INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
FACULDADE DE GEOLOGIA
Belém/PA
2019
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SUMÁRIO
MÓDULO 1
.......................................................................................................... 03
1.1 HISTÓRICO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE GEOLOGIA ............................ 03
1.2- GEOLOGIA E O HOMEM ....................................................................................... 05
.............................................................................................. 08
2.1- INTRODUÇÃO: métodos de investigação do interior terrestre ............................... 08
2.2- METEORITOS ........................................................................................................ 08
2.3- TERREMOTOS ...................................................................................................... 10
2.4- ESTRUTURA INTERNA DA TERRA ..................................................................... 13
2.5- CAMPOS GRAVITACIONAL E MAGNÉTICO DA TERRA .................................... 16
2.5.1- Campo Gravitacional ......................................................................................... 16
2.5.2- Campo Magnético .............................................................................................. 18
........................................................................................ 26
3.1- INTRODUÇÃO: Teoria da deriva continental ......................................................... 26
3.2- TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS ................................................................. 28
3.2.1- Regime divergente de placas litosféricas ........................................................ 35
3.2.2- Regime convergente de placas litosféricas ..................................................... 37
3.2.3- Regime transformante ou conservativo de placas litosféricas ..................... 41
3.3- CICLO DE WILSON E DANÇA DOS CONTINENTES ........................................... 42
3.4- TECTÔNICA DE PLACAS E OS DEPÓSITOS MINERAIS ................................... 47
3.5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 47
3.6- ATIVIDADES DESTE MÓDULO PARA OS ESTUDANTES ................................. 48
MÓDULO 2
5- ESTRUTURAS GEOLÓGICAS
MÓDULO 3
7- TEMPO GEOLÓGICO
2
APRESENTAÇÃO
3
Os assuntos abordados nos itens a seguir possuem um cunho introdutório ao
conhecimento geológico, abrangendo aspectos da geologia geral objetivando um
conhecimento do nosso planeta dentro de variados aspectos: sua constituição física,
processos que atuam no interior e na superfície da Terra, os principais produtos gerados
por esses processos e suas aplicações na vida das pessoas.
Este texto foi desenvolvido de modo a facilitar o entendimento dos temas
propostos a seguir. Foi redigido dentro de uma linguagem acessível a qualquer campo
do conhecimento e sem a preocupação de esgotar os assuntos. Deverá, outrossim, servir
de base para que o leitor possa complementar com leituras auxiliares, de fácil obtenção
nas bibliotecas tradicionais e eletrônicas.
1.1- HISTÓRICO E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE GEOLOGIA
O termo Geologia vem do grego Geo, que quer dizer Terra e Logos que significa
palavra, pensamento, ciência. No sentido que lhe damos atualmente, o termo Geologia
foi usado pela primeira vez pelo naturalista Ulisse Aldrovandi (1522-1605), em uma
publicação de 1648. O primeiro livro de mineralogia (parte da Geologia que estuda os
minerais), escrito em português, foi “Tábuas Mineralógicas” de autoria do professor
Manuel José Barjona (1758-1831), da Universidade de Coimbra, Portugal.
A Geologia é uma ciência histórica. Ela estuda fenômenos que não se repetem,
únicos em cada tempo, que ficam registrados nas rochas, como a erosão e alterações
intempéricas, que refletem a atuação do clima, e as deformações, metamorfismo,
magmatismo e formação de cadeias de montanhas, resultantes de esforços tectônicos e
do calor interno da Terra. As ciências geológicas, certamente, se originaram das
civilizações mais antigas que sofriam os efeitos de terremotos, observavam as atividades
dos vulcões, contemplavam o trabalho incessante das ondas e das correntes, e sem
dúvida sentiam-se curiosos pela explicação de tudo aquilo que viam. Observavam,
igualmente, as conchas marinhas no alto das montanhas, os minerais de formas
geométricas regulares e, assim, as explicações foram aos poucos se avolumando,
aumentando o conhecimento da Terra em que vivemos.
Marcos na História da Geologia
O primeiro marco na História da Geologia foram as observações do filósofo grego
Tales de Mileto (624/625-556/558 AC), nascido na cidade homônima da Ásia Menor,
atual Turquia, sobre o trabalho dos rios Meandro (atual Meanderes) e Nilo que o levaram
a concluiu que “a água podia modificar a face da Terra”. Tales anunciara, então, a
ação erosiva das águas, uma das leis fundamentais da Geologia.
No ano 79 da Era Cristã, o Vesúvio, vulcão situado
próximo à cidade de Nápoles (Itália), entrou em erupção,
soterrando as cidades de Pompéia e Herculano. Nesta
erupção o naturalista Caio Plínio, o Velho (23 DC - 79 DC),
faleceu sufocado pelas cinzas do vulcão. O seu sobrinho
Plínio, o Moço, vinte e cinco anos após a erupção, em duas
cartas dirigidas ao historiador Tácito, narrou detalhadamente
os eventos, tornando-se assim o primeiro vulcanologista da
História. As erupções do tipo da ocorrida no Vesúvio, por essa
razão, são denominadas plinianas.
Figura 1.1- Georgius
Outro marco importante na história da Geologia foi a
Agrícola (1494-1555)
publicação em 1556 do livro “De Re Metallica” (sobre a
natureza dos metais), de autoria do médico e mineralogista alemão Georg Pawer, mais
conhecido como Georgius Agrícola (Fig. 1.1). O livro é voltado ao estudo da mineração
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o qual, juntamente com “De Natura Fossilium” dedicado ao estudo dos minerais, levaram
Agricola a ser considerado como o Pai da Mineralogia.
O bispo católico e cientista dinamarquês Niels Stensen,
mais conhecido como Nicolaus Steno (Fig. 1.2), viajou
muitos anos pela Europa (França, Itália, Países Baixos)
para estudar as rochas, minerais e fósseis. Nos seus
estudos científicos, ao invés de se basear apenas nos
autores antigos, confiava nas suas observações, mesmo
quando estas contrariavam as doutrinas tradicionais. Na
mineralogia, Steno anunciou a constância dos ângulos
interfaciais dos cristais, conhecida como “lei de Steno”. No
campo das rochas sedimentares, Steno enunciou três
princípios básicos da Estratigrafia (estudo do
empilhamento das camadas de rocha): Lei da
sobreposição de estratos e os princípios da
horizontalidade original e continuidade lateral.
Figura 1.2- Nicolas Steno
(1638-1686). O primeiro marco sobre o aspecto prático da
geologia foi estabelecido pelo agrimensor britânico William
Smith (Fig. 1.3). Smith não tinha formação acadêmica,
mas era autodidata e trabalhou muitos anos na construção
de canais para escoamento de carvão em várias regiões
da Inglaterra. Nesta tarefa teve oportunidade de observar
as diversas camadas geológicas (estratos) e os fósseis a
elas associados. Ele registrou suas observações em
milhares de anotações e traçou mapas de campo,
mostrando a posição de cada camada e seus fósseis.
Seus estudos levaram-no a deduzir que “cada estrato
Figura 1.3- William Smith
(1769-1839).
contém fosseis organizados que lhe são peculiares”.
A partir dessa dedução ele conseguiu correlacionar
camadas afastadas entre si por muitos quilômetros. Em 1801 ele esboçou o mapa
geológico preliminar da Inglaterra, reconhecido como o primeiro mapa geológico de
grande escala feito pelo homem. Finalmente, em 1815, ele publicou seu mapa geológico
da Grã-Bretanha, medindo 2,50 x 2,00 m, com os diversos estratos coloridos à mão em
20 cores, abrangendo a Inglaterra, País de Gales e parte da Escócia. William Smith foi o
primeiro homem que colocou a Geologia a serviço da humanidade e o seu famoso mapa,
que ficou conhecido como o mapa que mudou o mundo, atualmente é exibido na
Burlington House, no centro de Londres, sede da Geological Society of London. As
conclusões de Smith, sobre a evolução das rochas sedimentares e a vida marinha, com
base na sucessão das camadas estratigráficas e seus fósseis, forneceram as bases para
a teoria da evolução das espécies anunciada por Charles Darwin quase seis décadas
depois.
Um marco mais recente na história da Geologia foi estabelecido apenas no início
do século XX, embora tenha sido especulado desde longa data: a teoria da deriva
continental. A ideia da união da África e a América do Sul no passado vem desde a
época dos primeiros ensaios cartográficos, representando as margens desses dois
continentes. O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) já havia apresentado esta
hipótese no século XVII. Entretanto, uma teoria da deriva dos continentes apoiada em
conhecimento geológico, paleontológico, paleoclimático e outros, só foi proposta no
início do século XX, independentemente pelo geólogo americano Frank B. Taylor (1860-
1939) em 1910, e pelo meteorologista alemão Alfred L. Wegener (1880-1930) em 1912.
