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De mocambeiro a cabano:

Notas sobre a presença negra na Amazônia


na primeira metade do século XIX

~ mbora o estudo acerca das práticas de grande dose de simplificação, uma vez que
I:J insurgência entabuladas pelas popu- tal processo tem sido apresentado como a sín-
lações negras e escravas no Brasil já dispo- tese possível entre um enorme contingente
nha de uma sólida produção historiográfi- de índios destribalizados e um número rela-
ca, cabe salientar que para o conjunto da tivamente pequeno de brancos e mamelucos.
Região Amazônica as pesquisas nesse cam- Mesmo nos trabalhos acadêmicos mais
po continuam num estado bastante precá- recentes, o caráter incipiente das pesquisas
rio. Geralmente, os trabalhos de cunho his- relativas aos negros ainda é salientada. Num
tórico produzidos seja no âmbito regional deles, Selda Costa, enfatizando a relevância
seja no nacional, contentam-se facilmente da obra de Nunes Pereira para o conjunto
em reproduzir idéias já convencionais que dos estudos acerca dos negros na Amazô-
salientam a insignificância tanto quantita- nia, argumentava:
tiva como qualitativa das populações ne- É sabido que a presença e a participação de
gras no interior do processo formativo da africanos, escravos ou libertos, é compara-
sociedade amazônica. tiva e significativamente menor do que a do
Mesmo os que reconhecem que a resul- indígena e a do europeu. Mas, até recente-
tante histórica que engendrou o perfil con- mente, pensava-se que era praticamente
nula. Algumas notícias de negros cabanas,
temporâneo do homem amazônico - o "ca-
rumores da existência de quilombos no rio
boclo" - foi marcada por um processo vi-
Trombetas e, sabidamente, grupos expres-
goroso de miscigenação, incorrem em uma
sivos de negros no Amapá, vindos alguns

Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro é doutor em História Social pela pue-sp, professor do Departamento de
História da Universidade do Amazonas
da Guiana. Pequenas ilhas negras na imen- dante de índios como a freqüente licenciosi-
sidão verde indígena (Costa, 1997: 338). dade jurídica diante das possibilidades de
Desde que surgiram as primeiras gran- exploração econômica das populações na-
des sínteses sobre a história regional, o cará- tivas agiram como forças extremamente ini-
ter tardio da introdução de negros na Ama- bidoras da extensão do tráfico negreiro na
zônia e sua pouca atuação naquele contex- Amazônia. É correto também que a intro-
to tem sido sistematicamente enfatizados, dução de grandes contingentes de popula-
engendrando um processo de construção e ção negra no Grão-Pará jamais alcançou
difusão de idéias tão vigoroso quanto o que, os números elevados que foram presencia-
por exemplo, até hoje associou a região a dos no Maranhão e na Bahia, onde, sabe-
um baixo índice de povoamento pré-colo- se, acabaram por representar os componen-
nial. Se, no entanto, a idéia do "vazio de- tes étnicos majoritários, com larga influên-
mográfico", já vem sendo questionada há cia nos mais diversos aspectos econômicos e
pelo menos três décadas e certamente não sócio-culturais.
fascina mais os historiadores, o ocultamen- De qualquer forma, cabe salientar que,
to da presença negra na Amazônia conti- desde meados do século XVIII, a introdução
nua efetivo, mantendo incólume uma das de negros no Grão-Pará tornou-se uma re-
mais graves distorções na escrita da história alidade importante para a sociedade e para
na região. a economia da província e, embora os mar-
Tanto é assim que basta recuperar ape- cos mais importantes desse processo estejam
nas uma das múltiplas face tas dessa presen- inquestionavelmente localizados no perío-
ça para que um certo ar de espanto e de do de administração de Francisco Xavier de
surpresa logo se instaure. Talvez por isso, Mendonça Furtado, seria um erro defender
em recente matéria acerca da existência de a idéia de que
quilombos na região Norte, um importante antes do estabelecimento da empresa pom-
jornal do país adiantava que o tema parece- balina não havia escravatura africana nas
ria aos olhos de seus leitores algo bastante capitanias do Pará e Maranhão (Dias,1970:
inusitado: 461).
Negros na Amazônia no século XVIII? A O que não ocorreu, até então, foi a introdu-
surpresa não é só sua leitor. Pouca gente ção de escravos africanos em grande escala,
c()nhece,e menos ainda estuda, a presença mas mesmo essa já havia sido tentada em
de escravos no Norte do país, que chegou a fins do século XVIIpela Cia. do Comércio do
15%da população da imensa Capitania do Maranhão e Grão-Pará, sem contudo, lo-
Grão-Pará (jornal do Brasil, 18fev1997).
grar o objetivo desejado.
É bem verdade que ao longo dos dois Participações esporádicas e mais locali-
primeiros séculos de dominação portugue- zadas vinham de longa data.-Nunes Pereira
sa no vale amazônico, tanto a oferta abun- defende o ano de 1692 como sendo o pri-
meiro em que os negros começaram a che- tringia a oferta de força de trabalho, exata-
gar na região, obra que ele atribui, não aos mente num momento em que, de acordo
portugueses, mas a alguns aventureiros com a lógica salvacionista de Pombal, a
holandeses, introduzidos na região pela política metropolitana cobrava uma maior
bacia do Oiapoque (Pereira, 1949: 509-10). participação da colônia no jogo mercantil,
Em pequena crônica escrita alguns anos pela introdução e difusão de uma agricul-
mais tarde, Arthur Reis sugere outra origem, tura diversificada e voltada, prioritariamen-
ao atribuí-Ia aos ingleses, te, às necessidades do mercado mundial.
que, nas duas últimas décadas do século Contudo, a introdução de negros na re-
XVI, e na primeira do século XVII, tentaram gião impunha dificuldades bastante signifi-
empossar-se do extremo-norte numa aventu- cativas e, nesse sentido, é sintomático que
ra que não lhes assegurou o êxito imagi- tenha sido feita pela ação de um Estado for-
nado (Reis, 1959: 125). te o suficiente para sublimar, por métodos
De qualquer forma, uma entrada maior autoritários e violentos, os principais focos
de negros na Amazônia ocorreu durante a de tensão e resistência. Sem falar na pressão
administração de Pombal, quando veio à missionária - enfim suprimida pela proi-
tona um conjunto de importantes medidas bição e posterior expulsão das diversas or-
tendentes a modificar a estruturação inter- dens religiosas -, cabe salientar que, mes-
na da região, com vistas a seu novo enqua- mo para os colonos leigos, a utilização do
dramento no interior do império colonial escravo negro não era a saída desejada para
lusitano. a crise de mão-de-obra que alardeavam. Pela
Quase todos os autores que se debruça- ótica dos colonos, bastaria, simplesmente, o
ram na compreensão do ideário e das ações afastamento dos missionários e a simultâ-
pombalinas insistem que, na origem da de- nea flexibilização da legislação que regia a
liberação em favor da introdução de escra- utilização dessa força de trabalho, liberan- .
vos africanos, estava o desejo de restringir a do integralmente o controle sobre os índios.
ação política dos missionários, notadamen- Uma simples constatação dos custos de
te os jesuítas, que, na Amazônia, mais que um escravo negro frente ao preço de um
em qualquer outro lugar do Império colo- índio -nos tempos em que a escravidão
nial, davam demonstrações vigorosas de seu indígena estava legalmente permitida -,
poder, limitando, mediante uma retórica pre- bastaria para dar uma idéia da força dessa
servacionista diante das populações indíge- resistência nos colonos paraenses. As cifras
nas locais, o desenvolvimento das preten- recolhidas por Vicente Salles para os anos
sões mercantilistas em voga. finais do século XVII apontam um preço em
Essa contradição tornava-se cada dia torno de 30$000 para um índio escravo, en-
mais grave na medida em que a prática je- quanto o de um negro oscilava sempre em
suítica - respaldada no "Regimento" de patamar mais elevado, de 100$000 a
1680 e em outras leis subseqüentes - res- 160$000 (Sal1es, 1988: 42). As infonnações
de época confirmam o alto preço do escravo os navios da empresa colonial pombalina
africano no Pará. O francês Emile Carrey,pas- transportaram [...] uma quantia de ne-
sando pelo Pará em 1835, reconheceu que em gros superior a vinte e cinco mil (Dias,
Belém era difícil comprar um escravo devido 1970: 465)
seu alto preço, da mesma fom1a, não se podia Desse total, segundo o autor, 14.749 es-
"alugar um negro por menos de dez tostões cravos destinavam-se ao Pará, enquanto o
diários, e as negras, por menos de cinco cada restante tinha como destino a Capitania vi-
uma" (Carrey, 1862: 200). Em outra passa- zinha, o Maranhão (p. 469). Esse resultado
gem de seu relato, o autor lembrava que, nos tem sido relativizado por alguns historiado-
ataques aos mocambos paraenses, os solda- res contemporâneos que alegam terem sido
dos "matam o menos possível", pois "cada a maioria desses escravos revendidos por
escravo vale um conto de réis" (p. 235). meio do tráfico interprovincial para o Mato
Para fazer frente às demandas que o Grosso que, à época, experimentava um sur-
projeto mercantilista pombalino suscitava to minerado r (Cardoso, 1984: 113-4).
