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INICIAÇÃO

ESPORTIVA

PROFESSOR
Dr. Rui Resende

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INICIAÇÃO ESPORTIVA

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


RESENDE, Rui.
Iniciação Esportiva. Rui Resende.
Maringá - PR.:Unicesumar, 2018.
168 p.
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Iniciação Esportiva . 2. Esporte na Escola. 3. Desporto. 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1661-1
CDD - 22ª Ed. 796
Impresso por: CIP - NBR 12899 - AACR/2

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor
Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio
Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia
Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção
de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima,
Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência
de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas,
Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo.
Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho,
Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual
Ariane Andrade Fabreti e Silvia Caroline Gonçalves, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock.

2
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10
com princípios éticos e profissionalismo, não maiores grupos educacionais do Brasil.
somente para oferecer uma educação de qualidade, A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão soluções inteligentes para as necessidades de todos.
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- Para continuar relevante, a instituição de educação
nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
e espiritual. coragem e compromisso com a qualidade. Por
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. do conhecimento, formando profissionais cidadãos
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais que contribuam para o desenvolvimento de uma
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos sociedade justa e solidária.
pelo MEC como uma instituição de excelência, com Vamos juntos!
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Kátia Solange Coelho


Janes Fidélis Tomelin Diretoria de Graduação
Pró-Reitor de Ensino de EAD
e Pós-graduação

Débora do Nascimento Leite Leonardo Spaine


Diretoria de Design Educacional Diretoria de Permanência

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está aplicando conceitos teóricos em situação de realidade,
iniciando um processo de transformação, pois quando de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou estes materiais têm como principal objetivo “provocar
profissional, nos transformamos e, consequentemente, uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
transformamos também a sociedade na qual estamos forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
inseridos. De que forma o fazemos? Criando em busca dos conhecimentos necessários para a sua
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes formação pessoal e profissional.
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. e construção do conhecimento deve ser apenas
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
este processo, pois conforme Freire (1981): “Ninguém Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar
desenvolvendo competências e habilidades, e com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica.
autor

Dr. Rui Resende


Possui Bacharelado em Educação Física e Desporto pela Universidade do Porto
(1988), graduação em Licenciatura em Educação Física e Desporto pela Uni-
versidade do Porto (1990), especialização em Profissionalização no Ensino da
Educação Física pela Escola Superior de Educação do Porto (1995), mestrado em
Alto Rendimento Desportivo pela Universidade do Porto (1996), doutorado em
Ciências da Atividade Física e do Desporto pela Universidade da Corunha (2009)
e aperfeiçoamento em Estudos Avançados em Ciências da Atividade Física e do
Desporto: Avances e pela Universidade da Corunha (2005).
Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e
publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir:
Link: <http://lattes.cnpq.br/5443241436070731>.
apresentação do material

INICIAÇÃO ESPORTIVA
Professor Dr. Rui Resende

O livro que se apresenta, denominado de Iniciação Esportiva, tem como grande


propósito constituir um objeto de referência para quem pretende iniciar uma
profissão relacionada à Educação Física e ao Esporte. No momento atual, de
grandes transformações políticas, econômicas e sociais, a sociedade exige que o
profissional que exerce a sua atividade na área da atividade física e esportiva tenha
uma preparação adequada, que seja uma pessoa culta, empenhada, e que, por via
disso, seja capaz de exercer com competência e proficiência esta profissão.
Considerando que a escola constitui o momento mais privilegiado para de-
senvolver a literatura relacionada à atividade física e ao esporte em particular,
abordou-se a forma como se poderá fazer a introdução do esporte na escola. Real-
çaram-se os contextos histórico-políticos pelos quais esta abordagem se fez sentir,
e perspectiva-se uma abordagem atualizada e mais apropriada aos seus propósitos.
A importância do esporte e a sua afirmação enquanto valor educativo são es-
camoteáveis. A sua abordagem educativa deve privilegiar a integração de todos, e
a prática de formas jogadas, como preponderante fator motivacional.
A evidência com a qual o esporte se manifesta na sociedade moderna deve ser
investigada pelos seus atores, nomeadamente, os treinadores. Parece uma evidência
aceitar que o esporte de elevado rendimento continuará a manifestar-se como um
espetáculo onde o surgimento de novos heróis e a consequente mercantilização
serão uma realidade. Paralelamente a este fenômeno, o esporte de participação
poderá ser uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e da sociedade como
um todo, pois tem todos os utensílios para fazer emergir excelentes qualidades
humanas, e estas, por sua vez, repercutirem na sociedade como um todo. Como
exemplos que ilustram esta demanda na promoção da saúde pública, apontamos
o esporte como fator de combate à obesidade e às drogas e com grande impacto
na inclusão social.
Destaca-se, igualmente, a importância de conhecer a origem do esporte e da
figura do treinador para compreender como decorreu a sua evolução e, assim,
perspectivar o futuro deste profissional, que se pretende digno e respeitado, porque
também deverá ser altamente qualificado. Por isso, faz todo o sentido perspectivar
os conhecimentos e as competências necessárias para desempenhar esta função
com eficácia. A forma como ele adequa as suas competências ao desenvolvimento
do atleta é o ponto essencial da atuação do treinador.
Os diferentes contextos de aplicação da competência do treinador (esporte de
rendimento ou de participação) devem manifestar-se de forma a levar em conta o
desenvolvimento positivo dos jovens e manifestar de forma intencional o desenvol-
vimento de competências de vida para além das esportivas. Para alcançar este fim,
é fundamental contar com o apoio da família que, como agente primário da sua
inserção no esporte, deve ser aliciada a se comprometer com o desenvolvimento
integral do jovem. O clube esportivo e o treinador devem, consequentemente,
empregar esforços e promover iniciativas que contribuam para este efeito. O papel
diferenciador que o treinador pode proporcionar, nomeadamente, com a reali-
zação de informação qualificada referente ao atleta (ficha do atleta) no processo
de treino, pode constituir uma forma de interação com os pais e demonstrar, de
forma evidente, a qualidade do trabalho desenvolvido.
Materializando todas as concepções anteriores, o treinador deve ser capaz de
criar uma filosofia de treino adequada aos seus valores e aos do clube que repre-
senta, materializando-os em atitudes e comportamentos no decurso do treino e
da competição. Neste sentido, apontam-se sugestões para percorrer este caminho
pedagógico.
A planificação do trabalho a ser efetuado é uma ferramenta essencial para que
o treinador conduza um processo de treino. O esforço em controlar a globalidade
de todo o processo de treino permite adequar os seus propósitos e refletir de forma
mais aprofundada sobre toda a atividade desenvolvida. As planilhas que se apre-
sentam pretendem contribuir para que seja permitido ao treinador desenvolver,
dentro do seu contexto específico, um trabalho com maior rigor e profissionalismo.
sum ário

UNIDADE I UNIDADE IV
ESPORTE NA ESCOLA EVOLUÇÃO POSITIVA ATRAVÉS DO ESPORTE
14 Contextos da Educação Física 106 Treino de Jovens Atletas para uma Evolução
Positiva por Meio do Esporte
18 O Esporte como Conteúdo de Ensino nas
Aulas de Educação Física 110 Impacto do Esporte nas Competências de
Vida
22 Modelos de Ensino do Esporte – TGfU
114 Desenvolvimento Positivo por Meio do Es-
28 Modelos de Educação Esportiva – Sport
porte: Papel dos Treinadores
Education
120 Desenvolvimento Positivo por Meio do Es-
31 Considerações finais
porte: Papel da Família
36 Referências
126 Considerações finais
38 Gabarito
132 Referências
135 Gabarito
UNIDADE II
O DESPORTO NO SÉCULO XXI
UNIDADE V
44 Caracterização do Esporte no Século XXI
PREPARAR E PLANEJAR A INTERVENÇÃO DO TREINADOR
48 Esporte Potenciador da Saúde das Populações
140 Filosofia do Treinador
52 Os Clubes Esportivos Modernos
146 Planificação Anual Periodização
58 Contexto Histórico da Intervenção do Treinador
152 Plano Semanal Microciclo
62 Considerações finais
158 Unidade de Treino
68 Referências
162 Considerações finais
69 Gabarito
167 Referências
167 Gabarito
UNIDADE III
CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS DO TREINADOR 168 Conclusão geral

74 Conhecimentos do Treinador
78 Competências do Treinador
82 Domínios de Desenvolvimento dos Atletas
86 Caracterização do Esporte Juvenil
92 Considerações finais
98 Referências
100 Gabarito
ESPORTE NA ESCOLA

Professor Dr. Rui Resende

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Contextos da Educação Física
• O esporte como conteúdo de ensino nas aulas de Educação
Física
• Modelos de ensino do esporte - TGfU
• Modelos de educação esportiva - Sport Education

Objetivos de Aprendizagem
• Reconhecer os contextos e a evolução da Educação Física.
• Identificar as razões pelas quais o esporte constitui matéria
curricular da Educação Física.
• Verificar os conteúdos da proposta de modelo de ensino
do esporte – TGfU.
• Estudar os conteúdos da proposta de modelo de ensino do
esporte – Sport Education.
unidade

I
INTRODUÇÃO

O
livro Iniciação Esportiva inicia-se por uma abordagem à Edu-
cação Física (EF). A razão pela qual se faz esta incursão ganha
pertinência pelo fato de o sistema educacional brasileiro ter
como incumbência, na sua matriz curricular, lecionar o es-
porte. Justifica-se, então, enquadrar historicamente a evolução desta dis-
ciplina relacionando-a com o esporte, pois ainda são evidentes as tensões
subjacentes à sua abordagem nos espaços escolar e não escolar.
A pertinência advém de que, por meio da EF, o esporte chega a toda a
população como conteúdo de ensino. Constitui um processo pedagógico
que, se devidamente enquadrado, possibilitará a valorização dos alunos
do ponto de vista humanista, fomentando a sua opção por um estilo de
vida ativo quando eles saírem do sistema de ensino. Legitima-se o ensino
do esporte pelo seu valor intrínseco, pois implica orientação e compro-
metimento, apela ao esforço, à persistência e à resiliência, para além da
competência e do resultado. Contudo, os métodos de ensino tradicionais
têm sido questionados quanto à sua eficácia.
As principais criticas provêm do fomento à exclusão pela elitização da
participação e de não corresponder aos anseios dos alunos por se funda-
mentar no ensino das técnicas em detrimento do jogo.
Os modelos de ensino do esporte ilustram novas possibilidades de
ensino e também têm o propósito de oferecer novas ferramentas didáti-
cas aos educadores no intuito de melhorar a sua intervenção pedagógica.
O modelo do ensino do jogo para a sua compreensão deu novos sig-
nificados pedagógicos ao ensino do esporte, inspirado em uma visão
construtivista centrada no aluno. O ensino estratégico e tático com a uti-
lização de jogos reduzidos e a transferibilidade entre modalidades afins
constitui o cerne da sua filosofia. O modelo de educação esportiva consti-
tui uma abordagem profundamente diferenciadora pela noção de ensinar
o esporte em todos as suas competências. Assim, o aluno deverá passar
por todos os papéis e atribuições que perpassam a competição esportiva.
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Contextos da
Educação Física

Para quem tem como vocação, ou interesse, vir a O termo EF é usado para identificar a área cur-
ensinar conteúdos relacionados com a atividade fí- ricular correspondente aos anos de escolaridade das
sica e esportiva, deve ter alguma consciência sobre crianças e dos jovens, tendo como propósito desen-
as determinantes que precederam a sua atualidade volver competências e habilidades em diferentes
e a forma como ela, por meio da EF, é abordada no atividades motoras (RESENDE; LIMA, 2016). Deve
meio educativo. constituir-se como a base de um conhecimento da
Vamos, então, dedicar alguma atenção às ra- atividade física e esportiva, fomentando nos alunos
zões que levaram à incorporação do esporte nos a procura por um estilo de vida ativo, de forma que
currículos da EF. Contudo, antes de abordarmos o este venha a repercutir no futuro enquanto adultos.
esporte na escola, importa observarmos um pouco Aliás, é interessante salientar que as percepções fí-
a EF, que é a disciplina que assume o ensino formal sicas formadas durante a adolescência são, muitas
do esporte na escola. vezes, determinantes no comprometimento com os

14
EDUCAÇÃO FÍSICA

níveis de atividade física subsequentes. Neste senti- Tendo em conta a saúde pública e a cultura espor-
do, os contributos que a EF pode providenciar e pro- tiva, a EF deve constituir-se como uma defesa na
mover no aluno são inúmeros: o respeito pelo corpo, promoção de um estilo de vida saudável. Para isto,
o seu e o dos outros; melhoria da autoestima e da é determinante que as atividades aí propostas refor-
autoconfiança; desenvolvimento de competências cem os sentimentos de competência, estimulando a
sociais e cognitivas que, por sua vez, podem refle- realização da atividade física de forma prazerosa.
tir-se em um melhor desempenho acadêmico, como A EF escolar brasileira possui uma trajetória que
muitos estudos apontam (PERALTA et al., 2014). principia em 1851 (com a reforma Couto Ferraz),
Não se pode deixar de referir, porém, que, devi- inicialmente denominada Ginástica, com a sua inclu-
do a inabilidades várias, a EF pode provocar “alergia” são no rol de disciplinas operacionalizadas na esco-
à atividade física e esportiva por parte dos jovens e, la e com o propósito da prática de exercícios físicos.
assim, condicionar a sua adesão, no futuro, ao pro- Somente em 1882, com Rui Barbosa e a sua reforma
clamado e desejado estilo de vida saudável. Este as- do ensino primário, secundário e superior, é que se
pecto não deve ser escamoteado, pois a simples prá- atribui importância à ginástica como elemento indis-
tica da EF, com todas as virtudes que se enunciam pensável para a formação integral da juventude. Des-
e lhe reconhecem, podem não ser suficientes para de então, vem agregando elementos históricos, mar-
alcançar os objetivos a que ela se propõe. Neste con- cos sociais com conflitos e conquistas, por exemplo,
texto, o professor e profissional de EF é um ator de a sua consolidação enquanto área de conhecimento.
importância crucial, pois o seu empenho na forma Sofreu, desde a sua inclusão, influências das institui-
como leciona fará toda a diferença na perceção que ções onde era lecionada, nomeadamente de caráter
o aluno terá sobre a importância da atividade física militar e médico (MARTINS; PAIXÃO, 2014).
para toda a sua vida. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional, ou LDB (BRASIL, 1996), a EF é componente
curricular obrigatório para a Educação Básica (Edu-
cação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mé-
dio). As diretrizes curriculares reforçam a ideia de
se estabelecer o desenvolvimento pleno e gradual do
aluno, preparando-o para a cidadania em articula-
ção com todos os componentes curriculares, privile-
giando o desenvolvimento humano.
A forma como a EF se apresenta atualmente di-
fere das razões que a fizeram surgir na generalidade
dos sistemas educativos contemporâneos. Conside-
rando o Brasil, inicialmente (1889-1930), sob uma
ótica médica e higienista, os governantes passaram
Figura 1 – As aulas de Educação Física em 1916, exercícios de postura e
equilíbrio só com mulheres
a prestar mais atenção à saúde dos habitantes nas ci-
Fonte: Wikipédia (2015, on-line)1. dades. Pretendia-se a formação de indivíduos fortes,

15
INICIAÇÃO ESPORTIVA

saudáveis e propensos à aderência às atividades boas perior a 40% (HARDMAN, 2008). Estes dados re-
em detrimento de maus hábitos. Curiosamente, as- forçam a importância que deve ser dada ao ensino
siste-se, atualmente, a uma preocupação semelhante desta matéria em contexto escolar.
com o combate à obesidade e ao sedentarismo. Pos- Não pretendendo aflorar os contornos políticos
teriormente (1930-1945), tal preocupação veio com que levam à discussão da importância desta hegemo-
uma perspectiva militarista, a qual se pretendia que nia, consideramos, contudo, que o esporte deve ter um
os jovens estivessem fisicamente aptos e, assim, me- lugar importante na formação das crianças e dos jo-
lhor preparados para as obrigações militares. Em se- vens. Os jogos esportivos “são atraentes pela dinâmica
guida, veio um período considerado pedagogicista que exploram e as disputas que desencadeiam, enal-
(1945-1965), em que a EF era proposta como forma- tecendo o incerto (pela presença de um adversário),
ção do indivíduo. A EF competitivista (1964-1985), a tomada de decisão e a inevitável solidariedade para
uma visão do regime militar de então, enaltece os es- a conquista de um objetivo comum” (RESENDE; SÁ;
portes com competições oficiais e o culto do atleta- LIMA, 2017, p. 12). De acordo com os autores citados,
-herói. Esta fase, em que existe uma apropriação da o esporte tem a possibilidade de transportar mais-va-
EF pelo regime, ainda condiciona, em grande me- lias pedagógicas para o espaço educativo, potenciado-
dida, a forma como o esporte é visto hoje no Brasil. ras de um desenvolvimento positivo dos jovens.
Apesar de tudo, o esporte, nos dias atuais, surge Os resultados positivos da participação esportiva
como parte integral do programa curricular da EF. na inclusão social, na saúde mental e física e na apa-
Acrescentamos que o vigor com que o faz advém dos rente melhoria cognitiva e acadêmica dos jovens (BAI-
desenvolvimentos sociais das últimas décadas, que LEY, 2005) deve constituir um forte argumento para
promoveram o esporte à escala mundial, transfor- perspectivar um ensino esportivo de qualidade. A pró-
mando-o em um produto extremamente midiático e pria ONU (2003), enaltece o esporte como inclusivo e
com grande impacto comercial. promotor da cidadania, contribuindo para a economia
Tal como já referimos, a inclusão do esporte e fomentando um ambiente limpo e saudável.
nas aulas de EF ainda é considerado controverso
por muitos, por via do peso político e ideológico SAIBA MAIS
que contempla (MARTINS; PAIXÃO, 2014). Com
efeito, a tentativa de reproduzir, na escola, o espor-
A EF, no Brasil, passou por momentos muito
te-espetáculo, ou servir-se da escola como viveiro de conturbados pela apropriação e pela carga
futuros alunos “atletas”, enfatizando a competição, a ideológica que lhe foi associada. A este pro-
vitória e, como consequência, a exclusão dos menos pósito e acerca da História brasileira da EF,
sugerimos a leitura do artigo “A História da
habilidosos, levou a sua base componente educativa Educação Física Escolar no Brasil”. Para saber
e formadora ao enfraquecimento. mais, acesse: <http://www.efdeportes.com/
A inserção do esporte na escola constitui uma efd124/a-historia-da-educacao-fisica-esco-
lar-no-brasil.htm>.
realidade hegemônica no Brasil (FERREIRA; LU-
CENA, 2006), mas também no mundo, com um Fonte: o autor.

tempo destinado à sua prática nas aulas de EF su-

16
EDUCAÇÃO FÍSICA

17
INICIAÇÃO ESPORTIVA

O Esporte como Conteúdo


de Ensino nas Aulas de
Educação Física

A EF é uma área curricular que se preocupa com o para aprender”. Centra-se no ensino de habilidades
desenvolvimento dos alunos em termos de compe- que envolvem a participação física, com o conhe-
tência física e autoconfiança, de forma a usar estas cimento do próprio corpo e a sua capacidade de
habilidades em um leque alargado de atividades. movimento. Contudo, tem igualmente incluído, no
Deve preocupar-se, em consequência, em ensinar seu âmago, valores educacionais, como habilidades
os alunos a “aprender a mover-se” e a “mover-se sociais e éticas.

18
EDUCAÇÃO FÍSICA

A legitimação do ensino do esporte, na escola A questão de como ensinar os jogos esportivos consti-
e fora dela, advém do seu próprio valor enquanto tui um assunto controverso e tem sido objeto de grande
potencial de desenvolvimento do ser humano, por curiosidade acadêmica. As novas correntes pedagógi-
meio de uma prática que, apesar de lúdica e praze- cas sustentadas nas teorias da aprendizagem cognitiva
rosa, exige o cumprimento de regras pré-estabele- e construtivista, assim como a teoria da aprendizagem
cidas e, por isto, implica organização. Desta forma, situada, são consideradas inovadoras no ensino dos
ensinar um jogo esportivo implica a orientação e esportes (ROBLES et al., 2013) e têm dado destaque
o comprometimento com um objetivo, exigindo ao conceito de modelo em detrimento do método.
esforço e persistência, qualidade de desempenho Os modelos curriculares são desenvolvidos para
e resultado. Estas virtudes levam ao espaço educa- ajudar os alunos a participar de uma forma equitativa,
tivo mais-valias pedagógicas que sustentam a sua desafiando o seu raciocínio para além da replicação de
importância curricular. técnicas ou de habilidades. A este propósito, Metzeler
O ensino dos esportes na escola, todavia, por (2005) refere que o modelo:
meio dos métodos tradicionais e analítico, tem sido • Fornece um plano global e uma abordagem
objeto de críticas por não corresponder nem às ex- coerentes para ensinar e aprender.
pectativas dos alunos, nem aos objetivos que perse- • Clarifica as prioridades nos diferentes domí-
gue. O foco de um ensino centrado em um método nios de aprendizagem e de suas interações.
de aquisição das técnicas específicas de cada um dos • Fornece uma ideia central para o ensino.
esportes, desligada do contexto real do jogo, impli- • Permite ao professor e aos alunos entenderem
o que está acontecendo e o que virá a seguir.
ca uma escassa aquisição de competência por parte
• Fornece uma estrutura teórica unificada.
dos alunos em resolver as situações reais que o jogo
• Apoia-se na investigação.
levanta. Isto, aliado à exaltação de uma mestria téc-
• Fornece uma linguagem técnica aos professores.
nica, traz desmotivação aos alunos pela falta de sen-
• Permite que a relação entre instrução e apren-
tido que leva à sua aprendizagem do jogo.
dizagem seja verificável.
• Permite uma avaliação mais válida da
aprendizagem.
• Facilita a tomada de decisão do professor den-
tro de uma estrutura de trabalho conhecida.

A importância de conceber o esporte e, mais particu-


larmente, os jogos esportivos coletivos desta forma,
permite ensinar o jogo de uma maneira modificada,
mantendo a sua essência, mas reduzindo a sua comple-
xidade e possibilitando aos alunos compreender os seus
elementos-chave (ALMOND, 2015). Usando as formas
de jogo reduzido, permite-se um estilo de ensino que
Marco Saroldi / Shutterstock.com se pode apelidar de descoberta guiada, pois, por meio

19
INICIAÇÃO ESPORTIVA

da colocação do aluno em uma situação de jogo de en- gos tempos de espera para entrar em atividade. Este
frentamento do adversário, ele é estimulado a encon- tipo de abordagem implica o professor assumir uma
trar as melhores soluções para resolver os problemas intervenção que, para além da liberdade de deixar
que o jogo induz. Assim, o aluno alcança um nível de jogar, ajude o aluno a encontrar soluções, comuni-
compreensão consciente e age intencionalmente sobre cando de forma positiva e estimuladora uma reação
a tática do jogo (GRAÇA; MESQUITA, 2007). à prestação do aluno.
A prática de jogos reduzidos oferece, igualmente, Neste contexto, e de acordo com Tani (2002), as
a vantagem de permitir aos professores integrar o en- principais caraterísticas do esporte enquanto con-
sino de modalidades similares, pois a transferibilidade teúdo da EF devem:
entre elas é possível. Como exemplo, podemos citar: • Ser objetiva no que diz respeito ao rendimen-
to, implicando consideração pelas diferenças
[...] o popular jogo dos ‘10 passes’ em que se pre- individuais, nomeadamente, as caraterísticas
tende que uma equipa mantenha a posse de bola, físicas, psicológicas, sociais e culturais dos
ou a ‘bola ao capitão’, em que o objetivo, para além alunos. Deve também ter em consideração as
de manter a posse de bola, é efetuar uma progres- diferenças individuais quanto às expectativas
são no terreno de jogo tendo como objetivo fazer individuais, às aspirações e aos valores.
com que ela chegue a um colega de equipa que • Estabelecer metas de desempenho realistas,
está num espaço circunscrito no término do cam-
evitando, por um lado, a superestimulação e,
po adversário (RESENDE et al., 2017, p. 12).
por outro, a subestimulação.
• Deve visar a aprendizagem e, com isso, o co-
nhecimento esportivo.
• Necessita ter como preocupação abranger to-
dos os alunos, independentemente do sexo,
do seu nível de desenvolvimento motor e das
suas capacidades físicas.
• O processo deve ser objeto de avaliação, per-
mitindo fornecer indicações objetivas sobre o
progresso do aluno.
• Deve ter como alicerce que a sua dissemina-
ção constitui um patrimônio cultural da hu-
manidade.

A_Lesik / Shutterstock.com REFLITA

Idealizar o ensino do esporte desta forma tem como


De acordo com a sua própria experiência en-
grande objetivo fomentar a participação dos alunos quanto aluno(a), pondere sobre a razão pela
nas aulas de Educação Física, pois a motivação para qual o esporte pode desencorajar a prática
o jogo é muito mais entusiasmante do que a reali- de atividade física nos alunos de EF.

zação de exercícios analíticos que induzem a lon-

20
EDUCAÇÃO FÍSICA

21
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Modelos de Ensino
do Esporte – TGfU

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

Materializando os conceitos expostos, apresentamos Desta forma, sugere-se que, quando os professores
duas propostas de modelos de ensino do esporte que ajudam as crianças e os jovens a “entender” o jogo
têm sido alvo de bom acolhimento a nível interna- e reduzem a importância do ensino das técnicas de
cional, com destaque para os países anglo-saxôni- forma isolada, o divertimento e a satisfação com o
cos. O interesse da sua importância para o ensino jogo são abertos a todos, independentemente da sua
do esporte na escola, e na EF em particular, é o que habilidade.
pretende fazer a adesão ao esporte ser muito mais
significativa. Esses modelos têm igualmente desper- MODELO DE JOGO PARA A SUA COMPRE-
tado a curiosidade da comunidade científica, a qual ENSÃO – TGfU
tem produzido material empírico (fruto de pesqui-
sas com recurso a diferentes metodologias e em di- O modelo do ensino dos jogos para a sua compre-
ferentes sistemas de ensino) que dá sustento e incen- ensão (Teaching Games for Understanding - TGfU),
tiva a sua aplicação. proposto por Bunker e Thorpe (1982), teve um forte
São modelos cujo objetivo é empregar metodo- impacto na forma como se começou a encarar o en-
logias pedagógicas mais democráticas, providen- sino das modalidades esportivas. A um ensino tra-
ciando aos alunos experiências esportivas que real- dicional que iniciava a aprendizagem do jogo pelo
mente lhes permitam aprender a jogar bem e, com domínio das técnicas, os autores propuseram uma
isso, ter maior desfrute com a sua prática. Neste sen- forma de ensinar na qual o próprio jogo fosse a sua
tido, o conhecimento do jogo refere-se não somen- essência. Desta forma, promovia-se uma participa-
te à capacidade para executar habilidades motoras ção mais igualitária entre os estudantes, desafiando
complexas, mas também às decisões apropriadas do o entendimento do esporte para além das execuções
uso dessas habilidades no contexto do jogo. técnicas e habilidades respectivas.
Ambos os modelos rompem com as abordagens
mais tradicionais ao nível dos conteúdos, dos méto-
dos e das estratégias de ensino. Reconfiguram os pa-
péis e a responsabilidades de quem ensina e de quem
aprende, estabelecendo novos cenários de contextos
de instrução e aprendizagem.

Estes novos modelos surgem em oposição à


perspetiva tradicional de fragmentação do jogo
em ‘habilidades básicas’ e ao ensino das técni-
cas isoladas, onde é ignorada a complexidade e
a espontaneidade do jogo, para enfatizar a to-
mada de decisão e a capacidade de intervenção
em situações autênticas de prática em referên-
cia aos problemas impostos pelo jogo (MES-
QUITA; PEREIRA; GRAÇA, 2009, p. 945).

23
INICIAÇÃO ESPORTIVA

O ensino centrado no aluno, no qual este modelo Os seis passos para o ensino do TGfU pro-
se apoia, pretende proporcionar sucesso em uma postos por Bunker e Thorpe (1982) são os
grande variedade de jogos, explorando as técni- seguintes:
cas e táticas que lhes são comuns, como “o passar 1. Jogo.
e desmarcar”, “encontrar espaços vazios” ou “abrir 2. Apreciação do jogo.
linhas de passe”. Assim, o professor ou o treinador 3. Consciência tática.
centra o seu foco no ensinar a jogar ao invés de en- 4. Tomada de decisão.
sinar as técnicas específicas de cada modalidade. 5. Habilidade de execução.
Os alunos devem executar estratégias apropriadas 6. Performance em competição.
à complexidade do jogo e empregar tempo satisfa-
tório para jogar.
Quando se apresenta um jogo aos alunos, este deve
O foco pedagógico é uma abordagem que: ser adequado à sua idade e ao seu nível de experiên-
cia. Na prática, o professor desenha cenários de jogo
1. Representa jogos complexos de forma
em forma de puzzles (quebra-cabeça) que necessi-
simplificada.
tam ser resolvidos e que representam aquilo que o
2. Modifica os princípios de jogo de forma
a diminuir as suas exigências. aluno normalmente encontra no jogo.
3. Exagera procedimentos no sentido de A apreciação do jogo envolve o conhecimento
salientar determinados aspectos do das suas regras, que podem ser adaptadas em fun-
jogo que são importantes para a sua ção dos constrangimentos situacionais. A compre-
compreensão. ensão tática implica o aluno na consciencialização
dos problemas táticos que o jogo aporta e preconiza
o entendimento das táticas mais elementares. A to-
Uma das primeiras preocupações é evitar que o jogo mada de decisão incita o aluno a resolver questões
se torne uma obsessão, desta forma, colocando aos (o que fazer? Como fazer), atribuindo, desta forma,
alunos questões como: o que fazer? Quando fazer? E significado ao uso da técnica, em função dos pro-
não apenas como fazer? blemas táticos suscitados pelas ocorrências do jogo.
O contexto do jogo tem precedência sobre o en- A habilidade de execução procura dotar os alunos
sino das técnicas, assim, a escolha da forma do jogo de um maior domínio e também de uma maior efi-
é crucial e será determinante que este o qual foi se- cácia na execução das técnicas. Todas as fases ante-
lecionado não faça recurso de técnicas que impeçam riores se reúnem para se corporizar na consolidação
a sua realização. Consequentemente, deve permitir do jogo. O ciclo voltará a repetir-se, implicando o
aos alunos enfrentar de forma inteligente as situa- desenvolvimento de procedimentos cognitivos e
ções colocadas, interpretá-las, identificar uma possi- técnicos cada vez mais complexos, até atingir o jogo
bilidade de solução e, consequentemente, agir inten- formal. Contudo, é importante salientar que, apesar
cionalmente de acordo com os objetivos. do propósito ser o ensino em direção ao domínio do

24
EDUCAÇÃO FÍSICA

jogo formal, se este não for alcançado, não diminui debol possui um princípio similar à desmarcação no
em nada a importância das aprendizagens obtidas basquetebol.
pelos alunos no decorrer de todo o processo. O segundo princípio consiste na representação
do jogo (Game representation), no qual os professo-
res criam um desenvolvimento apropriado por meio
de cenários de jogo que proporcionem como usar
uma determinada habilidade ou solução tática den-
tro do jogo. Como exemplo, podemos ilustrar com o
jogo dos dez passes, já mencionado anteriormente.
O objetivo será a manutenção da posse de bola e
impedir que o adversário a conquiste.
O terceiro princípio, designado de exagero
(Exaggeration), implica que os professores defi-
nam um objetivo específico tendo como ponto de
partida o jogo formal, concebendo um outro jogo
que procure exagerar o conceito específico que es-
colheram anteriormente. Recorrendo novamente
ao jogo dos dez passes, coloca-se um constran-
gimento ao jogo, em que se penaliza com perda
de posse de bola se houver um passe devolvido a
quem lhe passou.
O último princípio, complexidade tática (Tacti-
cal complexity), assenta-se na premissa de que existe
um desenvolvimento progressivo de soluções táticas
que inclui as habilidades com bola e respectivos mo-
vimentos. Mais uma vez, por meio do mesmo jogo,
solicitar (até com ajuda de uma pontuação) formas
diferenciadas de passar a bola.
Estes passos metodológicos anteriormente referen- O modelo de ensino do jogo, para a sua com-
ciados estão subordinados a quatro princípios peda- preensão, não deve ser reduzido ao ensino de uma
gógicos. competência cognitiva ou tática, pois tem grande
O primeiro, chamado de amostragem (Sam- potencial de confirmar a humanidade da EF e do es-
pling), evidencia como a compreensão das soluções porte por meio das formas em que destaca a intera-
táticas, regras e habilidades permite a transferibili- ção humana e as dimensões afetivas dos jogos.
dade entre jogos similares ou da mesma categoria. A operacionalização do ensino desse modelo,
Significa que, por exemplo, a desmarcação no han- segundo Almond (2015), envolve:

25
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Entender o jogo:
• As regras do jogo e a forma como o podem influenciar.
• Estratégia, táticas e princípios de jogo.
• Os princípios de jogo dentro de uma partida reconhecendo a sua relevância
em situações específicas.
• Como trabalhar em equipe e para a equipe – fomentando a responsabilida-
de coletiva.
• Por que jogar desta forma ou daquela.
• Onde os próprios colegas estão e para onde eles são suscetíveis de se
movimentar.
• A forma e o fluxo do jogo.
• O papel e a responsabilidades individuais:
• No ataque e na defesa.
• Quando não tem a posse da bola.

