SENSIBILIDADE DO MÉTODO DOS ELEMENTOS
FINITOS PARA CÁLCULO DE CAPACITÂNCIAS
PARASITAS DE MOTORES DE INDUÇÃO
Gabriel Alves Mendonça, Braz J. Cardoso Filho
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte, Brasil
gforti@gmail.com
Resumo—Este trabalho apresenta uma revisão minuciosa de
diferentes metodologias propostas na literatura para a
determinação dos parâmetros de máquinas elétricas,
especificamente aqueles voltados à sua representação em altas
frequências. A partir dos dados de projeto de um motor de
indução, tais parâmetros são determinados pelo método dos
elementos finitos, acompanhados de uma discussão acerca das
aproximações comumente adotadas quando da utilização deste
método. Para tal, é realizado um estudo de sensibilidade, onde são
avaliados os efeitos de diferentes configurações para a geometria,
variações nos parâmetros eletromagnéticos dos materiais e
simplificações empregadas nos problemas resolvidos pelo método
dos elementos finitos com objetivo de reduzir o tempo de
processamento. Por fim, os valores obtidos numericamente são
comparados com soluções analíticas e, então, discutidas as
vantagens e limitações inerentes ao uso do método dos elementos
finitos para a determinação dos parâmetros de máquinas elétricas
adotados em estudos que abrangem uma ampla faixa de
frequência.
I. INTRODUÇÃO
O interesse na investigação das correntes que circulam em
rolamentos de motores elétricos vem de longa data, motivado
pelos prejuízos decorrentes dos danos provocados pelas
mesmas [1] – [6]. Contudo, a disseminação de acionamentos a
velocidade variável baseados em inversores com modulação
por largura de pulso (PWM, sigla em inglês) trouxe, além deste
problema, uma nova gama de fenômenos indesejáveis,
maléficos não apenas ao motor, mas também ao sistema elétrico
no qual o mesmo encontra-se instalado, do ponto de vista de
interferência eletromagnética (EMI, sigla em inglês) [7] – [10].
A solução do problema parte do entendimento da natureza
das correntes envolvidas, onde devem ser analisadas não apenas
a sua fonte, mas, sobretudo, os caminhos dessas correntes
parasitas e os mecanismos que as regem. Em acionamentos por
inversores que sintetizam a tensão de saída utilizando
modulação PWM, elevadíssimas variações de tensão, tanto de
modo comum como de modo diferencial, são aplicadas nas
Helder de Paula
Departamento de Engenharia Elétrica
Universidade Federal de Uberlândia
Uberlândia, Brasil
diversas partes e equipamentos do sistema elétrico, provocando
a circulação de correntes de alta frequência, não previstas, em
todos os acoplamentos capacitivos distribuídos presentes no
mesmo [1].
No que diz respeito à avaliação do problema, o ponto de
partida é a correta representação dos componentes envolvidos,
apropriada para fenômenos transitórios e de alta frequência.
Desta forma, modelos para cabos devem representar os
fenômenos de propagação e reflexão de onda, variação dos
parâmetros com a frequência e os modos diferencial e comum
[11]. Do mesmo modo, o modelo adotado para os motores deve
incorporar a variação da sua impedância, também de modo
diferencial e comum, com a frequência, cujo comportamento
advém, principalmente, da interação da sua indutância de
dispersão com suas diversas capacitâncias intrínsecas [12].
Muitos trabalhos propõem a definição desse modelo para
máquinas a partir de medições entre os terminais do motor,
onde são caracterizadas as impedâncias de modo diferencial e
comum em uma extensa faixa de frequência, geralmente de 1
kHz a 10 MHz [12] – [15]. Contudo, a realização destes
experimentos requer disponibilidade da máquina, inexistente na
fase de projeto do acionamento, além de equipamentos de
medição adequados. Assim, uma proposta alternativa parte de
soluções numéricas para determinação dos parâmetros,
permitindo assim caracterizar o motor elétrico mesmo em
estágios preliminares do projeto [16].
O uso do Método dos Elementos Finitos (FEM, sigla em
inglês) já foi abordado de forma extensa [16] – [23], cuja
modelagem parte da geometria detalhada do motor elétrico.
Posteriormente, os parâmetros do circuito equivalente são
calculados, sendo os resultados obtidos comparados com
medições realizadas. Contudo, poucos trabalhos tratam das
limitações inerentes ao FEM, explicitando como as mesmas
podem afetar o resultado.