na economia da Colônia, criou-se a Com- De qualquer forma, muito mais impor-
panhia Geral de Comércio do Grão-Pará e tante que os números totais é o fato de que,
Maranhão, cujo objetivo declarado era o mesmo para um momento recuado como
desenvolvimento tanto da economia metro- 1792, a cifra relativa à presença negra na
politana como da própria região. Buscava região demonstrava ser percentualmente re-
viabilizar o fomento agrícola proposto, não levante, respondendo por nada menos que
só garantindo o escoamento da produção 35% da população de Belém. Registros pos-
regional, mas também introduzindo mão- teriores indicam que a participação dos con-
de-obra negra africana por intermédio de tingentes negros tendeu a manter o ritmo
um sistema de crédito que previa o paga- de crescimento, tanto na capital como no
mento parcelado das dívidas. Em que pese o interior (Salles, 1988, 7l) Em 1839, Baena
fato da Companhia ter sido alvo de intensa registrou novos números acerca da popula-
crítica - tanto na colônia como na metró- ção da província do Pará: enquanto os mo-
pole, sofrendo denúncias que iam desde o radores livres somavam 119.877, os escra-
não cumprimento de suas finalidades bási- vos chegavam a 29.977, o que corresponde
cas até a exacerbação de seu caráter especu- a aproximadamente 25% da população
lativo (ver documentação reproduzida por (Baena, 1839: 463).
Carrera, 1988: 27-48) -, coube a ela um Em pesquisa recente e de maior fôlego,
papel bastante significativo na introdução o cruzamento de informações a partir -de
de escravos negros no Grão-Pará. um repertório de fontes bastantes variadas
Um dos principais estudos realizados - relatórios de Presidentes de Província,
sobre a Companhia resultou em balanço censos, relações de escravos, inventários,
francamente favorável à sua atuação, uma dentre outros -, acabou evidenciando essa
vez que durante seus 22 anos de vigência, relevância percentual da população escra-
e mais importante
movimento de mas-
ESCRAVOS NEGROS NO PARÁ (1832-1848) sas ocorrido na re-
Pop. Total do Pará Escravos Negros gião, a Cabanagem,
apenas reconhece-
1832 130.457 29.001 22,23
rem que os negros
1833 149.854 29.977 20,00 participaram do
1834 160.000 40.000 25,00* movimento engros-
1848 164.949 33.542 20,28 sando as fileiras da
Fonte: Funes, 1995: 51 massa rebelde. Com
• Por esquecimento ou descuido, este percentual não consta da tabela original.
isso, buscam susten-
tar que essa partici-
va - negra - no cômputo total da pro- pação ocorreu sem-
víncia do Pará. Para os anos diretamente pre por derivação, o que significa dizer que
relacionados com o objeto deste trabalho, os escravos entraram na cena política sim-
os números apresentados não deixam de plesmente porque durante as lutas em prol
ser eloqüentes (Tabela 1). da emancipação nacional, alguns políticos
Seja como for, a confusão de números exaltados - seja por força de suas convic-
díspares, conflitantes e pouco confiáveis que ções liberais, seja porque não mediam com
cercam todas as estatísticas realizadas para a cautela necessária as conseqüências pos-
a região até o início deste século, não deve síveis de seus atos - acabaram por veicu-
ser utilizada como justificativa para obscu- lar discursos que "agitavam a escravaria"
recer ou sublimar excessivamente, como até com promessas de liberdade em meio a fa-
hoje se tem feito, questões que permanece- las que apenas insinuavam uma condena-
ram latentes por mais de dois séculos. O ocul- ção à instituição escravista.
tamento da atuação dos escravos negros em Os que advogam esse caminho lembram
toda a Amazônia tem se constituído no não- constantemente o verbo destemperado de
dito da historiografia regional, e seu simples Felippe Alberto Patroni, o político liberal pa-
reconhecimento já permite estabelecer um raense que chegou a defender a necessida-
repensar diferenciado sobre o conjunto des- de de os escravos entrarem no cômputo para
sa produção. a representação parlamentar, porque eles
A compreensão da ação política dos ne- mais que ninguém devem ter quem Sé com-
gros no Pará, na primeira metade do século padeça deles, procurando-lhes uma sorte
XIX,não é tarefa fácil de ser realizada, prin- mais feliz, até que um diase lhes restituam
seus direitos( Apud: Raiol, 1969: 20).
cipalmente porque suas múltiplas ações sem-
pre foram minimizadas pela produção his- Lembram também as freqüentes elegias
toriográfica. Um exemplo notável dessa prá- feitas pelo presidente cabano Eduardo No-
tica está no fato de os historiadores do maior gueira Angelim, ressaltando o "valor de um
povo que esquece a morte quando defende insistindo em tomar o propagandismo libe-
a sua liberdade" (Ibidem, p. 939). ral como detonador de uma demanda -
Sem muito esforço, mesmo os contem- por exemplo, a liberdade para os negros -
porâneos da rebelião puderam perceber que que até então não existia. A conseqüência
tais discursos - falando tanto de uma li- imediata dessa abordagem está em retirar o
berdade como de uma escravidão bastante papel ativo que as populações negras e es-
genérica e imprecisa - tinham um caráter cravas do Grão-Pará efetivamente exerce-
acentuadamente demagógico e pragmáti- ram e, assim, transformá-Ias em meras co-
co, uma vez que serviam mais para incutir adjuvantes de um processo maior de ten-
o pânico entre os adversários políticos da sões que as transcendia. Em outras pala-
elite do que para tecer compromissos, mes- vras, os que advogam a perspectiva da deri-
mo que informais, com as demandas vi- vação acabam passando a imagem de que
gentes entre o "populacho", incluindo-se toda a rebeldia dos escravos paraenses ex-
aí os escravos. plica-se porque, um belo dia, um ideólogo
Numa das denúncias apresentadas con- liberal ensinou-lhes a desejar a liberdade.
tra Felipe Patroni, o português ]ozé Ribeiro Quando as populações escravas do
Guimarães reconhecia a influência desses Grão-Pará deflagraram seus movimentos de
discursos sobre os escravos, mas deixava cla- revolta aberta contra os senhores, não o fi-
ro que as idéias ali contidas não passavam zeram porque haviam "entendido mal" os
de "figuradas expressões", mal interpreta- pronunciamentos desgarrados que foram
das pelos escravos: formulados por elementos oriundos da classe
A leitura daquele artigo [de Patroni] deu
senhorial ou a ela intimamente associados.
um grande choque nos escravos; concebe- Também aqui não se trata de "idéias fora
ram idéias de liberdade e julgaram que as do lugar". a verdade, o que o estudo das
figuradas expressões, de que se serviram os revoltas e rebeliões de escravos na Amazô-
autores da nossa regeneração política, quan- nia começa a salientar é que os próprios
do disseram "quebraram-se os ferros, aca- escravos logo cedo adquiriram a consciên-
bou-se a escravidão, somos livres e outras cia de que só por meio de sua própria inici-
semelhantes" se entendiam com eles, e co- ativa poderiam subverter de alguma ma-
meçaram a encarar Patroni como o seu neira a ordem escravocrata vigente na re-
libertador (Ibidem, p. 18). gião.
Que os negros do Pará tenham não só De igual maneira, atrelar a rebeldia ne-
tomado contato com os discursos de Patro- gra ao propagandismo político veiculado,
ni mas, até mesmo, introjetado algumas de seja por Patroni, seja por Francisco Vinagre
suas idéias em seus m?vimentos posteriores, - outro presidente cabano - ou Ange-
é algo que não se deve por em dúvida. O lim, implica obscurecer toda uma tradição
que se precisa abandonar é a idéia que ain- de protestos, reivindicações e lutas que se
da perpassa todo o discurso historiográfico, mostraram presentes na Amazônia desde

I tNu< ,(';1 ,IIj~J Vol. 1, n: 1, primeiro semestre 1999


que os primeiros negros foram introduzidos quecer a consideração desta classe dos ha-
na condição de cativos. bitantes no espírito e na opinião da escra-
Se é certo que as fissuras ocorridas no vatura! E que será hoje a execução de tan-
interior dos segmentos dominantes no iní- tos brancos, e entre eles alguns oficiais e
oficiais inferiores? Que respeito terão os es-
cio do século XIX potencializaram a luta
cravos à força armada, quando virem mili-
dos escravos, é correto também afirmar que
tares graduados e seus próprios senhores
coube unicamente a eles o mérito de - ao nivelados com eles mesmos na infâmia do
perceberem a conjuntura favorável que essa suplício, em uma crise, em que a idéia de
brecha ensej ava - colocar em prática uma liberdade fermenta já nas cabeças dos es-
série de atitudes não só de resistência, mas cravos, e parece augurar a fatal catástrofe
também de protestos e de revoltas que pas- de S. Domingos? (Apud: Raiol, 1969: 35).
saram a preocupar seriamente os poderes e O discurso de D. Romualdo deixa claro
os poderosos da sociedade paraense. vários pontos. O primeiro deles está no fato
Dessa forma, a presença de escravos afri- de apresentar o suplício de escravos como
canos na Amazônia não está dissociada de um recurso repressivo corriqueiro na pro-
suas contínuas lutas em favor de sua pró- víncia, reforçando a argumentação de que
pria emancipação e, por isso mesmo, essa a presença negra ali sempre foi carregada
presença mostrou-se extremamente proble- de tensões. A gravidade dessas tensões é que
mática, atraindo contra si o furor repressi- levava alguns escravos à prática de delitos e
vo. Talvez um dos melhores exemplos da crimes que o bispo_ condenava como sendo
especificidade da luta dos escravos esteja no "facinorosos". Outro ponto importante da-
argumento levantado por Dom Romualdo quela argumentaçae diz respeito ao fato que,
Antônio de Seixas, por ocasião do fracasso se as idéias de liberdade fermentavam no
do movimento de 14 de abril de 1823 que Pará, não tinham como matriz exclusiva o
pretendia separar o Grão-Pará do domínio pensamento liberal francês do século XVIII,
de Lisboa, ainda efetivo na região. Como na introduzido por ideólogos da emancipação
repressão empreendida por militares e ne- política brasileira no Pará - Patroni, Luís
gociantes portugueses foi proposta a execu- Zagallo e os irmãos Vasconcelos.
