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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

FACULDADE DE TEOLOGIA

Trabalho realizado pelo aluno Sérgio Dinis da Costa


Rocha, no âmbito da disciplina de Mestrado em Ciências
Religiosas, Igreja e Questão Social, orientado pelo
Professor Doutor José Paulo Abreu.
Braga 2003
INTRODUÇÃO

Manuel Correia de Bastos Pina1 nasceu a 19 de Novembro de 1830, no lugar da Costeira,


freguesia da Carregosa, concelho de Oliveira de Azeméis. Os pais, António Correia de Bastos
Pina e Maria Joaquina da Silva, eram proprietários rurais abastados. A família era numerosa e
influente na terra, tendo o pai ocupado, mais que uma vez, o cargo de Presidente da Câmara
Municipal do seu concelho. Entre os seus membros contavam-se diversos eclesiásticos.
Depois de ter aprendido as primeiras letras na sua aldeia, foi enviado para Ílhavo, onde o
seu tio, Dr. José António Pereira Bilhano, que ali se dedicava ao ensino particular secundário,
o preparou nas matérias de retórica e língua francesa, e lhe possibilitou a ida para Coimbra,
pagando-lhe todas as despesas e confiando-o aos cuidados do Dr. José Manuel de Lemos,
lente da Faculdade de Teologia e, depois, vice-reitor da Universidade. O contacto com estes
dois mestres, ambos sacerdotes e partidários do constitucionalismo liberal, não deixou de
marcar a personalidade de Bastos Pina.
A 5 de Outubro de 1848, com 18 anos incompletos, matriculou-se no primeiro ano de
Direito. Estudante aplicado, Bastos Pina fez um curso jurídico brilhante.
Embora o Dr. José Manuel de Lemos lhe tivesse falado já na possibilidade de se ordenar
presbítero, Bastos Pina, uma vez concluído o curso, e não afastando a ideia de ordenação, foi
estagiar para a comarca da Feira.
Um facto, porém, viria mudar definitivamente a direcção da sua vida. Em Outubro de
1853, o Dr. José de Lemos, então vice-reitor da Universidade, foi apresentado pelo governo
bispo de Bragança. Bastos Pina acompanha-o como seu secretário particular, seguindo para
Bragança com o novo bispo, na disposição de ser ordenado sacerdote. A falta de estudos
teológicos não foi entrave para a sua intenção, pois a 25 de Novembro, dia em que
completava 24 anos, receberia a ordem de presbítero. A 6 de Dezembro era nomeado chantre
da Sé e, a 20 de Janeiro de 1855, ocupava o cargo de vigário geral da diocese de Bragança,
colaborando assim, de modo directo, na administração dos negócios eclesiásticos.
Também em Viseu, acompanhando D. José de Lemos que para aí fora transferido, foi
Bastos Pina nomeado chantre da Sé, vigário geral e, a 14 de Março de 1857, examinador
sinodal. Porém a passagem do bispo Lemos por esta diocese seria breve, porque menos de
dois anos depois era transferido para Coimbra. O Dr. Pina, no entanto, permaneceu em Viseu