Neste contexto, o presente trabalho propõe, a partir de um
estudo de sensibilidade, avaliar a metodologia baseada em
FEM. Para tanto, o texto é organizado da seguinte forma:
primeiramente, na Seção 2, é realizada uma breve revisão
bibliográfica do tema. Em seguida, a seção 3 apresenta a
metodologia empregada, sendo os resultados obtidos
apresentados e discutidos na seção 4. Por fim, as principais
conclusões e propostas para trabalhos futuros são tratados na
seção 5.
II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Acionamentos de motores de indução a velocidade variável
utilizando inversores PWM são largamente adotados na
indústria por diversos fatores. Contudo, existem efeitos
secundários que devem ser levados em consideração, pois
degradam a vida útil do motor elétrico, além de interferir no
funcionamento de outros equipamentos sensíveis [1].
A definição do fenômeno de interesse irá determinar o
modelo do motor de indução mais apropriado a ser adotado. Por
exemplo, problemas de interferência eletromagnética e de
correntes nos rolamentos são caracterizados principalmente
pelo circuito equivalente de modo comum, enquanto
sobretensões nos terminais são associados ao circuito
equivalente de modo diferencial [11].
A modelagem proposta por Heidler et al. [17] foi
desenvolvida com intuito de avaliar os efeitos de interferência
e compatibilidade eletromagnética, sendo o modelo por fase
ilustrado na Figura 1. Neste trabalho, todos os parâmetros
apresentados na Figura 1 são obtidos a partir de uma simulação
em duas dimensões pelo software FEMM (Finite Element
Method Magnetics), programa gratuito para a simulação de
problemas eletromagnéticos em duas dimensões. A exceção
fica apenas para a indutância associada à conexão do cabo com
o motor, simbolizada por 𝐿𝑐 , e a parcela da capacitância do
enrolamento para terra, 𝐶𝑔 , relativa ao acoplamento entre o
enrolamento de estator e o rotor. Neste caso, é feita uma
correção analítica para contabilizar a cabeça da bobina.
Figura 1. Modelo do motor de indução, por fase, para altas frequências,
proposto por Heidler et al. [17].
Para a análise dos parâmetros a partir do FEMM, o
procedimento proposto em [17] é um pouco mais dispendioso
por requerer um grau de detalhamento maior do motor, como a
representação de todos os condutores da bobina. Ele modela os
condutores em paralelo dos agrupamentos a partir de circuitos
distintos e calcula a impedância equivalente do arranjo a
posteriori. Além disso, para caracterizar a variação da
indutância própria dos condutores do estator com a frequência,
a permeabilidade magnética do núcleo é caracterizada como
linear, mas variando com a frequência. Tal permeabilidade
equivalente variável ocorre por efeito das correntes parasitas
nas lâminas do estator, que confinam campo magnético na
fronteira da lâmina com o isolante, sendo calculada por (1). Os
termos indicados nessa equação serão revisitados na seção 3.
2 𝑑𝑠ℎ 2 𝑑𝑠ℎ
𝛿 √𝑠𝑒𝑛ℎ ( 𝛿 ) + 𝑠𝑒𝑛 ( 𝛿 )
|𝜇𝑒𝑓𝑓 | = √2𝜇𝑑𝑖𝑓𝑓 (1)
𝑑𝑠ℎ 𝑑 𝑑
𝑐𝑜𝑠ℎ ( 𝑠ℎ ) + 𝑐𝑜𝑠 ( 𝑠ℎ )
𝛿 𝛿
Assim, são obtidos valores em função da frequência para a
indutância e resistência e, para representar tal variação,
emprega-se elementos R-L, dispostos em cascata e definidos de
forma a acomodar a dependência das propriedades elétricas dos
condutores com a frequência.
A partir do método proposto, o cálculo das capacitâncias
pelo FEMM é bem simples. Após estabelecida a geometria e
definição das permissividades dos isolantes, basta definir as
condições de contorno. Para as superfícies dos condutores, são
definidas condições de contorno de Dirichlet ou propriedades
de condutores, dependendo da capacitância de interesse. O pós-
processamento do FEMM fornece a carga armazenada nos
circuitos definidos, permitindo, então, o cálculo da capacitância
através de (2). Já a Tabela 1 mostra como foram definidos os
contornos, conforme a capacitância a ser calculada, onde Cws
representa o acoplamento capacitivo entre os enrolamentos do
estator e a carcaça, Cwr refere-se à capacitância entre os
enrolamentos do estator e o rotor e, por fim, Csr representa o
acoplamento capacitivo entre a carcaça da máquina e o rotor.