ção sumária dos implicados na conspira- A idéia de liberdade, ou melhor, as idéias
ção, Dom Romualdo chamou a atenção de liberdade que contagiavam os negros e
para um risco que considerava bem maior, assustavam o bispo, pareciam estar muito
caso aquela medida extremada fosse adota- mais associadas aos acontecimentos do Haiti,
da pela Junta Governativa. Dizia ele: antiga colô~ia francesa, onde uma repúbli-
Onde é que se faz essa execução? É em uma ca de negros veio a ser estabelecida na se-
Província, onde nunca se viram iguais es- qüência de uma violenta onda de rebeliões
petáculos, senão nos escravos mais que culminaram com o massacre de inú-
facinorosos,e onde sempre seevitou praticá- meros brancos na ilha.
Ia em pessoas brancas pelo perigo de enfra- É certo também, que os escravos trazi-
am consigo da África uma noção própria de uma nova vida em liberdade, como outrora
liberdade, daí em várias oportunidades te- tinham experimentado.
rem externado seus desejos de um retorno à Numa região onde a abundância de re-
antiga ordem social. Embora a documen- cursos naturais tornava relativamente fácil
tação seja escassa, há um episódio da histó- a garantia do sustento individual, fugir para
ria paraense que ilustra bem esse desejo. as matas logo significou, para aqueles que
Quando, no bojo dos distúrbios - roubos haviam sido reduzidos ao cativeiro, o prin-
e saques - que se seguiram ao ato de ade- cipal meio de alcançar a liberdade. Peque-
são do Pará ao Império, em 1823, a Junta nos grupos desgarrados conseguiam com
Provisória encaminhou a José Bonifácio, mi- maior sucesso escapar à perseguição bran-
nistro e secretário de Estado dos Negócios do ca, pois demonstravam maior poder de
Império, um ofício informando o sucesso das mobilidade e facilidade em suster o grupo
medidas repressivas que foram adotadas para ao longo das rotas de fuga. Essa mesma
o restabelecimento da ordem na província, situação favoreceu o conjunto dos cabanos,
a única ressalva esboçada foi exatamente a já que, em março de 1838, o general Soares
que tratava da ação dos escravos negros: d'Andréa reconhecia a dificuldade de repri-
Todas as medidas que são da Junta Provi- mi-Ios alegando que "pequenas partidas de
sória se tem tomado; sentimos não poder rebeldes se acoitam, e se escondem facilmen-
afirmar que a tranqüilidade esteja inteira- te por serem em pequeno número", favore-
mente estabelecida, porque ainda temos a cendo a continuidade da rebelião (Pará,
temer principalmente a gente de cor, pois 1838: 4).
que muitos negros e mulatos foram vistos O vigor dessa força de atração fez com
no saque de envolta com os soldados, e os que os proprietários paraenses buscassem
infelizes que se mataram a bordo do navio, utilizar a força de trabalho negra sempre
entre outras vozessediciosas, davam vivas com extremo cuidado, alocando-a em es-
ao ReiCongo,o que faz supor alguma com-
paços de maior possibilidade de controle re-
binação desoldadose negros (Idem, p. 184).
pressivo. Não foi à toa que boa parte deles
De fato, é possível recolher um número estava concentrada na capital, Belém, vin-
bastante significativo de indícios que ates- culada aos mais diversos tipos de trabalhos
tam ter sido a presença negra na Amazônia urbanos: ali eram utilizados sobretudo como
extremamente onerosa para os proprietári- escravos domésticos, embora muitos exer-
os, principalmente porque nela, mais que cessem profissões específicas, como ferreiros,
em qualquer outra região do Brasil, havia sapateiros, alfaiates e carpinteiros.
possibilidades potencialmente maiores de se Boa parte dos negros, contudo, acabou
realizarem fugas. A atração que a floresta mesmo utilizada como escravos do eito, alo-
tropical amazônica - similar à sua con- cados nos engenhos e nas fazendas, que,
gênere africana - exercia sobre os negros na virada do século XVIII para o XIX, havi-
era imensa, sugerindo a possibilidade de am proliferado ao longo do "cinturão agrí-
cola" que foi se estabelecendo ao redor de mas é certo que os mocambos paraenses
Belém (rios Mojú, Acará e Capim), onde são bem anteriores, datando mesmo de
permaneciam igualmente sob forte vigilân- meados do século XVIII. No atual Amapá,
cia. Nessas áreas era freqüente a existência em 1749 já existia, no interior do rio
de plantéis elevados, com várias dezenas de Anauerapucu,
escravos em cada unidade produtiva. ASanta um importante mocambo, cujos negros se
Casa de Misericórdia, por exemplo, que pos- internaram para o norte quando descober-
suía uma fazenda agrícola no rio Capim e tos pelas expedições de resgates de índios
outra de criação de gado na ilha da Cavia- (Salles, 1988: 221).
na, alocava 99 escravos na primeira e 85 na Havia certamente áreas que favoreciam
segunda (Pará, 1839: 13). uma maior proliferação de Mocambos. A
Tão logo a população negra começou a proximidade com as Guianas, onde é sabi-
adensar-se, passaram a surgir notícias a res- do que havia forte tradição qui lombo Ia, fez
peito de fugas e de formação de mocambos com que, desde cedo, a área do atual Ama-
- como eram chamados os quilombos no pá fosse "das mais procuradas pelos nossos
Grão-Pará -, fatos que causavam prejuí- quilombolas, ou pretos fugidos" do Pará
zos aos proprietários e tormento às autori- (Cruls, 1955: 211). Os arredores de Belém,
dades provinciais, uma vez que elas eram por força da presença maior de escravos ali,
constantemente cobradas a intervir para a e em que pese a proximidade com as forças
extinção daqueles agrupamentos. À época repressivas - públicas e privadas: milícias,
da Cabanagem, muitos mocambos já exis- capitães do mato -, viram nascer vários
tiam, sendo alguns bastante conhecidos e desses agrupamentos, sendo que alguns,
considerados importantes por conterem um como o de Macajuba, chegaram a ter popu-
grande número de fugidos. Vicente Salles, lação considerável.
ao mapear vários desses mocambos, desta- O viajante Emile Carrey, argumentan-
cou os de Mocajuba, Gurupi, Caxiú, do do que "os mocambos são numerosíssimos
Trombetas e do Curuá (Salles, 1988: 218- nas solidões amazonianas", pôde relatar a
40). estruturação e a destruição de um deles, nos
Um dos mais importantes historiadores arredores de Belém, que contava, em sua
da região defendeu a idéia de que aqueles avaliação, com pelo menos 30 negros, in-
ajuntamentos também se deviam à propa- cluindo mulheres e crianças. No dizer da-
ganda emancipacionista: quele observador, era um mocambo "pou-
co numeroso, pouco aguerrido e formado
Justamente ali [Cametá] se tinham forma-
do, em maior porção, os mocambos dos por negros recentemente fugidos" (Carrey,
negros que fugiram contagiados pelas idéias 1862:230) .
de liberdade pregadas por Patroni e pelos Embora existissem áreas prioritárias, as
continuadores de sua ideologia social (Reis, crônicas de viagens freqüentemente menci-
1985:87), onam a ocorrência de algum tipo de experi-
ência mocambeira mesmo nos locais mais vezesdescem em canoas e vêm ao próprio
recônditos do sertão amazônico, como no porto de 6bidos, à noite, comerciar às es-
caso do "mocambo de fugidos" que o cône- condidas; com os regatões que sobem o
go André Fernandes de Souza localizou na Trombetas eles o fazem habilmente. Diz-se
que também permutam com os holandeses
década de 1820 no rio Uariuí - afluente
da Guiana os seus produtos por outros,
do Solimões próximo à confluência do Ju-
principalmente por instrumentos de ferro e
ruá. Ao mencioná-Io, o cônego deixava armas (Apud:SaBes, 1988: 236).