De acordo com Wegener, os continentes atuais teriam se originado da fragmentação de
um continente primitivo denominado Pangeia. Os fragmentos resultantes teriam se
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afastado uns dos outros desde o Jurássico ou Cretáceo (cerca de 200-150 milhões de
anos atrás), derivando sobre o manto oceânico até as posições atuais. A Deriva
Continental foi a teoria precursora da Tectônica de Placas, conceito que emergiu na
década de 60 do século XX.
Os elementos essenciais da Tectônica de Placas são:
A superfície da terra é dividida em cerca de 13 placas principais e outras menores.
Os limites entre as placas podem ser construtivos, destrutivos e transcorrentes. No
primeiro caso, as placas aumentam de tamanho, no segundo diminuem e, no terceiro,
as dimensões ficam inalteradas.
As placas podem abranger tanto terrenos continentais como oceânicos (fundo dos
mares). O Brasil está situado na placa Sul Americana, cuja metade leste é oceânica e
a metade oeste, continental. Seus limites são: a leste, a cadeia Mesoatlântica (limite
construtivo); a oeste, a cordilheira dos Andes (limite destrutivo); a norte a placa do
Caribe e a sul a placa Scotia (limites transcorrentes).
1.2- A GEOLOGIA E O HOMEM
A geologia tem repercussão em praticamente todos os segmentos da sociedade
e sua atuação se faz presente em diversos órgãos públicos federais, estaduais e
municipais e, também, em empresas estatais e privadas. Os órgãos e empresas estatais
atuam nas áreas de levantamento geológico básico, com vistas à caracterização do meio
físico, e na identificação e caracterização de ambientes geológicos e sua
compartimentação tectônica, potencialmente favoráveis à ocorrência de depósitos
minerais de interesse para a sociedade, enquanto que as empresas privadas e algumas
estatais atuam principalmente na mineração de jazidas minerais, petróleo e gás.
Podem se distinguir dois aspectos na ciência geológica: a Geologia Geral ou
Dinâmica e a Geologia Histórica. A Geologia Geral compreende as diversas partes da
geologia que investigam os processos genéticos formadores das rochas da crosta
terrestre, envolvendo os fenômenos que agem não somente sobre a superfície, como
também no interior do nosso planeta. Duas diferentes fontes de energia agem sobre a
Terra. Uma delas provém do Sol, que age direta ou indiretamente, esculpindo a
superfície do globo terrestre, constantemente retrabalhada pelo movimento das águas e
ventos, alimentado pela energia solar. Fazem parte deste conjunto de fenômenos, o
intemperismo, a erosão e a formação das rochas sedimentares (ciclo sedimentar),
denominados de dinâmica externa. A segunda fonte de energia provém do interior da
terra (calor interno), formando e modificando sua estrutura interna. Fazem parte desse
conjunto de fenômenos a tectônica de placas, formação e deformação das rochas ígneas
e metamórficas, denominados de dinâmica interna. Estas duas fontes de energia agem
independentemente, havendo, contudo, interação entre elas.
A Geologia Histórica estuda e procura datar cronologicamente a evolução das
modificações geológicas (estruturais, petrológicas, geográficas e biológicas) do nosso
planeta e posicioná-las no tempo geológico.
São inúmeras as aplicações práticas da geologia em benefício da humanidade e
das condições da vida na Terra que compreendem os ramos específicos da geologia,
denominados conjuntamente de Geologia Aplicada. Os mais importantes deles são
descritas brevemente a seguir:
Geologia Econômica
É o estudo dos recursos minerais utilizados pelo homem. O aumento geométrico
na demanda por bens minerais não renováveis pela crescente população humana
mundial tem provocado também um aumento paralelo no trabalho de pesquisa e
exploração mineral nas rochas da crosta terrestre para atender a demanda crescente por
recursos minerais. Desse modo, a procura de petróleo, carvão mineral, minerais
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metálicos e não-metálicos, exige o conhecimento pormenorizado dos processos de
formação desses bens minerais, do tipo de rochas relacionadas, da época em que se
teriam formado, e também da quantidade provável destes recursos ainda existente na
crosta terrestre acessível ao homem.
Geologia de Engenharia (Geotécnica)
Não menos importante é a geologia no âmbito da Engenharia, sobretudo na
construção de grandes obras, como túneis, barragens, fundações que deverão suportar
grandes cargas, e também, no estudo dos deslizamentos por vezes catastrófico, que
podem sepultar grandes áreas e que dependem da natureza do solo e de sua
estabilidade.
Geologia Ambiental
Este ramo da geologia consiste no estudo dos problemas geológicos, decorrentes
da relação que existe entre o homem e a superfície terrestre, assunto cuja importância
vem crescendo atualmente. As alterações no ambiente onde vivemos, provocados pelas
atividades humanas (poluição, desmatamento, alterações climáticas) extrapoladas para
um futuro muito próximo, poderão determinar, se não forem tomadas providências
adequadas, condições inadequadas à sobrevivência da raça humana no nosso planeta.
O impacto das atividades humanas no meio ambiente tem sido tão marcante que alguns
geocientistas já estão propondo um novo período geológico denominado Antropoceno
(pós holoceno). A ciência ambiental (ecologia) é multidisciplinar e, portanto, muito
complexa, pois envolve o conhecimento integrado de diversas áreas das ciências, como
biologia, física, química, geologia, geografia, agronomia, meteorologia, etc.
Geodiversidade, Geoconservação, Geoturismo
Estudos sobre a geodiversidade, geoconservação e o geoturismo, têm sido
enfatizados a partir dos anos 90 do século passado. Geodiversidade é “a variedade de
ambientes, fenômenos e processos geológicos ativos que dão origem a paisagens,
rochas, minerais, fósseis, solos e outros materiais superficiais que dão suporte para a
vida na Terra”. A geodiversidade possui enormes valores econômicos, científicos,
didáticos, culturais, etc., e a geoconservação do patrimônio geológico e o geoturismo,
que é o aproveitamento turístico desse patrimônio, são consequências óbvias da
geodiversidade.
Geologia Médica (Geomedicina)
Área das geociências que estuda os efeitos benéficos ou maléficos de diversos
minerais e de fatores e ambientes geológicos sobre a saúde humana e dos animais.
Estuda, por exemplo, a exposição excessiva ou a deficiência de elementos ou minerais
no organismo, a inalação de poeiras minerais provenientes de minas ou vulcões, a
exposição à materiais radioativos, entre outras complicações na saúde relacionadas às
condições e ambientes geológicos. No Brasil, a geomedicina ainda é rudimentar. O
Programa Nacional de Pesquisa em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica
(PGAGEM), é uma das principais iniciativas nessa área que procura fornecer subsídios
à saúde pública através do controle da contaminação da água e solos.
Todas as atividades humanas, mesmo remotamente, estão ligadas à geologia,
com efeitos diretos ou indiretos na saúde humana. Um exemplo simples pode ser
encontrado em uma moradia, como mostra tabela 1 abaixo.
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Material Substância Mineral
Tijolo Argila Vermelha
Argamassa Calcário (cimento), areia e brita
Fundações Calcário (cimento), areia, brita e ferro (armação)
Contrapiso Calcário (cimento), areia e brita
Argila (telhas), betume, calcário, areia (acabamento) zinco
Telhado ou petróleo (PVC)
Calha Zinco ou petróleo (PCV)
Caixa d’água Amianto e cimento
Fiação Cobre e petróleo (conduítes de PVC)
Pintura Óxido de titânio (pigmento), gipsita (gesso) e calcário (cal)
Lâmpada Wolfrâmio (filamento) e alumínio (soquete)
Aparelhos eletrônicos Quartzo, silício metálico e germânio (transistores)
Vaso sanitário Argila vermelha ou branca
Cama Ferro ou cobre (armação), petróleo (espuma de PVC)
Chuveiro Liga de cobre e zinco (caixa) e mica (isolante)
Encanamentos Ferro, zinco, cobre e petróleo
Louça sanitária Argila branca, caulim e feldspato (esmaltados)
Eletrodomésticos Alumínio, cobre, fibras de vidro e petróleo
Botijão de gás Ferro e manganês (aço), gás natural ou de petróleo (GLP)
Azulejos Argila branca e feldspato
Automóvel Ferro, alumínio, cromo e petróleo (combustível)
Lajotas de Argila vermelha, areia (vitrificados) e manganês
revestimento (pigmentos)
Janelas/Esquadrias Ferro, alumínio e liga de cobre e estanho (bronze)
Tabela 1.1- Materiais utilizados na construção de uma residência comum e suas respectivas
substância minerais.
