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DIEGO VIANA

Jornalista, doutorando no Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da FFLCH-USP artigo
LEONARDO BOFF (Diversitas). Professor convidado na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo

natureza. Perdemos o sentimento de pertença com o todo. Pre- maior crime reside em não nos comovermos com nada, nem
Novos dinheiros para novas economias
cisamos introduzir uma nova mente (nova visão do mundo) e com os milhões de famintos, com a devastação do planeta, Desde o início da crise financeira, a busca por alternativas econômicas ganhou atenção.
um novo coração (reanimar a razão sensível e cordial para equi- com guerras de alta destruição. Como disse o papa Francis-
librar a razão intelectual enlouquecida). Se não conseguirmos co, ficamos cínicos, insensíveis e incapazes de chorar diante da
Como vamos produzir, distribuir, transacionar? O que pode acontecer com o trabalho,
essa aliança entre a cabeça e o coração, não teremos motiva- desgraça alheia. Essa situação é própria de tempos de barbárie a remuneração, a contratação? Que tipo de moeda será empregada?
ções para amar e cuidar da natureza, de cada ser que conosco e de desumanização generalizada. Temos de reinventar o ser

U
convive. No dia em que o ser humano aprender a respeitar cada humano para que aprenda a conviver no planeta com todos os ma neblina de grande trans- como sempre acontece quando é preciso
mínimo ser, seja vivo, seja inerte, não precisará que ninguém lhe seres que com ele formam a comunidade de vida. Caso contrá- formação econômica tem tatear nas invenções. Uma das criações
ensine a respeitar o outro ser humano e seus direitos. A ética do rio selaremos tragicamente nosso destino. atravessado as cogitações mais antigas é a suíça Wir, unidade contá-
respeito, do cuidado e da responsabilidade coletiva nos poderá de muita gente na academia bil inventada por comerciantes de Berna
salvar. O verdadeiro Gênesis, dizia Ernst Bloch (filósofo marxis- No tempo antigo, a visão integrada do mundo era e nos mercados. Enquanto, por um lado, e Zurique nos anos 1930 para compen-
ta do século XX), não está no começo, mas no fim. representada por um Deus uno, que a ciência iluminista, as novas tecnologias abrem possibilida- sar a violência dos ciclos econômicos.
cartesiana e analítica veio combater e assim poder des aparentemente intermináveis, por Segundo o economista Bernard Lietaer,
Quando o senhor afirma que é preciso introduzir uma florescer. Existiria hoje um desejo de resgate e uma outro, o modelo esgotado de explora- autor de The Future of Money e um dos
nova mente e um novo coração, a pergunta é: Como? E revalorização da visão holística, integrada, que não ção pura e simples dos insumos naturais maiores especialistas mundiais em moe-
em que velocidade? Pois a evolução civilizatória parece necessariamente é religiosa, mas sim entendida como deságuam em imperativos urgentes de das complementares, o Wir garantiu à
lenta em comparação à urgência ambiental. Como condição fundamental para enfrentar os problemas sustentabilidade. Suíça um enfrentamento comparativa-
promover tamanha transformação de forma célere? ambientais globais, com bem-estar e justiça social? Desde o início da crise financeira, em mente suave da Grande Depressão.
A razão sensível é inerente ao ser humano. Está ligada à emer- Por todas as partes se nota um cansaço em relação ao consu- 2008, e com a recessão que se arrasta No Brasil, o Banco Palmas, capita-
gência do cérebro límbico que surgiu há mo e à acumulação de bens materiais. em muitos países, a busca por alternati- neado por Joaquim de Melo, tem tido
cerca de 210 milhões de anos quando Emerge uma espiritualidade, não como vas econômicas ganhou atenção. Soma- sucesso no combate à pobreza na peri-
apareceram os mamíferos. Com esse
tipo de cérebro irrompeu o que não havia
A espiritualidade expressão de uma religião, mas como
um dado antropológico de base. Te-
-se a isso a nostalgia de uma vida mar-
cadamente local, sacrificada em nome
feria de Fortaleza, reforçando os laços
comerciais locais e fomentando o em-
ainda no Universo conhecido: o amor, o emerge não como mos, além da exterioridade corporal, a da integração dos mercados mundiais, em modos de comércio informais. Pro- preendedorismo. Em diversas cidades
cuidado, o afeto e a sensibilidade prote- interioridade psíquica e também a pro-
religião, mas como
e o desconforto, que às vezes infla até o fissionais que se sentem lesados protes- europeias, moedas locais começaram a
tora para com a cria. A nossa dimensão fundidade, aquela dimensão de nosso pavor, com as cifras associadas ao uni- tam, como os taxistas em guerra contra circular como resposta à crise do euro,
mais profunda é feita de afeto, sensibili-
dade e cuidado. A razão surgiu bem mais
dado antropológico profundo de onde emergem as ques-
tões radicais: Quem somos? Para onde
verso financeiro.
As perguntas se enfileiram quando
o aplicativo Uber, que faz de qualquer
proprietário de automóvel um chofer.
e não apenas nos países mais atingidos:
a Alemanha e o Reino Unido também
tarde com o neocórtex, perto de 5 mi- vamos? Que podemos esperar depois de se fala no futuro da economia: como va- Com isso, estudiosos se perguntam se têm as suas, eventualmente apoiadas
