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87 06/06/23 10:03 Page 3

mediaXXI [Sumário]

33 48 72
ADMINISTRADOR EXECUTIVO
PAULO FERREIRA

DIRECTOR
PAULO FAUSTINO

EDITOR
MÁRIO GUERREIRO | @ editor@mediaxxi.com

REDACÇÃO
NÍDIA SILVA | @ redaccao@mediaxxi.com
MARGARIDA PONTE
VERA LANÇA

COLABORADORES
CARLA MARTINS
CÁTIA CANDEIAS
DULCE MOURATO
JOANA SIMÕES PIEDADE
REP. DE COMUNICAÇÃO ESPECIAL CHINA EDUCOMUNICAÇÃO
HERLANDER ELIAS Programas para Oportunidades a Aprender a
PAULA DOS SANTOS CORDEIRO
PEDRO LUÍS COITO
crianças Oriente consumir
OPINIÃO
FRANCISCO RUI CÁDIMA
4 EDITORIAL 38 O ALARGAMENTO DA UE E OS IMPACTOS
REGINALDO RODRIGUES DE ALMEIDA
NOS MEDIA
CARLOS CAMPONEZ 6 CANAL DA MANCHA Oportunidades a Leste
CARLOS REIS MARQUES Assessores de Comunicação Vs Jornalistas
JORGE PEGADO LIZ 45 EVENTO
FOTOGRAFIA
8 SOCIEDADE BIT Seminário Media e Migração
NÍDIA SILVA
Os Melhores do Mundo
46 DINÂMICAS DA COMUNICAÇÃO
DESIGN 10 DOSSIER
TÂNIA BORGES | @ design@mediaxxi.com Que Cinema Português? 61 MERCADOS DA COMUNICAÇÃO
CONSULTORA DE IMAGEM E COMUNICAÇÃO
JOANA GUITA PINTO 21 ACTUALIDADE SI 63 AULA ABERTA
Sinapses aposta nos livros electrónicos Invisíveis
MARKETING E PUBLICIDADE
AMÉLIA SOUSA | @ publicidade@mediaxxi.com 22 ACTUALIDADE PUBLICIDADE E MARKETING 64 INSTITUIÇÕES DO CONHECIMENTO
ASSINATURAS
Criatividade Premiada
@ publicidade@mediaxxi.com 65 CENTROS DE CONHECIMENTO
24 ACTUALIDADE TV
IMPRESSÃO
HESKA PORTUGUESA – INDÚSTRIAS TIPOGRÁFICAS, S.A. – CAMPO RASO
Novo Canal a Sul 66 CIBERCULTURA
2720-139 SINTRA – TEL.: 21 923 89 00
25 ACTUALIDADE RÁDIO 68 ENTREVISTA SECTORIAL
DISTRIBUIÇÃO Encontro de Rádios Universitárias Paulo Monteiro, criativo
VASP/ CTT – CORREIOS DE PORTUGAL

SOCIEDADE GESTORA DA REVISTA


26 ACTUALIDADE TECNOLOGIA 71 LEITURAS
FORMALPRESS – PUBLICAÇÕES E MARKETING, LDA.
Tecnologia no Rock in Rio
74 ESTATÍSTICAS DA COMUNICAÇÃO
28 EMPRESAS XXI
*
ESCRITÓRIOS Diários em Crescimento Global
2
 RUA PROFESSOR VÍTOR FONTES, Nº 8D, 1600-671 LISBOA
 21 757 34 59 |  21 757 63 16 | @ geral@mediaxxi.com
*
Actual Training
77 IBERMEDIA
2
 PRAÇA MARQUÊS DE POMBAL, Nº 70, 4000-390 PORTO
 22 502 41 74 |  22 502 60 98 30 ACTUALIDADE IMPRENSA
“RX” nas bancas 78 NUESTRA OPINIÓN
REVISTA FUNDADA POR NUNO ROCHA, EM 1996 Meios, Convergência e Multiplicação
DEPÓSITO LEGAL Nº 995 16/96; REGISTO Nº 120427
TIRAGEM: 7000 EXEMPLARES
31 FONTES DE INFORMAÇÃO DO PARLAMENTO
EUROPEU 80 EUROPA LEX
Comunicação Europeia Novos Apoios ao Sector Audiovisual

32 OPINIÃO/ CARLOS REIS MARQUES 82 LÁ FORA


A Sociedade Portuguesa do A Credibilidade dos Media Chineses
Conhecimento
85 ALDEIA GLOBAL
37 OPINIÃO/ CARLOS CAMPONEZ
Pensar a Alternativa 86 ÚLTIMO OLHAR
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[Editorial]

A PUBLICIDADE SEGUNDO O TIO MARX


os últimos tempos observaram- é uma simples evidência de uma realidade mais fre-

N -se movimentacões por parte


de alguns sectores da sociedade
criticando o anteprojecto do
quente que a do homem dono de casa?
Pretender acabar com os estereótipos significa
querer acabar com a publicidade tal como a co-
Governo sobre o Código do nhecemos e concebemos. Os únicos a ganhar com
Consumidor. Ao contrário de algu- este código serão os advogados. As ideias expressas
mas medidas corajosas e reformistas irão gerar confusões de tal ordem que os advoga-
PAULO FAUSTINO
deste Governo, o projecto inscre- dos irão ter muito trabalho, mas sem ter as bases
DIRECTOR
ve-se numa perspectiva marxista-le- mínimas para chegar a qualquer tipo de conclusão.
ninista sobre o papel – negativo – da Há dois anos participei como consultor num pro-
“O anteprojecto publicidade na sociedade. jecto do Banco Mundial, para reestruturar os me-
do Código do Convém lembrar que a publicidade dia de um país africano e concluímos que a publi-
Consumidor tem contribuído para o desenvolvi- cidade era vista como um sinal exterior de riqueza
não beneficia mento e consolidação das democra- e, como tal, o anunciante tinha logo um funcioná-
nada o cias. Será difícil imaginar qual seria o rio do Governo a cobrar um imposto. Portanto, o
consumidor” preço reflectido no consumidor se, anteprojecto do Código da Publicidade inscreve-se
por hipótese, um jornal não pudesse nesta linha e representa um retrocesso na socieda-
recorrer à publicidade. A publicidade de e democracia portuguesa, só tendo paralelo
ao contribuir para a existência de consumos de com alguns países africanos e latino-americanos.
massas, possibilita que esses produtos cheguem ao Temos vindo a observar alguns episódios em
consumidor um preço mais barato. Portugal que levam a concluir que se não estivés-
O anteprojecto do Código do Consumidor não semos integrados na UE, estaríamos mais próxi-
beneficia o consumidor. Por exemplo, está previs- mos dos modelos de governação de alguns países
to (artigo 7) que “é proibida a publicidade que uti- Latino-Americanos. A iniciativa legislativa em cau-
lize a imagem da mulher ou do homem com carác- sa afasta-se totalmente das tendências europeias –
ter discriminatório ou vexatório”, alínea 3, e na inclusivamente de Espanha – que vão no sentido
alínea 4, “Consideram-se incluídas no número an- de implementar políticas públicas mais liberais pa-
terior as mensagens publicitária que utilizem, en- ra a comunicação comercial, apostando na educa-
quanto objecto principal da mensagem, o corpo da ção para os media e publicidade.
mulher ou do homem ou partes do mesmo, como Este projecto irá ter impactos negativos na economia,
mero objecto desvinculado do produto que se pre- em particular no sector dos media, já de si um ser frá-
tende publicitar, ou que associe a imagem da mu- gil – apesar de estratégico para o país. O projecto
lher ou do homem a um comportamentos estereo- prevê cobrar outra utaxa, que mais se parece com um
tipados discriminatórios”. imposto, sendo, por isso, inconstitucional. Também
Aqui impõe-se uma primeira reflexão: a publicida- vai inibir o investimento publicitário, inclusivamente
de é dirigida a targets, pelo que pretende criar mo- de multinacionais que tendem a sediar-se em
delos de comunicação com os quais os seus destina- Espanha. Mais uma vez estamos a beneficiar, com as
tários se identifiquem. Por exemplo, um nossas míopes políticas, a economia espanhola.
automóvel todo o terreno poderá ser mais direccio- A propósito de investimento estrangeiro, esta edi-
nado ao público - alvo masculino e evidenciar essas ção apresenta um artigo sobre as oportunidades
características. Neste caso, estará a discriminar indi- para Portugal no âmbito da cultura e dos media na
vidamente as mulheres? Quase todos os produtos China. Também fazemos uma análise interessante
de limpeza doméstica ou de cozinha apresentam sobre a indústria do Cinema em Portugal. E te-
mulheres associadas às mensagens. Isto é discrimi- mos muitos outros pontos de interesse. Não per-
nação? É o estereótipo da mulher dona de casa? Ou ca! Desculpem esta Publicidade!

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[Canal da Mancha]

ASSESSORES DE COMUNICAÇÃO VS.


JORNALISTAS
e um jornalista deixou de o ser para ser os “ex-futuros-jornalistas” os porta-vo-

S entrar, como assessor, num gabinete


ministerial, como encarar depois o
seu regresso, de novo como jornalista, a
zes de estratégias políticas e corporativas,
continuaremos com uma delicada pecha na
sociedade portuguesa.
uma redacção de um jornal, de uma rádio Sabe-se agora que uma nova proposta de lei
ou de uma televisão? Como o regresso de do Estatuto dos Jornalistas prevê o que é
um ex-assessor ou de um ex-jornalista, ser- designado como um período de carência de
ventuário do poder? seis meses, em que o ex-jornalista e/ou
A promiscuidade que nos últimos anos foi ex-assessor, não poderá trabalhar na esfera FRANCISCO RUI CÁDIMA
legitimada, nesta matéria, em sede de editorial da sua actividade anterior. É um DOCENTE UNIVERSITÁRIO
Estatuto dos Jornalistas, é um continuado avanço, mas que sabe a nada. O ideal seria
erro que abala a dignidade e a independên- que no espírito da lei houvesse uma clara
cia da classe, contribuindo para reforçar a desmotivação do retorno à profissão dos “Hoje, a
desconfiança que a opinião pública exprime assessores do poder. Uma reserva de seis comunicação
sobre as ligações perigosas de práticas ditas meses continua a ser, no fundo, um convite serve sobretudo
“jornalísticas”. Miguel Sousa Tavares lembrou à serventia política dos ditos “jornalistas”. para dissimular a
recentemente, no Expresso (“Jornalismo, É inaceitável que um jornalista seja num informação”
modo de vida”, 3.6.06), que esta “absoluta dia profissional de marketing político ou ANÓNIMO DO SÉCULO XX
promiscuidade” recebeu no passado o apoio propagandista desta ou daquela estratégia
da classe “com o próprio Sindicato dos política e no dia seguinte regresse candida-
Jornalistas a propor que se equiparassem os mente à redacção como se nada fosse com
profissionais das agências a jornalistas, com ele... Se não for colocada uma forte reser-
carteira profissional e tudo”. va ao regresso ao jornalismo desses servi-
Certamente com a mesma convicção críti- dores de gabinete, de modo a que iniba ao
ca, o governo holandês em boa hora deci- máximo essa obscena incompatibilidade, o
diu impedir esta lógica de vasos comuni- “quarto poder” pouco mais será do que um
cantes que em nada dignifica o jornalismo e quarto do poder.
muito menos as instituições comprometi- A relegitimação dos media é uma “Via
das nessas práticas. Crucis” dolorosa, para um objectivo por-
Apesar de tarde, vai-se sempre a tempo de ventura inalcançável. Exorcismos, alguns
introduzir este debate e procurar seguir o foram frontalmente assumidos. João
exemplo holandês. Temos em Portugal lar- Miguel Tavares escreveu “O pecado mora
gas centenas de licenciados em assessorias aqui”, no DN de 26.5.06, um pequeno guia
de comunicação empresarial, organizacio- para todos que andam perdidos: “os gran-
nal e institucional, ou mesmo em relações des pecados dos media nacionais são o co-
públicas e marketing político, que deverão, modismo, a desatenção, o respeitinho pelo
esses sim, ser chamados ao exercício desse poder, o alheamento da sua tarefa histórica
tipo de funções. Enquanto continuarem a de watch dog”. Assino por baixo.

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[Sociedade Bit]

OS MELHORES DO MUNDO...
oa noite, senhores telespectadores. já são uma realidade. Os progressos foram fei-

B Bem vindos ao canal de televisão uni-


versal: aquele que marca a diferença.
A nossa selecção aguarda o jogo inaugural
tos no sentido de dotar os árbitros do Mundial
com a possibilidade de verem imagens de mo-
mentos que podem ser dúbios, quase on-line,
no Mundial. Todos a postos, na Alemanha e apenas a alguns segundos de distância depois
em Portugal. Somos um país a vibrar na da sua efectiva concretização! Desta forma, a
expectativa da vitória. terceira equipa em campo pode agir de forma
Passamos de imediato às notícias da política mais convicta e imparcial.
REGINALDO RODRIGUES DE
internacional com a visita da comitiva go- As imagens que vieram a público recentemen-
ALMEIDA
vernamental portuguesa a Angola. A reunião te sobre uma eventual visita de extraterrestres
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
decorreu em ambiente festivo, embora ner- a Portugal, acabam de ser interpretadas; afinal
SOCIEDADEBIT@SOCIEDADEBIT.COM
voso com a proximidade do jogo que irá tratava-se duma plantação de nabos com a for-
opor as duas selecções e, Graças a Deus, não ma do logótipo do Mundial que hoje, dia da
foi necessário interromper os trabalhos pois sua inauguração, foram iluminadas e, como se
nada de importante aconteceu aos futebolis- pode ver pelas imagens, a população está em “Desta forma, a
tas portugueses nem nenhum alto represen- festa. Merecida, certamente. terceira equipa
tante da nação teve a veleidade de chamar Hoje não teremos a rubrica sobre livros: em campo pode
gordo a este ou àquele atleta a obrigar a um primeiro porque nunca temos e em segun- agir de forma
pedido formal de desculpas... do porque até a Feira do Livro está vazia, mais convicta e
No campo económico destaca-se hoje a assi- logo conclui-se que nada há a dizer, além imparcial”
natura do protocolo entre diversas empresas disso, lá não se joga futebol!!!
têxteis que reunirão esforços para trabalhar Vamos agora em directo para a Alemanha
conjuntamente. A meta é fabricar os novos onde está um dos nossos enviados especiais e
fatos de treino da selecção que, segundo os cuja conversa pode ser seguida depois deste
signatários do protocolo, terão toda a quali- momento informativo, que termina aqui
dade da tradição têxtil portuguesa. mas, em seguida, faremos o prometido di-
Vamos agora em directo para uma ilha qua- recto no programa especial: É Golo, É Golo!
se deserta no Oceano Pacífico onde vive Despeço-me, não antes sem lhe recordar a
um português. Um dos nossos 98 enviados diversidade da nossa programação para esta
especiais vai entrevistá-lo e tentar saber noite, à imagem das outras: depois do É
que emoção lhe provoca a participação de Golo, É Golo, não perca a longa-metragem
Portugal no Mundial. A Angústia do Guarda-redes no Momento
Pedimos desculpas mas questões de ordem do Penalti. Em seguida um debate com vá-
técnica não nos permitem fazer o directo. rias figuras públicas, onde lhes vamos colocar
Portugal vai ser palco a partir de hoje e du- uma pergunta: os golos são mais eficazes
rante duas semanas duma mostra interna- quando marcados com o pé ou com a cabe-
cional de Arte. Artistas do mundo inteiro ça? Participe também através do 800 000
expõem as suas produções que têm em co- 000 para o pé e 000 000 800 para a cabeça.
mum a fantástica particularidade de serem Tenha uma boa noite e até já no… É Golo,
redondas, como uma bola de futebol. É Golo!
Mais uma vez somos surpreendidos pelo avan- E Viva Portugal! Bem precisa, pois assim
ço da tecnologia: os óculos que permitem o não irá muito longe na qualificação do de-
visionamento de imagens em qualquer lugar senvolvimento e das competências.

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[Dossier/ Estado do Cinema Português]

QUE CINEMA PORTUGUÊS?


Sector vive situação de impasse

No sector do cinema nacional existe uma lei que espera regulamentação


há cerca de dois anos, uma das mais baixas quotas de mercado de cine-
ma nacional e, paralelamente, uma cinematografia consagrada nos mais
importantes festivais internacionais
POR PEDRO LUÍS COITO

o estranho mundo do cinema nacional existe produtivo económica e financeiramente frágil, ex-

N uma lei que espera regulamentação há cerca


de dois anos, uma das mais baixas quotas de
mercado de cinema nacional e, paralelamente,
tremamente dependente da intervenção pública,
operando num mercado nacional residual, os seus
resultados finais têm tanto de desanimador como
uma cinematografia consagrada nos mais impor- de surpreendente.
tantes festivais internacionais. Com um tecido Em 2005, estrearam em Portugal 13 filmes portu-
CASA DA IMAGEM
DOSSIER

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[Dossier/ Estado do Cinema Português]

gueses, dos quais dois são co-produções minoritá-

CASA DA IMAGEM
rias, divididos entre 12 longas-metragens de ficção
e um filme de animação. Depois de 34 filmes por-
tugueses estreados comercialmente em 2003 e 39
em 2004, o decréscimo neste último ano é um si-
nal claro da situação de impasse em que vive o ci-
nema português. Não houve estreias comerciais de
curtas-metragens, contrastando com o número de
16 e 12 exibidas nos dois anos anteriores, nem de
documentários, também ao contrário do sucedido
em 2004 em que estrearam 5. Num total de cerca
de 15 milhões de espectadores, o cinema portu-
guês ocupa uma quota de 3,1%, a que correspon-
dem cerca de 462 mil espectadores.
Destes, cerca de 405 mil concentraram-se em três
filmes: “O Crime do Padre Amaro”, com mais de
310 mil espectadores no ano transacto, a longa-
-metragem de animação “O Sonho de uma noite
de S. João”, de co-produção minoritária portugue-
sa, com mais de 55 mil espectadores, curiosamen-
te ambos sem apoios do ICAM, e “Alice” de Marco
Martins, que marca uma estreia auspiciosa, consa-
grada nacional e internacionalmente, no cinema capacidade de acesso ao espaço europeu, quer por
português, fazendo cerca de 33 mil espectadores. pré-vendas ou acordos de co-produção, e incapaz
Isto num ano em que estrearam filmes de nomes de romper com uma opinião geral de desconfiança
consagrados como Manoel de Oliveira e João entre elites, públicos e criadores, o panorama na-
Botelho, pela mão do grupo Paulo Branco, e um cional é principalmente feito de interrogações e
filme de Leonel Vieira, por via da MGN de Tino perplexidades.
Navarro. Curiosamente, os dois paradigmas da Se o preço médio dos bilhetes em Portugal se que-
produção nacional entre a aposta numa cinemato- da pelos 4,1 euros, o mais baixo da Europa a 15, e
grafia alternativa à indústria dominante e o forma- a média de idas ao cinema por habitante (1,49) é
to do “blockbuster” nacional. um valor médio, já a quota de espectadores de ci-
O facto é que estes casos excepcionais só confir- nema nacional, que se tem se vindo a cifrar nos úl-
mam a regra do cinema português. Dependente da timos anos na ordem de 1%, só contrariada pelos
intervenção pública, que representa em média pontuais resultados de filmes como os acima refe-
cerca de 40 a 70% do financiamento total de cada ridos, é elucidativa. Em comparação com a média
filme, podendo ultrapassar com facilidade a mar- europeia, que ronda os 20%, o cinema português

DOSSIER
gem de 75% para filmes com orçamento inferior a é dos menos vistos no seu próprio território, só
900 mil euros, que constituem a maioria das pro- equiparável aos números de países como o
duções nacionais, e ficando-se por uma percenta- Luxemburgo ou a Irlanda que sentem mais forte-
gem de cerca de 20 a 35% para projectos com or- mente a proximidade de países vizinhos maiores
çamentos superiores a um milhão e meio de de língua comum.
euros, esta é claramente uma indústria cruzada pe- Relativamente à dominação das salas pela cinema-
los mais diversos constrangimentos. tografia norte-americana, se os números totais de
Com um financiamento nacional quase exclusiva- filmes distribuídos apresentam uma percentagem
mente canalizado através do ICAM, dependente da de 59,5%, incluindo co-produções, este número

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[Dossier/ Estado do Cinema Português]

esconde uma real adesão dos espectadores a estes a televisão e o cabo concentram a larga maioria do
filmes na ordem dos 87%, o que permite apontar total de volume de negócios (ver quadro 1).
o par distribuição/exibição como um dos princi- A comparação do volume de negócios da televisão
e do cabo com os da pro-
Quadro 1: Volume de negócios do sector audiovisual em Portugal – 2004 dução de cinema e da
produção independente
SUBSECTOR CRITÉRIOS REPRESENTATIVIDADE DA VOLUME DE NEGÓCIOS de televisão traça um
RESPOSTA DO MERCADO (%) (MILHARES DE EUROS)
quadro de completa de-
Televisão (Broadcasting) Volume de Negócios 100 565.305
sarticulação entre estas
Produção de Televisão Volume de Negócios (APIT -n.d.) - 13.436 actividades. Enquanto o
Cabo Volume de Negócios 99,4 515.902 volume de negócios das
Produção de Cinema Volume de Apoios Públicos (ICAM) * 11.045 empresas independentes
de produção televisiva se
Distribuição de Cinema Nº de filmes distribuídos 2004 53 29.240
(IGAC)
cifrou em apenas cerca de
Receitas de bilheteira (ICAM) 48 70.781
13,5 milhões de euros, já
Exibição de Cinema
o volume de negócios das
Rádio Nacional Volume de Negócios 25% 80.280
empresas de televisão, no
Rádios Locais Amostra Representativa (APR) 22% 1.044 seu total, ascendeu a mais
Áudio (Indústria Volume de Negócios (AFP) * 60.911 de 565 milhões de euros,
Fonográfica) tendo simultaneamente a
Edição/Distribuição de Quota de Mercado * 11.381 (aluguer) oferta de programação de
Vídeo (APEV - ex-FEPIV) 20.820 (venda) produção nacional, na sua
Distribuição de Jogos % jogos lançados em 2004 por * n.d. maioria produção de flu-
distribuidora xo, ocupado cerca de 45%
do total da programação.
* AS EMPRESAS CONTACTADAS NÃO DISPONIBILIZARAM DADOS
FONTE: OBERCOM – BARÓMETRO DA COMUNICAÇÃO 2005 – 2ª EDIÇÃO
Nas actividades cinemato-
gráficas e de vídeo, em que
pais estrangulamentos do mercado nacional, quer o tecido produtivo é maioritariamente composto
seja pela inexistência de mecanismos de obrigato- por pequenas empresas, o cenário é ainda mais de-
riedade de reinvestimento na defesa da cinemato- sanimador, já que não só os números são por si só
grafia nacional quer seja pela aparente indiferença esmagadores, como as soluções a encontrar estão
do público-alvo considerado, numa noção cada vez longe de ser consensuais entre os seus agentes.
mais estereotipada e juvenil do gosto.
A demissão das televisões, uma regulação de merca- Novo cenário do cinema português
do estritamente baseada na cobrança de uma taxa Enquanto a regulamentação da lei do cinema con-
sobre a publicidade canalizada via ICAM e a inexis- tinua um longo e conturbado circuito legislativo, o
tência de fontes de financiamento privado consis- sector funciona num vazio com resultados desas-
tentes, em parte devido à carência de mecanismos trosos em termos económicos e financeiros, atin-
de participação alargados a toda a cadeia de valor do gindo transversalmente quer os seus agentes quer
DOSSIER

audiovisual, de benefícios fiscais e de crédito signifi- o próprio ICAM, que se vê obrigado a suspender
cativos, criam um cenário deveras desanimador. programas de apoio.
Com um volume de ajudas, repartidas entre pro- A nova lei, que promete alterar o panorama nacio-
gramas de apoio selectivo, automático e directo, nal, tem como principais medidas a clarificação de
na ordem dos 11 milhões de euros à produção de conceitos, regras e modelos dos sistemas de apoio,
cinema, as actividades cinematográficas ocupam alargados a todas as etapas da cadeia de valor, no-
uma parcela diminuta do sector audiovisual, onde vos modelos de designação de júris e de apreciação

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[Dossier/ Estado do Cinema Português]

dos projectos em concurso, mantendo o ICAM a de 30 a 40% para obras cinematográficas e 60 a


sua autonomia financeira e administrativa, não 70% para as restantes (ver figura 1).
sendo por tal revogada a sua lei orgâni-
ca, e a nova regulamentação do registo Figura 1
de obras e empresas. Paralelamente a
lei prevê a criação de um novo Fundo
do Cinema e Audiovisual, com a partici-
pação de capitais públicos e privados,
que contribuirá para o desenvolvimento
da produção cinematográfica e audiovi-
sual numa base de sustentabilidade eco-
nómico-financeira na sua relação com o
mercado, criando uma nova porta de fi-
nanciamento até agora inexistente e de
participação do sector privado.
O ICAM garante a sua subsistência atra-
vés da taxa de publicidade no cinema e
televisão, de 4%, implementada pela lei
de 1993. O Fundo contará com a con-
tribuição obrigatória dos operadores e
distribuidores de televisão com serviços de acesso Esta nova configuração regulamentar pretende ser
condicionado em 5% dos seus resultados líquidos, um incentivo para a criação de um tecido indus-
de 2% das receitas provenientes da distribuição de trial sustentável no sector audiovisual, em que o
obras cinematográficas e da venda de videogramas, cinema se inclui, acompanhando as melhores prá-
e 2,5% da importância do preço de venda dos bi- ticas no quadro europeu.
lhetes a reter pelos exibidores cinematográficos de Segundo o Observatório Europeu do Audiovisual,
7,5%. Em aberto fica a participação de outros in- os montantes e as fontes dos fundos públicos são
vestidores, incluindo operadores de televisão na bastante variáveis consoante o país e seu mercado.
produção cinematográfica e audiovisual através de Desde já refira-se que 72% desse total de investi-
contratos de investimento plurianuais. mento público foi espalhado pelos cinco maiores
Esta medida pretende dar um passo em frente na países, França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino
almejada diversificação das fontes de financiamen- Unido, dos quais só a França contabilizou 46% do
to, dando prioridade a modalidades de apoio auto- financiamento directo público. Já quanto às fontes
mático, assentes no desempenho no mercado, e o de financiamento das diferentes instituições de
desenvolvimento de planos de produção pluria- apoio europeias, deve ser realçada a pluralidade
nuais (“slate funding”), incluindo projectos de ci- das opções seguidas. Embora a parcela composta
nema, televisão ou multiplataforma, visando criar por contribuições vindas directamente do
condições de sustentabilidade e reinvestimento às Orçamento de Estado, cerca de 21%, ainda seja
DOSSIER