Além desses materiais, o homem utiliza diversos bens minerais no seu dia-a-dia,
por exemplo: Alimentação: Sal, fosfato, potássio, calcário, nitrato, etc.;
Embalagens: Alumínio, ferro, estanho, caulim, talco etc.;
Saúde e higiene: Água, caulim, talco, calcita, gipso etc.;
Transportes: Ferro, manganês, carvão, níquel, titânio etc.;
Bens de consumo: Ouro, prata, diamante, petróleo etc.
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2.1- INTRODUÇÃO
O furo de sondagem mais profundo até hoje realizado (em Kola, Rússia) atingiu
apenas 12 km, dimensão insignificante diante do raio da Terra de 6 370 km. Não é
possível, portanto, ter acesso às partes mais profundas da Terra devido as limitações
tecnológicas para enfrentar as altas temperaturas e pressões do interior terrestre. Desse
modo, a estrutura interna do nosso planeta só pode ser estudada de maneira indireta,
com base principalmente em dois tipos de fontes indiretas de informações: os meteoritos
e os terremotos. Os meteoritos são fragmentos do interior de corpos espaciais da parte
interna do sistema solar que podem fornecem informações importantes sobre o interior
da Terra, considerando que se os corpos do sistema solar tiveram uma origem comum,
não deve haver diferenças significativas entre os corpos de tamanhos equivalentes da
parte interna desse sistema, onde fica o planeta Terra. Por outro lado, os terremotos são
abalos sísmicos, estudados pelo ramo da geofísica denominado sismologia, que embora
causem catástrofes em diversas regiões do planeta, fornecem informações sobre o
comportamento das rochas do interior terrestre submetidas a esforços mecânicos, como
o estado físico e a composição das rochas. A associação das informações provenientes
dos terremotos e meteoritos, juntamente com os dados do campo gravitacional e campo
magnético do nosso planeta, permitiram definir um modelo consistente da estrutura
interna da Terra que é o tema central desta unidade.
2.2- METEORITOS
Meteoritos são pequenos fragmentos ( 10 m) de matéria sólida provenientes do
espaço que penetram a atmosfera terrestre e atingem a superfície da Terra. Se o
fragmento for menor que 10 m, normalmente ele é destruído e volatilizado pelo atrito com
a atmosfera antes de atingir a superfície, sendo denominado nesta condição, de meteoro.
As estrelas cadentes que, em noites de bom tempo, podem ser vistas como estrias
luminosas que riscam o céu, são meteoros penetrando na atmosfera terrestre. Asteroides
são pequenos corpos planetários, com dezenas a centenas de Km de diâmetro, cuja
maioria está orbitando no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, e que podem ser
formados por fragmentação de corpos maiores (planetas ou satélites). Todos os corpos
do Sistema Solar (planetas, satélites, inclusive os asteroides) vêm sofrendo impactos de
meteoritos e asteroides que correspondem ao processo de acresção planetária que
ainda continua acontecendo atualmente, embora com menor intensidade que no
passado. Os impactos de corpos maiores, como os asteroides, deixam vestígios na
forma de crateras que ocorrem praticamente em todos os corpos do Sistema Solar.
O estudo de milhares de amostras de meteoritos permitiu elaborar uma
classificação destes corpos, de acordo com suas estruturas internas e suas composições
químicas e mineralógicas, em três classes seguintes (Tabela 2.1):
1) Meteoritos rochosos: classe francamente dominante, com 95 % das amostras
estudadas, que se subdivide em condritos (86 %) e acondritos (9 %).
2) Meteoritos ferro-pétreos ou siderólitos: classe menos frequente, com apenas 1 %
das amostras estudadas;
3) Meteoritos metálicos ou sideritos, com 4 % das amostras estudadas.
Os meteoritos condríticos (Fig. 2.1 a) são constituídos por pequenos glóbulos
(côndrulos) milimétricos de minerais silicáticos (principalmente olivina, piroxênio e
plagioclásio), além de minerais metálicos intersticiais (sulfetos ou ligas de Fe e Ni) e,
mais raramente, compostos orgânicos (condritos carbonáceos). Os condritos são
interpretados como fragmentos de corpos primitivos menores da parte interna do sistema
solar que não chegaram a sofrer diferenciação química, preservando, portanto, suas
estruturas internas (côndrulos) e também sua composição originais (silicatos + minerais
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metálicos), com exceção dos elementos mais voláteis (H e He) que escaparam no
estágio precoce do sistema, ainda muito quente (1700 a 2000ºC). A estrutura condrítica
é a melhor evidência do processo de acresção gravitacional de partículas que teria
gerado os planatésimos e protoplanetas, precursores dos atuais planetas rochosos do
sistema solar.
Características: Primitivos não
Ordinários diferenciados. Idade entre 4,5 e 4,6 Ga.
(81 %) Possuem côndrulos, à exceção de
alguns condritos carbonáceos.
Condritos Composição: Minerais silicáticos
(86 %) (olivina, piroxênio, plagioclásio) e fases
Carbonáceos refratárias metálicas intersticiais (Fe-Ni)
Meteoritos (5 %) + matéria orgânica (carbonáceos).
Rochosos Proveniência: Corpos não
(95 %) diferenciados do cinturão de asteroides.
Características: Diferenciados. Idade: 4,4 a 4,6 Ga
Composição: Heterogênea, em muitos casos similar à
Acondritos dos basaltos terrestres. Minerais principais: Olivina,
(9 %) piroxênios e plagioclásio.
Proveniência: Corpos diferenciados (manto silicático)
do cinturão de asteroides, muitos da superfície da lua e
alguns da superfície de Marte.
Meteoritos
Ferro- Composição: Mistura de minerais silicáticos e metálicos (Fe-Ni).
pétreos Proveniência: Interior de corpos diferenciados do cinturão de
(Siderólitos) asteroides.
(1 %)
Meteoritos Composição: Minerais metálicos (Fe-Ni).
Metálicos
(Sideritos) Proveniência: Núcleo de corpos diferenciados do cinturão de
(4 %) asteroides.
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gravitacional da Terra. Os meteoritos siderólitos correspondem a situações mais raras
nas quais os fragmentos de corpos diferenciados conteriam porções tanto do núcleo
metálico como do manto silicático.
a
b
Figura 2.1- Amostras de meteorito condrítico, Museu de história Natural, Nova York, EUA (a) e
de meteorito siderito de Coopertown, EUA (b).
2.3- TERREMOTOS
O calor interno da Terra provoca fusão de porções rochosas do interior terrestre
gerando magma que adquire mobilidade, podendo extravasar na superfície através dos
vulcões. Essa mobilidade magmática gera movimentos tectônicos que afetam não só os
continentes, mas toda a litosfera terrestre, gerando tensões que se acumulam em vários
pontos, principalmente ao longo das bordas das placas tectônicas. Quando essas
tensões atingem o limite de resistência das rochas ocorre uma ruptura repentina,
denominada falha geológica, gerando vibrações que se propagam em todas as direções,
fazendo a terra tremer Os terremotos ocorrem mais frequentemente no limite entre as
placas litosféricas (Fig. 2.2), mas podem ocorrer também no interior das placas, sem que
a falha atinja a superfície. O ponto onde se inicia a ruptura é denominado de hipocentro
ou foco, e sua projeção na superfície é o epicentro, sendo a profundidade focal a
distância hipocentro-epicentro (Fig. 2.3). O tamanho da área de ruptura é proporcional à
intensidade das vibrações e à magnitude dos terremotos que pode variar desde
pequenos abalos ou tremores de terra até os grandes eventos sísmicos destrutivos.
Quando ocorre uma ruptura na crosta terrestre, as vibrações sísmicas geradas se
propagam em todas as direções na forma de ondas. São essas ondas sísmicas que
causam danos nas proximidades do epicentro e que podem ser registradas por
sismógrafos em todo o mundo (Fig. 2.4).
As vibrações são causadas por dois tipos principais de ondas sísmicas seguintes:
Ondas longitudinais ou primárias (ondas P) que vibram na mesma direção de
propagação das ondas, tal como as ondas sonoras;
Ondas transversais ou secundárias (ondas S) que vibram perpendicularmente à
direção de propagação das ondas, tal como as ondas luminosas (Fig. 2.5).
