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Resumo: O presente artigo tem como objetivo Abstract: The objective of this article is to relate
geral relacionar as legislações que as the laws that regulate them and the innovations
regulamentam e as inovações trazidas com a Lei brought with Law 13.460 / 2017 (Law on Protection
13.460/2017 (Lei de Proteção e Defesa dos and Defense of Public Service Users), taking into
Usuários de Serviços Públicos) considerando o account the history of Public Ombudsman Offices,
histórico das Ouvidorias Públicas, em especial, as especially those related to the Institutions of
ligadas às Instituições de Ensino Superior no Brasil. Higher Education in Brazil. In order to do so, the
Para tanto é analisado o instituto do ombudsman, Ombudsman Institute is analyzed, showing its
demonstrando sua conexão com o surgimento das connection with the emergence of Public
Ouvidorias Públicas, assim como, se problematiza Ombudsman Offices, as well as discussing the
o histórico das Ouvidorias Públicas e suas principais history of Public Ombudsman Offices and their
características e atribuições. Por sequência, se main characteristics and attributions. By sequence,
define em que contexto estão inseridas as it is defined in which context the Public
Ouvidorias Públicas ligadas às Instituições de Ombudsman's offices linked to the Institutions of
Ensino Superior no Brasil e seus desafios. Enfim, a Higher Education in Brazil and their challenges are
análise comparativa das legislações sobre inserted. Finally, the comparative analysis of
Ouvidorias Públicas e as inovações trazidas com a legislation on Public Ombudsman's Offices and the
Lei 13.460/2017 evidencia um novo cenário innovations brought with Law 13.460 / 2017 shows
jurídico-institucional e político no processo de a new juridical-institutional and political scenario
democratização do Estado brasileiro. in the process of democratization of the Brazilian
State.
Palavras-chave: Ouvidorias Públicas Universitárias.
Keywords: University Public Ombudsman. Higher
Instituições de Ensino Superior. Atribuições. Lei de
education institutions. Assignments. Law of
Proteção e Defesa dos Usuários de Serviços
Protection and defense of public services users.
Públicos.
Recebido em 02/09/2018.
Aprovado em 17/12/2018.
Advogada. Servidora pública na Fundação Universidade Federal do Tocantins (UFT). Mestranda em Prestação
Jurisdicional e Direitos Humanos pela UFT.
** Pedagogo. Professor Adjunto na UFT. Ouvidor Geral da UFT. Doutor em Educação. Leciona nos cursos de
Pedagogia e no Programa de Pós-graduação Interdisciplinar Stricto Sensu em Prestação Jurisdicional e Direitos
Humanos/Mestrado Profissional. Coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Educação em Direitos Humanos
da UFT.
*** Administradora. Servidora Pública Federal na UFT. Mestre em Educação. Especialista em Administração
Pública com ênfase em Gestão Universitária.
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INTRODUÇÃO
A origem das Ouvidorias remonta à figura do Ombudsman (ou Defensor do Povo), na
Suécia em 1809, que tinha como função principal a representação dos cidadãos frente ao
Poder Estatal, tendo como missão supervisionar a aplicação correta das leis pelos tribunais,
assim como fiscalizar os servidores públicos no correto cumprimento de suas obrigações.
Importa destacar, entretanto, que o significado da figura do ombudsman pode ser alterado
de acordo com as derivações de institutos semelhantes adotados por determinado país
(BEZERRA, 2010).
Ao tratarmos do Brasil, com o processo de redemocratização, a abertura política e a
defesa dos direitos humanos fundamentais, trazidos pela Constituição Federal promulgada
em 1988 (conhecida como a Constituição Cidadã), surgem as primeiras Ouvidorias Públicas.
O artigo 37 §3º da Constituição Federal de 1988 (CF/88) estabelece que a lei deve fomentar
a participação pública na administração direta e indireta.
As Ouvidorias Públicas no Brasil se desenvolvem com o intuito de dar voz aos
cidadãos, sendo canais de comunicação e controle social das instituições, trazendo dessa
forma uma mudança estrutural da esfera pública, com a gestão da coisa pública sob o
controle do cidadão. (MARTINS; MARQUES, 2016).
Nessa perspectiva, para Habermas apud Martins e Marques (2016, p.131), “processos
argumentativos são essenciais para a legitimação do poder em sociedades baseadas no
modelo do Estado Democrático de Direito”. Por meio do diálogo, papel exercido pelas
Ouvidorias, se pode colaborar no fortalecimento o processo de construção da democracia
participativa e circulação no poder em sociedades democráticas.
Nessa conjuntura, as Ouvidorias têm como objetivo o fortalecimento da democracia
participativa e valorização da cidadania, imprescindíveis para concretização dos direitos
humanos fundamentais, tendo em vista a contribuição para influenciar as decisões no
âmbito das políticas públicas e melhoria na qualidade de prestação de serviço público
(COMPARATO, 2016). Nessa direção, estamos diante da evidente importância do estudo da
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ligação entre as ações e atribuições das Ouvidorias Públicas e a observância dos princípios
norteadores de um Estado Democrático de Direito.
Nas Universidades Públicas, as Ouvidorias nascem com o intuito de promover a
participação dos usuários do serviço público, dando voz ativa aos mesmos, contribuindo de
maneira a identificar problemas, propor soluções, atuar em prol dos cidadãos e cidadãs
(discentes, docentes, servidores(as) não docentes e comunidade acadêmica em geral),
melhorando a qualidade da prestação do serviço público.