𝑄2
𝐶= (2)
∆𝑉
TABELA I. CONDIÇÕES DE CONTORNO E PROPRIEDADES DE
CONDUTORES PARA O CÁLCULO DE CAPACITÂNCIAS [2].
Propriedade Propriedade
Capacitância Condutor 1 Condutor 2
Contorno
V = 0V
V1 = 1V V2 = 0V
𝐶𝑤𝑠 Enrolamento Estator Rotor
𝐶𝑤𝑟 Enrolamento Rotor Estator
Por fim, na metodologia apresentada em [17], uma correção
em relação ao resultado simulado pelo FEMM é realizada,
apenas para a capacitância entre o enrolamento do estator e o
rotor, devido às particularidades da região da cabeça da bobina.
Considerando os parâmetros ilustrados na Figura 2, o autor
calcula essa componente, que, de acordo com o resultado
apresentado, mostrou-se 240% superior à capacitância
calculada pelo FEMM.
Em [18], [19], os autores apresentam um trabalho extensivo,
avaliando aspectos relativos à determinação das capacitâncias
parasitas do motor. O interesse do trabalho em questão reside
na definição das correntes que circulam nos rolamentos da
máquina, determinadas pelo circuito apresentado na Figura. 3.
Um ponto forte de [18] é que, além de comparar
metodologias analítica, por FEM e por medição, apontando os
pontos fortes e limitações de cada abordagem, é descrita
detalhadamente a geometria do motor elétrico estudado. Além
disso, discorre-se sobre materiais isolantes, mostrando as 𝑈𝑠𝑙𝑜𝑡 ∙ 𝑙𝐹𝑒
propriedades elétricas e efeitos sobre os cálculos das 𝐶𝑤𝑓 = 𝜀𝑟 𝜀0 𝑄𝑠 (3)
𝑑𝑠𝑙𝑜𝑡
capacitâncias, abordando as implicações que algumas
aproximações na geometria causam e propondo um método 𝜋𝑑𝑟𝑒
para obter, via FEMM, a componente da cabeça da bobina na 𝐶𝑟𝑠 = 𝜀0 𝑙𝐹𝑒 (4)
capacitância entre enrolamento e rotor. Vale ressaltar que todos 𝑘𝑐 𝛿
esses pontos, com exceção do cálculo da componente da cabeça
da bobina, serão revistos no presente trabalho, mas com a 1
𝐶𝑤𝑟 =
proposta de estender essa análise mostrando os efeitos de 1⁄ 1
algumas aproximações adotadas quando da modelagem via 𝐶𝑤𝑟0 + ⁄𝐶𝑤𝑟1
FEM, tais como redução da geometria, diferentes densidades de 𝑄𝑠 𝜀0 𝑏0 𝑙𝐹𝑒
𝐶𝑤𝑟0 = (5)
malha, etc. 𝛿 + ℎ0
𝑄𝑠 𝜀𝑟 𝜀0 𝑏0 𝑙𝐹𝑒
𝐶𝑤𝑟1 =
ℎ𝑤𝑒𝑑𝑔𝑒+𝑖𝑛𝑠

𝑄 𝐶𝑤𝑓 + 𝐶𝑤𝑟 −𝐶𝑤𝑟 𝑉

[ 𝑤] = [ ] [ 𝑤] (6)
𝑄𝑟 −𝐶𝑤𝑟 𝐶𝑟𝑓 + 𝐶𝑤𝑟 𝑉𝑟

Figura 2. Parâmetros para o cálculo da capacitância na região da cabeça da

bobina (Heidler et al., 2015).

Figura 4. Circuito equivalente de modo comum [8].

2(𝐶1 ∙ 𝐶3 − 𝐶2 ∙ 𝐶3 + 𝐶1 ∙ 𝐶2 )
𝐶𝑤𝑓 =
𝐶 ∙𝐶 𝐶 ∙𝐶 𝐶 ∙𝐶
2(𝐶1 + 𝐶2 + 𝐶3 ) − ( 1 3 + 2 3 + 1 2 )
𝐶2 𝐶1 𝐶3
2(𝐶1 ∙ 𝐶2 − 𝐶1 ∙ 𝐶3 + 𝐶2 ∙ 𝐶3 )
𝐶𝑤𝑟 = (7)
𝐶 ∙𝐶 𝐶 ∙𝐶 𝐶 ∙𝐶
2(𝐶1 + 𝐶2 + 𝐶3 ) − ( 1 3 + 2 3 + 1 2 )
𝐶2 𝐶1 𝐶3
2(𝐶1 ∙ 𝐶3 − 𝐶1 ∙ 𝐶2 + 𝐶2 ∙ 𝐶3 )
𝐶𝑟𝑓 =
𝐶 ∙𝐶 𝐶 ∙𝐶 𝐶 ∙𝐶
Figura 3. Circuito equivalente de modo comum do motor, proposto em 2(𝐶1 + 𝐶2 + 𝐶3 ) − ( 1 3 + 2 3 + 1 2 )
𝐶2 𝐶1 𝐶3
(Chaves, 2011).