Na sua essência, jogar pressupõe esforçar-se pela obtenção da vitória, o professor deve re-
fletir sobre a melhor estratégia para desenvolver o aluno neste particular.

26
EDUCAÇÃO FÍSICA

Noções básicas sobre o jogo: a necessida-


de de aprender a vencer os adversários
• Reconhecer como a sua equipe pode jo-
gar – Quais são as opções.
• Reconhecer como jogam os adversários.
• Ser sensível às mudanças que ocorrem
durante o jogo.
• Estabelecer conexões entre a forma como
se está jogando e as forças e fraquezas do
adversário e da própria equipe.
• Decidir o que fazer (como equipe/indi-
vidual).
• Reconhecer que aquilo que é
taticamente exequível deve ser
tecnicamente possível.

Uma das muitas vantagens do TGfU é que ele per-


mite ao professor integrar a sua abordagem em di-
ferentes categorias de jogos. Isto pode ser alcançado
procurando similaridades e diferenças nas técnicas,
estratégias, táticas, regras e, inclusive, variáveis psi-
cológicas.

REFLITA

Procurando fazer um exercício pedagógico e


didático, utilizando o modelo de ensino TgfU,
idealize um jogo reduzido (com base em uma
modalidade à sua escolha), contemplando as
ideias que achar mais pertinentes do referido
modelo. Você deve estipular as regras e os
objetivos do jogo, assim como, pelo menos,
uma hipótese de transferibilidade entre mo-
dalidades.

27
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Modelos de Educação Esportiva


Sport Education

De uma forma completamente distinta de pensar o enriquecedoras para ambos os sexos no contexto da
ensino do esporte na escola, e sugerindo uma abor- EF, e constitui-se como uma alternativa ao ensino de
dagem inovadora desse ensino, o modelo que se unidades didáticas de curta duração compostas por
apresenta a seguir pretende ampliar a aprendizagem multiatividades.
do esporte a todos os fatores que o envolvem. A importância desse modelo é reconhecida pela
comunidade internacional que investiga a área da EF
MODELO DE EDUCAÇÃO DESPORTIVA e tem sido alvo de pesquisas incidindo, por um lado,
(SPORT EDUCATION) na forma como se pode implementá-lo e, por outro,
sobre os resultados da sua aplicação. O grande obje-
O modelo curricular e de instrução de educação tivo “será reconhecer que o esporte é uma forma de
desportiva proposto por Siedentop (1994) foi ela- jogo e, que numa sociedade onde formas superiores
borado para providenciar experiências desportivas de atividade lúdica são perseguidas vigorosamente

28
EDUCAÇÃO FÍSICA

por todas as pessoas, a sociedade é mais madura” A importância que a competição tem como ele-
(CURTNER-SMITH; SOFO, 2004, p. 347). Desta mento central da experiência esportiva exige crité-
forma, tem como fim mais específico gerar pessoas rios cuidadosos na criação das equipes e pretende
com competência esportiva, literadas e entusiásticas. fazer uma clara distinção entre o treinar (preparar
• Uma pessoa competente no esporte é aque- para a competição) e o competir.
la que possui habilidade, entende e executa a
estratégia de jogo de forma a participar com
sucesso no jogo.
• Uma pessoa com conhecimento esportivo é
aquela que entende os valores e tradições do
esporte, assim como os seus rituais e regras,
além de ser capaz de distinguir uma boa de
uma pobre realização.
• Um esportista entusiasta é aquele que partici-
pa de forma a melhorar, preservar e proteger
a cultura desportiva.

A ideia contida nesse modelo será a de introduzir o kzww / Shutterstock.com

conceito de época desportiva, que:


• Articula a prática desportiva com a institu- O modelo visa, igualmente, evidenciar o compo-
cionalização de clubes. nente diversão e a competência esportiva, que se
• Junta a filiação duradoura e a competição ca- traduz na prática da competição esportiva institu-
lendarizada, com a conservação de registos cionalizada. O que faz todo o sentido, pois competir
de resultados e estatísticas dos desempenhos
e esforçar-se pela vitória é inerente à prática do jogo
individuais e de grupo.
e à cultura esportiva que lhe está subjacente. Como
• Atribui papéis e funções que compõem
princípios fundamentais dos conteúdos de ensino
o envolvimento desportivo (capitães,
treinadores, árbitros, diretores, jornalistas, da EF e do esporte, o espírito da competição deve
entre outras possíveis funções). fundar-se em um forte espírito ético de respeito
pelo jogo e por todos os que nele intervêm. É fun-
Para concretizar tudo isto, os alunos são chamados a damental que a competição favoreça a participação
desempenhar diferentes papéis além de jogar. À me- de todos e, com isso, o seu desenvolvimento pessoal,
dida que a “época” progride, o professor altera um criando a oportunidade de todos jogarem e, por via
estilo de ensino mais diretivo para um estilo menos disso, aprenderem a jogar.
diretivo e mais centrado no aluno. Desta forma, ao Possuindo uma orientação que pretende ver to-
aumentar a responsabilidade em todos os aspectos dos os alunos incluídos no processo, o modelo de
do ambiente de aprendizagem sobre os alunos, gra- educação esportiva tem que saber lidar com valores
dualmente, o professor assume mais um papel de um pouco divergentes, que são o ganhar e garantir
facilitador. que todos tenham oportunidade de participação

29
INICIAÇÃO ESPORTIVA

efetiva no jogo. Neste sentido, a esse modelo é im- dade no grupo, um espírito consolidado nos obje-
portante corresponderem formas de jogo adequadas tivos comuns de alunos que se ajudam mutuamente
às capacidades dos alunos, motivando e mobilizan- para o alcançar. Naturalmente que, se tratando de
do a sua participação de forma relevante. um grupo e, ainda, formado por jovens, serão de-
sencadeados tensões e conflitos. Estes devem ser
tratados por meio do diálogo e, para a sua resolu-
O objetivo do modelo de educação espor- ção, deve contribuir o saber do professor que, com
tiva é: o seu empenho e a sua boa influência, fará resultar
• Melhorar a capacidade de jogo por o processo.
meio do progresso das habilidades es-
pecíficas, da leitura de jogo e da conse- SAIBA MAIS
quente tomada de decisão.
• Melhorar as capacidades físicas e psi-
cológicas. Em um interessante artigo, Deenihan,
McPhain e Young (2011) pesquisam sobre
• Fomentar a autonomia, a liderança como ensinar os professores estagiários
e a partilha de responsabilidades na a implementar o modelo de educação es-
organização da experiência esportiva portiva na escola. Por meio de diferentes
(isto obtido por meio de uma trans- estratégias metodológicas de investigação,
ferência progressiva da organização os autores deparam-se com as dificuldades
que os professores estagiários revelam em
para os alunos).
adotar esta estratégia de ensino do esporte,
o que leva os pesquisadores a proporem
intervenções para melhorar esta aprendiza-
gem. Para saber mais, acesse: < https://www.
Um dos pontos fundamentais que o modelo de researchgate.net/publication/232220050_’Li-
educação esportiva propõe é uma aprendizagem ving_the_curriculum’_Integrating_sport_edu-
cooperativa por meio da constituição de pequenos cation_into_a_Physical_Education_Teacher_
Education_programme>.
grupos heterogêneos e que tenham uma grande
duração. Este é um ponto fundamental para que o Fonte: o autor.

modelo seja eficaz. Criar um sentimento de identi-

30
considerações finais

O primeiro contato com o esporte, na maioria das situações, acontece dentro


do âmbito escolar. Urge, assim, compreender como se pode intervir pedagogi-
camente para que esta experiência seja positiva e conquiste os alunos para uma
prática esportiva continuada.
O esporte, por ser uma disciplina curricular, é uma matéria de ensino. Con-
tudo, ele ainda levanta objeções sobre o seu valor educativo, nomeadamente por
razões políticas relacionadas com o aproveitamento do esporte pela ditadura mi-
litar como forma de controlar a população. Outras das razões apontadas é que
o esporte promove a elitização, pois enaltece os mais fortes e discrimina os que
revelam menores aptidões.
Na verdade, se o esporte ensinado na escola reproduzir o esporte de rendi-
mento, reúne os condimentos para a seletividade por um lado, e para a discri-
minação por outro. Tentando contrariar estes pressupostos, evidencia-se, nesta
unidade de ensino, as características intrínsecas do esporte como ferramenta que
pode fomentar a evolução positiva das crianças e dos jovens.
Neste sentido, apresentam-se modelos de ensino que expõem estratégias
agregadoras para ensinar o esporte de forma motivadora e prazerosa, não esque-
cendo que é quase inerente ao ser humano gostar de jogar. No centro da aplicação
dessas estratégias de ensino está o professor, que, pelo seu empenho e competên-
cia, ensinará a criança e o jovem a jogar.
Para isto, ele terá que idealizar a sua intervenção de uma forma contextuali-
zada a cada grupo que lidera, pautando a sua intervenção adequadamente, com
o intuito de fazer as crianças e os jovens tirarem o máximo partido da atividade.
Tendo em mente a inclusão e a valorização de todos, será determinante equacio-
nar estratégias que evidenciem todos os aspectos relacionados ao jogo e à com-
petição esportiva.
Desta forma, a avaliação dos alunos poderá contemplar muitas outras facetas,
além de apenas a competência obtida pelo resultado, constituindo mais um fator
mobilizador para o gosto pelo esporte.

31
atividades de estudo

1. A importância da Educação Física surge a par IV - A avaliação contemple somente as com-


de outras disciplinas para a formação do aluno. petências atléticas.
Acerca da razão pela qual a Educação Física faz É correto o que se afirma em:
parte do currículo da educação nacional, assinale
a) I, apenas.
a alternativa correta.
a) Detectar futuros atletas olímpicos. b) I e II, apenas.

b) Desenvolver em todos os alunos compe- c) I e IV, apenas.


tências e habilidades motoras. d) I e III, apenas.
c) Ensinar o esporte. e) I, II, III e IV.
d) Divertir os alunos por meio de um recreio
4. De forma a potenciar um estímulo adequado à
supervisionado.
melhora da saúde, as principais caraterísticas do
e) Disciplinar os alunos. esporte enquanto conteúdo da EF devem:
2. Ao longo de sua história, a Educação Física ma- a) Ativar a superestimulação.
nifestou-se de várias maneiras. Houve o período b) Evitar a subestimulação.
higienista, o pedagogicista e o competitivista, por
c) Evidenciar o rendimento.
exemplo. Sendo que, nesse último período, os
militares apossaram-se da EF e até hoje influen- d) Enaltecer a competição.
ciam a maneira com que o esporte é visto no e) Selecionar os melhores.
Brasil. Apesar de ser considerado um conteúdo
de docência, o ensino do esporte na escola ain- 5. Para implementar um modelo de ensino inspira-
da é visto com alguma desconfiança. Em relação do no TgfU, deve-se proceder à definição de im-
ao motivo de desconfiança, assinale a alternativa portantes princípios. Neste sentido, os seis pas-
correta. sos para o ensino do TGfU são:

a) Exaltação do aluno atleta e a supervaloriza- V - Consciência tática, apreciação, habilidade


ção de competições. de execução, tomada de decisão, jogo e
performance.
b) Só serve para jogar futebol.
VI - Apreciação, tomada de decisão, consciên-
c) Contribui para a integração e socialização cia tática, habilidade de execução, jogo e
dos jovens. performance.
d) Retira tempo das atividades gímnicas. VII - Habilidadedeexecução,apreciação,to-
e) Favorece o desenvolvimento global de to- mada de decisão, consciência tática, jogo
dos os alunos. e performance.
VIII - Jogo,apreciação,consciênciatática,toma-
3. Aqueles que são mais veementes sobre a ex-
da de decisão, habilidade de execução e
clusão do esporte como parte do currículo da
performance em competição.
Educação Física fazem algumas críticas ao seu
ensino. Em relação a essas críticas, assinale a al- É correto o que se afirma em:
ternativa correta. a) I, apenas.
I - Fomenta a exclusão. b) II, apenas.
II - É demasiado tecnicista. c) IV, apenas.
III - Há pouco tempo dedicado ao jogo. d) III, apenas.
32
e) I e IV, apenas.
LEITURA
COMPLEMENTAR

A qualificação profissional é uma exigência premente outro constitui um dos elementos mais decisivos deste
na atualidade, nomeadamente naquela em que se si- universo representacional, pois todo o ato de comuni-
tua o ato educativo, sendo pertinente, por isso, apurar car, na sua interação, supõe uma representação de si
qual a opinião que os destinatários da formação fazem e uma representação do outro. As representações, isto
do agente formador. O qualitativo de bom professor ou é, o que pensa cada interveniente sobre a situação que
o perfil do professor ideal é, porventura, impossível de vivencia, apesar de subjetivas, estão na base da mo-
atingir, mas que deve ser continuamente perseguido. tivação, da orientação e da tomada de decisões pes-
A consciência desta dificuldade evidencia o propósito soais, bem como traduzem e condicionam os modos
deste trabalho, em que se pretende inquirir os alunos como os indivíduos se relacionam entre si. “O modo
sobre a ocorrência de um conjunto de comportamen- como cada professor enfrenta uma situação didática
tos a serem observados em um bom professor de EF. depende muito da sua individualidade psicológica, a
Desta forma, alimenta-se a discussão sobre esta temá- partir da qual interpreta e lhe atribui significados, e
tica, procurando contribuir para valorizar a função do- dos momentos de decisão em que se enquadra” (PA-
cente por meio do maior conhecimento. CHECO, 1995, p. 51).
Sendo um conceito central em Psicologia Social, as re- O aluno, na representação que possui do professor, de
presentações sociais combinam a nossa capacidade acordo com Gouveia-Pereira (2008), tem a expetativa
de perceber, inferir e compreender, de forma a dar de que a escola e os seus professores orientarão o seu
um sentido às coisas, ou para explicar uma situação a relacionamento com os vários interlocutores, que ga-
alguém (MOSCOVICI, 2004). Assim, podemos conhecer rantam o respeito e o cumprimento das regras e dos
como o conceito é percebido pelos intervenientes na deveres estabelecidos, assegurem todo o apoio neces-
relação pedagógica. Como os alunos conceitualizam o sário ao seu bem-estar e sejam intervenientes ativos na
conceito, qual a representação mental que eles fazem resolução justa dos conflitos de interesse que possam
dos professores. De acordo com Shimamoto (2004), as ocorrer.
representações sociais de professores oferecem parâ- Com o evoluir das representações formadas pelos alu-
metros que possibilitam o entendimento das perce- nos sobre os seus professores, os fatores afetivos vão
ções que os indivíduos constroem sobre a realidade, assumindo um papel importante. Entre esses fatores,
como também o da influência das representações no destacam-se a disponibilidade que o professor revela,
pensamento e nas condutas humanas, o que constitui o respeito e o afeto que transmite e a capacidade de
uma das vias de compreensão do trabalho pedagógi- se mostrar acolhedor e positivo. O peso desses fatores
co realizado em sala de aula. A representação que os será tanto maior quanto mais baixo for o nível de es-
atores presentes na relação educativa formam um do colaridade.

33
LEITURA
COMPLEMENTAR

Segundo um estudo realizado por Wallon (1995), o papel Caraterísticas do bom professor de EF
do professor na vida do aluno é essencial. Para os alu- No plano da nossa área de estudo, como nos recorda
nos, esse papel é representado como o de uma pessoa Cunha (2007), o professor de EF possui bases científi-
formada e habilitada, com afetos contemplados aos alu- cas que permitem que haja um desenvolvimento motor
nos, podendo ambos interagir dentro de uma transmis- correto do aluno, proporcionando o gosto pela aprendi-
são emocional. zagem das atividades físicas, tendo em conta a saúde e
Caraterísticas de um bom professor as suas limitações. Das suas competências devem fazer
Segundo Hashweh (2005), o professor deverá ter uma parte, além dos conhecimentos científicos, as habilida-
boa bagagem de conhecimentos didáticos e pedagógicos des e atitudes relacionadas ao meio em que ele intervirá
e ter uma grande variedade de caminhos pedagógicos (NASCIMENTO, 1999).
no seu ensino, para, assim, ele poder adaptar-se às mais De acordo com Pitta (1999), são quatro as dimensões
variadas situações que possa encontrar. Pitta (1999) tam- fundamentais do bom professor: I) A dimensão motivado-
bém refere que os professores deverão possuir compe- ra, que capacita o professor a motivar os alunos, possi-
tências científico-pedagógicas para ter a segurança e o bilitando-lhes uma adequada aprendizagem e os meios
desembaraço para as situações que decorrem do exer- necessários para evoluir e enfrentar os desafios da vida,
cício das suas funções durante as práticas pedagógicas. II) A dimensão relacional, que tem a ver com o bom clima
Perrenoud (2000) considera que, para ensinar, o profes- de uma sala de aula, III) A dimensão ética do bom profes-
sor deverá ter dez competências bem desenvolvidas, as sor, que contribui para a formação do caráter e dos valo-
quais poderão ser sujeitas a alterações em consonância res dos seus alunos, indispensáveis ao desenvolvimento
com a sociedade ao desenvolver a sua atividade. Essas da sua maturidade e à sua inserção na vida social, IV) A
competências são: I) Organizar e dirigir situações de dimensão construtiva, aquela que se reflete na admiração
aprendizagem, II) Administrar a progressão das apren- que os alunos têm pelo seu professor, pela sua habili-
dizagens; III) Conceber e fazer evoluir os dispositivos de dade para os ensinar, a sua clareza e a forma como os
diferenciação, IV) Envolver os alunos nas suas aprendiza- orienta nas suas tarefas. Reflete também a sua forma de
gens e no seu trabalho, V) Trabalhar em equipe, VI) Parti- ser imparcial, como controla a turma, o afeto que trans-
cipar na administração da escola, VII) Informar e envolver mite aos alunos, a sua paciência, o seu bom humor e a
os pais, VIII) Utilizar novas tecnologias, IV) Enfrentar os sua justiça.
deveres e os dilemas éticos da profissão, X) Administrar Fonte: Resende et al. (2014).
a sua própria formação contínua.

34
material complementar

Indicação para Ler

Esporte Escolar
Maristela da Silva Sousa
Editora: Ícone
Sinopse: a Educação Física realmente vinculada aos rituais pedagógicos da escola
precisa passar por uma nova fase de crítica e de reformulações. Portanto, o pre-
sente trabalho encaminha-se para este propósito também. Ele não permanece
apenas na crítica ao esporte e à Educação Física do ponto de vista pedagógico,
mas se propõe a abrir uma ampla discussão em torno das questões epistemológi-
cas mais abrangentes que fundamentam a prática da Educação Física e, em espe-
cial, o ensino dos esportes. Por fim, para não ficar apenas no plano da crítica e do
debate teórico-metodológico das questões gerais da Educação Física brasileira, o
trabalho propõe-se, ainda, a apresentar o que é denominado, por sua autora, de
possibilidade superadora no plano da cultura corporal.

Indicação para Ler

Esporte, Política, Educação


Renato Sampaio Sadi
Editora: Appris
Sinopse: este livro expõe a história de professores e alunos que compartilharam
conhecimentos variados para lidar com as contradições sociais e as relações entre
esporte, política e educação.

Indicação para Ler

A Criança e o Esporte: uma Perspectiva Lúdica


Francisco Xavier V. Neto e Rogério C. Voser
Editora: Ulbra
Sinopse: divertidos jogos e brincadeiras estão presentes neste universo, ao mes-
mo tempo lúdico e pedagógico, que envolve a criança no esporte. Indicado para
as disciplinas de Iniciação Esportiva e Atividades Pré-Desportivas.

35
referências

ALMOND, L. Rethinking teaching games for understanding. Ágora, v. 17, p. 15-


25, 2015.
BAILEY, R. Evaluating the relationship between physical education, sport and
social inclusion. Educational Review, v. 57, n. 1, p. 71-90, 2005.
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bases da educação nacional. Distrito Federal: Ministério da Educação, 1996. Dis-
ponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70320/65.pdf.
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CURTNER-SMITH, M.; SOFO, S. Preservice teachers’ conceptions of teaching
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em: 17 set. 2018.
37
gabarito

1. B.
2. A.
3. E.
4. B.
5. C.

38
UNIDADE
II
O DESPORTO NO SÉCULO XXI

Professor Dr. Rui Resende

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Caracterização do esporte no século XXI
• Esporte potenciador da saúde das populações
• Os clubes esportivos modernos
• Contexto histórico da intervenção do treinador

Objetivos de Aprendizagem
• Identificar a relevância do esporte na sociedade
contemporânea.
• Verificar as potencialidades do esporte como fomentador
de um estilo de vida saudável.
• Caracterizar e perspectivar o clube esportivo moderno.
• Considerar a evolução da profissão de treinador.
unidade

II
INTRODUÇÃO

A
importância do impacto do esporte no contexto social atual é
dúbia. As multidões que acorrem aos espetáculos esportivos
e a repercussão que estes eventos têm nos órgãos de comuni-
cação social fazem parte da nossa vivência diária. Com esta
consciência, um profissional do esporte deverá saber identificar a área
onde vai desenvolver a sua atividade e projetar a sua evolução, não só no
contexto brasileiro, como mundial. Por outro lado, desenvolvem-se no-
vas áreas de intervenção do esporte, nomeadamente enquanto atividade
potenciadora de fomentar a saúde das populações.
Neste sentido, será exigida uma transfiguração dos clubes esportivos
de forma a adequarem os seus serviços a uma nova geração de frequenta-
dores. Estes atletas poderão ser de rendimento, mas também poderão ser
de participação, sendo que a convivência e a coexistência entre ambos os
projetos esportivos terão que ser bem definidos e de acordo com os valo-
res do clube. Ao modernizar-se, o clube tenderá a oferecer serviços com
qualidade cada vez maior, e os recursos humanos farão toda a diferença.
Esta evolução necessitará de uma resposta profissional de todas as es-
truturas do clube, implicando, como consequência, a formação adequada
dos seus agentes. Os novos clientes poderão ser crianças, jovens ou adul-
tos, visando a diversas formas de rendimento esportivo, e o treinador terá
de exercer a sua competência de forma eficaz em todos os projetos que for
chamado a liderar. Tendo em conta o percurso profissional do treinador
e a forma como se projeta a sua atuação futura, importa reconhecer o
caminho percorrido até então.
De uma atividade pouco reconhecida até a importante função social
que desempenhará, enunciam-se interessantes desafios à carreira profis-
sional do treinador. Esta demanda requererá uma maior solidez de co-
nhecimentos por forma a exercer com competência as diferentes funções
que vier a ser convidado a exercer.
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Caracterização do Esporte
no Século XXI

A.RICARDO / Shutterstock.com

Iniciamos esta matéria com o propósito de enqua- apesar do esporte de rendimento ser seguido apai-
drarmos o esporte na sociedade atual e perspecti- xonadamente por cada vez mais pessoas, não existe
vando como se desenvolverá no futuro. A ideia será um reflexo desta paixão no incremento do número
refletir melhor sobre a forma como se deve prepa- de praticantes esportivos.
rar o profissional do esporte para ele atuar com Tomando o exemplo do Brasil, quantas pessoas
competência. praticam esporte e de que maneira o fazem? O Mi-
O esporte tem sido um instrumento para a in- nistério do Esporte (BRASIL, 2015) encomendou
dústria que, por meio da sua utilização, obtém uma pesquisa denominada de Diagnóstico Nacional
grandes proveitos impulsionando as economias na- do Esporte (Diesporte) em que traçou, por um lado,
cionais. Para este feito, com o apoio dos órgãos de o perfil do praticante de esporte ou de atividade físi-
comunicação social, promovem-se espetáculos es- ca e, por outro lado, o sedentário (indivíduo que não
portivos e originam-se novas estrelas mediáticas que faz atividade física ou esporte). Os resultados indi-
alcançam grande repercussão mundial. Contudo, cam que 45,9% dos brasileiros (67 milhões) são se-

44
EDUCAÇÃO FÍSICA

dentários, sendo que as mulheres representam uma pulação, enquanto os outros 28,5% se declaram pra-
maior percentagem, com 50,4%, enquanto os ho- ticantes de atividade física. Caraterizando um pouco
mens estão em 41,2%. Os sedentários são em menor melhor, verifica-se que os homens (35,9%) praticam
número na faixa etária mais jovem, mas progridem mais esportes que atividades físicas (22,9%), e que
com a idade. Em relação a países como Argentina esta tendência se inverte quando consideramos as
(68,3%) e Portugal (53%), verificamos que a taxa de mulheres, com somente 15,6% praticando esporte e
sedentarismo do Brasil é bem inferior. É ligeiramen- 34% relatando que faz atividade física.
te menor que a da Itália (48%) e ligeiramente maior É estimulante para essa matéria constatar que o
que a dos Estados Unidos (40%). A população de se- caminho pelo qual o brasileiro inicia a sua prática
dentários é muito inferior em países como Espanha esportiva é, maioritariamente (48%), na escola, com
(35%), Uruguai (34,1%), Canadá (33,9%), França a orientação de um professor, e se inicia entre os 6
(22%) e Inglaterra (17%). Será importante notar, no e 14 anos. A modalidade esportiva mais praticada é,
relatório referido, que a faixa de idade dos brasileiros sem surpresa, o futebol (59,9%). sendo seguida do
na qual se regista um maior abandono do esporte ou voleibol (9,7%). Os autores do estudo registraram,
da atividade física se dá entre os 16 e 24 anos, indi- ainda, que 90,3% dos entrevistados não recebem
cando, igualmente, que 90% dos abandonos surge até qualquer tipo de orientação quando fazem atividade
os 34 anos. É interessante constatar, no mesmo rela- esportiva, e que 92,4% não têm qualquer filiação a
tório, que os praticantes esportivos são 25,6% da po- uma instituição para efetuar a prática esportiva.

45
INICIAÇÃO ESPORTIVA

A gestão esportiva profissional trouxe novas estra- sentido, ao fomentar um estilo de vida saudável e
tégias de marketing, planos de negócios e expansão promover os valores que lhe são próprios, o esporte
dos esportes para novos mercados. O crescimen- suscita um ser humano melhor. Carece, por isto, de
to do rádio e da televisão fez com que o esporte se se considerá-lo como uma atividade educativa e for-
tornasse parte do dia a dia das pessoas. As estrelas mativa, em que o intuito será criar um cidadão com
esportivas passaram a fazer parte dos tabloides e das um estilo de vida ativa.
televisões, vendendo produtos diversos, tornando- Desta forma, ao olhar paro o fenômeno espor-
-se parte da realidade mundana e roubando o prota- tivo, deveremos ter consciência do seu alcance e de
gonismo que, no século passado, pertencia às estre- sua amplitude. A atividade física e a competição es-
las de cinema. tão no âmago das definições de esporte.
Assim, quando a globalidade dos indivíduos re- De acordo com Resende (2016), uma organi-
flete sobre o esporte ou a atividade física, não lhe zação internacional denominada SportAccord, que
ocorre o que ela pode fazer como praticante, mas aglomera federações esportivas internacionais, além
sim, os resultados esportivos do seu clube, das gran- de outras organizações, define esporte como uma
des competições em que o seu país está envolvido ou atividade que:
as medalhas obtidas nas Olimpíadas. Por outro lado, • Deve incluir um elemento de competição;
essa globalidade associa ao esporte as personagens • Não deve recair em qualquer elemento de
mais relevantes e as marcas que a elas estão relacio- ‘sorte’;
nadas (SPRACKLEN, 2015). • Não deve apresentar risco para a saúde ou se-
Refletindo sobre aquilo que pode ser o esporte gurança dos seus praticantes;
no futuro, não podemos deixar de considerá-lo e • Não pode de nenhuma forma ser prejudicial
para qualquer criatura viva e;
aceitá-lo como um espetáculo no qual as regras do
• Não deve depender de equipamentos provi-
mercado econômico ditarão as suas leis. Contudo, o
denciados por um só fornecedor
esporte pode desempenhar uma importante função
social, pois oferece oportunidades para melhorar o Ainda segundo o mesmo autor, além dessas caracte-
autoconhecimento e a autovalorização, reforçando, rísticas, o esporte se situa como:
desta forma, a própria identidade e, com isso, a da • Principalmente físico;
comunidade onde ele está inserido. • Principalmente mental;
Para além das sensações descritas anteriormen- • Principalmente motorizado;
te, o esporte pode constituir uma importante forma • Principalmente coordenativo;
de promoção da saúde, combatendo aquilo que já • Principalmente suportado por animais
se chama de doença do século: a obesidade. Neste

46
EDUCAÇÃO FÍSICA

Assim, podemos partir da premissa que o esporte


depende de estruturas formais e de organizações que
estabelecem as regras da competição e monitorizam
os participantes. Sugere-se que os profissionais da
área apreciem esta atividade como constituída por
múltiplos esportes, pois implica considerar distintos
enquadramentos na sua formulação.
Sobre esta temática, alertamos que a generalida-
de dos clubes está formatada para o alto rendimento
esportivo, mesmo os que sabem que nunca terão as
possibilidades de lá chegar, sendo que o esporte de
alto rendimento é somente uma parte muito reduzi-
da dessa atividade.

SAIBA MAIS

Você pode observar os dados de uma pes-


quisa realizada entre 2010 e 2014, chamada
Diagnóstico Nacional do Esporte. Ela teve
apoio e participação de seis instituições fe-
derais de Ensino Superior nos estados do
Rio Grande do Sul, Goiás, Rio de Janeiro,
Amazonas, Sergipe e Bahia, as quais coorde-
naram os trabalhos. Além de definir a prá-
tica de esporte pelos brasileiros, o trabalho
envolve, ainda, os pilares de infraestrutura,
legislação e investimentos. Para saber mais,
acesse: <http://www.esporte.gov.br/dies-
porte/2.html>.

Fonte: o autor.

