contra a UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, representada por seu
Procurador-Geral, com endereço funcional no SIG, Quadra 06, Lote 800, Departamento
de Imprensa Nacional, 2º andar, Brasília/DF, CEP:70610460, Tel(61)4009-4630,
1. DOS FATOS
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1 Vide informações constante da página da Escola de Administração do Exército na internet, que explica que
os processos seletivos do Exército compõem-se de 4 etapas, sendo uma delas a Inspeção de Saúde (IS), que
“é realizada conforme a Portaria nº 41-DEP, de 17 Maio 05”.
2 b. Obrigatoriedade da inspeção de saúde
1) Para se efetuar a matrícula em curso de formação, especialização ou extensão, que funcione em Estb Ens
subordinado ao DEP ou em OM que receba sua orientação técnico-pedagógica, é requisito indispensável
que o candidato seja considerado apto em inspeção de saúde, destinada especificamente a essa finalidade,
conforme a legislação de referência.
(...)
e. Exames complementares para as IS relativas aos concursos de admissão aos cursos de formação de Of e
Sgt e ao EIA/QCM
1) Por ocasião das inspeções de saúde previstas durante os concursos de admissão para a matrícula nos
cursos de formação de oficiais e de sargentos de carreira ou no EIA/QCM, cada candidato deve apresentar,
obrigatoriamente, laudos contendo os resultados dos seguintes exames complementares:
3 Conforme o item 2.1: Patologia Clínica – Grupo I (p. 10 da ICA 160-6)
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(...)
l) sorologia para hepatite B (contendo, no mínimo, HBsAg e Anti-
HBc) e hepatite C;
Dentre as doenças que motivam a isenção definitiva dos conscritos para o Serviço
Militar das Forças Armadas, constante do Anexo II às IGISC (Decreto 703/92, anexo),
destacamos as seguintes:
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(...)
2. DO DIREITO
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Vale ressaltar que tal lei, como é curial, há de ser a lei em sentido
formal, norma genérica e abstrata, a todos imposta, votada e aprovada pelo Congresso
Nacional, mediante o processo legislativo próprio.
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Com efeito, embora a AIDS tenha deixado de ser uma doença de guetos,
no imaginário social ela continua associada a grupos estigmatizados, como os homossexuais, as
prostitutas e os usuários de drogas injetáveis. Este fato fomenta o preconceito, o que explica,
mas não justifica, inúmeras normas e posturas discriminatórias ainda hoje existentes, entre elas
as que serão discutidas neste autos.
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concessão de licença para tratamento de saúde e de reforma militar, esta nos termos do art. 108,
inciso V, da Lei nº 6.880/808.
1952; (...)
c) reforma militar, na forma do disposto no art. 108, inciso V, da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980;
8 Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em conseqüência de: (...)
V - tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irreversível e
incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia
grave e outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina especializada.
9 Aprova as normas para avaliação da incapacidade decorrente de doenças especificadas em lei pelas Juntas
de Inspeção de Saúde da Marinha, do Exército, da Aeronáutica e do Hospital das Forças Armadas.
10 Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/Aids)
33.1. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/Aids) é a manifestação mais grave da infecção
pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), caracterizando-se por apresentar uma severa
imunodeficiência, manifesta no aparecimento de doenças oportunistas.
(...)
35. Normas de Procedimento das Juntas de Inspeção de Saúde – SIDA/Aids
35.1. Os portadores assintomáticos ou em fase de linfoadenopatia persistente generalizada (LPG), em
princípio e a critério de cada Força, poderão ser considerados aptos para o Serviço Ativo devendo,
porém, ser submetidos a acompanhamento médico especializado e a novas inspeções de saúde em períodos
não superiores a 12 (doze) meses.
35.2. Os inspecionandos classificados nas Categorias A2, B1 e B2, respeitando a finalidade da inspeção de
saúde e a natureza da sua atividade militar, se julgada de risco para o agravamento da sua condição de
saúde, em princípio e a critério de cada Força, deverão ser considerados incapazes temporariamente para o
Serviço Ativo e submetidos a acompanhamento médico especializado e a novas inspeções de saúde em
períodos não superiores a 180 (cento e oitenta) dias.
