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Ant morphological diversity – a database for modeling the response of functional diversity to land use and climate change in the Amazon View project
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Resumo
Silva, Rogério R.; Silvestre, Rogério; Brandão, Carlos R. F.; Morini, Maria S. C.; Delabie,
Jacques H. C. Grupos tróficos e guildas em formigas poneromorfas. In: DELABIE, Jacques H. C. et al.
As formigas poneromorfas do Brasil. Ilhéus: Editus, 2015. p. 163-179.
Trophic groups and guilds of poneromorph smaller compartments called microguilds if a higher
ants - In tropical environments poneromorph ants number of variables is considered in classification
are an important component of the taxonomic and analyses. We use trophic position, foraging, nesting
functional diversity of local ant communities. In sites, behaviour and morphological traits to define
this chapter we present a functional classification seven poneromorph macroguilds: (1) small-size in
of poneromorph ants, reviewing the role of this the leaf-litter; (2) large-size epigaeic; (3) arboreal
group in the ecology of the Neotropical region. poneromorph species; (4) with long mandibles; (5)
A description of the guild structure based on an specialized and cryptic; (6) with legionary behavior;
evolutionary approach is presented, discussing the and (7) ectaheteromorph generalist predators
importance of functional and biological traits of (Ectatomminae; Heteroponerinae). Our proposed
poneromorph ants. To achieve this goal, we deal with scheme includes data on ecology, life history traits
conceptual aspects of guilds and functional groups, and morphology to delimit macroguilds and is
and also the multidimensional niche, followed by analogous to the functional trait approach. Use
a review of studies on functional organization of of this conceptual model allows a description of
ants in the Neotropics. Macroguilds are defined ant fauna organization in different areas of the
as a group of species that share general ecological Neotropical Region in an elaborate and appropriate
variables, such as foraging habits, nesting sites and format, enabling comparisons and predictions on
trophic position. Macroguilds can be divided into community structure to be made.
Conceituação de Nicho, Grupos Tróficos, espaços que não fazem parte do hipervolume (ge-
Guildas e Grupos Funcionais ometria e topologia do espaço) (BLONDER et al.,
2014). O uso de atributos funcionais das espécies
O termo nicho ecológico é de fundamen- pode ser especialmente adequado para a descrição
tal importância em ecologia porque se relaciona de modelos de nicho (KEARNEY et al., 2010).
a várias questões com impacto na estruturação de As múltiplas dimensões do nicho ecoló-
comunidades, incluindo uso de recursos, diversi- gico de uma espécie podem ser, de forma geral,
dade em uma escala macro-geográfica e muitos as- divididas em dois conjuntos: um componente
pectos que influenciam a composição e a estrutura trófico (relativo a recursos) e um componente
das comunidades (MCGILL et al., 2006). O con- ambiental (relativo a condições) (HUTCHIN-
ceito de nicho foi formalizado por George Evelyn SON, 1957; SOBERÓN; NAKAMURA, 2009;
Hutchinson (1957) como um espaço abstrato n- COLWELL; RANGEL, 2009; KEARNEY et al.,
dimensional com os eixos representados por vari- 2010). Um método para quantificar o componen-
áveis biológicas importantes (bióticas e abióticas) te trófico (recursos que animais usam) é através
e independentes (sendo o nicho definido como do uso de isótopos estáveis. A razão 15N/14N é
um hipervolume). Ainda que muitas modificações usada como marcador trófico porque essa relação
na ideia original tenham sido propostas (CHASE; aumenta em cerca de 3% a 5% a cada nível trófico;
LEIBOLD, 2003), as definições atuais representam assim a assinatura isotópica dos tecidos animais
o nicho por um espaço multidimensional (NEW- de consumidores é fortemente relacionado à die-
SOME et al., 2007; KEARNEY et al., 2010). Mais ta alimentar (NEWSOME et al., 2007; JACKSON
recentemente, avanços computacionais sugerem et al., 2011).