47
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Esporte Potenciador
da Saúde das Populações

No futuro, espera-se que o esporte continue a se evi- precoces, assinala que os esportistas têm uma maior
denciar nas diferentes comunidades, tanto sob a sua disposição para hábitos alimentares mais saudáveis,
forma mais popular, por meio do esporte-espetácu- para manter um peso menor, e uma diminuição da
lo, quanto em uma perspectiva mais global, em que sedução pelo fumo ou pelas drogas. Possuem, igual-
faixas maiores da população desfrutarão das suas mente, menor tendência para expressar sentimentos
potencialidades. O reconhecimento de que as impli- de desânimo e de aborrecimento ou tédio (MU-
cações da prática do esporte poderão ser benéficas, LHOLLAND, 2008).
tendo reflexos positivos sociais, implicará a promo- A investigação tem contribuído para a solidi-
ção e a maximização da sua prática. ficação da opinião de que a atividade física e es-
As razões pelas quais é importante promo- portiva praticada pelos jovens e pelos adolescentes
ver o esporte, sobretudo nas faixas etárias mais tem um forte tributo na promoção da saúde públi-

48
EDUCAÇÃO FÍSICA

DIFERENTES TIPOS DE PARTICIPAÇÃO


DESPORTIVA

ca. Acresce esta importância, em termos de bene- Tal como já apontamos, o esporte de alto rendi-
fícios, quando a participação esportiva é realizada mento não é a única forma pela qual devemos
de uma forma consistente (TELAMA, 2009). Por observar e considerar a atividade esportiva. Con-
isto a importância de a participação esportiva ser siderando o espectro da participação esportiva,
integrada em um programa esportivo, desenvol- protagonizado pelo ICCE (International Council
vendo-se de forma significativa e persistente ao for Coach Education) e pela ASOIF (Association
longo do tempo. Aliás, reforçando a ideia ante- of Summer Olympic International Federations) em
rior, Kjonniksen, Fjortoft e Wold (2010), em uma 2012, duas organizações internacionais que fo-
pesquisa com 630 participantes, verificaram uma mentam o esporte, o estudam e o promovem, pro-
relação positiva entre a participação esportiva or- curando qualificá-lo pela melhor preparação dos
ganizada e o desenvolvimento de atividade física treinadores, identificamos dois tipos diferentes de
em idades adultas. Ou seja, a prática esportiva em participação esportiva, o que também foi eviden-
idades mais jovens antevê o envolvimento com a ciado por Resende (2016) e que podemos observar
atividade física quando se é mais velho, sendo con- na citação a seguir, assim como na Figura 1.
sistente defender a formação esportiva como um • O esporte de participação que envolve
instrumento para a promoção de hábitos de saúde crianças, jovens adolescentes e adultos e tem
no presente e para o futuro. como objetivo resultados auto referenciados
Salienta-se a evidência de que o esporte promo- como o entretenimento, o desenvolvimento
ve, para além das competências esportivas, compe- de habilidades e o vínculo com um estilo de
vida saudável.
tências de vida (aspecto que trataremos com maior
• O esporte de rendimento que engloba atletas
relevância) o que, naturalmente, faz com que o trei-
emergentes, atletas de performance e atletas
nador deva investir nesta ideia. Aliando o conheci-
de elite
mento que ele possui dos atletas e das suas neces-
sidades, o treinador poderá incrementar de forma
muito positiva as aptidões desses atletas para a vida
(WHITLEY; WRIGHT; GOULD, 2016), considera-
-se que as competências de vida oriundas por meio
do esporte podem ser transferidas para outras rea-
lidades. Para isto, o treinador terá de agir de uma
forma consciente, enfatizando a aquisição de habi-
lidades transversais aos diferentes domínios em que Figura 1 - Espectro da participação esportiva
ele está envolvido e, assim, dotando os atletas de Fonte: ICCE e ASOIF (2012).

uma melhor preparação para enfrentar com sucesso


a vida cotidiana.

49
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Esta distinção obriga a oferecer uma atenção par-


ticular sobre os objetivos esportivos para cada um
dos programas onde os atletas se inserem. Conse-
quentemente, as exigências que consideram o nível
do treino e da competição deverão ser convenien-
temente adequadas, sugerindo-se a premissa de
que todos que praticam esporte merecem treinado-
res qualificados.
O esporte, neste século, deve almejar a massifica-
ção da participação esportiva com o intuito da pro-
moção do desenvolvimento e da integração social e,
paralelamente, da melhoria da saúde e aptidão física
das populações. Todavia, apesar de algumas iniciati-
vas políticas com o intuito de massificar a participa-
ção esportiva, ainda são escassas as oportunidades
para praticar esporte por prazer, nomeadamente,
de forma organizada. Existe, assim, um abundante
trabalho para integrar todos os que gostariam de
participar do esporte, prestando atenção também às
populações especiais, às mulheres e aos idosos. Os
decisores políticos investem muita da sua energia
na promoção de grandes eventos esportivos com a
perspectiva de obter dividendos eleitorais, cabendo
à sociedade um papel reivindicativo no apelo para
que se criem melhores condições de generalização
da prática esportiva.
É de elevada relevância social o que o esporte
pode realizar na potencialização da saúde das po-
pulações, tendo em consideração os diferentes tipos
de participação esportiva e adequando os seus pro-
pósitos a cada população que os procuram. Desta
forma, o esporte poderá alargar exponencialmente
a sua penetração e, consequentemente, a promoção
dos seus valores.

50
EDUCAÇÃO FÍSICA

51
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Os Clubes Esportivos Modernos

A modernização dos clubes esportivos será uma re- ção esportiva. Aliás, assiste-se à emergência
alidade no panorama de uma sociedade plural, de- de um grande número de ‘escolinhas’ e ‘aca-
demias’ esportivas, com vínculos aos clubes
senvolvida e a serviço das populações.
esportivos tradicionais ou a atuarem de forma
autónoma (RESENDE, 2016, p. 38).
O campo de intervenção dos clubes esportivos
(inspirado no livre associativismo) está-se a
Este novo cenário esportivo provoca profundas
alterar pois, de locais onde os jovens ingres-
savam para jogar, numa perspetiva de proxi- alterações na adesão ao esporte, pois os atletas co-
midade e oportunidade, de onde emergiam os meçaram a se constituir como clientes, exigindo
mais aptos para voos mais desafiantes, estão, a prestação de um serviço melhor. Consideramos
para fazer face às despesas, a transformar-se que a procura do esporte pelas crianças e pelos jo-
em empresas para sobreviver. Desta forma,
vens nasce de uma vontade intrínseca de praticar,
apesar de essencialmente motivados para o
esporte de rendimento, os clubes passaram e com forte apoio dos pais, que valorizam muito
igualmente a prestar um serviço de participa- esta atividade.

52
EDUCAÇÃO FÍSICA

Todavia, de tolerado pela família, invocando ficados, e bem equipado em termos materiais e
que nestas idades a ocupação pelo esporte era de instalações. Neste contexto, e tendo como re-
boa, estimulava o corpo e desviava os jovens
ferência as academias e a sua enorme expansão
de ‘más companhias’, a ser praticado antes de
adotar as responsabilidades de adulto, pas- – o Brasil tem o maior número de academias do
sou a constituir uma necessidade educativa mundo, cerca de 20 mil, contando com 3,6 mi-
que transcende a mera prática. Desta forma, lhões de usuários (ANDREAZZI et al., 2016) –, os
a qualidade do serviço prestado passa a ser
melhores exemplos reúnem um conjunto de va-
equacionado sob perspetivas substancialmente
distintas das que eram observadas no passado, lias que são muito apelativas, a saber (RESENDE,
exigindo melhores condições materiais e um 2016, p. 39):
acompanhamento pedagógico de qualidade • Um ambiente atraente;
(RESENDE, 2016, p. 39). • Atividades diversificadas;
• Autonomia de horários;
Com esta nova postura, o treinador esportivo • Profissionais qualificados e profundamente
será forçado a adaptar-se e a preparar-se de forma diligentes;
condizente. • Avaliações e aconselhamentos pessoais ao ní-
Constituindo-se como empresa, o clube es- vel da prescrição do exercício e de nutrição;
portivo, apesar de estar configurado para o espor- • Constante renovação de atividades;
te de rendimento, terá que se reinventar, alargan- • Acompanhamento personalizado se desejado
pelo cliente;
do o seu campo de recrutamento para o esporte
• Possibilidade de um retorno à calma sofisti-
de participação, fornecendo um serviço reputado
cada, como é o SPA.
com treinadores profissionais altamente quali-

53
INICIAÇÃO ESPORTIVA

• Providenciar este aspecto: “o acolhimento dos


Para enfrentar a modernidade, o clube esportivo
‘clientes’ será efetuado por alguém preparado,
terá que ser atraente, não sendo suficiente possuir num espaço adequado e reservado, onde se
um espaço para a prática de uma modalidade. Nes- explicará o tipo de serviço que o clube presta,
te sentido, assinalamos que a prática esportiva atu- adequando-o ao perfil e desejo manifestado”
al e futura: (RESENDE, 2016, p. 40).
• Deverá ter dirigentes preparados convenien- • Proporcionar uma avaliação física ao atleta,
temente para uma nova era de consumidores, aconselhamento nutricional, disponibilizar
pois o tempo dos dirigentes voluntários, ge- serviços de fisioterapia e de reabilitação capa-
nerosos e bem-intencionados, mas com es- zes e eficientes (RESENDE, 2016, p. 40).
cassa preparação, não combina com as novas • Fornecer orientação psicológica e social.
necessidades. Estes continuam a ser determi-
nantes pela ligação à história e aos valores do
clube, contudo, a gestão diária das atividades
terá que, forçosamente, encontrar outro tipo
de resposta mais profissional e, por isso, mais
qualificada.
• Os treinadores terão de estar preparados para
o contexto específico onde vão operar e para
as necessidades de aprendizagem do grupo
que vão liderar, sob pena do serviço prestado
ficar comprometido.
• Os funcionários terão de ser o reflexo dos va-
lores do clube, cuidando da relação social e
estabelecendo pontes para uma boa relação
entre todos.

Nesta perspectiva, um clube moderno deve:


• “Apontar para uma lógica integrada em que o
esporte, apesar de ser o core da sua atividade,”
pode agregar outras valências (RESENDE,
2016, p. 40). Para isto, deve haver um projeto
esportivo de onde emanem os seus propósi-
tos e que sirvam de identificação para quem
procura os seus serviços.
• “Ser um espaço social em que os valores que
promove devem estar bem determinados e
sobre os quais deve assentar a dinâmica da
sua atividade” (RESENDE, 2016, p. 40).

54
EDUCAÇÃO FÍSICA

De acordo com Resende (2016, p. 40): o filho está bem acompanhado, desfrutando de uma
formação holística, em um ambiente seguro, e com
[...] a oferta do clube deverá incluir o desporto o propósito de um desenvolvimento de maneira po-
de participação e o de performance contem-
sitiva. Desta forma, os pais terão de ser considerados
plando níveis de rendimento/competição dife-
renciados e, por via dessas diferenças, estraté- como parceiros essenciais na dinâmica do clube e no
gias de intervenção adequadas aos objetivos de projeto esportivo do seu filho. Por isso, se torna de-
cada uma das realidades. A título de exemplo, terminante fundamentar devidamente o que se pre-
duas equipas de infantojuvenil, em que uma tende deles para que o desenvolvimento do seu filho
treina duas vezes por semana e a outra quatro
ocorra de forma integral. Uma sã convivência entre
vezes, aos quais se acrescentam as competições
(habitualmente ao fim de semana). O tipo de todos os parceiros fará emergir uma dinâmica so-
exigência colocado na qualidade do treino e da cial no clube, o que conduzirá a melhores resultados
qualificação do treinador deverão ser idênticos, educacionais e esportivos.
ou seja, o objetivo continua a ser competir e pre-
A política de exclusão, tantas vezes observadas
parar-se para essa competição, contudo, o tem-
po de treino é distinto e, obviamente, o tipo de nas rotinas dos clubes, deve ser evitada. Ao invés
investimento pessoal dos atletas também é dife- disto, os clubes devem apostar claramente em estra-
rente. A seriedade com que se encara o processo tégias de integração no processo esportivo dos seus
deverá ser de todo similar, considerando os ob-
filhos, com normas e procedimentos bem claros a
jetivos diferenciados. Se os projetos esportivos
das diferentes realidades estiverem claramente aceitos por estes.
definidos, a coexistência é benéfica, devendo
existir sempre a possibilidade de transversalida- O treinador, como responsável máximo pelo
de entre projetos, pelo aumento ou diminuição processo esportivo, deverá proporcionar infor-
do investimento pessoal do atleta. mação aos pais, de forma a que estes possam
constatar a evolução do seu filho, a exemplo
da escola que o faz através do boletim de re-
Este processo faz apelo a uma seriedade profissional sultados escolares. Sugere-se a criação de uma
na intervenção com os jovens a qual, por sua vez, ficha do atleta, da qual resultará a informação
a ser enviada aos pais com a periodicidade
não se compadece com leviandades. Está em risco
mais adequada à atividade desenvolvida, mas
o abandono prematuro da atividade esportiva por não inferior a duas vezes por época esportiva.
parte dos jovens e este pode ser combatido por uma A qualidade desta informação e a forma como
visão que não tenha como única direção o esporte é veiculada, diferencia a qualidade do serviço
que é prestado no clube, assim como o empe-
de rendimento, em que se investe, progressivamente,
nho que o treinador revela na forma como se
mais tempo, ou se desiste. preocupa com a evolução do atleta (RESENDE,
Reforçamos que a todos deve ser dada a opor- 2016, p. 41).
tunidade de praticar esporte de acordo com as suas
motivações e a possibilidade de tempo ou de talento Entre as competências dos treinadores, evidencia-
demonstrado. Para alcançar este objetivo, o serviço -se a necessidade de uma boa relação com os pais
a ser prestado pelos clubes deverá ser melhorado, as- dos seus atletas e um comprometimento com o seu
segurando aos pais e encarregados da educação que desenvolvimento, em total sintonia e cumplicidade.

55
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Considerando que o esporte está longe de se esgotar Considerando o perfil deste segmento etário, o trei-
nos mais jovens: nador deverá considerar outras vertentes para a sua
atuação, nomeadamente, a de promotor de eventos
[...] no caso do esporte de participação para de aspecto social, valorizando formas de confrater-
adultos, o tipo de acompanhamento e rigor
nização, reforçando, desta forma, o sentimento de
deverá ser similar, com o treinador a adaptar
as exigências do processo de treino através de pertença e o valor da vida na sua plenitude.
uma forma negociada com os atletas. Por ven- Acreditamos que envolvendo os clubes, os diri-
tura, neste caso, a ficha do atleta deverá consti- gentes, os treinadores, os pais e os atletas, será evi-
tuir um acompanhamento do estado do atleta, denciada uma forma positiva de encarar o esporte e
monitorizando a sua saúde e servindo de ‘ala-
reforçará a sua importância na esfera social.
vanca’ motivacional para uma prestação espor-
tiva consentânea com os objetivos estabelecidos
entre si e o treinador (RESENDE, 2016, p. 41). Os treinadores que encarem o esporte com uma
responsabilidade que ultrapassa o próprio es-
porte, encetam uma via para o exercício profis-
O uso dos novos meios de controle do esforço, pos- sional de uma forma progressista, muito mais
sibilitados pelas aplicações informáticas, podem ser ampla e cujos contributos sociais consideramos
um auxiliar fundamental na promoção da motiva- ser de forte relevância (RESENDE, 2016, p. 42).
ção para uma regularidade da prática esportiva.
Para fazer face às intenções enunciadas anterior-
mente, as competências do treinador, figura nuclear
de todo o processo, deverão emergir de amplos co-
nhecimentos, de forma que ele exerça profissional-
mente a sua atividade de maneira eficaz.

REFLITA

Considere um clube esportivo cujo objetivo


principal é possibilitar, aos seus associados,
o esporte de participação. Quais tipos de
competências esse clube solicitaria aos seus
treinadores?

56
EDUCAÇÃO FÍSICA

57
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Contexto Histórico da
Intervenção do Treinador

emka74 / Shutterstock.com

O surgimento e o caminho de uma profissão permi- sociedades ocidentais industrializadas e capitalistas,


tem refletir sobre a sua implantação na sociedade, a germinou o esporte moderno. Neste período, foram
sua relevância social e os contornos culturais que a escritos os livros oficiais de regras e constituíram-se
caraterizam. Desta forma, alicerça os fundamentos organizações formais como os clubes, as federações
com os quais vai alavancar o seu futuro. e, posteriormente, as organizações internacionais.
O esporte moderno surgiu no século XIX, fun- Importante recordar que, a esta altura, o mun-
damentalmente na parte ocidental, uma área com- do começava a ganhar uma nova velocidade, com os
preendida pela Europa, pelos Estados Unidos e pelos transportes e as comunicações crescendo exponen-
domínios colonizados por europeus, como Canadá, cialmente. As organizações cristãs, essencialmente
Austrália e Nova Zelândia. Estas sociedades parti- por meio dos recursos educativos, acreditaram que
lhavam uma herança e uma cultura comuns. A cul- o esporte poderia ser uma boa ferramenta para as
tura ocidental era essencialmente burguesa, urbana, elites jovens e fomentaram a sua propagação em al-
de classe média e genericamente caucasiana. Nestas gumas partes do mundo. Neste contexto, a invenção

58
EDUCAÇÃO FÍSICA

do esporte moderno foi fundamental para a ressur- mais às classes trabalhadoras, em que os esportes
reição, em 1896, dos Jogos Olímpicos como ativida- mais populares eram o pedestrianismo e o boxe.
de elitista e amadora. Apesar de existir um componente de classe para
No século XX, o esporte tornou-se moderno, esta diferenciação, existia uma distinção mais prá-
uma vez que ele não se distinguia mais da indústria tica, pois, nos primeiros esportes, existia a ideia de
do entretenimento. O esporte de elevada perfor- refinamento das habilidades (técnica), enquanto os
mance tornou-se altamente profissional, com cres- esportes plebeus estavam mais focados nos atributos
centes investimentos pelas empresas privadas e pe- físicos daqueles que os praticavam.
las nações. Ser um atleta profissional ou treinador A partir do momento em que o esporte ganhou
passou a ser uma opção alternativa de carreira para expressão, todos os grupos sociais envolvidos em
os jovens. Infelizmente, o esporte de participação foi atividades com competição e cujo resultado era de-
marginalizado nas políticas governamentais e nas terminado pela atividade física, estratégia, ou opor-
organizações desportivas. tunidade tinham Coaches. Para isso, era necessária
uma adequada preparação, desde especialistas em
TREINADOR: UM PERFIL EM DIREÇÃO À esgrima ou professores de equitação, treinadores de
PROFISSIONALIZAÇÃO luta livre e mestres de armas. Todos estes reuniam
informação e depois empregavam métodos verbais e
A figura do treinador surge de forma pouco respei- visuais para transmitir a sua experiência aos atletas.
tada, pois quando se começa a popularizar o espor- O seu conhecimento acumulado, combinado com
te (na Inglaterra, no auge da Revolução Industrial), o seu crescente empreendedorismo, providenciou a
o esporte não era considerado conteúdo de ensino plataforma na qual os indivíduos desenvolveram a
(DURING, 1994). De acordo com o autor citado, os arte do treino no século XVIII e seguintes, refletin-
pedagogos ingleses indicavam que a passagem das do-se na preparação competitiva e no aumento do
regras do jogo para as regras da vida era tão mais efi- número de profissionais envolvidos.
ciente quanto mais discreta fosse a interferência do Paralelamente, uma cultura de apostas incen-
adulto. Neste sentido, o esporte serviria para edu- tivou meios de subsistência, pois aristocratas co-
car de forma cívica e moral por si só e, por isto, não locavam treinadores profissionais para preparar os
carecia de professores. “seus” atletas. Como em todas as eras, os treinadores
O termo Coach, do qual decorre a palavra “trei- não trabalhavam sem constrangimentos em relação
nador”, surgiu, inicialmente, na Inglaterra, referin- ao seu comportamento. Era-lhes requerido seguir
do-se à carruagem (Coche), mas também se tornou regras impostas pelos seus empregadores que, por
uma expressão coloquial que se referia a um tutor sua vez, avaliavam as suas credenciais antecipada-
privado no início do século XIX. É interessante real- mente à sua contratação e monitorizavam-os de for-
çar que, quando o Coaching começou a ser associa- ma muito próxima durante o período de treino. O
do com o esporte, foi sobretudo nas modalidades de treinador teria que agir com inteligência e firmeza,
classe social mais elevada, como o remo ou o cricket. liderar por meio do exemplo e relatar com sinceri-
A nomenclatura Trainer era uma designação afeita dade os progressos obtidos.

59
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Os treinadores, genericamente, emergiram do Apesar do aumento institucional da ciência, a práti-


interior da própria atividade como antigos atletas, ca no treino continuou a usar o conhecimento tradi-
fazendo uso do seu conhecimento e de suas habi- cional em todos os estádios do processo e, ainda que
lidades práticas, adquiridas durante o tempo em sistemáticos na sua abordagem, os treinadores con-
que estiveram eles próprios em competição. Apro- sistentemente se descreveram como práticos. Aliás,
veitando esta experiência, eles formularam os seus esta dicotomia entre aqueles que se intitulavam
próprios métodos de treino, assim como os entendi- como práticos (antigos atletas que, após o término
mentos acerca das técnicas e as abordagens compe- da sua carreira de sucesso, tornaram-se treinado-
titivas. Como nenhuma geração pode ser imune aos res) e os teóricos (habitualmente, os que vinham do
desenvolvimentos contemporâneos, os treinadores mundo acadêmico e, não raramente, sem currículo
mais aptos experimentaram e aplicaram conheci- esportivo de grande destaque) ainda constitui uma
mentos inovadores. realidade nos dias de hoje.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os con-
frontos políticos e ideológicos são igualmente ex-
portados para o esporte, com o intuito de evidenciar
a superioridade de um sistema em relação a outro
(GREEN; HOULIHAN, 2005). De um lado, o siste-
ma capitalista liderado pelos Estados Unidos e, do
outro, a União Soviética comunista.
O sucesso no esporte internacional destaca-se
pela valorização que os povos atribuem ao naciona-
lismo, para além dos lucros econômicos da organiza-
ção de grandes eventos, como Copas do Mundo ou
Jogos Olímpicos. Ao colocar em evidência a discus-
No século XIX, a expertise na preparação esporti- são do número de medalhas obtidas, as Olimpíadas
va passava, essencialmente, pelas comunidades de fazem emergir uma discussão sobre a avaliação do
prática, no sentido em que a partilha dos mesmos desenvolvimento esportivo em cada país. Essa dis-
problemas encorajava a procura de novas soluções. cussão tem como consequência alimentar a propa-
A esta altura, aumentou muito o número de fontes ganda sobre a eficácia do respectivo sistema político.
acessíveis aos treinadores. A produção de manuais Não negligenciando o protagonismo político que o
que se referiam aos métodos de treino, à psicologia, esporte atrai, os países, desejosos de se afirmarem
à ajuda ergogênica e à dieta ajudaram a entender a por meio das grandes competições internacionais,
evolução do processo de treino. Contudo, não são aplicaram um sistema que permitisse a constitui-
perceptíveis os aspetos mais implícitos do treino, a ção da melhor elite possível de atletas. O interesse
prática deste por si mesma, pois é assumido que este no esporte levou ao fato de que mais recursos, tanto
conhecimento só pode ser adquirido pela prática e materiais como humanos, fossem para aí canaliza-
por meio da experiência, observação, ensaio e erro. dos. Desta forma, o estudo e a pesquisa científica

60
EDUCAÇÃO FÍSICA

contribuíram para elevar a performance dos espor- Com a crescente exigência competitiva e os
tistas. Esta fase da evolução do esporte denomina-se montantes econômicos envolvidos, a direção do
de período científico (TUBINO, 1987), ou de siste- processo de treino de alto rendimento é liderado
matização (MANSO, VALDIVIESO; CABALLERO, por um treinador que reúne uma equipe de espe-
1996), em que se multiplicam laboratórios de pes- cialistas sob as suas ordens. Podemos enumerar
quisa científica nas áreas biológicas e se promovem como exemplo: os assistentes diretos do treinador
novas concepções de treino. em campo, depois, os que colaboram de forma mais
Seguindo esta evolução científica, sobressai a indireta, como o médico e o fisioterapeuta, ou o es-
formação de treinadores em uma base nacional, tatístico e o scouter (técnico cuja missão é observar
colocando estes profissionais como personagens a equipe adversária), entre outros profissionais que
centrais no processo de treino, essencialmente nos cuidam para que nada falte aos atletas na busca da
países do Leste Europeu. Consequentemente, esta sua melhor performance.
alteração valorizou a função da liderança do pro- Como consequência, a preparação para ser trei-
cesso de treino do ponto de vista social e também nador de elevado rendimento, um líder de um pro-
enquanto profissão. cesso de treino, exige o domínio de conhecimentos
Ao reconhecer a importância da qualificação que lhe permitam “digerir” todo o manancial de
de treinadores em relação à promoção do esporte, informação que os seus colaboradores lhe trazem
criou-se programas de formação especializada des- para, assim, tomar as decisões mais adequadas.
tes agentes. Como consequência, exercer a profissão
de treinador é uma ocupação respeitada nesses paí-
ses (WOODMAN, 1993).
O desenvolvimento da Educação Física (EF)
como uma disciplina acadêmica a partir dos anos 70
deu um impulso à qualidade de treino, particular-
mente no que se refere à área da Pedagogia. A este
propósito, Lyle (2002) referindo-se um relatório do
English Sport Council, de 1997, assinala que 13% dos
treinadores em atividade eram oriundos do ensino.
Este autor acrescenta, ainda, que a grande maioria
de professores de EF eram treinadores após cumpri-
rem as suas obrigações profissionais nas escolas.
A partir dos anos 80, houve uma alteração gra-
dual e de grande importância entre a lógica política
e a lógica do mercado. A representação do clube e
do país enquanto embaixadores políticos do seu re-
gime, foi substituída pela representação de grandes
multinacionais (PISANO, 2003).

61
considerações finais

O
enquadramento do esporte na sociedade deste século reveste-se de
uma grande relevância, pois permite ao profissional do esporte equa-
cionar e projetar de forma adequada a sua intervenção. Com a preo-
cupação subjacente de fazer com que o esporte contribua para melho-
rar a saúde das populações, nomeadamente por meio do fomento de um estilo de
vida saudável, os clubes esportivos terão que se reinventar.
Esses clubes terão de deixar de dispor somente de um caminho único que leva
ao alto rendimento (fomentando a exclusão pela seleção dos mais habilidosos),
para prestar um serviço mais eclético, envolvendo um maior grupo de cidadãos
que desejam praticar esporte. Deverão modernizar-se, profissionalizar todas as
suas estruturas e aparelhar-se bem, diversificando a sua oferta. Surgirão diferen-
tes formas da participação esportiva que necessitarão, por sua vez, de treinadores
qualificados, os quais respondam com competência a esta procura.
O perfil profissional do treinador, que vem alterando-se pelas demandas cada
vez mais complexas e específicas, verá a sua oferta diversificar-se, implicando
uma gama de conhecimentos e de competências mais sólidas. Não será mais
possível ao treinador somente saber do esporte em concreto. Ele terá que domi-
nar um conjunto de conhecimentos diversificados, alicerçados nas ciências que
suportam a atividade esportiva (ciências biológicas, ciências humanas e sociais)
para, com a intervenção pedagógica adequada, estimular uma aprendizagem só-
lida do atleta, seja este de participação (criança, jovem, adulto) ou de rendimento
(jovem ou adulto).
Neste sentido, o treinador terá que dar respostas às crescentes exigências que
lhe são colocadas, demonstrando uma capacitação e uma mestria reveladora dos
desafios que enfrentará. Somente deste modo ele poderá reivindicar e exigir a
consideração merecida pela sua atividade profissional.

62
atividades de estudo

1. Considerando a relevância do esporte para além 4. Imagine que um clube esportivo terá de enfren-
dos resultados das competições, o esporte é, tar novos desafios em sua atividade. Em relação
atualmente, uma atividade econômica de: à modernização desse clube, assinale a alterna-
a) Fraca relevância nacional. tiva correta.

b) Elevado impacto. a) Angariar mais sócios.

c) Encargo fiscal elevado. b) Ter um projeto esportivo abrangente.

d) Patrocínio pelos sócios dos clubes. c) Promover o alto rendimento em exclu-


sividade.
e) Incentivado em todos os ambientes.
d) Enaltecer a competição.
2. Entre as diferentes contribuições que o esporte e) Promover competições visando o
pode trazer ao ser humano, em relação às con- rendimento.
tribuições à saúde, assinale a alternativa correta.
a) Fomentar um estilo de vida saudável. 5. Diante da evolução científica, a formação do trei-
nador é evidenciada. Assim, com base nessa in-
b) Preparar fisicamente bem os atletas.
formação, analise as asserções abaixo:
c) Prevenir doenças. V - O treinador não poderá conhecer somen-
d) Limitar o aumento de peso. te sobre esporte em si, necessitando do-
minar conhecimentos diversificados.
e) Ser praticado esporadicamente.
PORQUE
3. Existem diferentes formas de encarar o processo
VI - O perfil profissional do treinador vem alte-
esportivo. Neste sentido, analise quais afirmativas
rando-se pelas solicitações cada vez mais
são contempladas pela participação esportiva: complexas e específicas.
I - Atletas jovens e adultos.
A respeito dessas asserções, assinale a opção
II - Atletas de rendimento jovens e adultos. correta.
III - Atletas de elevada performance esportiva. a) As asserções I e II são proposições verda-
IV - Atletas crianças e adolescentes. deiras, mas a II não é uma justificativa cor-
reta da I.
É correto o que se afirma em:
b) As asserções I e II são proposições verda-
a) I, apenas. deiras e a II é uma justificativa correta da I.
b) III, apenas. c) A asserção I é uma proposição verdadeira
c) II e III, apenas. e a II é uma proposição falsa.

d) I, II e IV, apenas. d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é


uma proposição verdadeira.
e) I, II, III e IV.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

63
LEITURA
COMPLEMENTAR

Conhecimentos e competências de formação


do treinador desportivo de crianças e jovens
Milhões de jovens participam esportivamente sob for- dos e adequados ao praticante, tendo em conta os seus
mas organizadas durante um período das suas vidas anseios e as suas expectativas. Contudo, para exercer
que é crítico para o seu desenvolvimento, assim, o papel com aproveitamento determinadas competências, estas
do esporte deve ser considerado muito importante pela têm que, naturalmente, se assentar em conhecimentos
sociedade (GILBERT; GILBERT; TRUDEL, 2001). O espor- gerais e específicos que possibilitem as primeiras ema-
te juvenil tem a possibilidade de favorecer três objetivos nar de forma consciente e concretizar-se de acordo
fundamentais para o desenvolvimento das crianças e com o domínio mal definido e pouco teorizado (JONES,
jovens (CÔTÉ, 2009a): I) oportunidade para serem fisica- 2006), como é o treino, onde se desenrolam. Desta for-
mente ativos, II) possibilidade de desenvolvimento psi- ma, coloca-se com pertinência a questão de quais tipos
cossocial por meio da cooperação, disciplina, liderança e de conhecimentos necessitam os treinadores e de que
autocontrole e III) papel determinante na aprendizagem forma estes podem transforma-ser em competências
das habilidades e competências motoras. Além disso, a ser aplicadas aos contextos diversificados de prática.
uma experiência desportiva precoce pode determinar a Este entendimento resulta da presunção de que somen-
futura participação desportiva (GILBERT; GILBERT; TRU- te por meio do exercício efetivo, em contextos reais, os
DEL, 2001) e hábitos de atividade física relacionados com conhecimentos adquiridos podem transformar-se em
a saúde ao longo da vida. competências concretas, aceitando o princípio de que a
A especificidade da formação esportiva de crianças e reflexão é o processo que medeia a experiência e o co-
jovens deve ser encarada de acordo com as suas mul- nhecimento, e que proporciona, em médio e em longo
tifacetadas aplicações, pois o contexto de prática pode prazo, a autonomia profissional.
ser profundamente diversificado. Com efeito, o ingresso Outra preocupação consiste em como podemos melho-
no processo esportivo pode ser encarado pelos jovens rar a aprendizagem dos jovens atletas? O objetivo deve
como uma forma de lazer, manutenção da saúde e incre- ser centrado em treinar os jovens, desenvolvendo-os
mento da forma física, pela influência de um ídolo, pela esportivamente de acordo com os valores inerentes ao
influência parental, entre outros. esporte, proporcionando-lhes autonomia e tendo como
Os conhecimentos exigidos ao treinador esportivo, as- meta a construção de uma carreira atlética em longo pra-
sim como as suas competências, devem ser diferencia- zo, com ênfase na manutenção de uma vida saudável.

