Francisco Hashimoto∗
A Psicologia do Trabalho tem trilhado um longo caminho em busca da definição de seu objeto
de estudo. Ela nasceu da necessidade de atender as demandas dos administradores de empresas que
buscavam estabelecer um controle sobre o comportamento humano no trabalho. Desde os primeiros
estudos voltados à fadiga dos trabalhadores até o seu auge com a aplicação dos testes psicológicos em
seleção de pessoal essa preocupação permeava os trabalhos dos psicólogos.
No entanto, podemos notar que atualmente a Psicologia do Trabalho tem apresentado em seu processo
de desenvolvimento duas perspectivas: uma voltada às questões da Administração de Recursos
Humanos e a outra, pela leitura da Psicologia Social e da Saúde Coletiva. (SATO, 2001, p.93)
Oferecer escuta para essas questões, concomitantemente à apreensão dos seus significados e a
sua associação com o mundo do trabalho, pareceu-nos um caminho para direcionar nosso trabalho. No
entanto, esse caminho também apresenta algumas dificuldades, mas sempre possíveis de serem
vencidas.
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Professor Assistente Doutor dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Psicologia da Unesp – Assis.
Anais do VI Semana de Psicologia da UEM: Subjetividade e Arte
Maringá-UEM 06/10/2004 à 08/10/2004
A trajetória da Psicanálise assumiu um caráter que tende a considerar a pesquisa com uma forte
tendência a remeter-se à análise individual, quatro vezes por semana, num divã, o que denomina-se de
setting terapêutico. No entanto, Freud foi, além disso, tal como revela Silva (1993, p.20):
Assim, uma outra justificativa quanto à escolha do referencial teórico refere-se a possibilidade
de trabalhar com a Psicanálise na categoria extramuros, tal como mostra Mezan (2002, p.428):
É essa escuta que nos interessa, ouvir a voz que expressa o sofrimento, da maneira como é
possível de ser trazida para o consciente, independente do local onde esse sentimento possa aparecer.
Anais do VI Semana de Psicologia da UEM: Subjetividade e Arte
Maringá-UEM 06/10/2004 à 08/10/2004
No entanto, todos os cuidados devem ser tomados para que essa voz possa aparecer, por meio de uma
relação de confiança e de compreensão dos objetivos do trabalho. Considerando que:
Desta forma podemos tomar como objetivo do trabalho, tendo como referência a Psicanálise,
compreender as vicissitudes que envolvem a relação homem e o contexto que o constrói e o envolve,
mais precisamente no mundo do trabalho. Tal como afirma Pellegrino (1987, p.201):
O trabalho representa a possibilidade de ser aceito e de ser incluído na sociedade humana, pois
ele funciona como elemento mediador desse processo. A criança deve receber todos os instrumentos
necessários para constituir-se como sujeito humano, preparando-se para identificar-se e inserir-se na
sociedade a qual pertence.
Assim, o trabalho é a forma pela qual o sujeito confirma a sua renúncia pulsional, por meio da
aceitação do princípio da realidade. E a sociedade precisa respeitar e preservar o trabalhador, para
poder também, ser respeitada e preservada. Caso contrário, pode ocorrer uma cisão no processo
identificatório, provocando comprometimentos no âmbito da saúde.
A troca tem uma função primordial no processo de constituição do sujeito, pois, ao oferecer, por
meio do trabalho, a competência e a renúncia pulsional, o indivíduo espera receber o mínimo
necessário para a preservação dos aspectos físicos e psíquicos. Caso essa troca não se efetive de forma
satisfatória, pode ocorrer uma ruptura ao nível inconsciente, com o Pacto Edípico. Isso significa uma
destruição do mundo interno.
Apresentamos alguns elementos para reflexão que possam contribuir para a construção do
objeto da Psicologia do Trabalho, tendo como referência a Psicanálise, ampliando as possibilidades de
ação do profissional da área.
Referências: