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UMA CERTA IRONIA EM L’ETRANGER DE ALBERT CAMUS

Antonio Nilson Alves CAVALCANTE


Universidade Federal do Ceará
Gilson Soares CORDEIRO
Universidade Estadual do Ceará

RESUMO
Este artigo propõe analisar, a partir da crítica do romance de Albert Camus (1957), as diferentes formas
de apreensão quanto a ironia que parece constituir-se como um recurso estético-estilístico que contribui
fortemente na criação de efeitos de sentido da obra-prima do escritor argeliano. É por esta perspectiva que
esse trabalho busca tecer comentários consoantes à realização da ironia no romance L’Entranger.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura, Estética, Estilística, Ironia, Morte.

1. INTRODUÇÃO

Como reconhece alguns estudiosos, as análises que condensam a fortuna crítica


do escritor Albert Camus, quanto às reflexões sobre o absurdo, dão primazia “as
matizes filosóficas em detrimento dos valores literários” (LAURUTI, 2009, p. 27). De
outro modo, Lautiri (2009) toma, em seu artigo, o foco de analisar como essa temática é
elaborado ficcionalmente, lançando em adendo as características de uma estética do
absurdo. Tal objetivo leva o autor a concluir, na esteira de Ítalo Calvino, que “Camus
ultrapassa as oposições sujeito e objeto, objetividade e subjetividade, comum e literário,
consciência e absurdo, obrigando seu leitor (...) a assumir outro ponto de observação
outra ótica, outra lógica” (LAURUTI, 2009, p. 33)
Nesse artigo, seguimos essa linha de inquirição que propõe uma outra
perspectiva ao avaliar o romance L’Entranger do escritor argeliano.
Assim, podemos ainda dizer que buscaremos manter essa ótica voltada a avaliar
os aspectos estético-estilísticos da obra, uma vez que desviamos nossa atenção – do que,
filosófica ou ficcionalmente, seria ou não absurdo – para nos apegarmos a um traço
muito específico da linguagem literária na obra do escritor argeliano: a ironia. Para
tanto, temos as reflexões que, então, poderiam se estender a um plano filosófico, como
extensão da obra literária a um ponto de sutura entre essas e sua linguagem
estilisticamente elaborada, ao nível de sua literalidade.
Ainda, essa concepção nos coloca em acordo com uma perspectiva estético-
estilista de análise da obra, pois, mesmo que em algum momento teçamos considerações
a respeito dos efeitos de nosso objeto nesse estudo, o faremos a partir de um olhar
interno da própria linguagem e das articulações de seus elementos.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Concepções do conceito de ironia

No que toca o estudo dos elementos constitutivos do romance, não é raro


encontrarmos considerações diversas ou, ainda divergentes, feitas sobre o que em geral
compreende esse gênero narrativo enquanto tal. Sem dúvida, uma das primeiras
referências a se fazer se encontra nos trilhos da dialética, encaminhando fortes
argumentos que tomam a ironia como elemento necessário a configuração que o
romance encerra.
Para Lukács (2000), tal afirmação remonta ainda “aos primeiros teóricos do
romance, os estetas do primeiro Romantismo” (p. 74). Em uma nota no mesmo estudo,
o tradutor do jovem Lukács resgata uma das inúmeras definições schlegelianas do
termo, enquanto “contínua alternância entre autocriação e auto-aniquilação”
(SCHLEGEL apud LUKÁCS, 2000, p. 74).
Em seguida, Lukács (2000) acrescenta que, a fim de possibilitar a configuração
da grande épica na forma romanesca, o escritor precisa estabelecer a objetividade
receptiva pela efetiva superação de sua própria subjetividade. No caso em que a
subjetividade não é superada, mas simplesmente velada em si ou afundida em ineficaz
objetividade, o romance não encontra força estilística de concluir sobre si uma coesão
indispensável à aparência de totalidade, ou antes, de mundo unitário que “é puramente
formal” (p. 75).
Quanto a isso, Lukács (2000) identifica o romance como a “forma artisticamente
mais ameaçada” (p. 72) quando, essa elaboração da linguagem literária traz em si, na
falta de tato e gosto de um escritor, a possibilidade de não conseguir universalizar sua
subjetividade a um nível formal que encontre consonância com o mundo objetivo das
experiências cotidianas.
Essa definição a compreende também Deleuze & Parnet (1998), mesmo que se
resguardem da necessidade de aderi-la. Dizem: “A ironia romântica, por sua vez,
descobre a subjetividade do princípio de qualquer representação possível.” (p. 82).
Talvez, pendendo em forte contundência à meia luz, Deleuze & Parnet (1998)
veem na ironia um princípio, antes de tudo restringente, que visa restaurar
essencialidades e marcar até onde uma pretensa verdade absoluta lançaria seu véu, e,
por dissimetria, até onde reinaria a simples e completa mentira: “Há, na ironia, uma
pretensão insuportável: a de pertencer a uma raça superior” (p. 83). Contudo, o tradutor
do jovem Lukács se veria no dever de distinguir o que, em seus escritos de juventude, o
teórico húngaro entendia por uma ironia moralista e uma outra, romântica:

a ironia romântica não rejeita um dos elementos para realçar outro a categoria
de validade. Tal é a pretensão do moralista ou do sátiro, que (...) se vale da
ironia para ridicularizar o falso e assim revelar o bem (MACEDO apud
LUKÁCS, 2000, p. 75),

Assim, outro pensador também identificaria na ironia moralista – a pretensão


pedagógico-restringente da qual nos lembra Lukács –, quando considera que alguns
“escritores irônicos contam com uma tola espécie de homens que se sentem realmente
superiores a todos os outros.” (NIETZSCHE, 2009, p. 256).
Certamente tornar-se oportuno tais considerações, mesmo que diversas, a fim de
observarmos como esses teóricos compreendem a ironia, visto que buscamos, nesse
estudo, avaliar como essa está presente na obra-prima de Albert Camus e como nos
permite identificar outras possibilidades de uso desse recurso em sua relação com o
romance.
Como essa divergência acentua a possibilidade de termos duas linhas mestras
que veem, na ironia em sua relação com a obra literária, ora algo essencial sem o qual o
romance seria inviável, ora algo pretensioso e moralista. Dessa forma, devemos, a fim
de continuarmos em frente na consideração desse recurso estético-estilístico como
elemento no projeto literário camuniano, observar se possível, a que lado o próprio
escrito argeliano poderia tomar partido.
Em “Filosofia e Romance”, Camus (2008) afirma que “criar é viver duas vezes”
(p. 45) o que, por conseguinte, exclui de si a necessidade de superação de sua própria
subjetividade, como se via anteriormente imperativo, em princípio normativo do
romance. A primeira vista, então, nossos objetivos, com esse trabalho, parecem se
impossibilitar, uma vez que, para o autor, “a ideia de uma arte separada de seu criador
não se acha apenas fora de moda. É falsa” (CAMUS, 2008, p. 47), fazendo com que
ironia perca, explicitamente, importância para o seu processo criativo, pelo menos no
que toca sua relação ao ator de escritura, certamente nos forçando a tomar uma possível
ironia camuniana não mais pela perspectiva inicial.
Sendo isso possível, o que seria para muitos um princípio formativo essencial,
seria, para Camus, um recurso estilísticos apenas, mas não por isso, mesmo essencial
para o seu projeto literário. Ou seja, para Camus, a ironia deixa de ser elemento mínimo
de literalidade e passa a constituir outro recurso estético-estilístico, sendo que esse seria
talvez indispensável à problematização elencada em seu romance L'etranger.

