PARA UM CURRÍCULO RELEVANTE
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crita do Editor, é ilícita e passível de procedimento judicial contra o infrator.
esta área curricular. Os dois textos que se seguem também aludem a esta
relação entre a relevância social de determinadas áreas curriculares e a
relevância reconhecida pelos alunos, salientando a importância quer da
competência matemática (no caso particular do texto de Filomena Rebelo,
Fernanda Silva e Raquel Dinis) quer da literacia científica (no caso parti-
cular do texto de Sandra Eugénio e Carlos Gomes) para o bom exercício
da cidadania.
No terceiro e último capítulo presta-se especial atenção às implica-
ções da investigação-ação no desenvolvimento profissional dos professo-
res. No primeiro texto, Susana Mira Leal e Josélia Fonseca discutem a
dimensão formativa da investigação-ação e chamam a atenção para a ne-
cessidade de garantir a inclusão de sólidas abordagens à investigação quer
na formação inicial quer na formação contínua de professores – inclusão
sem a qual dificilmente se conseguirá pôr em prática a ideia de professor-
-investigador. Uma das formas mais interessantes de promover o desen-
volvimento profissional dos professores, numa perspetiva de investigação
sobre a sua própria prática pedagógica, consiste na construção de narra-
tivas reveladoras da sua identidade profissional. No último texto, Sandra
Eugénio, Mariana Oliveira e Francisco Sousa apresentam, de forma resu
mida, quatro narrativas das quais emerge a ideia de que uma investiga-
ção orientada para a elaboração de narrativas profissionais constitui uma
excelente oportunidade para a tomada de consciência de aspectos funda-
mentais, mas nem sempre explícitos, da identidade profissional.
O conceito de professor-investigador não é novo. Nalguns sistemas
educativos já foi posto em prática em grande escala, com bastante sucesso.
Em Portugal, a sua apropriação tem estado circunscrita ao plano teórico
e a um número relativamente reduzido de projetos de pequena e média
escala. Não há, todavia, nessa limitação, nada que desminta a importância
que a incorporação de uma componente de investigação nas práticas de
gestão curricular dos professores pode assumir em prol da afirmação do
seu profissionalismo e da construção de um currículo cuja relevância seja
maximizada e amplamente reconhecida. Por isso, vale a pena divulgar e
debater iniciativas de investigação curricular colaborativa. As reflexões e
os relatos que se seguem são representativas do compromisso dos autores
em participar nesse esforço de divulgação e debate.
Referências bibliográficas
Introdução
Referências bibliográficas
Introdução
1
O IIE foi criado pelo Decreto-Lei n.º 435/89, de 18 de dezembro.
2
O Programa “Boa Esperança/Boas Práticas” (Despacho n.º 6366/98, de 17 de
abril) foi criado para “assegurar o estudo, a promoção e a difusão da inovação para a
qualidade da educação”.
3
“Programa Educação Para Todos PEPT-2000” (RCM n.º 29/91, de 09 de agosto),
cujo principal objetivo foi mobilizar projetos e rendibilizar recursos para o efetivo
cumprimento da escolaridade de 9 e 12 anos.
4
A Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação (SPCE) foi fundada em 1990
e, de acordo com os seus estatutos, prossegue vários objetivos, incluindo o de incentivar
e facilitar o intercâmbio e a cooperação entre as pessoas e instituições que se dedicam à
investigação e ao ensino, em qualquer domínio das Ciências da Educação, no país e no
estrangeiro.
5
Ver, entre outras, Fullan (1982), Leithwood (1989), Cuban (1992), Fullan e Har
greaves (1992), Miles (1992), Wallace e McMahon (1994), Hargreaves (1996), no mundo
anglosaxónico; Vandenberghe (1988) e Cros (1996), no âmbito francófono; Gonzalez e
Escudero (1987), Escudero e Bolívar (1994), Ferreres e Molina (1995), Marcelo (1995,
1996), Tejada (1995), em Espanha. Entre nós, relevamos as obras pioneiras de Correia
(1989), Canário (1991, 1996), Amiguinho (1992), Alonso (1994, 1998), Campos (1996) e
Benavente (1996).
16
Sobre este tema podem-se consultar vários autores, incluindo Louise & Seashore
(2007), Dufour, Dufour e Eaker (2008), Escudero (2009) e Sagor (2010).
17
Para uma compreensão do Modelo Curricular PROCUR, ver Alonso, Magalhães
e Silva (1996), Alonso (1998, 2004), Silva (2011). Este modelo organiza-se em torno de
um construto central para a inovação curricular: o “Projeto Curricular Integrado” (PCI),
que evidencia a integração curricular através do “Desenho global do projeto” e do “Mapa
de conteúdos” e que se concretiza no desenvolvimento de “Atividades Integradoras”
mediante a “Metodologia de Investigação de Problemas”.
18
Sistema de Incentivos à Qualidade da Educação, medida promovida pelo IIE.
19
ICE – Instituto das Comunidades Educativas, com sede em Setúbal.
20
Para uma revisão destes projetos e modelos curriculares pode-se consultar a
tese de doutoramento de Carlos Silva (2011) e a dissertação de Julieta Ferreira (2011),
elaboradas no âmbito do Projeto CPCIC-EB, de que trataremos mais adiante.
