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A CASA-MUSEU CUSTÓDIO PRATO

(A Casa do Ti Custódio Prato)

Já aqui falámos do cidadão Manuel Amigo Tavares de Sousa, como tendo sido o condutor
da junta de vacas que puxaram o carro, desde a estação de caminho-de-ferro de Avanca
até à residência paroquial da freguesia do Bunheiro, transportou o venerável bispo D.
António Barroso.
Manuel Amigo, do lugar do Feital, tinha duas irmãs: Antónia e Maria. Antónia
permaneceu solteira e Maria, tal como ele, haveria de casar. Maria teve uma filha
homónima e mais dois filhos: António e Manuel. António casou com Rosa Oliveira, da
Rua do Forno, não deixando descendência; Manuel Casou com Albina (dita “dos
Catrinos”), dos Passadouros, tendo fixado residência (onde, aliás, já vivia enquanto
solteiro) em casa das tias Luciana, Maria e Joana Brogueiras, na Levegada.
A mencionada filha homónima, sobrinha de Manuel Amigo e, tal como a mãe, também
conhecida por Maria Amiga, viria a casar, já em idade madura, com o não menos
sazonado Custódio Prato, o mesmo cujo nome mandaram rabiscar nuns azulejos que hoje
identificam a morada onde o casal viveu, nos Passadouros, conferindo-lhe honras
inusitadas de “casa-museu”.
Na verdade, a casa herdou-a ele de sua tia Maria Prata, senhora solteira, que dedicou a
vida ao enfeite dos altares da igreja matriz do Bunheiro, com especial devoção pelo de Nª
Senhora, Virgem e Mãe, que se encontra ao lado direita da nave. De par com esta
obrigação pia, ainda despendia as suas parcas letras no ensino do Catecismo Romano às
jovens da freguesia e o maior feito que se lhe conhece foi o de ter sido zeladora do Sagrado
Coração de Jesus…
A mãe do Ti Custódio era sobrinha dela, oriunda do Chão do Cabeço (vulgarmente dito
Chão do “Cabaço”), no lugar do Esteiro, a Caminho da Bestida. Já o pai pertencia a uma
família que, usando de vários apelidos, era mais conhecida pela alcunha de “Neta”, dos
Netas do Chão do Senhor, de quem haveria de herdar certa tara que já então os distinguia
e que os consórcios mais exogâmicos vão diluindo – ou perpetuado.
Na posse dos escassos bens da tia, passou a administrá-los com a mesma proficiência e
dedicação que ela igualmente dispensara às suas tarefas devotas. Como era de uso então,
por simples necessidade ou mais provável empáfia, procurou para o seu serviço rodear-
se de moços de lavoura, objectivo, no seu caso, as mais das vezes gorado. Teve, assim,
ao longo da sua vida, de se contentar com o que o destino lhe guardara, enquanto resquício
da classe dos moços de servir.
Teve, por isso, vários criados, que sempre se sucediam, pois até eles em breve acabavam
por se cansar das manias do patrão. A propósito, consta que um deles, mais brioso, chegou
mesmo a impor-lhe, como condição para aceitar tão precário cargo, que o Ti Custódio
mandasse lavrar uma canga nova, em substituição da velha, já decrépita e descabelada,

