vezes insuficientes, eles eram
figuras destacadas na vida social local, relacionando-se privilegiadamente com os que,
em cada comunidade, tinham estatutos mais honrados.
OU seja, ser clérigo podia significar não servir diretamente à Igreja, nem
desempenhar atividades religiosas, mas antes à Coroa ou à nobreza. Isso nos mostra
o enorme leque de atuação desse estamento. Tantas dimensões que ainda estão
escassamente abordadas pela historiografia. Fato é que, a historiografia, preocupada com
os efeitos de Trento, tratou com maior esforço a percepção da “profissionalização” do
clero a partir de então.
O clero era uma ordem profundamente heterogênea e isso repercutia nas suas funções:
um acólito (ordens menores; ministro que acompanha e auxilia o celebrante a
conduzir os atos litúrgicos) não estava autorizado a confessar, um subdiácono não
estava apto a celebrar a eucaristia e um clérigo de missa não tinha legitimidade para
conferir ordens nem crismar. Esses são aspectos sensíveis na avaliação interior do
clero, e o grau de sacramento da ordem era determinante para a consideração que os
outros indivíduos do clero tinham dos seus pares e para a construção da própria
identidade de cada um.
Dessa forma, não faz mais sentido a proposta da divisão deste corpo em “alto e baixo
clero”. Não só porque ela não alimenta o vocabulário social, isto é, as categorias
operativas que os membros desta sociedade utilizavam para entenderem a si próprios e se
posicionarem face aos outros, mas ainda porque é profundamente equivocada.
3) Indicações de estudos:
Ainda há um vasto leque de questões abertas sobre o clero secular, que podem nos
conduzir para novas reflexões. É o caso do clero paroquial na dimensão da sua atividade
cotidiana, ou da literatura de espiritualidade que alimentava o clero e das suas devoções e
confrarias específicas.
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Sobre a formação do clero indígena: DUARTE, Mariana Sarkis. Planctus Indorum: A formação do clero
indígena. Peru (1750-1772). Monografia apresentada à Universidade Federal Fluminense, Biblioteca
políticas disciplinares do cardeal Diego de Espinosa e Juan de Ovando, sobretudo, na
Junta Magna de 1568.
Em 1571 chegou a Nova Espanha, como primeiro inquisidor, Pedro Moya de Contreras,
homem de personalidade austera e comprometido com os projetos confessionais de
Felipe II.
Um dos objetivos do projeto encabeçado por Espinosa e Ovando era a extensão do Santo
Ofício à América, e a severa atuação de Moya em Murcia, valeu para sua indicação e
envio à Nova Espanha. Moya partiu devidamente instruído de aplicar as medidas
confessionais desenvolvidas por seus patronos desde a Junta Magna. Foi promovido em
1573 para o cargo de arcebispo, sendo consagrado na Catedral mexicana em 1574, pois
para ser consagrado deveria antes ser presbítero, e Moya chegou ao México como
simples clérigo. Moya tornou-se o primeiro arcebispo proveniente do clero secular, e
manteve a qualidade de inquisidor.
Sua relação com o vice-rei Martín Enriquez de Almanza, que também havia sido
designado para o cargo na Nova Espanha na mesma época que Moya, não era nada
amigável. O vice-rei Enriquez de Almanza se considerava o centro de todo poder, e
2
Op. Cit. Tera, 2012, p.62.
3
A cédula contemplava, entre outros aspectos, a sujeição dos frades à supervisão dos bispos e a de todos ao
monarca. Em consequência o rei introduzia mecanismos claros para a provisão das prebendas e os
benefícios curados, afiançando assim seu patronato. Os assentos nos cabildos catedralícios se atribuiriam
no conselho, com base em informes enviados desde América, via 3 critérios: letras, parentesco com
conquistadores e experiência no coro e serviço na Catedral. Os curatos se dariam mediante concursos de
oposição aos candidatos mais idóneos, eles tendo demonstrado sua suficiência em letras e conhecimento de
uma língua indígena, seriam apresentados pelo vice-rei para que os prelados dessem seguimento à colação
canônica. Op. Cit. González, 2005, p.24.