2.2. A ironia em L'etranger

Para avaliar como uma ressignificação da ironia, deslocada de sua pretensa


assepsia, poderia ter se tornado o recurso mais apropriado para o romance L'etranger,
podemos voltar nossa atenção, já de início, ao momento de complicação do romance,
quando o protagonista Meursault é condenado à morte. A surpresa da solução estética
de Camus, apartir de então, consta-se na supressão das ações e a narrativa permance
estagnada no julgamento de seu protagonista, no qual, então, ironicamente, o que
agrava sua situação de homicida é o fato de que ele não ter chorado no funeral de sua
propria mãe.
Neste turno, o romance L’Entranger atinge um efeito em sua temática,
realizando sutis questionamentos sobre as convenções sociais que hipocritamente se
horrorizam mais em frente às aparências de uma propensa falta de sensibilidade e
adequação aos volores morais virgentes que diante da realidade brutal de um homicídio.
Note-se em que medida Camus traz a baila uma situação extremamente delicada
na qual a morte espreita seu protagonista de dois lados. Primeiro, através do falecimento
da mãe de Meursault – que lhe empunharia sensibilidade e solidariedade – e, segundo,
pelo homicídio causado pelas suas próprias mãos – que lhe imputaria arrependimento.
Contudo, em nenhum dos casos as coerções surtem efeito sobre ele, mas ironicamente
apenas o que menos lhe desconcertava teve maior peso em sua condenação, nos fazendo
lembrar o temor incoerente da morte que, para alguns pensadores, assombra o homem:
“por isso ele também censura como duro de coração e destituído de amor aquele que,
em tais caos, não chora e não mostra aflição.” (SCHOPENHAUER, 2000, p. 61-2).
Para ser mais preciso, vale reconsiderar que o livro conta a história de um homem
de trinta anos de idade que se envolveu em um homicídio, logo depois da morte de sua
mãe: convidado a uma casa de praia por um amigo que havia agredido sua amante, foram
perseguidos pelo pai da moça que buscava vingança; na ocasião, o amigo e o pai lutam e
Meursault, numa ação delirante de autoproteção, mata seu perseguidor.
Riscam-se, aqui, através de sutis situações de ironia, reflexões que parecem querer
aprofundar a evolução de um sentido que se fazia pleno e explicado transcendentalmente
e, é nesse sentido, que o romance L'etranger se faz realmente notável, considerado como
a obra-prima de Albert Camus (1957).
Vale então acrescentar que, devido a um trato estético intricado a ironias, é
surpreendente, ao ponto de se tornar quase inperceptivel, a facilidade com que as
verdades absolutas são colocadas em xeque, quando analisarmos os desbobramentos do
fato de Meursault não ter chorado no funeral de sua mãe e que ocasiona sua condenação à
pena de morte, por, nesse ato, ter matado Deus1, enquanto sentido único e irrovogável,
perante a sociedade:

Sentou-se [o capelão] indignadamente. Disse-me que era impossível, que


todos os homens acreditavam em Deus, mesmo os que não o queriam ver. A
convicção dele era essa e, se um dia duvidasse, a vida deixaria de ter sentido.
‘Quer o senhor, exclamou, que a minha vida deixe de ter sentido?’ 2.

Além do mais, poderiamos identificar, em outras sociedades, como as


cerimônias fúnebres podem perder seu tom fatalista, como quando, e.g., “os greco-
latinos ornavam seus tumulos com cenas alegres e eróticas” (GUEROULT, 2000, p.
XXVIII) ou quando ainda hoje os indianos simplesmente desprezam a existência da
morte, pois essa junto ao nascimento estabilizam-se na vida da própria humanidade
(SCHOPENHAUER, 2000). Para alguns pensadores, tais comportamentos são
extremamente aversos a cultura européia (SCHOPENHAUER, 2006, p. 60).
Para tais culturas a morte não seria vista como o fim a ser lamentado, mas como
o início de uma fase de vida nova – o que o próprio protagonista de L’Entranger,

1
O que a consideração da existência de situações irônicas no romance em estudo contribui fortamente é
saber que uma interpretação literal da categoria apenas serviria para turvar a compreensão de que uma
verdade transcendental e absoluta se tornou algo questionável e, por isso, insustentável a priori.
2
Il s'est assis avec indignation. Il m'a dit que c'était impossible, que tous les hommes croyaient en Dieu,
même ceux qui sedétournaient de son visage. C'ètait là sa conviction et, s'il devait jamais en douter, sa vie
n'aurait plus de sens. "Voulez-vous, s'est-il exclamé, que ma vie n'ait pas de sens?" (CAMUS, 1957, p.
108)
Meursault, apos ser condenado morte, cogita: “Tão perto da morte, a minha mãe deve
ter-se sentido libertada e pronta a tudo reviver. Ninguém, ninguém tinha o direito de
chorar sobre ela” 3.
Contudo, vale-se fazer uma distinção entre o pensamento schopenhauriana sobre
a morte e o que Camus poderia sugerir ao problematizá-la, quando seria impossível
haver uma conciliação entre ambas as posições, principalmente ao tomarmos a
compreensão extremamente pessimista do filósofo alemão e o otimismo aceso do
escritor argeliano, sendo justamente essa sugestão que podemos acolher na leitura de
L’Entranger.
Nesse ponto de repulsa entre as posições do escritor argeliano e do filósofo
alemão, Meursault não encontra meio pra lamentações, como em uma íntima
desconfiança que daria a existência a aceitação de sua própria cadência, sendo que, para
Camus (2008), o labor de Sísifo deveria ser marcado pela possibilidade de felicidade, ao
vislumbrar de antemão as balizes das ações possíveis.
Por outro lado, alguns filósofos identificariam, em Schopenhauer, um princípio,
antes de tudo, niilista, hostil à própria vida (NIETZSCHE, 2008), em suas contradições,
considerando que “a vida oscila (...) do tédio ao sofrimento” (SCHOPENHAUER apud
GUEROULT, 2000, p. XXX), enquanto o personagem de Camus agarra-se com unhas e
dentes a possibilidade de viver mais algumas horas, sob a luz clara de um dia de sol.

