~
quanto ele, praticante do bem, só
recebe infelicidade e tormento.
longos e ondulados cabelos «de
ouro», pele branca e delicada,
boca e dentes como rubi e pérolas,
z D. Sebastião, ainda viveu o su- l VIDA PESSOAL olhos claros e luminosos.
~ ficiente para sofrer com a der- ~ ./ Tudo nela é reflexo de bondade,
z rota em Alcácer Quibir e mor- i ./ É lendária a vida amorosa de
. . . - - - - - - - - - ,~
DEDICATÓRIA [e. 1, est 6- 18)
Na Proposição, o poeta apresenta o protagon ista da epopeia, «Q Oferecimento do poema ao Rei D. Sebas-
peito ilustre lusitano», herói coletivo composto por heróis 1nd1- tião.
vidua1s (Vasco da Gama e os marinheiros, no plano da Viagem,
os Reis e os heróis no plano da História de Portugal!.
Comandados por Vasco da Gama, os Portugueses enfrentam e . . . - - - - - - - - - ,~
vencem os medos e os perigos com audácia, ousando navegar NARRACÃO [e. 1, est. 19. l
por «mares nunca dantes navegados», guardados pelo terrível Quando a narração começa, na estrofe 19
Adamastor. do canto 1, a Viagem - ação central - está
A viagem que empreendem é a do cam inho marítimo para a numa fase adiantada, pois a armada de
[nd1a, mas representa muito mais do que uma viagem geográ- Vasco da Gama Já está no oceano Índico,
fica. É a viagem do confronto com os lim ites, do desvendamen - perto da costa de Moçambique. Esta op-
to dos segredos escondidos, a viagem da superação. Ultrapas- ção narrativa segue as regras da epopeia
sando todos os obstáculos, os nautas ultrapassaram- se a si clássica, que determinam que a narração
mesmos e à sua cond ição de «bichos da Terra tão pequenos», deve in iciar-se in medias res . Ass im, a
concretizando o lema renascentista da crença nas capacidades maior parte do percurso da Viagem, de
do Homem. Lisboa até à costa oriental de África, será
Merecem, pois, o prém io devido ao herói épico, a imortalidade, narrada retrospetivamente, em analepse,
simbolizada na coroa de louros recebida na Ilha dos Amores, por Va sco da Gama ao Rei de Melinde.
onde eles são m1t1ficados, igualados aos deuses, através da Também de acordo com as regras da
união com as ninfas, que lhes transmitem o conhecimento do epopeia clássica, a narrativa inclu i d1ver-
universo. . sos episódios.
LUÍS DE CAMÕES, OS LUSÍADAS
ESTRUTURA
NARRAÇÃO
A narração de Os Lusíadas organiza-se em três planos narrativos articulados sem quebrar a unidade de ação.
• O plano da Viagem de Vasco da Gama à Índia é o plano central, po is é com ele que os restantes se arti culam.
• O plano mitológico da intervencão dos deuses do Olimpo na Viagem, acompanhando sempre o seu desenvolvi -
mento. Esta intervenção é narrada em alternância com a narrativa da Viagem.
• O plano da História de Portugal, que surge encaixado no plano central. Durante a Viagem, os navegad ores são
acolhidos em Melinde e Vasco da Gama, satisfazendo o pedido do rei daquela cidade africana, conta - lhe a História
de Portugal. Já na Índia, a armada portuguesa recebe a visita do Catual e, perante a sua curiosidade, Paulo da
Gama conta- lhe facto s da História representados nas bandeiras. Finalmente, acontecimentos históricos posterio-
res à Viagem de Vasco da Gama são narrados por uma ninfa e por Tét1s, na Ilha dos Amores.
• O plano das reflexões do poeta - além dos três planos narrativos, há ainda o plano das reflexões do poeta, maiori -
tariamente situadas nos finais dos cantos , e que constituem críticas, lamentações, desabafos, exortações aos
Portugueses.
REFLEXÕES DO POETA
~"'""""'"'''''"''"''"'"""""''"'"'"'''~
~ e h' , · ~ OBJETIVOS DA ELOQUÊNCIA ldocere, delectare, moverei
~ ontexto 1stor1co- ~
Os objetivos do sermão barroco estã o na fórmula:
~ -literário ~ docere - delectare - movere.
1
~
~
1
~
~
Docere [ensinar] - En si nar através de argumentos lógicos.