4
Idem. p. 24.
entendia que deveria existir respeito e colaboração entre o poder civil e eclesiástico,
defendia que a autoridade civil delegada pelo monarca era a principal. Moya, por sua vez,
atuava velando pelo cumprimento da política religiosa da monarquia, entendida por ele
como instrumento do Estado. Almanza partiu para o Peru em 1580, e o novo vice-rei
seria o conde de Coruña, Lorenzo Súarez de Mendoza, 1580 a 1583, considerado um
tanto débil na administração.
Nesse momento Moya solicita ao seu protetor Ovando, então presidente do Conselho das
Índias, um visitador para Nova Espanha, surpreendido pela morte do vice-rei, Moya
acabou assumindo o vice-reinado como interino em 1583 e tão logo, ele mesmo foi
nomeado visitador geral das Índias. Enquanto interino acumulou títulos e trabalhos,
inquisidor, arcebispo, visitador e vice-rei, e entre suas principais preocupações e
ações, estavam: limpar a Audiência e uma reforma total da Igreja, mediante a
aplicação das normas tridentinas.
Como vice-rei interino, Moya se tornava também presidente da Audiência, e isso lhe
abriu as portas para celebrar um Concílio Provincial, projeto que até então não teria
sido possível por falta de apoio dos vice-reis e sustento da Audiência. Somente nessas
circunstâncias, que em fevereiro de 1584, o ambiente parecia favorável para convocar o
III Concílio Provincial Mexicano, que teve início em janeiro de 1585.
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O
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Conc.
buscou
consolidar
social
e
moralmente
o
clero
secular.
Através
de
um
discurso
estratégico
de
disciplinamento,
que
estava
imbricado
com
as
políticas
monárquicas
e
confessionais.
Estabeleceu
meticulosamente
os
procedimentos,
penas,
e
elaboração
de
instrumentos
para
facilitar
o
controle
a
supervisão
dos
ministros.
(registros
das
pároquias)
Formaliza-‐se
as
cátedras
de
ciência
moral
e
a
obrigação
de
todos
os
sacerdotes
em
assisti-‐las.
Elabora
o
Directório
para
facilitar
a
instrução
dos
presbíteros.
É possível analisar a insistência dos decretos no “ejemplo de buena vida”, onde “debe
preferirse a la ciencia de las letras, la integridad de la vida y la honestidad de los
costumbres” . Há ainda os decretos que regulamentam desde os trajes adequados, até os
que proibiam a participação dos clérigos em espetáculos “vanos y acciones profanas”.
Enfatizando a pureza e integridade, os decretos abordam como deveria ser o tratamento
com os clérigos que haviam cometido algum tipo de delito, ordena agir com cautela e até
em segredo para que não transcenda o comportamento até a sociedade .
Apontar
o
principais
temas
debatidos
nos
memoriais
do
teólogo
consultor
do
concílio,
o
jesuíta,
Juan
de
La
Plaza
(teólogo
consultor):
• Organização
dos
Seminários
Conciliares.
• Formação vocacional do futuro sacerdote. Sua principal sugestão era que
fossem escolhidos apenas os mais idôneos e os que verdadeiramente possuiam
vocação.
• Sobre os curas párocos. Plaza aponta que ensinar a doutrina requeria
inteligência, competência, instrução e exemplo de bons constumes, pois “los
culpables de la ignorancia general son más bien los ministros curas”. A principal
razão para o fracasso dos curas seria não saber as línguas indígenas, e para
isso Plaza sugeria que aqueles que não soubessem a língua deveriam ficar
sem salários até comprovar o conhecimento via um rigoroso exame. Propunha
também a criação de um seminário para meninos criollos, conhecedores de
línguas nativas.