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35.3. Os inspecionandos classificados nas Categorias A2, B1 e B2, respeitando a finalidade da inspeção de
saúde e a natureza da sua atividade militar, se não julgada de alto risco para o agravamento da sua condição
de saúde, em princípio e a critério de cada Força, poderão ser considerados aptos para o Serviço (...)”
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em função dele.”11. Consoante adverte o mestre paulista, “é agredida a igualdade quando o fator
diferencial adotado para qualificar os atingidos pela regra não guarda relação de pertinência lógica com a
inclusão ou exclusão no benefício deferido ou com a inserção ou arredamento do gravame imposto”12.
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“No exame médico que consta de fls. 16, constatou-se que o Impetrante possuía
sorologia positiva para o HIV-1, que, sabemos, não ser a AIDS, traduzindo,
apenas, que o indivíduo é portador do vírus; mas ele pode não desenvolver aquela
síndrome. Evidentemente que ele é transmissor, mas não é dentro dos limites normais
de um ambiente de trabalho, somente através de meios que conhecemos e que não são
próprios do seu meio de trabalho, portanto, na verdade, o Impetrante não pode ser
considerado uma pessoa doente.
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“(a) da adequação, que exige que as medidas adotadas pelo Poder Público se mostrem
aptas a atingir os objetivos pretendidos; (b) da necessidade ou exigibilidade, que
impõe a verificação da inexistência de meio menos gravoso para atingimento dos fins
visados; e (c) da proporcionalidade em sentido estrito, que é a ponderação entre o ônus
imposto e o benefício trazido, para constatar se é justificável a interferência na esfera
dos direitos dos cidadãos”14
Com efeito, ela é inadequada para os fins a que se destina, pois não
preserva a saúde dos candidatos portadores assintomáticos de HIV que, não obstante tenham
logrado êxito nas demais etapas do concurso, não foram considerados “aptos” na avaliação
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médica. Ora, o afastamento dessas pessoas do concurso acarreta abalos psíquicos e emocionais
que, em regra, podem acabar se traduzindo em piora do seu estado de saúde.
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simbolismo. A Carta de 1988 – Constituição cidadã, nas palavras do saudoso Ulisses Guimarães
– representa um marco essencial na superação do autoritarismo e na restauração do Estado
Democrático de Direito, timbrado pela preocupação com a promoção dos direitos humanos e
da justiça social no país. Neste contexto, é natural que o constituinte tenha desejado tingir a sua
obra com um colorido humanista, consagrando a dignidade da pessoa humana como valor
nuclear da ordem constitucional que instaurou.
16 Cfr. Fábio Konder Comparato, “A Afirmação Histórica dos Direitos Fundamentais”, Saraiva, 2000, p. 20.
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razão dele. Nesse sentido, a pessoa humana deve ser concebida e tratada como valor-fonte do
ordenamento jurídico, como assevera Miguel Reale, sendo a defesa e promoção da sua
dignidade, em todas as suas dimensões, a tarefa primordial do Estado Democrático de Direito .
Com precisão, Ingo Starlet averbou:
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variadas manifestações.
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visão sobre o trabalho. Hoje, considera-se que ele é não apenas um dos fatores de produção
econômica, ao lado do capital, como também um direito fundamental do cidadão. Através do
trabalho, o indivíduo sem posses pode conquistar os meios necessários a uma vida digna.
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Do mesmo modo não pode a AIDS ser considerada causa jurídica de despedida do
emprego.
Por outro lado, cumpre à sociedade e ao Governo desenvolver programas que facilitem
o trabalho do aidético, pois, além de sempre oferecer um largo potencial de
produtividade, cujo aproveitamento é indispensável ao equilíbrio econômico social, o
doente necessita de ser e de sentir-se útil, para poder carregar com resignação o seu
estigma”.18
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uma carreira”, é extremamente “... doloroso o fim de uma carreira pela presença de um vírus que pode
levar muitos anos para modificar algo no estado de saúde de uma pessoa. A morte civil é anunciada a partir do
resultado do exame e, consequentemente, neste cenário, da proibição do exercício das atividades profissionais e da
inviabilização do projeto de vida. Sob o argumento de preservação do vigor físico (e moral) da instituição,
padrões rígidos são construídos com o objetivo de proteção da saúde de um determinado grupo, sem levar em conta
o bem estar de todos os indivíduos.”