lhões a 7 milhões de anos atrás. Portanto, há um descompasso nossa morte? Quem se esconde atrás do curso das estrelas? mos produzir, distribuir, transacionar? faz sentido chamar de “compartilhamen- pelo poder público.
enorme entre um tipo de razão, a cordial, e a intelectual. Ocorre Quem sustenta a totalidade do universo? Ao responder a essas Como serão o trabalho, a remuneração, to” a transformação de todo bem pes- O bitcoin, criptomoeda mais conhe-
que a modernidade inflacionou a razão intelectual. questões que estão sempre na agenda de cada ser humano ir- a contratação? Que tipo de moeda será soal em ativos. Se a resposta for “não”, cida, atrai internautas do mundo inteiro,
Chegamos quase à ditadura da razão, como se fosse a única rompe a dimensão espiritual. empregada, quem a cunhará e aceitará? o que entra em pauta é a necessidade de alternadamente com a ambição de con-
instância a dar conta da condição humana. Mais: a sensibilida- A moderna neurociência identificou o “ponto Deus” no cérebro. As respostas também vêm em cons- regulamentar os serviços. tornar a subordinação das moedas na-
de foi recalcada, pois atrapalharia o olhar frio da razão. Hoje Sempre que se abordam temas que têm a ver com a totalidade, telação. São conhecidos fenômenos Um dos mais animados campos de cionais à racionalidade política e ao po-
sabemos que todo saber está impregnado de afeto e por de- com o sentido da vida e com os sagrado, no lobo frontal, há uma como o DIY (do it yourself), que se des- batalha nas novas modalidades econô- der avassalador do sistema financeiro.
trás de todo saber há interesses – basta lembrar o clássico de excitação anormal e poderosa dos neurônios. É uma espécie de dobra no movimento maker (mais em micas não poderia deixar de ser o dinhei- Seu aspecto especulativo, porém, tem
Jürgen Habermas, Conhecimento e Interesse – e o que a física órgão interno pelo qual captamos aquela Realidade frontal que Entrevista à pág. 14) celebrado em livro ro, esse obscuro objeto da economia e do causado fortes oscilações de cotação,
quântica trouxe ao afirmar que tudo tem a ver com tudo em tudo liga e religa e que dá sentido à totalidade. Ela foi chamada homônimo do jornalista Chris Anderson. desejo. Por enquanto, só chegaram ao o que gera dúvidas sobre seu efetivo ca-
todos os momentos e em todos os pontos em que o sujeito por mil nomes: Tao, Shiva, Javé, Alá, Olorum, Deus. Não impor- Sistemas de compra coletiva ou direta dia a dia das pessoas as plataformas de ráter de dinheiro.
entra na determinação do objeto. Não precisamos inventar tam os nomes. Importa que o ser humano possui uma vanta- com o produtor estão em expansão. financiamento, com as quais já se produ- Impossível dizer para onde a miríade
nada. Basta fazer um exercício socrático, desentranhar a ra- gem evolutiva que lhe abre uma janela para o infinito e para uma Um caso bem-sucedido é o progra- ziram livros e filmes ao redor do mundo. de formas e ideias conduzirá a economia
zão sensível e torná-la um valor civilizatório consciente. Se energia poderosa e amorosa que o cerca por todos os lados, ma de entrega de cestas de hortifru- Mas o escopo dessas plataformas é limi- do século XXI. Mas é sempre bom se lem-
repararmos bem, somos feitos de paixões, emoções, simpa- com a qual pode dialogar, entrar em comunhão e se unir a ela. tigranjeiros sem a intermediação de tado e raros são os projetos que conse- brar do filósofo escocês que, para enten-
tias e antipatias. Os psicanalistas nos convenceram empirica- Ocorre que nossa cultura materialista cobriu este “ponto supermercados. Nas cidades, o movi- guem apoio além de um círculo restrito der a contingência da vida em sociedade,
mente dessa realidade. Deus” com camadas poderosas de indiferença. Mas, ao serem mento Free Cycle permite oferecer e pe- de conhecidos. visitou estranhas oficinas nos arrabaldes
Essa razão cordial deve ser evocada na escola, nas relações removidas, nos humanizamos mais e mais. E aí descobrimos dir, sem contrapartida, objetos que não Porém, a inovação monetária é vi- das cidades. Nelas, uma nova maneira de
humanas, nas políticas públicas, em cada palavra e gesto das que somos um projeto infinito, sempre buscando o objeto ade- se usam mais. brante em outras direções. Dos clu- produzir alfinetes surgia, à margem das
pessoas. (Blaise) Pascal dizia bem nos Pensées: “É o coração quado ao nosso impulso infinito. Quando o encontramos, re- A mais recente polêmica, ilustrativa bes de troca com moedas temporárias corporações de ofício, em pleno século
que sente Deus e não a razão”. Isso se aplica em todos os cam- pousamos e ficamos em paz. A religação com todas as coisas das possibilidades e limitações de uma aos complexos algoritmos conhecidos XVIII. O relato dessa pequena transfor-
pos. Somos humanos na medida em que sentirmos o pulsar se refaz e nos sentimos realmente parte de um Todo maior. economia que se quer nova, envolveu a como criptomoedas, multiplicam-se as mação acabaria sendo o testemunho de
do coração do outro, da natureza, da Terra e do Infinito. Hoje o (Colaborou: Magali Cabral) sharing economy, baseada em emprés- formas de dinheiro complementar. As Adam Smith sobre o nascimento da Re-
timo e compartilhamento, mas também motivações para adotá-lo são inúmeras, volução Industrial e do mundo moderno.

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