PME´s, descapitalizadas e fortemente dependentes bastante representativa, o crescente envolvimento


da intervenção pública, que são o molde do frágil do sector audiovisual no financiamento do cinema
tecido produtivo nacional. A repartição dos inves- através de múltiplos mecanismos distintos, sejam
timentos a cargo do Fundo, que detém larga am- de natureza voluntária ou compulsória, em espe-
plitude de acção, sendo constituído por uma cial sob a forma de taxas extensíveis a toda a ca-
Assembleia de Participantes representativa de to- deia de valor, marcam as tendências de regulação
dos os investidores e um Director Executivo no- do mercado europeu, num cada vez mais claro
meado, deverá respeitar uma proporcionalidade compromisso entre preocupações de ordem cultu-

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[Dossier/ Estado do Cinema Português]

ral e económica. inexistência de um claro caderno de encargos por


A estas formas de intervenção poderíamos adicio- parte das televisões (cada vez menos) generalistas
nar também no espaço europeu os diversos meca- e a omissão quanto à tradução das responsabilida-
nismos existentes de benefícios fiscais orientados des na concessão do serviço público de televisão,
para a promoção do investimento nesta área, à substituídas pela celebração de protocolos anuais
medida do SOFICAS francês; as atribuições de com o ICAM, ambas relativamente ao apoio à
condições de crédito bonificadas através de insti- criação e programação nesta área. Facto especial-
tuições como BNL italiano; a organização de siste- mente relevante quando se discute a atribuição de
mas de garantias financeiras visando cobrir os ris- novas licenças de televisão e é ultimada a nova re-
cos de investimento na produção à medida visão da Directiva “Televisão Sem Fronteiras”.
do IFCIC francês; e todas as múlti- Curioso é ver como a consciência da necessidade de
plas formas de promoção intervenção dos restantes participantes da cadeia de
e regulação do ci- valor do cinema, e por maioria de razão, também
nema. do todo que compõe o sector do audiovisual, acom-
panha, independentemente de seus objectivos ou
discursos legitimadores, a noção de uma nova
economia integrada do cinema.
As bilheteiras nacionais ti-
veram um resulta-
do bruto,

CASA DA IMAGEM
Nova Lei,
Velhas Discussões
A aparente aposta no desenvolvimento
de uma indústria em Portugal, em estreita coope-
ração com o conjunto do sector audiovisual, não no ano
apazigua as já antigas discussões em torno das no- de 2005, de apro-
ções de arte e indústria, obras e conteúdos, que ximadamente 63 milhões de
marcam de há muito o panorama do cinema no ter- euros, dos quais a fatia para filmes na-
ritório nacional. cionais é de cerca de 2 milhões. Por outro lado, só
Apesar das posições aparentemente irreconciliá- no primeiro semestre de 2005, o valor das receitas de
veis entre os seus próprios agentes, como demons-

DOSSIER
vendas directas na janela do DVD atingiu cerca de
trado na separação dentro da própria classe de rea- 22 milhões de euros, reforçando o facto de que
lizadores entre a APR (Associação Portuguesa de muito pouco da economia do cinema se continua a
Realizadores), e a ARCA (Associação de jogar nas salas. Com o incremento da importância
Realizadores de Cinema e Audiovisual), que num desta janela de exploração comercial, a importân-
sentido lato representam a separação entre do ci- cia da gestão de catálogos como garantia de “cash-
nema como arte e como indústria, num ponto po- -flow” para produtores e os avanços no acesso aos
demos encontrar uma coincidência: a crítica face à serviços de banda larga, exponenciando a ameaça

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[Dossier/ Estado do Cinema Português]

CASA DA IMAGEM

de uma possível “napsterização” da indústria cinema- quia dos 370 mil espectadores, se tornou o filme
tográfica, os desafios de intervenção parecem vastos e nacional mais visto de sempre em Portugal, ultra-
difíceis de coadunar com um cinema que continua a passando no total acumulado de exibição mega-pro-
olhar de soslaio para mercados, conteúdos e públicos. duções como “King Kong”, o facto é que há um es-
paço para filmes portugueses e uma verdadeira
O pretenso divórcio entre criadores e vontade de consumo de ficção nacional, aliás ex-
público pressa na ocupação do “prime-time” das estações te-
Segundo estudo publicado pela Universidade levisivas. O que já não é de estranhar é que este seja
Lusófona, “O Cinema Português e os seus públi- um projecto concebido originalmente como uma
cos: situação presente e evolução futura”, promo- mini-série, a ser exibida na SIC, que beneficia da
vido pela Associação de Produtores de Cinema participação do maior distribuidor nacional a ope-
portugueses (APC) e apoiado pelo ICAM, mais de rar no cinema e no cabo, a Lusomundo, repetindo
metade dos portugueses, 58,2%, sente uma com- uma fórmula assente na tele-ficção e numa agressiva
pleta indiferença pelo cinema nacional. Entre as campanha promocional, que já anteriormente tinha
principais razões apontadas estão o desinteresse permitido o “boom” dos telefilmes e de sucessos co-
pelos argumentos, ideia negativa dos actores e fal- mo “Tentação”,” Zona J” ou “Adão e Eva”.
ta de promoção. Nas respostas recolhidas, os qua- Entre uma indústria audiovisual auto-sustentada,
lificativos utilizados para descrever os filmes por- aberta às mais amplas subjectividades relativas à
tugueses espraiam-se entre “depressivos, discussão da qualidade dos seus produtos, e um ci-
monótonos, tristes, cansados, sem ritmo, teatrais, nema marcadamente autoral que tem definido esta
DOSSIER

desinteressantes ou trágicos”, dirigidos a um pú- cinematografia como uma das mais interessantes e
blico restrito e essencialmente artesanal. consagradas formas de expressão cultural nacio-
Estas respostas, mais que denotarem um conheci- nais, se define o espaço de futuro desenvolvimento
mento efectivo dos filmes produzidos, reforçam a desta actividade. Se, por caricatura, estas defini-
noção de um estereótipo do que é o cinema portu- ções genéricas servem para separar audiovisual e
guês e que dificilmente tem expressão na sua reali- cinema, então a não cooperação entre ambos pode
dade ou efectiva ligação com os seus públicos. Se o também significar o fim anunciado daquilo a que
filme “O Crime do Padre Amaro”, transpondo a fas- se convencionou chamar o “cinema português”.

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[Dossier/ Estado do Cinema Português]

MUDANÇAS PRECISAM-SE
Financiamento do sector é principal problema
António Pedro Vasconcelos critica a criação do fundo de investimento de
apoio ao cinema português e a existência de um “conjunto de
realizadores no poder”
POR PEDRO LUÍS COITO E MÁRIO GUERREIRO

realizador António Pedro Vasconcelos faz uma dando dinheiro mas tendo assim a possibilidade de

O análise negativa ao actual estado do sector do


cinema nacional. O cineasta considera que o
debate em torno das alterações à Lei do Cinema tem
controlo”. À época, esta vontade de Marcelo
Caetano traduziu-se no chamado “adicional” sobre
a sala, dado que “na altura a economia do filme
“sido cruzado por posições radicalmente opostas” ainda se fazia quase totalmente na sala”. O
que “numa economia fraca se radicalizaram de tal Governo impunha assim unilateralmente “sobre
maneira que têm sido um factor de bloqueio”. O re- distribuidores e exibidores uma taxa sobre os bi-
alizador e antigo presidente da Associação de lhetes”, que revertia depois para a produção nacio-
Realizadores de Cinema e Audiovisual é da opinião nal; o “adicional”. António Pedro Vasconcelos é da
que qualquer intervenção pública da tutela não pode opinião que esta “forma de censura económica e
prolongar “a agonia da lei de 7/71”. O realizador re- política nunca foi alterada no seu essencial”. “Com
corda que “neste momento há uma lei em vigor há o Governo de Cavaco Silva o que se alterou foi re-
mais de um ano que ainda não foi regulamentada, o conhecer que a economia dos filmes não se fazia
que implica que se continua a regular por portarias”. exclusivamente nas salas passando-se a onerar as
Para António Pedro Vasconcelos, é necessário uma televisões privadas transferindo esta taxa para a
correcção da regulamentação actual, que critica por publicidade destas”, recorda o cineasta.
considerar que “significa a perpetuação e o adiamen- O realizador aponta vários erros a essa decisão,
to de uma situação (…) que se traduz pela mais bai- que ainda hoje subsistem no sector. “O primeiro
xa frequência de filmes nacionais da Europa”. erro é que se deveria ter dividido essa taxa de
O realizador de “Lugar do Morto”, “Jaime” e “Os 15% por três veículos de comercialização dos fil-
Imortais”, entre outros, considera que a lei, embo- mes: a sala, o vídeo e a televisão”, ao invés de
ra “sem grande dignidade do ponto de vista da sua “transferir essa taxa exclusivamente para a televi-
redacção e dos pressupostos jurídicos, representa são”, diz. Para António Pedro Vasconcelos, o se-
ainda assim a quebra de um tabu ao admitir que-
brar o actual sistema de produção em que o
Estado é o único financiador e decisor”.
DOSSIER

Uma lei ainda do Estado Novo


Referindo a importância de uma legislação que
ajude o desenvolvimento do cinema português,
António Pedro Vasconcelos recorda que a lei 7/71
resultou de “uma decisão de Marcelo Caetano que,
CASA DA IMAGEM

ao perceber que não podia contornar a existência


de um novo cinema, preferiu tomar conta deste,

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[Dossier/ Estado do Cinema Português]


CASA DA IMAGEM

gundo erro das alterações trazidas pelo cavaquis- da, experimental e de inovação”.
mo foi a taxação da publicidade e não do “volume
de negócios”. Para o cineasta, esta opção levou a ICAM estrangula o mercado
que “a RTP, que deveria ser o maior impulsionador Para o realizador, teria sido importante garantir que
do cinema português, ficasse numa posição no mí- a “iniciativa fosse devolvida ao mercado e ao produ-
nimo bizarra”, pois “a 2: não paga nada e o canal 1 tor”, multiplicando as fontes de financiamento e di-
paga somente sobre um terço do seu orçamento, versificando os centros de decisão. António Pedro
que é a par te que advém da publicidade”. Vasconcelos defende que a existência exclusiva de
Finalmente, identifica como terceiro erro o que uma fonte de financiamento do sector (as televi-
define como “o pecado original da lei marcelista, sões), e de um centro de decisão (o ICAM) estran-
que é o de pedir (…) o dinheiro às televisões e gula o “mercado e os exibidores”.
depois ser o Estado a redistribuí-lo”. Analisando ainda os tempos recentes do sector, o ex-
Como alternativa, o cineasta defende que deveria presidente da ARCA defende que o único período em
ter sido criada “uma rede de obrigações idêntica, de que se verificou algum sucesso na relação entre fontes
5% sobre o volume de negócios de toda a cadeia de de financiamento e cinema português foi aquando “do
valor de comercialização dos filmes”, destinada à protocolo entre a SIC e o Ministério da Cultura, sob
criação de novos filmes, “mas deixando aos visados tutela de Manuel Maria Carrilho”,
a decisão”. Assim, adianta, o “Estado passaria a ter António Pedro Vasconcelos identifica também como
um papel de regulador, através da legislação” e in- outro dos problemas do sector a existência de um
tervinha “posteriormente numa série de outras áre- “conjunto de realizadores que estão efectivamente no
as, da formação ao apoio a cineclubes e promoção poder” e cuja influência se “manifesta nas escolas de
no estrangeiro, entre outras”. Para António Pedro cinema, na Cinemateca, nos principais jornais, nos jú-
Vasconcelos, estas mudanças permitiriam ao ris do ICAM e na opinião pública”. O realizador acre-
Governo “complementar o financiamento ao sec- dita que assim se cria um “arbítrio total nas decisões e
tor”, e apoiar igualmente projectos alternativos e de na irresponsabilidade”, dado que “quem está nos júris
carácter experimental, “que escapassem à lógica co- desresponsabiliza-se totalmente quer do dinheiro in-
mercial, mas que garantissem um efeito de vanguar- vestido, quer dos resultados financeiros e artísticos”.

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[Dossier/ Estado do Cinema Português]

“Esta escola, digamos assim, opõe-se a tudo o que seja serviço público na divulgação da cinematografia por-
mudança naquilo que era no fundo, o espírito da lei tuguesa, como sucede em Espanha, talvez nas novas
de 71, e que o cinema evoluiu”, acusa. estreias o público se aperceba que existe um cinema
O realizador opõe-se também à criação de um fundo português e os números comecem a mudar”.
de investimento para o sector, preferindo o investi- Apesar de ser a favor de uma maior exibição de fil-
mento directo como primeira escolha, complementa- mes nacionais na televisão, Vítor Ferreira defende
do, se necessário, com o CASA DA IMAGEM que esta programação não
ICAM. “Corremos o risco deve ser feita de forma
de tornar um monstro desintegrada, mas sim
que é o ICAM, num outro através da criação de “há-
monstro que é o Fundo”, bitos e espaços” de visio-
refere. namento de produção
nacional, “num horário
Que caminhos do apetecível”.
cinema? Reconhecendo não
Coimbra recebe anual- conhecer aprofunda-
mente aquele que é con- damente as altera-
siderado o maior certa- ções propostas pela
me de cinema nacional; tutela, Vítor Ferreira
os “Caminhos do Cinema manifesta-se no entan-
Português”. Organizado e to a favor de altera-
promovido pelo Centro ções nos meios de fi-
de Estudos Cinematográ- nanciamento do
ficos da Associação sector e defende
Académica de Coimbra, o uma maior “diversida-
festival viveu a sua última de das fontes de financia-
edição em Maio passado. À mento”. O responsável pe-
frente dos destinos do festi- los Caminhos do Cinema
val nos últimos seis anos,Vítor Português é da opinião que
Ferreira, do CEC, considera que deveria haver uma revisão
o festival tem mostrado “um aumen- do “sistema de apoios esta-
to significativo na qualidade e quantida- tal”, bem como a criação de
de de obras cinematográficas”. Para Vítor “um mecanismo de fiscalização e
Ferreira, este aumento de qualidade deve-se acompanhamento” dos projectos apoiados. “Os
“aos novos realizadores que nos brindam com ou- financiamentos exteriores, exigidos em alguns casos,
tras opções estéticas, essencialmente nas curtas- também devem ser verificados e não podem conti-
-metragens”, dado terem “parcas” oportunidades nuar a existir só no papel”, acrescenta.
para realizarem longas-metragens. Para Vítor Ferreira, devem igualmente ser criadas
Referindo-se ainda à qualidade da produção nacio-
DOSSIER

medidas que “impeçam que um mesmo produtor


nal,Vítor Ferreira acredita que o “maior desafio” ac- consiga atrair a maior parte do financiamento de
tual do cinema português é a conciliação das “opções um determinado concurso, pois esta situação preju-
estéticas das obras com o público”. “Temos que cati- dica claramente o nascimento de novos projectos e
var o público para a nossa cinematografia”, diz. de novas concepções”. Relativamente ao Fundo,
Para Vítor Ferreira, uma maior consciencialização Vítor Ferreira ainda não tem opinião formada, pre-
para o cinema nacional também terá de passar pela ferindo esperar para ver como se processa a “entra-
televisão: “Se os canais televisivos efectuassem o seu da de valores dos privados e do Estado”.

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[Actualidade SI]

NOVOS AUTORES PROCURAM-SE


Editora Sinapses pretende editar novos autores em formato e-book

Funcionando apenas na web, a editora Sinapses quer potenciar o


pouco explorado universo dos livros electrónicos e dar a conhecer
novos autores
POR MÁRIO GUERREIRO

e tem costela de autor e gostaria de fugir aos toras oferecem a possibilidade das edições de au-

S habituais constrangimentos e requisitos por


vezes subjectivos das editoras tradicionais,
pode sempre recorrer à Sinapses, uma nova edito-
tor, custeadas pelos próprios”. Assim, a Sinapses
pretende publicar em formato electrónico e, even-
tualmente em versão impressa, “bons livros que de
ra online (http://www.sinapses.net) e que pre- outra forma dificilmente chegariam ao público”.
tende publicar em formato de livro electrónico Lançada em Maio, os cerca de dois meses de exis-
novos autores. tência da Sinapses têm-se revelado frutuosos, e até
A editora Sinapeses, desenvolvida por João Pedro acima das expectativas dos seus promotores.
Pereira, Jorge Vaz Nande e Rui Justiniano assume a “Temos cerca de trinta trabalhos enviados, de pes-
sua natureza “outsider”. João Pedro Pereira admite soas de todas as idades, incluindo autores já edita-
que a Sinapses “não pretende ser mais um player dos”, refere João Pedro Pereira. De momento, o
no mercado da indústria cultural”. Por trás do seu leque de trabalhos está a ser analisado e revisto,
aparecimento identifica dois motivos. “Sentimos “não sendo fácil apontar uma data para as primei-
que o campo dos e-books ainda está muito por ex- ras publicações”, diz o responsável.
plorar” e que “apesar de existirem muitas editoras Sobre o futuro de outras editoras online em
em Portugal, não deixa de haver escritores talen- Portugal, João Pedro Pereira é da opinião que “há
tosos, sobretudo jovens, que não conseguem pu- ainda muito para fazer em relação aos livros elec-
blicar ou a quem, na melhor das hipóteses, as edi- trónicos” e considera que “é um mercado que
criou muitas expectativas, ainda não concretiza-
das”. Assim, para um dos promotores da editora
Sinapses, “o papel electrónico e leitores como o
que a Sony pretende lançar em breve vão dar um
novo fôlego ao mundo dos livros electrónicos”. Os
principais obstáculos a uma maior difusão dos li-
vros electrónicos estão ainda relacionados com
questões de “legibilidade e portabilidade”, segundo
João Pedro Pereira. Mas as novidades tecnológicas
neste campo podem significar que “a curto prazo,
talvez já a partir do próximo ano, os e-books dê-
em muito que falar”, acredita João Pedro Pereira.

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[Actualidade Publicidade e Marketing]

CRIATIVIDADE PREMIADA
Festival do Clube dos Criativos de Portugal
A 8ª edição do festival do Clube dos Criativos registou grande adesão em
quatro dias de conferências internacionais, exposições e workshops, que
tiveram o seu momento alto na entrega dos prémios aos profissionais da área
POR VERA LANÇA

Festival do Clube dos Criativos teve este ano a Hellington Vieira e Julliano Bertoldi, da BBDO,

O sua 8ª edição. As várias actividades do festival


culminaram com a atribuição dos prémios nas
áreas da Publicidade, Design e Marketing Relacional.
pelo trabalho desenvolvido numa campanha de
crédito à habitação, em resposta ao apelo do
Millennium BCP, que patrocinou o evento.
O destaque foi para o vencedor do Grand Prix – a Na área da Publicidade, a BBDO arrecadou o pré-
Brandia, que arrecadou o galardão pelo trabalho de mio de Melhor Campanha de Imprensa pelo traba-
design da Pluma, desenvolvido para a Galp Energia. lho desenvolvido no anúncio da colecção de DVD
O vencedor do prémio foi escolhido entre os traba- do Woody Allen do jornal Público. A JWT garantiu
lhos que venceram as categorias a concurso e em que o prémio para a Melhor Campanha de Imprensa na
o design primou pela diferença. O Grand Prix, bem categoria de Causas Sociais que desenvolveu pelo
como todos os prémios Ouro e Prata entram directa- trabalho “Silêncio” para a Associação Portuguesa de
mente no Festival ADCE (Art Directors Club of Apoio à Vítima. A Leo Burnett foi premiada pelo
Europe) que distingue os melhores em Publicidade e Melhor Outdoor pela campanha “Pássaros”, da
Design e que este ano decorre a 8 de Julho em Frieskies Purina.
Barcelona, Espanha. No design, a Brandia arrecadou o prémio na categoria
de Design de Ambiente e Equipamento por “Mirror
Os distinguidos Box”, trabalho que idealizou para a Nokia, e também
A BBDO garantiu os prémios de Melhor Agência e na subcategoria Stand e de Melhor Equipamento no
Melhor Copy (com o anúncio de rádio do crédito Hotspot para a Galp Energia. Também a Musa,
pessoal BES). A melhor de Direcção de Arte foi Spirituc e Tangerina Azul foram premiadas com Ouro.
garantida pela McCann Eriksson (pelo trabalho No Marketing Relacional destacou-se a Proximity
“Partidos” para imprensa da Fundação Serralves), e na categoria Mailling Standart pelo trabalho “Memo
o BES foi premiado como o Melhor Anunciante. A Perdido”, desenvolvido para a Optimus. Esta agên-
categoria Jovens Criativos foi ganha pela dupla cia foi também premiada com Ouro na categoria
Media Não Tradicional com o trabalho
DR

“Público 50” para o jornal Público. A


OgilvyOne arrecadou Ouro na categoria de
E-mailing com “Boca Pequena”, trabalho idea-
lizado para a Bertrand.
Entre as categorias técnicas, a Euro RSCG ga-
nhou o prémio para a Melhor Direcção de
Fotografia para a campanha “Diamantes” da
Central de Cervejas. A McCann Eriksson tam-
bém saiu premiada com Ouro na categoria de
Melhores Efeitos Especiais pelo trabalho desen-
volvido em “Beijo” para a PT Comunicações.
OITAVA EDIÇÃO DO FESTIVAL REALIZOU-SE NA ESTUFA FRIA, EM LISBOA

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[Actualidade TV]

NOVO CANAL A SUL


Emissão do canal regional Sul TV começa em 2007

O arranque do primeiro canal de televisão por cabo do Algarve e Alentejo


pretende “dar voz” ao Sul, num projecto em que o investimento total
ronda um milhão de euros
POR VERA LANÇA

CASA DA IMAGEM
canal Sul TV assume-se como uma

O oferta complementar aos órgãos de


comunicação social locais já existen-
tes nesta zona.A escritura pública de cons-
tituição do canal foi assinada em Serpa,
concelho de Beja, no dia 8 de Junho. A
apresentação do projecto à Entidade
Reguladora da Comunicação Social, a
quem cabe a atribuição da licença de exer-
cício de actividade, ocorrerá em breve. “Se
o licenciamento for rápido e tudo correr
como previsto, já que só precisamos de sete meses Uma voz com seriedade
para dar forma ao canal, prevemos experimentar as Beja, Évora, Portalegre, Faro e Setúbal são os con-
primeiras emissões no início do segundo trimestre celhos que o canal vai abranger. Como adiantou
de 2007”, disse João Grego Esteves, director-geral João Grego Esteves, o objectivo da Sul TV é “dar
da Sul TV, à Agência Lusa. expressão mediática a todos os interessados em
O capital social inicial do projecto é de 55 mil eu- defender o Sul do país”, onde será feita a “divulga-
ros, mas será aumentado para um milhão de euros ção e debate de todos os problemas da região”. A
a médio prazo. Fundado por onze accionistas natu- informação do canal terá por base o “jornalismo
rais ou com exercício de actividade no Alentejo ou exigente, imparcial e plural”, frisou o director-ge-
no Algarve, o canal irá estar sedeado no concelho ral, que adiantou que este será a “pedra de toque”
de Montemor-o-Novo (Évora) e será equipado da Sul TV. Para tal, o canal pretende, também, es-
com estúdios de produção e emissão, três salas de tabelecer parcerias com órgãos de comunicação
edição e redacção, para além ter delegações no social locais e criar uma rede de correspondentes
Algarve e Lisboa. A equipa contará com cerca de daquela área geográfica para a produção noticiosa.
40 profissionais, desde jornalistas e repórteres de Nas palavras de João Grego Esteves, a Sul TV apre-
imagem a técnicos. O director-geral adiantou ain- senta-se como um projecto viável “aberto à socie-
da que o projecto deverá ter parcerias para produ- dade civil” que visa criar programas em colabora-
ção de conteúdos, apesar de estar previsto um ção com entidades públicas e privadas da região.
grande investimento em produção própria na área “Queremos oferecer uma programação atraente,
da programação. A construção da grelha de pro- variada, moderna e inovadora, mas sempre voca-
gramação e testes experimentais são os próximos cionada para a divulgação das tradições, da cultura
desafios do canal, que emitirá pela televisão por e das actividades sócio-económicas do Alentejo e
cabo, satélite e internet. Algarve”, afirmou o director-geral.

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[Actualidade Rádio]

ALTERNATIVAS NO ÉTER NACIONAL


Universitários discutem a rádio em Faro

As rádios universitárias reuniram-se pelo segundo ano consecutivo


para analisar o panorama nacional
POR PAULA DOS SANTOS CORDEIRO

ecorreu no passado dia 31 de Maio, o II boratórios de rádio”, afirmou João Bacalhau da

D Encontro Nacional de Rádios Universitárias,


com organização do curso de Ciências da
Comunicação da Universidade do Algarve e da
Rádio Zero. Por seu turno, Pedro Duarte da RUA
FM, confirma a tendência explicando que “as rádios
universitárias podem ter diversos formatos mas se-
RUA FM, a Rádio Universitária do Algarve. guem a mesma linha de pensamento, dentro de um
O encontro deste ano incidiu essencialmente so- espírito de missão, para serem uma alternativa, ao
bre as diferenças entre estas e as estações comer- mesmo tempo que funcionam como rádios escola”.
ciais, a par com o levantamento dos desafios e João Bacalhau acrescenta que se devem “aplicar pes-
oportunidades para as rádios das diferentes acade- soas de todas as áreas nas diferentes tarefas necessá-
mias. A reunião contou com a presença de José rias ao funcionamento da rádio, nomeadamente os
Wilson da Universidade FM (Vila Real), Emanuel aspectos técnicos, marketing, comercial, administra-
Botelho, vice-presidente da Rádio Universidade de tivo e burocrático...”, aspecto que Pedro Duarte
Coimbra, Pedro Duarte, director de antena da também destaca, pela “possibilidade de partinha de
Rádio Universitária do Algarve, Rui Torrinha, di- conhecimentos e experiências, mais difícil de con-
rector de antena da Rádio Universitária do Minho cretizar nas outras rádios”. Estes são aspectos que
e João Bacalhau, director do departamento de contribuiriam para tornar estas estações de rádio em
programação da Rádio Zero (Lisboa). meios de “dinamização cultural, quer através da di-
Durante a manhã do encontro apresentaram-se as vulgação quer através da organização (ou co-organi-
rádios participantes, para dar a conhecer à audiência zação) de eventos”, acrescentou João Bacalhau.
o panorama nacional. As principais ideias resultantes Tal como sucedeu no encontro anterior, “extra
deste encontro passam pela “extensão prática das reunião ficou lançada a ideia de manter reuniões
matérias do cursos relacionados com periódicas, na sede de cada uma das rádios, em sis-
Comunicação”, a par com o desenvolvimento de “la- tema de rotatividade”, explicou João Bacalhau.
A questão da definição
de rádio universitária e
as estações que possam
ser consideradas univer-
sitárias em Portugal, foi
outro assunto abordado
neste encontro. João
Bacalhau considera que
“será importante definir
isso aquando da forma-
ção de uma organização
destas rádios”.