Focado no método dos elementos finitos para a
A formulação empregada em [18] para o cálculo analítico determinação dos parâmetros da máquina, Venegas et al. [22]
das capacitâncias da máquina é aquela mostrada em (3) – (5), discute os efeitos de aproximações no modelo adotado em
cujo resultado é comparado com os valores obtidos pelo simulações numéricas sobre a capacitância. A maior
FEMM. O significado de cada termo destas equações será consideração recai sobre a especial atenção que se deve ter com
detalhado na seção 4.C do presente trabalho, uma vez que estes a densidade da malha na fronteira das regiões condutores,
também serão objetivo de análise. devido, principalmente, ao efeito pelicular.

Outra comparação entre resultado numérico e medição é
apresentada por Xiping et al. [20]. Porém, ao contrário de outros
trabalhos, este propõe, primeiramente, uma solução mais direta
para a definição das capacitâncias pelo FEM, conforme (6). Tal
como outros autores, esse trabalho ressalta a importância de
modelar os condutores alojados na ranhura de forma individual
visando exatidão no resultado. A partir dos três terminais
condutivos do motor, enrolamentos, rotor e carcaça (Figura 4),
as capacitâncias parasitas são obtidas a partir de (7). Além
disso, para eliminar a incerteza em relação à capacitância do
rolamento, os autores do trabalho substituem esses elementos
por rolamentos de borracha.
Perante o que foi apresentado nesta seção, o presente
trabalho busca avaliar algumas aproximações no modelo
adotado para determinação dos parâmetros elétricos do motor
via FEMM. A metodologia vista nesta seção será usada como
base e, a partir dos dados da geometria de um motor de indução,
serão calculados os parâmetros deste. Para a determinação das
capacitâncias parasitas serão revisados os efeitos da geometria
e disposição dos condutores, tal como discutido por Chaves
[18]. Os parâmetros série dos enrolamentos, tanto resistência
como indutância própria, serão revisados conforme [17].
Porém, a metodologia será estendida para rever aproximações
adotadas quando o método dos elementos finitos é aplicado, tais
como redução da geometria e densidade da malha. Como será
visto, essas simplificações permitem uma considerável redução
de tempo na solução do problema. Por fim, os valores obtidos
via FEMM serão comparados com cálculos analíticos.
III. METODOLOGIA
O presente trabalho tomou como base o motor analisado por
[18], de fabricação da WEG e potência nominal de 3cv, os
demais dados encontram-se listados na Tabela II. Além dos
dados de placa, o trabalho supracitado disponibilizou também
todos os dados dimensionais do motor, a partir dos quais foram
desenvolvidas as simulações a serem apresentadas adiante. Na
Figura 5 é apresentada uma vista em corte do estator e rotor.
TABELA II. DADOS DO MOTOR ELÉTRICO EM ANÁLISE.
Motor Tipo Alto Rendimento Plus
Potência 3cv
Tensão 220 / 380 / 440 V
Velocidade nominal 1735 RPM
Carcaça 90 L
Contudo, como algumas informações foram suprimidas, em
substituição às mesmas foram utilizados dados típicos ou
valores de catálogos do fabricante. Por exemplo, os autores
informam que as ranhuras abrigam 67 condutores, sem,
contudo, mencionar o número de condutores em estão em
paralelo. Vale mencionar que tal informação é muito
importante, pois várias propostas de circuito elétrico
equivalente para alta frequência consideram a indutância de
dispersão da bobina [13], [17], [22], cujo valor depende desta
informação. Assim, para superar essa incerteza, e considerando
que o entreferro varia entre 0,3 e 0,6 mm, o número de espiras
foi definido de forma tal que a máquina não saturasse. Assim,
foram obtidas 11 espiras com 6 condutores em paralelo,
ressaltando-se que não seria possível manter a definição dos 67
condutores, pois, além deste ser um número primo, o núcleo
saturaria completamente para condição nominal da máquina.
