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Resumo: Abstract:
Vista como uma unidade social autogovernada Regarded as a self-governed social unity which
que agregava, em uma pacificadora estrutura comprised, in an orderly hierarchical structure,
hierárquica, um chefe natural e seus dependen- a “natural master” and his subjects (wife, off-
tes (mulher, filhos, criados e escravos), a casa spring, servants, slaves, etc.), the “Ancien Ré-
do Antigo Regime serviu de modelo a várias gime” household was the inspiring model for
instituições, inclusive ao Estado. Surgiram ten- many institutions, including for the State itself.
sões, porém, à medida que este veio a regrar However, as the state started to legislate about
mais pelo direito a vida de tais dependentes e household relationships, thus increasing its in-
a interferir mais, desse modo, em âmbitos ex- terference in areas of domestic power that had
trajurídicos (ou só superficialmente regulados) remained almost untouched by statutes before,
do poder doméstico. Tais tensões, por sua vez, the resulting tensions had a high impact on po-
acabaram tendo forte impacto no debate político litical debate and legal thought. Challenging
e no pensamento jurídico. Afetando crenças ar- traditional opinions and deep-rooted beliefs,
raigadas e concepções tradicionais, essa expan- this State expansion by means of juridical-
são da estatalidade via juridicização teve o ônus ization had to be legitimated even in the Law
de legitimar-se até mesmo no campo do Direito, field, in which it was sometimes met by strong
onde não deixou de se defrontar com focos de resistance. In Brazil, the imagery of the house-
resistência. No Brasil, o imaginário da casa – só hold – only apparently effaced with the advent
aparentemente ultrapassado com o advento do of liberal individualism – would influence to
individualismo liberal – seguiria século XIX some extent jurists and politicians throughout
adentro influenciando, veladamente ou não, the 19th century and be echoed even in the first
políticos e juristas, tendo-se refletido inclusive Republican draft of the Civil Code.
no primeiro projeto de codificação civil da era
republicana.
Palavras-chave: Casa; Poder doméstico; pa- Keywords: Household; Domestic power; patri-
triarcalismo; escravidão; juridicização da vida archy; slavery; “juridicalization” of social life;
social; codificação civil. Civil Code.
1 – O presente trabalho é tributário de uma conferência proferida no IBHD/IHGB, em
2014. Agradeço, aqui, as indicações de leitura feitas por Joseli Mendonça, Milene Chávez
e Beatriz Mamigonian, bem como as sugestões recebidas, quando da palestra, de Alberto
da Costa e Silva.
2 – Doutor em Direito pela J.W.Goethe-Universität (Frankfurt). Professor da Universi-
dade de Brasília. Pesquisador do CNPq.
3 – Como dito em anterior palestra na Universidade Nova de Lisboa (2006), não entendo
que tal enfoque se deva necessariamente restringir, no Brasil do século XIX, só à codifi-
cação criminal e processual.
4 – FEIJÓ, Diogo Antônio. Diogo Antonio Feijó. Org. J. Caldeira. S.Paulo, 1999, p.191.
p.417).
Gilberto Freyre, por sua vez, é incessantemente acusado de generalizar uma análise calcada
em uma situação específica da vida colonial, fechando os olhos inclusive a certa diversida-
de regional das formas de organização econômica e familiar.
9 – Não é preciso ir à origem social de G. Freyre para perceber o tom nostálgico que
permeia a sua suposta descrição objetiva (para tal conexão, cf., entre muitos outros, RI-
BEIRO, Darcy. Gentidades. S.Paulo, 2011, pp.13, 14, 20-1, 23, 55ss, 61, etc.). Quanto a
Otto Brunner, pode-se dizer que seu desconforto com as retroprojeções da historiografia
liberal refletia não só seu respeito à alteridade do passado, mas também uma aversão
pessoal ao próprio liberalismo (cf. aqui, entre outros, OPITZ, Claudia. “Neue Wege der
Sozialgeschichte?” Geschichte und Gesellschaft 20, 1994, esp. pp.93 e 95, e MILLER,
Peter N. Op.cit., p.154ss).
10 – Fruto de uma leitura tão dogmática quanto superficial dos pensadores oitocentistas
em que supostamente se basearia, a rígida e total distinção entre crenças e “realidade
social” leva por vezes, em nossa historiografia jurídica, ao esquecimento de algo óbvio:
crenças também compõem a “realidade social”, pelo menos enquanto fatores que poten-
cialmente influenciam decisões pessoais e comportamentos coletivos. As tensões entre a
realidade econômica e o imaginário social e jurídico, aliás, nunca escaparam à atenção de
tais pensadores, que também alertaram, inclusive, para o risco de automatismos exagera-
dos, no exame das relações entre os “fatos econômicos básicos” e a assim chamada “supe-
restrutura” (v., e.g., ENGELS, Friedrich. “Derivação... (Carta a F. Mehring)” in: MARX,
Karl. / ENGELS, Friedrich. História. Org. F. Fernandes. S.Paulo, 1983, p.465). Cientes
desse alerta, mesmo teóricos apegados à noção de “superestrutura” não têm hesitado, nas
últimas décadas, em ver no direito e em “outros domínios ideológicos” certa margem
de “autonomia relativa” (cf., por exemplo, GOLDMANN, Lucien. Ciências humanas e
filosofia. São Paulo, 1984, p.80).
11 – Tal processo de naturalização foi tão intenso que se refletiu até nas explicações de
outros assuntos em dicionários. Invocando o testemunho do óbvio ao dar exemplos de
figuras de retórica e elementos gramaticais, o Vocabulario portuguez e latino do Padre
Lisboa, 1759, p.32, 37 e 38. Para a equiparação seiscentista entre o Príncipe, Deus e o
“grande pai de famílias”, v. também AFRICANO, Atònio de Freitas. Primores políticos e
regalias do nosso rei. Lisboa, 2005, p.80 (obra datada de 1641).
19 – Cf. Compendio histórico do estado da Universidade de Coimbra (...). Lisboa: Na
Régia Oficina Tipografica, 1772, p.170.
20 – V. GUSMÃO, Alexandre de. Cartas. Lisboa, 1981, p.141. Na correspondência do
secretário de D. João V, a palavra “casa” relacionava-se não só à esfera doméstica do
próprio autor, mas também a unidades comerciais (como a de Martinho Velho Oldem-
berg) e a famílias nobres, suas terras e jurisdições conexas (cf. GUSMÃO, Alexandre de
Op.cit., pp.51, 113, 140-2, 145). Neste sentido específico também se empregaria o termo,
décadas depois, na “Petição de Recurso” de um antigo rival de Gusmão- Sebastião José
de Carvalho e Melo- a D. Maria I. Comparando as estratégias de gestão de sua “casa” às
das “opulentissimas casas da Alemanha”, o Marquês de Pombal justificava seu enriqueci-
mento no governo invocando os ganhos que teriam resultado da boa administração de um
patrimônio concentrado após a venda de “muitas quintas, casas, fazendas, e outros bens
de raiz, pertencentes ao morgado da sua casa” (apud SENA, Maria Tereza. Op.cit., p.190).
21 – A História, de Rocha Pita, e as Notícias soteropolitanas e brasilicas, de Vilhena,
não usam o termo só para descrever “casas” religiosas parcialmente autogovernadas
(cf.,VILHENA, Luís dos Santos. Cartas de Vilhena. Salvador, 1922, p.465, e ROCHA
PITA, Sebastião da. Op.cit., p.80, 91, 96, 98, 168, 185-6, 189, 203, 270, 286-7 etc.), mas
também para indicar as “casas” da elite do reino e da terra – como as “familias limpas
e cazas abonadas” outrora existentes em Ilhéus (v. VILHENA, Luís dos Santos. Op.cit.,
p.514. Cf. também, pp. 373, 389, 402,512, 543, 813 etc.) ou as “casas (em outros tempos
muito ricas)” que já estariam “quase exaustas” na América Portuguesa, a despeito do “nú-
mero de engenhos”, da “cultura das canas” e de outros “tantos gêneros ricos” (v. ROCHA
PITA, Sebastião da. Op.cit., pp. 70-1. Para menções esparsas a “casas” da nobreza, cf.