21
No relatório deste projeto (Roldão, Nunes & Silveira, 1997), faz-se uma revisão
crítica das causas do insucesso da Reforma Curricular de1989, defendendo-se que a
Ver Alonso (coord.), Peralta e Alaiz (2006). Importava saber quais os efeitos
24
25
O projeto CCAA (2003-2006) foi promovido pelo Centro de Estudos da Criança
(CESC) do Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho e financiado pela
Fundação Calouste Gulbenkian. Os investigadores pertenciam a três instituições de ensino
superior: Universidade do Minho, Instituto Politécnico de Viana do Castelo e Instituto
Politécnico de Santarém.
26
Lei n.º 62/2007, de 10 de setembro, que estabelece o Regime Jurídico das Institui
ções do Ensino Superior (RJIES).
27
Estudo encomendado pelo CNE, coordenado por Isabel Alarcão.
Referências bibliográficas
28
Para aprofundar estes conceitos, ver Christensen, Johnson e Horn (2011).
29
Apesar dos constrangimentos que o desenvolvimento desta metodologia apresenta
atualmente no campo da investigação educativa, a investigação-ação, nas suas diversas
modalidades, continua a ser imprescindível para melhorar a qualidade dos processos de
ensino e de aprendizagem, a compreensão das condições contextuais e a “agência” dos
professores e das escolas. Por conseguinte, continua a ser indispensável na produção de
conhecimento educativo relevante. Ver perspetivas recentes sobre esta abordagem em
McKernan (2008), Noffke e Somekh (2009), McNiff e Whitehead (2009), Brindley e
Crocco (2010), Sousa (2010), Mertler (2011).
30
“Investigação educacional por design”, que pode ser entendida como a análise
sistemática, desenho e avaliação de intervenções pedagógicas dirigidas a problemas
complexos para os quais não existem soluções predeterminadas. Ver Van der Akker e
outros (2006) e McKenney e Reeves (2012).
Holly, P. & Southworth, G. (1989). The developing school. London: Falmer Press.
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Veugelers, W. & O’Hair, M. J. (Eds.) (2005). Network learning for educational
change. Berkshire: Open University Press.
Introdução
passam de uma sala de aula para outra, de um tempo letivo para outro, de
um manual para outro, de um professor para outro, confrontando-se com
pedaços de informação desconectados e fragmentados. Para esses jovens,
o currículo é um amontoado de peças de um puzzle cuja imagem completa
não vislumbram. (p. 1)
Nesta lógica dominante de organização do espaço e do tempo esco-
lar, do serviço docente e dos materiais didáticos, sobressai a disciplina
escolar como entidade cuja delimitação epistemológica é imediatamente
reconhecível e cuja naturalização no contexto da cultura escolar ocorre
facilmente. Não admira, pois, que a integração curricular seja frequen-
temente referida como sinónimo de interdisciplinaridade ou então como
extremidade de um continuum em cujo limite oposto se situa o trabalho
sobre temas multidisciplinares e em cuja zona intermédia se situa a inter-
disciplinaridade (Marsh, 1997).
A nossa conceção de integração curricular é muito mais complexa
e abrangente, na medida em que não considera apenas o conhecimento
normalmente associado às disciplinas escolares, que tem sido influencia-
do pelo que se designa como conhecimento académico. Admite a possi-
bilidade de mobilização de todos os tipos de conhecimento que possam
contribuir para que o aluno compreenda melhor o mundo à sua volta e se
compreenda melhor a si próprio, enquanto indivíduo e cidadão.
Neste sentido, a integração curricular apela a uma visão global e
diferenciada do aluno enquanto pessoa e das suas diversas capacidades
mentais, físicas, emocionais e relacionais, suscetíveis de serem explora-
das em situações de aprendizagem, entendidas como situações-problema
ou situações de integração de conhecimentos (Roegiers, 2006). Possi-
bilitar uma relação mais ativa, sistémica e significativa do aluno com o
conhecimento e a cultura é a razão de ser da integração curricular. Assim,
enquanto construto teórico, este conceito abrange uma constelação de
subconceitos que lhe estão associados, especialmente quando o inserimos
nas suas raízes socioconstrutivistas (Coll et al., 1993; Jonnaert & Borght,
2002; Novak, 2000) e no paradigma da complexidade (Bonil et al., 2004;
Morin, 1996, 2001), que propõem novas formas de aceder ao conheci-
mento da realidade, realçando a problematicidade, interatividade e dina-
micidade que impregnam os modos de pensar, de sentir e de agir sobre
essa mesma realidade. Esses subconceitos incluem os seguintes: projeto,
inter e transdisciplinariedade, globalização, articulação, coerência, rele-
vância, aprendizagem significativa, participação, colaboração, inclusão,
comunidades e redes de conhecimento e aprendizagem.
31
Para uma revisão sobre os fundamentos destes modelos, ver Alonso (2002a,
2002b).