64
LEITURA
COMPLEMENTAR

Conhecimentos dos treinadores de jovens


Tentar elencar o perfil completo de conhecimentos que a simples referência ao conhecimento acerca do treino,
os treinadores devem possuir é uma tarefa árdua, pois acerca dos atletas ou dos contextos do treino. Desta for-
o treino é um domínio mal definido (CÔTÉ; SALMELA; ma, ter uma base de conhecimento para o desempenho
TRUDEL; BARIA; RUSSEL, 1995) e, apesar do incremento profissional da atividade de treinador significa ter não só
da investigação empírica sobre o treinador esportivo, o conhecimento, mas também uma compreensão crítica
treino, enquanto processo, tem recebido menor atenção de como esse conhecimento deve ser adequadamente
que o estudo do rendimento esportivo propriamente relacionado com a prática, o qual assume um carácter
dito (CUSHION; JONES, 2001). Ainda recentemente, se tácito (GRAÇA, 1999). A investigação sobre o conheci-
considerava que o mais importante para um treinador mento dos professores, nomeadamente dos professores
era possuir e dominar os conhecimentos técnicos da de Educação Física, tem permitido traçar algum parale-
modalidade em que exercia a sua atividade (GUILLÉN; lismo com o treino, apesar de, reconhecidamente, cons-
MIRALLES, 1994) o que é manifestamente insuficiente, tituírem ações diferenciadas. Nesta linha de raciocínio,
pois a gama de problemas e solicitações a qual o trei- Ennis (1994) indica que os construtivistas argumentam
nador está sujeito não se compadece com o domínio que professores “experts” estabelecem encadeamentos
exclusivo dos conhecimentos específicos. Para Gilbert explícitos para os estudantes entre a informação ensi-
e Trudel (2001), o conhecimento do treinador engloba nada nas aulas e as experiências passadas e futuras dos
diferentes domínios: I) o conhecimento científico prove- estudantes. Refere, ainda, que os aprendizes ativos ar-
niente da sua formação acadêmica, ações de formação mazenam e recuperam informação na base de conexões
e autoinvestigação; II) o conhecimento prático, ou seja, significativas entre fatos e conceitos. Esta transferência e
conhecimento tácito originado pela sua prática de trei- integração entre os fatos e conceitos exige dos indivídu-
no acumulada; e ainda, III) o conhecimento resultante da os (treinadores) a utilização do conhecimento em novas
prática esportiva como ex-atleta em situações de treino situações. Com efeito, é este o contexto com que se de-
e competição. para permanentemente o treinador no decurso do pro-
É neste contexto que se constata que a questão do cesso de treino e durante as competições. Desta forma, a
conhecimento necessário para exercer cabalmente a cognição torna-se um processo de permanente constru-
profissão de treinador é muito mais complexa do que ção do conhecimento.

Fonte: Resende (2011).

65
material complementar

Indicação para Ler

A History and Philosophy of Sport and Physical Education: From An-


cient Civilizations to the Modern World 
Robert A. Mechikoff 
Editora: Kindle Edition
Sinopse: a história e a filosofia do esporte e da Educação Física oferecem uma
visão envolvente e informativa da filosofia do esporte do Egito à Grécia Antiga e
até o presente tempo. O livro toca aborda religião, política, movimentos sociais e
indivíduos que contribuíram para o desenvolvimento do esporte e da Educação
Física. Uma extensa gama de ferramentas pedagógicas, incluindo prazos, listas
abrangentes de objetivos de capítulos, websites sugeridos e questões de discus-
são, ajudam a experiência de aprendizado.

Indicação para Ler

Formação e Saberes em Desporto, Educação Física e Lazer 


Rui Resende, Alberto Albuquerque, A. Rui Gomes
Editora: Vozes
Sinopse: tendo por base os dilemas e desafios presentes na área da formação
profissional de técnicos desportivos e docentes, este livro reuniu pesquisadores
de diferentes áreas no sentindo de refletir sobre a formação e os saberes destes
profissionais no exercício de sua profissão.

66
material complementar

Indicação para Ler

História do Desporto
Thierry Terret
Editora: Publicações Europa-América
Sinopse: o desporto, tal como o conhecemos hoje, com as suas regras e técnicas,
as suas práticas e praticantes, as suas representações e instituições, os seus re-
cordes e valores, encontra a sua gênese na Inglaterra em plena Revolução Indus-
trial do século XVIII. As práticas mais antigas estavam ligadas a funções militares,
educativas ou sagradas, e não podem ser ligadas às lógicas desportivas contem-
porâneas, que oscilam entre tradição, peso do mercado e tramas políticas. Desde
as public schools até Zinedine Zidane, esta obra reconstitui a história do desporto
e mostra como o estudo daquilo que constitui uma verdadeira cultura de massas
oferece um dos melhores espelhos da nossa sociedade.

67
referências

ANDREAZZI, I. M. et al. Exame pré-participação MULHOLLAND, E. What Sport Can Do: The True
esportiva e o par-q, em praticantes de academias. Sport Report. Ottawa: Canadian Centre for Ethics in
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4, p. 272-276, 2016. goals.com/lang/content_en/downloads/content/
BRASIL. Ministério do Esporte. Diesporte – Diag- true_sport_report.pdf>. Acesso em: 19 set. 2018.
nóstico Nacional do Esporte. Saiba como, onde e PISANO, J. Sociologie du phénomène sportif. KS, n.
porque se pratica esportes no Brasil. Brasília: Minis- 435, p. 45-48, 2003.
tério do Esporte, jun. 2015 (caderno 1). Disponível RESENDE, R. Conhecimentos e competências de
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68
gabarito

1. B;
2. A;
3. E;
4. B;
5. B;

69
CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS
DO TREINADOR

Professor Dr. Rui Resende

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Conhecimentos do treinador
• Competências do treinador
• Domínios de desenvolvimento dos atletas
• Caraterização do esporte juvenil

Objetivos de Aprendizagem
• Identificar os diferentes tipos de conhecimentos do
treinador.
• Estudar as competências necessárias para o treinador
desempenhar a sua atividade.
• Nomear e reconhecer os diferentes domínios de
desenvolvimentos dos atletas.
• Caracterizar o esporte juvenil.
unidade

III
INTRODUÇÃO

P
ara desempenhar com qualidade qualquer atividade profissional,
é necessário possuir um conjunto de conhecimentos que permi-
tam atuar com competência. No caso do treino esportivo, ainda
recentemente se considerava suficiente o domínio do conteúdo
específico da modalidade para ser treinador. Nomeadamente, ter sido um
atleta preconizava requisitos suficientes para exercer a atividade.
Os problemas e as situações com os quais o treinador se depara, con-
tudo, são muito mais abrangentes que aquelas contidas no esporte por si
só. Carece o treinador de adquirir um conjunto de conhecimentos para
lidar com o processo de treino de forma a promover os que nele estão
envolvidos. A sua instrução não tem uma via única e pode ser obtida de
diversas formas. Importante será que as formações obtidas ao longo da
sua carreira mobilizem a sua capacidade de pensar, decidir e refletir a sua
prática de forma contínua.
Consequentemente, para promover a eficácia da sua atividade, o trei-
nador deverá desenvolver conhecimentos de nível profissional, interpes-
soal e intrapessoal. Os conhecimentos sustentam o exercício competen-
te da atividade, transformando o saber em saber-fazer. Treinadores de
sucesso evidenciam perfis de atuação caracteristicamente comuns, dos
quais destacamos uma permanente vontade de aprender, encontrar no-
vas soluções para os problemas que enfrentam, reavaliando, por meio de
uma autorreflexão permanente, a sua atividade.
A ação do treinador deve resultar nas aprendizagens dos atletas, a sua
atuação deve ter uma base pedagógica que permita o melhor desenvolvi-
mento desses atletas de acordo com os valores inerentes ao esporte. Exem-
plos práticos de qualidades de treinadores de jovens eficientes são propostas
por meio de características de treino. A caraterização do esporte juvenil ga-
nha pertinência no sentido em que este abarca uma faixa etária com diferen-
ças substanciais entre si, as quais, por sua vez, ocorrem em um curto período
de tempo, e para as quais o treinador deve estar devidamente preparado.
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Conhecimentos do
Treinador
O que é preciso para ser treinador? Como fazer para A complexidade e a responsabilidade do trei-
ser um bom treinador? Medir a qualidade deste pro- nador não se extinguem no domínio e no conheci-
fissional pelos resultados esportivos alcançados é mento específico da modalidade (nos seus aspectos
uma visão muito redutora da sua atividade, apesar técnicos, táticos e estratégicos), pois a generalidade
de ser esta a forma mais veiculada ao senso comum. das solicitações as quais ele é sujeito extravasa, em
Exploraremos a razão pela qual consideramos que o muito, este tipo de competência. O treinador assu-
treinador necessita de amplos conhecimentos para me múltiplos papéis, entre os quais o de líder, amigo
desempenhar com sucesso a sua atividade. e confidente e, por vezes, de pai ou de mãe.

74
EDUCAÇÃO FÍSICA

Esta unidade pretende elucidar sobre a comple- tecnologias. Para alcançar este objetivo, o treinador
xidade que envolve a atuação do treinador e que, terá de envolver-se em ações de formação de cará-
por consequência, exige um leque grande de conhe- ter formal, não formal e informal. A seguir, serão
cimentos, os quais devem despontar a partir de uma definidos estes conceitos.
pessoa culta. A razão pela qual chamamos a atenção Formação regular é aquela que decorre em um
para a palavra “culto” advém do fato de se requerer contexto cuja aprendizagem ocorre em ambientes
que um treinador concentre em si muito mais que institucionalizados, como os cursos de ensino supe-
o conhecimento e o domínio específicos de um es- rior relacionados à Educação Física e às Ciências do
porte. Ele deverá ter uma profunda consciência do Esporte, e programas convencionais de certificação
mundo que o rodeia e promover os valores sociais e de treinadores, que são ofertados por organizações
culturais, incentivando a participação cívica de to- governamentais ligadas ao esporte.
dos os envolvidos. • Aprendizagem não formal acontece pelo en-
Questiona-se, então, quais tipos de conheci- gajamento em atividades sistematicamente or-
mentos serão necessários para o treinador exercer ganizadas, ocorridas fora do ambiente formal.
Os locais onde estas ações se desenvolvem são
com competência e eficácia a sua função. Como já
variados, e as atividades, geralmente, são di-
afirmamos, a atividade do treinador é complexa e recionadas a grupos específicos. As conferên-
apela a um domínio de matérias que extravasam o cias, workshops, seminários e cursos de curta
âmbito do treino, dos atletas ou da competição. Im- duração oferecidos pelas federações são alguns
plica saber como colocar em prática uma atividade exemplos deste contexto de aprendizagem.
desportiva (ou um processo de treino), mas, igual- • A aprendizagem informal resulta de um pro-
mente, possuir uma compreensão crítica de como o cesso contínuo de formação que se prolonga
conhecimento deve ser relacionado com a prática de durante toda a vida. Ocorre por meio da intera-
ção com outros treinadores pelas experiências
forma adequada.
profissionais vivenciadas diariamente, das re-
Consequentemente, o treinador necessita de- flexões sobre a própria atividade, entre outros.
senvolver competências que vão ao encontro do
contexto em que ele atuará e de acordo com as ne- A atividade do treinador é sustentada por um con-
cessidades dos atletas. Ao ampliar a sua experiên- junto de conhecimentos e competências que se rela-
cia, ele precisa alargar o seu leque de conhecimen- cionam especificamente com o domínio da sua área
tos, suportados nas diferentes ciências que apoiam de intervenção, mas requer igualmente o envolvi-
o esporte, como são as ciências biológicas, as ciên- mento com os outros atores do cenário esportivo.
cias sociais e as metodologias de treino, nas quais Mobiliza, por isto, a capacidade de pensar, decidir e
se inserem com cada vez mais premência as novas refletir sobre a sua prática.

75
INICIAÇÃO ESPORTIVA

CONHECIMENTO PROFISSIONAL

Concretamente, quais serão, então, as habilidades a É um conhecimento que engloba o conteúdo espe-
serem desenvolvidas pelo treinador como forma de cífico do processo de treino e a forma como o trei-
ser eficaz na execução da sua tarefa? nador vai processar o ensino e a aprendizagem das
Sentimos, por isto, a necessidade de definir efi- habilidades esportivas. Estes conhecimentos podem
cácia, e recorremos à definição de Côté e Gilbert considerar:
(2009, p. 316) que indicam ser “a aplicação consis- • As áreas específicas do esporte, como a téc-
tente de conhecimento profissional integrado, inter- nica e a tática, os diferentes regulamentos e
pessoal e intrapessoal para melhorar os atletas” na regras das modalidades, as instalações e os
equipamentos.
sua competência, confiança, caráter e conexão com
• Os atletas, nomeadamente por meio do co-
os outros em contextos específicos de treinamento.
nhecimento sobre as suas capacidades, res-
Os autores consideram que a eficácia de um treina- pectivos estágios de desenvolvimento e a sua
dor depende de três fatores: motivação.
• Do conhecimento do treinador. • As ciências do esporte: as áreas biológicas,
• Dos resultados dos atletas. sociais e pedagógicas, como a fisiologia e a
• Dos diferentes contextos onde os treinadores medicina, ou a sociologia e a psicologia, ou a
tipicamente trabalham. didática e a gestão esportiva.
• O domínio da comunicação, tanto na sua
Definimos, em seguida, o que os autores entendem oralidade como na sua escrita, a matemática,
o uso da tecnologia.
por conhecimento profissional, interpessoal e intra-
pessoal (RESENDE; GILBERT, 2015, p. 28).

76
EDUCAÇÃO FÍSICA

CONHECIMENTO INTERPESSOAL CONHECIMENTO INTRAPESSOAL

Este conhecimento incide na forma como são esta- Inerente a este conhecimento, está a autoconsciên-
belecidas as relações dentro do ambiente esportivo. cia do treinador e a sua capacidade autorreflexiva.
Podem ser consideradas as seguintes áreas, de acor- Neste conhecimento, podem ser observadas as se-
do com Resende e Castro (2015): guintes áreas:
• O contexto social, onde o treinador deve in- • Filosofia pessoal, identidade, valores e
tegrar a macro e a microcultura do treino crenças do treinador, além do seu estilo de
esportivo; o domínio ético e a segurança da liderança.
participação esportiva por parte dos atletas; • A aprendizagem ao longo da vida, que exi-
a relação com a família e com as pessoas que ge do treinador competência na aprendiza-
mais diretamente acompanham os atletas; a gem, autonomia e responsabilidade. O trei-
afinidade com os colegas treinadores; a rela- nador deve desenvolver uma mentalidade
ção com os agentes esportivos como árbitros, adequada, a autorreflexão de forma contí-
dirigentes e com as entidades como os clubes nua e consistente, a capacidade de síntese
e as federações; a relação com os meios de co- crítica, a promoção da inovação e a criação
municação social. de conhecimento.
• A forma como se estabelece o relaciona-
mento através da comunicação; fomentar
Considerando a noção de eficácia expressa anterior-
a empatia e simpatia; ser um bom ouvinte
e questionar de forma pertinente; ter uma mente, as áreas de conhecimento descritas deverão
conduta pessoal apropriada; gerir e formar constar no repertório do treinador, de forma a po-
adequadamente o grupo como um todo e os der aplicá-las de forma crítica e com consistência
atletas individualmente. enquanto decorre a sua intervenção.
• O conhecimento da metodologia do treino
inclui-se no conhecimento interpessoal pois REFLITA
enfatiza-se que o treino, pelo desenvolvi-
mento que potência, se efetiva no contexto
da relação pedagógica estabelecida entre o Um exercício sobre a eficácia de um treinador
treinador e o atleta. Neste contexto, emergem é pensar em um desses profissionais que você
as seguintes áreas: metodologia e teoria da já teve a oportunidade de encontrar. Quais as
suas três melhores qualidades? E três delas
aprendizagem; planeamento, organização e
que menos lhe agradaram? Ao registrar por
concretização; criação de um clima positivo escrito estes aspectos, você estará refletindo
de aprendizagem; observar, avaliar e propor- sobre a forma como os seus futuros atletas
cionar um feedback adequado; explicar e de- o recordarão.
monstrar, instruir de forma apropriada

77
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Competências do
Treinador
A competência, no seu sentido mais lato, significa ser arbitragem, dentre outras), o treinador desenvol-
capaz de aglomerar um conjunto de conhecimentos ve a competência para saber como desempenhar
diversificados, desde os teóricos até os práticos, de a função. A competência emerge como fruto do
forma a corresponder à realização de uma tarefa com domínio dos conhecimentos adquiridos e tende
qualidade. Neste sentido, competência traduz-se pela a reconstruir-se de forma permanente com a ex-
qualificação de uma pessoa que expressa grande auto- periência adquirida, em função da reflexão que
ridade em um determinado assunto. advém dessa mesma experiência. Acredita-se que
Por meio do domínio de conhecimentos gerais a reflexão resulta da forma como se colocou em
(ciências que apoiam o processo de treino, como a prática o processo de treino e dos contextos reais
fisiologia ou biomecânica nas ciências biológicas, vivenciados, transformando, assim, experiências
ou a psicologia ou a pedagogia nas ciências so- em melhores competências e, consequentemente,
ciais) e específicos da modalidade (técnica, tática, em autonomia profissional.

78
EDUCAÇÃO FÍSICA

O International Council for Coaching Excellence (ICCE, 2013, p. 16) refere e elenca as com-
petências que o treinador necessita para a sua atuação, estabelecendo um conjunto
de funções primárias que confluem em habilidades específicas (competências).

1. Definir visão e estratégia – De acordo 4. Conduzir práticas – As práticas, ou, neste


com as necessidades e fases de desen- caso, a condução dos treinos, é onde o trei-
volvimento dos atletas, tendo em conta o nador explana o seu conhecimento. Cabe a
contexto, o treinador cria uma estratégia ele organizar as Unidades de Treino adequa-
adequada para compreender o contexto das ao contexto onde se insere, fazer com
de prática: que estas sejam desafiantes e motivadoras,
a. Analisar as necessidades dos atletas. utilizando todos os recursos à sua disposição.
b. Definir os objetivos do trabalho de acor- a. Dirigir os atletas em treino e em competição.
do com o contexto e os atletas. b. Empregar diferentes metodologias de trei-
no de acordo com o contexto e os atletas.
c. Organizar competições.

2. Moldar o ambiente – É importante que o 5. Ler e responder ao campo de ação – Como


treinador consiga adequar o grupo de atletas líder, o treinador deve responder de forma
à sua estratégia de treino. Neste sentido, ele adequada a todas as ocorrências. Neste sen-
é responsável pela planificação, pelos mé- tido, uma tomada de decisão eficaz é deter-
todos de trabalho, pela adequada utilização minante para o desempenho desta função.
dos recursos materiais à sua disposição, pelo a. Avaliar o treino e a competição.
ambiente por meio do qual o processo se de- b. Analisar o rendimento dos atletas e das
senrolará e pela gestão de outros ativos com equipes.
os quais ele realiza a sua atividade:
c. Realizar ajustamentos no processo de
a. Organizar um ambiente seguro de treino. treino e durante a competição.
b. Criar planos de ação.
c. Definir critérios de sucesso.

3. Construir relações – Cabe ao treinador a 6. Aprender a refletir – Na constatação da


construção de relações positivas com todos importância de desenvolver uma estratégia
os que estão envolvidos no processo: de reflexão, é fundamental um processo de
a. Liderar e influenciar. melhoria contínua por parte do treinador.
b. Comunicar de forma eficaz. Isto sustenta um desenvolvimento profis-
sional persistente.
c. Gerir pessoas.
a. Desenvolver uma filosofia de treino.
b. Aprender de forma contínua.
c. Refletir e autoavaliar-se.

79
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Ao descrever o conjunto de competências listadas problemas ou novos planos de atuação. Proficiente


anteriormente, pretende-se ilustrar os saberes-fazer é o treinador que demonstra, de forma consistente,
que os treinadores precisam de desenvolver de for- distinguir o importante do acessório no processo
ma continuada. de aprendizagem, e possui a noção de timing para
alterar as tarefas que não estão decorrendo satisfato-
CARACTERÍSTICAS DOS TREINADORES riamente, tomando decisões segundo um processo
DE SUCESSO de análise consciente e deliberada. O treinador de
sucesso tem como característica uma forte intuição
Uma forma de observar criticamente o perfil de sobre o que rodeia o processo de treino, tendo como
competências de um treinador é identificar se há ca- resultado respostas rápidas, fluidas e naturais às si-
racterísticas comuns com treinadores que, durante tuações enfrentadas. É uma pessoa que edifica a sua
a sua carreira, obtiveram sucesso. Por exemplo, em competência de forma contínua, refletindo sobre a
uma pesquisa com o propósito de avaliar como os sua prática e comparando os seus procedimentos
treinadores bem-sucedidos de esportes coletivos ad- com os dos seus pares.
quirem conhecimento, Salmela, Draper e Laplante Cassidy, Jones e Potrac (2004) propõem que a
(1993) reportaram oito caraterísticas relacionadas reflexão por parte do treinador se situe a nível téc-
com o sucesso: (1) envolvimento “precoce” em es- nico, prático e crítico. Considerando o nível técnico,
porte; (2) aprendizagem com mentores; (3) carreira as questões que o treinador deve colocar a si mesmo
“precoce” e desenvolvimento de carreira amadure- podem ser:
cida; (4) outras fontes de conhecimento; (5) cons- • Como assegurar que todos os atletas me es-
trução de equipe; (6) capacidade no envolvimento cutem?
do treino; (7) operante em competição; (8) futuros • A quais materiais posso recorrer para melho-
mentores de treinadores. Por outro lado, os autores rar o ensino desta tarefa?
registraram que treinadores ligados ao meio acadê- • Alcancei os objetivos definidos para esta ses-
são de treino?
mico e com conhecimentos semelhantes aos treina-
• Como posso solucionar este problema?
dores de sucesso têm dificuldade em competir com
• Qual parte do treino é passível de ser alterada
os conceitos integrados obtidos pela experiência
para que ele termine na hora estipulada?
destes últimos.
• O que não está certo com os atletas?
Competente é o treinador que, à medida que
• Por que é que não lhes agrada fazer este
conquista experiência pela resolução dos proble-
exercício?
mas levantados pelo processo de treino e os registra
• Quais alterações posso fazer para que este
na sua memória, começa a reconhecer similitudes exercício decorra de uma forma mais atrativa?
em contextos diferenciados. Ou seja, a competên- • Será este exercício adequado aos propósitos
cia emerge quando, após a apreciação de cada nova da sessão de treino?
experiência, se encontram novas soluções para os

80
EDUCAÇÃO FÍSICA

A um nível prático, o treinador considera os atletas atletas (idade, sexo, nível de desenvolvimento, en-
como pessoas ao questionar-se sobre: tre outros), do ambiente sociocultural e das condi-
• Quais são as alternativas para transmitir a ções materiais que ele usufrui. Naturalmente, não
minha mensagem? existem situações de treino iguais, pois todas as so-
• Qual informação transmito pela minha pos- luções deverão ser específicas e de acordo com o co-
tura e pelo o que eu visto? nhecimento desenvolvido pelo treinador.
• A minha experiência como atleta influencia a
minha atuação e as minhas expectativas?
• O meu comportamento reforça estereótipos?
• Quais são os feedbacks sobre a perfor-
mance e os feedbacks comportamentais? E
quem os tem?
• O tipo de feedback reforça a aprendizagem?
• Recorro de forma suficiente à tecnologia
disponível?

Adquirindo uma postura crítica, o treinador incide


a sua reflexão sobre o significado político, moral e
ético da sua intervenção. Ele questiona-se sobre o
valor do conhecimento, de que forma ele valoriza a
justiça e a igualdade. Consequentemente, o treina-
dor pode considerar:
• Qual a representação do conhecimento du-
rante o treino?
• Como procedo se um dos melhores atletas da
equipe está a 80%?
• Como proceder quando a tradição da equi-
pe ou do clube não são equitativas ou até são
injustas?
• Dou feedbacks diferentes de acordo com a
qualidade dos atletas? Por quê?

Conjuntamente, esses níveis de reflexão podem au-


xiliar o treinador em sua tarefa de adequar a sua
atividade ao contexto em que ela ocorre. Concre-
tamente, o treinador depara-se sempre com uma
situação única em face da especificidade dos seus

81
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Domínios de Desenvolvimento
dos Atletas
Os conhecimentos adquiridos pelos treinadores de- gada, com ênfase na manutenção de um estilo de
vem resultar nas aprendizagens dos atletas. Neste vida saudável.
sentido, é importante operacionalizar a sua inter- A forma qualificada como o treinador comuni-
venção a partir de uma base de atuação pedagógica ca, explica e demonstra é decisiva para o processo de
que, por sua vez, permita o melhor desenvolvimen- aprendizagem e motivadora do seu sucesso. Signifi-
to do atleta de acordo com os valores inerentes ao cando, por isto, que se o treinador conceber empe-
esporte. A ação do treinador em relação aos atletas nhamentos de prática que promovam a motivação
procura proporcionar-lhes autonomia, e tem como para a aprendizagem, o atleta reforça a sua aptidão e
meta a construção de uma carreira atlética prolon- o seu comprometimento com a atividade.

82
EDUCAÇÃO FÍSICA

O treino intenciona desenvolver os atletas em texto esportivo específico. Será importante consi-
quatro domínios (4Cs – competência, confiança, derar que esta proposta se insere na perspectiva de
conexão e caráter) (ERICKSON; GILBERT, 2013). desenvolvimento positivo do jovem enquanto pra-
Contudo, o treinador deverá estar consciente de que ticante esportivo e enquanto ser humano. Segue o
este desenvolvimento se circunscreve em um con- Quadro sobre os quatro domínios (4Cs):

Quadro 1 – Os quatro domínios

Por competência, entende-se as caraterísticas específicas do esporte no que diz respeito às téc-
nicas e táticas respectivas, a aptidão para a performance e a capacidade em melhorar os índices
de saúde, assim como a obtenção de hábitos de treino saudáveis.
• A competência técnica refere-se à capacidade de o atleta realizar as tarefas necessárias para
alcançar o sucesso esportivo.
Competência • A competência tática incide na habilidade das ações e decisões que os atletas efetuam duran-
te a competição para obter vantagem sobre os seus oponentes (tomada de decisão, leitura
de jogo e estratégia).
• As qualidades funcionais, conjuntamente com a aptidão física, são as competências que pos-
sibilitam ao atleta manifestar a capacidade esportiva específica (velocidade, agilidade e endu-
rance).
Confiança é a percepção que um atleta possui acerca do seu valor pessoal em termos globais e
esportivos, nomeadamente por meio da sua autoestima e autoeficácia. Para esta característica,
é determinante ser equacionada na qualidade da participação esportiva. Nesta particularidade,
Confiança
o tempo (continuidade) despendido, assim como a intensidade pelo número de anos em que
o atleta esteve comprometido com uma determinada atividade, é determinante para avaliar os
efeitos positivos que o esporte pode ter na formação pessoal do atleta como pessoa.
Conexão constitui-se das obrigações positivas e das relações sociais que os atletas criam com as
pessoas, dentro e fora do esporte. Constitui-se das medidas de qualidade criadas, assim como
Conexão
do grau de interação com os pares, treinadores, dirigentes e outros envolvidos no ambiente
esportivo.
Caráter engloba o respeito com o esporte e com os outros (conceito de moralidade), a integri-
dade, a responsabilidade e a empatia genericamente estabelecida. O caráter, no esporte, está
Caráter
tipicamente relacionado com os comportamentos sociais e a prevenção de comportamentos
antissociais.
Fonte: Resende e Gilbert (2015, p. 29).

Os três últimos domínios constituem medidas psi- Tendo em conta o desenvolvimento holístico
cossociais que revelam a importância para a cons- do jovem atleta e respectiva contextualização
onde se desenrola a prática esportiva, o trei-
trução de um atleta, sustentando a relevância que
nador deve estar consciente dos diferentes ti-
deve ser atribuída à sua compreensão para um trei- pos de participação esportiva que se podem
no mais eficaz. deparar aos jovens. Aqui, surge uma nova

83
INICIAÇÃO ESPORTIVA

forma de estar no esporte e que implica uma No Quadro 2, estão expostas as características que
posição substancialmente diferente da vivida um treinador de jovens deve ter para ser eficaz. Rela-
no meio esportivo até recentemente. Identi-
ciona-se à busca pelo melhor desempenho esportivo
ficam-se dois tipos de participação esporti-
va. Uma em que os atletas procuram como com os resultados psicossociais positivos dos seus
resultado da sua prática o divertimento, o atletas (ERICKSON; GILBERT, 2013). Os autores
desenvolvimento de habilidades e envolver- referenciam que os treinadores que fomentam a au-
-se num estilo de vida saudável. Outra, que tonomia parecem ter uma melhor resposta por parte
abrange o esporte de performance, em que o
desenvolvimento de capacidades atléticas e a
das crianças e jovens, pois estes profissionais promo-
sua colocação em evidência surgem através vem uma atmosfera de conhecimento por meio do
da competição (RESENDE; GILBERT, 2015, esforço pessoal em vez de procurar evitar a incom-
p. 29). petência (o erro, o fracasso ou a derrota).

Quadro 2 - Qualidades de treinadores de jovens eficientes

Construto Características de treino eficiente Exemplos práticos

Instrução. • Elogio dos esforços desejados.


Comportamentos
Suporte. • Encorajamento e instruções técnicas relevantes após
dominantes
Ausência de punições. os erros.
• Inclusão dos atletas no processo de tomada de de-
Tom (entoação) cisão.
Autonomia-suporte.
motivacional • Providenciar justificativa para as decisões técnicas.
• Solicitar as perspectivas dos atletas.
Orientação dos • Avaliação da performance dos atletas com base na
Mestria/Clima de aprendizagem.
objetivos melhoria autorreferenciada, aprendizagem e esforço.
• Questionar os atletas.
Interatividade • Promover a discussão.
Encorajar.
com o atleta • Confirmar verbalmente o entendimento por parte
dos atletas sobre os conceitos/instruções.
Fonte: Erickson e Gilbert (2013, p. 30).

84
EDUCAÇÃO FÍSICA

A qualificação do processo de treino deve incidir


nas necessidades dos atletas em cada momento do
treino, de forma que eles possam alcançar os seus
objetivos (os quais podem ser distintos uns dos ou-
tros, mesmo em um grupo muito similar). De acor-
do com Côté (2009), e levando em conta os contex-
tos de treino, é fundamental relacionar as etapas de
formação dos praticantes com as exigências de per-
formance de cada modalidade esportiva.
Desenvolver um conceito de formação esportiva
abrangente e plural deve fundamentar a ação do trei-
nador no sentido da qualificação da prática esportiva.
Assim, um treinador deve assumir uma aborda-
gem holística na sua intervenção, considerando o pro-
cesso de treino de uma forma integrada e que solicita
diversos conhecimentos, como são os aspectos pesso-
ais e emocionais do atleta, além do contexto onde este
se insere, o qual determina a sua identidade social.

SAIBA MAIS

Jean Côté (2013), autor canadense, em um


artigo que aborda o treino de futebol jovem,
refere-se a como é importante o treinador não
apenas ensinar, mas sim, de qual forma ele
ensina. É este aspecto que marca a diferença
na qualidade e na eficácia do processo de
treino e maximiza o desenvolvimento pessoal
do atleta.

Fonte: o autor.