que o uso de estimadores kernel de densidade Grupos tróficos em formigas são comu-
multidimensional pode ser uma abordagem par- mente descritos como fungívoros (subdivididos
ticularmente apropriada para descrever o nicho. em herbívoros, se usam matéria vegetal fresca para
Tais estimadores quantificam o volume do nicho cultivo do fungo ou, detritívoros, se usam insetos
em um espaço n-dimensional, representando de mortos ou fezes de animais como substrato para
forma acurada áreas não ocupadas do espaço ou o fungo), ou carnívoros e onívoros (aqueles que
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participam de mais de um nível trófico) (KASPA- paralelos têm sido usados para descrever grupos
RI, 2001). Muitas espécies de solo utilizam ainda ecológicos de espécies, como grupos funcionais,
diásporos (sementes, frutos ou infrutescências) e tipos funcionais, síndrome adaptativa, liga, guilda
alguns frutos podem complementar o consumo de funcional, guildas operacionais, espécies tróficas,
lipídeos em poneromorfas primariamente carní- módulo, estratégia, grupo efeito, grupo resposta e
voras (PASSOS; OLIVEIRA, 2004). grupo ecológico (BLAUM et al., 2011; DE PAU-
Espécies arborícolas derivam frações signi- LA, 2013). A distinção entre esses termos não é
ficantes de nitrogênio da herbivoria e podem ser consistente, sendo utilizados por diferentes auto-
classificadas operacionalmente em dois grupos res para descrever diferentes grupos de espécies
funcionais: (1) forrageadores de exsudatos de He- organizadas de várias maneiras (PIANKA, 1980;
miptera trofobiontes (honeydew) e (2) forrageado- WILSON, 1999); além disso, são usados muitas
res de folhas, buscando continuamente na lâmina vezes como sinônimos de guilda (SIMBERLOFF;
foliar recursos dispersos como nectários extraflo- DAYAN, 1991).
rais, secreções de plantas, honeydew descartado, Wilson (1999) propõe dois tipos conceituais
secreções de fungos, matéria particulada como pó- de guildas: a guildas alfa e beta. A distinção básica
len e esporos de fungos, fezes de vertebrados, pre- é que as guildas beta são baseadas em classificações
sas e microorganismos (DAVIDSON et al., 2003; que usam condições ambientais ou fatores inde-
DAVIDSON, 2005). pendentes de competição (temperatura, umidade
O termo guilda é bastante antigo e tem relativa). No caso, espécies poderiam ser caracteri-
ampla gama de significados, tendo sido inspirado zadas como, por exemplo, árticas, termófilas, entre
pelo conceito medieval de um grupo de operários outros grupos. Guildas alfa são determinadas pelos
da mesma legião e para designar corporações de recursos que um organismo pode utilizar em seu
ofícios, como, por exemplo, a guilda de cavaleiros ambiente, diminuindo a quantidade disponível a
andantes e a guilda de donos de moinhos, sem outros organismos e originando potencial compe-
implicação de cooperação, mas com sobreposição tição (por exemplo, predadoras, nectarívoras, de-
de função. A palavra foi primeiramente usada tritívoras, onívoras). Portanto, as guildas beta são
por geógrafos e ecólogos de plantas como uma relacionadas a grupos de espécies com distribuição
tradução de “Gennossenschaften”, como na edição geográfica e outras características do ambiente liga-
inglesa de Schimper (1903), para designar quatro das ao conceito Grinneliano de nicho (GRINNELL,
grupos de plantas que dependem de outras plantas 1917). Por sua vez, as guildas alfa são definidas sen-
(lianas, epífitas, saprófitas e parasitas). su Root (1967) e Pianka (1980) como grupos de
Root (1967) foi o primeiro zoólogo a usar espécies que usam recursos de forma similar, rela-
este termo, redefinindo-o como “um grupo de es- cionado ao conceito Eltoniano de nicho (ELTON,
pécies que exploram as mesmas classes de recursos 1927). Esses dois modelos, Grinneliano e Eltoniano,
ambientais de maneira similar”, considerando-o são formas opostas de definição de nicho e de se
como “o mais evocativo e sucinto para grupos de enxergar a função de uma espécie no ecossistema,
espécies, que têm padrões semelhantes de explora- mas de certa forma estão relacionadas entre si.