32
Para mais informação sobre o modelo curricular elaborado no âmbito do projeto
PROCUR, que se articula à volta dos conceitos-chave de Projeto Curricular Integrado
e Atividades Integradoras, pode-se consultar: Alonso (1999, 2002b, 2004c); Alonso,
Magalhães, Portela e Lourenço (2002); Silva (2011).
de reflexão (Lüdke & Cruz, 2005). Por isso, sem desprezar a importân-
cia da reflexão para o enriquecimento da própria investigação, a equipa
empenhou-se fortemente na criação de dispositivos válidos de recolha de
dados, na análise rigorosa desses dados e na elaboração de interpretações
credíveis, que pudessem sustentar a tomada de decisões orientadas para
a resolução dos problemas identificados – neste caso, orientadas para a
conceção e implementação de estratégias de ensino promotoras do reco-
nhecimento da relevância do currículo por parte dos alunos. A carateri-
zação, de forma sistemática e rigorosa, do problema de partida, isto é, do
desinteresse manifestado por determinados alunos em relação à escola e
ao currículo, foi sustentada, em grande parte, numa ficha de observação
de episódios ocorridos nas aulas. Este instrumento foi sendo construído
progressivamente pela equipa, até à consolidação de uma versão final,
antecedida de várias versões provisórias, que foram sendo testadas em vá-
rias salas de aula e revistas pela equipa.
Face à importância atribuída, desde o início deste processo de inves-
tigação-ação, ao eventual não reconhecimento, por parte de determinados
alunos, da importância do currículo escolar em contextos extraescolares,
tornou-se também necessário analisar dados já existentes nas escolas sobre
determinados aspetos da vida extraescolar dos alunos (e. g., profissões
dos pais, local de residência, atividades de lazer, etc.) e recolher mais al-
guns dados, através de entrevistas aos alunos. Esses dados foram reunidos
em fichas de caraterização dos alunos, cuja estrutura foi concebida pela
equipa.
A recolha de dados simples de caraterização dos alunos era um ob-
jetivo secundário das entrevistas acima referidas, que foram predomi-
nantemente orientadas para a auscultação dos entrevistados acerca da
importância que reconheciam ao currículo, sobretudo em contextos extra-
escolares, e serviram também para questioná-los acerca do seu aparente
desinteresse em relação às atividades letivas. A condução das entrevistas
foi orientada por um guião, que foi sendo progressivamente construído
pela equipa. O ciclo de investigação-ação incluía duas rondas de entre-
vistas, sendo uma realizada na parte inicial e outra na parte final do ano
letivo.
Para tentar obter dados sobre razões justificativas do referido desin
teresse, os professores que conduziram as entrevistas confrontaram os
entrevistados com alguns dos dados recolhidos por observação direta
das aulas. Neste sentido, questionaram os alunos acerca das razões pelas
que serão abordados em breve e as experiências dos alunos que têm sido
reveladas, em parte, pelos dados recolhidos e analisados?”.
Muitas decisões sobre as estratégias de ensino a desenvolver foram,
portanto, tomadas em função (1) de um processo sistemático de recolha,
análise e interpretação de dados e (2) da preocupação em promover aquilo
que Beane (2002) designa por integração das experiências, ou seja, da
preocupação em enquadrar as novas experiências de aprendizagem dos
alunos nos seus “esquemas de significação” e em mobilizar as suas ex-
periências passadas na abordagem a novos problemas (Beane, 2002,
p. 16). Nalguns contextos específicos, as estratégias de ensino desen-
volvidas também promoveram outra importante dimensão da integração
curricular: a integração do conhecimento, uma abordagem que “dilui as
fronteiras entre áreas disciplinares” (Beane, 1995, p. 8). Essa diluição foi
conseguida durante grande parte do tempo de implementação de algumas
estratégias adotadas por professores do 1.º ciclo do ensino básico e des-
critas mais adiante nesta obra, em texto da autoria dos próprios. Nos ou-
tros ciclos do ensino básico as lógicas de organização do trabalho docente
predominantes tornam a integração do conhecimento mais difícil. Mesmo
assim, algumas práticas desenvolvidas por professores dos 2.º e 3.º ciclos
do ensino básico, também descritas mais adiante nesta obra, evidenciam
a preocupação desses docentes em situar os conhecimentos disciplinares
que promovem em contextos de maior transversalidade na utilização do
conhecimento, tais como promoção da literacia científica e o uso da lín-
gua portuguesa como ferramenta de comunicação em situações diversas.
Todos esses esforços de contextualização contribuíram, como evidencia-
ram dados recolhidos através de observação e da segunda ronda de entre-
vistas, para uma maior consciencialização, por parte dos alunos, da rele-
vância do currículo.
Conclusão
Referências bibliográficas
Josélia Fonseca
Introdução
A conceção da escola aprendente, que predomina desde finais do sé-
culo XX, exige ao professores uma postura crítica e reflexiva face ao cur-
rículo, para que este deixe de ser perspetivado como como um compêndio
de objetivos e conteúdos prescritos a cumprir e passe a ser compreendido
como conjunto de linhas orientadoras de um projeto educativo mais vasto
a desenvolver com os alunos.
