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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

VIH, gravidez
e saúde da mulher

O GAT agradece a revisão científica da


Dra. Cristina Guerreiro, Assistente Hospitalar
Graduada de Obstetrícia e Ginecologia
na Maternidade Alfredo da Costa
Diagnosticada com VIH durante a
Tradução: Mariela Kumpera gravidez
Adaptação: Rosa Freitas Como se transmite a infeção pelo
Coordenação: Maria José Campos VIH ao bebé
Saúde da mãe
www.i-base.info Ter um bebé saudável e não infetado
www.gatportugal.org pelo VIH
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Índice
Introdução 3
Conhecimentos de base e perguntas gerais 4
Proteger e assegurar a saúde da mãe 15
Transmissão mãe-filho 16
Planear a gravidez 19
Cuidados pré-natais e tratamento para o VIH 29
Medicamentos ARV durante a gravidez 32
Resistências, monitorização e outros testes 36
Medicamentos ARV e saúde do bebé 40
Escolha entre parto vaginal e parto por cesariana 42
Depois do nascimento 45
Amamentação do recém-nascido 47
Dicas para ajudar a adesão 49
Direção-Geral da Saúde – Circular Normativa 53

Importante: A informação contida neste


guia não substitui a informação fornecida
pelo médico ou por outros técnicos
de saúde. As decisões relacionadas
com o tratamento devem ser sempre
tomadas em conjunto com o médico.
Esta publicação é uma adaptação da
A informação sobre os tratamentos da infeção
brochura escrita por Polly Clayden
pelo VIH fica rapidamente desatualizada,
para o HIV I-Base, com a contribuição
por isso, é necessário verificar sempre a
de um vasto painel de especialistas
data de edição da brochura e se há uma
seropositivos para o VIH e de ativistas da
edição mais atualizada. A reprodução é livre
comunidade e profissionais de saúde.
se se destinar a fins não lucrativos. Pode
Artwork copyright Keith Haring Studio solicitar-se cópias adicionais gratuitamente.

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Introdução
A brochura inclui informações sobre: Os relatórios mais recentes apontam para
• Conceção segura para casais a probabilidade de existir 1 transmissão da
serodiscordantes, onde um dos infeção pelo VIH por cada 1 000 mulheres
parceiros é seronegativo e o outro é sob TAR (Terapêutica Antirretroviral) com
seropositivo para a infeção pelo VIH, níveis de carga viral indetetáveis abaixo das
sendo dada maior ênfase à conceção 50 cópias/ml, tanto para o parto vaginal
natural. Embora a maioria da informação planeado como para a cesariana planeada.
incluída nesta brochura seja direcionada Este nível é o mais baixo alguma vez
a mulheres seropositivas é, também, reportado e representa um avanço
relevante para mulheres seronegativas significativo para as a mulheres que planeiam
cujo parceiro é seropositivo para o VIH. engravidar ou que já estão grávidas.
• O facto de o AZT já não ser imprescindível
numa combinação terapêutica. Explicamos o que significam todas estas
• A importância da carga viral ser indetetável opções e quando são as mais apropriadas.
no momento do parto e mais informações Uma outra excelente notícia é que as pessoas
sobre quando iniciar o tratamento de que vivem com VIH estão a viver mais tempo
forma a assegurar que tal é alcançado e de forma saudável e, assim, uma mulher
para diferentes níveis basais de carga viral. seropositiva para o VIH em Portugal pode
• Segurança e efeitos secundários acompanhar o crescimento da criança.
dos medicamentos ARV. Tal, inclui
informações sobre o inibidor da
protease atazanavir, cada vez mais As linhas de orientação de 2008 da British
utlizado durante a gravidez. HIV Association (BHIVA) e da Children’s HIV
Association (CHIVA) para a Gestão da Infeção
• Recomendação para que todas pelo VIH nas Mulheres Grávidas de 2008
as mulheres grávidas sejam estão disponíveis online através do link:
vacinadas contra a gripe.
http://www.bhiva.org/
• Recomendações sobre a importância de PregnantWomen2008.aspx
se evitar a amamentação, apesar de novas
investigações recomendarem o contrário
em países onde tal não é possível. As linhas de orientação de 2008 da British
• Novos testemunhos. HIV Association, BASHH e FSRH para a
gestão da saúde sexual e reprodutiva das
pessoas que vivem com a infeção pelo VIH
estão disponíveis online através do link:
http://www.bhiva.org/documents/
Guidelines/Sexual%20health/
Sexual-reproductive-health.pdf

Aqui, falamos dos tratamentos que se


podem obter em Portugal, em 2012.

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Conhecimentos de base e perguntas gerais


O objetivo desta brochura é ajudar a mulher Existem muitas pessoas, serviços e outras
que estiver a pensar em engravidar ou fontes de informação que podem ajudar.
mesmo durante a gravidez a tirar partido do As recomendações disponibilizadas por
tratamento para a infeção pelo VIH e cuidados estas fontes e outras podem ser diferentes
médicos. Esperamos que a informação das que são dadas às mulheres grávidas
aqui apresentada seja útil em todas as em geral. Incluem informação sobre
fases: antes, durante e depois da gravidez. medicação, cesariana e amamentação.
Pode também ser útil quer para a mulher já
sob tratamento ou não. Inclui informação
sobre a saúde da mãe e do seu bebé. A maioria das pessoas que vivem com VIH
têm bastante tempo para se reconciliar
com o diagnóstico antes de decidir sobre o
Diagnóstico recente da infeção pelo VIH tratamento. Mas tal pode ser diferente quando
Pode-se estar a ler esta brochura num se é diagnosticada durante a gravidez e pode
momento muito confuso e difícil da sua vida. ser necessário tomar algumas decisões
Descobrir que se está grávida ou que se difíceis num curto espaço de tempo.
tem VIH pode, por si só, ser avassalador. Qualquer decisão que se tome, deve deve
Pode ser ainda mais difícil quando se ser baseada na certeza de que se percebeu
sabe de ambas ao mesmo tempo. a informação dada. Algumas sugestões:
Tanto a gravidez como o tratamento da • Fazer muitas perguntas.
infeção pelo VIH envolvem palavras e • Fazer-se acompanhar pelo parceiro
termos novos. Tentaremos esclarecer ou um(a) amigo(a) às consultas.
o que estes termos de facto significam
e como podem influenciar a vida. • Tentar falar com outras mulheres que
estiveram na mesma situação.
De salientar que, independentemente
de a situação parecer difícil no início,
provavelmente irá melhorar e tornar-se-á As decisões que se tomam relativamente
mais fácil. É muito importante e tranquilizador à gravidez são muito pessoais. Obter o
perceber os imensos progressos alcançados maior número possível de conhecimentos
no tratamento para a infeção pelo VIH. Tal, é ajuda a tomar decisões informadas.
especialmente verdadeiro no que concerne
os tratamentos durante a gravidez. As únicas decisões “acertadas” são as
que são tomadas pela futura grávida,
contudo, convém decidir após se ter obtido
informações sobre o VIH e gravidez e em
conjunto com a equipa de cuidados de saúde.

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Centro de Genética de Reprodução Hospital Pediátrico de Coimbra


Prof. Doutor Alberto Barros Av. Afonso Romão
Avenida do Bessa, 591 - 1º drt frt Santo António dos Olivais
4100-009 Porto 3000-602 Coimbra
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Hospital Santa Maria
Hospital de Beja (consulta de Obstetrícia) Avenida Professor Egas Moniz
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7801-849 BEJA www.hsm.min-saude.pt
www.hbeja.min-saude.pt Telefone Geral: 21 780 5000
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21 780 5444 - 217 805 555
Hospital D. Estefânia Gabinete do Utente
Rua Jacinta Marto Tel. : 21 780 5130
1169-045 Lisboa Fax: 21 780 5604
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Telefone geral: 21 312 66 00
Linha azul: 21 312 66 80 Hospital São João (consulta para
Fax: 21 312 66 67 grávidas seropositivas)
Email: hdestefania@hdestefania.min-saude.pt Alameda Prof. Hernâni Monteiro
4200 – 319 Porto
Hospital de Faro (Consulta de Obstetrícia) www.hsjoao.min-saude.pt
Rua Leão Penedo Telefone geral: 225 512 100
8000-386 Faro Fax: 225 025 766
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Telefone geral: 289 891 100
Fax: 289 891 159 Maternidade Alfredo da Costa
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Ext.: 21022 1069-089 Lisboa
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2720-276 Amadora Email: gumac@mac.min-saude.pt
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2801-951 Almada Gabinete do Utente
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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

“Tomei conhecimento que era seropositiva para


o VIH em 1995, altura em que a doença ainda era
um enorme tabu e muito pouco se sabia.
Na altura eu já tinha um filho de 18 meses e lembro-me que a
par do medo de morrer e não o ver crescer, assolava-me a ideia
de não poder ter outro filho, coisa que ambicionava. E muito.
As terapêuticas foram melhorando, a esperança de vida
aumentando, e eu sempre me f ui atualizando. Apesar de não
ter sido programado, em 1998, engravidei. Contactei logo
a minha médica de infeciologia e pedi para me dar toda a
informação e saber quais os riscos associados à gravidez.
Foi-me aconselhado na altura, visto eu já ser mãe, que não
deveria arriscar aquela gravidez. Mais pela minha saúde do
que pelo risco da criança nascer portadora, pois desde que
eu fizesse a medicação corretamente os riscos de contagio
seriam de 30% num parto normal e 5% numa cesariana.
Avisaram-me logo que caso decidisse ter a criança, seria
difícil conseguir a cesariana pois era muito dispendioso para
o estado. Em 24 horas tive de decidir entre a interrupção ou
o seguimento da gravidez. Foi muito complicado decidir em
tão curto espaço de tempo, mas a medicina estava a evoluir.
Levei a gravidez avante, foi uma gravidez normal, tive
o meu filho de parto normal e hoje é uma criança
saudável e inteligente. Penso que foi a decisão mais
difícil mas, também, a mais acertada que fiz até hoje.”
Sílvia, Lisboa

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As mulheres seropositivas podem ser mães? Como se transmite o VIH a


Sim, e a terapêutica antirretroviral um recém-nascido?
torna a gravidez mais segura. Continua a não se conhecer o modo exato
Há mais de 15 anos que, mundialmente, como a transmis¬são mãe-filho ocorre.
as mulheres usam com segurança os No entanto, a maioria das transmissões
medicamentos antirretrovirais (ARV) durante o ocorre no final da gravidez ou durante o
período de gravidez. Atualmente, tal significa trabalho de parto e o parto. Pode também
tomar pelo menos três medicamentos ARV, ocorrer através da amamentação.
uma estratégia designada por terapêutica Alguns fatores de risco parecem tornar a
Antirretroviral de combinação ou TARVc. transmissão da infeção muito mais pro-vável.
Estes tratamentos mudaram por completo O fator de maior peso é a carga viral da mãe.
a vida das pessoas que vivem com VIH Assim, como para qualquer pessoa
em todos os países onde são usados. seropositiva para o VIH, um importante
O tratamento teve um forte impacto objetivo da terapêutica é alcançar
positivo na saúde das mulheres níveis de carga viral indetetável.
seropositivas e nas suas crianças. Tal é particularmente importante no
Incentivou muitas mulheres a pensar em momento do parto. Outros fatores de
ter filhos (ou a serem novamente mães). risco incluem o parto prematuro e a
ausência de cuidados pré-natais.

O tratamento para o VIH da mãe Praticamente todos os fatores de


irá proteger a criança risco apontam para o mesmo:
cuidar da saúde da mãe.
Os benefícios do tratamento antirretroviral não
são apenas para a saúde da mãe. Uma mulher Alguns pontos-chave a ter em conta:
sob tratamento reduz quase por completo o • A saúde da mãe tem uma
risco de a criança nascer infetada pelo VIH. relação direta com o estatuto
Sem tratamento, cerca de 25% (1 em cada serológico do recém-nascido.
4) dos bebés de mães que vivem com • Se o pai do recém-nascido for
VIH, nascerão infetados. Isto não é um seropositivo tal não afeta o estatuto
bom prognóstico,, sobretudo porque o serológico do recém-nascido.
tratamento atual para o VIH pode prevenir • O estatuto serológico do recém-
quase por completo a transmissão. nascido não está rela¬cionado com
o estatuto serológico dos irmãos.