As velocidades das ondas P e S dependem essencialmente do meio por onde elas
passam. Normalmente quanto maior a densidade de uma rocha maior será a velocidade
de propagação das ondas sísmicas (Fig. 2.6), sendo que as ondas P são mais rápidas
que as ondas S, razão pela qual são as primeiras (primárias) e as ondas S são as
segundas (secundárias) a chegar (P de primária e S de secundária). Além disso, as
ondas S só se propagam em meio líquido, enquanto que as ondas P se propagam tanto
em meio líquido quanto sólido.
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Figura 2.2- Sismicidade mundial mostrada em mapa de epicentros de sismos com magnitude
5,0 no período 1964 a 1995. Fonte: Serviço Geológico americano.
Figura 2.3- Geração de um sismo por Figura 2.4- Registro na estação sismológica
acúmulo e liberação de esforços em uma de Valinhos-SP de um sismo ocorrido em
ruptura. As tensões compressivas (a) 23/11/97 na fronteira entre Argentina e
deformam as rochas (b), causando ruptura Bolívia, com magnitude 6,4 (a), mostrando o
nas mesmas que geram vibrações que se movimento do chão nas três dimensões
propagam em todas as direções (c) espaciais (b).
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Figura 2.5- Propagação das ondas
sísmicas: Onda longitudinal (P) com
vibração paralela à direção de propagação Figura 2.6- Velocidade de propagação das
(a). Onda transversal (S) com vibração ondas P para alguns materiais e rochas mais
perpendicular à direção de propagação (b). comuns.
b c
a
Figura 2.7- Lei de Snell: quando um raio passa por uma interface entre dois meios de
densidades diferentes, as razões dos senos dos ângulos que os raios (refletido e refratado)
fazem com a normal à interface e as velocidades dos raios, se mantém constante (a). Raio
sísmico refratado passando para um meio de maior densidade, afastando-se da normal à
interface (b), e passando para um meio de menor densidade, aproximando-se da normal (c).
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meio inferior apresente menor velocidade das ondas sísmicas, o ângulo ( ) com a vertical
diminuirá e os raios sísmicos se aproximarão da normal à interface. Se apenas o raio
sísmico que mais se aprofundar atingir esta descontinuidade, ele se afastará muito em
relação aos outros raios, provocando uma interrupção na curva tempo-distância, por
causa do seu atraso, denominada “zona de sombra” na superfície (Fig. 2.8 c).
b c
Figura 2.8- Lei de Snell em uma sucessão de camadas, com aumento progressivo da densidade
com a profundidade, implicando em aumento progressivo da velocidade e do ângulo (com a
normal à interface (a). curva tempo-distância com a volta dos raios à superfície (b).
Descontinuidade litológica produzindo uma interrupção na curva tempo-distância denominada
“zona de sombra” entre os raios B e C (c).
b
c
Figura 2.9- Modelo da estrutura interna da Terra, mostrando em (a) o raio da Terra e as
dimensões do manto e núcleo. Em (b), as três camadas do interior terrestre (crosta, manto e
núcleo) à esquerda e as três descontinuidades sísmicas (Moho, Gutenberg e Lehmann), os seus
descobridores e o ano da descoberta, à direita. Em (c), detalhe da porção mais superficial,
mostrando as relações entre crosta, litosfera e astenosfera.
a
b
Figura 2.10- Variação da velocidade das ondas P na crosta e no manto superior, mostrando a
descontinuidade de Moho, a litosfera e a astenosfera (a). Litosfera (crosta + manto litosférico)
flutuando na astenosfera pouco rígida (b).
15
a b
Figura 2.11- Variações das velocidades das ondas P (V P) e S (VS) e densidade (ρ) no interior
da Terra, mostrando as descontinuidades entre manto superior e inferior, núcleo externo e
interno (a). Zona de sombra entre 103 e 142 de latitude, definida pela refração das ondas P
ao passar pela descontinuidade de Gutenberg, entre o manto e o núcleo externo (b).
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Tanto a direção como a intensidade de (g) variam conforme a posição sobre a
superfície terrestre. Como a intensidade da aceleração gravitacional (ag) é maior que da
aceleração centrífuga (ac) e os dois vetores componentes possuem sentidos opostos, a
somatória deles será igual à diferença entre os módulos de (a g) e (ac), cuja resultante (g)
é normalmente menor que (ag). Os polos geográficos são os únicos pontos da superfície
terrestre onde g = ag , já que nestes pontos a componente centrífuga é nula (a c = 0) e a
gravidade (g) possui valor máximo. A intensidade de (g) diminui dos polos em direção ao
Equador, onde atinge o valor mínimo, acompanhando o aumento gradual da intensidade
de ac em direção ao Equador. Se a velocidade de rotação da Terra fosse aumentada a
ponto de ac ficar maior que ag (g negativa), poderíamos ser atirados para fora da Terra.
a b
Anomalia negativa
de gravidade
Figura 2.13- Anomalias gravimétricas: negativa, causada pelo granito Tourão, no Rio Grande
do Norte (a) e positiva, causada pelas rochas basálticas da bacia do Paraná (b).
19
aproximadamente a 78 N 104 W (polo norte) e
65 S 139 E (polo sul) e, portanto, não são
diametralmente simétricos. Por esta razão o eixo do
dipolo magnético terrestre está deslocado 490 km
do centro da Terra e faz um ângulo de 11,5 com o
eixo de rotação da Terra, sendo denominado de
dipolo excêntrico.
Positiva
Negativa
Figura 2.15- Posição do polo norte geográfico e do polo norte magnético, mostrando duas
situações de declinação positiva (direção do norte magnético a leste do norte geográfico), duas
situações de declinação negativa (direção do norte magnético a oeste do norte geográfico) e
uma situação sem declinação magnética (D = 0).
20
Figura 2.16- Representação vetorial do campo
geomagnético (vetor F), mostrando as componentes
horizontal (FH) e vertical (FV), a declinação (D) e
inclinação (I) magnéticas.
F = FH + FV
2 2
F = (FH + FV )½ FH = (x 2 + y 2)½
2
F = (x 2 + y 2 + FV )½
tgD = y/x D = arctg(y/x)
tgI = FV /FH I = arctg(FV /FH)
O campo magnético terrestre pode ser representado como um vetor, cuja direção
e intensidade variam no espaço e no tempo (Fig. 2.16). A direção do campo magnético
é definida pela declinação (D) e inclinação (I) magnéticas e a intensidade corresponde
ao módulo do vetor F, cujas componentes horizontal e vertical são respectivamente F H
e FV. No equador magnético, onde I = 0, a componente vertical do campo magnético é
zero (FV = 0) e, portanto, F = FH, ao passo que nos polos magnéticos, onde I = 90 , a
componente horizontal é zero (F H = 0) e, portanto, F = FV.
A intensidade do campo geomagnético é baixa e varia com a localização
geográfica, sendo mínima próxima do equador magnético e aumenta em direção aos
polos magnéticos, atingindo 60.000 nT no polo magnético norte e 70.000 nT no polo
magnético sul, sendo Tesla (T) uma unidade de campo magnético e 1 nano Tesla
(nT) = 10 9 T. Além disso, a intensidade do campo magnético também varia lentamente
com o tempo (variações seculares), cuja origem está relacionada aos processos
geradores do campo geomagnético no núcleo da Terra. Os polos magnéticos se
deslocam a uma velocidade média de 0,2 por ano ao redor dos polos geográficos,
percorrendo uma trajetória irregular, porém normalmente sem se afastar mais do que 30
do polo geográfico e levam milhares de anos para dar uma volta completa de 360 ao
redor dos polos geográficos. Desse modo, tanto a declinação como a inclinação
magnética de um local varia continuamente com o tempo, aumentando ou diminuindo.
Como a declinação define a direção do campo magnético na superfície terrestre há
necessidade de correção deste valor a cada 5 anos aproximadamente.
Apesar de fraco, o campo geomagnético, denominado magnetosfera, ocupa um
volume muito grande, com suas linhas de força estendendo-se a distâncias 10 a 13 vezes
o raio da Terra. A magnetosfera exibe uma forma assimétrica em relação à Terra,
assemelhando-se a uma gota com cauda comprida (Fig. 2.17), como consequência
principalmente do movimento de partículas emitidas pelo Sol (núcleo de átomos
sobretudo H e elétrons), denominado vento solar que flui a uma velocidade de 300 a
500 km/s. Próximo à Terra, o vento solar comprime o campo geomagnético no lado
iluminado pelo Sol, de tal modo que no lado não iluminado (noite) as linhas de força não
sofrem pressão do vento solar e estendem-se a distâncias maiores que 2.000 vezes o
raio da Terra, alcançando a lua.