transparecer que os mocambeiros articula-
Essa mesma argumentação já havia sido
vam-se com as populações nativas locais,
desenvolvida anteriormente por outro via-
afirmando que eles "se servem do gentio
jante, em 1835. Na ocasião, lembrava que
para se proverem do necessário" (Souza,
toda a organização repressiva feita por um
1848: 441).
dos presidentes da província do Pará para
Freqüentemente atribuiu-se aos quilom-
atacar um mocambo no rio Capim teve que
bos um caráter de comunidade isolada , de-
ser realizada no mais estrito sigilo, para que
senvolvida totalmente à margem da socie-
os mocambeiros não fossem "prevenidos
dade escravagista e guardando com ela ape-
pelos escravos da cidade, e sobretudo pelos
nas o receio e o temor de possíveis ações
portugueses". Como essa última menção
repressivas. Se bem que essas preocupações
causou espanto em seus interlocutores, o
efetivamente existissem, alguns indícios têm
autor apressou-se a explicar:
atestado que os quilombolas sempre manti-
veram uma interação maior com a socieda- - Sim, os lojistas daqui são todos portu-
de envolvente. O próprio fato de muitos des- gueses, e como estes homens não têm se-
ses agrupamentos serem de pleno conheci- não um deus, o lucro, a maior parte deles
negociam com os mocambos. Os negros
mento público - incluindo-se, aí, as auto-
fugidos que formam estes asilos, dão-se
ridades - já era um indicativo dessa inte-
muito à agricultura; em épocas incertas,
ração. Por outro lado, há exemplos mais sempre de noite, descem alguns deles o rio,
instigantes que atestam terem os mocam- em cujas margens têm as suas habitações,
bos da região estabelecido importantes con- vêm secretamente à cidade e vendem seus
tatos, não só por meio de ações belicosas, gêneros aos lojistas, que lhes dão em paga,
como comumente acontecia - invasão de pólvora, chumbo, fazendas, cachaça, etc.
fazendas, roubo ou mutilação de gado e Osportugueses exploram-nos tanto no que
incitamento às fugas da escravaria -, mas lhes compram como nos gêneros que lhes
também por intermédio de intercâmbios eco- dão em troca. Os negros que tem a maior
nômicos. Ao descrever os mocambos do rio pressa de retirarem, aceitam tudo e voltam
para o seu asilo (Carrey, 1862: 231).
Trombetas, Tavares Bastos pôde perceber que
os negroscultivam mandioca e o tabaco- o Em muitos casos, as comunidades mo-
que eles vendem passa pelo melhor -, co- camteJras acabavam desenvolvendo um
lhem a castanha, a salsaparrilha, etc. Às modo de vida muito próximo ao das comu-
nidades indígenas com as quais mantinham havia afirmado, em meados do século pas-
estreito contato. Se a formação daqueles sado, que "os mocambos têm sido persegui-
agrupamentos era de exclusiva iniciativa dos dos periodicamente, mas nunca destruídos.
negros, nem por isso era estranha a presen- Eu acredito que eles hão de prosperar e au-
ça de índios e de mestiços em seu interior. mentar" (Idem, p. 236). De fato, muitos
No rio Erepecuru, afluente do Trombetas, deles mantiveram-se mesmo após a aboli-
por exemplo, vivia ção, evidenciando que seus ideais de liber-
uma tribo de pretos, os Mecorô (talvez cor- dade, sendo muito mais amplos do que se
ruptela de negrô) em estado de completo supunha, incluíam também o acesso à ter-
asselvajamento e fazendo a vida dos nossos ra. Daí que a insistência na manutenção
índios (Cruls, 1955: 211) das comunidades quilombolas após a abo-
lição, nada mais seria que uma forma de
Em meados do século XIX, mesmo de-
manutenção daqueles princípios, tão ardu-
pois de toda a violenta repressão empreen-
amente conquistados.
dida para sufocar o movimento cabana, do
Em suas viagens pelos rios da região
qual os escravos negros tomaram parte, os
amazônica, realizadas já nas primeiras dé-
mocambos, já proliferados por todo o baixo
cadas do século atual, Gastão Cruls menci-
Amazonas, tornaram-se alvos prioritários
onou ter entrado em contato com várias
nas preocupações das autoridades provinci-
dessas comunidades e lembrava que quan-
ais. Em sua fala, o presidente da província
do subiu o rio Trombetas, em 1928,
do Pará, Sebastião do Rego Barros, comen-
tava com certo desânimo que a ainda encontrou remanescentes desses es-
cravos evadidos que, por meado do século
destruição dos quilombos, para cuja exis- passado, chegaram a formar populosos re-
tência muito se presta a topografia da pro- dutos à margem daquele e doutros afluen-
víncia, foi mais ou menos providenciada tes do Amazonas (Cruls, 1955: 211).
por alguns de meus antecessores, e eu, se-
guindo esse exemplo, tive como um dos Essa recuperação da presença vigorosa
meus primeiros cuidados, logo que tomei dos mocambos no Pará ajuda a afastar de-
posse da administração em novembro de finitivamente o enfoque sobre a rebeldia
1853, acabar com esse foco de crime, o or- negra na região como sendo um episódio
denei imediatamente a destruição de Maca- fortuito de uma conjuntura específica e
juba, um dos mais notáveis e próximos da momentânea, como o quadro da emanci-
capital: desgraçadamente a empresa foi mal pação política ao longo da década de 1820.
executada (Apud:Salles, 1988:234). Por outro lado, permite também que essas
Em que pese as ações reiteradas das au- práticas sejam diretamente associadas, num
toridades no sentido de extinguir aqueles plano bem mais amplo, ao conjunto das
agrupamentos, vários mocambos conti- lutas que estabeleceram contra o próprio sis-
nuaram a surgir e a ter existência efetiva. tema escravista. Outro ponto vital é que a
Quase que profeticamente, Tavares Bastos atuação negra, assim entendida, fornece
bases sólidas para que, no bojo das análises marginalidade na qual se encontravam os
de movimentos como a Cabanagem, sejam negros em geral, e os escravos em particu-
decididamente afastadas as teses que sus- lar, acabou influindo no processo de preser-
tentam uma "ação por derivação". vação - ou não-preservação - dos regis-
Cabe ainda ressaltar que o ímpeto e o tros documentais que compõem a memória
vigor com que os negros trabalharam para histórica regional. Quanto aos historiado-
a construção de sua própria liberdade an- res contemporâneos, embora muito mais
tes, durante e depois do movimento caba- atentos a essas questões, apenas começa-
na, não foi suficiente para que dessa partici- ram a sacudir a poeira das pilhas documen-
pação ficassem registros detalhados e escla- tais ainda por investigar nos arquivos locais
recedores. De fato, a condição social de e nacionais.

""I cercar-se da participação dos negros no Um primeiro problema está no fato de


~interior de um movimento como a que nas fontes carcerárias recentemente
Cabanagem é tarefa que só pode se concre- compulsadas para a análise da Cabanagem
tizar com o recurso aos indícios dispersas (Moreira Neto, 1988; Monteiro, 1995; Pi-
nas mais variadas fontes, seja através dos nheiro, 1998) o número de prisioneiros es-
breves registros da documentação que lhe cravos é relativamente baixo, entrando em
fazem alusão direta, seja a partir das entre- contradição com outros registros documen-
linhas das falas oficiais, nas quais, muitas tais que apontam uma adesão maciça dos
vezes, o tema aparece escamoteado. De qual- escravos ao movimento cabana. Uma ex-
quer forma, a tarefa de investigação arqui- plicação possível para o escamoteamento da
vística precisa ser ampliada e trazer à tona participação negra nesse conjunto de fontes
novos materiais. talvez estivesse na conjunção de alguns fa-
Uma contribuição importante pode vir tores preponderantes.
dos registros carcerários, ainda pouco ex- Em primeiro lugar, no interior de uma
plorados. Sua recente incorporação tem sociedade fortemente ancorada no estatuto
contribuído para ampliar o debate, na me- da escravidão e onde a condição jurídica de
dida em que suscitam novos questionamen- cativo servia em si como evidência mais que
tos. Mas mesmo nesses registros - que tra- suficiente para que as autoridades conde-
tam diretamente de pessoas classificadas nassem qualquer escravo denunciado de ter
como de "baixa condição social", margi- praticado um crime ou um delito, a necessi-
nalizados de todas as espécies -, a análise dade de produzir provas, registrando e do-
da presença negra é problemática e suscita cumdltando os "ilícitos" da escravaria, tal-
comentários. .vez não fosse uma condição tão necessária
para a execução e legitimação das práticas fez com que os segmentos dominantes pro-
repressivas. vinciais assumissem seus compromissos e
Em segundo lugar, em se tratando de suas oposições mediante a assimilação dos
crimes ou delitos cometidos por escravos, tra- termos identitários engendrados no calor das
dicionalmente o ônus da punição era de disputas internas da elite paraense. Na con-
responsabilidade do senhor, não chegando, tenda política, os grupos dominantes passa-
muitas vezes, ao âmbito da esfera pública, ram não só a enxergar a si e aos outros
muito embora tanto o código manuelino como "nacionais" ou "adotivos", "liberais"
- vigente no período colonial-, como o ou "conservadores", "filantropos" ou "ca-
primeiro Código Penal do Império, de 1830, ramurús", mas também buscaram sempre
buscassem mediar essa situação, chaman- atribuir à facção adversária o ônus total pe-
do a atenção do poder público para os cri- las revoltas e levantes populares - até mes-
mes com notória gravidade, como os de se- mo os dos negros - e suas conseqüências.