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“Em 1997, quando decidi engravidar do meu


primeiro filho, já sabia que era seropositiva.
O meu companheiro era seronegativo.
Informei-me com o meu médico sobre as
possibilidade de engravidar sem colocar em
risco o meu companheiro e o bebé.
O meu médico aconselhou-me a fazer a chamada
"inseminação artificial". Assim o fiz, e quando
recebi o teste de gravidez positivo, fui seguida
na consulta de gravidez de risco, no serviço
de obstetrícia do Hospital Dona Estefânia.
Desde o primeiro mês de gravidez, sempre fui muito
bem acompanhada e informada. Fiz a terapêutica
com AZT até ao fim da gestação. Na altura, a
minha contagem de células CD4 era de 600/ml.
A minha filha nasceu em abril de 1998 de parto vaginal
e começou logo a fazer a terapêutica antirretroviral.
Foi seguida até ao primeiro ano de vida.
Não planeie a minha segunda gravidez, e apenas
soube que estava grávida no segundo mês. O
meu filho nasceu de cesariana em 1999, tendo ele,
também, iniciado a terapêutica antirretroviral.
Tal como a minha filha, também é
seronegativo. São a luz da minha vida.“
Susana, Lisboa

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

• Terapêutica de combinação Se o médico não informou que as análises


ou terapêutica antirretroviral “de rotina” para a gravidez incluíam também
altamente eficaz são termos o teste para o VIH, torna-se muito mais
usados para descrever o uso complicado comunicar um resultado positivo.
de três ou mais medicamentos
Informar e esclarecer é uma arma fundamental
para tratar o VIH.
para a prevenção de novas infeções.
• Os medicamentos ARV não
É importante que uma mulher faça o rastreio
são eficazes para tratar o VIH
da infeção pelo VIH quando está grávida.
individualmente (monoterapia),
A sua capacidade de tomar conta do
mas podem ser muito
próprio tratamento, saúde e bem-estar é
eficazes em combinação.
melhorada quando sabe se é seropositiva
• Para mais informação, consultar a ou não. Este conhecimento também
brochura “Introdução à terapêutica significa que pode proteger o recém-
de combinação” através do nascido do VIH, se for seropositiva.
site www.gatportugal.org.
A Direção Geral de Saúde, na sua Circular
Normativa de 2004 (em anexo), contempla
também a realização do teste ao parceiro.
O teste de rastreio da infeção pelo Mais uma vez, o teste deve ser realizado
VIH é automaticamente oferecido com o consentimento do parceiro, após
às mulheres grávidas? ser convenientemente esclarecido.
Atualmente, é recomendado em muitas
partes do mundo. Em Portugal, a última
Circular Normativa da Direção Geral de Saúde Como é que os medicamentos para o
data de 04/02/04 (ver página 53), embora já VIH protegem o recém-nascido?
antes tivesse havido indicações para que tal Um dos primeiros benefícios dos
fosse recomendado às mulheres grávidas. medicamentos ARV é reduzir o
Assim, recomenda-se que os prestadores de risco de transmissão mãe-filho.
cuidados de saúde ofereçam e aconselhem PACTG 076 é o nome de um conhecido
o rastreio a todas as mulheres em idade fértil, ensaio sobre VIH realizado em conjunto por
no contexto dos cuidados pré-concecionais investigadores americanos e franceses, cujos
e pré-natais, após aconselhamento e sendo o resultados foram anunciados em 1994. Este
teste realizado voluntariamente. Hoje em dia foi o primeiro estudo a demonstrar que o AZT
faz parte dos cuidados pré-natais de rotina. poderia proteger um bebé do VIH. As mães
É essencial que todas as mulheres sejam tomavam o AZT antes e durante o parto.
informadas de quais as análises “de O recém-nascido recebia AZT durante as
rotina” que estão a ser requisitadas. É seis semanas depois do parto. O risco de
uma ótima oportunidade para falar sobre transmissão mãe-filho da infeção pelo VIH
o VIH, aproveitando esse momento de baixou de 1 em 4 (25%) para 1 em 12 (8%).
consulta para “educar para a saúde” e
para reforçar a prevenção primária. O risco
de cada mulher inclui também o risco
que advém dos comportamentos do seu
parceiro ou dos seus parceiros sexuais.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

A partir de 1994, esta estratégia experiência no seu uso, é provável que seja
passou a ser recomendada a todas recomendado como parte da combinação.
as mulheres seropositivas em muitos No entanto, quando se é resistente ao AZT,
dos países industrializados. não se deve usar este medicamento. Se
Nos últimos anos foram conseguidos uma mulher já está a fazer um esquema
mais progressos, sobretudo desde que de medicamentos antirretrovirais antes de
a terapêutica de combinação se tornou engravidar e se esse esquema está a ser
mais comum no fim dos anos 90. A taxa eficaz, habitualmente não é necessário
de transmissão com a terapêutica de alterá-lo, mesmo que não inclua AZT.
combinação é, atualmente, inferior a 1%. Um recente relatório Europeu e do Reino
O AZT é o único medicamento que inclui no Unido reportou sobre mais de 1 000 mulheres
seu RCM (resumo das características do sob TARV que durante o período de gravidez
medicamento) a autorização de utilização não tomavam AZT. Este relatório concluiu que
durante a gravidez e como há muita as mulheres sob TARV sem AZT não tinham

A transmissão do VIH ocorre quando o Resistência


vírus passa de uma pessoa para outra. • Quando se toma apenas um
Quando ocorre de mãe para filho durante medicamento (monoterapia) ou uma
a gravidez, parto ou amamentação, combinação de medicamentos que
designa-se por transmissão mãe- não é suficientemente eficaz para
filho (TMF), perinatal ou vertical. diminuir a carga viral para níveis
• As crianças seropositivas para indetetáveis, o VIH pode tornar-se
o VIH através deste meio de resistente a estes medicamentos.
transmissão são designadas por • Se o vírus é resistente a um
crianças “infetadas verticalmente”. medicamento, este não será
Os testes da carga viral medem a tão eficaz ou poderá ter perdido
quantidade de vírus no sangue. As por completo a eficácia.
medições são em cópias por mililitro • Para evitar as resistências, é
– por exemplo 20 000 cópias/mL. necessária uma combinação de pelo
• A carga viral é um dos marcadores menos três medicamentos ARV.
de progressão da infeção pelo VIH.
O objetivo do tratamento é conseguir • É importante evitar resistências
carga viral indetetável, considerado durante a gravidez.
geralmente abaixo das 50 cópias/mL. • No entanto, o uso da monoterapia de
• Se a mãe tem carga viral indetetável curto prazo com AZT para prevenir a
quando a criança nasce, as hipóteses de transmissão mãe-filho (esta é apenas
transmissão mãe-filho são de quase zero. usada em alguns casos, quando a mãe
tem níveis de carga viral muito baixos)
comporta um risco muito pequeno
de desenvolvimento de resistências.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

uma probabilidade acrescida de transmitir o É seguro tomar a terapêutica


VIH aos seus bebés ou de ter níveis de carga antirretroviral durante a gravidez?
viral detetável comparativamente às mulheres Geralmente, é aconselhável evitar tomar
que tomavam AZT. Nem os bebés tinham qualquer medicação durante a gravidez.
maior probabilidade de malformações. Contudo, este é um conceito errado,
No Reino Unido, o AZT é utlizado cada pois há medicamentos que podem
vez menos em regimes de combinação ser usados na gravidez. O que não se
em substituição de outros medicamentos deve fazer é tomar medicamentos que
como o tenofovir (mais fácil de tolerar) cada não sejam prescritos por médicos com
vez mais usado. Quando já se está sob experiência em cuidados pré-natais.
tratamento ARV, o mais provável é que se Ninguém pode afirmar que é completamente
esteja num regime sem AZT e, desde que seguro usar medicamentos antirretrovirais
seja eficaz, o médico não o irá mudar. durante a gravidez. Por exemplo, alguns
A regra prática é “o que é melhor para a medicamentos para o VIH não devem
mãe é o melhor para o recém-nascido”. ser usados durante este período.
É importante lembrar-se que apesar dos Ao mesmo tempo, no entanto, muitos
grandes avanços e sucessos, há ainda milhares de mulheres fizeram a terapêutica
riscos a ter em conta quando se usa a durante a gravidez sem quaisquer
terapêutica de combinação em mulheres complicações para os seus recém¬-nascidos.
grávidas. Ainda se está a aprender sobre a Isto resultou em muitos nascimentos
terapêutica de combinação na gravidez. de crianças negativas para o VIH.
Nas discussões pré-natais, a mulher
e o médico devem avaliar os riscos
e os benefícios de usar o tratamento
para ela e para o recém-nascido.
A equipa dos cuidados de saúde tem
também acesso ao registo internacional
de malformações à nascença, que
documenta, desde 1989, todos os casos
ocorridos em recém-nascidos expostos aos
medicamentos ARV. Para mais informações,
consulte o site www.apregistry.com
Até agora, não se verificou aumento
no tipo e na taxa de malformações nos
bebés de mães que estavam sob TARV
comparativamente com os recém-
nascidos de mães seronegativas.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

“Soube que estava grávida em março de 2006, onze


anos após o meu diagnóstico. Deste que soube que
era seropositiva para o VIH, engravidar não era opção,
uma vez que tinha já um filho antes de ser infetada.
Mas a verdade é que aconteceu e a minha médica
aconselhou-me a fazer uma interrupção voluntária.
Assim o fiz, mas decidi engravidar novamente 2
meses depois e dirigi-me ao serviço onde tinha
feito a interrupção, pois neste local tinham-me
informado que poderia ter um filho seronegativo.
Decidi levar avante a gravidez e correu tudo dentro da
normalidade. Fui muito bem acompanhada, tomei
sempre a medicação, mantive a carga viral em níveis
indetetáveis e tive o meu filho por cesariana às 37 semanas.
Durante os primeiros meses ele tomou medicação,
fez várias vezes análise e, aos 18 meses, pudemos
respirar de alívio pois o nosso filho era seronegativo.
Hoje em dia, viver com VIH não é de todo impedimento
para uma mulher ser mãe, desde que siga as
recomendações médicas. Em nenhuma ocasião
senti qualquer tipo de discriminação, muito pelo
contrário, senti sempre um cuidado especial.”
Sandra, Almada

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

A gravidez agrava a infeção pelo VIH? Informações adicionais


A gravidez não agrava a saúde da mulher Esta brochura é sobre VIH e gravidez.
relativamente à infeção pelo VIH, não Outros aspetos importantes sobre o
fazendo acelerar a progressão da infeção. tratamento e cuidados médicos para a
No entanto, a gravidez pode provocar uma infeção pelo VIH são abordados em maior
descida na contagem de células CD4 da detalhe noutras Publicações GAT:
mulher de cerca de 50/mm3, mas tal pode • Introdução à Terapêutica de Combinação
variar muito. Esta diminuição é temporária. • Mudanças de Tratamento: quando
A contagem de células CD4 geralmente o tratamento antirretroviral falha:
volta ao nível que a mulher tinha antes da terapêutica de segunda e terceira linha
gravidez, pouco tempo após o parto. e resistências aos medicamentos
Esta situação deverá apenas ser preocupante • Evitar e gerir melhor os efeitos secundários
quando a contagem de células CD4 descer
abaixo de 200/mm3. Abaixo deste nível há • Hepatite C para as pessoas
um risco aumentado de aparecimento de que vivem com o VIH
infeções oportunistas (IO), que podem afetar • Transmissão Sexual e Testes do VIH
quer a mãe, quer o filho e, se ocorrerem,
devem ser tratadas imediatamente. No
geral, as mulheres grávidas precisam Todo o material informativo do GAT é
do mesmo tratamento para prevenir as gratuito. Faça o seu pedido através do
infeções oportunistas tal como as outras site www.gatportugal.org ou através do
mulheres que não estão grávidas. e-mail contactos@gatportugal.com
Por vezes, quando se inicia o tratamento
durante a gravidez, a contagem de células
CD4 pode aumentar pouco, apesar da
carga viral baixar. Se tal acontecer, não se
preocupe pois a contagem de células CD4 Outras fontes de informação
irá subir após o nascimento da criança. SOS GRÁVIDA | 808 201 139
O VIH não afeta o curso da gravidez nas SEXUALIDADE | 808 22 20 30
mulheres que recebem tratamento. SAÚDE 24 | 808 24 24 24
O vírus também não afeta a saúde do recém- DEIXAR DE FUMAR | 808 20 88 80
nascido durante a gravidez, a não ser que a
mãe desenvolva uma infeção oportunista (IO).

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

As células CD4 são um tipo de glóbulos


brancos que ajudam o nosso organismo
Independentemente
a combater as infeções. Estas células da gravidez,
são também as que o VIH infeta e as mulheres devem receber
usa para fazer cópias de si próprio
e se disseminar posteriormente. o tratamento otimizado
A contagem de células CD4 para a infeção pelo VIH.
corresponde ao número de células
CD4 num milímetro cúbico (mm3) de
sangue. A contagem de células CD4 é
uma das medições do estádio do VIH.
As contagens de células CD4 variam
de pessoa para pessoa, mas um
adulto seronegativo deverá ter uma
contagem entre 400 e 1600/mm3.
Alguns fatores, tais como o cansaço,
doença ou gravidez podem provocar
descidas temporárias nas contagens.
Uma contagem de células CD4
abaixo de 350/mm3 é considerada
baixa, e todas as linhas de orientação
recomendam iniciar o tratamento
antes de chegar a este nível.
Quando se tem uma contagem
inferior a 200 células/mm3, está
-se mais vulnerável a infeções.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Proteger e assegurar a saúde da mãe


A saúde da mãe e o tratamento são Princípios de cuidados
os fatores mais importantes para • A mãe deve ser capaz de fazer as próprias
assegurar a saúde do bebé. escolhas sobre como gerir a gravidez.
A prevenção da transmissão e a • Deve ser capaz de escolher o
saúde do bebé estão diretamente tratamento durante a gravidez.
relacionadas com a saúde da mãe.
• Os prestadores de cuidados de saúde
O aconselhamento pré-natal para uma devem proporcionar informação,
mulher seropositiva deve incluir: educação e aconselhamento
• aconselhamento e discussão sobre que seja imparcial, apoie e seja
como prevenir a transmissão mãe-filho; livre de juízos de valor.
• informação sobre como tratar o • O VIH deve ser monitorizado
VIH da mãe durante a gravidez; intensivamente durante a gravidez.
• informação sobre como tratar Isto é particularmente importante
o VIH da mãe no futuro. quando se aproxima o parto.
• As infeções oportunistas devem
ser tratadas adequadamente.
Quando crescer, a criança precisa que
a mãe esteja bem e em boa saúde. E • Os medicamentos para o VIH
a mãe vai querer ver o filho ou a filha ir devem ser usados para reduzir a
para a escola e tornar-se adulto. carga viral a níveis indetetáveis.
• As mães devem ser tratadas
o melhor possível para não
desenvolverem resistências aos
medicamentos para o VIH.
• As mães devem ser capazes de fazer
escolhas informadas relativamente a como
e quando as suas crianças irão nascer.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Transmissão mãe-filho
Como e por que razão ocorre a transmissão? Transmissão durante a gravidez (intrauterina)
Apesar dos avanços significativos na Pode acorrer quando a placenta sofre
redução da transmissão mãe-filho lesões, tornando possível a passagem
(TMF), não se compreende plenamente do sangue infetado pelo VIH da
como é que tal acontece. O que se mãe para a circulação do feto.
percebe, no entanto, é que há muitos A corioamnionite, por exemplo, tem
fatores que afetam a transmissão. sido associada a um risco aumentado
Destes, o mais importante é o de transmissão da infeção pelo VIH.
nível da carga viral da mãe. Pensa-se que tal ocorre por meio de
A transmissão mãe-filho pode ocorrer células infetadas que atravessam a
antes, durante e depois do nascimento. placenta ou pela infeção progressiva das
Os cientistas encontraram várias razões diferentes camadas da placenta até o vírus
possíveis para que a infeção ocorra. Além alcançar a circulação fetoplacentar.
da carga viral da mãe, a infeção é mais A razão pela qual se sabe que a transmissão
provável se a contagem de células CD4 é intrauterina ocorre é que uma proporção
baixa e se há doenças definidoras de SIDA. de bebés com poucos dias de idade já tem
Considera-se que os meios de transmissão da carga viral detetável no sangue. Regra geral,
infeção são a exposição do bebé ao sangue são necessárias várias semanas para que
infetado da mãe ou a outros fluidos corporais uma pessoa infetada tenha o VIH detetável
durante a gravidez e o parto, bem como no sangue e, assim, se a transmissão tivesse
a amamentação. Apesar disso, a maioria acontecido durante o parto, essa primeira
das transmissões ocorrem durante o parto, análise com 48 horas de vida não poderia ser
quando o bebé está a nascer. É raro, mas há já positiva. Além disso, a rápida progressão
transmissões que ocorrem durante a gravidez, da infeção pelo VIH em alguns bebés levou
antes do parto. Este tipo de transmissão os cientistas a concluir que tal acontece.
designa-se por transmissão intrauterina. A transmissão intrauterina torna-se mais
provável quando há carga viral elevada,
SIDA e contagem baixa de células CD4.
Estar coinfetado com TB (tuberculose)
torna mais fácil a transmissão intrauterina
do VIH e a infeção pelo VIH torna mais
provável a transmissão intrauterina da TB.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

