[…] Se por um lado, o conceito caminho indica uma distância a percorrer, por outro
lado o conceito poderá significar a viagem subjetiva percorrida nesse caminho, em
visita pelos diferentes painéis e ao interior profundo de cada um de nós. Uma viagem
interior com um ponto de partida, muito feliz, marcado pelo Happening da artista
plástica e professora Andreia Rebelo, ao desafiar os viajantes presentes para a um
novo olhar sobre a realidade.
É urgente romper com as práticas que ainda privilegiam um saber enciclopédico ( uma
cabeça cheia) transmitido pela voz única do professor angustiado por responder, o
melhor possível, a um programa curricular que não escolheu, mas que deve levar a
cabo com excelência.
Nesse sentido é preciso virar a educação para o exterior, para o mundo global,
desenvolvendo valências aplicáveis na resolução dos problemas da vida quotidiana,
pois não são apenas os conteúdos, em si, que formam uma “cabeça bem feita”.
Questão esta também fortemente problematizada nos projetos sobre Cidadania na Era
Digital na área das tecnologias digitais e da literacia da informação e dos media, no que
diz respeito às competências necessárias para a sociedade de conhecimento em que
vivemos. Uma sociedade onde é imprescindível ser capaz de aceder, de tratar e de
transformar a informação em conhecimento específico. Para isso não basta ter acesso
à internet, é preciso saber aproveitar as potencialidades que essas tecnologias nos
proporcionam. A literacia digital tornou-se uma competências-chave para a educação
do século XXI, tanto para o processo de aprendizagem dos alunos, aprendendo a
aprender, como para combater o risco de infoexclusão, quer por falta de acesso quer
por falta de competências básicas, ou ainda por questões de fidedignidade.
O diálogo entre estes conceitos invocaram pensadores como Delors (2003), Perrenoud
(2002), Carneiro (2003) que também atribuem à escola o desenvolvimento de
competências ou de aprendizagens fundamentais valorizando e desenvolvendo as
potencialidades de cada um para um melhor conhecimento de si próprio, num espaço
de autonomia e de responsabilidade pessoais, na realização de um destino comum. Só
nestas condições é que a pessoa poderá criticar, decidir e criar por si própria (Delors
2003). Em suma, “uma cabeça cheia”, onde apenas se acumulam os saberes não é “
uma cabeça bem feita” (cf. Morin 2002) por lhe faltarem os princípios de seleção e
organização que ligam os saberes e lhes dão sentido e por lhe faltar, deste modo, a
aptidão para tratar os problemas do quotidiano.
Isto implica que o professor seja capaz de ultrapassar a barreira da formação inicial,
que não o preparou para os novos papéis atribuídos à escola e que se liberte do
discurso de vitimização, inibidor de toda a ação, investindo na sua formação, mas no
sentido que é a do professor reflexivo num movimento de ir e vir entre a prática e a
teoria, para voltar à prática […].