Delectare [de leitar] - Agradar e captar a atenção do auditório.
i
~ culo conturbado da História de ~
Portugal: dominação espanho-
i la, recuperação da independên- i
i Docere O pregador pretende perturbar o auditório, ensinando-o a olhar
os seus próprios defeitos e mostrando-lhe caminhos do bem .
Delectare O sermão é construído de forma a deleitar o auditório, para
i eia, colonização do Brasil, po- i que a mensagem não seja rejeitada. Assim, usa os recursos
i der crescente da Inquisição, i
1 importância dos Jesuítas.
~ ,/ Fez toda a formação no ~
1 da oratória :
• estrutura lógica do discurso, que deve ser coerente e coeso;
• ligação ao auditório, com frequentes aproximações atra -
~ Brasil, na Companhia de Je- ~ vés de chamadas de atenção, interrogações, exclamações ;
~ sus, onde a sua grande inteli - ~
ii ,/
gência se revelou.
Como missionário, teve um
ii • discurso figurativo, assente na alegoria e recorrendo à
metáfora e à comparação;
• outros recursos expressivos criativos e sedutores: anáfo -
ra, antítese, apóstrofe, enumeração, gradação, interroga -
i~ papel muito relevante na defe - i~ ão retórica ...
i i
ii ,/ sa dos direitos dos índios es-
cravizados pelos colonos.
O «Sermão de Santo Antó-
ii Movere As críticas apresentadas têm como objetivo mudar os ouvin-
tes, corrigi - los, levá - los a seguir o caminho 1nd1cado pela
palavra de Deus.
~ nio aos Peixes», pregado em ~
~ 1654, em S. Luís do Maranhão, ~ INTENÇÃO PERSUASIVA, EXEMPLARIDADE E ELOQUÊNCIA
i antes de partir para Lisboa, i
~ numa missão de defesa dos ~
~ ~
1 índios, é um testemunho des-
sa ação.
~ ,/ Dedicou-se também à cau-
1
~
INTENÇÃO
PERSUASIVA
,/ Crítica à corrupção que afeta a Humarndade, arras-
tando consigo males e vícios prevalentes: a exploração , a
cegueira, a vaidade , a arrogância , o oportunismo, a ga-
~ sa da Restauração da inde- ~ nância, a hipocrisia, a traição .
~ pendência, participou em em - ~ ,/ A crítica, dirigida aos colonos do Maranhão, traz implí-
i baixadas pela Europa, i cita a defesa dos índios que aqueles colonos escravizam ,
~ defendeu os cristãos-novos. ~ ,/ Ao denunciar esses males !usando o artifício da pre -
i Acabou detido pela Inquisição. i
i
z
Libertado, voltou ao Brasil.
,/ A sua notoriedade como z
i gação aos peixes]. o pregador procura persuadir o audi-
tório a olhar para o mal que anda praticando.
,/ Os argumentos apresentados ao longo do sermão são
i~ pregador começou no Brasil, i~ de natureza diversa, de acordo com aquilo que melhor
~ estendeu-se a Portugal e che - ~ serve o rac1ocín10 desenvolvido e o obJetivo que o prega-
~ gou a Roma. ~ dor pretende alcançar.
i ,/
z
António Vieira é o mais no-
tável escritor do BARROCO
i
z
EXEMPLA-
RIDADE
,/ O exemplo tomado desde o cap. 1 é o de Santo António
que, não sendo ouvido pelos homens, foi pregar aos pei-
~z português, aquele que trouxe à ~z xes . Santo António e a sua vida exemplar é a figura reto-
~ prosa o esplendor de uma ~ mada em todos os capítulos.
~ época em que o estilo foi culti- ~ ,/ Há também uma clara identificação entre o pregador
i~ d . , .
va o com m1nuc1a e encanta - i~ e o Santo, que aquele toma como exemplo, constituindo -
~ menta. ~ -se, assim, ele também em exemplo para os Homens
~"""'""'"""""'"""'"""""'""""""~
P.ª ANTÓNIO VIEIRA, SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO
, CRÍTICA SOCIAL
,/ Vieira critica os colonos do Maranhão, usando a alegoria dos peixes. Acusa - os de ignorância, cegue ira, vaida-
de, arrogância, oportunismo, ganânc ia, hipocrisia, traição.
,/ O pregador recorre a processos frequentes na sátira: tipos como figuração dos defe itos observáveis na socie-
dade que Vieira quer ating ir.