intrauterino: significa que é dentro do Durante o trabalho de parto e o


útero, antes do início do trabalho de parto. parto (transmissão intraparto)
intraparto: significa que ocorre Pensa-se que a transmissão durante o
durante o parto (trabalho de parto trabalho de parto e o parto ocorre quando
ou nascimento do bebé). o bebé entra em contacto com o sangue
placenta: é um órgão temporário que infetado e as secreções genitais da mãe à
se desenvolve durante a gravidez e une medida que passa pelo canal de parto.
a mãe ao feto. A placenta age como um Isto pode acontecer através da infeção
filtro. Transfere o oxigénio e os nutrientes ascendente via vaginal e do colo do útero às
da mãe para o feto e elimina o dióxido membranas fetais e fluido amniótico, e através
de carbono e os produtos residuais. A da absorção no trato digestivo do bebé.
placenta tem muitos vasos sanguíneos.
A placenta é expelida do corpo da Alternativamente, durante as contrações
mãe após o nascimento do bebé.
do trabalho de parto, pode ocorrer
uma microtransfusão materno-fetal.
circulação feto-placentária:
corresponde à circulação de sangue Os cientistas sabem que durante o
entre o feto e a placenta. parto ocorrem transmissões porque:
membranas fetais: membranas • 50% dos bebés infetados têm um
que envolvem o feto. teste negativo para o VIH durante
os primeiros dias de vida.
microtransfusões materno-fetais:
ocorrem quando pequenas quantidades de • Há um aumento rápido na taxa de
sangue infetado da mãe passa da placenta deteção da infeção pelo VIH nos bebés
ao bebé durante o trabalho de parto (ou durante as primeiras semanas de vida.
através de outras roturas da placenta). • O modo como o vírus e o sistema
corioamnionite: é uma inflamação do imunitário se comporta em alguns
córion e do âmnios, as membranas que recém-nascidos é semelhante ao que
envolvem o feto. A corioamnionite é, regra se verifica em adultos recém-infetados.
geral, causada por uma infeção bacteriana. É também demonstrado pelo sucesso na
membrana mucosa: é o revestimento prevenção da transmissão. Isto inclui:
interno húmido de alguns órgãos e • Tratamentos que têm reduzido
cavidades corporais (tais como o nariz, o risco de transmissão, mesmo
boca, vagina, pulmões e estômago). quando proporcionados apenas
As glândulas da mucosa segregam durante o trabalho de parto.
muco, um fluido espesso e viscoso.
• Parto por cesariana antes de se
trato gastrointestinal: é o tubo que iniciar o trabalho de parto.
vai desde a boca até ao ânus e onde
são digeridos os alimentos. O trato
gastrointestinal começa na boca e,
seguindo-se o estômago, duodeno,
intestino delgado, intestino grosso
(cólon), reto e, por último, ânus. Por vezes
é também designado por trato GI.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Se se demora muito tempo entre a rotura Se a mãe não tem meios para pagar o
das membranas (rotura da bolsa de leite em pó, os biberões e o equipamento
águas) e o parto ou se o trabalho de parto de esterilização, o hospital pode fornecê-
for longo, o risco de transmissão nas los para que não tenha que amamentar. O
mulheres que não estão sob terapêutica sistema varia de um hospital para o outro.
ARV ou sob profilaxia é acrescido. A equipa deverá falar com a mãe para saber
Um bebé prematuro pode estar em se precisa de apoio extra após a alta. Os
maior risco de contrair o VIH do que hospitais têm assistentes sociais que orientam
um bebé nascido aos nove meses. e indicam quais os apoios existentes.
Amamentação O tratamento médico e o fornecimento
Os médicos pensam que o VIH presente no de leite em pó são confidenciais, por isso
leite materno atravessa a membrana mucosa recomenda-se que a mãe aproveite essa
do trato gastrointestinal das crianças. ajuda, se assim precisar. Nenhum membro
da equipa que trabalha no hospital ou
O trato gastrointestinal de um recém- trabalhadores de apoio entrará em contato
nascido está imaturo e é mais facilmente com o departamento de imigração.
penetrável do que num adulto. Pensa-se
que o dano do trato intestinal de um bebé, Seja como for, mais importante do que
causado pela introdução prematura de saber como ocorre a TMF, é saber como
outros alimentos, sobretudo alimentos se pode prevenir que isto aconteça: não
sólidos, pode aumentar o risco de infeção. falhar a toma dos medicamentos ARV.

Recomenda-se a todas as mulheres Felizmente, sabe-se muito mais sobre isso.


seropositivas que alimentem os bebés
com leite em pó para os proteger do VIH.
Após ter seguido as recomendações
médicas durante a gravidez e o parto,
a mãe não vai querer pôr em risco a
saúde da criança pela amamentação.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Planear a gravidez
Gravidez planeada e o direito a ter filhos É importante:
Muitas mulheres seropositivas engravidam • Escolher uma equipa de saúde e uma
quando já conhecem o seu estatuto maternidade que apoie e respeite a
serológico para o VIH. Muitas já estão decisão de se ter uma criança.
sob TARV quando engravidam. • Se não se recebe apoio nessa decisão,
Se uma mulher sabe que é seropositiva, então deve-se procurar um médico
pode já ter discutido a possibilidade de e uma equipa de saúde com mais
engravidar nos cuidados de rotina para o VIH, experiência em lidar com o VIH.
quer a gravidez seja planeada quer não.
Se se está a planear engravidar, Nesta secção, além de tratar das opções
o médico irá aconselhar: para as mulheres seropositivas (com
• a considerar o estado de saúde geral; parceiro seropositivo ou negativo) que
• a ter consultas adequadas e querem engravidar, falamos, também,
da conceção segura para as mulheres
• a tratar qualquer infeção seronegativas com parceiros seropositivos.
sexualmente transmissível.

O que fazer quando um parceiro é


É necessário assegurar-se que se seropositivo e o outro é seronegativo
está a receber cuidados e tratamentos para a infeção pelo VIH
adequados para o VIH.
É ainda controverso qual é o melhor
Em Portugal, o Grupo Médico de conselho a dar a casais serodiscordantes
Transmissão Vertical recolheu as seguintes (termo usado quando um parceiro é
taxas de transmissão nacionais, a partir seropositivo e o outro é seronegativo).
dos maiores hospitais do país:
Se os casais serodiscordantes têm
• 2003 13 crianças infetadas 4,9% relações sexuais desprotegidas, existe
• 2004 11 crianças infetadas 3,6% sempre um risco acrescido de transmissão
de infeção pelo VIH. Mesmo quando se
• 2005 1 crianças infetadas 0,46% trata de uma “tentativa de conceção” nas
• 2006 4 crianças infetadas 1,5% condições mais seguras, há sempre um
• 2007 6 crianças infetadas 2,3% risco teórico, apesar de muito baixo, de
o parceiro seronegativo contrair o VIH.
• 2008 3 crianças infetadas 1,2%
Até há pouco tempo, a conceção através
• 2009 6 crianças infetadas 2,5% de relações sexuais desprotegidas apenas
• 2010 5 crianças infetadas 1,8% durante o período ovulação era, na
generalidade, não recomendada oficialmente.
As evidências mais recentes, no entanto,
demonstram que esta opção é muito
mais prática, sendo importante falar
sobre esta opção com a equipa de
prestadores de cuidados de saúde.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

“Em 1995, aos 23 anos, engravidei. Na altura


consumia drogas por via injetada. Quando
descobri, ao quinto mês, que estava grávida,
decidi entrar num centro comunitário.
O facto de conviver com muitas pessoas
que viviam com VIH, ajudou-me muito a
enfrentar a minha gravidez e a perceber que
ser seropositiva não era o fim do mundo.
Antes de o meu filho nascer, tomava
AZT duas vezes ao dia.
O meu filho nasceu por parto normal, com medicação
intraparto e começou logo a fazer a terapêutica
antirretroviral (AZT líquido) durante 4 semanas.
O meu filho tem hoje 16 anos, sabe do meu passado,
aceita-o e respeita-me. É o meu grande amigo e eu
sou uma mulher muito mais feliz por ele existir.”
Maria João, Almada

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Com a ajuda da equipa de saúde e com Ter uma IST (por exemplo, sífilis ou
base nos conhecimentos atuais, os clamídia) aumenta a carga viral do VIH nas
casais avaliam os riscos e os benefícios secreções genitais, mas não no plasma.
da gravidez e se o risco é aceitável. É difícil para os médicos (ou para nós) dar
A transmissão da infeção pelo VIH durante conselhos exatos a casais serodiscordantes.
a relação sexual vaginal depende de vários Sabe-se que o risco de relações sexuais
fatores. Para os casais em relações estáveis desprotegidas programadas, onde o
e monogâmicas que querem conceber, parceiro seronegativo está em tratamento
o mais importante a considerar é: com uma carga viral indetetável durante
• A carga viral do parceiro seropositivo mais de seis meses, é muito baixo.
para a infeção pelo VIH. Mas não é completamente nulo.

• Se há infeções sexualmente Modelos matemáticos têm sugerido um


transmissíveis (IST). risco de 1 em 100 000 por ato sexual.

• Frequência das relações. Os modelos matemáticos são muito usados


pelos cientistas para responder às perguntas
Por exemplo, se um homem seropositivo “e se?”. Simulam situações reais através de
está numa relação monogâmica e não equações matemáticas. As informações
está sob terapêutica antirretroviral, o risco conhecidas são introduzidas num programa
de transmissão da infeção pelo VIH à sua do computador e o sistema gera respostas.
parceira seronegativa está estimado ser
entre 0,1 a 0,3 % por cada ato sexual. As respostas dos modelos matemáticos
não são iguais às respostas dos estudos de
O risco de transmissão da infeção pelo VIH investigação na vida real, mas podem ser
de uma mulher seropositiva que não está a muito úteis em ajudar-nos a compreender
fazer tratamento para um homem seropositivo qual a probabilidade de um resultado.
está estimado ser entre 0,03 a 0,09%.
Um estudo alargado reportou recentemente
O risco é muito mais baixo em pessoas algumas informações muito importantes.
com cargas virais indetetáveis no plasma
sanguíneo sob terapêutica antirretroviral. Em maio de 2011, os resultados do
estudo HPTN 052 do HIV Prevention Trials
A carga viral no plasma tem uma Network (HPTN) disponibilizou provas
correlação bastante boa com a carga que a TARV pode tornar as pessoas
viral nas secreções genitais. seropositivas menos infeciosas para
No entanto, o VIH tem sido detetado tanto no os seus parceiros seronegativos.
esperma dos homens seropositivos como no O HTPN 052 é o primeiro ensaio clínico
fluido do útero e à volta do óvulo das mulheres controlado randomizado (ECR) que
seropositivas, mesmo quando as suas cargas demonstrou uma redução nas infeções.
virais estavam indetetáveis com a TARV.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

O estudo multinacional foi conduzido com Se se decide, em conjunto com o parceiro,


mais de 1 700 casais serodiscordantes. de que este é o modo mais aceitável de
Comparou o efeito de iniciar TARV conceção, é necessário assegurar-se que:
imediatamente (definido com contagem de • O parceiro seropositivo para a infeção
células CD4 entre 350 e 500/mm3) com o pelo VIH tem boa adesão à TARV.
efeito de adiar o início do tratamento até o
parceiro seropositivo alcançar uma contagem • O parceiro seropositivo para o VIH realiza
de células CD4 inferior a 350/mm3. regularmente testes de carga viral.
Os resultados mostraram que o início da • Ambos os parceiros são
TARV com contagens de células CD4 mais rastreados para a IST.
elevadas baixou o risco de transmissão da • Ambos os parceiros fazem
infeção pelo VIH em 96%, um valor muito rastreios para a fertilidade.
importante. O estudo foi interrompido
mais cedo porque os benefícios foram • Ambos os parceiros percebem
demonstrados mais rapidamente do que qual o período fértil da mulher.
antecipado no desenho original do ensaio. Alguns hospitais pedem para assinar um
O único estudo prospetivo realizado em 22 formulário em que se confirma que se recebeu
casais analisou o risco de transmissão da aconselhamento preconceção e que se
infeção pelo VIH em casais serodiscordantes compreende em pleno os riscos envolvidos.
que tentavam conceber naturalmente, onde Um ponto adicional deve ser salientado.
o homem seropositivo tinha uma carga Embora um pequeno número de tentativas de
indetetável sob TARV e a mulher recebia a conceção possam ser relativamente seguras,
terapêutica de pré-exposição PrEP. Neste alguns casais não retomam os métodos de
estudo, a relação sexual era programada proteção utilizados anteriormente. Tal resulta,
de acordo com o período fértil da mulher por vezes, na transmissão da infeção pelo
e a taxa de conceção foi de 50%. VIH ao parceiro anteriormente seronegativo.
Os mesmos investigadores reportaram O VIH é ainda uma doença para toda a vida.
anteriormente uma revisão retrospetiva de 74 Se um dos parceiros conseguiu manter-se
casais (52 onde o homem era seropositivo seronegativo, não faz sentido mudar isto
e 22 onde a mulher era seropositiva para aquando da decisão de ter uma criança.
a infeção pelo VIH) em que o parceiro
seropositivo estava sob TARV e as relações
sexuais eram programadas, não havendo
transmissão da infeção pelo VIH.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Período propício a engravidar: Profilaxia Pré-Exposição ou PrEP


período fértil Ocorre quando uma pessoa
Ovulação: o momento mais fértil seronegativa para a infeção pelo VIH
durante o ciclo menstrual da mulher é toma medicamentos ARV para prevenir
quando o ovário liberta o óvulo maduro. a transmissão do VIH. Este método pode
O óvulo tem uma vida útil de cerca ser usado para tornar a conceção mais
de 24 horas. Neste momento é mais segura. A equipa de profissionais da
provável que a conceção ocorra. saúde pode explicar como tal é feito.
A ovulação da mulher ocorre 14 dias antes
do início do próximo ciclo menstrual.
A mulher é mais fértil no dia antes e
no dia da ovulação uma vez que o
óvulo sobrevive 24 horas. É neste
momento que a conceção ocorre.
O período fértil é normalmente 5 dias
antes da ovulação (dado que o esperma
pode sobreviver no corpo da mulher
vários dias) até cerca de dois dias
após a ovulação. Ou seja, a mulher
é fértil durante cerca de 7 dias.
Há vários meios para estimar o período
fértil, geralmente, medindo a temperatura (a
temperatura aumenta no início da ovulação)
ou registando a data da menstruação
para perceber quando se ovula
(designado por método do calendário).

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Quando o homem é seropositivo e a mulher Existe também no setor privado,


é seronegativa para a infeção pelo VIH por exemplo na Clínica do Professor
Quando o homem é seropositivo e a Alberto Barros, no Porto.
mulher é seronegativa para a infeção pelo Como referimos anteriormente, uma
VIH é possível utilizar um processo que opção mais controversa é fazer um
se designa por lavagem do esperma. número limitado de tentativas durante os
Para tal, é obtida uma amostra de esperma. dias mais férteis do ciclo da mulher.
Uma máquina especial centrifuga a amostra O risco de uma exposição de baixo nível por
para separar os espermatozoides do fluido parte de uma pessoa com carga viral inferior a
seminal (apenas o fluido seminal contém 50 cópias /ml foi estimado pela Organização
os glóbulos brancos infetados pelo VIH; os Mundial de Saúde entre 0,03% e 0,005%.
espermatozoides não contêm o VIH infecioso). Isto representa um rácio de cerca de
O esperma lavado é então testado para o 1 em 3 300 até 20 000. Alguns casais
VIH e, finalmente, é usado um cateter para consideram que representa um risco
injetar o esperma no útero da mulher. Este aceitavelmente baixo comparativamente com
é o método mais simples por não incluir a importância de tentar ter uma criança.
técnicas de procriação medicamente É obviamente essencial que um homem
assistida (FIV). No entanto, a taxa de sucesso seropositivo faça o tratamento para o VIH
em obter a gravidez é mais baixa, levando para reduzir a sua carga viral para níveis
a ter que se repetir o procedimento mais indetetáveis. Para aumentar ainda mais a
vezes. Por outro lado, a técnica de lavagem segurança a carga viral deve ser verificada
de esperma deve ser encarada como uma quer no sangue, quer no sémen.
técnica de redução do risco de infetar a
mulher, mas não pode ser vista como uma Cerca de 10% dos homens com níveis
técnica absolutamente isenta de risco. A indetetáveis no sangue, têm níveis
fertilização in vitro (FIV), também, pode ser detetáveis no esperma, portanto isso seria
usada, sobretudo quando o homem tem uma medida de segurança adicional. A
uma contagem baixa de espermatozoides. carga viral no esperma pode ser testada
usando os mesmos testes da carga
Não há registos de transmissão do VIH para viral que são usados para o sangue e o
a mulher com a lavagem do esperma. hospital deve aconselhar quanto a isso.
No entanto, há custos, dificuldades de A conceção pode ser natural ou com a
acesso e taxas baixas de conceção. autoinseminação. A maioria dos médicos
Poucos hospitais oferecem lavagem de pode aconselhar sobre como planear
esperma em Portugal. O Hospital S. Francisco e identificar os dias mais apropriados,
Xavier, em Lisboa, iniciou a técnica de ou seja, o período fértil da mulher.
lavagem de esperma, mas não tem técnicas A inseminação artificial ou autoinseminação
de procriação medicamente assistida. O (ver abaixo) reduz o risco de um trauma
Hospital de S. João, no Porto, disponibiliza durante a relação sexual onde uma
também a técnica de lavagem de esperma. pequena fissura pode aumentar o risco
Atualmente, a Maternidade Dr Alfredo da de transmissão da infeção pelo VIH.
Costa é o centro de referência nacional
para estas técnicas, no setor público.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

“Fui diagnosticada em 1996 com VIH1 e VIH2, em


Madrid. Encontrava-me num centro evangélico para
parar com os meus consumos de drogas quando
soube que estava grávida e que era seropositiva.
Foi um choque, embora não me tenha surpreendido, pois
todos os meus cuidados durante os consumos foram
poucos e muitas vezes me prostituí na zona de Olhão.
Fui seguida no Hospital Ramon Cajal e na época os
tratamentos existentes em Espanha estavam efetivamente
mais avançados do que em Portugal. Desde cedo
me apercebi que, apesar do meu diagnóstico, o meu
estatuto serológico não era impedimento para ser mãe.
O meu filho nasceu em novembro de 1997. O
Samuel tem hoje 14 anos e é uma criança saudável
pois eu segui todas as indicações médicas,
inclusive, mantive-me em recuperação.
Vivi em Espanha durante 5 anos até que voltei
para Faro, onde continuo a ser assistida.
Hoje, tenho uma vida normal e procuro ser feliz pois
o meu filho tornou-se a razão do meu existir.”
Elisabete, Faro

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

É essencial continuar a usar preservativo Quando a mulher é seropositiva e o homem


em todas as relações sexuais. é seronegativo para a infeção pelo VIH
Esta abordagem é controversa porque existe Geralmente, as opções são muito mais
um pequeno risco de transmissão do VIH. simples neste caso. A “autoinseminação”
No entanto, sobretudo onde a lavagem do usando uma seringa de plástico não
esperma não está disponível, houve relatos comporta qualquer risco para o homem.
de sucesso. Embora um relatório com cerca É a maneira mais segura de proteger o
de 60 casais tenha concebido desta maneira homem da infeção pelo VIH. Nos dias perto
sem nenhuma transmissão do VIH, o estudo da ovulação, deve-se colocar o esperma
é demasiado pequeno dado que o risco de do parceiro o mais profundo possível na
transmissão do VIH é muito inferior a 1 em 60. vagina. A ovulação ocorre a meio do ciclo,
Para muitas mulheres que querem ter um cerca de 14 dias antes do período (em
filho pode ser aceitável, mas a decisão ciclos menstruais regulares de 28 dias).
de o fazer deve ser tomada apenas pela Médicos diferentes podem recomendar
mulher, sem que ninguém a pressione. métodos diferentes. Um método é o
Há um benefício adicional de segurança de ter uma relação sexual com um
para a mulher ao usar durante 1 ou 2 dias preservativo sem espermicida. Um
medicamentos ARV para reduzir ainda outro é o de o parceiro ejacular num
mais a hipótese baixa de transmissão recipiente. Em ambos os casos, insere-se
da infeção. Vários estudos estão a o esperma na vagina com uma seringa.
investigar se o uso do tenofovir e do O hospital pode fornecer o recipiente e a
FTC (ou 3TC) antes da exposição ao seringa e dar instruções detalhadas sobre
VIH diminui o risco de transmissão. como realizar esta operação, incluindo
À medida que a informação sobre conceção o aconselhamento sobre o tempo do
segura com os ARV torna o uso deste processo para coincidir com a ovulação.
método de conceção mais aceitável para
os casais, a lavagem do esperma passa
a não ser a única alternativa aceitável.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Declaração Suíça
A “Declaração Suíça” foi publicada em janeiro de 2008 pela Federação
Suíça para as Questões Relacionadas com SIDA (um grupo de
especialistas composto por médicos e investigadores). Este grupo
tinha receios relativamente à situação legal das pessoas seropositivas
na Suíça e aos casais serodiscordantes que pretendiam ter filhos.
Estavam preocupados relativamente à exatidão da informação
pública e privada sobre o risco da transmissão da infeção pelo
VIH por parte das pessoas sob tratamento antirretroviral.
Uma das razões para a divulgação da declaração foi o de proporcionar linhas
de orientação a médicos para ajudar casais serodiscordantes que pretendem
ter filhos. Muitos casais não podem ou não querem usar o método da lavagem
de esperma ou outros métodos de reprodução medicamente assistida e
precisam de tomar decisões informadas sobre o nível de risco envolvido
nas relações sexuais quando se está sob tratamento antirretroviral.
A declaração enuncia o risco de transmissão da infeção pelo VIH quando
se está estável sob terapêutica antirretroviral como “negligenciável” e
“semelhante ao risco na vida quotidiana”. Explica que, por exemplo,
mesmo usando o preservativo, este não é 100% seguro.
A declaração torna claro a descrição de uma pessoa em risco reduzido
de transmissão, aplicando-se apenas nas seguintes condições:
• Quando a carga viral é indetetável durante um período de pelo menos 6 meses.
• Quando há boa adesão ao tratamento.
• Quando não há presença de nenhuma infeção sexualmente transmissível.
Os médicos suíços calcularam que a conceção natural nestas
circunstâncias teria poucas probabilidades de risco de transmissão da
infeção pelo VIH ao parceiro seronegativo. Não estavam a recomendar
que o preservativo fosse abandonado nas relações sexuais - mas que o
risco envolvido durante tentativas limitadas de conceção é muito reduzido
comparado com a importância para muitos casais de ter filhos.
Afirmaram, também, que o tratamento PPE não deveria ser
proporcionado se um preservativo se danifica quando o parceiro
seropositivo preenche os critérios acima referidos.
Para quem quiser ler mais sobre a Declaração Suíça o link é:
http://www.aids.ch/e/fragen/pdf/swissguidelinesART.pdf

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Quando ambos os parceiros são Para os casais que não praticam sexo seguro,
seropositivos para a infeção pelo VIH continuar a fazê-lo para conceber uma criança
Para os casais em que ambos os não comportará nenhum risco adicional.
parceiros são seropositivos, a maioria Felizmente, em Portugal, já existe resposta
dos médicos recomenda o sexo seguro. a situações de infertilidade do casal quando
Isto é para limitar a possibilidade de uma a mulher é seropositiva. A Maternidade
reinfeção com uma estirpe diferente Dr. Alfredo da Costa criou as condições
do VIH (ou uma estirpe resistente). necessárias para dar resposta a estas
A reinfeção é apenas um risco se um dos situações, sendo o único hospital com
parceiros tem resistências extensas aos condições técnicas e logísticas para o
medicamentos e uma carga viral detetável estudo da infertilidade e eventual recurso
ou se nenhum dos parceiros está em a técnicas de procriação medicamente
tratamento ARV. Isto é a única razão em assistida (FIV/ICSI) em casais inférteis em
que um casal deveria ser desencorajado que a mulher é seropositiva para o VIH.
de tentar conceber naturalmente.
O risco de reinfeção é ainda mais baixo
se o sexo desprotegido ocorrer apenas
algumas vezes para conceber a criança.
Aqui, seguem algumas questões a
considerar sobre o risco da reinfeção:
• O risco em casais seropositivos depende,
também, dos níveis da carga viral e é
muito baixo se se está em tratamento.
• O risco é mais grave se um dos
parceiros é resistente ao tratamento
para o VIH, especificamente,
se tem carga viral elevada.
• Se se pratica sexo mais seguro como
rotina, pode-se considerar a possibilidade
de limitar o sexo desprotegido ao período
fértil. Pode-se seguir os conselhos
para os casais serodiscordantes.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Cuidados pré-natais e tratamento para o VIH


Os cuidados pré-natais são também Cada mulher seropositiva deve considerar
chamados cuidados antenatais. Abrangem seriamente o tratamento para o VIH durante
todos os cuidados adicionais que se a gravidez, mesmo que seja apenas para
recebe durante a gravidez em preparação o fazer durante a gravidez e interromper
para o nascimento da criança. após o nascimento da criança.
Os cuidados pré-natais não se restringem
apenas aos medicamentos e testes. E se uma mulher está grávida e não precisa
Incluem aconselhamento e fornecimento de tratamento para o VIH para a sua saúde?
de informações como esta brochura.
Abrangem, também, recomendações As linhas de orientação portuguesas, na
sobre a saúde em geral, tais como revisão de 2011, recomendam iniciar o
fazer exercício e parar de fumar. tratamento com uma contagem de células
CD4 de 350/mm3. Geralmente o tratamento
Tal como para todos os aspetos dos não é recomendado a níveis de CD4 mais
cuidados com o VIH, é muito importante que elevados a não ser que existam problemas
os membros da equipa de saúde tenham de saúde relacionados com o VIH.
experiência especializada com mulheres
seropositivas para o VIH. Isto inclui o obstetra, No entanto, os estudos demonstram que o
a parteira e o resto dos técnicos de apoio. tratamento para o VIH pode reduzir o risco
de transmissão até em mães com cargas
É também importante que a pessoa inferiores a 1 000 cópias/ml. A transmissão
responsável pelos cuidados de saúde desceu de quase 10% em mulheres não
esteja constantemente atualizada tratadas para menos de 1% em mulheres
sobre os mais recentes avanços na tratadas com medicamentos ARV.
prevenção da transmissão mãe-filho
e nos tratamentos para o VIH. Em consequência, o tratamento
ou a profilaxia é oferecido a todas
a mulheres grávidas seropositivas,
Todas as mulheres seropositivas incluindo as com contagens de células
precisam de fazer o tratamento para a CD4 superiores a 350/mm3 que
infeção pelo VIH durante a gravidez? nunca estiveram em tratamento.
As mulheres (grávidas) seropositivas As linhas de orientação portuguesas para
para o VIH com contagem de células o VIH na gravidez recomendam duas
CD4 de cerca de 350/mm3 ou inferior opções nesta situação para quem tem
precisam iniciar o tratamento pela uma contagem elevada de células CD4:
própria saúde, independentemente 1) Usar uma Terapêutica Antirretroviral
de estarem, ou não, grávidas de Curto Prazo, também designada,
A gravidez constitui uma indicação para a partir do inglês, terapêutica START
iniciar terapêutica, independentemente (em inglês, Short Term Anti Retroviral
do número de células CD4. Therapy). Com esta terapêutica, inicia-se
o tratamento no segundo trimestre entre
as 20 e as 28 semanas e interrompe-se
após o parto. Cada vez mais especialistas
estão a iniciar não às 28 semanas, mas