ROCHA PITA, Sebastião da. Op.cit., pp. 60, 61, 63, 71, 115, 128, 137, 149, 159, 171, 175,
183, 199, 200, 226, 230-1, 237, 241, 267, 273-4 etc.). Não faltam, tampouco, fontes do
Antigo Regime que falem das “casas e famílias” do Maranhão e Pará, do “governo eco-
nômico” de tais “casas” e da atuação conjunta de “pais de familia” e seus “filhos no (...)
comércio” de produtos da região (cf. o protesto da Mesa do Bem Comum contra a cria-
ção da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, vista como danosa tanto às “casas”
coloniais “com negócio estabelecido para o Reino” quanto às “casas, filhos e famílias”
dos comerciantes da metrópole- texto transcrito em CARREIRA, António. A Companhia
Geral. São Paulo, 1988, pp.26 e 30-1).
possível que o difuso controle social exercido pelo poder doméstico venha a contribuir
mais efetivamente para a ordem estatal do que o aparato público contribui, na prática,
para a imposição direta do poder senhorial sobre os escravos. Não por acaso, o “Regla-
mento para la Educación, Trato y Ocupaciones de los Esclavos” de Porto Rico (1826)
e o “Reglamento de Esclavos de Cuba” (1842) tentavam induzir os amos a ensinar aos
escravos “a obediência que devem às autoridades constituídas” (REGLAMENTO PARA
LA EDUCACIÓN. In: SAMORAL, Manuel Lucena. Los códigos negros de la América
Española. Alcalá, 1996, p. 286, Cap. II, art.6., e REGLAMENTO DE ESCLAVOS. In:
SAMORAL, SAMORAL, Manuel Lucena. Op.cit., p.295, art.5). Pelo mesmo motivo,
talvez não soasse de todo absurda, no Brasil oitocentista, a visão do Padre Ibiapina como
subversivo perigoso, por corroer a ordem não só pregando a desobediência direta a um
governo infestado de maçons, mas também – segundo algumas fontes – insuflando a fuga
de escravos e a rebeldia filial (cf. SECRETO, Maria Verónica. (Des)medidos. Rio de
Janeiro, 2011, p.37). Em 1835, temendo infiltrações subversivas no Rio, a Polícia condi-
cionava o desembarque de escravos vindos da Bahia à apresentação de folha corrida. O
ministro Alves Branco determinou, no entanto, que se excluíssem de tal exigência aqueles
“que acompanham famílias, e pessoas sem suspeita, que (...) os trazem para seu serviço”
(apud CHALHOUB, Sidney. A força da escravidão. S.Paulo, 2012, pp.58-9). Perigoso
não era, pois, o escravo mantido sob o controle do amo, mas sim o negro desterrado da
casa, remetido à venda na Corte. No Antigo Regime, acreditava-se que a ordem geral
dependeria, de certo modo, da atuação do poder doméstico. Isso ajuda a compreender,
ao menos em parte, não só o horror ao “quilombola” e ao “marrão”/“cimarrón”, mas
também a preocupação dos reis-legisladores com o cigano e com “qualquer homem que
não viver com senhor, ou com amo”, não tendo à parte ofício nem negócio próprio (Ord.
Fil., V.LXVIII). Refletindo expectativas e convicções corriqueiras, nosso antigo direito
conferia ao régulo doméstico um amplo poder disciplinar, excluindo a casa da incidência
de normas penais de caráter tendencialmente geral. Segundo as Ordenações, por exemplo,
não era crime, encarcerar filhos e escravos para os “castigar e emendar de más manhas
e costumes” (Ord. Fil., V.XCV.4). O Código Criminal de 1830 situava entre os “crimes
justificáveis” tanto as punições senhoriais quanto os males destas decorrentes, desde que
o “castigo” houvesse sido “moderado” para os padrões da época (art.14, §6).
39 – Não se deve seguir, aqui, a ingênua tendência de alguns autores para ignorar a con-
cretude dos poderes sociais difusos e para ler nosso passado escravista quase que exclusi-
vamente à luz das decisões estatais e da legislação geral. Essa miopia legalista e estatista
se atenua muitíssimo – mas não se supera de todo – dando-se maior atenção às posturas
locais e aos arquivos judiciais (para um exemplo de bom uso conjunto de fontes dessas
duas esferas, cf. FERREIRA, Ricardo Alexandre. Senhores de poucos escravos. São Pau-
lo, 2005). Dentro desse quadro um tanto problemático, o exame de fontes não estatais e
mesmo a leitura “a contrapelo” das fontes oficiais podem ser, sem dúvida, de certa utili-
dade – desde que atentemos, porém, para as limitações da cultura letrada no expressar das
concepções e das práticas sociais dos “rústicos” (HESPANHA), sejam eles escravos ou
fazendeiros analfabetos.
40 – Risco que talvez tenha sido particularmente grave, aliás, quando alguns senhores
rurais, para ficarem “seguras as suas casas”, entraram em “trato oculto” com “os negros
de Palmares”, fornecendo-lhes até “armas, pólvora e balas”. Segundo um indignado his-
toriador – “sobrinho e herdeiro da (...) casa” de um desembargador colonial – nem a pre-
visão de “gravíssimas penas” nem as punições ocasionais após “várias devassas” teriam
impedido essa escandalosa colaboração, enquanto “padecia Pernambuco” a “calamidade”
da “opressão dos Palmares” (v. ROCHA PITA, Sebastião da. Op.cit., pp. 211 e 215-6).
41 – Tal constatação se aplica mesmo ao direito criminal do Império. Buscando interferir
na esfera da casa para coibir ações da escravaria perigosas para toda a ordem social, este
estatizava o lidar com algumas condutas, dando às autoridades públicas suporte para apli-
car a escravos punições economicamente prejudiciais aos seus próprios donos (e.g., a pri-
são, que afastava o condenado do trabalho). As normas vigentes podiam, inclusive, blo-
quear a via recursal nas condenações por crimes mais graves (cf. a Lei n.4, de 10/6/1835,
combinada com o Decreto n.1310 de 2/1/1854). A orientação legislativa nessa matéria
não impediu, porém, que os herdeiros de um senhor assassinado em Franca ousassem
impetrar habeas-corpus em favor do escravo homicida, “para repartirem entre si o valor”
deste (sobre o caso, v. FERREIRA, Ricardo Alexandre. Op.cit., p.91. Para outro caso de
priorização, no lidar com escravos homicidas, das conveniências financeiras da casa cf.
FRANCO. Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. S.Paulo,
1997, pp. 158-9, n.107).
42 – Em uma representação ao rei datada de 1732, uma autoridade colonial alertava para
os riscos gerados pela condescendência de alguns senhores. Deixando suas negras man-
terem vendas, estes estariam de certo modo estimulando a disseminação do jogo, da em-
briaguez e da violência, atingindo assim a escravaria alheia e gerando prejuízos à própria
Fazenda Real (cf.a transcrição feita em FIGUEIREDO, Luciano R. O avesso da memória.
Rio de Janeiro, 1993, pp. 217-8).
43 – Já abordada nas Ordenações Filipinas (V.LXXX.7 e 13), tal matéria foi várias ve-
zes regulada no direito anterior à Abolição – inclusive mediante posturas locais. Para
a legislação análoga, no império colonial espanhol, cf. CÓDIGO DE LEGISLACIÓN.
in:SAMORAL, M.L. Op.cit., pp. 214-5. Sobre situações excepcionais em que se cogitava,
pelo contrário, de armar escravos, cf. BELLOTTO, Heloísa L. Op.cit., pp. 84 e 95.
44 – Não faltaram normas sobre tal tema – então com maior relevo para a ordem social
do que hoje perceberíamos, à primeira vista (cf., e.g., o Cap.IX da Pragmática portuguesa
A casa não era vista como esfera essencialmente jurídica69- e era jus-
tamente isso que fazia útil à Coroa a equiparação casa/reino, para legiti-
mar a desconsideração ocasional, pelo rei como “pai”, das amarras jurí-
dicas herdadas do passado70. Mesmo não sendo, porém, só esfera jurídica,
a casa podia, em certo grau, ser juridicamente descrita e ter suas relações
traduzidas ou reguladas pela linguagem do Direito71.
Seja por meio desta, seja pelo estudo das relações domésticas no âmbito
do Direito romano ou canônico, o Direito se expandia por novas terras,
submetendo-as à sua cartografia específica. Com o tempo, mais e mais as-
suntos da casa começam a ser vistos como jurídicos – incluindo-se alguns
no Direito penal, outros no Direito privado e muitos no vasto “direito de
polícia” do Antigo Regime.
daqui não se pode deduzir a sua aptidão para governar povos”. Cum-
prir bem “deveres” no “estado particular” que seria a esfera doméstica
não habilitaria ninguém, segundo o frade liberal, para atuar na “publica
administração”88.
88 – V. FREI CANECA (J. do A.D.) Acusação, p.45, e (FREI) CANECA (J. do A.D.) Frei
Joaquim do Amor Divino Caneca. Org. E.C. de Mello. S.Paulo, 2001, p. 540. Opinião
semelhante expressava o religioso em outro texto, datado de 1824. Segundo ele, “um
cidadão, por ser bom pai de família, esposo fiel, amigo leal, econômico de seus bens, não
está por isso só na ordem de governar a nau da pátria” ((FREI) CANECA (J. do A.D.)
