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Público • Sexta-feira 26 Novembro 2010 • 47

Tudo leva a crer que, pelo menos no futuro mais próximo, os PIIGS serão sempre PIIGS. E por culpa própria

E se o sonho da moeda única acabar em desastre?

H
DOMINIQUE FAGET/AFP
á uma razão simples, crua, para esta países da periferia quase tão bem quanto tratam a
semana vários líderes europeus, de Alemanha. Esse tempo acabou e não será apenas
Angela Merkel a Herman van Rompuy, uma sucessão de bail-outs que o fará regressar.
terem dito que o euro estava em risco: O que quer dizer que, pelo menos num futuro
a crise mostrou que o actual edifício próximo, os PIIGS serão sempre PIIGS. E por cul-
da moeda única não tem forma de se manter de pa própria.

E
pé. Pode ser amparado, mas nunca sobreviverá
José tal como o conhecemos. Resta saber se pode ser stá na moda, mesmo assim, culpar a Ale-
Manuel reconstruído, mas já lá vamos. manha e Angela Merkel pelas dores dos
Fernandes Primeiro que tudo, o que é que se passou com a mal-comportados. O colunista do Finan-
Irlanda? O que é que levou um país cujo produto cial Times Martin Wolf tem sido mesmo
Extremo per capita é sensivelmente o dobro do português, uma das vozes mais críticas, chegando
ocidental com uma economia privada saudável, um país com a exigir aos alemães que consumam mais bens
um salário mínimo três vezes mais elevado do que importados sem se perceber bem por que hão-de
o nosso, a adoptar uma redobrada austeridade que estes trocar os seus BMW por Fiat ou Renault. Já
passa, também, por reduzir esse salário mínimo? o historiador Timothy Garton Ash pede um gesto
Talvez esse mesmo salário mínimo seja um entre de grandeza à chanceler: “Frau Bundeskanzlerin, a
muitos sintomas de alguns dos maus hábitos que História está a bater à sua porta”, escrevia ontem
levaram o “tigre celta” a engordar e a perder os no The Guardian. E que pede ele? Que, em nome da
seus reflexos. Europa, a Alemanha se torne 30 por cento “menos
Entendamo-nos: ao contrário do que muitos re- alemã”. E que os outros países consigam ser 70 por
petem por aí, há muita coisa que nos aproxima da cento “mais alemães”. Sinceramente, não acho que
Irlanda. E o pior é que o que nos aproxima da Irlan- seja um pedido muito razoável.
da são os defeitos comuns, não as virtudes que esta Também não creio que, ao contrário do que tem
tinha e ainda tem. Apesar da crise bancária. sido sugerido, o problema esteja na coragem ou
Esta semana, num texto no Financial Times, um falta de coragem de Frau Merkel para enfrentar
antigo taoiseach (nome dado ao primeiro-ministro o descontentamento do seu eleitorado. O proble-
na Irlanda), Garret FitzGerald, atribuía os males do ma está mesmo em que ninguém sabe realmente
seu país a, no início desta década, se ter aumentado o que fazer. Um bom exemplo disso mesmo é dado
a despesa pública, o que provocou um aumento de pela possível passagem do actual fundo europeu
preços e salários que degradou a competitividade de emergência a um mecanismo permanente de
da economia e permitiu um boom imobiliário irres- assistência a países em dificuldade. Os especialistas
ponsável; esse boom, por seu turno, gerou impostos convergem em que tal mecanismo deva co-respon-
que criaram a ilusão de que o orçamento estava sabilizar o sistema financeiro em caso de crise num
equilibrado quando já não era sustentável. A irres- determinado país, até para obrigar esse sistema a
ponsabilidade de alguns bancos fez o resto. Num actuar de forma mais cuidadosa. Porém, ao falar
outro texto, este bem mais colorido e publicado no assunto, Merkel provocou uma tempestade nos
na Spectator, Kevin Myers, um colunista do Irish Vou escrever o que nunca a reunificação pelo euro – assim mercados apesar só se preverem mudanças para
Independent, explicava como um mirabolante plano abandonando o seu adorado mar- 2013. Sugeriu-se logo que devia ter ficado calada,
de novas auto-estradas, gastos sumptuários nas em- pensei escrever: é tempo co – impôs apenas uma parte das mas não se disse quando deveria, em alternativa,
presas públicas e reformas milionárias dos bonzos condições necessárias à criação de abrir uma discussão que será necessariamente de-
do regime tinham contribuído para o desastre. Ou
de pensar em alternativas uma união monetária realmente morada no seio da União Europeia. Advogou-se, no
seja, males que também nos são familiares… à actual configuração saudável. Muitos na altura defen- fundo, o adiamento e dissimulação.
Mas isto é a parte má da Irlanda, aquela que nos deram – até por se oporem ao euro Mais uma vez, também agora alguma coisa será
faz sentir (à excepção do sistema bancário) relati- da moeda única para – que, para 16 Estados partilharem feita. Talvez antes, talvez depois, de chegar a vez
vamente parecidos. A parte boa é aquela que está que o seu eventual fracasso a mesma moeda, não bastava limi- de Portugal ser obrigado a pedir ajuda. No entanto,
agora em risco: um tecido económico pujante que tar os défices e as dívidas públicas, a verdade é que a moeda única parece presa no
beneficia de um IRC especialmente baixo (apenas não arraste consigo era também necessário harmoni- seu próprio labirinto, incapaz de servir ao mesmo
12,5 por cento, mas mesmo assim capaz de gerar zar políticas fiscais e, sobretudo, tempo aos países do marco e aos países do escudo
receitas em percentagem do PIB semelhantes às do
a obra muito maior criar mecanismos de transferência ou do dracma. É insustentável, por exemplo, a ma-
IRC alemão), de uma mão-de-obra qualificada, de e mais importante que é de recursos para acudir a situações nutenção das actuais diferenças de juros no seio
muito investimento estrangeiro e da especialização de crise regionais. Isso não foi feito da mesma união monetária – umas economias não
em dois sectores de ponta, as novas tecnologias e a União Europeia e, é bom dizê-lo com clareza, não podem estar a financiar-se a dois por cento e outras
os produtos farmacêuticos. Este sector privado é podia ser feito, pois iria contra a a sete por cento. Mas nenhuma solução que não
tão competitivo que, apenas por efeito das medi- vontade dos cidadãos da maioria desses 16 Estados. passe por um “governo económico” inatingível no
das de austeridade já tomadas, está a recuperar Para além disso, o défice de legitimidade democrá- actual quadro político – e, a meu ver, intolerável
parte da sua competitividade. Mais: a Irlanda, ao tica das instituições europeias não teria autorizado porque insufragável pelos cidadãos – alteraria, se
contrário de Portugal, da Espanha ou da Grécia, então, como não autoriza hoje, que se transfiram alterasse, os actuais desequilíbrios.
está de novo perto de ter uma balança de transac- para as autoridades da UE mais competências de Por isso vou escrever o que nunca pensei escre-
ções positiva. tipo federal. ver: é tempo de pensar em alternativas à actual ar-