85
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Caracterização do
Esporte Juvenil

86
EDUCAÇÃO FÍSICA

A cultura juvenil, pelo menos no mundo desenvol- da criança no mundo esportivo, sustentando a sua
vido, expressa-se de forma muito idêntica, sendo participação tanto material como financeiramen-
que a maneira como os jovens gastam o seu tempo, te (GOMES, 2010). Sobre esta matéria, Smoll et al.
entre as tarefas escolares e as folgas, é muito similar. (2011) alertam que os familiares influenciam a inte-
A partilha de gostos e a forma como eles utilizam o gração social por meio do esporte, mas também têm
seu próprio dinheiro, a moda, as preferências musi- um impacto profundo nas consequências psicoló-
cais e, por inerência, o esporte, têm características gicas que daí resultam. Considera-se, por isto, mais
muito semelhantes. A esta generalização, que in- importante que estas experiências sejam positivas e
fluencia de modo determinante o estilo de vida des- fomentadoras de uma atitude perante a vida, atitude
ses jovens, não são imunes os avanços tecnológicos esta que seja, acima de tudo, saudável. No extremo
e a sua globalização, fazendo com que esta parte da contrário, Gomes (2011) aponta exemplos negativos
população manifeste um crescente desinteresse pela de pais que colocam expectativas elevadas na per-
leitura (ZUZANEK, 2005). formance esportiva dos filhos, fomentando níveis de
O ambiente esportivo deve ser encarado, quando pressão tão elevados que podem tornar a experiên-
se equaciona os tempos atuais, como uma microrre- cia esportiva desagradável e indesejável e, por isto,
produção da sociedade, onde a volatilidade de pro- levando ao seu abandono de uma forma precoce.
cessos é uma caraterística, e a capacidade para a per- Reforçando esta perspectiva, Ross, Mallett e
severança e a concentração em uma tarefa decaiu, na Parkes (2015), em uma investigação qualitativa
exata proporção em que a velocidade de aquisição com treinadores de jovens australianos e a sua in-
de informação aumentou. Contudo, o esporte pode teração com os pais, referem, consideravelmente, a
constituir-se como um local onde a sociedade pode mais interações negativas do que positivas. Alguns
reproduzir e facilitar, por meio de uma intervenção participantes reportaram, ainda, esforços na for-
adequada, uma preparação para a vida. mação dos pais, observando que estas abordagens
Considerando os apontamentos prévios, não de- foram inadequadas ou infrutíferas. Este será even-
vemos esquecer que as crianças e jovens, apesar das tualmente um tema ao qual a investigação deverá
idades relativamente próximas, não têm gostos e in- dar maior atenção, no sentido de propor progra-
teresses coincidentes. Uma criança com 7 anos tem mas de formação dos pais quando envolvidos no
motivações bem divergentes de um pré-adolescente esporte dos seus filhos.
de 13 anos, ou seja, a intervenção pelo esporte deve Para além da família (agente primário), a es-
ter em forte consideração as diferentes idades das cola (agente secundário), fundamental na adesão
crianças e dos jovens, assim como os seus estágios e permanência no esporte, possui, na generalida-
de desenvolvimento. de dos currículos, a disciplina de Educação Físi-
Refletindo sobre como se processa a adesão ao ca. Esta tem como importante função promover o
esporte, verificamos a importância da família como conhecimento esportivo e possibilitar o primeiro
agente primário. Ela atribui importância às ativida- contato com este meio. Neste contexto, pode ser
des físicas e, consequentemente, apoia o ingresso determinante a forma empenhada com a qual

87
INICIAÇÃO ESPORTIVA

o professor de Educação Física leva à prática e lização do esporte tem nos jovens, nomeadamente
constrói a sua atividade, o relacionamento que os feitos e vitórias das suas equipes de eleição em
estabelece com os alunos e o entusiasmo que ele geral, e dos seus ídolos em particular. Esse impacto
lhes provoca para que continuem a praticar es- sai, ainda, reforçado com as agressivas estratégias de
porte (RESENDE et al., 2014). Os mesmos autores marketing que estão associadas a estes eventos. Con-
afirmam que, além de influenciar positivamente tudo, naquilo que estamos analisando, para a ade-
os alunos para aderir à prática esportiva, o pro- são esportiva por parte dos jovens, é questionável o
fessor de Educação Física, muitas vezes, estabe- impacto destas realizações. A este propósito, Green
lece e promove contatos entre a escola e o clube (2010), após considerar diversas pesquisas, enuncia
esportivo, seja este escolar ou federado. O meio que o impacto dos ídolos esportivos na adesão es-
onde se insere a criança e o jovem poderá con- portiva dos jovens é “muitas vezes mal-entendida e
ter fortes estímulos para potencializar a adesão ao frequentemente exagerada” (GREEN, 2010, p. 157).
esporte. A identidade social dos grupos aos quais Ao considerar e caracterizar o esporte juvenil,
se associa o jovem, quando este inicia a sua ex- é fundamental refletir sobre a importância que a
ploração do mundo para além do círculo familiar família mais próxima do atleta atribui à sua fre-
mais próximo, é determinante para a construção quência, assim como o tipo de ajuda que esta lhe
da sua personalidade. Neste sentido, os interesses presta. Esta preocupação tem, como base, o desejo
comuns poderão catalisar a aderência e a perma- de incrementar a prática esportiva das crianças e
nência no meio esportivo, pois, para os jovens, a dos jovens. Desta forma, deve-se ponderar que a
participação esportiva é motivadora e facilitadora harmonia familiar é frequentemente perturbada
de relações sociais (GREEN, 2010). pelos horários da participação esportiva, tanto nos
Apesar de não constituir um objetivo do presen- treinos quanto nas competições, e uma necessária
te trabalho, não há de se descuidar da importância envolvência e corresponsabilização da família são
que, aqueles que se configuram como líderes entre cruciais para o êxito dos programas esportivos.
os jovens, têm na forma como estes enfrentam a par- Neste sentido, os projetos da área devem procu-
ticipação esportiva (PRICE; WEISS, 2011). rar integrar todo um processo que se desencadeia,
Ao promover e incentivar a prática esportiva, habitualmente, pela mão de um adulto, e que se
providenciando instalações e materiais, a interven- prolonga até a sua fidelização e autonomia. As in-
ção política visa a promover a atividade física e o vestigações sugerem que este processo é, em inú-
esporte, aceitando e compreendendo o importante meras vezes, preenchido de insucessos e frustra-
benefício social que ela mesma pode retirar deste ções, tendo, como resultado, o abandono precoce
investimento. da atividade esportiva. Será então de grande im-
As experiências prematuras e bem-sucedidas portância considerar, em cada contexto particular,
com o esporte parecem influenciar as tendências de o início da atividade esportiva pela criança, pois,
ocupação do tempo livre por parte dos jovens. No quando jovem, a sua experiência é uma mais-valia
seguimento destas considerações, será interessante para uma vida ativa em longo prazo (RESENDE;
considerar qual o tipo de impacto que a mercanti- GILBERT, 2015).

88
EDUCAÇÃO FÍSICA

Neste sentido, teremos que considerar e reconsi- rendimento esportivo deve ser respeitado para quem
derar a oferta esportiva, não olhando para a sua ini- o almeja, mas não deve constituir a única finalidade.
ciação como uma via de sentido único para o ren- Projetar um programa esportivo constitui um
dimento ou a elevada performance. Poucos são os desafio, e esse programa deve considerar as fases de
atletas que alcançam o elevado rendimento e, por desenvolvimento das crianças e dos jovens, assim
isto, a participação esportiva deve contemplar na sua como o contexto no qual ele se implementará. De
gênese e, como consequência, na sua prática, um con- acordo com Resende e Gilbert (2015), entre os 5 e
junto de valores adequados a esta realidade. Apoian- 8 anos, a estruturação do esporte deve ser pouco
do este comentário, Muir et al. (2011) referem-se à formal, não existindo a necessidade da existência de
existência de dois tipos de abordagem ao processo equipes formais. O grande objetivo é entusiasmar
de treino que envolve as crianças e os jovens, sendo a participação esportiva, a fruição da atividade e o
que em nenhum deles são equacionadas as suas ne- estabelecimento de relações sociais. Nesta faixa etá-
cessidades de desenvolvimento em longo prazo. Um ria, a forma como os pais e os treinadores encaram o
é o esporte de elevado rendimento reproduzido pelos esporte é determinante para a forma como os jovens
adultos (em que, muitas vezes, ocorre uma especiali- se julgam quando estão em atividade. Neste sentido,
zação precoce e uma seleção de atletas com base na as suas expectativas devem concentrar-se no esfor-
sua performance atual, sem considerar as suas poten- ço desenvolvido e na envolvência com a atividade,
cialidades de desenvolvimento), a outra é aquela que tendo como objetivo maior a diversão por meio da
somente pretende a ocupação ativa das crianças e dos aprendizagem de novas habilidades.
jovens. Contudo, a crítica feita a estas organizações é
que, apesar das atividades serem esportivas e com um O MODELO DE DESENVOLVIMENTO DE
espírito lúdico, carecem de uma estrutura e de uma PARTICIPAÇÃO ESPORTIVA (DEVELOP-
organização que fomentam uma aprendizagem con- MENTAL MODEL OF SPORT PARTICIPA-
sistente. Destas duas situações derivam, no primei- TION – DMSP)
ro caso, programas demasiado exigentes ao nível de
volume de treinos, de competições e de pressão para Côté et al. (2007) indicam que o desenvolvimento
vencer. Na situação considerada mais de lazer, a prá- esportivo se inicia por uma adesão ao esporte (sam-
tica, quando tão livre e pouco exigente, dificilmente pling years), em que as atividades lúdicas, por meio
faz ocorrer o desenvolvimento, sobressaindo apenas do esporte e em vários deles, são prioritárias. A se-
os naturalmente mais dotados (MUIR et al., 2011). guir, vêm os anos de especialização esportiva (spe-
Considerando os pressupostos anteriores, de- cializing years), seguidos pelos anos de investimento
fendemos uma ideia mais moderna e de acordo com esportivo (investment years). Simultaneamente a es-
aquilo que deve ser o pressuposto do esporte para tas duas fases, os autores referem que, quem procura
todos. Ou seja, uma atividade social que deve pro- o esporte de participação, eleva a percentagem de
mover o desenvolvimento físico e a fruição pela ati- jogo em detrimento do tempo dedicado à prática
vidade física para todos os jovens, de acordo com as deliberada, focando-se, com igual importância, nas
suas necessidades e objetivos. Claro que o desejo de atividades cujo foco são o fitness e a saúde.

89
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Hancock e Côté (2014), concretizando o mo- • Os anos de especialização (12-16 anos) de-
delo referenciado (DMSP), aconselham a prática vem incluir um equilíbrio entre o jogo e o
esportiva de crianças e jovens: treino, diminuindo o número de esportes,
• Entre os 6-12 anos, a importância maior deve iniciando-se a diferenciação em níveis com-
ser o jogo, propondo uma percentagem de petitivos. Neste contexto, e apesar do diver-
80% para as atividades de jogo e 20% para a timento e do prazer que advêm da prática
prática deliberada. Desta forma, as crianças esportiva, emerge a especificidade esportiva
experienciam diferentes esportes, reduzindo como uma característica determinante.
a seleção, fomentando equipas pequenas, au-
mentando o tempo de jogo e incentivando o
esporte como forma de prazer e excitamento.

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

• Os anos de investimento ocorrem, depen-


dentemente da modalidade esportiva, a par-
tir dos 16 anos, em que a prática deliberada
(treino) constitui a maior parte do tempo
(80%), implicando que o jovem está vincula-
do a atingir patamares de rendimento espor-
tivo elevado em um determinado esporte.

As percentagens propostas anteriormente podem ser-


vir de linha de orientação para o desenvolvimento de
um processo de treino, tendo em conta as necessida-
des de cada grupo em concreto. Desta forma, evita-se a
especialização precoce e possibilita-se um desenvolvi-
mento mais global do atleta, o que poderá verificar-se
crucial se ele enveredar pelo esporte de rendimento.

91
considerações finais

A
unidade sobre os conhecimentos e as competências do treinador pre-
tendeu tornar evidente a complexidade da sua atuação. Respondendo
as questões do que é necessário para ser treinador e como fazer para
ser um bom profissional, constatamos que os seus procedimentos te-
rão de se sustentar em conhecimentos sólidos e abrangentes, de forma que de-
sempenhe a sua atividade com competência, certificando-se que os seus atletas
se desenvolvam de forma holística, independentemente do nível de participação
esportiva na qual estejam. Competências como ter uma visão estratégica da sua
atividade, construir relações e conduzir práticas são exemplos de atributos rela-
cionados à liderança de um processo de treino.
Ressaltamos a importância de uma formação continuada independentemen-
te da sua origem, salientando a importância do treinador colocar, de forma conti-
nuada, a sua atividade em equação para, por via da autorreflexão, inovar na reso-
lução dos problemas que ele enfrenta cotidianamente. Neste sentido, o treinador
pode colocar a si mesmo questões de nível técnico, prático e crítico, de forma a
melhorar e adequar as suas ações. Assim, ele torna-se um fomentador de novos
conhecimentos que, concomitantemente, lhe proporcionam uma maior experti-
se, à medida que adquire experiência. A atividade do treinador, para se revestir de
sucesso, deve se sustentar em ações pedagógicas que fomentam a aprendizagem,
a despeito do nível de participação esportiva dos atletas.
Neste sentido, o treinador deverá desenvolver os atletas ao nível da sua com-
petência (medida de performance), confiança, conexão e caráter (medidas psicos-
sociais). No processo esportivo, as crianças e os jovens devem ser considerados
de forma distinta, pois os seus interesses, gostos, preferências e vontades, para
além de se alterarem rapidamente em função do desenvolvimento tecnológico,
podem ser pouco coincidentes por causa das diferenças de idade. O treinador
terá, por isto, de fomentar o processo de treino adequado para cada situação em
particular.

92
atividades de estudo

1. O cargo de treinador é uma função exigente. a) Tem no seu currículo um maior número de
Neste sentido, pode-se afirmar que o treinador vitórias do que de derrotas.
é bom quando: b) Define e aplica uma visão estratégica ade-
a) Tem formação universitária na área do es- quada ao seu contexto de prática.
porte.
c) Consegue transformar possíveis derrotas
b) Possui conhecimentos gerais e específicos em vitórias.
adequados à sua prática.
d) Elabora táticas e estratégias inovadoras.
c) Exerce uma liderança firme e autoritária.
e) Utiliza a sua experiência como atleta.
d) Foi um excelente atleta.
4. Umas das características de um treinador com-
e) Foi árbitro.
petente é usar o exercício da reflexão para apri-
2. Para estar apto a liderar um processo de treino, morar o desempenho da sua atividade. Assim, a
o treinador necessita de amplos conhecimentos reflexão do treinador pode se efetuar:
profissionais. Em relação aos conhecimentos a) Após a derrota em um jogo.
mais relevantes, analise as afirmativas. b) Ao nível das condições oferecidas aos atle-
I - Dominar as áreas específicas do esporte. tas.
II - Conhecer as capacidades dos atletas. c) Ao nível das condições monetárias propos-
III - Saber medicina, psicologia e sociologia. tas para a sua renovação.

IV - Dominar a comunicação oral e escrita. d) Ao nível técnico, prático e crítico.

É correto o que se afirma em: e) Ao nível emocional apenas.

a) I, apenas. 5. O treinador deve focar o seu ensino/treino para


que os atletas aprendam e transformem com-
b) III, apenas.
portamentos. Consequentemente, a aprendiza-
c) II e III, apenas. gem dos atletas é dirigida para obter resultados
d) I, II e IV, apenas. em:
e) I, II, III e IV. a) Competência e caráter.
b) Resultados expressivos.
3. O domínio de conhecimentos possibilita o exercí-
cio qualificado e com competência na direção de c) Melhores resultados estatísticos em com-
um processo de treino. Neste sentido, um treina- petição.
dor é competente quando: d) Melhor capacidade física e atlética.
e) Melhorar a imagem perante a mídia.

93
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia, agora, um trecho selecionado de um artigo subme- Para que jovens esportistas aprendam de forma eficaz
tido para publicação na Revista Iberoamericana de Psi- e possam transferir habilidades desenvolvidas por meio
cología del Ejercicio y el Deporte, com o título “Desen- do esporte para a vida cotidiana, é necessário que o en-
volvimento positivo de jovens através do esporte: Dos sino dessas habilidades aconteça de forma intencional,
pressupostos ao papel do treinador esportivo”. Os au- o que exige treinadores competentes e capazes de defi-
tores são Carlos Ewerton Palheta, Eduardo Leal Goulart nir estratégias específicas para o alcance desse objetivo
Nunes, Rui Resende e Michel Milistetd. (PETITPAS; CORNELIUS; VAN RAALTE; JONES, 2005; SAN-
TOS et al., 2016). Camiré et al. (2011) apresentam cinco
O PAPEL DO TREINADOR NO estratégias que podem auxiliar treinadores no DPJ: (I)

DESENVOLVIMENTO POSITIVO DE JOVENS desenvolver uma filosofia de treinamento, (II) construir

No cenário esportivo, o treinador assume papel de des- relacionamentos significativos com os jovens alunos, (III)

taque devido à sua responsabilidade em promover a compartilhar responsabilidades com os próprios alunos,

evolução dos esportistas, desenvolvendo as suas habi- para que estes sejam responsáveis pelo seu próprio pro-

lidades em busca de resultados positivos em diferentes cesso de desenvolvimento, (IV) ensinar como transferir

níveis, da participação esportiva ao alto rendimento, as habilidades de vida para o dia a dia, (V) fazê-los prati-

seja em contextos que utilizem o esporte como ferra- car habilidades de vida.

menta de integração ou naqueles que visam o desem- Desenvolver uma filosofia de treinamento exige a ca-

penho competitivo. Levando em consideração as carac- pacidade de reflexão dos treinadores para que possam

terísticas do fenômeno esporte que permitem o DPJ, o definir quais os princípios fundamentais que orientam a

treinador contribui com a saúde, bem-estar, educação sua prática pedagógica, para depois apresentar de for-

e formação da cidadania de praticantes esportivos de ma refinada a sua filosofia aos alunos, pais e treinado-

diferentes idades (MILISTETD; RAMOS; MESQUITA; NAS- res auxiliares (COLLINS; GOULD; LAUER; CHUNG, 2009).

CIMENTO, 2015). Sugere-se que esta filosofia deva assentar numa edu-

Para que esteja alinhado aos objetivos do DPJ, se torna cação para a autonomia e responsabilização, pois um

imprescindível ao treinador reconhecer o seu papel den- atleta consciente do processo em que está envolvido

tro do processo (SANTOS et al., 2016), assumindo a res- é potencialmente mais apto e competente (RESENDE;

ponsabilidade de favorecer o desenvolvimento de habili- SÁ; BARBOSA; GOMES, 2017). O grande desafio a este

dades que contribuam com a formação pessoal e social processo se concentra na possibilidade de os outros

de jovens alunos, contemplando-os com os benefícios indivíduos envolvidos terem concepções de valores dis-

que a prática esportiva pode oferecer em sua totalidade tintas às concepções do treinador (COLLINS et al., 2009;

(RESENDE; GILBERT, 2015). CAMIRÉ et al., 2011).

94
LEITURA
COMPLEMENTAR

A tentativa do treinador esportivo de construir rela- des em relação ao grupo, também podem ser estratégias
cionamentos significativos, fornecer feedback positivo adotadas pelo treinador. Estas ações promovem a capa-
constantemente e utilizar o elogio em vez de comporta- cidade de reconhecer que as suas ações influenciam as
mentos que acarretem punição, pode promover maiores ações de seus companheiros e proporcionam a experi-
níveis de autoestima nos jovens, aumentando a chance ência em lidar com a habilidade de liderança, tornando-
de continuidade da prática esportiva e alcance dos ob- -os aptos à responsabilidade partilhada (CAMIRÉ et al.,
jetivos do DPJ (SMOLL; CUMMING; SMITH, 2011). Outra 2011; SMOLL et al., 2011; VOELKER; GOULD; CRAWFORD,
estratégia adotada por treinadores para estabelecer re- 2011; RESENDE; GILBERT, 2015).
lação positiva com jovens esportistas pode ser a organi- Dessa forma, os treinadores acabam por demonstrar
zação de atividades fora do contexto esportivo e discus- que habilidades desenvolvidas por meio do esporte são
sões com temas específicos sobre os objetivos de cada úteis dentro e além do ambiente de prática esportiva
um com a prática esportiva (CAMIRÉ et al., 2011). Per- (HOLT; NEELY, 2011). Apresentar exemplos e situações
cebe-se que, para essa estratégia ser eficaz, o treinador do dia a dia em que essas habilidades podem ser trans-
deve conquistar a credibilidade de seus alunos, em que feridas, incentivam os jovens em adquirir confiança para
um resultado positivo pode favorecer o início de outra utilizá-las em situações cotidianas (TURNNIDGE; CÔTÉ;
estratégia, que é tornar os alunos responsáveis por parte HANCOCK, 2014). Uma das estratégias pode ser o traba-
de seu processo de desenvolvimento, favorecendo, as- lho voluntário, permitindo que desenvolvam a compai-
sim, a sua autonomia. xão e a capacidade de planejamento de uma atividade
Para promover responsabilidade e autonomia em jovens voluntária (MARTINEK; SHILLING; JOHNSON, 2001; CAMI-
alunos, treinadores podem desenvolver contratos de RÉ et al., 2011; VOELKER et al., 2011).
aprendizagem, fazendo com que os seus alunos definam Assim, perante a elevada responsabilidade do treinador
metas de curto e longo prazo dentro de seu processo esportivo no DPJ por meio do esporte, o seu desafio pas-
de aprendizagem e desenvolvimento pessoal. Posterior- sa a ser reconhecer o seu papel no processo, o que exige
mente, utilizando uma comunicação adequada, o trei- conhecimento dos pressupostos como características
nador deve encorajar e guiar no alcance dessas metas, que fundamentam a abordagem, para, assim, definir as
tornando-os auto avaliativos e capazes de participar na estratégias que contribuirão com a formação pessoal e
definição das responsabilidades de tomada de decisão social de jovens (RESENDE; CASTRO, 2015).
sobre sua prática (CAMIRÉ et al., 2011; GOULD; CARSON, Fonte: Palheta et al. (2016).
2008; HORN, 2008). Fazer com que determinados alunos
participem de decisões que afetem as atividades coleti-
vas, como nomear capitães com maiores responsabilida-

95
material complementar

Indicação para Ler

Sport Coaching Concepts – A Framework for Coaching Practice


John Lyle, e Chris Cushion
Editora: Routledge
Sinopse: o treinador é vital para o sucesso no esporte. Sport Coaching Concepts
oferece uma introdução abrangente às questões teóricas que sustentam a prática
do treino esportivo. Agora, em uma nova edição, uma abordagem conceitual do
treino esportivo é mais importante que nunca, usando a análise orientada para
a prática, desenvolvendo uma compreensão completa da teoria e da técnica de
treinar. O livro reflete as profundas mudanças que transformaram a formação e o
desenvolvimento do treinador.

Indicação para Ler

An Introduction to Sports Coaching: From Science and Theory to


Practice
Robyn L. Jones 
Editora: Routledge
Sinopse: An Introduction to Sports Coaching fornece aos alunos um guia acessível
para a teoria científica, médica, educacional e social da ciência que apoia a prática
do treino de esportes com qualidade. Ao longo do texto, a teoria é ilustrada “na
prática”, com o uso de cenários de treino da vida real, projetando como os atletas
podem beneficiar-se quando o seu treinador possui uma apreciação mais ampla
e teórica do esporte.

96
material complementar

Indicação para Ler

Practical Sports Coaching


Christine Nash
Editora: Routledge
Sinopse: Practical Sports Coaching é um guia completo e envolvente para todos os
estudantes de esportes e treinadores. Desenhado sobre estudos de caso da vida
real, o livro é projetado para desenvolver habilidades práticas de treino e fornece
aos leitores os métodos e ferramentas para se tornar um treinador especialista.
Estruturado em torno de todas as facetas do processo de treino, o livro abrange
detalhadamente temas como: preparação para treinar, mentoria, a filosofia de
treino, intervenção direta, métodos de treino e o uso de tecnologia moderna.

97
referências

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from a comparative perspective. Loisir et Société, v.
28, n. 2, p. 379-423, 2005.

99
gabarito

1. B.
2. E.
3. B.
4. D.
5. A.

100
UNIDADE
IV
EVOLUÇÃO POSITIVA ATRAVÉS
DO ESPORTE

Professor Dr. Rui Resende

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Treino de jovens atletas para uma evolução positiva por
meio do esporte
• Impacto do esporte nas competências de vida
• Desenvolvimento positivo por meio do esporte: papel dos
treinadores
• Desenvolvimento positivo por meio do esporte: papel da
família

Objetivos de Aprendizagem
• Identificar a forma de usar o esporte para desenvolver
competências de vida dos atletas.
• Verificar o contributo que o esporte pode ter nas
competências de vida.
• Reconhecer o papel dos treinadores no desenvolvimento
positivo dos jovens.
• Reconhecer o papel da família no desenvolvimento positivo
dos jovens.
unidade

IV
INTRODUÇÃO

O
esporte tem um impacto cada vez maior na sociedade, no-
meadamente pelo número exponencial de adesão dos jovens.
Tendo em consideração que os alicerces para uma vida ativa
no futuro são criados durante a infância e a juventude, a prá-
tica esportiva deve, então, se tornar uma experiência frutífera. É também
fundamental que o esporte faça as crianças e os jovens adquirirem com-
petências que se prolonguem para as outras facetas da intervenção social.
Não se pode, contudo, esperar que somente pela prática esportiva es-
sas competências sejam adquiridas, é necessário ter consciência da sua
importância e trabalhá-las de forma intencional para que, assim, os jo-
vens desenvolvam, de uma forma saudável e construtiva, todo o potencial
que detêm. O desenvolvimento positivo dos atletas depende da forma
como o esporte está organizado e da configuração das relações entre as
pessoas envolvidas. O treinador é uma pedra angular neste processo, uma
vez que, ao materializar um processo de treino, o objetivo será desenvol-
ver o atleta de forma holística. Ao assegurar que os jovens mantenham o
seu envolvimento esportivo, por razões intrínsecas, contribui-se para que
sejam boas as razões da sua permanência no esporte.
Neste contexto, também o treinador deve, introspectivamente, inda-
gar como ele deverá ser, como deve se comportar e que tipo de atitudes
ele deve tomar conscientemente para cumprir a sua missão. Como a tare-
fa de desenvolver os jovens não se compadece de ações isoladas, o apoio
da família é crucial. Neste sentido, os pais dos atletas deverão cooperar
no desenvolvimento esportivo dos jovens de forma solidária com o trei-
nador. Para isso, eles terão que ser informados adequadamente do projeto
esportivo e do que se espera deles de forma concreta.
Sugere-se que o treinador crie uma ficha do atleta e que, da infor-
mação recolhida, retire os dados que achar mais conveniente para dar
conhecimento aos pais. Esta ação evidencia competência e empenho no
desenvolvimento dos filhos/atletas.
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Treino de Jovens Atletas para


uma Evolução Positiva por
Meio do Esporte

Sempre foi característica do esporte reivindicar para permitam encarar a vida de uma forma saudável por
si valores importantes na formação do indivíduo meio de um estilo de vida ativo, e de se incorpora-
como um todo e não somente do atleta. Inserido rem de forma cívica e atuante na sociedade.
em um contexto de intervenção no esporte, o de- Apoiando esta intervenção, investigações empí-
senvolvimento positivo dos jovens tem sido apon- ricas têm evidenciado que o esporte eleva a autoesti-
tado como uma excelente possibilidade para contri- ma, a autoconfiança e o aproveitamento acadêmico
buir com uma transição bem-sucedida para a vida (CÔTÉ et al., 2010). Realçando, no entanto, que sub-
adulta (DIAS, 2011). A aquisição de competências sistem dúvidas no meio acadêmico sobre o esporte
essenciais por parte dos jovens para enfrentar com ser um meio de desenvolvimento de competências
sucesso os desafios da sociedade atual deve, por isto, de vida (GOULD; WESTFALL, 2014). Aliás, estes
constituir um grande objetivo do esporte. Neste sen- autores alertam, baseando-se em investigações sobre
tido, ele deve consistir em um espaço educativo por a repercussão do esporte nos jovens, que a ativida-
excelência, dotando os jovens de atributos que lhes de esportiva não é somente associada ao desenvol-

106
EDUCAÇÃO FÍSICA

vimento de competências de vida positivas e pode, A inserção social adquirida pela cooperação e
igualmente, ser fruto de consequências negativas. pelo respeito aos outros, pela autoridade, nomeada-
Os programas esportivos podem (e talvez de- mente pelos árbitros e juízes, constitui outro fator
vam) ser desenhados de forma a privilegiar o de- determinante pelo qual o esporte pode trazer be-
senvolvimento positivo dos jovens, aproveitando o nefícios aos jovens. Fazer novos amigos e conhe-
clima intrinsecamente motivante promovido pela cidos, construindo uma rede social em contínuo
prática esportiva e pelo potencial que a competição desenvolvimento, promove as competências sociais
traz. A energia com que a competição é vivenciada (SMOL; CUMMING; SMITH, 2011; CARRERES-
pelos jovens deve ser aproveitada para este fim. Ali- -PONSODA et al., 2012). A este propósito, Rutten et
ás, esta intervenção é tão mais pertinente, pois é nes- al. (2011) efetuaram um estudo com 439 jovens de
te período da vida onde ocorrem, tendencialmente, idades entre 14 e 17 anos, envolvidos em 67 equipes
mais riscos associados a problemas comportamen- esportivas, e confirmaram que a existência de am-
tais (GREEN, 2010) pelo excesso de sedentarismo, bientes morais positivos está associada a comporta-
com reflexos no aumento do sobrepeso ou da obe- mentos pró-sociais no contexto esportivo.
sidade, abuso do consumo do álcool e do tabaco e a
experimentação de drogas. Reforçando os benefícios
alcançados pela prática esportiva, Malina (2011) in-
dica melhorias ao nível da saúde em geral, da apti-
dão física, da regulação cardiovascular, da compo-
sição corporal e, consequentemente, da redução de
fatores de risco metabólico. A par destes benefícios,
o autor afirma que o esporte está relacionado com
o menor envolvimento por parte dos jovens em cri-
minalidade, gravidez indesejada, condutas sexuais
de risco e ideias de suicídio. Para que o esporte seja
efetivo na aquisição destas mais-valias, ele necessita
provocar estímulos que vão de moderados a inten-
sos (AAHPERD, 2013), pois uma atividade dema- O envolvimento com o esporte também tem sido
siado ligeira não produzirá os efeitos enunciados correlacionado com melhorias cognitivas (aumento
anteriormente. da capacidade de atenção e do trabalho da memó-
Em suma, os benefícios provocados pelo esporte ria), resultados acadêmicos superiores ao nível das
podem ser físicos, mas também de caráter psicoló- classificações obtidas, maior gosto pela escola e, con-
gico, como a elevação dos níveis de autoconfiança, sequentemente, redução de absentismo e de abando-
o desenvolvimento de competências de liderança e no precoce dos estudos (TRUDEAU; SHEPHARD,
de iniciativa, o desenvolvimento de hábitos de auto- 2008; JONKER; ELFERINK-GEMSER; VISSCHER,
disciplina, perseverança e resiliência na procura de 2009; ZENHA; RESENDE; GOMES, 2009; SINGH;
atingir objetivos previamente definidos. UIJTDEWILLIGEN; TWISK, 2012).

107
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Como atores conscientes da intervenção espor-


tiva, não devemos deixar de olhar para os possíveis
perigos decorrentes da prática esportiva, como os
riscos da ocorrência de lesões traumáticas durante
essa prática, exagero na forma como se vivencia a
competição e a consequente possibilidade de, sín-
drome de burnout, influência menos positiva na ma-
turação física dos jovens pela inadequação de cargas
de treino desajustadas (MALINA, 2011). Apesar de,
em um contexto específico, como a ginástica espor-
tiva, Pinheiro et al. (2012) descreverem, por meio
de entrevistas retrospectivas com atletas femininas
sobre as suas experiências, constrangimentos cen-
trais, como treinar e competir lesionadas, controle
excessivo do peso e castigos corporais aplicados.
Estas evidências ajudam a alertar que nem tudo no
esporte pode ser positivo e, assim, as circunstâncias
em que se delineia e aplica um programa esportivo
devem ser convenientemente escrutinadas.
Em consequência, alerta-se para uma maior
consciencialização política por meio de uma pro-
dução legislativa que defenda o praticante esportivo,
que exerça uma efetiva fiscalização, promova a for-
mação de treinadores e dirigentes para implementar
as políticas de desenvolvimento positivo dos jovens
pelo esporte. Devemos ter consciência de que é a
configuração da organização esportiva, em todos os
seus recursos, que influencia o desenvolvimento dos
jovens (HOLT, 2008).