Outro ponto que necessitou de atenção foi aquele relativo
aos materiais empregados na máquina, tendo sido aqui
utilizados aqueles presentes na biblioteca do FEMM. Assim,
adotou-se aço silício M-19 para o núcleo do estator e do rotor e
alumínio para as barras do rotor.
Figura 5. Vista em corte do estator e rotor da máquina analisada no presente
trabalho.
Assim, com os dados detalhados da máquina de indução,
serão avaliados os procedimentos adotados para o cálculo dos
parâmetros do circuito equivalente de modo comum a partir do
FEMM, sendo revisadas algumas das abordagens encontradas
na literatura. O foco principal do trabalho está na análise das
aproximações propostas, estimando os erros que podem ser
esperados para cada caso. A análise de sensibilidade proposta
neste trabalho usa como base as aproximações que são
normalmente observadas nas metodologias propostas pela
literatura, tais como a representação da disposição dos
condutores na ranhura, linearização e variação dos parâmetros
eletromagnéticos dos materiais utilizados. Contudo, além do
que foi apresentado, são também avaliados os efeitos de
aproximações adotadas no método dos elementos finitos,
mostrando os ganhos e as limitações existentes. Por fim, os
resultados serão comparados com cálculos analíticos
apresentados em [18].
IV. IDENTIFICAÇÃO DE PARÂMETROS UTILIZANDO FEM
O circuito proposto em [17] é interessante por representar
tanto o modo comum quanto o diferencial. Para tanto, além das
diversas capacitâncias, o mesmo inclui também as indutâncias
próprias e mútuas das fases (Figura 6). Também, para uma
análise quantitativa das correntes que circulam nos rolamentos,
é necessário adicionar a este circuito os acoplamentos
capacitivos remanescentes, nomeadamente aqueles entre os
enrolamentos do estator e do rotor, entre o rotor e a carcaça da
máquina e, por fim, as capacitâncias dos rolamentos.
A. Indutância de Fase Própria e Mútua
Essa etapa inicia com uma avaliação da proposta elaborada
Heidler et al. [17]. Neste trabalho, as indutâncias próprias e
mútuas foram calculadas pelo método dos elementos finitos a
partir de algumas aproximações. De modo geral, essas
aproximações em cálculos envolvendo o método dos elementos
finitos é interessante, pois reduz o tempo de simulação do
problema. Contudo, deve-se ter muito cuidado em não
comprometer o resultado.
Figura 6. Circuito equivalente para os modos comum e diferencial (Heidler
et al., 2015).
Para essa redução de custo computacional, o autor propõe
reduzir a geometria do problema, que é comum e aceitável pela
simetria do motor. O FEMM possui condição de contorno para
esse tipo de aproximação, denominada anti-periódica, que força
uma fronteira a uma condição negativa da outra. Também, ele do entreferro equivalente considerando as ranhuras), 𝑔𝑎𝑖𝑟 é o
propõe uma metodologia para definir uma permeabilidade comprimento do entreferro, 𝑘𝑒𝑛𝑟 é o fator de enrolamento, 𝑁 é
linear equivalente (𝜇𝑑𝑖𝑓𝑓 ) e ainda variável com a frequência, o número total de espiras e 𝑝 é o número de pares de polos.
𝜇𝑒𝑓𝑓 calculado conforme (1). Essa variação depende da Também, pela simetria dos enrolamentos, a indutância mútua é
espessura da chapa do núcleo, 𝑑𝑠ℎ , e a profundidade de dada pela metade do valor da indutância própria calculada por
penetração, 𝛿. Para verificar essa metodologia, a máquina (8), sendo este resultado condizente com valor obtido pelo
analisada foi simulada em duas condições. A primeira FEMM.
alimentada com três correntes equilibradas com amplitude
nominal, lembrando que para análises com grandezas variando
no tempo, o FEMM incorpora uma transformada fasorial,
bastando definir correntes complexas. A permeabilidade
magnética relativa que resulta em um enlace de fluxo similar
para a simulação com corrente contínua para os modelos linear
e não-linear do núcleo foi 𝜇𝑑𝑖𝑓𝑓 = 7500.