dição, de rebelião e de homicídio de feitores Embora do ponto de vista teórico seja
ou de senhores de escravos. possível argumentar que tais fatores tenham
Resta indagar se, no âmbito de uma so- influído para obscurecer a atuação diferen-
ciedade onde o valor de capital investido na ciada e autônoma das "massas", é forçoso
compra de uma "mercadoria" tão dispen- reconhecer que o estado atual das pesquisas
diosa, essa situação não acabaria levando não permite afirmações categóricas. De qual-
os senhores de escravo a pressionarem as quer forma, é possível que boa parte do si-
autoridades no sentido de chamar para si lêncio documental sobre a rebeldia negra
- para o âmbito da esfera privada - a no Pará esteja relacionada aos fatores aci-
tarefa de punir, pela via mais corriqueira ma apontados. É possível problematizar esse
- açoites no pelourinho -, mesmo os silêncio a partir das pistas dispersas na pró-
crimes considerados mais graves, para os pria documentação. Ao lançar mão das fon-
quais a lei prescrevia a pena capital. A aná- tes carcerárias recuperadas no Arquivo Pú-
lise de Eric Foner sobre o contexto da aboli- blico do Pará, diversos indícios apontam
ção nos Estados Unidos parece corroborar para o fato de que determinadas práticas
com esse entendimento, na medida em que repressivas das autoridades serviram efetiva-
o autor sustenta que mente para ocultar as contradições internas
sob a escravidão os limites entre a autori- do movimento cabano, mesmo se algumas
dade pública e a privada permaneciam in- vezes de forma consciente.
definidos; crimes como roubo, encarados A análise daquele conjunto de fontes
como problemas de trabalho, eram em ge- mostra, por exemplo, a pouca preocupação
ral resolvidos pelos próprios fazendeiros das autoridades em produzir provas incri-
(Foner, 1988: 100)
minatórias para o caso dos prisioneiros es-
Por fim, cabe salientar que o aguça- cravos, uma vez que dos 52 que foram arro-
mento da luta política no Pará, após 1820, lados no códice 1.131 do Arquivo Público
do Pará, aproximadamente metade trazia signa ter sido ele "um dos malvados e mais
anotações sumárias e, portanto, pouco es- influentes nesta cidade [Belém], forçando
clarecedoras. Pelo menos dez desses regis- famílias honestas, roubando e assassinan-
tros não indicavam sequer os motivos - as do conjuntamente com outros". Por tudo
"culpas" - que justificaram a prisão. A isso, entendia a autoridade encarregada do
ação repressiva frente aos escravos parece registro que o mesmo "não deve ser entre-
errática ou pelo menos incoerente, não apre- gue a seu senhor". Em que pese os argu-
sentando um padrão que indicasse, por mentos ali empregados, João Pedro foi solto
exemplo, estarem as penalidades atribuídas e entregue a seu antigo dono. Também os
em consonância com a gravidade dos cri- registros carcerários de Manoel Raimundo
mes cometidos. Com maior freqüência, en- - um mulato alfaiate de 18 anos -, apon-
contram-se referências a um tratamento di- tando a gravidade dos seus crimes e che-
ferenciado - mais violento e mais cruel gando a ordenar que ele fosse "surrado logo
- que se aplicava àquele grupo de presos. que chegue a bordo", não foram suficientes
Muitos chegaram ao navio-prisão "Defen- para evitar sua posterior soltura. Da mesma
sora" com a recomendação explícita de se- forma, escravos como Querino -"revolto-
rem surrados logo que entrassem no barco, so e condutor de armas e munições" -, Ra-
permitindo argumentar que - diferente do fael Ferreira - "que fizera muitas mortes e
tratamento dispensado aos outros prisionei- roubos" -, Manoel Abraão - "escravo
ros -, para os escravos, a pena de prisão bastante ladrão e assassino" -, entre ou-
vinha acrescida de outras mais tradicionais tros, acabaram sendo soltos independente-
do regime escravista, como a aplicação "cor- mente da gravidade de seus crimes (Códice
retiva" de açoites e palmatoadas. 1.131).
No entanto, mesmo nos casos em que Asfontes carcerárias trazem também in-
as autoridades, indicando a gravidade dos dícios que corroboram com o último dos
delitos, revelavam a intenção do poder pú- pontos arrolados, demonstrando que havia
blico de sobrepor-se à autoridade senhorial, uma intenção de atribuir culpa aos adver-
chamando para si o direito de punir um sários políticos dos grupos ligados à repres-
escravo conforme,normatizava a legislação são pelos crimes cometidos pelos escravos.
vigente, a pressão senhorial parece ter pre- Essa intenção se faz presente mediante o
valecido, já que pelo menos 20 escravos lis- escamoteamento deliberado de informações
tados no rol dos presos cabanos foram soltos contidas em alguns registros. A leitura das
e devolvidos aos seus antigos senhores. listas de prisioneiros deixa claro que uma
Esse foi o caso, por exemplo, de João referência importante em todas elas é a in-
Pedro, um mulato de 40 anos que exercia a dicação das autoridades civis ou militares
ocupação de ferreiro. A intenção de qHe efet~aram as diver,sas prisões. Esse era
condená-lo aparece manifesta ao longo de um procedimento importante porque por
todo o seu registro de prisão, no qual se con- seu intermédio os comandantes militares po-
deriam demonstrar seu efetivo empenho na O ódio das forças repressoras imperiais
repressão, seja por almej arem prestígio e pro- aos presidentes cabanos aparece estampado
moções, seja pelo desejo persistente de se apo- em diversas ocasiões ao longo de todos os
derarem dos despojos de guerra. Mesmo as- registros carcerários. Muitas vezes, a associ-
sim, em alguns registros de escravos - e ação de um determinado prisioneiro com
apenas nos de escravos! - a informação Malcher, Vinagre ou Angelim era feita com
acerca de quem elaborou a prisão - sem- um claro propósito incriminador. Assim, re-
pre precisa nos demais registros - emerge gistrar a prisão de um escravo como tendo
de forma tão confusa que é impossível não sido feita por um daqueles líderes rebeldes,
suspeitar de sua idoneidade. Nesses casos, seria - pela ótica dessa burocracia carce-
os registros indicam que tal escravo foi "pre- rária miúda - o mesmo que atestar a isen-
so por diferentes comandantes das diferen- ção e, portanto, sua inocência nas ações
tes forças exploradoras, em conseqüência mais radicais e violentas da rebelião, como
da derrota do Eduardo". foram as mortes de inúmeros senhores bran-
O que pode significar isso, afinal? Por cos por seus escravos.
que essa imprecisão, quando se sabe que Sabe-se que essa tensão interna na Ca-
todos os presos cabanos chegavam ao "De- banagem era real. Eduardo Angelim, o últi-
fensora" com uma portaria de encaminha- mo governador cabano, admitiu, anos an-
mento emitida por uma - única - auto- tes de sua morte, que nada tinha a ver com
ridade policial que indicava a autoria da os movimentos de escravos na Cabanagem,
prisão? Embora os riscos sejam grandes, é tanto assim que designou seu ilmão, Geraldo
factível sustentar que tais registros tinham Francisco Nogueira, para participar de uma
por finalidade encobrir o fato de que muitos expedição fortemente armada e dar comba-
dos cabanos - quase todos escravos ne- te aos grupos de escravos que atuavam no
gros - que foram despachados para a cor- rio Acará, a próspera região da província
veta "Defensora" ou para qualquer outro onde se concentravam as grandes fazendas
presídio da região já haviam sido presos antes e engenhos e, por conseguinte, o maior
da chegada das forças repressivas do Impé- número de negros. Tanto Malcher como An-
rio. Essas prisões deviam-se, de fato, ao em- gelim assumiram, uma vez no poder, sua
penho repressivo dos governantes cabanos condição de proprietários - até mesmo de
que, por sua vinculação - direta, Félix escravos -, e reprimiram as rebeliões ne-
Malcher e Eduardo Angelim, ou indireta, gras com virulência incomum. Angelim, por
Francisco Vinagre - aos grupos dominan- exemplo, negava enfaticamente sua parti-
tes, em mais de uma oportunidade mostra- cipação nos atos do "populacho" e lembra-
ram não ter a menor sensibilidade para com va aos que o acusavam que jamais transi-
as demandas provenientes do populacho, e gira com as ações insurgentes da "plebe",
muito menos para com os desejos de eman- havendo mesmo recorrido à violenta repres-
cipação dos negros escravos do Pará. são. Por fim, lembrava que, a seu mando,
foi fuzilado em frente ao palácio do gover- jogo ao longo de toda a revolta, questio-
no o célebre Joaquim Antônio, oficial da nando assim seu caráter unívoco. Pelo con-
milícia rebelde, que tinha uma força de trário, tais antagonismos foram sempre ig-
mais de 500 homens e proclamava uma norados ou sublimados numa infinidade
liberdade a seu jeito, incluída a de escravos
de interpretações que, priorizando o campo
em geral. Isso depois de ser provado o seu
da luta institucional pelo poder, entendiam
crime em conselho de guerra. Foi fuzilado
as lutas populares como "acidentes de per-
em frente ao palácio do governo um preto,
chefe de insurreição do rio Guamá logo
curso", meros "desvios" num processo
que chegou à capital. Foi morto à surra em maior, cujos objetivos eram então identifi-
frente ao Palácio do governo um mulato, cados seja na afirmação da nacionalidade,
escravo do português Nogueira, dono da seja na contradição entre centro - a Corte
fábrica de urucú em Igarapé-mirim, por - e periferia - a província. Como sugere
ter traído a seu senhor e lavado as mãos em José Carlos Barreiro, dentro dessa perspecti-
seu sangue inocente. [...] Um célebre Pa- va historiográfica, o critério
triota por tal conhecido e da seita de Joa-
utilizado para valorizar a ação política dos
quim Antônio, foi morto em Muaná. In-
movimentos populares é institucional e está
surgindo-se os escravos no Acará e noutros
ligado à capacidade ou não das camadas
distritos, ordenei a meu irmão Geraldo Fran-
populares de assaltarem ou gerirem o Es-
cisco Nogueira para que os fizesse conter
tado (Barreiro: 198911990: 211).