3. CONCLUSÃO

Chegando a tal ponto, podemos dizer que muito foi elencado quanto a
possibilidade de apreensão da importancia que a ironia, enquanto recurso estético-
estilístico, representa ao projeto literário de Albert Camus, em sua obra-prima. Por
questões objetivas, alguns pontos podem ter sido obscuresidos quanto à interseção entre
as considerações de cunho estritamente estilístico e seus efeitos em nível estético-
reflexivo e que podem alimentar novas considerações sobre o romance em estudo.
A esta luz, contudo, L'etranger se torna invariavelmente “uma surpresa rebelde
ao constrangimento de qualquer lei superior” (BORNHEIM, 1984, p. 97) e, se

3
Si prés de la mort, maman devait s'y sentir libérée et prête à tout revivre. Personne, personne n'avait le
droit de pleurer sur elle. (CAMUS, 1957, p. 185)
tentássemos retomar nosso ponto de vista inicial, no qual consideramos alguns aspectos
da linguagem literária de Camus, quanto a suas soluções encontradas no romance,
veríamos como a ironia seria superada por si mesma, se consolidando, em um
solilóquio do protagonista Meursault, nas ultimas páginas do livro, a possibilidade de
uma justificativa complacente para ele não ter chorado no funeral de sua mãe.
Por fim, poderíamos concluir que a sugestão de Ítalo Calvino de consideração de
uma ótica diferenciada, recuperada nesse estudo por Lautiri (2009) é de grande valor
para análises que se proponham avaliar os aspectos estético-estilísticos da obra do
escrito argeliano, especialmente, como tentamos demonstrar, em L’etranger.

REFERÊNCIAS:

BORNHEIM, Gerd A. “Literatura e Filosofia: O espaço da estética”. In: KHÉDE, Sonia


Salomão. Os Contrapontos da Literatura (Arte, Ciência e Filosofia). Petrópolis:
Vozes, 1984.

CAMUS, Albert. L’etranger. Éditions Gallimard, 1957 (Collection folio)

_____________. “Filosofia e romance”. In: CAMUS, Albert, O mito de Sísifo.


Tradução de Ari Roitman e Paulina Watch – Rio de janeiro: Record, 2008.

DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. “Da superioridade da literatura anglo-americana”


In: DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro
– São Paulo: Escuta, 1998, pp. 47-90.

GUEROULT, Martial. “Introdução”. In: SCHOPENHAUER, Arthur. Metafísica do


amor; metafísica da morte. Tradução de Jair Barbosa – São Paulo: Martins Fontes,
2000, pp. XXV-XLVIII.

LAURUTI, Thiago. “A estética do absurdo em ‘O estrangeiro’ de Albert Camus” In:


Saber acadêmico – Revista multidisciplinar da UNIESP, São Paulo, dez., n. 8, 2009,
pp. 27-34. Disponível em: <
http://www.uniesp.edu.br/revista/revista8/pdf/artigos/03.pdf.>. Acesso em: 12 de maio
de 2012.

LUKÁCS, Georg. A teoria do romance: um ensaio histórico-filosófico sobre as


formas da grande épica. Tradução, posfácio e notas de José Marcos Mariani de
Macedo – São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2000.

NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo (Ensaio de crítica do cristianismo). São Paulo:


Ed. Escala, 2008.
NIETZSCHE, Friedrich. Humano demasiado humano. São Paulo: Ed. Escala, 2009..

SCHOPENHAUER, Arthur. Metafísica do amor; metafísica da morte. Tradução de


Jair Barbosa – São Paulo: Martins Fontes, 2000.

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