O campo geomagnético exerce um papel importante de blindagem ao vento e
erupções solares, impedindo que as partículas mais energéticas atinjam a superfície
terrestre, causando danos à biosfera. Entretanto, nas regiões polares as partículas e
radiações solares penetram facilmente até a atmosfera superior (ionosfera inferior),
conduzidas pelas próprias linhas de força posicionadas verticalmente à superfície da
21
Terra. A ionosfera, por ser eletricamente condutora, é utilizada na radiocomunicação.
Quando esta parte da atmosfera é invadida por um fluxo de radiação solar mais intenso
(tempestades magnéticas) pode provocar interrupções ou interferências na comunicação
de rádio. Uma tempestade magnética ocorre em geral um dia após o aparecimento das
chamas solares (grandes emissões luminosas na região mais externa do Sol). Um dos
fenômenos luminosos mais intensos e fascinantes no céu, denominado de aurora boreal
e austral, observado nas regiões polares norte e sul respectivamente, pode ocorrer
durante uma tempestade magnética. A aurora aparece como uma cortina luminosa de
cor esverdeada ou rósea, com a borda inferior a cerca de 100 km de altura e a superior
em torno de 1.000 km (Fig. 2.18).
22
raio de 1.220 km, e um núcleo externo fluido. Embora não haja divergência quanto ao
estado dinâmico do núcleo externo e que esse movimento gera corrente elétrica que, por
sua vez, induz um campo magnético, sua fonte de energia e como esse movimento pode
gerar um campo magnético, estão ainda em discussão. Entretanto, a maioria dos autores
converge para uma hipótese pela qual o núcleo atua como uma espécie de dínamo
autossustentável, capaz de converter energia mecânica em energia elétrica, sustentada
pela combinação de dados teóricos e experimentais e sugerida inicialmente por Bullard
e Elsasser no início da década de 1950 do século passado. O dínamo magnético da
Terra pode ter sido induzido por um campo magnético externo, como o próprio campo
do sistema solar, após o que continuou produzindo o seu próprio campo magnético sem
suprimento de energia externa.
23
núcleo, em direção a sua periferia (Fig. 2.21), que gera um campo magnético dipolar cujo
eixo é aproximadamente paralelo ao eixo de rotação da Terra.
24
As pesquisas paleomagnéticas indicam que a Terra tem mantido um campo
magnético significativo há pelos menos 2,7 bilhões de anos. Entretanto, os dados
paleomagnéticos associados com datações radiométricas das rochas indicam
claramente que houve no passado vários períodos com polaridade magnética inversa à
do campo geomagnético atual, ou seja, com linhas de força que emergem do polo norte
e convergem para o polo sul. Para se interpretar que as inversões da polaridade
magnética em algumas rochas estejam refletindo a inversão da polaridade geomagnética
do planeta e não alguma especificidade daquelas rochas, as inversões teriam que ser
confirmadas nas rochas de todos os continentes. Dados paleomagnéticos sistemáticos
de várias regiões da Terra, obtidos na década de 1960, permitiram elaborar uma escala
com os dados normais e inversos destas regiões, confirmando as inversões de
polaridade geomagnética do planeta (Fig. 2.23). Estes dados mostram que o campo
geomagnético permanece com uma determinada polaridade durante intervalos variáveis,
em torno de 100 mil a 10 milhões de anos, e para completar uma transição de polaridade
são necessários 1.000 a 10.000 anos.
a b
25
3.1- INTRODUÇÃO: A teoria da deriva continental
Apesar da aparente quietude que normalmente sentimos, a Terra é um planeta
dinâmico. Se fosse fotografada do espaço a cada século, desde a sua formação, para
formar um filme, o que veríamos seria um planeta azul com seus continentes se
movimentando, ora colidindo, ora se afastando entre si, em uma espécie de dança dos
continentes. As ideias de que os continentes nem sempre estiveram onde estão
nasceram quando surgiram os primeiros mapas das linhas das costas atlânticas da
América do Sul e África. Em 1.620, o filósofo inglês Francis Bacon foi o pioneiro em
considerar a hipótese de que a América do Sul e África estiveram unidas no passado,
com base no quase perfeito encaixe entre suas linhas de costa.
Mas foi somente no início do século 20 que o geógrafo
e meteorologista alemão Alfred Wegner (1890-1930, Fig. 3.1)
estabeleceu, com bases mais científicas, a teoria da deriva
continental, segundo a qual todos os continentes estiveram
unidos no passado, formando um único supercontinente,
denominado de Pangeia (Pan significa todo e Geia Terra, em
grego). Poucas ideias no meio científico foram tão fantásticas
e impactantes como essa. De acordo com essa teoria,
apresentada em 1912 por Wegner, a fragmentação da Pangeia
começou por volta de 220 milhões de anos (Ma) atrás, no
período Triássico, quando a Terra era habitada por
A fred Wegner dinossauros, e teria prosseguido até o presente tempo. A
Pangeia teria iniciado sua fragmentação dividindo-se em dois
continentes, a Laurásia, no hemisfério norte, e a Gondwana, no hemisfério sul, que
ficaram separados pelo mar de Tethys (Fig. 3.2).
a b
Figura 3.4- Distribuição atual das evidências geológicas de existência de geleiras há 300 Ma,
mostrando a direção de movimento das geleiras (setas), com base nas estrias (a). Ensaio de
como seria a distribuição das geleiras se os continentes estivessem unidos, mostrando que elas
estariam reunidas em uma calota polar no hemisfério sul (b).
Em 1915, Wegner reuniu todas as evidências que encontrou para justificar a teoria
da deriva continental em um livro denominado “A origem dos continentes e oceanos”.
Wegner influenciou muitos cientistas com a sua teoria, mas não conseguiu responder
questões fundamentais formuladas principalmente pelos geofísicos, como, por exemplo:
Que forças seriam capazes de mover os imensos blocos continentais? Como uma crosta
continental rígida deslizaria sobre outra crosta rígida, como a oceânica, sem que fossem
fragmentadas pelo atrito? Naquela época a astenosfera plástica, sob a crosta
continental, ainda não era conhecida, o que impediu Wegner de explicar e justificar
fisicamente sua teoria que não obteve respaldo de grande parte do meio científico. Após
a morte de Wegner, em 1930, a teoria da deriva continental caiu no esquecimento, só
sendo retomada na década de 1950, com novos dados sobre o fundo dos oceanos.
27
3.2- TEORIA DA TECTÔNICA DE PLACAS
Ao contrário do que muitos cientistas imaginavam, a chave para explicar a
dinâmica da Terra não se encontrava nas rochas continentais, mas sim no fundo dos
oceanos. Na década de 1940, devido as necessidades militares de localizar submarinos
durante a segunda guerra mundial, foram desenvolvidos equipamentos, como os
sonares, para mapear detalhadamente o relevo do fundo oceânico. Os mapas revelaram
um relevo muito acidentado, com cadeias de montanhas, fossas e fendas muito
profundas, bem diferente da planície monótona com alguns picos e planaltos isolados
que se imaginava para o fundo dos mares.
No final da década de 1940, pesquisadores das universidades de Columbia e
Princeton (EUA) iniciaram o trabalho de mapeamento do fundo do oceano Atlântico com
sonares mais sofisticados e coletas de amostras. A conclusão do trabalho, já na década
de 1950, revelou uma enorme cadeia de montanha submarina, denominada dorsal ou
cadeia meso-oceânica, que estende-se continuamente, ao longo da parte central do
oceano Atlântico, por 84.000Km, com largura média de 1.000Km (Fig. 3.5). Foi
constatado que a cadeia meso-oceânica é uma zona de forte atividade sísmica e
vulcânica, com fluxo térmico mais elevado que nas rochas adjacentes da crosta
oceânica. No eixo central desta cadeia de montanha foram identificados vales, com 1 a
3Km de profundidade, associados a sistemas de riftes, indicando um regime de forças
distensivas. A dorsal meso-oceânica divide a crosta submarina em duas partes (à leste
e à oeste da dorsal), praticamente acompanhando a direção das linhas de costas da
América (à oeste) e da África e Europa (à leste). Desse modo, o eixo central da dorsal
meso-oceânica poderia representar a ruptura ou a cicatriz produzida durante a
separação dos continentes (Fig. 3.5).