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

sim às 20 semanas, porque o parto pré- E se uma mulher é seropositiva e


termo é muitas vezes imprevisível e se precisa de tratamento para o VIH?
um bebé nasce às 24 semanas já tem As orientações atuais recomendam que
hipóteses de sobreviver. Não tendo a todas as pessoas seropositivas para o VIH
mãe feito terapêutica ARV, juntam-se com contagem de células CD4 inferiores a
dois grandes riscos para a transmissão: 350/mm3 recebam tratamento, incluindo as
o facto de ser prematuro e o facto de mulheres grávidas. O início do tratamento
não ter havido terapêutica. Pode -se também dependerá do momento na
escolher ou não fazer o parto planeado gravidez em que é diagnosticado o VIH.
por cesariana às 38-39 semanas ou
um parto vaginal. Mais recentemente, Nalguns casos, a mulher sabe que é
a tendência é iniciar a terapêutica mais seropositiva quando já está grávida e isto
precocemente, logo após o 1º trimestre, pode ser um período muito difícil em termos
para conseguir mais cedo e de forma práticos e emocionalmente. É importante
mais sustentada a descida da carga viral. pedir apoio adicional, se for preciso.
2) Usar AZT em monoterapia em três Se a mulher for diagnosticada no início
períodos, como no estudo 076, e ter da gravidez, pode escolher adiar o início
uma cesariana planeada antes do do tratamento até o fim do primeiro
trabalho de parto às semanas 38. trimestre. Isto quer dizer 12 a 14 semanas
depois da última menstruação.
A segunda opção só deve ser considerada
para mulheres com uma elevada Há duas razões principais para iniciar
contagem de células CD4 e uma carga o tratamento só após o 1º trimestre.
viral baixa que não precisarão de fazer o A primeira é que os órgãos principais do
tratamento ARV durante vários anos. feto se desenvolvem nas primeiras 12
Optar pela START não significa que a mulher semanas da gravidez. A esta fase chama-
não irá fazer cesariana. Poderá ter de fazer se organogénese. Durante esse período,
devido a outras razões obstétricas. portanto, a criança pode ser vulnerável aos
efeitos negativos de qualquer medicamento,
É necessário reconhecer os benefícios e incluindo os medicamentos ARV.
riscos destas duas opções. Discuta-se e
considere-se as seguintes questões muito Os estudos não mostraram um risco
cuidadosamente até se estar satisfeito acrescido para as crianças cujas mães
com a abordagem que se escolheu: fizeram o tratamento ARV durante o primeiro
trimestre comparativamente com as que não
Benefícios da START: usaram o tratamento nesse período. Mas
• Usar três medicamentos reduz a algumas mulheres e médicos podem preferir
carga viral para níveis indetetáveis. preservar este período de organogénese
• A cesariana não é obrigatória. A segunda razão para adiar o tratamento é
Riscos da START: que a maioria das mulheres tem náuseas,
“enjoo matinal” ou mesmo vómitos
• O bebé será exposto a um maior número no início da gravidez. É perfeitamente
de medicamentos, o que poderá normal. Mas os sintomas do enjoo matinal
aumentar o risco de parto prematuro. são muito semelhantes às náuseas
que podem ocorrer quando se inicia o
tratamento ARV. Não é desejável nem é
30
Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

necessário ter os dois ao mesmo tempo. E se uma mulher descobre que é seropositiva
Isto pode tornar a adesão mais difícil. numa fase avançada da gravidez?
Ao sentir-se mal por causa do enjoo O tratamento, mesmo por um curto período
matinal, é pouco provável que se queira de tempo, pode reduzir rapidamente e de
fazer um tratamento que agrava a modo considerável a carga viral e alguns
náusea. E nos casos em que o enjoo medicamentos antirretrovirais podem ajudar
matinal é forte ou se vomita, pode criar a reduzir o risco de transmissão da infeção
um problema de doses não tomadas, pelo VIH ao atravessar a placenta para o bebé
o que pode levar a falência terapêutica e bloqueando a infeção, independentemente
e ao desenvolvimento de resistências da quantidade do vírus no sangue da mãe.
aos medicamentos antirretrovirais.
Se o enjoo matinal continua após o primeiro E se a gravidez ocorre quando se
trimestre, deve considerar-se a situação está sob tratamento ARV?
seriamente em conjunto com o médico, porque
pode ser indicação de outros problemas. Muitas mulheres decidem ter um filho quando
já estão sob tratamento para o VIH. Isto diz
Se se quer iniciar o tratamento de imediato imenso sobre os progressos espantosos
ou se se precisa de iniciá-lo urgentemente feitos com os medicamentos para o VIH.
porque se tem contagens das células CD4
baixas, o médico irá recomendá-lo. As mulheres sentem-se melhor, são mais
saudáveis, pensam em relações a longo
prazo no futuro e possivelmente na família.
Qual o melhor momento para É agora cada vez mais comum que as
iniciar o tratamento quando se mulheres que concebem enquanto
tem carga viral elevada? estão em tratamento continuem em
Um recente estudo inglês analisou o melhor tratamento durante a gravidez.
momento para iniciar o tratamento de Os estudos não demonstraram um
forma a assegurar carga viral indetetável no risco acrescido para a mãe ou para a
momento do parto. Recomendou que: criança por se usar o tratamento sem
• As mulheres com carga viral superior interrupção durante a gravidez.
a 100 000 cópias/mL devem
iniciar a TARV imediatamente.
Assim, é importante iniciar o tratamento
mais cedo quando a carga viral é
elevada. Tal, resultará num menor risco
de transmissão da infeção pelo VIH e a
possibilidade de escolher o tipo de parto.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Medicamentos ARV durante a gravidez


Quais os medicamentos que se devem utilizar: O inibidor da protease será provavelmente
Como para todas as decisões relacionadas o lopinavir potenciado com ritonavir (um
com o tratamento para o VIH não há comprimido designado por Kaletra®), o
regras rígidas. O tratamento deve ser saquinavir potenciado com ritonavir ou o
individualizado e deve ser adequado à atazanavir potenciado com ritonavir.
condição de saúde e de vida da pessoa. Se se planeia interromper o tratamento
imediatamente após o nascimento da
criança, um inibidor da protease tem uma
Uso da terapêutica de combinação tripla outra vantagem em relação a um ITRNN.
É muito provável que seja recomendado o O organismo processa os inibidores da
uso do AZT como parte da combinação. protease de modo relativamente rápido.
Isto porque o AZT é o único medicamento Pode interromper-se todos os medicamentos
para o VIH licenciado para ser usado durante da combinação ao mesmo tempo com
a gravidez e há também muita experiência um baixo risco de criar resistência.
no seu uso em mulheres grávidas. Se a mulher precisa de iniciar o tratamento
Assim, alguns médicos recomendam- pela sua própria saúde e continuar após
-no durante este período, particularmente a gravidez, usa-se frequentemente um
se a mulher está a iniciar o medicamento do grupo dos ITRNN
tratamento durante a gravidez. designado por nevirapina. É um medicamento
muito usado durante a gravidez.
No entanto, um estudo do Reino Unido
e Europeu observou o uso da TARV No entanto, há um aviso contra o início
sem AZT em mulheres grávidas e não da TARV baseada na nevirapina em
constatou qualquer diferença nas taxas mulheres com contagens de células
de transmissão mãe-filho, na carga viral CD4 superiores as 250/mm3 devido
indetetável no parto e anomalias nos bebés. ao risco de toxicidade hepática.
O uso de outros análogos nucleosídeos Aparentemente a nevirapina é mais segura
também aumentou nos últimos anos: para mulheres com baixas contagens de
entre 2006 e 2009 cerca de 60% das células CD4 (inferiores a 250/mm3). Não
mulheres do estudo estavam sob TARV há nenhuma preocupação relativamente
sem AZT. Mais de 70% já estava a receber às pessoas que já estão a usar, com
a TARV sem AZT antes de engravidar. sucesso, nevirapina na sua combinação
e conseguiram uma contagem mais
Se não se precisa de tratamento para a elevada de células CD4 sob tratamento.
própria saúde, pode decidir-se usar “START”.
Se já se está a usar a terapêutica de
Ir-se-á receber dois nucleósidos. combinação, e tudo está a correr
O terceiro medicamento será, bem, provavelmente mantém-se a
provavelmente, um inibidor da protease. mesma combinação. É cada vez mais
comum que as mulheres já estejam
sob TARV antes de engravidar.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Se se está a usar o efavirenze, ddI ou Se a contagem de células CD4 é superior a


ddI e d4T juntos, pode ser necessário 250/mm3 será usado um inibidor da protease
interromper ou mudar estes medicamentos. potenciado, em substituição da nevirapina
Relativamente ao efavirenze, é de salientar durante, pelo menos, uma semana mas o
que não deve ser usado em grávidas, ideal será até a carga viral ficar indetetável.
especialmente no 1º trimestre, pelo que é Se a contagem de células CD4 é
muito importante que as mulheres que estão inferior a 350/mm3 será aconselhado
a utilizá-lo mudem o esquema terapêutico continuar o tratamento antirretroviral.
antes de ficarem grávidas. O nome comercial
do efavirenze é Stocrin®. Também está Apenas se deve continuar o tratamento
contido num medicamento que associa vários se se está a tomar rigorosamente
fármacos e cujo nome comercial é Atripla®. todas as doses como prescritas.
Quando se têm efeitos secundários ou a Em algumas circunstâncias, dependendo
carga viral continua detetável, o médico irá dos medicamentos que se está a usar e do
procurar possíveis mudanças na terapêutica. plano de parto, continua a ser recomendado o
uso de AZT por via endovenosa (EV) durante
Embora raramente, algumas mulheres tiveram o trabalho de parto ou durante as 3 horas
crianças usando combinações de 5 ou mais prévias a uma cesariana programada. O
ARV (às vezes designado por mega-HAART). objetivo é que o AZT passe a placenta e se
Finalmente, se se descobre que se é obtenham concentrações eficazes no feto,
seropositiva muito tarde na gravidez ou no que o vão proteger num momento de risco
trabalho de parto, faz-se um tratamento como é o parto. O fundamento do uso do
específico. Provavelmente recebe-se AZT EV é o de obter um efeito de profilaxia
nevirapina em toma única no trabalho pré e pós-exposição. O AZT administrado
de parto, associado a AZT no soro, ao recém-nascido vai sequenciar esta
independentemente da contagem de células profilaxia pós-exposição, iniciada no parto.
CD4, porque aparentemente uma única
dose é segura. A nevirapina é absorvida
e passa muito rapidamente a placenta e Há medicamentos que não são
é o medicamento mais eficaz a reduzir a recomendados durante a gravidez?
transmissão mãe-filho nestas situações. O uso do efavirenze não está recomendado
Como a resistência à nevirapina se durante a gravidez. Num único estudo
desenvolve facilmente, é necessário usá- realizado em animais, este medicamento
-la com mais dois medicamentos. Estes causou malformações do tubo neural (o
são muitas vezes AZT e 3TC (designado por cérebro em desenvolvimento) nos fetos em
Combivir®, quando num único comprimido). desenvolvimento. É importante notar que o
efavirenze é o único ARV testado desta forma.
É recomendável continuar com uma
combinação tripla enquanto a carga Até ao momento, não há relatos sobre
viral não atinge 50 cópias/ml. Isto irá riscos semelhantes em humanos. À
reduzir o risco de criar resistências. medida que mais mulheres sob TARV
engravidam há, atualmente, mais casos
de mulheres a receber efavirenze.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Por exemplo, num estudo do Reino Há também um forte alerta para evitar usar
Unido de mulheres medicadas com os medicamentos ddI e d4T em conjunto,
TARV no período de conceção, 20% durante a gravidez. Houve vários relatos
destas estavam a tomar efavirenze. sobre efeitos indesejáveis fatais em mulheres
Tem havido muitos relatos de mulheres grávidas que estavam sob estes dois
sob efavirenze durante a gravidez o que medicamentos em conjunto. O d4T já não é
é tranquilizador para mães e médicos. recomendado para terapêutica de primeira
linha nas linhas de orientação portuguesas.
No entanto, se houver outras opções,
há uma advertência contra o seu uso. E, como acima descrito, a nevirapina não é
Considera-se que isto é sobretudo recomendada a mulheres com contagens de
importante nas primeiras 12 semanas células CD4 elevadas (acima de 250/mm3).
da gravidez, quando o tubo neural
está em desenvolvimento. Deve esperar-se mais efeitos secundários
Quando uma mulher já está grávida há 12 quando se está grávida?
semanas ou mais e tem estado sob efavirenze Algumas grávidas que utilizam a terapêutica
durante esse período, precisa de fazer o de combinação têm algum tipo de efeitos
rastreio de anomalias, fazendo uma ecografia adversos com estes medicamentos, mas
num centro de diagnóstico prenatal. esta percentagem é similar à das outras
Após o primeiro trimestre, pode não pessoas que fazem o tratamento ARV.
fazer sentido interromper o efavirenze A maioria dos efeitos secundários é
se o tratamento estiver a correr bem. ligeira e incluem náuseas, cansaço
Por vezes, pode ser uma boa opção e diarreia. Às vezes, mas raramente,
usar, após um diagnóstico tardio se se podem ser mais graves.
tem contagem de células CD4 elevada
e a nevirapina não é recomendada. Uma grande vantagem de se estar grávida
é a monitorização rigorosa nas consultas
A formulação líquida do amprenavir, um de rotina. Isto torna mais fácil discutir com
inibidor da protease menos usado, também o médico qualquer efeito secundário.
não é recomendada durante a gravidez (ou
a crianças com menos de quatro anos de Alguns efeitos secundários dos
idade). Isto porque as mulheres grávidas e medicamentos ARV são muito similares
as crianças não são capazes de fragmentar às mudanças que ocorrem no organismo
um dos seus componentes designado por durante a gravidez, como, por exemplo, o
propilenoglicol. A formulação em cápsula enjoo matinal. Pode ser difícil distinguir se a
do amprenavir não contém propilenoglicol. causa é o tratamento ou a própria gravidez.
O ddI não é recomendado durante a gravidez. Muitos medicamentos ARV provocam
Pode haver um pequeno aumento do risco náuseas e vómitos. Tal é mais comum
de malformações à nascença com este quando se inicia a toma. Quando se
medicamento. Há, também, um ligeiro está grávida, no entanto, tais efeitos
aumento do risco com o nelfinavir. Atualmente, secundários podem apresentar problemas
este medicamento é raramente usado adicionais de enjoo matinal e de adesão.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Algumas dicas para reduzir as Fora da gravidez, os inibidores da