A presença desse órgão dentro das Instituições de Ensino Superior (IES) auxilia na
conscientização dos problemas, assim como da necessidade de melhorias. Esse é o
entendimento de VIANA Jr., (2012), que seu papel vai além da representação das solicitações
da comunidade, atua muito mais como uma verdadeira mediadora, intermediando as
unidades envolvidas, com a finalidade de cobrar soluções ou justificativas sobre as
pretensões.
Na década de 1990 com o surgimento das primeiras Ouvidorias Públicas
Universitárias e a criação do Fórum Nacional de Ouvidorias Universitárias – FNOU, tem início
a consolidação da atuação das Ouvidorias dentro das instituições de ensino superior. O
Fórum que ocorreu em 1999 teve como primeira deliberação a elaboração da CARTA DE
JOÃO PESSOA, que recomendava a implantação das Ouvidorias no âmbito das IES.
Importante destacar, que não havia nenhum padrão regulamentar para estrutura e
modelo ideal das Ouvidorias Públicas nas IES. Com o passar dos anos começam a surgir
regramentos próprios para as Ouvidorias, no âmbito da Administração Pública em geral, que
iremos estudar pormenorizadamente, culminando com a entrada em vigor da Lei
13.460/2017, que trata da Proteção e Defesa dos Usuários de Serviços Públicos.
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De acordo com BEZERRA (2010), qualquer instituto para ser caracterizado como
ombudsman deve apresentar no mínimo as seguintes características: a) funcionário
independente e não influenciado pelos partidos políticos, que vigia a Administração; b)
receber as queixas específicas do público contra as injustiças e erros administrativos; c)
poder de investigar, criticar e dar publicidade às ações administrativas, mas não tem o poder
para revogá-las.
artigo XXI: "Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu
país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente
escolhidos. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do
seu país. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta
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O papel das Ouvidorias Públicas deve ser aperfeiçoado no contexto da busca pela
efetividade da prestação dos serviços públicos, com a finalidade de alcançar o respeito aos
direitos humanos fundamentais, que estão correlacionados com esses serviços. Podem
constituir instrumento valioso aos gestores públicos, uma vez observados os verdadeiros
anseios da sociedade, que se manifestam por esse canal. Como corrobora Adriana Campus
Silva, em seu estudo:
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veem a Ouvidoria como um poder paralelo. Por sua vez, o autoritarismo populista ocorre
quando a administração superior de uma instituição não está aberta à gestão democrática,
tornando a fiscalização, críticas e recomendações hostilizadas. Isso decorre de uma cultura
institucional sem o amadurecimento suficiente para o recebimento de críticas e
reclamações. Surge, então, a questão cultural como aspecto importante na avaliação
institucional, e particularmente, na ouvidoria em que a exigência do Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Superior não deve ser o apenas a sua obrigatoriedade na estrutura
universitária, mas a importância de ouvir os públicos interno e externo como parte da cultura
institucional.
Vilanova (1999) ressalta que no registro de reclamações manifesta-se, geralmente,
receio de represálias, e os reclamados, via de regra, preocupam-se mais com a origem da
reclamação, no sentido de desqualifica-los, do que em solucionar o problema. Dessa forma,
a reclamação deveria ser vista como um direito legítimo do cidadão e como um feedback
para a melhoria da prática educativa e desenvolvimento institucional.
Conforme se vislumbra, as Universidades ainda enfrentam dificuldades para efetiva
implantação das ouvidorias. Destarte, considera-se que, paradoxalmente, não há ainda uma
cultura institucional suficientemente madura para receber críticas. Entretanto, tendo em
vista o papel de formador de cidadãos que as IES exercem na sociedade, o fortalecimento da
Ouvidoria é imprescindível para efetividade na formação de cidadãos capazes de exercer
plenamente sua cidadania.
De acordo com BIAGINI (2013), é necessário que haja a institucionalização das
Ouvidorias no âmbito das IES para que ocorra a legitimação do seu papel e por consequência
seja reconhecida pela comunidade como válida. Para isso, a autonomia de ação do Ouvidor
deve estar presente, ou seja, quando o mesmo pode posicionar sua opinião, além da
racionalidade instrumental (ir além do que trata a norma); ou ainda, quando as instâncias
superiores acatam suas observações ou sugestões.
As Ouvidorias ainda passam por muitos entraves para efetividade no
desenvolvimento de suas atribuições, como pontua Vilanova (2012):
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aparece pela primeira vez na Constituição, ao tratar sobre a criação das Ouvidorias no âmbito
da Justiça e Ministério Público. É o que explica CARDOSO, 2010:
Sob este novo modelo, a Constituição previu, em seu Artigo 37, parágrafo
3º, a edição de lei ordinária para tratar especificamente das reclamações
dos cidadãos relativas à prestação de serviços públicos. Além disso, o
próprio Artigo 37 consagrou os princípios da impessoalidade e da
publicidade referentes aos atos emanados da administração pública.
O artigo 37 §3º da CF/88 não é autoaplicável, ou seja, seria necessário para
consolidação do “princípio da participação do usuário na Administração Pública”, que fosse
regulamentado a participação popular através de legislações especificas sobre o tema.
O Decreto 8.243/2014 traz em seu bojo a conceituação básica da Ouvidoria Pública
Federal, esclarecendo ainda alguma de suas atribuições. Entretanto, imperioso destacar que
as atribuições não estão restritas ao que trata o Decreto, podendo ser ampliadas, desde que
sigam os princípios estabelecidos para a Ouvidoria:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme as reflexões estudadas e análise da Lei 13.460/2017, as Ouvidorias Públicas
têm estabelecido seu papel de instrumento para consolidação do controle social, da
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