28
O advento dos métodos geocronológicos de datação absoluta, no final da década
de 1950, mostrou que, novamente, ao contrário do se imaginava, a crosta oceânica não
era constituída pelas rochas mais antigas do planeta, mas, ao contrário, é formada por
rochas muito jovens (até 200 Ma). A distribuição das idades revelou um padrão no qual
faixas de rochas de mesma idade situam-se simetricamente nos dois lados da dorsal
meso-oceânica, com as idades mais jovens mais próximas à dorsal (Fig. 3.6).
Figura 3.6- Distribuição das idades geocronológicas das rochas do fundo do oceano Atlântico
norte, mostrando as idades mais jovens próximas à dorsal meso-oceânica (linha vermelha).
29
a
b
Figura 3.7- Curvas de deriva polar para a América do Sul e África (a). Justaposição das duas
curvas indicando a divergência entre elas a partir de 200 milhões de anos atrás (b).
a
b
Astenosfera
Figura 3.9- Correntes de convecção, de acordo com o modelo de Hess (1963), que atuam sob
as dorsais meso-oceânicas.
O modelo de Hess, portanto, oferecia uma explicação física aceitável tanto para a
expansão do assoalho oceânico como para a deriva continental. Nesse processo, os
continentes viajariam como passageiros, como parte de uma placa litosférica, como se
estivesse sendo levado por uma esteira rolante (a astenosfera). A geração contínua de
crosta oceânica deveria implicar na existência de outros locais onde deveria haver
consumo e destruição de crosta oceânica, caso contrário a Terra se expandiria
continuamente, o que sabemos não ser possível. Esses locais onde ocorre destruição
de crosta oceânica são denominados de zonas de subducção. Nessas zonas, a crosta
oceânica mais antiga mergulha de volta para o interior da Terra, por ser mais densa, até
atingir condições de temperatura e pressão suficientes para sofrer fusão e ser
incorporada novamente ao manto superior.
Os mecanismos de expansão do assoalho oceânico e da deriva continental fazem
parte do mesmo processo, cuja fundamentação passou a denominar-se teoria da
tectônica global ou tectônica de placas, pois o que se movimenta nesse mecanismo
são placas litosféricas ou tectônicas que são fragmentos ou pedaços da litosfera que se
movem sobre a astenosfera. A espessura da litosfera é muito variada, sendo, porém,
mais espessa sob os continentes (litosfera continental), variando entre 130 e 150 Km (30
a 50 Km de crosta + 100 Km de manto). A espessura da litosfera oceânica varia de 50 a
100 Km, maior parte pertencente ao manto (apenas 5 a 7 Km de crosta). Entretanto, a
espessura da parte mantélica da litosfera oceânica diminui progressivamente em direção
à dorsal, até praticamente desaparecer sob o eixo da dorsal, onde a espessura da
litosfera iguala-se à da crosta oceânica. A litosfera é compartimentada, por falhas e
fraturas profundas, em 13 placas tectônicas maiores e mais algumas placas menores,
cuja distribuição geográfica é mostrada na figura 3.10.
O limite inferior da litosfera é marcado pela astenosfera, uma parte do manto
superior, com espessura em torno de 150Km, que é plástica ou pouco rígida, onde as
temperaturas alcançam valores próximos do ponto de fusão das rochas. O limite superior
da astenosfera (com a litosfera) situa-se em torno de 100Km de profundidade, mas seu
limite inferior não é bem definido, admitindo-se situar-se em torno de 250Km, podendo
chegar até 350Km de profundidade. O estado plástico da astenosfera permite que a
litosfera mais rígida deslize sobre ela, tornando possível o deslocamento lateral das
placas tectônicas e a deriva continental. As placas tectônicas são principalmente de dois
tipos: oceânica, como a placa de Naska, e as placas constituídas por crosta continental
e oceânica, como as placas Sul-Americana, Africana e Norte Americana. A placa Pacífica
31
é quase totalmente oceânica, mas inclui uma pequena parte da Califórnia, onde fica a
cidade de Los Angeles (Fig. 3.10 e 3.11).
Figura 3.10- Distribuição geográfica das principais placas tectônicas da Terra. Os números
representam as velocidades de movimento entre as placas em cm/ano e as setas as direções
dos movimentos.
Os limites das placas tectônicas podem ser de três tipos, correspondendo a três
regimes tectônicos seguintes:
1) : caracterizados pelas dorsais meso-oceânicas, onde
predominam esforços distensivos que provocam afastamento entre as placas
tectônicas com limites divergentes e formação de nova crosta oceânica, como as
dorsais do Atlântico, Sudoeste Indiano e do Pacífico Leste (Fig. 3.10).
32
2) : onde predominam esforços compressivos que provocam a
colisão entre as placas convergentes, com a mais densa mergulhando sob a outra,
gerando uma zona de intenso magmatismo, denominada zona de subducção, com
fusão parcial da crosta subductada que passa a ser consumida. Por exemplo, as
zonas de subducção das placas Nazca sob a Sul-Americana e das placas Pacífica
sob a Norte-Americana, na costa oeste da América do Sul e do Norte (Fig. 3.10).
3) : onde as placas tectônicas se movimentam
lateralmente, uma em reação à outra, ao longo de falhas denominadas
transformantes, sem destruição ou geração de crosta. Por exemplo, a falha Santo
André na costa SW dos EUA, onda a placa Pacífica se desloca para norte em relação
à placa Norte-Americana (Fig. 3.10).
São nesses limites de placas onde se concentram as atividades geológicas mais
intensas do planeta, como terremotos, magmatismo e orogênese. Processos
magmáticos também ocorrem no interior das placas, mas em menor intensidade e
natureza diferente.
Existe considerável consenso no meio científico de que o motor que move as
placas tectônicas são as correntes de convecção da astenosfera, onde as temperaturas
estão próximas do ponto de fusão das rochas. Mas como essas correntes começam o
movimento? Elas têm força suficiente para movimentar placas litosféricas gigantescas?
Essas são questões mais complexas para responder. Entretanto, imagina-se que as
dorsais meso-oceânicas estão sobre anomalias térmicas da astenosfera, onde as rochas
atingem seus pontos de fusão, gerando magma que, por ser menos denso, ascende até
a superfície, enquanto o material mais afastado e mais frio (mais denso) tende a descer
para ocupar o lugar do magma que subiu, iniciando as correntes de convecção proposta
por Hess. Desse modo, as forças tectônicas que movimentam as placas litosféricas e
provocam a expansão do assoalho oceânico teriam sua origem nas correntes de
convecção da astenosfera. A litosfera e a astenosfera estão intrinsicamente ligadas, ou
seja, quando a astenosfera se move a litosfera também se move.
As correntes de convecção teriam força suficiente para movimentar as placas
tectônicas? A maioria dos cientistas acredita que as correntes de convecção são apenas
um dos mecanismos (a força motriz) que, em conjunto com outros, movimentam as
placas. As placas oceânicas tornam-se mais frias e mais espessas a medida que se
afastam da dorsal meso-oceânica onde foram criadas, modelando os limites entre a
litosfera e astenosfera como superfícies inclinadas. Mesmo com uma baixa inclinação
dessa superfície, o próprio peso da placa tectônica mais espessa ajuda a movimentar a
placa que acaba inclinando-se abruptamente e mergulhando sob uma crosta continental
ou mesmo sob outra crosta oceânica menos densa, puxando o resto da placa que retorna
ao manto, nas zonas de subducção (Fig. 3.12).
a
b
Figura 3.12- Correntes de convecção na astenosfera (a). Criação de crosta oceânica na dorsal
meso-oceânica que torna-se mais espessa a medida que se afasta da dorsal até mergulhar
para o interior do manto, puxando o resto da placa tectônica (b).
33
Como o material da astenosfera é muito viscoso (10 18 vezes mais viscoso que a
água), o movimento é muito lento, 2 a 3 centímetros, em média, por ano, embora haja
diferenças consideráveis entre placas diferentes. Normalmente quanto maior a
porcentagem de crosta continental nas placas menor será suas velocidades. Por
exemplo, as placas Sul-Americana e Africana, com muita crosta continental, são mais
lentas que a placa Pacífica, quase que totalmente oceânica. Além disso, como as placas
não são planas e sim curvas (convexas), elas se movem sobre uma superfície esférica
em torno de um eixo de rotação e de um polo de expansão (interseção entre o eixo e a
superfície terrestre). Desse modo, para uma determinada velocidade angular da placa,
as velocidades de diferentes pontos sobre a placa aumentam à medida que se
distanciam do polo onde a velocidade é zero, pois o polo gira, mas não percorre nenhuma
distância (Fig. 3.13). Nem todas as placas necessariamente se movem em um
determinado tempo. A placa Africana parece estar estacionária atualmente por estar
delimitada quase inteiramente por limites divergentes de placas que se afastam a
velocidades similares.