108
EDUCAÇÃO FÍSICA

109
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Impacto do Esporte nas


Competências de Vida

Com o intuito de construir uma sociedade mais sua aprendizagem de como ser positivas. Neste sen-
harmoniosa e significativa para todos, o desenvol- tido, se o objetivo for que as crianças, os jovens e os
vimento positivo do ser humano deve ser encara- adultos aprendam a encarar a vida de forma positi-
do como um objetivo pelo qual todos devemos nos va, então será necessário ensinar como fazê-lo.
empenhar. Esta filosofia de bem-estar e de forma- Para ensinar as competências de vida positi-
ção tem total pertinência no desenvolvimento dos vas por meio do esporte, de acordo com o Lerner,
jovens. Como diz Orlick (2014), as pessoas que, de Dowling e Anderson (2003), é necessário que os jo-
alguma forma, expressam sentimentos negativos, o vens se empenhem moral e comportamentalmente
fazem porque, em algum momento, fracassaram na nesta construção social, constituindo-se como agen-

110
EDUCAÇÃO FÍSICA

tes autônomos neste esforço. Esta perspectiva refor- Especificamente, as competências de vida no
ça-se no sentido de que o desenvolvimento positivo contexto esportivo são vistas como:
dos jovens propõe que todos eles têm uma grande
capacidade para se desenvolver de forma bem-suce- Os ativos internos pessoais, características e
competências, como estabelecer objetivos, con-
dida, construtiva e saudável (LERNER et al., 2005).
trole emocional, autoestima e um trabalho duro
É neste sentido que a construção de programas e ético que pode ser facilitado ou desenvolvido
que visem o desenvolvimento positivo de jovens se no esporte, podendo ser transferido para ou-
apoia substancialmente no talento, nos interesses tros envolvimentos não esportivos (GOULD;
e no potencial que se evidencia nestas idades. As CARSON, 2008, p. 60).

lideranças devem almejar o enquadramento dos


jovens em parcerias sustentadas de colaboração com Para que a participação em programas esportivos
adultos para que o desenvolvimento e a construção potencialize os efeitos positivos pretendidos no de-
das competências pretendidas decorram de forma senvolvimento dos jovens, deverão ser considerados
harmoniosa (LERNER; LERNER; PHELPS, 2008). os seguintes itens:
Deve-se reforçar que os esforços que motivam os jo-
vens a descobrir um desígnio para as suas vidas sus-
tentam o seu desenvolvimento positivo, pois determi-
• Envolvimento físico e psicológico seguro
nam ou, pelo menos, os estimulam a colocar metas e a
no decorrer da atividade esportiva.
se esforçarem para as ultrapassar (HILL et al., 2010).
• Um programa claro e consistente, que
Claro que se deve ter a perceção de que este de- decorra sob a supervisão dos adultos.
senvolvimento terá de ser empreendido de forma glo- • Apoio e mútuo comprometimento de to-
bal, em todas as interações concretizadas diariamente, dos que estão envolvidos na realização
mas é no esporte que concentramos a nossa atenção. do programa.
Somos da opinião que o esporte é um meio, desde • Chances de participação para todos que
que orientado para esse efeito, capaz de proporcionar mostrarem desejo para tal.
às crianças e aos jovens a oportunidade de colocarem • Normas e regulamentos implementados
em ação atitudes positivas, sendo estas passíveis de de forma positiva.
ser transferidas para outros contextos sociais. • Estratégias que impliquem e correspon-
sabilizem o jovem na atividade desen-
Apesar de, como abordado anteriormente, o es-
volvida.
porte ter a presunção de, somente pela sua ativida-
• Estabelecer com eficácia estratégias que
de, já produzir um impacto significativo em outros
impliquem a participação e a oportunida-
domínios da vida dos jovens, esta relação ainda não de para todos.
está consistentemente estabelecida (VIERIMAA et • Estender e integrar a família, a escola
al., 2012). É assim determinante que o esporte, an- e a comunidade nos programas desen-
tes de reinvidicar o fomento de um desenvolvimento volvidos.
positivo dos jovens em outras áreas, deve evidenciar
que os seus programas produzem estes efeitos.

111
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Na continuação do exposto anteriormente, a como fim único do esporte, os jovens podem desa-
AAHPERD (2013) reafirma que a forma como o proveitar excelentes oportunidades para desenvol-
esporte está organizado, o envolvimento das pesso- ver habilidades únicas por meio da prática esporti-
as (pares, pais e treinadores), a importância que o va, desfrutar do que a competição permite, além de
jovem atribui ao esporte e como isto o integra em crescer social e emocionalmente. Tal como muitos
outras atividades da sua vida, determinam o alcance responsáveis têm alertado, a implementação de su-
dos resultados positivos da participação esportiva. cesso terá que ser vinculado a políticas que atribuam
ao esforço em vencer a maior virtude no êxito pesso-
al e coletivo, criando um forte princípio para a cria-
ção de um favorável clima motivacional (SMOLL;
CUMMING; SMITH, 2011).
É de acordo com estas preocupações que
decorre o objetivo de formação do jovem esportista.
O treinador precisa estar consciente sobre a forma
como o esporte é encarado atualmente, quais são as
necessidades dos jovens e com quem eles se identifi-
cam, e ter também consciência que, entre a criança e
o jovem adulto, estas perceções se alteram substan-
cialmente. Não será fácil este entendimento, pois ele
é fortemente dependente do contexto e da própria
atualidade, contudo, será fundamental o treinador
se preparar adequadamente para estes tipos de fenô-
menos, porque eles impactarão de forma decisiva a
sua atuação. A consciência de que um ensino/treino
dirigido para a promoção da autonomia, com um
forte apoio social, uma visão inspiradora para o fu-
turo e a partilha das tomadas de decisão estimula-
Uma situação determinante na ponderação da orga- rá os jovens a ficarem mais aptos a experimentar o
nização destas atividades é a noção de sucesso no bem-estar pela aquisição de pensamentos, emoções
esporte. É comum os meios que relatam o esporte, e comportamentos mais adaptados à sua realidade
nomeadamente os meios informativos (mídias), (QUESTED; DUDA, 2011).
confundirem sucesso com vitória. Será fundamental Será com base nesta orientação que o treinador
os responsáveis pela formação esportiva tornarem- deverá desenvolver o atleta jovem de uma forma
-se empreendedores e substituírem, ou mesmo, eli- holística. O holismo constitui-se em uma doutrina
minarem a filosofia de “o ganhar não é tudo; ganhar que proclama o todo não ser a mera soma das par-
é a única coisa que interessa”. Colocando a vitória tes, aglomerando, no seu conjunto, propriedades

112
EDUCAÇÃO FÍSICA

que carecem aos elementos de uma forma indivi- • A criação de um ambiente de afeto é verda-
dual (particularmente no ser vivo). Esta realida- deiramente importante para desenvolver a
de aplica-se ao ambiente esportivo onde o jovem confiança com os atletas e fundamental no
desenvolvimento de competências de vida.
evolui. Um treinador que assimila a importância
• O adágio “eles não querem saber o que tu sa-
do desenvolvimento dos jovens de forma holística
bes enquanto não souberem quem és”, com
revela a capacidade de integrar diferentes tipos de toda a certeza, é adequado para quando se
conhecimento, compreendendo os que se referem ensina competências de vida.
aos aspetos pessoais, emocionais, psicológicos, cul- • A possibilidade de os jovens testarem e de-
turais e de identidade social. Consequentemente, monstrarem as suas competências por meio
encara o processo de treino de uma forma assimi- da interação com os pares, treinadores e to-
lada e integral, levando em conta que este é muito dos os que estão envolvidos no esporte, faci-
mais do que a soma das partes. lita excelentes oportunidades para favorecer
competências de vida.
A investigação efetuada por Gould, Carson e
Blanton (2013) sugere que o ensino de competên- Enfatizando os desafios que o treinador enfrenta,
cias de vida por meio do esporte evidencia os se- concordamos com Cordovil (2005), que afirma se-
guintes aspectos: rem especiais os treinadores de jovens, pois estão
• Uma ligação estreita entre a participação es- disponíveis para trabalhar em longo prazo, trans-
portiva e o desenvolvimento de competências mitindo valores que não são os dominantes, porque
de vida. trabalham com grupos heterogêneos e em constante
• Os treinadores têm consciência de que é im- mutação, onde o reconhecimento profissional é ain-
portante desenvolver as competências de
da muito escasso.
vida dos jovens.
• Identificaram competências-chave para o REFLITA
desenvolvimento dos atletas, como a respon-
sabilidade, a motivação/estabelecimento de
objetivos e a comunicação como as mais im- Gould, Voelker e Griffes (2013) estudaram
portantes. uma abordagem para ensinar a liderança
por meio do esporte. A liderança pode ser
• As filosofias que priorizam a participação es- definida como um indivíduo que motiva, ins-
portiva parecem estar relacionadas com os pira e incentiva um grupo de pessoas para
treinadores mais eficazes no ensino das com- atingir um objetivo comum. Treinadores que
petências de vida. comunicam para seus atletas os papéis e as
responsabilidades de ser um líder eficaz têm
• Neste caso, estas competências são intencio-
mais chances de serem bem-sucedidos. Você
nalmente ensinadas de forma direta e indire- concorda?
ta.

113
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Desenvolvimento Positivo
por Meio do Esporte:
Papel dos Treinadores

Considerando a efetivação de um programa de trei- a sua autoestima e a vivência de experiências agra-


no esportivo para o desenvolvimento de competên- dáveis, estimulando a edificação de relações amigá-
cias de vida pelo jovem atleta, teremos de equacionar veis de longa duração e uma atitude favorável em
o treinador como o elemento crucial do processo. relação à atividade física (WEISS, 2004).
Isto porque ele deve ser o responsável máximo pelo A forma e o comportamento que o treinador
desenvolvimento dos atletas, garantindo, acima de mostra quando ele se apresenta aos atletas, no con-
tudo, o desenvolvimento harmonioso e o bem-estar texto esportivo, tem um impacto relevante, pois, tal
destes. Por isto, lhe é imputada a responsabilidade como os pais, o treinador pode exercer uma forte
de proporcionar experiências positivas que contri- influência nos jovens. A sua forma de interagir, a
buam para que o jovem adote, quando adulto, in- postura que adota e, inclusive, a indumentária que
dependentemente do esporte que tiver praticado, enverga, está impregnada de representações e signi-
um estilo de vida ativo. O treinador deverá, por isto, ficados com impacto profundo no jovem. Acrescen-
ser inspirador, motivando para a prática e assegu- ta-se que a qualidade das relações interpessoais esta-
rando que ela se assente, essencialmente, em razões belecidas com os treinadores, identificando-os como
intrínsecas. Certamente, com este tipo de atuação, professores, amigos e mentores, reconhecendo a sua
o profissional potencia o atingimento de benefícios capacidade de saber ouvir, de ser pacientes e profis-
relevantes para o seu desenvolvimento, fomentando sionais, dentro e fora do contexto de prática, assu-

114
EDUCAÇÃO FÍSICA

me uma importância essencial no desenvolvimento porte. A ética e a moral que o esporte pode trazer não
positivo dos jovens (BECKER, 2009). Considera-se, sucedem das suas regras específicas, mas da sua natu-
assim, que o desenvolvimento de competências de reza intrínseca, e esta é, desde o começo, profunda-
vida por meio do esporte é determinado pela forma mente influenciada pelo treinador pelo exemplo que
como o treinador concebe um ambiente que fomen- este dá (HARDMAN; JONES; JONES, 2010).
te esse progresso (GOULD; CARSON, 2008).
A competência do treinador expressa-se de múl-
tiplas formas, mas tem a sua maior exaltação na
forma como ele ensina e como faz os jovens apren-
derem as técnicas do esporte e melhorarem a sua ca-
pacidade tática, estratégica e de tomada de decisão.
Por outro lado, também é definidora a forma como
são capazes de, conjuntamente, definir e atingir os
objetivos ao nível de performance.

Faz parte da capacidade do treinador as-


segurar a conjugação de ingredientes que
motivem os jovens para a prática esportiva
quando este profissional realiza as seguin- O treinador concretiza a sua atividade por meio da
tes ações: instrução, por isto, a pedagogia surge como agrega-
• Providencia estímulos ótimos. dora dos diferentes conhecimentos que sustentam
• Estimula da melhor forma possível o a sua atividade. Esta instrução inicia-se desde que
apoio e o reconhecimento social em o atleta chega ao local do treino, continua no ves-
relação à sua atividade. tiário e materializa-se durante a sessão de treino e
• Certifica-se de que as experiências competição. É importante igualmente referir que o
que o atleta vivencia são divertidas e
esporte contempla um importante espaço de forma-
estimulam a sua continuação.
ção quando são proporcionadas as deslocações para
• Fomenta um clima de ativação favorá-
as competições nos terrenos dos adversários. Aqui
vel à atividade.
é uma excelente oportunidade de formação, porque
• Educa para a autonomia.
existe um tempo maior de convívio para fomentar
comportamentos pró-ativos no seio do grupo. Os
ambientes estabelecidos nestas circunstâncias incre-
Em consequência, os treinadores determinam o terre- mentam e testam as dimensões morais em desenvol-
no moral e os valores nos quais edificam a formação vimento do jovem atleta, transportando-o para uma
dos jovens e, assim, podem contribuir decisivamente urbanidade concordante com os valores sociais con-
para um desenvolvimento positivo por meio do es- temporâneos.

115
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Ao considerar a atividade como treinador, sugere- empenho demonstrado por ele para que os jovens se
-se que este coloque a si mesmo três questões, as quais desenvolvam como pessoas e atletas (RESENDE et al.,
nortearão a sua atuação como treinador de jovens: 2014), reportando as características de índole social
1. Que tipo de pessoa vou ser? como mais determinantes do que as exclusivamente
2. Como devo me comportar e agir? específicas e mais técnicas da modalidade esportiva
3. Quais devem ser os objetivos do processo de em causa. Sobressai-se a noção de que os treinadores
treino em que estou inserido? com maior eficácia são, igualmente, bons professores,
pois serão incapazes de ensinar se não tornarem com-
A resposta a essas questões, por parte do treinador, preensível aquilo que pretendem que os atletas apren-
facilita ganhar consciência em relação a como se dam, com objetivos desafiadores, mas alcançáveis.
comportar no momento de incorporar a “pele” de um A instrução, a par do suporte que dá às realiza-
treinador de jovens. Implica a sua personalidade e a ções dos atletas e à ausência de punições, constitui
forma como esta se manifesta nas diferentes situações uma característica de um treinador eficaz (ERICK-
do contexto esportivo enquanto líder de um proces- SON; GILBERT, 2013). Estes autores referem que
so de treino e competição. O treinador também não o treinador deve incorporar, no seu cotidiano com
deve diminuir a importância relativa a como a sua os atletas, o elogio aos esforços destes e a instrução
personalidade será vista, apreciada e avaliada pelos por meio de feedbacks positivos. Partilhar com os
atletas, dirigentes, família e todo o entorno que ro- atletas o processo de decisão, levando conta as suas
deia o fenômeno esportivo. Por isto, o treinador en- perspectivas e providenciando argumentos coeren-
contra argumentos para “trabalhar” o efeito que o seu tes para as suas decisões. Estas atitudes ajudam a im-
caráter, temperamento e valores traz à função. plementar e a desenvolver a autonomia dos atletas.
Reforça-se que o empenho nos valores e princí- Um ambiente de aprendizagem favorável poten-
pios que devem pertencer ao esporte constituem uma cia uma definição clara de objetivos e permite a ava-
pedra angular na personalidade do treinador, forne- liação da performance com base na aprendizagem e
cendo-lhe as bases para fazer face às pressões que re- nos esforços realizados.
sultam do processo de treino e, mais vigorosamente, Os treinadores com maior relevância na aquisi-
da competição. Estas pressões, que podem surgir de ção de competências de vida dos atletas são aqueles
inúmeros lugares e pessoas, também podem abalar que se caracterizam por evidenciar filosofias de
as convicções e comprometer os princípios. O com- treino de sua preferência e são proativos no desen-
portamento do treinador tem sido reconhecido como volvimento destas competências de forma explícita,
crítico na forma como os atletas encaram o esporte, preocupando-se permanentemente com as transfe-
pelas performances que alcançam e pela coesão de rências dessas competências para outros ambientes.
grupo que demonstram (ARTHUR et al., 2011). Destacam o esportivismo, fomentam relações fortes
Outra forma de olhar para o treinador é pelo pon- com os seus atletas, focam em delinear objetivos,
to de vista dos alunos. Aqui, uma das caraterísticas traçam estratégias competitivas concordantes com o
mais salientadas pelos atletas/alunos para, qualitati- contexto esportivo em que estão inseridos e consi-
vamente, considerarem um treinador bom, resulta do deram as suas caraterísticas sociodemográficas.

116
EDUCAÇÃO FÍSICA

3. Aceitar o erro e a derrota como consequência


natural do processo esportivo, pois os atletas
que aprendem a lidar com o insucesso de-
monstram comportamentos de desenvolvi-
mento essenciais - O esforço e a vontade de
melhorar, estabelecer objetivos e evidenciar
comportamento adequados são característi-
cas de quem não fica refém do insucesso e o
antevê como passageiro. Entender o valor da
derrota é crítico na facilitação da resiliência
e do desenvolvimento positivo.
4. Consciência do sucesso - A sensação de com-
petência é muito dependente da consciência
que é atribuída ao sucesso. Neste sentido, de-
vem ser enfatizados valores suscetíveis de ser
controlados, incluindo o esforço, a persistên-
cia e o trabalho árduo. Focar em causas não
controláveis, como a vitória, pode implicar o
desmerecimento do esforço e do trabalho ár-
Concretizando as ideias referidas anteriormente e duo. Definir sucesso como “dá o teu melhor”
implica reforçar o papel atribuído ao traba-
apoiados em uma extensa revisão da literatura, Vella
lho e à persistência.
e Gilbert (2014, apud RESENDE; GILBERT, 2015,
5. Promover aprendizagem - A orientação do
p. 26, tradução nossa) propõem seis estratégias de
processo de treino para alcançar objetivos de
ensino para o desenvolvimento positivo dos jovens aprendizagem deve ser estimulada por um
por meio do esporte desejo de melhorar a capacidade individual
1. Focar no esforço e na persistência - Acreditar e o domínio de novas habilidades, ao contrá-
que o conhecimento e a conquista de compe- rio de ter como objetivo comportamentos so-
tências técnicas dependem do esforço pessoal mente com base na performance (orientação
que cada um coloca no treino. para objetivos de desempenho).
2. Fomentar estímulos de treino que promo- 6. Estimular expectativas elevadas - Os atletas
vam a aprendizagem e o sucesso na aquisi- podem ser inspirados, motivados e promover
ção de novas habilidades - Para isto, é ne- a sua autoconfiança pelos adultos. Grandes
cessário que as tarefas sejam desafiadoras e, expectativas constituem uma plataforma para
por consequência, motivadoras. O feedback um desenvolvimento positivo dos jovens.
da sua realização regula a aprendizagem e
promove a regulação do próprio comporta- As estratégias enunciadas anteriormente são mate-
mento em relação ao delineamento de estra- rializadas na Tabela 1, em que se descrevem as tare-
tégias futuras. O desenvolvimento positivo fas a ser desenvolvidas e se providenciam exemplos
do jovem, neste aspecto, é reforçado pelo práticos que podem ser empregados pelos treinado-
desenvolvimento da sua resiliência.
res no exercício da sua atividade.

117
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Tabela 1 - Sumário de estratégias de instrução para promover desenvolvimento


positivo dos jovens a partir do esporte

Estratégia Descrição Exemplos de treino


Promover e elogiar o esforço e a per- • Usar elogios para o processo (evitar elogios
sistência. pessoais).
1) Focar no esforço
Providenciar oportunidades de prática • Providenciar tempo para a prática deliberada
na e persistência
deliberada de competências de vida e de competências de vida durante o treino,
técnicas esportivas específicas. como definição de objetivos.
Desafia os jovens para tarefas difíceis • Planeja treinos com um nível elevado de
2) Promover que permitam a oportunidade de reali- dificuldade.
desafios zar novas habilidades, providenciando • Permite um clima de mestria.
feedback à performance. • Planeja objetivos desafiadores para os jovens.
Interpreta o erro e os insucessos como • Atribui o erro a fatores controláveis que
oportunidades válidas para promover podem ser melhorados e planeja treinos de
3) Promover o va-
a aprendizagem de competências, acordo com isto.
lor do insucesso
como a regulação do comportamento, • Usa o erro para monitorar a realização de
planejamento e monitoramento. objetivos.
Define sucesso por meio de fatores • Planeja auto objetivos e ajuíza o sucesso pela
4) Perceção do controláveis, como o esforço e a per- sua obtenção.
sucesso sistência. • Não olha para o marcador para determinar o
seu grau de satisfação com a performance.
Promove aprendizagem da orientação • Foca-se na aprendizagem em vez da vitória.
por objetivos e um clima de proficiên- • Partilha responsabilidades com os atletas.
5) Promover a
cia. • Usa alta frequência de reforços positivos
aprendizagem
particularmente nos que dizem respeito ao
processo e às instruções técnicas.
Comunica expectativas a atletas que • Planeja objetivos difíceis para os atletas jo-
6) Providenciar ex- estão abaixo do nível médio de perfor- vens, preferivelmente objetivos de processo.
pectativas elevadas mance, e integra-os em um ambiente • Comunica alto nível de crença na capacidade
positivo de apoio. de os jovens atletas melhorarem.
Fonte: Vella e Gilbert (2014, apud RESENDE; GILBERT, 2015, p. 27, tradução nossa)

Com estas ferramentas, os treinadores têm a possibilidade de incorporar na sua


atividade o ensino de estratégias que fomentem a aquisição de competências po-
sitivas de vida pela parte dos jovens atletas, e contribuir, desta forma, para que o
seu desenvolvimento se processe de forma mais harmoniosa, saudável e integra-
da na sociedade.

118
EDUCAÇÃO FÍSICA

119
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Desenvolvimento Positivo
por Meio do Esporte:
Papel da Família

120
EDUCAÇÃO FÍSICA

Os pais e a família são cruciais na educação e, conse- ência técnica e menos reações negativas por parte dos
quentemente, no desenvolvimento dos filhos. Con- pais dos atletas que estão nos níveis iniciais de forma-
frontados com as exigências cada vez mais bem in- ção e maior apoio dos pais dos atletas que não têm re-
formadas e críticas dos pais (família) em relação às provações escolares. No estudo dos pais, verificaram
atividades onde são inseridos os filhos, os locais da que os pais dos atletas do sexo masculino evidenciam
prática esportiva necessitam contemplar o esporte maior apoio e influência técnica; os pais dos atletas
de participação de forma que o único objetivo do que praticam modalidades esportivas individuais as-
clube não seja determinado e decalcado pelo esporte sumiram maior apoio e orientação motivacional para
de rendimento. o divertimento e menos reações negativas; e os pais
Os pais que, na maioria das situações, promo- com menor formação escolar demonstraram menos
vem a experiência esportiva dos filhos, fomentam e apoio e influência técnica, maior orientação para os
animam a continuação desta prática, muitas vezes, resultados e para as reações negativas.
com apoio material e financeiro e a disponibilidade Este tipo de pesquisa permite ao treinador ga-
para acompanhar (GOMES, 2010). nhar consciência em relação às diferenças dos pais
A presença dos pais é importante para a boa in- e às respectivas influências nos comportamentos
tegração e a socialização esportiva dos filhos, pro- dos filhos e, assim, permitir esse treinador agir por
videnciando bem-estar psicológico e índices eleva- antecipação. A família é crucial para um desenvol-
dos de satisfação com a prática esportiva. Contudo, vimento positivo dos jovens por meio do esporte,
também podem ser exemplos contraproducentes procurando que este contribua para o pleno desen-
quando têm expetativas demasiado elevadas quanto volvimento físico, mental e social. Desta forma, os
ao rendimento esportivos dos seus filhos, colocando pais são pilares fundamentais na iniciação e promo-
uma pressão tão alta que podem tornar a experiên- ção do esporte, constituindo-se como elos facilita-
cia esportiva aversiva e indesejável (GOMES, 2011). dores deste processo, pelo entusiasmo e pela dedica-
Smoll, Cumming e Smith (2011) indicam que a ção que podem evidenciar. Assim, faz todo o sentido
pesquisa evidenciou a influência da família na so- que a instituição que recebe o jovem estabeleça uma
cialização esportiva das crianças e tem um impacto relação de elevada confiança com os pais dos atletas.
profundo nas consequências psicológicas que daí Nesta relação. o primeiro contato, habitualmente, é
decorrem. Neste sentido, os autores indicam que as pelo treinador, profissional responsável pela integra-
crianças e os jovens têm o direito de não querer par- ção e pelo acompanhamento do jovem, fomentando
ticipar e, desta forma, impor o esporte pode produ- a sua inclusão e promovendo a atividade a ser desen-
zir os efeitos contrários aos desejados. volvida no seio do clube esportivo.
Gomes e Zão (2007), em uma pesquisa em que Gomes (2011) propõe que a postura do treinador
estudaram a relação entre a influência parental e a em relação aos pais menos vinculados e interessados
motivação no esporte, com recurso a dois instrumen- com a prática esportiva dos filhos será a de fomen-
tos relativos aos pais e aos atletas, constataram que, tar e encorajar o seu envolvimento, entusiasmando a
em relação aos atletas, existe maior apoio parental nas sua participação em atividades que enaltecem a sua
modalidades de caráter individual; maior apoio, influ- utilidade e relevância para o projeto esportivo com

121
INICIAÇÃO ESPORTIVA

o qual o filho está comprometido. Em relação àque-


les pais que são excessivamente críticos ou, quando
nas competições, revelam comportamentos inapro-
priados, ou até mesmo, descontrolados, deve-se pro-
curar uma abordagem personalizada e evidenciar a
repercussão negativa para o rendimento do jovem
que estas atitudes podem ter.
O autor citado anteriormente recomenda, por
isto, que o treinador promova uma reunião onde es-
clareça o projeto esportivo e o que se espera de cada
um dos seus intervenientes. Essa reunião tem como
objetivo integrar a família em três áreas:
1. Apresentação do treinador e esclarecimento
das expectativas relativas ao grupo liderado
por ele.
2. Informar os objetivos com a equipe e com os
atletas em curto e longo prazos.
3. Divulgar o que se espera dos pais em relação
à sua contribuição para o desenvolvimento e
o crescimento dos filhos.

O treinador pode, ainda, ser o mentor de eventos so- Esta ficha, da qual se sugere um exemplo (ver Figura
ciais que promovam afinidades entre atletas, família, 1) poderá registrar diferentes tipos de informação.
treinadores e dirigentes. Realizações que vão além Temos consciência que a construção de uma ficha
do treino e da competição, fomentam o sentimento deverá ser pessoal (do treinador ou do clube) e terá
de pertença e constituem uma oportunidade impor- que ser adaptada ao contexto específico no qual se
tante para que as pessoas se conheçam e ganhem la- desenvolve o trabalho, assim como à modalidade es-
ços de empatia. portiva. Contudo, propõe-se que essa ficha:
A qualidade da atividade do treinador pode • Contenha uma informação pessoal básica
ser incrementada e valorizada pelos pais dos atle- (quem desejar ser um pouco mais profundo
tas por meio da criação de uma ficha do atleta. Ela poderá caracterizar mais a filiação com, por
exemplo, a idade dos pais e a sua ocupação
reunirá a informação pessoal do atleta, resulta sua
profissional).
atividade esportiva, e deverá ser enviada aos pais
• Dados biométricos, em que se pode registar
em, pelo menos, duas vezes por época esportiva. O de forma muito fácil a evolução física (com
serviço prestado pelo clube poderá constituir um o peso, a altura e a envergadura), o cálculo
diferenciador positivo, e demonstra o empenho que do IMC que dá uma indicação se o atleta está
o treinador coloca em ação para que a evolução do dentro da Zona Saudável de acordo com a
atleta decorra da melhor forma possível. OMS (Organização Mundial da Saúde). Os

122
EDUCAÇÃO FÍSICA

testes físicos a serem realizados dependem


A ficha do atleta deve fazer parte integrante do dos-
do esporte em questão e das condições mate-
riais para os efetuar. Contudo, sugere-se que siê pessoal do treinador. Desta ficha recomenda-se
se apliquem testes que avaliem a globalidade extrair a informação mais pertinente e adequada
das capacidades condicionais (resistência, ve- para enviar aos pais dos atletas. As informações re-
locidade, força e flexibilidade). gistradas traçam um perfil do crescimento dos atle-
• Dados técnico-táticos, mencionados em con- tas e atribuem um significado especial à sua trajetó-
sonância com a modalidade e de acordo com ria no clube. Permitem obter dados para posterior
aquilo que o treinador considerar pertinente
pesquisa e reforçar ou alterar trajetórias de trabalho.
para a idade dos atletas. Sugere-se algum tipo
Personifica de forma substantiva o empenhamento
de avaliação qualitativa a qual corresponde a
um índice quantitativo para, assim, ser mais e o rigor com o qual o treinador desempenha a sua
fácil tanto a execução como a sua visualiza- função, reforçando a sua posição perante os pais.
ção, e correspondente grau de evolução.
• Dados sociopsicológicos. Esta caracterização
pode ser de importância fundamental, pois,
tal como já comentado anteriormente, o trei-
nador é responsável por fazer o atleta evo-
luir em mais dimensões que aquelas que se
relacionam diretamente com a performance
(físicas, técnicas e táticas). Propõe-se que se
avalie o atleta na sua integração social e nas
suas capacidades volitivas por meio de uma
escala de 1 a 5 (de débil a robusto). Existe
igualmente um espaço para observações, pois
esta classificação poderá ser insuficiente e,
assim, existir a necessidade de complementar
informação.
• Perspectivas de evolução expõem a opinião
do treinador sobre o possível desenvolvimen-
to do atleta nas diferentes áreas analisadas.
• A informação sobre a atividade acadêmica é
um espaço que se reveste de importância cru-
cial no acompanhamento e no interesse pelo
atleta para além da sua performance atlética.
• Reuniões com os pais. O espaço para o regis-
to de reuniões (ou outras interações) com os
pais, assim como um resumo dos assuntos
abordados, permite acompanhar com maior
rigor o tipo de relacionamento estabelecido
e, assim, monitorar o interesse familiar pela
prática esportiva do atleta.

123
INICIAÇÃO ESPORTIVA

FICHA DO ATLETA
1. DADOS BIOGRÁFICOS
Nome Data Nasc.
CPF
Filiação Foto

Endereço Cel.:

2. DADOS BIOMÉTRICOS

Data de observação
Altura
Peso
IMC
Envergadura
Teses físicos

3. DADOS TÉCNICO-TÁTICOS

Avaliação técnica

Avaliação tática

4. DADOS SOCIOPSICOLÓGICOS (1- Débil; 5 - Robusto)

Integração social
Capacidades volitivas

124
EDUCAÇÃO FÍSICA

Observações

Perspectivas de evolução

5. DADOS ACADÊMICOS

6. REUNIÕES - PAIS

Figura 1 - Exemplo de ficha do atleta


Fonte: o autor.

A ficha aqui apresentada constitui um exemplo a ser considerado como fundamental para adquirir o
partir do qual se pode construir outras mais especí- respeito destes pelo trabalho desenvolvido no âm-
ficas e, porventura, até mais completas. Reforça-se bito do clube esportivo.
que o envio deste tipo de informação aos pais deve

SAIBA MAIS

O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma medida internacional usada para calcular se uma pessoa está
no peso ideal. Desenvolvido pelo polímata Lambert Quételet no fim do século XIX, trata-se de um mé-
todo fácil e rápido para a avaliação do nível de gordura de cada pessoa, sendo, por isto, um preditor
internacional de obesidade adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Você pode calcular imediatamente o seu, introduzindo a altura e o peso, verificando de imediato se você
está pesando a mais ou a menos. Para saber mais, acesse: <http://www.calculoimc.com.br/>.

125
considerações finais

O
desenvolvimento positivo dos jovens deve constituir o objetivo de
uma sociedade evoluída, e o esporte, de acordo com inúmeros estu-
dos e pesquisas científicas, pode contribuir de forma significativa para
este fim, nomeadamente, por meio da melhoria da aptidão física e da
saúde. Contudo, a influência do esporte pode ir além, com o desenvolvimento de
competências psicológicas, como são exemplos a liderança, o espírito de iniciati-
va, o estabelecimento de objetivos, a superação e a resiliência. Em termos da in-
tegração social, o esporte pode promover a possibilidade de fazer novos amigos,
reforçando a solidariedade interpares, tornando-se parte de um grupo em desen-
volvimento e, assim, fortalecendo o sentimento de pertença. Todavia, o esporte
também comporta riscos e ameaças no seu seio. Como exemplos, temos o risco
de lesões esportivas que podem decorrer da prática e de forma acidental, ou, mais
grave, a ocorrência de situações de abuso a nível físico (aplicação de cargas de
treino desadequadas) e psicológico (pressões exageradas para obter rendimento).
O treinador é, pela sua formação e responsabilidade na liderança do processo
esportivo, quem deve assegurar um desenvolvimento positivo e sustentado do
jovem atleta. Para alcançar este objetivo, o treinador terá de preparar-se adequa-
damente no que concerne aos aspectos científicos e tecnológicos necessários para
desempenhar a sua atividade, e ter, igualmente, uma formação que lhe permite
incorporar, na sua prática cotidiana, as competências de vida que estão para além
dos ensinamentos do esporte. Contudo, os conhecimentos adquiridos somente
se transformarão em competências se o treinador as exercitar de forma crítica,
reflexiva e contínua. Ele deverá sempre ter a consciência de que o fator mais va-
lorizado pelo ambiente socioesportivo são as características do seu caráter. Con-
sequentemente, a personalidade do treinador é a janela pela qual a sua atuação
será escrutinada.
Conquistar a família, envolvendo-a no processo esportivo, é determinante
para alcançar o sucesso a que o treinador se propõe.