ção de recursos”. Nesse sentido, o conjunto de guil- Ainda, podemos definir guildas em termos
das de uma comunidade seria moldado pelas adap- de amplitude do nível de tolerância fisiológica. Nos
tações a uma mesma classe de recursos e por com- ecossistemas, as populações ou comunidades são o
petição. Os elementos chaves para essa definição resultado de adaptações a um complexo de fatores
são: (1) que as espécies sejam sintópicas e (2) que a ambientais e biológicos ao longo da sua evolução.
similaridade entre as espécies seja descrita pelo uso Chamamos de guildas euripotentes aquelas forma-
dos recursos (e não pela taxonomia), sendo intera- das por espécies com uma tolerância ambiental de
ções competitivas especialmente importantes entre grande amplitude (como as espécies generalistas)
espécies da mesma guilda (WIENS, 1989). e guildas estenopotentes, formadas por espécies
O termo adquiriu múltiplos significados e que têm estreita amplitude de tolerância ambiental
foi usado para descrever grupos de espécies colo- (como as especialistas). De fato, estudos ecológi-
nizando ou invadindo uma nova área, para desig- cos empregando abordagem fisiológica e usando
nar um nível trófico, e para grupos de espécies ca- formigas como organismo modelo têm apontado
racterísticas de determinados hábitats ou estágios que o uso de atributos fisiológicos incluem nas
sucessionais. Além disso, vários outros termos análises um importante componente dos sistemas
Figura 13.1 – Ilustração do espaço morfo-funcional das formigas poneromorfas. O espaço contém
20 espécies, delimitadas em quatro guildas. Espécies não classificadas nas guildas (A, B, C ou
D) podem representar guildas monoespecíficas (especialização extrema) ou podem representar
uma guilda generalista dentro de um espaço morfo-funcional maior. Os limites do espaço são
determinados objetivamente por técnicas de classificação, mas também podem ser arbitrários de
acordo com o nível de análise. Guilda descreve similaridade no uso de recurso e competição sem
considerar processos ou funções; grupo funcional em ecologia animal se refere a espécies que
performam funções ou serviços ecossistêmicos sem qualquer relação com competição (Blondel
2003). Macroguildas são definidas como um grupo de espécies que compartilham variáveis
ecológicas gerais, como por exemplo, local de forrageamento, local de nidificação e nível trófico.
Macroguildas podem ser divididas em outros compartimentos se forem consideradas um número
maior de variáveis ecológicas na análise (o que depende da questão ecológica do trabalho).
166 | Rogério R. Silva, Rogério Silvestre, Carlos R. F. Brandão, Maria S. C. Morini, Jacques H. C. Delabie
A aplicação do conceito de guildas é con- Características biológicas, morfológicas e
siderada especialmente útil em estudos ecológi- funcionais de poneromorfas para sua
cos porque guildas agrupam organismos que têm classificação em guildas
significante sobreposição nos requerimentos do
nicho e compartilham recursos (JAKSIC, 1981; As formigas poneromorfas incluem repre-
PIANKA, 1980). Agrupar organismos em guildas sentantes de diversas subfamílias, distribuídas em
facilita a descrição de parte da estrutura das comu- dois grandes clados da história evolutiva de for-
nidades e pode ser ferramenta importante no deli- migas, (1) o clado Poneroide, representado por
neamento comparativo de diferentes comunidades Proceratiinae (133 espécies), Amblyoponinae (126
(GOTELLI; GRAVES, 1996). espécies), Ponerinae (1.295) e Paraponerinae (1 es-
A maioria dos estudos realizados até ago- pécie) e, (2) o clado Formicoide representado por
ra não utiliza métodos quantitativos para separar Heteroponerinae (24 espécies) e Ectatomminae
grupos de espécies com ecologia similar e a com- (263 espécies) (BRADY et al., 2006; FERNÁNDEZ;
preensão dos processos ecológicos envolvidos é, na ARIAS-PENNA, 2008).