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[Actualidade Tecnologia]

ROCK PARA UM MUNDO MELHOR


Música, solidariedade e cidadania

A cidade do Rock acabou de fechar portas, no Parque da Bela Vista em


Lisboa, mas promete voltar em 2008 com mais projectos sociais, novos
artistas e muita animação
POR DULCE MOURATO

ais de 350 mil pessoas de todas as idades VIP Millennium BCP, espaço Kids, área comercial

M participaram na mais recente edição Rock


in Rio - Lisboa que decorreu em 26 e 27 de
Maio e de 2 a 4 de Junho. O mega acontecimento
e por uma zona radical com uma pista de neve e
um slide de 180 metros que fazia as delícias dos
mais aventureiros. Quem foi ao Rock in Rio expe-
de comunicação que foi idealizado pela primeira rimentou o ambiente que Roberto Medina descre-
vez em 1985 para o Brasil, pelo empresário veu como de emoção e de harmonia que pretende
Roberto Medina que viu “neste formato a melhor vir a sentir novamente em finais de Maio de 2008,
oportunidade para mobilizar pessoas e passar a quando se realizar o próximo festival geminado
mensagem da construção de um mundo melhor” com outra capital europeia.
já que uma grande fatia da facturação obtida se
destina a projectos sociais. O impacto mundial do Ingredientes de sucesso: tecnologia e
Rock in Rio foi confirmado, mais uma vez, por comunicação
Koffi Annan, secretário-geral da ONU e Eveline A cidade do Rock mais do que um evento musical
Herfkens, responsável das Nações Unidas para o foi uma “pool” de recursos de tecnologia de ponta
projecto “Millennium Development”, que grava- e o resultado de um ano de trabalho de milhares
ram declarações exclusivas para serem transmiti- de mãos, que permitiram instalar quarenta quiló-
das na ocasião. O lema do Rock in Rio – Lisboa metros de cabos de telefone/internet, três mil to-
2006 foi “Todos sob a mesma bandeira: Paz, neladas de equipamento e infra-estruturas da mais
Alegria, Esperança, Optimismo, Respeito e variada origem. Foram ainda estabelecidas duas
Solidariedade” e à semelhança do que ocorreu em parcerias tecnológicas com a Vodafone e a Sapo e
2004 coube à SIC Esperança em conjunto com a assinados protocolos com dois fornecedores tec-
produção do espectáculo a escolha das instituições nológicos nomeadamente a SPIN/Orange Energy
portuguesas, às quais serão atribuídas verbas “para e a Portugal Telecom. De acordo com Ricardo
melhorarem instalações ou ajudarem pessoas a vi- Pascoal, consultor sénior da SPIN, “a diversidade
verem mais felizes”. De destacar que a edição des- de tecnologias aplicadas foi tão vasta quantos os
te ano já deu frutos, a ACAPO e cinco Cercis já diferentes contextos que estão envolvidos na pro-
foram contempladas com salas de estimulação sen- dução do Rock in Rio – Lisboa”. A lista da infor-
sorial para crianças com deficiência visual. mática utilizada foi ampla e passou pela instalação
Nas instalações da Bela Vista havia opções para to- de mais de duzentas estações de trabalho, quatro
dos os gostos e o público estava distribuído pelo servidores, redes privadas TCP/IP, tanto sobre li-
Hotstage, Palco Mundo, Tenda Electrónica, Tenda nhas de cobre 10/100/1000 Mbit/s, redes

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[Actualidade Tecnologia]
AGÊNCIA ZERO

ROBERTO MEDINA, PROMOTOR DO ROCK IN RIO

Wireless 802.11g com WPA seguras e controladas Para espalhar esta e outras mensagens e melhor
a nível lógico e a nível operacional. O software enquadrarem os cerca de 700 jornalistas creden-
dedicado de credenciação, o processamento de áu- ciados que representaram 43 rádios, 25 televisões
dio/vídeo de alta qualidade, as ferramentas de e 209 meios de imprensa escrita e outros tantos
produtividade e multimédia e os serviços de dis- fotógrafos foi escolhida a LIFT como parceira de
tribuição de áudio/vídeo em tempo real em cir- comunicação. Catarina Amorim, responsável por
cuito privado, dedicado ou via satélite, foram as esta empresa, salientou que “para além do enorme
outras estrelas tecnológicas presentes. A distribui- envolvimento da Lift (19 pessoas e mais 22 volun-
ção de conteúdos do Rock in Rio-Lisboa foi efec- tários em sistema rotativo) não era possível reali-
tuada pela TV Mundo Melhor, baseada em ligações zar um evento como o Rock in Rio se os promo-
de alto débito em fibra óptica que transmitia pro- tores (Roberto e Roberta Medina) não estivessem
jecções em todos os ecrãs presentes no recinto e orientados para a Comunicação. Esse foi o princi-
pela Network Live que se destinava a diferentes pal ingrediente”.
suportes de comunicação internacionais, nomea- A LIFT, desde que, em 2004, se ligou ao Rock in
damente TVs, Rádios e Internet. Para Ricardo Rio, segundo Catarina Amorim passou “a liderar,
Pascoal “seria muito difícil criar um evento tão ri- pela positiva, o sector da consultoria em comuni-
co e multi-facetado como o Rock in Rio – Lisboa cação em Portugal e a organizar iniciativas como o
sem explorar, muitas vezes até ao limite, todas as Cow Parade Lisboa 2006, a vinda de Bill Gates a
possibilidades que nos são oferecidas pelas novas Portugal e gestão mediática do Global Leaders
tecnologias”. Fórum da Microsoft, a organização do gabinete de
Mas o segredo do sucesso desta iniciativa foi reve- imprensa de eventos como o «The round with the
lado por Roberto Medina em entrevista à RTP: “ a Governement of Por tugal» da revista The
comunicação e o amor ao próximo, aquilo que ca- Economist e, mais recentemente, da vinda de Jack
da um de nós pode fazer pelo vizinho, pelo bairro Welch a Portugal, para além do concurso de gas-
ou pelo país no sentido de um mundo melhor”. tronomia Lisboa à Prova”.

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[Empresas XXI]

TREINO E CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL


Caça-talentos para empresas de TI
A Actual Training, presente em Lisboa e Porto, tem uma nova filosofia de
consultoria e formação: preparar técnicos certificados Microsoft com
garantia de qualidade
POR DULCE MOURATO

Actual Training, empresa especializada na área

A da Consultoria e Formação em Tecnologias de


Informação para empresas e consumidores fi-
nais, apresentou-se ao mercado português, em
Maio, como o novo parceiro oficial da Microsoft pa-
ra a formação global de soluções e produtos. e soluções que nos permitissem responder de forma
Pedro Nunes, fundador e responsável pela Actual eficaz às expectativas do mercado. Queremos mar-
Training sublinha que se está a falar de um esquema car a diferença, e essa será acima de tudo pela quali-
empresarial inovador em Portugal “em que o cliente dade, sem que o preço seja um elemento dissuasor.
paga de acordo com o índice de satisfação obtido, Alias, foi por esta razão que apesar da empresa exis-
sendo a Actual Training penalizada em caso de in- tir desde finais de 2005, só em Maio nos apresentá-
cumprimento. Este e entre outros aspectos, devida- mos oficialmente ao mercado”, esclarece.
mente identificados em estudo prévio, A oferta da Actual Training passa pela formação
fizeram com que arriscássemos neste certificada em Dynamics Navision 3.0/4.0, MS
projecto, porque temos a confiança e SQL Server 2005, CRM 3.0, Business Contact
a convicção que iremos trazer para o Manager entre outras formações mais voltadas pa-
mercado/clientes benefícios e condi- ra o utilizador final.
ções altamente vantajosas”. Pedro Nunes garante que a Actual Training preten-
A Actual Training possui uma de “responder com agilidade, com o máximo de
equipa com mais de 15 anos eficácia e com os melhores resultados para o
de experiência no sec- cliente, criando um conjunto de parcerias e
tor, possui escritórios e sinergias que nos permita apresentar solu-
centros de formação ções e abordagens diferentes, com o ob-
em Lisboa e Porto jectivo de aperfeiçoar o grau de eficácia
equipados com tec- e resultados da formação; aliando a
nologia de ponta e formação à consultoria, conferindo-
foi criada, de acordo lhe um grau de exigência e com-
com Pedro Nunes, petência superior, tendo tam-
com um objectivo bém como objectivo ajudar
DR

claro: ser especialis- pessoas que, presentemen-


ta em Tecnologia te, estejam em situação
Microsoft. “Para is- de desemprego invo-
so dotamo-nos de luntário a progredi-
meios, instalações, rem nas suas
tecnologias, produtos competências”.

PEDRO NUNES, FUNDADOR DA ACTUAL TRAINING


28 | mediaXXI
ed.87 06/06/22 12:22 Page 30

[Actualidade Imprensa]

NOVOS SONS NAS BANCAS


Semanário musical “RX” chega às bancas

“RX” retoma o projecto do jornal “Raio-X”, encerrado em 2004, e terá


periodicidade quinzenal e custo de um euro
POR MÁRIO GUERREIRO

o dia 5 de Julho as bancas recebem um novo

N título, o jornal “RX”, dedicado à música.


Após o final do semanário “Blitz” e posterior
encarnação em formato revista, o “RX” vem pre-
encher a lacuna do mercado.
Rui Maciel, director do “RX”, recusa no entanto
“uma comparação tão directa” com o “Blitz”. O
“RX assume uma postura completamente distinta
e em termos de conteúdos será também bastante
diferente”, diz.
Propriedade da empresa MX3 Artes Gráficas, o
“RX” significa um retorno ao formato original do
“Raio-X”, surgido em 1998, e que viria a tornar-se
mais tarde uma revista. Rui Maciel afirma-se con-
fiante no sucesso do projecto: “Jamais nos voltaría-
mos a lançar no mercado com um projecto que
não acreditássemos poder levar avante”. A altera-
ção do título da publicação corresponde mesmo a
um “renascer em termos de conteúdos e em ter-
mos gráficos”, refere. A aposta do “RX”, que irá
ter uma periodicidade quinzenal e um preço de
um euro centra-se “em abordagens diferentes para
um público cada vez mais exigente”. Inicialmente O número zero do “RX” foi distribuído gratuita-
o jornal vai ter 32 páginas, com a possibilidade de mente nos recintos dos festivais “Super Bock
serem aumentadas quando tal se justificar. Super Rock” e “Rock in Rio Lisboa” e em diversas
universidades do país, saíndo o primeiro número
pago a 5 de Julho. O primeiro número gratuito
“O SOL” EM SETEMBRO “teve como objectivo o sentir do pulso daqueles
que acreditamos ser os nossos leitores”, diz Rui
O novo semanário dirigido por José António Saraiva,
antigo director do “Expresso”, chega às bancas a 16
Maciel.
de Setembro. A equipa do semanário “Sol” vai ainda Numa altura em que a emergência das novas tec-
ser composta por António José Lima (director- nologias e a portabilidade dos formatos ditam as
-adjunto), Mário Ramires e Vítor Raínho, também regras no mercado da música, Rui Maciel acredita
antigos jornalistas do semanário da Impresa. Como que a fórmula para o sucesso do “RX” irá passar
referiu José António Saraiva na apresentação oficial
do título, o objectivo é “dentro de três anos” tornar o
por “abordagens originais, conteúdos inovadores,
“Sol” no “maior e mais influente semanário nacional”. talento na redacção e paixão”.
O “Sol” irá ter um preço de capa de dois euros
(menos um que o “Expresso”) e data de saída marca-
da para todos os sábados.

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[Fontes de Informação do Parlamento Europeu]

COMUNICAÇÃO EUROPEIA
Instituições apostam em várias plataformas
A informação das instituições comunitárias encontra-se disponível
mediante uma diversidade de meios de acesso: desde documentais, a
audiovisuais, virtuais e presenciais
POR ANA SOFIA MORAIS

pesar de os jornalistas reconhecerem a impor- balho legislativo interinstitucional e as actividades

A tância das fontes de informação comunitária


na actividade quotidiana dos media, a realida-
de é que a maioria apenas ocasionalmente ou rara-
das comissões parlamentares e das sessões plená-
rias, como dá acesso ao resumo das etapas do pro-
cesso e ao texto integral de todos os documentos
mente a elas acede – esta é uma das principais con- elaborados pelo PE.
clusões de um estudo sobre o acesso às fontes de É igualmente possível aceder à informação do PE
informação do Parlamento Europeu (PE) e da através da Unidade de Imprensa da instituição.
União Europeia (UE) por parte dos media locais e Esta é responsável pela produção dos comunicados
regionais em Portugal realizado pela New Team to de imprensa e de várias publicações relativas às
Innovate Media & Entertainment (nTIME), integra- sessões parlamentares, bem como às reuniões das
da na editora Formalpress. O estudo revelou tam- comissões parlamentares.
bém que, em vez de procurarem activamente a in- A informação do PE encontra-se ainda acessível
formação, estes profissionais privilegiam meios que através de meios audiovisuais. Os debates do PE
lhes sejam especificamente dirigidos, como os co- podem ser visionados online, em tempo real, a
municados de imprensa e os boletins informativos. partir do sítio oficial do PE. Além disso, os profis-
No entanto, além destes meios, existe uma multi- sionais do sector têm à disposição uma série de
plicidade de possibilidades de acesso às fontes de instalações e infra-estruturas concebidas para faci-
informação comunitárias. Quanto à informação do litar a produção, montagem e transmissão de peças
PE, é possível aceder-lhe através de meios docu- audiovisuais, em Bruxelas e Estrasburgo.
mentais, como é o caso dos documentos oficiais da Os meios de acesso virtuais, nomeadamente a in-
instituição: boletins de informação; ordens do dia; ternet, são uma das formas de acesso privilegiadas
projectos; relatórios; actas; textos aprovados em às fontes de informação do PE. O sítio oficial do
sessão plenária; propostas de resolução; relato in- PE, por exemplo, acessível através do endereço
tegral das sessões e debates definitivos; regimento. http://www.europarl.eu.int/, apresenta informa-
Com o objectivo de facilitar a pesquisa documen- ção sobre as principais actualidades relacionadas
tal, as instituições europeias criaram registos de com a instituição, sendo a mesma complementada
documentos, passíveis de consulta via Internet, pela página electrónica do Gabinete do PE em
que contêm informação sobre os títulos, datas, au- Portugal, disponível em http://www.parleurop.pt.
tores e números de referência dos documentos. Presencialmente, a informação do PE pode ser
O PE disponibiliza também uma base de dados – o consultada através do Gabinete do PE em
Observatório Legislativo (OEIL), acessível online Portugal, situado no Largo Jean Monnet, em
através do endereço http://www.europarl.eu. Lisboa, que dispõe de um Centro de
int/oeil/index.jsp - que analisa o processo decisó- Documentação, onde podem ser consultados os
rio da UE. Esta não só permite acompanhar o tra- documentos do PE.

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ed.87 06/06/21 15:41 Page 32

[Opinião/ Carlos Reis Marques]

A SOCIEDADE PORTUGUESA DO CONHECIMENTO


s referências à chamada Sociedade do Algarve, sobre a evolução da produtividade

A Conhecimento rodeiam-nos nas mais


diversas situações: nas afirmações dos
políticos que a proclamam e a ela recorrem,
associada à actividade turística nacional.
Realizado num sector que se perspectiva co-
mo um dos que mais ajudarão a alavancar a
nas explanações dos diversos comentadores e economia nacional, foi analisado o Turismo
especialistas nacionais e nas alusões que apa- na constelação de serviços que o compõe
recem na generalidade das iniciativas/pro- (Hotéis e Restaurantes; Transportes terres-
gramas do Governo; virou comodittie sem tres;Transportes por água;Transporte aéreo;
que se tenha constituído como algo verda- Serviços auxiliares dos transportes e agências
deiramente útil, essencial e ao dispor de to- de viagem; Serviços auxiliares de máquinas e
dos. Possivelmente limitámo-nos a passar da equipamento; Serviços recreativos, culturais
CARLOS REIS MARQUES *
Sociedade da Informação para a do e desportivos), no período 1995-2004.
* BUSINESS MANAGER – VIVERE
Conhecimento, sem uma verdadeira percep- Os resultados obtidos surpreendem pelo
CONSULTING
ção do significado da mudança. inesperado e merecem uma reflexão pon-
CRMARQUES@VIVERE.PT
Quando P. Drucker iniciou este debate, nos derada. Num período em que se realizaram
anos 90, introduzindo a noção de “Trabalha- em Portugal dois grandes eventos à escala
dores do Conhecimento”, deixou clara a internacional – EXPO 98 e EURO 2004 - “O valor
emergência de um novo paradigma económi- a produtividade do Turismo cresceu, nesse acrescentado
co e social, por via da crescente utilização das período, a uma taxa média de 0,1% passaria a ter
Tecnologias e da Internet. Particularmente in- (VAB/Emprego). À semelhança da econo- como
teressante foi a sua chamada de atenção para mia nacional, marcada por um primeiro ci- componentes
que passássemos a perceber que o desenvol- clo de crescimento superior à média da UE fundamentais a
vimento das Sociedades decorreria de algo (1995-1999) e um segundo de clara diver- inovação e a
até então intangível – O Conhecimento. E gência (2000-2004), também a actividade produtividade”
como? Considerando que o valor acrescen- turística evidenciou um comportamento
tado passaria a ter como componentes fun- favorável no primeiro ciclo de 3,9% para o
damentais a inovação e a produtividade, dois VAB e 3,4% para o Emprego, tendo sido os
factores impossíveis de dissociar e ambos resultados finais apurados de 2,4% e 2,3%,
profundamente marcados pela aplicação do respectivamente.
Conhecimento no trabalho. Ora, sendo es- Algumas das razões apontadas para justificar
tes dois dos aspectos preponderantes no o baixo índice de crescimento da produtivi-
crescimento económico dos países, pelos re- dade referem-se à forte incorporação de
sultados nacionais de um PIB a crescer no mão-de-obra, em particular nos sectores de
período 2000-2005 a um ritmo de 0,6%, Hotelaria e Restauração, e à necessidade de
enquanto que na zona EURO foi de 1,4%, se introduzir Inovação nas práticas existentes
conforme recentemente divulgado pela (ao nível dos produtos, das relações de par-
OCDE, estaremos provavelmente ainda lon- ceria e das tecnologias utilizadas).
ge de ter entendido os desígnios e as impli- Numa altura em que em Portugal tanto se
cações de uma Sociedade baseada no fala de Conhecimento e de Inovação, existi-
Conhecimento. rão provavelmente duas perspectivas: a da
No final do Mês de Abril a Confederação do Sociedade Portuguesa do Conhecimento e
Turismo Português deu a conhecer um estu- a da Sociedade Portuguesa da Economia
do inédito, encomendado à Universidade do Real.

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ed.87 06/06/22 12:24 Page 33

[Reportagem Comunicação]

AS CRIANÇAS E A TELEVISÃO
Que conteúdos para os mais novos?

Com a crescente influência dos programas televisivos sobre os mais


novos, importa cada vez mais saber que passos deve dar a programação
televisiva direccionada aos mais novos
POR MÁRIO GUERREIRO

ompostos essencialmente por animação, os es- contrário encontravam-se aquelas que assistiam a

C paços infantis na televisão são perfeitamente


identificáveis. Mais de uma década depois do
pioneirismo da adaptação da “Rua Sésamo”, os con-
programas mais violentos.
Entre os programas submetidos ao visionamento
das crianças e considerados como violentos encon-
teúdos televisivos dedicados aos mais novos altera-
ram-se substancialmente.À evolução correspondem
as críticas de quem considera que os programas pa-
ra crianças são influências nocivas e até violentas.
Segundo um estudo recente, promovido pelo
Governo norte-americano e levado a cabo pelo
Hospital Infantil de Boston, o tipo de programas a
que as crianças assistem e a companhia escolhida
para esse visionamento podem ser tão importantes
quanto o tempo passado em frente à televisão. Os
investigadores referiram que as crianças que assis-
tem a programas violentos de televisão (em espe-
cial as que o fazem sozinhas) são propensas a pas-
sar menos com outras crianças, tornando-se mais
solitárias e menos sociáveis, quando comparadas
com as que assistem maioritariamente a progra-
mas não-violentos. Ainda segundo o estudo, a mul-
tiplicação de programas para crianças com conteú-
do violento pode levar a um ciclo vicioso: as
crianças tornam-se mais solitárias, e a essa solidão
corresponde uma maior atracção por imagens
mais violentas.
Durante a investigação, descobriu-se que as crian-
ças que viam televisão com outras crianças desen-
CASA DA IMAGEM

volviam uma maior aptidão social e passavam mais


tempo a socializar de outras maneiras. No campo

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ed.87 06/06/22 12:25 Page 34

[Reportagem Comunicação]
CASA DA IMAGEM

trava-se a série “Power Rangers”, até recentemen- tos. A investigação da PCT chegou à conclusão que
te em exibição na SIC. De acordo com os investi- a programação infantil analisada apresentava uma
gadores, as crianças analisadas assistiam normal- média de 6,3 actos de violência por hora, em com-
mente a 27 horas semanais de televisão, e cerca de paração com a presença de 4,71 de actos semelhan-
60% dos programas a que assistiam continham tes na programação em horário “prime-time”. A
violência. PCT analisou também os vários programas e canais
relativamente a conteúdo considerado ofensivo ou
Programas violentos com teor sexual.
“Sejam extremamente vigilantes”, pode ler-se no “Violência, humor de casa de banho, utilização de
recente estudo do “Parents Television Council” nomes ofensivos e referências sexuais são os temas
(PCT), dos EUA, sobre os programas para crianças. predominantes no panorama contemporâneo da te-
Intitulado “Lobo em pele de cordeiro”, o estudo do levisão para crianças”, conclui abrasivamente o estu-
PCT (uma das organizações mais influentes no cam- do da PCT sobre os canais e programas exibidos
po da defesa das crianças contra abusos nos media e nos EUA. Apesar de ressalvar que uma boa fatia da
conotada com uma postura mais conversadora) di- programação para crianças é “perfeitamente saudá-
vulgado em Março analisou vários canais de televi- vel”, a PCT apela a uma maior vigilância dos pais
são norte-americanos e seus respectivos programas sobre os programas a que assistem os seus filhos.
infantis. Entre os programas analisados contam-se
séries anteriormente exibidas em Portugal ou ainda Dinheiro é obstáculo aos bons programas
em exibição nos ecrãs nacionais como “Digimon”, infantis
“Power Rangers” e “Yu-Gi-Ho” (SIC), “Batman” (2:) Teresa Paixão, responsável pela programação in-
“Digimon” ou “Battle B-Daman” (TVI). O estudo fantil da RTP refere que são “imensos” os princí-
exaustivo do PCT chegou à conclusão que os pro- pios por trás da exibição dos programas infantis na
gramas direccionados aos mais novos são muitas ve- RTP 1 e 2:. Desde os previstos “na Lei da Televisão
zes mais violentos que aqueles destinados aos adul- e no Contrato de Concessão do Serviço Público” a

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ed.87 06/06/22 12:27 Page 35

[Reportagem Comunicação]

todos os que “satisfazem a diversidade dos seres áreas”, o que sai caro, diz Teresa Paixão. “Quando
humanos”. Para “meninas e meninos”, “do campo, se investe num projecto caro é natural que se quei-
praia ou cidade”, que já sabem escrever ou ainda ra retorno e Portugal é um mercado muito peque-
não, com particular gosto por “música, aventuras, no para ter retorno”, explica.
histórias ou romances”, ou ainda “ciência, matemá-
tica e inglês”; são os conteúdos que Teresa Paixão A evolução dos programas para crianças
procura. A vertente educativa também não é des- Sara Pereira, investigadora e docente do Instituto
curada na escolha dos programas para crianças, de Estudos da Criança da Universidade do Minho,
ainda para mais numa idade onde a curiosidade é refere o aparecimento das televisões privadas como
condição essencial. “A televisão pode mostrar coi- “um fenómeno significativo que marcou o sistema
sas que não se podem ver ao natural”, como “o televisivo na década de 90”. Com a chegada da SIC
corpo humano”, exemplifica Teresa Paixão. Assim, e da TVI, “o panorama da oferta televisiva para a in-
a responsável pela programação infantil da RTP é fância” alterou-se, e aumentaram os espaços e horas
peremptória ao afirmar que na escolha dos progra- semanais de televisão dedicadas essencialmente às
mas para os mais novos “há imensas preocupações, crianças. Mas “o aumento em quantidade nem sem-
critérios e intenções porque o mundo é imenso e pre significou um acréscimo das horas de progra-
há meninas e meninos com mundos diferentes”. mação geral” e “uma maior diversidade de produ-
Os fenómenos globalizantes são também visíveis tos”. Sara Pereira considera que houve uma
na programação para crianças, com as produtoras “abundância do mesmo tipo de produto”. Os cha-
internacionais a exportarem os seus conteúdos pa- mados “program-length commercials ou toy-based
ra todos os países. Existirá então uma mera per- programming”, com conteúdos maioritariamente
cepção comercial do público infantil e consequen- norte-americanos ou japoneses (em claro contra-
te minimização da sua importância? Teresa Paixão ponto a um decréscimo da produção nacional e eu-
considera que não, até porque “hoje existem gran- ropeia) começaram então a dominar os espaços de-
des negócios de livros e DVD’s para crianças mui- dicados às crianças, refere Sara Pereira.
to novas”. O que falta “é dinheiro para fazer bons Autora de uma tese de doutoramento intitulada
programas de televisão infantis”, pois para tal são “Televisão para Crianças em Portugal – Estudo das
necessários “os melhores profissionais em todas as Ofertas e dos Critérios dos Canais Generalistas
(1992 a 2002)”, Sara Pereira refere também que
nas televisões privadas rapidamente se assistiu a
CONTEÚDO NACIONAL É IMPORTANTE PARA A QUALIDADE DA “um decréscimo gradual” da emissão para crianças,
TELEVISÃO PORTUGUESA “até ao seu completo desaparecimento”. As tardes
de programação das privadas depressa deixaram
Analisando os conteúdos da televisão no seu geral, de exibir conteúdos destinados às crianças quando
Francisco Penim, director de programas da SIC, considera se percebeu que existiam outros públicos poten-
que a principal solução para uma melhoria dos conteúdos
televisivos em Portugal passa pelo aumento da produção
ciais, e as escolhas de programas recaíam essen-
nacional. “Quanto mais escolha houver, mais dinâmico e cialmente sobre conteúdos internacionais, “passí-
mais bem servido ficará o público”, diz. veis de várias repetições e com uma vida de
E a sempre presente luta pelas audiências pode levar a ‘prateleira’ longa”.
uma homogeneização dos conteúdos televisivos? O director Analisando o percurso recente da RTP, Sara
de programas da estação de Carnaxide argumenta que esta
questão não é tida em conta quando se programa: “Cada
Pereira admite “que o discurso e a prática nem
programador tem a sua estratégia e uma delas é fazer um sempre se mostraram coerentes” entre 1992 e
espelho do que a concorrência faz”. O objectivo, diz, é 2002. “Os orçamentos para os programas infantis
“sempre garantir o maior volume de audiência possível”. parecem não ter crescido em proporção ao au-
Isto “independentemente dos conteúdos ficarem mais mento do número de horas de emissão”, critica.
homogeneizados ou não”, conclui.
Foram poucos os programas de produção nacio-

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ed.87 06/06/22 12:29 Page 36

[Reportagem Comunicação]
CASA DA IMAGEM

nal, apesar dos bons exemplos da “Rua Sésamo”, centivo “à responsabilidade pública no interesse
“O Jardim da Celeste” ou “Os Amigos de Gaspar”. dos valores sociais”, no seio das televisões nacio-
Ainda assim, Sara Pereira considera que a RTP nais, implementando assim uma auto-regulação
tem “reconquistado a sua marca de qualidade” ao mais positiva.
apostar “na diversidade”, em detrimento do aspec-
to comercial, como nos demais canais. Sobre as ca- Poucos conteúdos nacionais
racterísticas da programação infantil, a docente da Para Sara Pereira, o “know-how” existente na área
Universidade do Minho deixa um conselho: “É im- de produção de conteúdos para crianças, em
portante desfazer o equívoco de que uma progra- Portugal, tem de ser rentabilizado. A única forma é
mação de qualidade para as crianças deve tomar a apostar numa maior produção interna, principal-
escola e a educação formal como paradigma”. mente por parte do “operador público”, sem ex-
Quando inquirida sobre a pertinência de uma con- cluir os privados. Relembrando que o Contrato de
junto de critérios fundamentais adoptados por to- Concessão do Serviço Público de Televisão refere
dos os canais relativamente à programação infan- como objectivo dos canais do Estado “o desenvolvi-
til, Sara Pereira relembra que “em Portugal não há mento de uma indústria do audiovisual que consti-
legislação ou resoluções específicas sobre a televi- tua um desafio permanente à melhoria da qualidade
são para as crianças”. Para a investigadora, “a salva- e da eficiência da produção própria”, Sara Pereira
guarda dos princípios e dos valores no sector” não defende que os conteúdos nacionais podem poten-
pode ser restrita apenas a um quadro jurídico, e ciar melhor a diversidade, oferecendo “às crianças
defende uma maior mobilização e discussão na so- uma grelha diversificada e equilibrada”, o que pode
ciedade civil, como forma de pressionar as televi- ser conseguido com um maior equilíbrio entre con-
sões. Sara Pereira concorda também com um in- teúdos internacionais e conteúdos portugueses.