34
a b
c d
Figura 3.14- Formação do arquipélago de ilhas vulcânicas do Havaí, por ação de um mesmo
hot spot, a partir de 5,6 Ma. A primeira ilha (mais antiga) se forma, com o hot spot fixo e a placa
em movimento (a). Depois de 2-3 Ma, a segunda ilha se forma em outro lugar (b), assim como
a terceira ilha, depois de mais 1 Ma (c). O mapa do arquipélago mostra o alinhamento das ilhas
e as idades, indicando o movimento da placa, da ilha mais jovem para a mais antiga.
35
a
Um dos melhores exemplos atuais de junção tríplice ocorre entre a Arábia Saudita
e o noroeste da África, onde o golfo de Aden e o mar Vermelho correspondem aos dois
riftes ativos e o rift do Leste Africano que se estende para o interior do continente africano
é o rift abortado (Fig. 3.18 a). A reconstituição da Pangeia antes de sua fragmentação
também mostra um grande sistema de junções tríplices entre América do Norte, África e
América do Sul, onde as bordas leste da América do Sul e oeste da África seriam os rifts
ativos que evoluíram para formar o oceano Atlântico, e o rio Niger e o rio Amazonas
seriam riftes abortados que se estendem para o interior dos continentes africano e sul-
americano respectivamente (Fig. 3.18 b).
36
a b
Figura 3.18- Junção tríplice
do golfo de Aden, mar
Vermelho e rift do Leste
Africano (a). Junção tríplice
entre América do Norte,
África e América do Sul no
início da fragmentação da
Pangeia (b).
Figura 3.19- Colisão entre duas placas oceânicas, mostrando a zona de subducção, com a
fossa, o arco de ilhas vulcânicas formadas pela fusão da placa oceânica subductada e a bacia
trás-arco (a). Zona de subducção, com a fossa, o arco de ilhas e a bacia trás-arco entre o arco
e o continente (b).
37
As ilhas japonesas são exemplos de um sistema de arco de ilhas em um regime
de subducção entre duas placas oceânicas, a placa Pacífica (subductada) e a placa
Eurasiática (Fig. 3.20 a). O conjunto de ilhas exibe forma arqueada, com a concavidade
voltada para a bacia trás-arco, situada entre o arco de ilhas e o continente. O mar do
Japão é a bacia trás-arco do sistema de arco de ilhas do Japão, (Fig. 3.20 b).
a b
Mar do
Japão
Figura 3.20- Arco de ilhas do Japão, formado pela subducção da placa Pacífica sob a placa
Eurasiana (a). Mapa das ilhas Japonesas em forma de arco e o mar do Japão (b).
Em uma colisão entre uma placa continental e outra oceânica ocorrerá a
subducção desta última sob a placa continental, pelo fato de a placa oceânica ser mais
densa que a continental (Fig. 3.21a, b). Este tipo de subducção produz intensa atividade
magmática, tanto vulcânica como plutônica, formando um arco magmático na borda do
continente, constituído por rochas vulcânicas andesíticas e dacíticas, além de rochas
plutônicas, principalmente de composição diorítica e granodiorítica. Esse processo de
subducção também provoca deformação e metamorfismo tanto nas rochas continentais
preexistentes como nas rochas do arco magmático. As feições fisiográficas mais
importantes geradas nesse processo são as grandes cordilheiras de montanhas
dobradas, como os Andes e as Montanhas Rochosas na costa ocidental da América do
Sul e América do Norte, respectivamente, formadas pelo espessamento crustal
provocado pelo magmatismo do arco magmático e pelo enrugamento da borda da placa
continental causado pela deformação (Fig. 3.21 b). Margens continentais nessas
condições, com arco magmático formado por uma subducção oceânica, são
denominadas .
Margem continental ativa Cordilheira dos Andes
a b
Figura 3.21- Colisão entre uma placa oceânica e outra continental, mostrando a subducção da
primeira e sua fusão para formar os arcos magmáticos na margem continental ativa (a). Arco
magmático e cordilheira dos Andes na margem continental oeste ativa da América do Sul,
formada pela subducção da placa Nazca sob a placa Sul-Americana (b).
38
se formam na placa continental, a primeira entre o arco e a fossa (na frente do arco),
enquanto que a segunda entre o arco e o continente (atrás do arco) e recebem
sedimentos provenientes da erosão das rochas magmáticas do próprio arco adjacente a
elas. As bacias pós-arco se formam em consequência do choque entre as duas placas
litosféricas que produz um soerguimento na borda da placa continental, formando uma
bacia entre esta elevação e o arco magmático (Fig. 3.22). Por outro lado, as bacias trás-
arco nem sempre ocorrem e se formam por ação de esforços distensivos que podem
ocorrer durante a subducção e que provocam adelgaçamento da crosta continental atrás
do arco. Esses esforços distensivos normalmente ocorrem em placas oceânicas mais
antigas e mais espessas que mergulham com grande ângulo de subducção por causa
de sua maior densidade. Se o ângulo de subducção for maior que 45 , a zona de
subducção migrará para frente e a placa continental que contém o arco sofrerá distensão,
gerando a bacia trás-arco. As bacias trás-arco são preenchidas por sedimentos marinhos
típicos de mar raso, podendo ocorrer vulcanismo basáltico associado aos movimentos
distensivos (como se fosse uma pequena cadeia meso-oceânica).
As fossas ou trincheiras normalmente contêm sedimentos marinhos e sedimentos
provenientes da extremidade da placa continental (Fig. 3.22). Parte dos sedimentos é
levada para baixo pela placa oceânica que mergulha na zona de subducção e outra parte
mais expressiva dos sedimentos é deformada pelos esforços compressivos que ocorrem
nas margens convergentes. Essa mistura caótica de sedimentos deformados denomina-
se mélange (palavra francesa que significa mistura). As mélanges são rochas
sedimentares metamorfisadas em condições de alta pressão e baixa temperatura (já que
são próximas à superfície) que tipicamente resultam na formação dos xistos azuis, cuja
cor azulada deve-se a um anfibólio alcalino denominado glaucofana, um mineral da
classe dos silicatos.
Astenosfera
Astenosfera
Figura 3.22- Principais feições geológicas de uma colisão entre uma crosta oceânica e outra
continental, mostrando a fossa, prisma de acresção, arco magmático, bacia ante-arco (ou pós-
arco) e bacia retro-arco (ou trás-arco), situados na placa continental.
c
Figura 3.23- Processo de obducção de litosfera
oceânica sobre o arco magmático (a). Ofiolito
com pilow lavas (lavas almofadadas), cortado por
dique, do complexo de Troodos, Chipre (b).
Fragmentos da crosta oceânica adicionada ao
prisma de acresção (c).
Em uma colisão entre duas placas continentais, com margens continentais ativas,
uma das duas (normalmente a menos densa) cavalga sobre a outra em subducção,
provocando um espessamento crustal e enrugamento da placa cavalgante, formando
uma cordilheira de montanha. O melhor exemplo desse tipo de colisão é a colisão das
placas Indiana (subductada) e Eurasiana que cavalgou sobre a Indiana, formando a
cordilheira do Himalaia (a mais alta do mundo) e o planalto do Tibete (Fig. 3.24). Essa
colisão iniciou-se há 70 Ma atrás e continua até hoje.
Figura 3.24- Colisão entre a placa indiana (subductada) e a placa Eurasiana que cavalgou sobre
a indiana, formando a cordilheira do Himalaia e o planalto do Tibete.
40
Uma placa continental de margem passiva Os dois continentes colidem ao longo de um
converge para outra de margem ativa. a b complexo sistema de falhas de empurrão.
co nti nental
m
va l
a
Margem
co arge
Pa n ent
Ativa
M
ssi
n ti
Figura 3.25- Convergência de duas margens continentais opostas, uma ativa com subducção
oceano-continente, e outra passiva (a), que colidem no estágio final, com subducção da crosta
continental passiva e formação de uma cadeia de montanha na crosta continental ativa (b).
