Departamento de Filosofia
Agosto de2016
Tema: Tendo em vista o significado de revolução para Hannah Arendt,
apresentado no livro On Revolution, discuta a diferença entre questão
social e liberdade.
Introdução
A autoridade
Hannah Arendt afirma que a idade moderna nos trouxe uma característica civilizacional
que até então jamais esteve presente em outra época na história da humanidade. A perda
da autoridade. Segundo Hannah Arendt, a autoridade se esfacelou na modernidade.
Mas o que seria autoridade?
Segundo Arendt tanto todos os regimes, governos, impérios e civilizações, desde a mais
antiga era e nos primórdios das primeiras civilizações até a pré-modernidade,
mantiveram a autoridade no seu corpo social. Autoridade seria a experiência autêntica e
inconteste de validação de um determinado poder governante perante todo a população
sob o seu julgo ou comando. Essa experiência foi o que manteve a unidade das grandes
civilizações por toda a história, mas para que ela fosse efetiva, segundo Arendt, era
necessária uma experiência de absoluto transcendente que a validasse. Assim, os Deuses
Romanos cumpriam esse papel na Roma Antiga, da mesma forma como nos impérios
medievais posteriores à queda do império Romano, era a ligação dos governantes,
imperadores e reis ao Deus cristão que garantia a sua autoridade perante a população
sob seu governo. Tanto os Deuses Romanos quanto o Deus Cristão eram imediatamente
associados aos governos e regimes, e isso garantia uma ideia de que o governo tinha
uma ligação com o absoluto e o transcendente.
Hannah Arendt afirma que isso se perdeu na modernidade. Que a modernidade
inaugurou uma forma de pensar as ações humanas e políticas desvinculadas da ética e
da moral das instituições religiosas, ligadas ao absoluto e ao transcendente, e assim, os
governos perderam esse caráter de absoluto, o que os deixava vulneráveis perante a
representação que o conjunto populacional fazia dos governantes. Eles não eram mais
os representantes de Deus na Terra, eles eram como que pessoas comuns, e a partir daí a
possibilidade de questionamento e tomada do poder pelas pessoas do povo passou a ser
possível, coisa inédita antes da modernidade.
Interessante notar que a autoridade pode ser tentar se reestabelecer de algumas formas,
entre elas a violência e a argumentação. Mas ambas são completamente diferente s da
experiência de autoridade no conceito inicial dado por Arendt. Só pelo fato de você
precisar do uso da violência para se fazer valer o poder e a condição politica ou mesmo
da necessidade de argumentação, mostra que há contraditórios. A autoridade para
Arendt é uma força de coesão que não é necessário a violência nem a argumentação. Ela
por si só já garantiria essa coesão social por seus representantes estarem vinculados ao
Absoluto transcendente.
Significado de revolução.
O termo revolução, em seu sentido original e astronômico dito por Copérnico, tem
como significado o movimento cíclico, regular e sistemático das estrelas, e que não
dependiam da ação do homem, eram movimentos irresistíveis. A palavra indica então
uma recorrência, um movimento cíclico, o que difere muito do seu significado
posteriormente atribuído dentro da politica, como sendo algo de inteiramente novo.
Vamos tentar desenvolver rapidamente como foi esse processo de evolução da palavra e
com isso tentar esclarecer mais o significado do termo revolução.
Originalmente na Politica, a palavra revolução, assim como o seu significado
astronômico, significou restauração da ordem anterior. Assim como os astros tem um
movimento ordenado estabelecido, a revolução foi entendida na Revolução Gloriosa da
Inglaterra como o reestabelecimento da monarquia.
Tanto na revolução Americana como na Francesa, a ideia original era essa mesma, de
ser apenas restaurações da ordem, reinstaurar a liberdade com as bênçãos de Deus, mas
as condições de autoridade e o curso dos acontecimentos no processo revolucionário
mostraram que algo de novo estava acontecendo, e os revolucionários foram percebendo
isso ao longo do processo. Conceitos como “Necessidade histórica” foram
desenvolvidos para dar conta de todo um processo fora de controle que acabou
acontecendo na Revolução Francesa, em que a questão social se tornou o paradigma
revolucionário.
Arendt, Hannah. On revolution. New York: Penguin, 1963.Da revolução. Trad. de Fernando
Dídimo Vieira. São Paulo: Editora Ática e UNB, 1990.
_____________. Entre o passado e o futuro. Trad. de Mauro Barbosa e outros. São Paulo:
Perspectiva, 2001.
Anotações de aula do curso de Ética e filosofia Política II, ministrada pela Professora Silvana
Ramos na FFLCH USP, 1º semestre 2016.