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ed.87 06/06/22 12:32 Page 37

[Opinião/Carlos Camponez]

PENSAR A ALTERNATIVA
s indicadores apontam para a existência formações suscitadas pela inovação tecnológi-

O de um clima de grande incerteza e de


crise na imprensa. Nos mercados tradi-
cionais verifica-se uma tendência para uma
ca. Com o multimédia em linha, estamos pela
primeira vez a falar num medium convergen-
te, que reúne no seu seio diferentes lingua-
descida estrutural de tiragens e audiências. gens, complementando-as, mas, sobretudo,
Entre os economistas, a imprensa é caracteri- recriando-as.
zada como uma indústria envelhecida, não A concentração que, na última década, temos
obstante alguma capacidade de inovação mani- visto a acentuar-se por parte dos grupos em-
festada pelo fenómeno dos gratuitos, pelos es- presariais do sector procura antecipar este futu-
forços na captação de novos públicos e pelas ro: são cada vez mais multimédia e organizam- CARLOS CAMPONEZ
apostas em novos negócios como a -se numa lógica transversal. Nesse cenário, DOCENTE DO INSTITUTO DE
oferta/venda de produtos subsidiários. mais do que a estrita rentabilidade deste ou da- ESTUDOS JORNALÍSTICOS DA
Recentemente Jean-Marie Colombani, director quele medium, deste ou daquele projecto, em UNIVERSIDADE DE COIMBRA
do jornal “Le Monde”, veio a Portugal falar do particular, o aumento das quotas globais de au-
fim da era de Gutemberg. O grupo Prisa, que diência continuará a ser uma aposta dos grupos
comemorou 30 anos de publicação do jornal de media, com vista a adquirir um peso maior
na repartição do mercado publicitário. A con- “A concentração
“El Pais”, espera este ano realizar, pela primeira
centração dos media tenderá a aumentar e a in- dos media
vez, mais de metade dos negócios no sector do
formação aparecerá cada vez mais diluída na in- tenderá a
audiovisual, ao mesmo tempo que aposta em
dústria de conteúdos. aumentar e a
explorar todas as possibilidades da internet.
Estas mutações terão implicações no informação
Sinais dos tempos? Contrariando as profecias
Jornalismo. Estudos comparativos têm de- aparecerá cada
que há muito vêm vaticinando o fim da im-
monstrado que o clima de hiperconcorrência vez mais diluída
prensa, a História tem afirmado o princípio,
das empresas está a influenciar a informação e o na indústria de
algo reconfortante, de que o aparecimento
jornalismo contemporâneo. Um desses traços conteúdos”
dos novos media nunca se fez à custa dos mais
antigos. Pelo contrário, começaram por recu- está bem presente na permeabilidade da lingua-
perar as suas linguagens e, a pouco e pouco, gem jornalística ao humor, à dramatização, à es-
autonomizaram-se, organizando-se mais nu- pectacularização, aos registos de proximidade,
ma lógica complementar do que numa lógica ao mesmo tempo que assistimos ao desinvesti-
de extermínio. mento no jornalismo de investigação. Há mes-
Sem querer recusar os dados da História, mo quem vaticine o fim do jornalismo, consi-
também não sou dos que acha que ela conti- derando que os jornalistas de hoje serão meros
nuará a escrever-se sempre da mesma manei- fornecedores de conteúdos de amanhã. Os
ra e a reger-se pelas mesmas leis.As evoluções mais optimistas insistem na necessidade de um
verificadas nas últimas décadas no sector pare- certo regresso às origens, adiantando que um
cem mostrar-nos que estamos perante um jornalismo de “rigor” e de “qualidade” terá sem-
novo paradigma que está a afectar já, de uma pre um lugar no futuro. Quero crer que sim.
maneira particular, a imprensa, mas que dita- Mas enquanto não pensarmos em novas formas
rá também o futuro dos media e do próprio de renovar o contrato entre o jornalismo e os
jornalismo. Se até aqui nos habituámos a pen- leitores e em modelos alternativos às tendên-
sar autonomamente a rádio, a televisão e a cias da nova economia dos media, ainda em
imprensa, hoje somos chamados a compreen- construção, a qualidade e o rigor tenderão a ser
der estas realidades através das rápidas trans- mera imagem de marketing.

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ed.87 06/06/22 12:36 Page 38

[O alargamento da UE e os impactos nos media]

OPORTUNIDADES A LESTE
Empresas de media com novos mercados para explorar

A entrada de dez novos Estados-Membros do Centro e Leste Europeus na


UE trouxe mais 76 milhões de pessoas para o mercado comunitário – um
número apelativo a investimentos
POR VERA LANÇA

om o alargamento de Maio de 2004, a UE lar) deverá passar, mais cedo ou mais tarde, pela

C passou a somar mais de 450 milhões de habi-


tantes no Espaço Shengen. Agora que a
“Cortina de Ferro” foi definitivamente ultrapassa-
aposta no Centro e Leste da Europa. As caracterís-
ticas do sector mediático destes países convidam à
expansão das empresas de media para esta área da
da, é hora de olhar para as oportunidades de inves- UE a médio e longo prazo. A dimensão reduzida
timento que antes se escondiam por detrás desta. do mercado português é o principal entrave ao
Os empresários e profissionais de media portu- desenvolvimento do sector de media português,
gueses assumem que o futuro do sistema mediáti- que não é suficientemente competitivo. A solução
co (o europeu no geral e o português em particu- para o crescimento do sector português passa pelo
investimento em mercados internacionais, entre
os quais estão os membros da UE. Esta expansão
dos media nacionais não pode passar ao lado das
oportunidades de investimento que os países do
Centro e Leste europeus apresentam: São demo-
cracias recentes, mas estáveis, têm uma cultura
ocidental com valores próximos dos nossos e são
sociedades com níveis de literacia elevados. As
eventuais barreiras que podem dificultar as apostas
dos grupos de media lusos nos mercados além
fronteiras poderão ser ultrapassadas através de ma-
nobras específicas como investir em nichos de
mercado ou parcerias com grupos de media inter-
nacionais.

Ouvir quem conhece os media


O estudo “O Alargamento União Europeia e os
Media – Impactos no Sector e nas Identidades
Locais”, nasceu da vontade de analisar os efeitos
do alargamento da UE no sector mediático e nas
identidades locais. Para que este trabalho fosse o
mais completo possível, foram realizados vários
trabalhos de campo – uma sondagem à população
portuguesa, um inquérito a empresários e profis-

38 | mediaXXI
ed.87 06/06/22 12:37 Page 39

[O alargamento da UE e os impactos nos media]

sionais de media portugueses e dois questionários, OS MAIORES DESAFIOS DO ALARGAMENTO DA UE PARA OS MEDIA NACIONAIS
um a académicos e peritos dos media, e um segun-
do a empresários e profissionais de media de vá-
rios países europeus.Todas as opiniões interessam,
mas umas assumem maior destaque que outras. É
o caso do inquérito aos que se movimentam no
sector – os empresários e profissionais dos media
portugueses, que todos os dias vivem o e no sec-
tor. Por isso, o relevo que aqui se assume é o deste
grupo de inquiridos, uma vez que, melhor do que
ninguém, eles conhecem a realidade dos media na-
cionais. (Os resultados mais significativos dos res-
tantes trabalhos de campo realizados são aprofun- aumento da concorrência (cerca de 17%), a moder-
dados no suplemento desta edição – “O nização do sector (16%) e a melhoria dos conteú-
Alargamento da União Europeia e os Media”). dos mediáticos (14%).Além disso, grande parte dos
inquiridos percepciona que o desenvolvimento dos
Mais Europa, mais oportunidades media nacionais apenas poderá ser possível como
Com mais 76 milhões de consumidores no merca- uma consequência do próprio desenvolvimento dos
do europeu, todos os sectores beneficiam com o media à escala comunitária.
alargamento. No geral o saldo é positivo e o sector
dos media não foge à regra. Quando inquiridos Competitividade vs qualidade
acerca da sua percepção sobre o mais recente alar- A Europa alargada é um mercado considerável a
gamento, a esmagadora maioria dos empresários e nível mundial. Dentro das fronteiras comunitárias,
profissionais dos media nacionais (cerca de 91%) o peso económico do sector dos media aumentou
vê nos novos Estados-Membros uma oportunidade notavelmente nas últimas duas décadas. De facto,
de desenvolvimento do sector, e não uma ameaça. o mercado mediático europeu é altamente produ-
A possibilidade de exploração de novos mercados tivo. Por exemplo, em 2002 foram produzidos
é a conjuntura que os inquiridos mais referem co- 630 filmes europeus e apenas 450 nos EUA. Uma
mo consequência positiva do alargamento (44%). das questões colocadas no inquérito refere-se à
O aumento da mobilidade profissional (16,7%) e a competitividade dos produtos de media. A maioria
entrada de mais investimento estrangeiro no sec- dos inquiridos (cerca de 59%) afirma que os pro-
tor dos media português (16%) são outros dos dutos norte-americanos são mais competitivos do
possíveis efeitos do alargamento da EU para os que os da UE. Mas em termos de qualidade, as
media portugueses. produções europeias são (segundo cerca de 53%
O alargamento não traz apenas oportunidades, dos entrevistados) superiores àquelas que vêm do
mas também desafios que os media nacionais terão outro lado do Atlântico. A competitividade dos
de ultrapassar. O aumento da concorrência entre media portugueses dentro da própria UE poderá
os media (cerca de 31%), a adaptação do sector às aumentar através de factores específicos. Na opi-
necessidades das comunidades imigrantes (cerca nião dos empresários e profissionais inquiridos, a
de 23%) e o aparecimento de novos media em banda larga desempenha um papel importante ou
Portugal (16%) são, na opinião dos profissionais até decisivo neste sentido (ver gráfico2). Outro
do sector, o repto que a Europa alargada lança ao factor que poderá aumentar a competitividade eu-
país (ver gráfico 1). As mudanças mais significati- ropeia será o modelo de financiamento do desen-
vas que o alargamento irá trazer para os media volvimento da SI. Os tipos de apoios financeiros à
portugueses são, segundo estes profissionais, a SI que poderão contribuir para isso e que foram
maior diversificação temática dos media (20%), o mais mencionados são o modelo misto de partici-

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[O alargamento da UE e os impactos nos media]

pação comunitária, governamental e privada (cer- outros especialistas dos media e de assuntos euro-
ca de 65%) e uma segunda vertente mista com- peus. Estiveram presentes João Palmeiro,
posta por fundos governamentais e privados (ou Presidente da APImprensa, Rui Cádima, da
Universidade Nova de Lisboa, Fernando Cascais,
AVALIAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DA BANDA LARGA PARA A COMPETITIVIDADE director do Cenjor, e a especialista em assuntos
DOS MEDIA EM PORTUGAL FACE À DOS RESTANTES PAÍSES DA UE
europeus Isabel Meirelles, entre outros convida-
dos. Wolfram Minnemann da WR MAC –
Publicidade e Marketing e Aguiar Falcão do
IPOM, a entidade que realizou a sondagem a nível
nacional e o inquérito aos profissionais dos media,
também marcaram presença.
Depois de apresentados os objectivos do projecto,
oradores e público trocaram ideias entre si. Um
dos consensos a que se chegou foi a necessidade da
UE contactar mais com os europeus. “É necessário
que a Europa chegue a todos, e os media desem-
seja, não comunitários). penham um papel essencial como elo entre a UE e
os cidadãos”, afirmou Fernando Neves. Isto assu-
Impactos nos media em discussão pública me ainda mais importância quando se avaliam os
Outra componente importante do projecto é a sua 20 anos de adesão à União, em que Portugal saiu
discussão pública. O primeiro contacto com o pú- claramente a ganhar. “Por isso é importante avaliar
blico em geral foi a apresentação do estudo em o impacto do alargamento no sector, que é dos
dois seminários – na Universidade Autónoma de mais dinâmicos da nossa sociedade”, disse o em-
Lisboa, a 9 de Maio, e na Universidade Fernando baixador.
Pessoa (UFP), no Porto, no dia 31 do mesmo mês. Para o grupo de media alemão Axel Springer, o
As acções contaram com a presença de Paulo avanço para os países do Centro e Leste europeus
Faustino, coordenador do projecto, para além de já aconteceu. Segundo Florian Nehm, represen-
tante do grupo germânico, a Axel Springer não se
implementa mais fora da Alemanha porque há im-
pedimentos em certos países, como leis anti mo-
Ficha técnica
nopólio. Mas Paulo Faustino assume que a peque-
O inquérito foi realizado pelo IPOM através de um in-
na dimensão de Portugal não deve impedir os
quérito telefónico entre os dias 21 e 23 de Novembro de
empresários de serem ambiciosos e de aproveita-
2005. A amostra recolhida integra 150 entrevistas realiza-
rem as oportunidades emergentes a leste. “Ou se
das a responsáveis de empresas de media ou a profissio-
adaptam ou são aniquilados pelos grupos estran-
nais do ramo. O procedimento para as entrevistas foi ale-
geiros. É tempo de ter uma atitude positiva face às
atório e proporcionalmente estratificado em função da
nossas qualidades”, disse o investigador. Ricardo
variável relativa à especificidade da área de actividade das
Pinto, do Expresso, entende que a internacionali-
empresas dos media, sendo seleccionadas aleatoriamente
zação é mesmo uma das grandes consequências da
de uma lista de empresas existentes em cada distrito.
queda do Muro de Berlim. Para Salvato Trigo, rei-
Para a selecção do elemento amostral, foi solicitada a co-
tor da UFP, a globalização é positiva, mas implica
laboração do responsável pela empresa contactada. A di-
um reforço dos media de proximidade. Podemos
mensão da amostra e o procedimento associado permi-
ter uma atitude virada para fora, mas sem esque-
tem fazer inferências sobre a população, para a maioria
cer o país real.
das questões, com uma margem de erro inferior a 6,9%
A discussão pública está também aberta a todos os
para um nível de confiança associado de 95%.
que nela queiram participar na blogoesfera em eu-

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[Opinião]

ACERCA DA NATUREZA POLICIAL DO NOVO


REGULADOR DA COMUNICAÇÃO SOCIAL
Em polémica recente sobre a natureza de algumas das atribuições da
nova entidade controladora da comunicação social e das eventuais
intenções reservadas do legislador que a criou, é oportuna uma análise
desapaixonada do texto legal para definir o ambito e os contornos de cer-
tas competências deste órgão da administração pública, por força a bem
apreender o sentido dos seus objectivos, das suas finalidades e, conse-
quentemente, da sua verdadeira natureza.

Parece inquestionável a constatação de que o novo mente significativa em aspectos tais como a co-
órgão, de acordo com as linhas gerais do regime brança efectiva de taxas e outros créditos, a deter-
jurídico constante da Lei 53/2005 de 8 de minação da prática de infracções e a aplicação das
Novembro de 2005, saiu reforçado nas suas capa- respectivas sanções, directamente e sem necessida-
cidades não só de “supervisão” mas também de “in- de de intervenção de nenhum órgão judicial im-
tervenção” nas várias entidades sujeitas à sua juris- parcial legitimador das suas actuações. Preceito
dição (artigo 6º). que é reforçado com a atribuição aos membros,
É claro sintoma disso que seja erigido a “objectivo funcionários e agentes da ECR e aos seus mandatá-
de regulação do sector”, entre outros, a fiscaliza- rios e outras pessoas “credenciadas”, da qualidade
ção dos “critérios de exigência e de rigor informa- de “agentes da autoridade”, com todas as conse-
tivo”, de modo a tornar efectiva a “responsabilida- quências que daí decorrem (artigos 45º e 53º).
de editorial” (artigo 7º), não se podendo, a este Este poder extraordinário de policiamento da acti-
propósito, deixar de questionar o carácter inteira- vidade da comunicação social está na base das vá-
mente subjectivo e, consequentemente, descricio- rias faculdades que lhe são conferidas em matéria
nário, do que seja a “exigência jornalística”, total- de controle do “rigor in-
mente desconhecida da legislação anterior, em “Os poderes formativo” ( artigo 24º
substituição do critério da “isenção”, bem definida fiscalizatórios do nº3 al. a)), de promoção
na lei e na jurisprudência passadas. novo órgão da”conformidade dos es-
É também significativo do reforço dos poderes de administrativo de tatutos editoriais”
intervenção do novo órgão de supervisão a sua do- controlo da (id.al.u), da aplicação das
tação de um especial poder soberano equiparado comunicação “normas sancionatórias
ao do Estado (artigo 12º), inovação particular- social foram previstas na legislação
consideravelmente
reforçados”

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[Opinião]

sectorial específica” (id. al. f), e até na organização comunicação social foram consideravelmente re-
e manutenção de “bases de dados que permitam forçados, fazendo sobressair a sua natureza policial
avaliar o cumprimento da lei pelas entidade sujei- relativamente ao carácter predominantemente re-
tas à sua supervisão” (id. al. h)) à margem de qual- comendatório e aconselhador do órgão constitu-
quer controle pela entidade com competência es- cional que substituiu.
pecial nesta matéria! É certo que os efeitos práticos do
A isso acrescem prerrogativas especiais “A actividade modelo legal descritos passam fun-
que permitem aos membros do específica de damentalmente pela forma como os
Conselho Regulador, aos funcionários, regulação do novo membros do Conselho Regulador
agentes, mandatários e a pessoas creden- órgão fica sujeita a interpretarem as suas funções e uti-
ciadas entrar nas instalações dos órgãos escrutinio lizarem os meios que o legislador
de comunicação social, convocar os seus permanente da pôs ao seu dispôr.
administradores, directores e diversos Assembleia da Independentemente porém da ra-
responsáveis para depôr, aceder aos República” zoabilidade dos critérios pessoais, a
equipamentos e serviços, proceder a dependência umbilical em que se
averiguações, a exames e a apreensões encontram do poder político, desde
de documentos e divulgar as informações obtidas, a forma da sua nomeação à obrigação regular de
identificar pessoas, levantar autos e até reclamar a dar conta das suas actividades e à possibilidade de
colaboração de autoridades policiais para o desem- serem destituídos a qualquer momento por sim-
penho das suas funções (artigos 45º e 53º). ples decisão desse mesmo poder político, pelo me-
É óbvio, e não merece contestação séria, que, sen- ro incumprimento de qualquer obrigação inerente
do o âmbito específico da ECR a supervisão da co- ao cargo, faz, no entanto, temer que, dificilmente,
municação social (artigo 5º princípio da especiali- a nova entidade se possa eximir às orientações que
dade), serão, decerto, as instalações das redacções o referido poder entenda imprimir no controlo da
e de programação o objecto próprio da interven- comunicação social.
ção musculada dos seus membros, funcionários e A possibilidade de dissolução do órgão, no seu to-
agentes de fiscalização, sendo esse o campo de do, por resolução política tomada pela maioria dos
eleição das actividades de busca, investigação e deputados em efectividade de funções, pela alega-
apreensão. ção de “quaisquer irregularidades”, que não são
O quadro desta nova feição policial do regulador definidas em lugar algum, sem garantias de defesa,
da comunicação social é completado pelos aspec- sem processo contraditório e sem recurso para
tos sancionatórios, destacando-se a possiblidade de qualquer órgão jurisdicional independente, consti-
aplicação de coimas de 5.000 a 250.000 euros pa- tui também motivo de justificada apreensão quanto
ra o não envio atempado de informações ou ele- à sua real independência e isenção.
mentos solicitados, a falta de comparência de um Se se acrescentar a esta possibilidade a idêntica ad-
administrador ou director quando convocado para missibilidade de, pela mesma maioria parlamentar,
declarações (artigo 68º), para a resistência ao aces- ser destituído qualquer membro individualmente,
so às instalações (artigo 69º) ou ainda para a apli- por alegada “violação grave de deveres estatutá-
cação de sanções pecuniárias compulsórias à razão rios”, cuja tipificação se não acha prevista em parte
de 100 Euros ou 500 Euros por dia de atraso no alguma, com base em “prova” que não respeita o
cumprimento de qualquer decisão da ECR (artigo contraditório, sem apreciação por qualquer órgão
72º). jurisdicional independente, estar-se-à perante si-
Parece, assim, inegável que os poderes fiscalizató- tuação a merecer mesmo eventual escrutínio à luz
rios do novo órgão administrativo de controle da das orientações do Conselho da Europa relativas à

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[Opinião]

independência das autoridades de regulação (con- municação social, designadamente, o produto das
forme constava da Recomendação REC (2000) 23 coimas aplicadas, das custas processuais cobradas
de 20 de Dezembro de 2000, e hoje já também em processos contra-ordenacionais, de multas e
prevista em preceito expresso da até de sanções pecuniárias
proposta de directiva que altera compulsórias.
a Directiva Televisão Sem Este simples enuncia-
Fronteiras da UE). do é de molde a al-
Acresce ainda que terar fundamental-
a actividade es- mente a filosofia
pecífica de re- de actuação da no-
gulação do novo va entidade regula-
órgão fica sujei- dora, que terá de
ta a escrutínio se comportar antes
permanente da como “cabo de es-
Assembleia da quadra”, para asse-
República, a quem gurar, pelos pro-
terá não só de reme- cessos que autuar,
ter, anualmente, um re- a sua própria so-
latório das suas activida- brevivência econó-
des de regulação, mas mica, e, assim,
também de, mensalmente, dar conta de todas as subvertendo, no essencial, o sentido da regulação.
suas deliberações e actividades, sendo que aquela Mas, mais grave ainda, é a nova “taxa” a aplicar aos
lhe pode ainda pedir explicações e informações diversos meios de comunicação social, acabada de
concretas sobre cada uma das suas deliberações, o ser fixada, “taxa” essa que, além da sua mais que
que erige a Assembleia da duvidosa constitucionalidade, pela real natu-
República em verdadeiro reza de imposto de que se reveste, traduz
controleiro político de to- “Não são totalmente uma totalmente inadmissível comparticipação
da a actividade de regula- injustificados os dos regulados nas despesas de funcionamento
ção do novo órgão, que, receios dos que temem do regulador. Este é, aliás, um dos aspectos
assim, perde, totalmente, pela liberdade de em que a Recomendação REC (2000) 23 do
a sua independência do imprensa no novo Conselho da Europa é mais crítica como for-
poder político. quadro regulatório ora ma de assegurar a efectiva independência dos
Mas a independência deste vigente” órgãos reguladores.
órgão é também afectada Não são, pois, totalmente injustificados, os
do lado das receitas previstas para o seu funciona- receios dos que temem pela liberdade de imprensa
mento. Com efeito, e independentemente da con- no novo quadro regulatório ora vigente.
sideração dos avultados montantes orçados para a
sua actividade corrente, passam a ser “receitas” do
novo órgão, não só verbas idênticas às provenien- Lisboa, 2 de Junho de 2006
tes do Orçamento Geral do Estado para o funcio-
namento do órgão constitucional que substituiu,
mas ainda, entre outras de carácter eventual, de JORGE PEGADO LIZ*
natureza estranha em relação a um órgão com a ADVOGADO, CONSELHEIRO DO COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL
dignidade que é suposto ter um regulador da co- EUROPEU(BRUXELAS)

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[Evento Media e Migração]

JORNALISMO TOLERANTE PREMIADO


ACIME distinguiu os melhores trabalhos
Jornalista João Paulo Baltazar destaca-se na 4ª edição do Prémio
“Jornalismo pela Tolerância”, num evento em que a responsabilidade
social dos media não foi esquecida
POR VERA LANÇA

o total concorreram 23 peças jornalísticas à vulgado no evento. Rui Marques, alto comissário do

N edição de 2006 do Prémio “Jornalismo pela


Tolerância” do Alto Comissariado para a
Imigração e Minorias Étnicas (ACIME). João Paulo
ACIME, afirmou que é por isso que o jornalismo de-
ve ser socialmente responsável. Os jornalistas devem
adoptar de livre vontade à não referência à etnia, raça,
Baltazar, jornalista da TSF, ganhou o Grande religião, etc. nas suas peças. “A responsabilidade é de
Prémio com uma reportagem radiofónica sobre a todos”, disse. “As decisões que se tomam nos media
vida no bairro da Cova da Moura, Amadora. “A re- não são nem inocentes nem irrelevantes”, concluiu.
portagem permite-nos olhar para dentro dos olhos Azeredo Lopes, presidente da Entidade Reguladora
do mundo”, disse o jornalista, acrescentando que “a para a Comunicação Social (ERC), lembrou que “vi-
tolerância é uma batalha que ainda não está ganha. vemos numa sociedade diversa em que todos têm as
Para o jornalismo, este é um desafio importante”. suas características”. Daí ser impossível ignorar o pa-
Na categoria Imprensa Escrita/em Linha o vencedor pel dos media, que têm “uma função social funda-
foi Ricardo Dias Felner, do jornal Público, com uma mentada. A sua palavra influencia”. Isabel Ferin, pro-
peça sobre as verbas que os imigrantes têm que pa- fessora no Universidade de Coimbra, afirmou que
gar para obter os documentos necessários à perma- “nos últimos anos houve um saldo positivo, apesar de
nência no país. Cristina Santos, jornalista da TSF, foi ainda haver problemas”. Para combater a intolerância,
a premiada da categoria Rádio pela peça sobre a di- a investigadora considera indispensável haver uma
versidade étnico-cultural nas escolas. O júri decidiu maior diversificação das fontes na própria sociedade
não atribuir o prémio da categoria Televisão por civil, para que os jornalistas não dependam apenas das
considerar que nenhuma das peças a concurso reu- fontes institucionais. “Os media têm uma responsabi-
nia as condições necessárias. lidade acrescida que passa, também, pela ERC, pela
auto-regulação e pelas escolas”, afirmou Isabel Férin.
Jornalismo com responsabilidade O pseudo-arrastão de Carcavelos foi exemplo de in-
Em Portugal há um estereótipo dos imigrantes vinca- tolerância que o ACIME destacou. “É importante es-
do na sociedade, concluiu um estudo do ACIME di- tudar estes fenómenos. Este
foi muito mediático e teve
CORTESIA ACIME

um impacto perverso”, frisou


Rui Marques. “A percepção
da opinião pública amplifica
os efeitos criados pelo arras-
tão que não existiu e isso cau-
sou prejuízos, sobretudo aos
imigrantes de origem africa-
na em Portugal”, referiu o
responsável do ACIME.
ISABEL FERIN, RUI MARQUES E AZEREDO LOPES