Assim, o professor, mais do que um transmissor de conhecimento,
deve ser entendido como um investigador que constrói conhecimento, re-
fletindo na e sobre a sua praxis educativa, com o intuito de organizar um
processo de ensino-aprendizagem contextualizado e significativo para os
seus alunos.
Neste texto, refletimos sobre a questão do currículo como projeto de
inovação educacional, sublinhando a necessidade de o professor se cons-
ciencializar deste facto, assumindo-se como um leitor crítico e reflexivo
do currículo. Além disso, discutimos a importância da investigação-ação
neste processo de abordagem curricular e analisamos as implicações éti-
cas deste modelo de investigação.
A investigação-ação
sores, que fundamenta a sua práxis educativa e que deve ser comunitaria-
mente analisada, partilhada, e respeitada.
Como referimos inicialmente, a investigação-acção colaborativa
pressupõe, na sua essência, implicações éticas que não se restringem às
questões deontológicas típicas de todo e qualquer processo investigativo.
A investigação-ação colaborativa promove o desenvolvimento de uma ética
da responsabilidade no processo educativo. Entenda-se, neste contexto, a
ética da responsabilidade no sentido em que Hans Jonas (1995) a aborda,
como o “poder” (não violento) de resposta, poder que a pessoa tem de
agir no presente para acautelar o futuro. Nesta obra, Jonas elege a respon-
sabilidade como o paradigma ético para fazer frente ao desenfreado poder
tecnológico da sociedade do século XX e para garantir que o homem agirá
no presente para que no futuro “a humanidade seja”.
Aplicando esta conceção de responsabilidade jonassiana no contexto
educativo, defendemos que, na sociedade global em que vivemos, é im-
perativo que os professores reconheçam o seu “poder” de ação face às
necessidades e vulnerabilidades dos seus alunos, contribuindo para que
estes “sejam no futuro”. É necessário que os professores reconheçam a
sua responsabilidade no processo educativo, não apenas no sentido clás-
sico do “dever” de promover o processo de ensino-aprendizagem, mas do
“poder” de desenvolver este processo, colocando a pessoa (no sentido ético
do termo) como o centro da educação. Colocar a pessoa que é o aluno
no centro do processo educativo é concebê-lo como um ser intersubjetivo
que necessita desenvolver gradualmente a sua autonomia, a sua responsa-
bilidade e a sua capacidade de intervenção consciente e crítica na realidade
para a transformar.
A participação dos professores na investigação-ação colaborativa
permite-lhes o desenvolvimento de uma ética da responsabilidade, na me-
dida em que eles se envolvem num processo de análise e desconstrução
da práxis educativa que
gera (…) a capacitação responsável e [traz] práticas mais justas. (…) a
investigação-ação cria as condições e a cultura necessárias para dispor de
ferramentas para a transformação de contextos. Observa-se uma mudança
no modo de se aproximar às questões (…) na forma de pensar e expressar
as suas vivências (…) repercutindo nas respostas uma visão de educação
como processo de busca, libertação e responsabilidade. (Sepúlveda, Calde-
rón, Ruiz e Beltrán, 2008, p. 107)
A investigação-ação, ao potenciar a metareflexão dos professores
sobre as suas teorias e práticas, e sobre os valores que as enformam, pos-
Conclusão
Num tempo em que tanto se fala de crise mundial, não apenas no se-
tor económico mas também no domínio social e axiológico, parece que
uma vez mais é imperativo que a educação seja uma resposta convincente
aos desafios da atual sociedade globalizada. Neste sentido, a investigação-
-ação colaborativa, entendida como “ciência educativa crítica” (Carr &
Kemmis, 1988) que favorece a reflexão crítica dos docentes sobre as suas
teorias e práticas, promove a inovação curricular e o desenvolvimento pro-
fissional dos professores, afirma-se como uma resposta pertinente à neces-
sidade de a escola se assumir como uma instituição aprendente e promover
um processo de aprendizagem contextualizado e significativo, potenciador
do desenvolvimento do aluno enquanto cidadão ativo e crítico.
Referências bibliográficas
Ioan Neacsu
Ileana Rusenescu
Preâmbulo e conceitos-chave
Reconhecendo a presença
Figura 1: O modelo de três processos
pentagonal básicos
de currículo –&
(Paun desenvolvi-
Potolea, 2002)
mento, implementação e avaliação –, os especialistas romenos enqua-
dram-nos numa perspetiva sistemática e funcional, representada pela fi
gura 2 (Potolea & Negret, 2008, p. 151).
Reconhecendo a presença de três processos básicos – desenvolvimento,
implementação e avaliação –, os especialistas romenos enquadram-nos numa perspetiva
INVESTIGAÇÃO
sistemática eI funcional, representada
DESIGN pela figura 2 (Potolea AVALIAÇÃO
IMPLEMENTAÇÃO & Negret, 2008, p. 151).