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Cfr. António de Jesus Ramos, O Bispo de Coimbra – D. Manuel Correia de Bastos Pina, Gráfica de Coimbra,
Coimbra 1995.
2
como vigário capitular eleito, exercendo a jurisdição plena por mais de um ano, até à chegada
do novo prelado.
BISPO DE COIMBRA
Em Coimbra sucedeu a D. José de Lemos. O Papa Pio IX, no consistório de 22 de
Dezembro, confirmou D. Manuel Correia de Bastos Pina como bispo de Coimbra. A
ordenação ocorreu no dia 19 de Maio, domingo de Pentecostes, na Sé Nova.
A primeira carta pastoral, datada do dia da sagração episcopal, não constitui propriamente
um programa para o governo eclesiástico do novo bispo. Encontram-se aí, no entanto,
afloradas já algumas das suas preocupações, nomeadamente no que se refere à moralização
dos costumes, à disciplina e identidade sacerdotais, à educação da juventude e à problemática
social.
Aos sacerdotes pede-lhes que continuem a esforçar-se por serem fiéis à sua vocação e à
missão sublime de que estão encarregados, porque “se os fiéis virem no seu pastor um varão
talhado pelo espírito de Jesus, puro, simples, humilde, benigno, prudente, caritativo, ouvirão
com docilidade a sua voz, abraçarão com gosto a sua doutrina, e seguirão com alvoroço o seu
exemplo”. Para tanto é necessário, além do mais, que o clero fuja a uma das grandes tentações
do tempo: a intromissão na política. Por isso lhes pede e recomenda que se abstenham “de
entrar em negócios profanos, e sobretudo em lutas eleitorais e discussões políticas”.
Na exortação aos fiéis, menciona especialmente os pais e mães de família, para que “sejam
vigilantes e cuidadosas sobre a educação de seus filhos”. Aos ricos e poderosos recomenda-
lhes que “sejam benévolos, compassivos e caridosos com os pobres e desvalidos” e “os
consolem e socorram em suas necessidades”. Quanto aos pobres, que eram a maioria dos
habitantes da diocese, e “que comem o pão com o suor do seu rosto”, anima-os para que “não
percam a paciência e confiança” em Deus; para que não se deixem “arrastar pela ambição
desordenada e cega que leva não poucos a abandonar o seio da pátria e a buscar, em climas
remotos e menos favoráveis, uma riqueza e fortuna imaginadas, e que a maioria das vezes se
trocam em enfermidades, miséria e morte”; e, finalmente, para que se não deixem “seduzir
pelas ideias fantásticas de sonhados nivelamentos, que são e serão sempre irrealizáveis ou
efémeros, porque lhes resiste a desigualdade natural, que se observa em todos os homens, de
inteligência, de actividade, de indústria e até de fortuna”. Neste campo, porém, o contacto
com as populações e a detecção de muitos casos de opressão por parte dos ricos e de
verdadeiros focos de miséria, levariam o bispo de Coimbra a empreender lutas assinaláveis
em prol da saúde, da instrução e do bem-estar material do povo que fora confiado aos seus
cuidados e que iria pastorear ao longo de mais de quarenta anos.

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Cultura do arroz
D. Manuel Bastos Pina não entendia o ministério pastoral apenas como cura de almas. O
pastor tinha o dever grave de velar também pelo bem-estar temporal do povo que lhe foi
confiado.
A causa em que mais se empenhou e maiores louvores e críticas lhe trouxe foi a da cruzada
que levantou e manteve contra a cultura do arroz nos vales do Mondego e do Arunca. Nas
visitas pastorais de 1879 e 1880 às freguesias dos concelhos de Pombal e Soure, Bastos Pina
apercebeu-se pessoalmente e in loco dos estragos provocados pelas doenças, especialmente a
malária ou sezonismo, que grassavam nas povoações situadas à beira das terras pantanosas
onde se cultivava o arroz. “Em alguns lugares daquelas freguesias por onde passei – escreve o
prelado – afirmaram-me os párocos e mais pessoas que me acompanhavam que acontecia
estar neles toda a gente doente e de cama, sem haver ninguém são para a tratar; e em outros
faziam-me notar que estavam quase inteiramente desertos por terem morrido já quase todos os
seus habitantes”.
A questão não era de fácil solução, e Bastos Pina sabia-o. Atrás da cultura do arroz havia
fortes interesses económicos, pois aquele cereal triplicava os rendimentos dos donos das
terras, em relação às sementeiras tradicionais do milho e do feijão.
A 18 de Outubro de 1880, D. Manuel enviava aos párocos das freguesias onde se cultivava
o arroz uma circular em que lhes pedia um pequeno relatório escrito sobre as incidências dos
pântanos na saúde geral da população, referindo, se possível, os índices de mortalidade em
relação aos anos em que se não fazia tal cultura. O retrato conseguido não podia apresentar-se
com cores mais carregadas que infelizmente, correspondiam à realidade. Em algumas
paróquias a quase totalidade fora, nos meses de verão, atingida pelas sezões, havendo casas
em que nenhum dos habitantes escapara às terríveis doenças; noutras era visível o contraste
entre as zonas paludosas dos arrozais, onde grassava a doença, e as zonas secas, onde as
pessoas gozavam de normal saúde; em muitas delas a mortalidade era altíssima, chegando em
alguns casos a duplicar sobre o índice de natalidade; e havia mesmo aldeias que, por causa da
introdução em maior escala daquela cultura, corriam o risco de ficar desertas.
Perante este panorama desolador e sombrio, o bispo não se podia calar. E não se calou.
Obtidas todas as respostas dos párocos e feita a sua síntese, logo a 14 de Dezembro de 1880,
D. Manuel enviou um extenso ofício ao ministro do reino, o seu contemporâneo na
universidade José Luciano de Castro, expondo-lhe com toda a clareza o negrume da situação e