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[Dinâmicas de Comunicação]
Os utilizadores de telemóveis já são 11,56

Mais de 11 milhões utilizam


milhões em Portugal. Um valor que
representa uma taxa de penetração de

telemóveis em Portugal
Leitura de livros aumenta 109,8% deste tipo de equipamento, a mais
elevada da União Europeia, cuja média é de
Mais de 2,6 milhões de 101,9%. Os dados apurados pela Autoridade
portugueses lêem Nacional de Comunicações referem-se ao
habitualmente livros, primeiro trimestre deste ano e mostram um
segundo o estudo aumento de 8,6% em relação ao mesmo
“Consumidor” da Marktest. período de 2005. A maioria dos utilizadores
Este valor corresponde a recorre ao sistema dos cartões pré-pagos, e
31,4% do universo de foram eles quem mais contribuiu para o
estudo. Nos últimos anos crescimento do serviço móvel terrestre.
verificou-se uma tendência
crescente, mas lenta. O há-
bito de leitura revela
assimetrias entre a
população: são as mulheres
quem mais lê (35,3%); a
classe média regista o maior índice de leitura; e é na

The Times com versão americana


região da Grande Lisboa que os hábitos de leitura são
mais frequentes. Entre os jovens a média é elevada
(58,85), mas diminui com o aumento da idade (19,6% a O jornal londrino “The
partir dos 64 anos). Times” já tem uma versão
dirigida exclusivamente
para o Estados Unidos, em
parceria com o “New York
Banda Larga cresce 8,2% Post”. Para já está
disponível em Nova Iorque
Segundo dados avançados pelo relatório trimestral da Autoridade e Nova Jersey. Esta
Nacional deComunicações (Anacom), no final de Março existiam 1,312 publicação pretende fazer
milhões de assinantes de banda larga em Portugal, representando um face à escassez de notícias
aumento de 8,2% em relação ao mesmo período em 2005. internacionais e afirmar-se
Quanto às quotas de mercado, a operadora PT mantém a supremacia na cobertura do Mundial
com 73,5% dos acessos, apesar de ter registado uma quebra de 8,1% de Futebol na Alemanha.
no número de assinantes face ao período homólogo do ano passado. O arranque desta
Esta quebra, segundo a Anacom, justifica-se com o aumento da publicação deve-se aos
concorrência do mercado da banda larga no país: a PT apenas conseguiu cortes orçamentais que
angariar três em cada dez novos clientes entre Janeiro e Março. levaram a uma quebra dos
conteúdos internacionais
nos EUA. O jornal, cuja
Tráfego de sites
com medição
padronizada

A medição do desempenho dos sites vai ser revolucionada pelo


tiragem é de cerca de
SIM.net da Marktest. Este sistema conjuga dois tipos de dados
10.000 exemplares, é o
da internet – a medição de tráfego, centralizada em cada site, e
único generalista inglês
a medição de audiências da internet, a partir dos utilizadores.
com vendas diárias nos
O primeiro sistema faz o recenseamento do tráfego do site
EUA.
(sem fornecer informações sobre o perfil do visitante ou de
outros sites). Já o segundo possibilita conhecer o perfil do
visitante do site e fornece dados sobre todos os sites. Este tipo
de estudo faz apenas a cobertura do consumo de internet a
partir de ligações de casas particulares, à semelhança da
maioria dos países que recorre a sistemas idênticos.

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Metade dos bilhetes de avião são actualmente adquiridos [Dinâmicas de Comunicação]


por via electrónica. A Associação Internacional do
Transporte Aéreo (IATA) prevê o desaparecimento do
bilhete de papel até 2007. Robert Milton, director-geral Publicidade impressa com novos
da IATA, anunciou que o objectivo da associação é
prémios
Bilhete tradicional com dias contados

aumentar os níveis de venda electrónica até 70% em 2006,


para se chegar aos 100% no ano seguinte. O consumidor
Com o objectivo de
irá beneficiar de uma redução dos preços dos bilhetes, uma
premiar os melhores
vez que as taxas de emissão em papel são mais caras. A
anúncios no meio da
AITA representa 265 companhias aéreas, que cobrem 94%
imprensa a nível global,
do tráfego aéreo mundial, e afirma que com esta medida o
Neil French, antigo consul-
sector irá poupar 3.000 milhões de dólares.
tor criativo do grupo WPP,
está a preparar os World
Press Awards.
A notícia avançada pelo “Advertising Age”, refere
ainda que Neil French conta com Barbara Levy,
presidente da London International Awards, na or-
ganização desta nova edição de galardões.
Segundo a notícia avançada, o organizador já se en-
contra à procura de pessoas para formar o júri do
festival, pretendendo reunir os melhores da área
para avaliarem os anúncios impressos em
publicações de todo o mundo.

Ligação da televisão na Internet


Já está disponível no Reino Unido um
aparelho um permite enviar o sinal de tele-
Mercado francês com novo gratuito

visão da própria casa através da Internet Desde o início do mês de Junho que o mercado
para qualquer outro lugar. O Slingbox editorial francês conta com uma nova publicação
suporta diferentes ligações de vídeo e diária gratuita. Com o título de “Direct Soir”, o
requer uma ligação de banda larga para novo jornal assume-se como um vespertino,
funcionar. distribuído a partir das 16h, distinguindo-se dos
Basta ligar o aparelho a um sinal de vídeo e outros dois jornais gratuitos de âmbito nacional
a um computador para o configurar. já existentes no mercado francês: o “20 Minutes”
Depois altera-se a lição do computador pa- e “Metro”.
ra router e volta-se a ligar a Slingbox ao O título arrancou com uma tiragem de 500 mil
computador. O sistema pode ser exemplares, distribuída em doze cidades
controlado remotamente e permite ligar o francesas. A nova publicação, com uma estrutura
Slingbox a um reprodutor de vídeo com editorial de 28 páginas, assume-se como um diá-
um disco rígido para ver programas rio generalista, apesar de dar mais destaque às
gravados na memória. áreas de informação sobre
Esta tecnologia ainda vai demorar uns televisão e cinema.
meses a chegar ao resto da Europa, apesar Propriedade de Vincent
de já se encontrar disponível no Reino Bolloré, a produção de
Unido por 265 euros e nos Estados Unidos conteúdos do diário é
por 195. assegurada por uma equipa de
80 jornalistas que já integram
a redacção do canal Direct8.

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[Evento/7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]

O APETECÍVEL MERCADO CHINÊS


Oportunidades dos media na cultura chinesa

A nossa fácil capacidade de adaptação a outras culturas e apetência para


improvisar face a situações inesperadas, a par da ligação à China através
de Macau, podem constiuir-se como vantagens comparativas para os
empresários nacionais
POR PAULO FAUSTINO, EM BEIJING/CHINA

No nosso país, a ideologia burguesa e pequena Algures entre a Cidade Proibida e a grande mura-

“ burguesia, a ideologia anti-marxista, continua-


rão a existir por muito pouco tempo. No es-
sencial, o sistema socialista já está estabelecido en-
lha da China está a emergir uma cidade moderna e
imponente, em que coexistem duas realidades to-
talmente distintas: a existência de uma nova classe
tre nós. Nós conquistámos a vitória de base na de ricos (ou melhor, muito ricos) e uma grande
transformação da propriedade dos meios de pro- parte da população (a população total ascende a
dução mas ainda não alcançámos uma vitória com- mais de 1,316.9/m), muitos provenientes das al-
pleta nas frentes políticas e ideológicas...Temos deias, que vive em consideráveis níveis de probre-
ainda de travar uma luta prolongada contra a ideo- za ou no limiar dela. Ao contrário do que se verifi-
logia burguesa e a pequena burguesia...”, discurso ca na estrutura social dos países com democracias
de Mao Tsé-Tung na Conferência Nacional do consolidadas, a existência de uma classe média in-
Partido Comunista da China , 12 de Março de fluente e expressiva é, por agora, ainda uma reali-
1957. Este discurso de Mao Tsé-Tung (ou na ver- dade distante. A China possui um modelo político
são moderna Mao Zendong), está longe de corres- hibrido – sui generis –, em que, por um lado, o
ponder à situação actual da China. Estado ainda continua a controlar grande parte da
economia e dos negócios (como é, por exemplo, o
Cidade Permitida caso do sector dos media; apenas existem editoras
A realidade está rapidamente a sobrepor-se à ideolo- de revistas e livros privadas – quase todos os prin-
gia. A longa caminhada que tem vindo a permitir à cipais media são propriedade do Estado), e, por
China sair do retrocesso e do comunismo, tornou-se outro, reconhece a necessidade de se abrir à eco-
claramente irreversível. O impacto e gravidade dos nomia de mercado e, particularmente, a impor-
acontecimentos, em 1986, de Tiananmen – onde tância atribuída ao investimento estrangeiro.
morreram cerca de 300 pessoas - transformou o co- Basta aterrar no aeroporto internacional de
mércio com a China num problema moral e numa Beijing e Xangai, respectivamente, para nos aper-
questão central das práticas políticas e económicas cebermos das enormes expectativas e apostas das
para uma nova geração de cidadäos chineses. grandes multinacionais neste país. Basta sair destes

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[Evento/ 7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]

LUÍSA RIBEIRO
aeroportos e passar pelas principais avenidas destas dade de formas que assumem, e os interesses pre-
duas cidades e imediatamente observamos que valecentes observados na sociedade chinesa são
qualquer semelhança entre a realidade destas ave- outros dos obstáculos a ultrapassar. A insuficiência
nidas chinesas e as avenidas das grandes cidades de informação quantitativa e qualitativa, disponível
americanas e ocidentais não é pura coincidência. A é também outro ponto fraco a ter em conta. A
realidade já muda substancialmente quando se ca- própria cultura empresarial baseia-se em modelos
minha para outras zonas do interior das cidades e ideológicos e práticas sociais que, em muitos ca-
que representam mais a verdadeira China: ainda sos, se afastam dos referenciais ocidentais. Nós
abraços com muita pobreza. Mais de 20 anos de (portugueses), costumamos ser criativos a ultra-
reformas e a abertuara ao exterior têm vindo a passar este tipo de obstáculos. Os portugueses,
transformar profundamente a matriz das relações que foram os primeiros povos ocidentais a estabe-
económicas e sociais na China, mas o processo de lecer relações comerciais com a China antiga, não
decisão ainda permanece fortemente dependente devem ser os últimos a estabelecer relações eco-
da vontade política e administrativa de inúmeros nómicas com a China moderna. O legado de mais
departamentos oficiais, o que constitui uma ba- de quatro séculos de presença portuguesa em
rreira à difícil entrada para quem não possuir uma Macau pode ser uma activo comum aos povos por-
boa rede de contactos no terreno, a que os chine- tuguês e chinês, e pode representar uma vantagam
ses designam por guanxi, o que para nós, numa comparativa das empresas portuguesas no acesso
linguagem mais sofisticada, pode significar a arte ao mercado da RPC e das empresas chinesas no
de fazer relações públicas ou numa linguagem mais acesso ao mercado europeu. As empresas portu-
popular “cunha”. guesas devem olhar com mais atenção pare este
As diferenças culturais e linguísticas, na multiplici- mercado e não perder muito tempo e em identifi-

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[Evento/ 7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]

LUÍSA RIBEIRO

dades de negócio e a transformar ameaças em tação dos chineses já está chegar à gastronomia e
oportunidades. doçaria. Com a velocidade e capacidade de imita-
Quem chegar primeiro tem sempre algumas van- ção dos chineses não será propriamente uma sur-
tagens. Como diria Sun Tzu, a par de Confúcio, presa se um dia destes os cafés e confeitarias por-
um dos grande filósofos Chineses da Antiguidade, tugueses começarem a importar pásteis de nata da
num dos seus livros mais célebres (A Arte da China. Este doce tipicamente português parece ter
Guerra ): “Na paz prepara-se a guerra”. Esta frase sido uma das principais heranças da presença
exprime bem o sentido de antecipação e oportuni- Portuguesa em Macau.
dade que caracteriza o povo chinês. Por conseguinte, como referem Jack e Suzy
O Império do Meio assume-se também cada vez Welch, na edição da revista “Business Week” (22 de
mais como um palco privilegiado para a organiza- Maio, 2006), a China não é para todos. Contudo,
ção de eventos, seminários e conferências, concor- no caso de Portugal, pode fazer sentido explorar
rendo directamente com Portugal. Os portugue- melhor este mercado, inclusivamente na área dos
ses já estão habituados a concorrer em muitos media. A nossa capacidade de adaptação a outras
produtos (calçado e têxteis, por exemplo) com os culturas – e mesmo os laços históricos estabeleci-
chineses. Até nos pastéis de nata já estamos a con- dos com este gigante asiático -, poderão constituir
correr com os Chineses. Um dos mais populares alguns pontos fortes a capitalizar. Na China poderá
doces, que se encontram em várias zonas da China haver lugar para projectos de massa e de nicho,
(Beijing, Hong Kong, Xangai), dá pelo nome muito embora um nicho possa significar um mer-
“Tarte of Eggs from Macau”. A capacidade de imi- cado superior a Portugal. No segmento das revis-

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[Evento/ 7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]

tas e produção audiovisual, áreas onde se começa a pação faz sentido na medida em que, ao nível dos
assistir a uma maior abertura do Governo Chinês, jornais, o sistema de distribuição é muito incipien-
haverá empresas nacionais com capacidades de te. Grande parte dos jornais – que são controlados
triunfar neste mercado (sendo um factor-chave, a pelo Estado – chegam aos cidadãos através de assi-
inevitável sensibilidade para adaptar localmente al- naturas feitas nas estacões de correios e, em mui-
guns produtos de media e entretenimento) através tos casos, podem ser consultados em painéis espa-
de investimentos pouco significativos que não são lhados pelas cidades, localizados em sítios
possíveis noutros mercados internacionais mais estratégicos.
maduros.
Aliás, a recente visita – Maio de 2006 – a Portugal Muralhas de pessoas para os media
de uma delegação liderada pela Vice-Ministra chi- Sem renegar as heranças políticas e sociais (de ins-
nesa para a área dos media, e conforme foi de- piração marxista-leninista) de Mao Tse-Tung e da
monstrado numa reunião com a direcção da sua Revolução Cultural (termo que designa o pe-
Associação Portuguesa de Imprensa, espelha bem a ríodo de liderança do ex – ditador chinês) – um
abertura que as entidades chinesas podem ter para símbolo ainda bem vivo e respeitado pelos chine-
acolher projectos com origem em Portugal. Um ses, nos últimos anos, a Grande Muralha, ou se
dos aspectos que despertou maior interesse por quiseremos na versão anglo-saxónica, a Great
parte dos responsáveis chineses foi a questão da Mall, deixou de representar o ícone de um país
distribuição de jornais/publicações. Esta preocu- conservador e monocultural, para simbolizar uma
LUÍSA RIBEIRO

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[Evento/ 7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]

LUÍSA RIBEIRO

China mais aberta e “sedenta” de valores ociden- importante “leitmotiv” para o comércio bilateral
tais. Pode dizer-se que a Grande Muralha repre- entre os EUA e a China, assim como para uma
senta uma nova centralidade desta zona geográfica maior abertura política e econónica ao Ocidente.
face ao mundo. É um local ideal para respirar e fa- Hoje parece claro, para os responsáveis políticos
zer uma pausa de um ambiente totalmente cosmo- chineses, que desenvolvimento e prosperidade
polita e multicultural. Esta nova fase de desenvol- económica e social não são compatíveis com o iso-
vimento da China - a transitar de um regime lacionisto e modelos de governação em que toda a
comunista para uma economia aberta -, tem sido actividade económica é controlada pelo Estado e
tido feita também com a colaboração de grandes onde tudo se fundamenta em princípios ditatu-
consultores internacionais, inclusivamente de ex- riais, como aconteceu num passado recente. Para
-políticos americanos. entenderem, de uma forma prática, essa ideia, os
A passagem do tempo tende a fazer esquecer um responsavéis chineses não necessitaram de se des-
dos mais inesperados anúncios feitos no século locar muito para Ocidente. Basta, mesmo no con-
XX: o relatório do Secretário de Estado america- tinente asiático, analisar os níveis de desenvolvi-
no Henry Kissinger sobre a sua viagem secreta a mento da Coreia do Norte e da Coreia do Sul.
Beijing, em Agosto de 1971. Este relatório prepa- Aqui a conclusão é simples: apesar de serem dois
rou o caminho para o encontro entre os presiden- países situados no mesmo espaço geográfico, em
tes Richard Nixon e Mao-Tsé-Tung. Na sequência igualdade de circunstâncias de partida (com os
deste encontro surgiu o Comunicado de Xangai, mesmos recursos), a disparidade no nível de de-

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[Evento/ 7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]

LUÍSA RIBEIRO China iria progressiva-


mente transformar-se
num dos principais
centros do mundo (ala-
vancado por economias
de escala decorrentes
de um alargado merca-
do de consumidores e
pela existência de mão-
-de-obra barata), so-
bretudo pelo potencial
crescimento economi-
co, que atrai o investi-
mento estrangeiro.
Como diria Umberto
Eco, “quando os chine-
ses começarem a usar
mais papel higiénico, as
árvores vão tornar-se
um recurso escasso”.
Esta analogia de
Umberto Eco ilustra
bem a dimensão do po-
tencial mercado de
consumidores neste
continente asiático.
Foi no âmbito desta
“onda” de atrair o in-
vestimento e iniciatia-
vas estrangeiras que
que se realizou, em
Beijing, entre 15 e 18
de Maio, a 7ª Confência
Mundial de Economia
dos Media, subordinada
ao tema “Globalização,
senvolvimento éconómico entre eles é abismal. A Media e Diversidade”. Este evento, um dos mais
Coreia do Norte – que possui um modelo de go- prestigiados do mundo sobre os media, organizado
vernação democrático – está entre as economias pelo “Journal of Media Economics”, reúne, de dois
mais desenvolvidas do mundo; por seu lado, a em dois anos, alguns dos mais prestigiados investi-
Coreia do Sul – em que o regime político assenta gadores, docentes e consultores na área da econo-
numa ditadura -, está longe dos países mais desen- mia, gestão e política dos media, provenientes dos
volvidos do planeta. quatro cantos do planeta. Em representação da
A ideia da China como grande área geográfica Universidade Autónoma de Lisboa, apresentei uma
económica não é propriamente recente. Desde há comunicação na 7ª Conferência Mundial de
muitos anos que alguns analistas previam que a Economia dos Media intitulada “Media

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[Evento/ 7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]

Concentration – New Trends in portuguese news- e Educacão para os Media”; “Políticas Públicas para
paper market”. Apresentei também uma proposta os Media e Sociedade da Informacão”.
para a organização da próxima conferência em O tema “Globalização, Media e Diversidade”,
Portugal. Esta candidatura portuguesa saiu vence- adoptado na conferência em Beijing, que reuniu
dora tendo tido como concorrentes países de ou- cerca de 300 pessoas, sendo, mais de metade, pro-
tros contimentes, inclusivamente da Europa, co- venientes de fora da China, de todas as partes do
mo, por exemplo, a Grécia e Suíca. Para a vitória mundo, espelhou bem o ambiente e interesse vivi-
da candidatura portuguesa foram importantes os do neste evento. As palavras-chave foram globali-
apoios oficiais de instituições nacionais, como, por zação, concentração diversidade, regulação e me-
exemplo, do ministro dos Assuntos Parlamentares, dia.Nesta conferência foram apresentadas cerca de
Augusto Santos Silva; do presidente da Câmara 50 comunicações, subdividas em vários painéis.
Municipal do Porto, Rui Rio, assim como das as- Coube a Rober t Picard, director do Media
sociações do sector, nomeadamente: a Management and Transformation Centre da
Confederação de Meios de Comuniação Social, a Jonkoping International Bussiness School (e profes-
Associação Por tuguesa de Radiodifusão e a sor do Master em Gestão Empresarial e Editorial
Associação Portuguesa de Imprensa. dos Media & Entretenimento, na UAL), a presidên-
A 8ª Conferência Mundial de Economia dos Media cia do evento.
será realizada em Portugal, entre 21 e 24 de Maio Como seria de esperar, as comunicações sobre os
de 2008, em Lisboa e no Porto. O tema central da media no contexto da China tiveram um especial
conferência em Lisboa será “Os media como sec- destaque neste evento. Neste âmbito, pode dizer-
tor estratégico das Nações”. Alguns dos temas dos -se que existiu um denominador comum entre es-
painéis previstos são: “Globalizacao e sas comunicações: o enfoque dado às possibilida-
Regionalizacao da Indústria da Comunicação”; des de desenvolvimento, o papel do Estado neste
“Mercados Emergentes para a Indústria e neste sector e os desafios da regulação. A par do
Comunicação”; “Gestão e Estratégias desenvolvimento do mercado dos media na
Empresariais dos Media, China, está a crescer o interesse
Convergência, Inovacão nos pela área de investigação
Media”; “Responsabilidade Social
LUÍSA RIBEIRO

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[Evento/7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]

CASA DA IMAGEM

deste sector. A investigação até agora realizada tem vel que não venha a ser fácil aparecerem nos
sido predominantemente centrada em análises de quiosques títulos com mensagens provocadoras e
inspiração marxista-leninista. Contudo, decorren- hostis ao Governo. Por último, é expectável uma
te da progressiva liberalização do sector dos me- maior preocupação com a questão dos direitos de
dia, começam também a surgir perspetivas de in- autor e aspectos ligados à regulação do sector da
vestigação, realçando os aspectos positivos da comunicação. O tema dos direitos é particular-
economia de mercado. mente sensível neste mercado porque constitui
Em termos de tendências futuras da indústria da uma das principais barreiras a ultrapassar. Como
comunicação, é expectável que a oferta e o consu- se sabe, os chineses copiam tudo – como se viu,
mo de produtos de media cresçam substancial- nem os nossos pastéis de nata escaparam – e não
mente. Por exemplo, ao nível dos filmes, ainda será de admirar encontrar um livro de uma edito-
existe pouca exibição de obras estrangeiras. Outro ra ou autor Ocidental publicado na China sem te-
importante factor é que o Estado deixou de subsi- rem sido adquiridos quaisquer direitos de autor.
diar muitos jornais regionais e locais, muitos deles Foi, por exemplo, o que aconteceu com um livro
ligados ao Partido Comunista. Um prática que re- de Robert Picard: quer o autor quer a editora não
vela também uma tendência de orientação para o faziam a mínima ideia que tinham publicado um li-
mercado é o facto da CCTV (principal canal de te- vro na China. Não obstante algumas dificuldades
levisão) ter previsto a existência de compensações que se possam identificar, a China tem um merca-
para as publicidades inseridas em programas que do de consumidores – muralhas de pessoas – po-
não atinjam as audiências previstas. As publicações tencial para consumir produtos de media. Ainda
impressas irão multiplicar-se, embora seja previsí- está muita coisa por fazer...

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COLECÇÃO mediaXXI

X ANOS A COMUNICAR
“O Voo da Borboleta”

Siga a nossa linha


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- Transformações e
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ASSINATURA POR 6 (SEIS) EDIÇÕES PARA EUROPA, NO VALOR DE 35 EUROS

ASSINATURA POR 6 (SEIS) EDIÇÕES PARA O RESTO DO MUNDO, NO VALOR DE 40 EUROS


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** A este valor acresce 3,20 euros para portes de envio.