Frei..., p. 362). Ainda que pudesse ter longínquas raízes tomistas , o definir das qualidades
humanas relevantes de acordo com a esfera de atuação pessoal vinculava-se aqui, de
certo modo, ao desejo de defender um novo ideal de cidadão ativo e amante da liberdade,
talvez parcialmente inspirado em concepções de virtude cívica construídas pela releitura
iluminista das fontes clássicas.
89 – V. FREI CANECA (J.do A.D.) Acusação, p.47 (ou (FREI) CANECA (J. do A.D.)
Frei..., p. 541.
90 – V. sua transcrição em MENDONÇA, J.M.N. Entre a mão e os anéis. Campinas, 1999,
p.390 (art.1., par.1.,II).
Não se trata, aqui, de situar no Brasil do século XIX uma plena sepa-
ração entre família e negócios que, como processo histórico, ainda não se
completou sequer na esfera dos grandes grupos industriais e financeiros
de São Paulo. Não é preciso seguir os rastros dos Bezerra no interior
do Ceará para descobrir, em tempos recentes, sobreposições de estrutu-
ras familiares e empresariais, servindo tanto a finalidades tidas por pré-
-modernas (como assegurar maior poder de fogo político ou manter na
família bens vinculados à sua identidade) quanto a objetivos de caráter
inquestionavelmente atual (como facilitar o atendimento de exigências
bancárias para a concessão de crédito)105. Na economia brasileira, há mui-
to as empresas tomaram da “casa” o lugar central – mas vestígios desta
quase parecem ressurgir, volta e meia, nos modos de gestão de empresas
familiares. O próprio termo “casa” segue sendo ocasionalmente empre-
gado na esfera dos negócios106 – muito embora já não mais se critique,
como se fazia no Segundo Reinado com os donos de estalagem, o despo-
tismo do “chefe da casa” em face da clientela107.
O que interessa aqui, por ora, é apenas indicar o impacto desse mes-
mo processo histórico nas instituições e nas mentalidades, em um período
de urbanização e de reforço, na economia, das tendências para a desautar-
familiar, cf. MUAZE, Mariana. As memórias da viscondessa. Rio de Janeiro, 2008, pp.83,
86-7, 128 e 218 (n.1).
105 – Cf. LEMENHE, Maria Auxiliadora. Família, tradição e poder. S.Paulo, 1995, p.163.
A autora analisa a prática dos Bezerra de manter indivisas terras e grupos de empresas,
constatando que “a natureza familiar da condução dos negócios independe das dimensões
do empreendimento”. Nota, também, que onde o “crédito político” pode levar ao “crédito
econômico”, “a coesão familiar é a ‘alma do negócio’”. Percebe, ainda, estar diante de
um “universo sociocultural no qual a família é a instituição em torno da qual se articulam
diferentes instâncias da vida individual e coletiva” – inclusive aquelas relativas à política
e aos negócios (v.LEMENHE, Maria Auxiliadora. Op.cit., pp. 176-7).
106 – Cf. HOUAISS, A./VILLAR, M.de S. Op.cit., p. 640.
107 – V. ZALUAR, Augusto Emilio. Peregrinações pela Província de São Paulo
(1860-1861).S.Paulo, 1975, p.16 – que assim se queixava, por volta de 1860: “nestas
estalagens da roça (...) tudo, enfim, depende do capricho momentâneo do chefe da casa a
cuja decisão é forçoso a gente curvar-se, porque não há direito, autoridade, nem lei que
prevaleça ao sequestro imediato desta implacável justiça de aldeia”.
113 – Cf. NAZZARI, Muriel. Op.cit., p.178 – com apontamentos sobre a mudança de
composição no patrimônio de integrantes da elite paulista, no século XIX.
Antes mesmo da Abolição, o encarecimento dos escravos já pode ter estimulado, em seto-
res da sociedade brasileira, esse processo de descasificação dos patrimônios. Até porque
a extinção do tráfico, gerando alta de preços, fez com que “a propriedade escrava – an-
tes amplamente disseminada entre a população livre – “viesse a concentrar-se nas mãos
de grandes senhores das províncias cafeeiras” (v. CASTRO, Hebe Mattos de. de Op.cit.,
p.343).
114 – Atacando a “ficção da coisificação” total do escravo e apontando os motivos de sua
ampla acolhida no Brasil, LARA, Silvia Hunold . “Os escravos...”, p.129ss, esp.p.132.
Analisando situações de servidão pessoal de camponeses medievais, o próprio Otto Brun-
ner, aliás, já indicava que a dominação no âmbito da “casa senhorial” não ensejava a total
coisificação daqueles (cf.BRUNNER, Otto. Sozialgeschichte, p.23, que chega mesmo –
em síntese elegante, mas roseamente exagerada – a afirmar: “Auch der Unfreie (...) ist in
der Herrschaft Rechtsperson”).
115 – A eficácia do Direito penal demandava em diversas áreas – como se sabe – algum
grau de reconhecimento da vontade, imputabilidade e punibilidade do escravo. Por outro
lado, o tratamento deste como simples coisa gerava óbvios problemas até no simples
campo dos crimes contra o patrimônio. Que fazer, afinal, com um bem semovente que,
cometendo o desplante de pensar em seus próprios interesses, pudesse até auxiliar seus
próprios ladrões, para assim se livrar de um mau senhor? (Sobre os casos de Manoel
Monjolo e José Mina – que se teriam deixado furtar – cf. CHALHOUB, Sidney. A força,
pp. 154 e 157).
116 – No período colonial, obras específicas sobre o “governo econômico” – isso é, a ges-
tão da casa – já denunciavam como inadequado o tratamento dos escravos como simples
bens semoventes (e.g., à maneira dos jumentos – cf. BENCI DE ARIMINO, Jorge. Op.cit.,
p.5 (Intr.,6). A alienação de escravos como bens e sua acentuada exploração no eito como
“carvão humano” (Darcy Ribeiro) conviveram com práticas contrárias à plena coisificação
do escravo até mesmo no campo econômico. Não era incomum que escravos exercessem
atividades que, ao menos implicitamente, demandavam seu tratamento, na prática, como
pessoas na esfera negocial, assumindo papéis típicos de um trabalhador livre ou de um
pequeno comerciante (cf., e.g., SCHWARTZ, Stuart. Op.cit., p. 209, MENDONÇA, J.N.
Cenas, pp. 39-40 e 56, e o testemunho de BINZER, Ina von. Op.cit., pp. 36 e 45). Em
meados do século XIX, um grande fazendeiro recomendava a seus pares “entreter” os
“pretos” com o “seu pequeno direito de propriedade”, inclusive comprando destes a pro-
dução de roças feitas, com permissão do dono, nas terras senhoriais (apud MARQUESE,
Rafael de Bivar. Op.cit., p.283. Sobre o velho costume de deixar aos negros as “suas (sic)
roças”, v.também VIEIRA, J.F. “Regimento que há-de guardar o feitor-mor”. In: ALVES
FILHO, Ivan. (org.) Brasil, 500 anos em documentos. Rio de Janeiro, 1999, p.77). Visto
não raro como mero bem semovente, o escravo podia até virar credor do dono. Em um
documento maranhense de 1789, um senhor admitia: “Devo a meu escravo Francisco
Mandinga quarenta mil-réis” (cf. o testamento de J.L. Rebello em MOTA, Antônia da S./
SILVA, Kelcilene./MANTOVANI, José D. op.cit., pp. 275-9, esp. p.277). E não faltaram
debates políticos, logo após a Independência, sobre a conveniência ou não do Estado re-
conhecer “os contratos entre o senhores e os escravos” (v.CUNHA, Manuela Carneiro da.
Op.cit., pp. 128 e 157). O historiador do direito não deve, é claro, ficar cego diante dessas
evidências. Nem, tampouco, deixar de registrar o desconforto dos letrados diante da in-
compatibilidade de várias práticas sociais com o núcleo duro da concepção romanista de
escravidão (desconforto evidente, e.g., na Ley 1 do Cap.17 do “código negro” carolino
de 1784 – cf. CÓDIGO DE LEGISLACIÓN, p.197). Para o pesquisador, as tentativas de
superar dogmaticamente tal incompatibilidade – invocando, e.g., uma obrigação natural
do senhor de respeitar o pecúlio do cativo, nas negociações entre ambos- não resolvem
aqui o problema, mas sim evidenciam sua maior complexidade e relevância social (sobre
a concepção romana de naturalis obligatio cf.KASER, Max. Op.cit., pp. 155-6, e SÖLL-
NER, Alfred. Op.cit., p.86).