Figura 3.26- Vista para o norte da falha transformante de Santo André na planície de Carrizo,
na Califórnia central, com movimento para norte da placa Pacífica, à esquerda, em relação à
placa Norte-Americana, à direita. Notar o deslocamento dos canais dos riachos.
41
Cada placa litosférica é limitada por uma combinação de limites convergentes,
divergentes e transformantes. Por exemplo, a placa Nazca, no oceano Pacífico, tem três
lados com regimes divergentes e dorsais meso-oceânicas deslocadas por falhas
transformantes, e um limite convergente com a zona de subducção Peru-Chile (Fig.
3.27). A placa Norte-Americana é limitada à leste pela dorsal meso-atlântica (zona de
divergência), à oeste pela falha de Santo André e outros limites transformantes e, à
noroeste, por zonas de subducção (limites convergentes) e limites transformantes que
se estendem desde o estado de Oregon (EUA) até a cadeia dos Aleutas (Fig. 3.27).
Figura 3.27- Mosaico atual das placas litosféricas relacionadas com o continente americano,
mostrando os tipos de limites em cada placa: convergente (azul), divergente (vermelho) e
transformante (amarelo). As setas mostram as direções de movimento das placas e os números
as velocidades relativas em mm/ano.
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indeterminada como, por exemplo, a do atual oceano Atlântico, limitado por duas
margens continentais passivas. Em seguida, os movimentos se invertem, iniciando uma
convergência com subducção de crosta oceânica em uma ou ambas as margens
continentais, que passam a ser ativas, até a colisão das duas margens continentais, com
fechamento total ou parcial do oceano por meio de um processo orogenético com
subducção do continente com margem passiva e geração de uma cadeia de montanha,
formando um supercontinente. Os registros geológicos existentes indicam que o ciclo de
Wilson ocorreu várias vezes na história geológica da Terra, com uma movimentação
contínua dos continentes em diversas direções, ora se aglutinando ora se fragmentando,
como se fosse uma verdadeira dança dos continentes.
Figura 3.28- Ciclo de Wilson: Inicia com o rifteamento de um continente . A medida que os
esforços distensivos progridem e o oceano se abre, as margens passivas resfriam-se com
acumulação de sedimentos . Inversão dos esforços e início de uma convergência, tornando
uma das margens continentais (ou ambas) ativas com subducção e arco magmático .
Acreção de sedimentos da placa subductada ao continente e fim da expansão da crosta
oceânica . Colisão continental, com subducção do continente com margem passiva, orogenia
e formação de cadeia de montanha que espessa a crosta, formando um novo supercontinente
. Erosão do novo continente, adelgaçando e enfraquecendo a crosta continental que pode
ser rompida novamente, começando um novo ciclo .
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Os dados geológicos disponíveis, sobretudo geocronológicos, paleomagnéticos e
geotectônicos, indicam que a fragmentação da Pangeia, há 200 milhões de anos atrás,
um processo da grande importância na história geológica de nosso planeta, corresponde
apenas a fragmentação do último supercontinente importante que se formou na Terra e
que resultou na configuração atual dos continentes. Antes da Pangeia, as massas
continentais formavam blocos de dimensões e formatos diferentes dos atuais. Os
primeiros blocos continentais formaram-se em torno de 3,96 bilhões de anos (Ga) atrás
e foram crescendo, por meio de orogêneses, com formação de nova crosta continental,
até as dimensões atuais. Há 550 milhões de anos, cerca de 95% das áreas continentais
atuais já estavam formadas.
Há 2,0 Ga (Paleoproterozoico), as massas continentais estavam reunidas em três
microcontinentes, Ártica, Antártica e Ur, com partes do que seria a futura América do Sul
fazendo parte da Antártica. Entre 2,0 e 1,3 Ga, estes três microcontinentes se
fragmentaram, por meio de rifteamento, com os fragmentos colidindo entre si para gerar
blocos continentais maiores. Entre 1,3 e 1,1 Ga atrás (Mesoproterozoico), os principais
blocos continentais se juntaram para formar o primeiro supercontinente, denominado
Rodínia, envolvido pelo oceano Miróvia, palavras de origem russa que significam,
respectivamente, mãe-pátria e paz (Fig. 3.29 a). A América do Sul fazia parte dos blocos
Amazônia, Rio da Prata e São Francisco do supercontinente Rodínia. A partir de 750 Ma
atrás, o continente Rodínia começou a se fragmentar (Fig. 3.29 b), formando a
Gondwana (que inclui a América do Sul e África) e outros três continentes menores,
Laurêntia, Báltica e Sibéria, em torno de 458 Ma, no Ordoviciano Médio (Fig. 3.29 c). A
partir de 390 Ma (Devoniano Inferior), começa um processo de aglutinação das massas
continentais (Fig. 3.29 d) que se completa com a formação do supercontinente Pangeia
há 237 Ma (Triássico Inferior).
A fragmentação da Pangeia começou há 200 Ma, no Jurássico Inferior (Fig.
3.30 a). Em torno de 150 Ma atrás (Jurássico Superior), o oceano Atlântico começou a se
formar, o oceano Tethys contraiu-se e os continentes do norte (Laurásia) já estavam
separados e, no sul, a Gondwana começava a se dividir entre Índia + Austrália +
Antártida e África + América do Sul (Fig. 3.30 b). Há cerca de 66 Ma (Cretáceo
Superior/Paleoceno Inferior), o Atlântico sul abriu-se, a contração do oceano Tethys
progrediu de modo a transformá-lo em um mar intracontinental (Mediterrâneo), a Índia
começou a derivar para norte em direção a Ásia e, após 135 Ma de deriva, os continentes
começam a adquirir a configuração atual (Fig. 3.30 c). O ponto vermelho marca o local
do impacto do asteroide que teria causado a extinção dos dinossauros e muitas formas
de vida na Terra. A configuração atual dos continentes ocorreu nos últimos 65 Ma: a Índia
colidiu com a Ásia para formar a cordilheira do Himalaia e a Austrália separou-se da
Antártida (Fig. 3.30 d). Nos próximos 50 Ma, o oceano Atlântico deve ampliar-se e o mar
Mediterrâneo deve fechar-se, por ação de uma convergência com subducção da placa
Eurasiática sob a placa Africana, formando uma cadeia de montanha (Fig. 3.30 e).
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a
45
a
e
d
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3.4- TECTÔNICA DE PLACAS E OS DEPÓSITOS MINERAIS
Os depósitos minerais são concentrações anômalas de metais ou minerais de
minério nas rochas da crosta terrestre que ocorrem em regiões onde os processos
geológicos atuantes viabilizaram tal concentração dos metais. A tectônica de placas
representa o controle regional de maior amplitude na distribuição dos depósitos minerais
na crosta terrestre (Fig. 3.31). Os depósitos minerais se concentram preferentemente
nas regiões tectonicamente ativas, onde normalmente há incidência de processos
geológicos (magmáticos, metamórficos e sedimentares) que disponibilizam metais e
favorecem a sua concentração, tais como bordas das placas convergentes (zonas de
subducção), com depósitos porfiríticos de Cu-Mo, epitermais de Au-Ag e sulfeto maciço
vulcanogênico (SMV) de Cu-Pb-Zn, ou bordas de placas divergentes (cadeias meso-
oceânicas), com depósitos de Fe-Mn e SMV de Cu-Pb-Zn. Nas regiões cratônicas e no
interior das placas tectônicas também pode haver geração de depósitos minerais em
áreas onde houve atividade magmática anorogênica (plumas), com depósitos de Sn-W
em granitos, Cr-Pt e Ni-Cu em complexos máfico-ultramáficos acamadados, ou em áreas
onde houve atividade tectônica antes da estabilização do cráton, tais como em rifts com
depósitos de Nb-Ta-TR-Zr-Ti em carbonatitos, diamantes em kimberlitos, em bordas de
cratons, e greenstone belts com depósitos auríferos, Ni-Cu em rochas ultramáficas e
SMV de Cu-Zn.
4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Acesso em 25 outubro 2018, disponível em: http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-
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Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Recursos Humanos,
DRM-JR. 2013. Teoria da Tectônica de Placas. Acesso em 25 outubro de 2018,
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pedagogico/100-pedagogicoteoria
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Teixeira W, Fairchild T. R, Toledo M. C. M, Taioli F. 2009. Decifrando a Terra, 2a Edição.
São Paulo, companhia Editora Nacional. 624p.
Wyllie, P. J. 1971. The Dynamic of Earth: Textbook in Geosciences. New York, John
Wiley & Sons, Inc. University of Chicago, 416p.
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