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GEODIVERSIDADE ERevista

GEOTURISMO NO
Edição 3 / Vol. ESTADO
2 - Nº 3 / Jan./Jun. DE
Eletrônica Casa de Makunaima - ISSN 2595-5888
(2019)
RORAIMA

Giovanni de Farias Seabra


Doutor em Geografia, Professor do Programa de Pós –
Graduação em Geografia
Universidade Federal de Roraima
gioseabra@gmail.com

RESUMO RESUMEN

O presente trabalho é produto de uma pesqui- El presente trabajo es producto de una in-
sa, ainda insipiente, sobre o potencial geotu- vestigación, aún insipiente, sobre el poten-
rístico do estado de Roraima. Ao contrário do cial geoturístico del estado de Roraima. Con-
que se propaga no meio acadêmico brasileiro, trariamente a lo que se propaga en el medio
que apresenta o geoturísmo como temas re- académico brasileño, que presenta el geotu-
centes, o turismo ecológico de base geológica rismo como tema reciente, el turismo ecoló-
remonta ao século XX, pelo menos, conforme gico de base geológica se remonta al siglo XX,
registros no National Park SächsischeSchweiz, al menos, según registros en el National Park
localizado na região da Bohêmia, ocupando Sächsische Schweiz, ubicado en la región de
os territórios alemães e tchecos situados às Bohemia, ocupando los territorios alemanes
margens do rio Elba. No estado de Roraima, y checos situados a orillas del río Elba. En el
os atrativos geoturísticos estão dispersos e estado de Roraima, los atractivos geoturísticos
integram, principalmente, terras indígenas, están dispersos e integran, principalmente,
unidades de conservação e propriedades pri- tierras indígenas, unidades de conservación y
vadas, sendo necessários estudos mais apro- propiedades privadas, siendo necesario estu-
fundados para identificação e delimitação dos dios más profundizados para la identificación
geossítios, bem como o uso turístico das mor- y delimitación de los geosítios, así como el uso
foesculturas e dos acervos paleontológicos e turístico de las morfoesculturas y de los acer-
arqueológicos. vos paleontológicos y arqueológicos .

Palavras - chave: Geodiversidade, Geoturismo, Palabras clave: Geodiversidad, Geoturismo,


Morfoesculturas, Termiteiros. Morfoesculturas, Termiteiros.

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INTRODUÇÃO a geodiversidade e as geoformas, como


principais atrativos para o desenvolvimento
A paisagem é um conjunto de elementos do geoturismo, o qual, para ser viabilizado
físicos, biológicos e socioeconômicos como atividade produtiva, urge ações para a
inter-relacionados, visíveis aos olhos, que geoconservação.
caracterizam uma determinada porção do Geodiversidade, geoconservação
espaço geográfico. Paisagem é tudo que e geoturismo são conceitos recentes no
a vista alcança, ou seja, numa abordagem mundo acadêmico, especialmente a partir
conceitual, é “uma determinada porção do dos anos 1990, cuja essência, tanto de um
espaço, resultado da combinação dinâmica como de outro, todavia pertence ao lazer e
e instável, de elementos físicos, biológicos e imaginário de antigas civilizações européias
antrópicos que fazem dela, a paisagem, um e asiáticas. Já no século XVIII monumentos
conjunto único e indissociável, em perpétua geológicos entremeados de vales labirínticos
evolução” (BERTRAND, 1971). eram visitados turisticamente nas margens
São componentes da paisagem as esquerda e direita do rio Elba, nos territórios
formas de relevo, os tipos climáticos, a da Alemanha e da República Tcheca,
cobertura vegetal, a biodiversidade, os compreendendo a Região da Bohêmia, com
solos desprovidos de vegetação, os campos destaque para as morfoesculturas em arenito
povoados de animais ou cultivares, os rios e e as pontes de pedra, atualmente onde está
córregos, vilas e cidades, e as diversas formas instalado o Nationalpark Sächsische Schweiz
de ocupação humana, quando houver. (Figura 1).
Ao abordar a paisagem neste trabalho, Na segunda metade do século XIX a
priorizamos as estruturas geológicas e as Região da Bohêmia instalou equipamentos
morfoesculturas do relevo, denominadas exclusivamente para o atendimento aos
“relevos estruturais” e “relevos esculturais” turistas, como abertura e construção de
(ROSSI, 1996) ou, simplesmente, escadarias nas trilhas e caminhos de acesso
“geodiversidade” (BRILHA, 2005), ou seja: aos monumentos geológicos, sinalização, e
abertura de pousadas, restaurantes e cafés.
Posteriormente, no início do século XX foi
[...] a variedade de ambientes geológicos, fenômenos e construído um elevador para atender ao fluxo
processos ativos que dão origem à paisagens, rochas,
de visitantes (Figuras 2 e 3).
minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais
que são o suporte para a vida na Terra (BRILHA, op. Cit., A nosso ver, geoturismo é uma derivação
pág, 17). do ecoturismo com ênfase nas morfoesculturas
do relevo, incluindo informações sobre a
gênese, estrutura e morfodinâmica da rocha.
Os relevos estruturais são macrounidades Na observância dos conceitos e definições de
da paisagem com extensão de algumas um e de outro, as semelhanças são evidentes,
centenas de quilômetros, permitindo a eles, senão vejamos:
em nível metodológico para ordenamento
territorial, tratamento geossistêmico, ou O ecoturismo é definido como a prática de turismo de
geoecológico, aplicados ao planejamento lazer, esportivo ou educacional, em áreas naturais, que
ambiental e turístico. Assim, apresentamos se utiliza de forma sustentável dos patrimônios natural
oscompartimentos geomorfológicos de e cultural, incentiva a sua conservação, promove a for-
Roraima, estado federativo localizado no mação da consciência ambientalista e garante o bem
estar das populações envolvidas (MIC / Embratur, 1994).
extremo norte amazônico do território
brasileiro, assim como as estruturas geológicas,

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Figura 01: Bohemian National Park Region


Fonte: Nationalpark-Saechsische-Schweiz, 2019.

Figuras 2 e 3. As imagens revelam estruturas de acesso aos geomonumentos e os equipamentos


turísticos (hospedagem e restaurante) para acolhimento dos ecoturistas, em 1886
Fonte: Rölke, 2006b.

Sem embargo, o ecoturismo seguiria consciência ambiental e sustentabilidade


uma rota diferenciada dos padrões ecológica, social, econômica e cultural. Por
usuais do turismo, uma vez que envolve a definição, o diferencial deste segmento

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turístico compõe um leque de fatores, relacionam, de modo inequívoco, com a


principalmente as componentes ecológica geodiversidade (BRILHA, 2005).
e social, portanto em franco desacordo com Segundo a Travel Industry Association
as estratégias governamentais de valoração e of America (TIA), o geoturismo é definido
comercialização do espaço natural através da como o turismo que apoia ou valoriza as
promoção do dito ecoturismo massificado em características geográficas do lugar em foco,
áreas protegidas da natureza. Os oportunismos incluindo-se o meio ambiente, cultura, a
políticos para captação de recursos, com o uso herança estética e o bem estar da população
dos conceitos de ecoturismo, são visivelmente local (ALFAMA, 2007). De acordo com a National
identificados nos textos dos projetos oficiais Geographic Society (NGS) apud Brilha (2005),
enviados aos bancos e órgãos de fomento ao o geoturismo procura minimizar o impacto
turismo. cultural e ambiental sobre as comunidades
Por ser uma atividade de lazer que recebem fluxos turísticos, inserindo-
socialmente diferenciada, o ecoturismo não se no conceito mais abrangente de turismo
obedece simplesmente à lógica de mercado. sustentável.
É uma viagem solidária e responsável, dirigida No presente trabalho apresentamos
às áreas naturais e comunidades tradicionais, alguns aspectos da geodiversidade,
com o fim de conservar o meio ambiente geoconservação e geoturismo no Estado
e promover o bem estar dos povos locais, de Roraima. Em nível local, enfatizamos os
especialmente os mais humildes e excluídos geossítios, onde se destacam as inscrições
do eixo econômico. Portanto, abrange o meio rupestres e as ocorrências dos termiteiros
ambiente em todos os seus aspectos, como “pagodes”, onde são evidenciados os edifícios
a paisagem natural, a componente social e o dos cupins cuja bioarquitetura se destaca na
patrimônio cultural. No Brasil, o ecoturismo paisagem do lavrado.
é evidenciado desde 1985, atendendo à Vale salientar que o patrimônio natural
forte demanda oriunda da multiplicação do estado de Roraima, notadamente a
dos parques nacionais, priorizando-se o geodiversidade e a biodiversidade, está sendo
uso turístico em detrimento da conservação dizimado, seguindo o triste exemplo da Mata
ambiental. Atlântica brasileira, a passos acelerados, pelo
O geoturismo, por sua vez, é uma ferro e pelo fogo (Figura 4) (WARREN, 2013).
atividade de lazer e entretenimento,
baseada na geodiversidade, que utiliza as
feições geomorfológicas como o principal
atrativo turístico. Todavia, na maioria das
vezes, o geoturismo está associado a outros
aspectos da paisagem como rios, lagos,
cachoeiras, vegetação, bem como instalações,
equipamentos e serviços turísticos. Na prática,
trata-se de um conceito difuso, superposto
ao ecoturismo, com ênfase na paisagem,
envolvendo os aspectos tanto naturais –
cavernas, vulcões, mirantes, esculturas
rochosas, dunas; como culturais - monumentos
líticos, calçamentos, alicerces e paredes das Figura 04: Paisagem típica do lavrado, estado de Rorai-
edificações, lápides de cemitérios, etc. Porém, ma, município de Bonfim-RR
nem todas as definições de geoturismo se Fonte: Giovanni Seabra, 2019.

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residente.
METODOLOGIA Para o presente trabalho de pesquisa
adotamos a metodologia geossístêmica,
De acordo com Bertrand (1971), destacando as subunidades em nível de
geossistema é uma determinada porção do geótopos, correspondendo aos geossítios,
espaço, sendo resultado da combinação abrangendo alguns hectares, onde
dinâmica e instável dos elementos físicos, identificamos ocorrências de geomonumentos,
biológicos e antrópicos, que fazem da paisagem como os sítios rupestres e os termiteiros
um conjunto único e indissociável em perpétua “pagodes” com elevada densidade espacial.
evolução. O autor destaca que o estudo da Essas estruturas, de natureza cultural e
paisagem só pode ser realizado no quadro biológica, de inestimável valor paleozoico,
da Geografia Física Global, estabelecendo- faunístico, ecológico, arqueológico e cultural,
se critérios taxonômicos, ou seja, quando a estão severamente ameaçadas pelos impactos
paisagem é subdividida hierarquicamente, causados pelo vandalismo contumaz, o modelo
segundo a homogeneidade, comportamento e de exploração rural que “tratoriza” tudo o
funcionalidade de seus componentes. que encontra pelafrente, impondo mudanças
O lugar, por sua vez, é um espaço ambientais irreversíveis na paisagem do
afetivo com limites geoecológicos, resultado lavrado, tornando-o biologicamente estéril e
da combinação dos componentes naturais monótono.
e culturais num determinado território
evidenciado na paisagem. No ordenamento RESULTADOS E DISCUSSÕES
territorial, as diferenciações existentes na
paisagem, em nível regional e local, que No interior do Brasil, o relevo é originário
caracterizam o lugar, são espacialmente de intensa atividade tectônica que reativou
individualizadas em unidades geoecológicas os dobramentos e abriu centenas de falhas e
para fins de planejamento ambiental e fraturas. Em seguida houve rebaixamento do
turístico. O planejamento territorial, numa relevo, ocasionado por sucessivos processos
abordagem sistêmica e descentralizada erosivos formando extensas áreas aplanadas
propicia a inclusão social, o desenvolvimento denominadas pediplanos e peneplanos,
local e a integração regional. respectivamente em climas semiáridos
Ao introduzir o termo geossistema na e semiúmidos. Movimentos tectônicos,
literatura soviética, SOTCHAVA (1972) concebeu variações climáticas, litologias variadas e
a conexão da natureza com a sociedade e erosão diferencial esculpiram morfologias
seus aspectos dinâmicos num determinado residuais testemunhando a ocorrência de
espaço, levando-se em consideração todos superfícies outrora mais elevadas. Tais
os fatores econômicos e sociais influenciando elevações superiores ao piso circundante
sua estrutura e particularidades espaciais. são apelidadas serras, morros testemunhos
Através dessa metodologia, são estabelecidos e inselbergues, que surgem quebrando a
critérios dimensionais e hierárquicos de monotonia dos pediplanos roraimenses.
unidades espaciais homogêneas denominadas São exemplos clássicos de testemunhos no
geossistemas e suas subdivisões. A integração estado o morro Redondo e o morro da Antena,
dos componentes geossistêmicos naturais, ambos no município de Bonfim. Os aspectos
econômicos e culturais incentiva a inserção de geológicos geomorfológicos da paisagem
novos serviços e produtos na economia local, configuram-se comi importantes destinos
impulsiona a cadeia produtiva e promove a geoturístcos no Brasil e no mundo.
elevação do padrão de vida da comunidade Existem roteiros geoturísticos

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consagrados há décadas no Brasil, morfoesculturais menores (LADEIRA e


implantados com objetivos geológicos, DANTAS, 2014), aqui considerados unidades
geomorfológicos, ecológicos, pedagógicos geoecológicas ou geossistemas (SEABRA,
e científicos. É destaque no geoturismo 2014):
asvárias geoformas de superfície, como as Terrenos Proterozóicos do Escudo das
montanhas, chapadas, serras, inselbergues, Guianas: Planalto do Interflúvio Amazonas
cânions, lajedos, matacões, boqueirões, – Orenoco; Planalto Sedimentar de Roraima;
furnas, pedras furadas e cavernas, somente Planalto Dissecado Norte da Amazônia;
para citar alguns. Há décadas, tais atrativos Planaltos Residuais de Roraima; Depressão
são objetos de contemplação, lazer e Marginal Norte do Amazonas;
recreação dos ecoturistas sendo, portanto, Coberturas Sedimentares Fanerozóicas:
regiões geoturísticas consolidadas a Chapada Depressão de Boa Vista; Pantanal Setentrional.
do Araripe (CE, PI, PE), a Gruta de Ubajara,
os Monólitos de Quixadá e o Geoparque O Planalto do Interflúvio Amazonas –
de Santana do Cariri (CE), o Cânion do São Orenoco é uma área montanhosa moldada em
Francisco (BA, SE), a Chapada Diamantina (BA), rochas ígneas e metamórficas, onde despontam
o Parque Estadual de Vila Velha (PR), o Parque as maiores altitudes do estado. Do ponto de
Nacional Serra da Capivara e o Parque Nacional vista da geodiversidade são evidenciadas as
de Sete Cidades (PI), somente para citar superfícies de cimeira com topos aplanados,
alguns (SEABRA, 2007b). Os locais apontados com cotas superiores a 1.500m. Tais
constam dos roteiros turísticos em função morfoesculturas são denominadas “tepuys”, a
da exuberância paisagística e diversidade exemplo do monte Caburaí, onde está situado
cultural, atraindo fluxos permanentes de o ponto extremo norte do território nacional.
visitantes. Outros atrativos turísticos são oriundos dos
Os espaços geográficos do estado morros escalonados, dissecados e cortados
de Roraima irradiam belezas cênicas em vales profundos que servem de suporte
extraordinárias, evidenciadas nas formações a um grande número de rios, corredeiras e
estruturais e formas esculturais do relevo. cachoeiras. Culturalmente, esse geossistema
Esses lugares são habitados por grupos pertence aos territórios indígenas das etnias
populacionais especiais, como os povos Yanomami e Macuxi, motivo pelo o qual o
originários nos territórios indígenas, as ingresso de visitantes é restrito. Exceção é a
comunidades ribeirinhas e os produtores cidade de Uiramutã, um enclave não índio no
rurais tradicionais, cuja lide campesina é interior da terra indígena Raposa - Serra do
baseada na pequena produção familiar Sol.
diversificada nos criatórios de animais, peixes, O Planalto Sedimentar de Roraima é
extrativismo e policultura. modelado em chapadas, cuestas, hogbacks
Tomamos como base para a e platôs com degraus estruturais e rebordos
caracterização da geodiversidade de erosivos, com instalação de voçorocas bem
Roraima a zona climática equatorial, onde desenvolvidas e grande movimentação de
estão inseridos os dois grandes domínios terras nos solos desprovidos de vegetação
morfoclimáticos correspondentes às duas causados pela mineração. Em terras da União,
unidades morfoestruturais, representadas fronteiriça com a Venezuela está instalada a
pelos Terrenos Proterozóicos do Escudo vila de Tepequém, no município de Amajari, um
das Guianas e as Coberturas Sedimentares dos principais pontos turísticos do estado. A
Fanerozóicas. Esses compartimentos unidade estrutural abrange o monte Roraima,
geológicos são subdivididos em unidades com 2.734m de altitude, área protegida, onde