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[Evento/7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]

PARA LÁ DA GRANDE MURALHA


China encerra um mercado com características específicas
A 7ª Conferência Mundial de Economia dos Media, realizada em Beijing
proporcionou a troca de impressões sobre os media chineses, que as
condicionantes políticas não têm permitido analisar
POR MÁRIO GUERREIRO

om um dos regimes mais fechados do em que os EUA adoptaram uma postura anti-chi-

C Mundo, o mercado dos media chineses assu-


me também a sua particularidade, apesar de
várias potencialidades. A 7ª Conferência Mundial
nesa, ao mesmo tempo que, curiosamente, come-
çaram a surgir na imprensa norte-americana arti-
gos sobre o modo de vida chinês e as suas
de Economia dos Media realizada em Beijing de 15 particularidades sociais, promovendo uma visão
a 18 de Maio contou com a participação de vários mais objectiva do país.
investigadores chineses, e ajudou a deitar luz sobre A importância da imagem para as empresas chine-
os media para lá da Grande Muralha. Entre os “pa- sas levou a que o próprio Governo de Pequim ou-
pers” apresentados foi notória a vontade de anali- visse propostas de empresas de relações públicas
sar a área da televisão e as condicionantes gerais internacionais com o propósito de se operar uma
no sector dos media chineses. melhoria da imagem chinesa nos EUA, referiu Jie
Jie Xu, professor chinês da Universidade do Xu. A percepção da China como um país com um
Alabama abordou as oportunidades de expansão imenso potencial industrial tem significado tam-
das empresas chinesas nos EUA, alicerçando o seu bém que a expansão de empresas chinesas nos
raciocínio no que considera ser a incorrecta per- EUA tem sido dificultada, concluiu o chinês.
cepção entre o mundo Ocidental e a China, e vice-
-versa. Jie Xu analisou alguns dos principais negó- As televisões chinesas
cios realizados recentemente nos EUA por No campo dos media, Jun Lan e Yingzi Xu, respec-
companhias chinesas, concluindo que a política ex- tivamente da Universidade de Tongji e da
terna dos dois países tem tido influência no desen- Universidade de St. Gallen apresentaram um “pa-
rolar dos mesmos e até na forma como estes são per” dedicado à liderança e organização cultural
depois retratados nos media norte-americanos. No das televisões chinesas. Os dois investigadores
“paper” apresentado em Beijing, Jie Xu concluiu identificaram três categorias de análise de estações
que a cobertura da China no “New York Times” televisivas como a CCTV, Shanghai TV, Beijing TV,
têm oscilado de acordo com as mudanças da polí- Hunan TV, Nanjing TV e Phoenix TV: cultura de
tica externa dos EUA face a Pequim. Este exemplo partido, cultura burocrática e cultura comercial.
tem levado a críticas por parte de companhias chi- As conclusões do estudo apontam para um proble-
nesas, que entendem ser prejudicadas nos seus ne- ma generalizado das televisões chinesas: a sua inca-
gócios nos EUA, mesmo quando não têm qualquer pacidade de obedecerem a uma cultura organiza-
relação directa com o Governo chinês. cional nova, após processos de reestruturação. As
Jie Xu concluiu também que os media norte-ame- televisões na China estão actualmente a atravessar
ricanos tendem a centrar a sua cobertura em um processo reestruturante, quer a nível das suas
“eventos sociais disfuncionais” e principalmente chefias como da sua própria organização. Por se-
em temas relacionados com os líderes políticos rem entendidas como indústrias culturais, ferra-
chineses. Este professor identificou também o ano menta ideal para o controlo da opinião pública, es-

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[Evento/7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]


LUÍSA RIBEIRO

tão sob alçada do Governo, que tem vindo a enco- ço governamental em tornar as televisões chinesas
rajar uma maior comercialização das mesmas e a em organizações com maiores objectivos comer-
sua divisão em grupos de media provinciais. Esta ciais. A medida foi um sucesso, referiram os inves-
alteração não significa a existência de cenários de tigadores, com as audiências da televisão a aumen-
privatização, como sucede por vezes nas democra- tarem consideravelmente.
cias ocidentais: “O Governo encoraja as estações Entre as conclusões do estudo, Jun Lan e Yingzi Xu
de televisão a publicitarem os seus programas e a distinguiram também alguns dos problemas que
terem maior lucro”. Como referiram Jun Lan e afectam o sector e as suas características. Entre os
Yingzi Xu, actualmente as televisões chinesas principais problemas, destacam-se a falta de pesso-
mantém um sistema de dupla-liderança: a da pró- al talentoso nas televisões, o descontentamento
pria televisão e a com ligação ao Par tido dos trabalhadores com a folha salarial, e a redun-
Comunista Chinês, no poder. dância de pessoal com as mesmas funções, que de-
A CCTV é o “player” dominante no sector da tele- vido à particularidade das televisões chinesas e sua
visão chinesa, e os seus lucros têm diminuído em estreita ligação com o Governo, não podem ser
algumas cidades chinesas, nos últimos anos. despedidos.
Contudo, com o início da intervenção americana No “paper” apresentado em Beijing, os investiga-
no Iraque, em 2003, a estação começou a emitir dores também concluíram que o controlo que o
(muitas vezes em directo) peças noticiosas sobre a Governo chinês exerce sobre as televisões está di-
situação naquele país, o que representou um esfor- rectamente ligado ao desenvolvimento económico

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[Evento/7ª Conferência Mundial de Economia dos Media]


CASA DA IMAGEM

das regiões onde está sedeada a estação: quanto que considera uma “luta” pelos melhores recursos
mais rica a região, mais leve é a influência exercida e conteúdos mais originais entre as televisões chi-
sobre o Governo. nesas, resultado directo da percepção do potencial
Liu Jingyi, da Universidade de Comunicação da que a televisão tem no país.
China, também centrou a sua apresentação nas es-
tratégias da indústria televisiva chinesa. O investi- IPTV na China
gador asiático analisou os padrões de negócio das Da Universidade de Comunicação da China, Zhou
televisões chinesas, identificando o ano de 1988 Yan abordou o mercado da IPTV no território con-
como o ponto de viragem relativamente ao negó- tinental do país. Admitindo que este novo meio é
cio da televisão na China. Até lá, a perspectiva co- virtualmente desconhecido entre os chineses, com
mercial das estações era inexistente. Nesse ano, a excepção a situar-se entre os jovens das classes al-
vários eventos do Partido Comunista Chinês fo- tas. Zhou Yan considerou que a China continental é
ram transmitidos, a par de algumas das competi- um mercado com várias potencialidades relativa-
ções dos Jogos Olímpicos de Seoul, iniciando-se mente à IPTV, resultado do regime existente e da
uma nova era de transmissão de eventos nos canais atracção das poucas novidades permitidas.
chineses. Segundo o investigador, estes eventos Entre os problemas com que se depara uma maior
significaram uma mudança importante, rompendo divulgação da IPTV na China conta-se a legislação
com os habituais eventos televisivos chineses, dado governamental sobre telecomunicações, que entre-
que representavam eventos planeados e publicita- ga a apenas uma companhia a permissão de comer-
dos com antecedência. O resultado foi um aumen- cialização da IPTV, numa clara situação de monopó-
to substancial dos “lucros publicitários e audiências lio. A qualidade dos conteúdos é outro dos aspectos
das estações”. A entrega de Hong Kong e Macau à da IPTV que carece de melhoria, quando se anali-
soberania chinesa e o lançamento do primeiro sa- sam as potencialidades deste meio na China. Para
télite chinês foram alguns dos eventos mediáticos Zhou Yan, uma maior diversidade de conteúdos
com mais sucesso nos televisores chineses. quando comparada com os media já existentes pode
Liu Jingyi manifestou então a sua opinião sobre o significar uma maior atracção para os chineses.

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[Mercados da comunicação/Multiple play na OCDE]

MULTIPLE PLAY NA OCDE


Estados apostam na evolução dos serviços TIC
Em análise ao mercado do tripleplay, o último relatório da OCDE identifica
que os fornecedores de ADSL apresentam maior propensão para a oferta
triple-play que os seus concorrentes do cabo e fibra
POR ZÉLIA MARTINS

oferta de serviços de multiple play represen- 29 redes de cabo analisadas oferecem serviços de

A ta o primeiro patamar da evolução bipartida


dos serviços de Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC). O primeiro consolidou o ví-
triple-play. Pelo contrário, apenas 44 por cento das
50 redes de telecomunicações analisadas têm ofer-
tas de triple-play. Dos oito fornecedores de fibra
deo, a voz e os dados numa determinada infra-es- óptica, sete apresentam ofertas de multiple play.
trutura (e.g. redes de cabo). O segundo patamar As ofertas de multiple play nos países da OCDE
irá incluir a consolidação de plataformas de acesso estão a aumentar permitindo aos utilizadores um
numa rede IP permitindo aos utilizadores o acesso número ilimitado de chamadas para telefone fixo a
a conteúdos e, ao mesmo tempo, navegar através um preço único mensal. Alguns operadores estão
de uma variedade de redes com e sem fios. mesmo a oferecer chamadas internacionais.
O último relatório da Organização para a Para já o mercado está a reagir de forma positiva;
Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OC- a OCDE acredita que as “set-top-boxes” e outros
DE) revela que 48 dos 87 fornecedores em 23 dos 30 aparelhos semelhantes vão desempenhar um im-
países membros têm uma oferta de multiple play que portante papel na oferta de serviços de multiple
passa por serviços de vídeo, voz e acesso à internet play através de banda larga.
(triple-play). Estas ofertas aparecem em todas as in-
fra-estruturas fixas: linhas de telecomunicações, cabo Questões regulatórias
e fibra. Os dados recolhidos mostram ainda que 29 Os preços devem descer à medida que a concorrên-
fornecedores em 21 países têm oferta de serviços de cia aumenta nos mercados com ofertas de multiple
double-play de voz e dados sobre ADSL. play. No entanto, a OCDE alerta para a necessidade
Os fornecedores de cabo e fibra apresentam maior dos organismos da concorrência manterem a vigi-
propensão para uma oferta de triple-play face aos lância para evitar comportamentos anti-concorren-
fornecedores de ADSL. Perto de 66 por cento das ciais de empresas com grande quota de mercado,
particularmente onde não existem infra-estru-
turas disponíveis e onde podem ser praticados
preços injustos que podem ocorrer nomeada-
mente nos serviços de bundling (agregação da
oferta de diferentes serviços ou produtos).
As associações de defesa dos consumidores po-
dem também desempenhar um importante pa-
pel no esclarecimento dos consumidores na es-
colha de serviços mais complexos de ofertas
integradas.
As restrições à utilização de dados através da
banda larga podem ser usadas por parte de
alguns fornecedores de infra-estrutura para
FONTE: OCDE

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ed.87 06/06/22 14:44 Page 62

[Mercados da comunicação / Multiple play na OCDE]

sim, uma forma de incentivar os utili-


zadores a manterem a linha fixa.
Muitos destes planos de tarifa única
está disponíveis separados das ligaçõ-
es banda larga, enquanto outros ofe-
recem pacotes de serviços onde esta
opção já está incluída.
Quando se passa para a oferta de dou-
ble-play, Portugal mantém-se como o
mercado mais caro, apenas ultrapassa-
do pela Turquia e República Checa.
No caso desta oferta estamos a falar
FONTE: OCDE
de voz e dados.
conseguirem uma vantagem concorrencial injusta. Na Alemanha o preço para um serviço deste tipo
Outra das situações, refere a OCDE, prende-se ronda os 38 euros, muito semelhante à Islândia ou
com o bloqueio que muitos fornecedores fazem a Eslováquia. Já em Portugal para o mesmo tipo de
utilizadores de outras redes. A organização sublinha serviço a Portugal Telecom cobra uma taxa supe-
a necessidade de uma vigilância atenta por parte das rior a 159 euros.
entidades da regulação para garantir a liberdade de Em Portugal, o operador incumbente (PT) oferece
escolha dos consumidores. serviços de voz e dados através de rede ADSL e
O regulador terá ainda de reexaminar como e se Cabo. Os subscritores de banda larga podem escol-
os actuais modelos de regulação podem ser aplica- her velocidades de transmissão acima dos 8 Mbit/s,
dos ao fornecimento de vídeo através da internet. mas as ligações mais rápidas têm uma velocidade de
Os serviços de multiple play como o vídeo e voz, 8 GB por mês. Os serviços de voz estão disponíveis
que até agora tinham uma regulação regional, po- através da rede PSTN como um VoIP apesar de não
dem vir a necessitar de uma regulação internacio- existir um plano de preço fixo. Os serviços de ví-
nal, sem fronteiras. deo não estão disponíveis através de ADSL.
A qualidade dos novos serviços também terá de O operador de cabo TV Cabo oferece serviços de
ter uma vigilância apertada por parte da entidade dados e vídeo. Os planos para dados têm ofertas
reguladora do sector. que vão desde os 256 kbit/s até à ligação mais rá-
pida de 8 Mbit/s. Aquando desta análise
As ofertas de serviços de multiple play em (Setembro 2005), a TV Cabo não disponibilizava
Portugal serviços de voz, no entanto, no primeiro trimestre
Na análise realizada pela OCDE, com dados referen- de 2006 iniciou uma oferta, em regime gratuito
tes a Setembro de 2005, Portugal surge como um de chamadas de voz para rede fixa.
dos Estados Membros com preços mais elevados na O outro fornecedor de cabo em Portugal, a
oferta de multiple play, nomeadamente nas chamadas Cabovisão, oferece uma combinação de vídeo, voz e
para rede fixa. Neste caso só ultrapassado pela dados através da sua rede. As velocidades de banda
Noruega, Nova Zelândia, Luxemburgo e Hungria. À larga vão desde os 512 kbit/s a 8 Mbit/s. As veloci-
data da análise apenas existiam duas ofertas em dades oferecidas na rede da Cabovisão são compará-
Portugal: a AR Telecom e a Cabovisão. veis às da PT e TV Cabo. No entanto, o bit cap para 8
Uma das tendências emergentes em toda a OCDE Mbit/s é sete vezes mais largo que nos concorrentes.
prende-se com a oferta de chamadas para as redes A AR Telecom (antiga Jazztel) oferece serviços de
PSTN através de uma tarifa única mensal. Os opera- vídeo, voz e dados através de ADSL. As velocida-
dores de telecomunicações e cabo encontraram, as- des variam entre os 512 kbit/s e os 5 Mbit/s.

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ed.87 06/06/22 14:46 Page 63

[Aula Aberta]

INVISÍVEIS
16 de Fevereiro de 2005, equipas de prensa portuguesa para demonstrar que, em

A investigação de 76 países analisaram


perto de 30 mil notícias de jornais, rá-
dios e televisão, no âmbito do terceiro
matéria de género, os media portugueses
ainda têm um longo caminho pela frente.
No “Público” de 3 de Junho, com chamada
Global Media Monitoring Project. O objec- de primeira página, destaca-se o veto presi-
tivo era perceber como sao representados dencial à lei da paridade. O artigo ocupa as
homens e mulheres nos relatos informati- páginas 2 e 3, além de ser objecto do edito-
vos. No total, 21 por cento das notícias ana- rial de José Manuel Fernandes. Três jorna- CARLA MARTINS
lisadas referiam-se a mulheres, mais quatro listas assinam as pecas: Fernanda Ribeiro, *JORNALISTA E DOCENTE
pontos percentuais do que em 1995, data Leonete Botelho e Sofia Branco. Nenhuma UNIVERSITÁRIA
da primeira edição do estudo. mulher é ouvida. Na coluna de análise, têm
“O mundo que vemos nas notícias e um voz os “especialistas” André Freire e António
mundo onde as mulheres são virtualmente Costa Pinto. Publicam-se as reacções de vá-
invisíveis”, conclui-se. A mulher é protago- rios deputados homens e também de quatro
nista sobretudo em notícias sobre celebrida- organizações, estas sem personalização. As
des ou como “gente comum”; raramente se mulheres são apenas retratadas numa foto-
evidencia nas notícias sobre política e go- grafia, na Assembleia da República. O edi- “Em matéria de
verno (14 por cento). Valeria a pena referir torial do director - que pressupõe que este género, os media
muitos outros aspectos. Por exemplo, rara- foi o menos “conflituoso” dos temas com portugueses
mente as mulheres são centrais nas notícias que o Chefe de Estado se irá deparar no fu- ainda têm um
sobre política ou economia. Os relatos in- turo - revela total ausência de distância em longo
formativos tendem a reforcar, não a desa- relação a Cavaco Silva e à sua decisão. caminho pela
fiar, os estereótipos de género, em especial Outro exemplo. No “Correio da Manhã” de frente”
no domínio das celebridades, desporto, ar- 13 de Junho, destaca-se a mais recente edi-
tes ou entretenimento. ção da revista “GQ”, em que Merche
Romero surge “numa cuidada e sensual pro-
O que dizem os dados sobre dução”. Reproduzo a entrada: “eles fazem
Portugal? maravilhas com o esférico nos relvados, en-
No dia 16 de Fevereiro de 2005 as mulheres quanto elas deslumbram o público masculi-
estavam em maioria como reporteres (57 por no com as suas belas curvas. Na ‘táctica’ de
cento). Cerca de 20 por cento das notícias in- sucesso comprovado, Merche Romero é a
cluíram as mulheres como assunto e, em 12 mais recente aquisição no ‘plantel’ de mu-
por cento, elas constituíram o foco central. lheres/namoradas dos craques de futebol
Governo e política dominaram a agenda do dia que, sem roupa nem pudor, posam para as
mas apenas 10 por cento das notícias retrata- objectivas”. Descrições cono esta, tornando
vam mulheres. Poder-se-á argumentar que se visíveis estereótipos, mostram a relevância
trata de números sem representatividade, uma em considerar a representação equilibrada
vez que se referem a um unico dia. de homens e mulheres como um critério
No entanto, retiro dois exemplos da im- jornalístico como outro qualquer.

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[Instituições do Conhecimento]

APDC PROMOVE COMUNICAÇÕES


Associação conta com mais de vinte anos de actividade
Informar e formar as pessoas sobre a realidade do mercado das
comunicações e das novas tecnologias é o principal objectivo da APDC -
Associação para o Desenvolvimento das Comunicações.
POR NÍDIA SILVA

em fins lucrativos, a APDC – Associação trangeiras, são outros dos objectivos da associação.

S Portuguesa para o Desenvolvimento das


Comunicações- tem como principal objectivo
promover e contribuir para a divulgação da realida-
Segundo o site da APDC, ao nível de objectivos es-
tratégicos, a associação pretende ser “o principal
fórum de debate do mercado das comunicações,
de e perspectivas do mercado das comunicações. reforçando o seu desempenho em todas as áreas
De utilidade pública, a APDC assume-se como das comunicações, nomeadamente sistemas de in-
“não apenas uma associação representativa do sec- formação e multimédia, e afirmar-se como um
tor das comunicações, mas também com um papel dos principais pólos dinamizadores da formação na
determinante no mundo das tecnologias de infor- área das comunicações”.
mação”, segundo o site oficial. Para a concretização desses objectivos, a APDC
Actualmente, a APDC conta com cerca de 1500 só- tem vindo a reforçar as suas actividades. Realiza
cios individuais e cem associados intitucionais, que todos os anos vários seminários sobre os principais
se situam nas duas áreas de actuação da associação. temas da actualidade, ciclos de conferências, jan-
Contribuir para o estudo, debate e divulgação dos tares-debate com figuras de destaque do sector.
problemas e técnicas no âmbito das comunicações e No ambito da evolução constante das novas tecno-
de outras ciências e técnicas afins, promover o aper- logias que tem ocorrido nos últimos tempos, a
feiçoamento técnico e científico dos associados, e es- APDC centra os seus temas de debate nas novas vi-
tabelecer e promover o intercâmbio de actividades e sões das TIC e no surgimento de novos modelos de
serviços com associações similares, nacionais e es- negócio. Assim, os principais temas abordados no
plano de acção da associação durante este ano são:
Regulação e Concorrência; Protocolo IP/Conver-
gência; Plano Tecnológico e Banda Larga;
Mobilidade e Futuro do Sector; O Sector Postal e o
Serviço Universal; Multimédia e 3ª Geração.
Outra das actividades da APDC é, em parceria
com instituições de ensino, disponibilizar progra-
mas de formação, nomeadamente cursos de pós-
graduação na área das comunicações. Reforçou
ainda as suas iniciativas na área desportiva, promo-
vendo encontros com os seus associados no golfe,
karting, ténis e bridge.
Desde 1998 que possui um site na internet e, recen-
temente, procedeu à sua total reformulação, no sen-
tido de o reforçar como um dos principais meios de
comunicação. A revista “Comunicações” é outro veí-
culo de comunicação fundamental da APDC.

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[Centros de Conhecimento]

APOSTA FORTE NA COMUNICAÇÃO


Ensino na Universidade Fernando Pessoa

Aliar as componentes teóricas e práticas, apreendidas nas variadas


especialidades do curso de Ciências da Comunicação, é o principal
objectivo dos laboratórios de estágios.
POR NÍDIA SILVA

endo em vista a profissionalização dos alunos, a no desenvolvimento de uma verdadeira estação ra-

T Universidade Fernando Pessoa, em Lisboa,


aposta forte na área da comunicação, propor-
cionando aos futuros comunicadores diversos espa-
diofónica, com os seus programas de entreteni-
mento e de informação. O laboratório de
Imprensa produz actualmente uma revista (a
ços onde podem desenvolver as suas capacidades. “Pessoas Revista”), com uma lógica de funciona-
Assentando numa lógica de equilibrio entre a com- mento profissionalizada, e tem em preparação
ponente teórica e a prática, o curso de Ciências da uma edição electrónica de um jornal académico.
Comunicação permite a frequência de laboratórios Na vertente da Publicidade e Relações Públicas
de estágio (nas especializações de Jornalismo, tenta-se criar situações de simulação e de realiza-
Publicidade e Relações Públicas) que são espaços de ção de exercícios práticos de acções de promoção
contacto com os procedimentos e rotinas profissio- e de campanhas, que colocam o estudante perante
nais nos diferentes campos comunicativos. a realidade profissional a que aspiram.
Estes espaços de conhecimento estão equipados Mas estes laboratórios não se limitam a dar apoio
com modernos aparelhos permitindo uma fácil ao trabalho de estágio dos alunos. São usados logo
aprendizagem e motivação dos alunos. O laborató- nos primeiros anos da licenciatura como locais de
rio de televisão, em especial, está dotado de equi- apoio a disciplinas de teor prático.
pamento analógico e digital em tudo semelhante
ao usado nas estações televisivas do mercado me- Estudar a comunicação
diático nacional, por forma a fornecer condições A Fernando Pessoa possui ainda um Centro de
de trabalho idênticas às que os alunos encontram Estudos de Comunicação (CEC) – que é uma uni-
quando entram no mercado de trabalho. Também dade autónoma de investigação da universidade.
o laboratório de Rádio tem feito uma forte aposta Aqui, os alunos dos diferentes graus de ensino dis-
põem de condições para desenvolver projectos de
estudo em diferentes áreas comunicativas, tendo
como objectivo articular o ensino das disciplinas
mais teóricas com a experiência da investigação e
da reflexão sobre problemas actuais das ciências da
comunicação.
Os trabalhos desenvolvidos no CEC são posterior-
mente apresentados em diversos congressos e se-
minários abertos que a universidade organiza, per-
mitindo a troca de ideias e experiências entre
diversas pessoas e entidades.
D.R.

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[Cibercultura]

A REVOLU SÃO FILMES


“Guerrilla Drive In”: Cinema na Rua

É uma revolução com os filmes como pano de fundo. Em Los Angeles, o


conceito de “drive in” e projecção de cinema têm sofrido mudanças
originais
POR HERLANDER ELIAS

oje existem “drive ins” sofisticados, com com geradores de campismo, vagueiam pelas cida-

H ecrãs gigantes, e não telas, com sistemas de


som surround, e não altifalantes. Mas não
deixa de ser interessante é o facto de actualmente
des onde o trânsito quase inexistente está propício
para actividades ao ar livre e projectam cinema nas
ruas. Este tipo de “guerilheiros” artísticos usa o au-
em Los Angeles um grupo de artistas pensar em tomóvel como meio de transporte, e nos tejadil-
refazer o conceito de “drive in”. Esta nova forma hos montam projectores para projectar nas pare-
de fazer “drive in” chama-se “Guerilla Drive In” e des de armazéns, prédios de habitação ou de
junta vários grupos de cinéfilos, amantes do des- escritório. O que eles preferem são paredes exten-
porto automóvel e uma série de activistas anti-glo- sas de edifícios de zonas industriais com pouco
balização do cinema norte-americano. movimento urbano, para que as projecções não se-
O projecto “Guerrilla Drive In” assenta numa nova jam interrompidas.
forma de projecção de cinema ao vivo. Funciona Segundo a informação que se encontra disponível
do seguinte modo: artistas independentes preci- no Web site dos “guerrilheiros”, eles reúnem-se em
sam de expor os seus filmes de produtoras pouco Los Angeles, São Francisco, Dallas e Nova Iorque. E
abastadas, e, com ajuda de automóveis equipados à parte das reuniões casuais, existe um festival, o úl-
timo foi há dois anos, o “Film
Festival 2004”. Todavia há ru-
mores de que um novo festi-
val integrado numa conven-
ção de Tunning possa emergir.
Mas não há nada muito certo
porque todo o projecto de
comunicação “Guerrilla Drive
In” na verdade assenta num
enorme secretismo, sendo
que todas as suas actividades
são divulgadas quase em cima
da hora para não serem apan-
hados a projectar em flagran-
te pela polícia. O melhor é fa-

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[Entrevista Sectorial]

zer as projecções sem que os espectadores convida- site para se ter acesso aos mapas de projecção.
dos e os transeuntes sofram quaisquer perturbações Basicamente para se ser um guerrilheiro destas lides
que os impeçam de ver na íntegra as obras projecta- basta ter um veículo, um projector vídeo de boa de-
das. finição, uma aparelhagem estéreo portátil e um ge-
O cenário do projecto “Guerrilla Drive In” é típi- rador que tenha tempo de energia suficiente para
co de uma “rave”. Aliás mais parece uma espécie que os filmes sejam projectados sem estar sujeitos a
de “rave” dos anos 00, em que desta feita os produ- quebras de sinal ou de energia eléctrica. Depois o
tores de cinema independente reclamam as ruas principal é a superfície de projecção, que usualmen-
para projecção das suas obras, uma vez que não te é paredes de edifícios antigos em ruas onde a cir-
conseguem entrar no circuito do cinema comer- culação de veículos não seja um obstáculo. Porém,
cial anglo-saxónico. Por tudo isto as operações de no festival oficial do projecto “Guerrilla Drive In”
guerrilha são tão consideradas secretas que são parece que existem ecrãs gigantes alugados disponí-
apelidadas de “Covert Ops”. No entanto existe to- veis. A ideia é que os espectadores possam conviver
do um calendário, locais específicos e eventos es- livremente com os artistas e desfrutar do espectá-
peciais, nos quais estão envolvidos os produtores, culo. À semelhança de um espectáculo rock mistu-
a organização, os artistas, os espectadores mais rado com espectáculo de cinema “indie” o
chegados, e até novos génios do “marketing” que “Guerrilla Drive In” junta arte e boémia em escalas
encontram no “Guerrilla Drive In” uma inspiração controláveis, já que as multidões que se juntam nos
de sucesso. locais de projecção não são em massa.
Um dos trabalhos a destacar foi o filme experi-
Novo tipo de “Drive In” mental “12” (“twelve”), do escritor-realizador
Para os guerrilheiros do cinema, para todos os artis- Lawrence Bridges, que foi projectado na parede de
tas-vídeo adeptos, o projecto “Guerrilla Drive In” uma loja em Sunset Boulevard. Como regular-
tem actividades hiper-interessantes. O que é neces- mente é feito, membros da organização distri-
sário para entrar no projecto é submeter uma des- buem entre o público “press kits” aos espectadores
crição das obras a projectar e preencher um formu- e aos projeccionistas, sem cujos veículos e equipa-
lário em PDF de candidatura no site para que a mento não seria possível realizar as mostras de fil-
organização consiga estudar o caso de projecção. mes do “Guerrilla Drive In”. A forma como se tem
Claro que também é necessário enviar em VHS, acesso ao som do filme também é interessante
DVD ou qualquer outro suporte os filmes para que porque são os donos dos veículos que sintonizam
a organização do “Guerrilla Drive In” possa ver e rádios como a rádio de música de dança KACD
enquadrar as projecções por ciclos temáticos. (103.1 FM), a fim de se poder escutar a banda so-
Depois é só aguardar as convocatórias e consultar o nora do filme projectado.
Bridges, um dos organizadores, diz que com o
“Guerrilla Drive In” está a “”fazer-se ligações entre
a realidade e ilusão, o que é então projectado de
novo nas paredes da cidade que inspirou isto, ves-
tindo-se a cidade com a sua própria ficção.”
Quem quiser aderir a este “franchise”, o melhor é
mesmo criar o seu próprio “Guerrilla Drive In”, já
que se trata de uma iniciativa “Faça-Você-Mesmo”.
Não se perde nada em consultar o Web site The
Spoon (www.thespoon.com/drivein/start-your-
own.html), pois tem uma secção em que explica o
que é necessário para montar o nosso próprio
“Guerrilla Drive In”.

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[Entrevista Sectorial]

EM PORTUGAL ARRISCA-SE POUCO


Paulo Monteiro, criativo, critica a falta de ousadia no mercado publicitário nacional
Na área da publicidade há mais de 20 anos, Paulo Monteiro traça um per-
fil da actual situação do uso da criatividade em Portugal, numa altura em
que se encontra de saída da Euro RSCG para a Publicis
POR NÍDIA SILVA
FOTOS: MÁRIO GUERREIRO

omeçou ao acaso na área da publicidade e por criativo. Estive lá durante dez anos como director

C lá se manteve durante mais de 20 anos.