melhor das hipóteses, parcial, focando apenas nos Poneromorfas são predadoras por excelên-
aspectos mais básicos das interações ecológicas, cia (às vezes são chamadas “Formigas Caçadoras”,
como as relações tróficas. Silvestre e colaboradores vide JIMÉNEZ et al., 2008), mas generalistas por
(2003) desenvolveram uma forma de categorização convergência, e sua diversidade está intimamen-
da comunidade de formigas na forma de guildas, te relacionada com a diversidade de outros gru-
utilizando para tal finalidade o maior número de pos de invertebrados terrestres. Apresentam uma
variáveis ecológicas possíveis de serem observadas imensa diversidade morfológica, comportamen-
em campo, como localização do ninho, período de tal e, em consequência, ecológica. Considerando
forrageamento, tipo de recrutamento, tamanho, a diversidade de formas em poneromorfas (ta-
agilidade, preferência alimentar, etc. As categorias manho, forma da mandíbula, esculturação, pro-
dentro de cada variável ecológica são utilizadas jeções, cor, pilosidade), a diversidade morfológica
para análise de agrupamento, onde as guildas são deste grupo pode representar uma significativa
reveladas por distância entre os agrupamentos. proporção do espaço morfológico da fauna de
Métodos objetivos de descrição dos agrupamentos formigas neotropicais. De forma semelhante, a
também podem ser utilizados (JAKSIC; MEDEL, intensa participação deste grupo de organismos
1990; FARIAS; JAKSIC, 2006). Silva e Brandão como predadores, visitantes de secreções açuca-
(2010) desenvolveram uma forma de organização radas na vegetação, na construção de ninhos no
funcional da comunidade de formigas a partir de solo, na serapilheira e na vegetação e na disper-
atributos morfológicos selecionados das espécies. são de frutos e galhos finos na serapilheira sugere
A utilização deste modelo de guildas na uma importante atuação em processos funcionais
análise de diferentes comunidades promove um dos ecossistemas.
avanço na interpretação funcional dos ecossiste- As espécies relativamente grandes (>1cm)
mas terrestres, uma vez que tais comparações têm coletam pequenos invertebrados como insetos,
sido feitas até agora baseando-se exclusivamente moluscos, crustáceos, diplópodes e anelídeos; as
em listas de espécies. Temos em mãos, agora, uma de tamanho médio (0,5 – 1 cm) capturam cupins
ferramenta que nos permite realizar comparações e larvas de coleópteros, e as pequenas (< 5mm)
entre os modelos estruturais de cada ambiente, re- capturam ovos de colêmbolos, estafilinídeos e
velando, desta forma, diferenças na ecologia das micro aracnídeos. Além de caçadoras, essas for-
comunidades observadas. Como a estrutura das migas também são capazes de visitar flores, ex-
guildas resulta da ação combinada de vários fato- plorar nectários extraflorais, como Ectatomma
res atuantes no sistema, a sua caracterização nos tuberculatum e E. brunneum (WEBER, 1946),
permite aprofundar os estudos relativos a quais obter honeydew de membracídeos, capturar óleos
compartimentos são influenciados pela atividade vegetais e resinas, visitar carcaças de vertebrados
de cada guilda. Com isso é possível averiguar as em estágios iniciais de decomposição, comer fru-
alterações da comunidade em função da modifi- tos podres, fungos em fezes de animais e no inte-
cação da composição das guildas presentes, indi- rior de colônias cultivadoras de fungos (Attini);
cando, desta maneira, os alicerces nos quais estão ainda, coletam toda sorte de insetos mortos após
sendo equilibradas as relações interespecíficas. uma chuva tropical.
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Tabela 13.I – Lista de atributos morfológicos, comportamentais ou biológicos que podem ser categorizados para delimitação das
macroguildas em poneromorfas. Observações: para formas de forrageamento ver Lanan (2014). Informações sobre parasitas sociais
extraídas de Hora et al. (2005) e Feitosa et al. (2008).
Atributos Caracterização
Categorias tróficas predadoras de invertebrados terrestres e pequenos
Carnívoras
vertebrados.
predominantemente associadas à presença de substâncias
Nectarívoras
açucaradas na vegetação.
Detritívoras coletam carcaças de animais mortos e fezes de vertebrados.
Onívoras utilizam dois ou mais recursos listados acima.
Local de forrageamento habitam ninhos de cupins ou associam-se a outros
Especialista de habitat
organismos dentro do solo.
Hipogeicas forrageiam nos interstícios da serapilheira.
Subterrâneos forrageiam exclusivamente no interior do solo.
Epigeicas forrageiam na superfície do solo ou acima da serapilheira.
Vegetação: herbáceas e
forrageiam em plantas do sub-bosque.
arbustivas
Vegetação: dossel forrageiam na vegetação que forma o dossel.