Fatores Funções da
Princípios, facilitadores ou avaliação; 74
normas e inibidores da Tipos de
TEORIA
modelos de implementação de avaliação;
E
design estratégias de Modelos de
METODOLOGIA
curricular inovação avaliação;
II
curricular Critérios de
avaliação;
Meta-avaliação
Avaliação multilateral
Controlo de do projeto curricular
qualidade na - resultados
PRÁTICA Elaboração de
implementação - processo
PROFISSIONAL novos projetos;
de projetos; - projeto
III Melhoria dos Otimização da
currículos já implementação
existentes Decisões curriculares
de projetos - continuidade
- melhoria
- generalização
- suspensão
Política educativa
Perfis de formação
Objetivos gerais do
sistema educativo
Seleção de domínios de estudo;
Objetivos, por nível e Elaboração da primeira versão dos currículos
tipo de formação para o grupo-alvo;
Definição de objetivos gerais por disciplina.
78
Referências bibliográficas
Odília Machado
Francisco Valadão
Mónica Monteiro
Vera Lourenço
Introdução
Reflexões finais
Referências bibliográficas
Introdução
33
Os dados excluem o 1.º ciclo do ensino básico, no qual não era atribuída uma
carga horária semanal específica às diversas áreas curriculares.
34
Os cálculos não compreendem as disciplinas de Desenvolvimento Pessoal e
Social ou de Educação Moral e Religiosa, em vigor na altura.
35
Registe-se, contudo, que no contexto dos Decretos-Lei n.º 6/2001, de 18 de
janeiro, e 209/2002, de 17 de outubro, a definição das cargas lectivas específicas ficou ao
critério das escolas, dentro dos parâmetros definidos para os planos curriculares do ensino
básico.
36
Esta situação deixou, contudo, de constar no Despacho Normativo n.º 98-A/92, de
20 de junho, que revogou o Despacho n.º 162/ME/91, de 9 de setembro.
regras linguísticas (Cicurel, 1992a; Leal, 2000), servindo, por essa via, o
desenvolvimento das competências ao nível da compreensão e da expres-
são oral e escrita, objetivo que a aula de língua elege como central.
A coincidência na aula de Português entre ‘a língua adquirida’, ‘a
língua a aprender’ e ‘a língua veicular de ensino’ institui o professor e o
aluno como entidades enunciadoras reais com possibilidades comunica-
cionais infinitas. Ironicamente, contudo, a aula de Português tem desapro-
veitado as condições excecionais de ensino e aprendizagem de que dispõe
à partida.
Inscrevendo-se numa tradição em que o professor assume o con-
trolo do discurso pedagógico e domina os usos comunicacionais na aula
(Bellack, Kliebard, Hyman & Smith Jr., 1966; Landsheere & Bayer,
1969; Flanders, 1970; Sinclair & Coulthard, 1975; Mehan, 1979; Pedro,
1982; Castro, 1987; Delamont, 1987; Stubbs, 1987; Grandcolas, 1989;
Allwright & Bailey, 1991; Cicurel, 1992b; Sá, 1996, entre outros), a aula
de Português tem restringido o papel enunciativo do aluno, afastando-o
da definição de objetivos e estratégias para a aprendizagem da língua e
restringindo as suas possibilidades de ‘manipulação’ da própria língua, o
ensaio de poderes comunicacionais, a experimentação de práticas enun-
ciativas significativas, a testagem dos limites comunicacionais e a amplia-
ção das capacidades expressivas individuais (Legutke & Thomas, 1991;
Leal, 2000; Leal & Sá, 2005).
Aparentemente consciente disto, a professora Amélia regista nos
seus diários alguns esforços pessoais no sentido de proporcionar aos alu-
nos experiências significativas de aprendizagem da língua, chamando-os a
assumirem responsabilidades na definição do próprio processo de ensino-
-aprendizagem e a experimentarem novas situações comunicativas:
Abracei o desafio de (…) preparar toda uma sequência de aprendizagem
nova e partilhei-o com os meus alunos (…) Separei-os em grupos, de acor-
do com os seus interesses, e desafiei-os a defender com unhas e dentes a
sua obra. Embora deixasse algumas linhas de força, deixei-os por sua con-
ta. Alguns continuaram o trabalho fora de portas e foram para a biblioteca,
outros combinaram reunir-se na casa de colegas, porque tinham internet, e
outros, aparentemente menos entusiasmados com a tarefa, limitaram-se a
dizer que sim. Esta tarefa resultou numa sinergia diferente, em que a maio-
ria deles (…) se sentiu realmente parte ativa da aula.
Tal esforço terá resultado num ambiente mais propício à aprendiza
gem e minimizador de comportamentos disruptivos, bem como na rea-
Conclusão
Referências bibliográficas
Legislação
Filomena Rebelo
Fernanda Silva
Raquel Dinis
Del Carmen & Zabala, 1991; Zabalza, 1992, 1994, 2003; Alonso et al.,
1994, 2002; Alonso, 2002, 2009; Sacristán, 2000; Roldão, 1999a, 2000b;
Leite, 2003; Sousa, 2007, 2010).