Trabalhou algumas das marcas mais impor-
tantes do nosso mercado na Thompson, Abrinício
de arte.
Entretanto o Miguel Nóbrega saiu para fundar a
Euro e convidou-me para fazer parte da equipa,
e Euro RSCG, sempre como director-criativo. onde estou há dez anos como director-criativo.
Aponta a falta de tempo e a falta de audácia para
arriscar como as principais razões para o facto das Formado em Artes Decorativas e Cinema
campanhas publicitárias não serem mais criativas. como veio parar à publicidade?
R: A minha entrada na publicidade foi completa-
Qual o seu percurso na publicidade? mente acidental. Um meu colega de curso estava
R: A minha primeira incursão na publicidade foi desempregado e lembro-me de
em 1986 na Thompson, que na altura era consi- ter visto um anúncio da
derada a escola da publicidade pois a maior Thompson num jornal.
parte dos seus quadros dirigentes era compos- Guardei-o e dei-lho para
ta por brasileiros. Pessoas de países onde a pu- responder. Ele foi à en-
blicidade já tinha um grande historial.Vieram trevista e ficou lá.
para cá no pós – 74 “educar-nos” nestas lides. Perdemos o contacto e
Foi um período muito bom, com uma exci- um dia encontrei-o no
tação diária, um fervilhar de acontecimentos, metro e ele convidou-
entradas e saídas de pessoas. Por lá passaram me para ir lá a uma entre-
nomes como Manuel Maltês, Paulo Dias, Miguel vista porque estavam a re-
Nóbrega, José Carlos de Olveira, entre outros. crutar pessoas. Eu fui e
Estive dois anos na Thompson, onde trabalhei fiquei.
contas como a Peugeot ou a Mocar.
Entretanto, porque a Thompson inter-
nacionalmente estava alinhada com
a Ford, houve uma reestruturação
da empresa e decidiram dar
um novo impulso à Abrinício
que era uma segunda ope-
ração da empresa. Com
o tempo a Abrinício
ganhou um grande
protagonismo

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[Entrevista Sectorial]

Como caracteriza a actual situação da básico, com o objectivo de fazer um “refresh” da


publicidade em Portugal ao nível da marca, de torná-la mais apelativa. O cliente ficava
criatividade das agências em relação aos a olhar para a proposta e não sabia o que significa-
outros países? va, não tinha conhecimentos.
R: Acho que o talento existe em Portugal como Actualmente assiste-se a uma orgia de design.Toda
em qualquer canto do mundo. É tão bom como a gente faz design, o povo está a descobrir esta
em Espanha, Inglaterra, Alemanha, que está cada profissão. Com a internet é a mesma coisa.
vez melhor uma vez que se assiste a uma emergên- Demora tempo mas todas estas novas tecnologias,
cia de talento por parte das agencias alemãs, e que novos suportes e plataformas de comunicação são
têm surpreendido com muito humor. todas válidas, óptimas, utilizáveis e recomendáveis
Mas a questão passa pela questão de existirem ou porque publicidade é isso: encarar tudo como for-
não agências, condições, anunciantes, marcas, di- ma de comunicação. Há formas tão frescas de che-
rectores, com capacidade de fazer florescer esse gar ao consumidor. O consumidor também evo-
talento ou não. luiu tanto que já criou mecanismos de defesa em
relação à publicidade tradicional.
Qual a principal diferença que se nota na
preparação das campanhas com o evoluir Qual o maior entrave à publicidade?
dos tempos? R: Há um grande problema na publicidade em
R:Na Thompson preparávamos uma campanha Portugal que é o medo de arriscar. As pessoas têm
com um ano de antecedência. Era um processo de perder esse medo, tanto da parte dos criativos
normal de aprendizagem, amadurecimento, de como dos anunciantes, das pessoas que dirigem as
testes para encontar as soluções certas para fazer empresas e agências. Publicidade é só publicidade.
com que as ideias resultassem. Há que perder aquele aspecto
Hoje é tudo muito mais efémero, mais descartá- sisudo, sempre cheio de re-
vel. Sinto que não há uma grande preocupação ceios e medos. Acontece
nos publicitários em construir algo duradouro. imensas vezes apresen-
Pensa-se em dias, em semanas, e não em anos. tar uma campanha a um
Isto tem consequências, positivas e negativas, grupo de pessoas e a
na própria construção da marca em si. As gran- primeira reacção é por-
des marcas estrangeiras que estão no nosso reirissima, adoram.
mercado tiveram uma campanha pensada, onde
foram construíndo uma estrutura e uma ima-
gem segura e credível. Em Portugal, as
pessoas têm a mania de chegar e
mudar tudo, só para dizer que se
mudou e depois não sobra nada
da identidade da marca.

Assiste-se a um crescente
uso na
publicidade de meios
interactivos e plataformas
digitais. Os clientes aderem
a estas novas soluções?
R: Publicidade é comunicar. Há
dez anos atrás apresentava-se um
projecto de design, no sentido mais

“O anunciante português é um anunciante com muito medo”

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[Entrevista Sectorial]

Depois começa o processo lixado que é a raciona- vos precisam de tempo, somos um povo extrema-
lização da campanha. E é isto que destrói a nossa mente desorganizado e agora criou-se a situação
profissão, torna-a cinzenta, de merda, igual a tan- de que é tudo para amanhã. Este ritmo começa a
tas outras que andam por cá. esmagar uma série de competências e a cilindrar o
processo normal de trabalho.
Então há um corte à liberdade criativa? Um criativo precisa de alimento e para isso precisa
R: Sim e isso nota-se nos “spots” produzidos em de sair da agência. Tem de ver filmes, ler livros,
Portugal. São todos iguais, usam todos a mesma viajar, contactar com pessoas com ideias diferentes
fórmula. Não há uma campanha no ar que eu diga: e interessantes. Isso está a deixar de acontecer. Os
“Porra, aqueles gajos tiveram mesmo coragem e criativos parecem funcionários públicos, mas que
conseguiram romper com alguma convenção”. Isso trabalham 24 horas seguidas. É porreiro durante
acontece lá fora. um determiando tempo mas chega a um ponto
que cansa, desgasta muito rapidamente. Os criati-
Mas o receio de arriscar nota-se mais por vos acabam por não ter tempo, nem disponibilida-
parte dos clientes? de mental para repor energias.
R: Pela experiência que tenho vindo a adquirir acho
que é, sobretudo, por parte do cliente. Mas todos Qual a campanha que lhe deu mais gozo
receiam. As agências têm todas muito mais poten- fazer?
cial do que aquilo que se vê efectivamente nos tra- R: Destaco a do Euro2004 por tudo o que envol-
balhos apresentados. Para contrariar esta situação veu. Foi um processo muito engraçado de realizar.
têm de ter mais capacidade de argumentação junto Tens um sonho e consegues com que ele se con-
dos clientes e levá-los a arriscar. O anunciante por- cretize, e é fantástico quando isso acontece. Deu
tuguês é um anunciante com muito medo. muito trabalho mas o resultado foi espectacular.

Mas tende a perder esse medo? E a que deu mais trabalho?


R: Obviamente que se encontram excepções. Há R: Trabalho todas as campanhas dão. Mas há in-
pessoas que são de facto brilhantes e conseguem úmeros casos em que, quando o processo não flui,
sobressair no meio deste marasmo. São pessoas é terrivel.Tudo tem de sair a ferros e quando che-
que gostam disto, gos- gas ao fim não ficas satisfeito com o resultado. São
tam muito de publicida- dolorosos estes processos que não correm bem.
de e que não têm medo.
Sabem que o risco é in- No geral, qual a campanha que considera
erente a esta profissão. ter sido melhor conseguida?
Ou se tem a capacidade R: A campanha das bandeiras da “Grande
de arriscar e acertar ou Reportagem”. Acho que foi uma campanha bastan-
entao vamos continuar a te inteligente e extremamente simples.
viver no certinho, no Há muitas outras que são giras e que funcionam
correctozinho. mas que não resistem ao teste do tempo. A maior
parte delas ao fim de um mês já ninguém se lem-
Em que é que se bra porque não são de facto marcantes, não fazem
inspira? a diferença.
R: Tudo me ser ve de
inspiração: filmes, li- Esta entrevista foi realizada antes de Paulo
vros, pessoas, música… Monteiro anunciar a sua saída da Euro RSCG para
Começa é a faltar tem- a agência Publicis onde vai ocupar a direcção cria-
po para isso. Os criati- tiva da empresa.

“Acho que o talento existe em Portugal como em qualquer


canto do mundo”

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[Leituras]

A TV do Futebol
Coordenação de Felisbela Lopes e Sara Pereira
Colecção Comunicação e Sociedade
Assumindo o seu
Campo das Letras pioneirismo na
Numa altura em que o Mundial publicação como
de Futebol já se tornou no obra única de um
fenómeno mais mediático de conjunto de
todos os tempos, a Campo das grande
Letras edita este “A TV do reportagens, em

Coordenação de José Manuel Barata-Feyo


Futebol”, onde a amplitude do Portugal, este
fenómeno é analisado sob o livro coordenado
prisma da sua importância por José Manuel
televisiva. Coordenado por Barata-Feyo, e
Felisbela Lopes e Sara Pereira, do- onde também se
centes da Universidade do Minho, inclui uma repor-
“A TV do Futebol” divide-se em tagem do mesmo
quatro partes temáticas: “O plane- junta reportagens publicadas na imprensa, ou
amento da cobertura do Mundial emitidas na rádio e televisão, da autoria de
2006 nos canais de TV”, “Olhares dos jornalistas sobre o jornalistas como Miguel Sousa Tavares e
Grande Reportagem
futebol e o jornalismo desportivo”, “Perspectivas académicas Carlos Fino, ou Alexandra Lucas Coelho e
sobre o futebol na TV” e “O futebol e a educação para os
Oficina do Livro José Pedro Castanheira. Num total de 16
media”. Nomes como David Borges, António Cancela, Carlos grandes reportagens, recordam-se alguns dos
Daniel, João Pedro Mendonça, Luís Sobral ou Eduardo Cintra trabalhos mais relevantes do género nos
Torres, entre outros, emprestam a sua visão avalizada sobre o últimos anos, passando por países como a
tema, ajudando a compreender os contornos que o chamado Coreia do Norte, Índia, Angola ou
desporto-rei assume nos ecrãs de televisão. abordando figuras como Snu Abecassis ou
POR MÁRIO GUERREIRO eventos desportivos como a Maratona de
Londres.
POR MÁRIO GUERREIRO

Homem Secreto – A História do Garganta Funda do Caso Watergate


Bob Woodward (tradução de Maria Filomena Duarte)
Quidnovi Editora
Após a morte daquela que deve ser a fonte mais famosa de todos
os tempos, Mark Felt ou “Garganta Funda”, um dos jornalistas
que investigou o caso Watergate aborda a sua relação com o
agente do FBI responsável pela denúncia que levou ao escândalo
político mais reconhecido nos EUA. “Homem Secreto”, escrito
por Bob Woodward com a aprovação do seu companheiro de
investigação Carl Bernstein, afigura-se como o capítulo que falta-
va para compreender “Watergate”: a relação nunca atraiçoada
entre os dois jornalistas do Washington Post e a sua fonte.
“Homem Secreto” é o capítulo final da cacha iniciada nas páginas
do Post, e que após vários prémios (entre eles um Pulitzer)
passou pelos livros “Os Homens do Presidente” e “Os Últimos
Dias”.
POR MÁRIO GUERREIRO
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[Educomunicação]

APRENDER A CONSUMIR
Deco Jovem educa os mais novos

Orientado para as crianças e jovens, o projecto pretende educar os mais


novos para o consumo e, consequentemente, para a publicidade
POR CÁTIA CANDEIAS
MESTRANDA EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

s acções de marketing e publicidade dirigidas gras na publicidade que estão escritas num papel,

A ao target infantil multiplicam-se e apelam ca-


da vez mais ao consumismo na infância. Um
assunto que tem vindo a chamar a atenção de pais,
acreditem que é verdade!” ou “A publicidade deve
respeitar regras do código da publicidade e não
enganar o consumidor”.
educadores e outros especialistas ligados ao desen- No microsite dirigido aos dos adolescentes e jo-
volvimento das crianças. vens, as áreas temáticas são as mesmas. Embora as-
Em Portugal, existe, desde 2002, o projecto Deco sumam um tom menos lúdico, são várias as fontes
Jovem que, pouco a pouco, conseguiu afirmar-se e de informação disponibilizadas, com referências a
encontra hoje na Internet um espaço de promoção hiperligações que permitem aprofundar o assunto.
da educação para o consumo e para a publicidade. Partindo do menu Sociedade de Consumo, fica-se
O site, acessível através de www.deco.pt, está di- a saber, entre outras coisas, que “é preciso consu-
vidido em dois escalões: o primeiro para as crian- mir menos, de forma diferente e mais inteligen-
ças entre os 5 e os 10 anos, com uma vertente te”, que “somos o que comemos, comemos o que
mais lúdica e interactiva; e o segundo para adoles- escolhemos. Precisamos estar informados para
centes e jovens, cujo objectivo é fornecer mais in- bem escolher”, ou ainda que “precisamos estar
formação sobre o tema. melhor informados e ser mais críticos em relação
No primeiro escalão, são cinco as áreas temáticas: à publicidade”.
consumo sustentável, direitos e deveres do consu-
midor, segurança de produtos, segurança alimen- Um projecto global
tar e publicidade. Cada uma delas tem um link pa- O Deco Jovem pretendeu assim assumir-se assim
ra a respectiva explicação, todas com uma como “um projecto global”. A internet, um dos su-
linguagem acessível, pedagógica e que prima pela portes da sua divulgação, é não só útil e lúdica para
rima. Na área da publicidade, por exemplo, lêem- a criança que acede à rede, como permite que o
se e ouvem-se frases como “Não sabia, mas há re- projecto seja de fácil acesso na escola e sala de aula.
Actualmente, são oito as escolas que participam
no projecto, maioritariamente do Grande Porto.
No entanto, segundo Paulo Lima, responsável do
Deco Jovem, “o número real é superior uma vez
que uma destas escolas é na realidade um agrupa-
mento de escolas, abarcando mais escolas, neste
caso do 1º ciclo”.

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ed.87 06/06/22 14:59 Page 73

[Educomunicação]

CÁTIA CANDEIAS
No entanto, o docente reconhece que as ini-
ciativas nesta área são insuficientes. Algumas
das experiências pedagógicas mais interessan-
tes nesta matéria, afirma, “nascem da capaci-
dade de auto-gestão dos professores no âmbi-
to do projecto educativo próprio e singular
que cada um representa e que transporta con-
sigo em cada aula, em cada ano lectivo, em
cada escola”.

Do consumo à educação para a publi-


cidade
A publicidade é, hoje, mais que a simples
venda de produtos, serviços ou bens simbóli-
DECO JOVEM PRETENDE EDUCAR OS MAIS NOVOS PARA A PUBLICIDADE cos. Além de transmitir valores sociais e pes-
soais, constitui-se como um modelo de refe-
Ao todo, participam no projecto mais de 7500 crian- rência, ou seja, de padrões físicos, estéticos e
ças e jovens desde o pré-escolar até ao 12º ano. comportamentais.
Na verdade, já desde 1992 que a Deco, instituição De facto, foi em finais dos anos 80 que as crianças
de defesa do consumidor parceira deste projecto, começaram a ser consideradas como verdadeiros
começou a trabalhar o tema da educação para o aliados comerciais. Hoje, elas exercem uma forte
consumidor nas escolas, como resposta às inúme- influência no momento da decisão sobre o que co-
ras solicitações dos professores. No entanto, como mer e onde, que sumo comprar ou que programa
refere Fernanda Santos, responsável pelo de televisão ver. Como defendem os autores
Departamento de Formação da Deco, esta nunca Sheth, Mittal e Newman (2001:553), “no exercí-
foi uma área tão prioritária no país como, por cio da sua identidade individual, quando suas pre-
exemplo, a Educação Ambiental. Resultado? ferências diferem das de seus pais, as crianças co-
“Temos crianças a reciclar e não a aprender a con- meçam a influenciar o que é comprado para o
sumir, ou seja, jovens preocupados com o ambien- consumo da família”.
te mas ávidos de consumo”, aponta a responsável. Na publicidade, a felicidade assume-se como a
É no sentido de contrariar essa tendência que o condição natural da criança. Como refere a inves-
projecto Deco Jovem existe. E várias são as vanta- tigadora brasileira Inês Sampaio (2000:213), ser
gens. Paulo Lima destaca “a continuidade e interli- criança significa ser feliz e ser feliz constitui um
gação de iniciativas pedagógicas”, “a demonstração estado de espírito conquistado, antes de tudo,
da viabilidade da abordagem das temáticas da edu- através do consumo de produtos – biscoitos, cho-
cação para o consumo em actividades de todas as colates, brinquedos, roupas – e dos símbolos a eles
áreas disciplinares, do Português e da Físico- associados.
Química, à Geografia e à Educação Física, e em Daí a importância de uma educação consciente pa-
todas as faixas etárias”. Por outro lado, toda a filo- ra o consumo e, claro, para a publicidade, visto
sofia do projecto, orientada para o “saber-em- tratarem-se de duas áreas indissociáveis. Como de-
exercício, o envolvimento activo e a capacitação fende o pedagogo brasileiro Ismar de Oliveira
(empowerment) dos alunos, conduzindo-os à Soares (1996:25), “educar com e por meio do rá-
compreensão do papel que cada consumidor ocu- dio, da TV e do computador e de todo e qualquer
pa num mundo cada vez mais interdependente, recurso ou veículo de comunicação passa a ser, ho-
onde as opções de consumo afectam as condições je, questão de exercício e de prática de direitos de
de vidas alheias”. cidadania”.

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[Estatísticas da Comunicação]

DIÁRIOS EM CRESCIMENTO GLOBAL


Relatório anual mostra tendências da imprensa no mundo

As vendas dos jornais diários registaram um ligeiro crescimento em


2005, num ano em que os gratuitos se destacaram pelo aumento da
sua circulação e os lucros com a publicidade subiram
POR VERA LANÇA

World Association of Newspapers – Associação taram as vendas em 54% dos países e a circulação

A Mundial de Jornais (WAN) divulgou o seu rela-


tório anual intitulado “Tendências da Imprensa
Mundial” durante o 59º Congresso Mundial de
de jornais vendidos ao Domingo subiu em 36%
dos territórios referenciados pelo relatório.
Apesar da venda média dos diários não alcançar os
Diários que decorreu em Moscovo entre os dias 4 e 500 milhões de exemplares, o relatório lança a es-
7 de Junho. Pela primeira vez, o relatório, que a timativa de que estas publicações têm em média
WAN divulga desde 1986, inclui informações sobre um billião leitores todos os dias. A Ásia desempen-
todos os 216 países onde são publicados jornais. ha um papel fulcral nas vendas mundiais. Sete em
O relatório aponta para uma melhoria das vendas cada dez dos cem jornais mais vendidos em todo o
de jornais em 0,56% em 2005, número que se deve mundo são publicados neste continente. Destes,
em parte ao mercado asiático que registou valores 62 jornais são publicados na China, na Índia e no
consideráveis. Este ligeiro aumento é mais significa- Japão. Aliás, o ranking dos cinco maiores mercados
tivo quando se olha para o contributo dos diários mundiais de imprensa é liderado por estes três pa-
gratuitos para o sector. A imprensa de distribuição íses (ver quadro 1). Em termos continentais, as
gratuita veio aumentar a circulação total de diários vendas de jornais registaram aumentos de 1,7% na
em 1,21%. As vendas de jornais asseguraram 439 Ásia; de 3,7% na América do Sul; e de 0,2% em
milhões de exemplares por dia. Somando a tiragem África. Contrariamente, as quebras nas vendas
dos gratuitos, a média de circulação de jornais diá- ocorreram na Europa (- 0,24%); na América do
rios foi de 469 milhões em 2005. Norte (- 2,5%); e na Austrália e Oceânia (- 2%).
“No geral, as audiências da imprensa, tanto escrita
como online, continuam a crescer”, disse Timothy Quadro 1– Os cinco maiores mercados mundiais
Balding, Director Executivo da WAN em Paris.
Segundo Balding, a expansão dos jornais deve-se à PAÍS NÚMERO DE DIÁRIOS VENDIDOS
exploração de uma multiplicidade de canais de dis- China 96.9 milhões de exemplares
tribuição, desde os gratuitos aos online. “Os jornais
Índia 78.7 milhões de exemplares
mostram-se muito resistentes face à avalanche de
competidores de diversos tipos de media”, afirmou. Japão 69.7 milhões de exemplares

Aumento de vendas EUA 53.3 milhões de exemplares


Os diários registaram uma subida das vendas em Alemanha 21.5 milhões de exemplares
35% dos países analisados. Os não diários aumen-

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[Estatísticas da Comunicação]

No que toca à venda de diários na União Europeia, te onde os gratuitos atingiram a sua maior expres-
registou-se em 2005 um decréscimo de 0,61%, mas são. Em alguns países a expressão dos jornais de
no geral o mercado registou um aumento da circula- distribuição gratuita é impressionante. Em
ção de 1,34% com a expansão dos diários gratuitos. Espanha os gratuitos representaram 51% do mer-
Em termos totais, sete países europeus conseguiram cado. Por cá, os gratuitos já atingiram uma fatia de
aumentar a venda de jornais: Eslovénia (19,44%); 33% do mercado, o que classifica Portugal como o
Polónia (9,80%); República Checa (4,88%); Irlanda segundo país na Europa onde este tipo de impren-
(2,16%); Áustria (0,42%); Reino Unido (0,05%); e sa tem mais destaque. Também na Dinamarca os
Itália (0,03%). Em Portugal houve uma quebra nas gratuitos atingem um terço do mercado (32%) e
vendas em 3,88%. A maior quebra verificou-se na chegam aos 29% da circulação diária em Itália.
Eslováquia (4,17%) e a menor na Estónia (0,39%).
No geral, as vendas de diários na UE diminuíram Jornais online com mais leitores
5,26% nos últimos cinco anos. À semelhança dos jornais impressos, também as edi-
ções online registaram valores positivos em 2005. O
Gratuitos em ascensão consumo de jornais na internet aumentou 8,7% no
O mercado dos jornais de distribuição gratuita ano passado. Durante os últimos cinco anos, a leitura
destaca-se cada vez mais no sector da imprensa. de jornais online subiu 200%. Isto deve-se, ao au-
Chegam a um público cada vez mais alargado e, mento do número de clientes do serviço de acesso à
como consequência do aumento das audiências, as Internet (por exemplo, em Portugal, segundo o
tiragens sobem. Em todo o mundo são publicados ICP-ANACOM, estavam registados1.296.330 clien-
cerca de 170 diários gratuitos. A nível global, a sua tes com acesso à Internet no primeiro trimestre de
circulação é de quase 28 milhões de exemplares, 2005, e no final do ano já eram 1.427.613), mas
dos quais apenas a Europa garante uma tiragem de também ao aumento das edições online. O relatório
18.6 milhões. Estes valores representam 6% da di- da WAN revela que, no ano passado o número de
fusão mundial de diários, mas à escala europeia, os jornais online aumentou 20%. Consequência disto
gratuitos atingem uma fatia de 17% do mercado. foi, ainda, o aumento dos níveis de publicidade na
Efectivamente, em 2005, a Europa foi o continen- Internet, que continua a crescer todos os dias. Em
2005, este tipo de publicidade registou um acrésci-
mo de 24%, o maior em cinco anos.

Mais lucros publicitários


A expansão dos jornais trouxe mais receitas de publi-
cidade. O relatório aponta para 2005 como o mais
positivo para os jornais em termos de lucros publici-
tários dos últimos 4 anos. Os lucros de publicidade
aumentaram quase 6% a nível global. Os jornais são,
depois da televisão, o segundo sector onde há mais
investimento publicitário.A imprensa representa cer-
ca de 30% deste mercado. O sector norte-americano
é o mais lucrativo e, no ano passado, essa parcela au-
mentou em 1,51%, enquanto a Turquia registou o
maior acréscimo do mundo (39,14%). Também na
UE os lucros publicitários aumentaram 4,15%. O
país em que houve mais lucro foi a Estónia (18%) en-
quanto que a Lituânia se destacou como aquele em
que houve o maior decréscimo (7%).

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[Ibermedia]
Telecinco compra acções

Telemóveis com conteúdos especiais


de produtora
O canal televisivo espanhol Depois de um acordo com a operadora
Telecinco adquiriu 15% das espanhola Amena, a Telecinco vai produzir
sociedades audiovisuais de edições especiais de vários programas para
José Luís Morena. Entre elas que possam ser transmitidos para os
o destaque vai para a Mirámon Mendi que produz telemóveis.
“Aqui no hay quien viva”, uma das séries de maior Entre os programas adaptados destaca-se o
sucesso do canal rival Antena 3, e que foi adaptada “Caiga quien caiga”, “Camera café”, “T.N.T.”
pela SIC. e “Aquí hay tomate.
Segundo o El Mundo, este acordo de venda inclui A operadora Arena proporciona serviços
um compromisso de exclusividade para a audiovisuais para os seus utilizadores de
produção de conteúdos, implicando a suspensão tecnologia 3D.
da exibição do “Aqui no hay quien viva” na estação
concorrente.
A série em questão é actualmente o unico conteú-
do da Antena 3 com lugar na tabela dos dez
programas mais vistos em Espanha.

Sonar 2006 pela décima terceira vez


Barcelona foi palco da décima terceira edição do Sonar 2006 - Festival de Música Avançada e
Multimedia - que decorreu de 15 a 17 de Junho.
A edição deste ano, que não contou com grandes nomes da musica, ficou marcada por uma
homenagem à cultura musical negra e contou com uma grande presença dos sons japoneses.
O festival contou com apresença de 604 artistas de 22 países em todos os géneros musicais e visuais,
oferecendo 84 concertos, 50 sessões de Dj’s e dez sessões de Vj’s.
Os referidos espectáculos de música e imagem tiveram como palco o Centro de Cultura
Contemporânea de Barcelona, o Centro de Arte de Santa Mónica e a Praça dos Anjos.
Elmundo.com renova imagem

Apesar de conservar a sua identidade gráfica, o


site espanhol Elmundo.com apresentou-se com
um novo grafismo e novas funcionalidades.
O página conta agora com uma apresentação
de imagens maiores, navegação simplificada e
uma aposta reforçada na interactividade com o
leitor.Também foi dado um maior destaque às
notícias, tendo sido dado visibilidade a
determinados conteúdos que estavam menos
visíveis, como as secções de saúde, motores e
vinhos.
Também foram acrescentados à primeira
página diversos serviços como consultar o tem-
po, tradutores, calendário directamente a
partir do portal numa nova janela, da qual tam-
bém constam os sorteios, estreias de cinema e
o horóscopo.