náuseas e ajudar com a adesão protease foram associados a níveis
estão incluídas na página 50. aumentados de bilirrubina.
Se os enjoos matinais são fortes, o médico Enquanto geralmente isto é uma medida da
pode prescrever medicamentos para saúde do fígado, tal nem sempre é o caso
ajudar (antieméticos), que se podem usar com o inibidor da protease atazanavir. Neste
com segurança durante a gravidez. caso, os níveis da bilirrubina podem ser muito
A mulher pode também sentir-se mais elevados sem causar qualquer problema.
cansada do que o habitual. De novo, Os níveis de bilirrubina do bebé também
isto é de esperar, sobretudo se se podem ser acima do nível normal e a equipa
está a iniciar o tratamento ARV. dos cuidados de saúde irá acompanhar
A anemia (baixo nível de glóbulos vermelhos) esta situação cuidadosamente e poderá
pode causar cansaço. É um efeito adverso fazer-lhe fototerapia para os reduzir.
muito comum quer ao AZT quer à gravidez. Embora níveis muito elevados de
Uma simples análise ao sangue verifica bilirrubina neonatal possam danificar o
se existe anemia. Se se tem anemia, pode cérebro, não houve qualquer relato que
ser preciso tomar suplementos de ferro. tal tenha acontecido sob o atazanavir.
A diabetes gestacional pode ocorrer A gravidez pode ser um fator de risco
durante a gravidez, havendo um teste adicional em relação ao aumento do nível de
específico para o seu diagnóstico. Todas as ácido láctico, que é geralmente regulado pelo
grávidas devem fazê-lo. Geralmente esta fígado. A acidose láctica é um efeito adverso
diabetes desaparece depois da gravidez. raro, mas potencialmente fatal, relacionado
As mulheres que tomam inibidores da protease com os análogos dos nucleósidos.
durante a gravidez podem ter um maior risco É particularmente arriscado usar ao mesmo
teórico de ter esta complicação comum. tempo o d4T e o ddI durante a gravidez por
Portanto, é importante assegurar-se de que causa da acidose láctica. Atualmente, esta
os testes de rastreio da diabetes gestacional combinação não está recomendada durante
são realizados. Felizmente, em muitos centros a gravidez. Como consequência, o risco de
que acompanham grávidas seropositivas e acidose láctica é, atualmente, muito baixo.
em várias publicações científicas, o acréscimo Aconselha-se consultar o guia publicado
de casos de diabetes gestacional tem sido por GAT “Como Evitar e Gerir os
muito ligeiro e sem significado estatístico Efeitos Adversos” para mais detalhes
Estes são exames de rotina para sobre sintomas e monitorização.
todas as mulheres grávidas.

35
Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Resistências, monitorização e outros testes


E as resistências? Deve-se fazer o teste de resistências?
Durante a gravidez o aparecimento Atualmente, as linhas de orientação
de resistências aos medicamentos é portuguesas, bem como as internacionais,
uma questão muito importante. recomendam um teste de resistências
Quando se está sob terapêutica de após o diagnóstico de infeção pelo VIH,
combinação e a carga viral é detetável, antes de iniciar a terapêutica e antes de
é importante perceber a razão com se alterar a terapêutica que não está a ser
um especialista. Isto é crucial para a eficaz. Estas linhas de orientação são as
saúde da mulher e da criança. mesmas para tratar “qualquer outro adulto
seropositivo para a infeção pelo VIH”.
As resistências podem desenvolver-
se quando a carga viral é detetável. Esta As mulheres que interrompem a TARV
situação poderá afetar a saúde a longo devem fazer um teste de resistências
prazo pois reduz as opções de tratamento quando realizam o primeiro teste
posteriormente. A carga viral no momento de carga viral após a interrupção,
do parto está diretamente relacionada idealmente nas primeiras 6 semanas.
com o risco de transmissão mãe-filho. As mulheres sob monoterapia
Fazer uma interrupção do tratamento, com AZT devem fazer um teste de
se não gerida adequadamente, pode resistências na amostra de carga
levar a resistências. Não tomar todos os viral recolhida durante o parto.
comprimidos à hora certa pode, também, Um teste de resistência é importante para
levar ao desenvolvimento de resistências. determinar se todos os medicamentos
da combinação que se irá tomar serão
ativos e eficazes (tanto na gravidez como
no futuro). Assim, pode-se saber se
houve infeção por um vírus resistente.
Deve-se verificar se o médico
incluiu este teste.

36
Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

São necessários testes e O seguimento médico proporciona


monitorização adicionais? um acompanhamento ginecológico
Quer a gravidez, quer os cuidados para o muito cuidadoso. Isto inclui um exame
VIH requerem uma boa monitorização. citológico (exame de Papanicolau ou
Pap), particularmente importante nas
Para o VIH, são monitorizados mulheres com contagem de células CD4
cuidadosamente a carga viral e a contagem abaixo de 200/mm3. De resto, os testes
das células CD4. Pode ser também são de rotina e podem variar ligeiramente
necessário um teste de resistências. consoante o médico. Os testes de
Alguns médicos podem recomendar um rotina incluem medir a tensão arterial,
doseamento dos níveis plasmáticos dos peso, análises ao sangue e à urina.
medicamentos (em inglês, designa-se por
TDM – Therapeutic Drug Monitoring). Se não se precisar de cuidados adicionais,
provavelmente as consultas serão mensais
O TDM usa testes ao sangue para verificar durante a maior parte da gravidez e de duas
se se está a absorver a quantidade correta em duas semanas depois do oitavo mês.
de um medicamento. Os níveis dos
medicamentos, sobretudo dos inibidores
da protease, variam muito entre uma Existem testes a evitar?
pessoa e outra e tendem a ser mais baixos Alguns testes e procedimentos usados
durante a gravidez. Ocasionalmente, isto vulgarmente para avaliar as mães e os
pode levar a um ajustamento da dose. bebés em desenvolvimento comportam um
Para além dos cuidados para o VIH, os risco teórico de aumento da transmissão
cuidados especializados prestados às da infeção pelo VIH. No entanto, este
grávidas devem incluir o rastreio para risco não foi claramente demonstrado
as hepatites, sífilis e outras doenças num estudo de mulheres que tomavam
sexualmente transmissíveis, tal como a terapêutica de combinação.
a despistagem de anemia, diabetes e Geralmente, as mulheres grávidas
tuberculose (TB). As infeções sexualmente infetadas pelo VIH são aconselhadas
transmissíveis e as infeções vaginais a evitar os seguintes testes, a
podem aumentar a possibilidade de menos que sejam essenciais:
transmissão da infeção pelo VIH.
• Colheita de sangue do
Pode também ser necessário fazer o rastreio couro cabeludo fetal.
de toxoplasmose e do citomegalovírus
(CMV). Estes testes devem ser efetuados • Cordocentese.
o mais precocemente possível • Monitorização interna durante
o trabalho de parto.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Se a amniocentese e a biópsia de vilosidades Prevenção de Infeções Oportunistas


coriónicas é essencial, é recomendado (IO) e tratamento durante a gravidez
estar a fazer terapêutica ARV há algumas O tratamento e a profilaxia da maioria
semanas. O ideal é que a carga viral já esteja das infeções oportunistas durante a
indetetável quando se realiza a amniocentese. gravidez são geralmente similares aos dos
As razões para fazer uma amniocentese outros adultos seropositivos, mas alguns
podem ser várias: idade materna avançada, medicamentos não são recomendados.
risco aumentado de cromossomopatia O médico deve verificar a presença de IO
evidenciado pelo rastreio combinado, ou como parte da vigilância da infeção pelo
outras razões que levam à necessidade de VIH e à medida que o sistema imunitário
esclarecer se existe alguma doença no feto, recupera com o uso da terapêutica de
com eventual indicação para interromper a combinação. Pode ser necessário tratar
gravidez. Apesar de ser um exame invasivo, outras infeções, sobretudo quando se é
o risco de que o VIH atinja o feto é baixo diagnosticado com VIH durante a gravidez.
se a grávida estiver sob terapêutica ARV,
com carga viral indetetável ou já muito A profilaxia e o tratamento das infeções
baixa. Existem já vários trabalhos científicos por pneumocysti jiroveci, Mycobacterium
publicados que demonstram não ter havido avium complex (MAC) e tuberculose
nenhum caso de transmissão mãe-filho (TB) são recomendados se forem
em grávidas que fizeram amniocentese. necessários, durante a gravidez.
Mais uma vez, o importante é optar após A profilaxia para o citomegalovírus
ter sido convenientemente esclarecida por (CMV), infeções por cândida e infeções
médicos com experiência em na vigilância fúngicas invasivas não são recomendadas
de grávidas seropositivas por VIH. como rotina devido à toxicidade dos
A equipa médica poderá dar mais medicamentos. No entanto, o tratamento
informações sobre estes testes e porque de infeções muito graves não deve
motivo estes não são recomendados. ser evitado por causa da gravidez.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Uso das vacinas durante a gravidez É fácil transmitir a hepatite C


As mulheres grávidas têm um risco da mãe para o bebé?
acrescido de gripe e devem ser Quando se é coinfectado com hepatite C
vacinadas independentemente do (VHC) e VIH - isto pode ser descoberto através
estatuto serológico para a infeção. das análises de rotina durante a gravidez - há
Devem receber a vacina para a gripe. um risco de transmitir o VHC até 15%.Tratar
As vacinas para a hepatite B, gripe e o VIH reduz o risco de transmissão do VHC.
pneumococo podem ser usadas durante
a gravidez, mas devem ser usadas E relativamente à hepatite B?
apenas quando a carga viral se torna
indetetável após o uso da terapêutica É muito provável que uma mãe com um vírus
de combinação, porque há um aumento da hepatite B ativo (VHB) o irá transmitir à
temporário na carga viral após a vacina. sua criança, podendo chegar a 90% se o Ag
HBe é positivo. No entanto, a transmissão
As vacinas vivas incluindo o sarampo, pode ser prevenida através da imunização
papeira e rubéola não devem ser da criança contra o VHB logo após o
tomadas durante a gravidez. nascimento. Em Portugal, todos os recém-
nascidos de mulheres com Ag HBs positivo
Tratar o herpes genital recorrente recebem a vacina e imunoglobulina específica
durante a gravidez para a hepatite B. Este procedimento tem
demonstrado ter uma eficácia muito elevada.
Muitas mulheres que vivem com VIH
têm, também, herpes genital. As mães Pode ser indicado incluir na combinação
seropositivas têm maior probabilidade da mãe os medicamentos para o VIH
de ter um surto de herpes durante que também funcionam contra o VHB,
o trabalho de parto do que as mães sobretudo o 3TC ou FTC e tenofovir.
seronegativas. Para reduzir este risco,
recomenda-se muitas vezes o tratamento VIH e coinfecção com a TB
profilático para o herpes, com aciclovir.
É importante tratar a tuberculose
O herpes transmite-se muito facilmente da durante a gravidez. Além disso, a
mãe ao filho. Mesmo quando a carga viral coinfecção VIH/TB aumenta o risco de
é indetetável pelo efeito dos ARV, as lesões transmissão de ambas as infeções.
do herpes contêm elevados níveis de VIH.
Tal como o VIH, a TB constitui um risco
O vírus do herpes pode ser libertado através muito maior para uma mulher grávida e a sua
das lesões durante o trabalho de parto. criança do que o tratamento e a profilaxia.
Isto põe o filho em risco de contrair herpes
neonatal e em maior perigo de ser infetado A maioria dos medicamentos para a TB de
pelo VIH. O herpes genital ativo constitui primeira linha é segura na gravidez. Não
indicação para cesariana, quer em mulheres se recomenda o uso do medicamento
seropositivas quer em seronegativas para VIH. estreptomicina durante a gravidez porque
pode provocar surdez permanente na criança.
A profilaxia e o tratamento com aciclovir
são seguros durante a gravidez.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Medicamentos ARV e a saúde do bebé