,/ No cap. V, apontando os defeitos particulares, constrói uma galeria de tipos representa tivos dos defeitos in-
temporais do ser humano: o arrogante, o oportunista, o ambicioso, o hipócrita, que são de ontem e são de hoje.
,/ Vieira recorre também à caricatura de figuras e de situações, pelo exagero dos traços.
,/ A ironia sub til, também usada, abriga o orador por detrás da ambiguidade da crítica aos peixes / crítica aos
homens.
O «Sermão de Santo António aos Peixes» é construído de acordo com o modelo ora tór io instituído pela re t órica
clássica e renovado pelos pregadores barrocos.
Assim, o exórdio corresponde a uma introdução, a exposição e a confirmação constituem o desenvolvimento e a
peroração contém a conclusão .
o
1<( Capítulo Ili em particular
(.)-,
Peixe de Tobias !cura a cegueira)
{
<(
~ Rémora lgu1a no bom caminho)
a:: Torpedo !faz tremer!
u:::
z Quatro olhos lvê a Terra e o Céu)
o
(.)
CII
o Capítulo IV Repreensões aos em geral
1<(
(.)-, peixes comem-se uns aos outros e os
{
Vl grandes comem os pequenos
o
0..
X deixam-se enganar pela cegueira,
w a ignorância e a vaidade
Capítulo V em particular
Roncadoreslarrogância)
o Capítulo VI Conclusão
1<(
(.)-, • Síntese da crítica le autocrítica).
<(
a:: !Elogio dos peixes, em contraste com os homens, incluindo o pregador)
o • Exortação ao louvor a Deus.
a::
w
0..
ALMEIDA GARRETT, FREI LUÍS DE SOUSA
• Co ntextualizacão histórico-literária.
• A dimensão pátriótica e a sua exp ressão sim bólica.
~ • O Se bastian ismo: Histór ia e ficção .
<t • Recorte da s person ag ens princi pais.
ffi • A dimensão trág ica.
~ • Lin gua gem , estilo e estrutura:
a. - carac terísticas do texto dramá tico ;
- a estru tura da obra;
- carac terísticas do drama romântico .
zJ-""''"''"'"''"~~""'"""~"~""""""""~""'~'"'"''"""""~"~''""~'"""~'~"""'""~""'"''""'""'"'"'~'~"'""'6~
~ Contexto histórico ~
i 1
; O Frei Luís de Sousa !nome de Manuel de Sousa Coutinho, depois de professar! situa-se 21 anos após o de- ;
~ saparec1mento do rei O. Sebastião em Alcácer Quibir. Sem descendentes diretos, o trono acabou sob domínio z
~ espanhol, apesar da resistência popular. ~
~ O contexto histórico interliga-se com o contexto literário, já que o ideário romântico está presente ao longo ~
~ da peça, nomeadamente pela afirmacão da liberdade nacional. ~
~""""""'""""'""~"~""O """""~"'""""""""""""""""""'"""""'"""""""""'""''"'"""""""""""""""""~
J-""""""""'~""""""~"""'11 11-."""""~"~""""""""'""'""""'6 J-"""'""""""""""'""~ """'""""""""""""'"'6
~z i~ i
z i~
z~ Telmo e, por sua influência, Mana, são a expressão do pa- z zz
~
~
A família pode representar, nesta peça, o z
~ triotismo e da voz popular. Não aceitam o domínio f1l1pino ~ ~ próprio PORTUGAL. ~
~ e é com grande orgulho que veem O. Manuel concretizar ~ ~ ~
1 o ato heroico de incendiar o seu palácio, para impedir a ~ 1 O regresso de D. João poderá ser interpre- ~
z ~ z
tado como o regresso simbólico de O. Se- ~
~ ocupação dos governantes. ~ ~ ~
z bastião ou como o regresso do passado.
z z z
~i O retrato de O. Manuel devorado pelas chamas e o de i 1 i
Esse regresso não solucionou problemas, 1
~ O. João, no seu palácio e em grande plano, iluminado pelo z zantes destruiu o presente ID. Manuel, que z
~ fogo, pressagiam o futuro trágico: dois patriotas derrota- ~ ~
luta por um Portugal novo] e o futuro !sim- ~
~ dos pelo destino. i ~
balizado por Mana, doente e frágil para 1
~ Os retratos de Camões e de O. Sebastião são também ~ ~~ res1st1rl.
z z ~~
~ símbolos da Pátria. Camões, o expoente máximo das le- ~ ~ Sem esquecer os valores do passado, é no ~
~ tras e do orgulho nacionais, D. Sebastião, o esperado li- ~ ~ presente que se tem de construir o futuro . ~
~ bertador do domínio espanhol. ~ ~ ~
~""""""~"~"""~"~"~'~"~'~"""'~"""~"'""""""'"""~ ~~"""""""""""~""""""""'"""""""'""~""'~
PASSADO
D. João de Portugal - heroísmo,
grandeza .