• Trata da melhor formação dos pregadores. Segundo Plaza, o papel da pregação
era responsabilidade central dos bispos, porém na Nova Espanha isso não se
cumpria
Preocupados com a formação dos sacerdotes o Concílio Provincial especificou os
requisitos para ordenação sacerdotal em diversos títulos.
La dignidad sacerdotal, y la excelencia de aquellos que sirven al altar,
no sufre que sea admitido a este cargo alguno cuyos méritos no fueren
primero bien vistos y aprobados; principalmente por el grave daño que
resulta a la Iglesia católica de que muchos, sin elección, sean
promovidos a los sagrados órdenes, los cuales, colocados sin méritos
algunos en tan sublime grado, caen después miserablemente,
irrogando grave injuria al orden clerical. Por lo cual, deseando
vehementemente este sínodo resarcir los daños pasados, y restituir el
orden eclesiástico a su antiguo grado de dignidad y esplendor, exhorta
cuanto puede a los obispos de esta provincia a que no impongan de
ligero las manos, faltando al precepto del apóstol, sino que con toda
diligencia y detenimiento examinen las cualidades de los que se han
de ordenar, y reconozcan sus méritos, y no bajo el pretexto de escasez
de ministros admitan a los sagrados órdenes a los que fueren menos
idóneos; estando bien persuadidos de que el divino culto y la salud de
las almas crece más con pocos que dignamente administran, que con
muchos que lo hacen indignamente. Para que todas estas cosas sean
gobernadas del major modo posible, decreta lo primero, que ninguno se
admita a órdenes menores o mayores, ni se le conceda licencia para
que pueda ser admitido, si primero, hecho el examen, no constare
estar adornado de aquellas cualidades que, por los decretos del
concilio de Trento, se requieren para aquel grado u orden5
5
Livro I, Tít. IV, “De la ciencia”... § I.: Procedan los obispos con mucha precaución al conferir las órdenes.
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• 14 anos para iniciar (primeira tonsura)
• Ter servido por pelo menos 2 anos na Catedral
• para ordens menores deveria saber canto
• para subdiaconato saber o breviário
• para presbítero era necessário exame, aprovação e licença do ordinário
• para celebrar missa, ser confessor (saber os casos de consciência), e pregador,
também era preciso exame, aprovação e licença do ordinário.
• Cura pároco: enfatizando sua missão de pregar o evangelho, administradar
os sacramentos, visitar os enfermos, e sobretudo, instruir índios e
escravos, permitindo-os a recepção da eucaristía8. Entre seus principais
deveres estava velar pelo tratamento justo aos índios, visitando-os em
situações adversas, como na prisão, e interceder por eles junto aos juízes e
autoridades seculares 9 . Os bispos conciliares demonstraram enorme
preocupação com as negociações e comércio entre os párocos e os
indígenas, alertaram sobre a cobrança indevida de impostos, estabeleceram o
ritual para as celebrações festivas. Tornou-se indispensável, por meio dos
decretos conciliares, o conhecimento da língua indígena como requisito
para o cargo de párocos, e os bispos foram encarregados para examinar os
clérigos de sua diocese, aquele que não demonstrasse conhecimento da língua
teria o prazo de seis meses para aprender, correndo o risco de ser privado do
ofício.
• O perfil ideal dos bispos, Nesse sentido estabeleceu o concílio:
7
Livro I, Tít. IV, “De la vida, fama y costumbre de los que se han de ordenar”... § I.: No promuevan los
obispos a ninguno que no sea bien morigerado, ni al que tenga costumbre de jugar.
8
Livro III, Tít. II “Del Cargo”, p.126.
9
Livro, III, Tít. II “De los deberes proprio de los curas” p.139.
10
Livro III, Tít. I, “Del ministerio”… § I.: La vida de los obispos debe servir de regla a los demás.
11
Op. Cit. Poole, 2012, p.212.
instruyendolos y animandolos para que desempeñen bien su oficio” 12 . “extirpar las
herejías, proteger y fomentar las buenas construmbres”13.