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com que a sua magra junta de vacas vermelhas arrastava o carro pelos caminhos de areia.
Nesse ofício, teve ainda ao seu serviço, dos que se conhecem, um tal Frade, da Casinha,
bem na fronteira com Pardilhó, que ostentava numa face inteira uma mancha rubra com
que indelevelmente o tingira a Mãe Natureza.
Mas também teve como moço de servir o João Catalão, irmão da singular Beatriz
Pacheca, mulher-macho que, de calças vestidas, descia aos poços a pintar de alcatrão os
cabaços de tirar água, os masseirões por onde ela escorria e as rodas do engenho que os
moviam; da mesma sorte e com igual destreza se alçava às ramadas mais altas a pichar as
armações de ferro, se as havia. Eram ambos filhos da ti Fadegas, a qual, embora
entrevada, tinha como mister cortar tiras à porta de casa, para fornecer as tecedeiras de
Pardilhó. Morava no lugar do Celeiro, em sentido oposto à casa do Sr. Alfredo Vilar, de
profissão alfaiate e sacristão, pai do Prof. Jaime Vilar e irmãos.
Por fim, já viúvo, saudoso talvez da esposa defunta e das demoradas proezas que com ela
alcançara, mas das quais não lograra obter qualquer fruto digno de nota, Ti Custódio teve
ainda uma criada moça, irmã de um actual inquilino do Lar da Misericórdia da Murtosa,
que dá pelo singular nome de “Carne-Crua” …
Em ano de praga, de que padeceram particular achaque as videiras, divulgadas no final
das missas dominicais as medidas fitossanitárias a tomar como melhor meio de a suster,
aconselhamento técnico disponível e locais onde o encontrar, resolveu o Ti Custódio
pegar numa molhada de sarmentos secos e trazê-los à presença judiciosa do Regente
Agrícola que as entidades oficiais tinham destacado para o Grémio da Lavoura. Exposto
o assunto, não em tom lamuriento – verdade seja dita –, mas com trejeitos ignorantes de
quem sabia mais de missa que o cura, acto contínuo, o técnico agrário pegou no inútil
feixe e atirou-o para a valeta da rua.
Quando, pelos seus cinquenta anos mal vividos, resolveu finalmente mudar de estado,
deitou olhos ao redor, estendeu a vista pela vizinhança, e logo vislumbrou na figura
morigerada de Maria Amiga a alma gémea que lhe haveria de trazer melhor relego ao lar
e mais substância à sua precária economia. Obteve dela o sim esperado, que ao consórcio
cedeu com a ponderada reflexão de mulher madura e a simples vontade de quem presta
um desinteressado favor ao próximo.
Para que conste, tudo o que estava portas a dentro da casa em que nasceu Manuel Amigo,
ficou para as suas irmãs (Antónia e Maria), inclusive o seu quinhão de ouro, de que o
próprio prescindiu. A casa do Feital acabaria por ser herdada pela sua irmã Antónia, que
por sua vez a deixou ao sobrinho António, que foi casado com Rosa Oliveira. (Nela
residem hoje o Sr. José Aneco e esposa.) O ouro e demais propriedades da sua irmã Maria,
foram herdados pela sua filha (também chamada Maria), que veio a ser esposa do Ti
Custódio Prato, a quem trouxe como dote, por assim dizer, nada menos que um selamil
cheio de peças e de libras de ouro, além de cordões.
Portanto, ao contrário do que se diz e face ao exposto, o Ti Custódio Prato jamais foi rico
ou visionário. Manteve sempre uma lavoura de quase subsistência, assente em práticas
retrógradas, não compatíveis sequer com as que já ao tempo então se usavam. No mínimo,
seria um pobre de Cristo; e, no máximo, um apoucado idiota, alvo privilegiado da chacota
de toda a Freguesia. Tal o prova o testemunho que uma vez ouvimos, de viva voz, da boca

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do Prof. Jaime Vilar: casado de pouco, cuidou Ti Custódio dar cumprimento às suas
obrigações matrimoniais. Mas para tanto houve primeiro de se prover com um certo
almanaque popular, adquirido em banca de feira, que pousava na mesa da cabeceira e, à
luz da vela, ia folheando, seguindo as suas instruções práticas…
Certo, portanto, andava quem, em tempo de desfolhadas, pela noite dentro, ao ar ameno
dos primeiros dias de Outono, sob o cintilante brilho das estrelas e a inspiradora luz do
luar, em derredor do monte de milho, se lastimava publicamente do caso. A demora do
Ti Custódio em recolher-se era bem assunto que preocupava a Freguesia inteira: “Ó Ti
Custódio! Você não vai para cama? Olhe que a sua mulher já está farta de esperar por
si!...”
Tendo a esposa falecido primeiro e não havendo descendência, o Ti Custódio foi o
herdeiro universal de Maria Amiga. Gozou-lhe o ouro e as propriedades – e obteve a fama
de rico. Já viúvo, socorreu-se do Ti António Carrapato, seu vizinho, que foi quem orientou
a sua vida nos últimos dias, já nimbados pela cegueira. (Consta que, devido a essa
intimidade, também “herdou” algumas das moedas de ouro da Maria Amiga…)
Quando faleceu, não tendo herdeiros directos, o Ti Custódio deixou testamento, lavrado
em forma, no qual consignava como sua herdeira principal a Fábrica da Paróquia do
Bunheiro. Ao seu parente Manuel da Quitéria (neto da Ti Quitéria Prata), morador que
foi no lugar do Chouso, à direita da estrada que vai para a Boca da Marinha e para o
Facho, sabemos que deixou também uma terra, em paga de alguns serviços de somenos
importância que lhe prestou. De outros não sabemos.
De seu próprio, possuía a casa que fora da tia, um aido em S. Gonçalo (murado às custas
da Câmara Municipal), que já conhecemos a monte e circundado de videiras murchas,
onde mais tarde foi edificado o Centro Paroquial e Social do Bunheiro, e algumas
propriedades mais, entretanto alienadas pela Comissão Fabriqueira. No referido
testamento não mencionou qualquer casa-museu. Em conversa com alguém, terá,
contudo, referido a hipótese de a sua casa poder vir a albergar algumas das relíquias
bentas da tia…

José Gurgo e Cirne

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