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NOTAS REFLEXIVAS

[…] Se por um lado, o conceito caminho indica uma distância a percorrer, por outro
lado o conceito poderá significar a viagem subjetiva percorrida nesse caminho, em
visita pelos diferentes painéis e ao interior profundo de cada um de nós. Uma viagem
interior com um ponto de partida, muito feliz, marcado pelo Happening da artista
plástica e professora Andreia Rebelo, ao desafiar os viajantes presentes para a um
novo olhar sobre a realidade.

Neste itinerário os temas entraram em diálogo uns com os outros invocando e


partilhando conceitos nucleares das problemáticas vividas pelos diferentes atores
educativos na escola de hoje. Destacamos, aqui, aqueles que, a nosso ver, se
entrecruzaram muito significativamente. Neste contexto e tendo em vista a educação
para o século XXI, não a do futuro, mas a de um presente urgente, agrupámos esses
conceitos em três pares indissociáveis, saberes e competências, cidadania e ética e
formação e mudança, quer pelas relações de interdependência que se estabelecem
dentro de cada par quer pelas correlações entre uns e outros.

Relativamente aos saberes e competências, o primeiro passo será o desenvolvimento


de um pensamento complexo capaz de apreender os problemas globais e
fundamentais sem os fragmentar e isolar dentro das diferentes áreas do saber ou das
disciplinas. É preciso repensar a organização da escola e reorganizar o trabalho
docente[…].

É urgente romper com as práticas que ainda privilegiam um saber enciclopédico ( uma
cabeça cheia) transmitido pela voz única do professor angustiado por responder, o
melhor possível, a um programa curricular que não escolheu, mas que deve levar a
cabo com excelência.

Nesse sentido é preciso virar a educação para o exterior, para o mundo global,
desenvolvendo valências aplicáveis na resolução dos problemas da vida quotidiana,
pois não são apenas os conteúdos, em si, que formam uma “cabeça bem feita”.
Questão esta também fortemente problematizada nos projetos sobre Cidadania na Era
Digital na área das tecnologias digitais e da literacia da informação e dos media, no que
diz respeito às competências necessárias para a sociedade de conhecimento em que
vivemos. Uma sociedade onde é imprescindível ser capaz de aceder, de tratar e de
transformar a informação em conhecimento específico. Para isso não basta ter acesso
à internet, é preciso saber aproveitar as potencialidades que essas tecnologias nos
proporcionam. A literacia digital tornou-se uma competências-chave para a educação
do século XXI, tanto para o processo de aprendizagem dos alunos, aprendendo a
aprender, como para combater o risco de infoexclusão, quer por falta de acesso quer
por falta de competências básicas, ou ainda por questões de fidedignidade.

Verifica-se aqui uma forte interdependência entre as competências de literacia digital


e o exercício de cidadania, na era digital, devido ao papel importante que as
tecnologias desempenham na nossa sociedade. Essa relação trouxe ainda mais
responsabilidade à escola, no que diz respeito à literacia digital, pois se é evidente que
a internet desempenha um papel importante no exercício da cidadania, facilitando a
comunicação e a interação com os outros, permitindo a partilha, a colaboração e a
cooperação, possibilitando o cumprimento de deveres e direitos cívicos e a
participação em ações multiculturais; também é inequívoco que se não se
desenvolverem as competências de literacia digital inerentes ao exercício de cidadania,
poder-se-ão correr sérios riscos em termos sociais, morais e éticos. Os conceitos de
cidadania e ética nos contextos educativos remetem para a necessidade de se
aprender a condição humana, enquanto um todo uno, em que o físico, o biológico, o
cultural, o social e o histórico não se dissociam, mas constituem um todo complexo.
Regressamos aqui ao princípio essencial de unidade, novamente contraposto ao de
fragmentação. É preciso, para tal, ligar os saberes dispersos nas ciências naturais,
humanas, na literatura e na filosofia e procurar os laços indissolúveis entre as partes e
o todo que constituem o que é humano (cf. Morin, 2000). Neste âmbito, cabe à escola
possibilitar essa consciência de pertença à espécie humana com o que é próprio da
espécie, da sociedade e do indivíduo, numa relação de interdependência indissociável,
na demanda de uma cidadania terrestre planetária, munindo-se de novas
competências relacionais, comunicativas, argumentativas e éticas para partilhar o
mundo com os outros (cf. Carneiro, 2003).