A ideia de auto-organização (Doll, 1993) preside à construção pro-
cessual do currículo, concebido como aberto, flexível e dinâmico, pen-
sado como um sistema capaz de se auto-organizar face a perturbações,
problemas e distúrbios, capaz de se reacomodar para continuar em fun-
cionamento (Doll, 1993; Fernandes, 2000a, 2000b). Assume aqui parti-
cular ênfase a interação entre professores e alunos na co-construção do
currículo, perante referências e orientações diversas (e.g., orientações e
materiais curriculares emanados da administração central, da adminis-
tração regional, de associações profissionais, de editoras; influências da
tradição e do passado) mas, necessariamente, gerais, abrangentes e inde-
terminadas que caracterizam a construção de um currículo “rico”, “refle-
xivo”, “relacional” e “rigoroso”, visando a superação do relativismo, da
arbitrariedade ou do solipsismo sentimental que marcam a pós-moder-
nidade (Doll, 1993), aproximando a construção do currículo da ideia de
busca constante de coerência e equilíbrio, de praxis e deliberação.
Experiência 1
Este trabalho desenvolveu-se com uma turma do 5.º ano de escolari-
dade.
37
Silva, Loureiro e Veloso (1989) consideram que o tratamento numérico permitido
pela calculadora reforça a exploração informal de situações e conceitos geralmente
abordados do ponto de vista formal. Esta ligação informal/ formal permite, segundo estes
autores, que algumas formas de raciocínio (indutivo, dedutivo, proporcional, etc.) possam
ser desenvolvidas de modo mais rico e frequente.
Experiência 2
Este trabalho foi desenvolvido com uma turma do 6.º ano de escola-
ridade.
38
Esta lenda atribui o aparecimento do jogo de xadrez a Sissa, filósofo indiano, que
o teria inventado a fim de curar o tédio do seu rei. O Rei, maravilhado, prometeu-lhe a
recompensa que desejasse. Sissa pediu um grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro,
dois pela segunda, quatro pela terceira, oito pela quarta e assim sucessivamente, dobrando
a quantidade, até chegar à casa de número sessenta e quatro. O rei ficou espantado perante
um pedido que lhe pareceu tão humilde e cedeu imediatamente à aparente insignificância
da petição. Mas, feitos os cálculos, verificou-se que todos os tesouros da India não eram
suficientes para pagar a recompensa pedida.
Exemplo 1
Organizados em grupo, os alunos exploraram latas com forma cilín-
drica, de dimensões diferentes, usadas no dia a dia em suas casas. Calcu-
laram o quociente entre o perímetro e o diâmetro de cada lata e discuti-
ram os resultados obtidos com os outros grupos, concluindo que tinham
encontrado um valor constante. Foi assim deduzido o valor de π. Cada
grupo fez, ainda, a planificação do mesmo objeto.
Exemplo 2
Os alunos (individualmente) formularam problemas (a partir de
orientações dadas) e resolveram-nos, partilhando as dificuldades sentidas
e fazendo uma crítica aos processos por si utilizados. Os mesmos proble-
mas foram trocados com outros colegas, iniciando-se um novo ciclo de
resolução, partilha de dificuldades e reflexão. Contemplou-se ainda a re-
formulação, por iniciativa dos alunos, dos enunciados de alguns proble-
mas considerados mal formulados. Nestas ocasiões os mesmos faziam
também a apresentação e discussão dos novos enunciados com a turma.
As situações-problema assim trabalhadas foram alvo de intensa ex-
ploração, favorecendo o desenvolvimento de competências de pesquisa,
comunicação e reflexão. A iniciativa e a autoimplicação dos alunos mar-
cou o desenvolvimento das atividades.
Na procura de soluções, os alunos levantaram questões, confronta
ram e discutiram resultados sob diversas perspetivas individuais e gru-
pais. A interação em grupo evidenciou dividendos positivos no que
respeita à colaboração, entreajuda e confiança dos alunos no trabalho de-
senvolvido.
Indo mais longe, no exemplo 2 da experiência 1, cada aluno criou um
contexto, uma história em redor da formulação do enunciado do problema,
transformando-o num momento com interesse e significado pessoal.
Conclusões
Referências bibliográficas
Sandra Eugénio
Carlos Gomes
relação a este último aspeto, não nos esqueçamos de que as Ciências pro-
curam explicar os fenómenos naturais através de modelos mentais que
têm como principal objetivo dar um significado ao pensamento sobre o
que acontece (Millar, 2003).
O ensino não pode ser entendido como o relato ou transmissão de
verdades estabelecidas. Pelo contrário, tem de proporcionar aos alunos
acontecimentos e experiências relevantes que deem sentido à realidade
que os envolve de modo a que possam produzir, em conjunto (professores
e discentes), uma aprendizagem de conteúdos e de significados (Morgado,
2005). Deste modo, os alunos percebem melhor a “relevância da escola
para a vida” (Roth, cit. por Reis, 2006, p. 174). Pelo exposto se percebe a
importância, para alunos e professores, do saber interdisciplinar; de abor-
dar assuntos atuais, controversos e do interesse dos aprendentes; de de-
bater, confrontar ideias, procurar consensos e de trabalhar colaborativa-
mente, tendo sempre o cuidado de não pôr em causa a liberdade de cada
interlocutor, mesmo quando as opiniões são negativas (Morgado, 2005).
Em relação à interdisciplinaridade, Fourez (2003, p. 111) alerta que os
professores devem ser preparados para saber lidar com a “resolução de
problemas” que envolvam várias disciplinas, sejam elas de Ciências Natu-
rais ou Humanas.