A
O resultado desta união monetária coxa está à quitectura da moeda única para que o seu eventual
pesar da irritação alemã com o baixo vista nesta crise. A Alemanha, mais alguns vizinhos fracasso não arraste consigo a obra muito maior e
valor da taxa de IRC na Irlanda, a ver- bem-comportados, mantiveram-se fiéis aos velhos mais importante que é a União Europeia. Jornalista
dade é que, muito por efeito do sector princípios do marco, uma moeda forte que, para (twitter.com/jmf1957)
exportador, o antigo “tigre celta” esteve coexistir com economias competitivas, implica-
sempre mais próximo de ser um “bom va que estas aumentassem constantemente a sua P.S.: Duas coisas impressionaram-me na greve ge-
aluno” do clube da moeda única do que Portugal produtividade. Isso foi exigindo reformas que uns ral. Uma foi a simpatia que esta suscitou mesmo
ou a Grécia. Esta última nem se esforçou, tratando fizeram e outros não. Os que não fizeram já estão ou entre a maioria de portugueses que a ela não ade-
de aldrabar alegremente os seus números, algo que estarão na situação da Grécia e de Portugal, isto é, riu, sinal de que os cidadãos estão saturados e, ao
a eurocracia tolerou. Já Portugal, para além de ter prisioneiros de uma moeda única que não pode ser mesmo tempo, ansiosos, para não dizer aflitos. A
sido o primeiro país a incumprir o Pacto de Estabi- desvalorizada e encerrados numa união monetária outra foi a quase desistência do Governo, que desa-
lidade, não cresce há dez anos e tem um desequilí- onde todos são supostamente iguais mas há uns pareceu dos radares (por onde andou Sócrates?) e,
brio estrutural nas contas externas que gera uma mais iguais do que outros quando chega a hora de quando aparecia, não sabia que dizer, sinal de que
dívida, entre Estado e particulares, que ninguém ir pedir dinheiro emprestado. Durante quase dez está psicologicamente derrotado e politicamente
sabe como ou quando poderá ser paga. anos foi possível iludir esta situação devido à des- desorientado. A situação parece madura para o
Sucede que quando a Alemanha aceitou trocar cida das taxas de juro e a os mercados tratarem os desembarque do FMI.

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