Localização do ninho Vegetação em partes vivas ou mortas de plantas, especialmente galhos.
Bromélia em epífitas (terrestres ou sobre a vegetação).
em troncos/galhos dispersos no chão, em processo de
Tronco/galho
decomposição.
Serapilheira exclusivamente nos interstícios da serapilheira.
Sob pedra sob pedras.
ninhos em produtos de invertebrados terrestres, como
Em material alóctone
conchas de gastrópodes.
Subterrâneo abaixo da camada superficial do solo.
Comportamental: modo patrulham uma porção do território da colônia escolhida
de forrageamento Patrulheiras
aleatoriamente em busca ativa de alimento.
Focais usam trilhas pré-definidas para procurar alimento.
movimentos lentos e comportamentos especializados para
Crípticas predar invertebrados na serapilheira (frequentemente associados
a coloração críptica e estruturas especiais para camuflagem).
espécies que forrageiam em colunas e que frequentemente
Nômades alteram a localização do acampamento temporário
(bivaque).
parasitas sociais conhecidas do gênero Ectatomma
apresentam “microgines” que concentram esforços
Parasitas reprodutivos na produção de rainhas e machos,
geneticamente distintos e reprodutivamente isolados de
seus hospedeiros.
Comportamental: modo Solitário buscam recurso alimentar de forma isolada, solitariamente.
de recrutamento após descobrir o recurso alimentar, retornam ao ninho e
Tandem running acompanham outra operária até a fonte (somente uma
operária é recrutada a cada vez).
pequeno número de operárias é recrutado até a fonte
Parcial
alimentar (de duas a dezenas de operárias).
grande proporção da população de forrageadoras é
Massivo
recrutada.
Velocidade (metros/ Tempo superior a 60 segundos para percorrer 1 m (em geral,
segundo): medida relativa Baixa
espécies hipogeicas, vivendo dentro da serapilheira).
das operárias forrageando Percorre 1 m entre 20 e 60 segundos. Operárias com
(estado normal, sem velocidade intermediária, chegando no recurso alimentar
estresse) Média
após o grupo que tem alta agilidade (muitas vezes espécies
dominantes, agressivas, com recrutamento massivo).
Percorre 1 m entre 10 e 20 segundos, aproximadamente.
Operárias com alta agilidade, chegando rapidamente
Alta no recurso alimentar (em geral, oportunistas, exploram
o recurso até a chegada das espécies comportalmente
dominantes).
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anfíbios e répteis e são capazes de predar espécies Heteroponera e Gnamptogenys vivem na serapi-
de tamanho pequeno desses grupos. lheira, mostrando hábitos diurnos e tímidos (por
exemplo, H. dolo; FEITOSA, 2011). Em especial,
3 Ectaheteromorfos predadores generalistas as espécies de Ectatomma são generalistas e opor-
tunamente saprófagas, forrageando no solo e em
Em função da sua posição filogenética, con- arbustos por artrópodes, anelídeos e restos orgâ-
sideramos Ectatomma, algumas Gnamptogenys nicos; coletam também excesso de exsudatos açu-
e algumas Heteroponera de tamanho médio (H. carados de membracídeos e outros Hemiptera, de
dentinodis, H. inca) a grande (H. dolo, H. mon- nectários extraflorais ou adquirem substâncias
ticola, H. robusta), predadoras generalistas, se- líquidas de frutos (ARIAS-PENNA, 2008). Dife-
paradas da guilda anterior. Algumas espécies de rentemente, E. opaciventre (Figura 13.3) parece
Figura 13.2. Poneríneos grandes predadores epigéicos solitários. Uma operária de Dinoponera
australis na entrada do ninho. Local: Fazenda Arco Íris, Serra da Bodoquena, MS (Foto: Paulo Robson
Figura
de Souza). 13.3. Ectaheteromorfos predadores generalistas: Ectatomma opaciventre
arrastando um indivíduo morto de Camponotus rufipes e a formiga Ectatomma planidens
(menor) tentando roubar o recurso alimentar (cleptoparasitismo). Local: Cerrado stricto
senso, Pantanal de Nhecolância, Corumbá, MS (Foto: Paulo Robson de Souza).