A formação deve favorecer igualmente a (re)construção do conhe-
cimento didático de conteúdo, com ênfase no ensino experimental das
Ciências (Martins et al., 2006). A este propósito, Gallagher (1971) refere
que a compreensão das inter-relações da ciência, tecnologia e sociedade
(CTS) pode ser tão importante quanto a compreensão dos conceitos e pro-
cessos da ciência. O ensino CTS coloca os alunos perante situações pro-
blemáticas reais, encorajando-os “a usar capacidades que eles já possuem
na exploração” dessas situações (Millar, 2003, p. 76) e na procura de so-
luções para os problemas. Desta forma, ao invés de se reduzirem ao papel
de observadores (Santos, 1999), os discentes envolvem-se ativamente no
processo de aprendizagem e desenvolvem a sua capacidade de tomar de-
cisões (Santos, 2007). Para além disso, têm a possibilidade de compreen-
der alguns dos caminhos através dos quais se obtém conhecimento cien-
tífico e de reconhecer a importância do erro e da incerteza em todo este
processo (Millar, 2003). Membiela (2001) refere algumas técnicas de en-
sino que podem ser utilizadas na educação CTS. Entre elas salienta o tra-
balho em pequenos grupos; participação ativa dos alunos em discussões;
simulações e jogos; debates e controvérsias; aprendizagem cooperativa;
Emergência da situação
A Francisca e o Pedro são dois irmãos que vivem com os seus pais na fre-
guesia de São Bartolomeu na ilha Terceira. Estes irmãos gostam de pas-
sear, brincar e fazer piqueniques junto à Lagoa da Falca (mais conhecida
por Lagoa das Patas) no interior da ilha, que é alimentada por águas que
escorrem da serra de Santa Bárbara sob a forma de riachos. Como já co-
nheciam muito bem a lagoa e as zonas envolventes, resolveram aventurar-
-se, com os pais, subindo a ribeira que lá existe. Tinha chovido bastante no
dia anterior. Os dois irmãos ficaram maravilhados com o que viram: quedas
de água enormes e grandes ravinas que metiam respeito. Ao aproximarem-
-se dos maciços rochosos, verificaram que as rochas eram parecidas com as
pedrinhas soltas e com faces lisas que existiam nas margens da lagoa e com
as quais eles brincavam. A diferença é que tinham uma forma irregular e
eram muito maiores. Sabendo que não existiam aqueles maciços rochosos
perto da lagoa, nem nas zonas envolventes, começaram a questionar como
teriam surgido as pedrinhas soltas na lagoa. Também lhes fazia confusão as
pedrinhas da lagoa serem tão lisas. Estes dois irmãos tinham iniciado o 7.º
ano de escolaridade e ainda não possuíam conhecimentos que lhes permi-
tissem resolver este enigma.
O estudo da situação anterior assentou em algumas questões orien-
tadoras, das quais se destacam, a título de exemplo, as que se seguem:
Identifica o(s) problema(s) levantado(s) pelos dois irmãos; Discute o(s)
problema(s) com o teu colega de grupo e levanta uma hipótese explicativa
para o(s) problema(s), regista-a; com a orientação do teu professor, com-
para e discute a hipótese do teu grupo com a dos outros grupos.
A atividade foi desenvolvida a pares e corrigida com a participação
do maior número possível de alunos.
Perante a realização desta atividade de aprendizagem os alunos res-
ponderam que: gostaram da aula e que o professor deveria repetir mais
vezes este género de atividade; ficaram a perceber como se formaram os
sedimentos e os estratos sedimentares. Ainda neste enquadramento, al-
guns alunos referiram que a água é um agente erosivo importante e outros
disseram que não se deve construir junto a ribeiras para evitar o que acon-
teceu na ribeira da Agualva39.
De um modo geral, os alunos aderiram bem à atividade proposta,
tendo-se criado na aula momentos de concentração, reflexão, discussão e
confronto de ideias. O facto de se ter feito referência a um local do conhe-
cimento dos alunos aumentou-lhes a curiosidade.
Tendo em conta que durante as aulas os alunos têm (com alguma
frequência) projetado no futuro a utilidade dos conhecimentos científicos
adquiridos na disciplina de Ciências Naturais, há que, no presente, atri-
buir significado e prazer à aquisição, compreensão e aplicação dos conheci-
mentos. Porém, para que isto aconteça e para que haja a promoção efetiva
da relevância no ensino das Ciências, ousamos dizer que algumas vezes
não basta o professor apostar individualmente no seu desenvolvimento
profissional, pois, paralelamente, há um conjunto de aspetos estruturais
39
Os alunos referiam-se a uma enxurrada ocorrida em dezembro de 2009, que
causou grandes prejuízos materiais na freguesia da Agualva, ilha Terceira.
Referências bibliográficas
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Introdução
Figura
Figura 1: Fases
1: Fases dosdosprocessos
processosde
de reflexão
reflexão (Smyth,
(Smyth,cit. por
cit. García,
por 1999,
García, p. 46)
1999, p. 46)
Conclusão
Referências bibliográficas
Sandra Eugénio
Mariana Oliveira
Francisco Sousa
tral. Alarcão e Roldão (2008, p. 71) afirmam, a este propósito, que a cons-
trução da identidade profissional é um processo que “se configura como:
de autoimplicação, socioconstrutivista, referenciado à ação e aos saberes
constituídos, analítico, reflexivo, inacabado, intertemporal, historicamente
contextualizado”.