126
atividades de estudo

1. Para o jovem, não é suficiente praticar esporte c) A habilidade do treinador em desenvolver


apenas para maximizar o seu desenvolvimento. a confiança com os atletas só é possível ao
Só acontece o desenvolvimento positivo do jo- criar um ambiente de vitória.
vem por meio do esporte quando:
d) Os clubes esportivos com mais elevada
a) O atleta e a sua equipe são campeões. percentagem de vitórias são os que apre-
b) São bons os níveis de autoeficácia, respon- sentam atletas com melhores competên-
sabilidade pessoal e integração social. cias de vida.
c) A atividade esportiva produz benefícios e) Os treinadores focam seus trabalhos em
para a saúde. capacidades esportivas pois não veem im-
portância nas competências da vida.
d) O atleta alcança um nível elevado de rendi-
mento esportivo. 4. Os treinadores, por meio de determinadas ações,
podem assegurar que os jovens mantenham o
e) O desenvolvimento acontece independen- seu envolvimento esportivo. Em relação a essas
temente de como a orientação realizada. ações, assinale a alternativa correta.
2. O esporte reinvidica para si a contribuição no de- I - Providenciar desafios ótimos.
senvolvimento de valores importantes, como a II - Maximizar o apoio social ao seu envolvi-
superação, o respeito pelos outros e a resiliência. mento.
Contudo, o impacto do esporte nas competên-
cias de vida acontece: III - Assegurar-se de que as experiências es-
I - Se o envolvimento físico e motor decorrer portivas são divertidas.
de forma segura. IV - Criar um clima de motivação propício à
II - Se houver apoio de todos e comprometi- atividade.
mento mútuo dos envolvidos.
É correto o que se afirma em:
III - Se a participação é suficiente, não sendo
necessário estabelecer estratégias. a) I, apenas.
IV - Se o programa esportivo for inconsistente b) II, apenas.
mas houver participação de todos. c) II e III, apenas.
É correto o que se afirma em: d) I, II e IV, apenas.
a) I, apenas. e) I, II, III e IV.
b) II, apenas. 5. O treinador, para além de demonstrar a sua ca-
c) II e III, apenas. pacidade técnica e tática, também deve eviden-
ciar outras formas de intervenção, como a ficha
d) I, II e IV, apenas. do atleta.Em relação ao que a criação dessa ficha
permite avaliar, avalie as situações propostas e
e) I, II, III e IV.
assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso:
3. A investigação na área do treino esportivo e, so- I - Competência e caráter.
bretudo, no impacto que o processo de treino
tem nos jovens para além do esporte, aponta II - Detectar talentos esportivos.
para determinadas conclusões. Em relação a isto, III - Acompanhar apenas as habilidades técni-
assinale a alternativa correta. cas dos atletas.
a) Os treinadores acham que não é impor-
tante desenvolver competências de vida, IV - Realizar relatórios de rendimento para as
pois elas devem ser desenvolvidas em ou- estruturas superiores do clube.
tros espaços educativos.
As afirmações I, II, III e IV são, respectivamente:
b) Os treinadores que parecem ser mais efe-
tivos no ensino das competências de vida a) V, F, F, F.
têm filosofias que priorizam a participação b) F, V, F, F.
esportiva.
c) F, V, V, F.
d) V, V, F, F.
e) V, F, V, F.

127
LEITURA
COMPLEMENTAR

As Perceções de Treinadores acerca do Papel do


Futebol no Desenvolvimento Positivo de Jovens
em Risco de Exclusão Social: que Realidade? Método
Ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento posi- Os participantes foram dez treinadores de jovens em
tivo dos jovens (DPJ) tem sido utilizado como enquadra- risco de exclusão social do sexo masculino e que exer-
mento teórico, de modo a facilitar uma transição bem-su- cem funções em clubes desportivos situados em co-
cedida dos jovens para a vida adulta (LERNER; ALMERIGI; munidades desfavorecidas do norte de Portugal. Os
THEOKAS; LERNER, 2005). Neste contexto, o DPJ centra-se dados foram recolhidos por meio de entrevistas se-
nas qualidades dos indivíduos e assume a importância de miestruturadas.
ensinar competências para a vida a todos os jovens, de
modo que eles possam contribuir para as suas comuni- Resultados
dades e ultrapassar os desafios associados à vida adulta. O processo de análise de dados gerou três categorias
O desporto apresenta-se também como um contexto (contexto, componentes da filosofia de treino, estraté-
que pode contribuir para o DPJ, dependendo do modo gias e desafios no DPJ) e nove subcategorias.
como é orientado, especificamente do clima criado e das
estratégias utilizadas (FRASER-THOMAS et al., 2005; SAN-
Contexto
TOS; CÔRTE-REAL; REGUEIRAS; DIAS; FONSECA, 2018.).
Famílias desestruturadas - Todos os participantes
Em certos casos em que o DPJ não é considerado, ve-
mencionaram que os jovens se encontravam inseridos
rifica-se que o desporto pode originar comportamentos
em famílias desestruturadas, situação que os colocava
antidesportivos (SALLÁN; MORENO; CEACERO; DÍAZ-VI-
em risco de exclusão social pela ausência de suporte
CARIO, 2014). Contudo, caso o desporto seja orientado
parental e de um ambiente psicologicamente e fisica-
de modo a existir um clima intrinsecamente motivante, o
mente seguro.
DPJ pode ser alcançado.
Comportamentos desviantes - Foram também identifi-
Este estudo teve, como objetivo, analisar as perceções
cados inúmeros comportamentos desviantes evidencia-
de treinadores de jovens em risco de exclusão social em
dos pelos jovens.
relação à sua filosofia de treino, bem como as estratégias
Desporto como fator de inclusão - O desporto foi enca-
utilizadas para promover o DPJ e o ensino de competên-
rado como um meio que afastava os jovens de cenários
cias para a vida, assim como os desafios encontrados
de exclusão social e que promovia o DPJ.
neste processo.

128
LEITURA
COMPLEMENTAR

Componentes da filosofia de treino e estratégias


Clima positivo - Quando convidados a descrever a sua Relação com os pais - A relação com os pais foi identi-
filosofia de treino, diversos treinadores mencionaram ficada como um desafio complexo, pela influência ne-
que procuravam criar um clima positivo, com o intuito gativa destes agentes. Apesar do caráter conturbado
de facilitar experiências de desenvolvimento positivas. da relação estabelecida com os pais, os treinadores
Competências desenvolvidas - O desporto foi perspec- afirmaram que existe uma necessidade desses agen-
tivado como um contexto onde os jovens podiam adqui- tes em recorrer ao treinador para solucionar proble-
rir inúmeras competências para a vid,a como o trabalho mas vivenciados no processo de desenvolvimento dos
em equipe e o esforço. jovens.
Relação treinador-atleta - Os treinadores indicaram a
necessidade de adotar o papel de amigo, mas, ao mesmo IMPLICAÇÕES PRÁTICAS
tempo, de serem disciplinadores com os atletas. O desporto pode ser um contexto fundamental para a
Estratégias - Os treinadores referiram utilizar a conver- inclusão de jovens em risco, contribuindo para a promo-
sa individual e em grupo como estratégias importantes ção do DPJ e para o ensino de competências para a vida.
para promover o DPJ, reportando o seu efeito positivo Contudo, os treinadores, apesar de serem todos certifi-
nos jovens. Os participantes mencionaram o esforço cados pelas entidades que regulam a prática desportiva
como uma competência que pode ser desenvolvida por em Portugal, referiram apenas um conjunto limitado de
meio da criação de um clima de suporte em que as ações competências que podiam ser desenvolvidas por meio
positivas dos jovens são valorizadas. do desporto, centrando-se, essencialmente, nas necessi-
dades imediatas dos jovens em cumprirem regras e en-
Desafios no DPJ volverem-se nas atividades.
Formação e experiência - Relativamente aos desafios Fonte: Santos et al. (2018).
encontrados no DPJ e no ensino de competências para
a vida, os treinadores salientaram o fato de utilizarem
apenas a sua experiência empírica, o que condicionava
a intervenção.

129
material complementar

Indicação para Ler

O Desenvolvimento Positivo dos Jovens na Formação de Treinadores


Fernando Santos, Martin Camiré, Dany J. MacDonald e Karl Erickson
Editora: Federação Portuguesa de Hóquei
Sinopse: os treinadores são elementos centrais no desenvolvimento positivo dos
jovens, sendo que esses profissionais devem desenvolver atividades estruturadas
intencionalmente com este objetivo. Assim, é necessário proporcionar aos trei-
nadores oportunidades para que possam apresentar práticas coerentes com as
suas filosofias, utilizando a investigação realizada nesta área para fundamentar
esta abordagem. Habitualmente, verifica-se, por vezes, a existência de uma dis-
tância significativa entre a investigação e a prática, pois ambos os domínios são
considerados separadamente. A formação de treinadores e as políticas desporti-
vas devem ser informadas pela investigação, como se verifica no caso deste pro-
jeto, que tem sido conduzido por diferentes atores envolvidos no desporto para
jovens, como pais, atletas, treinadores e formadores. Esta investigação pode, defi-
nitivamente, ajudar a aumentar os resultados de aprendizagem coerentes com o
desenvolvimento positivo dos jovens.

Indicação para Ler

Positive Youth Development Through Sport


Nicholas L. Holt
Editora: Routledge
Sinopse: contando a retórica política sobre o poder do esporte como uma fer-
ramenta para a mudança social e a melhoria pessoal, este livro oferece a intros-
peção em como e por que participar do esporte pode ser bom para crianças e
jovens. Como o primeiro texto a se concentrar no papel do esporte no desen-
volvimento positivo de jovens (PyD), o livro reúne colaboradores de alto perfil de
diversas disciplinas para examinar criticamente as maneiras pelas quais o esporte
pode ser usado para promover o desenvolvimento de jovens. Agora, em uma nova
edição totalmente atualizada, revista e expandida, O Desenvolvimento Positivo de
Jovens Através do Esporte abrange uma ampla gama de disciplinas, incluindo psico-
logia esportiva, psicologia do desenvolvimento, educação física, desenvolvimento
esportivo e sociologia esportiva. As três seções principais centram-se sobre os
contextos teóricos e históricos de PYD; métodos quantitativos e qualitativos para
avaliar PYD no desporto; o potencial de PYD no esporte por meio de diferentes
idades e habilidades.

130
material complementar

Indicação para Ler

Key Themes in Youth Sport


Ken Green
Editora: Routledge
Sinopse: Temas-Chave no Esporte Juvenil é um guia conciso e fácil de ler sobre os
conceitos fundamentais no estudo da relação dos jovens com o esporte, o exercí-
cio e o lazer. Projetado para ajudar os alunos a se familiarizar com o básico e para
dominar as ideias centrais e os debates no esporte juvenil contemporâneo, este
livro reflete o interesse multidisciplinar no esporte juvenil, explorando perspetivas
de sociologia, psicologia, fisiologia, política desportiva, desenvolvimento esportivo
e educação física.

131
referências

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134
gabarito

1. B.
2. E.
3. B.
4. E.
5. A.

135
PREPARAR E PLANEJAR A
INTERVENÇÃO DO TREINADOR

Professor Dr. Rui Resende

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Filosofia do Treinador
• Planificação Anual – Periodização
• Plano Semanal – Microciclo
• Unidade de Treino

Objetivos de Aprendizagem
• Estabelecer e construir uma filosofia de treino.
• Verificar as variáveis necessárias para projetar a
planificação de uma época esportiva.
• Conceber um plano semanal de treinos.
• Preparar uma unidade de treino.
unidade

V
INTRODUÇÃO

Q
uando alguém assume o papel de treinador deve ter a consci-
ência da importância da sua decisão. Ser treinador implica ter a
capacidade de liderar e implementar um processo de treino com
crianças, jovens ou adultos. Neste sentido, será determinante
ganhar consciência sobre a forma como vai idealizar e liderar toda a sua
intervenção. É com este propósito que é determinante conceber uma filo-
sofia de treino que o leve a ser congruente nas suas ações. A filosofia do
treinador surge como um princípio orientador do seu comportamento
perante o ambiente de treino e permite edificar um estilo de liderança.
Elementos para auxiliar à construção desta filosofia por parte do treina-
dor são sugeridos. Para além disso, é proposta uma operacionalização
destes conceitos, ideias, em elementos concretos de atuação quando para
quando o treinador enfrentar a prática ter um comportamento de lide-
rança adequado à filosofia formulada.
Para estar preparado para liderar um processo de treino, é fundamen-
tal prever, o mais exatamente possível, o que vai suceder durante a glo-
balidade da época esportiva e, assim, poder planificar as atividades de
acordo com os objetivos definidos, considerando o contexto em que se vai
aplicar. Consequentemente, surge a periodização anual em que se projeta
as intervenções no processo de treino tendo em linha de conta o calen-
dário das competições, o número de treinos previstos, o tipo de cargas a
ministrar entre outras variáveis. As linhas de orientação obtidas na perio-
dização permitem passar para um nível de concretização mais imediato
a que denominamos de plano semanal ou microciclo. Aqui, o treinador
planifica uma semana de treinos, tendo em linha de conta a competição
que vai ter no fim de semana. A dinâmica estabelecida neste planeamento
permite idealizar um roteiro de atividades, atribuindo as prioridades de
tempo destinado às atividades de acordo com o contexto no qual está
inserido e os objetivos previstos. Por último, apresenta-se a unidade de
treino, em que se concretiza as atividades que os atletas vão efetuar.
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Filosofia do Treinador
A denominação de filosofia do treinador é referen- que atua como um princípio orientador para o com-
ciada na generalidade das publicações que abordam a portamento. Neste sentido, a filosofia do treinador
temática de uma prática efetiva da sua parte e consti- consiste nos princípios que guiam o treinador no
tui um ingrediente chave para orientar a sua atuação desenvolvimento dos atletas e das equipas.
(BENNIE; O’CONNOR, 2010; GOULD et al., 2017). A palavra filosofia toma muitos significados
A filosofia pode ser definida como uma teoria no seio do treino esportivo, contudo, o desenvolvi-
ou atitude realizada por uma pessoa ou organização mento de uma filosofia clara por parte do treinador

140
EDUCAÇÃO FÍSICA

e por consequência da equipa que tem sobre o seu


comando tem sido associado ao sucesso do processo
de treino, pois apresenta uma mensagem positiva e
consistente aos atletas.
Em termos gerais, aceita-se que a filosofia do
treinador serve para guiar os seus princípios de
atuação, sendo definida pelas crenças e valores que
orientam a sua prática. Assim, em termos objetivos,
constitui a forma como ‘vê’ o treino esportivo. Per-
mite sustentar um estilo de liderança, as preferências Ajudando a construir uma filosofia de treino e do
por uma determinada forma de ensinar, a maneira treinador (GILBERT, 2017) será importante iden-
como organiza e faz a gestão do ambiente de treino. tificar a razão pela qual se pretende ser treinador,
Neste sentido, uma filosofia do treinador cons- quais são os objetivos pretendidos e quais os valores
trói-se sobre um conjunto de padrões pelos quais que vão orientar a sua atuação quando estiver a diri-
o treinador vai influenciar, ensinar e modelar os gir e liderar um processo de treino. O passo seguinte
seus atletas. Idealmente, reflete a sua própria filo- será criar estratégias de treino e competição que per-
sofia de vida (MARTENS, 1990), pois os objetivos mitam ensinar e reforçar os valores anteriormente
e os valores têm que ser significativos a nível pes- definidos. Neste sentido, os objetivos do treino e os
soal, se não, são somente propósitos vazios. Será valores que lhe estão associados devem ser usados
importante realçar que a influência que um trei- para sustentar as decisões do dia a dia.
nador pode ter no atleta pode ir muito para além
das esportivas e ter um forte impacto em anos CRIANDO UMA FILOSOFIA DE TREINO
subsequentes.
De acordo com Hardman e Jones (2013), uma fi- As questões que o treinador se deve colocar para iniciar
losofia do treinador deve ser edificada sobre quatro a construção da sua filosofia são entender-se como se
conceitos filosóficos que definem em: axiologia (o é como treinador e como pessoa. A lógica desta ideia
que o treinador valoriza), ética (o que o treinador aju- é que a sua ação (atividade como treinador) depende
íza sobre o que é moral e imoral), ontologia (o sentido de quem a pessoa é, do seu ideal de vida, das circuns-
que atribui ao processo de treino), e fenomenologia tâncias particulares em que se insere e da forma como
(reflexões sobre a experiência de ser treinador). o demonstra. Nesse sentido, responder às seguintes
Contudo, devemos ter presente que desenvolver perguntas podem auxiliar a esse propósito, pois per-
uma filosofia de treino, entre outras coisas, requer mitem refletir sobre os próprios valores e, dessa for-
tempo e reflexão sobre as suas próprias experiências ma, desenvolver uma filosofia de treino que coincida
(CAMIRÉ et al., 2012), sendo que os treinadores jo- com aquilo em que acredita. É importante referir que
vens apresentam dificuldades em explicar como im- o objetivo de treino e os valores não necessitam de ser
plementam os valores que defendem na sua prática validados por outros, estão corretos quando são inspi-
cotidiana (MCCALLISTER et al., 2000). radores e significativos a no âmbito pessoal.

141
INICIAÇÃO ESPORTIVA

1 Porque sou treinador? (Quais são as motivações para ser treinador.


Por exemplo: gosto de esporte e gosto de ensinar);

2
Quais são os meus valores enquanto pessoa? (Constituem as ex-
pectativas, os comportamentos, as atitudes que me são inerentes en-
quanto pessoa. Como exemplo poderemos afirmar – o respeito, res-
ponsabilidade, honestidade);

3
Que tipo de experiências pretendo que os meus atletas vivenciem?
(Por exemplo: conheçam outros ambientes e pessoas que partilhem o
gosto pelo esporte);

4 Como defino sucesso atlético? (Por exemplo: os meus atletas desfru-


tam da competição e lutam pela vitória);

Qual é minha opinião sobre qual é o propósito do esporte? (Por

5 exemplo: providenciar um ambiente de treino seguro para que os jo-


vens possam aprender a competir, desenvolver habilidades esportivas
e aprender a trabalhar em equipe);

Quais são as minhas responsabilidades para com os meus atletas?

6 (Por exemplo: sou uma pessoa em quem eles podem confiar para além
do espaço esportivo e vou procurar ter um impacto positivo no seu de-
senvolvimento como atleta e essencialmente como pessoa);

Como vou orientar os meus atletas? (Por exemplo: vou tratar todos

7 com dignidade, vou incutir os valores de respeito, responsabilidade e


confiança, desafiando a minha equipe para atingir padrões elevados de
desempenho);

8 Quais são os padrões éticos pelos quais me oriento? (Por exemplo:


respeito por todos: da minha equipe, do adversário, dos árbitros).

142
EDUCAÇÃO FÍSICA

OPERACIONALIZANDO UMA FILOSOFIA


DE TREINO

O próximo estágio para a construção de uma filo-


sofia pessoal de abordagem ao processo de treino Como treinador, desejo que os meus atletas te-
consiste em explanar a sua ideia (valores) que têm nham satisfação com a superação pessoal, en-
acerca do processo de treino e do que pretende atin- tendam o treino de forma autônoma e sejam
gir (objetivos). Uma frase será suficiente e servirá a corresponsáveis com os objetivos da equipe.
razão pela qual o treinador toma os procedimentos
que acha mais adequados.
Será importante destacar que este exercício A filosofia de treino descreve a maneira que vai ser
não deve ser imutável ao longo do tempo em que o efetuada a abordagem como treinador e assegura
treinador exerce a sua atividade. Pelo contrário, na que esta seja fiel aos objetivos e valores definidos. O
medida em que vai exercendo a sua prática, acu- passo seguinte consiste em descrever os principais
mulando conhecimento e experiência, é natural e valores que vão orientar os propósitos definidos an-
saudável que existam reformulações na sua filoso- teriormente.
fia de treino. Todavia, é importante definir os valores e atri-
De forma a ilustrar a aplicação deste procedi- buir-lhes um significado prático (Tabela 1) para que
mento, iremos destacar como exemplo uma filosofia se tornem claros para os atletas e sirvam de orienta-
de treino que irá nortear toda a exposição subse- ção ao treinador.
quente. O conselho dado por Gilbert (2017) indica Os valores podem ser abertos à discussão por
que o treinador deve começar por dizer “Como trei- parte da equipe e até ser ligeiramente alterados de
nador, eu sou....” e que a frase deve conter poucas li- forma a se adequarem ao grupo de atletas que se di-
nhas e ser um sumário das principais ideias que irão rige. A razão pela qual se sugere esta abertura é que
nortear a sua ação. os atletas ‘compram a ideia’ de forma mais convicta
Então, de acordo com a linha de raciocínio ex- se tiverem a oportunidade de colaborarem na defini-
plicitada, expomos a título de exemplo: ção dos valores da equipe.

143
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Quadro 1 – Valores e sua aplicação prática


Valores Aplicação
Vou ser competitivo.
Superação pessoal Todas as vezes contam para melhorar.
Lutar por todas as bolas.
Com a equipe e com os objetivos definidos.
Compromisso
Aceitar responsabilidades e ter consciência do meu valor para a equipe.
Todos somos treinadores.
Contribuir para uma boa atmosfera de treino, divertida e empenhada.
Corresponsabilização Entusiasmar o meu parceiro, avaliar a sua performance para que ele tenha uma me-
lhor consciência do seu desempenho.
Ajudo no treino com as bolas e material para que haja mais tempo útil de treino.
Consciência do que se pretende nas tarefas de treino e competição.
Autonomia
Esforçar-me porque valorizo a razão pela qual estou aqui.
Fonte: o autor.

A estratégia de ação passa então por: A importância e a vantagem de ganhar consciência


1. Definir e de forma repetida articular os valo- de uma filosofia de treino bem delineada é que o trei-
res desejados. nador aprende sobre si mesmo, constata as suas insu-
2. Criar ferramentas e estratégias de ensino que ficiências e as suas potencialidades, apercebe-se das
ajudem os atletas a entender os valores defi- razões pelas quais está a treinar e o que necessita para
nidos com consistência.
melhorar as suas competências como treinador.
Poderíamos igualmente incluir como sugestão para
grupos mais avançados, no que diz respeito à com- ATENÇÃO
petição:
1. Estabelecimento de estratégias de recruta- Num interessante artigo, Byrne e Cassidy
mento que assegurem atletas que comparti- (2017) relatam, num estudo de caso, como
lhem os mesmos valores e que já foram acei- o alinhamento entre a filosofia e ação con-
tos e assumidos pela equipe. duziram ao sucesso de um treinador de Ru-
gby após ter sido despedido de um clube.
2. Implementar sistemas de recompensa e pu- Este fato constitui uma oportunidade para
nição que reforcem os valores do grupo. Por aprender e se desenvolver como treinador.
exemplo, se alguém responsável por arru- De forma mais específica, sentiu a necessi-
mar o material não o fez, toda a equipe ter dade em clarificar a sua filosofia e estratégia
de comunicação de forma a organizar a sua
uma tarefa suplementar para reforçar a cor-
‘crença’ (cultura, liderança, o jogo).
responsabilização de todos quanto à impor-
Fonte: o autor.
tância de arrumar o material.

144
EDUCAÇÃO FÍSICA

145
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Planificação Anual
Periodização
Após a tomada de consciência da filosofia a imple- A planificação que se sugere nestas páginas en-
mentar num processo de treino por parte do trei- volve uma organização e direcionamento de propó-
nador, chega a hora de operacionalizar todo uma sitos de treino e pressupõe que o treinador domine
estratégia no sentido de concretizar os objetivos os princípios de adaptação das cargas de treino que
definidos. Estes devem ser competitivos e forma- serão suportadas e aplicadas aos atletas.
tivos independentemente do nível de performance O exercício de planear é procurar antecipar e pre-
com que se trabalha, pois o treinador não deve nun- ver uma sequência lógica e coerente de acontecimen-
ca deixar de se sentir um professor (GALLIMORE; tos que se vão desenrolar durante a época esportiva
THARP, 2004). e que apontam para a concretização dos objetivos

146
EDUCAÇÃO FÍSICA

definidos. Neste sentido, o planeamento constitui o III. O Calendário das competições


processo através do qual o treinador define as linhas • Uma só competição (um campeonato duran-
de orientação que vai colocar em prática durante a te toda a época)
época e onde pretende procurar prever o futuro. • Competição por fases a eliminar (competi-
Será importante afirmar que, numa perspetiva ções em que em caso de sucesso se vão ultra-
passando até culminar numa fase final)
de carreira a longo prazo de um atleta, a planificação
• Adversários
não se deve resumir a uma só época esportiva. Con-
IV. Condições de treino
tudo, tendo em conta a realidade, em que os treina-
• Número de treinos
dores não têm uma permanência com os mesmos
• Tempo de treino efetivo (Horas/minutos)
atletas durante épocas sucessivas, iremos concentrar
• Material/espaço disponível
a nossa atenção numa época esportiva.

VARIÁVEIS A TER EM LINHA DE CONTA PLANO ANUAL OU MACROCICLO


A PARA REALIZAR O PLANEJAMENTO DE
UMA ÉPOCA ESPORTIVA Tal como afirmamos anteriormente, o plano anual
é um roteiro das atividades a realizar pela equipe
Uma vez que não se planeia em abstrato, mas sim e pretende idealizar de uma forma genérica a for-
perante situações reais, o treinador terá que fazer ma como pretendemos preparar a época esportiva.
uso da sua capacidade de análise da situação que en- Também será importante realçar que esta tarefa é
frenta para tomar as melhores decisões. pessoal e que o que se sugere deverá servir de indi-
Realizar uma periodização para esportes de cador para construir a sua própria.
equipe coloca múltiplos desafios devido a grande Para ajudar à realização do planeamento anual,
variedade de objetivos, de volume de treino e de sugerimos a utilização de uma folha de cálculo do
treinos, da duração da época esportiva, entre outros. Excel. Esta ficha, que deve fazer parte do dossiê do
I. Clube Esportivo treinador, é um instrumento simples que depois se
• Filosofia – Qual a orientação que o clube dá vai materializar progressivamente com maior por-
em termos de política esportiva. menor ao longo do decurso da época. Serve igual-
• História – Qual o patrimônio esportivo do clube mente para monitorizar a adequação do planeado
• Estrutura organizacional, diretiva, logística, com a realidade do que vai acontecendo. Salienta-
médica, entre outras. mos que existiu a preocupação de permitir a inte-
• Meios disponíveis, tipo de apoio, transportes gração de todos os esportes coletivos que depois
para as competições entre outras.
necessariamente terão de ser trabalhados de acordo
II. Atletas
com as suas especificidades.
• Idade
A ilustração que se apresenta a título de exemplo
• Sexo
aponta para duas fases distintas na época a que pode-
• Experiência na modalidade
ríamos de denominar, a primeira, de campeonato es-
• Resultados na época anterior
tadual e a segunda de campeonato nacional (Figura 1).

147
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Periodização

Meses

Microciclos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Treinos

Jogos

Periodização Preparatório Pré-Comp. Período Competitivo Período Competitivo Prep.

Mesociclos Cond. Básico G. Pré-Comp. Competitivo Competitivo Competitivo Condicional

Cap. aeróbia Aquisição Manutenção Manutenção Aquisição

Resistência de Resistência de Força


Força R. de força
força força máxima

Velocidade Velocidade espe-


Velocidade Vel. geral
geral cífica

Flexibilidade Desenvolver Desenvolver Manutenção Desenvolver Desenvolver

Técnica Aquisição Estabilização Aquisição

Estabilização - Trabalho de
Tática Aquisição Aquisição avançada Estabilização
equipe/cooperação

Teste Médicos/Físicos Exercícios critério Físicos Exercícios critério

Horas de treino

Horas de treinos reais

Competição de preparação Competição de control

Figura 1 – Periodização de uma época esportiva


Fonte: o autor.

CONTEÚDO DO PLANO ANUAL

O plano anual divide-se genericamente em duas cidência com períodos que possam pertur-
partes, uma em que se prevê o tempo previsto de bar de alguma forma a preparação da equipe
treino (treino é aquele em que efetivamente o trei- (épocas de exames para atletas estudantes, ou
nador está com a equipa a treinar) e as competições alturas de festas como o carnaval) e períodos
de férias em que se pode aumentar o tempo
que se vão efetuar e outro com o tipo de preparação
dedicado ao treino, pois os atletas poderão
a ser ministrada nesse período.
estar mais predispostos e mais concentrados
• Meses: deve conter os meses desde que se ini- nesta tarefa.
cia a preparação da equipa até ao seu término
• Microciclos: enumera-se o número de ciclos
antes do período de férias. Permite visualizar
semanais de treino no total da época esporti-
a sequência do período competitivo, a coin-
va (serão objeto de atenção mais detalhada).

148
EDUCAÇÃO FÍSICA

Periodização

Total

19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 36

Período Competitivo

Competitivo Competitivo Pré Compet. Competitivo Competitivo

Manutenção Manutenção

Força Força Força


Potência Potência Potência Potência
máxima máxima máxima

Velocidade
específica

Manutenção Manutenção Desenvolver Manutenção Manutenção

Estabilização Velocidade

Estabilização - Trabalho de equipe/


cooperação

Físicos Exercícios critério Físicos Exercícios critério

Campeonato Preparação

• Treinos: contabiliza-se o número de Unida- • Periodização: distinguimos quatro períodos:


des de Treino que se tem previstas para cada 1. Período Preparatório: altura em que se efe-
microciclo. No término de cada coluna, indi- tiva a preparação da equipa para encarar a
ca-se o número de horas prevista para treinar competição, tendo como maior índice de
em cada microciclo e o número efetivo de preocupação o condicionamento físico geral
horas que se treinou. No fim das linhas, será e específico.
evidenciado o somatório do total da época do 2. Período Pré-Competitivo: momento em que
número de treinos e das horas corresponden- se prepara a equipa para competir.
tes. Esta contabilidade ajuda a reflectir, tendo
3. Período Competitivo: altura em que se pretende
em linha de conta o que se previu fazer e o
que a equipa evidencie o seu maior potencial.
que efetivamente se realizou.

149
INICIAÇÃO ESPORTIVA

4. Período de Transição: ocasião em que a equi- nador deve atribuir a devida a importância a esta
pe deixa de ter o foco no desenvolvimento es- atividade durante toda a época esportiva e, obvia-
pecífico do esporte em causa e aproveita para mente, levar em linha de consideração para quem é
melhorar outras capacidades. dirigido o processo de treino.
• Mesociclos: são as unidades mensais (nor- • Físico – Capacidades Condicionais.
malmente 3 a 6 semanas) de treino e que po-
• Aeróbia:
dem ser de:
• Aquisição;
• Condicionamento: de preparação básica
• Manutenção.
com incidência maior na parte da condi-
ção física. • Força:
• Básico Geral: em que se aprimoram as ca- • Resistência;
pacidades gerais necessárias para a prática • Força Máxima;
do esporte específico. • Potência.
• Pré-Competitivo: preparação da equipe de • Velocidade:
uma forma mais próxima às necessidades • Velocidade geral;
competitivas. • Velocidade de especial.
• Competitivo: manutenção da melhor for- • Flexibilidade:
ma da equipe.
• Desenvolver;
• Microciclos: são habitualmente coincidentes
• Manutenção.
com uma semana de treinos que culmina na
• Técnica – Dividimos em aquisição, estabili-
competição, também habitualmente, no fim
zação e velocidade de execução.
de semana.
• Tática – Dividimos em aquisição e estabilização.
• Treino: Indica-se a previsão de treinos que se
irá efetuar por semana e que permite prever • Testes
o total de treinos a realizar na época despor- • Médicos – permitem avaliar a saúde dos
tiva. O treino é composto de três conteúdos atletas e indagar da sua predisposição para
básicos que são a Preparação Física, o Treino a prática esportiva.
Técnico e o Treino Tático. • Físicos – servem para avaliar a melhoria
da condição física individual, aquilatar dos
No que diz respeito à Preparação Física, gosta- progressos gerais efetuados e estabelecer
ríamos de evidenciar a sua importância para um uma relação com o treino efetuado.
bom desempenho competitivo de uma equipe, seja • Exercícios Critério – São exercícios especí-
qual for o seu grau de desenvolvimento. O desem- ficos da modalidade, que permitem confir-
penho esportivo sustenta-se num bom aprimora- mar a evolução da equipe de acordo com
mento físico, pois o reforço da condição física é a filosofia do treinador, revelando indica-
ções sobre se a sua prática está em sinto-
fundamental para preparar o atleta para um bom
nia com as ideias idealizadas para a equipe
desempenho esportivo em termos de performance
(RESENDE et al., 2017).
e também como forma de prevenir lesões. O trei-

150
EDUCAÇÃO FÍSICA

REFLITA

Idealize-se como treinador de um esporte à


sua escolha e tente projetar uma periodiza-
ção adequada à realidade específica da sua
competição. Utilize as variáveis sugeridas e
complete a ficha apresentada.