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está instalado o Parque Nacional de Monte Amazonas é a maior unidade morfoescultural


Roraima. de Roraima, consistindo num vasto pediplano,
O Planalto Dissecado Norte da Amazônia com altitudes entre 80 e 160 metros,
é emoldurado ao norte e a oeste pelo Planalto declinando suavemente na direção sul-
do Interflúvio Amazonas-Orenoco; ao sul sudoeste. Ocupa 31% do território estadual,
limita-se com os Planaltos Residuais de sendolimitada, ao norte, com o Planalto do
Roraima e a leste com a Depressão Marginal Interflúvio Amazonas-Orenoco; ao oeste com
Norte da Amazônia. A área é caracterizada os Planaltos Dissecados Norte da Amazônia; a
pela presença de superfícies aplainadas leste com a Depressão de Boa Vista; e , ao sul,
degradadas ou retocadas em colinas suaves e com o Pantanal Setentrional. A porção norte
morros residuais baixos. Aqui e acolá surgem é marcada pela presença de inselbergues,
esparsamente mesetas, cristas e pontões. localmente denominadas serras, sendo
Os dois principais rios, Mucajaí e Urariquera, as mais conhecidas apelidadas Calango,
formadores do rio Branco, correm em vales Alemanha, Machado e Trovão. No extremo
encaixados tropeçando nas corredeiras e sudeste, próximo ao rio Alalaú surgem colinas
cachoeiras. amplas, suaves com morros isolados.
Os Planaltos Residuais de Roraima A Depressão de Boa Vista abrange a
correspondem aos fragmentos das superfícies região nordeste do estado, sendo flanqueada
mais elevadas dispersos no Planalto Dissecado pela Depressão Marginal Norte do Amazonas.
Norte da Amazônia e na Depressão Marginal Representa 7% do território estadual com
Norte do Amazonas. O relevo é esculpido em altitudes entre 100 e 130 metros. A paisagem
rochas ígneas e metamórficas, intensamente plana, pontilhada de lagoas circulares, pode
fraturadas e falhadas, atingindo altitudes ser confundida com as superfícies deprimidas
entre 400 e 1500 metros, destacando-se as contíguas, denominadas regionalmente
serras Acaraí, Grande,Balata, Prata,Apiaú, lavrado. Nos depósitos sedimentares
Caracaraí, Mocidade, Anauá e Gurupira. As fluviais plio-pleistocênicos são comuns os
serras do Mucajaí, Ipiranga e Serrinha formam extensos areais, entremeados de superfícies
cristas montanhosas e pontões, com vertentes suavemente onduladas, os tesos, modelados
íngremes e ravinadas. Na região minam as em crostas lateríticas. A rede de drenagem
nascentes do rio Mucajaí, cuja margem direita compreende um conjunto de lagoas circulares
emerge a serra do Apiaú, compondo um intermitentes, abastecidas pelo lençol freático
conjunto de cristas e pontões com altitudes e os igarapés, que, junto com os buritis às suas
até 1500 metros. margens, constituem as veredas.
A serra da Mocidade é um maciço residual O Pantanal Setentrional está localizado
situado no interior do Parque Nacional Serra na porção sul-sudeste de Roraima,
da Mocidade. Consiste num conjunto de compreendendo 21% da superfície estadual,
cristas com altitude média de 800 metros, e está encaixado na Depressão Marginal
onde nascem os rios Catrimâni, Água Boa Norte do Amazonas. A cobertura é formada
do Univini e Ajarani, tributários da margem por terrenos arenosos inundáveis na estação
direita do baixo Rio Branco. O Parque Nacional chuvosa, derivados das rochas proterozóicas
Serra da Mocidade é limítrofe à Terra Indígena do embasamento cristalino. Extensos campos
Yanomami e ambos requerem esforços de dunas surgem no norte e nordeste da região
governamentais para a preservação da malha pantaneira. Além do rio Branco, os principais
hídrica, geodiversidade, biodiversidade e o cursos d’água são os rios Xeriuini, Jufari, Água
patrimônio cultural. Boa do Univini, Itapará, Anauá, Catrimâni e
A Depressão Marginal Norte do Jauaperi. Nesta região estão situados o Parque

