4 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 10º. ed. rev. e ampl. São Paulo:
LTr, 2016, p. 609.
5 Heinz Leymann. La pérsecution au travaiL. Paris: Éditions du Sueil, 1996, p. 19
6 José Osmir Fiorelli, Maria Rosa Fiorelli e Marcos Julio Olivé Malhadas Junior. Assédio moral:
7 MARTINS, Sergio Pinto. Dano moral decorrente do contrato de trabalho. 23. ed. São
Paulo: Atlas, 2007.p.4
8 CHIARELLI, Carlos Alberto. O trabalho e o sindicato: evolução e desafios. São Paulo: Ltr,
2005.
O mundo antigo teve na escravidão uma instituição universal9, na luta pelas
terras ou pelos produtos de seu trabalho, o vencedor guardava seu inimigo a
fim de que este lhe servisse como escravo, utilizando-o para seu serviço
pessoal ou os utilizando como moeda de troca.
Barros10 ensina que, por ser o escravo considerado como uma
mercadoria que poderia ser negociada, fazia parte do patrimônio do seu dono,
sendo tratado como coisa. Assim, era-lhe negada a condição de sujeito de
direito.
Os Babilônicos foram os primeiros povos a tratar dos problemas relativos
ao trabalho, o Código de Hamurábi regulamentou a escravidão e a
aprendizagem profissional, trazendo as primeiras ideias superficialmente, de
salário mínimo e de repouso a serem reconhecidos ao trabalhador. O trabalho,
entre os babilônicos, estava nas mãos de pessoas que eram tornadas
escravas, como modo de pagamento de dívidas.
O escravo babilônico não perdia totalmente sua condição de pessoa; era
outra pessoa, que tinha a função de auxiliar ou mesmo substituir seu dono na
missão de batalhar pelo sustento11.
Os Egípcios, as leis de Tebas e Mênfis fixavam parâmetros para
obstaculizar a luta desenfreada por um posto. Era estabelecida uma
competição controlada pelo mercado, a fim de evitar a desmedida concorrência
entre membros do mesmo ofício.
A influência dos hebreus deu-se por meio do Velho Testamento, como já
abordado acima, mas é importante ressaltar que também entre eles o trabalho
livre era exceção. O trabalho manual era revestido de um caráter indigno e,
portanto, era exercido em regime de escravidão12.
Foi a partir do século XVIII que o trabalho humano passou a ser
paulatinamente ressignificado, nasce a evolução das relações de trabalho, com
a expansão do contrato de trabalho. No início da primeira modernidade, diante
9 FERRARI, Irany; NASCIMENTO, Amauri Mascaro; MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva.
História do trabalho, do direito do trabalho e da justiça do trabalho. 2.ed. São Paulo:
LTr, 2002.
10 BARROS, Alice Monteiro de. Assédio moral. Síntese Trabalhista. Porto Alegre: Síntese, v.16,
2005. p. 27.28.
12 CHIARELLI, Carlos Alberto. O trabalho e o sindicato: evolução e desafios. São Paulo: Ltr,
2005.p.29.
da dupla revolução, da ascendente economia de mercado, do capitalismo em
rápida expansão, houve uma revalorização do trabalho, que passou a ser
característica central da identidade social, da posição social, da segurança
existencial do homem.
Segundo Chiarelli (2006, p. 66) a Revolução Industrial foi estopim de três
mudanças que ocorreram concomitantemente: a primeira foi a introdução da
máquina e a eletricidade, tendo como combustíveis o petróleo e o carvão, o
que fez com que em boa parte a mão-de-obra fosse dispensada, pois não mais
dela necessitava para mover-se e produzir; a segunda, os ideais burgueses
foram conquistados, com vistas a inseri-los através da democracia e seus
ideais de igualdade meramente formais; a terceira, a padronização da
produção, primando-se pela quantidade produzida, estabelecendo novos
vínculos, a partir da configuração do emprego e o surgimento do salário,
alterando o formato da produção, decorrendo com isso a sociedade laboral.
O trabalho tornou-se fonte de riqueza, o valor a ele atribuído, que no
começo do desenvolvimento da civilização era nulo ou ínfimo, paulatinamente
ao longo da História foi deixando de ser encarado como castigo, pena,
sofrimento, para ganhar novo significado, passou a ser honroso e digno.
Reconheceu-se a remuneração como instrumento para minimizar a miséria e
exercer o controle dos indivíduos submetendo-os à ordem social, passando o
emprego ser definido e especificado, ocasionando migração da população
rural, e com o excesso de oferta, a consequente aviltação da jornada
demasiada e insalubre de trabalho, ganhos diminuídos, culminando no
desemprego.
Rompendo com as antigas tradições e concepções, a dupla revolução
deu visão para a constituição de uma nova sociedade, pautada em ideais de
liberdade, igualdade e fraternidade, valores que não raramente se
confrontariam com o capital, a produção e o lucro13.
Advinda da Revolução Industrial, permitia-se que a liberdade se
transformasse em mera abstração, “com a concentração das massas operárias
sob o jugo do capital empregado nas grandes explorações com unidade de
13FERREIRA Hádassa Dolores Bonilha. Assédio moral nas relações de trabalho. São Paulo:
Russell, 2004.p.24.
comando,” surgi uma nova forma de escravidão se descortinava, conforme
Ferreira destaca:
Entregue à sua fraqueza, abandonado pelo
Estado, que o largava à sua própria sorte,
apenas lhe afirmando que era livre, o operário
não passava de um simples meio de produção.