Algumas mães e médicos têm sido relutantes Parto prematuro
em usar ou prescrever os medicamentos Vários estudos mostram um maior risco
ARV durante a gravidez, por receio de de parto prematuro (crianças nascidas
efeitos desconhecidos no bebé. com menos de 37 semanas) e baixo
É difícil saber se há efeitos a longo prazo. As peso à nascença para os filhos de
primeiras crianças expostas à terapêutica mães que estavam sob tratamento ARV
de combinação não têm mais de 15 anos. com três ou mais medicamentos.
Até agora, o seguimento atento de crianças Isto não é razão para que uma mãe
expostas ao AZT não tem revelado evite o tratamento durante a gravidez,
diferenças em relação às outras crianças. sobretudo quando precisa do
Portanto, o maior risco para o bebé tratamento para a sua própria saúde.
de uma mãe seropositiva é o próprio Relativamente à associação de parto
VIH. A terapêutica de combinação prematuro com os ARV, particularmente
pode prevenir a transmissão. com os IP, mantém-se um assunto
controverso, porque existem também
inúmeros trabalhos publicados que não
Os medicamentos ARV vão afetar o feto? encontraram esse risco. Reportando-nos
Estes receios são justificáveis. Infelizmente a Portugal, os Centros com maior número
não há respostas definitivas, embora de grávidas seropositivas vigiadas, não têm
os medicamentos no seu conjunto tido aumento de parto prematuro com a
pareçam ser razoavelmente seguros. terapêutica de combinação que inclui IP.
Alguns relatórios estudaram o risco É importante que a mãe esteja consciente
de parto prematuro, malformações e destes riscos, os discuta com a equipa
toxicidade mitocondrial nas crianças. de técnicos de saúde e se assegure que
está a receber o melhor tratamento, os
melhores cuidados e a melhor monitorização
possíveis, para si própria e para o filho.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Os medicamentos ARV podem Em casos raros, no entanto, a toxicidade


causar malformações? mitocondrial a curto prazo pode ser um
Há muito poucos relatos de malformações problema nos recém-nascidos. Foi relatado
em bebés cujas mães tomaram estes um número muito pequeno de casos
medicamentos durante a gravidez. de crianças com acidose láctica grave e
Neste momento, o único aviso é em anemia e pensa-se que foram relacionadas
relação aos medicamentos ddI e com os medicamentos ARV. Todos
efavirenze, que geralmente não são recuperaram com cuidados adequados.
recomendados durante a gravidez. Alguns estudos têm sugerido que
estes efeitos não são observados
quando os medicamentos são usados
E quanto à toxicidade mitocondrial? em regimes de combinação.
As mitocôndrias são as “fábricas que
produzem energia” dentro das células. Houve
alguns relatos sobre a possível associação E a anemia?
entre o uso de 3TC e AZT durante a gravidez Foi relatada anemia em bebés de mães que
e lesões mitocondriais em crianças. estavam a tomar medicação ARV, mas passa
Num estudo alargado nos E.U.A., as rapidamente e raramente requer transfusão.
fichas clínicas de mais de 20 000 crianças
seronegativas nascidas de mães infetadas Os filhos de mães seropositivas são
foram examinadas à procura de alterações monitorizados para estes sintomas?
neurológicas associadas a lesões
mitocondriais. Este estudo foi planeado após Sim. Os bebés de mães seropositivas
terem sido relatadas em França duas mortes em tratamento devem ser monitorizados
de crianças expostas ao AZT e 3TC e seis muito cuidadosamente.
outros casos de toxicidade mitocondrial.
Todavia, este estudo alargado não encontrou
provas relativamente a danos graves nas
mitocôndrias em crianças expostas a
estes medicamentos durante a gravidez
da mãe. Tal foi muito tranquilizador.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Escolha entre parto vaginal e parto por cesariana

O modo como uma criança deve É preferível o parto por cesariana?


nascer, por parto vaginal, ou por Se a mãe não precisa de tratamento e
cesariana é uma questão polémica em escolhe usar o AZT em monoterapia, a
relação às mulheres seropositivas. cesariana será necessária para reduzir o
No parto por cesariana, a operação risco de transmissão para níveis mínimos.
tem de ser feita antes do começo do Quando uma mulher tem carga indetetável
trabalho de parto e da rotura da bolsa sob TARV, o risco de transmissão mãe-
de água. A isto chama-se cesariana filho é tão baixo que pode nunca ser
planeada ou cesariana eletiva. possível demonstrar a vantagem da
Alguns dos primeiros estudos mostraram cesariana em relação ao parto vaginal, no
que o parto por cesariana eletiva reduz que concerne ao risco de transmissão.
significativamente a transmissão mãe-filho do Quando a carga viral é detetável, superior
VIH em comparação com o parto vaginal. a 50 cópias/mL, recomenda-se a
Todavia, estes estudos decorreram antes cesariana, especialmente se a carga viral
de a terapêutica de combinação e o teste era indetetável e voltou a estar detetável.
da carga viral serem usados por rotina.
Os dados do Reino Unido e da Irlanda indicam Qual a estratégia recomendada?
que as mães sob terapêutica de combinação
com carga viral indetetável podem ter um As atuais linhas de orientação dizem:
parto vaginal e que a cesariana eletiva não “A escolha do parto deve ser discutida
oferece benefícios adicionais ao bebé. com a mulher e os seus desejos
devem ser tidos em consideração.”
No entanto, é mundialmente indiscutível que
a cesariana eletiva protege da transmissão A escolha entre a cesariana e o parto
vertical quando a grávida tem carga viral vaginal é oferecida quando a carga
detetável, acima das 1 000 cópias/mL. Neste viral da mãe não é detetável tomando
caso, as recomendações de todos os países, a terapêutica de combinação.
com recursos e bons cuidados de saúde, são
unânimes a recomendar a cesariana eletiva.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Quando se tem uma contagem elevada de Uma cesariana não oferece a mesma
CD4 e uma carga viral baixa e se escolhe proteção da cesariana eletiva se a mulher
tomar apenas AZT, é realizada uma já entrou em trabalho de parto ou se houve
cesariana planeada às 38 semanas. Se a rotura de membranas. Nestes casos, deve
carga viral está indetetável sob tratamento ser iniciado imediatamente AZT EV, acelerar
e se se opta por uma cesariana planeada, o trabalho de parto com ocitocina, não fazer
esta é realizada às 39-40 semanas. monitorização interna e evitar a aplicação
de ventosa e de fórceps. Se possível,
deve também ser evitada a episiotomia.
Qual é a probabilidade de
haver complicações? Também não há benefício se a cesariana é
efetuada após a rutura da bolsa de águas. No
Como foi referido acima, a cesariana é entanto, mesmo com bolsa de águas rota,
um parto cirúrgico, com possibilidade o médico pode considerar que é preferível
de complicações inerentes à cirurgia. realizar cesariana, se antevê um trabalho de
Mas também há complicações no parto muito demorado, ou se o feto é grande.
parto normal. A decisão da via de parto
deve ser individualizada e discutida O acompanhamento do trabalho de parto
entre o médico e a grávida. de uma mulher seropositiva impõe algumas
limitações à conduta obstétrica habitual.
Os trabalhos científicos publicados mais
recentemente não têm evidenciado mais
complicações com a cesariana eletiva em Após uma cesariana é possível ter
grávidas seropositivas, comparativamente um parto vaginal no futuro?
com a cesariana eletiva em grávidas não Quando se tem uma cesariana, é mais difícil
infetadas pelo VIH. Esta é também a realidade e complicado ter um parto vaginal no futuro.
nas Maternidades e Serviços de Obstetrícia
portugueses com larga experiência. Isto é uma consideração muito importante.
Independentemente de ser ou não Pode-se ter a possibilidade de escolher um
seropositiva, a quantidade de sangue perdido parto vaginal, mas é mais provável que se
na cesariana é superior à do parto por precise de uma cesariana do que uma mulher
cesariana. Se houver fatores de risco para que teve anteriormente partos vaginais.
infeção (obesidade, imunodepressão grave, É importante saber isto quando se
risco para tromboembolismo) a probabilidade planeia ter mais do que um filho num
de poder haver complicações aumenta. A boa país onde a cesariana planeada não
decisão clínica não se faz por formulários ou é possível ou segura e os cuidados
normas escritas, mas sim pela ponderação obstétricos não são de fácil acesso.
do contexto clínico de cada doente.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Como se toma a decisão? É muito importante tomar todos os


Quando se tem uma carga viral indetetável medicamentos à hora correta, como
e se pode escolher, antes de se fazer de costume, incluindo no dia do parto
a escolha, é importante que se esteja ou da cesariana planeada. Este é um
informado sobre os riscos e os benefícios momento em que é especialmente
associados a cada tipo de parto e discutir importante não saltar nenhuma dose.
qualquer receio que haja em relação a estes Poderá ser difícil não falhar uma dose com
com a equipa de técnicos de saúde. tanta coisa a acontecer, especialmente se
É também importante que a mãe e o se está à espera durante muito tempo.
médico se assegurem que o VIH está a É importante assegurar que o parceiro ou
ser bem gerido e que a carga viral está amigo e a equipa de técnicos de saúde
indetetável. Não só pelo risco de transmissão, saibam o horário da medicação, onde é
mas também pela saúde da mulher. guardada e que se sintam à vontade em
Atingir uma carga viral <50 cópias/ml nem ajudar a lembrar as tomas a tempo.
sempre é possível quando a grávida se
apresenta pela 1ª vez na consulta com uma
gravidez já avançada e ainda sem terapêutica.
Se a carga viral não é ainda indetetável O parto por cesariana é um
porque ainda não decorreu o tempo suficiente método que envolve um corte na
para o conseguir, não é grave para a saúde parede abdominal para remover
da mulher. O tratamento é adequado, cirurgicamente a criança do útero.
mas tem que se dar tempo ao tempo. É importante perceber que se o VIH é
Pelo contrário, a gravidez e o bebé não bem gerido e a carga viral é indetetável
esperam…nestes casos é preferível por se estar a fazer a terapêutica de
optar por cesariana planeada (eletiva). combinação, o risco de transmissão nos
dois tipos de parto é praticamente zero.
Se uma mãe está em tratamento e
É necessário lembrar-se de alguma escolhe o parto vaginal, há sempre
coisa mais para o parto? a possibilidade de que precise de
Muitos livros sobre a gravidez uma cesariana de emergência
recomendam que se prepare uma por razões obstétricas.
malinha com antecedência. Isto é Isto pode acontecer a qualquer
sobretudo importante quando se escolhe mulher em trabalho de parto, quer
um parto natural não planeado. seja seropositiva ou negativa. As
Deve incluir-se um pijama ou alguma coisa equipas médicas terão os cuidados
para usar no hospital, uma escova de adequados durante o parto vaginal
dentes, os produtos de higiene pessoal e, de uma mulher infetada pelo VIH.
obviamente, os medicamentos ARV. Lembrar-
se de os trazer mesmo quando não se tem a
certeza de que se está em trabalho de parto.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Depois do nascimento
O que é importante para a saúde da mãe Quando e como se sabe se uma
A adesão! Isto significa tomar criança não está infetada pelo VIH?
os medicamentos exatamente Os recém-nascidos que nascem de mães
como estão prescritos. seropositivas para a infeção pelo VIH
A adesão da mãe ao tratamento apresentam sempre testes de anticorpos
depois do nascimento do seu filho positivos para o VIH nos primeiros meses.
é de extrema importância. Isto porque os anticorpos maternos IgG
atravessam a placenta e passam para o feto. É
Muitas mulheres têm uma excelente adesão assim para o VIH, a rubéola, a toxoplasmose,
durante a gravidez, mas depois de o bebé o CMV, etc. Quando um recém-nascido
nascer esquecem-se de cuidar de si próprias. não está infetado com o VIH, os anticorpos
Não é grande surpresa. Ter uma criança irão desaparecer gradualmente, durante
pode ser um grande choque e provoca um período que pode durar até 18 meses.
sempre uma certa desorganização. As Felizmente já não é necessário esperar
rotinas mudam e pode não se dormir o 18 meses para saber que o bebé não
suficiente. Em casos graves, há mulheres está infetado. Os testes de anticorpos
que desenvolvem depressão pós-parto. não têm qualquer interesse para o
Portanto, uma mãe precisa de muito apoio diagnóstico no recém-nascido.
suplementar por parte da família, dos amigos O melhor teste para o VIH nos recém-
e da equipa de técnicos de saúde. Um grupo nascidos é muito similar ao teste da carga
da comunidade pode ser de grande ajuda. viral. Este teste é o HIV PCR DNA, que
Muitas mães acham que a melhor maneira de procura o vírus no sangue da criança em
se lembrarem da sua medicação é relacioná- vez de o fazer nas respostas imunitárias.
la com os horários das doses do recém- Considera-se como boa prática fazer
nascido. Portanto, se a criança tem duas um teste aos recém-nascidos nas
doses ao dia e a mãe também, pode-se primeiras 48 horas de vida, quando têm
assegurar que são tomadas à mesma hora. um mês e aos três meses de idade.
A brochura das publicações GAT “Introdução Se todos estes testes são negativos
à Terapêutica de Combinação” tem dicas e a mãe não amamenta, o filho
sobre como ajudar na adesão. Pode consultar não está infetado pelo VIH
através do link www.gatportugal.org.
A criança já não tem seguramente os
anticorpos da mãe aos 18 meses de idade. A
este processo designa-se por seroconversão
(ou perda dos anticorpos), podendo acontecer
mais cedo, entre os 6 e os 9 meses de idade.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

O recém-nascido precisa de Como sugerido anteriormente, é


tomar medicamentos ARV? recomendável coordenar o tratamento
Um recém-nascido tem de de profilaxia do recém-nascido com
tomar medicamentos para o VIH o horário do tratamento da mãe.
provavelmente durante quatro a seis
semanas após o nascimento. É necessário usar métodos contracetivos
O mais provável é que seja o AZT, que tem de após o nascimento da criança?
ser tomado duas vezes por dia. Em alguns Após o nascimento da criança é dado
casos pode tomar um outro medicamento aconselhamento sobre meios de contraceção.
ou uma terapêutica de combinação se a mãe
for resistente ao AZT ou se o bebé nasceu É possível que não seja recomendável
enquanto a mãe tinha carga viral detetável. recomeçar ou iniciar a contraceção oral
se a mãe iniciou os medicamentos ARV
durante a gravidez. Isto porque alguns
medicamentos ARV podem reduzir o
nível de alguns contracetivos orais, o que
significa que não seriam plenamente
eficazes. Alguns ARV não diminuem a
eficácia dos contracetivos orais que contêm
pelo menos 30 mcg de etinilestradiol.
O preservativo deve ser sempre utilizado,
quer o parceiro seja, ou não, seropositivo. No
entanto, recomenda-se um segundo método
contracetivo em associação. Esta escolha
deve ser individualizada e a opção deve
ser feita pelo casal, após esclarecimento.
A injeção contracetiva (Depoprovera) é eficaz,
mesmo em quem toma medicamentos
ARV. É preciso não ultrapassar os 3 meses,
devendo ser repetida sem atrasos.
Para verificar se o bebé é seronegativo
Tem-se verificado bons resultados com o
O teste da reação em cadeia da implante subcutâneo (Implanon®), embora
polimerase (PCR) é um teste altamente não seja totalmente eficaz em mulheres
sensível que deteta quantidades que estão a tomar ARV. O dispositivo
pequeníssimas de VIH no plasma. intrauterino (DIU) ou o sistema intrauterino
O teste irá “amplificar” ou multiplicar o de levonogestrel (SIU), comercializado
VIH no tubo de teste para que possa com o nome de Mirena®, não estão contra
ser detetado mais facilmente. indicados em mulheres seropositivas, desde
que não tenham imunodepressão grave e
desde que sejam devidamente vigiadas.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Alimentação do recém-nascido
Há também um risco de transmitir A equipa deverá falar com a mãe para saber
a infeção pelo VIH de mãe para o se precisa de apoio extra, por exemplo, na
filho através da amamentação. alta. Os hospitais têm assistentes sociais que
As mães seropositivas que vivem em países orientam e indicam quais os apoios existentes.
industrializados podem facilmente evitar a O tratamento médico e o fornecimento de leite
amamentação usando alimentação artificial. em pó são confidenciais, por isso recomenda-
Deve ser prescrito à mulher um comprimido se que a mãe os aproveite se assim precisar.
para inibir a produção de leite, que Nenhum do pessoal que trabalha no hospital
será iniciado após o parto e tomado ou trabalhadores de apoio terá qualquer
duas vezes por dia, após o pequeno- ligação com o departamento de imigração.
almoço e jantar, durante 15 dias.
Pode-se amamentar ocasionalmente?
Alimentação artificial É desaconselhado que as mães amamentem
A alimentação artificial é atualmente ocasionalmente. De facto, um estudo
recomendada para todos os bebes demonstrou que uma “alimentação mista”
nascidos de mães seropositivas, (amamentação e leite em pó) pode levar
independentemente da contagem de a um risco de transmissão ainda mais
células CD4, carga viral ou tratamento. elevado do que apenas a amamentação.