117 – Já intuindo o relevante papel do “beija-mão dos negros aos brancos”, FREYRE,
Gilberto. Sobrados, pp. 47 e 306. Denunciando o beija-mão entre brancos como sinal de
servilismo, cf. as opiniões do francês J. Arago (v. FREYRE, Gilberto. Sobrados, p. 459),
bem como as críticas feitas pelos aliados de Feijó, em debates parlamentares de 1838, à
restauração do rito monárquico correspondente (cf.RICCI, Magda. Op.cit., pp. 401-2).
118 – Sem aprofundar a análise desse ponto em “Sobrados e mucambos”, Gilberto Freyre
parece ter intuído que a celebração de missas nas fazendas contribuía para reforçar a au-
toridade do régulo doméstico. O autor pernambucano vê as tentativas de proibição dessa
prática “golpeando em cheio a autoridade patriarcal” (v.FREYRE, Gilberto. Sobrados,
p.124). Sobre tais tentativas e seus fracassos, cf.FREYRE, Gilberto. Sobrados, pp. 123-4
e 147-9. Solapando – com dados de 1873 sobre o número de capelas de engenho em Siri-
nhaém – a avaliação freyreana sobre o suposto controle dos senhores sobre as atividades
do clero, cf., porém, MELLO, Evaldo Cabral de. Op.cit., pp. 424-5).
Cumpre notar, por fim, que mesmo um clero independente em face da casa senhorial pode
exaltá-la como modelo de ordem e até moldar nela algumas de suas instituições internas
(sobre a estruturação dos mosteiros medievais, cf., por exemplo, SCHULZE, Hans K.
Grundstrukturen der Verfassung im Mittelalter. Berlim, 2000, p.15).
129 – REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de. Minhas recordações. S.Paulo, 1988,
pp. 416, 417 e 418.
130 – REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de. Op.cit., pp. 416-8. Descrevendo as
leis antiescravidão como expressões de um Estado já potencialmente perigoso à própria
ordem social, cf. as opiniões do Barão de Cotegipe em GRAHAM, R. Op.cit,, pp. 191-2.
Passando a impressão de que o apoio imperial às medidas emancipacionistas de 1871 é
que teria, no fundo, levado José de Alencar a comparar D.Pedro II a um “ditador”, MO-
RAES, E. de op.cit., pp. 73-4.
131 – REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de. Op.cit., p.416. O estrangeiro talvez seja
o Conde D’Eu, indireto beneficiário da popularidade da signatária da Lei Áurea.
132 – Cf. a descrição desses papéis nos relatos sobre o pai do autor (REZENDE, Francis-
co de Paula Ferreira de. Op.cit., p.145).
podia ou não ter um pátrio poder próprio – mesmo que a conclusão final
fosse a de que “o escravo, apesar de casado pela mesma forma que é o
homem livre, (...) somente tem aqueles direitos, pátrio poder e outros
direitos de família, que o senhor lhe quer permitir”136. Em última análise,
manifestando-se em decisões oficiais sobre casos concretos ou por meio
de normas gerais, o intento estatal de regular assuntos vistos usualmente
como próprios da “casa” tendia a gerar tensões.
Este até haveria – diz Freyre – se estendido aos sobrados das ci-
dades em expansão, na forma mitigada de um “semipatriarcalismo”144.
Comparado ao Brasil-Colônia, o período imperial teria mostrado, porém,
“menos patriarcalismo, menos absorção do filho pelo pai, da mulher pelo
homem, do indivíduo pela família, da família pelo chefe, do escravo pelo
proprietário; e mais individualismo – da mulher, do menino, do negro
(...)”145.
147 – FREYRE, Gilberto. Sobrados, p. 305 – que também inclui os bispos nesse “poder
suprapatriarcal”. Feitas para desvelar visões de mundo e não para decifrar o mecanismo
imperial de separação de poderes, essas opções terminológicas de Freyre não o tornam
corresponsável pelas posteriores tentativas – algo apressadas – de equiparar o Poder Mo-
derador imperial (versão local do “poder neutro” de Constant) ao “poder pessoal do senhor
de escravos no âmbito de seu domínio familiar” (v.SALLES, Ricardo. Nostalgia imperial.
Rio de Janeiro, 1996, p.142. No mesmo sentido MALERBA, Jurandir . Op.cit., p.77-8 –
senão mesmo MATTOS, Ilmar Rohloff de. op.cit. Sobre a ideia de “poder neutro”/”poder
real”, cf.CONSTANT, Benjamin. Op.cit., p.13ss, esp.p.14).
148 – O impacto das novas práticas capitalistas urbanas sobre a casa – redimensionando
o poder patriarcal sem no entanto eliminá-lo – é bem retratado nas comédias oitocentistas
(cf., e.g., ALENCAR, José de. “Verso e reverso”, p. 269).
149 – Reduzindo nos homens jovens a dependência econômica em face dos dotes das noi-
vas potenciais, a expansão supracitada pode ter enfraquecido frequentemente, na prática,
a posição da esposa no jogo de poder conjugal. Como lembra Nazzari, no século XIX
difundiu-se, fora dos estratos populares,“um novo tipo de casamento”, “em que, inicial-
mente, apenas o marido (...) sustentava a esposa e filhos” (NAZZARI, Muriel. Op.cit., pp.
239-240).
150 – Não se limitando apenas ao Brasil, havia aqui um fenômeno de amplo alcance – ob-
servável, no século XIX e no início do XX, até na esfera colonial. Territórios portugueses
na África, por exemplo, passaram a ganhar diplomas que, mesmo apresentados como
simples codificações de usos nativos tradicionais, no fundo almejavam também a “suavi-
zação do pátrio poder” e a repressão estatal aos “crimes cometidos à sombra da autoridade
familiar” (como registrava Marnoco e Sousa – apud SILVA, (Ana) Cristina Nogueira da.
Op.cit., pp.910-911).
151 – Mesmo nas memórias de um bacharel-fazendeiro tal associação podia surgir, em
observações esparsas (cf.REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de. Op.cit., p.178).
152 – Apud PENA, Eduardo Spiller. Pajens, p.336.
153 – Juízo de Émile Adet, feito, em meados do século, a partir do que teria visto no Rio
de Janeiro e em outras cidades (v. FREYRE, Gilberto. Sobrados, p.305).
154 – No dizer de um norte-americano, também em meados do século (apud FREYRE,
Gilberto. Sobrados, p.62). Segundo outra fonte estrangeira, as mulheres cariocas esta-
riam submetidas, por volta de 1832, a “maridos ciumentos e brutais” (v. Idem, ibidem,
p.38). Sobre uma prática realmente mais próxima do aprisionamento – o recolhimento
compulsório da esposa em estabelecimentos religiosos, por iniciativa marital, cf.SILVA,
Maria Beatriz Nizza da. Op.cit., p.256ss. Sobre o uso destes como “cadea politica”, pelos
próprios governadores da Bahia colonial, para conter “mulheres dissolutas” que “parece-
ria escandalozo” mandar “para a cadea publica”, v.VILHENA, Luiz dos Santos. Op.cit.,
p.472. Para um exemplo típico de pedido de encerramento de esposa em convento, cf.
DOCUMENTOS INTERESSANTES, v.95, p.198.
155 – Mal contendo sua ânsia em revelar o exótico e pitoresco, o autor trata em diversas
passagens do tema da ocultação das mulheres (cf.SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem
`Província de São Paulo. S.Paulo/B. Horizonte, 1976, pp. 95-6, 136 etc.; e SAINT-HILAI-
RE, Auguste de. Segunda viagem... São Paulo/Belo Horizonte, 1974, pp. 47, 49-50, 51,
56 e 73).
quem são superiores seja pela força, seja pela inteligência. A mulher é, na
maioria das vezes, a primeira escrava da casa, e o cão o último.” Ainda
em 1861, o padre Pinto de Campos via a mulher brasileira reduzida à
“posição (...) de ídolo domado ou máquina reprodutora”162. Tem-se aqui
156 – Cf. ZALUAR, Augusto Emilio. Op.cit., pp. 76 e 84.
157 – SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem, p.96. Essa opinião se coaduna com a de
observadores nacionais: descrevendo as fazendas da “Campanha” mineira, Ferreira de
Rezende as compara à “casa de um turco”: “Naquele recatado interior nenhum estranho
penetrava que vestisse calças, a não ser algum parente muito próximo e às mais das vezes
ainda era preciso que ou fossem muito velhos ou muito crianças” (REZENDE, F.de P.F.
de Op.cit., p.178).