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[Nuestra Opinión]

MEIOS, CONVERGÊNCIA E MULTIPLICAÇÃO


o final da década de noventa, o con- riódicos gratuitos, periódicos de empre-

N ceito de “convergência” dominava as


informações das empresas consulto-
ras de comunicação com as suas numerosos
sas...
Contudo, seria reducionista centrar-se uni-
camente nestas mudanças, pois os exem-
acepções: convergên cia empresarial, de re- plos citados são extensões do consumo de
des, de conteúdos, de serviços, de prove- media tradicionais noutros dispositivos,
dores... Uma década depois, a realidade tecnologias ou suportes. Além disso, existe
mostra-nos que provavelmente a noção de uma mudança relacionada com o consumo
“convergência” não alcançou todo o poder sincronizado, a que os anglo-saxões apeli-
explicativo que se lhe atribuía. Sem querer dam de “time-shifting”, o que significa
CARLES LLORENS MALUQUER estabelecer um novo conceito, pode ser romper o factor tempo no consumo de
PROFESOR TITULAR DE útil sugerir um substantivo que define mel- conteúdos graças a dispositivos como o
ESTRUCTURA DEL SISTEMA hor os contornos actuais do termo “conver- PVR (Personal Vídeo Recorder) para a te-
AUDIOVISUAL gência”. A meu ver, este seria “multiplica- levisão, ou a audição de programas de rádio
UNIVERSIDAD AUTÓNOMA DE ção”, ou se se preferir algo menos prosaico através de podcasts fora dos horários pré-
BARCELONA e elaborado, “proliferação”. fixos de emissão. Se a coordenada temporal
CARLES.LLORENS@UAB.ES Além de uma aproximação entre os secto- for superada, o mesmo sucede com o “es-
res das telecomunicações e audiovisual, o paço”. O consumo faz-se independente-
que melhor tem caracterizado a evolução mente do lugar ou dispositivo, chegando-se
do sector nos últimos anos tem sido a pro- assim ao “time-shifting”. Informar e entre-
“O meio que liferação de redes, novos conteúdos e ser- ter pode suceder em qualquer um dos três
consiga chegar viços que ultrapassam os limites dos meios dispositivos dominantes: televisão, móvel e
com facilidade e de comunicação tradicionais, mas que os computador, com cada um a conservar as
um preço podem reforçar, caso sejam bem aproveita- suas vantagens.
razoável às três dos. Actualmente, falar de meios e políticas O meio que consiga chegar com facilidade
plataformas de comunicação é falar de quase tudo, por- e um preço razoável às três plataformas es-
estará preparada que as capacidades de entreter têm-se mul- tará preparado para os novos desafios. De
para os novos tiplicado para além da imprensa, rádio e te- alguma forma estende-se o modelo inter-
desafios” levisão. Não obstante, se tivéssemos que net a todo o sector dos meios de comunica-
citar um factor-chave neste processo desta- ção: quero dispor da informação e entrete-
caríamos o aumento exponencial da capaci- nimento que pretendo, quando quero, o
dade de distribuição: televisão no telefone que se afigura como uma flexibilidade que
móvel, televisão por internet (streaming, é o que realmente apreciamos na internet.
YouTube, Google Video), televisão por Mas, sobretudo os avanços tecnológicos es-
banda larga (IPTV), televisão digital terres- tão a facilitar novas possibilidade de comu-
tre, rádio por internet, rádio em arquivos nicação, - as comunidades virtuais como o
(podcasts), rádio digital (DAB, DRM), pe- “myspace” e o lançamento de novos grupos

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[Nuestra Opinión]

musicais ou o êxito de curtas-metragens no Apple mostra que o modelo individual de


“YouTube” são um exemplo – que reque- venda pode funcionar. A sua aplicação a
rem o desenvolvimento de novos modelos grande escala no sector dos conteúdos tele-
de negócios ao mesmo tempo que tornam visivos e cinematográficos é apenas uma
obsoletos outros já existentes. Um exem- questão de tempo e do aumento do uso de
plo claro seria o grande debate sobre a gra- banda larga.
tuitidade da imprensa. A questão não é se a Na recente revisão e aprovação da listagem
imprensa de qualidade deveria ou não ser estatística das actividades económicas reali-
gratuita, mas sim quando e como adoptar zadas pelas Nações Unidas, o relatório inti-
esse passo. O mesmo processo suce- tulado “International Standard
de na televisão. As fronteiras CASA DA IMAGEM
Industrial Classification of All
entre a televisão por ca- Economic Activities”
bo e a televisão co- (ISIC), o sector dos me-
mercial em sinal dia ficou agrupado
aberto já não são num macro sector
tão distantes co- com a epígrafe de
mo antes. Uma “Informação e “O êxito do site
empresa de te- Comunicação”, iTunes, da Apple
levisão co- em que também mostra que o
mercial que se encontram as modelo individual
decida apro- telecomunicaçõ- de venda pode
veitar a TDT es, a programa- funcionar”
para desenvol- ção de software
ver um par de ou serviços de in-
novos canais deve formação como os
decidir se estes se- portais web. Na mes-
rão pagos ou não, e ma linha, a recente pro-
caso a resposta seja afir- posta da Comissão Europeia
mativa, se os deve integrar no para a revisão da directiva
pacote básico oferecido ou não, e esco- “Televisão Sem Fronteiras” propõe am-
lher emiti-los para uma ou mais platafor- pliar o alcance da regulação europeia a to-
mas de televisão paga, ou até optar por to- do o serviço audiovisual, com independên-
das as possibilidades. A multiplicação é um cia relativamente ao seu modo de
processo em que o cálculo de custos é cru- distribuição.
cial e a afinação da medição das audiências Definitivamente, já não podemos falar de
decisiva. Mais. A televisão paga com quota sector dos meios de comunicação como
mensal representa um modelo difícil de uma entidade espífica e isolada, mas sim
suster comparado com o avanço imparável como um elemento relacionado e relacio-
associado à venda de conteúdos individuais nável entre si que a sua abertura e multipli-
com preço baixo previamente fixado. cação devem fazer parte da cultura das em-
Neste sentido, o êxito do site iTunes, da presas.

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[Europa Lex]

NOVOS APOIOS AO SECTOR AUDIOVISUAL


Programa MEDIA 2007 reforça competitividade da indústria
Cerca de 671 milhões de euros é o apoio que a União Europeia tem pre-
visto para o Programa MEDIA 2007. Reforçar a competitividade da indús-
tria do audiovisual, formar profissionais, desenvolver projectos cine-
matográficos e programas audiovisuais continuam a ser os objectivos
POR JOANA SIMÕES PIEDADE

Comissão Europeia delineou uma proposta le- Para a execução do programa durante um período

A gislativa e o Conselho já adoptou formalmente a


nova geração do programa que deverá suceder
aos actuais programas de apoio ao sector audiovisual
de sete anos, entre 2007 e 2013, a Comissão propôs
inicialmente o montante de 1055 milhões de euros,
substancialmente reduzido para 671 milhões depois
europeu MEDIA Plus e MEDIA Formação. Os objec- da discussão do projecto no Conselho e no
tivos gerais do programa MEDIA 2007, assim se cha- Parlamento Europeu. Os argumentos iniciais da
ma, passam por reforçar a competitividade do sector Comissão baseados no alargamento da União
audiovisual europeu no quadro de um mercado aber- Europeia a mais dez Estados-Membros, não obtive-
to e concorrencial e aumentar a circulação de trabal- ram concordância e aguarda-se uma “reacção de des-
hos dentro e fora da União Europeia. Preservar a di- ilusão do sector audiovisual”. Os beneficiários do
versidade cultural europeia e o património programa podem também ser pessoas singulares e
cinematográfico e audiovisual, garantir o seu acesso consoante a natureza da acção, as ajudas financeiras
aos cidadãos europeus e fomentar o diálogo inter-cul- poderão assumir a forma de subvenções ou de bol-
tural são também metas a atingir. sas.Ajudas que, regra geral não podem ir além de 50

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ed.87 06/06/22 15:09 Page 81

[Europa Lex]

% dos custos das acções


apoiadas, mas em determi- SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
nados casos específicos po- As operadoras de telemóveis
dem ascender a 75%. podem protestar o que quiserem
acerca da intenção da Comissão
Formar para o futuro Europeia em apresentar
regulamentação para reduzir os cus-
O MEDIA 2007 procura a tos de utilização de telemóveis no
“aquisição e aperfeiçoamen- estrangeiro – roaming – que não
to de competências no do- surtirá efeito. Apesar do lobbying
mínio audiovisual através intenso que está a ser feito em
do apoio a projectos que Bruxelas pelas operadoras de
forma a evitar que a Comissária para a Sociedade da Informação e Media
desenvolvam as competên- apresente uma lei que regule as tarifas de roaming, Viviane Reding está irredutível
cias criativas e de gestão nos seus intentos, segundo informação veiculada pelo grupo financeiro Credit
dos profissionais do sector Suisse. O esboço final da proposta de lei do roaming será apresentada em meados
audiovisual europeu e adap- de Julho, e deverá estabelecer uma redução nos preços grossistas e instaurar um
tem as qualificações técni- limite no preço ao consumidor, em vez da opção pela “tarifa doméstica”
primeiramente sugerido pela Comissária Reding. Entretanto, as notícias da determi-
cas desses profissionais às nação da Comissária em pressionar sem tréguas as operadoras móveis têm
tecnologias digitais”, con- contribuído para a descida dos preços de roaming de operadoras como a Vodafone,
forme estabelece a propos- em certos países. Recorde-se que as tentativas de alteração nos tarifários de
ta. Aqui, inclui-se ainda a roaming surgiram após uma análise que apontava para grandes discrepâncias de
necessidade de reforçar a preços entre países, constatando que, de um modo geral, eram bastante elevados.
dimensão europeia das ac-
ções de formação audiovisual, apoiando a coloca- dos por empresas de produção independentes. Na
ção em rede e a mobilidade dos agentes europeus área da distribuição, a acção comunitária procura in-
envolvidos (escolas de cinema europeias, institutos vestimentos na co-produção, na aquisição e na pro-
de formação, parceiros do sector profissional). moção de filmes europeus não nacionais e o fomen-
Adicionalmente, está prevista a criação de bolsas de to da exportação e exibição nas salas de cinema de
estudo destinadas aos profissionais dos novos filmes europeus não nacionais. Promover a digitali-
Estados-Membros e o apoio a projectos apresenta- zação das obras audiovisuais europeias e incentivar as
salas de cinema a explorar as
possibilidades oferecidas pela
BLOGS distribuição em formato digi-
tal são também finalidades do
“Aproximar a Europa dos
programa.
Cidadãos”. A receita é
recorrente e dada por todos os O MEDIA 2007 quer incenti-
defensores da ideia de var a inovação através de pro-
Europa. Margot Wallstrom, a jectos-piloto que permitam ga-
Comissária para as Relações rantir a adaptação do programa
Institucionais e Comunicação,
às evoluções tecnológicas.
cargo criado por Durão
Barroso em 2004, encontrou A difusão de informações so-
uma forma de comunicar a Europa aos cidadãos através de um meio cada vez bre o programa a nível nacio-
mais popular: o blog. A Comissária aderiu à moda e o seu blog - nal está sob a alçada da rede
http://weblog.jrc.ec.europa.eu/page/wallstrom - está repleto de fotografias e textos europeia dos Media Desks. Em
curtos e simples, que oscilam entre um olhar turístico da cidade de Londres e a
experiência de ter deixado de fumar. Entre estes assuntos do seu quotidiano o
Portugal, todas as informações
Blog é ainda a oportunidade para a Comissária comunicar os temas que estão na serão disponibilizadas no site
sua agenda de uma forma mais simples e informal, onde entre informação acerca www.mediadesk.icam.pt.
do Livro Branco sobre uma política de comunicação europeia, o Plano D (matérias
da sua tutela) e a política energética europeia, não se coíbe em dar opiniões sobre
imigração, ou defender a causa dos direitos das mulheres e igualdade de género.

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ed.87 06/06/21 16:11 Page 82

[Lá Fora]

A CREDIBILIDADE DOS MEDIA CHINESES


esde a Primavera deste ano, que o sores Chineses de comunicação no passado.

D Sindroma Respiratório Agudo Severo


(SARS) apareceu na região sul da
China e em Hong Kong. É uma doença no-
Se procurarmos diários académicos de co-
municação em Chinês com a palavra-chave
“credibilidade dos media”, muito poucos
va e epidémica. Desde as primeiras fases, a artigos seriam encontrados. De acordo
maioria dos media internacionais cobriram com isso, um estudo da credibilidade dos
este assunto. Apesar disso, a maioria das media Chineses não é necessária, mas mui-
notícias dos meios Chineses deu pouca to urgente.
atenção ao SARS até chegar a uma fase Chen (2003) argumentou que o “silêncio
muito mais tardia. Um número de investi- expectante” dos media Chineses no caso da
gadores concluiu que uma grande percen- SARS se deveu à regulação do Ministério
YINGZI XU
tagem de cidadãos Chineses tomou conhe- da Saúde Chinês. Este proíbe os media
UNIVERSIDADE DE ST.GALLEN
cimento da SARS através de notícias de Chineses de noticiar qualquer informação
fontes Chinesas não-oficiais, como mensa- epidémica que não tenha sido anunciada
gens móveis. Por isso, a credibilidade das pelo governo Chinês. Sempre que algum
notícias Chinesas foi desafiada até um grau evento acontece na China, os Chineses en-
perigoso neste evento. contram muitas vezes os media Chineses
“A credibilidade
A credibilidade dos media é o capital essen- em silêncio. Este fenómeno é aumentado
dos media é o
cial para as notícias. A SARS é uma nova pela falta de harmonia entre a política do
capital essencial
doença proveniente de um vírus. Neste jornalismo Chinês e os princípios práticos.
para as notícias”
momento, o media que as audiências escol- Liu (2003) resumiu as características dos
hem pode simbolizar a sua grande credibi- rumores da SARS na província Chinesa de
lidade. Normalmente, os povos ocidentais Guangdong e argumentou que o governo
vêem os media independentes como aque- Chinês devia controlar estes rumores. O
les a ter em conta como fonte de notícias. primeiro pré-requisito é melhorar a trans-
Na China, a investigação sobre a credibili- parência e a eficiência do Governo.
dade dos media só começou nos últimos Quando acontecem eventos anormais, o
anos. Devido ao mecanismo dos media, os Governo deve dizer toda a informação de
media Chineses têm sido discutidos como que dispõe aos seus cidadãos e assegurar-se
os porta-vozes da China e do Governo que esta informação chega a todos os cida-
Chinês. A sua credibilidade é indubitável e dãos. Mais ainda, o Governo deve permitir
inquestionável. Como resultado disso, in- aos mass media noticiar livremente durante
vestigações sobre a credibilidade dos media o período de crise.
foram raramente efectuadas pelos profes- Quase todos estas investigações estudam os

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ed.87 06/06/22 15:11 Page 83

[Lá Fora]

media Chineses em conjunto com o pró- ro de reportagens sobre a SARS começou a


prio Governo Chinês. Algumas pesquisas 20 de Abril. Na conferência de imprensa
usam metade da cobertura para discutir a do Conselho de Estado Chinês, o Vice-
opinião do povo Chinês sobre o Governo e Presidente dos Ministério da Saúde Chinês,
dar sugestões aeste último. Apesar de al- Gao Qiang, admitiu que o governo Chinês
guns investigadores mencionarem a credi- não reportou a informação da SARS da for-
bilidade dos media Chineses nos seus estu- ma e timming correctos. Isso deu uma boa
dos, eles normalmente discutem-no em razão para os media estrangeiros suspeita-
conjunto com o Governo Chinês. Podemos rem da verdade por trás dos media
concluir que os media Chineses e o Chineses. Nos dias finais de Abril, um meio
Governo Chinês estão estreitamente liga- estrangeiro famoso noticiou que o número
dos aos olhos dos investigadores de comu- de paciente de SARS em Xangai era muito
nicação Chineses. maior do que aquele noticiado pelos media
A 20 de Abril foi o dia em que se iniciou o Chineses. Por isso, os expatriados na China
evento da cobertura do SARS na China. têm razões para suspeitar dos dados de pa- “Os media
Antes desta data, os media Chineses rara- cientes de SARS em Xangai se lerem os Chineses e o
mente cobriam o SARS. Depois desta data, media estrangeiros. Porque é que os resi- Governo Chinês
os media Chineses deram informação do dentes em Xangai acreditam nos dados dos estão
SARS de uma forma muito mais transpa- pacientes SARS? Os entrevistados explica- estreitamente
rente. Nas semanas que se seguiram, quase ram que recolheram informação de amigos ligados aos olhos
toda a cobertura dos jornais Chineses e das e analisaram a situação pela lógica. Eles dos investigadores
revistas semanais estava focalizada nesta acreditaram que isso fosse verdade. Por de comunicação
epidemia. exemplo, um entrevistado era um médico Chineses”
Antes do dia 20 de Abril, apesar dos media que trabalha para um hospital. Ele disse-me
Chineses cobrirem as notícias da SARS, a que os dados eram confiáveis porque ele
sua reportagem era demasiado limitada pa- conhecia o sistema hospitalar.
ra ser notada pelo público. Muitos Esta descoberta tem uma relação com os
Chineses não sabiam da doença epidémica. diferentes métodos de reportagem dos me-
No final de Março, Guangdong e Pequim dia Chineses e estrangeiros. Como a SARS
foram anunciados como região epidémica é uma doença nova, as pessoas têm de con-
pela Organização Mundial de Saúde fiar nas notícias para saber qual o tratamen-
(OMS). A maioria dos Chineses não sabia to e a taxa de morte. Mais ainda, esta des-
destas notícias até estas duas regiões perde- cober ta pode ter relação com outros
rem este terrível título dado pela OMS. factores como a psicologia social,. A repor-
Desde o inicio de Abril, o governo Chinês tagem dos media Chineses e estrangeiros
começou a noticiar os dados dos pacientes foram comparadas. Em geral, o tom dos
com SARS todos os 5 dias à OMS. Mas es- media estrangeiros é mais pessimista.
tes dados não foram publicados para o povo Muitas vezes destacam o stress e a falta de
Chinês ao mesmo tempo. O grande núme- possibilidades e medo do ser humano

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[Lá Fora]

quando confrontados com esta doença. Na mecanismo especial dos media, os media
conferência de imprensa em Pequim, a taxa Chineses são principais responsáveis pela
de morte da SARS era um dos tópicos mais estabilidade do país, mas não por noticiar a
requisitados pelos jornalistas estrangeiros. verdade. Os media Chineses são encoraja-
Eles muitas vezes discutiram a circulação dos a noticiar mais notícias positivas e me-
da taxa de mortalidade com os oficiais nos notícias negativas que podem influen-
Chineses. A taxa de mortalidade da SARS ciar a estabilidade da sociedade. Uma
na China foi noticiada como sendo mais notícia como a SARS é suposto aumentar o
baixa que os dados da OMS. Mais ainda, os pânico crescente na China o que vai afectar
media estrangeiros, normalmente, assu- a economia nacional. Até agora, a China
mem maiores perdas para a China na crise não tem uma lei de abertura de informa-
da SARS do que os media Chineses. Os tó- ção, mas tem muitas leis e regulamentos,
picos que os estrangeiros cobriram sobre a que limitam a informação na sociedade. A
SARS na China foram a crise SARS, perdas maioria dos media ocidentais são organiza-
económicas e crise governamental. No en- ções privadas que são independentes dos
tanto, a SARS aparece de forma diferente seus governos. A sua prioridade é reportar
“O principio de nos meios Chineses. A maioria dos artigos as notícias ao público a tempo e correcta-
reportagem dos nos media Chineses elogiavam os esforços mente. Um principio tão reconhecido na
media Chineses dos heróis trabalhadores médicos, e enco- sociedade ocidental começou só agora a ser
é o foco nas rajava o povo Chinês a ganhar a batalha discutido como racionalista no campo aca-
notícias positivas contra a SARS. O principio de reportagem démico Chinês e no campo dos políticos.
que referem as dos media Chineses é o foco nas notícias Para resumir, as diferentes compreensões e
boas novas” positivas que referem as boas novas. Os práticas dos princípios da comunicação e
media na China são abertamente definidos dos mecanismos dos media tornaram dife-
como a voz do Partido Comunista Chinês e rente as aparências das reportagens SARS
do governo Chinês. feitas pelos media Chineses e pelos media
Os estrangeiros insistem em confiar nos estrangeiros. Por isso, não é estranho que
seus próprios media e queixam-se que “os os residentes de Xangai e os estrangeiros
media Chineses são controlados pelo go- tenham diferentes opiniões sobre a credibi-
verno Chinês”, “os media Chineses são usa- lidade dos media Chineses e estrangeiros.
dos para esconder informação”, “os media
estrangeiros são independentes” e que “os
media estrangeiros dizem a verdade”.
A abertura dos media Chineses após 20 de Notas:
Abril mostrou que os media Chineses pre- De acordo com os hábitos dos media
cisam de esforços a longo-prazo para cons- Chineses, todos os media estrangeiros que
truir a sua credibilidade. Enquanto os me- não adoptem o sistema Chinês controlado
dia tiverem um mau cadastro, o público irá pelo Governo são chamados de media es-
suspeitar da sua credibilidade. Devido ao trangeiros neste estudo.

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Representantes de 48 países estiveram reunidos em [Aldeia Global]


Madrid na Conferência Mundial Contra a Pirataria. A
consciencialização social e a correcta aplicação das leis são
Mais consciencialização contra a pirataria

as chaves para combater pirataria musical no mundo,


foram as primeiras conclusões do encontro.
O relatório da conferência, a ser apresentado no fim deste Versão beta do Windows Vista em 2007
mês, vai apelar aos governos de todo o
mundo para melhorarem a cooperação A Microsoft está a dis-
com a indústria na luta contra as ponibilizar o
cópias musicais não autorizadas. download da versão
Concluiram ainda que a forte aposta beta do Windows Vista
na internet por parte das indústrias de ao público em geral,
conteúdos é uma forma de facilitar a depois de ter estado
pirataria, pois estas digitalizaram o seu limitado a grupos de
repertório e apostam nela para novos testes. Janeiro de
lançamentos e novos modelos de 2007 é a data prevista
comercialização. para o lançamento do
O crescimento do uso da banda larga novo sistema
foi também apontado como uma nova operativo.
ameaça para o aumento da pirataria Inicialmente previsto
uma vez que permite que milhares de pessoas para o mês de Julho, o lançamento da próxima
descarreguem música legal ou ilegalmente. versão beta do Vista será no próximo mês de Agosto.
O Windows Vista é a primeira mudança completa de
sistema operativo da Microsoft depois do
lançamento do Windows XP, em Outubro de 2001.
900 Milhões de computadores usados no mundo

Segundo dados de um estudo


da Computer Industry
Almanac, em 2005, havia
903,9 milhões de
computadores em utilização YouTube regista 25 milhões de visitas diárias
em todo o mundo. Segundo os
autores da pesquisa no A ferramenta YouTube, que facilita
início de 2007, existirão a publicação de qualquer vídeo na
cerca de mil milhões de internet, registou mais de 25
computadores nos 57 milhões de visitas diárias e mais de
países considerados para 50 milhões de vídeos
fazer a análise. descarregados. Recentemente,
Os Estados Unidos lideram lançou uma actualização do seu
a tabela, com 230,4 milhõ- serviço, passando a oferecer canais,
es de computadores, cerca com a possibilidade de trocar listas
de 25% existente em todo de favoritos.
o mundo. Este número O YouTube tornou-se num
equivale a 78 aparelhos por fenómeno ao dar a conhecer
cada cidadão. talentos que saltam para a fama
O segundo lugar é rapidamente, como é o caso da
ocupado pelo Japão (73,66 banda rock “Panic! At the Disco”,
milhões), seguido da China que alcançou a popularidade
(63,52 milhões), Alemanha através da Internet.
(50,42 milhões) e Reino Contudo, o YouTube tem como objectivo mudar a sua actividade e
Unido (38,62 milhões). tornar-se algo mais parecido com a televisão, criando o hábito do
tradicional zapping através dos vários canais disponibilizados.

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[Último Olhar]
Realizou-se em Barcelona, entre os
dias 19 e 21 de Junho, um encontro
TV Cabo não renova com SIC Mulher promovido pelo Ayuntamiento da
O canal dirigido ao Catalunha, com o objectivo de

Imprensa europeia discutida em Barcelona


público feminino vai discutir os apoios à imprensa na
acabar já no final do Europa. Ramón Fonte, antigo
ano, altura em que representante da imprensa estrangeira
termina o contrato em Portugal e actual responsável do
de fornecimento departamento de comunicação do
com a TV Cabo. A Governo catalão, foi o principal
operadora de cabo dinamizador do evento. De Portugal,
não tem intenções João Paulo Faustino, da Universidade
de renovar o Autónoma de Lisboa e João Palmeiro,
contrato, justificando a decisão com as baixas audiências do canal e com presidente da Associação Portuguesa
uma programação que, segundo os responsáveis da empresa participada da de Imprensa, ajudaram ao debate
PT Multimedia, não está à altura das expectativas. O canal feminino, que abordando as características e
está no ar desde Março de 2003 naquela operadora, poderá ser vendido a recentes alterações no sector da
uma outra operadora de cabo após o fim da exclusividade de imprensa nacional. A principal
comercialização com a TV Cabo. A Cabovisão, a Bragatel, a TV TEL ou a conclusão dos debates ao longo dos
Pluricanal poderão ser o próximo destino do canal SIC Mulher. A estação três dias aponta para a necessidade de
de Carnaxide tem recebido vários contactos destas operadoras para uma reformulação dos modelos de
negociações de distribuição do canal. financiamento da imprensa na
Europa.

Devido ao
PT e Media Capital preparam crescente
número de
novo canal para o cabo entradas de
As negociações entre as administrações da conteúdos prove-
Portugal Telecom e a Media Capital para o nientes de
lançamento de um novo canal de informa- utilizadores não
ção por cabo já estão em andamento. A registados, a
Wikipedia impede vandalismo no site

notícia foi avançada pelo Correio da Wikipedia


Manhã, apontando o fim deste ano ou o decidiu proteger
início de 2007 a data prevista para o as entradas de in-
arranque do projecto, que vai concorrer formação afim de
directamente com a SIC Notícias e a evitar vandalismo
RTPN. no site.
As negociações que estão a decorrer não Alguns artigos de
se resumem apenas ao canal informativo, conteúdo
mas também para outros canais com o polémico foram
carimbo da estação de Queluz. encerrados por completo até que seja encontrada uma solu-
Se o projecto se vier a concretizar, este ção que os proteja. Outros vão continuar semi-protegidos,
será a primeira incursão da TVI na podendo apenas ser editados por utilizadores que se
plataforma cabo depois de sucessivos adia- encontrem registados há mais de quatro dias.
mentos do projecto de informação econó- Contudo, segundo alguns especialistas, esta medida vem
mica que esteve previsto para ser lançado ameaçar o conceito do Wikipédia pois passará a haver um
há três anos. controlo editorial, deixando de ser acessível a todos os utili-
zadores. O fundador da enciclopédia online, Jimmy Wales,
defendeu-se alegando que este tipo de medidas sempre
existiu no site.
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