até entrarem na obediência e ordem. Em
atos de resistência foram mortos alguns, e Quando se afirma que as autoridades
outros surrados e entregues a seus senho- legais contribuíram para o fortalecimento
res [...] (Apud: Raiol, 1969: 934). dessas interpretações, é porque elas também
As severas penalidades impostas por An- entendiam o movimento cabano a partir
gelim às lideranças negras da Cabanagem dessa mesma ótica, ou seja, como uma
indicavam não só o fosso insuperável que afronta ao poder institucional- à Corte, à
dividia esses dois grupos cabanos - pro- Regência - por parte de uma província
prietários brancos versus escravos -, mas insubmissa. As autoridades legais despacha-
também demonstra a intenção de não tran- das para o Pará não produziram de imedi-
sigir com as demandas impostas pela escrava- ato uma visão clara sobre os contingentes
ria. Asexecuções públicas realizadas manti- rebelados e o fato dos proprietários dissiden-
nham intocada a lógica escravocrata de tes do Acará terem se apropriado dos cargos
demover ou desmobilizar a resistência ne- públicos "em nome do povo paraense" a
gra por meio do terror repressivo dos bran- quem, de resto, afirmavam representar, re-
cos. forçava as percepções uniformizadoras. Daí
O que mais chama a atenção, no en- que os registros carcerários, produzidos a
tanto, é o fato desses antagonismos não te- partir do campo de interesses dos grupos
rem suscitado interpretações que apontas- dominantes anteriormente vitimados pela
sem para a pluralidade de demandas em revolta, tentassem incriminar - de forma
consciente ou não - as lideranças bran- intenção de não registrar os nomes daque-
cas do movimento, imputando-lhes a culpa las lideranças como sendo os verdadeiros
pela totalidade dos crimes cometidos na re- responsáveis pelas prisões de diversos escra-
gião. Visto por esse ângulo, faz sentido a vos rebelados.

"""I atuação dos contingentes negros e es- ticular de cativos, uma propensão à rebel-
Í\..cravos exemplifica bem as especifici- dia, a baixa freqüência com que eles apare-
dades das demandas incorporadas à luta cem no rol dos prisioneiros - contrastan-
.pelos rebelados na Cabanagem, já que, neste do com outras fontes documentais - não
caso, as ações praticadas durante arebelião deixa de ser intrigante.
só eventualmente eram direcionadas para Um ponto que é necessário enfatizar por
alvos que representavam as instâncias insti- ser bastante esclarecedor dessa aparente con-
tucionais de poder. O que a ampla gama tradição remete-nos de volta ao argumento
documental sugere é que, com muita fre- de que no momento em que as forças da
qüência, os negros escravos atacaram in- legalidade chegaram ao Pará, os levantes
distintamente os grupos senhoriais paraen- da escravaria já estavam sendo sufocados
ses e seus representantes, fossem eles portu- num movimento de repressão interna, leva-
gueses ou brasileiros. Mais ainda: as rebeliões do a efeito pelas forças milicianas dos prin-
negras mantiveram-se sempre autônomas no cipais proprietários brancos que, igualmen-
interior da Cabanagem, não compactuan- te rebelados, estavam de posse do ~aparato
'..f--)-..
~'J'.J~J~ ..•••.""••,•...
~,-,_~_ -- ..•

do com os apelos reformistas que estavam estatal na província.


na base dos discursos e das práticas das lide- A contradição entre as lides cabanas e os
ranças brancas do movimento. Pelo contrário, escravos eram, no mais das vezes, explícitas.
as ações de rebeldia dos negros paraenses vol- Mesmo em um grande agrupamento como
taram-se com a mesma intensidade para o o de Ecuipiranga -localizado próximo à
combate contra as lides' rebeldes do movi- foz do rio Tapajós -, onde a maioria dos
mento cabana que congregavam em seus rebeldes era tida como constituída por mes-
quadros uma parte importante de negociantes tiços e até mes:vo negros, ~.c:OP:tra~içãocom,
e de proprietários - brancos - dissidentes. os grupGS aut&'nornos da escravaria se ma-
As fontes carcerárias do Arquivo Público nifestava. Em ofício enviado pelos coman-
do Pará reforçam esses entendimentos. De dantes cabanas de Ecuipiranga à Câmara
fato, os escravos negros não são muitos en- da vila de Tapajós - Santarém-PA -, os
tre os presos do "Defensora" e, levando-se rebeldes buscam a permissão para ali entra-
em consideração que esses contingentes de- rem armados, utilizando o argumento de
monstraram sempre, por sua condição par- uma possível invasão de escravos:
E para fortificar essa infeliz Comarca mar- fruir a segurança propiciada pela floresta,
cham os sobreditos comandantes com o nú- num contexto em que as forças repressivas
mero de cinqüenta praças armadas, pois não dispunham de poder suficiente sequer
que a comarca necessita bem pelas denún-
para garantir o controle institucional na
cias que ao nosso conhecimento têm che-
capital e nas principais vilas da província.
gado, respectivo a escravatura amocamba-
Por outro lado, as "culpas" arroladas
da que ameaça a vila em querer apossar-se
da mesma, pois deve haver todo o cuidado
nos registros carcerários do "Defensora", en-
com grande vigilância e aptidão a esse res- riquecem sobremaneira a compreensão da
peito (Apud: Raiol, 1969: 1035) atuação escrava no interior da Cabanagem,
ao permitir a percepção de que aqueles grupos
Há uma passagem na obra de Emile
apresentaram no interior da luta uma plu-
Carrey que reforça essa contradição, ao su-
ralidade de ações de rebeldia que mescla-
gerir que um dos grupos de cabanos por ele
vam, muitas vezes confusamente, práticas
descrito possuía escravos, que eram empre-
tradicionalmente entendidas como de resis-
gados como remeiros das suas canoas. "Es-
tência cotidiana com atos mais elaborados
cravos, remem para 19arapé-mirim", teria
do ponto de vista organizacional.
dito um dos cabanos, e o autor completa a
Uma primeira observação, a partir dos
informação dizendo: "Os negros remadores registros, deixa claro, por exemplo, que os
dos cabanos fizeram voltar as duas canoas, segmentos populares do Pará tinham uma
que logo tomaram o caminho da vila" (Car- leitura abrangente do que estava aconte-
rey, 1862: 308). cendo não só no âmbito provincial, mas
De qualquer forma, dada a constatação também no resto do país. Asidéias e as notí-
da proliferação e do fortalecimento de al- cias fluíam com extrema rapidez, suplan-
guns mocambos paraenses durante e de- tando o tão propalado isolamento geográfi-
pois da Cabanagem, não seria incorreto afir~ co. Quando Victorino Jozé, um lavrador ma-
mar que os levantes da escravaria no Pará meluco de 30 anos, foi preso pelas forças
não foram de todo derrotados, nem por legais, essas informaram que ele andava pelo
Malcher, Vinagre ou Angelim, nem pelos rio Itapicurú "seduzindo a escravaria, di-
presidentes legais que lhes sucederam. De zendo que na Bahia já todos os escravos
fato, ao longo dos anos iniciais da revolta, estavam forros", numa clara alusão à rebe-
alguns grupos rebeldes chegaram a contar lião de 1835, quando muitos escravos Malês
centenas de adeptos (Andrade, 1995; Salles, se insurgiram, provocando a morte de di-
1988; Funes, 1995), mas a tendência foi no versos brancos e atraindo sobre si violenta
sentido da diminuição gradativa da partici- repressão.
pação desses grupos. Essa diminuição da Outro pont~ que salta aos olhos, a partir
atuação coletivamente organizada por es- daqueles registros, diz respeito ao forte pro-
cravos em Belém, após 1836, pode simples- pagandismo que a luta antiescravista expe-
mente ter significado uma opção por usu- rimentou no Pará, a ele lançando-se, além
dos próprios escravos, indivíduos empobre- Vejo-me portanto forçado a comunicar a
cidos ou impelidos a uma condição de fran- VossaSenhoria que sepretende envolvernos
ca miséria que, já tendo tudo perdido, pro- movimentos anárquicos os pretos com o
especioso argumento de que, finda a luta,
jetavam numa subversão total da ordem a
serão todos livres (Apud:Raiol, 1969:819).
