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Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Ricardo Reis

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.


Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida


Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
ais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.


Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,


Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,


Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as


No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois


Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,


Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Ricardo Reis nasceu em 1887, no Porto, e formou-se em Medicina. “[…] é um pouco, mas
muito pouco mais baixo [do que Alberto Caeiro], mais forte, mas seco […] Reis de um
vago moreno mate […] educado num colégio de jesuítas […] vive no Brasil desde 1919,
pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É latinista por educação alheia, e
um semi-helenista por educação própria […].” Fonte: Carta de Fernando Pessoa a Adolfo
Casais Monteiro (13 de janeiro de 1935)

Estrofes 1 e 2 - A efemeridade da vida. Convite à fruição amorosa serena, uma


vez que a vida é breve. A necessidade de predomínio da razão sobre a emoção,
como defesa contra o sofrimento Elementos clássicos: o ambiente bucólico, o
nome “Lídia” e o papel do fatum

Estrofes 3 e 4 – Desenlace amoroso, pois é preciso evitar os grandes


desassossegos para evitar a dor. A inutilidade dos compromissos. O enlaçar e
desenlaçar das mãos como recusa de qualquer compromisso A morte como
única certeza do percurso existencial. A recusa constante de todo e qualquer
excesso (amores, ódios, paixões, invejas..)

Estrofes 5 e 6 - Convite á uma relação amorosa tranquila, espiritual, evitando os


excessos de amor físico. A busca da tranquilidade Valorização do “carpe diem”,
colhendo o “perfume” do momento evitando o conhecimento das coisas. O
estabelecer de um “programa de vida”: a vida deve ser vivida de forma serena e
calma; deixemo-la passar à nossa frente, controlando as nossas emoções e
sentimentos

Estrofes 7 e 8 - O sujeito neste poema propõe a Lídia uma relação contida, sem
envolvimento nem paixão, como única forma de evitar o sofrimento provocado
pela separação que a morte de um deles poderia trazer

A ausência de perturbação face à morte que não deve ser motivo de sofrimento,
pois ainda não foi presenciada. A vida passa, por isso não devemos assumir
compromissos.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
O rio sugere passagem; efemeridade
Se for sombra antes é um eufemismo para “se eu morrer antes de você”.
O barqueiro sombrio é uma referência mitológica a Caronte, figura que
transportava os mortos pelos rios infernais. A família do defunto colocava-lhe na
boca o óbolo, uma moeda grega que simbolizava o seu pagamento.
O paganismo encontra-se claramente presente; a natureza surge como refúgio;
notado gosto pela cultura clássica; a vida é transitória.

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