Explorando a potencialidade investigativa das narrativas profissio-
nais, o projeto “O meu baú profissional” permitiu, através do método
(auto)biográfico-narrativo, a construção de uma narrativa em busca de
uma identidade profissional, à medida que referentes individuais e coleti-
vos foram sendo mobilizados e manipulados de forma pessoal e autêntica,
através da utilização de referências teóricas e ferramentas metodológicas
que foram sendo adquiridas em contexto de formação. Assim se delineou
um processo metarreflexivo que implicou um diálogo entre o pensamento
e a ação, ilustrado com exemplos da prática, e que tornou mais explícito o
conhecimento profissional da autora, enquanto educadora de infância.
Nesta investigação educativa, não se aspirava somente a encontrar
respostas teóricas, pois, como afirma Alonso (2009, p. 10), “qualquer in-
terpretação da natureza da investigação educativa que se limite a trans-
formar os problemas da educação numa série de problemas teóricos ou
abstratos distorce seriamente a finalidade e a natureza da própria inves-
tigação”. Pretendeu-se, isso sim, fazer emergir e identificar aquilo que
foi realmente formador (Nóvoa e Finger, 1988), através da construção de
uma narrativa.
As raízes da narrativa aqui em discussão encontram-se nalgumas
ideias registadas num diário, redigido em contexto de formação. Desses
registos, destacamos os seguintes:
– Estou perdida sem saber para onde pretendo ir;
– Sinto-me uma profissional administrativa e não educadora de in-
fância;
– Ainda nenhumas respostas achei, mas um caminho a seguir encon-
trei;
– Refletir em equipa, ter o direito de ter dúvidas e de precisar de
tempo para as resolver, não ter medo de o escrever e assumir, sinto
que é isto que preciso já e agora;
– Só quando escrevo é que me apercebo do quanto preciso de indagar;
– Sei que as minhas crianças precisam de mim, mas agora a Maria-
na não pode, tem uma reunião muito importante. (Oliveira, 2010,
p. 2)
40
Por razões de confidencialidade, os verdadeiros nomes destes professores foram
substituídos por pseudónimos.
dades dos alunos; elaborar estratégias para superar ou atenuar esses pro-
blemas; possibilitar o debate na sala de aula; ser moderador; ser criativo;
criar momentos de autorreflexão; pesquisar para estar atualizado; revelar
competência “a nível científico, a nível pedagógico”; tentar não cometer
erros e se os cometer corrigi-los com humildade; ajudar o aluno a ter “pe-
quenos progressos”; esclarecer os alunos mesmo para além da sua área
científica de formação; “abrir horizontes aos alunos”; estabelecer uma
“boa relação com os pais” dos alunos.
No que diz respeito à autonomia do professor, a Alice considera
que um professor não se deve limitar a cumprir e a ser dedicado; deve
construir e criar. Enquanto foi professora de apoio sentiu que não tinha
muita autonomia (estava limitada a trabalhar as dificuldades dos alunos
e a fazer o que era delineado pela professora titular). Revela iniciativa e
conseguiu mudar práticas ao nível da sua escola. Promove atividades para
a comunidade, em particular para os pais. Tem um estilo próprio; adota
uma lógica de planificação diferente das suas colegas de Escola. Tem po-
der na aula; é ouvida na escola e o seu trabalho é reconhecido; é autóno-
ma, “até um certo nível”, sobretudo na seleção dos métodos e das estraté-
gias de ensino. Centra-se nos alunos – são eles o seu “ponto de partida” e
não a “lição que vem a seguir no manual”. Partilha dificuldades sentidas
no âmbito da avaliação do seu desempenho por usar “um método diferen-
te”, mas não tenciona mudar a sua forma de ensinar porque não ensina
“para agradar os professores”.
A Berta considera que o facto de determinadas recomendações vi-
rem expressas nos documentos oficiais confere maior segurança e condi-
ciona a ação do professor. Na sua opinião, os documentos oficiais “confe-
rem muita autonomia” aos professores. No entanto, “os professores não
usam convenientemente a autonomia que têm”. No que se refere ao ensino
da Matemática, sente maior pressão em relação ao currículo prescrito do
que no que se refere ao ensino das Ciências. Por vezes, sente a pressão
dos pares na gestão que faz do currículo, e considera o programa de Ma-
temática muito vasto tendo em conta o perfil dos alunos que normalmente
encontra. Sente que os professores têm de dar resposta a muito trabalho e
isso retira-lhes espaço para poderem analisar, pensar e expressar as suas
opiniões de forma consistente. Considera que o tempo dos docentes deve-
ria ser rentabilizado de outra forma. Por exemplo, através de uma melhor
gestão das reuniões ou da partilha de materiais e experiências, que ajuda
a rentabilizar “uma parte do trabalho”. Gostaria de encurtar o programa
Reflexões finais
Referências bibliográficas