única saída para os males vigentes. Muitas
vezes, foi possível identificar que esses indi- Os motivos declarados nas "culpas" dos
víduos partilhavam com os escravos algum presos escravos acabam convertendo-se em
tipo de vínculo, fosse sangüíneo, étnico ou pedra de toque para uma reavaliação do
de origem sócio-econômica. sentido geral da Cabanagem, na medida
em que eles apontam para o reconhecimento
O mestiço João Dias, acusado de não
de que as demandas mais corriqueiras e
possuir ofício ou profissão, foi preso porque
cotidianas dos escravos acabavam produ-
andava no rio Capim "persuadindo os es-
zindo reflexos impactantes na atuação in-
cravos .que deveriam matar seus senhores
surgente desses grupos.
para ficarem libertos". Já Leandro Fernan-
Em apenas três registros aparecem indí-
des, um lavrador cafuz de idade avançada,
cios de que os prisioneiros escravos manti-
teve sua prisão decretada por "tramar na
vessem algum tipo de articulação com a luta
mesma vila [Cametá] uma insurreição de
pelo controle das instituições políticas pro-
escravos". Seus registros informam ainda
vinciais encaminhada pelos proprietários
que, aliciados por Leandro, alguns de seus brancos do rio Acará. Nos três casos, as vin-
parentes, escravos do major Luiz de Souza culações apontam sempre para modestas
Coelho, acabaram assassinando seu senhor. participações, já que não indicam a ocupa-
Custódio Miguel Ângelo, um índio pescador ção de postos de liderança importantes den-
do rio Una, foi preso porque, tendo invadi- tro do movimento liderado por Malcher, Vi-
do a fazenda do coronel Araújo Rozo, pas- nagre e Angelim. A simples presença de es-
sou a "assediar os escravos do mesmo coro- cravos na órbita dos presidentes rebeldes não
nel para os acompanhar", tentando ainda chega a comprometer o caráter escravocra-
"assassinar o feitor e dois pretos da referida ta da proposta por eles encaminhada, na
fazenda por não quererem o acompanhar" medida em que tais participações, além de
(Códice 1.131). numericamente insignificantes, pautavam-
O vigor do propagandismo antiescravis- se, quase sempre, por uma atitude de servi-
ta aparece também reforçado na documen- lismo que de forma alguma podia ser en-
tação oficial da repressão. Em 27 de julho tendida como sendo a tônica entre os cati-
de 1835, o vice-cônsul português em Belém vos.
expediu ofício ao comandante de uma cor- Em outras palavras, a articulação sub-
veta portuguesa demonstrando sua preocu- missa de alguns escravos no interior de um
pação com a pressão das idéias de liberdade movimento reformista que enfaticamente
entre os escravos: lhes negava o direito à liberdade, não deixa
de ser um reflexo de atitudes conformistas que zida com que ocorria, agia como importan-
ocorriam, à época, na própria sociedade pa- te freio às pretensões insurgentes.
raense. Como acertadamente tem enfatiza- Embora trabalhos específicos sobre os
do uma vertente contemporânea da histo- mecanismos da alforria das populações es-
riografia brasileira sobre o escravismo, é pre- cravas no Pará sejam inexistentes, até o pre-
ciso reconhecer sente, o recurso à literatura de viagens per-
as limitações dos estudos que vêem aescra- mite pinçar exemplos que atestam essa rela-
vidão como um sistema absolutamente rí- ção entre a alforria e a "boa conduta" dos
gido, quase um campo de concentração, cativos. Um desses exemplos aparece na
em que o escravo aparece como vítima igual- narrativa de Alfred Russel Wallace, de 1848.
mente absoluta; ou, ao contrário, dos estu- Nela, o autor fala da relação de fidelidade e
dos que enfatizam o heroísmo épico da re- recompensas entre o negro Luís e seu se-
beldia. Os escravos rião foram vítimas nem nhor, o também naturalista austríaco Nat-
heróis o tempo todo, situando-se, na sua terer, durante os 17 anos de permanência
maioria e a maior parte do tempo, numa
deste no Pará. No dizer de Wallace, Luís "fora
zona de indefinição entre um pólo e outro
sempre bem tratado por ele, e nunca deixa-
(Reis e Silva, 1989: 7).
va de receber uma recompensa quando por-
Dessa perspectiva, é legítimo Sjlpor que ventura lhe levava um novo pássaro". Nat-
alguns escravos tenham dado ênfase às ati- terer o havia comprado no Rio, "quando
tudes condescendentes e submissas como Luís era um garoto, libertando-o logo de-
parte de suas estratégias individuais de so- pois de ter deixado o Pará". O resultado des-
brevivência dentro de um sistema que lhes sa relação "cordial", terminou sendo favorá-
era francamente desfavorável. Se a acomo- vel ao ex-escravo, que tornou-se "proprietá-
dação não foi certamente a regra da atua- rio de um sítio e conseguira economizar o
ção dos cativos, seja no Pará, seja em outras suficiente para comprar um casal de escra-
regiões escravistas, isso não significa que ela vos" (Wallace, 1979: 79).
não tenha existido de fato. Como sustentam Convém salientar que essa atitude da
os autores citados, o que se quer enfatizar é parte dos senhores. não era, todavia, a mais
que "ao lado da sempre presente violência, comum. Aalforria acontecia muitas vezesquan-
havia um espaço social que se tecia tanto de do os escravos, já velhos e enfraquecidos, aca-
barganhas quanto de conflitos" (Idem, p. bavam tornando-se um peso para o senhor.
7). Nesse particular, é sabido que alguns Carrey recolheu a fala de dois negros que es-
senhores acabavam alforriando seus escra- tavam presos na cadeia do Pará, num mo-
vos - freqüentemente por meio de seus mento em que esta fora invadida e todos os
testamentos - como "recompensa" pela presos libertados. Os dois condenados recu-
dedicação e pela fidelidade demonstrada ao saram-se a sair com o seguinte argumento:
longo dos anos de cativeiro, e que esse tipo Somos muito velhos ... Os nossos senhores
de ação, independente da freqüência redu- forraram-nos porque já não podíamos tra-
balha[ Estamos reduzidos a mendigar para para este fim" (Carrey, 1862:355). Nesses
viver. Antes, queremos ficar aqui; ao menos casos, para os Mundurucú, assumir a ani-
temos farinha e peixe salgado! (Carrey, 1862 mosidade frente aos negros rebelados signi-
178). ficava uma estratégia coerente - no con-
É de supor que relações de submissão texto da época - de manutenção da "li-
como essa - em que a fidelidade pudesse berdade" e da "autonomia". Essa atitude
ser recompensada pelo abrandamento da belicosa podia ser dirigida até mesmo para
pressão cotidiana e a concessão de peque- outros grupos indígenas, principalmente
nas "regalias" e "favores" - tenham sido contra aqueles cujas animosidades remon-
as responsáveis pelo afastamento de alguns tavam ao passado pré-colonial. O próprio
cativos do turbilhão da revolta; mas, em con- Carrey referiu-se aos Mura como vítimas
trapartida, essa postura também acabava dessa perseguição, lembrando que "todas
atraindo sobre esses escravos a fúria dos que as outras nações indígenas os tratam como
pugnavam pela revolta, passando a párias". O viajante buscou ainda externar
identificá-Ios como colaboradores da tira- essa contradição recuperando a fala de um
nia empreendida pelos proprietários escra- Munduruku - que servia de prático na
vocratas. embarcação dos franceses -, que afirma-
É importante que se reconheça que no va: "Muras! Nação de mulheres! Um Mun-
Pará havia uma relação de animosidade duruku faz fugir uma tribo de muras" (Car-
entre alguns grupos étnicos e que, muitas rey, 1862: 85).
vezes, essa animosidade era fomentada pe- De qualquer forma, em aproximada-
los papéis sociais desempenhados, que co- mente uma dezena de registros, são os pró-
locavam os negros sob a pressão de outros prios escravos que aparecem como vítimas
grupos étnicos. Muitos "pardos" livres, por dos grupos rebeldes, sofrendo agressões e
exemplo, ao assumirem a condição de fei- homicídios. Nos casos de homicídios e agres-
tores e capatazes, freqüentemente buscavam sões - espancamentos, açoites e palma-
reforçar sua diferenciação frente aos escra- toadas - contra os escravos, o ataque era
vos por meio de atitudes hostis e truculen- freqüentemente desferido como decorrência
tas. Da mesma forma, certos grupos indíge- tanto da recusa das vítimas em aderirem
nas, ao aceitarem o papel de "aliados" dos aos sublevados como de uma possível iden-
brancos, acabavam contribuindo nas tare- tificação delas com a figura de seus senho-
fas de perseguição e ataque aos mocambei- res. Parece ser esse o caso do cafuz Christino
ros. Um contemporâneo da Cabanagem ]ozé Brandão, que "no tempo do governo
lembrou que "Os Mundurucú, têm, de cer- intruso" havia passado "todas as escravas
to modo, há muitos anos, o monopólio das do barão de ]aguaralY a chicote e palmató-
caçadas de negros fugidos:' e que na época ria" (Códice 1.131).