Por outro lado, o autor propõe realizar uma simulação com
todos os condutores explicitamente modelados. O FEMM
possui uma ferramenta que permite obter os resultados
simulares a essa representação explícita a partir de uma
representação contínua [24]. Por se tratar de uma aproximação
testada e validada para várias frequências, não será testado o
efeito neste trabalho, sendo os condutores tratados por um meio
contínuo para cálculo de indutâncias. Assim, uma primeira
simulação consistiu da comparação entre os modelos não-
linear, linear e linear equivalente conforme (1). Para o modelo Figura 7. Modelo FEMM do motor com 1⁄4 de simetria.
linear com permeabilidade constante, o efeito do núcleo
laminado é considerado pelo FEMM a partir dos parâmetros
espessura da chapa, fator de preenchimento e condutividade. O
motor foi simulado com um quarto de simetria, em condição
nominal de corrente e foram desconsideradas as barras do rotor,
Figura 7. Deste modo, todas as grandezas obtidas foram
escalonadas para compreender o efeito da geometria completa.
A comparação foi realizada para frequências variando 0 a
107 Hz. Conforme ilustrado na Figura 8, para o motor em
condição nominal, ambas as aproximações apresentaram
satisfatório até 2·103 Hz em comparação com o modelo não-
linear.
Contudo, para condições operacionais onde há menor
Figura 8. Enlace de fluxo da fase A – avaliação do modelo do núcleo.
magnetização do núcleo, e consequente afastamento da
saturação, os resultados das simplificações são mais
satisfatórios em todo o espectro analisado. A determinação da
indutância própria dos enrolamentos geralmente parte da
simulação com uma corrente unitária, consideração que permite
uma simplificação algébrica na determinação da indutância.
Conforme ilustrado na Figura 9, ambas aproximações foram
satisfatórias em toda faixa de frequência analisada. Na Figura 9
é apresentada também a indutância de dispersão, calculada
como a diferença entre a indutância própria e duas vezes a
mútua com a fase B. Assim, o valor obtido a baixas frequências
é bem próximo do valor obtido analiticamente por (8).
Considerando o modelo não-linear, 𝐿𝑠′𝑎 = 18,2 𝑚𝐻, e para o
modelo linear, 𝐿𝑠′𝑎 = 19 𝑚𝐻.
Figura 9. Indutância própria da fase A – avaliação do modelo do núcleo.
4𝜇0 𝑙𝑓𝑒 𝑟𝑎𝑔 𝑘𝑒𝑛𝑟 𝑁 2
𝐿𝑠 = ( ) = 18,1 𝑚𝐻 (8)
𝜋(𝑘𝑐 ∙ 𝑔𝑎𝑖𝑟 ) 𝑝 Para uma comparação entre resultados e tempo de
simulação, o enlace de fluxo da fase A foi calculado para o
Em (8), 𝑙𝑓𝑒 é o comprimento axial do núcleo, 𝑟𝑎𝑔 é o raio modelo completo da máquina com material do núcleo linear,
modelo considerando a simetria (Figura 7) com núcleo linear e
médio do entreferro, 𝑘𝑐 é o coeficiente de Carter (para cálculo
não-linear. A Tabela III apresenta os valores obtidos variações observadas em torno do valor de referência, 𝜀𝑟 = 3,2,
diretamente do FEMM e os tempos de simulação para cada são apresentados na Tabela V.
modelo. Como esperado, a redução do modelo manteve a
exatidão do resultado, apesar da diferença de escala de
aproximadamente quatro, e um tempo de simulação
significativamente inferior.

TABELA III. ENLACE DE FLUXO – EFEITO DA GEOMETRIA.

Tempo
Aproximação 𝝀𝒂 (Wb)
Simulação (s)
Modelo Completo
23,37x10-3 48,5 Figura 10. Diferentes representações do enrolamento: (a) região condutora,
(𝝁𝒓 = 𝒄𝒕𝒆.)
(b) condutores concentrados, (c) condutores aleatórios e (d) condutores
Modelo ¼ de Simetria aleatórios com esmalte isolante.
5,83x10-3 4,5
(𝝁𝒓 = 𝒄𝒕𝒆.)
Modelo ¼ de Simetria
5,59x10-3 9,9
(𝝁𝒓 𝒏ã𝒐 𝒍𝒊𝒏𝒆𝒂𝒓.)
TABELA IV. CAPACITÂNCIAS – EFEITO DA GEOMETRIA.