D. Sebastião - rei português, inde-
pendência, o salvador da Pátria .
. - - .
PRESENTE
D. João - Ninguém. Telmo - acredita no regresso de O. João.
D. Manuel - patriota, corajoso, admira- Sebastianista convicto.
dor da grandeza do passado, não espera
o regresso do salva dor. Reconhece, tarde demais, que o regres-
D. Madalena teme o regresso do passa- so do passado não é a solução para Por-
do por sim ples motivos sentimentais. tugal.
Ã'''"'""'""''"""''''''"'"""""""'""'''"'""'"'"'""'"'''""'"''""'""''''''""""''"'""""'''""''"''"''""'''"'''"''"''""'""''''"'''~i~
~
~z Contextualizacão histórico-literária do romance, publicado em 1888
. z
~ + REGENERACÃO : instaurada em 1851, após prolongada agitação política. ~
z - Objetivos políticos e mudanças económicas : conciliação entre fações; harmonização das classes; revisão z
i constitucional; rotativismo; obras públicas; evolução tecnológica; desenvolvimento do comércio e da indústria. ~
j - Fatores de insucesso e consequências: falta de matérias-primas, de população ativa não agrícola, de for- i
~z
z mação de operários e patrões; investimento na especulação e no imobiliário; dependência do estrangeiro; ~z z
j 1892, bancarrota.
~ - DE 70 » i~
~ + «GERACAO i
! - Objetivo de mudar as consciências e o poder, com a divulgação das «novas ideias» que agitavam a Europa, ~
1 na política, religião, filosofia, educação, literatura, arte !Socialismo; Positivismo; Idealismo; Realismo). i
i - O Realismo : objetivo principal, representar a realidade contemporânea; observação e análise dos costumes, ~
i enformada pelas modernas correntes do pensamento, com vista a intervir na sociedade; preferência por temas i
i de alcance coletivo [educação, política, economia, Jornalismo, miséria social, vida familiar, adultério, etc.). i
i O romance é o género preferido na Literatura, com personagens-tipo representativas de grupos sociais, e ~
~ personagens nas quais a hereditariedade, a educação e o meio determinam traços de carácter e comporta- ~
i mentas. i
~ + «Vencidos da Vida» : autodenominação 1rón1ca do grupo, na maturidade [adesão de Eça, em 1889). ~
v~ ~"""""""""""""""'""""'""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""'""""~
O ROMANCE - subgénero narrativo, distingue-se pela extensão, pela pluralidade de ações, a complexidade do tempo, do
espaço e dos protagonistas.
Título -+ Os Maias -+ Intriga romanesca Subtítulo -+ Episódios da Vida Romântica -+ Crítica de costumes
()' ()'
História de três gerações da família Maia : REPRESENTAÇÃO DE ESPAÇOS SOCIAIS
• Afonso, contemporâneo da s lutas l1bera1s ; ()'
• Pedro, o Romantismo da Regenera ção,
Em episódios como:
• Carlos, contemporâneo da «Geração de./ o serão em Santa Oláv1a - a educação [Carlos/ Euse b1ozinho, a
70». viscondessa, o abade, Vilaça];
_ _ ./ jantar no Hotel Central - política, economia, literatura [Ega /
1------r-,.- - - - - . - - - -- ----1 Alencar; Dâmaso, Craft, Cohen) ;
./ o Jantar dos Gouvarinho - política, educação, cultura, o adultério
[os Gouvarinho, Sousa Neto) ;
Intriga princi pal - Intriga secundária
relação Carlos/ - relação Pedro/ ./ as corridas no Hipódromo de Belém - prov1ncian1s mo (Dâmaso);
Maria Eduarda Maria Monforte ./ Jornais «Corneta do Diabo» e «A Tarde» - Jornalis mo corrupto e
sensacionalista, política !Palma Cavalão, Neves] ;
./ sarau no Teatro da Trindade - atraso cultural, h1pocns1a [Crugesl.
