Há alguns dias, eufórico, meu sobrinho me procurou com a boa notícia: aos 15 anos, foi
contratado como jogador profissional de um grande time de futebol. Ele então queria
orientações sobre como gastar o dinheiro de forma inteligente, pois acredita que está
com a vida feita. E foi logo prometendo comprar videogame, minicarro e camisas
oficiais para os irmãos.
À medida que for ganhando mais, poupará mais. O problema seria se sua carreira
estagnasse. Propus a ele começar a poupar 100% do novo salário e viver da mesma
forma que vive hoje (com a mesada do pai), até obter o primeiro aumento. Passando a
ganhar dois salários mínimos, a recomendação é adotar um padrão de vida que custe
apenas um salário. Ou seja, ele deve ignorar o passo dado e assumir o padrão de vida
que poderia ser assumido agora apenas depois do próximo aumento. Ao fazer isso,
considerando o piso pago pelo clube, ele chegaria aos 35 anos com um patrimônio de
cerca de 4 milhões de reais.
Como avalio o meu progresso nos últimos anos? Esta é uma pergunta que um mentor
costuma receber e para a qual eu gostaria muito de poder ajudar você, leitor, a obter
uma resposta. Para começar, é importante conceituarmos que existem três grandes áreas
de progresso: a material, a intelectual e a espiritual. Começando a avaliação pelo mais
concreto, que é o progresso material, basta definir um horizonte de tempo — os últimos
cinco anos — e verificar o que você acumulou.
Aqui, contam os bens que adquiriu. É como se você estivesse preenchendo a declaração
de Importo de Renda, mas com a lembrança de cada vitória e conquista. Já o progresso
intelectual complica um pouco. Pense e responda: quantos livros você leu nos últimos
dois anos? Nunca me esqueço que, ao terminar meu curso de extensão em
administração, em 1975, na University of Southern California, em Los Angeles, nos
Estados Unidos, tive o privilégio de ter o Peter Drucker como paraninfo. Ao final da
palestra, eu perguntei o que deveria ler para ser um bom profissional na área de recursos
humanos.
Ele, do alto de sua sabedoria, respondeu: “Recomendo que você estude muito filosofia e
história”. Só depois percebi a profundidade do conselho. Outra medida do progresso
intelectual é avaliar se as pessoas à sua volta estão evoluindo. Não existe crescimento
intelectual sem compartilhamento. Outra importante característica da sua evolução
intelectual é o progresso de suas competências. Quanto maior o desafio, maior a
competência desenvolvida. Esteja disponível.
Por fim, vamos falar do seu progresso espiritual. Comece pensando em como você
encara os fatos da vida, como entende o seu papel na comunidade e suas atitudes
perante o próximo. É uma avaliação difícil, eu sei, mas o mundo moderno está exigindo
profissionais que sejam inteiros e íntegros. O primeiro significa estar progredindo
material, intelectual e espiritualmente. Já ser íntegro quer dizer ser um só, em qualquer
circunstância. Feita a avaliação, a próxima etapa é o plano de ação. Não deixe de fazê-
lo. Com isso, certamente seu balanço de 2010 vai ser melhor do que o do ano que
acabou.
Por isso o desejo genuíno de aprender passou a ser uma qualidade desejada no mundo
corporativo. Em função de visões como esta é que as companhias estão virando escolas.
Há, porém, uma diferença entre elas e a faculdade que você cursou. Lá, havia um
professor que compartilhava com você a responsabilidade por sua formação. Na
empresa, essa responsabilidade está sobre seus ombros.
Se as companhias apreciam quem quer aprender, têm especial predileção por quem não
espera que alguém venha ensinar. Aprender é seu ofício. Nesse sentido, a curiosidade, a
inquietação intelectual e a busca do conhecimento contínuo passaram a ser as
características apreciadas nas empresas. Bem, pelo menos nas organizações bem
administradas. Considerando o que disse o presidente, temos duas variáveis, portanto
são quatro as possibilidades.
Perceba que no mundo dos recursos humanos ser um talento não significa ter uma
habilidade especial, um dom artístico ou uma inteligência superior. Ser um talento
significa ser possuidor da combinação entre o desempenho e o desejo de aprender e
evoluir. Ser um talento, portanto, é uma questão de vontade.