Uma última simulação avaliou o efeito da densidade da 𝑪𝒘𝒔 𝑪𝒘𝒓 𝑪𝒔𝒓 Tempo
Modelo
(𝒑𝑭) (𝒑𝑭) (𝒑𝑭) Simulação (s)
malha no cálculo do enlace de fluxo a corrente contínua. A
Fig.10a 330,0 2,12 19,7 1,9
partir da geometria ilustrada na Figura 7, e considerando o Fig.10b 239,3 0,34 21,3 5,1
modelo do núcleo com permeabilidade linear e constante, Fig.10c 211,8 1,91 19,8 12,0
foram definidas densidades de malhas diferentes, variando de Fig.11b 7.522,2 69,16 697,4 315,0
22.000 a 420.000 elementos. O efeito da densidade de malha
sobre resultado foi pequeno, com uma diferença máxima de 6% TABELA V. CAPACITÂNCIAS – EFEITO DA PERMISSIVIDADE.
entre os enlaces de fluxo obtidos. Parâmetro Variação
𝐶𝑤𝑠 +36,40% -41,98%
B. Capacitâncias Parasitas 𝐶𝑤𝑟 +8,47% -17,42%
Pela facilidade em integrar as simulações do FEMM com o 𝐶𝑠𝑟 +0,93% -0,49%
Matlab, um método similar ao proposto por Xiping et al. [20]
foi usado. Para tal, uma tensão de referência, definida a partir O resultado comprova que o efeito maior foi na capacitância
de uma condição de contorno, foi atribuída ao rotor. À interface entre enrolamento e estator, como esperado. E a variação é
do estator e ao enrolamento são atribuídas propriedades de significativa.
condutores com tensão 0 V ou 1 V. Assim, o cálculo das três
capacitâncias a partir de (6) requer duas simulações A seguinte aproximação avaliada neste trabalho foi
novamente sobre suposições quanto a simetria do problema. Os
eletroestáticas, uma para (𝑉𝑤 , 𝑉𝑠 ) = (1,0) e uma para (𝑉𝑤 , 𝑉𝑠 ) =
(0,1), sendo 𝑤 e 𝑠 subscritos para enrolamento e estator, cálculos anteriores foram obtidos com uma simplificação do
problema, onde apenas uma ranhura foi representada, Figura
respectivamente.
11a. Nesta representação, na fronteira do entreferro que limita
Em um primeiro resultado, o estudo avaliou o efeito da a região de interesse é definida uma condição de contorno
representação dos enrolamentos sobre a capacitância. De periódica. Este resultado foi, então, comparado com o obtido a
acordo com todos trabalhos avaliados na literatura, os aspectos partir da representação completa do motor, Figura 11b.
mais importantes que devem ser levados em consideração são a Conforme apresentado na Tabela IV, os valores são muito
propriedade dos materiais isolantes e a geometria do problema. próximos ao valor pelo modelo simplificado, Figura 10c e
Neste caso, os condutores devem ser modelados Figura 11a, exceto por um fator de 36. A desvantagem desse
individualmente. Para as propriedades dos materiais isolantes, modelo completo é que, além do tempo de simulação superior,
tais como o filme isolante, o esmalte do condutor, a resina de o tempo para montar o problema e a suscetibilidade a erro são
impregnação, o presente trabalho se baseou em [18]. também expressivos.
As variações na disposição geométrica adotada na
representação dos condutores do estator são apresentadas na
Figura 10, cujos resultados são apresentados na Tabela IV.
Além disso, será avaliada variações na permissividade adotada
para o filme isolante, a resina de impregnação e esmalte.
A análise do efeito da variação da permeabilidade é de
difícil visualização, pois envolve variação de três parâmetros,
permeabilidade do filme isolante, da resina de impregnação e
do esmalte. Para cada parâmetro foram atribuídos três valores e
simulações realizadas para todas as combinações, no caso, 𝜀𝑟 =
1,6; 3,2 e 4,8 (50%; 100% e 150% do valor médio definido em Figura 11. Diferentes representações do enrolamento: (a) simplificada e (b)
(Chaves, 2011)). Os valores máximos e mínimos para as completa.
 Uma última simulação avaliou o efeito da densidade da
malha no cálculo da capacitância. A partir do modelo da Figura
10c, foram definidas densidades de malhas diferentes, com
7900 elementos e 429700 elementos. Porém, o efeito sobre
resultado foi bem sutil, com uma diferença máxima de 1% entre
as capacitâncias calculadas. Esse resultado se deve ao fato que
pela característica da geometria, onde a densidade de malha
mínima já possui um número significativo de elementos, pois
esses são requeridos para conformar com os círculos e arcos do
desenho.
C. Cálculos Analíticos das Capacitâncias Parasitas
Serão apresentadas nessa seção as aproximações e os
cálculos analíticos para as capacitâncias parasitas.