158 – Apud FREYRE, Gilberto. Sobrados, p.459.
159 – Apud FREYRE, Gilberto. Sobrados, p.459.
160 – SAINT-HILAIRE, Auguste de. Segunda viagem, p. 51-2.
161 – SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem, p.102 (com alguma relativização, porém,
na n.241 ali situada). Quanto ao degrau comum dos escravos e crianças nos pronomes de
tratamento oitocentistas, cf. BINZER, Ina von. Op.cit, p.106. Em sua oferta de apoio a
régulos domésticos com súditos problemáticos, a legislação do século XIX sobre casas
de correição por vezes pôs lado a lado “os escravos” e “os filhos-família” (cf., e.g., o
diploma cearense de 1835 parcialmente transcrito em CUNHA, Manuela Carneiro da.
Op.cit., p.135).
162 – Apud FREYRE, Gilberto. Sobrados, p.115. Algumas décadas antes, ainda se apre-
sentava como noiva ideal, em pleno Rio joanino, uma “sinhazinha” que “não sabe dançar
nem tocar (...) nem discorrer nas guerras”, mas se mostrava capaz de “satisfazer” o futuro
marido “em tudo que pertence ao governo da casa” – inclusive na direção dos escravos,
aprendida em um lar materno regido “ao som do chicote e palmatória” (cf. a carta trans-
crita em DIAS, Maria Odila da S. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São
166 – Dentro desse quadro, talvez não coubesse ver com espanto o uso “juscientífico” do
Direito romano por Teixeira de Freitas, com o fim de negar pronta liberdade à prole da es-
crava testamentariamente alforriada sob condição. A necessidade de conservar e aumentar
seu prestígio social como jurista, a sua forma rigorista-oitocentista de lidar com as fontes
romanas e a sua própria crença na autonomia do direito podem ter pesado, aqui, mais do
que o fato de Teixeira possuir escravos ou pecar (talvez no inferno das retroprojeções) por
uma insensibilidade social.
167 – Consolidada no período napoleônico, a codificação pós-revolucionária – mesmo re-
moldando profundamente a ordem jurídica – não foi sempre infensa à influência doutriná-
ria passada. Quando Portalis admitia que o Código Civil de 1804 levava em consideração
o droit naturel , os coutumes franceses e a raison écrite do Direito comum (cf.PORTALIS,
Jean-Etienne-Marie . Op.cit., pp. 18, 20, 22, 24, 27, etc.), no fundo estava a remeter igual-
mente à tradição doutrinária relativa a tais fontes. Embora a Revolução e a Codificação
constituíssem notáveis rupturas, o respeito à tradição doutrinária – tão conveniente para
fortalecer os juristas letrados em face dos leigos – logo encontrou outros caminhos para
sua manifestação (cf.HESPANHA, António Manuel. “Um poder...”. In: FONSECA/R./
SEELAENDER, Airton Lisle Cerqueira-Leite. (org.) História do direito em perspectiva.
Curitiba, 2008, p.149ss- com sua análise de Portalis nas pp. 163-4).
168 – Não há nada de absurdo no fato de que os juristas letrados brasileiros do século XIX
se inserissem em tradições iniciadas bem antes do liberalismo, usando-as para marcar seu
espaço de poder social (como campo de autonomia do Direito) e para resolver conflitos
em uma sociedade ainda marcada por diversos arcaísmos. Tais juristas não tinham o ônus
de viver para justificar, em um distante futuro, apressadas interpretações generalizantes
recheadas de “ismos” – que só mereceriam o nome de “história das ideias” se fossem
vistas, elas próprias, como fontes primárias indicativas das ideias de seus formuladores.
169 – Sobre a obra e seu impacto cf. STOCKLER, Francisco de Borja Garção. Elogio
historico. Lisboa, 1799, p.25, n.11; Aviso Régio 7.5.1805. In: REIS, P.J. de M.F. dos
IJCL-DJP, s/p.; NABUCO, Joaquim. Op.cit., p.46; MERÊA, Manuel Paulo. “O ensino
do direito”. In:Jurisconsultos portugueses do século XIX. Lisboa, 1947, pp. 173 e 180-1;
MERÊA, Manuel Paulo. “Lance de olhos...” Boletim da Faculdade de Direito da Uni-
versidade de Coimbra. 33, 1957, p. 202; HESPANHA, António Manuel. “Sobre a prática
dogmática...”, pp.119, 128, 145 (n.101), 147 (n.119) e 148 (n.121); VENÂNCIO FILHO,
Alberto. Das Arcadas ao bacharelismo. São Paulo, 1982, pp. 33, 42 e 58; BRAVO-LIRA,
Bernardino. Op.cit., p.74, 107ss e 115-6; SEELAENDER, Airton Lisle Cerqueira-Leite.
Polizei, p.110, n.11, e 123, n.60, etc.
170 – Para uma análise mais detida da posição de Mello Freire no contexto político e
intelectual de sua época, cf. SEELAENDER, Airton Lisle Cerqueira-Leite. Polizei, pp.
122-156 e a bibliografia ali indicada.
171 – Contam-se entre seus principais escritos – importante é notá-lo – manuais de Direi-
to e projetos de codificação.
172 – Sobre a finalidade didática que estaria por trás da estruturação interna das “Institu-
tiones”, cf. REIS, P.J. de M.F. dos IJCL-De Jure Personarum, p.7 (II,I,I) – bem como a
análise de STOCKLER, Francisco de Borja Garção. Op.cit., pp. 15-6. Sobre a estrutura
do “Novo Código”, cf.REIS, Paschoal José de Mello Freire dos.. O novo código, “In-
troducção”, p. IX. Sobre o tema, cf. ainda, entre outros, HESPANHA, António Manuel.
“Sobre a prática...”, p.126; SILVA, Nuno J. Espinosa Gomes da. da Op.cit., p.285; COSTA,
Mário J. de A. Op.cit., pp. 373-4; e SEELAENDER, Airton Lisle Cerqueira-Leite. Polizei,
pp. 132-3.
173 – Sem esconder sua admiração pelo pensador francês, M. Freire não hesitaria, porém,
em recomendar, como censor, a proibição em Portugal do “Commentaire sur Le livre des
délits et des peines” (cf.BRAGA, (Joaquim F.) Teophilo. História da Universidade de
Coimbra. Lisboa, 1898, v.3, pp. 73-4).
174 – Cf. REIS, Paschoal José de Mello Freire dos. IJCL-De Jure Personarum, p. 9
(II,I,XII).
175 – Parecia predominar, nesse ponto, a simples descrição do Direito vigente (cf. REIS,
Paschoal José de Mello Freire dos. IJCL-De Jure Personarum, p.12 (II, I, XVI).
176 – Idem, ibidem, p.111 ( II,V,I).
177 – Cf. Idem, ibidem, p.153 (II,VII,IV).
178 – Cf. Idem, ibidem, p.151-2 (II,VII,I-II-III).
186 – Cf., e.g., REIS, Paschoal José de Mello Freire dos. IJCL-De Jure Publico, p.155
(I,X,XXV), e REIS, P.J. de M.F. dos. IJCL – De Jure Personarum, p.102 (II,IV,V) e
(II,VI,III).
187 – Talvez tenhamos um indício disso na própria definição da unidade tributável em
REIS, Paschoal José de Mello Freire dos. O novo código, p. 98.
188 – Como parece ser o caso das referências à Casa do Infantado e de Bragança
(II,III,LVII e LVIII). Cabe recordar que se atribuía ao próprio monarca uma “casa” sua, a
rigor distinta da “grande casa do reino” – daí por que frisava Mello Freire a necessidade
de se “deixar ao Rei o modo e governo de sua casa, e a qualidade e distincções dos seus
criados” (v. REIS, Paschoal José de Mello Freire dos. O novo código, p.103. Para a visão
do assunto no pensamento político do século XVII, cf., por exemplo, VIEIRA, António.
Escritos históricos e políticos. Org. A. Pécora. S.Paulo, 1995, p. 287).
189 – REIS, Paschoal José de Mello Freire dos. IJCL-De Jure Personarum, p. 101
(II,IV,III).
190 – Tal equiparação também ocorre, explícita ou implicitamente, em trechos do “Novo
Código” e das “Provas” destinadas a embasá-lo (cf. REIS, Paschoal José de Mello Freire
dos. O novo código, pp. 134, 144, 290, 362, 363. 364ss etc.).
191 – Sobre o exercício de “potestas oeconomica” pelo monarca para além dos limites
jurídicos, v. REIS, Paschoal José de Mello Freire dos. IJCL – De Jure Publico, p.155
(I,X,XXV). Aprofundando o assunto e apontando suas amplas implicações, cf. o título
“Do Poder Econômico” em REIS, Paschoal José de Mello Freire dos. O novo código, pp.
144-6.
192 – V. REIS, Paschoal José de Mello Freire dos. IJCL – De Jure Publico, p.155
(I,X,XXV). Não é só essa passagem que espelha a visão veiculada nas “Institutiones” – a
equiparação entre casa e reino, pai e rei também permeia o “Novo Código” elaborado por
Mello Freire e as “Provas” que o lastreiam (v.REIS, Paschoal José de Mello Freire dos. O
novo código, p.134, 144, bem como, nas “Provas”, pp. 362, 363, 364ss, etc.)
193 – Cf., por exemplo, a invocação desse poder para contornar, nas relações entre Rei e
Igreja, as fronteiras jurisdicionais básicas, herdadas do passado (REIS, Paschoal José de
Mello Freire dos. O novo código, pp. 144-§§ 4 a 6- e 363).
194 – Velho advogado interiorano, formado em Coimbra antes da Reforma Pombalina,
Manuel de Almeida e Souza era, na descrição de Herculano, “um letrado de curta inteli-
gência e nenhuma filosofia, chamado por alcunha o Lobão”. Seus livros, muito difundidos
no século XIX, seriam “mina inesgotável de alegações eternas e contraditórias, para ad-
vogados medíocres” (apud HESPANHA, António Manuel. “Um poder...”, p. 166, n. 57).
Um destacado civilista brasileiro do século XIX louvou o talento e a perspicácia de Lobão,
mas o descreveu também como “rude e indigesto”, por seu “estylo bárbaro” e “acrimo-
nioso como um polemista do século XVI” (v. PEREIRA, Lafayette Rodrigues . Direitos
de família. Brasília, 2004, p. 16).
201 – Cf., por exemplo, a síntese feita em LOBÃO, Manoel de Almeida e Sousa. Notas ,
I, p.77ss.
202 – LOBÃO, Manoel de Almeida e Sousa. Notas, II, p.300.
203 – V. LOBÃO, Manoel de Almeida e Sousa. Notas, II, pp. 79-80. Cf. também idem,
ibidem, pp. 298.
204 – V. LOBÃO, Manoel de Almeida e Sousa. Notas, II, pp. 298 e 301. Sobre o direito
do juiz de agir de ofício quando a esposa fosse efetivamente ferida, cf. LOBÃO, Manoel
de Almeida e Sousa. Notas, II, p.82.
205 – Ou, em estratégia alternativa, a sua desconsideração – como indica o fechar de
olhos ao poder fático do industrial no recrutamento de operários vistos ideológica e juri-
dicamente como seus “iguais”, enquanto partes de um “contrato de locação de serviços”.
206 – TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto. Esboço do Código Civil. Brasília, 1983, p. 59.
207 – TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto. Op.cit., p.59. Ao que parece, outros codifica-
dores latino-americanos também teriam sentido, à época, alguma dificuldade em se des-
vencilhar, na estruturação jurídica da família, dessa conformadora centralidade do “poder
doméstico” tradicional (cf.RAMOS NÚÑEZ, Carlos . Op.cit., pp. 257-8).
208 – No período pré-Independência e mesmo após 1822, tal identificação ainda podia
ser um tanto automática. Em obra de 1786, Baltazar da Silva Lisboa recomendava casar
os escravos “porquanto os penhores da mulher e os filhos os ligarão estreitamente na
família do senhor, donde não desejarão sair (...)” (apud MARQUESE, Rafael de Bivar.
Op.cit., p.180). Azeredo Coutinho, por sua vez, alertava para a possibilidade de “crimes
(...) no íntimo de uma família”, envolvendo escravos e seus amos (apud MARQUESE,
Rafael de Bivar. Op. cit., p.190). E não faltou na Assembleia Constituinte de 1823 quem,
como Almeida Albuquerque, cresse que “negros arrancados da costa da África e de outros
lugares entram no número dos domésticos e formam parte das famílias” (apud LOUREN-
ÇO, Fernando A. Op.cit., p.101). Para mais indícios da forte identificação entre “casa” e
“família”, veja-se também o verbete “sobrenome” no Vocabulário Português e Latino do
Padre Bluteau – influente obra do século XVIII que também contrasta a “gente de casa”
das “casas-grandes” com as “pessoas de fora e sem ofício”, os mequetrefes empregados
em serviços eventuais (v. BLUTEAU, Raphael. Op.cit., v.5, p. 428, e v.7, p. 676. Sobre a
visão tradicional dos escravos como “simples ampliação do círculo familiar” do senhor, v.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Op.cit., p.37.
209 – Cf. o segundo parágrafo de suas anotações conjuntas aos arts.139 e 140 (TEIXEIRA
DE FREITAS, Augusto. Op.cit., p.59).
210 – V. TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto. Op.cit., p. 330.
211 – Rastrear a exata origem das expressões empregadas no Esboço e analisar seu grau
de modernidade fica, sem dúvida, mais difícil, quando elas se situam na vasta área cinzen-
ta compartilhada tanto pelo vocabulário tradicional quanto pela terminologia técnica dos
códigos civis do XIX. Tal seria o caso, e.g., de “poder marital”, “chefe de casa”, “cabeça
de casal”, “poder paternal” e “chefe da família” (cf. TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto.
Op.cit., pp. 15, 20, 281, 286, 281, 311 e 330).
212 – Sobre o “modelo patriarcal” básico do Code e suas tendências conservadoras no
Direito de família, cf. as sínteses de HALPÉRIN, Jean-Louis. Histoire du droit privé fran-
çais depuis 1804. Paris, 2001, pp. 23 e 28-30, e GILISSEN, John . Introdução histórica
ao direito. Lisboa, 1979, pp. 605 e 619-620.
213 – TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto. Op.cit., p.314. Coerente na defesa dessa supos-
ta harmonia, o projeto também bloqueava, ali, processos em sentido inverso.
-lhes grave dano” (v. TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto. Op.cit., p. 312, art. 1.513-1).
218 – Cf., por exemplo, TEIXEIRA DE FREITAS, Augusto. Op.cit., p. 313 (art.1.513-1)
219 – Consideradas a óbvia crença de Teixeira de Freitas na autonomia do direito e sua
inclinação cientificista no lidar com as fontes do Direito romano, fica menos difícil com-
preender, em conjunto, as atitudes tantas vezes invocadas para discutir se teria sido um
porta-voz da liberdade pontualmente contraditório ou quase um intelectual orgânico do
Império escravista (sobre o tema cf., entre outros, MEIRA, Sílvio Teixeira de Freitas..
Brasília, 1983, p.79ss, 87, 139ss,149-150, 152, 162; PENA, Eduardo Spiller. Pajens,
p.71ss; e FONSECA, R.M. “A cultura jurídica...”. Revista da Faculdade de Direito 44,
2006, pp. 61-76). Por outro lado, não é um despropósito confrontar os pronunciamentos
mais diretos do autor sobre a escravidão com seus interesses pessoais no assunto e com
sua própria experiência de vida – aqui incluídas sua condição de dono de negros e sua
atuação, em ações de liberdade, em ambos os polos do processo (a respeito de tais feitos,
cf. o levantamento de GRINBERG, Keila. Op.cit., p. 258).
à dimensão da família, concebida esta, por sua vez, como uma mera soma
de indivíduos, estatalmente regulável por meio do direito privado237. Por
outro lado, seja transpondo as linhas divisórias entre o Direito público e
o privado, seja lidando com a sistematicidade ideal do Direito como um
todo, o autor não hesitava em invocar as liberdades do Direito público
para justificar a expansão da autonomia dos filhos, no que seria o âmbito
“privado” do direito de família.
esfera da casa, fazia desses mesmos “direitos políticos” a razão para pôr
fim à própria dependência doméstica240.
246 – As leituras e modelos desse autor estão entre os poucos temas histórico-jurídicos in-
cessantemente abordados no Brasil – até porque a exaltação de Tobias há muito tempo se
presta a engrandecer sua faculdade e a legitimar seus pretensos sucessores na semimítica
“Escola do Recife” e no pensamento jusfilosófico nacional. Para iniciar a análise do assun-
to, cf. – entre outros estudos recentes e destituídos de hagiologices bairristas – SUCUPI-
RA, Newton. Tobias Barreto e a filosofia alemã. Rio de Janeiro, 2001; ALONSO, A. Op.
cit.; e LOPES, José Reinaldo de Lima. Op. cit. Comprovando que a rejeição a T. Barreto
e S. Romero não era monopólio das vozes jurídicas do conservadorismo e do clericalismo,
PEREIRA, Lafayette Rodrigues . Vindiciae, pp. 57-216 – que investe duramente contra
as definições e “subtilezas ineptas” de Tobias (pp.178ss e 210).