EÇA DE QUEIRÓS, OS MAIAS
1t
CESÁRIO VERDE, CÂNTICOS DO REALISMO
Cesário Verde, Cânticos do • A re presen ta ção da ci dade e dos tipos soci ais.
Realismo (O Livro de • Deambu lação e imag in ação : o observad or aci den ta l.
Cesário Verde} • Perceção senso rial e tran sfigura ção do real.
«O Sentimen to dum Ociden tal» • O imag inário ép ico [em «O Sentime nto dum Oci de nta l»]:
<( - o poema long o;
~
[lei tura obrigatória]
<( - a estruturaçã o do poema;
a:: Escolhe r mais 3 poemas, de - subversã o da mem ória épica: o Poeta , a vi ag em e as perso nag ens.
C)
o entre os segu intes: • Li nguagem, est ilo e estrutura:
a::
a. «Num Ba irro Modern o» - estrofe, metro e rima;
«Cristalizações» - re cursos expressivos : a co mpara ção, a enumera ção, a hipérbole, a me -
«De Tarde» táfora, a sinestesia, o uso expressivo do adjetivo e do advérb io.
«De Verã o»
«A Débil»
A REPRESENTACÃO DA CIDADE
E DOS TIPOS SOCIAIS
./ A cidade é o lugar onde se acumula a multidão, quer em
casas apalaçadas e burguesas, quer em bairros insalubres
e becos m1seráve1s .
./ A cidade é povoada de tipos sociais das diversas clas-
ses: aristocracia, burguesia, artífices, operários, vendedo-
res ...
./ A cidade «desperta um desejo absurdo de sofrer» no su-
jeito poético que a vê como um lugar de atração e de repul-
O poema está organizado em 4 partes perfeita-
sa, de futilidade, da moda, de corrupção e de doença, de
mente simétricas:
aprisionamento da «dor humana» , Por isso,
- 11 quadras com o primeiro verso decassilá-
./ Os males da cidade interpelam o sujeito poético e esti - bico e os três restantes alexandrinos (12 síla-
mulam o seu olhar comovido e solidário com os trabalha - bas] ;
dores. - cada uma das partes corre sponde à etapa de
uma deambulação espácio-temporal e emo-
DEAMBULACÃO E IMAGINACÃO: cional levada a cabo pelo sujeito poético:
O OBSERVAÓOR ACIDENTAL - Ave- Marias:
./ O poeta deambula pelas ruas da cidade, sem roteiro de- - Noite fechada;
finido e, nessa deambulação, observa a realidade. lugares - Ao gás;
e pessoas com as quais, acidentalmente, se cruza . - Horas mortas.
./ O real captado estimula as sensações, as emoções, as Subversão da memória épica,
reflexões e a imag inação do sujeito poético . a viagem e as personagens
PERCECÃO SENSORIAL E ./ A estátua de Camões, que o sujeito encon-
TRANSFIGURACÃO DO REAL tra na deambulação pela cidade, é o símbolo
dessa memória passada, apenas estátua num
./ Captação impressionista da realidade: o real apreendido
«recinto público e vulgar».
através de impressões [a cor, a luz, o movimento, os seres
e as coisas fugazes] que estimulam o sujeito poético. ./ A deambulação do Poeta é uma epopeia às
avessas, uma viagem pela miséria nacional. O
./ O real percecionado através das sensações, muitas ve-
«épico doutrora» é apenas um símbolo e os
zes misturadas em sinestesias.
herdeiros dos marinheiros portugueses mo-
LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA ram em bairros infectas, são os filhos que as
varinas embalam nas canastras e irão naufra-
./ Busca da perfeição formal : a regularidade estrófica e gar nas tormentas.
métrica [uso preferencial do verso decassilábico e do ale- ./ O mar, que no passado foi descoberta, é «si -
xandrino]; uso da rima. nistro», no presente .
./ Valorização poética do vocabulário quotidiano e colo- ./ O futuro é um sonho impossível para os
quial (prosaísmo]; uso de estrangeirismos de época. «emparedados» do Ocidente .
./ Utilização do adjetivo e do advérbio em combinações de
palavras semanticamente desajustadas .
./ Uso original de comparações e metáforas transfigura -
doras; hipálages, sinestesias, enumerações .