Este conceito envolve uma ‘senhoria’ sobre todo o processo informativo, desde a sua
obtenção por outros até seu uso ulterior. Diz-se assim que o direito à intimidade
concede um poder ao indivíduo para controlar a circulação de informações a seu
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respeito.”19
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definitivamente para o trabalho, ou que possuam doenças que não sejam consideradas
incapacitantes para um militar da ativa, tais como ocorre com os vírus da hepatite, sífilis, HPV,
dentre outros.
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considerarmos, ad argumentandum tantum, que tais requisitos poderiam ser determinados por
norma infra-legal, não há justificativa plausível para a escolha, a esmo, da altura mínima de
1,55m para mulheres e 1,60m para homens. Tais previsões não atendem a nenhuma finalidade
de interesse público, tampouco estão amparadas por qualquer razão de ordem técnica ou
científica a justificar a exclusão de candidatos que se encontrem na plenitude de suas
capacidades física, mental e intelectual, mas que não contam com a altura mínima determinada.
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21 Nelson Nery Jr., Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante. Editora Revista dos
Tribunais, 7ª ed., p. 1349.
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22 José Marcelo Menezes Vigliar. Tutela Jurisdicional Coletiva. Ed. Atlas, São Paulo: 2001, p. 184.
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24 Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr., Curso de Direito Processual Civil – Processo Coletivo, vol. IV,
Editora Jus Podivm: 2008, pp. 159-166.
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Nesse sentido, não se pode permitir que uma sentença determine que a
União deve parar com determinada prática ilegal no Distrito Federal, mas ainda pode
exercê-la nas outras 26 Unidades da Federação.
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25 Recurso Especial nº 293.407/SP - Banco Meridional S.A. x IDEC - Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar - 4ª
Turma - DJ 07.04.2003
26 Recurso Especial nº 253.589/SP - Banco Itaú S.A. x IDEC“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Rel. Min. Ruy
Rosado de Aguiar - 4ª Turma - DJ 18.03.2002.
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27 Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr., Curso de Direito Processual Civil – Processo Coletivo, vol. IV,
Editora Jus Podivm: 2008, pp. 159-166.
28 Rodolfo de Camargo Mancuso, Ação Civil Pública, 2002, p. 296, apud Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti
Jr., Curso de Direito Processual Civil – Processo Coletivo, vol. IV, Editora Jus Podivm: 2008, p. 165.
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aniquilamento da principal virtude de uma decisão coletiva, que é a eficácia erga omnes irrestrita.
Por todas essas razões, é que pugna o Ministério Público Federal pela
extensão dos efeitos da decisão a ser proferida na presente ação a todos os candidatos de
concursos públicos promovidos pelo Exército, garantindo-se, assim, efeitos nacionais à liminar
e à sentença que vierem a ser prolatadas.
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29 O próximo edital para oficiais do quadro complementar deverá, conforme cronograma constante da página
da Escola de Administração do Exército na internet, ser lançado no mês de junho próximo
(www.esaex.ensino.eb.br).
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bem como altura inferior a 1,60m (homens) e altura inferior a 1,55m (mulheres)30, todos
constantes da Portaria nº 41-DEP, de 17/05/2005, em todos os concursos para admissão
inicial ou aperfeiçoamento/promoção a postos do Exército abertos a partir do
ajuizamento desta ação, até o julgamento de mérito, sob pena de multa diária de R$
5.000,00 (cinco mil reais), em caso de descumprimento, nos termos do art. 273, do CPC c/c
arts. 11 e 12, da Lei nº 7347/85;
4. DOS PEDIDOS
30 Anexo A: itens 5, 14 e 15; Anexo B: itens 1.c, 2.a e 3.a; Anexo C: itens 1, 7 e 8
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cargos do Exército por motivo de saúde que não seja também uma causa de incapacidade
definitiva para o trabalho, quando aplicada aos militares da ativa31;
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