O trabalhador, na sua dignidade fundamental
de pessoa humana, não interessava ou não
preocupava os chefes industriais daquele
período. Era a duração do trabalho levada além
do máximo da resistência normal do indivíduo
(VIANNA, 2000, p. 34).
Artigo XXIII
1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre
escolha de emprego, a condições justas e
favoráveis de trabalho contra o desemprego.
17 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2004,
p. 184.
18 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 31.ed. São Paulo: LTr,
2005, p. 130.
Ensina-nos Zanetti19, os operadores ao relatar os fatos nas relações de
trabalho e emprego em suas demandas, pedem indenização por danos morais
em face do assédio moral vivenciado pelo trabalhador, julgamentos são
proferidos sem fazer a distinção entre dano moral e assédio moral.
O assédio moral acarreta prejuízos a saúde da vitima, estes por sua vez
são identificados por médicos, através de laudo, a existência do assedio moral,
efeitos parecidos com o estresses.
Em se tratando de dano moral, Cavalieri Filho entende que o dano é a
lesão de um bem jurídico seja ele moral ou patrimonial, acarretando uma
diminuição patrimonial bem como material, causando lesão a honra, dignidade
e a imagem.
Para Diniz20 (p.84); o dano moral é a lesão de interesses não
patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo. Seguindo
essa linha de raciocínio o dano moral é decorrente da violação dos direitos de
personalidade, como a vida, à honra, à intimidade, à integridade física.
Atingindo de forma lesiva o bem extrapatrimonial e dessa forma ferindo
dignidade da pessoa humana.
Em se tratando em dano moral, não há necessidade de provar os efeitos e
sintomas, uma vez presumindo que a vitima sofre, diferente do assedio moral
que possui efeitos e sintomas próprios sendo que o dano moral não os possui.
A Carta Magna estabelece diversas disposições sobre a matéria,
bem como destaca os direitos de personalidade e defende a dignidade
humana.
O Código Civil de 2002 refere-se expressamente ao dano moral em seu
art.186, in verbis:
Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito.
19
ZANETTI, Robson. Asssédio moral no trabalho. 2.000.p.27
20
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro - Responsabilidade Civil, 17a Edição,
São Paulo, 1999: Saraiva, Volume 7, p. 84
Sendo o direito a dignidade um direito de personalidade, este engloba
outros aspectos da pessoa humana, como a imagem, o bom nome, a
reputação, sentimentos, relações afetivas.
Karl Marx21 concebe o trabalho em seu sentido sócio-histórico, como
uma atividade que produz um valor econômico e se subsume à valorização do
capital. Está, desse modo, alienado ao processo de valorização, essa
finalidade é heterônoma em relação aos agentes da produção, quais sejam: os
trabalhadores. Essa alienação não se dá somente em relação ao trabalhador.
.
1.2 Trabalho e sua (des)regulamentação jurídica
A subordinação jurídica do trabalhador tem seu fundamento no sistema
social do capital resultante da divisão social que originou a subordinação
estrutural do trabalho ao capital.
A subordinação do trabalhador, correspondo o poder do empregador,
percebendo-se desta relação a hipossuficiência do empregado. Nesta relação
sociojurídica tem-se desde o período pós-fordista do Welfare State, o Estado,
por meio das regulamentações jurídico-normativas das relações de emprego,
que visam a equilibrar as forças a trabalho-capital, minimizando a
hipossuficiência do empregado.
Desde o início dos anos 90, com o processo de globalização, as políticas
neoliberais têm atuado de modo a mitigar essa rede de regulamentação estatal.
O termo “Globalização”, um fenômeno econômico e social que
estabelece uma integração econômica, social, cultural e, política entre os
países e os povos de todo o mundo.
Inicia-se então um processo de desregulamentação trabalhista, também
denominado de flexibilização. A globalização econômica vem substituindo a
política pelo mercado, no processo regulação social, as decisões políticas têm
se tornado cada vez mais condicionadas por exigências de mecanismos
macroeconômicos que passaram a regulamentar e estabelecer limites às
intervenções estatais.
O abuso de direito
Os poderes empregatícios do empregador supramencionado representa
verdadeiros direitos do empregador, que se respaldam na vontade, na
propriedade privada e na liberdade de iniciativa, esses direitos devem, ser
exercidos com limites, não ultrapassando o tolerável e razoável para o alcance
de sua finalidade, rechaça-se, o abuso de direito, o exercício dos direitos deve
estar de acordo com três princípios: o da disponibilidade, o da inesgotabilidade
e o da normalidade.
O Código Civil de 2002, em seu artigo 187, rotula o abuso de direito
como sendo um ato ilícito, com uma brilhante redação que deve resplandecer
por todo o ordenamento jurídico: “comete ato ilícito o titular de um direito que,
ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. 15 Imprescindível
esclarecer que o empregador que exerce o poder diretivo de forma razoável,
proporcional e respeitando os direitos de proteção ao trabalhador está no
exercício regular de um direito reconhecido, sendo, portanto, resguardado pelo
artigo 160, I, do Código Civil.