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Nacional do Viruá, o Parque Nacional Serra da 5% em solo brasileiro.


Mocidade e a Estação Ecológica Niquiá. No livro “Geodiversidade do Estado de
Cavernas, furnas, penhascos e rochedos Roraima”, publicado pelo CPRM (2014), são
são testemunhas dos ambientes pretéritos, apresentados como patrimônio geoturístico
lugares onde tribos primitivas elaboravam lagos, rios, cachoeiras e corredeiras, com
artefatos para caça dos animais pertencentes também áreas intensamente degradadas, nos
a espécies extintas havia muito tempo. municípios de Uiramutã e Mucajaí, onde os
Registros rupestres deixados por comunidades destaques são as voçorocas ocasionadas pela
da idade da pedra adornam uma infinidade de intensa atividade garimpeira. Certamente,
lajedos, grutas e paredões abruptos à beira esses “atrativos turísticos” não se enquadram
dos rios. Geossítios são geótopos onde há numa exigência básica do geoturismo, que é
significativa ocorrência de geomonumentos, a geoconservação, ou seja, a conservação do
representados pelas esculturas do relevo, patrimônio geológico. Outro setor apontado
fósseis de árvores ou animais e artefatos pelo CPRM, como potencialmente geoturístico,
primitivos, como pontas de flechas, lanças e é o extenso campo de dunas quaternárias
vasos utilitários. A Pedra Pintada, situada na localizado no sul do estado, cuja cobertura
Reserva Indígena São Marcos, no município vegetal original é removida para retirada dos
de Pacaraima, é uma combinação de ambos. O bancos de areia utilizados na construção
monumento lítico, com mais de 35 metros de civil.Acrescente-se à paisagem geoturística
altura, guarda registros da passagem gravados roraimense as geoformas resultantes da
em hieróglifos pelas tribos primitivas, de construção dos termiteiros em forma de
grande valor arqueológico e geoturístico. pagodes, encontrados, sobretudo nas colinas
No local, denominado Sítio Arqueológico da com coberturas lateríticas e nas suas encostas
Pedra Pintada, há ocorrência de artefatos dos e vales (Figuras 5, 6, 7 e 8). Os pagodes são
povos ancestrais, como pontas de flechas, encontrados em grandes concentrações
cachimbos e vasos de cerâmica. Todavia, nos municípios de Boa Vista, Bonfim e
o acervo patrimonial geológico do estado Pacaraima, principalmente. Todavia, em razão
de Roraima é escasso, pois são raros os do transporte fluvial alguns exemplares
monumentos geológico-geomorfológicos. são encontrados nas várzeas do Baixo Rio
Exceção é o monte Roraima, onde está Branco. Nestes lugares, por uma questão de
localizado o Parque Nacional Monte Roraima, sobrevivência da espécie, os cupinzeiros são
cuja elevação, propriamente dita, está situada erguidos utilizando como suporte estacas de
85% no território da Venezuela, 10% em terras cercas, árvores e postes. Mantendo, todavia, a
da República Cooperativa da Guiana, e apenas arquitetura original em pagode.