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a dor que sentia como pastor diocesano, e pedindo-lhe “com a maior confiança e
encarecimento” que se dignasse acudir a estes males pelo modo que julgasse mais acertado,
“ou proibindo a cultura do arroz, como seria mais acertado, ou reduzindo-a a estreitos limites
e a certos terrenos”. De qualquer modo era necessário que se tomassem providências
adequadas e prontas, de modo a impedir que “campos férteis e formosos se tornassem, pela
cultura do arroz e pela estagnação das águas, mais doentios e empestados que os pauis
africanos”. José Luciano não quis ser desagradável para com o bispo, mas não achou
conveniente também intrometer-se numa questão que lhe podia custar a perda de alguns
apoios políticos entre os ceareiros do arroz. Remeteu, por isso, esse “importantíssimo
negócio” para o ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria por ser da sua
competência.
D. Manuel Bastos Pina não era homem para desistir logo no primeiro obstáculo. Enquanto
se não conseguissem disposições governamentais que obstassem ao mal causado pelos
pântanos, havia a possibilidade de esclarecer as populações, fazendo-lhes ver os malefícios
advindos dos arrozais. Foi nesse sentido que enviou aos párocos uma carta a 15 de Janeiro,
dando-lhes instruções sobre o modo com deveriam abordar o assunto com os seus
paroquianos.
O interesse do bispo diocesano em preservar a saúde das populações ribeirinhas, sendo
causa justa e humanitária, não podia deixar de chamar a atenção dos cidadãos. De facto, um
grupo de cavalheiros, dos mais respeitáveis de Coimbra pelo seu saber e posição social,
entraram em contacto com D. Manuel no sentido de se promover um encontro no Paço
Episcopal onde o assunto fosse tratado em pormenor, de modo a poderem juntar a sua voz à
do prelado.
Nas palavras introdutórias, D. Manuel demonstrou que a luta pela saúde do povo não
estava fora da esfera de acção do pastor diocesano, como alguns pretendiam: “não queiram
relegar-nos exclusivamente para o cuidado das almas, dizendo que não nos pertence o cuidado
dos corpos; pois que neste mundo a alma não existe sem corpo; e a Igreja e seus ministros não
miram só a vida futura, promovem também a felicidade dos fiéis na presente”. Bastos Pina
defende que não é pastor, segundo o espírito do Evangelho, o que não confortar amarguras,
não lutar contra a opressão e a injustiça e não combater pelo bem do povo, seja no campo
religioso, seja no social e doméstico.
A campanha lançada por Bastos Pina, e agora corroborada por tantos outros cidadãos,
encontrou apoios por todo o lado, a par de algumas reacções negativas, sempre de esperar
nestas circunstâncias.

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O labor do prelado de Coimbra acabou por ser reconhecido com a publicação de um
decreto do ministério das Obras Públicas, de 23 de Março de 1882, que repunha em vigor a lei
de 1 de Julho de 1867 que, no artigo 30º extinguia a cultura do arroz “ em terrenos
anteriormente aproveitados para outras culturas”. Deste modo retiravam-se os arrozais dos
pântanos criados artificialmente, e permitindo-se a sua cultura apenas onde as águas dos rios
chegassem naturalmente.