151
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Plano Semanal
Microciclo
Após a construção do plano anual e tendo em linha destinado às diferentes componentes do treino. Des-
de conta que se deveria passar para uma planificação ta forma, conjuntamente com outros meios de análi-
intermédia (Mesociclo), optamos por focar concre- se como a estatística de jogo, é possível reorientar ou
tamente numa semana de treinos (Microciclo). Esta ajustar os procedimentos de planeamento semanal.
decisão sustenta-se no facto dos esportes coletivos O plano anual indica qual o tipo de momento
se constituírem de vários imponderáveis e que exi- que estamos a preparar e assim se determina o obje-
gem uma adequação mais imediata. Não queremos tivo do Microciclo. Na Figura 2 expomos a estrutura
com isto deixar de dar importância a uma previsão da ficha de microciclo que propomos e que constitui
mais intermédia como o Mesocicle. Aliás, pensamos uma forma de operacionalizar a semana de treinos.
que é importante no sentido de controlo do proces- Os campos abertos serão para preencher de acordo
so de treino, pois, fazendo uso das potencialidades com a modalidade que se está a treinar, de acordo
do programa Excel enquanto folha de cálculo, con- com as concepções individuais do treinador e as exi-
seguimos saber a quantidade de tempo que temos gências de preparação da equipe que lidera.

152
EDUCAÇÃO FÍSICA

Prepa- Min/
Data- %
ração Horas
Física 30%
Objetivo - Técnica 30%
º Microciclo Tática 40%
Total 100%
Física Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom Total
Aquecimento
Resistência
Velocidade
Força
Flexibilidade
Total P.F.Geral 0
Velocidade especial
Resistência especial
Outros
Total P.F.Especial
Total P.F.G. + Espec. 0
Técnica

Outros
Total Técnica 0
Tática

Teoria
Total Tática 0
Total treino 0 0 0 0 Jogo 0

Figura 2 – Ficha de Microciclo


Fonte: o autor.

153
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Porque nos parece que é mais fácil acompanhar esta Preparação Min/Horas %
exposição com um exemplo prático, vamos colocar Física 99 30%
um cenário hipotético e construir uma semana de Técnica 99 30%
treinos. Tática 132 40%
Total 330 100%
EXEMPLO DE UM PLANO DE TREINO DE Figura 3 – Tempo total de treino dividido percentualmente em preparação
Física, Técnica e Tática
UMA EQUIPE DE FUTEBOL INFANTO-JU-
Fonte: o autor.
VENIL
Após esta decisão, inicia-se o preenchimento da fi-
O exemplo sugerido é de uma equipe de futebol in- cha (Figura 4) com os conteúdos e o tempo que se
fanto-juvenil masculina que está a disputar o cam- vai dedicar a cada um deles de uma forma geral,
peonato estadual e com fortes possibilidades de se posteriormente na Unidade de Treino (UT) serão
apurar para a fase nacional. A equipe treina quatro especificados. Nesta fase do planeamento, uma di-
vezes por semana, sendo que três treinos são de 90 ficuldade é decidir o que inserir em cada um dos
minutos e um é de 60 minutos, o que perfaz um total componentes, pois se em alguns conteúdos não
de 330 minutos disponíveis para treinar. existem dúvidas, noutros a decisão poderá não ser
A primeira operação a fazer, após contabilizar o tão simples.
tempo total de treino na semana, consiste em deter-
minar qual a percentagem desse tempo se irá atri-
buir a cada uma das componentes definidas: Física, Por exemplo, se devido à escassez de tempo
Técnica e Tática (Figura 3). que se tem para treinar, o aquecimento já é
Idealmente, nenhum destes componentes deve efetuado com bola e se aproveita esse mo-
ultrapassar os 40% nem ser inferior a 30%. Contu- mento para exercitar alguma técnica, este
do, a sua variabilidade depende em grande medida conteúdo faz parte da componente física ou
do tempo disponível, dos objetivos pretendidos em da técnica? A resposta para estas questões
cada microciclo e o nível competitivo com o qual se está na Componente Crítica (CC) do conteúdo
está a trabalhar. que desejamos praticar. “Componentes Críti-
O Microciclo é competitivo, a equipe está numa cas são os pontos essenciais que o treinador
fase decisiva e vai ter um jogo no fim de semana com estabeleceu como fundamentais” (RESENDE
um adversário direto. Perante esta realidade, tomou- et al., 2017, p. 45).
-se a decisão de dedicar o maior tempo disponível
ao treino Tático, dedicando-lhe 40%, o que perfaz
um total de 132 minutos, restando 99 minutos para
a parte Técnica e Física.

154
EDUCAÇÃO FÍSICA

Assim, no exemplo anunciado, o aquecimento a resistência numa fase mais inicial da semana, pois
fará parte do componente físic0. Ou seja, neste caso a sua recuperação é mais lenta e a velocidade numa
e em qualquer outro no processo de treino, o treina- fase mais adiantada porque a sua recuperação é mais
dor, ao estabelecer a CC, irá dedicar a sua atenção acelerada). Salientamos que qualquer destes conteú-
prioritariamente para esse aspeto, desenvolvendo dos podem ser executados com bola, mas o que de-
uma estratégia de comunicação adequada através da termina o seu posicionamento no plano é a ênfase
emissão dos feedbacks correspondentes (RESENDE (CC) atribuída pelo treinador. Por exemplo, no caso
et al., 2017). exposto, o primeiro treino da semana é exigente do
Outra situação de dúvida é a da Teoria: onde ponto de vista físico porque é o que está mais longe
colocá-la? Entendemos por teoria o tempo que o do jogo e, também, porque no dia seguinte é folga,
treinador demora, na sessão de treino, a indicar os o que permitirá aos atletas uma maior recuperação.
objetivos do treino e o seu relacionamento com a Para a preparação da componente Técnica deve
competição. Neste sentido, inserimos este tempo no sobressair em termos de ênfase (CC) aquilo que se
componente Tática. Toda outra informação referen- pretende aperfeiçoar com os atletas e que deverá
te à explicação dos exercícios ou outro tipo de para- ter em linha de conta as performances anteriores e,
gem que o treinador resolva fazer estará incluída no consequentemente, as necessidades individuais dos
tempo específico dos conteúdos. atletas no seu conjunto. Sugere-se que em termos de
Como estratégia para o preenchimento da ficha planeamento, as CC definidas tenham relação com
iniciamos pela parte do componente Físico. Distin- o que se vai fazer na componente Tática e assim oti-
guimos Preparação Física geral de específica. A pri- mizar atenção dos atletas e do treinador para a sua
meira trabalha as capacidades condicionais de uma relação com o jogo.
forma geral (por exemplo, Sprints de velocidade de A preparação da componente Tática deverá fo-
20, 30 metros) e de forma específica (por exemplo, car-se essencialmente no aprimoramento da estraté-
velocidade com mudanças de direção). gia delineada para fazer face ao adversário e também
Aqui manifesta-se a preocupação com a dinâmi- será importante ter uma relação diária com a parte
ca das cargas existindo a preocupação de ‘olhar’ para técnica no sentido de otimizar a atenção dos alunos
a semana com a intenção de que a equipe chegue nas nos particulares que estiverem em foco na sessão de
melhores condições ao jogo (por exemplo, trabalhar treino.

155
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Prepa- Min/
Data-2018 %
ração Horas
Física 99 30%
Objetivo - Competitivo Técnica 99 30%
12º Microciclo Táctica 132 40%
Total 330 100%
Física Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom Total
Aquecimento 10 10 10 10 40
Resistência 0
Velocidade 0
Força 20 20
Flexibilidade 10 10
Total P.F.Geral 30 10 10 20 70
Velocidade especial 20 20
Resistência especial 9 9
Outros 0
Total P.F.Especial 9 20 0 0 29
Total P.F.G. + Espec. 39 30 10 20 99
Técnica
Passe e desmarcação 20 20
Finalização 10 10
Ataque - Drible 20 20
Defesa contenção/De- 29 20 49
sarme
Outros
Total Técnica 29 20 40 10 99
Tática
Organização defensiva 17 17
Transição Ofensiva 35 35
Organização ofensiva 35 35
Transição defensiva 15 15
Bolas paradas 10 10
Teoria 5 5 5 5 20
Total Tática 22 40 40 30 132
Total treino 90 90 90 60 Jogo 0

Figura 4 – Plano de Microciclo


Fonte: o autor.

156
EDUCAÇÃO FÍSICA

A ideia comum na generalidade dos treinadores é


que o tempo é escasso para cumprir com todas as
necessidades da equipe. Por isso, planejar é decisi-
vo para otimizar a gestão do tempo disponível para
treinar. Uma outra virtude da realização deste tipo
de planificação relaciona-se com a possibilidade de
aprofundar o controle de treino, pois os Microciclos
acumulados (nos Mesociclos e, por fim, na época)
revelam a quantidade de tempo atribuída a cada
componente e, assim, constituem mais um fator de
reflexão a ser utilizado pelo treinador.

REFLITA

Idealize-se como treinador de um esporte à


sua escolha e tente projetar um plano sema-
nal adequado à realidade específica da sua
competição. Utilize as variáveis sugeridas e
complete a ficha apresentada.

157
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Unidade de Treino
A Unidade de Treino (UT) é a materialização da Para realizar a UT, apresenta-se uma sugestão na
sessão de treino prevista no microciclo, idealizado Figura 5. Segundo Hughes et al. (2009), a UT está
de forma a contemplar os seus objetivos específicos. dividida em três partes:
Desta forma, visa – na maioria das situações – ope- • A primeira parte é de caraterização, em que
racionalizar a ideia de preparar melhor possível os se contextualiza a sessão de treino. Contem-
atletas, tendo em linha de conta os constrangimen- pla o número da sessão de treino; o número
do microciclo; a data, a hora e o local onde
tos contextuais da equipe para vencer o adversário
se realiza o treino; o material que se vai ne-
no fim de semana. cessitar para cumprir com todas as tarefas do

158
EDUCAÇÃO FÍSICA

treino; a duração da sessão e qual o tempo em • Reflexão é o espaço que permite ao treina-
minutos que se vai dedicar a cada uma das dor descrever os seus sentimentos, sensa-
componentes; os conteúdos a serem aborda- ções, sobre o rendimento do treino do que
dos durante a sessão de treino e o objetivo ge- correu bem e dos aspetos a melhorar, apon-
ral que se pretende atingir com a sessão. tar possíveis soluções e áreas de melhoria
• A segunda parte representa o desenho da ses- a implementar no futuro. Tem um grande
são de treino propriamente dito, em que se potencial em elevar o grau de conhecimento
contempla o tempo destinado às tarefas (T); dos treinadores pelo fomento da tomada de
os objetivos específicos de cada exercício que consciência do seu envolvimento.
permitem orientar e direcionar as intenções de
Será importante salientar que a UT que se suge-
cada prática; a descrição e organização (dese-
nho) das tarefas em que devem ser colocados re pretende ser um exemplo e consideramos que a
as Componentes Críticas que constituirão o construção e planificação da UT é pessoal, deve por
rumo da comunicação a ser efetuada pelo trei- isso servir a filosofia do treinador corporizando-se
nador. As palavras-chave constituem um resu- na sua ação e relação prática com os atletas.
mo das CC e têm significado de aprendizagem A relevância desta estrutura de UT é que impele
para os atletas, direcionando a sua atenção
o treinador a ser rigoroso e eficiente na sua planifi-
para os aspetos particulares que o treinador
cação. Para além da discriminação das atividades, ao
considera importantes para melhorar a sua
ação; os critério de sucesso subdividem-se em decidir quais são as CC e respetivas palavras-chave,
eficácia (medida quantificada) e de eficiência o treinador elabora uma estratégia de comunicação,
(medida da qualidade da execução). centra a sua atenção e as dos atletas no que deter-
• A terceira parte constitui o campo de refle- minou como mais importante focar. Consequen-
xão de análise do treino e permite orientar temente, aporta qualidade ao processo. Por outro
sugestões de melhoria para as próximas UT. lado, tendo o cuidado de delinear exercícios que
Com o uso de uma escala de Likert, que varia
sejam competitivos e fazendo uso permanente dos
entre 1 (medíocre) até 5 (excelente), o treina-
critérios de sucesso, faz com que o atleta se foque de
dor avalia:
forma consistente em elevar a sua performance. Os
• A performance dos atletas em Esforço;
Performance; Corresponsabilização; e Au- atletas gostam na sua essência de competir, pelo que
tonomia tarefas desafiadoras são um ingrediente que também
• Avalia a performance do treinador em Ob- faz emergir um treino com qualidade realizado de
servação; Comunicação; Tomada de Deci- forma empenhada por todos.
são; e Team Work;

159
INICIAÇÃO ESPORTIVA

Unidade de Treino
Treino nº: Microciclo nº: Data:
Hora: Local:
% Físico –
Material: Duração: % Técnico –
% Tático –
Conteúdos:
Objetivo Geral:

C/S
Objetivos Descrição e Organização
T P. Chave Eficiência
Específicos Componentes Críticas
Eficácia

Reflexão/Análise do treino

Performance dos atletas Performance Treinador


Medío-
Fraco Suf. M.Bom Exce Medíocre Fraco Suf. M.Bom Exce
cre
Esforço 1 2 3 4 5 Observação 1 2 3 4 5
Performance 1 2 3 4 5 Comunicação 1 2 3 4 5
Correspons. 1 2 3 4 5 Decisão 1 2 3 4 5
Autonomia 1 2 3 4 5 Team Work 1 2 3 4 5

Reflexão: _________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________

Figura 5 – Plano de Unidade de Treino


Fonte: o autor.

160
EDUCAÇÃO FÍSICA

É importante o treinador considerar a preparação


para desenvolver a sua atividade como fundamen-
tal para ser mais eficiente na condução e direção
do processo de treino. Este instrumento é essencial
para adequar as estratégias de ação, ser congruen-
te com os valores que assume e por isso fazer com
que os atletas aprendam mais e melhor. Porque não
se pode treinar tudo ao mesmo tempo, as escolhas
sobre onde vai recair o foco do treinador e atletas é
fundamental para uma gestão da equipe.

SAIBA MAIS

A palavra “treinar” origina-se do inglês. O ver-


bo ‘to train’, originalmente ‘arrastar’, passou
no vocabulário esportivo ao sentido de ‘condi-
cionar, adestrar’, chegando no português com
o empréstimo ‘treinar’. Deste último saíram,
por derivação, ‘treinamento’ e ‘treino’, ambos
reproduções do inglês training.

Fonte: adaptado de Gramática.net1 (2018, on-line)1.

161
considerações finais

O
propósito desta unidade constitui em ajudar ao treinador a materia-
lizar a sua atividade enquanto treinador. Para que esta seja eficaz, é
determinante ter princípios orientadores que se edificam a partir dos
seus valores pessoais e como treinador e aos quais apelidamos de fi-
losofia do treinador. Com efeito, a congruência entre a ideia e a sua aplicação
permite ao treinador uma maior eficiência e controle do processo de treino. A
construção da filosofia do treinador surge assim como o passo inicial mais im-
portante para liderar um projeto de treino. Após a determinação dos valores e
princípios que vão nortear a sua atuação, assim como a forma como os vai aplicar,
o treinador necessita de antecipar e planear um roteiro para as suas atividades.
Esta periodização apresenta-se num formato anual (normalmente coincidente
com uma época esportiva) num plano semanal (que também habitualmente cor-
responde ao calendário da maioria das competições) e na unidade treino que é o
projeto do que se pretende efetivamente fazer com os atletas enquanto estão sob
a direção do treinador.
Com as ferramentas apresentadas nesta unidade, o treinador pode construir
um plano de ação, desde a ideia sobre o que pensa do treino e forma como o
pretende implementar até a sua materialização com os atletas. Será importante
realçar que liderar um processo de treino é uma tarefa complexa, muito variável,
muito contextual e por isso exige a melhor preparação. É neste sentido que se
disponibilizam os instrumentos aqui apresentados. Não pretendem ser guias es-
tritos, pois planejar é, sem dúvida, uma tarefa muito pessoal. Contudo, com estas
orientações, o treinador pode adaptar e construir os seus próprios materiais e
assim operacionalizar todo o processo. Salientamos que o controlar o processo de
treino, para além dos resultados competitivos, é importante para a reflexão sobre
este mesmo processo e ajuda a corrigir eventuais desvios do caminho traçado,
melhora a sua atuação e, por via disso, aumenta a sua eficácia.

162
atividades de estudo

1. Construir uma filosofia de treino é importante IV - As condições de treino.


para que o treinador saiba o que pretende reali-
zar com os seus atletas. Neste sentido, avalie as É correto o que se afirma em:
situações propostas e assinale (V) para verdadei- a) I, apenas.
ro e (F) para falso:
b) III, apenas.
I - Orientar-se para a vitória, acima de tudo.
c) II e III, apenas.
II - Pautar-se pelos seus valores mais íntimos
e fazer com que estes coincidam com a d) I, II e IV, apenas.
estratégia de aplicação.
e) I, II, III e IV.
III - Ter como preocupação maior os atletas
mais eficazes e, assim, garantir boas per- 4. O microciclo é uma forma de planejamento mais
formances. concreta pois é de aplicação imediata e lida com
os constrangimentos da equipa e do processo de
IV - Procurar divertir os alunos de forma su- uma forma mais concisa. Uma das coisas impor-
pervisionada. tantes que o plano de microciclo que se apresen-
As afirmações I, II, III e IV são, respectivamente: ta contém é a possibilidade de controlar:
V - A intensidade das tarefas.
a) F, F, F, V.
VI - O tempo das tarefas.
b) F, V, F, F.
VII - O volume das tarefas.
c) F, V, V, F.
VIII - O conteúdo das tarefas.
d) V, V, F, F.
É correto o que se afirma em:
e) V, V, V, F.
a) I, apenas.
2. A filosofia do treinador constitui uma ementa na
qual o treinador pressupõe a sua atuação en- b) II, apenas.
quanto líder de um processo de treino. Contudo, c) II e III, apenas.
este processo só se torna eficaz se:
I - For efetuada uma estratégia de aplicação d) I, II e IV, apenas.
condizente desses valores. e) I, II, III e IV.
II - Se os pais dos atletas concordarem. 5. A Unidade de Treino materializa na prática e por
III - Se estiver de acordo com as regras da mo- isso diretamente com os atletas, todas as ideias
dalidade. e planos previamente efetuados. Este é então o
guião mais operacional de que treinador faz uso.
IV - Se For desencadeada com a colaboração Para a sua estruturação, o treinador deve con-
do diretor da equipe. templar alguns itens; avalie as situações propos-
É correto o que se afirma em: tas e assinale (V) para verdadeiro e (F) para falso:
I - Material, volume, intensidade, hora do dia.
a) I, apenas.
II - Duração total do treino, dia da semana,
b) III, apenas. objetivos competitivos.
c) II e III, apenas. III - Habilidade de execução, tomada de deci-
d) I, II e IV, apenas. são, nível de jogo e performance desejá-
vel.
e) I, II, III e IV.
IV - Tempo, objetivos específicos, componen-
3. A periodização consiste num roteiro essencial tes críticas, palavras chave, critérios de
para que o treinador se oriente em relação aos sucesso.
objetivos definidos. Analise a(s) alternativa(s) que
demonstram o que é necessário saber antecipa- As afirmações I, II, III e IV são, respectivamente:
damente para a construção desse planejamento: a) F, F, F, V.
I - Quais os meios disponíveis ofertados pelo b) F, V, F, F.
clube esportivo.
c) F, V, V, F.
II - A experiência dos atletas.
d) F, F, F, F.
III - O calendário das competições.
e) V, V, V, F.
163
LEITURA
COMPLEMENTAR

Desenvolvendo uma filosofia de treino formal


Antes de dar início, question-se: o que é uma filosofia treino pessoal. Uma filosofia pessoal de treino pode ser
de treino? Reynolds refere que os treinadores não são comparada a um roteiro. Sabendo que carro você tem
sinceros consigo mesmo por muitas razões. Isso inclui o que dirigir (suas experiências, crenças, opiniões e valo-
objetivo de ganhar a todo o custo, curvando-se sobre as res) você pode orientar o seu veículo ao longo da rota,
pressões dos pais e outros de fora do processo. Enquanto tendo em conta os obstáculos que você pode encontrar
muitas destas influências podem até ser positivas, devem (contexto de treino, influências externas, limitações de
ser levadas para o contexto das verdadeiras experiências instalação, regras, regulamentos, tempo inclemente, en-
do treinador, valores opiniões e crenças. É imperativo tre outros) para chegar ao seu destino. Um paralelo se
pensar que o treinador tem uma forte influência sobre os pode fazer com o desempenho, a satisfação, os resulta-
atletas que treina. Faz sentido, por isso, formular uma fi- dos entre outras situações relacionadas com o atleta.
losofia baseada nos objetivos do treinador, crenças e per- Desta forma, no desenvolvimento de uma filosofia for-
sonalidade. O objetivo de educar os atletas sobre a forma mal, o treinador pode ter três componentes-chave para
como treina e as razões pelas quais procede da forma estabelecer uma filosofia de treino com o objetivo de
como o faz, desenvolve a confiança e resulta em desem- ser um treinador melhor, para melhorar a satisfação do
penhos atléticos superiores. treinador/atleta e para conseguir resultados superiores.
O treinador presumidamente desempenha o seu papel Estes três componentes são:
com base na sua experiência, conhecimentos, valores, 1. Conhecer-se, seus pontos fortes, fraqueza e áreas
opiniões e crenças. Isto é em si mesmo uma filosofia. O que exigem a melhoria (focando-se no seu poten-
treinador faz isso inconscientemente. A questão.: o trei- cial ficará apto a identificar com maior consistência
nador se conhece bem o suficiente para entender quais formas de treinar usando essas qualidades);
são os seus valores fundamentais e métodos de treino? 2. Saber o que você está enfrentando e os obstáculos
Os treinadores, em sua maioria,consideram pouco os que você pode encontrar (é importante compreen-
fatores que ditam a forma como treinam. Consequen- der os limites do seu contexto de treino);
temente, os seus métodos são frequentemente incon- 3. Compreendendo os seus atletas, as suas persona-
sistentes, reacionários e não dirigidos para “o atleta em lidades, habilidades, objetivos e por que estão em
primeiro lugar” e para uma performance baseada no de- seu esporte (um estudo recente feito para deter-
sempenho. Um dos benefícios mais fortes decorrentes minar porque os atletas participaram no esporte
de uma abordagem coerente e sincera no processo de indicou que as razões preliminares dos atletas de-
treino é a confiança. Uma forte ligação entre treinador e viam ser o ‘divertimento’ e aprender habilidades.
atleta leva a níveis mais elevados de compromisso e de- ‘Vencer’, percebido por muitos a ser provavelmen-
sempenho atlético. Com isso em mente, o treinador sá- te a razão mais importante para a participação fi-
bio leva tempo para pensar e formalizar a sua filosofia de cou classificado em sétimo lugar, mesmo entre os
atletas mais competitivos).

164
LEITURA
COMPLEMENTAR

Conclusão
Todos os treinadores operam uma filosofia de treino de bem definido será um ingrediente-chave no sucesso de
algum tipo. Pode ser por instinto ou formalmente docu- seus atletas. Por essa razão o desenvolvimento de uma
mentado e bem pensado. As vantagens de uma filosofia declaração formal de filosofia de treino é essencial para
de treino bem pensada são triplas: todos os treinadores.
1. O treinador aprende sobre si mesmo, as forças Fonte: adaptado de REYNOLDS, F. Developing a formal coaching
que possui, porque está treinando e como pode philosophy. Brian Mackenzie’s successful coaching, 2005.
Disponível em: <https://www.brianmac.co.uk/articles/scni25a1.
efetivamente reforçar a sua entrega ao treino;
htm >.
2. Obtém uma melhor compreensão do seu contexto
de treino, os obstáculos que se enfrenta e como
lidar com limitações, métodos de treinamento
apropriados, seguros e os objetivos que se preten-
de alcançar;
3. Fica a conhecer os seus atletas de forma mais ín-
tima e, por isso, pode adaptar o seu treino para
atender às suas necessidades, aos seus pontos
fortes e também às suas limitações.
Com este conhecimento, é possível desenvolver uma
abordagem à equipa que se lidera para que atinja per-
formances superiores. Vincular os aspectos dos três
segmentos de uma filosofia de treino irá criar um rotei-
ro de treino que é realista, satisfatória para o treinador
e para os seus atletas, e gratificante na forma de melhor
desempenho.
Será importante, uma vez formalizada a filosofia de trei-
no com os atletas, família e outras partes interessadas,
que o treinador reveja periodicamente a sua filosofia
e vá fazendo ajustes ou alterações adequando-se ao
seu contexto. Treinar é, acima de tudo, sobre ajudar
os atletas a alcançar os seus sonhos. Deve ser feito de
forma positiva, inteligente e com paixão. O treinador
positivo é um modelo, seguindo uma filosofia de treino

165
material complementar

Indicação para Ler

Periodization in Team Sport Games - A Review of Current Knowled-


ge and Modern Trends in Competitive Sports
Vladimir Lyakh, Kazimierz Mikołajec, Przemysław Bujas, Zbigniew Witkowski, To-
masz Zając, Ryszard Litkowycz, Damian Banyś
Editora: Journal of Human Kinectics
Resumo: O objetivo principal deste estudo foi apresentar uma revisão do conhe-
cimento atual e tendências modernas em periodização do processo de treina-
mento em esportes de equipe. Os objetivos de pesquisa foram: uma análise de
vários aspetos da periodização do ciclo de treinamento anual para atletas de elite
praticando jogos de esporte de equipe, uma tentativa de determinar tanto o exa-
minado e questões não examinadas relacionadas com a Periodização da forma-
ção, bem como para indicar as direções para uma pesquisa mais aprofundada, e
finalmente, apresentação de diferentes cargas de treinamento e competições em
micro, meso e macro ciclos. A pesquisa consistiu na análise e generalização da
bibliografia, métodos de monitoramento das cargas de treinamento e concorrên-
cia do time nacional polonês U17 de futebol feminino nas épocas de 2011/2012 e
2012/2013, bem como basquete feminino na temporada 2014/2015. Os resulta-
dos do presente estudo indicam a periodização anual do ciclo de treinamento em
jogos de esporte de equipe e fornece informações sobre os tipos de treinamento
e planejamento de carga de trabalho competitivo em micro, meso e macro ciclos.

Indicação para Ler

Periodization Training for Sports


Tudor Bompa, Carlo Buzzichelli
Editora: Human Kinectics
Sinopse: O condicionamento desportivo avançou tremendamente desde a época
em que uma filosofia “sem dor, sem ganho” guiou os regimes de treino dos atletas.
Dr. Tudor Bompa pioneiro a maioria destes avanços, provando há muito tempo
que não é apenas o quanto e quão difícil um atleta trabalha, mas também quan-
do e como o trabalho é feito que determina o nível de condicionamento de um
atleta. Treinamento de periodização para esportes vai além da aplicação simples
de musculação ou programas de halterofilismo para construir a força em atletas.

166
referências

BENNIE, A.; O’CONNOR, D. Coaching philosophies: Perceptions from professional cricket, rugby league
and rugby union players and coaches in Australia. International Journal of Sports Science & Coaching, v. 5,
n. 2, p. 309-320, 2010.
BYRNE, G.; CASSIDY, T. “Pleased to be sacked”: Coach Pat Lam’s ‘learnings’ and the evolution of a professio-
nal rugby union organisation. International Sport Coaching Journal, v. 4, n. 3, p. 326-334, 2017.
CAMIRÉ, M.; TRUDEL, P.; FORNERIS, T. Examining how model youth sport coaches learn to facilitate po-
sitive youth development. Physical Education and Sport Pedagogy, v. 19, n. 1, p. 1-17, 2012.
GALLIMORE, R.; THARP, R. What a coach can teach a teacher, 1975-2004: Reflections and reanalysis of Jonh
Wooden’s teaching practices. The Sport Psychologist, v. 18, p. 119-137, 2004.
GILBERT, W. Coaching better every season: A year-round system for athlete delopment and program su-
cess. Chanpaign Ilinois: Human Kinectics, 2017.
GOULD, D. et al. How coaching philosophy drives coaching action: A case study of renowned wrestling
coach J Robinson. International Sport Coaching Journal v. 4, n. 1, p. 13-37, 2017.
HARDMAN, A.; JONES, C. Philosophy for coaches. In: JONES, R. L. e KINGSTON, K. (Ed.). An introduc-
tion to sports coaching: Connecting theory to practice. 2. NY: Routledge, 2013. p.99-111.
HUGHES, C.; LEE, S.; CHESTERFIELD, G. Innovation in sports coaching: The implementation of reflective
cards. Reflective Practice, v. 10, n. 3, p. 367-384, 2009.
MARTENS, R. Successful coaching. 2. Illinois: United, States Tennis Association, Leisure Press, 1990.
MCCALLISTER, S.; BLINDE, E.; WEISS, W. Teaching values and implementing philosophies: Dilemmas of
the youth sport coach. Physical Educator, v. 57, n. 1, p. 35-45, 2000.
RESENDE, R. et al. Exercício profissional do treinador desportivo: Do conhecimento a uma competência
eficaz. Journal of Sport Pedagogy & Reseacrh, v. 3, n. 1, p. 42-58, 2017.
REYNOLDS, F. Developing a formal coaching philosophy. Brian Mackenzie’s successful coaching, 2005. Dis-
ponível em: <https://www.brianmac.co.uk/articles/scni25a1.htm>. Acesso: 03 jul. 2018.

Referência on-line:

em: https://www.gramatica.net.br/origem-das-palavras/etimologia-de-treinar-e-trem/. Acesso: 10 out.


1

2018.

gabarito

1. B.
2. A.
3. E.
4. B.
5. D.

167
conclusão geral

O livro de Iniciação Esportiva pretendeu oferecer para concretizar as suas atitudes no processo de trei-
aos seus leitores uma perspectiva sobre o ensino no e na competição serão a emanação do empenho
do esporte. Apesar de sabermos que o fenômeno é que ele coloca na sua atividade e a demonstração da
complexo, destacamos a importância que o esporte sua qualidade. Esta, ao ser reconhecida pelos atle-
pode ter para o desenvolvimento de uma sociedade tas, pela família, pelos pares e empregadores, poderá
que se pretende mais participativa e saudável. Con- exaltar a importância que a profissão de treinador
comitantemente, reforçou-se o papel que o esporte exerce na sociedade atual.
pode ter no desenvolvimento positivo dos jovens e Sugere-se a utilização de instrumentos para pla-
na transição que as competências esportivas podem near e controlar o processo de treino, sendo o trei-
ter para as competências de vida no seu geral, desde nador mais preciso e rigoroso no desenvolvimento
que manifestamente ensinadas. O papel dos treina- da sua atividade, tornando-a mais eficaz. Enfatiza-
dores é fundamental pelo que urge a necessidade de -se, sobretudo, a importância que o planeamento do
melhorar a sua qualificação. O aperfeiçoamento dos microciclo tem para esse processo e a forma como
seus conhecimentos reforçará a sua ação, e por meio este deve “desaguar” na construção da Unidade de
de uma prática reflexiva, melhorará sucessivamente Treino.
as suas competências. Após identificar as razões pe- Estamos conscientes que a atividade do treinador
las quais ele está no esporte, o treinador deverá de- é muito complexa e que o seu exercício depende de
senvolver uma filosofia de treino de acordo com os inúmeros fatores. Contudo, independentemente do
seus valores morais e éticos, adequando a sua prática contexto onde ela se realiza, pode constituir uma ati-
ao contexto específico onde atua. Os procedimentos vidade fascinante, pela qual valerá a pena se aplicar.

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