16/02/2018 A Educação Cristã

A Igreja e o Mundo Moderno

A educação cristã
A missão de educar os povos está intimamente ligada à natureza da Igreja
como Jesus a desejou. Nas páginas dos Evangelhos, por exemplo, vemos
Nosso Senhor dizer aos apóstolos para que ensinem a todas as nações,
batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Por alguma razão misteriosa, no entanto, a Igreja tem renunciado a essa

vocação ano após ano. Quando e como isso começou?

Cluny e a educação cristã. A missão de educar os povos está intimamente ligada à natureza da
Igreja como Jesus a desejou. Nas páginas dos Evangelhos, por exemplo, vemos Nosso Senhor
dizer aos apóstolos para que ensinem a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo (cf. Mt 28, 19-20). Por alguma razão misteriosa, no entanto, a Igreja tem
renunciado a essa vocação ano após ano. Quando e como isso começou?

Voltemos alguns anos na história, mais especificamente ao século X. Nesse período, a Igreja
vivia um tempo conturbado por conta de disputas políticas. Não foi por menos que o Cardeal
Barônio o chamou de saeculum obscurum. O papado encontrava-se em franca decadência.
Famílias brigavam pelo Trono de São Pedro, arrastando a Noiva de Cristo para um mar de lama
e de corrupção sem precedentes. Roma agonizava em meio ao caos.

Na França, por outro lado, uma reforma silenciosa dava seus primeiros passos, preparando o
surgimento de um novo ambiente cultural. O chamado Mosteiro de Cluny, livrando-se da
jurisdição dos príncipes locais por meio de um decreto papal, retomou a tarefa educacional da
Igreja, pelo que pôde formar uma rede de mosteiros dedicados à busca da santidade e da
sabedoria. Essa iniciativa não só resolveu os problemas internos do papado, mas também
tornou a Igreja mais respeitada pelo mundo. Por exemplo: no pontificado de São Gregório VII,
um filho de Cluny, a autoridade do Papa pôs fim a conflitos políticos da época, assegurando a
paz entre os povos.

O método de ensino da Igreja. O sucesso educacional da Reforma de Cluny deveu-se,

sobretudo, ao seu método, que consistia na união do estudo à vida interior. Os monges
entendiam a educação como um caminho de oração e de contemplação da verdade. Por isso, o
homem nunca poderia parar de estudar se quisesse alcançar os mais altos graus da sabedoria.
Mais do que isso, esse estudo deveria ser sustentado por meio das virtudes.

Na verdade, Cluny apenas aplicou aquilo que a Igreja já vivia anteriormente. O Magistério
sempre ensinou ao homem a iluminar a inteligência com as luzes da razão e da fé. Isso é
perceptível nas grandes construções do período medieval, como as catedrais góticas. Apenas

https://padrepauloricardo.org/aulas/a-educacao-crista 1/2
16/02/2018 A Educação Cristã

uma pessoa muito inteligente poderia arquitetar tais monumentos. A razão natural torna-se
mais profunda na medida em que é iluminada pela luz sobrenatural da fé. Foi o que
experimentou Santo Agostinho após a sua conversão. Com o batismo, ele descobriu que aquilo
que antes parecia de difícil compreensão filosófica agora se tornara mais claro, graças à ajuda
dos sacramentos. De fato, todos os homens que se deixam iluminar por essa luz têm uma visão
mais profunda da realidade.

A reação do inimigo. Paralelamente ao fenômeno educacional de Cluny, outro movimento, que

mais tarde se mostraria nocivo à vida cristã, começou a crescer dentro das universidades,
especialmente na Universidade de Bolonha. Alguns estudiosos decidiram retomar o direito
romano e aplicá-lo em um novo contexto social. Ocorre que esse direito pagão não prevê a
existência do poder temporal da Igreja. Nesta perspectiva, a sua influência passou a ser minada
em praticamente todas as esferas da vida social, inclusive no estudo. E, assim, o ensino tornou-
se independente da vida interior, como se viu no caso de Pedro Abelardo.

O auge dessa ruptura ocorreu com a fundação da Universidade de Paris e a invenção do

diploma. Com esse carimbo institucional, os estudantes entenderam que não precisariam mais
estudar depois da graduação. Bastava o canudo. Logo o nível da educação superior começou a
diminuir vertiginosamente até o desenvolvimento dos goliardos, um grupo de universitários
mais dedicado à devassidão moral que ao estudo propriamente dito. E com a morte dos santos
durante a peste negra, o relativismo filosófico do nominalismo e a influência cultural do
Renascimento, o ambiente estava pronto para que surgisse o confuso Martinho Lutero no
século XVI.

A Igreja ainda manteve certa autoridade durante esse período, como se viu na assinatura do
Tratado de Tordesilhas. Embora muitos professores zombem dos católicos por esse decreto do
Papa, a verdade é que graças a ele não houve uma guerra entre Portugal e Espanha.

A tese fundamental deste curso baseia-se justamente nessa autoridade espiritual da Igreja sobre
os homens, e como isso é importante para a manutenção de uma paz autêntica. Não se trata
agora de criar uma teocracia, mas apenas de reavivar a vocação da Igreja de ensinar do jeito que
ela sempre ensinou. Somente assim o mundo será melhor.

https://padrepauloricardo.org/aulas/a-educacao-crista 2/2