Outras lutas em defesa da saúde pública


O interesse de Bastos Pina pela saúde dos seus diocesanos não se resumiu à luta pela
extinção dos arrozais. Sempre que o perigo da doença ameaçava, vinha encontrar o bispo na
primeira linha de combate, quer dando normas de higiene aos párocos para que estes as
transmitissem ao povo, quer emprestando colaboração na instalação de unidades sanitárias,
quer mesmo indo ele próprio visitar os doentes acamados. Em 1884, quando se pôs a hipótese
de se instalar em Coimbra um hospital para coléricos, D. Manuel ofereceu o paço episcopal,
indo ele viver para o seminário se fosse necessário. Porém, como a residência episcopal era no
meio da cidade, e por isso inconveniente para aquele fim, “resolveu-se pedir ao governo de
Sua Majestade que se digne permitir e auxiliar o estabelecimento do referido hospital no novo
paço episcopal, em construção na cerca de Sant’Ana, e cujas obras estão há muito paradas”.
A preocupação em defender os mais pobres das arremetidas das muitas doenças, levava o
prelado a querer estar informado sobre o estado sanitário também da cidade de Coimbra, onde
a pobreza e as precárias condições de habitação não eram menos sentidas que nos campos.
Neste sentido, reunia com os quatro párocos da cidade, como aconteceu em 1887,
pretendendo saber quantos doentes existiam em cada freguesia e recomendando-lhes que
empregassem todos os meios ao seu alcance e pusessem todo o cuidado em “descobrir onde
existem doentes indigentes, a fim de que não lhes faltem socorros nem espirituais nem
temporais”.
De entre todas as doenças, a mais temível era sem dúvida a peste bubónica que, quando
acompanhada de derrames sanguíneos superficiais internos, tomava o nome de peste negra.
Apenas se conhecia um meio eficaz de se travar o avanço da doença: a prevenção. Por isso,
Bastos Pina, em Agosto de 1899, escreve uma carta pastoral aos seus diocesanos prescrevendo
preces diárias e recomendava aos párocos: “É necessário que vós tomeis a vosso cargo antes
de tudo a higiene, limpeza e asseios das vossas paróquias, a qual reconhecidamente e sem
contestação, é o meio mais eficaz, tanto para evitar a epidemia, como para a debelar e destruir
os seus efeitos depois de manifestada”.

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Nas suas recomendações, Bastos Pina, acaba por nos legar um retrato cheio de realismo
das condições de higiene das povoações rurais, nomeadamente da insalubridade da maioria
das habitações, muitas vezes com pessoas e animais a viverem à mistura. Assim exorta os
párocos a que façam visitas sanitárias aos fregueses. E acrescenta: “Aconselhai-os, com bons
modos e com muita prudência e caridade, a que limpem as suas habitações, a que removam
delas as estrumeiras e águas sujas e estagnadas, a que varram e lavem os pavimentos, a que
sacudam bem as paredes e os tectos, a que não conservem dentro delas coisa alguma imunda e
que exale mau cheiro, a que façam separar os estábulos dos animais das habitações e quartos
de dormir dos seus donos e domésticos. Fazei limpar bem as fontes, os poços ou valas, e as
vasilhas de que venha a água para as povoações, e quando ela não for pura e limpa pedi aos
vossos fregueses que a não bebam senão depois de fervida; e onde virdes ou vos constar que
há algum foco de infecção correi logo para lá, para o fazerdes extinguir; e se para isso
faltarem os recursos necessários recorrei ao auxílio da autoridade pública e à caridade e
patriotismo dos vossos fregueses mais remediados”.
A preocupação pela salubridade das povoações levou também D. Manuel a empreender
verdadeiras campanhas para que em todas as paróquias se construíssem cemitérios, pois os
enterramentos nas igrejas, feitas a pouquíssima profundidade e com exumações demasiado
frequentes por falta de espaço, eram um atentado contra a saúde pública.