247 – BARRETO, Tobias. “Prolegômenos ao estudo do direito criminal”. In: Estudos de
Direito. Aracaju, 1991, p.101.
acabariam tendo por base última não o cidadão individual e livre260, mas
uma “família” naturalmente hierárquica261 e eventualmente distante do
próprio molde liberal do Direito de família.
260 – V. COELHO RODRIGUES, Antônio. Projeto, p. 42. Tal concepção não deflui ne-
cessariamente da crença de que a “familia” precederia “logica e historicamente, (...) a to-
das as sociedades civis” e “leis positivas” (COELHO RODRIGUES, Antônio. Republica,
p.76). Há entre ambas, contudo, uma óbvia compatibilidade.
261 – Cf. as opiniões do autor transcritas em BRANDÃO, Wilson de A. “Antonio...”, 1980,
p.15, e BRANDÃO, Wilson de A. “Antonio...”, 1998, p.47. Segundo Gilberto Freyre, Co-
elho Rodrigues almejaria defender “o pai contra os filhos” e “a família patriarcal contra
a intrusão do Estado, ou do legislador liberal” (FREYRE, Gilberto. Sobrados, p.131-2).
262 – COELHO RODRIGUES, Antônio. Projeto, p.275. Essa visão da família como uma
estrutura multipessoal fundada essencialmente no poder de um régulo doméstico tinha
profundas raízes no “ius commune” e na tradição ibérica, estando talvez mais próxima
das Siete Partidas do que do direito civil atual (cf., e.g., Partidas 7,33,6).
263 – V. COELHO RODRIGUES, Antônio. Republica, p. 112. Alvo dessa passagem não
é só o aulicismo político. Posto que favorável à Lei Áurea e antipática ao escravismo, a
obra deixa transparecer algo do incômodo causado, anos antes, pela interferência imperial
nas relações amo-escravo.
264 – Apud AGUIAR, Antônio C. de Op. cit., pp. 34 e 37.
265 – Aqui, o projeto volta a reproduzir concepções tradicionais – também presentes, no
século XIX, na literatura brasileira sobre a gestão de escravos. No “Manual do agricultor”
do padre-fazendeiro Antonio Caetano da Fonseca (1863), estes últimos eram inseridos em
uma “família” da qual o senhor seria o “pai comum” (v. o trecho transcrito em MARQUE-
SE, R. de B. Op.cit., p.289).
266 – Cf. AGUIAR, Antônio C. de Op.cit., p.157ss.
267 – Tal inclusão já lhe havia, anteriormente, parecido adequada. Na comissão imperial
instituída em julho de 1889 para elaborar o novo código, o jurista se mostrara simpático
à ideia de regular no “Direito de Família a condição das pessoas do serviço doméstico,
as quais são quase um complemento natural dela (...)” (apud MEIRA, Sílvio Teixeira de
Freitas. Op.cit., p.444).
268 – Cf., e.g., os arts.2352, 2360, 2362, 2363, 2364, 2365, 2366, 2367, 2368, 2369,
2371, 2372, 2374, 2375, 2376, 2377 e 2378 do projeto (COELHO RODRIGUES, An-
tônio. Projeto, p.349-353). O fracasso do Projeto Coelho Rodrigues não impediu que a
terminologia tradicional sobrevivesse na legislação republicana. Segundo o Código Penal
de 1890, por exemplo, a punição deveria ser mais rigorosa se o “amo” fosse a vítima do
crime (art.39,§9).
De tal modo cobria a sombra da casa o olhar do jurista, que ele podia,
por vezes, ler o conflito cidadão-Estado na chave de um conflito de esfe-
ras familiares270. Tendência semelhante traíam as metáforas que jorravam
de seus escritos políticos. Com frases como “cada qual governa sua casa
como quer, e como pode (...)”, o autor tratava do gerir dos estados271. E
era com menções à proteção e à perpetuação da casa que comparava os
regimes, defendendo o “monarchico-representativo”: enquanto os presi-
dentes republicanos não passavam de provisórios inquilinos desejosos de
tirar proveito do governo, na monarquia “o chefe” agiria “como o dono”
em “sua casa, empenhado não só em conserval-a, como em transmittil-a
melhor aos seus successores”.272
Tão perigoso para este e para a casa como as novas formas de in-
terferência estatal sob Rodrigues Alves275 seria o debilitar de tal poder
pela “intrusão arbitraria do Governo” nos direitos do chefe doméstico276.
Abalando a “confiança reciproca” e o “respeito” na família, a “intrusão
do legislador entre o pai e o filho” mediante normas sucessórias rígidas277
comprometeria a força moral paterna, com graves efeitos para toda a so-
ciedade. Impunha-se, assim, proteger e mesmo expandir, por vezes, o
campo decisório do régulo doméstico. Com maior “liberdade de testar”
se estimularia, por exemplo, uma sã subordinação dos jovens – em última
análise, ela ajudaria mesmo a “augmentar enormemente a disciplina do
lar”278.
Como vimos, a casa não se evaporou das mentes nem com a Aboli-
ção nem com a República. Parecendo confirmar-se por experiências pes-
soais concretas e reforçados aqui e ali pelo senso comum conservador,
alguns resquícios do imaginário do Antigo Regime revelaram em nosso
país um notável grau de resistência, tanto que seguiram inspirando facões
sertanejos e penas de letrados.
282 – A contratualização das relações de trabalho não foi apenas inspirada em preocu-
pações liberais. Já prevendo ad cautelam o envio de “vadios” a “casas de trabalho”, o
projeto abolicionista do Visconde de Jequitinhonha (1865) determinava aos juízes de paz
e às autoridades policiais que promovessem e mantivessem os “contratos de locação de
serviços entre os escravos manumitidos e seus antigos donos”. A “perda” de “tais cria-
dos” para um novo patrão, se ocorresse pela “primeira vez”, poderia gerar uma demanda
judicial (cf. os arts.6, 7, 9 e 10, transcritos em MALHEIRO, Agostinho M. Perdigão . Op.
cit., pp.292-3).
283 – Sobre tal processo, cf. a síntese de Maria Helena Machado (apud TELLES, Lorena
F. da Silva. Op.cit., p.185). Sobre o incômodo com a introdução “na família (de) gen-
te estranha” – tratando-se aqui de novas criadas – cf. a fonte oitocentista transcrita em
GRAHAM, Sandra L. Op.cit., p.134). Além da via contratual, há indícios, também, do
recurso a outros institutos de direito civil – como a tutela – para garantir a permanência
da mão de obra doméstica (cf.GUIMARÃES, Elione S. Op.cit., pp. 75-6).
284 – V., por exemplo, REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de. Op. cit., pp. 416 e 419.
No Direito romano – e na tradição jurídica da Recepção (na qual o Brasil de certo modo se
enquadrava) – o liberto seguia parcialmente vinculado ao antigo senhor, com obrigações
específicas de “gratidão” e apoio (cf. KASER, Max. Op.cit., p.84, e SÖLLNER, Alfred.
Op.cit., p.87). Essa não equiparação do liberto ao homem pobre nascido livre há de ter
moldado séculos da nossa experiência jurídica, como parecem indicar os estudos mais re-
centes (cf. – além das observações de Hebe Mattos – TELLES, Lorena F. da Silva. Op.cit.,
p.185; SCHWARTZ, Stuart. Op.cit., pp. 214 e 215, n.47; MENDONÇA, J.N. Entre..., pp.
83ss, 94, etc.; e – salientando os efeitos da Lei de 1871 – MENDONÇA, J.N. Cenas...,
p.85). Em meados da década de 1880, até organizações abolicionistas ainda julgavam
adequado usar a legislação sobre locação de serviços para fixar os libertos nos mesmos
estabelecimentos em que haviam sido escravos (cf. MENDONÇA, J.N. Cenas..., p.41).
285 – Sobre tal fenômeno, cf.TELLES, Lorena F. da Silva. Op. cit., p.178ss – e a biblio-
grafia ali apontada. A indicação da cor da pele e de outros sinais característicos talvez
pudesse, no entanto, ter também funções de identificação – mormente em se tratando
de um meio social em que analfabetos e nomes repetidos longe estavam de ser raros. É
improvável, por outro lado, que o uso efetivo e a relevância dos documentos pessoais
na vida cotidiana tenham crescido, à época, exatamente na mesma proporção em que o
Estado ampliava sua vigilância e controle sobre os trabalhadores domésticos, por meio de
normas e registros policiais.