Primeiramente, a capacitância entre o enrolamento e o estator é
aproximada por capacitores de placas paralelas. Assim,
conforme apresentado em (3), precisamos determinar a
geometria do meio isolante, com a espessura média, 𝑑𝑠𝑙𝑜𝑡 (𝑚),
a área total do enrolamento em contato com a ranhura,
𝑈𝑠𝑙𝑜𝑡 (𝑚2 ), o comprimento axial do estator, 𝑙𝐹𝑒 (𝑚), a
permissividade do isolante, 𝜀𝑟 𝜀0, e o número de ranhuras, 𝑄𝑠 .
Em [18], a área média do enrolamento é estimada por uma
equação. Porém, com o uso do AutoCAD, esse perímetro médio
foi estimado diretamente. Assim, a partir dos parâmetros,
calculamos a capacitância por (3) 𝐶𝑤𝑠′𝑒𝑞 = 20.470 𝑝𝐹, um
pouco acima do estimado pelo FEMM (𝐶𝑤𝑠′𝑓𝑒𝑚𝑚 =
7.522,2 𝑝𝐹).
O cálculo da capacitância entre rotor e estator conforme (4)
requer informações do diâmetro do rotor, 𝑑𝑟𝑒 , a espessura do
entreferro, 𝛿, e o coeficiente de Carter, 𝑘𝑐 . Esse coeficiente
determina um entreferro equivalente considerando os efeitos
das ranhuras. O valor calculado por (4), 𝐶𝑠𝑟′𝑒𝑞 = 375 𝑝𝐹, ficou
bem próximo do obtido pelo FEMM (𝐶𝑠𝑟′𝑓𝑒𝑚𝑚 = 697,4 𝑝𝐹).
Por fim, a capacitância entre os enrolamentos do estator e o
rotor são estimadas por (5). Nessas equações são necessárias
também informações da largura da abertura da ranhura, 𝑏0 , a
altura da abertura da ranhura, ℎ0 , e a soma a espessura do filme
isolante e o calço da ranhura, ℎ𝑤𝑒𝑑𝑔𝑒+𝑖𝑛𝑠 . Essa última pode ser
obtida como a altura da parte inferior da ranhura menos ℎ0 . Essa
aproximação fornece o valor 𝐶𝑤𝑟′𝑒𝑞 = 79,23 𝑝𝐹, um também
bem próximo do obtido pelo FEMM (𝐶𝑤𝑟′𝑓𝑒𝑚𝑚 = 69,16 𝑝𝐹).
TABELA VI. PARÂMETROS PARA CÁLCULO ANALÍTICO DAS
CAPACITÂNCIAS.
Parâmetro Valor Parâmetro Valor
𝑑𝑠𝑙𝑜𝑡 0,29 mm 𝑘𝑐 1,37
𝑈𝑠𝑙𝑜𝑡 29,14 mm 𝑏0 2,2 mm
𝑙𝐹𝑒 0,2 m ℎ0 0,37 mm
𝑄𝑠 36 ℎ𝑤𝑒𝑑𝑔𝑒+𝑖𝑛𝑠 0,29 mm
𝑑𝑟𝑒 92,5 mm 𝜀𝑟 3,2
𝛿 0,6 mm
V. CONCLUSÕES
Apresentou-se, neste trabalho, uma extensa revisão
bibliográfica sobre como a modelagem de motores de indução
a partir do FEM é abordada na literatura, quais aspectos são
considerados mais críticos e como incorpora-los no modelo de
forma a obter parâmetros com boa exatidão dentro da faixa de
frequência de interesse.
Tais requisitos foram avaliados, mostrando o seu efeito
sobre os parâmetros do motor, incluindo indutâncias próprias,
mútuas e parasitas, além das capacitâncias parasitas que um
modelo em duas dimensões permite representar. O principal
objetivo foi mostrar as limitações e como contorna-las, além de
mostrar as vantagens que a ferramenta oferece. Outrossim, os
resultados foram comparados com aqueles provenientes de
cálculos analíticos, mostrando como as considerações
envolvidas nesses últimos implicam resultados que, na verdade,
devem ser tratados como uma aproximação inicial.
Por fim, foi demostrado que mesmo sendo uma ferramenta
muito efetiva no cálculo dos parâmetros, o entendimento das
limitações envolvidas é importante para a obtenção de
resultados válidos para a posterior utilização do modelo em
estudos que requerem exatidão em amplas faixas de frequência.
AGRADECIMENTOS
Mencione aqui seus agradecimentos às agências de fomento
e aos colaboradores do trabalho.
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