Figura 13.4. Neoponera villosa, poneromorfa com atividade arborícola, nidificando em uma árvore
morta. Local: Fazenda Califórnia, Serra da Bodoquena, MS (Foto: Paulo Robson de Souza).
Figura 13.4. Neoponera villosa, poneromorfa com atividade arbórea, nidificando em uma árvore
morta. Local: Fazenda Califórnia, Serra da Bodoquena, MS (Foto: Paulo Robson de Souza).
172 | Rogério R. Silva, Rogério Silvestre, Carlos R. F. Brandão, Maria S. C. Morini, Jacques H. C. Delabie
Figura 13.5. Poneromorfos com atividade arborícola: Paraponera clavata explorando
nectário floral de Pseudobombax (Malvaceae) de noite. Local: Cerrado da UFMS,
Campo Grande, MS (Foto: Paulo Robson de Souza).
Figura 13.5. Poneromorfos com atividade arbórea: Paraponera clavata explorando nectário floral de
Pseudobombax (Malvaceae) de noite. Local: Cerrado da UFMS, Campo Grande, MS (Foto: Paulo
Robson de Souza).
Figura 13.6. Uma operária de Ectatomma tuberculatum que exibe forrageamento
predominantemente na vegetação, explorando nectário floral. Local: Floresta ripária
do Rio Paraguai, Serra do Amolar, Pantanal, MS (Foto: Paulo Robson de Souza).
Figura 13.6. Uma operária de Ectatomma tuberculatum que exibe forrageamento predominantemente
na vegetação, explorando nectário floral. Local: Floresta ripária do Rio Paraguai, Serra do Amolar,
e H. panamensis (FEITOSA, 2011). Adicionamos
Pantanal, MS (Foto: Paulo Robson de Souza).
5 Poneríneos com mandíbulas longas
a esse grupo também Paraponera clavata (Figura
13.5) e E. tuberculatum (Figura 13.6) que exibem Odontomachus e algumas Anochetus formam
forrageamento predominantemente na vegetação, um grupo caracterizado pelo grande tamanho de
se alimentando de nectários. Algumas espécies de corpo e as mandíbulas lineares relativamente longas,
Hypoponera, Anochetus hohenbergiae (FEITOSA representando alguns dos maiores predadores do
et al., 2012), Odontomachus hastatus (CAMAR- solo e serapilheira. Reúne espécies predadoras
GO; OLIVEIRA, 2012) e Anochetus mayri (LON- equipadas com mandíbulas que apresentam
GINO, 2010), por exemplo, exploram a interface movimento de fechamento extremamente rápido,
raiz-vegetação de epífitas arbóreas. chamadas de mandíbulas armadilha, adaptadas
174 | Rogério R. Silva, Rogério Silvestre, Carlos R. F. Brandão, Maria S. C. Morini, Jacques H. C. Delabie
de espécies por área amostrada e por um número para os fluxos de energia e biomassa nos sistemas
relativamente alto de espécies representadas por ecológicos; quantificar e descrever a relação en-
poucos indivíduos, principalmente quando são tre atributos morfológicos-fisiológicos e o papel
utilizadas técnicas de amostragem como extratores funcional das formigas no diferentes ecossistemas
Winkler, pitfall, iscas e coletas ativas qualitativas. O pode ser fundamental para a biologia da conser-
impacto das populações de poneromorfas na es- vação; considerar a estrutura da comunidade em
trutura da comunidade ainda é pouco avaliado e guildas é uma importante ferramenta para atingir
poucos estudos adotam abordagens que permitam este objetivo.
esta avaliação, como o que foi verificado para P.
striata e Odontomachus chelifer que produzem um Referências
importante aporte na produção de sementes de
árvores de florestas pluviais devido à alta concen- ARIAS-PENNA, T. M. Subfamilia Ectatomminae.
tração de nutrientes ao redor do ninho (PASSOS; In: JIMÉNEZ, E.; FERNÁNDEZ, F.; ARIAS, T. M.;
OLIVEIRA, 2002). LOZANO-ZAMBRANO, F. H. (Eds). Sistematica,
Biogeografia y Conservación de las Hormigas
Deve-se aprimorar a classificação da co-
Cazadoras de Colombia. Instituto Alexander von
munidade em guildas nos estudos de ecologia Humboldt, Bogota, 2008, p. 53-107.