Luta contra a tuberculose


Outra doença, a tuberculose foi, nos finais do século XIX, a principal responsável pela alta
taxa de mortalidade, nomeadamente entre a gente nova e o operariado. Embora Portugal não
fosse dos países mais atingidos, o desenvolvimento da doença passou a ser assustador,
fazendo, por volta de 1900, mais de vinte mil vítimas anuais, e em todas as idades e classes
sociais. Como se fazia em outros países da Europa, também em Portugal, e por iniciativa da
rainha D. Amélia, se fundou em 1899, a Assistência Nacional aos Tuberculosos (ANT). A 14
de Fevereiro de 1900, D. Manuel convocou algumas das pessoas mais influentes da cidade.
Perante “assembleia respeitadíssima e numerosa”, o prelado apresentou o problema e as suas
ideias para atenuar as consequências, apontando algumas causas para o crescente contágio:
“Nos centros de população, muitos tuberculosos vivem em casas que mais parecem pocilgas
sem ar e sem luz, cercados de família como que empilhada uma em cima da outra, e todos
sem a alimentação necessária, e sem limpeza ou cuidados alguns higiénicos, fazendo assim
uma abundante e assustadora sementeira de tísica”. Perante isto, julga o bispo que é de
interesse comunitário que estes doentes sejam internados em sanatórios, pelo que se tornava

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urgente que, na região de Coimbra, tão perto das zonas de altitude, se construísse um desses
centros para se poderem retirar os doentes do meio das famílias, evitando assim maior
contágio.
D. Manuel enviou aos párocos uma circular, para que estes conseguissem mais subscrições
entre os seus fregueses com algumas posses para a ANT. Outro serviço que o clero paroquial
poderia prestar a esta causa era o das já costumadas recomendações sobre a higiene. Com
caridade, deveriam os párocos empregar todos os esforços para que as pessoas menos
esclarecidas aceitassem o conselho de não escarrarem em casa e nas igrejas; deviam mandar
lavar frequentemente as igrejas; e, para servirem de exemplo, deviam ser eles mesmos modelo
de limpeza pessoal.
Bastos Pina sabe que a resolução deste grave problema passa por outros meios que exigem
a intervenção do estado, desde a insuficiente alimentação dos indivíduos às precárias
condições de habitação, ou mesmo ao desequilíbrio entre a ganância de uns e a miséria de
outros. Os governos e os políticos devem dar as mãos “para obstar a tantos males que
dificultam e arruínam a saúde e a vida das classes operárias, nas grandes cidades
principalmente; e não cessem de olhar muito seriamente para a falsificação e excessiva
carestia também de muitos géneros; para a insalubridade das casas de habitação; para o
trabalho de menores; para o desequilíbrio das relações entre os industriais e os operários; para
a muita ganância duns e grande miséria doutros, e para tudo quanto possa concorrer para
precaver e evitar os perigos da questão social”.
“Embora não fosse esse o seu principal papel, ainda neste campo os párocos tinham uma
missão a desempenhar e que lhes era recordada pelo bispo: a de advogarem, também eles,
junto das famílias mais abastadas o preceito da justiça, dando trabalho aos mais pobres, de
modo que todos pudessem viver dignamente. Isto enquanto aos menos bafejados pela fortuna
se deveria aconselhar não apenas a resignação, mas sobretudo a boa orientação dos seus
parcos recursos económicos, de forma a empregarem estes naquilo que era verdadeiramente
necessário à vida dos indivíduos e das famílias e não em coisas supérfluas.