O diálogo entre estes conceitos invocaram pensadores como Delors (2003), Perrenoud
(2002), Carneiro (2003) que também atribuem à escola o desenvolvimento de
competências ou de aprendizagens fundamentais valorizando e desenvolvendo as
potencialidades de cada um para um melhor conhecimento de si próprio, num espaço
de autonomia e de responsabilidade pessoais, na realização de um destino comum. Só
nestas condições é que a pessoa poderá criticar, decidir e criar por si própria (Delors
2003). Em suma, “uma cabeça cheia”, onde apenas se acumulam os saberes não é “
uma cabeça bem feita” (cf. Morin 2002) por lhe faltarem os princípios de seleção e
organização que ligam os saberes e lhes dão sentido e por lhe faltar, deste modo, a
aptidão para tratar os problemas do quotidiano.

Os projetos apresentados evidenciaram claramente os conceitos de competência, de


interdisciplinaridade, pluridisciplinaridade e o de transdisciplinaridade ajudando a
compreender como deslocar o foco das atenções dos conteúdos disciplinares, sem os
desvalorizar, para o desenvolvimento de projetos. Essa é a tarefa fundamental do
professor que muitas vezes está a formar para “profissões que ainda não existem” e
para “problemas novos que não vêm nos manuais”. Cabe ao professor a tarefa de
estimular projetos e fazer com que os alunos consigam articular os seus projetos
pessoais com os projetos desenvolvidos coletivamente.

Problematiza-se assim o conceito de mudança, que por si só já pressupõe a capacidade


de refletir sobre si próprio e sobre as práticas implementadas, tendo plena consciência
do que se faz, o que nem sempre é tão evidente tendo em conta que muitas das ações
levadas a cabo pelos professores fazem parte de rotinas profundamente enraizadas na
cultura docente. Não é fácil refletir sobre o carácter repetitivo das nossas ações,
porque ficam presas no inconsciente, e não é fácil refletir numa sociedade em que
tudo nos é exigido no imediato, quando a reflexão exige tempo. Vivemos uma dupla
temporalidade, o tempo das organizações que acelera os acontecimentos e o tempo
do homem comum e das suas ações incutidas por hábitos. Assim, a mudança não é
linear, implica que se conjuguem esforços com outros, que se estabeleçam parcerias,
sendo necessário ultrapassar o individualismo e promover o trabalho colaborativo em
verdadeiras equipas de trabalho, sem contudo anular o indispensável pensamento
individual, facilitador da reflexão e do pensamento interior. Neste sentido, é preciso
repensar os fins da educação, as representações da profissão, as conceções de
identidade docente, as aprendizagens, a relação com o saber e as próprias finalidades
da educação. Só assim será possível mudar as metodologias, participar em projetos de
reforma, integrar grupos de trabalho e mudar as suas práticas (Cf. Fullan 2003).

Isto implica que o professor seja capaz de ultrapassar a barreira da formação inicial,
que não o preparou para os novos papéis atribuídos à escola e que se liberte do
discurso de vitimização, inibidor de toda a ação, investindo na sua formação, mas no
sentido que é a do professor reflexivo num movimento de ir e vir entre a prática e a
teoria, para voltar à prática […].

CARNEIRO, R. (2003), Fundamentos da Educação e da Aprendizagem. 21 Ensaios para o


Século XXI, Vila Nova de Gaia, Fundação Manuel Leão.
DELORS, J. (ed), (2003), Educação, um Tesouro a Descobrir, Colecção Perspectivas
Actuais/Educação, Lisboa, Edições Asa.
FULLAN, M. (2003). Liderar numa Cultura de Mudança, Lisboa, Edições Asa.
PERRENOUD, et All. (2002), As competências para Ensinar no Século XXI, Brasil,
Artmed Editora.
MORIN, E. (2000), Les Sept Savoirs Nécessaires à l’éducation du Futur, Paris, Edition
du Seuil.
MORIN, E. (2002), Repensar a Reforma, Reformar o Pensamento - A Cabeça Bem feita,
tradução de Ana Paula de Viveiros, Lisboa, Instituto Piaget.

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