- Nas visitas se realizava exames sobre a vida e honestidade dos clérigos, se estavam
cumprindo com suas obrigações, se haviam cometido, ou se eram reincidentes em
pecados públicos.
- Entre os delitos evidenciados nos decretos, destacam-se: calunia, simonia, heresia,
usura, feitiçaria, blasfemia, comcubinato, jogos de azar, e os cuidados com a
sentença de excomunhão.
- Tudo deveria estar documentado no “Livro de Visitas”, assim como, os reparos e
correções direcionadas aos clérigos.
12
Op. Cit. Zubillaga, 1965, p.600.
13
Livro V, Tít. I, “De las Visitas”… § IX.
14
O primeiro seminário conciliar só seria fundado na cidade do México, segundo o modelo tridentino, em
1690.
15
Livro III, Tít. I, “Del Cuidado”... § III.: Cuiden los obispos de que se enseñe la ciencia moral, y obliguen
a todos los clérigos a que asistan a su enseñanza.
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Uma das chaves do programa reformista após Trento foi potenciar a relevância que os
clérigos deveriam ter em suas comunidades, tornando-se máximo exemplo de
autoridade moral. Tratava-se de um esforço pedagógico para fazer dos membros do
clero homens cultos, disciplinados, e conscientes de sua posição. Para tal fim, o imprenso
representou uma ferramenta importante para consolidar o saber que se interessava
divulgar, e o clero era um estamento significativo de leitores na época moderna. Nesse
sentido, vemos propagar-se inúmeros textos escritos por clérigos, para clérigos e
sobre clérigos.
• Poder, saber e bondade (poder era a jurisdição delegada pelo prelado; saber
perfeito que incluía teologia, cânones, leis e constituições sinodais, conhecer os
pecados mortais e veniais; bondade se direcionava à conduta, que deveria estar
fora de pecado mortal).
• Forte preocupação com a legitimidade da ordenação (irregularidades – controle
da atuação dos clérigos parece começar já aqui)
• Forma de celebrar a missa (se comeu e bebeu depois da meia-noite; se esteve
em notório concubinato, se celebrou a missa sem fazer penitência, etc)
• Se possui pecado notório (pecado que se torna público vira delito?)
• Para Azpilcueta os delitos mais graves: perjúrio, homicídio e falso testemunho.
E afirma o cuidado com o pecado de simonia, e suas inúmeras formas de
manifestação.
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Essas três obras encontram-se na Biblioteca Nacional do México (BNM), Fondo Reservado, e foram
digitalizadas para compor o quadro de fontes dessa pesquisa.
• O honesto sustento para o clérigo seria o que fosse suficiente para comer e vestir-
se.
• A obrigação principal era trabalhar para a salvação das ovelhas.
• Apresentam as censuras eclesiásticas que os clérigos poderiam sofrer.
(Suspensão, excomunhão, irregularidades) e só o bispo poderia absolver esses
casos.
• Estruturação sistemática do que era o pecado e o delito. (a partir dos 7 capitais
- gula, luxuria, avareza, ira, soberba, preguiça e inveja – temos uma rede enorme
de construção dos delitos morais, também a partir dos 10 mandamentos e dos 7
sacramentos – batismo, eucaristia, penitência, extrema unção, ordem e
matrimônio).
• Visão organicista da sociedade: “estado” enquanto sinônimo de função social.
• Principais pecados e delitos dos clérigo elaborado mais precisamente por
Medina: se recebeu ordens não sendo hábil e idôneo; se comentou simonia; se
ordenado antes da legitima idade, ou sendo descomungado, irregular ou suspenso;
se o patrimônio era falso; se não usa vestimentas corretas, exercita jogos e danças;
se deixou de dizer as horas canônicas; se não se preparou devidamente para
cerimônia da administração dos sacramentos; se tem familiaridade com mulheres
ou as mirou desonestamente; se absolveu sem licença de ser confessor.
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