Luta contra a pobreza


A acção social de Bastos Pina estendeu-se também à defesa dos trabalhadores, sem
esquecer a preservação das fontes naturais de riqueza, pois a destruição destas acarretava, a
curto prazo, maiores dificuldades de sobrevivência para os que ganhavam o pão com o suor
do seu rosto. Das muitas intervenções a que foi chamado, nesta matéria, destacam-se as

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referentes aos problemas da pesca de Aveiro e do cultivo do tabaco nas penedias do concelho
de Pampilhosa da Serra.
O primeiro bairro operário do país
Com os trabalhadores D. Manuel mantinha a melhor relação, chegando a instituir prémios
para os que se distinguissem nas suas actividades e bom comportamento social e familiar.
Bastos Pina era um admirador, em extremo, do Papa Leão XIII, procurando pôr em prática
na sua diocese as directrizes vindas do grande Pontífice. Foi assim que, em Maio de 1897,
pensou que a melhor forma de comemorar o vigésimo quinto aniversário da sua sagração
episcopal seria a formação de um bairro “em que os operários encontrassem o conforto para
eles e para as suas famílias”.
O Cabido e o clero pretendiam oferecer, nessa data, uma cruz peitoral ao prelado. Este, ao
saber dessas intenções, manifestou o desejo de que, em vez daquela oferta, lhe fosse entregue
a soma angariada para, juntamente com outra que tinha sobrado de uma colecta para as
vítimas das inundações de 1881, construir um bairro de quinze moradias para operários
pobres. Contando, além disso, com a oferta do terreno por parte da câmara, D. Manuel, na
celebração do jubileu episcopal, anunciou a decisão da iniciativa: “não aceitamos para a
comemoração das bodas de prata coisa alguma ou presente algum que não reverta em
benefício de Coimbra e da sua classe operária; onde tenham habitação quase gratuita os
operários que, além da sua pobreza, mais se distinguirem pelo seu bom comportamento na
família, no trabalho e na sociedade. Seduzem-nos os resultados práticos e moralizadores desta
santa empresa, em que temos pensado muito, e que tão bem traduz e exprime as doutrinas do
nosso grande Pontífice Leão XIII sobre a necessidade de se melhorarem as condições dos
operários pela prática das virtudes cristãs”.
Com as colaborações recebidas e o entusiasmo que D. Manuel colocou neste
empreendimento, o bairro estava pronto a habitar em Novembro de 1898, abrindo-se então o
concurso para a admissão dos operários, sendo preferidos “os que tiverem mais filhos
menores ou pessoas de família impossibilitados de trabalhar, melhor comportamento religioso
e moral, e que forem melhores chefes de família, mais fiéis, zelosos e inteligentes no trabalho,
e mais necessitados”.

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CONCLUSÃO

D. Manuel Correia de Bastos Pina faleceu no lugar onde nascera e no dia em que
completava 83 anos de idade, a 19 de Novembro de 1913.
Uma das maiores preocupações de Bastos Pina foi a acção social, prova disso é o plano
que efectuou, logo a seguir à sua ordenação episcopal, de fazer visita pastoral a todas as
paróquias.
As visitas pastorais puseram o Bispo, D. Manuel, em contacto com os vários problemas de
carácter social das zonas rurais, nomeadamente no campo da saúde pública, e levaram-no a
tomar medidas enérgicas em defesa dos mais pobres. O seu empenhamento contra a cultura do
arroz, causa de muitas doenças e mortes é exemplar da atitude do pastor que se assume não
apenas como guia espiritual, mas também como defensor dos carenciados e desprotegidos.
Muito importante foi, também, o seu papel pedagógico com vista à formação de uma nova
mentalidade de higiene pública, como forma preventiva e eficaz de combate a doenças como a
peste bubónica e a tuberculose que, na altura, dizimava populações inteiras.
Bastos Pina dedicou especial atenção à preparação intelectual, humana e espiritual do seu
clero. Quer criando-lhes melhores estruturas físicas no seminário, quer na renovação dos
estudos, com introdução de matérias de índole pastoral.
Em toda a acção episcopal é evidente o sentido de consonância com as directrizes vindas
de Roma. A grande admiração por Leão XIII esteve na base da concretização, em Coimbra, de
muitas linhas orientadoras do Papa, particularmente a construção do primeiro bairro operário
do país.

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