da rebelião "todos os dos arredores do Pará A dificuldade de compreensão de uma
[leia-se Belém] tinham sido convocados oposição tão violenta entre escravos geral-
mente parte do pressuposto equivocado de postos e agregados, aqueles indivíduos que
que o cativeiro, sintetizando uma vivência guardavam com ele algum tipo de vínculo
comum de sujeição e opressão, necessaria- pessoal. Nesse contexto, punir o feitor, a es-
mente irmanava todos os escravos na luta posa, os filhos ou filhas, seria uma forma
contra o inimigo comum. Na verdade, como indireta do escravo punir o próprio senhor,
sugerem João José Reis e Eduardo Silva, não alvo maior de suas ações.
se pode pensar os escravos ão foi à toa que a decretação da Lei nº
como um bloco homogêneo apenas por se- 4, de 10 de junho de 1835 - evidente rea-
rem escravos. As rivalidades africanas, as ção imperial à mortandade de senhores por
diferenças de origem, língua e religião- seus escravos empreendidas tanto pelos Ma-
tudo que os dividia não podia ser apagado lês na Bahia como pelos cabanos no Pará
pelo simples fato de viverem um calvário - buscava proteger não só a figura do se-
comum (Reis e Silva, 1989: 20) nhor, mas também os seus agregados, por
A opressão racial, engendrando anseios meio da adoção da pena capital para os
de vingança franca diante de seus antigos escravos homicidas.
senhores - atos que, como se viu, Angelim A insistência com que aparecem nos re-
deplorava e punia com rigor -, fazia com gistros carcerários vítimas brancas do sexo
que os escravos cabanos, muitas vezes, bus- feminino, em geral esposas dos proprietári-
cassem inverter, na prática, o sentido adver- os rurais, reforça a idéia de que as deman-
so dessa relação, submetendo seus antigos das que os escravos traziam para o interior
amos a tratamentos similares aos que estavam da luta estavam muito mais ligadas à vida
comumente habituados a sofrer. No caso de particular do que à vida pública da provín-
Manuel Raimundo, essa intenção estava cia. Esses atos são inequivocamente frutos
manifesta no "insulto" por ele realizado, que de contradições intramuros, de tensões sur-
foi o de "deitar-se com as mulatas escravas di- das que a subversão total da ordem institu-
ante de sua própria senhora". Foi certamen- cional e a correlata fragilização do controle
te isso - e não sua ligação com Angelim repressivo dos grupos dominantes provinci-
- que lhe valeu a penalidade adicional de ais tornou possível na dimensão violenta que
ser "surrado logo que chegue a bordo" (Có- então se verificou.
dice 1.131). A esmagadora maioria dos registros car-
Há registros que sugerem ter esse tipo de cerários do "Defensora" que trazem as ano-
atitude se voltado também para vítimas bran- tações das culpas dos escravos indica que o
cas, em geral pessoas identificadas pelos in- alvo dessa ação foi dirigido, prioritariamen-
surgentes com o que Cado Ginzburg cha- te, contra indivíduos brancos, em geral con-
mou - em um outro contexto - "alvo tra a pessoa de seus antigos senhores ou
secundário" (Ginzburg, 1991: 155). üuseja, contra aquelas que estavam ligadas a eles
na impossibilidade da ação rebelde recair direta ou indiretamente, muitas vezes assu-
diretamente sobre o senhor, atingia seus pre- mindo sua representação. Entre os 52 es-
cravos listados no Códice 1.131, há pelo Do ponto de vista da participação coleti-
menos 22 registros de homicídios e outros va dos plantéis de escravos da província,
seis de agressões físicas, sempre contra os convém lembrar que ela já estava adquirin-
alvos acima indicados. do maior vigor com a crescente quebra da
No caso específico dos alvos femininos, hegemonia senhorial e, desde os primeiros
o tipo de viorncia empregado difere em es- anos da década de 1830, as fugas haviam
sência daquele voltado para os próprios se- aumentado para níveis alarmantes, tanto que
nhores e capatazes. Enquanto contra esses a fOlmação de mocambos começou a proli-
o homicídio é um recurso corriqueiro, no ferar e fortalecer-se com elas. Uma vez con-
caso das mulheres são as mais diferentes figurado o estado de insurgência da provín-
formas de agressão física que se materiali- cia com o assassinato das autoridades legais
_zam, produzindo ações de uma violência em 1835, a pressão desses grupos se fez mais
quase ritualizada, por meio da qual os cati- intensa, organizando-se inúmeros saques e pi-
vos operavam simbolicamente uma inver- lhagens às fazendas, em incursões que visa-
são radical dos valores vigentes. Nesse parti- vam também a libertação da escravaria e,
cular, chama a atenção o registro de João muitas vezes, a punição de seus antigos al-
Batista, um escravo de apenas doze anos de gozes, senhores e capatazes.
idade, preso no rio Acará por "ser encarre- Grupos armados com centenas de adep-
gado de dar bofetadas nas senhoras bran- tos passaram a atuar à luz do dia nos arre-
cas" (Códice 1.131). dores da capital reivindicando mudanças
Essas ações mais propriamente cotidia- radicais na estrutura social paraense, sendo a
nas e individualizadas da rebeldia escrava principal delas a decretação de uma alforria
de forma alguma mostravam-se antagôni- geral para os escravos da província. Como sa-
cas com a emergência de movimentos rebeldes lientou um de seus melhores analistas, essas
de maior envergadura entre os cativos. Lon- atitudes demonstram que o negro do Pará foi
ge disso, o que ocorria entre eles era uma além da "tradicional e simplista" rebeldia que
profunda interação, pois foi exatamente a par- o impelia sempre à fuga e à sabotagem,
tir de manifestações pequenas e aparentemen- chegando a adotar "formas superiores de luta
te isoladas como as relatadas anteriormente a partir do momento em que identificou o
que muitos escravos passaram a buscar um conceito de liberdade" (Salles, 1988: 265).
entrosamento com os grupos já rebelados, prin- Os registros compulsados por Domin-
cipalmente com os grupos baseados nos gos Raiol permitiram-lhe assegurar que essa
mocambos próximos às áreas produtivas. atuação - muitas vezes materializada em
Por outro lado, os levantes coletivos e mais pequenos espaços, no interior de uma única
bem organizados da escravaria motivavam unidade produtiva, por exemplo - acabava
constantemente as ações isoladas de resistên- por sustentar propostas mais amplas e mais
cia e rebeldia, principalmente quando esses complexas, que visavam ainda o controle do
ataques coletivos logravam êxito. poder institucionalna região. Em sua obra,
ele pôde registrar alguns exemplos dessa olentamente postas de lado, sufocadas e fi-
ação. Primeiro, quando o negro liberto, cha- nalmente esquecidas como ação·menor de
mado por alcunha "Patriota", se fez líder de "turbulentos" e "inconseqüentes".
um desses grupos e, tendo aglutinando mais Os despojos das principais lideranças
de 400 fugidos, chegou a pleitear sua indica- "nativistas" do Pará - Batista Campos,
ção para o cargo de presidente da província Vinagre e Angelim - jazem hoje serena-
no mesmo instante em que defendia o rompi- mente adormecidos sob um memorial pro-
mento com o Império e a criação de uma re- jetado por Oscar Niemeyer. Suas memórias,
pública no norte do país. Depois, quando o agora límpidas e inabaláveis, pululam nos
"preto" João do Espírito Santo, um cabano livros de história dos alunos de todas as séri-
mais conhecido como Diamante, "reunindo es das escolas públicas de Belém. Seus no-
os seus comparsas, organizou clandestina- mes, o são também de praças, ruas e esco-
mente um corpo que denominou de guerri- las. Ancorados sobre seus ombros, vários es-
lheiros" e chegou a elaborar um plano para tudiosos buscaram reabilitar um evento ex-
assumir o controle do poder na província, tremamente traumático para o conjunto da
derrubando o então presidente ... o cabano população da Amazônia, .lendo "a contra-
Eduardo Angelim! (Raiol, 1969: 935). pelo" aqueles acontecimentos.
Patriota e Diamante, como tantos ou- Em que pese os enormes avanços havi-
tros cabanas negros do Pará, continuam dos até aqui no interior da produção histo-
"esquecidos" nos estudos da Cabanagem riográfica, a tão desejada "reabilitação" da
porque até hoje parece ter bastado, para os Cabanagem dificilmente será concluída sem
historiadores, entendê-Ias como partícipes que os corpos de gente como Patriota e Dia-
menores num jogo em que as melhores car- mante sejam retirados da vala comum na
tas e os grandes lances ficavam sempre nas qual a "historiografia bem comportada" os
mãos de "gente honrada" como Malcher relegou, como que para servir de esteira, por
ou Angelim, os "bravos patriotas" que, iro- onde "todos os que até hoje venceram" con-
nicamente, tudo fizeram para que as mais tinuam seguindo em seu "cortejo triunfal"
importantes demandas populares fossem vi- (Benjamim, 1986: 225).

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