Figuras 05 e 06: Geossítios de “cupins pagodeiros”. Município de Bonfim, Roraima


Fonte: Giovanni Seabra, 2019.

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Figuras 7 e 8: Termiteiros no formato “pagode”. Município de Boa Vista-RR


Fonte: Giovanni Seabra, 2019.

Todavia, urge programas e ações habitat natural, com o uso de máquinas


voltados à preservação da geodiversidade em pesadas na limpeza do lavrado e aeração
território roraimense, haja vista a velocidade para o cultivo de soja, principalmente, e
da degradação dos geomonumentos, devido outros cultivares. Por conseguinte as colônias
às intervenções predatórias movidas, dos térmitas “pagodeiros” se retiram do seu
sobretudo, pelo modelo de desenvolvimento habitat natural procurando instalar-se em
implantado e a ausência do poder público, em locais mais apropriados, como mourões das
nível federal, estadual e municipal. Exemplo cercas, postes e buritis nativos dos igarapés
das ações ambientalmente devastadoras (Figuras 9 e 10).
é a expulsão das colônias de cupins do seu

Figuras 09 e 10. Cupins refugiados instalados nas cercas e postes


Fonte: Giovanni Seabra e Renato Lima, respectivamente, 2019.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS as possibilidades de melhoria dos seus


padrões econômicos, a qualidade de vida, o
Boullón (2002) apresenta a zona turística nível educacional, sem o comprometimento
como uma superfície de extensão variável que do patrimônio natural e cultural.
corresponde à estruturação de um espaço No planejamento participativo, cada
turístico intermunicipal de um país. Nesse comunidade deve identificar seus próprios
contexto surgem os geoparques representando objetivos, desejos e atividades que refletem
grandes extensões territoriais regionais que a realidade vivida. Sem a inclusão dos
apresentam atrativos geoturísticos, hídricos, residentes nas diversas fases de planejamento
biodiversidade e patrimônio cultural. e execução do plano turístico, aumentam as
Salientamos no presente trabalho as zonas chances de prejuízos econômicos potenciais
geoturísticas e locais geoturísticos potenciais e perda da identidade cultural causados pela
no estado de Roraima, os quais exigem uma imposição dos padrões econômicos globais.
atenção especial por parte do setor privado e Para o planejamento turístico, a
órgãos públicos. fenomenologia auxilia na compreensão
O aproveitamento das capacidades do espaço vivido, este de importância
produtivas básicas causa impacto positivo preponderante na busca identidade do lugar
na economia regional, norteando a e de sua vocação turística. Entre outros
sustentabilidade local e criando alternativas à fatores, a realidade social contém uma
implantação de grandes projetos turísticos. Por dimensão estética, e a Geografia cumpre o
outro lado, as empresas de turismo que operam papel de compreender o imaginário contido
nas pequenas localidades monopolizam e nessa realidade, através da abordagem
capitalizam todos os seus benefícios, restando humanística (Lencioni, 1999). A preocupação
muito pouco ou quase nada para os moradores. do espaço vivido coloca no centro a análise
As grandes operadoras e redes hoteleiras são do lugar, porque nele se distingue o gênero
incentivadas através das diretrizes e ações do de vida dos povos. Portanto, o treinamento
planejamento oficial. Os planos estratégicos e a capacitação da mão-de-obra devem
governamentais vinculam-se às regras do adequar-se ao contexto social reinante no
modelo econômico concentrador de capital, lugar, priorizando-se os indivíduos que estão
menosprezando o desenvolvimento regional fora do mercado de trabalho e gerando
sustentável. oportunidade de renda para as famílias. Para
O turismo devidamente planejado tanto, é oportuno o respeito aos hábitos
e estruturado mediante os princípios culturais, adequando-os e inserindo-os como
da sustentabilidade ambiental, cultural, atividades de entretenimento ao turista.
econômica e social favorece o desenvolvimento É pertinente estruturar os roteiros
da economia local e regional, proporcionando geoturísticos com base na geoconservação, de
rendimentos adicionais à população como modo a preservar e garantir a perpetuidade
um todo. Em geral, locais com planejamento dos monumentos naturais, aqui denominados
desenvolvido cuidadosamente e com a geomonumentos. O envolvimento direto das
participação da comunidade local alcançam comunidades locais nos projetos turísticos
mais sucesso em termos de satisfação por sustentáveis contribui para a criação de
parte dos visitantes, benefícios econômicos rotas de ligação entre os locais que integram
e mínimos impactos negativos sobre o local as zonas turísticas. O agrupamento dos
(Timothy, 1998). Assim, quando os residentes municípios turísticos e potencialmente
participam de todas as fases de planejamento turísticos em zonas reduz os custos do
e implantação do projeto turístico, aumenta investimento em infraestrutura e serviços.