286 – Sendo a prática social do apadrinhamento algo muitíssimo mais amplo que o sim-
ples ato de tornar-se padrinho no direito canônico, não se pode inferir a inexistência de
polos de poder não estatal (ou de redes fundadas em relacionamentos e expectativas de
“lealdade”) a partir da singela constatação de que determinados nomes estão ausentes de
registros batismais. Ao evidenciarem que os filhos de escravos raramente tinham seus
senhores como padrinhos (cf. SCHWARTZ, Stuart. Op.cit., pp.279ss, 286 e 290-1), os
estudos sobre a matéria realmente deixam de trazer provas em favor de uma visão mais
patriarcalista da escravidão, mas ainda assim não dão lastro suficiente para negar sua
influência concreta em outros planos, à época. Por outro lado, caberia perguntar: Não
seria possível que, simplesmente, em uma sociedade que tanto desprezava o negro, se-
nhores e seus familiares não fizessem mesmo questão de ser padrinhos? Por que, então,
os índios “administrados” recebiam maior atenção senhorial nesse assunto (cf. o próprio
SCHWARTZ, Stuart. Op. cit., pp.279 e 290-1) – seria mesmo só para justificar sua situa-
ção jurídica, em um país em que a escravização de índios mal podia ser reprimida pelos
escassos agentes da Coroa? E em que medida a escolha dos padrinhos poderia indicar
os reais sentimentos do escravo, considerando-se as próprias restrições práticas que um
simples escravo poderia ter, quanto ao grau de liberdade na escolha dos padrinhos do
filho? Como vemos, mesmo tendo dado uma admirável contribuição para o rastreio das
articulações de um sentimento de classe, as pesquisas aqui enfocadas não demonstraram a
total irrelevância do imaginário patriarcal, na reprodução da sociedade escravista. Quanto
à função do compadrio na consolidação de laços assimétricos entre fazendeiros e pobres
livres, segue útil FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Op.cit., p.84ss.
287 – Reproduzimos aqui transcrição de debates oficiais da década de 1880 sobre o pro-
blema da regulação do serviço doméstico no Rio de Janeiro (v. GRAHAM, Sandra L.
Op.cit., p.148).
288 – Para uma análise detida do fenômeno, cf. GRAHAM, Sandra L. Op.cit., p.148ss.
289 – Sem críticas ao institucionalismo, o tema já foi abordado em parte por Ricardo
Fonseca, sugerindo a leitura de aspectos da CLT à luz de nosso passado escravista (cf.
FONSECA, Ricardo M. Modernidade e contrato de trabalho. S.Paulo, 2002, p.134).
Dar o governo “açoites nos escravos dos outros” era algo que podia
indignar nossa elite política em 1839. Seis décadas e meia depois disso, o
governo irritaria multidões de populares, por querer penetrar as “mulhe-
res dos outros” em uma campanha de vacinação. Desconsiderando teme-
rariamente, em sua insensibilidade tecnicista, a esfera tradicional da casa,
o sanitarismo republicano deflagraria uma revolta social, confrontando
concepções arraigadas e invadindo espaços e corpos tradicionalmente
submetidos ao poder doméstico.
296 – Se, nesse caso concreto, o olhar crítico do intelectual contestador captou os reflexos
da casa escravista e os expôs à ironia e ao ridículo, nem por isso revelou-se o autor sempre
imune ao imaginário tradicional. Não faltam textos indicativos de seu desconforto com a
invasão, pelo Estado, de antigos domínios da casa. Crônicas suas defendiam, e.g., o “dono
(...) da casa” e os “chefes” do “quadro familiar” contra interferências estatais em matéria
de “criados”, insurgindo-se contra a conversão “das nossas vidas” em “uma gaveta de
fichas” e contra o “exagero de legislar (...) característico da nossa época” (BARRETO,
Afonso Henriques de Lima. Toda crônica. Rio de Janeiro, 2004, v.1, p.15. Sobre o vínculo
entre casa e família, cf. também p.196).
297 – Viessem da Alemanha, da Suíça ou de uma Europa Meridional com estruturas so-
ciais arcaicas e governantes por vezes indiferentes diante do destino dos pobres lançados
à América, os imigrantes não estavam acostumados, a rigor, às formas de tratamento
das fazendas brasileiras. Seu equiparar aos escravos negros era algo que assimilavam
mal – e mesmo no Brasil podia por vezes causar escândalo (cf, e.g, a charge reproduzida
em MENDONÇA, Joseli. Cenas..., p.34. Para um exemplo de “literatura de resistência”
originária dos próprios imigrantes, cf.DAVATZ, Thomas. Memórias de um colono no Bra-
sil. S.Paulo, 1980 –, apontando para tal equiparação às pp. 141, 222, 233-5 e 237. Sobre
as condições iniciais de alojamento dos imigrantes e sua mudança, cf.SLENES, Robert
W. Op.cit., p.283ss). Óbvio, mas dificilmente dimensionável, o efeito modernizador da
imigração não implicou o campo, ressalve-se, o imediato desaparecimento da visão ca-
sificada das relações de trabalho. Tratados como “dependentes e servos” pelos fazendei-
ros, colonos ainda teriam, em 1884, de suportar que aqueles tentassem se meter em seus
“arranjos domésticos”, julgando-se inclusive no direito de ser consultados e de resolver
“disputas familiares” (v. o relato transcrito em SLENES, Robert W. Op.cit., p.287).
toriografia de Brunner pagou caro pelos ganhos que teve, ao optar pelas
concepções schmittianas de “constituição” e de “ordem concreta” como
pontos de partida303. Concepções que eram – perceba-se – tão historica-
mente contingentes quanto as do liberalismo oitocentista, trazendo ainda,
consigo, toda a carga autoritária do meio em que foram elaboradas304.
306 – Segundo Gadi Algazi tal falha seria encontrada mesmo nesse severo crítico das in-
genuidades dos juristas que foi Otto Brunner. A partir de fontes medievais referentes a um
“suposto dever de proteção” senhorial, o autor de “Land und Herrschaft” teria intuído que
os senhores tinham de ser e eram realmente poderosos, estando em condições concretas
de oferecer aos camponeses proteção em troca de uma sujeição automática no âmbito
da sua “Haus” (cf.ALGAZI, Gadi. Op. cit., pp. 103-4. Para uma crítica dos reparos de
Algazi a Brunner, cf. a resenha de WETTLAUFER, Jörg. “Algadi...”. Ius commune. 24,
pp. 400-403, 1997).
307 – É alentador que boa parte da história do Direito hoje produzida nas nossas faculda-
des de História siga E. P. Thompson na preocupação de (tentar) resgatar pontos de vista
dessas camadas sociais. A produção científica daí gerada não perde sua relevância por
conta de pontuais mal-entendidos na recepção do pensamento do autor inglês – derivados,
quando muito, ou da diversidade entre duas culturas jurídicas específicas (cf. FONSECA.
Ricardo M. Introdução, p.104ss.) ou de singelos erros de tradução (cf. a edição brasileira
de Senhores e caçadores, onde se verteram automaticamente como “lei” e “domínio da
lei” palavras e expressões inglesas de sentido por vezes diverso ou bem mais amplo).
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a sua naturalização teria muito a ganhar se partisse de um diálogo interdisciplinar. Este
poderia envolver também a Antropologia, área que já têm produzido, em nosso país, tra-
balhos relevantes sobre o assunto (cf., e.g., DA MATTA, Roberto. A casa e a rua. Rio de
Janeiro, 1997).
312 – Ressaltando o “descaso teórico de Gilberto” Freyre, Darcy Ribeiro queixa-se da
falta de interesse deste “pela generalização teórica”, deplorando a falta de análises compa-
rativas da sociedade patriarcal descrita em Casa-Grande & Senzala com “outros padrões
patriarcais e não patriarcais de sociedade” (RIBEIRO, Darcy. Op.cit., p.30). Na verdade,
foi justamente por seu intuito de investigar as origens da brasilidade que Freyre, mesmo
estudando a fundo a estrutura da “casa” entre nós, deu pouca atenção àquilo que esta tinha
de geral-ocidental, inclusive do ponto de vista conceitual.
313 – Uma história do direito crítica, no Brasil, ainda tem mais o que fazer do que ha-
giografia de juristas fascistas, ataques à codificação francesa e exaltações de modismos
políticos de sociedades de baixa complexidade. Enquanto houver fontes brasileiras a ex-
plorar e sutis formas de opressão a desnaturalizar em nosso próprio Direito, as tarefas
mais urgentes seguirão pendentes.
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