Após ter seguido as recomendações


médicas durante a gravidez e o parto,
a mãe não vai querer pôr em risco a
saúde da criança pela amamentação.
A transmissão mãe-filho é atualmente
muito baixa nos países industrializados.
Juntamente ao uso de antirretrovirais na
gravidez e um parto gerido cuidadosamente,
a alimentação exclusiva com leite em pó tem
contribuído para estas excelentes taxas.
Todas as mães seropositivas em Portugal
devem receber apoio para alimentar
artificialmente os seus bebés. Se a mãe
não tem meios para pagar o leite em
pó, os biberões e o equipamento de
esterilização, o hospital pode fornecê-
los para que não tenha de amamentar. O
sistema varia de um hospital para o outro.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Às vezes as pessoas perguntam porque Amamentação


é que não se está a amamentar A Organização Mundial da Saúde (OMS)
Às vezes as mães têm receio de ser publicou recentemente novas linhas
identificadas como seropositivas de orientação para a alimentação dos
por não amamentarem. recém-nascidos para as mulheres nos
Cada um decide se quer ou não países onde a alimentação artificial não
dizer que é seropositivo. é segura ou não está disponível.

Se não se quer dizer a ninguém que não se A amamentação é mais segura se


está a amamentar por causa da infeção pelo a mãe ou o recém-nascido está
VIH, o médico ou a parteira podem ajudar a sob tratamento antirretroviral.
encontrar outras razões para explicar isso. No entanto, a British HIV Association
Por exemplo, pode-se dizer que se (BHIVA) e a Children’s HIV Association
tem um mamilo gretado ou que não se (CHIVA) recomendam evitar integralmente
tem leite, sendo ambos comuns. a amamentação para as mulheres
seropositivas, independentemente de
Não se é uma má mãe por a mulher ser saudável, ter uma carga
não se amamentar. viral indetetável ou sob tratamento.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Dicas para ajudar a adesão


Em primeiro lugar, antes do início Pedir aos amigos que ajudem a
do tratamento deve-se recolher lembrar das doses em horários
toda a informação possível difíceis ou quando sai à noite.
sobre o que se deve fazer: No caso de se ter um telemóvel com
• Quantos comprimidos? calendário, pode-se programar
• Quantas vezes é necessário tomá-los? lembretes para tomar a medicação
à mesma hora, todos os dias.
• Com que precisão é preciso tomá-los?
Se se tem computador, pode-se
• Há restrições quanto à comida programar o calendário do computador
e ao armazenamento? para lembrar a toma da medicação
• Há escolhas mais fáceis? sempre à mesma hora, todos os dias.
Se se tem um calendário online através
do Google, pode-se acionar um lembrete
Dividir cada manhã os medicamentos diário. Alguns calendários online,
para o dia inteiro e usar uma caixinha incluindo o do Google, podem enviar
para os comprimidos. Assim pode-se mensagens para o telemóvel todos
sempre ver se não se tomou uma dose. os dias e sempre à mesma hora.
Levar medicamentos adicionais Perguntar às pessoas em tratamento como é
se se vai embora alguns dias. que fazem. Como é que gerem o tratamento?
Guardar uma pequena reserva de Na maioria dos centros de tratamento
medicamentos onde se pode vir a necessitar pode-se combinar para se falar com
em qualquer emergência. Por exemplo no alguém que está a fazer o mesmo
carro, no trabalho ou na casa de um amigo. tratamento, se se pensa que pode ser útil.
Contactar sempre o hospital se se tiver graves
dificuldades com os efeitos adversos da
medicação. O médico pode ajudar e discutir
uma mudança de tratamento, se necessário.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Dicas que ajudam a diminuir as • O micro-ondas coze os alimentos


náuseas matinais ou as que estão rapidamente e com o mínimo de cheiros.
associadas aos medicamentos Também permite preparar uma refeição
• Comer refeições pequenas e lanches logo que se sente fome. Ter alguém
mais frequentemente, em vez de que prepare as refeições pode ajudar.
poucas refeições grandes. • Não comer numa divisão abafada
• Tentar comer comida mais leve. ou que tenha o ar impregnado
de cheiros da cozinha.
• Evitar alimentos condimentados,
gordurosos e picantes. • Comer as refeições à mesa em
vez de deitada. Não se deitar
• Deixar alguns biscoitos perto da imediatamente após a refeição.
cama. Comer um ou dois antes de
se levantar da cama de manhã. • Tentar não beber com a refeição ou
logo depois. É melhor esperar uma
• O gengibre ajuda muito. Pode ser hora e depois beber lentamente. É
usado em cápsulas ou como pó importante que as grávidas não se
das raízes. A infusão de raiz fresca desidratem, portanto é importante
descascada também é boa. beber fora das refeições.
• Se o cheiro dos alimentos a • Tentar comer alimentos frios em vez
cozer perturba, abrir as janelas de quentes ou deixar arrefecer a
quando se está a cozinhar. comida quente antes de a comer.
• Manter a divisão bem ventilada. • A hortelã-pimenta também ajuda.
Pode ser bebida em infusão ou
mastigada em pastilha elástica.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Resultados da contagem das células CD4 e carga viral


Estes testes ao sangue são usados • Carga viral: análise ao sangue que
para monitorizar a saúde da pessoa mede a quantidade de VIH numa
seropositiva para a infeção pelo VIH amostra de sangue. É usado para saber
e a resposta ao tratamento. se o tratamento está a ser eficaz.
• Contagem de células CD4: análise ao Os resultados da contagem mais baixa de
sangue que verifica o sistema imunitário células CD4 e da carga viral mais elevada no
• CD4%: análise semelhante à momento do diagnóstico e antes de iniciar o
contagem de células CD4 mas é, tratamento são os valores mais importantes.
muitas vezes, mais estável.

Data CD4 CD4% Carga viral Outras anotações


(mês / ano) (cells/mm3)

ex. março 2011 234 14 180,000

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Tratamento antirretroviral
A escolha de novos e futuros medicamentos Se não se consegue lembrar dos detalhes,
depende das opções anteriores e a razão dados aproximados são também úteis (i.e.
pela qual houve interrupção do seu uso. tomar AZT durante 6 meses em 2002 etc.).
É importante saber se foi devido a
resistências ou efeitos secundários.

Nome do medicamento e dose Nome do medicamento e dose Data do fim do uso Razão
(mês/ano) (mês/ano)
ex. d4T 40 mg Fev 03 Jan 04 neuropatia

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

Direção-Geral da Saúde Circular Normativa


Assunto: Gravidez e Vírus da Imunodeficiência Humana Nº: 01/DSMIA
Para: Todos os Estabelecimentos de Saúde
Data: 04/02/04

De acordo com o European Centre for risco de transmissão perinatal permite à mulher,
Epidemiological Monitory of AIDS, o número no caso de seropositividade assintomática, ter
de novos casos diagnosticados de infeção acesso precoce aos cuidados apropriados de
pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), saúde e melhorar o prognóstico da sua doença.
adquirida por transmissão heterossexual, O pedido de serologia VIH às grávidas nem
tem vindo a aumentar. Em 2002, na Europa sempre tem sido efetuado, no nosso País,
Ocidental, observou-se um aumento de 23% em de acordo com as recomendações dos
relação ao ano anterior de novos diagnósticos organismos especializados. Nesse contexto,
declarados de infeção adquirida por aquela via. a Direção-Geral da Saúde no âmbito das suas
Em Portugal, os casos notificados de competências e de acordo com a Comissão
infeção VIH/SIDA que referem como origem Nacional de Luta Contra a Sida determina que:
provável a transmissão sexual (heterossexual) 1. sejam desenvolvidos esforços no
apresentam uma tendência evolutiva crescente sentido de se alertar os cidadãos/ãs,
importante. No 1º semestre de 2003, a em particular as mulheres em idade fértil
categoria de “transmissão heterossexual” para as vantagens de efetuar a serologia
correspondeu a 54,9% dos casos notificados. VIH antes e durante a gravidez;
Por outro lado, em cada ano no mundo, mais 2. os responsáveis pelos serviços de saúde
de 600 000 crianças são infetadas pelo vírus, incrementem as medidas tendentes a garantir
90% das quais através da mãe; à medida que o acesso à informação e ao aconselhamento
aumenta o número de mulheres em idade sobre VIH/SIDA, assim como à efetivação
fértil seropositivas, o número de crianças voluntária do teste, no contexto dos
infetadas pode aumentar paralelamente. cuidados pré-concecionais e pré-natais;
A transmissão do VIH através da mãe 3. a serologia VIH deve realizar-se após o
pode ocorrer durante a gravidez, consentimento esclarecido da mulher
o parto e o aleitamento. Na ausência de qualquer e com a seguinte calendarização:
intervenção estima-se que entre 15-30% dos • no período pré-concecional, no contexto
filhos de grávidas seropositivas serão infetados da Circular Normativa nº2/DSMIA de 1998.
durante a gravidez e o parto e que, 10-20%
• no período pré-natal – realização
o serão através do leite materno. A utilização
de duas serologias:
de medidas preventivas específicas naqueles
períodos, reduzem a transmissão da infeção • A periodicidade e o número dos
para valores inferiores a 8-10%, podendo testes podem ser alterados em
mesmo atingir valores inferiores a 2%. função de situações clínicas
específicas que o justifiquem.
Nesse contexto, a prevenção da transmissão
mãe-filho do VIH representa, cada vez mais, • Os resultados positivos devem
uma das estratégias essenciais no combate ser confirmados, com urgência,
à propagação da SIDA. A realização do teste pelo método de Western blot.
específico para o VIH na preparação e durante • Deve ser estimulada a participação
a gravidez, para além de possibilitar a adoção do futuro pai no aconselhamento e
das medidas necessárias para a redução do realização simultânea do teste.

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Publicações GAT VIH, gravidez e saúde da mulher 2012

O aleitamento materno está desaconselhado,


1.ª serologia realizada até Repete às
devendo ser inibida a lactação.
14 semanas de gestação 32 semanas
A utilização futura de um método contracetivo deve
1.ª serologia realizada após Repete às ser discutida durante a gravidez e ficar definida
as 14 semanas de gestação 32 semanas antes da alta, com encaminha¬mento precoce
para uma consulta de Planeamento Familiar.
Serologia não realizada ou Teste rápido
5. as grávidas não infetadas devem ser
desconhecida e grávida
informadas sobre as con¬sequências de
em trabalho de parto
adquirir VIH durante a gravidez e o aleitamento,
e orientadas sobre as medidas adequadas de
4. a grávida seropositiva deve ser imediatamente prevenção. Há que promover a participação
referenciada para a consulta de Alto dos homens e a partilha de responsabi¬lidade
Risco Obstétrico do Hospital de Apoio na redução dos comportamentos de risco.
Peri¬natal onde as questões relativas ao Aconselhamento pré e pós-teste
seguimento da gravidez serão discutidas e A realização da serologia VIH em grávidas
instituída a terapêutica antirretrovírica, no sem aconselhamento prévio e sem o seu
contexto da situação clínica em causa. consentimento é uma prática inaceitável que
De acordo com o conhecimento científico atual, colide com a autonomia e os direitos da mulher
é recomendada a cesariana eletiva atendendo à e pode ter como consequência, entre outras, o
redução do risco de transmissão materno-fetal. seu distanciamento dos serviços de saúde.
Deve ser agendada para as 38-39 semanas de O aconselhamento pré e pós teste são
gestação e ser obtido o consentimento informado. elementos essenciais na conduta clínica da
Não está documentado o benefício da cesariana infeção por VIH na gravidez e deve ser levado
se a grávida já estiver em trabalho de parto ou a cabo por um profissional competente nas
após a rotura de membranas ou ainda, com técnicas de aconselhamento e nas questões
cargas virais indetetáveis. No parto vaginal, relativas a gravidez/VIH e conhecedor dos
as manobras invasivas devem ser evitadas, procedimentos dos serviços de referência.
estando contraindicada a utilização de fórceps
ou ventosa e a monitorização interna.
Nas grávidas seropositivas é imperativa a Contactos úteis:
terapêutica antirretrovírica intraparto, quer no
caso da cesariana, quer no parto via vaginal. Associação para o Planeamento Familiar (APF)
www.apf.pt
Morada em Lisboa: Rua Artilharia Um, 38
- 2ºDto 1250-040 Lisboa (Sede) Telefone:
+351 21 385 39 93 Fax: +351 21 388 73 79
E-mail: apfsede@apf.pt

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Outras anotações

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GAT
Av. Gomes Pereira, 98 - 4º
1500-332 Lisboa
Portugal
Telf: +351 21 096 78 26
Fax: +351 21 093 82 16
E-mail: gatcontactos@gmail.com
Site: www.gatportugal.org

Projecto Informação VIH/SIDA

Programa
Nacional
para a infeção
VIH/SIDA

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