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Os circuitos assim concebidos encurtam as turístico. Bauru: EDUSC, 2002.


distâncias e possibilitam maior mobilidade
e entretenimento ao visitante. Aumentando DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a
o número de lugares visitados, o turista tem devastação da Mata Atlântica brasileira. São
mais oportunidades para conhecer atrativos Paulo: Companhia das Letras, 2013.
diversos e vivenciar os hábitos, mitos, ritos
e festejos característicos de diferentes EMPRESA DAS ARTES. Tourist Guide Roraima:
comunidades. Ecology, History and Culture. São Paulo, 2009.
Além dos atrativos turísticos, as zonas
geoturísticas deve contar, em seu território, IBGE/Instituto Brasileiro de Geografia e
com equipamentos e serviços, infraestrutura Estatística. Dados Censitários. Rio de Janeiro,
de estradas, vias de acesso, transportes, 2015.
assim como placas de sinalização e educativas
autoexplicativas, relacionando entre si os HOLANDA, Lêda R.; MARMOS, José Luiz; MAIA,
diversos elementos que compõe o espaço Maria Adelaide. (Orgs.) Geodiversidade do
turístico. Os arranjos produtivos locais e os Estado de Roraima. Manaus: CPRM, 2014.
principais centros de comercialização dos
produtos materiais e imateriais, como as feiras LADEIRA, L. F. B.; DANTAS, M. E. Compartimentação
livres, os mercados públicos e os povoados Geomorfológica. In HOLANDA, Janólfta L. R.;
tradicionais constituem importantes locais MARMOS, José Luiz; MAIA, Adelaide M.. (Orgs.).
para visitação turística. Geodiversidade do Estado de Roraima.
A diversificação dos atrativos turísticos Manaus: CPRM, 2014. (31-46).
nos roteiros incentiva a circulação dos visitantes
por toda a zona turística, beneficiando um LENCIONI, S. Região e Geografia. São Paulo:
maior número de pessoas. Qualquer projeto EDUSP, 1999.
turístico tem êxito garantido na medida em
que são considerados os fatores endógenos MARION, N. M. & FARELL, B. C. A. tale of tourism
e exógenos do desenvolvimento, de forma a in two cities. Annals of Tourism Research, 20
valorizar a dinâmica socioeconômica e cultural (336-353). London, 1998.
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