evolutiva e biogeográfica, para que a abordagem
funcional de ecossistemas não seja feita de forma BARONI URBANI, C.; DE ANDRADE, M. L. The
superficial. A presente proposta integra dados so- Ant Genus Proceratium in the Extant and Fossil
bre grupos tróficos (carnívoras, nectarívoras, de- Record (Hymenoptera: Formicidae). Torino:
tritívoras ou onívoras), síndromes comportamen- Museo Regionale di Scienze Naturali, 2003, 492 p.
tais (agressivas, subordinadas, oportunistas, ágeis (Monografie, 36).
ou parasitas), distribuição espacial no hábitat (ar-
BLAUM, N.; MOSNER, E.; SCHWAGER, M.;
borícolas, serapilheira, superfície e subterrâne- JELTSCH, F. How functional is functional?
as), forma de recrutamento (patrulheiras, focais, Ecological groupings in terrestrial animal ecology:
crípticas ou nômades), reprodutivas (monogíni- towards an animal functional type approach.
cas, políginicas, ergatoides, microgines e popula- Biodiversity and Conservation, London, v.20, p.
ções clones) e morfométricas (tamanho relativo 2333-2345, 2011.
de corpo, olhos e mandíbulas) para delimitar
macroguildas. O uso deste modelo conceitual BLONDEL, J. Guilds or functional groups: does it
matter? Oikos, Copenhagen, v. 100, p. 223-231,
permite também a delimitação de microguildas
2003.
em estudos locais de comunidades, descrevendo
de forma elaborada e adequada a organização da BLONDER, B.; LAMANNA, C.; VIOLLE, C.;
fauna de formigas em diferentes áreas da Região ENQUIST, B. J. The n-dimensional hypervolume.
Neotropical. Consideramos isto importante por- Global Ecology and Biogeography: A journal of
que pode ocorrer sobreposição entre espécies de Macroecology, Oxford, v. 23, p. 595-609, 2014.
macroguildas diferentes, determinada pelo ex-
BOLTON, B. 2003. Synopsis and Classification of
tenso repertório da biologia das formigas. Operá-
Formicidae. Gainesville: American Entomological
rias de muitas espécies de poneromorfas comuns
Institute. p. 1-370 (Memoirs of the American
nas florestas tropicais patrulham constantemente Entomological Institute, 71), 2003.
a área próxima ao ninho em busca de invertebra-
dos vivos ou mortos, frutos, fezes de vertebrados BRADY, S. G.; SCHULTZ, T. R.; FISHER, B. L.; WARD,
e substâncias açucaradas; há espécies que modi- P. S. Evaluating alternative hypotheses for the early
ficam o uso dos recursos ao longo do ano (RAI- evolution and diversification of ants. Proceedings
MUNDO et al., 2009). Análises de estruturação of the National Academy of Sciences of the United
morfológica sugerem certa sobreposição entre States of America, Washington, DC, v. 103, p. 18172-
18177, 2006.
algumas guildas (SILVA; BRANDÃO, 2010), mas
faltam estudos intra-guilda descrevendo padrões BRANDÃO, C. R. F.; DINIZ, J. L. M.; TOMOTAKE,
sazonais de uso dos recursos e eventuais mudan- M. E. Thaumatomyrmex strips millipedes for prey, a
ças de biologia trófica. novel predatory behaviour in ants and the first case of
Cada guilda tem sua importância dentro sympatry in the genus. Insectes Sociaux, Basel, v. 38, p.
das comunidades, em função da sua contribuição 335-344, 1991.
COGNI, R.; OLIVEIRA, P. S. Patterns in foraging and DELABIE, J. H. C.; DA ROCHA, W. D.; FEITOSA, R.
nesting ecology in the neotropical ant Gnamptogenys M.; DEVIENNE, P.; FRESNEAU, D. Gnamptogenys
moelleri (Formicidae, Ponerinae). Insectes Sociaux, concinna (F. Smith, 1858): nouvelles données sur sa
Basel, v. 51, p. 123-130, 2004. distribution et commentaires sur ce cas de gigantisme
dans le genre Gnamptogenys (Hymenoptera, Formicidae,
COLWELL, R. K.; RANGEL, T. F. Hutchinson’s duality: Ectatomminae). Bulletin de la Société entomologique
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